Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

FREVO - UMA BREVE ANÁLISE ESTRUTURAL - Azael Neto

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

FREVO: UMA BREVE ANLISE ESTRUTURAL

Azael Ferreira de Carvalho Neto - EM-UFRJ Bacharelando em Msica Composio e-mail: azaelfe@gmail.com

Resumo:

O texto tem por objetivo traar um panorama na estruturao clssica do Frevo, gnero musical

tpico do Estado de Pernambuco. Durante as pginas seguintes, ser abordado de maneira abrangente caractersticas presentes nos frevos analisados, sem com isso, esgotar as possibilidades do estilo. O material tratado aqui compreende o de carter tradicional, evitando detalhar hibridismos e vertentes ainda no consagradas da manifestao.

Palavras chave: Frevo. Estruturao musical. Msica popular. Caractersticas


composicionais. Morfologia musical.

Introduo

O frevo, manifestao tipicamente popular corrente no carnaval de Pernambuco, est comumente associado com a dana nomeada Passo. Frevo um nome proveniente da palavra ferver, em essncia um estilo musical, e como tal traz suas particularidades meldicas, harmnicas, instrumentais e formais, junto com as quais a associao ao Passo e a toda uma cultura, impossvel de ser sintetizada em polcas linhas. Apresentamos diversos sub-estilos, cada qual, com suas peculiaridades. Sero tratados os pontos estruturais que caracterizam o frevo, apresentando de maneira objetiva as bases da composio desse estilo musical.

Estrut turao Formal F

A estrutura form mal do frevo o mais corr rente (A-B B-A) com possveis p rep epeties de e cada seo o, de mane eira indepen ndente, pod de se multip plicar cada uma ou so omente algu umas. Outro o procedim mento comum m, embora m menos, o acrscimo a de d uma terce eira seo (C) ou a sub bstituio da a A posterio or a B, por e esse C, resu ultando na fo orma (A-B-C).

Frevo os cantados, sejam Cano C ou de Bloco (Pau e Corda), costu umam apres sentar adeq quaes for rmais a let tra, estrutur rao em grande form ma, possui indo a seo B comp posta de b1 1 e b2. Cad da seo co ostuma conter em torn no de dezes sseis compa assos, semp pre em form ma binaria simples, na p pesquisa n o foi encon ntrado nenh hum exempl lo em binr rio compos sto. Foram m encontrad das transcr ries em quaternrio o simples, no cond dizentes com m a realiza o instrum mental. O Frevo F de Bl loco e por vezes o Ca ano possu uem a seo o (A) instrumental segu uida do rest tante cantad do.

Pero odo, alguns s autores encaram com mo sendo formado por quatro f frases regu ulares, outro os, como se endo formad do por duas frases de oito o compassos. Nas an nlises realizadas foram m encontrad das as duas s formas, se endo muito recorrente a segunda. Sem consi iderar que r repeties com c leves variaes n no so estruturais EX X1. Por esse e princpio cada quatr ro compassos represen ntariam dois s com repet tio. Pode ocorrer ins sero de sees de br reak, sem qu ue isso inter rfira na estr rutura geral da obra.

EX 1. Duda D no Frevo o comp. 1 ao 7, 7 repetio de desenho.

Na atualidade o Frevo apresentado de andamento allegretto allegro, em sua origem costumava ser mais lento, em especial na parte chamada de introduo (A), acelerando ao longo das inmeras repeties da obra. No caso de repetio de seo, usual que a casa de segunda tenha funo de transio inserida, essa transio j parte da linha meldica da seo seguinte.

Fraseologia e Harmonia

As frases so geralmente de carter anacrstico, por vezes acfalo, seguem os princpios rtmicos geral da msica brasileira1, de razes afro-lusitana, com fluxo de semicolcheias, notas pontuadas e utilizao de sincopes, geralmente regulares ou diminutivas. As ultimas no presentes nas manifestaes indgenas, como o Cateret. Existe tendncia a membros de frases e frases unidirecionais, muitas vezes compensados por movimentos contrrios e mudanas de regio no fluxo meldico.

Ocorre deslocamento de notas estruturais da melodia, para parte de tempo e tempos fracos, e uso se incisos instveis2. As figuraes so utilizadas formando sequencias, nem sempre marchas harmnicas, muitas vezes mantm o rtmo e o contorno meldico, sem manter a relao intervalar.

...apenas dois frevos-de-rua que no comeam em anacruse, so eles: A Provncia de Juvenal Brasil, composto em 1905, alm de primeiro frevo gravado, na verdade, como j citado, um dobrado em processo de frevizao135; Pilo Deitado de Lourival Oliveira, composto em 1966... (FREVENDO NO RECIFE, LEONARDO VILAA SALDANHA CAMPINAS SP 2008, PP. 176).

