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Cão mijando no caos
Cão mijando no caos
Cão mijando no caos
E-book176 páginas2 horas

Cão mijando no caos

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Sobre este e-book

O que fazer, pergunta-se o cronista, no universo em desencanto sem primavera alguma a chegar? Como preservar o carinho pelo ínfimo do dia a dia em meio à estridência reacionária que, ágrafa, se apossou das ruas na última década? O pensador Bacanaço tudo disse: "– Pense numa ventania! Só sei que comecei vendendo camisetas tipo Che, Bakunin e 'Não vai ter Copa'... Quando vi estava negociando símbolos da Pátria, bandeiras do Brasil, adesivos e canecas 'Fora Dilma'".
Democracia certamente em vertigem, como reencantar o cotidiano? Talvez recorrendo a Heráclito: "Não se bebe duas vezes no mesmo bar-bodega". E, na dialética da história, recordar a mescla inspirada de Caetano Veloso sampleando Orestes Barbosa na voz do Rei: "Tudo vai mal/ Tudo, tudo, tudo, tudo/ Tudo mudou/ Não me iludo e contudo/ É a mesma porta sem trinco/ o mesmo teto, mesmo teto/ E a mesma lua a furar/ Nosso zinco".
Xico Sá redescobre o possível encanto do dia a dia por meio da releitura da própria história da crônica e da cultura popular, pois "é no caos, nunca no poste da história, que se busca uma verdade". O claro enigma revela a engrenagem da máquina do mundo: no fundo, menos do que retrato oblíquo, a crônica, espelho sem moldura, inventa o mundo no qual enfim podemos nos reconhecer.
João Cezar de Castro Rocha
IdiomaPortuguês
Editorae-galáxia
Data de lançamento29 de jun. de 2024
ISBN9788584743780
Cão mijando no caos

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    Cão mijando no caos - Xico Sá

    A ressaca como uma Chikungunya niilista

    Segundo o cronista hippie que habita em mim desde Canoa Quebrada, essa história poderia se chamar ressaca histórica dos dez anos que abalaram o Patropi. Ou ainda: o tempo em que a crônica brasileira perdeu o bonde do lirismo.

    Quase a crônica chega ao fim nesse semiárido roçado, camarada Julián Fuks, quase sifu sem sex appeal diante dos pervertidos algoritmos da moda.

    Resistiu à custa de meia dúzia de rubens & marias que seguraram a barra entre borboletas amarelas e dores maldormidas. Cronicamente agonizante como o samba.

    O peso da ressaca, dizia este ventríloquo das páginas sem glória, muda a cada nova manhã. É na virada das décadas da nossa idade, porém, que a gente sente o peso e os pesares da mudança.

    Em 2013, marco inicial deste livro, estava à beira dos 50. A ressaca era uma dengue existencialista, aquela que faz você acordar com dores, náuseas e a conclusão definitiva de que a existência precede a essência.

    Em 2023, o movimento ainda pode ser sexy, sexagenário. A ressaca, porém, virou uma Chikungunya niilista. Sabe quando você olha muito tempo para o abismo e é correspondido? É por aí.

    O melhor a fazer, para seguirmos na linha filosófica, é bancar o Diógenes, 404 a.C.: adotar logo o barril como morada. Nada mais adequado para uma vida ladeira abaixo.

    Dos 50 aos 60 anos de idade, muitas coisas mudaram na dosimetria das penas impostas na rebordosa.

    No plano coletivo, restou uma ressaca cívico-patriótica para metade do país; a outra metade + uns votos, vulgo maioria democrática, ainda comemora. Celebra sem pensar sobre futuras borrascas ou tempestades. Evoé, Baco.

    Não foi fácil se livrar do Inominável.

    Imagina o vômito do Batman do Leblon (o Batman dos Protestos) a passar a régua na conta aberta na primavera de 2013. Pensando bem, a rebordosa do Batman vem desde a primeira batalha, no dia em que os Black Blocs desmascararam-no.

    Ressaca moral no day after do baile de máscaras.

    Dos 50 ao ser-e-o-nada sexagenário, perdi uma boa dose do lirismo, retomando um certo panfletarismo juvenil e urgente.

    A poesia e a política são demais para um homem só, Sara alerta ao megafone, direto do final dos anos 1960. Sara é personagem de Terra em transe, filme de Glauber Rocha.

    Neste teatro de revista dos últimos dez anos cabe tudo. Memória & lapso. É só uma desculpa disfarçada em oportunidade para contar pequenas histórias, coletivas ou particulares, que sobraram na curva da estrada como a kombi da Elis em um anúncio publicitário da Volkswagen.

    Leveza já era, finado Kundera. Sentir de novo é como o maracatu da Nação Zumbi: pesa uma tonelada.

    Saideira no Heráclito bar & lanches

    A história com H maiúsculo se repete duas vezes, disse o Costeleta. No que o Barba-Mor, seu companheiro de cerveja e steinhäger, emendou: a primeira como tragédia, a segunda como farsa.

    Com o ato de beber, por mais que se trate de um bêbado filiado ao materialismo histórico, é diferente, tem algo de místico.

    Não se bebe duas vezes no mesmo bar, dizia um certo boêmio pré-socrático que frequentava a Mercearia São Pedro bem antes do corintiano Doutor Sócrates.

    Não se bebe duas vezes no mesmo bar assim como não se repete nas mesmas águas o banho no rio de Heráclito, quinhentos anos antes de

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