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Meu rim por uma resenha
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E-book184 páginas2 horas

Meu rim por uma resenha

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Sobre este e-book

A décima terceira obra de Maxwell dos Santos discute a disparidade de armas entre as editoras independentes e os grandes conglomerados editoriais, os desafios do autor para conseguir publicar seu primeiro livro, a relação entre autores/editoras com produtores(as) de conteúdo literário, a pejotização do trabalho, a cultura do cancelamento e o capacitismo contra pessoas com deficiênciaLaerte, o protagonista, é descendente de indígenas, tem paralisia cerebral, decorrente da falta de oxigenação no cérebro, durante o trabalho de parto, em que sua mãe, Larissa, foi vítima de violência obstétrica. Como sequelas, o jovem tem limitações na fala e nos movimentos das pernas, o que lhe obriga a andar de muletas, mas seu intelecto é estupendo.Ele, aos 17 anos, após muitas negativas, consegue publicar seu primeiro livro, Rebello Resiste, pela Edições Talismã, editora independente de Belo Horizonte.Viviane Botacin, a antagonista, é paulistana, produtora de conteúdo literário, dona de canal no MyVOD, com mais de 500 mil seguidores, faz resenhas em vídeo, cobrando até R$ 5.000,00 de cada autor ou editora que deseja ter a obra resenhada.Após ter sido comunicado por seu editor do valor fora da realidade cobrado pela influencer para que seu livro seja resenhado, Laerte, que é fã dela, escreve um post em seu blog, criticando o elitismo de Viviane, pedindo um olhar mais sensível de Viviane para os autores e editores independentes, que enfrentam dificuldades na divulgação na imprensa corporativa.Furiosa, Viviane liga para ele, proferindo insultos racistas e capacitistas.Vale a pena pagar uma fortuna por uma resenha? Essa resenha seria positiva? E se fosse negativa?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de ago. de 2022
ISBN9781526065841
Meu rim por uma resenha

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    Meu rim por uma resenha - Maxwell Santos

    UM

    o tão sonhado sim

    Durante o segundo semestre de 2017, Laerte mandou o original de sua obra, Rebello Resiste, a 50 editoras, boa parte delas se limitou a dar respostas-padrão: a programação editorial está fechada, a obra não se enquadra com a linha editorial, a editora não está interessada na obra, ou que só recebiam originais encaminhados por agentes literários.

    Inspirado no movimento estudantil de ocupação das escolas ocorrido em São Paulo em 2015, o rapaz desenvolveu a trama, que abordava a luta de estudantes contra o fechamento do Colégio Rebello, posto a leilão pelo Banco Montenegro, por causa de uma dívida milionária, para uma construtora, com pretensões de construir um prédio de luxo.

    Laerte, malgrado a paralisia cerebral que lhe limitava os movimentos das pernas, fazendo que o mesmo utilizasse muletas, além de dificuldades na fala, tinha um intelecto estupendo, além de uma personalidade forte e questionadora. Ele foi atrás das editoras que o deixaram no vácuo, ou recusaram seu original. Quando inquiriu Flora Virgílio, assistente editorial da Editora Fiorella, recebeu a áspera resposta:

    Laerte,


    A Editora Fiorella reserva-se ao direito de não justificar a recusa dos originais recebidos. Imagine se tivéssemos que justificar as recusas aos autores que nos enviam os originais? Se o fizéssemos, daríamos parecer e leitura crítica da obra de graça, e não somos pagos para isso.


    Tempo é dinheiro, querido, temos mais o que fazer. Pedir um porquê da recusa do manuscrito demonstra uma falta de empatia de sua parte com a equipe editorial da Editora Fiorella, demonstra desconfiança em nosso trabalho de avaliação, e achar que temos obrigação de dar satisfações de nossas decisões editoriais.


    Ademais, se dermos um parecer negativo da obra, há o risco do autor acionar judicialmente a editora, caso este se sinta ofendido.


    Passar bem.

    Adriane Quintella, CEO e editora da Quintella Editorial, agiu com a mesma descompostura:


    Laerte,


    Você precisa entender que meu silêncio já é uma resposta. A vida da gente é feita de perguntas, na maioria das vezes, nunca há respostas.


    Sinceramente, não entendo o porquê dessa cobrança. Você acha que tenho obrigação de dar qualquer satisfação para você a respeito do que publico nesta casa editorial fundada por mim há dez anos?


    A Quintella Editorial tem como política dar retorno apenas aos autores que tiverem seus originais aprovados.


    Li o seu livro Rebello Resiste, e direi o que penso: Enredo fraco, personagens pouco carismáticos, narrativa maçante, e diálogos forçados.


    Este texto precisa ser lapidado. Creio que você não leva jeito para a literatura. Aconselho que você desista da arte de escrever.


