As quatro estações da alma: Da angústia à esperança
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Sobre este e-book
Saber nomear e entender a própria dor é fundamental para conseguirmos organizar nossos sentimentos e escolher o rumo que queremos seguir. Por isso, conforme apontam os autores, não devemos evitar olhar para dentro de nós mesmos e enfrentar – por que não contemplar? – aqueles momentos em que tudo parece mais difícil.
Num mundo em que as redes sociais parecem ditar uma vida de festa e eterna felicidade, é preciso ter coragem para refletir sobre o que é real de fato, sem filtros, pois até o verão pode ser entediante. Afinal, a dor também existe, e é necessário reconhecê-la para não sermos por ela dominados e não perdermos nossa capacidade de ter esperança.
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As quatro estações da alma - Mario Sergio Cortella
AS QUATRO ESTAÇÕES DA ALMA:
DA ANGÚSTIA À ESPERANÇA
Mario Sergio Cortella
Rossandro Klinjey
Papirus 7 Mares>>
ROSSANDRO KLINJEY por Mario Sergio Cortella
No brasão da cidade de Campina Grande, onde o campinense Rossandro tem as suas raízes, está em latim o lema Solum Inter Plurima (Única Entre Muitas). É verdade! A cidade é única, sem se considerar a única
, isto é, sem supor-se exclusiva, e isso é autoestima e identidade virtuosa.
Assim também é Rossandro, único entre muitos, e em vários sentidos!
É único, ou seja, singular e original na sua maneira de transbordar conhecimentos e afetos; é único na capacidade incomum de nos enredar em reflexões e provocações suavemente perturbadoras, que parecem um carinho no ponto de partida (pela forma como fala) mas que são de fato intimações para que nossa conduta seja mais autêntica e benfazeja; é único como sui generis, ao manejar com perícia (e como ninguém) os fundamentos da Psicologia Clínica para nos ajudar a não ficarmos danosamente distraídos com os requisitos para uma existência individual e comunitária mais salutar.
É único entre muitos assim sendo, e é muitos nesse único, ao repartir-se nos ofícios da escrita, da docência, da clínica, da consultoria, da palestra, da mídia, da internet etc. Esses são vários de seus ofícios, sem que só a ofícios se dedique; nos territórios das ternuras e das afinidades, tem benignas lidas com a família, aprecia fruir e repartir paparicos e quitutes (habitualmente saudáveis, pois se cuida bastante e cuida para que as outras pessoas se cuidem), imerge nas artes para prover-se de emoções e sensibilidades compartilhadas, e expande afabilidade (sempre) e compaixão (quando crucial).
Rossandro é mesmo único entre muitas pessoas, e sabe muito bem que a digna incumbência a que se propôs é acudir para que cada pessoa, entre tantas gentes, também única seja nas suas quatro estações do percurso da Vida.
MARIO SERGIO CORTELLA por Rossandro Klinjey
Apresentar Cortella não é tarefa simples; seria como tentar apresentar o Rei Roberto Carlos para alguém. Evidentemente, todos estão cientes de que ele é um filósofo, escritor, palestrante, e executa todas essas funções com maestria. Esses dados são facilmente encontrados com uma breve busca online. Contudo, o que poucos têm o privilégio de compreender é o quão inspirador ele é como ser humano.
Uma vez, enquanto aguardava o horário de minha palestra, que aconteceria antes da dele, tive o prazer de encontrá-lo nos bastidores. Naturalmente, todos nós ficamos encantados apenas por estar no mesmo evento que Cortella. Aquilo se transformou em uma verdadeira aula sobre convivência humana. Dotado de uma memória invejável, ele fez questão de acarinhar
cada um de nós presentes, destacando valores que enxergava e mencionando experiências que compartilhamos. Era lindo ver como cada semblante se iluminava ainda mais, como se homens barbudos se tornassem crianças ao ouvir um pai validando seus esforços e suas conquistas.
