O que é a Casa Espírita?

Copyright © 2023 – Evelyn Freire de Carvalho

1ª edição eletrônica: fevereiro de 2023

Capa: Yana Borghi

Projeto eletrônico: Gabriela Dias

Revisão: Gabriel Gomes

Coordenação editorial: Murilo Viana

ISBN 978-65-88535-52-3

O Que é a Casa Espírita – Série Conhecendo O Espiritismo| Evelyn Freire de Carvalho

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Ao querido amigo, José Tarcísio Feijó Machado, Presidente do Núcleo de Amparo Social Tomás de Aquino, instituição espírita que me acolhe com carinho há trinta anos.

Agradecimentos

Minha eterna gratidão a Deus, à espiritualidade amiga, à equipe Conhecendo o Espiritismo e à minha amada família.

Introdução

Meus amigos queridos, bem-vindos a mais um livro da série Conhecendo o Espiritismo.

Sempre uma grande alegria ter a oportunidade de refletir sobre a Doutrina Espírita. Neste livro, em especial, conversaremos sobre a casa espírita, pois há tantos questionamentos que não podíamos deixar de abordar o tema no quinto volume da série.

Muitas pessoas desejam conhecer a casa espírita, saber do seu funcionamento e dos tipos de atividade e de auxílio que lá pode encontrar. Contudo, as incertezas quanto ao que acontece na casa espírita dificulta uma aproximação, fazendo com que percam excelente oportunidade de crescimento e de aprimoramento espiritual.

Tentamos nesta obra, portanto, abordar as dúvidas mais frequentes, sempre com objetividade e clareza, auxiliando o leitor a desmistificar a figura da casa espírita e a compreender a sua real importância.

Como de costume, desejamos ao caro amigo magnífica leitura!

Capítulo 1

A Casa Espírita

1. O que é a casa espírita?

É uma organização religiosa, sem fins lucrativos, que desenvolve atividades fundamentadas na Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, bem como em obras que lhe são complementares e subsidiárias.

Segundo o Código Civil Brasileiro¹, as organizações religiosas são consideradas pessoas jurídicas de direito privado e, como tal, têm plena autonomia para se organizarem, estabelecerem sua estruturação e funcionamento, bem como o modo como serão geridas, procurando compatibilizar sua atuação com as finalidades estatutárias.

A casa espírita tem diversas finalidades, as quais destacamos as listadas pela Federação Espírita Brasileira:

I – o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo em todos os seus aspectos, com base nas obras de Allan Kardec, que constituem a Codificação Espírita;

II – a prática da caridade espiritual, moral e material por todos os meios ao seu alcance, dentro dos princípios da Doutrina Espírita, desenvolvendo, para tanto, atividades nas áreas assistencial, cultural, beneficente e filantrópica;

III – a união solidária das sociedades espíritas e a unificação do movimento espírita.²

Em decorrência das suas finalidades, a Federação Espírita Brasileira destaca as variadas vertentes assumidas pela casa espírita, identificadas como: templo, lar, oficina, hospital e escola.³

Bezerra de Menezes, nas considerações iniciais da obra Dimensões Espirituais da Casa Espírita, ensina ser a casa espírita templo, lar, oficina e hospital.⁴ Entende a casa espírita como um templo porque desenvolve e estimula a conexão da criatura com Deus, sendo um ambiente onde se pode orar e buscar o auxílio da espiritualidade amiga, o que muito o ajudará nas lutas e dificuldades da vida material. Além disso, oferece ao homem melhor compreensão da Lei de Deus e de Seus ensinamentos.

Compara a casa espírita a um lar pois procura receber a todos que a frequentam com o mesmo carinho e fraternidade de uma família. Sabemos que mesmo entre familiares há discórdia, dificuldades e outras divergências, mas quando há amor e respeito, é possível a superação das adversidades e a promoção da paz. É este sentimento que deve nortear a casa espírita.

Entende as casas espíritas também como oficinas de trabalho em virtude de lá termos a condição de realizar atividades voluntárias que nos auxiliam no processo de reforma íntima, de crescimento espiritual e no desenvolvimento do amor. Como nos ensina a Doutrina Espírita, a caridade é o meio mais eficiente para obtermos a salvação⁵ , e quase todas as casas espíritas oferecem excelentes oportunidades de trabalho.

Outra vertente é a casa espírita ser comparada a um hospital. Como ainda somos muito imperfeitos e doentes da alma, recebemos lá grande auxílio espiritual, de modo a caminharmos com mais equilíbrio e saúde. As doenças da matéria nada mais são que reflexo das enfermidades espirituais. Quando alcançarmos maturidade espiritual e, consequentemente, saúde, estaremos aptos a levar o amparo ao próximo ao invés de o receber.