As alturas so geralmente diatnicas, podendo ser alteradas para se concatenar a harmonia, tambm essencialmente diatnica. Essa basicamente tridica, por graus tonais, podendo ser substitudos, fato no muito frequentes, nos exemplos analisados, o uso de inverses e dominantes secundrias mais comum.

Utilizao de todos os tipos de notas meldicas, (apojaturas, bordaduras, passagens simples e duplas, etc), novamente com tratamento prioritariamente diatnico, em especial perfazendo notas das trades integralmente (arpejos), ou somente nos pontos de apoio.

A estruturao meldica segue trmites de outras culturas tradicionais do pas, se diferenciando muitas vezes pelo tratamento instrumental.

Orquestrao e Arranjo

A instrumentao3 clssica do Frevo Cano e do Frevo de Rua e sua utilizao basicamente a mesma, o Frevo de Bloco se diferencia dos anteriores. Nos dois primeiros subgneros, de maneira geral o tratamento o mesmo, sendo que, no Frevo Cano, existe um cantor apresentando a melodia principal que acompanhada pelo grupo instrumental, enquanto no segundo, o prprio responsvel por toda a realizao.

frequente o paralelismo entre a melodia e vozes a ela subordinadas, isso se d basicamente de duas maneiras: a primeira por unssono real ou orquestral a segunda por meio de blocos formados pelas notas do acorde ou por intervalo constante. No caso de intervalo constante, esse geralmente diatnico a harmonia do trecho. A estrutura apresentada em cada naipe, de maneira individual, recorrente sobreposio de extratos distintos, criando texturas na obra. No trabalho textural algumas configuraes so frequentes: madeiras tocando a linha principal e metais pontuando ou ao contrario. Diviso da linha entre madeiras e metais, uma parte da melodia para cada naipe, o membro de frase ou inciso tocado interrompido na tesis do compasso seguinte, sendo a linha completada pelo outro naipe, gerando uma espcie de pergunta e resposta.

As estruturas so dobradas dentro da prpria famlia, assm, trombones realizam uma dada distribuio harmnica, repetida oitavada pelos trompetes, ocasionalmente com pequenos ajustes. O mesmo ocorrer com as madeiras, estrutura dos saxofones repetida

por clarinetes e flautas. O bombar rdino tem papel equi ivalente ao o da tromp pa na uestra4, atua ando tanto com c as mad deiras, quant to com os metais. m Na a anacruse ini icial e Orqu em p pontos caden nciais, em especial, e od de finais de e sees for rmais, costu umam refor ados por u um tutti orqu uestral. EX 2.

EX X 2. Lagrimas s do folio ana acruse do com mp. 1

A esc colha de qu ual naipe est tar em dest taque depen nde do sub-estilo de fre evo, se Coq queiro (meta ais), se Ven ntania (mad deiras), se d de Abafo (t tutti) e no cano todo o o instrum mental colab bora para a melodia da linha vocal l.

no baixo arpeja a ha A fun armonia, pri imordialme ente usando a tnica e a quinta de e cada acord de, invertida ou no marcando m ap pulsao, e em momen ntos floreand do a estrutu ura ou partic cipando do bloco. Essa atividade pode ser exercida pela tuba, ou p pelo contrabaixo eltri ico (atualme ente).

O n cleo percus ssivo originalmente com mposto por caixa-clara a, pandeiro e surdo, pod de ser altera ado tanto em e nmero o de interpr retes, quant to por outr ros instrume mentos. O ncleo n rtmi ico/ harmn nico atualmente com mpletado por r: teclados, guitarra e o j mencio onado baixo o-eltrico en ntre outros.

A pe ercusso tem m como rtm mo resultan nte uma seq quncia de semicolche eias EX3. Com C a prese ena de rul los na caix xa-clara, dis stribudas conforme c o EX4. com m acentua o no segun ndo tempo, como no sa amba. O tec clado, guitar rra ou outro os instrumen ntos harmn nicos, atuam m sobre rtm mos conform me o EX 5.

EX 3. 3 Escrita ge eral da percusso bsica do frevo.

EX 4. Melhor M forma a de grafia par ra a caixa clara, qualquer msico m que saib ba ler toca, me esmo
sem conhecer o estilo.

E EX5. Condu es rtmicas d do ncleo harm mnico. 1 cond duo a duas v vozes, violo, , piano
etc. 2 e 3 conduo ra asqueada, violo, cavaquinh ho, bandolim,, guitarra etc.

Frevo de Pau e Corda ou Frevo de Bloco possui instrumentao mais leve que os Frevos de Rua, trabalhando com madeiras, cordas, sem ou com poucos metais. mantida basicamente a mesma estrutura que nos demais frevos, com forte presena de contracantos instrumentais.

Concluso

O frevo como os demais estilos musicais encontra-se em constante mutao, nesse artigo foram tratadas algumas constantes, sem com tudo finalizar o assunto.