    A Editora Bentinho criticou o viés da obra do moço:


    Laerte,


    As pessoas querem ler livros para relaxar e se divertir. Num livro, as pessoas buscam a fuga da realidade. Não querem saber de questões sociais, nem de debates polêmicos.


    Rebello Resiste, não obstante o bom enredo, peca pelo perfil altamente maniqueísta das personagens, bem como o excesso de militância e ativismo, fazendo que esta obra não se encaixe no perfil da Editora Bentinho, que publica literatura de entretenimento.


    Portanto, sua obra não tem viabilidade comercial. Em outras palavras, críticas sociais e ativismo não dão camisa a ninguém. Veja o exemplo de Lima Barreto, que escrevia livros com críticas sociais, mas terminou seus dias na mais absoluta miséria.


    Respeitosamente,


    Helga Fialho

    Coordenadora Editorial dos selos Bentinho Júnior e Bentinho YA


    Quando Laerte estava determinado a jogar tudo para o alto, ele recebeu o telefonema de Sebastião Alvarenga, proprietário e editor da Edições Talismã, editora independente de Belo Horizonte:

    — Pronto.

    — Boa tarde, Laerte. Quem fala é Sebastião Alvarenga, da Edições Talismã. Há alguns meses, você nos enviou o original Rebello Resiste, em que você aborda a luta dos estudantes contra o fechamento da escola, por uma dívida contraída pelo pai da dona da escola com o Banco Montenegro, que leiloou o terreno dado em garantia, arrematado por uma grande construtora, motivada a construir um prédio de luxo, com 2 apartamentos por andar, a 2 milhões de reais cada. Fiquei muito empolgado com a história, e tenho interesse em publicar sua obra.

    — Sim, quanto custará a publicação?

    — Nada, meu amigo. E você ainda receberá 5% de direitos autorais. Há a possibilidade da obra participar de compras governamentais, onde você poderá receber a parte que lhe cabe como autor.

    — Que maravilha!

    — Vi que você tem 17 anos. Pra assinar o contrato de edição, você tem que tá acompanhado de seus pais ou responsáveis, certo?

    — Sim, Sebastião. Vou falar com a mamãe.

    — OK, Laerte. Solicitarei que o jurídico prepare o contrato, pra que você e sua mãe assinem. Seria ótimo, se vocês pudessem vir a BH pra gente conversar. Não sendo possível, mando o contrato via Sedex, você e sua mãe assinam o contrato, reconhecem firma, e mandam de volta.

    — Maravilha! Muito obrigado por acreditar em mim. Em tempos que as editoras só dão espaço a autores bestsellers estrangeiros, sua casa editorial ainda acredita nos autores nacionais.

    — Laerte, sou um grande entusiasta da literatura brasileira e do autor brasileiro. A Edições Talismã existe pra romper esse complexo de vira-latas e essa mentalidade colonizada de que autor brasileiro não escreve livro bom. Obrigado pela atenção. Até mais.

    — Tchau, Sebastião.

    Laerte contou para Larissa, sua mãe, a novidade:

    — Mamãe, você não vai acreditar. Depois de tantos meses tomando não das editoras, recebi o telefonema de Sebastião Alvarenga, dono da Edições Talismã, comunicando a aprovação do meu original, Rebello Resiste.

    — Parabéns, meu filho! Que maravilha! Deus te abençoe, viu? Você é um menino determinado. Tenho muito orgulho de você. Apesar das suas limitações, você corre atrás do que quer.

    — Sebastião disse que vai preparar o contrato. Ele gostaria muito que a gente fosse pra Belo Horizonte conversar com ele, e assinar o contrato pra viabilizar a publicação do meu livro.

    — A gente vai a Minas, se Deus permitir. Laerte, você não tem noção como eu tô feliz por você. É um verdadeiro tapa na cara naqueles que disseram que você não seria nada, que seria um peso na minha vida. Vou esfregar isso na cara do cachorro do seu pai, em vez de te pagar a pensão, gasta a grana em pinga, piranha e pedra.

    — Onde é que ele anda, mamãe?

    — O estrupício tá perambulando pelas ruas de Vitória. A sua avó não passa pano nas cachorradas dele. Ela e seu tio Márcio têm tentado interná-lo, mas ele se nega a se ajudar. Paciência. Seu pai tem o livre arbítrio, mas tem que arcar com as consequências.

    DOIS

    contando a novidade

    No corredor da escola, Laerte, todo contente, relatou à Andréa, professora de Língua Portuguesa e Literatura, sobre seu êxito:

    — Andréa, lembra daquele livro, Rebello Resiste, que mandei pra um monte de editoras, só tendo respostas negativas? Pois é, a Edições Talismã aceitou publicar meu livro. Daqui a alguns dias, eu e mamãe vamos a Belo Horizonte pra assinar o contrato de edição.

    — Parabéns, querido! Você merece tudo de bom. Há alguns dias, você tava cogitando em desistir de publicar a obra. De repente, surge a Edições Talismã, que te abre as portas pra viabilizar seu sonho — disse a professora, dando um caloroso abraço e um beijo no rosto.

