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Ação Civil Pública para Proteção Do Meio Ambiente

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EXCELENTSSIMO

SENHOR

JUIZ

FEDERAL

DA

PRIMEIRA

VARA

DA

SUBSEO

JUDICIRIA DE CARAGUATATUBA ESTADO DE SO PAULO

Questes como as mudanas climticas, a perda da


biodiversidade ou a depleo da camada de oznio so
resultados de sculos de aes humanas consideradas
sem importncia, pela sua pequena relevncia quando
analisada segregadamente, cujos impactos
cumulativos no foram devidamente avaliados
(OLIVEIRA, 2008)

O MINISTRIO PBLICO FEDERAL e o MINISTRIO PBLICO DO


ESTADO DE SO PAULO, por intermdio de seus respectivos membros signatrios, vem perante
Vossa Excelncia, no uso de suas atribuies constitucionais (art. 127, caput e art. 129, III,
ambos da Constituio Federal) e legais (5, III, alnea "d", e art. 6, VII, b ambos da Lei
Complementar n. 75/93, art.1, caput, e art. 25, IV, alnea a, ambos da Lei n 8.625/93, e arts.
1, I, e 5, caput, ambos da Lei n 7.347/85), propor a presente

AO CIVIL PBLICA PARA PROTEO DO MEIO AMBIENTE,


com pedido liminar, contra:

INSTITUTO

BRASILEIRO

DO

MEIO

AMBIENTE

DOS

RECURSOS

NATURAIS RENOVVEIS - IBAMA, autarquia federal de regime especial, vinculada ao Ministrio


do Meio Ambiente, representado pela Procuradoria Federal Especializada, rgo jurdico da
autarquia, que poder ser citada no Escritrio Regional de Caraguatatuba, na Rua So Benedito,
n 446, Centro, Cidade de Caraguatatuba, Estado de So Paulo, CEP: 11660- 100;
COMPANHIA DOCAS DE SO SEBASTIO CDSS, pessoa jurdica de direito
privado, vinculada Secretaria dos Transportes, constituda pelo Decreto Estadual n 52.102, de
29 de agosto de 2007, inscrita no CNPJ sob o n 09.062.893/0001-74, com sede na Avenida
Brigadeiro Faria Lima, n 2954, 11 andar, Jardim Paulistano, So Paulo, So Paulo, CEP: 01451000, pelas razes de fato e de direito expostas no curso da presente inicial.

1
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Considerando a complexidade e o grande nmero de pontos que constituem a


causa de pedir da presente demanda, e a fim de facilitar a compreenso do todo, o Ministrio
Pblico entendeu por bem estruturar a inicial da seguinte forma:
1.

OBJETO DA AO

2.

LEGITIMIDADE e COMPETNCIA

3.

2.1

Legitimidade ativa do Ministrio Pblico

2.2

Legitimidade passiva e competncia

FATOS E FUNDAMENTOS JURDICOS


3.1

CONTEXTUALIZAO DA DEMANDA
3.1.1

Importncia socioambiental do litoral norte: Espaos territoriais especialmente protegidos,

patrimnio histrico e comunidades tradicionais


3.2

PORTO DE SO SEBASTIO
3.2.1 Histrico
3.2.2 O Projeto Plano Integrado Porto Cidade (PPIC)
3.2.3 Procedimento de licenciamento ambiental

3.3

LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE


3.3.1. Eixos principiolgicos do desenvolvimento sustentvel
3.3.2. Informao ambiental qualitativa (Estado Democrtico de Direito)
3.3.3. Princpios da Precauo e da Preveno

3.4

VCIOS DO PROCEDIMENTO DE LICENCIAMENTO


3.4.1 - AUSNCIA

DE ANLISE DE IMPACTOS CUMULATIVOS (VIOLAO AO ARTIGO

6, INC. II DA RES. CONAMA 01/86)

Conceito de Impactos Cumulativos e Sinrgicos


A)

Relao de Interdependncia dos Megaempreendimentos colocalizados no Litoral Norte

B)

Ausncia de estudos de impactos cumulativos nos EIA/RIMAs dos megaempreendimentos do Litoral Norte do

Estado de So Paulo
C)

Insuficincia da AAE-PINO e AAI como instrumentos para suprir a ausncia de avaliao de impactos cumulativos

entre os megaempreendimentos do Litoral Norte


D)

Demonstrao das falhas do EIA/RIMA em razo da ausncia de estudos de impactos cumulativos: Matrizes de

Anlise Integrada
E)

Direito comparado (Experincia Americana)

3.4.2 - INCORRETA
A.L.A.

DO

DEFINIO DAS REAS DE INFLUNCIA DIRETA E INDIRETA DO EMPREENDIMENTO E AUSNCIA DE

ICMBIO-ESEC/TUPINAMBS E

DA DESCONSIDERAO DOS ESTUDOS COMPLEMENTARES EXIGIDOS PELOS

GESTORES DAS UNIDADES DE CONSERVAAO ATINGIDAS


A) AID meio bitico
B) AID meio socioeconmico
C) AII meio bitico
D) AII meio socioeconmico

3.4.3

AUSNCIA DE AVALIAO DEVIDA DOS PLANOS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PROPOSTOS E EM

IMPLANTAO DA REA DE INFLUNCIA DO PROJETO E SUA COMPATIBILIDADE (VIOLAO AO O ART.

5,

IV,

DA

5, I,

DA

INCISO

RESOLUO CONAMA 01/86


3.4.4

AUSNCIA

DE REAIS ALTERNATIVAS LOCACIONAIS

(ASPECTO FORMAL E MATERIAL): VIOLAO AO

ART.

RESOLUO CONAMA 01/86


3.4.5
ARAA,

AQUIESCNCIA

COM A POSSIBILIDADE DE OCORRNCIA DE SRIO E IRREVERSVEL DANO NA

EM VIOLAO AO QUE DISPEM O ART.

8, 2

DA

LEI

12.651/2012;

ART.

3,

INCISO

X,

DA

BAA

DO

RESOLUO

CONAMA N 303/2002.

4. CONCLUSO
5. LIMINAR
6. PEDIDO

2
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

1.

OBJETO DA AO

A presente ao visa a obter provimento judicial destinado (a) SUSPENDER EM


CARTER LIMINAR e, EM DEFINITIVO, (b) ANULAR a LICENA PRVIA N. 474/2013, emitida no
processo de licenciamento ambiental do projeto de ampliao do Porto de So Sebastio/SP,
Processo n 02001.005403/2004-01 DILIC/ IBAMA, para as fases 1 e 2 do empreendimento, em
razo de vcios de ordem constitucional e infraconstitucional que comprometem a validade do ato
administrativo e (c) condenar o ru IBAMA na obrigao de no fazer consistente em NO
EMITIR NOVA LICENA sem que antes sejam complementados os estudos de impacto
ambiental nos termos apontados na presente demanda.
2.

LEGITIMIDADE e COMPETNCIA

2.2 Legitimidade ativa do Ministrio Pblico


A Constituio Federal de 1988 incumbiu ao Ministrio Pblico a defesa da
ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis,
instrumentalizando-o com a prerrogativa de promover o inqurito civil e a ao civil pblica
para a defesa do meio ambiente (CF/88, 129, III)..
Tal atribuio vem reafirmada no art. 6, VII, b, da Lei Complementar n
75/1993, segundo a qual compete ao Ministrio Pblico da Unio promover o inqurito civil pblico
e a ao civil pblica para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente, dos bens e
direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico, bem como na Lei 8.625/93,
Lei Orgnica do Ministrio Pblico que regulamenta a atuao do parquet em mbito estadual, em
seu art. 25, IV, alnea a, que tambm dispe que incumbe ao Ministrio Pblico promover o
inqurito civil e a ao civil pblica, na forma da lei, para a proteo, preveno e reparao dos
danos causados ao meio ambiente.
Ainda, a Lei n 7.347/85, que disciplina a ao civil pblica, dispe:
Art. 1 Regem-se pelas disposies desta Lei, sem prejuzo da ao popular, as
aes de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I ao meio ambiente;
(...)
Art. 5 Tm legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar:
I - o Ministrio Pblico;

3
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Assim, por objetivar a presente ao civil pblica a proteo do meio ambiente,


bem como do patrimnio nacional, resta evidente a legitimidade do Ministrio Pblico Federal e do
Ministrio Pblico de So Paulo para atuar conjuntamente no feito, como ramos de uma instituio
una e indivisvel essencial Justia, consoante as normas legais e constitucionais mencionadas.
2.3 Legitimidade passiva e competncia
Considerando-se que o ato atacado foi emanado pelo Instituto Brasileiro dos
Recursos Renovveis IBAMA, autarquia federal, nenhuma dvida resta a respeito de sua
legitimidade para figurar no polo passivo da presente demanda, cuja competncia, por
consequncia, fica afeta Justia Federal nos termos do artigo 109 da Constituio Federal 1 .
Igualmente legitimo o Ru CDSS, que passou a ser o gestor do Porto de So Sebastio (Decreto
Estadual n 52.102/07) e empreendedor do projeto objeto do processo de licenciamento ora
questionado e diretamente beneficiado pelo ato administrativo de emisso da licena que passou a
integrar sua esfera de direitos.
4.

FATOS E FUNDAMENTOS JURDICOS

3.2

CONTEXTUALIZAO DA DEMANDA

3.1.2

Importncia socioambiental do litoral norte: Espaos territoriais

especialmente protegidos, patrimnio histrico e comunidades tradicionais


A regio do litoral Norte do Estado de So Paulo tem vocao eminentemente
conservacionista voltada ao turismo ecolgico, com cerca de 80% da sua rea legalmente
protegida por unidades de conservao, terrestres e marinhas, em sua maior parte pertencentes
ao grupo de proteo integral.
Dentre elas, destacam-se diversas Unidades de Conservao Municipais
nos quatro municpios que a compem UBATUBA, CARAGUATATUBA, SO SEBASTIO e
ILHABELA; h, ainda, trs Unidades de Conservao Estaduais o Parque Estadual da Ilha
Anchieta, o Parque Estadual de Ilhabela e o Parque Estadual Serra do Mar, ncleos
Picinguaba, So Sebastio e Caraguatatuba , alm da Estao Ecolgica Tupinambs ESEC
Tupinambas, Unidade de Conservao Federal que abrange diversas ilhas, ilhotas e lajes
com relevante funo ambiental de preservao de espcies de baleias, golfinhos e tartarugas
marinhas, alm de espcies endmicas de fauna e flora. Referida unidade abrange, ainda, o
Arquiplago de Alcatrazes, maior ninhal de aves marinhas do sudeste brasileiro.

Comete Justia Federal processar e julgar as causas em que a Unio, entidade autrquica, empresa pblica federal forem
interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes ()

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Alm disso, dentre as poucas reas de proteo ambiental marinhas (APAs


Marinhas) no Brasil, destacam-se no litoral do Estado de So Paulo trs delas: a rea de
Proteo Ambiental Marinha Litoral Norte - APAMLN, que se estende por toda a regio2,
APA Marinha do Litoral Centro e APA Marinha do Litoral Sul, que juntas ordenam e regulamentam
todas as atividades em seu territrio, a exemplo da pesca e turismo nutico. Destaca-se, ainda, a
rea de Relevante Interesse Ecolgico ARIE, de So Sebastio/SP, que abrange os
setores do Centro de Biologia Marinha da Universidade de So Paulo CEBIMAR/USP, o Costo do
Navio, e Boiucanga (DOC. 01).

APA Marinha do Litoral Norte APAMLN, com rea total de 316,2 mil hectares subdividida em trs setores: Cunhambebe
(Municpio de Ubatuba, com 145,1 mil hectares), Maembipe (Municpio de Ilhabela, com 90,8 hectares) e Ypautiba (Municpio de So
Sebastio, com 80,3 hectares)
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No se pode deixar de mencionar, por fim, que a regio abrange um dos ltimos remanescentes de manguezal do litoral, a BAA DO ARA, reconhecida cientificamente como
de fundamental importncia para a sade dos ecossistemas terrestres e marinhos. Tanto assim
que foi reconhecida como patrimnio cientfico por ser a rea costeira mais bem estudada do Brasil e a que possibilitou, em funo de sua diversidade, parte do desenvolvimento cientfico na rea
de cincias do mar3. Em razo das caratersticas excepcionais do local, que atraem a ateno de
cientistas de todo o mundo, a Baia do Ara reconhecida como verdadeiro laboratrio a cu
aberto para atividades de educao ambiental e para cursos do ensino superior.
Toda essa riqueza natural elevou o grau de proteo da regio, que passou a
integrar a Reserva da Biosfera da Mata Atlntica/UNESCO, evidenciando-se, de plano, o
reconhecimento internacional do patrimnio natural e cultural ali existentes, reconhecidamente
patrimnios da humanidade. Este reconhecimento tambm se opera no cenrio interno, no
diploma normativo de mais alto grau hierrquico do ordenamento brasileiro. A Mata Atlntica, a
Serra do Mar e a Zona Costeira trs dos cinco ecossistemas constitucionalmente considerados
patrimnio nacional (art. 225, 4, CF) esto presentes na regio Litoral Norte de So
Paulo, palco objeto da presente demanda, dispondo a prpria Constituio que, nestes espaos, a
utilizao dos recursos naturais far-se- dentro de condies que assegurem a preservao do
meio ambiente4.
H registros de estudos realizados desde 1950, que somam 126 artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, 141 trabalhos
em eventos, 4 captulos de livros e 68 ttulos de teses, dissertaes, monografias, alm de vrios textos de divulgao em revistas e
jornais.
4
No plano infraconstitucional e Constituio Paulista a proteo foi repetida, garantindo-se a estes ecossistemas, bem como aos demais
espaos territoriais especialmente protegidos, a utilizao de seus recursos mediante prvia autorizao e dentro de condies que
assegurem a preservao do meio ambiente (art.196 da Constituio do Estado de So Paulo). Tamanha a relevncia ambiental desses
3

6
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No que se refere questo hdrica atualmente objeto de grande


preocupao mundial nos mais diferentes setores a regio afetada pelo empreendimento possui
densa rede de drenagem, composta por corpos dgua de pequena extenso que partem da Serra
do Mar, formam 34 sub-bacias e desguam no Oceano Atlntico, segundo a pesquisadora Lara
Legaspe, Mestre em Geocincias e Meio Ambiente. Demais disso, a Serra do Mar o maior banco
gentico remanescente da natureza tropical atlntica da face leste do Brasil, tratando-se de
espao ecolgico que no admite manipulaes antrpicas, no apresenta vocao agrria,
industrial ou urbanstica (DOC. 01).

comunidades

neste

espao

tradicionais:

que

esto

INDGENAS,

presentes,

tambm,

REMANESCENTES

inmeras
DE

diferentes

QUILOMBOS

PESCADORES ARTESANAIS fazem parte da populao da regio, cujo patrimnio, como


facilmente se nota, no apenas natural, mas, tambm, cultural.
Nenhuma dvida, pois, de que a vocao da regio a conservao dos
ambientes naturais contnuos da Serra do Mar, permitindo a ocorrncia de atividade
econmica voltada para o turismo e lazer, bem como de expressiva e tradicional atividade
pesqueira.
No obstante a isso, a regio suporta as consequncias de um crescimento
desordenado iniciado na dcada de 70, em razo da construo da rodovia Rio Santos BR 101,
com progressivo comprometimento de seus recursos naturais.
Estes recursos j no so suficientes para abastecer e dar suporte atual
populao da regio, que cresce a cada ano em razo da constante atrao de pessoas em busca
de empregos ofertados por megaempreendimentos, colocando em srio risco a capacidade de
suporte da regio e sua prpria sustentabilidade, do ponto de vista ambiental, social e at mesmo
econmico, considerando-se que o turismo a principal atividade econmica do litoral norte.
A situao se agrava acentuadamente em razo da concentrao, em certo
perodo e no mesmo espao, de 13 megaempreendimentos em processo de licenciamento ou j
em operao, a saber:

ecossistemas que, alm dos j mencionados, inmeros outros diplomas normativos orientam as decises que impliquem impactos ao
meio ambiente, tais como os princpios fundamentais da gesto da zona costeira, as limitaes decorrentes do Zoneamento EcolgicoEconmico Costeiro Setor do Litoral Norte (art. 5, incs. IX e X; art. 7, VIII; art. 33 do Decreto 5.300/04; Lei Estadual 10.019/98 e
Decreto Estadual 49.215/2004), dentre outros.

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MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

1.

Plataforma e Duto Marinho do Campo do Mexilho;

2.

UTGCA Unidade de Tratamento de Gs de Caraguatatuba;

3.

GASTAU Gasoduto Caraguatatuba Taubat;

4.

Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento no Polo Pr-sal Projetos Integrados de Produo e Escoamento de Petrleo e Gs Natural no Polo Pr-sal, Etapas 1 e 2 Bacia de Santos;

5.

TLDs Guar Testes de Longa Durao TLDs nas reas de guar e Carioca (BM-S-9),
Tupi NE e Iracema (BM-S- 11), Bacia de Santos;

6.

Piloto de Produo em Tupi/Lula Atividade do Piloto do Sistema de Produo e Escoamento de leo e Gs na rea de Tupi, Bloco BM-S-11, Bacia de Santos;

7.

Novo Per do TEBAR Projeto de Ampliao do Per do Terminal Aquavirio de So Sebastio;

8.

Regularizao do Porto de So Sebastio Plano de Controle Ambiental para a Regularizao do Porto de So Sebastio;

9.

Ampliao do Porto de So Sebastio Plano Integrado Porto Cidade PIPC/So Sebastio;

10.

Duplicao da Rodovia Tamoios: subtrecho planalto km 11+500m ao km 60+480m;

11.

Duplicao da Rodovia Tamoios: subtrecho serra km 60+480 ao km 82;

12.

Duplicao da Rodovia Tamoios: subtrecho contorno sul Sul de Caraguatatuba at


So Sebastio;

13.

Duplicao da Rodovia Tamoios: subtrecho contorno norte Norte de Caraguatatu-

ba.
Estes empreendimentos podem ser reunidos em trs grupos: (a) Complexo
Porturio; (b) Complexo Nova Tamoios; (c) Complexo da Indstria do Petrleo e Gs.
No epicentro dos complexos, est o Porto de So Sebastio e seu projeto de
ampliao, tema central desta lide, a seguir descrito:

3.2 PORTO DE SO SEBASTIO


3.2.1 Histrico
O uso do canal de So Sebastio como rea porturia comercial remonta ao
incio sculo XV. Porm, o estabelecimento do Porto Organizado de So Sebastio iniciou-se
somente em 26 de outubro de 1934, quando a Unio celebrou contrato com o governo do estado
de So Paulo para a construo e explorao comercial dessa zona porturia.O governo do Estado
iniciou as obras em 1936, com inaugurao oficial em janeiro de 1955.

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Quase concomitantemente, a Petrobras, aproveitando-se da presena da nova


zona porturia, iniciou as obras de seu maior terminal petrolfero, o Terminal Aquavirio Almirante
Barroso TEBAR, em 1961, para realizao da primeira operao de descarregamento em 1968.
Este terminal composto atualmente por um per com quatro beros, numa extenso de 905m e
profundidade variando entre 14 e 26 m.
O movimento desenvolvimentista da regio se delineou por completo nos anos
1970, com o asfaltamento da Rodovia Rio-Santos. Ainda assim, com exceo das movimentaes
de petrleo e derivados, o porto nunca embarcou ou desembarcou volumes expressivos de cargas.
As movimentaes reduzidas sempre estiveram associadas s dificuldades de acesso regio.
Em 1987, o governo do Estado de So Paulo elaborou projeto de ampliao da
estrutura do Porto Organizado, notadamente a construo do enrocamento para conteno do
aterro hidrulico das reas do retroporto. Para tanto, projetou o aterramento da baia do Ara,
alm de outras obras de grande potencial de impacto ao meio ambiente. Por concluir pela
inviabilidade ambiental do projeto, o CONSEMA o rejeitou 5 e autorizou apenas a execuo dos
aterros referentes primeira fase da ampliao do Porto (EIA/RIMA Cap. 2 pag. 6, disponvel em
http://licenciamento.ibama.gov.br/Porto/Porto%20Sao%20Sebastiao%20-%20ampliacao/.

Em 2004, a DERSA deu incio a um novo processo de licenciamento ambiental


junto ao IBAMA visando ampliao do Porto de So Sebastio, e em 2005 iniciou-se o processo
de regularizao da estrutura porturria j existente6. O projeto de ampliao previa a construo
de um per sobre o Canal de So Sebastio e a respectiva ponte de acesso, criando quatro novos
beros para atracao de navios, bem como a construo de ptios e armazns nas reas
aterradas existentes, alm da implantao de equipamentos e infraestrutura necessria. No
entanto, devido a mudanas na estratgia de administrao do Porto de So Sebastio, no se deu
continuidade ao referido processo (Processo 02001.005403/2004-01 IBAMA).
Para dar continuidade administrao do Porto pelo Estado, at 1989 exercida
pela DERSA Desenvolvimento Rodovirio S/A, empresa vinculada Secretaria de Transportes do
Estado de So Paulo (Decreto Estadual 29.884/89), foi firmado o Convnio de Delegao entre a
Unio e o Estado de So Paulo, que teve como objeto a nova concesso dada ao Estado de So
Paulo, por de 25 anos (2007-2032), prorrogveis por outros 25 anos, e para o qual foi constituda
a ora corr, Companhia Docas de So Sebastio CDSS (Decreto Estadual 52.102 de 29/08/2007),
sociedade annima vinculada Secretaria dos Transportes do Estado de So Paulo, com
personalidade jurdica de direto privado e finalidade nica de administrar e desenvolver o Porto
Organizado de So Sebastio, o que teve incio em 15 de dezembro de 2007.

5
6

Deliberao 29, de 10/07/1987


Em trmite no IBAMA sob o n 02001.003974/2005-83 IBAMA

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A partir de ento, a CDSS iniciou as tratativas para viabilizar um projeto de


ampliao da estrutura porturia muito mais ambicioso que o anterior, denominado Plano
Integrado Porto Cidade (PIPC), ncleo central de programa do governo estadual voltado ao
desenvolvimento de um corredor de exportao/importao, que contempla, tambm um novo
complexo rodovirio.
3.2.2 O Projeto Plano Integrado Porto Cidade (PPIC)
Segundo o empreendedor7, o Plano Integrado Porto Cidade - PIPC compreende
um conjunto de intervenes relacionadas ampliao das instalaes porturias existentes e
suas interfaces com o ambiente urbano. Na prtica, ele envolve o conjunto de infraestruturas
aquavirias (pontos de fundeio, bacias de evoluo, sinalizao martima, guias correntes, quebramares e canal de acesso), infraestruturas de atracao (peres, cais, dolfins, pontos de amarrao,
defensas e reas para equipamentos de embarque e desembarque de navios) e terrestres (ptios,
armazns, edificaes, instalaes de apoio, vias de circulao interna e reas para expanso) que
devam ser administradas pela Autoridade/Administradora Porturia.
O Plano Integrado Porto Cidade - PIPC compreende, portanto, obras que
permitam a ampliao da capacidade porturia, reas de apoio e obras de integrao com a cidade.
A nova rea porturia ser delimitada em parte pelo traado da futura perimetral porturia
projetada, pelo espelho dgua com largura mnima de 100m entre o costo da Ponta do Ara e a
Ilha Pernambuco, o cais de mltiplo uso e a drsena para uso das autoridades martimas.
Este polgono perfaz uma rea total de aproximadamente 1,2 milho de m2.

EIA/RIMA disponvel em http://licenciamento.ibama.gov.br/Porto/Porto%20Sao%20Sebastiao%20-%20ampliacao/.

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A expanso da retrorea ser feita com a construo de laje de concreto


apoiada em estacas tambm de concreto (aproximadamente 17.000), estendendo a rea
do Porto existente na direo sul, totalizando cerca de 600 mil m de acrscimo rea existente.
Somando esta rea aos ptios existentes, o Porto de So Sebastio passar a ter uma nova
configurao com um total aproximado de 1,2 milho de m de retrorea. O acesso principal ao
novo arranjo porturio prev sua interligao direta com o futuro contorno rodovirio (Contorno de
Caraguatatuba e de So Sebastio).
O projeto de ampliao do Porto de So Sebastio apresentado foi subdivido em
4 fases, cujas localizaes e dimenses esto representadas no grfico abaixo:

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Ao final da obra, de acordo com o EIA/RIMA, o porto de So Sebastio ter


DIMENSES MAIORES QUE O CENTRO DO MUNICPIO DE SO SEBASTIO, alm de
estreitar consideravelmente o leito navegvel do canal de So Sebastio e Ilhabela.

3.2.3 Procedimento de licenciamento ambiental


Para atestar a viabilidade socioambiental deste megaempreendimento, a CDSS
deflagrou o processo de licenciamento n 02001.005403/2004-01 DILIC/IBAMA, acompanhado
pelo Ministrio Pblico por meio dos instrumentos legais 8 nos quais foram colhidos estudos e
manifestaes da sociedade e administrao pblica9 que apontaram inmeros vcios.

