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Abu Ali Haçane ibne Alhaitame (em árabe: أبو علي الحسن بن الهيثم; romaniz.: Abu Ali al-Hasan ibn al-Haitham), conhecido também pela forma latinizada Alhazém (em latim: Alhazen), foi um matemático, físico e astrônomo árabe[1] ou persa[2]. Nasceu no ano 965 em Baçorá, (atual Iraque) e morreu em 1040 na cidade do Cairo. Foi pioneiro nos estudos da óptica, após Ptolomeu. Foi um dos primeiros a explicar o fenômeno dos corpos celestes no horizonte.[3]

Alhazém
Alhazém
Nascimento 1 de julho de 965
Baçorá
Morte 6 de março de 1040 (74 anos)
Cairo, Egito
Nacionalidade Iraquiano buída

Escreveu numerosas obras notáveis, pelo estilo e pelas observações sobre os fenômenos da refracção da luz, com especial incidência na refracção atmosférica ao nascer e ao pôr do sol.[3]

Em seu Livro de Óptica (em árabe: كتاب المناظر, lit. 'Kitāb al-Manāẓir'), publicado no início do século XI, propõe uma nova teoria sobre a visão. Embora diferente do modelo atualmente aceito, essa teoria foi revolucionária para a época em que foi proposta e é vista como um passo importante para a compreensão da visão.[3]

Outra contribuição importante sua foi para o método científico. Alhazém acreditava que uma hipótese devia ser provada por experimentos, seguindo procedimentos sistemáticos e que poderiam ser reproduzidos, assim já demonstrando similaridades do que hoje é considerado o método científico moderno, mais de mil anos atrás e séculos antes de Descartes..[4][5]

É considerado por muitos como o primeiro cientista, pelas suas contribuições na óptica, na astronomia, na física, na matemática, filosofia e pelo pensamento de que o conhecimento científico só seria alcançado através de uma postura cética por parte do pesquisador, que deveria comprovar suas hipóteses pelo uso de experimentos e que estes poderiam ser reproduzidos.[4]

A UNESCO denominou o ano de 2015 como o Ano Internacional da Luz e homenageou Ibn Al-Haytham pelo milésimo aniversário da publicação do seu Livro de Óptica.[6]

Biografia

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Alhazém nasceu em 965 em Baçorá, na Pérsia Antiga e morreu em 1040 no Cairo. Pouco se sabe sobre a infância e a adolescência de Alhazém, ele fez parte de uma era em que a civilização muçulmana crescia intelectualmente de forma bastante considerável, com a criação de bibliotecas e escolas. Os primeiros estudos de sua vida foram dedicados ao estudo de religião. Contudo, Alhaitame foi aos poucos tornando-se infeliz com seus estudos de religião e tomou a decisão de dedicar-se inteiramente à ciência, que ele achou muito bem descrita nos trabalhos de Aristóteles. Tendo tomado esta decisão, o resto de sua vida foi voltado ao estudo de Matemática, Física e outras ciências.[3][4][5]

Já no Egito, foi contratado pelo califa fatímida Aláqueme Biamir Alá por sua ideia de controlar o fluxo do Rio Nilo por meio de construções, mas logo Alhazém percebeu que esta era um tarefa impossível. Alhazém, para se salvar de uma punição do Califa, se declarou louco e foi posto em prisão domiciliar pelo Califa, só sendo liberto depois da morte de Aláqueme. Totalizando 10 anos, foi neste período que ele escreveu the Kitab al-Manazir, o Livro de Óptica, e quando, segundo as histórias, teve a ideia da Albait Almuzlim, câmera obscura em árabe, ao ver um feixe de luz atravessar um quarto escuro e perceber que ele projetava a imagem de objetos do lado de fora na parede contrária, descobrindo assim que a luz viaja em linha reta.[3][4][5]

Alhaitame teria escrito cerca de 92 trabalhos, com apenas 55 deles ainda preservados.[3][5]

Seu trabalho em sete volumes sobre Óptica, Kitab al-Manazir, é considerado por muitos como a maior e mais importante contribuição de Alhazém. Foi traduzido para o latim como Opticae thesaurus Alhazeni em 1270, por Roberto Grosseteste.[7] O maior trabalho prévio em Óptica havia sido o Almagesto, de Ptolomeu, e embora o trabalho de Alhazém não tenha tido a mesma influência que o Almagesto, ainda assim é considerado como a próxima grande contribuição ao assunto, tanto que foi chamado pelos estudiosos europeus de o segundo Ptolomeu.[3][4]

