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Muriel
Muriel
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E-book64 páginas53 minutos

Muriel

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Sobre este e-book

 Depois de um atentado o narrador perder seus sentidos e se mete em um carro que não é seu. Viaja a toda velocidade pela estrada do Mar Morto. Sofre um acidente e é confundido com o dono do Fiat Punto que morre no atentado. Passa muitos meses em coma, mas ao acordar se dá conta que está em outra vida, outra vida que talvez tenha sonhado ou que talvez esteja sonhando nesse momento. Logo se vê liberto de uma relação que não podia mais suportar e entra no jogo de ser outro alguém. Parece como se todos soubessem que ele não é ele, mas ninguém pode voltar atrás. Volta a espiar sua velha vida, para descobrir que tudo vai melhor sem ele. A novela Muriel é um desafio ao que pensamos que é nosso eu mais íntimo, a crises de individualidade, as mentiras do mundo moderno.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jan. de 2023
ISBN9798215124628
Muriel
Autor

Mois Benarroch

"MOIS BENARROCH es el mejor escritor sefardí mediterráneo de Israel." Haaretz, Prof. Habiba Pdaya.

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    Muriel - Mois Benarroch

    Sim, eu me lembro, lembro-me de tudo, de todos os mínimos detalhes, do barulho, da bomba, uma mulher de branco correndo e gritando, o silêncio depois da bomba, de como comecei a correr e logo parei; parei por exatamente um minuto e meio e então percebi que estava colado à porta de um Fiat Punto cuja chave estava do lado de dentro e notei que não estava trancado. Lembro de como entrei no carro, arranquei e peguei a auto estrado em plena noite. Era onze e vinte, eu sabia perfeitamente que todos os caminhos estariam fechados, então eu segui em direção à central rodoviária e de lá para à Rua Bar Ilan, até à saída da universidade em direção ao Mar Morto. Lembro-me de tudo, milhares de detalhes, poderia até escrever um livro com todos os detalhes que me recordo. Mas ninguém acredita em mim, ninguém, nem eu mesmo. Quer dizer, eu acredito mas não consigo me convencer de nada;  depois descendo até o ponto mais profundo da terra e o acidente contra o caminhão amarelo, era amarelo tenho certeza disso, apesar da noite ser escura. Muito escura. Assim como o hospital. 

    Quando acordei me chamaram 'Mariano'. Uma mulher, 'minha' mulher me chamava Mariano. Mas eu não podia responder. Não conseguia responder: Não sou Mariano, está enganada.

    -Volte logo, meu amor. Meu amor, que susto me deu. 

    Que amor? O que se passa aqui?

    E já desde essa primeira pergunta que não foi feita essa mulher, 'minha' mulher, respondia como se fosse uma conversa normal, respondia a todas as perguntas que eu pensava.

    -Sim, Mariano, o médico já me disse que talvez você tenha uma amnésia temporária e que não se lembre de muitas coisas, pediu-me para contar sobre sua vida e para falar sobre tudo.

    Qual é o seu nome?

    -Que ótimo! Nem se lembra do meu nome. Eu sou Muriel, estamos casados há sete anos. Temos uma filha de três anos. Não pôde vir. Ficou em Madrid.

    Onde? – Mas eu nunca estive em Madrid. O que se passa aqui?

    -Melhor não se agitar, acalme-se.

    Pelo visto tentei me rebelar contra a minha repentina mudança de identidade.

    -Vivemos em Madrid. Você nasceu em Madrid.

    Eu não, eu nasci em Tánger, senhora Muriel. Em Tánger. Meu nome é Max. Max Benamu.

    E adormeci. De repente.

    Quando acordei Muriel continuava a falar. Penso que não sabia muito bem quando eu estava acordado ou dormindo e tinha a ordem de falar comigo o máximo possível. Contava-me sobre minha vida. Meu passado. Meu novo passado.

    Na verdade ela não era assim tão má e me encantava, principalmente a sua voz. Em menos de dois ou três dias eu já estava encantado pela sua voz. Muriel, voz da Muriel, por favor, salva-me.

    Não podia vê-la nem imaginá-la, embora eu estivesse certo de que falava muito. Algo muito comum entre as mulheres espanholas, ou pelo menos, entre as mulheres espanholas que eu conhecia.

    O caso que se passou comigo, às vezes, não me parecia algo tão ruim. Eu não me dava nada bem com minha mulher, Sarah - que era francesa - e já estávamos casados por vinte anos. Aí sim, tínhamos uma filha. Eu tinha uma filha com minhas duas mulheres. Minha filha tinha sete anos. Com Sarah não me dava bem. Nem bem nem mal. Tudo era silêncio. Embora ela falasse muito, eu estava sempre em silêncio. O eu Max, não o meu novo eu: o eu Mariano. Eumax e Eumariano.

    Muriel contava sobre minha vida e eu ouvia sua voz. Contava-me que eu havia  nascido em Madrid, que meu pai fora ministro na época do Franco, que viajei a Israel porque me interessava o judaísmo, que eu dizia ter uma avó judia mas que era apenas especulações, que pensava em converter-me mas ela não acreditava que eu fosse fazer isso. Teve tempo de me contar um monte de coisas mas, sem ver, eu ouvia sua voz, eu via a sua voz, sua voz tinha cores. Quando estava de bom humor ficava muito amarelada, quando estava nervosa tendia para o celeste, porque tentava se acalmar falando e contando. Falava-me de nossa filha, Sarah, que também chamava Dana; do meu negócio, do negócio do meu pai: a rede de restaurantes Pibx, que começara com um restaurante aberto pelo meu pai em 1977 na rua Orense, que era especial porque, à entrada, tinha uma loja de roupas íntimas. Uma grande ideia já que os amantes

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