MPF-ICP 1.34.014.000298/2008-210; MPSP-GAEMA-Litoral Norte, ICPs ns 14.0701.0000007/2012-8, 14.0701.0000105/2011-9 e


14.0701.0000030/2012-7. Tendo em vista a atuao conjunta entre o Ministrio Pblico Federal e o Ministrio Pblico do Estado
de So Paulo e o elevado nmero de pginas distribudas em mais de 20 volumes no total, com documentos repetidos, foram anexados
presente somente os documentos essenciais propositura da ao.
Doc. 01: Dissertao de Mestrado defendida pela Professora Lara Bueno Chiarelli Legaspe perante o Instituto de Geocincias e Cincias
Exatas da UNESP campus Rio Claro, intitulado Os potenciais impactos cumulativos das grandes obras novo corredor de exportao e
explorao de hidrocarbonetos no Campo Mexilho no territrio da APA Marinha Litoral Norte (SP). Doc. 05: Tese de Doutorado
defendida pelo Prof. Leonardo Ribeiro Teixeira perante Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da UNICAMP, intitulado Megaprojetos
no litoral norte paulista: o papel dos grandes empreendimentos de infraestrutura na transformao regional. Doc. 06: Parecer Tcnico
FF/PESN-NSS 001/2001, da Fundao Florestal Parque Estadual da Serra do Mar. Doc. 08: Parecer Tcnico Preliminar do CAEX/MPSP
Centro de Apoio Operacional Execuo, do Ministrio Publico de So Paulo. Doc. 11: Parecer do Corpo de Bombeiros da Polcia Militar
do Estado de So Paulo. Doc. 12: Questionamentos complementares - CAEX/MPSP Doc. 13: Informao Tcnica das Unidades de
Conservao do Litoral Norte de So Paulo sobre o Estudo de Impacto Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC. Doc. 14:
Manifestao Tcnica n 03/2011 ICMBio (ESEC Tupinambs). *Doc. 15: Parecer jurdico da Procuradoria Federal Especializada junto ao
ICMBio, rgo gestor da ESEC/Tupinambs. Doc. 16: Expanso Porturia: Impactos sobre as Baleias-de-Bryde (Balaenoptera edeni)
Mabel Augustowski, 2011 *Doc. 17: pesquisa FAPESP Doc. 18: relatrio pesquisadores FAPESP Doc. 19: Geosstio Ponta do Ara
Patrimnio Geolgico do Litoral Norte de So Paulo, Prof. Maria da Glria Motta Garcia, do Instituo de Geocincias/USP Doc. 20:
Manifestao tcnica sobre Baa do Ara e ampliao do Porto de So Sebastio, do Prof. Dr. Alexandre Turra, do Instituto
Oceanogrfico Dpto. de Oceanografia Biolgica da USP, encaminhada ao Ministrio Pblico Federal. Doc. 21: Anlise realizada pelo
Prof. Dr. Alexandre Turra, do Instituto Oceanogrfico Dpto. de Oceanografia Biolgica da USP, acerca da Informao Tcnica
1253_001_11 apresentada pelo Empreendedor no bojo do processo de licenciamento.
9

12
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Em apertada sntese, so vcios que dizem respeito :


(a) ausncia de estudos de impactos cumulativos e sinrgicos contemplando outros 12
megaempreendimentos colocalizados no Litoral Norte, em violao ao que dispe o art. 6,
inciso II, da Resoluo CONAMA n 01/86;
(b) Incorreta definio das reas de influncia direta e indireta do empreendimento e ausncia de
informaes

sobre

Autorizao

de

Licenciamento

Ambiental

A.L.A.

do

ICMBio-

ESEC/Tupinambs e desconsiderao dos estudos complementares exigidos pelos Gestores das


Unidades de Conservao atingidas, em violao ao que dispe o art. 5, inciso III, da
Resoluo CONAMA 01/86, artigo 36, caput e 3 da Lei 9.985/00 e artigos 1 e 3, II,
c.c. 3 da Resoluo CONAMA 428/10;
(c) ausncia de avaliao devida dos planos e programas governamentais propostos e em
implantao da rea de influncia do projeto e sua compatibilidade, em violao ao que dispe
o art. 5, inciso IV, da Resoluo CONAMA 01/86;
(d) ausncia de reais alternativas locacionais (aspecto formal e material), em violao ao que
dispe o art. 5, inciso I, da Resoluo CONAMA 01/86 e;
(e) aquiescncia com a possibilidade de ocorrncia de srio e irreversvel dano na Baa do Ara,
em violao ao que dispem o art. 8, 2 da Lei n 12.651/2012 e art. 3, inciso X, da
Resoluo CONAMA n 303/2002.
O prprio IBAMA, aps a apresentao do EIA/RIMA, pontuou dezenas de
omisses no documento-base e concluiu que as exigncias haviam sido apenas parcialmente
atendidas. Ainda assim, em 17.12.2014, o IBAMA emitiu a Licena Prvia n474/2013 (DOC.02).
Em face da temerria emisso da licena e a fim de dar cincia autarquia
acerca dos graves vcios apontados nos estudos tcnicos reunidos nos inquritos civis referidos, o
Ministrio Pblico expediu a Recomendao n 04/2013 (DOC. 03) para que fosse suspensa a
Licena Prvia referente s fases 1 e 2 do projeto e para que a autarquia no emitisse Licena
Prvia para qualquer outra fase do referido empreendimento at que fossem sanadas todas as
irregularidades apontadas.
O IBAMA, no entanto, informou o desatendimento integral Recomendao10,
no restando ao Ministrio Pblico outra alternativa que no o ajuizamento da presente ao para
garantir o respeito aos Princpios da Preveno e Precauo, que informam o Direito Constitucional
Ambiental,

permitir

adequada

responsvel

anlise

da

viabilidade

ambiental

do

empreendimento.
10

ofcio n 02001.003699/2014-99 DILIC/IBAMA (DOC. 04)


13
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3.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

3.3.1. Eixos principiolgicos do desenvolvimento sustentvel


cedio o patamar constitucional do princpio do desenvolvimento sustentvel,
conforme artigo 225, caput, c/c art. 170, incisos II, III, VI e VII, todos da CF/88. Como
decorrncia destes princpios, tem-se que o meio ambiente ecologicamente equilibrado
pressupe a conciliao entre crescimento econmico, proteo ao meio ambiente e equidade
social, de forma a preservar o meio ambiente para as presentes e futuras geraes.
Dos vinte e sete princpios da Declarao do Rio de Janeiro/1992 (ECO 92),
onze trazem a expresso desenvolvimento sustentvel, dos quais destacam-se os princpios 1, 4 e
8, in verbis:
Princpio 1 primeira frase: os seres humanos esto no centro das preocupaes reativas ao
desenvolvimento sustentvel sem grifos no texto original
Princpio 4: para chegar a um desenvolvimento sustentvel, a proteo do meio ambiente
deve fazer parte integrante do processo de desenvolvimento e no pode ser considerada
isoladamente sem grifos no texto original.
Princpio 8: com o fim de chegar a um desenvolvimento sustentvel e a uma melhor qualidade
da vida para todos os povos, os Estados devero reduzir e eliminar os modos de produo e de
consumo no viveis e promover poltica demogrficas apropriadas sem grifos no texto
original.
Da extraem-se, com facilidade, os trs eixos dos desenvolvimento sustentvel:
1 Eixo - crescimento econmico: manifestado em tcnicas de produo e
consumo que respeitem as funes essenciais do meio ambiente;
2 Eixo - preservao ambiental: claramente presente no respeito, tanto
quanto possvel, s reas de especial proteo, as quais exercem funes
essenciais para a preservao de toda a vida no planeta;
3 Eixo - equidade social: que represente a repulsa de tcnicas de produo
e consumo inviveis, pois geradores de mais mazela social.
Tais eixos reproduzem claramente as disposies do art. 225, caput, e,
especificamente no tocante repulsa de tcnicas inviveis, possui a natureza de princpio
internacional (princpio 8 da Declarao do Rio/92).

14
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nesse contexto que se insere o licenciamento ambiental, definido pelo art. 2,


I, da Lei Complementar 140/11 como o procedimento administrativo destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental.

licenciamento

ambiental

pois,

instrumento

indispensvel

ao

desenvolvimento sustentvel e equacionamento dos trs eixos a ele inerentes, na medida


em que, no seu desenrolar, prev as condicionantes para a atividade e, no caso de significativo
impacto ambiental, torna obrigatria a utilizao do EIA/RIMA.

Por tal razo, a administrao ambiental deve, ao licenciar, considerar o


crescimento econmico advindo da atividade e sua respectiva sustentabilidade em todos os seus
aspectos, ou seja, se adequado preservao do meio ambiente e fomentador da equidade social.
A resposta positiva do rgo pblico deve significar, simultaneamente, que o crescimento
econmico propiciado pela atividade ser sustentvel e justo.
manifestao desse entendimento a previso, na Res. CONAMA 01/86, do que
se considera impacto ambiental (art. 1), e na qual se refletem, de forma detalhada em cinco
incisos, os trs eixos do licenciamento ambiental mencionados:
EIXOS

RES. CONAMA 01/86

Crescimento Econmico

Atividades sociais e econmicas.

Preservao Ambiental

Biota, as condies estticas e sanitrias do meio


ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.

Equidade Social

Sade, a segurana e o bem-estar da populao.

E a avaliao de impactos ambientais, embora instrumento autnomo do


licenciamento, a ele exclusivamente serve, e se destina, primordialmente, anlise da viabilidade
do empreendimento diante da preservao do meio ambiente e fomento da equidade social. Afinal,
conforme princpio 1 da Declarao do Rio/92, os seres humanos esto no centro da preocupao
com o desenvolvimento sustentvel.
3.3.2. Informao ambiental qualitativa como pressuposto do exerccio do direito
participao no Estado Democrtico de Direito
O dever da sociedade de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado (art. 225, caput, da CF/88) exercido no s pelo comportamento dia a dia, mas
essencialmente pelo acompanhamento e direito de participao durante todo o procedimento de
licenciamento.
15
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Em um Estado Democrtico de Direito, como o brasileiro (art. 1, caput, da


CF/88), a garantia da participao direta e efetiva da populao pressuposto, inclusive, da
validade dos atos que a afeta, e s poder ser exercida se, previamente, esta populao que tem
assegurado o direito de participao tiver, tambm, o acesso s informaes necessrias para
exerc-lo.
No direito ambiental essa exigncia de participao popular como garantia do
exerccio da democracia ainda maior. Tanto assim que so previstas, desde o incio do processo
de licenciamento, inmeras formas de participao popular, cujo pice so as audincias pblicas.
Eventuais omisses no procedimento, em especial nos estudos que subsidiam a
anlise da viabilidade do empreendimento, comprometem a validade do procedimento no que se
refere participao efetiva da populao que, sem acesso s informaes adequadas, no tem
condies de exercer o seu papel constitucional de corresponsvel pela preservao ambiental em
todos os seus aspectos, dentre os quais o de atuar de forma preventiva em hipteses de impactos
significativos, como a hiptese sob exame.
A consequncia disto que a incorreta anlise e apresentao dos trs eixos do
desenvolvimento sustentvel ou sua anlise fragmentada causa alienao e compromete a correta
compreenso e avaliao do empreendimento, efeito desejvel somente queles que querem
desvirtuar a informao.
O direito informao ambiental (o art. 6, 3, da Lei 6.938/81, o art. 5,
XXXIII, da CF/88 e a Lei 10.650/03) apresenta, portanto, duas faces: a obteno formal das
informaes, ou seja, aspecto meramente quantitativo, e o que realmente viabiliza a garantia
constitucional: o seu contedo, tanto no que se refere clareza quando veracidade da
informao disponibilizada. Neste sentido, a populao tem o direito de conhecer a informao
ambiental em seu aspecto qualitativo, expresso do princpio democrtico por essncia. A
informao ambiental deve, pois, ser qualificada, a saber: acessvel, transparente e verdadeira,
como postulado da lealdade e boa-f da administrao com os administrados.
Como reflexo, o meio ambiente deve ser analisado como um todo meio
fsico, bitico e antrpico - , em sua realidade contextual, pelo rgo licenciador quando do
procedimento de licenciamento e exigncia de elaborao do EIA/RIMA. Desta forma, a anlise
fragmentada ou parcial destes aspectos que constituem o bem ambiental desvirtua a
natureza do instrumento, viciando o processo de licenciamento e tolhendo a sociedade
do direito/dever de proteo do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

16
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No por outra razo a Lei 10.650/03 dispe que os rgos pblicos devem
necessariamente informar sobre ... polticas, planos e programas potencialmente causadores de
impacto ambiental (artigo 2, inciso II).
Tamanha a importncia da participao social na gesto do bem ambiental que
referida garantia foi internacionalmente reconhecida no Princpio 10 da Declarao do Rio
(1992), segundo a qual a melhor maneira de tratar as questes ambientais assegurar a
participao, no nvel apropriado, de todos os cidados interessados. Em nvel nacional, cada
indivduo ter acesso adequado s informaes relativas ao meio ambiente de que
disponham as autoridades pblicas, inclusive informaes acerca de materiais e atividades
perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos
decisrios. Os Estados iro facilitar e estimular a conscientizao e a participao popular,
colocando as informaes disposio de todos. Ser proporcionado o acesso efetivo a
mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere compensao e
reparao de danos.
V-se, portanto, que a informao correta deve ser verdadeira e adequada a
propiciar, se o caso, a equitativa compensao e reparao de danos ambientais. E, para isso,
indispensvel que esteja contextualizada no ambiente em relao ao qual o empreendimento
pretende se inserir, sob pena no s de ilegalidade, mas flagrante inconstitucionalidade por ofensa
principiologia do Estado Democrtico de Direito.
No caso presente, no h qualquer dvida de que a poltica estatal voltada ao
desenvolvimento da regio potencialmente causadora de significativo impacto ambiental com a
implementao de diversos empreendimentos de grande porte no Litoral Norte, o que obriga o
empreendedor e o rgo ambiental a disponibilizarem a toda a populao as informaes no
apenas em seu aspecto quantitativo, formal, mas, tambm, e principalmente, no seu aspecto
qualitativo, material, repita-se: acessvel, transparente e verdadeira.
E se o plano destina-se regio como um todo, a informao qualitativa
e verdadeira populao deve compreender toda a regio, em todos os seus aspectos.
Assim, e somente assim, o princpio democrtico, do qual o direito
participao expresso, ser materialmente observado.
3.3.3. Princpios da Precauo e da Preveno
A informao qualitativa/contextualizada tambm consequncia direta dos
constitucionais

princpios

da

preveno

precauo,

que

encontram

seu

nascedouro

implicitamente nos mandamentos de proteo e preservao trazidos pelos art. 23, VI e VII, e art.
225, caput, ambos da CF/88.
17
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A) Principio da Precauo
A precauo ambiental, reconhecida internacionalmente no Princpio 15 da
Declarao do Rio de Janeiro, votada na Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1992), e tambm presente na Conveno da Diversidade Biolgica11 (Prembulo)
e na Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre a Mudana Climtica

12

(art. 3), se assenta em

dois pressupostos, bem delineados pela doutrina especializada: ... a possibilidade que
condutas humanas causem danos coletivos vinculados a situaes catastrficas que podem
afetar o conjunto de seres vivos por uma parte -, e a falta de evidncia cientfica (incerteza)
a respeito da existncia do dano temido por outra. Incerteza no somente na relao de
causalidade entre o ato e suas consequncias, mas quanto realidade do dano, a medida do risco
ou do dano

13

sem grifos no texto original.


Basicamente a orientao principiolgica no sentido de que a ausncia de

evidncia cientfica, seja por deficincia na tcnica ou no prprio dever de informao, enseja a
aplicao do princpio da precauo e no execuo da ao potencialmente impactante.
Desta forma, se aps a anlise suficientemente informada, correta em sua
amplitude, contextualizada e cientfica, o EIA/RIMA atesta a incerteza sobre os impactos em toda a
regio ou demonstra a impossibilidade de sua anlise segura, outra concluso no se pode chegar
seno pela necessidade de se buscar outras alternativas, com as adaptaes necessrias ao
projeto e correta definio das medidas de mitigao e compensao.
A precauo demanda tal soluo e, mais que isto, deve ser entendida como um
standart, de forma que se proibida determinada atividade em certo contexto, a questo deve
voltar a ser analisada assim que possvel, ou seja, ... novas descobertas e desenvolvimentos
devem ser levados em considerao...

14

O princpio da precauo se materializa por meio de trs instrumentos, os quais


devem estar presentes simultaneamente: (a) avaliao de riscos; (b) gesto de riscos; (c)
comunicao de riscos.

11

Assinada no Rio de Janeiro em 5.6.1992, ratificada pelo Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo 2, de 3.2.1994, tendo entrado em
vigor no Brasil em 29.5.1994 e promulgada pelo Decreto 2.519, de 16.3.1998.
12
Assinada em Nova York em 9.5.1992, ratificada pelo Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo 1, de 3.2.1994, passou a vigorar
para o Brasil em 29.5.1994.
13
Denise Hammerschmidt. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Risco na sociedade Contempornea e o Princpio da Precauo, pag.
371. Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.
14
Joana Setzer e Nelson da Cruz Gouveia. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Princpio da Precauo rima com ao, pag. 450.
Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.

18
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A avaliao de riscos essencial para avaliar a viabilidade ambiental de um


empreendimento, pois ... compreende a anlise do conjunto de dados cientficos pragmticos e
isentos de opinies pessoais, que servem de fundamento para as decises polticas sobre a
aceitao do risco que de certa atividade possa decorrer

15

. A gesto de risco, por sua vez,

permite estabelecer, a partir de aspectos sociopolticos, econmicos e ambientais, medidas de


controle, fiscalizao e mitigao dos efeitos potencialmente perigosos de um fenmeno, produto
ou processo identificados na avaliao 16 . Por fim, a sociedade deve ser verdadeiramente
informada dos riscos e quais as medidas de gesto sero tomadas, aspecto representado pela
comunicao de riscos e que materializada o j mencionado princpio democrtico de
informao em seu aspecto material.

Nesse contexto, a Comunicao da Comisso das Comunidades Europeias


sobre o Princpio da Precauo, publicada em 02.02.2000, deixa claro quando se deve invocar
o postulado:
A invocao do princpio da precauo uma deciso exercida quando a
informao cientfica insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicaes
de que os possveis efeitos sobre o ambiente, a sade das pessoas ou
dos

animais

ou

proteo

vegetal

possam

ser

potencialmente

perigosos e incompatveis com o nvel de proteo escolhido

17

- sem

grifos no texto original.

E, no caso presente, conforme a frente se demonstrar, h indicaes firmes


sobre

insuficiente

informao

diagnstico

dos

impactos

decorrentes

do

empreendimento em apreo, a colocar em dvida a sua compatibilidade com o nvel de


proteo ambiental que deve ser dado regio do Litoral Norte, de modo a impor a
incidncia do Princpio da Precauo. Frise-se, novamente: ... a precauo um assunto
que compete sociedade em seu conjunto e deve ser gestionado em seu seio para
orientar a tomada de decises polticas sobre assuntos de relevncia fundamental

18

Por fim, tamanha a relevncia do princpio da precauo que, inobstante a


previso em tratados internacionais j introduzidos no ordenamento jurdico brasileiro, o art. 1
da Lei 11.105/05, aplicvel ao caso pela invocao do microssistema de direitos difusos,
prev a observncia obrigatria da precauo para proteo do meio ambiente.

15

Idem, pag. 446.


Idem.
17
Joana Setzer e Nelson da Cruz Gouveia. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Princpio da Precauo rima com ao, pag. 447, nota
de rodap n 50. Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.
16

18

19
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O entendimento acima esposado respaldado pela farta jurisprudncia sobre o


assunto, recorrente na invocao do princpio da precauo como forma de garantir a qualidade
ambiental, conforme se observa das ementas abaixo transcritas:

Superior Tribunal de Justia STJ. Princpio da Precauo:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA. DANOS AMBIENTAIS.


ADIANTAMENTO DE DESPESAS PERICIAIS. ART. 18 DA LEI 7.347/1985. ENCARGO
DEVIDO FAZENDA PBLICA. DISPOSITIVOS DO CPC. DESCABIMENTO. PRINCPIO DA
ESPECIALIDADE. INVERSO DO NUS DA PROVA. PRINCPIO DA PRECAUO. 1.
Segundo jurisprudncia firmada pela Primeira Seo, descabe o adiantamento dos
honorrios periciais pelo autor da ao civil pblica, conforme disciplina o art. 18 da Lei
7.347/1985, sendo que o encargo financeiro para a realizao da prova pericial deve
recair sobre a Fazenda Pblica a que o Ministrio Pblico estiver vinculado, por meio da
aplicao analgica da Smula 232/STJ. 2. Diante da disposio especfica na Lei das
Aes Civis Pblicas (art. 18 da Lei 7.347/1985), afasta-se aparente conflito de normas
com os dispositivos do Cdigo de Processo Civil sobre o tema, por aplicao do princpio
da especialidade. 3. Em ao ambiental, impe-se a inverso do nus da prova,
cabendo ao empreendedor, no caso concreto o prprio Estado, responder pelo
potencial perigo que causa ao meio ambiente, em respeito ao princpio da
precauo. Precedentes. 4. Recurso especial no provido. (RESP 201100265904,
ELIANA CALMON, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:01/10/2013)
AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AO CIVIL PBLICA
PARA RETIRADA DE ESTAO RDIO-BASE. VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. NO
OCORRNCIA. REGULARIDADE NA INSTALAO DA ESTAO. REVOLVIMENTO DE
MATRIA FTICO-PROBATRIA. IMPOSSIBILIDADE DE ANLISE NESTA VIA. REQUISITOS
LEGAIS DA ANTECIPAO DE TUTELA. MATRIA FTICA. INCIDNCIA DA SMULA 7/STJ.
1. No h se falar em violao do art. 535 do Cdigo de Processo Civil, pois o Tribunal
Estadual exps, fundamentadamente, as razes que levaram concluso do julgado. Ao
contrrio do afirmado pela agravante, a Corte de origem deixou expressamente
consignado no acrdo dos embargos de declarao a inexistncia de ato jurdico perfeito.
Alm disso, com fundamento na ausncia de licena ambiental prvia e no
principio da precauo, determinou a desativao da Estao Radio-Base. 2. No
tocante regularidade da instalao da estao de telefonia, o Tribunal a quo,
fundamentado nas provas trazidas aos autos, concluiu pela necessidade de desativao
da estao. Rever a deciso da Corte de origem demandaria o reexame ftico-probatrio,
o que inadmissvel nesta instncia especial pela incidncia da Smula n 7 desta Corte.
3. Da mesma forma, tem-se que vedado na instncia extraordinria o reexame dos
pressupostos para a concesso da tutela antecipada, pois essa providncia exige o
revolvimento dos elementos ftico-probatrios da demanda, o que no permitido, nos
termos contemplados na Smula 7/STJ. 4. Agravo regimental no provido. (AGRESP
201102625379, CASTRO MEIRA, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:30/08/2013)

20
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AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.


DIREITO CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. CONSTRUO DE USINA HIDRELTRICA.
REDUO DA PRODUO PESQUEIRA. SMULA N 7/STJ. NO CABIMENTO. DISSDIO
NOTRIO.

RESPONSABILIDADE

OBJETIVA.

DANO

INCONTESTE.

NEXO

CAUSAL.

PRINCPIO DA PRECAUO. INVERSO DO NUS DA PROVA. CABIMENTO. PRECEDENTES.


1. No h falar, na espcie, no bice contido na Smula n 7/STJ, haja vista que os fatos
j restaram delimitados nas instncias ordinrias, devendo ser revista nesta instncia
somente a interpretao dada ao direito para a resoluo da controvrsia. Precedentes. 2.
Tratando-se de dissdio notrio, admite-se, excepcionalmente, a mitigao dos requisitos
exigidos para a interposio do recurso pela alnea "c" "quando os elementos contidos no
recurso so suficientes para se concluir que os julgados confrontados conferiram
tratamento jurdico distinto similar situao ftica" (AgRg nos EAg 1.328.641/RJ, Rel.
Min. Castro Meira, DJe 14/10/11). 3. A Lei n 6.938/81 adotou a sistemtica da
responsabilidade objetiva, que foi integralmente recepcionada pela ordem jurdica atual,
de sorte que irrelevante, na espcie, a discusso da conduta do agente (culpa ou dolo)
para atribuio do dever de reparao do dano causado, que, no caso, inconteste. 4. O
princpio da precauo, aplicvel hiptese, pressupe a inverso do nus
probatrio, transferindo para a concessionria o encargo de provar que sua
conduta no ensejou riscos para o meio ambiente e, por consequncia, aos
pescadores da regio. 5. Agravo regimental provido para, conhecendo do agravo, dar
provimento ao recurso especial a fim de determinar o retorno dos autos origem para
que, promovendo-se a inverso do nus da prova, proceda-se a novo julgamento.
(AGARESP 201201507675, RICARDO VILLAS BAS CUEVA, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE
DATA:27/02/2013)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. MANDADO DE SEGURANA PREVENTIVO. CULTIVARES
DE SOJA. VARIAO NA COR DO HILO. AUSNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA.
OMISSO DO MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. NO
OCORRNCIA. NECESSIDADE DE ESTUDOS TCNICOS-CIENTFICOS. DIREITO LQUIDO E
CERTO NO EVIDENCIADO. MANDADO DE SEGURANA DENEGADO. 1. Insurge-se a
impetrante contra a omisso da autoridade coatora em normatizar a questo da variao
da tonalidade de cor do hilo das sementes de soja. 2. O meio ambiente equilibrado elemento essencial dignidade da pessoa humana -, como "bem de uso comum do povo
e essencial sadia qualidade de vida" (art. 225 da CF), integra o rol dos direitos
fundamentais. Nesse aspecto, por sua prpria natureza, tem o meio ambiente tutela
jurdica respaldada por princpios especficos que lhe asseguram especial proteo. 3. O
direito ambiental atua de forma a considerar, em primeiro plano, a preveno, seguida da
recuperao e, por fim, o ressarcimento. 4. A controvrsia posta em exame no presente
mandamus envolve questo regida pelo direito ambiental que, dentre os princpios que
regem a matria, encampa o princpio da precauo. 5. Deve prevalecer, no presente
caso,

precauo

da

administrao

pblica

em

liberar

plantio

comercializao de qualquer produto que no seja comprovadamente nocivo ao


meio ambiente. E, nesse sentido, o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA tem tomado as providncias e estudos de ordem tcnico-cientfica para a soluo

21
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

da questo, no se mostrando inerte, como afirmado pela impetrante na inicial. 6. No


se vislumbra direito lquido e certo da empresa impetrante em plantar e
comercializar suas cultivares, at que haja o deslinde da questo tcnicocientfica relativa ocorrncia de variao na cor do hilo das cultivares. 7.
Mandado de segurana denegado. (MS 201100123180, ARNALDO ESTEVES LIMA, STJ PRIMEIRA SEO, DJE DATA:21/06/2012)

Tribunal Regional Federal 3 Regio TRF3:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EDIFICAO EM REA DE PROTEO AMBIENTAL. DIREITO


AO

MEIO

AMBIENTE

CONSTITUIO

SAUDVEL

FEDERAL.

GARANTIDO

APLICABILIDADE

PELOS

DOS

ARTIGOS

PRINCPIOS

170

DA

225

PRECAUO

DA
E

PREVENO. 1. O direito ao meio ambiente saudvel e ecologicamente equilibrado est


previsto nos artigos 170 e 225 da Constituio de 1988. Questo que envolve a
conservao do meio ambiente e de reas de preservao permanente. 2. Relatrio de
Fiscalizao do IBAMA relatando que o local da construo objeto de autuao est
localizado na rea de preservao permanente, alm de ser uma rea de estudos
antropolgicos em vias de se tornar stio arqueolgico. 3. Edificao difere da mdia das
edificaes em que residem os moradores locais (ribeirinhos), devido ao padro de
construo (casa de alvenaria com 60 metros quadrados). 4. Deve-se levar em conta o
princpio da precauo, basilar do direito ambiental, segundo o qual "a ausncia
de certeza cientfica absoluta no ser utilizada como razo para o adiamento de
medidas economicamente viveis para prevenir a degradao ambiental"
(adotado no iderio da Conferncia da Terra - ECO 92, ratificado pelo Congresso
Nacional via Decreto Legislativo 1, de 3/2/1994). 5. Aplicao do princpio da
preveno no tocante proibio de construo civil em rea de preservao permanente
sem autorizao ambiental, o qual prevalece sobre o da reparao integral, que se aplica
apenas quando for impossvel prevenir o dano ambiental. 8. No razovel sacrificar o
meio ambiente, principalmente em se tratando apenas de edificao de lazer e turismo. 9.
Agravo
FEDERAL

de

instrumento.
MRCIO

Provido.

MORAES,

(AI

TRF3

00197914720114030000,
-

TERCEIRA

TURMA,

DESEMBARGADOR

e-DJF3

Judicial

DATA:30/11/2012)
DIREITO AMBIENTAL - AO POPULAR - REA DE PROTEO AMBIENTAL - EXTRAO
MINERAL

DEGRADAO

DO

MEIO

AMBIENTE

REGIO

DE

MANANCIAIS

INEXISTNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO CONTRA A PROTEO AMBIENTAL - PRINCPIO


DA PRECAUO. 1. O meio ambiente consiste em bem de uso comum do povo, essencial
sua qualidade de vida, impondo ao poder pblico e prpria coletividade o dever de
proteg-lo e preserv-lo, visando assegurar a sua fruio pelas futuras geraes.
Inteligncia do art. 225 da Constituio Federal. 2. A atividade de pesquisa e posterior
explorao mineral na regio, tal como prevista nos atos impugnados, no pode ser
conciliada com a proteo ambiental dispensada (APA), sobretudo por suas repercusses
em bacia hidrogrfica relevante. Situao agravada pela explorao j empreendida,
independentemente de autorizao dos rgos competentes e sem qualquer fiscalizao.

22
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

3. Inexiste direito adquirido oponvel proteo do meio ambiente. Precedente do C. STJ.


4. A ausncia de certeza cientfica formal acerca da existncia de risco de dano
srio ou irreversvel requer a implementao de medidas que possam assegurar
a sua preveno. Princpio da Precauo. 5. Apelao a que se nega provimento. (AC
00065755719994036105, DESEMBARGADOR FEDERAL MAIRAN MAIA, TRF3 - SEXTA
TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/02/2011 PGINA: 193).

B) Princpio da Preveno
Superadas eventuais deficincias quanto avaliao de riscos, gesto de riscos
e comunicao de riscos, ter-se-o, ao menos, dados cientficos concretos sobre os riscos
ambientais advindos do empreendimento, permitindo, desta forma, a tomada de deciso com base
na cincia sobre sua viabilidade ou no em atendimento ao acima exposto princpio da precauo.

Esta , entretanto, apenas uma etapa a ser superada.


