O amanhã já chegou?
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Sobre este e-book
Julieta Silva
Especialista em Literatura Brasileira
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O amanhã já chegou? - João de Deus Santos Ribeiro
CAPÍTULO 1
RAUL SEIXAS
Metamorfose Ambulante
⁴
Preferir ser uma metamorfose deveria ser uma excelente saída, uma válvula de escape para aqueles que preferiam seguir o estilo maluco beleza
do Raul, não só por loucura juvenil, muitas vezes esses jovens eram mal vistos no seio social como perversores, ou rebeldes sem causa, talvez no meio desse grupo havia muitos deles, todavia, alguns poderiam fazer uso dessa letra musical em suas vidas para fugir da alienação.
Aquela alienação da qual fala Raul nessa música – metamorfose ambulante, lançada no ano de 1973⁵ - é a alienação do sistema sobre o indivíduo, consequentemente afetando, paulatinamente, a coletividade. Aliás, Raul bem quisto e reconhecido entre seus pares no ramo do Rock brasileiro e de muitas das suas letras de cunho social.
Creio que nenhum fã de rock no Brasil, nenhum conhecedor de sua história, nenhum interessado em tudo o que se passou por aqui desde que o fenômeno surgiu nos Estados Unidos, discordaria da escolha, para exemplificar essa última caracterização, de dois nomes: Erasmo Carlos e Raul Seixas⁶.
Alienação essa representada em Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
, que velha opinião seria essa? Em 1973 a sociedade em que Raul vivia, não bem diferente da nossa, era controlada fortemente, vigilantemente, pelo aparato estatal e, dessa vez afirmo que diferentemente da sociedade atual brasileira (2023), à época de Raul o Brasil era governado por militares, que apesar do apoio de alguns setores da sociedade civil, mantinham uma estrutura militar, uma ideologia militar para manter a ordem política social.
Essa ordem era a garantia de que o regime político estabelecido – de forma não democrática – iria se manter intacto e além das prisões, torturas, exílios de quaisquer civis contrários ao regime, a propaganda para alienar, inculcar nas mentes que o Brasil estava no caminho certo, nos trilhos do desenvolvimento e se transformando em uma potência para um futuro próximo. Opiniões incutidas na cabeça de alguns pelo poder estatal e midiático, velhas opiniões, pois afinal, quais governos, militares ou não, buscaram manter, junto com a propaganda, poder sobre o jeito de pensar, vestir, falar das pessoas? O Brasil de 1973 era diferente daquele Brasil do voto de cabresto da República Velha? Ou a propaganda dos governos populistas nos anos 1950 era diferente disso? Como cantou Raul para o povo brasileiro e quem mais que tinha ouvidos para ouvir: velhas opiniões
.
Imagem de domínio público em⁷
Imagem de domínio público em⁸
Sofrer metamorfoses, permitir-se mudar por conta própria, pensar e repensar sobre tudo e sobre si é renovar, é se tornar um outro, é conhecer a si mesmo e renovar a si, algo, certamente, perigoso ao sistema, entretanto, percebamos o quanto profundamente filosófica, introspectiva e bela é a letra. Uma música para aquele tempo, entretanto, ela rompe barreiras, transcende o espaço passado para o espaço do tempo presente: é a música como uma garrafa contendo uma mensagem dentro de si, boiando no imenso oceano do tempo e ela chega até nós, ela está aqui dizendo para pensarmos, formarmos nossas opiniões por reflexões, conhecimento, sem medo da mudança de si e da mudança coletiva.
A música traz consigo uma poderosa mensagem que se encaixa perfeitamente nos dias atuais: não deixemos eles dizerem o que devemos ser, estrelas ou escuridão, amor ou ódio. A dor pode ser inferida a alguém ou a muitos, porém, quando agimos na direção contrária ao conselho cantado por Raul, deixamos de ser vítimas da dor e nos tornamos ela: lhe tenho amor, lhe tenho horror
. Quase uma profecia de Raul: recentemente pessoas, por ódio e medo causado por velhas opiniões implantadas em suas mentes pelos que usavam a mídia para tais objetivos, espalharam horror pelas principais cidades do Brasil. E não foi no ano da música (1973), foi em meados do século XXI.
