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Um Sol Pálido
Um Sol Pálido
Um Sol Pálido
E-book62 páginas55 minutos

Um Sol Pálido

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Sobre este e-book

Crõnica do coronavírus, a história de um homem afetado por esta pandemia. Um mistério, um enigma na mente de um homem atormentado pelo mesmo pesadelo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de set. de 2024
Um Sol Pálido

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    Um Sol Pálido - Rogério Delacorte

    UM SOL PÁLIDO

    Por

    Rogerio DeLacorte

    Janeiro de 2024.

    1.

    E mais uma vez o mesmo sonho:

    O carro andava

    cada vez mais rápido.

    O homem e a mulher

    discutiam, não se

    lembrava do motivo.

    Apenas

    discutiam.

    Ele, criança, atrás,

    sentado no banco. Foi

    quando o motorista,

    perdeu o controle.

    Lembrou-se de vidro,

    e terra e a mão ora do

    homem, ora da mulher

    passando diante de

    seu rosto.

    Acordou assustado. Olhou o celular, o relógio marcava pouco mais de quatro da madrugada.

    Sentou-se na beira da cama, esfregou o rosto. Olhou pela janela. A cidade ainda estava lá, do mesmo jeito, silenciosa, noturna. Deitou-se novamente. O

    sono não demorou muito, tornou a dormir.

    Entrou, sentiu-se exausto. Nem era ainda uma da tarde. Levantou-se, encostou o corpo no vidro da janela. Enquanto olhava por ela, o dia passando tranquilo, algumas pessoas teimando em não cumprir o isolamento social. Ele próprio tinha

    acabado de voltar da rua para resolver um assunto bem pessoal.

    Ficou pensativo. Era talvez um dos efeitos do isolamento, trancafiado dentro de seu apartamento, no centro da cidade. Estava à dez andares da rua, ouvindo os movimentos, a cidade, vítima de sua população esperançosa nas promessas do presidente, que voltava a se movimentar.

    Provavelmente, e isso já era previsto por todos os médicos, a pandemia ia só ficar calminha um pouco, e depois ia voltar com tudo. Deus do céu, já estavam enterrando as pessoas em valas comuns, como naquele filme Contágio. A personagem da Kate Winslet era praticamente jogada com outras pessoas numa cova comunitária, porque os cemitérios já não estavam dando conta.

    Não quis pensar nisso, só caminhou até a cozinha, o que significava dar uns dois ou três passos dentro do minúsculo apartamento. Ligou a cafeteira, preparou uma garrafa de café. Sentou-se à mesa de vidro com uma xícara fumegante. Não haviam fotografias de ninguém, embora houvesse um álbum guardado no canto. Daqueles físicos ainda. Herança de tempos hoje, quase jurássicos.

    Parou de assistir à TV por uns dias, estava revendo velhos filmes em DVD ou então, no youtube. Não tinha mais saco para as escaramuças entre os partidos políticos, nem tinha mais sangue frio para os números subindo. Parecia uma guerra.

    Sorveu o café, que ainda fumegava um pouco de seu vapor, dando goles curtos, calmos.

    O ruim da quarentena, para ele, era ficar pensando. A mente vagava demais, ia a lugares que

    muitas vezes, não gostava de ir. Preferia a segurança de um momento mais sólido, mais firme. No entanto, a mente, assim como a vida, não dava para controlar.

    Ontem mesmo, ficou lembrando de sua infância.

    Nascera, segundo a mãe, num dia chuvoso, depois de um parto trabalhoso. Mais de cinco horas no ventre da mãe. O médico e a enfermeira alternando-se sobre a coitada, para ver se ele saia.

    Houve um dado momento em que o médico foi falar com seu pai, que estava morrendo de agonia na sala de espera.

    - Olha, o negócio é o seguinte: está muito complicado, o bebê não sai. Se em dez minutos não conseguirmos tirá-lo, vou salvar sua esposa.

    A fala categórica, quase como um vaticínio, fez seu pai sentar-se e começar a chorar igual criança.

    Em oito minutos ele saiu. Para tirá-lo, o médico precisou de um fórceps (ele ainda guarda a marca de onde o aparelho firmou em sua cabeça, para tirá-lo, até hoje). No processo, o cordão umbilical prendeu em torno do seu pescoço, ficou com leve privação de oxigênio. Para finalizar a cereja do bolo, não chorava, mesmo o médico dando uma palmada.

    Precisou de cinco até abrir a boca.

    Quando sua mãe o pegou no colo, ele todo sujo de placenta, choroso, ela sorriu.

    - Meu Deus doutor, ele é tão gordinho. Mal dá para saber onde é a cara – brincou ela.

    - Pois é. Escute, você viu o risco do parto do seu filho, está planejando ter mais um?

    - Sim doutor, eu conversei com meu marido, estamos pensando em pelo menos um casal, talvez três, não sei.

    - Bom, quando for fazer o parto, posso pedir uma coisa?

    - O quê doutor?

    - Por favor, procura uma colega minha que é ótima. Depois desta, estou velho demais para partos complicados.

    A mãe riu da brincadeira, embora no fundo, o que médico estava dizendo fosse verdade. Ele aposentou-se poucas semanas depois.

    Seu pai e sua mãe não tiveram outros filhos depois dele. Talvez tivessem pensado melhor, pensou ele.

    Ele sorriu da lembrança.

    A mãe sempre disse que ele queria ter vindo, pois uns meses antes, havia sentido umas contrações, como se estivesse entrando em trabalho

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