A ele segue-se uma anlise posterior ao estudo contextual de impactos, etapa
esta tambm indispensvel para o correto licenciamento que materializa o tambm constitucional
e internacionalmente reconhecido Princpio da Preveno, onde a configurao do risco
transmuta-se para abandonar a qualidade de risco de perigo, para assumir a do risco de produo
dos efeitos sabidamente perigosos

19

Diante desta indissocivel relao entre os princpios, tem-se que o desrespeito


ao princpio da precauo traz como consequncia inexorvel o desrespeito ao princpio da
preveno, viciando as medidas mitigadoras a serem exigidas do empreendedor.
Para Romeu Thom , "o princpio da preveno o maior alicerce, por exemplo,
do Estudo de Impacto Ambiental EIA"

20

, mencionando o art. 225, 1, IV, CF, que trouxe

expressamente o estudo de impacto ambiental como um dos principais instrumentos de


proteo do meio ambiente. Mais que isto, a Carta Magna o trata como verdadeira condicionante
para a instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do
meio ambiente 21 . Segundo Celso Antnio Pacheco Fiorillo, o EIA/RIMA constitui um dos mais
importantes instrumentos de proteo do meio ambiente. A sua essncia preventiva e pode
compor uma das etapas do licenciamento ambiental

22

19

Jos Rubens Morato Leite e Patryck de Arajo Ayala. Direito ambiental na sociedade de risco, pag. 62, citados por Denise
Hammerschmidt. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Risco na sociedade Contempornea e o Princpio da Precauo, pag. 374.
Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.
20
Manual de Direito Ambiental. 2 Ed. Editora Juspodivm, 2013.
21
No mbito infraconstitucional, o EIA/RIMA est previsto como um dos instrumentos da Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente para
a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando a assegurar condies ao desenvolvimento
socioeconmico e proteo da dignidade da vida humana (artigos 2, caput, c.c. artigo 9, IV da lei 6.938/81). regulado por
resolues do CONAMA, em especial, as Resolues n 001/86 e 237/97, figurando como parte essencial do procedimento de
licenciamento ambiental nelas regulamentado.
22
Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 6 ed., So Paulo: Saraiva, 2005, p. 85.

23
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Assim como o princpio da precauo, o princpio da preveno como vetor de


orientao

obrigatria

nas

polcias

administrativas

ambientais

encontra

amplo

respaldo

jurisprudencial:

Superior Tribunal de Justia STJ. Princpio da Preveno:

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. MANDADO DE SEGURANA PREVENTIVO. CULTIVARES


DE SOJA. VARIAO NA COR DO HILO. AUSNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA.
OMISSO DO MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. NO
OCORRNCIA. NECESSIDADE DE ESTUDOS TCNICOS-CIENTFICOS. DIREITO LQUIDO E
CERTO NO EVIDENCIADO. MANDADO DE SEGURANA DENEGADO. 1. Insurge-se a
impetrante contra a omisso da autoridade coatora em normatizar a questo da variao
da tonalidade de cor do hilo das sementes de soja. 2. O meio ambiente equilibrado elemento essencial dignidade da pessoa humana -, como "bem de uso comum do povo
e essencial sadia qualidade de vida" (art. 225 da CF), integra o rol dos direitos
fundamentais. Nesse aspecto, por sua prpria natureza, tem o meio ambiente tutela
jurdica respaldada por princpios especficos que lhe asseguram especial proteo. 3. O
direito ambiental atua de forma a considerar, em primeiro plano, a preveno,
seguida da recuperao e, por fim, o ressarcimento. 4. A controvrsia posta em
exame no presente mandamus envolve questo regida pelo direito ambiental
que, dentre os princpios que regem a matria, encampa o princpio da
precauo. 5. Deve prevalecer, no presente caso, a precauo da administrao pblica
em

liberar

plantio

comercializao

de

qualquer

produto

que

no

seja

comprovadamente nocivo ao meio ambiente. E, nesse sentido, o Ministrio da Agricultura,


Pecuria e Abastecimento - MAPA tem tomado as providncias e estudos de ordem
tcnico-cientfica para a soluo da questo, no se mostrando inerte, como afirmado
pela impetrante na inicial. 6. No se vislumbra direito lquido e certo da empresa
impetrante em plantar e comercializar suas cultivares, at que haja o deslinde da questo
tcnico-cientfica relativa ocorrncia de variao na cor do hilo das cultivares. 7.
Mandado de segurana denegado. (MS 201100123180, ARNALDO ESTEVES LIMA, STJ PRIMEIRA SEO, DJE DATA:21/06/2012)
PROCESSO CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AO CIVIL PBLICA PARA TUTELA DO MEIO
AMBIENTE.

OBRIGAES

DE

FAZER,

DE

NO

FAZER

DE

PAGAR

QUANTIA.

POSSIBILIDADE DE CUMULAO DE PEDIDOS ART. 3 DA LEI 7.347/85. INTERPRETAO


SISTEMTICA. ART. 225, 3, DA CF/88, ARTS. 2 E 4 DA LEI 6.938/81, ART. 25, IV,
DA LEI 8.625/93 E ART. 83 DO CDC. PRINCPIOS DA PREVENO, DO POLUIDORPAGADOR E DA REPARAO INTEGRAL. 1. A Lei n 7.347/85, em seu art. 5, autoriza a
propositura de aes civis pblicas por associaes que incluam entre suas finalidades
institucionais, a proteo ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimnio artstico,
esttico, histrico, turstico e paisagstico, ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
2. O sistema jurdico de proteo ao meio ambiente, disciplinado em normas
constitucionais (CF, art. 225, 3) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2
e 4), est fundado, entre outros, nos princpios da preveno, do poluidorpagador e da reparao integral. 3. Deveras, decorrem para os destinatrios (Estado e
24
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MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

comunidade), deveres e obrigaes de variada natureza, comportando prestaes


pessoais, positivas e negativas (fazer e no fazer), bem como de pagar quantia
(indenizao dos danos insuscetveis de recomposio in natura), prestaes essas que
no se excluem, mas, pelo contrrio, se cumulam, se for o caso. 4. A ao civil pblica
o instrumento processual destinado a propiciar a tutela ao meio ambiente (CF,
art. 129, III) e submete-se ao princpio da adequao, a significar que deve ter
aptido suficiente para operacionalizar, no plano jurisdicional, a devida e
integral proteo do direito material, a fim de ser instrumento adequado e til. 5.
A exegese do art. 3 da Lei 7.347/85 ("A ao civil poder ter por objeto a condenao
em dinheiro ou o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer"), a conjuno ou
deve ser considerada com o sentido de adio (permitindo, com a cumulao dos pedidos,
a tutela integral do meio ambiente) e no o de alternativa excludente (o que tornaria a
ao civil pblica instrumento inadequado a seus fins). 6. Interpretao sistemtica do art.
21 da mesma lei, combinado com o art. 83 do Cdigo de Defesa do Consumidor ("Art. 83.
Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este cdigo so admissveis todas
as espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.") bem como o
art. 25 da Lei 8.625/1993, segundo o qual incumbe ao Ministrio Pblico IV - promover o
inqurito civil e a ao civil pblica, na forma da lei: a) para a proteo, preveno e
reparao dos danos causados ao meio ambiente (...). 7. A exigncia para cada espcie
de prestao, da propositura de uma ao civil pblica autnoma, alm de atentar contra
os princpios da instrumentalidade e da economia processual, ensejaria a possibilidade de
sentenas contraditrias para demandas semelhantes, entre as mesmas partes, com a
mesma causa de pedir e com finalidade comum (medidas de tutela ambiental), cuja nica
variante seriam os pedidos mediatos, consistentes em prestaes de natureza diversa. 8.
Ademais, a proibio de cumular pedidos dessa natureza no encontra sustentculo nas
regras do procedimento comum, restando ilgico negar ao civil pblica, criada
especialmente como alternativa para melhor viabilizar a tutela dos direitos difusos, o que
se permite, pela via ordinria, para a tutela de todo e qualquer outro direito. 9. Recurso
especial desprovido. (RESP 200400011479, LUIZ FUX, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJ
DATA:31/08/2006 PG:00203 ..DTPB:.)

No caso em apreo, contudo, descuidou-se dos dois pilares fundamentais do


Direito Ambiental Constitucional os princpios da preveno e precauo e, por
consequncia, das regras infraconstitucionais que neles buscam seus fundamentos de validade,
cuja violao macula o processo de licenciamento, sobretudo no plano material, em especial
vista dos seguintes vcios, a seguir minudenciados:
(a) ausncia de estudos de impactos cumulativos e sinrgicos contemplando outros 12
megaempreendimentos colocalizados no Litoral Norte, em violao ao que dispe o art. 6,
inciso II, da Resoluo CONAMA n 01/86;

25
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(b) Incorreta definio das reas de influncia direta e indireta do empreendimento e ausncia de
informaes

sobre

Autorizao

de

Licenciamento

Ambiental

A.L.A.

do

ICMBio-

ESEC/Tupinambs e desconsiderao dos estudos complementares exigidos pelos Gestores das


Unidades de Conservao atingidas, em violao ao que dispe o art. 5, inciso III, da
Resoluo CONAMA 01/86, artigo 36, caput e 3 da Lei 9.985/00 e artigos 1 e 3, II,
c.c. 3 da Resoluo CONAMA 428/10;
(c) ausncia de avaliao devida dos planos e programas governamentais propostos e em
implantao da rea de influncia do projeto e sua compatibilidade, em violao ao que dispe
o art. 5, inciso IV, da Resoluo CONAMA 01/86;
(d) ausncia de reais alternativas locacionais (aspecto formal e material), em violao ao que
dispe o art. 5, inciso I, da Resoluo CONAMA 01/86 e;
(e) aquiescncia com a possibilidade de ocorrncia de srio e irreversvel dano na Baa do Araa,
em violao ao que dispem o art. 8, 2 da Lei n 12.651/2012; art. 3, inciso X, da
Resoluo CONAMA n 303/2002.

3.4

3.4.1 - AUSNCIA

VCIOS DO PROCEDIMENTO DE LICENCIAMENTO

DE ANLISE DE IMPACTOS CUMULATIVOS: VIOLAO AO ARTIGO

6,

INC.

II

DA

RES.

CONAMA 01/86
Consoante examinado no tpico anterior, serve o processo de licenciamento de
instrumento para a materializao do direito informao ambiental e dos princpios da
preveno e precauo, de modo a permitir, por conseguinte, uma correta e adequada (a)
avaliao de riscos; (b) gesto de riscos e (c) comunicao de riscos e, enfim, a tomada de
deciso com base na cincia.
E, para a consecuo de to relevante propsito, um instrumento essencial est
previsto na Resoluo CONAMA 01/86 23 : trata-se da exigncia de que o EIA/RIMA contenha
estudos de impactos cumulativos e sinrgicos, assim disciplinado pelo texto normativo
referido, em seu art. 6, inciso II:

23

Diploma normativo regulamenta o processo de licenciamento


26
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Artigo 6 - O estudo de impacto ambiental desenvolver, no mnimo, as seguintes


atividades tcnicas:
(...)
II - Anlise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, atravs de
identificao, previso da magnitude e interpretao da importncia dos provveis
impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benficos e
adversos), diretos e indiretos, imediatos e a mdio e longo prazos, temporrios e
permanentes; seu grau de reversibilidade;

suas

propriedades

cumulativas

sinrgicas; a distribuio dos nus e benefcios sociais. (sem grifos no original).

Esta exigncia, certo, vem ao encontro dos eixos do princpio da


sustentabilidade e, em especial, do dever de informar a populao, de forma clara e leal, de
todos os impactos ambientais a serem suportados por uma dada regio.
De forma singela, pode-se dizer que a anlise cumulativa , simplesmente,
considerar se o empreendimento proposto, que poder trazer desenvolvimento econmico,
respeita o meio ambiente minimamente, favorece a equidade social e vivel no contexto onde
se insere. E para anlise do contexto, no se pode prescindir da concepo sobre os impactos
cumulativos e sinergticos.
Enfim, a anlise contextualizada no imposio somente da Res.
CONAMA 01/86. tambm reflexo da natureza do prprio direito sobre o qual a licena
emitida e da aplicao dos princpios da precauo e preveno.
No por outra razo, a legislao do microssistema da tutela coletiva adota esta
mesma concepo pautada na anlise sempre contextual, seja pela indivisibilidade e ligao ftica
dos direitos difusos (art. 81, p. nico, do CDC), como pelo disposto no art. 4, III, da Res.
CONAMA 01/86, que define como critrio de anlise de impactos, diretos ou indiretos, a bacia
hidrogrfica. Portanto, a par da questo principiolgica, o critrio legal de anlise de
interveno mesmo contextual e dele no pode prescindir o rgo licenciador.
Todavia, malgrado expressamente previsto em texto normativo com fora de
lei

24

e, sobretudo, o valor inestimvel deste instrumento para materializao dos princpios da

precauo e preveno, os estudos de impactos cumulativos so sistemtica e irresponsavelmente


ignorados por todos os atores do processo de desenvolvimento econmico: o executivo, o
empreendedor e, sobretudo, aquele a quem compete exigi-lo, o rgo licenciador.

24

Pelo exame da legislao que regula a matria (Leis 6.938/81 e 4.771/65), verifica-se que possui o Conama autorizao
legal para editar resolues que visem proteo do meio ambiente e dos recurso naturais (STJ. Resp. 994.881/SC, Rel. Min.
Benedito Gonalves. 1 T., julgado em 16/12/2008 Dje 09/09/2009).

27
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Consequncia disto um grave comprometimento, para alm dos postulados j


invocados, a um valor transindividual to importante quanto negligenciado ao longo da histria
brasileira: o direito ao crescimento planejado.
justamente o que se passa no presente momento, em que se assiste a uma
concentrao de empreendimentos altamente impactantes na regio do Litoral Norte,
relacionados entre si pela colocalizao e relao de causa e efeito, que esto sendo
sucessivamente licenciados em procedimentos fragmentados e deficientes quanto a
anlises de efeitos cumulativos, obscurecendo a compreenso de seus reais impactos para a
regio e, em ltima anlise, a prpria concluso acerca de suas viabilidades ambientais e das
medidas compensatrias e mitigatrias a serem exigidas.
o que se passa a demonstrar.
A)

Conceito de Impactos Cumulativos e Sinrgicos

Ensina Leonardo Ribeiro Teixeira, em sua tese de mestrado Megaprojetos no


Litoral Norte Paulista: O papel dos grandes empreendimentos de infraestrutura na transformao
regional:
Os efeitos cumulativos podem ser definidos como mudanas no ambiente
causadas por uma ao combinada a outras atividades humanas do passado, presente e futuro25,
ou seja, os

efeitos

das

atividades

humanas

acumularo

quando

uma

segunda

perturbao ocorrer num local antes do ecosssistema se recuperar completamente do


efeito da primeira perturbao (CEQ, 1997). Cocklin e colaboradores (19992) incluem nesse
conceito a possibilidade de um impacto cumulativo resultar de aes pouco impactantes
individualmente, mas de significativa importncia no seu conjunto. De acordo com Kotze (2004),
os efeitos cumulativo so comumente entendidos como impactos combinados de diferentes
projetos, que resultam em mudanas significativas, maiores que a soma de todos os impactos 26.
(DOC. 05 - sem grifos no original).
No mesmo sentido, esclarecem Therivel e Ross que, embora isoladamente
alguns impactos possam ser considerados irrelevantes, "quando analisados em conjunto, estes
impactos podem exercer um impacto significante no meio ambiente e que, como consequncia
desta cumulatividade, "podem at mesmo extrapolar a capacidade suporte do ambiente, causando
degradao ambiental".

25

Changes to the environment thar are caused by Ana action in combination with other past, present and future human
actions (HEGMANN et al., 1999).
26
Cumulative effects are commonly understood as the impacts wicht combine from different projects and wicht result in
significant change, wich is larger than the sumo f all the impacts (KOTZE et al., 2004, p.5).
28
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Na mesma linha, Ana Paula Alves Dibo, em A insero de impactos


ambientais cumulativos em Estudos de Impacto Ambiental: o caso do setor sucroenergtico
paulista, sobre o conceito consagrado na Council on Environmental Quality (CEQ):
De acordo com as diretrizes publicadas pelo Council on Environmental Quality
(CEQ), rgo regulamentador e fiscalizador dos Estados Unidos, para a implementao da NEPA no
pas, um impacto ou efeito cumulativo resultado do impacto incremental de uma ao quando
somadas as outras aes do passado, presente e as que so razoavelmente previsveis no futuro,
independentemente de quem so os responsveis pelas outras aes (CEQ, 1978)

27

(sem

grifos no original).
E complementa:
outro fator apresentado pelo CEQ (1978) relaciona-se a possibilidade de um
impacto ou efeito cumulativo resultar da soma ou interao de aes individualmente menores,
mas que coletivamente so significantes pela persistncia ao longo de um perodo de tempo

28

No h dvida, portanto, da importncia do tema no mbito da comunidade


cientfica, que, invariavelmente, ao mesmo tempo em que destaca a relevncia da anlise de
estudos de impactos cumulativos, atesta a total falta de cuidado com o tema nos processos de
licenciamento de megaempreendimentos no territrio brasileiro, tal qual este ora em apreo.
Nessa

linha,

Leonardo

Ribeiro

Teixeira

destaca

que

literatura

especializada apresenta a questo dos efeitos cumulativos como um problema relevante que
deve ser abordado nas avaliaes de impacto de grandes projetos (PARTIDRIO, 1999; EGLER,
2002; BRASIL, 2004; SNCHEZ, 2006; OLIVEIRA, 2008; NUNES,

2010). Segundo ROSS &

THERIVEL (2007), apenas os efeitos totais, a exemplo dos impactos cumulativos,


importam para os recursos naturais ou populaes afetadas. Faz sentido se pensarmos que
o ambiente no possui fronteiras espaciais, muito menos temporais, delimitadas de forma
estanque. (DOC. 05).
Prossegue:
Assim, baseados em Snchez (2006), podemos dizer que a soma dos impactos
de vrios projetos (Efeitos Cumulativos), bem como a possvel potencializao de impactos,
proveniente da interao entre projetos sobre uma mesma regio (Efeitos Sinrgicos), so
indevidamente mensurados e avaliados no modelo de licenciamento tradicional brasileiro.

27

Alves Dibo, Ana Paula. A insero de impactos ambientais cumulativos em Estudos de Impacto Ambiental: o caso do setor
sucroenergtico paulista /. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Cincias da Engenharia Ambiental e rea
de Concentrao em Cincias da Engenharia Ambiental Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo,
2013, pag. 53.
28
Idem.
29
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

E conclui: Questes como as mudanas climticas, a perda da biodiversidade


ou a depleo da camada de oznio so resultados de sculos de aes humanas consideradas
sem importncia, pela sua pequena relevncia quando analisada segregadamente, cujos impactos
cumulativos no foram devidamente avaliados (OLIVEIRA, 2008)
Tambm neste sentido, j a partir de uma anlise precisamente focada no
licenciamento ora em apreo, cabe destaque ao contedo da Dissertao da Professora Lara
Legaspe, Mestre em Geocincias e Meio Ambiente, apresentada ao Instituto de Geocincias e
Cincias Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho,
sobre os potenciais impactos cumulativos das grandes obras no territrio da APA Marinha Litoral
Norte APAMLN. Afirma Lara Legaspe: fundamental para a conservao dos ecossistemas e
utilizao dos recursos naturais da APAMLN que sejam identificados e descritos os potenciais
impactos cumulativos que possam afetar esta UC, por meio de uma pesquisa focada no territrio
da APAMLN, tendo como base os objetivos de criao desta UC e visando subsidiar a gesto da
mesma com relao a este assunto (DOC. 01).
A preocupao sobre o tema nesta regio,cabe ressaltar, no reside to
somente sobre os impactos cumulativos sobre o meio ambiente marinho. Aponta o parecer tcnico
da Fundao Florestal Parque Estadual da Serra do Mar, acerca do procedimento ora
questionado: no somatrio destes grandes empreendimentos, a cumulatividade e sinergia
ocorrero principalmente nos impactos sobre o meio antrpico na fase de implantao dos
projetos, em funo dos mesmos apresentarem grande concentrao nas reas de influncia
indireta e direta no territrio dos municpios de So Sebastio de Caraguatatuba, bem como
durante a execuo de seus cronogramas de operao (DOC. 01 - sem grifos no original).
No por outra razo o entendimento do

Ministrio

Pblico

Federal

confirmado no III Encontro Regional da Sexta Cmara de Coordenao e Reviso do Ministrio


Pblico Federal, realizado em Alter do Cho/PA, quando se consignou que Para todo e qualquer
empreendimento que gere impactos sobre o meio ambiente, devem ser considerados os efeitos
cumulativos e sinrgicos (DOC. 07).
No o que se verificou, no entanto, no caso concreto.
Como dito, possvel elencar ao menos treze megaempreendimentos em fase
licenciamento ou j em operao na regio do Litoral Norte que, malgrado a inegvel relao de
interdependncia e a cumulatividade e sinergia de seus impactos no meio ambiente natural e
social, esto sendo licenciados em procedimentos autnomos que no dialogam entre si e nem
exigem a anlise integrada, contemplando os impactos cumulativos e sinrgicos.

30
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

O tpico seguinte cuida de elencar todos estes empreendimentos e demonstrar


sua relao de interdependncia.
B)

Relao

de

Interdependncia

dos

Megaempreendimentos

colocalizados no Litoral Norte


Consoante bem trabalhado na referida tese de mestrado de Leonardo Ribeiro
Teixeira, possvel elencar ao menos 13 processos de licenciamento, co-localizados no tempo e
espao,

com

investimentos

que

ultrapassam

os

R$

53

bilhes,

todos

relativos

megaempreendimentos a serem implementados nesta regio ou j em fase de operao (DOC.05).


Ribeiro Teixeira prope a diviso destes empreendimentos em trs grandes
grupos, sendo eles: (a) Indstria do Petrleo e Gs IPG; (b) Porto de So Sebastio PSS; (c)
Rodovia Nova Tamoios RNT, sintetizados na tabela a seguir:

COMPLEXO

PROJETO
1 Plataforma e duto marinho do Campo de Mexilho
2 UTGCA
3 GASTAU

IPG

4 Projetos de pesquisa e desenvolvimento no plo Pr-Sal


5 TLDs Guar
6 Piloto de Produo em Tupi/Lula
7 Novo Per do TEBAR

PSS

8 Regularizao do PSS
9 Ampliao do PSS
10 Nova Tamoios: subtrecho planalto
11 Nova Tamoios: subtrecho serra

RNT

12 Nova Tamoios: contornos sul


13 Nova Tamoios: contornos norte

Quanto relao entre eles, explica Leonardo Ribeiro Teixeira que ela pode
se dar em razo de: (a) uma ligao de causa e efeito (relao de induo ou catalizao entre
projetos),

classificada

pelo

autor

como

Relao

Indireta

Fraca;

(b)

uma

relao

de

interdependncia (um projeto, para o seu desenvolvimento, depende da execuo de um projeto


assessrio), classificada como Relao Indireta Forte; e (c) uma relao fsica (com reciprocidade
ou coeso), classificada como Relao Direta.
A partir destes critrios, o autor estabeleceu a seguinte classificao da
qualidade de relao entre os projetos:

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Legenda:
Relao Direta/Forte: Ligao fsica existente. Relao direta com reciprocidade e coeso
Relao Indireta/Forte: Ligao direta inexistente, porm ocorre interdependncia entre os projetos
Relao Indireta/Fraca: Ligao fsica inexistente, porm ocorre relao de induo/catalizao entre projetos
Sem relao: No h relacionamento entre os projetos

E, com base nesta classificao, props o seguinte diagrama, contendo as


relaes diretas ligaes fsicas com reciprocidade e coeso, entre os projetos:

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Conclui

autor

asseverando

que

Com

essa

visualizao

possvel

compreender que, considerando apenas os vnculos diretos, o projeto do Novo Per do TEBAR
funciona como uma ponte entre o Complexo Porturio e o Complexo da Indstria do
Petrleo e Gs. O mesmo acontece com o projeto do Contorno Sul, que liga o Complexo
Rodovirio com o Complexo Porturio (sem grifos no texto original).
A figura 4.2 apresenta um diagrama representativo da qualidade das relaes
entre os projetos:

O parecer tcnico da Fundao Florestal Parque Estadual da Serra do


Mar tambm destaca esta relao de interdependncia, asseverando que embora sejam projetos
independentes em termos operacionais, tero, em muitos casos, conexo e at mesmo
interdependncia (DOC. 06)
Curioso notar que, no que diz respeito aos projetos do Complexo Porturio e
do Complexo Rodovia Nova Tamoios, a relao de interdependncia oficialmente
reconhecida nos estudos de impacto ambiental e respectivos processos de licenciamento.
Tanto assim que o EIA protocolado no processo de licenciamento do projeto
de ampliao do Porto de So Sebastio vincula a obteno das licenas para ampliao do Porto
ampliao das rodovias de acesso (conforme exigncia do rgo licenciador).

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Neste mesmo sentido, o fato de terem sido efetuadas alteraes de concepes


construtivas no mbito do chamado Projeto Bsico Consolidado de Julho de 2013 referente s
obras do Contorno Sul de Caraguatatuba e So Sebastio, sob a justificativa, dentre outras, da
ampliao do Porto (Atualizao do Projeto de Engenharia do Contorno Sul de Caraguatatuba e
So Sebastio; Consrcio JGP; DER/DERSA).
Apesar disso, o captulo do EIA relacionado ao levantamento dos impactos
desconsiderou esta dependncia entre os empreendimentos medida que no realizou o
levantamento e anlise dos impactos cumulativos e sinrgicos sequer do empreendimento dos
contornos Caraguatatuba So Sebastio, j com licenas emitidas. Desta forma, e ao contrrio
do que determina a legislao, tais empreendimentos esto sendo tratados como se fossem
independentes e sem reconhecimento de que seus projetos resultaro em uma somatria de
desdobramentos decorrentes das obras como um todo (impactos, mitigao, compensao, etc).
A rigor, diversas so as manifestaes tcnicas que sustentam a tese ora
sustentada destacando que, dada a bvia relao de interdependncia entre os empreendimentos,
a necessidade da anlise de impactos cumulativos premente e sua omisso implica em grave
prejuzo na leitura dos reais impactos de todos eles para a regio.
C)

Ausncia de estudos de impactos cumulativos nos EIA/RIMAs dos

megaempreendimentos do Litoral Norte do Estado de So Paulo


Consoante

anunciado,

as

crticas

ausncia

de

estudos

de

impactos

cumulativos nos EIA/RIMAs dos megaempreendimentos do Litoral Norte do Estado de So Paulo


algo recorrente. Foi objeto de teses de mestrado, manifestaes de rgos pblicos e pareceres
tcnicos. Exemplo disso a j mencionada pesquisa produzida pela Prof. Lara Legaspe, que
buscou identificar e descrever os potenciais impactos cumulativos decorrentes da implantao e
operao de cinco grandes obras (Novo Corredor de Exportao e Explorao de Hidrocarbonetos)
com potencial de afetar a gesto territorial da APAMLN.
Consta deste estudo que "a adoo do EIA como nica ferramenta de
licenciamento ambiental foi insuficiente para o levantamento dos ICs 29 com potencial para
impactar a APAMLN, considerando o conjunto de grandes obras analisado e que "a utilizao do
EIA/RIMA foi considerada ineficiente como ferramenta de AIC 30 para as obras analisadas no
recorte

espacial

da

APAMLN",

embasando-se

tal

concluso

em

diversos

problemas

identificados, dentre os quais a desconsiderao dos impactos no significativos; possveis


alteraes nos FAR dependendo da equipe que realiza a anlise; desconsiderao dos impactos
cumulativos

com

outros

empreendimentos;

falta

de

procedimentos

especficos

normatizados (DOC. 01).