Mario Sergio é um semeador de esperanças e fé. É impossível ouvi-lo ou lê-lo sem se sentir tocado pela intensidade de sua crença na humanidade. Sua obra é um farol que indica um caminho seguro para corações desorientados.
Embora nos separem 18 anos de vida e várias estações percorridas, com vivências diferentes da nossa condição de VIPs, como assim você brinca comigo (Vindo do Interior do Paraná e eu Vindo do Interior da Paraíba), compartilhar a escrita deste livro é um daqueles momentos na vida em que uma mãe morreria de orgulho e contaria para as amigas. Sei que é isso que Dona Adelma faria. Como ela frequentemente dizia, em minha caminhada, cruzaria com almas radiantes que teriam a capacidade de me impulsionar a voos mais altos. Estou certo de que ela se referia a alguém como você, meu amigo.
Eu sei que futuro não é um destino ao qual nos dirigimos, mas uma realidade que moldamos a cada estação da vida. Esses trajetos não são meramente descobertos, mas forjados por nós. E, ao construí-los, transformamos a nós mesmos e o nosso destino.
Desde cedo, Cortella reconheceu o profundo valor de compartilhar destinos. A cada fase de sua vida, ele semeia sabedoria e colhe os frutos da experiência acumulada. Neste livro, sinto-me honrado por ele compartilhar comigo parte dessa jornada tão inspiradora.
Sumário
Ser turista ou peregrino?
Dar nome à dor
A angústia da monotonia
O tempo de cada estação
A vida sem filtros
Olhar para dentro
Conviver com as diferenças
É preciso esperançar!
Glossário
Notas
Sobre os autores
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Redes Sociais
Créditos
N.B. Na edição do texto foram incluídas notas explicativas no rodapé das páginas. Além disso, as palavras em negrito integram um glossário ao final do livro, com dados complementares sobre as pessoas citadas.
Ser turista ou peregrino?
Rossandro Klinjey – Passar pela angústia, na experiência humana, tem um grau de inevitabilidade. Como Jung afirma: Não há retorno à consciência sem a dor
. Assim sendo, não é possível passar pela vida sem a experiência incontornável da angústia. Muitos de nós tentam fugir disso, buscando se anestesiar no próximo episódio de uma série, na próxima balada, ou até mesmo no próximo copo de bebida... Trata-se de um ato de evasão persistente, uma negociação interna, consciente ou não, cujo único objetivo é evitar a dor a qualquer custo. Moldamos acordos sociais para nos ajudar a adormecer diante de vivências mais dolorosas.
Pensemos, por exemplo, sobre como se conduzem os velórios atualmente: são eventos higienizados
, bastante distintos das dolorosas cerimônias do passado, às vezes até teatrais, na sala de estar das casas dos entes queridos que partiam. Era comum presenciar gritos e desmaios, com estranhos e curiosos participando. Depois que a família retornava do enterro, os resquícios da cerimônia funerária permaneciam: o crucifixo, os candelabros, as velas que, misturando-se ao aroma das flores, emanavam pungente odor de morte. Essa angústia se materializava nas sobras do ritual fúnebre, à espera da família que retornava para um lar agora vazio. Tudo isso era como se fosse uma lembrança de que aquela ausência estava marcada. Agora, nós vamos para um espaço, que não é mais o ambiente de casa, em que temos uma angústia controlada, com uma salinha para a família chorar na intimidade, sem escândalos, mas misturando-se com os enlutados da sala de velório ao lado.
Em nossa jornada humana, nos encontramos frequentemente diante das encruzilhadas da vida e da morte, cada uma marcada por significados, rituais e processos de luto que refletem as complexidades de nossa existência. Essas encruzilhadas são mais do que eventos isolados; são etapas vitais em nossa evolução, cada uma exigindo compreensão, aceitação e um abraço corajoso à dor.
