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Lenda Do Pai Quati

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Lenda do Pai Quati

Existe uma importante incidncia da cultura negra na literatura rio-grandense, e este tema provm, em ltima hiptese, da abundncia do material olclrico !ue as popula"#es a ricanas herdaram de seus antepassados$ %o tempo da escravid&o, no 'io (rande do )ul, era comum a uga de escravos, e os !ue ugiam, arriscando a prpria vida, icaram conhecidos como *caiambolas+$ ,onta-se, !ue durante este per-odo, em uma grande a.enda nos /anhados, munic-pio de )anta 0aria, come"aram misteriosamente a desaparecer coisas$ Entretanto, sempre icava um presente em seu lugar$ 1lgo bem rstico ou artesanal era deixado como troca como2 balaios, esteiras, potes de barro, en eites de pena, etc$ %estas circunstncias, o !ue realmente ocorria era uma troca e n&o um roubo$ Esta di erenciada atitude, despertou a curiosidade do povo$ -*3 incr-vel4+, di.iam todos$ 5 imagin6rio popular passou ent&o a antasiar em torno do caso$ E tal mistrio logo oi associado com o dem7nio$ 1 princ-pio, o povo n&o tocava nos ob8etos, temendo serem artes do diabo ou por achar !ue estivessem en eiti"ados$ 0as, como o passar do tempo, veri icando-se !ue as esteiras e os balaios n&o a.iam mal a ningum, muito pelo contr6rio, eram muito teis, a preven"&o desapareceu, chegando ao ponto de algumas pessoas deixarem 9 noite, em rente de suas casas, acas, tesouras, cordas, na esperan"a de !ue ossem trocadas por uma esteira ou balaio$ :urante muitos anos estas transa"#es ocorreram com muita naturalidade, pois 86 haviam perdido o cunho sensacionalista$ Em certa ocasi&o, andando a melar escravos na mata virgem, !ue no centro de uma loresta, prxima de /anhados, elevava-se espiralando uma tnue nuvem de uma"a branca$ ,urioso e procurando desvendar o enigma, um preto galgou a copa de uma 6rvore gigantesca e lan"ando seu olhar em dire"&o de onde sa-a a tal uma"a, descobriu uma clareira em meio a mata espessa, em a !ual, um negro se entretinha a preparar uma carne nas brasas$ :escendo, comunicou aos companheiros a descoberta$ ;oi ent&o !ue resolveram capturar o negro, !ue logicamente, acreditavam ugido$ 1rmados at os dentes, i.eram o cerco ao desconhecido e, avan"ando cautelosamente, ca-ram sobre ele, sub8ugando-o, apesar da resistncia oposta pela v-tima$ Era um negro de propor"#es avanta8adas e de aspecto medonho, em ra.&o do cabelo emaranhado e plo irsuto !ue lhe cobria o rosto, onde os olhos cintilavam como brasas$ ,obria-lhe o peito e as costas uma coura"a de pele de !uati costurada com cip e, presa aos !uadris, uma espcie de tanga de pele do mesmo animal$

Levado at a a.enda, oi chamado de Pai Quati em ra.&o de apresentar t&o estranha indument6ria$ Entretanto, nada mais oi poss-vel saber dele, pois n&o compreendia a l-ngua portuguesa$ ;oi ent&o chamados alguns escravos !ue haviam nascido na < rica, para !ue pudessem compreender o !ue Pai Quati tentava di.er$ ;ianalmente o contato oi estabelecido e descobriu-se !ue o estranho era de 0o"ambi!ue$ Explicouse deste modo, o mistrio das esteiras e dos balaios$ 5 caso era o seguinte2 =endo o negro chegado ao 'io Pardo, em uma leva !ue seria vendida em um leil&o, conseguiu ele evadir-se e, atravessando rios, precip-cios e banhados, lutando com eras e as intempries, alcan"ou a salvo /anhados, onde, dentro da mata virgem, armou sua choupana e vivia recluso$ ,omo era um homem de boa -ndole e muito honesto, n&o !ueria se apropriar dos utens-lios de !ue precisava, nem da carne !ue comia !uando n&o conseguia ca"a$ 1ssim, perito em manu atura de cestos e esteiras, meio de vida !ue o sustentava em sua terra, trabalhava, durante o dia, arduamente na abrica"&o de tais ob8etos, para, na calada do noite, misteriosamente, troc6-los por tudo a!uilo !ue achasse 9 m&o e !ue pudesse ser til$ %&o demorou muito para !ue a comovente histria do Pai Quati, correndo de boca em boca, enchesse a redonde.a$ Logo, todos passaram a admir6-lo$ >ma aurola glori icadora circundou sua onte negra, compensando-lhe os dias de amargura$ ,omo era um homem livre, oi contratado para trabalhar como pe&o em uma a.enda$ Entretanto, !uando a saudade apertava, abandonava tudo e voltava a viver no mato, ca"ando !uatis$ 0orreu de velho, passando !uase toda sua existncia solit6rio, mas acalentado pelo seio da loresta$ 5 negro marcou e marca presen"a em nossa histria, religi&o, geogra ia, l-ngua, artes, esporte e pol-tica$ /ra"os bravios de ancestrais negros lutaram em guerras !ue n&o eram suas, saindo da clandestinidade para tornarem-se uma presen"a consciente e s-mbolo de orgulho e esperan"a de sua ra"a$ )ua contribui"&o para constru"&o de um 'io (rande do )ul orte e livre deve ser sempre relembrada e agradecida por todos ns$

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