A analise em questo generalizadora e tem por intuito traar diretrizes bsicas, para uma fundamentao mais profunda seria necessrio maior experimentao, analises de mais gravaes e partituras, bem como, a orquestrao, composio e apresentao musical do resultado obtido.

A pesquisa foi constituda de leituras, analise de partituras e apreciao de gravaes de udio e vdeo, fato extremamente til para o prosseguimento do trabalho. Permanecendo a lacuna da vivencia real da manifestao, o contato com os envolvidos. Hoje o frevo sofre grande influencia comercial, devido a instrumentao, tem sido tratado como Jazz, fato que alguns julgam descaracterizar o estilo.

Com o descrito no trabalho possvel o entendimento estrutural presente, a juno com outros assuntos relacionados, ao contexto histrico capaz de estruturar um conhecimento real a respeito do estilo. Somente dessa maneira ser possvel visualizar um panorama real do Frevo.

Referncias bibliogrficas

SALDANHA, L. V. FREVENDO NO RECIFE: A Msica Popular Urbana do Recife e sua consolidao atravs do Rdio. UNICAMP: CAMPINAS SP, 2008.

OLIVEIRA, V. Frevo, Capoeira e Passo. Companhia Editora de Pernambuco: Recife-PE, 1971. ANDRADE, M. de. Ensaio sobre a msica brasileira. 3 ed. So Paulo: Vila Rica; Braslia: INL, 1972. Giffoni, A. Msica Brasileira para Contrabaixo. Irmos Vitale: So Paulo SP. Machado, Afonso. Mtodo do bandolim Brasileiro. Lumiar editora, rio de Janeiro, 2004. S, Renato. de. 211 Levadas Rtmicas. Irmos Vitale: So Paulo SP, 2002. Gentil-Nunes, Pauxy. Harmonia e morfologia 2- Delimitao e classificao de incisos. UFRJ: Rio de Janeiro, XXXX Internet: Frevo: expresso artstica do Carnaval de Recife. Disponvel em <http://www.iphan.gov.br/montarDetalheConteudo.do;jsessionid=DAE4B282A BB28704E361C16E8EED408D?id=17232&sigla=Institucional&retorno=detalh eInstitucional> acessado em 15 de jun de 2013.

Internet:

As

trs

modalidades

do

Frevo.

Disponvel

em

<http://www.youtube.com/watch?v=muo6fW2fnwQ> acessado em 20 de jun de 2013. Internet: Jorge Cardoso - LEMBRANAS DO RECIFE - Rossini Ferreira. Album: Jorge Cardoso - Som de Bandolim, 1996. Disponvel em <https://www.youtube.com/watch?v=6OkUAQSV-uE> acessado em 30 de jun de 2013. Internet: A levada do frevo por Augusto Silva da Spok Frevo Orquestra

<http://www.youtube.com/watch?v=fFQcwUd3Dsc> acessado em 30 de jun de 2013. Partitura: Ferreira Levino. Lgrimas de Folio. Governo do Estado do Cear Secretaria da Cultura Coordenao de Msica: Fortaleza,

Partitura: Nascimento, Senival Bezerra do (SEN). Duda no Frevo. Governo do Estado do Cear - Secretaria da Cultura Sistema Estadual de Bandas de Msica: Fortaleza, 2012.

Partitura: Ferreira, Rossini. Lembranas de Recife. Lumiar Editora: Rio de Janeiro, 2004. CD: Duda,Orquestra do Maestro. Frevos de Rua Os melhores do Sculo vol I. Brasil, 1999. CD: Duda,Orquestra do Maestro. Frevos de Rua Os melhores do Sculo vol II. Brasil, 1999. CD: Duda,Orquestra do Maestro. Frevos de Rua Os melhores do Sculo vol III. Brasil, 1999. CD: Duda,Orquestra do Maestro. Frevos de Rua Os melhores do Sculo vol IV. Brasil, 1999. CD: Orquestra. Spok Frevo , Passo de Anjo "ao Vivo". Biscoito Fino: Recife.

Notas

1) 2)

3)

4)

Ver Ensaio sobre a Msica Brasileira de Mario de Andrade. Ritmos, ps gregos ou incisos estveis, basicamente imbicos e anapsticos, possvel a ocorrncia de sub-incisos esses sendo instveis: trocaicos e dctilos, no foram encontrados incisos anfibrquicos. Tradicionalmente madeiras, metais e percusso para os dois primeiros, o terceiro geralmente utiliza madeiras, cordas pinadas e vozes, muitas vezes coro feminino. Orquestra Sinfnica, Filarmnica, etc.

Anexos

1) Partitura de Duda no Frevo de SEN, grade. 2) Partitura de Lembranas do Recife de Rossini Ferreira, cifra e melodia. 3) CD com exemplos musicais.

Você também pode gostar