Arruda comemorava sua festa de 50 anos com temas vinculados ao PT e à candidatura Lula, com cantos e vivas ao ex-presidente.
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SANDY MENDES
10.07.2022 11:42 35⁹
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Davi Medeiros
21 mar, 2023 - 10h06¹⁰
Assombroso, Raul cantava para o Brasil escapar da alienação imposta e nós, em pleno século XXI continuamos a cometer velhos e piores erros, velhos por aceitarmos sermos, em uma democracia, escravizados mentalmente e erros piores porque o governo não precisa pegar em armas para eliminar seus opositores, nós mesmos eliminamos uns aos outros, mergulhados em algo que se transformou em uma viral cultura do ódio.
Essa vitalização, em grande parte, só foi e é possível pelo indevido uso das ferramentas de comunicação instantâneas que possuímos na atualidade. Em 1973, praticamente a região sul e sudeste tinha acesso a informações por aparelhos televisivos e rádio. Região norte e nordeste as informações eram escassas e demoravam chegar, nessas regiões o aparelho de rádio era mais popularizado. Mas nenhum desses meios de informações pode ser comparado em velocidade de transmissão que os aparelhos celulares, além de conterem essa característica ainda são populares, muitas pessoas fazem uso e para agravar, as informações transmitidas muitas vezes são desinformações, verdadeiras semeaduras de ódio. Tudo rápido, instantâneo, entretanto, as pessoas não se cansam dessa rapidez que gera ansiedade e falta de foco, Raul já havia cantado em 1973: É chato chegar a um objetivo num instante
Pode crer, Raul, parece que muita coisa está a mesma coisa, somente com uma nova roupagem, portanto, sua velha e boa receita parece atualíssima: devemos preferir ser uma metamorfose ambulante, mas talvez tenhamos a sorte de sermos levados por um disco voador!
S.O.S.
¹¹
Muita loucura, só um disco voador mesmo: pare este planeta que eu quero embarcar! As contradições fazem parte da vida, é natural e saudável. Contudo, estejamos atentos quando se aproxima o momento em que essas contradições deixam de fazer parte do equilíbrio natural da sociedade e do meio em que vivemos, pois se alguém ou um grupo de pessoas acentuam essas contradições baseados na exploração de uns pelos outros, a troca salutar de experiências que me permite crescer junto com você exatamente por conta das nossas diferenças, ela nos é privada.
Raul denuncia, no ano da composição da música, 1974¹²: uns na bela praia e muitos morrendo pelas ruas, assaltados, assaltantes, no trânsito, nas favelas, as notícias nos jornais estavam mergulhadas em sangue. Como um simples vetor
, observando da janela de um quarto de pensão ele tenta, inutilmente, uma transmutação
.
Formigas que trafegam sem porque
, operários, alienados, nem donos de si eles são. Um ano depois de lançar a música Metamorfose Ambulante
, lá estava ele novamente fazendo as mesmas denúncias. Quarenta e nove anos depois cá estamos nós, vejamos as imagens e o que Raul escreveria para cantar sobre elas.
A Imagem, de domínio público¹³, está no site da BBC News Brasil, contendo o seguinte questionamento na manchete: "Quem a polícia defende? De que lado está? Questiona o autor de foto (Leandro Machado) símbolo da desigualdade no Brasil".
Talvez o fotógrafo Leandro Machado, que registrou a imagem em 2019, também tenha desejado embarcar em um disco voador, assim como cantou Raul em 1974. Raul Seixas faleceu em 1989, entretanto sua obra musical permanece viva, não somente por ser ouvida por muitos, mas por escrever uma realidade que ainda é a nossa. O que de fato mudou?
Já que Raul fez tantas descrições da realidade em que ele viveu e coincidentemente, em muitos aspectos, apesar de quarenta e nove anos (49) terem se passado da música S.O.S. até os dias