A morte, em suas várias formas e contextos, não é apenas uma ocorrência física, mas um fenômeno psicológico e cultural, profundamente entrelaçado com nossa compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Em cada cultura, rituais fúnebres, sejam eles enterros, cremações ou cerimônias de despedida, servem como reflexos de nossas crenças e valores, e como ferramentas para navegar pelas águas muitas vezes tumultuadas do luto.
Ao higienizar exageradamente a morte, ao fugir das inexoráveis experiencias de dor, perdemos esse rico aprendizado.
O luto é uma resposta não apenas à perda, mas também a uma mudança nas estruturas da vida que nos definem. É uma jornada através da qual, se não nos apressarmos nem negarmos a dor, podemos chegar a uma compreensão mais profunda de nós mesmos.
Não pular etapas da vida, não fugir da dor, mas enfrentá-la e aceitá-la é o que nos permite crescer e evoluir. Cada etapa, cada dor enfrentada é uma oportunidade para amadurecer e se transformar.
Não pular etapas da vida, não fugir da dor, mas enfrentá-la e aceitá-la é o que nos permite crescer e evoluir. Cada etapa, cada dor enfrentada é uma oportunidade para amadurecer e se transformar.
Nossas vidas são marcadas por rituais, com cada um de nós refletindo e respondendo às mudanças inevitáveis que ocorrem em nosso ciclo vital. Esses rituais não são apenas tradições vazias, mas atos significativos que nos ajudam a lidar com a complexa tessitura da vida e da morte. Eles revelam como nossa sociedade se estrutura e se reestrutura, como ela celebra, sofre e aprende.
A dor não é uma falha nem uma fraqueza; é parte integrante do que significa ser humano. Em seu abraço, encontramos a possibilidade de compreensão, crescimento e, finalmente, a sabedoria. Em nossa travessia da dor, não somos meramente quebrados, mas refeitos, prontos para enfrentar as próximas etapas de nossa complexa e bela jornada humana.
E, falando de morte, me lembrei de meu primeiro contato mais visceral com ela. Quando presenciei o enterro de um jovem da rua onde morava, que morreu de um acidente. Ele estava lá, com o algodão no nariz, aquela coisa terrível, rosto desfigurado. Essa imagem me atormentou por vários dias. Naquela época, não se usavam as técnicas da tanatopraxia, que maquia o rosto e faz outras ações para preparar o corpo para o velório. Fiquei uns quinze dias sem dormir direito, só lembrando da imagem dantesca que vi. Só voltei a dormir quando tive o seguinte pensamento: se ele tiver de voltar, vai procurar um conhecido, um parente, não a mim, que sou alguém que estava lá do nada, que era só um vizinho. Ele vai procurar um parente!
Mario Sergio Cortella – Nem sempre é assim. Em algumas religiões, normalmente as forças do além procuram quem elas não conhecem, então você tem tempo ainda... (Risos)
Rossandro – Ainda bem que eu não sabia disso (Risos). Naquela época, a crença de que o defunto iria procurar a mãe, ou o pai, e não a mim, me ajudou bastante. Mas essa lembrança diz muito da ideia de que, hoje, tentamos encastelar
a angústia, ou até negá-la completamente. Esse tipo de comportamento pode se tornar um obstáculo ao nosso amadurecimento e crescimento pessoal.
Atualmente, buscamos, desesperadamente, escapar de situações que causam desconforto emocional ou mental. Procuramos construir fortalezas em torno de nossa angústia, em uma tentativa de nos protegermos de emoções que consideramos indesejáveis ou ameaçadoras. No entanto, negar a existência da angústia e tentar evitar a dor não nos permite enfrentar essas experiências, aprender e crescer com elas.
Para amadurecer verdadeiramente, precisamos encarar nossos medos e nossas inseguranças. Precisamos acolher a angústia como parte integrante da vida, e não como algo a ser evitado a todo custo. Ao abraçar a dor e a incerteza, somos capazes de compreender melhor a nós mesmos e o mundo ao nosso redor, o que por sua vez nos permite crescer e nos desenvolver de maneira mais plena e