29
30

IC impactos cumulativos.
AIC avaliao de impactos cumulativos.
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Ao final, as concluses da pesquisa realizada pela Prof. Lara Lagaspe


comprovam as hipteses propostas no sentido de que "os EIAs no consideram a totalidade dos
impactos cumulativos que podem incidir em FAR para a APAMLN" e que, como "consequncia
desta anlise inadequada dos IC baseada nos EIAs, pode haver comprometimento da tomada de
deciso sobre qual impacto deve ser priorizado para uma gesto mais efetiva", o que gera o "risco
de ocorrer degradao dos ecossistemas e dos recursos naturais da APAMLN, com
consequncias reversveis ou no" (DOC. 01)
O tema foi tambm objeto de preocupao na tese de mestrado de Leonardo
Ribeiro Teixeira (Megaprojetos no Litoral Norte Paulista: O papel dos grandes empreendimentos
de infraestrutura na transformao regional), que alerta:
interessante notar que as relaes, principalmente as indiretas, so
raramente mencionadas nos EIAs, mesmo sabendo-se que a ausncia de relao, a induo, a
interdependncia, ou o vnculo pleno entre empreendimentos modifica a magnitude dos impactos
dos projetos sobre a regio. (DOC. 05)
Tambm nessa linha, o parecer tcnico da Fundao Florestal Parque
Estadual da Serra do Mar, rgo integrante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
igualmente apontou para a esta deficincia, assinalando que Os EIA/RIMAs de ampliao do Porto
de So Sebastio e do contorno sul de Caraguatatuba e So Sebastio (...) deveriam ser avaliados
conjuntamente e no de forma isolada, tendo em vista que se tratam de empreendimentos
interdependentes para a consecuo de parte do que est previsto no Plano Diretor de
Desenvolvimento do Transporte PDDT, do Estado de So Paulo (DOC. 06 )
certo, cabe reiterar, que tambm devem ser inseridos nessa anlise os
empreendimentos dos projetos referentes ao setor de Petrleo e Gs cujas licenas j foram
concedidas, e o fato de que os efeitos dos demais projetos ora em curso a eles se somam
(cumulativa e sinergicamente).
Preocupado

com

ausncia

de

estudos

de

impactos

cumulativos

no

procedimento de licenciamento ora em apreo, bem assim naqueles atinentes aos demais
empreendimentos correlatos, foi requisitado ao Centro de Apoio Execuo do Ministrio
Pblico do Estado de So Paulo, no bojo do inqurito civil n 14.0701.0000007/2012-8
(GAEMA/LN), a elaborao de um estudo tcnico preliminar sobre os impactos cumulativos e
sinrgicos decorrentes do

projeto

de

ampliao do

Porto

de So

Sebastio e

demais

empreendimentos (DOC. 08)

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Neste estudo, destacou-se tambm que O licenciamento da ampliao do Porto


de So Sebastio est oficialmente vinculado implantao e operao dos contornos sul de
Caraguatatuba e So Sebastio. Apesar disso, para a maioria dos impactos levantados no foi
considerada a cumulatividade entre estes dois empreendimentos.
Alm da constatao de que o EIA/RIMA manifestamente omisso quanto
anlise de impactos cumulativos, interessante resgatar, desse documento, o relato histrico
referente s pretenses de ampliao do Porto de So Sebastio. Neste sentido, consta do estudo
que a implantao de um projeto de corredor de exportao entre os planaltos interiores e o
Litoral Norte se valendo da articulao entre a Rodovia D. Pedro I, Rodovia Presidente Dutra e a
ampliao do Porto de So Sebastio objeto de proposta do prprio governo do Estado de So
Paulo, por meio da DERSA, h dcadas, tendo sido difundido historicamente pela Secretaria de
Estado de Transportes, inicialmente configurado pelo Projeto Rodovia do Sol (EIA/RIMA elaborado
pela THEMAG Engenharia, em 1989) e que tinha entre as suas justificativas, j naquele momento,
a vinculao ampliao porturia e viabilizao do corredor de exportao.
O ento referido projeto foi rejeitado pela Secretaria de Estado do Meio
Ambiente na Deliberao CONSEMA 13/89, de 12/05/1989, que destacou que A infraestrutura
de saneamento bsico da regio bastante deficitria, agravando-se sobremaneira nas
temporadas de frias, e que as caractersticas naturais da regio litornea oferecem grandes
dificuldades de ordem tcnica e econmica para a busca de solues de mdio e longo prazo no
que se refere coleta, tratamento e disposio final de lixo e esgotos, e ao abastecimento de gua,
sendo necessria a insero, nos planos, da questo epidemiolgica.
O prprio CONSEMA, j naquele momento, alertou que "Causa perplexidade
que o Estudo Ambiental (EIA) no tenha abordado essas questes ao longo de seus 8 volumes,
impactos indiretamente decorrentes da obra proposta, seguindo afirmando que Nas poucas
linhas dedicadas regio litornea, os municpios de Ilhabela e Ubatuba mal foram mencionados,
enquanto que o ecossistema foi absolutamente ignorado. E concluiu: Finalmente, os planos
diretores de So Sebastio e Caraguatatuba devero indicar as melhores alternativas virias para
a chegada no litoral da nova rodovia, assim como a melhor forma de proteger as cidades e as
praias do trfego de passagem e de carga para o porto.
Aps a rejeio do projeto inicial, fundamentada exatamente na deficincia de
anlise de impactos cumulativos e carncia de servios bsicos na regio impactada, o Estado
de So Paulo, por meio da Secretaria dos Transportes, insistiu na implementao de aes para
investimento em infraestrutura para um Novo Corredor de Exportao denominado Corredor de
So Sebastio, projeto no qual j previa a duplicao da Rodovia dos Tamoios, a construo de
contornos de ligao na plancie (sul e norte) e a ampliao do porto de So Sebastio, que na
ocasio (2005) apresentava pretenses e dimenses bem mais modestas que as atuais.

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certo, contudo,

que

muitos dos aspectos

ambientais e

sociais que

fundamentaram a deciso que rejeitou o projeto no ano de 1989 no sofreram alterao e no


foram sequer devidamente contemplados nos estudos dos procedimentos de licenciamentos
ambientais ora em questo. No entanto, atualmente os procedimentos de licenciamento do
chamado corredor de exportao seguem seu curso sem a devida preocupao com os impactos
cumulativos e sinrgicos dos empreendimentos, inclusive no meio social, algo que, noutro
momento, serviu de fundamento para rejeio de projeto semelhante. E isso se d pela
conjuno de dois fatores: fragmentao dos projetos e respectivos licenciamentos em subprojetos
e, sobretudo, a ausncia de comunicao entre eles.
Nesse sentido, apontam os tcnicos do CAEX MP/SP que a fundo estudaram
em conjunto todos os elementos que compem os processos de licenciamento destes
empreendimentos, que a opo adotada foi tecnicamente equivocada e se materializou por
meio da mencionada fragmentao deliberada do conjunto de obras, o que inevitavelmente
conduz perda da viso global do projeto e de suas consequncias ecolgicas e sociais, impondo
uma crnica apresentao de avaliaes ambientais com tendncias reducionistas e impactos
negativos subestimados, estruturadas em EIA/RIMAS em separado, por trechos (DOC. 08)
Veja-se como se fragmentam os licenciamentos dos empreendimentos
em termos procedimentais: os processos de licenciamento ambiental dos complexos do PSS e da
IPG, com exceo do Novo Per do Terminal Almirante Barroso TEBAR, so conduzidos pelo
IBAMA, autarquia federal responsvel pelo controle dos empreendimentos com abrangncia de
impacto em dois ou mais Estados da federao (CONAMA, 1997). Os processos da RNT e do
TEBAR tramitam na CETESB, empresa integrante do governo paulista, responsvel pelo
licenciamento de atividades com impacto intra-estadual.
E, justamente em razo da fragmentao dos licenciamentos, os projetos do
Complexo da RNT e do TEBAR, que funcionam, na leitura de Ribeiro Teixeira, como pontes
ligando

Complexo

Porturio

aos

demais

empreendimentos,

so

reputados

como

empreendimentos de impacto meramente intra-estadual, determinando a competncia da CETESB


para os respectivos licenciamentos, o que afasta ainda mais a viso integrada destes com o
restante dos empreendimentos, licenciados pelo IBAMA. Este, por sua vez, subdivide ou aquiesce
com a subdiviso dos demais complexos em procedimentos ainda mais fragmentados.
Critica Ribeiro Teixeira: Para fins do licenciamento ambiental obrigatrio, o
projeto de produo, tratamento e escoamento de gs de Mexilho at o sistema de distribuio
em Taubat/SP foi subdividido em trs processos distintos. No houve, aparentemente,
justificativa tcnica ou legal aplicvel para esse procedimento, todavia acredita-se que o objetivo
tenha sido dar maior celeridade ao processo como um todo, dividindo a avaliao de impacto
ambiental em vrias frentes. (DOC. 05)
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Sobre o complexo RNT a mesma estratgia foi aplicada: Neste Complexo


Estrutural a questo da cumulatividade de impactos mostra-se patente. Obras virias costumam
seguir um padro de licenciamento por trechos, que no permite a previso e a caracterizao dos
impactos de mdio e longo prazo, da via como um todo, quer seja como indutora de uma srie de
transformaes econmicas em escala regional, quer seja como meio de introduo de novas
atividades humanas em reas antes protegidas pelo isolamento em relao aos centros urbanos
(MPF, 2004). (DOC. 05).
Os prejuzos na adoo deste modelo de fragmentao, mormente quando
no se exige a anlise de impactos cumulativos so evidentes, conforme ser adiante
minudenciado. Apenas a ttulo ilustrativo, veja-se a cirrgica observao de Ribeiro Teixeira,
sem grifos o texto original: No segundo caso, destacam-se dois megaprojetos que concorrem
com o espao marinho no canal que separa So Sebastio de Ilhabela: (i) o projeto do
novo per do TASSE (investimento de capital privado) e (ii) projeto de ampliao do Porto
(investimento pblico). Enquanto o primeiro prev a construo de dois novos beros de atracao
em um novo per que avana no canal em direo sua abertura norte, buscando otimizar as
atividades do terminal da Petrobras, o outro prev uma estrutura semelhante, o terminal de
granis lquidos, que tambm avana no canal, porm em direo sua abertura sul. Essa
estrutura

do

Porto,

com

as

adaptaes

necessrias,

atenderia

Petrobras

empreendedores, reduzindo custos financeiros e impactos ambientais. Entretanto,

outros
cada

empreendimento possui um projeto prprio e independente, licenciado em rgos


ambientais de esferas distintas. A ampliao do Porto licenciada pelo rgo ambiental
federal, enquanto o novo per do terminal petrolfero licenciado pelo rgo ambiental
do estado de So Paulo, o que dificulta um possvel planejamento regionalizado e otimizador de
estruturas no canal.

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Frise-se que no se est aqui a exigir a opo por um nico processo de


licenciamento para todos os empreendimentos, at porque no h determinao legal
neste sentido. Todavia, o que a lei impe e no se pode transigir, que cada um dos
EIA/RIMAs contemple estudos de impactos cumulativos e sinrgicos, de modo a
permitir uma leitura integrada dos reais impactos esperados.
Nessa

ordem

de

ideias,

destacam

os

tcnicos

do

CAEX/MPSP,

tais

empreendimentos s devem prosperar se demonstrada a sua compatibilidade com a


capacidade de suporte ambiental do Litoral Norte, o que exige avaliaes ambientais prvias
integradoras, considerando para os diferentes municpios atingidos os limites para implantao de
infraestrutura e para o crescimento urbano em face das caractersticas, fragilidades e riscos
ambientais, sociais e culturais (tais como patrimnio cultural e comunidades tradicionais), das
caractersticas e limitaes em termos de saneamento bsico (disponibilidade de servios e redes
de distribuio de gua; coleta, afastamento e tratamento de esgotos; coleta e disposio
adequada de resduos slidos) e infraestrutura viria e de energia, entre outros aspectos.
Mais adiante, a partir da documentao tcnica que instrui esta ao e com
base na metodologia defendida por Ribeiro Teixeira, sero examinados alguns destes atributos,
de modo a demonstrar o abismo verificado entre os impactos previstos nos EIA/RIMAs quando
analisados isoladamente, e os potenciais impactos dos empreendimentos quando analisados
conjuntamente. No tpico a seguir, ser demonstrada a insuficincia da AAE-PINO e da AIA,
documentos que integram o procedimento de licenciamento ora em apreo, como instrumentos
aptos a suprir esta carncia de estudos de impactos cumulativos.
D) Insuficincia da AAE-PINO e AAI como instrumentos para suprir a
ausncia de avaliao de impactos cumulativos entre os megaempreendimentos do
Litoral Norte
Em vista da sucesso de estudos tcnicos denunciando a ausncia de avaliao
de impactos cumulativos e sinrgicos deste conjunto de projetos, foram agregados instruo dos
licenciamentos ainda em curso elementos produzidos em dois estudos (AAE PINO Atividades
Porturias, Industriais, Navais e Offshore e Avaliao Ambiental Integrada AAI), que foram
contratados pelo prprio Estado de So Paulo com pretenses integradoras e estratgicas. (DOC.
09)
Nem de longe, contudo, tais documentos cuidaram de atender exigncia legal
de um efetivo estudo de impactos cumulativos e sinrgicos.
E nem poderiam.

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Com efeito, de acordo com o que dispe a resoluo CONAMA 01/86, em seu
art. 6, inciso II, os estudos de impactos cumulativos devem integrar o EIA/RIMA. Logo, trata-se
de obrigao a ser imposta ao empreendedor, que nada produziu a esse respeito.
Mais importante que isso, porm, destacar a diferena entre estes
instrumentos (AAE e AAI) e uma efetiva anlise de impactos cumulativos, o que pressupe a
compreenso de seus objetivos.
O

EIA/RIMA,

como

exaustivamente

dito,

tem

finalidade

de

diagnosticar concreta e precisamente os impactos de um empreendimento nos meios


natural e social, com vistas demonstrao da sua viabilidade ambiental e definio de
medidas de mitigao e compensao. Para tanto, apresenta anlises especficas dos impactos
sobre determinados atributos chave: emisso de CO, supresso de vegetao, risco de acidentes
com produtos txicos, uso e ocupao do solo, recursos hdricos, entre outros.
Os estudos de impactos cumulativos e sinrgicos, porque parte integrante
do EIA/RIMA, devem observar a mesma lgica. Do contrrio, no h como se analisar a viabilidade
ambiental do empreendimento, tampouco possvel a definio de medidas compensatrias e
mitigatrias eficientes. Estudos de impactos cumulativos devem, pois, ser dotados de concretude
na avaliao e concretude na resposta aos problemas detectados.
J a AAE e a AAI, ao menos neste caso, consistiram em diagnsticos corretos,
porm, em regra, demasiadamente genricos, focados exclusivamente no cenrio socioeconmico:
no definem impactos, no tratam do meio natural e no definem as respostas
necessrias.
Vejam-se algumas das avaliaes que integram a AAE-PINO:

A ampliao dos investimentos nos municpios do litoral paulista tende a

promover um fluxo migratrio para a regio, o que leva a sobrecarga dos servios de atendimento
populao, entre eles os servios de sade;

crescimento

populacional

induzido

pelos

investimentos

previstos

apresenta potencial de conflito com o turismo e torna o ambiente ofertado aos turistas menos
atrativo, j que o fenmeno turstico de lazer est essencialmente ligado ao afastamento do
ambiente cotidiano, de forma que a presena marcante do cotidiano reduz a atratividade da
localidade;

Modificar-se-, portanto, a estrutura da oferta de empregos, de gerao

de renda e ganhos imobilirios. Tais fatores tm reflexo direto no acesso da populao moradia
e vo referendar os deslocamentos dirios principalmente frente s necessidades de trabalho e
estudo;
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se no houver a implementao de polticas econmicas, sociais e

urbanas integradas, o processo de demanda por moradias poder resultar em maior presso para
ocupao de reas ambientalmente frgeis, com o adensamento de assentamentos irregulares,
alguns, atualmente, sob processo de congelamento ou novas ocupaes;

a produo de moradias de baixo custo no litoral enfrenta desafios extras

em relao a outras regies do Estado, conforme j identificado, devido ao fato de o custo de


fundaes serem em geral maiores pois se trata de um solo que exige fundaes profundas e
anlise geotcnica mais elaborada -, bem como pelo elevado preo da terra, por sua escassez
relativa

os investimentos em petrleo & gs e complexos porturios & logsticos,

na intensidade prevista ao longo dos prximos 15 anos, muitos dos quais j iniciados, antecipam a
clara percepo de um novo ciclo produtivo no Litoral Paulista, mudando o rumo dos
acontecimentos e repercutindo no crescimento econmico e populacional
Instados a examinar o documento, os tcnicos do CAEX MP/SP firmaram o
seguinte entendimento, do qual perfilha-se: se por um lado a AEE PINO contempla diagnstico
satisfatrio das ameaas e passivos que pesam sobre o Litoral Norte nas projees que efetua na
perspectiva de implantao e operao plena do conjunto das obras existentes e pretendidas j
citadas, por outro no apresenta solues concretas para as mesmas, alm de deixar de projetar
cenrios explorando efetiva e detidamente aspectos ambientais e culturais. (sem grifos no
original).
A seguir, algumas das concluses da AAE-PINO:

novas questes se impem ao sistema de planejamento e gesto das

cidades e desafiaro o setor pblico a antecipar os problemas e dar respostas mais adequadas s
necessidades de ordenamento na implantao de novos empreendimentos industriais, comerciais e
de

servios,

residenciais

de

lazer,

alm

de

recuperar

reas

ambientalmente

sensveis

indevidamente ocupadas, que representam riscos para os ocupantes locais, para a cidade e
regio;

preciso estabelecer uma poltica consistente de desenvolvimento urbano,

notadamente planos e programas de investimentos em infraestrutura urbana e de servios


correlatos, pois a demanda habitacional do segmento de mercado e aquela de interesse social
devero crescer em todos os municpios, avanando sobre reas onde, atualmente, a
infraestrutura bsica j deficiente e at praticamente inexistente como nos casos de ocupao de
reas mangues, faixas operacionais de rodovias e encostas;

nos municpios do litoral paulista, a soluo das questes de moradia

adequada ir requerer tanto esforos para a superao do dficit de novas moradias, quanto para
a adequao das condies de habitabilidade em assentamentos desconformes, regularizando a
ocupao e institucionalizando as edificaes domiciliares em condies de serem consolidadas;

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A AAI assumiu semelhante feio.


Segundo anlise tcnica dos peritos do Ministrio Pblico, no obstante seu
propsito - identificar e avaliar todos os efeitos sinrgicos e cumulativos resultantes dos impactos
ambientais e socioeconmicos ocasionados pelo conjunto de empreendimentos em planejamento,
construo e operao no Litoral Norte focou sua anlise substancialmente na demanda por
ocupao de novas reas para as instalaes industriais e de servios, bem como para abrigar
novos contingentes populacionais que podero ser atrados pelas oportunidades de negcio e
empregos.
Importante consignar que no se est aqui a questionar as concluses da AAEPINO e da AAI a respeito do cenrio desenhado para o Litoral Norte para os prximos anos,
sobretudo no que diz respeito s transformaes socioeconmicas a serem experimentadas pela
regio, foco dos estudos. Ao contrrio, diga-se, o Ministrio Pblico est plenamente de acordo
com todas as proposies acima reproduzidas.
Todavia, no mbito do processo de licenciamento h que se exigir muito
mais do que isso.
Inegavelmente, a utilidade destes documentos para uma anlise de impactos
cumulativos e sinrgicos do diversos empreendimentos, sobretudo no meio ambiente natural,
absolutamente nula. No h, a partir de nenhuma metodologia conhecida (sobreposio de dados,
redes de interao, matrizes de interao, entre outras) uma anlise de impactos cumulativos e
sinergticos dos empreendimentos no que diz respeito a atributos bsicos, tais como supresso de
vegetao, emisso de CO, poluio sonora, risco de acidentes com produtos txicos, etc.
Alm disso, se o processo de licenciamento tem por objetivo avaliar a
viabilidade ambiental de um empreendimento, no basta que se admita que ampliao dos
investimentos nos municpios do litoral paulista tende a promover um fluxo migratrio para a
regio, o que leva a sobrecarga dos servios de atendimento populao e se conclua que
preciso estabelecer uma poltica consistente de desenvolvimento urbano.
H que se dar um mnimo de concretude a estas questes.
Nessa linha, a partir de metodologias de Redes de Interao, Sobreposio de
Dados geoespaciais e Matrizes de Anlise Integrada31, a tese de Ribeiro Teixerira se props a
31

A primeira trata das relaes existentes entre os 13 projetos analisados, buscando identificar e qualificar os vnculos

construdos ou no entre os empreendimentos atravs da anlise das Redes de Interao. A segunda relaciona-se
conformao dos empreendimentos no espao terrestre e marinho do LNP. Por meio da Sobreposio de Dados geoespaciais
possvel melhorar a compreenso sobre como os projetos se relacionam com as polticas locais territoriais e consequentemente
afetam os atributos analisados. Esse procedimento foi especialmente importante para a anlise do atributo Uso do Solo,
demonstrando como as reas de influncia dos projetos relacionam-se entre si e com o espao urbano. Com isso, a

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demonstrar a substancial diferena entre os resultados de uma anlise integrada em comparao a


uma anlise segregada dos impactos de cada projeto. Para tanto, avaliou alguns atributos chave,
dentre os quais (a) emisso de CO, (b) supresso de vegetao nativa, (c) risco de acidentes
ambientais, (d) empregos, (e) uso e ocupao do solo e (f) recursos hdricos.
E)

Demonstrao

das

falhas

do

EIA/RIMA

em

razo

da

ausncia de estudos de impactos cumulativos: Matrizes de Anlise Integrada


Passa-se a examinar, portanto, a abismal diferena entre os resultados
encontrados a partir de uma anlise isolada dos impactos de um empreendimento em cotejo com
o resultado de uma anlise integrada, com base no exame, por amostragem, de alguns atributos
bsicos.
E.1 Emisso de CO
No que diz respeito emisso de CO, verifica-se que, partindo-se de uma
anlise segregada, no haveria que se ter grande preocupao com o tema. Com efeito, de acordo
com o EIA do empreendimento, a movimentao de veculos e a utilizao de mquinas geraro
emisses atmosfricas na forma de gases de combusto em pequena magnitude. Na fase de
operao, aps a ampliao do Porto, se observar um acrscimo das emisses de gases de
combusto provenientes dos veculos e embarcaes. Na fase de implantao, a magnitude dos
impactos foi considerada, no EIA/RIMA, pequena e de baixa relevncia e significncia.
Todavia, feita a anlise integrada dos megaempreendimentos, verifica-se
expressivo e preocupante crescimento dos nveis de emisso de CO na regio a partir do advento
dos megaempreendimentos: Vale destacar que at a chegada dos Megaprojetos o LNP tinha no
turismo e na pesca suas principais atividades econmicas e, por conta disso, praticamente no
contribua para o inventrio estadual de GEEs. Em pouco tempo essa regio passou a ser
responsvel, ainda que indiretamente, por volumes que representam um quarto das emisses
de todos os processos industriais do Estado e apresenta uma previso de aumento de
quase 300% nas emisses relacionadas ao trfego de veculos pesados. O somatrio das
emisses provenientes apenas dos projetos analisados j ultrapassa os 3.200 Gg/ano e
provavelmente superar os 7.000 Gg/ano nos prximos 5 anos. Vale lembrar que os processos
industriais do estado de So Paulo, somados, emitiram 12.218 Gg/ano de CO2 em 2005 (CETESB,
2011). (doc. 05 - sem grifos no original).

sobreposio de dados geoespaciais se complementa e colabora com a anlise de atributos chave, que avalia como interagem
os impactos de cada projeto sobre os sete atributos selecionados. Por fim, esses dados so utilizados para a alimentao das
Matrizes de Anlise Integrada. Atravs da anlise dessas Matrizes foi possvel avaliar quali-quantitativamente algumas
transformaes que o conjunto de Megaprojetos como um todo imps regio. Tambm foram destacadas algumas diferenas
entre os resultados das anlises segregadas apresentadas nos EIA/RIMAs- e da anlise integrada proposta nesta pesquisa.
(DOC. 05)

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A anlise integrada escancara, ainda, a subestimao dos impactos no


EIA/RIMA e, como consequncia, a insuficincia das medidas de mitigao e compensao. In
verbis:
coerente imaginar que o local onde um porto est instalado observe um
incremento no lanamento de poluentes atmosfricos na medida em que ocorre um aumento na
movimentao de grandes embarcaes. Isto pode ou no, a depender de questes como
possveis cumulatividades (temporais ou espaciais) com outros empreendimentos, bem como dos
padres de disperso atmosfrica, vir a comprometer a qualidade do ar da regio. O EIA/RIMA da
ampliao do porto indica um possvel crescimento no lanamento de poluentes na atmosfera,
porm devido apenas ao aumento na movimentao veculos terrestres, embarcaes e
carregamento e descarregamento de materiais para a construo do retroporto. De acordo com a
Informao Tcnica 1253/11 (CPEA, 2011), integrante do processo de licenciamento
ambiental de ampliao do Porto, a autoridade porturia no considera como de sua
responsabilidade o possvel aumento de emisses no canal em decorrncia do
crescimento no trnsito de navios cargueiros de grande porte e por isso, no apresenta
estratgias de mitigao ou compensao destas emisses. (DOC. sem grifos no original).

E.2 Supresso de Vegetao Nativa


A anlise do atributo supresso de vegetao nativa outro exemplo da
relevncia de uma ampla viso dos impactos.
Com efeito, numa anlise segregada, o atributo analisado exclusivamente pela
mera contabilizao do volume de vegetao suprimido. A concluso que comparativamente a
outros Megaprojetos brasileiros o volume (de 163 ha) suprimido pequeno ainda que bastante
representativo para a regio (DOC. 05). Todavia, a percepo do processo de transformao
da regio decorrente da leitura integrada dos empreendimentos permite a anlise dos
riscos vegetao sob enfoque totalmente diferente. Nessa linha, inquestionvel a
consistncia da anlise crtica de Ribeiro Teixeira: Contudo, os impactos sobre a vegetao no se
restringem supresso direta. Devido s caractersticas fsicas do LNP, com poucas reas aptas
ocupao urbana e industrial, os impactos indiretos relacionados ao crescimento populacional, os
efeitos da fragmentao e a induo de novas atividades de produo, aumentam a presso sobre
a floresta e tendem a ser relevantes na degradao da flora. As peculiaridades topogrficas da
regio tambm trazem preocupao quanto aos efeitos das emisses atmosfricas industriais
sobre as florestas das encostas. Segundo Stewart e colaboradores (2002), as emisses podem
afetar o ciclo do nitrognio regionalmente alterando o desenvolvimento da mata. Este tipo de
impacto indireto mal contabilizado nos EIA/RIMAs, que minimizam o papel de cada
empreendimento no processo de transformao regional. Em uma anlise integrada esses
impactos podem ser percebidos mais claramente (DOC. 05)

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E.3 - Acidentes Ambientais Tecnolgicos


Para anlise deste atributo, faz-se necessria a apresentao de um dado
importante: o projeto de ampliao do Porto de So Sebastio estima um crescimento de
2.140%no nmero de embarcaes com destino ao porto pblico entre 2008 e 2035,
passando de 69 para 1.477 embarcaes por ano.
Como consequncia, tem-se um inegvel e expressivo aumento de riscos de
acidentes com altssimo potencial de dano ao meio ambiente marinho.
A propsito, o Corpo de Bombeiros tambm salientou que as obras implicaro
aumento significativo de veculos trafegando pela Rodovia dos Tamoios e, consequentemente, risco
de acidentes graves, o que tambm se prev no espao de navegao das embarcaes de apoio
s obras, algo ignorado no EI/RIMA, advertindo para as grandes distncias e acessos precrios e
limitados para chegada de apoio de outras equipes vindas das cidades de So Jos dos Campos,
Taubat, Santos, Mogi das Cruzes ou at da capital (DOC. 11).
Numa anlise segregada, contudo, o risco de acidentes subdimensionado.
Como bem pontua Ribeiro Teixeira, embora exista no EIA/RIMA do projeto de
ampliao do Porto de So Sebastio, a identificao de um impacto especfico relacionado ao
aumento do risco de coliso entre embarcaes, dada a incerteza de ocorrncia, sempre que
mencionada a possibilidade de acidente, esta considerada de pequena magnitude e baixa
significncia (DOC. 05).
E obviamente no apenas a ampliao do complexo porturio que provocar o
adensamento de embarcaes na rea afetada. No h dvidas que o complexo da IPG tambm
implica em mais embarcaes em uma mesma unidade de rea. Ribeiro Teixeira analisa esse
tema com rigor tcnico: ...apesar dos estudos no abordarem essa questo de maneira clara, o
aumento do risco no hipottico. Os cenrios acidentais so hipotticos, porm o aumento do
risco associado presena de novas estruturas e atividades real. Cada empreendimento
possui dezenas de cenrios de evoluo de acidentes e cada cenrio prev um leque de
hipteses acidentais. Obviamente, no possvel produzir um valor absoluto que represente o
aumento do risco em uma determinada rea. No h lgica em um somatrio aritmtico linear
desses valores. possvel somar o nmero de hipteses, mas isso no se reflete nas
probabilidades de ocorrncia de acidentes. As hipteses acidentais so, em tese, independentes e
a acumulao destas em uma mesma regio no aumenta, por si s, o risco de acidentes em um
empreendimento. Porm, a anlise dos valores indica uma tendncia de crescimento da
probabilidade de uma ocorrncia fortuita por unidade de rea. Em outras palavras, em uma
determinada rea onde no h embarcaes navegando a probabilidade de coliso entre
estas nula. Onde h barcos navegando a probabilidade de coliso cresce medida que
so adicionadas novas embarcaes por unidade de rea (DOC. 05).
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E conclui o autor, valorando os impactos deste atributo na anlise integrada,


com resultados distintos daquele apontado na anlise segregada: Em resumo, podemos afirmar
que o aumento no trnsito de produtos perigosos na regio, via dutoviria, rodoviria ou martima,
prevista nos 13 projetos em anlise ser obrigatoriamente acompanhado de um aumento do risco
de eventos com grave contaminao ambiental e, possivelmente, com efeitos sobre as
comunidades. Levando em conta a leitura integrada adotada nesta anlise, conclumos que a
magnitude dos impactos sobre o atributo Acidentes Ambientais Tecnolgicos a seguinte:
Complexo IPG: Alta
Complexo PSS: Alta
Complexo RNT: Mdia (DOC. 05)
E.4 - Empregos
A anlise integrada desse atributo revela concluses bastante interessantes
para a desmistificao de uma das principais bandeiras destes megaempreendimentos.
Na anlise segregada (EIA/RIMA) a questo assim tratada: na fase de
implantao, projeta-se uma demanda por mo de obra direta em torno de 900 trabalhadores,
com diferentes nveis de qualificao. Estima-se que 75% dos postos possam ser preenchidos pela
oferta local de mo de obra. So estimados ainda outros 1800 empregos indiretos na regio,
principalmente em So Sebastio e Ilhabela. Na fase de operao do Porto, em sua plena
capacidade, so esperados cerca de 2.460 novos postos de trabalho diretos e 2.100 indiretos.
Com base nestes nmeros, este impacto considerado positivo, de grande
magnitude e alta relevncia.
A anlise dos demais empreendimentos, em especial do Projeto Mexilho 32 ,
permite leitura absolutamente inversa quanto a qualidade dos impactos. Explica Ribeiro Teixeira:

Tendo em vista que

nem o Porto nem o novo complexo rodovirio iniciaram suas obras at 2011,

e que houve uma concentrao de projetos em instalao (fase de obras) entre os anos de 2008 e
2010 em Caraguatatuba, a anlise do grfico deste municpio demonstra claramente o papel das
obras relacionadas UTGCA e ao GASTAU na dinmica local de emprego e desemprego. O ano de
2008 marcou o incio do crescimento na gerao de empregos na srie histrica do municpio, com
saldo positivo de 1.862 postos de trabalho. Essa tendncia positiva foi mantida nos anos de 2009,
com 2.367 postos, e 2010, com 322 postos. Com o encerramento das obras da UTGCA e sem a
absoro desta mo de obra em outros locais do municpio, este saldo passou a ser negativo em
1.800 postos em 2011, ou seja, a maior parte dos empregos gerados de forma escalonada em trs
anos foi disponibilizada ao mercado em um curto perodo de tempo.
(...)
32

Mais adequado para esse fim, porque j se encontra em fase de operao.