Por fim, não podemos deixar de compreender ser a casa espírita uma escola. A Doutrina Espírita ilumina consciências exatamente porque orienta, ensina e esclarece. As casas espíritas oferecem, periodicamente, diversos cursos, atividades e palestras para a instrução das criaturas, estimulando a exata compreensão da lei de Deus e uma fé lógica e racional.

A casa espírita, além disso, segue determinados princípios no desenvolvimento de suas atividades. Tais diretrizes serão devidamente abordadas nas perguntas subsequentes, mas desejamos destacar, desde logo, não haver qualquer tipo de discriminação de raça, sexo, religião, cor, cultura etc., sendo todos considerados irmãos e filhos do mesmo Pai.

2. Por que se falava de Espiritismo de mesa branca?

Era uma forma incorreta de diferenciar a Doutrina Espírita de outros cultos espiritualistas. Como havia, e ainda há, muita ignorância acerca do Espiritismo, não é raro as pessoas o confundirem com outras religiões de cunho espiritualista, como, por exemplo, a Umbanda, que adota teoria diversa, com os orixás e as limpezas.

Desta feita, com a finalidade de demonstrar que determinada casa espírita se conduzia pelos princípios filosóficos, científicos e religiosos da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, usava-se, indevidamente, a expressão mesa branca. A cor branca intencionava, também, diferenciar a atividade de intercâmbio com o plano espiritual das casas espírita, de caráter eminentemente caritativo e instrutivo, de outras existentes em associações espiritualistas que podiam, eventualmente, utilizar o contato com os Espíritos para outros fins nem sempre construtivos.

A Doutrina Espírita, todavia, é só uma e as casas espíritas devem seguir orientações semelhantes. Havendo associações religiosas caminhando em sentido oposto, não podem ser consideradas expressões seguras do Espiritismo, mas de práticas espiritualistas.

O Espiritismo, cabe destacar, não nega a importância e nem combate outras religiões, igrejas, seitas e doutrinas, apenas apresenta uma proposta particular, que consiste no cultivo da espiritualidade de modo simples e racional. No seu âmbito, prioriza-se o estudo e a caridade ao próximo, sem manifestações mediúnicas. Essas, quando ocorrem, é de modo privado, com simplicidade e modéstia, sem aparatos, danças, cânticos ou rituais predeterminados.

Ainda como fruto da ignorância, há quem entendesse na expressão mesa branca um indicativo de que as mesas utilizadas nas casas espíritas deveriam apresentar tal característica. Outro grande equívoco! Dentro da Doutrina Espírita, não faz sentido tal afirmativa.

As mesas de uma casa espírita podem ser de qualquer material, tamanho ou tonalidade, em nada sendo a Doutrina Espírita por elas influenciadas e muito menos o desenrolar das suas atividades. A utilização da referida indicação denota falta de estudo e de conhecimento acerca do que é o Espiritismo.

A Doutrina Espírita é essencialmente espiritual e não material, dispensando o uso de objetos materiais para o seu desenvolvimento. Portanto, a forma ou a tonalidade da mesa é algo completamente sem importância para a prática espírita, estando tudo baseado na sintonia mental e espiritual da criatura, no seu interior e nos seus sentimentos. É o que determina a qualidade das práticas espíritas.

3. Como funciona uma casa espírita?

Considerando não haver na Doutrina Espírita um órgão centralizador, como se observa em outras religiões, cada casa espírita tem autonomia para organizar e desenvolver o seu funcionamento como entender mais apropriado e segundo suas condições físicas e humanas.

Mesmo todas as casas espíritas não funcionando da mesma forma, há certas áreas de atuação em comum, lembrando que os trabalhadores voluntários precisam ser devidamente preparados para as tarefas, estando devidamente em sintonia com os princípios basilares da Doutrina Espírita, que são a existência de Deus, a imortalidade da alma, a pluralidade das existências e dos mundos habitados e a comunicabilidade dos Espíritos.

A Casa Espírita deve exemplificar em suas atividades o que ensina na teoria, como fazia o Mestre Jesus. As atividades mais usuais são: de assistência espiritual, de estudos, de mediunidade, de assistência e promoção social, de infância e juventude, de comunicação e administrativa.

A área de assistência espiritual é destinada ao atendimento e ao acolhimento espiritual de todos os que buscam a casa espírita, segundo os fundamentos do Evangelho e à luz da Doutrina Espírita. Esta área é composta por várias atividades que auxiliam na conquista do equilíbrio físico, emocional, espiritual e moral das criaturas, sempre promovendo a devida orientação e esclarecimento ao indivíduo para que ele mesmo encontre os meios de se manter bem e saudável.