Contribuição científica

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Método científico

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O método de Alhazém dividia a pesquisa em 5 estágios:[4]

  1. A pesquisa deve começar com as introduções e princípios do que se quer pesquisar, definindo o problema e todos os estudos e conhecimentos que fosse possível sobre o que estaria sendo pesquisado, ao invés de logo começar com o experimento;
  2. O segundo estágio é a dedução e o estudo do todo por meio das partes;
  3. Depois da separação das partes para o estudo do todo, são então vistas as particularidades das partes, para separá-las em categorias;
  4. Definir o que é relevante para a discussão e examinar isso em relação aos resultados do experimento;
  5. Analisar e criticar a hipótese para chegar à verdade. Essa análise leva a hipótese a ser mais resistente e mais perto da verdade.

Atmosfera terrestre

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No ano de 1021, Alhazém procurou explicar o fenômeno da refração atmosférica e demonstrou que a refração da luz solar acontece apenas quando o disco solar está a abaixo dos 18° em relação à linha do horizonte[8] e com base nisto concluiu que a altura da atmosfera terrestre deveria ser de aproximadamente 79 km,[9][10] o que é bastante compatível com os resultados atuais.[11] Alhazen também concluiu que a atmosfera reflete a luz, pelo fato de que as estrelas menos brilhantes do céu começam a desaparecer quando o sol ainda está 18° abaixo da linha do horizonte, indicando o término do crepúsculo ou o início do amanhecer.[8]

Contribuição para a física do corpo humano

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Alhazém também contribuiu para o estudo do corpo humano, devido sua teoria sobre a visão. Por meio dela, propôs que a visão ocorre através da luz e das cores que se espalham em linha reta, para todos os lados, a partir de cada ponto da superfície dos objetos, e atingem o olho, nele produzindo uma réplica bidimensional do que percebemos. Em seu Livro de Óptica, explicou que a luz e as cores produzem efeitos no olho: uma luz muito brilhante (como a do Sol, ou a luz solar refletida por um espelho) pode produzir dor e dano a esse, assim como luzes brilhantes que o atingem acarretam em consequências de certa duração — ao olhar para um lugar escuro depois de observar um corpo branco brilhante, a visão não é nítida durante algum tempo — e, também, objetos coloridos produzem efeitos temporários nos olhos.[3]

A abordagem de Alhazém é fortemente experimental e ele manteve praticamente a mesma descrição do olho que havia sido apresentada por Galeno (século II) e outros autores antecessores. Porém, é necessário frisar que sua teoria não é aceita atualmente, apesar de sua importância para a compreensão do processo visual, uma vez que teve grande influência na Europa, pois Johannes Kepler (1571-1630) propôs as bases da teoria da visão que ainda é utilizada.[3]

Referências

  1. Gregory, Richard Langton (2004). The Oxford Companion to the Mind (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. 24 páginas. ISBN 978-0-19-866224-2 
  2. History and Evolution of Concepts in Physics page 24
  3. a b c d e f g h i MARTINS, Roberto de Andrade. «A Óptica de Ibn al-Haytham – 1.000 anos de luz». Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Consultado em 20 de julho de 2015 
  4. a b c d e f Sobhi Rayan. Analogical reasoning roots in Ibn al-Haytham's scientific method of research. International Journal of Computational Bioinformatics and In Silico Modeling, 2014.
  5. a b c d El-Bizri, Nader, "A Philosophical Perspective on Ibn al-Haytham's Optics", Arabic Sciences and Philosophy 15 (2005-08-05), 189–218
  6. "1000 Years of Arabic Optics to be a Focus of the International Year of Light in 2015". Estados Unidos visitado em 04/07/2016
  7. Pūyān, Nāsir; Pouyan, Nasser (1 de janeiro de 2014). «Alhazen, the Founder of Physiological Optics and Spectacles». 4: 110–113. doi:10.5923/j.optics.20140404.02 
  8. a b «Ibn Al-Haitham: Master of Optics, Mathematics, Physics and Medicine» (em inglês). Al Shindagah. Consultado em 10 de julho de 2010 
  9. Wednesday, Bob Berman | Published:; April 13; 2022. «Men with glass». Astronomy.com (em inglês). Consultado em 25 de abril de 2022 
  10. Frisinger, H. Howard (1973). «Aristotle's legacy in meteorology». Bulletin of the American Meteorological Society (3): 198–204. ISSN 0003-0007. Consultado em 25 de abril de 2022 
  11. «2010JRASC.104..147B Page 147». adsabs.harvard.edu. Consultado em 17 de janeiro de 2022