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No h razo para crer que a situao verificada na relao de gerao e perda


de empregos na fase de instalao das atividades da indstria do petrleo e gs em
Caraguatatuba, entre os anos de 2008 a 2011, seja diferente do que ocorrer durante as obras do
novo complexo rodovirio ou de ampliao porturia. Na verdade, em decorrncia da gerao de
expectativas sobre os empreendimentos e da consequente acelerao dos fluxos migratrios para
a regio, este quadro tende a se agravar nos prximos anos.
E acrescenta:
A figura 4.11 apresenta alm da consolidao dos dados dos quatro municpios,
um comparativo entre a situao detectada no LNP e os panoramas estadual e nacional para o
mesmo perodo. Enquanto h tendncia de crescimento nos postos de trabalho no Estado e no
Brasil, a regio apresenta inclinao ao agravamento dos nveis de desemprego.

Aqui a relevncia de anlises globais se mostra patente.


Obviamente, a correta leitura do atributo determina a correta definio das
medidas de mitigao a serem exigidas.

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Nesse sentido, conclui Ribeiro Teixeira:


Todavia, a anlise integrada dos Megaprojetos, bem como a relao da
instalao co-localizada destes com as dinmicas regionais de contrataes e dispensas de mo de
obra, demonstra que um dos apelos mais emblemticos a favor do desenvolvimento de grandes
projetos, os impactos positivos da grande gerao de empregos, pode no ser real. Primeiramente
porque a gerao de expectativas e a consequente motivao migratria fomentada pelo discurso
da grande abertura de postos de trabalho raramente gera um saldo positivo entre o crescimento
demogrfico e os empregos gerados localmente. Em seguida porque, de fato, Megaprojetos so
mundialmente reconhecidos pelo seu potencial de contratao, mas, por outro lado, tambm so
geradores de grandes volumes de desempregados, concentrados no tempo e no espao, carentes
de sade, educao, saneamento, transporte, enfim, polticas pblicas que se antecipem a essa
dinmica e reduzam os impactos dessa concentrao. O fato que sem um planejamento local
adequado, a gerao temporria de empregos pode ter impactos negativos aos cofres pblicos e
economia regional, que perduraro e tendero a se agravar com o tempo. Levando em conta a
leitura integrada empregada nesta anlise, conclumos que a magnitude dos impactos sobre
os Empregos, considerando tambm os efeitos negativos apontados, a seguinte:
Complexo IPG: Alta
Complexo PSS: Alta
Complexo RNT: Alta (sem grifos no original)
E.5 Meio Social: Servios essenciais e uso e ocupao do solo
Este o atributo em relao ao qual a questo da anlise integrada se mostra
mais necessria. Ensina Ribeiro Teixeira: A lgica simples: grandes empreendimentos atraem
muitos trabalhadores, grande parte destes trabalhadores migra com a famlia para a regio
gerando um aumento populacional, o crescimento demogrfico quando no h um planejamento
urbano adequado demanda uma maior rea ocupada, o espalhamento urbano pressiona a
expanso dos servios pblicos gerando a necessidade de mais infraestrutura local. Educao,
sade, saneamento, segurana, transporte pblico e iluminao so apenas algumas reas
afetadas, as quais demandam mais recursos sempre que os limites urbanos so ampliados.
No h dvida. Grandes empreendimentos so indutores de fenmenos
migratrios e aumento da densidade demogrfica, o que, se no vier acompanhado de um
adequado planejamento urbano, implica em ocupaes em rea de risco, reas desprovidas de
infraestrutura urbana, presso sobre espaos legalmente protegidos, enfim, toda sorte de
ocupaes irregulares, que so a origem de problemas ambientais e sociais to certos quanto
relevantes, relacionadas criminalidade, carncia de servios pblicos essenciais, ausncia de
saneamento bsico, entre outros j bastante conhecidos.

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A propsito, o Corpo de Bombeiros j demonstrou oficialmente a sua


preocupao em relao sobrecarga iminente nos servios de segurana pblica, absolutamente
incompatvel com a capacidade de atendimento atualmente existente, contestando a informao
constante do EIA/RIMA do empreendimento PIPC (Plano Integrado Porto Cidade Ampliao do
Porto de So Sebastio), que avaliou o aumento da demanda por servios pblicos como impacto
de mdia magnitude e relevncia, consignando que haver, sem sombra de dvidas, um
aumento significativo na demanda para atendimento emergncias e que O impacto avaliado
inicialmente como negativo, permanente porm reversvel, dever ser considerado de
GRANDE MAGNITUDE e GRANDE RELEVNCIA, pois, envolve diretamente risco de morte ou
danos permanentes a integridade fsica das pessoas, riscos estes possveis de ocorrer em toda
rea de abrangncia direta e indireta do empreendimento (DOC. 11).
O Parecer Tcnico da Fundao Florestal Parque Estadual Serra do
Mar tambm destacou, dentre outros impactos cumulativos no meio antrpico (tais como a
gerao e reduo de empregos e a presso para as ocupaes em reas de risco e
ambientalmente protegidas) a presso sobre equipamentos urbanos e servios ofertados pela
administrao pblica e advertiu para a j diminuta estrutura e a escassez de recursos humanos
existentes nos rgos de fiscalizao ambiental, tanto do Estado de So Paulo (Polcia Ambiental /
Fundao Florestal / Cetesb) como nos municpios (Secretarias de Meio Ambiente) da regio do
litoral norte, que j enfrentam srias dificuldades de atuao no atual cenrio de presso por
ocupaes irregulares (DOC. 06)
Esse fenmeno, sabido, no novo.
Resgata Ribeiro Teixeira: Na zona terrestre cabe destaque ao histrico do
processo de uso e ocupao do solo, grande parte impulsionado pela instalao de grandes
empreendimentos de infraestrutura nas dcadas de 1950 e 1960, associado s ocupaes
irregulares e reas de riscos de escorregamentos ".
E acrescenta: A lgica da ocupao desde esse perodo segue o modelo
desordenado, j adotado nas dcadas anteriores na baixada santista, da edificao de alto padro
nas reas mais prximas linha de costa e os assentamentos precrios subindo s encostas da
Serra do Mar, invadindo reas de risco e,nas cotas mais elevadas, o Parque Estadual da Serra do
Mar PESM. (DOC. 05).
Especificamente sobre o Porto, pontua o autor: O Porto foi inaugurado em 20 de
janeiro de 1955, aps um longo processo construtivo entre as dcadas de 1940 e 1950,
modificando definitivamente a linha de costa de centro da cidade. No final da dcada de 1980
houve aterramento da Praia Grande, situada entre os peres da Petrobras e do Porto de cargas,
eliminando a nica praia voltada para o centro histrico da cidade (CUNHA, 2003). P. 190

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Seguiu-se, ento, a ocupao desordenada do entorno, em especial no


municpio de So Sebastio. Nesse sentido, prossegue Ribeiro Teixeira, apresentando a
demonstrao grfica do processo de ocupao desordenada: A relao estabelecida entre um
empreendimento e seu entorno complexa e a situao analisada no Recorte B ilustra como se
deu o processo de urbanizao desordenada em alguns bairros de So Sebastio.

Decreta o autor, com inquestionvel razo:


Enquanto os movimentos demogrficos decorrentes da instalao de
grandes empreendimentos no forem devidamente incorporados nos programas de
mitigao dos megaprojetos essas situaes sero cclicas e sempre colocaro a
populao em situao vulnervel.

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Aqui uma observao se faz necessria: de fato, indiscutvel que o advento de


grandes empreendimentos numa determinada regio impe desafios em termos de planejamento
urbano, o que pressupe a correta compreenso dos movimentos demogrficos, algo que s pode
ser feito a partir de uma viso integrada dos empreendimentos previstos. certo, outrossim, que
isto reflete nas medidas mitigadoras e compensatrias a serem exigidas. Contudo, a somatria de
megampreendimentos em uma regio com severas restries de ocupao de ordem legal, fsica e
geogrfica, como se d na regio do LN paulista, mais que exigir planejamento, mitigao e
condicionantes adequadas, coloca em dvida a prpria capacidade de suporte da regio.
H, NESTE CASO, ALGO QUE PRECEDE O PLANEJAMENTO URBANO: A
NECESSRIA CONSTATAO SE DE FATO H CAPACIDADE DE SUPORTE DA REGIO
PARA O CRESCIMENTO POPULACIONAL PREVISTO, VERIFICAO INDISPENSVEL PARA
ATESTAR A VIABILIDADE DO EMPREENDIMENTO INDUTOR DESTE ADENSAMENTO.
E, no demais insistir, obvio que esta anlise pressupe um estudo de
impactos cumulativos e sinrgicos como parte integrante do EIA/RIMA.
Isto fica bastante evidente por meio da anlise integrada das reas de
influncia indireta dos empreendimentos.
Com efeito, esta tcnica evidencia que determinadas reas ou mesmo
municpios inteiros podero sofrer um adensamento populacional muito mais expressivo do que se
poderia imaginar a partir de uma anlise que foca to somente num megaempreendimento,
desconsiderado do contexto dos demais. Nesse sentido, veja-se um mapa com a sobreposio de
todas as reas de influncia dos treze empreendimentos, extrada da tese de Ribeiro Teixeira:

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A tabela 4.8 indica que Ilhabela figura nos estudos de impacto com nove
menes de influncia indireta dos projetos. O municpio, por tratar-se de um arquiplago que
avana no mar territorial em direo aos polos de produo, mencionado como recebedor de
influncia indireta em todos os projetos de produo de petrleo e gs offshore. Isto se d,
prioritariamente, por Ilhabela figurar como um dos recebedores de royalties do petrleo em todos
esses projetos. Em terra so cinco projetos com influncia nos meios fsico, bitico e/ou
socioeconmico, a maior parte (quatro projetos) relacionada navegao no canal de So
Sebastio com origem ou destino ao Porto e ao terminal petrolfero da Petrobras. Essas atividades
possuem influncia direta sobre as dinmicas territoriais municipais tanto em Ilhabela quanto em
So Sebastio.
Tabela 4. 8:

Nmero de menes de AIIs nos

Offshore

Overland

Total (overlays)

Caraguatatuba

10

Ilhabela

So Sebastio

Ubatuba

EIA/RIMAs, por municpio.

Prossegue o autor: por se tratar de uma ilha, com crescimento urbano restrito
a poucas reas aptas ocupao, com mais de 80% de seu territrio inserido em uma Unidade de
Conservao de proteo integral e com uma das maiores taxas de crescimento populacional do
Estado, possvel imaginar os desafios de gesto do uso do solo para as prximas dcadas no
arquiplago.
Embora correta a observao, cabe insistir: antes dos desafios de gesto,
impe-se saber se h efetiva capacidade de suporte. Isto porque devido s caractersticas
topogrficas regionais, so raras as reas com atributos fsicos apropriados e tamanho suficiente
para suportar o acelerado crescimento demogrfico projetado para o litoral norte nos prximos
anos (SMA, 2010).
Vale destacar que, alm da escassez de reas com atributos fsicos
apropriados, h que se considerar as restries legais incidentes no territrio do LN
(espaos legalmente protegidos) e as metas de preservao da vegetao remanescente, o que
est em conflito precisamente com as reas mais propensas a receber o impacto do crescimento
demogrfico decorrente da conjugao dos empreendimentos. Nesse sentido, A sobreposio das
imagens das AIDs dos projetos, apresentada na Figura 4.18, demonstra uma concentrao das
interferncias

diretas

dos

empreendimentos

nos

dois

municpios

economicamente

mais

desenvolvidos da regio, Caraguatatuba e So Sebastio.

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Entretanto, se considerarmos o mapa das reas Prioritrias para Conservao


(MMA, 2007), podemos observar que esses dois municpios so aqueles considerados com
prioridade extremamente alta para conservao, dado o histrico de impactos sobre a vegetao e
biodiversidade (Figura 4.19). Destaca-se que 83,5% do territrio de Caraguatatuba e 91,4% do
territrio de So Sebastio esto inseridos nessa condio.

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H flagrante conflito tambm com o mapa do ZEE: As anlises no Morro do


Abrigo, parte de Jaragu e Olaria, bairros que tambm tero moradias desapropriadas, tambm
demonstraram divergncia entre o previsto no Projeto de Lei do Plano Diretor Municipal (SO
SEBASTIO, 2011) e o estabelecido no ZEEC (SMA, 2004), indicando que a presena dos novos
megaprojetos demandam mais reas urbanizveis. O Projeto de Lei caracteriza parte das reas de
alta relevncia ambiental (Z2T) como aptas ocupao para fins urbanos (Z4T). De maneira
genrica, isso indica que medida que a populao cresce, a rea urbana tende a avanar sobre
regies mais sensveis ambientalmente.
H, enfim, fundadas razes para se perquirir se de fato h capacidade de
suporte para tamanho crescimento na regio, dadas essas restries presentes na legislao
ambiental e na prpria topografia da regio.
Atento a isto e com o fim de contribuir para uma soluo propositiva, o
Ministrio Pblico instou o rgo licenciador e exigir do empreendedor a mera demonstrao de
que a regio tem capacidade de suportar o adensamento populacional induzido por seu
empreendimento e por aqueles que lhe so correlatos. Para tanto, extraiu-se do AAE-PINO e da
AAI o seguinte dado concernente ao crescimento populacional admitido para a regio do LN:

54
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

E, com base em tais dados, fizeram-se os seguintes questionamentos, instando


o rgo licenciador a se manifestar a respeito deles, seja de forma direta, para os casos de
informaes eventualmente j disponveis nos processos de licenciamento, seja de forma indireta,
por meio da exigncia ao empreendedor das respectivas respostas: Pede-se, para cada um dos
quatro municpios, considerando as simulaes para o ano de 2025, para o Cenrio 3 (Quadro
5.2.5.h) e Cenrio 3 (Hiptese Extrema de Expanso populacional):
So Sebastio
m) Qual a populao atual do municpio de So Sebastio? Qual acrscimo populacional, em percentual, que o
municpio apresenta anualmente em face de sua populao flutuante, especialmente nas pocas de vero,
considerando os dados mais atuais? A populao flutuante, especialmente aquela que procura a regio
frequentemente nas pocas de vero, foi considerada nas simulaes apresentadas? De que modo e com base
em qual fonte de dados?
n)

Onde

se

localizam

espacialmente

(identificar

delimitao

espacial

sobre

imagem

georreferenciada atual) as reas que iro permitir a acomodao fsica do acrscimo populacional
simulado (Quadro 5.2.5 h), que levar a totalizao de 97.363 habitantes em So Sebastio at
2025, e que estejam necessariamente:
. Fora de UCs e de reas de preservao permanente;
. Fora das atuais Z3T, Z2T e Z1T, definidas pelo Decreto 49.125/2004;
. Atualmente desprovidas de cobertura vegetal nativa, e que tenham sido regularmente
suprimidas.
. Fora de reas sujeitas a inundaes.
. Fora de reas de risco.
. Fora de reas acessadas pelas mars.
. Fora de ilhas
. Fora de reas que estejam com ocupao irregular e/ou em litgio
o)

Onde

se

localizam

espacialmente

(identificar

delimitao

espacial

sobre

imagem

georreferenciada atual) as reas que iro permitir a acomodao fsica da expanso populacional
extrema simulada (Quadro 5.2.5 i), que levar a totalizao de 99.665 habitantes em So
Sebastio at 2025, e que estejam:
. Fora de UCs e de reas de preservao permanente;
. Fora das atuais Z3T, Z2T e Z1T, definidas pelo Decreto 49.125/2004;
. Atualmente desprovidas de cobertura vegetal nativa, e que tenham sido regularmente
suprimidas.
. Fora de reas sujeitas a inundaes.
. Fora de reas de risco.
. Fora de reas acessadas pelas mars.
. Fora de ilhas
. Fora de reas que estejam com ocupao irregular e/ou em litgio
p) Considerando as reas delimitadas espacialmente conforme o quesito anterior esclarecer os contingentes
mximos de populao para cada uma delas, bem como se as propriedades inseridas nas mesmas so de
domnio publico ou privado. Em caso de reas de domnio privado como assegurar que as mesmas tero uma
destinao pr-definida, que preveja o seu efetivo uso e ocupao

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MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Os mesmos questionamentos foram feitos em relao aos demais municpios


atingidos, com as respectivas estimativas de crescimento populacional.
Consigne-se, uma vez mais, que a preocupao com um adequado
planejamento urbano, o que pressupe que, antes de se permitir o fenmeno que, segundo a AEE,
provoca um intenso fluxo migratrio, em uma regio que, segundo o mesmo estudo, h escassez
de reas aptas ocupao humana, se tenha a certeza de que h capacidade para suportar
esse crescimento, pois, do contrrio haver novas presses por ocupao em reas de risco, em
espaos legalmente protegidos e, em linhas gerais, por ocupaes irregulares que, em ltima
anlise, a fonte de um sem nmero de problemas sociais e de invencveis demandas no mbito
dos rgos ambientais e do judicirio.
A propsito, pertinente colacionar matria publicada no jornal Folha de So
Paulo, que veiculou a classificao das cidades mais violentas do Estado, na qual a cidade de
Caraguatatuba figura em 1 lugar. De acordo com a matria, os especialistas entendem que
violncia no litoral influenciada pela ocupao desordenada de grande reas, acrescendo que,
no caso do litoral norte, a migrao atrada pela indstria petrolfera provocou crescimento
desordenado e o surgimento de bolses de pobreza. Outra consequncia, segundo policiais, foi o
aumento de trfico de drogas e as disputas entre criminosos

33

33

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1404357-caraguatatuba-e-a-cidade-mais-violenta-de-sp-pelo-3-anoconsecutivo.shtml. Consultado em 26.05.14.


56
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Lamentavelmente, contudo, o rgo ambiental sequer respondeu aos


questionamentos do Ministrio Pblico para uma indicao objetiva das reas aptas a
acomodar o crescimento populacional induzido pelos empreendimentos, em especial este em
anlise, evidenciando que a demonstrao da capacidade de suporte da regio para impactos no
uso e ocupao do solo no objeto de preocupao no mbito do licenciamento ambiental.
Frise-se que tal demonstrao de suporte tambm no consta da AAE-PINO,
que, embora focada exclusivamente nesta rea, se limitou a estimar o crescimento
populacional, sugerindo a flexibilizao ou adequao das normas orientadoras do planejamento
municipal e regional para acomodar os empreendimentos pretendidos, algo como que
reconhecendo, implicitamente, a incapacidade de suporte no cenrio atual.
O

mesmo

foi

proposto

na

AAI,

que

foi

alm,

que

atestou

expressamente que, considerando-se o cenrio atual, NO H CAPACIDADE DE SUPORTE


DA REGIO NO MBITO DO USO E OCUPAO DO SOLO.
Com efeito, aps a avaliao das populaes e da saturao em cada municpio,
segundo os parmetros da legislao urbanstica vigente, A AAI CONCLUIU-SE QUE A PARTIR DA
IMPLEMENTAO DESTES EMPREENDIMENTOS, SOMADOS AOS J EXISTENTES, AS REAS DOS
TERRITRIOS

DISPONVEIS

PARA

OCUPAO

HUMANA,

CALCULADAS

EM

2009

CONSIDERANDO RESTRIES AMBIENTAIS, INCLUINDO UNIDADES DE CONSERVAO E OUTRAS


REAS PROTEGIDAS (INSTRUMENTOS DAS DIFERENTES ESFERAS DE COMPETNCIA) SERO
INSUFICIENTES

SE

CONSIDERADAS

AS

DIRETRIZES

DO

ZONEAMENTO

ECOLGICO-

ECONMICO ZEE, de forma que o modelo urbanstico atual passaria a ser uma restrio para a
adoo de novos contingentes populacionais, com forte tendncia valorizao do solo e dos
imveis regulares existentes e incremento das ocupaes irregulares.
Todavia, malgrado se admita na AAI, documento que integra o processo de
licenciamento, que, dadas as restries fsicas e legais atualmente existentes no h capacidade
de suporte, a menos que se reveja o ZEE com a diminuio das reas de proteo ambiental,
ainda assim o rgo licenciador emitiu a licena, avalizando a viabilidade ambiental do
empreendimento.
E.6 Recursos Hdricos
Assim como se d em relao ao uso e ocupao do solo, h fundadas razes
para se questionar se de fato a regio tem capacidade de abastecimento de gua para a populao
projetada para os prximos anos.

57
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Nessa linha, alerta Ribeiro Teixeira:


Em relao s guas costeiras, alm dos impactos relativos ressuspenso de
sedimentos de fundo da baa do Ara na fase de obras, tambm so relevantes os possveis
impactos de acidentes com derramamento ou vazamento de produtos qumicos no mar. Em
carter indireto tambm identificado o aumento da presso sobre a utilizao dos
recursos hdricos localmente. Os estudos analisados classificam os impactos sobre este
atributo como sendo de pequena magnitude (DOC. 05).
E conclui, novamente atestando a subestimao dos impactos no processo de
licenciamento ora questionado: Uma das questes interessantes na anlise desse atributo est na
falsa resposta mitigadora que o licenciamento ambiental e a estrutura de comando e controle a
este associada pode dar. Na fase de instalao dos empreendimentos os impactos so facilmente
previstos e podem ser trabalhados diretamente com boas prticas de gesto das obras e com
programas bastante eficientes como de controle de eroso, de drenagem, de recomposio de
taludes, etc. Estas so estratgias extremamente importantes e reduzem significamente efeitos
negativos dos empreendimentos sobre o ambiente, porm, em uma anlise integrada de
efeitos cumulativos fica claro que o principal impacto da instalao co-localizada de
projetos em uma regio est relacionado ao crescimento demogrfico catalisado por
estes empreendimentos e pela induo de novos projetos industriais na regio. Nem a
induo de novos projetos, nem o crescimento da populao, seriam, em uma anlise fria,
impactos necessariamente negativos. Isto depende da qualidade do planejamento urbano e de
polticas pblicas de longo prazo, visto que os maiores efeitos dos empreendimentos sobre os
recursos hdricos s sero percebidos no futuro e dificilmente podero ser associados a um projeto
especfico. Sub indicadores de poluio difusa, balneabilidade de praias por exemplo, podem ser
teis no acompanhamento dos efeitos cumulativos do crescimento demogrfico e da atividade
industrial. A figura 4.16 traz um grfico sobre a evoluo da qualidade das praias entre 2007 e
2010, demonstrando o declnio na proporo de praias costeiras monitoradas que permaneceram
prprias para banho o ano todo.

Figura 4. 16: Evoluo da balneabilidade das praias do LNP entre os anos de 2007 e 2010. Fonte: CBHLN (2011).
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A tendncia de queda nesse indicador aponta para a reduo de qualidade


hdrica em funo do aumento da populao com baixa cobertura de coleta de esgoto e poluio
difusa (CBH-LN, 2011). A manuteno dessa tendncia indica um mau planejamento urbano, que
associado acelerao dos indicadores de crescimento populacional, compromete a qualidade de
vida da populao e a vocao s atividades tursticas.
Nessa linha, que conjuga a preocupao com a capacidade de suporte de
abastecimento de gua a uma postura propositiva com relao a evoluo do processo de
licenciamento e, em ltima anlise, ao adequado planejamento neste tema, o Ministrio Pblico
instou o rgo licenciador a garantir, no processo de licenciamento, a demonstrao de algo que
to bsico quanto relevante: que a regio tem mananciais em quantidade suficiente para
abastecer

populao

estimada, decorrente do fenmeno migratrio induzido pelos

megaempreendimentos.
Preocupao relevante, mais ainda considerado o fato de que, justamente por
falta de planejamento, a regio metropolitana de So Paulo enfrenta, neste momento, serssimos
problemas para falta de capacidade de seu sistema de abastecimento de gua.
Por tais razes, mais uma vez tomando por base os cenrios de crescimento
populacional estabelecidos na AAE, indagou-se ao requerido (DOC. 03):

q) Considerando a perspectiva de uma populao de 97.363 habitantes em So


Sebastio em 2025, especificamente em relao ao municpio, qual a vazo de gua necessria para
abastecer e suprir de gua esta populao, sem comprometer os ecossistemas naturais, e de onde,
especificamente esta gua ser captada (identificar os mananciais em imagem atual georreferenciada e
apresentar os estudos hidrolgicos e os projetos de armazenamento e captao previstos)?
r) Considerando a perspectiva de uma populao de 99.665 habitantes em So
Sebastio em 2025, especificamente em relao ao municpio, qual a vazo de gua necessria para
abastecer e suprir de gua esta populao, sem comprometer os ecossistemas naturais, e de onde,
especificamente esta gua ser captada (identificar os mananciais em imagem atual georreferenciada e
apresentar os estudos hidrolgicos e os projetos de armazenamento e captao previstos)?

Em carter preventivo, portanto, o Ministrio Pblico cobrou uma


objetiva informao: a simples demonstrao, por meio da anlise da capacidade dos
mananciais da regio, do suporte necessrio para o abastecimento da populao
prevista

para

os

prximos

anos

em

decorrncia

da

conjugao

de

megaempreendimentos circundantes ao Porto de So Sebastio em seu cenrio


ampliado.
59
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Mais uma vez o rgo licenciador se recusou a se manifestar com


profundidade e responsabilidade sobre o tema, e, menos ainda, exigir do empreendedor tal
demonstrao.
No parece ser preocupao do ru que, antes de atestar a viabilidade
ambiental de um empreendimento, deve cuidar de verificar, luz de uma anlise de impactos
cumulativos, se haver gua em quantidade suficiente para abastecer a populao que
ser atrada por estes empreendimentos, tampouco se h reas aptas a acomodar
ocupao

humana

que

no

estejam

inseridas

em

espaos

legalmente

protegidos

ou

correspondam a reas com risco de deslizamento de terras.