    Na sala dos professores, Andréa conversou com Priscila, a pedagoga:

    — O Laerte vai publicar seu primeiro livro pela Edições Talismã.

    — E eu com isso?

    — Nossa, Priscila. Que mau humor!

    — Não é mau humor. Não vejo nada de excepcional um aluno de Ensino Médio e portador de paralisia cerebral publicar um livro. É a coisa mais banal do mundo. Não sei o porquê de tanto auê.

    — Como você é fria e indiferente! Seu capacitismo é nojento e repulsivo!

    — Não é capacitismo, Andréa. Eu tô sendo realista. Se você não gosta das minhas concepções, acha que sou amarga demais, só lamento.

    — Priscila, corre à boca pequena que você tentou publicar um livro de poemas, mas foi recusada pelas editoras, tentou o edital da Secult, mas ficou na suplência, tentou a lei Rubem Braga, mas teve seu projeto recusado. Além disso, tentou entrar na Academia de Letras de Vitória, mas foi recusada. Tá explicado o seu ranço pela literatura.

    — Queridinha, me reservo ao direito de não comentar fofoquinhas da rádio peão. São comentários de uma gentalha que não tem uma trouxa de roupa pra lavar, ou um quintal pra carpir. Ah, dá licença!

    — No fundo, você sente inveja do Laerte por ele vai publicar seu livro, e você, não.

    — Vá encher o saco de outro, Andréa! — gritou Priscila, saindo da sala de professores, levantando o dedo do meio.

    — Meu bem, isso pra mim é um dedo. Pra você, um desejo secreto — ironizou Andréa.

    Larissa, acompanhada de Laerte, com a carteirinha de passe livre nacional, emitiu as passagens para si e para o filho no guichê da Viação Castilho, na Rodoviária de Vitória. Sentados na poltrona da sala vip da empresa de ônibus, eles conversaram:

    — Mamãe, tô tão ansioso com o encontro que teremos com Sebastião Alvarenga.

    — Eu também, Laerte. Você alcançou o privilégio de publicar um livro. Muitos ficaram pelo caminho, infelizmente.

    — Verdade, mamãe.

    — Laerte, sempre gostei de ler. Era uma rata de biblioteca.

    — O que você lia?

    — Meus autores prediletos eram Monteiro Lobato, Machado de Assis, José de Alencar e Jorge Amado.

    — O que você já leu de Jorge Amado?

    — O livro que eu mais curti foi Tieta do Agreste, que já virou até novela.

    — Eu li Tocaia Grande, que virou novela na extinta Rede Manchete. Consegui assistir alguns capítulos no MyVOD ¹.

    — Tive uma colega de classe no Ensino Fundamental, a Gardênia. Muito romântica e sensível, gostava de romances de banca de revista.

    — Aqueles livros com nome de Júlia, Bianca e Sabrina. Já vi um desses na mão da Lara, a servente da escola.

    — Gosto mais de literatura nacional, porque fala das coisas e das pessoas do Brasil. Nada contra os romances gringos, mas eles passam em terras distantes, falam de coisas tão distantes da nossa realidade.

    — Mas tem gente que torce o nariz pra literatura brasileira. Batem no peito e dizem: Não gosto de autor nacional.

    — Essas pessoas são umas idiotas. Não sabem o que tão perdendo. Laerte, tem gente que pensa que eu preciso me sujeitar a tudo, como se pensasse assim: melhor pingar do que faltar.

    — Do que você tá falando, mamãe?

    — De uma dondoca que me pediu pra fazer a formatação de um artigo científico nas normas da ABNT, mas achou caro ter pedido R$ 7,00 a lauda. Disse que uma estudante de Biblioteconomia da UFES fazia por R$ 3,50.

    — Que absurdo! Ainda quis colocar preço em seu trabalho.

    — Sim, Laerte. Mandei que ela fizesse com a estudante de Biblioteconomia, que tava mais em conta. Se ficasse bom, a sorte seria dela, mas se ficasse ruim, que me procurasse. Ela ficou furiosa, mandou me ferrar, e falou que se eu continuasse nesse tom, teria muitas portas de freelancer fechadas. Mandei ela pro inferno.

    — É muita cara de pau, mamãe.

    — Cara, dá vontade de queimar meu diploma de bibliotecária de tanta raiva. Na real, não tô disposta a me sujeitar a qualquer coisa, mesmo que eu passe necessidades, porque sei a profissional que sou e o duro que dei pra ter um diploma de bacharel em Biblioteconomia pela UFES.

    — É verdade, mamãe.

    — O que me deixa mais fula da vida são esses anúncios de empregos, principalmente pra minha área, que não têm o salário e os benefícios. Se não querem tratar no anúncio, que digam na primeira ligação ou e-mail ao candidato. Se

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