Os dirigentes da área organizam as diretrizes de funcionamento de todas as atividades de assistência espiritual, assim como providenciam a capacitação para a formação e a reciclagem de trabalhadores. As atividades usualmente encontradas na assistência espiritual são: recepção e orientação, diálogo fraterno, explanação do Evangelho, enfermaria, emergência espiritual, fluidoterapia/passes, tratamento a distância ou irradiação, palestra pública, implantação do Evangelho no Lar e visitas fraternas.⁶

A organização e o funcionamento dos estudos, bem como as diretrizes desta área, devem ser delineadas pelos seus responsáveis, sugerindo-se que se ofereça, pelo menos, os seguintes cursos: estudo sistematizado da Doutrina Espírita, estudo de Obras Básicas, estudo aprofundado da Doutrina Espírita, estudo da mediunidade e estudos de obras complementares.

A área de mediunidade é responsável por todas as atividades que envolvam a organização e o funcionamento das reuniões mediúnicas existentes na casa espírita, estabelecendo suas normas gerais, inclusive no que se refere aos seus participantes.

Compreende as ações voltadas ao oferecimento de cursos e seminários na área, como, por exemplo, o Estudo e Educação da Mediunidade, elegendo os programas de estudo e como se dará o seu desenvolvimento. Incentiva não apenas a formação de novos médiuns, mas o contínuo aprimoramento de todos que atuam na mediunidade, em seu aspecto teórico e prático.

Por intermédio da área de assistência e promoção social, a casa espírita auxilia trabalhadores e famílias que frequentam a casa espírita, tanto materialmente como espiritualmente e moralmente. É a oportunidade de seus trabalhadores vivenciarem, na prática, o Evangelho e a caridade aos nossos irmãos mais necessitados.

Todas as atividades são organizadas e planejadas, com a necessária capacitação doutrinária e técnica de seus voluntários, e com o estabelecimento das diretrizes de funcionamento, com o objetivo de proporcionar um melhor atendimento aos assistidos.

As crianças e os jovens não são esquecidos, estando a área da infância e juventude responsável pelo atendimento a esse público, com o oferecimento de cursos, seminários, palestras espíritas e outras atividades instrutivas. Até os 21 anos, receberão atendimento específico segundo suas necessidades e faixa etária.

A organização administrativa e operacional de todas as atividades destinadas às crianças e aos jovens é competência desta área, incluindo a formulação das normas gerais de funcionamento, a confecção de material educativo, entre outros.

Na área destinada à comunicação, observa-se o funcionamento de todas as ações destinada à divulgação da Doutrina Espírita, seja em mídia impressa ou digital, utilizando-se de todos os veículos de comunicação hoje disponíveis, desde que em conformidade com a ética e a moral. Pode envolver rádio e televisão, jornalismo, publicações, campanhas e outras exposições doutrinárias.

Assessora e orienta a diretoria da casa espírita em matérias afeitas à divulgação do Espiritismo e das atividades desenvolvidas pela instituição, sendo beneficiadas todas as áreas e departamentos. Atua, também, na capacitação de trabalhadores da comunicação.

Por fim, destacamos a área administrativa, responsável pela organização e funcionamento geral da casa espírita, especialmente no que tange aos aspectos de estrutura, manutenção, regulamentos e normas aplicadas, segurança das atividades, assim como ao atendimento dos fins primordiais da instituição. A estrutura organizacional da casa pode seguir o seguinte modelo: como órgãos deliberativos, podem ter a assembleia geral e os conselhos deliberativo, de administração e fiscal; na condição de órgãos executivos, tem a diretoria, os departamentos, coordenações ou setores, e as assessorias.

A prática dessas atividades pode variar em função do conhecimento e da estrutura da casa espírita. Para que se possa avaliar a qualidade das ações promovidas, sugere-se buscar os preceitos confiáveis de Allan Kardec, com a realização de uma análise periódica dos resultados alcançados junto aos que buscam auxílio nas casas espíritas.

4. Quantas casas espíritas existem no Brasil?

As informações mais completas e atuais foram encontradas no site da Federação Espírita Brasileira — FEB.⁷ Existem atualmente no Brasil, cadastrados junto à FEB, 15 mil casas espíritas e em torno de 3,8 milhões de espíritas, segundo informações do Censo do IBGE, de 2010, sendo a maior nação espírita do planeta.

A primeira casa espírita do Brasil foi o Grupo Familiar de Espiritismo, criado em 17 de setembro de 1865, na cidade de Salvador, Bahia, por Luiz Olympio Telles de Menezes.

5. A Casa Espírita é boa ou ruim?

A casa espírita, sendo uma instituição que busca aproximar o homem de Deus, é boa, assim como as demais instituições religiosas. Toda religião que busca transformar o homem para melhor, fazendo-o adquirir virtudes e nobres princípios, merece o nosso respeito.

Com a casa espírita não seria diferente. Desde