Indagado sobre esses graves impactos e suas consequncias, o IBAMA limitouse a informar, em resposta Recomendao expedida pelo Ministrio Pblico, que
importante ressaltar que a efetiva gesto dos impactos sinrgicos e cumulativos de uma
regio transcende o instrumento de licenciamento ambiental.
ORA, A EFETIVA GESTO DE FATO TRANSCENDE O INSTRUMENTO DE
LICENCIAMENTO, MAS AS GARANTIAS PARA UMA BOA GESTO SO A PRPRIA
ESSENCIA DO INSTRUMENTO.
No se pode olvidar que o mesmo IBAMA tem sido responsvel por
licenciar a maior parte dos demais empreendimentos. E, em nenhum deles, exige anlise
de

impactos

cumulativos

sinrgicos.

Como

consequncia,

tais

impactos,

verdadeiramente relevantes para regio, so ignorados, sem qualquer exigncia


concreta de mitigao e compensao, tampouco juzo responsvel sobre a efetiva
capacidade de suporte.
No se pode exigir, claro, que o licenciador escolha o modelo de crescimento
socioeconmico.
No entanto, tem o direito e, sobretudo, o dever de avaliar se o modelo escolhido,
que se materializa em projetos a serem licenciados, so, em conjunto, viveis e como eles sero
viveis. Do contrrio, se torna responsvel por avalizar uma transformao ambientalmente
insustentvel.
dizer: se o prprio licenciador est se responsabilizando em avaliar e
atestar a viabilidade ambiental de uma srie de megaempreendimentos colocalizados
neste momento do Litoral Norte, tem sim a obrigao de avaliar e atestar a viabilidade
ambiental do conjunto deles, sem o que passa a ser responsvel pelos impactos
cumulativos e sinrgicos deles advindo.
60
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Acerca destas crticas, costumam se defender os rgos licenciadores sob o


argumento de que, muito embora a legislao brasileira torne obrigatria a avaliao dos impactos
cumulativos e sinrgicos, no existe um procedimento definido por lei para avaliao destes
impactos,

tampouco

metodologia

expressamente

definida.

Nesse

sentido:

Apesar

da

normatizao nacional mencionar explicitamente a necessidade da avaliao das propriedades


cumulativas e sinrgicas dos projetos, no h uma regulamentao especfica para isso. (DOC. 05)
Com o devido respeito, trata-se de argumento inaceitvel.
Sem se imiscuir na discusso sobre a convenincia de se minudenciar, em texto
normativo, um procedimento prprio para avaliao de impactos cumulativos, certo que o
processo de licenciamento quando interpretado a partir da finalidade para o qual foi concebido, a
avaliao da viabilidade ambiental de um empreendimento, instrumento suficiente para
exigir do empreendedor uma anlise de impactos cumulativos, mormente em se considerando que
h previso expressa a este respeito (no art. 6, inciso II, da Resoluo CONAMA 01/86).
A ausncia de um procedimento legal estabelecendo como deve se dar a anlise
de impactos cumulativos ou de uma metodologia positivada no desculpa para que se
negligencie esta exigncia legal.
dizer: se no h procedimento ou metodologia legalmente estabelecidas,
cabe ao licenciador, a quem compete a tarefa e a responsabilidade de atestar a
viabilidade de um empreendimento, apresentar ao empreendedor a metodologia que
entender devida, assim como o faz em relao a definio de condicionantes, em relao a
definio do Termo de Referencia e tantas outras decises dentro do processo de licenciamento.
Aqui, cabe uma breve reflexo, a partir da verificao de como a questo
tratada no direito comparado.
F)

Direito comparado (Experincia Americana)

A literatura especializada nos remete a 1978 os primeiros avanos na questo


dos impactos cumulativos e sinergticos.
Os avanos nesta temtica iniciaram-se no ano de 1978, quando o CEQ
promulgou regulamentos de carter obrigatrio (40 CFR Parts 1500-1508) para a implementao
da NEPA pelas agncias federais, apresentando uma definio para o termo impacto cumulativo,
conforme exposto no item anterior

34

34

Alves Dibo, Ana Paula. A insero de impactos ambientais cumulativos em Estudos de Impacto Ambiental: o caso do setor
61
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O que de relevante se extrai para a presente demanda que, em 1997, o CEQ


publicou o ... manual Considering Cumulative Effects Unde The National Environmental Policy Act,
o qual descreve os princpios gerais, os procedimentos e as metodologias comuns, determinando
desta maneira uma abordagem para avaliao de impactos cumulativos nos estudos ambientais
(CEQ, 1997)

35

V-se, portanto, desta breve anlise, que o pas desenvolvimentista por


natureza adota o critrio dos impactos cumulativos e, inclusive, j possui regras procedimentais
para sua anlise, o que perfeitamente pode ser transportado para o direito nacional e utilizado
pelo rgo licenciador ambiental, com as adaptaes que entender conveniente.
No h escusa na alegao, portanto, de falta de parmetros para o estudo,
requisito estabelecido pela Res. CONAMA 01/86, mais ainda considerados os inmeros estudos
nacionais que apontam metodologias diversas para a exigncia do estudo de impactos cumulativos.
Nesta ao, apenas a ttulo ilustrativo, tomou-se por base a metodologia
adotada na tese de mestrado de Leonardo Ribeiro Teixeira. H, no entanto, outras tantas
metodologias possveis, tais como a sugerida na tese da Prof. Lara Legaspe, exposta no quadro
sinttico de anlises de impactos cumulativos no meio marinho (DOC. 01).
O que no se pode admitir que o rgo licenciador no exija anlise de
impactos cumulativos a partir de

nenhuma metodologia, mesmo

ciente

da relao de

interdependncia entre empreendimentos, da deficincia das anlises fragmentadas e da exigncia


legal acerca deste requisito, atestando a viabilidade de empreendimentos que podero gerar
impactos para os quais a regio eventualmente no tenha capacidade de suporte, inclusive em
relao a atributos importantssimos (v.g. o uso e ocupao do solo e abastecimento de gua),
alm de definir medidas de mitigao e compensao ineficientes, porque pautadas em anlises
que apresentam resultados subestimados.
Impe-se a aplicao do j abordado princpio da precauo, segundo o qual
a incerteza exige a realizao de processos de avaliao e gesto de riscos

36

sem

grifos no texto original.

sucroenergtico paulista /. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Cincias da Engenharia Ambiental e rea
de Concentrao em Cincias da Engenharia Ambiental Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo,
2013, pag. 56.
35
Idem.
36
Joana Setzer e Nelson da Cruz Gouveia. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Princpio da Precauo rima com ao, pag.
439. Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.

62
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A concepo comissiva do princpio da precauo demanda, portanto, a


aplicao irrestrita do art. 6, II, da Res. CONAMA 01/86, exigindo-se do empreendedor,
de forma tcnica, a anlise de impactos cumulativos e sinergticos, para que processos
de gesto de riscos possam ser adotados.
Enquanto tal no ocorra, o licenciamento no pode ser concedido.
Enfim, considerando-se que, no obstante a exigncia legal contida no
art.

6,

inciso

II,

da

Resoluo

CONAMA

01/86

evidente

interligao

interdependncia entre os empreendimentos elencados nesta inicial, os impactos de um


no

foram

contemplados

no

EIA/RIMA

dos

demais,

sendo

que

os

estudos

complementares produzidos no foram suficientes para suprir esta omisso e garantir


anlise segura acerca da viabilidade dos empreendimentos, outra alternativa no h que
no a suspenso do processo de licenciamento at que sejam realizados estudos de
impactos cumulativos e sinrgicos, a partir de metodologia a ser definida pelo ru, que
contenha anlise integrada de atributos chave, em especial estes nesta ao elencados,
bem como a efetiva demonstrao da capacidade de suporte, por meio de respostas aos
quesitos concreta e objetivamente formulados pelo Ministrio Pblico na Recomendao
previamente expedida ao requerido.
3.4.2 - INCORRETA
AUSNCIA

DE

DEFINIO DAS REAS DE INFLUNCIA DIRETA E INDIRETA DO EMPREENDIMENTO E

A.L.A.

DO

ICMBIO-ESEC/TUPINAMBS

COMPLEMENTARES EXIGIDOS PELOS

DA

DESCONSIDERAO

DOS

ESTUDOS

GESTORES DAS UNIDADES DE CONSERVAAO ATINGIDAS

Extremamente relacionado ao item anterior, na esteira da correta avaliao de


riscos (princpio da precauo) tendo como pressuposto uma viso contextualizada que
compreenda os impactos em sua integralidade, outro importante instrumento se materializa:
trata-se da exigncia de que o EIA/RIMA defina as reas de influncia direta e indireta do
empreendimento, sobre a qual recaem os estudos que, em ltima anlise, definem a o juzo
sobre a viabilidade do empreendimento e as medidas de compensao e mitigao a serem
exigidas.
A questo vem assim disciplinada na Resoluo CONAMA 01/86, artigo 5:
O estudo de impacto ambiental, alm de atender legislao, em especial os princpios e
objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer s seguintes
diretrizes gerais:
(...)
III - Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os casos,
a bacia hidrogrfica na qual se localiza
63
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No caso em apreo, contudo, diversas manifestaes tcnicas apontam para a


incorreta definio, no EIA, das reas de influncia direta e indireta do empreendimento. E, de fato,
de sua leitura constata-se que o documento define as reas de influncia do empreendimento de
forma demasiadamente modesta. Veja-se como a questo resolvida no Estudo de Impacto
Ambiental:
rea de Influncia Direta (AID)37
Meio Fsico

corresponde bacia hidrogrfica do crrego Me Izabel e


compreende os morros presentes na retaguarda imediata da baa
do Ara.
a.
ambiente terrestre:

Meio Bitico

a oeste, limita-se pelo divisor de gua das drenagens que seguem


para a baa do Ara e, a norte e leste, segue em rea urbanizada
pelos trechos canalizados dos crregos Me Izabel e Outeiro.
b.

ambiente aqutico:

a rea do porto organizado no canal de So Sebastio, desde


aproximadamente 10.000 m ao sul at aproximadamente 10.000
m ao norte do porto, e na linha de costa desde a ponta da Praia
Grande at a Praia de Porto Grande.
Meio Socioeconmico

mancha urbana contnua localizada junto ao Porto, que compreende


o Centro Histrico de So Sebastio, os bairros Topolndia, Vila
Amlia, Varadouro, Barequeaba, Pitangueiras, Guaec, Porto
Grande, Praia Deserta, Pontal da Cruz e Arrasto, no municpio
de So Sebastio, alm do bairro Barra Velha no municpio de
Ilhabela, em trecho junto balsa.

rea de Influncia Indireta (AII)38


Meio Fsico

estende-se ao norte, com o objetivo de abranger o restante do


centro urbano-industrial do municpio de So Sebastio,
considerado como eventual fornecedor de resduos slidos e lquidos
baa do Ara e arredores.

Meio Bitico

a.

ambiente terrestre:

microbacias hidrogrficas do crrego Me Izabel e do crrego


Outeiro;
rea urbana banhada pelo canal de So Sebastio, no municpio
de So Sebastio, incluindo unidades de conservao e vias de
acesso rodovirio prximas ao empreendimento.

Meio Socioeconmico

b.
ambiente aqutico:
parte do canal de acesso atingindo a costa da Ilhabela.
foi delimitada em funo da interferncia indireta do mesmo sobre a
populao e a dinmica econmica locais. Esta rea compreende os
quatro municpios que compem a regio do Litoral Norte do estado
de So Paulo: Caraguatatuba, Ilhabela, So Sebastio e
Ubatuba.

37

Inserida na AII, corresponde rea que sofrer os impactos diretos do empreendimento, durante as fases de implantao e
operao
38
A rea de Influncia Indireta rea caracteriza-se como de abrangncia regional, correspondendo rea que sofrer os
efeitos indiretos da implantao e operao do empreendimento.
64
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Obviamente, as opes eleitas receberam crticas de toda a ordem.


A observao da Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto
Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do
Litoral Norte de So Paulo a respeito da definio das reas de influncia cirrgica: quando da
anlise dos impactos positivos adotou viso ampla e global e considerou que, em geral, o porto
tem impacto ambiental positivo. Entretanto, ao considerar os impactos ambientais negativos a
abordagem foi pontual e restrita ao local do empreendimento em si, tendo o rgo gestor da APA
sugerido a reanlise dos impactos negativos com o mesmo detalhamento e especificidade que a
realizada para os impactos positivos, de forma a no comprometer os resultados da Avaliao de
Impactos Ambientais. (DOC. 13).
O Parecer Tcnico da Fundao Florestal Parque Estadual da Serra do
Mar tambm discordou do contedo do EIA/RIMA neste ponto, assinalando que as reas de
influncia delimitadas no EIA RIMA esto apresentadas de forma equivocada, uma vez que estas
devem ser determinadas a partir de estudos preliminares e devem corresponder s reas
delimitadas pela Anlise Preliminar de Perigo, uma vez que esta considera o evento de maior
proporo que poder impactar o meio ambiente, destacando equvoco tambm do ponto de vista
da delimitao feita somente com base nos efeitos das obras e ocupao futura, defendendo que a
AID e AII seja delimitada de acordo tambm com a operao do empreendimento, que envolve
aumento de trfego martimo e terrestre e ainda, gerando demandas como, por exemplo, a
ampliao das rodovias e infraestrutura da regio do Litoral Norte e Vale do Paraba (DOC. 06).
Como

consequncia da incorreta definio

das reas

de

influncia

do

empreendimento, obvio, a incorreta avaliao e gesto de riscos (principio da precauo)


e definio de medidas de mitigao e compensao (principio da preveno).
Nesse sentido, nos termos dos estudos realizados pelos peritos do Ministrio
Pblico se constata marcado prejuzo para a devida avaliao de impactos ambientais e
consequentemente para a devida salvaguarda dos bens ambientais e culturais existentes se os
contedos dos documentos que instruem os licenciamentos se mostrarem com a definio de
reas de influncia insuficientes e com nfase em abordagens pontuais, o que leva a uma
subestimativa dos seus impactos negativos, prejudica a concepo de medidas para evit-los e/ou
mitig-los e coloca em risco a perspectiva de sustentabilidade ambiental e social; bem como o
entendimento do seu pleno significado e consequncias pela sociedade (DOC. 08);
Impe-se, pois, a correta definio das reas de influncia do empreendimento,
o que pressupe anlise pontual, conforme (a) a natureza do meio atingido (meio bitico e
socioeconmico); e (b) a tipologia da influncia (direta e indireta).

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MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

A) AID meio bitico


Com relao a AID no meio bitico, o EIA/RIMA assim define:
a.

Em terra, a oeste, limita-se pelo divisor de gua das drenagens

que seguem para a baa do Ara e, a norte e leste, segue em rea urbanizada pelos
trechos canalizados dos crregos Me Izabel e Outeiro.
b.

ambiente aqutico: a rea do porto organizado no canal de So

Sebastio, desde aproximadamente 10.000 m ao sul at aproximadamente 10.000 m


ao norte do porto, e na linha de costa desde a ponta da Praia Grande at a Praia de
Porto Grande.
A extenso da AID no meio terrestre foi objeto de crtica no parecer tcnico do
CAEX - MP/SP: a rea de Influncia Direta da ampliao do Porto restringe-se a pores dos
macios prximos costa (pequenas bacias com drenagem convergente ao Canal de So
Sebastio) e todo o esforo de diagnstico do meio biolgico ficou mais restrito a estas reas e aos
remanescentes de manguezais da baia do ara (DOC. 08).
De fato, ainda que se entenda que a questo comporta interpretaes
divergentes, certo que no caso em tela a opo eleita colide frontalmente o critrio tcnico
expressamente estabelecido na RESOLUO CONAMA N 001/86 ao tratar do tema:
Artigo 5 - O estudo de impacto ambiental, alm de atender legislao, em especial os
princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer
s seguintes diretrizes gerais:
(...)
III - Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os
casos, a bacia hidrogrfica na qual se localiza. (sem grifos no original).

O mesmo critrio informa a poltica nacional dos recursos hdricos, que


define a bacia hidrogrfica como unidade territorial adequada para definio das medidas de
proteo decorrentes quaisquer eventos que tenham implicao sobre este recurso natural, dada a
bvia conectividade entre os corpos dgua. o que estabelece o art. 1, inciso V, da Lei 9433/97,
in verbis:
Art. 1 A Poltica Nacional de Recursos Hdricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
(...)
V - a bacia hidrogrfica a unidade territorial para implementao da Poltica Nacional de
Recursos Hdricos e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos;

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No por outra razo, o Ministrio Pblico Federal firmou posio no sentido


de que quanto ao aproveitamento dos corpos d'gua, ao se planejar, licenciar ou autorizar
empreendimentos, toda a extenso da bacia hidrogrfica deve ser considerada na definio da
rea de influncia, conforme determina o artigo 1, inciso V, da Lei n 9.433/97 e o artigo 5,
inciso III, da Resoluo n 01/86 do CONAMA (Carta do III Encontro Regional da Sexta Cmara
de Coordenao e Reviso do Ministrio Pblico Federal, realizado em Alter do Cho/PA, DOC. 07).
Logo, no h como se admitir como rea de influncia direta no meio bitico to
somente gua das drenagens que seguem para a baa do Ara e, a norte e leste, rea
urbanizada pelos trechos canalizados dos crregos Me Izabel e Outeiro.
H que ser respeitado o critrio legal da bacia hidrogrfica, cuja precisa
definio, para os fins do licenciamento deste empreendimento, dever ser dada a partir de
provocao do Comit de Bacias Hidrogrficas.
E no s no meio ambiente terrestre h equivocada definio das reas de
influencia do empreendimento.
A rigor, a definio das AID no meio aqutico so ainda mais indefensveis,
dada que desconsidera algo to relevante quanto bvio: que a intensidade das correntes
martimas permitem que um dano provocado em uma dada unidade de rea possa em questo de
minutos atingir reas longnquas.
Nesse sentido, as informaes trazidas pelos responsveis pela Informao
Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC
das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So Paulo segundo os quais os estudos
no consideraram o fato de que a operao do empreendimento ser em ambiente marinho, que
possui uma grande conectividade entre ambientes e com os ecossistemas terrestres, e est sujeito
a regime de correntes e mars, bem como que as correntes no canal de So Sebastio e reas
adjacentes so consideradas significativas, sendo inclusive um dos fatores utilizados para justificar
a viabilidade do empreendimento, no necessitando de dragagem do canal (DOC. 13).
Logo, na linha do Parecer Tcnico da Fundao Florestal Parque
Estadual da Serra do Mar no sentido de que as reas de influncia delimitadas no EIA RIMA ...
devem ser determinadas a partir de estudos preliminares, necessrio estudo de correntes para a
definio da exata rea de influncia, direta e indireta, do emprendimento, conforme formalmente
exigido na Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental do Plano Integrado
Porto Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So Paulo.

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E, independentemente do que apurado nos estudos de correntes, certo, no


h como descartar a rea ESEC/Tupinambs como rea de influncia do empreendimento, sob
pena de invalidao de todo o procedimento. E isto porque h evidncias comprovadas pelos
estudos de elaborao do plano de manejo da ESEC TUPINAMBS de que a ser afetada pelo
empreendimento de ampliao do Porto de So Sebastio.
A rigor, no cenrio atual j h impacto do Porto sobre a unidade,
sobretudo por duas razes:
A primeira: Os navios que se dirigem ao porto de So Sebastio trafegam em
guas prximas a estes espaos especialmente protegidos.
Nesse sentido, h provas da introduo de exticas invasoras nas reas
prximas rea de fundeio atualmente utilizada pelo Porto, bem como estudos mostrando a
contaminao do sedimento por Cdmio, Chumbo e Cobre, alm de registros de resduos slidos
com inscries estrangeiras nas reas da ESEC, o que comprova que o lixo descartado
irregularmente pelos navios atinge as reas desta unidade de conservao (DOC. 13).
A segunda: As correntes marinhas predominantes no Litoral Norte de So
Paulo so de Sudoeste39 e, portanto, saem do canal em direo ao Arquiplago de Alcatrazes40,
com velocidades altssimas, o que facilita o carreamento de poluentes e de produtos txicos frutos
de acidentes ambientais.
Prova disso o histrico vazamento de leo na canal de So Sebastio ocorrido
em 2003, que atingiu o Arquiplago da Ilha Anchieta em apenas oito horas.
E, se atualmente j h impacto sobre a ESEC/Tupinambs, no cenrio de
Porto ampliado esse impacto evidentemente ser ainda maior.
No entanto, dada a incorreo na definio das reas de influncia, o Instituto
Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade/ICMBio no foi consultado sobre o Termo
de Referncia do EIA/RIMA do empreendimento, como determinam o art. 36, 3. da Lei 9985/00
(Lei do SNUC), e o art. 1 da Resoluo CONAMA 428/2010, prejudicando o levantamento de
dados que embasassem a mitigao dos impactos sobre a unidade, com violao ao Princpio da
Precauo do Gerenciamento Costeiro.

39

Segundo estudos para o plano de manejo da ESEC-Tupinambs, as correntes podem tambm ir na direo nordeste,

afetando reas da unidade no Municpio de Ubatuba/SP;


40

Cabe esclarecer que o Arquiplago de Alcatrazes, inserido na rea sob proteo da ESEC Tupinambs, importante stio
de nidificao de aves marinhas do litoral de So Paulo. Logo, no caso de acidente com derramamento de leo, as aves
marinhas so diretamente afetadas pelo contato e ingesto de alimento contaminado, com perda da impermeabilidade das
penas, o que reduz ou impede-lhes a capacidade de voo e flutuao, correndo risco de morte por dificuldade de se alimentar e
manter a temperatura do corpo (DOC. 13)

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Veja o que estabelece o art. 36, 3, da Lei n 9985/00, Lei do SNUC:


3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservao especfica ou
sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste
artigo s poder ser concedido mediante autorizao do rgo responsvel por
sua administrao, e a unidade afetada, mesmo que no pertencente ao Grupo
de Proteo Integral, dever ser uma das beneficirias da compensao
definida neste artigo.
A Resoluo CONAMA 428/2010 refora e regulamenta esta exigncia
41

legal , e foi igualmente ignorada pelo licenciador que compactuou com a incorreta definio da
rea de influncia do empreendimento. Esta questo, cabe destacar, suscitou parecer jurdico da
Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio, rgo gestor da ESEC/Tupinambs (DOC.
15), que destacou as seguintes questes:

em caso de risco unidade de conservao o critrio de 3 Km

estabelecido pela Resoluo CONAMA 428/2010 no pode ser considerado por ferir princpios da
Lei 9.985/2000 e da Constituio, sendo obrigao do rgo gestor usar o poder de polcia que lhe
compete para evitar o impacto sobre a unidade;

sempre que o licenciamento ambiental de um empreendimento ou

atividade especfico se mostrar inservvel para evitar, mitigar e compensar impactos causados a
unidade de conservao federal ou sua zona de amortecimento, o ICMBio mantm a prerrogativa
de fazer valer o regime jurdico de proteo da rea, seja atravs do poder de polcia repressivo de
que legalmente investido, seja atravs de questionamento judicial de licenas expedidas
em desfavor do regime jurdico estabelecido pelo SNUC;

na qualidade de responsvel pelo regime especial de administrao

dispensado s unidades de conservao por fora de imposio constitucional e do SNUC, cabe ao


ICMBio

tutelar as atividades ocorridas dentro das UCs federais, exatamente

porque o

licenciamento ambiental na mensurao da capacidade de suporte de um determinado


empreendimento pelo ambiente em geral no pode afastar a concretizao da obrigao,
dispensada a outro ente, de especial proteo de determinadas reas por fora de mandamento
constitucional;

41

Art. 1 O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental que possam afetar Unidade de Conservao
(UC) especfica ou sua Zona de Amortecimento (ZA), assim considerados pelo rgo ambiental licenciador, com fundamento
em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), s poder ser concedido aps
autorizao do rgo responsvel pela administrao da UC ou, no caso das Reservas Particulares de Patrimnio Natural
(RPPN), pelo rgo responsvel pela sua criao.

69
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sendo atribuio do Poder Pblico (no mbito federal, do ICMBio) gerir e

garantir a integridade da unidade de conservao por imposio constitucional, e tendo a


Resoluo CONAMA n. 428/2010 a funo de regulamentar o artigo 36, 3, da Lei n. 9.985/2000
SNUC, no haveria espao para qualquer interpretao que exclusse o poder do rgo gestor de
analisar a compatibilidade do empreendimento localizado em unidade de conservao com seus
objetivos bsicos, diretrizes, plano de manejo e demais instrumentos de gesto, na forma prevista
no art. 1, I, da Lei n. 11.516/2007 e no art. 6, III, da Lei n. 9.985/2000 SNUC
Enfim, a concluso do parecer do ICMBio, da qual aqui se perfilha, no sentido
de que a autorizao de licenciamento ambiental ALA nas hipteses legalmente exigidas,
constitui uma condio de validade do prprio licenciamento ambiental e que, por
conseguinte, a licena ambiental expedida sem a ALA, nas hipteses legalmente
previstas, nula, assim como todo o processo de licenciamento ambiental, ainda que a omisso
no dever de solicit-la seja do rgo licenciador e no do empreendedor.

Assim, tendo em vista as evidncias cientficas constantes dos estudos de


elaborao do plano de manejo da ESEC TUPINAMBS de que a rea j e ser ainda mais
afetada pelo empreendimento de ampliao do Porto de So Sebastio, imprescindvel que seja ela
considerada na rea de influncia direta do empreendimento no meio aqutico, impondo-se a
autorizao do ICBio a respeito do Termo de Referncia, consoante como determinam o art. 36,
3. da Lei 9985/00 (Lei do SNUC), e o art. 1 da Resoluo CONAMA 428/2010;
B) AID meio socioeconmico
Sobre

meio

socioeconmico

ser

diretamente

impactado

pelo

empreendimento, o EIA/RIMA assim define: mancha urbana contnua localizada junto ao Porto,
que compreende o Centro Histrico de So Sebastio, os bairros Topolndia, Vila Amlia,
Varadouro, Barequeaba, Pitangueiras, Guaec, Porto Grande, Praia Deserta, Pontal da Cruz e
Arrasto, no municpio de So Sebastio, alm do bairro Barra Velha no municpio de Ilhabela, em
trecho junto balsa.
Ou seja, to somente o preciso local do empreendimento e uma dzia de
bairros no entorno. O critrio inaceitvel, dada a obviedade que os impactos diretos sero muito
maiores.
Neste sentido, no h com

afirmar que

os Municpios de Ilhabela e

Caraguatatub no sofrero impactos diretos, por exemplo, no funcionamento de seu sistema de


transporte pblico ou na gesto do uso e ocupao do solo.

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Serviro
empreendedor,

de

estes

cidades

municpios,

dormitrio

para

isto

incontroverso

muitos

dos

at

trabalhadores

mesmo

para o

vinculados

ao

empreendimento. Logo, mesmo numa viso restritiva, no h como afastar os trs municpios,
So Sebastio, Caraguatatuba e Ilhabela, da rea de influncia direta do empreendimento no meio
scio econmico.
C) AII meio bitico
No que diz respeito rea de influncia indireta do empreendimento sobre o
meio bitico, foi assim definida no EIA/RIMA: o restante do centro urbano-industrial do
municpio de So Sebastio, considerado como eventual fornecedor de resduos slidos
e lquidos baa do Ara e arredores
Veja-se que nem mesmo na definio da AII do empreendimento foi
observado o que dispe o art. 5, inciso III, parte final, que estabelece o critrio da
bacia hidrogrfica como obrigatrio para esse fim.
Nesse caso, porm, tratando-se da definio de rea de influncia indireta, nas
definies das bacias hidrogrficas atingidas impe-se considerar todo o contexto do Corredor de
Exportao. Pela mesma lgica, tambm h que se considerar, por fora do que dispe o art.3642
da lei 9.985/00 (Lei do Sistema Nacional das Unidades de Conservao da Natureza SNUC),
todas as Unidades de Conservao que circundam o corredor de exportao como rea de
influencia indireta no meio bitico.
Contudo, se a definio das reas de influncia no meio bitico terrestre j
suscita reviso, o que dizer do critrio adotado para a definio AII no meio bitico aqutico.
Com efeito, destacam os responsveis pela Informao Tcnica sobre o
Estudo de Impacto Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de
Conservao do Litoral Norte de So Paulo que o aumento no trnsito de navios traz uma
srie alteraes ambientais no meio marinho, como afugentamento e danos fauna marinha
(aumento nos nveis de rudos e vibraes, alteraes comportamentais e atropelamento),
aumento

na

contaminao

dos

ecossistemas

por

substncias

txicas

(derivados

de

hidrocarbonetos, resduos slidos, restos de alimentos, gua de lastro, efluentes sanitrios, entre
outros) e por espcies invasoras (contaminao biolgica).

42

Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado
pelo rgo ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatrio - EIA/RIMA, o
empreendedor obrigado a apoiar a implantao e manuteno de unidade de conservao do Grupo de Proteo Integral, de
acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei
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E, de acordo com este parecer tcnico, Estes impactos foram ignorados na


delimitao da rea de Influncia do empreendimento, notadamente, de sua rea de Influncia
Indireta, de forma que o desenho da rea que sofrer interferncia significativa do aumento de
trfego de navios deve ser ampliado e no pode se restringir ao canal de So Sebastio (DOC. 13)
Esta mesma preocupao foi objeto de alerta pelo ICMBio (DOC. 14). Com
efeito, a concluso dos tcnicos tambm no sentido de que A biota marinha, incluindo cetceos
e quelnios, entre outros; bem como as atividades de pesca artesanal, turstica, nutica, mergulho,
entre outras, que interagem com a rea do Porto Organizado tambm estabelecem relaes mais
amplas que vo alm da rea de influncia indireta definida no EIA.
A respaldar estas concluses quanto incorreo na definio da rea de
influncia, o entendimento dos tcnicos do CAEX - MP/SP: No que se refere ao ambiente
marinho, o EIA-RIMA privilegia o foco de sua avaliao de impactos sobre a rea do porto
organizado, e deixa de apreciar as influncias de trfego e fundeio fora da rea do Canal de So
Sebastio.
Enfim,

com

base

na

manifestao

tcnica

suprainvocada,

requer-se

redefinio da rea de influncia indireta no meio ambiente marinho a partir destes estudos
apontados como primordiais para esse fim: (a) estudo de influncias das correntes (tambm
necessrio para definio da AID) e (b) estudo de trfego e fundeio fora da rea do Canal de So
Sebastio.
D) AII meio socioeconmico
Por fim a definio da AII no meio scio econmico compreendendo to
somente os quatro municpios que compem a regio do Litoral Norte do estado de So Paulo:
Caraguatatuba, Ilhabela, So Sebastio e Ubatuba tambm inaceitvel.
Com efeito, segundo o citado parecer da rea tcnica do Ministrio Pblico do
Estado de So Paulo, inegvel que estas reas dos planaltos interiores, a comear pelo Vale
do Paraba, que vive um evidente cenrio de conurbao; bem como os municpios como
Campinas e outros existentes no eixo da Rodovia D. Pedro I, sero influenciados, inclusive pelo
trfego de caminhes e outras atividades que sero atradas em face do empreendimento.
Ora, se as justificativas ao porto se referem necessidade de ampliao da
capacidade da logstica de transportes do estado e regio sudeste a fim de oferecer infraestrutura
adequada multimodalidade requerida, propagando-se vantagens locacionais do porto e
posicionamento estratgico em relao a reas de intensa atividade industrial que demandam
rotas de importao e exportao, especialmente o Vale do Paraba e a regio metropolitana de
Campinas, no h como afastar tais regies da rea de influncia do empreendimento.

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Tanto assim que o EIA-RIMA feito pela THEMAG em 1989 para a j citada
Rodovia do Sol (cujo traado, com justificativas similares, propunha a ligao entre Jacare e
Porto Novo, em Caraguatatuba) considerou como rea de Influncia Direta todo o eixo da
Rodovia D. Pedro I at o Municpio de Campinas.
Se o modelo similar, o critrio deve ser o mesmo. No caso, porm, por
se tratar de empreendimento que, malgrado interligado, tem licenciamento prprio, justo exigirse este critrio to somente para a definio da AII, no mais da AID.
Em suma, os diversos pareceres tcnicos aqui elencados demonstram,
saciedade, que os estudos apresentados pelo empreendedor no bojo do licenciamento ambiental
de ampliao do Porto, na profundidade em que se apresentam, delimitam de forma incorreta
a reas de influencia do empreendimento nos meios bitico (terrestre e marinho) e
scio econmico e, por conseguinte, no possibilitam anlise satisfatria com relao
aos impactos nas Unidades de Conservao do Litoral Norte, sobretudo:
a) por no considerarem a bacia hidrogrfica no qual est inserido o
empreendimento na definio das reas de influncia direta e indireta do
empreendimento no meio bitico terrestre, em violao ao que determina o
art. 5, inciso II, parte final, da Resoluo CONAMA 01/86;
b) por que desprovidos de estudos de correntes e trfego e fundeio de navios
imprescindveis para a exata definio das reas de influncia direta e
indireta do empreendimento no meio ambiente bitico aqutico, em que
pese exigncia de tais estudos na Informao Tcnica sobre o Estudo de
Impacto Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de
Conservao do Litoral Norte de So Paulo, de observncia cogente em
razo do que dispe o art. 36 da Lei do SNUC e a Resoluo CONAMA n N
428/2010;
c)

por que no consideraram a ESEC/Tupinambs como rea de influncia


direta no meio bitico aqutico, em que pese as evidncias cientficas
contidas nos estudos do plano de manejo, com consequente violao ao que
dispe o art. 2 da Resoluo CONAMA n 428/2010;

d) porque desconsideraram, na definio da rea de influncia direta do


empreendimento

no

meio

scio

econmico,

impactos

diretos

determinados servios pblicos, tal qual o de transporte, nas cidades de


Ilhabela e Caraguatatuba;

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e) porque desconsideraram o corredor de exportao na definio das reas de


influncia indireta do

empreendimento

nos meios ambientes bitico

terrestre e scio econmico.


Cabe ressaltar que tais questes tambm foram devidamente alertadas ao
rgo licenciador na Recomendao n 04/13. No entanto, o IBAMA, mais uma vez, no deu a
devida ateno ao tema, reforando o entendimento de, ao menos neste caso, realizou anlise
puramente formal dos requisitos legais, com manifesta violao essncia dos instrumentos
que deveria proteger e fortalecer.
Neste sentido, veja-se que sobre a definio das reas de influncia, malgrado
a Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental do Plano Integrado Porto
Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So Paulo tenham
apontado uma srie de deficincias neste particular, crtica reforada pelo parecer CAEX MP/SP,
ao responder Recomendao encaminhada o IBAMA apresentou a seguinte justificativa:
rea de influncia definida como a rea geogrfica que pode sofrer as
consequncias, diretas ou indiretas, do empreendimento. Com relao ao impacto sobre as
correntes marinhas, o EIA afirma que a presena de vrias estacas em uma rea pequena, de
circulao restrita, representa uma barreira fsica a circulao das correntes de mare,alterando,
assim, o padro hidrodinmico no interior da baia e, por extenso, do padro de sedimentao.
Vale salientar, entretanto, que esse impacto pontual e no altera a circulao hidrodinmica no
Canal de So Sebastio. Dessa forma, avalia-se como adequada a delimitao proposta para as
reas de influncia direta e indireta do empreendimento.
inadmissvel o grau de superficialidade com que to relevante tema
foi tratado.
No houve sequer uma anlise pormenorizada conforme o meio atingido. No
foram enfrentadas as crticas tcnicas apresentadas. No foram examinados os critrios propostos
por gestores de 06 Unidades de Conservao, ao arrepio do que dispe a lei 9985/00, em seu art.
36. O licenciador, pelo menos de acordo com o que informou ao Ministrio Pblico, tomou por
base somente a justificativa do empreendedor, para julgar adequada a delimitao proposta para
as reas de influncia direta e indireta do empreendimento.
Sobre a ausncia de autorizao da ESEC/Tupinambs, dada as evidncias
cientficas contidas nos estudos do plano de manejo que comprovam que a rea j atualmente
impactada pelas atividades do porto, a impor a autorizao obrigatria do ICMBio a respeito do
Termo de Referncia

(art.36, 3, da Lei 9985/00 e art. 1 da Resoluo CONAMA 01/86 n

428/10), o IBAMA assim se manifestou:

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Foram solicitadas anlise e manifestao ESEC Tupinambs quanto ao


contedo do EIA/RIMA do Plano Integrado Porto Cidade/PIPC. Em resposta, a ESEC Tupinambs,
por meio do Ofcio n 069/2011 ESEC TUPINAMBS DIREP/ICMBio (protocolo n
0200.036060/2011-47 de 12/7/2011), requisitou o envio de estudos complementares, que foram
requeridos pelo IBAMA a partir do Parecer n 04/2011.
Em 21/10/2011 as complementaes foram encaminhadas ao ICMBio por meio
do Ofcio-Porto 197/2011. A ESEC Tupinambs apresentou manifestao em relao ao EIA/RIMA
e suas complementaes a partir do Ofcio n 138/2011 ESEC TUPINAMBAS ICMBio (protocolo
n

02001.063006/2011-74

de

22/12/2011.

Nota

Tcnica

10/2012-

COPAH/CGTMO/DILIC/IBAMA, de 23/2/2012, apresenta a anlise dessa manifestao, bem como


os encaminhamentos propostos. Cabe ressaltar que a referida Nota Tcnica foi repassada ao
empreendedor para atendimento dos encaminhamentos. Considera-se, portanto, que a ESEC
Tupinambs participou de forma efetiva ao longo do processo de licenciamento.
Ora,

exigncia

legal

clara

objetiva:

no

basta

franquear

possibilidade de manifestao da ESEC/Tupinambs. Exige a lei que se colha a autorizao


de licenciamento ambiental junto ao ICMBio.
A rigor, no somente o ICMBio foi negligenciado no processo de licenciamento.
Com efeito, embora outras Unidades de Conservao tenham se manifestado
por meio da Fundao Florestal sobre o empreendimento, sua aquiescncia foi condicionada ao
atendimento de uma srie de estudos complementares. A concluso do Parecer Tcnico da
Fundao Florestal Parque Estadual da Serra do Mar claramente condicional:
Portanto, adotadas e implementadas todas as medidas mitigadoras e os
programas propostos no EIA-RIMA, bem como consideradas as recomendaes indicadas no
presente Parecer Tcnico, com base na anlise acurada dos aspectos de ordem legal, institucional
e tcnica, relacionados s fases de planejamento, implantao e de operao da ampliao do
Porto de So Sebastio, no vemos bices quanto seqncia do processo de Licenciamento
Ambiental do Plano Integrado Porto Cidade PIPC (DOC. 06).
Todavia, uma srie de estudos tcnicos complementares exigidos nesta
manifestao e na Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental do Plano
Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So
Paulo no foram efetivamente levados em considerao.

75
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Nesse grupo, estudos de nvel de rudo no ambiente marinho43 e invaso


por espcies exticas por vetores no considerados 44 , com risco s baleias-de-Bryde,
predadores de topo, entre outros.
Da anlise da resposta encaminhada pelo IBAMA em resposta Recomendao
encaminhada, verifica-se que ora os estudos complementares exigidos pelos gestores das UCs so
simplesmente ignorados, ora so postergados para fase da Licena de Operao.
No primeiro caso, h violao ao que dispe a RESOLUO CONAMA N 428/10,
em seu art. 3, inciso II, c.c. o 3:
Art. 3 O rgo responsvel pela administrao da UC decidir, de forma motivada:
I pela emisso da autorizao;
II pela exigncia de estudos complementares, desde que previstos no termo de
referncia;
III pela incompatibilidade da alternativa apresentada para o empreendimento com a UC;
IV pelo indeferimento da solicitao.
(...)
3 A no apresentao dos estudos complementares especficos, no prazo acordado
com o empreendedor para resposta, desde que no justificada, ensejar o arquivamento
da solicitao de autorizao.

Da mesma forma, contrria orientao constitucional a conduta de


postergar determinados estudos para fases finais do procedimento.
Ora. No h sentido em se permitir o desenvolvimento do projeto, ainda que
parcialmente, com emprego de recursos pblicos, gerao de expectativas com repercusso
economicamente afervel, para s em momento posterior concluir que determinado atributo no
tem soluo vivel porque insuficientemente estudado.

43

Alm da poluio hdrica, a expanso da rea porturia implica tambm em outros impactos na fauna aqutica relacionados
ao aumento do nvel de rudo no ambiente marinho (exploses, implantao de estruturas, etc.;), ao aumento do trfego
de embarcaes, que podem ser classificados como diretos (possveis colises com as espcies) e indiretos (poluio, reduo
na disponibilidade de cardumes para alimentao) e impactos sobre a cadeia ecolgica, uma vez que dentre as espcies
afetadas esto as baleias-de-Bryde, predadores de topo, classificada pela Lista Vermelha de Espcies Ameaadas da IUCN
(2006) como insuficientemente conhecida (DD - Data Deficient), cf. Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental
do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So Paulo.
44

O transporte martimo desempenha papel central como vetor de transporte e disperso de espcies marinhas e embora o
EIA/RIMA tenha levantado a possibilidade de invaso por espcies exticas trazidas na gua de lastro, propondo medidas
mitigadoras quanto a isto, a contaminao por organismos exticos no se restringe gua de lastro, j que organismos livres
ou incrustados tambm podem ser transportados de outras formas que no foram consideradas pelo estudo (casco, quilha,
leme, hlice, eixo de hlice e nos sistemas de circulao de gua do mar, caixa de mar, gua de lastro e em tanques de carga
lastrados, alm de organismos associados ncora, amarras e caixa da ncora, e associados carga) (Fonte: Informe sobre
as espcies exticas invasoras marinhas no Brasil, MMA, 2009). cf. Informao Tcnica sobre o Estudo de Impacto Ambiental
do Plano Integrado Porto Cidade/PPIC das Unidades de Conservao do Litoral Norte de So Paulo.

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Nessa seara, veja como respondeu o empreendedor quando instado a exigir que
se considere e relacione o impacto da ocupao de encostas e reas de risco: Entende-se que o
empreendimento pode potencializar o risco de ocupao de encostas e reas de risco diante da
chegada de populao atrada para exercer funes no empreendimento. O empreendedor, em
conjunto com o poder pblico, dever apoiar projetos destinados moradia para atendimento aos
trabalhadores.
Efetivamente, no parece que o rgo licenciador tenha compreendido a
relevncia do tema ao assim se manifestar.
Enfim,

porque

incorreta

delimitao

das

reas

de

influncia

empreendimento, ausente a autorizao de licenciamento ambiental do ICMBio

do

ESEC

Tupinambs e desconsiderados os estudos complementares exigidos pelos gestores das Unidades


de Conservao atingidas, reputam-se violados o disposto no art. 5, inciso II, da Resoluo
CONAMA 01/81; nos arts. 36, 3, da Lei 9985/00 e nos arts. 1 e 3, inciso II c.c. o 3 da
Resoluo CONAMA n 428/10 e, consequentemente, os princpios da preveno e precauo,
impondo-se a invalidao da Licena Prvia concedida e a proibio de nova emisso at que tais
ilegalidades sejam sanadas.
3.4.6

AUSNCIA DE AVALIAO DEVIDA DOS PLANOS E PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PROPOSTOS E EM

IMPLANTAO DA REA DE INFLUNCIA DO PROJETO E SUA COMPATIBILIDADE, EM VIOLAO AO QUE DISPE


O ART.

5, INCISO IV, DA RESOLUO CONAMA 01/86;


H outra questo de suma importncia negligenciada no EIA/RIMA, que se

relaciona a com os eixos do desenvolvimento sustentvel, em especial a avaliao e


gesto de riscos: a compatibilidade do EIA/RIMA com o Zoneamento Ecolgico Econmico do
Litoral Norte (Decreto 48.215/04), com os Planos Diretores dos Municpios atingidos e com o Plano
de Bacia da UGRHI do Litoral Norte, exigncia que se impe diante do que determina o art. 5,
inciso IV, da Resoluo CONAMA 01/86, in verbis:
Artigo 5 - O estudo de impacto ambiental, alm de atender legislao, em especial os
princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer
s seguintes diretrizes gerais:
(...)
lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantao na
rea de influncia do projeto, e sua compatibilidade.

Consoante explanado, estudos como AAE-PINO e AAI, j citadas na presente


recomendao, apresentam fortes evidncias de incompatibilidade dos referidos projetos e
investimentos com o ZEE vigente, a ponto de sugerir a reviso/adequao das normas de proteo
ambiental com o fim de, ao que tudo indica, viabilizar a implantao dos projetos.

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Todavia, malgrado o alerta contido nesses estudos, o EIA no se ocupou em


fazer uma anlise de compatibilidade do empreendimento e daqueles que lhe so correlatos, com
o ZEE vigente na regio, o que evidentemente no pode se limitar a mera verificao do espao
fsico ocupado pelo porto, devendo por obvio compreender toda a sua rea de influncia, direta e
indireta, no meio socioeconmico.
Nessa mesma linha, tambm no h, no EIA/RIMA, uma efetiva anlise de
compatibilidade dos impactos negativos e seus efeitos cumulativos e sinrgicos, considerando o
conjunto de empreendimentos, em relao s diretrizes, metas e dispositivos dos Planos Diretores
dos municpios inseridos na rea de influencia do empreendimento, algo imprescindvel para
definio de polticas minimamente eficientes de planejamento urbano.
Evidentemente,

para

que

se

possa

afirmar

compatibilidade

do

empreendimento com o ZEE e com Planos Diretores municipais, no suficiente a mera juntada
de aval do Secretrio de Obras (Certido de uso do solo, Anexo I do EIA-RIMA);
H que se exigir, para se garantir um mnimo de responsabilidade para to
relevante questo, verdadeiros estudos que demonstrem a compatibilidade do empreendimento
com aquilo que definem os Planos Diretores e o ZEE com relao ao uso e ocupao pretendida
para as reas afetadas de influncia do empreendimento. o que determina expressamente o
texto legal (art. 5, inciso IV, da Resoluo CONAMA 01/86).
Alm disso, tambm no foi demonstrada a compatibilidade dos impactos
negativos e seus efeitos cumulativos e sinrgicos do conjunto de empreendimentos com o Plano
de Bacia da UGRHI do Litoral Norte.
Instado a se manifestar sobre o tema, assim pronunciou-se o IBAMA:

Acerca da possibilidade de discusso da compatibilidade do empreendimento


com as observaes do comit de Bacia Hidrogrfica, foi informado que o empreendedor realizou
reunies de discusso do plano diretor do porto na 1 Reunio Ordinria do Comit de Bacias
Hidrogrficas CBH do Litoral Norte, em 07 de maro de 2008 (Auditrio da FUNDAC
Caraguatatuba) o no GT Integrao do CBH-LN, em 03 e 11 de setembro 09 de 2009 (Agncia
Ambiental da CETESB Ubatuba).
(DOC)
Ora, o que a lei exige e deve o rgo licenciador observar que se faa uma
verdadeira anlise de compatibilidade entre os planos e no bastando que seja
informado que o empreendedor realizou reunies. H que se exigir, bvio, informaes
sobre o que nelas foi deliberado, quais os entraves entre os planos foi observado, enfim, exigir
verdadeira demonstrao da compatibilidade do empreendimento com programas governamentais
propostos e em implantao da rea de influncia do projeto.

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Evidente, portanto, a violao ao que dispe o art. o art. 5, inciso IV, da


Resoluo CONAMA 01/86 que dever determinar a anulao da Licena Prvia concedida e a
proibio da emisso de nova licena enquanto no demonstrada a compatibilidade do projeto com
os planos e programas governamentais, propostos e em implantao em sua rea de influncia,
em especial no que se refere ao Zoneamento Econmico Ecolgico, Planos Diretores dos Municpios
na AI, e Plano de Bacia da UGRHI do Litoral Norte.
3.4.4 AUSNCIA
QUE DISPE O ART.

DE REAIS ALTERNATIVAS LOCACIONAIS

(ASPECTO

FORMAL E MATERIAL): VIOLAO AO

5, I, DA RESOLUO CONAMA 01/86


No

captulo

anterior,

discorreu-se

sobre

as

funes

do

processo

de

licenciamento como instrumento do direito proteo ao meio ambiente equilibrado, dos


princpios da precauo e preveno, do direito ao desenvolvimento equilibrado e do
direito informao ambiental. E justamente na anlise das alternativas locacionais, modais
e tecnolgicas que o direito informao ambiental se mostra mais relevante. E justamente
neste ponto que, na prtica, ele se mostra mais vulnerado.
Aqui, relevante entender o contexto poltico-econmico que determinou a
deflagrao do processo de licenciamento do projeto de ampliao do Porto de So Sebastio.
A esse respeito, Leonardo Ribeiro Teixeira explica:
As justificativas desse Megaprojeto, orado em R$ 2,5 bilhes, apiam-se na
necessidade apontada pelo governo estadual de ampliar e descentralizar a capacidade da logstica
de transportes do estado de So Paulo e da regio sudeste, oferecendo uma infraestrutura
adequada multimodalidade requerida. A isto se somam a vocao porturia natural do canal de
So Sebastio, a proximidade com os poos da Bacia de Santos e seu o posicionamento
estratgico da regio em relao a reas de intensa atividade industrial, que demandam canais de
importao e exportao. Segundo a Cia Docas de So Sebastio, a associao dessas
caractersticas, alm das vantagens logsticas, possibilitaria ganhos ambientais relevantes,
reduzindo emisses de gases estufa e acidentes de trnsito decorrentes do alongamento
desnecessrio dos trajetos. Seria ento, na opinio dos empreendedores, simultaneamente, uma
soluo logstica e ambiental. (DOC. 05)
Sobre o contexto poltico, Leonardo Ribeiro Teixeira traa, em sua tese de
mestrado, um interessante panorama que bem demonstra que o prejuzo ambiental a ser
suportado pela regio do LN advm de demandas de escala nacional e estadual. Veja-se:

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Apesar do carter social das prioridades do programa federal, aparentemente


os empreendimentos em anlise atendem, prioritariamente, s demandas por infraestrutura de
escala nacional, deixando em segundo plano as questes locais. Os projetos estaduais so
encaminhados de maneira semelhante. Apesar das melhorias das condies das estradas de
acesso regio fazerem parte do leque de reivindicaes da populao local h dcadas, o
desenvolvimento atual deste conjunto de projetos parece estar mais diretamente associado ao
projeto de ampliao do Porto de So Sebastio. Este, por sua vez, estratgico na recepo e
escoamento do petrleo produzido em alto mar e para a exportao de produtos industrializados
no Estado.
Assim, apesar da denominao obras de infraestrutura do litoral norte, estas
no atendem s necessidades por infraestrutura dos quatro municpios da regio, mas sim, s
demandas relativas matriz energtica e a logstica de exportao nacionais e estaduais. Desta
forma, os Megaprojetos do Litoral Norte, apesar de reconhecerem os problemas locais em seus
Estudos de Impacto Ambiental e apregoarem grandes ganhos econmicos para os municpios e
para a populao diretamente afetada, objetivam solues para os problemas de escala nacional,
podendo agravar carncias por saneamento bsico, abastecimento de gua, tratamento de
resduos slidos urbanos, segurana pblica, qualidade do ar, entre outros (MONIE, 2006; PIZZOL,
2008; GUSMO, 2010) (DOC. 05)
No h reparos a fazer sobre tal anlise.
Efetivamente, o governo estadual diagnosticou a necessidade de desenvolver
um corredor de exportao para dar vazo produo industrial do Estado de So Paulo e, para
tanto, optou por um projeto que tem como ncleo essencial a ampliao do Porto de So
Sebastio, que dever trazer um incremento na movimentao de embarcaes no Porto de So
Sebastio de mais de 20 vezes o fluxo atual. E definiu que isto se dar por meio da expanso da
sua retrorea, a maior parte avanando sobre a rea conhecida como Baa do Ara, bem como
pela implantao novos beros de atracao.
No h nenhum problema, vale ressaltar, na deciso do Governo do Estado em
desenvolver um corredor de exportao. Ao contrrio, trata-se da mais pura expresso da funo
executiva, poder-dever da Administrao Pblica.
tambm direito do administrador definir como se dar a consecuo deste
objetivo, no que diz respeito s definies do local, do modo e da tecnologia que ser empregada.
De outro giro, no entanto, direito do administrado conhecer o plano em
sua integralidade, sobretudo a populao que ser diretamente afetada, no caso, a
populao residente no Litoral Norte paulista.E tambm direito do administrado conhecer
quais as alternativas existentes em relao opo escolhida.
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Quais outros locais foram estudados at se concluir pela ampliao da


capacidade porturia em So Sebastio, quais os locais estudados para a definio da retrorea,
quais as alternativas tecnolgicas foram examinadas para o projeto em sua integralidade e quais
as alternativas modais consideradas so alguns dos questionamentos que obrigatoriamente
devem ser respondidos.
O direito a tais informaes, que busca seu fundamento no plano constitucional,
est tambm materializado no plano legal pela exigncia prevista no art. 5, inciso I, da Resoluo
CONAMA n 01/86 que estabelece, como requisito do EIA, a anlise de alternativas tecnolgicas e
de localizao de projeto:
Artigo 5 - O estudo de impacto ambiental, alm de atender legislao, em especial os
princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer
s seguintes diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao de projeto,
confrontando-as com a hiptese de no execuo do projeto;

O valor que inspira esta norma claro: todos tm direito de saber quais as
opes estudadas e quais as razes que determinaram a escolha pelo projeto eleito. No
caso, o projeto de ampliao do Porto de So Sebastio.
Evidentemente, para que se possa afirmar que este requisito foi efetivamente
cumprido, no apenas no aspecto formal, mas, sobretudo, na sua acepo material, faz-se
necessrio

que

as

opes

apresentadas

representem

verdadeiras

alternativas,

projetos

substancialmente distintos, efetivas opes locacionais e modais.


A demonstrao das alternativas tecnolgicas e locacionais, cabe
ressaltar, no mera formalidade, consistindo em reflexo direto do princpio da precauo, em
uma de suas linhas de concretizao, e tambm em relao ao princpio da preveno. Assim
leciona especializada doutrina, especificamente sobre a precauo:
Como quinta linha de concretizao do princpio da precauo coloca-se a
exigncia de desenvolvimento e introduo de melhores tcnicas disponveis, a qual
constitui um meio alternativo de implementao deste princpio, ao determinar a reduo da
poluio, independentemente da demonstrao de efeitos danosos, simplesmente na base de que
tal tecnologicamente e economicamente possvel

45

- sem grifos no texto original.

45

Denise Hammerschmidt. Doutrinas Essenciais Direito Ambiental: Risco na sociedade Contempornea e o Princpio da
Precauo, pag. 378. Organizadores: dis Milar e Paulo Affonso Leme Machado.
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Portanto, a precauo exige o desenvolvimento de tcnicas alternativas para


melhor eficincia do empreendimento em relao proteo do meio ambiente. E a preveno,
representando um estgio posterior (risco concreto), demanda a demonstrao efetiva, durante o
procedimento de licenciamento e de acordo com o estgio atual da cincia, de alternativas
tcnicas e locacionais essencialmente diversas, ou seja, verdadeiras alternativas.
No se pode admitir, sob pena de desconsiderao da informao
democrtica e do dever de preservao do meio ambiente, esculpido no art. 225 da
CF/88, a demonstrao da mesma alternativa com pequenas variaes. Afinal, a
degradao ambiental a ltima das hipteses possveis, nunca a primeira.
A essncia do EIA/RIMA neste ponto, portanto, a demonstrao das
alternativas tecnolgicas e locacionais, o que influencia diretamente na informao da sociedade
(que tambm tem o dever de preservar o meio ambiente). A omisso ou deficincia em sua
demonstrao, ao arrepio do art. 5, I, da Res. CONAMA 01/86, desconstri toda a finalidade do
estudo de impacto ambiental e respectivo relatrio, afinal, de nada adianta convocar a sociedade
civil para participar e subsidiar de informaes o rgo ambiental seno estiverem efetivamente
demonstradas as razes pelas quais se escolheu o local e a tecnologia a do empreendimento.
A possibilidade de no implantao do empreendimento (hiptese zero)
tambm deve ser considerada, porquanto a constatao de sua inviabilidade pode decorrer
no s da incerteza cientfica (princpio da precauo), como da certeza cientfica de que,
no atual estgio da tcnica, o empreendimento no ser sustentvel (princpio da
preveno) e, assim, caso colocado em prtica, ser baseado em ato flagrantemente
inconstitucional (art. 225 da CF/88). Enfim, a hiptese zero somente ser cogitada se
demonstrada corretamente as alternativas tecnolgicas e locacionais.
No o que se deu no caso concreto.
Como bem apontado no estudo tcnico preliminar produzido pelo CAEX-MP/SP:
O EIA-RIMA analisa alternativas, em relao aos seus aspectos positivos e
negativos, de hipteses muito semelhantes, que tem em comum o fato de que todas elas, na
prtica, representaro grandes alteraes para os sistemas ecolgicos da Baa do Ara: Aterro de
toda a Baa do Ara; Aterro de 85% da Baa do Ara mantendo um canal de acesso aos
pescadores: esta alternativa; Aterro de 80% da Baa do Ara com prolongamento do canal de
acesso aos pescadores at a praia do Ara e preservao do mangue; e Laje sobre 75% da Baa
do Ara, com preservao da ilhota de Pernambuco, manuteno de espelho dgua de acesso
aos pescadores at a praia do Ara e preservao do mangue.

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Ora, o descaso com o esprito da norma evidente.


Parte-se de duas premissas inaceitveis.
A primeira: No tem a sociedade o direito de conhecer os motivos, contraditar e
interferir na deciso fundamental, qual seja, de que forma deve o governo do estado atingir seu
plano de desenvolvimento do corredor de exportao.
O projeto escolhido, a ampliao do Porto de So Sebastio sobre a baa do
Araa, apoiado no Complexo Nova Tamoios, uma deciso tomada e imposta por poucos a toda a
sociedade. Evidentemente, a excluso da sociedade civil diretamente afetada do processo
decisrio implica em reao. No por outra razo, vive-se tamanha crise de representatividade.
Nesse sentido diversas foram as peties pblicas encaminhadas ao IBAMA com posicionamentos
contrrios ao projeto, somando quase 24 mil assinaturas, que foram sumariamente ignoradas46.
A segunda: basta que se d um cumprimento formal ao requisito legal.
Assim, toma-se a deciso fundamental, com a sociedade alheia a todo este
processo e, na infrutfera tentativa de evitar futuras nulidades, apresenta-se diminutas
variaes do projeto escolhido apenas para que no se alegue ausncia absoluta do
requisito legal.
Ora, h muito o Direito j no convive com esta viso meramente formalista.
Evidentemente, alternativas que implicam, todas elas, a ampliao do Porto de
So Sebastio avanando sobre a Baa do Araa no so verdadeiras alternativas.
Haveria que ser estudada e apresentada opes que implicassem a ampliao
ou construo do porto em outras regies, para adequada contraposio com a opo escolhida,
suas vantagens e desvantagens, sobretudo em razo da importncia ambiental da regio (vide
captulo A importncia scio ecolgica do Litoral Norte do Estado de So Paulo) e sua
pequena capacidade de suporte de crescimento populacional (vide captulo estudos cumulativos
e sinrgicos).

46

Sos o Litoral Norte de SP pede socorro: petio fsica que solicita ao IBAMA que suspenda o procedimento de
licenciamento e que atenda as recomendaes do Ministrio Pblico
Movimento Litoral Norte Paulista Vivo: www.change.org/litoralsemnortenao: petio que solicita ao IBAMA que suspenda o
procedimento de licenciamento e que atenda as recomendaes do Ministrio Pblico
Abaixo-assinado SOS Urgente Litoral Norte de So Paulo pede Socorro:
www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=portonao : petio pblica contra a ampliao do porto de So Sebastio e contra o
desmatamento da serra do mar para implantao de rodovias e contornos do litoral norte de so paulo
Petio Pblica Contra a ampliao do Porto de So Sebastio: www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/4705: Contra
a ampliao do Porto com containers e o aterramento do mangue do Araa
Abaixo Assinado Contorno Sul: www.activism.com/pt_BR/peticao/abaixo-assinado-dos-moradores-de-sao-sebastiao/38416:
petio contra o projeto apresentado do traado do Contorno Sul
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Veja que, mesmo numa anlise que j pressuponha a ampliao da capacidade


porturia em So Sebastio, NO H NENHUMA OPO ESTUDADA QUE NO IMPLIQUE EM
AVANO SOBRE A BAA DO ARAA, regio de importncia ecolgica e cientfica inegveis,
tanto que mereceu o aporte de cerca de R$ 3.000.000,00 (trs milhes de reais) para um estudo
que sequer est finalizado47. Nesse sentido, apontam os tcnicos do CAEX-MP/SP:
No h entre as alternativas cogitadas vrias outras hipteses de layouts e
implantaes que realmente representassem alterao mais relevante da ordem da magnitude do
projeto e de suas consequncias, visando minimizar impactos negativos e se compatibilizar com a
preservao da Baia do Ara, a exemplo da implantao da ampliao do porto com ocupao
total ou de parte das reas que j foram objeto de aterros hidrulicos, hipteses que no foram
sequer levantadas e analisadas.
Alm disso, deixa de explorar hipteses de alternativas de localizao de rea
ou reas retroporturias.
O mesmo se diga em relao s alternativas tecnolgicas.
Considerado o cenrio do projeto do corredor de exportao em sua
integralidade, seria de se esperar que a logstica de transporte contemplasse alguma alternativa
ampliao do sistema rodovirio, notoriamente mais caro, inseguro e poluidor que a alternativa
ferroviria.
Todavia, conforme bem colocaram os tcnicos subscritores do parecer do MP/SP,
direcionando os seus esforos para justificar positivamente o empreendimento, o captulo
referente anlise de alternativas faz a apologia da intermodalidade e multimodalidade, comete
falhas graves ao no apresentar e fundamentar, como uma das alternativas para as cargas
envolvidas no cenrio de ampliao do porto, a construo de uma ferrovia.
O art. 5, inciso I, da Resoluo CONAMA 01/86 tambm determina que se
contraponha opo eleita a hiptese de no execuo do projeto. No entanto, conforme se
depreende do Captulo 3 do EIA-RIMA do PIPC, a abordagem da alternativa de no execuo
confunde-se com a prpria defesa e justificativa do empreendimento proposto, de forma
que a hiptese de no execuo, na prtica, no sequer considerada.
E impressionante como o rgo licenciador aquiesce com este evidente
desrespeito com o esprito da norma que deveria proteger.

47

A questo ser aprofundada no tpico seguinte


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Consequncia disso o total afastamento da sociedade do processo decisrio e


grave comprometimento ao direito informao e a participao democrtica. Veja-se, a propsito,
contundente crtica extrada da tese de Ribeiro Teixeira:
De acordo com Merrow (2011), uma anlise de mais de 300 grandes projetos
de infraestrutura em vrios pases mostrou que 65% destes apresentaram falhas em alcanar seus
objetivos. Segundo Flyvbjerg e colaboradores (2003; 2009), os Megaprojetos fariam parte de um
coquetel insalubre de vrios bilhes de dlares, envolvendo custos subestimados, receitas
superestimadas, impactos ambientais subdimensionados e efeitos de desenvolvimento econmico
supervalorizados. Esse modelo se replicaria, em maior ou menor escala pelo mundo, se apoiando
num processo de desinformao do parlamento, do pblico e da mdia com o objetivo de
ter os projetos aprovados e desenvolvidos (DOC. 05).
Contra esta desinformao, contudo, j h o instrumento de defesa apropriado:
o licenciamento e sua exigncia de efetivas anlises locacionais, modais e tecnolgicas. Basta,
agora, que a ele se d a devida importncia, a partir dos valores que o informam.
Em suma, de se exigir o cumprimento dos requisitos do licenciamento para
alm do plano meramente formal, suspendendo-se o licenciamento at de fato venham aos autos
verdadeiras anlises de alternativas locacionais, modais e tecnolgicas, bem como a contraposio
com a hiptese de no execuo.

3.4.5 - AQUIESCNCIA COM A POSSIBILIDADE DE OCORRNCIA DE SRIO E IRREVERSVEL DANO NA BAA DO


ARAA, EM VIOLAO AO QUE DISPEM O ART. 8, 2 DA LEI N 12.651/2012;

ART.

3, INCISO X, DA

RESOLUO CONAMA N 303/2002.

A Baa do Ara rea de Preservao Permanente e integra o Patrimnio


Nacional nos termos do j mencionado artigo 225, 4, CF e artigo 4, VII, da Lei n. 12.651/12 Novo Cdigo Florestal. Abriga ambientes caractersticos de manguezal, cuja relevncia da
proteo expressa no Cdigo Florestal (art. 8 2 48 ). Em razo disso, as j excepcionais
situaes que autorizam interveno em rea de Preservao Permanente so, no caso
dos manguezais, ainda mais restritas.

48

Art. 8. 3 A interveno ou a supresso de vegetao nativa em rea de Preservao Permanente de que tratam os
incisos VI e VII do caput do art. 4o poder ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a funo ecolgica do manguezal
esteja comprometida, para execuo de obras habitacionais e de urbanizao, inseridas em projetos de regularizao fundiria
de interesse social, em reas urbanas consolidadas ocupadas por populao de baixa renda.
85
MPF: Avenida 9 de Julho, n 765, 5 andar - Jardim Apolo SJ Campos/SP CEP: 12243-000
MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Observe-se, neste sentido, que o Cdigo Florestal autoriza, excepcionalmente, a


interveno em APP para fins de utilidade pblica, interesse social ou de baixo impacto ambiental
(art. 8). No entanto, quando esta rea for de restinga ou manguezais onde a funo
ecolgica esteja comprometida como o caso da Baa do Ara as hipteses
autorizadoras

de

interveno

ou

supresso

de

vegetao

nativa

so,

expressa

exclusivamente, para fins de obras habitacionais e de urbanizao, inseridas em projetos de


regularizao fundiria de interesse social, em reas urbanas consolidadas ocupadas por
populao de baixa renda 49.

Ora, clara a inteno da legislao - que, registre-se, foi aprovada em momento de


relativizao da proteo de certos bens ambientais para garantia do crescimento econmico em proteger

de forma mais especial os ecossistemas de elevada importncia, dentre os quais os manguezais, e


que estejam por alguma razo vulnerveis, como o caso do Ara.
Nestes casos, como visto, a relativizao da proteo somente se excepciona
mediante preenchimento, dentre outros, dos seguintes requisitos: 1. ter como finalidade a
regularizao fundiria; 2. fins habitacionais e de urbanizao; 3. ocupao consolidada; 4.
populao de baixa renda. Requisitos que no guardam qualquer relao com os fatos discutidos
na presente demanda, que tem por objeto a ampliao do Porto de So Sebastio para
escoamento da produo industrial do Vale do Paraba e regio de Campinas.
Desta forma, se a hiptese sob exame no se adequa norma excepcional que
permite a interveno em determinados casos, o empreendimento somente poder ser executado
caso a funo ecolgica do manguezal do Ara no esteja comprometida .
E esta resposta, at o momento, no se tem.
Evidente, portanto, que qualquer interveno na Baa do Ara dever ser
precedida de estudos aprofundados a fim de identificar o grau de vulnerabilidade e
comprometimento da sua funo ecolgica, garantindo-se, desta forma, a observncia aos
constitucionais e convencionais princpios que devem nortear a conduta administrativa e
interpretao da legislao ambiental.
Estes estudos devero ou deveriam integrar o EIA/RIMA apresentado, que
foi omisso quanto a estas informaes.

49

A interveno ou a supresso de vegetao nativa em rea de Preservao Permanente de que tratam os incisos VI e VII
do caput do art. 4o poder ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a funo ecolgica do manguezal esteja
comprometida, para execuo de obras habitacionais e de urbanizao, inseridas em projetos de regularizao fundiria de
interesse social, em reas urbanas consolidadas ocupadas por populao de baixa renda.
86
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A afirmao feita por um grupo de pesquisadores de diferentes instituies de


ensino, multidisciplinar e independente, com fomento da Fundao de Amparo Pesquisa do
Estado de So Paulo FAPESP. Segundo estes cientistas, o EIA no fornece base tcnica para
avaliar a viabilidade

ambiental

do empreendimento nem para

discutir medidas

mitigatrias e compensatrias, tanto em termos qualitativos quanto em termos


quantitativos, com a recomendao, ao final, de que o empreendedor complemente os estudos
de forma a subsidiar adequadamente a tomada de deciso pela sociedade, fazendo-se, para tanto,
necessrio (DOC. 17):
1) Realizar um estudo dos servios ecossistmicos prestados por esta regio e
dos impactos qualitativos e quantitativos (externalidades) que o empreendimento causar neles; e
2)

Complementar

os

estudos

realizados

de

forma

apresentar

uma

caracterizao mais fiel da rea e uma previso mais precisa dos impactos ambientais.
Em razo destas concluses, esta equipe de pesquisadores deu incio
avaliao que entendeu adequada em 2012 e apresentou os estudos julgados necessrios
para uma caracterizao adequada e precisa da Baa do Ara, incluindo aspectos fsicos,
biticos e socioeconmicos, ressaltando que as consequncias das alteraes na estrutura das
comunidades e no funcionamento dos ecossistemas costeiros ainda so pouco conhecidas.

Por fim, a equipe acrescentou que o projeto permitir uma qualificao da


discusso sobre a importncia da regio e sobre os impactos deste empreendimento, concluindo
que sem este tipo de informao a AVALIAO DA VIABILIDADE AMBIENTAL DO
EMPREENDIMENTO FICAR COMPLETAMENTE PREJUDICADA.
Conforme os estudos desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores ligado
FAPESP, os manguezais so conhecidos como ecossistemas vitais para vida marinha;
nesse ambiente que diversas espcies se reproduzem, se alimentam e buscam abrigo, e onde so
gerados bens e servios para a sociedade. O manguezal desempenha, pois, papel de
singularssima importncia ambiental comprovadamente aferida por infindveis estudos, projetos e
pesquisas cientficas.
Ainda, consoante estes estudos e outros que ainda esto sendo produzidos
pelos pesquisadores ligados s instituies de ensino e pesquisa citadas, o Litoral Norte do Estado
de So Paulo possui poucas reas de manguezais, e apenas 1% encontra-se no Municpio de So
Sebastio, localizadas principalmente no interior de baas, como a Baa do Ara, que abriga
alta diversidade biolgica, encerrando um GENUNO LABORATRIO A CU ABERTO e um
IMPORTANTE REDUTO DE CATADORES DE MOLUSCOS E PESCADORES ARTESANAIS.

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A equipe de pesquisa vai alm.

Segundo informam, o Ara reconhecido como patrimnio cientfico por ser


a rea costeira mais bem estudada do Brasil e a que possibilitou, em funo de sua diversidade,
parte do desenvolvimento cientfico na rea de cincias do mar 50 . Ainda de acordo com os
pesquisadores, a variedade de habitats e microhabitats faz com que o Ara possua uma alta
biodiversidade, evidenciada pela descoberta constante de novas espcies51, fato que reafirma a
peculiaridade ambiental e excepcional importncia cientfica em nvel local, nacional e mundial da
Baa do Araa. Tanto assim que neste local esto os laboratrios do Centro Biologia Marinha da
Universidade de So Paulo CEBIMAR-USP,

onde so desenvolvidas inmeras pesquisas que

orientam aes em todo o territrio nacional.

50

H registros de estudos realizados desde 1950, que somam 126 artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras,
141 trabalhos em eventos, 4 captulos de livros e 68 ttulos de teses, dissertaes, monografias, alm de vrios
textos de divulgao em revistas e jornais.
51
Foram registradas no local 732 espcies apenas da macrofauna, das quais 34 (~5%) so novas para a cincia;
88
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Alm da importncia cientfica, o Ara tambm possui uma incomparvel


relevncia passada e futura para o ensino de cincias do mar, tanto formal quanto informal, dada
a facilidade de acesso, alta diversidade biolgica, complexidade de habitats e presena de
comunidades locais.
Neste sentido, o Ncleo de Apoio Pesquisa em Patrimnio Geolgico e
Geoturismo GeoHereditas, da USP, vem desenvolvendo pesquisas sobre o Patrimnio Geolgico e
Geoconservao do Litoral Norte do Estado de So Paulo. Segundo a pesquisadora Maria da Glria
Motta Garcia, do Instituto de Geocincias/USP, a partir de critrios distintos, pode-se determinar
a relevncia de um determinado elemento como Patrimnio Geolgico, definido como qualquer
tipo de material ou recurso geolgicos que merecem ser conservados devido sua importncia
em relao histria geolgica de uma regio. O conjunto destes elementos da geodiversidade
formam um Geosstio (DOC. 19).
Atualmente, o ncleo acima mencionado est inventariando geosstios a partir
de critrios de relevncia cientfica, j tendo sido identificados mais 30 geosstos objeto de
dissertaes e uma tese, um dos quais a Ponta do Ara, em So Sebastio (DOC. 19), o que
ensejou a recente possibilidade de incluso da Ponta do Ara no Cadastro Nacional dos Stios
Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil SIGEP, ligada ao Servio Geolgico do Brasil CPRM.
Ainda no que se refere importncia geolgica da Ponta do Ara, cabe o
registro de que est em curso o projeto Cincia sem Fronteiras, para Inventrio do Patrimnio
Geolgico Paulista, com o apoio do Conselho Estadual de Monumentos Geolgicos ConGeo,
ligado Secretaria do Meio Ambiente, e a partir do apoio de pesquisadores de diversas instituies
de pesquisa do Estado esto sendo definidos relevantes geosstios do estado, sendo a Ponta do
Ara um potencial local tambm a ser includo.
Todas

estas

consideraes

foram

levadas

pelo

Ministrio

Pblico

ao

conhecimento do IBAMA que, por sua vez, limitou-se a afirmar que entende a importncia da
preservao e valorizao dos geosstios como patrimnio geolgico brasileiro, mas que em
relao Ponta do Ara, no h qualquer proposta aprovada nem sugesto na lista geral de
geosstios publicada pela Comisso Brasileira de Sdios Geolgicos e Paleobiolgicos (SIGEP),
desconsiderando todas as informaes colhidas no meio acadmico e que instruram a
recomendao encaminhada ao IBAMA.
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A demonstrar ainda mais a fragilidade nos argumentos apresentados pela


autarquia federal na tentativa de justificar a desconsiderao deste patrimnio geolgico nos
estudos, o IBAMA informa, apenas, que a falta de uma legislao especfica dificulta a adoo de
medidas para o gerenciamento e preservao desses ambientes (DOC. 04).
Ora, sobram normas a fundamentar a necessidade de cautela no trato de bens
dessa natureza, e no se acredita que o IBAMA, autarquia responsvel pela proteo ambiental,
no encontre fundamentos jurdicos para exigir do empreendedor aprofundamento nos estudos
quanto a isso.
J seria o suficiente a atestar a importncia e relevncia de maior cautela no
trato ambiental com esse ecossistema. Mas no s. No bastasse toda esta importncia cientfica
e ecolgica strito sensu, h que se lembrar, sempre, que o meio ambiente se compe no apenas
de recursos naturais,

mas, tambm, antrpicos, humanos. Da porque a viabilidade e

sustentabilidade do empreendimento devem ser analisadas no apenas do ponto de vista


econmico e do meio ambiente natural. O empreendimento deve ser sustentvel e vivel,
tambm, sob o ponto de vista social.
Neste aspecto, merece destaque a informao do Prof. Dr. Alexander Turra, do
Laboratrio de Manejo, Ecologia e Conservao Marinha do Departamento de Oceanografia
Biolgica do Instituto Oceanogrfico da Universidade de So Paulo USP, a respeito da proposta
alternativa ao aterramento da Baa do Ara constante do EIA/RIMA: a construo de plataforma
sobre pilotis na Baa do Ara (DOC. 21).
Segundo ele, os nutrientes que entram na Baa pelo Crrego Me Isabel e
outros afluentes so processados rapidamente pelo fitoplncton; este processo reflete um servio
ecossistmico de "depurao de efluentes" totalmente dependente da incidncia de luz
solar, de forma que com a construo da laje para instalao do empreendimento uma grande
parte da baa ficar sombreada, comprometendo totalmente este processo, pois a matria
orgnica que entrar na baa no ser processada, acumulando-se no fundo em funo da
diminuio do hidrodinamismo por causa dos pilotis que esto previstos. Este material, segundo
ele, ser consumido por bactrias que, em situao de anoxia (ausncia de oxignio), realizaro
um processo de fermentao anaerbia que tem como produto o metano e gs carbnico
(gases estufa) alm de amnia, sulfetos e fosfatos que ficam na gua do mar.
E destaca o impacto que sequer foi mencionado nos estudos apresentados pelo
empreendedor:

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Este cenrio remete a uma situao crtica de sade pblica com:


1. Emisso de gases de efeito estufa;
2. Liberao de odores que podem comprometer a ocupao nos arredores;
3. Liberao de gases que podem levar risco de exploses e contaminao da
populao.
Diante destes riscos, a concluso do pesquisador no sentido de que no se
pode discutir o licenciamento do porto52 sem sanear completamente os afluentes que
aportam matria orgnica exgena para a Baa, incluindo o Emissrio do Ara, no
havendo, segundo ele, nos documentos apresentados no procedimento de licenciamento, sequer
meno deste grave impacto negativo para a rea de influncia direta e indireta do
empreendimento (DOC. 20).
H mais.
Os impactos no meio social no se restringem ao risco sade pblica.
Observe-se, quanto a isto, que a dinmica de todo o ecossistema que constitui a Baa do Ara
ser alterada, seja a partir do aterro, seja a partir da construo de laje sobre pilotis. E h
inmeras pessoas que vivem dos recursos naturais fornecidos por este ecossistema, dentre os
quais se destacam os catadores de moluscos e pescadores artesanais.
A este respeito, a concluso dos tcnicos do Ministrio Pblico do Estado de So
Paulo CAEX, firme e clara no sentido de que o impacto ambiental na rea da Baa do Ara,
com o recobrimento de lajes pr-moldadas de concreto para a formao de um nico piso, ser
considervel porque impedir a exposio da coluna dgua aos raios solares afetando
sobremaneira a flora e a fauna aqutica, o que, segundo eles, vai afetar a vida e o
sustento dos pescadores que vivem da pesca artesanal na Baa do Ara;
Tamanha a relevncia socioambiental da regio que o prprio IBAMA exigiu do
empreendedor que complementasse os estudos j apresentados a fim de quantificar e analisar, a
partir de novo levantamento de campo, a utilizao da ADA como rea de coleta, pesca e
recreao, alm de ponto de fundeio de embarcaes pesqueiras (anlise do ibama s
complementaes do empreendedor).
Para atender demanda da autarquia ambiental, o empreendedor fez uso, no
levantamento requerido, de um universo amostral grande, considerando pescadores no apenas
da Baa do Ara, mas tambm de Ilhabela, o que segundo pesquisadores da USP, em documento
que analisou as complementaes apresentadas pelo empreendedor (DOC. 21), leva a uma

52

nos moldes em que apresentado no procedimento em curso, com construo da laje sobre pilotis
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subestimativa da importncia da Baa do Ara para as atividades acima descritas. E explica:


Para a escala espacial do Canal do So Sebastio os dados apresentados so compatveis, mas
para o universo dos pescadores das imediaes da Baa do Ara, no. Embora o nmero de
pescadores que usa o Ara seja relativamente menor, a importncia da rea para cada um deles
muito grande.
Alm disso, o uso da Baa do Ara como ponto de fundeio e/ou atracao de
embarcaes (incluindo canoas de praias distantes de Ilhabela) no foi apresentado pois o
universo amostral no contemplou estes pescadores.
As informaes apresentadas pelo empreendedor, portanto, so insuficientes
tambm quanto aos impactos na comundiade de pescadores e coletores artesanais da Baa do
Ara, sendo imprescindvel a sua complementao para permitir uma melhor aferio das
medidas mitigatrias propostas pelo empreendedor.
Registre-se, neste aspecto, que o projeto de pesquisa da FAPESP apresentou,
no ltimo relatrio, informaes no sentido de que esses estudos, complementados por
informaes sobre a rede sociotcnica (conjunto de atores e suas relaes) e sobre os fluxos de
energia e matria na Baa do Ara esto permitindo a construo de um modelo com as diversas
redes sociais, como a rede de pescadores, rede de instituies com interesse especfico sobre a
utilizao da baa e rede de pesquisadores, e que este modelo de importncia fundamental
tanto para a valorao dos servios do Ara, como para a identificao de atores para gesto
ambiental (DOC. 18).
At o momento, segundo informa a Professora Ceclia Amaral, coordenadora do
projeto, os recursos pesqueiros identificados foram reconhecidos pela comunidade como um
servio ecossistmico, fato que, considerados os efeitos negativos potenciais a esse e outros
servios identificados, resultantes das transformaes que a rea vem sofrendo e que poder
sofrer com a ampliao do porto, torna indispensvel que esta infromao seja levada para as
oficinas de planejamento participativo para indicar que tipo de gesto a comunidade deseja
realizar na Baa do Ara (DOC. 18).
No h, desta forma, como ignorar a presena de pescadores que usam a Baa
do Ara como local de pesca e o impacto direto que sofrero com a implantao do
empreendimento. Menos ainda se pode ignorar o fato de que, diante dos impactos decorrentes de
eventual cobertura do manguezal na atividade de pesca artesanal que exercem, ESTES
PESCADORES TENHAM QUE SE DESLOCAR PARA NOVAS REAS DE PESCA OU QUE
BUSCAR OUTRAS ATIVIDADES PRODUTIVAS, tendo em vista que os locais de atracao das
embarcaes de alguns pescadores tradicionais esto inseridos na ADA pela ampliao do porto,
mais precisamente na praia do Deodato, conforme os peritos do CAEX, que concluem que esta
situao impor a estes pescadores a busca por novos locais de atracao (DOC. 8).
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Uma das inmeras obrigaes impostas ao empreendedor e ao rgo


licenciador diante da existncia destas comunidades a insero de todos os seus membros no
processo de discusso e deliberao sobre o empreendimento. No h, por fora convencional,
como manter alheias ao processo de discusso e tomada de decises as comunidades afetadas
pelo empreendimento, conforme dispe a Conveno 169 da OIT, tratado internacional de direitos
humanos do qual o Brasil signatrio53.
Como decorrncia lgica desta obrigao, tem-se que O diagnstico do meio
socioeconmico parte integrante do EIA/RIMA, e que o EIA no pode ser submetido
s audincias pblicas sem o completo diagnstico dos meios socioeconmico, fsico e
bitico, previsto na Resoluo n 01/1986 do CONAMA, bem como, por fim, que o RIMA
deve ser sempre elaborado em linguagem acessvel e compreensvel por toda por toda a
populao a que se destina, conforme entendimento sedimentado pela Sexta Cmara de
Coordenao e Reviso do Ministrio Pblico Federal, que atua na defesa e garantia dos direitos
dos povos e comunidades tradicionais (DOC. 07).
Pois bem. Dadas todas estas consideraes acima, o grupo de pesquisa concluiu
que O ARA UMA REA SINGULAR E INSUBSTITUVEL, NO LITORAL DE SO
SEBASTIO, DE SO PAULO E DO BRASIL, QUE NO DEVE SER ELIMINADA, MAS SIM
RECUPERADA, e que Intervenes e impactos de qualquer natureza devem ser minimizados e
atividades compatveis com a real vocao da Baa do Ara e do Canal de So Sebastio como
um todo sejam pensadas e implementadas, j que a implantao do projeto nos termos
propostos tende a representar o comprometimento definitivo da Baa do Ara!
Tem-se,

pois,

ainda

que

superficialmente,

mas

desde

atestada,

singularidade da Baa do Ara e a fragilidade que este ecossistema ostenta no presente momento,
o que, resgatando-se a discusso inicial quanto possibilidade de interveno em reas de
preservao cuja funo ecolgica possa estar comprometida, INVIABILIZA, AO MENOS POR ORA,
E AT QUE SEJA ATESTADA POR MEIO DE ESTUDOS CIENTFICOS A RECUPERAO DA FUNO
ECOLGICA DA BAA DO ARA, QUALQUER INTERVENO NA SUA DINMICA.
53

Nos rmos do artigo 5, ao aplicar as disposies da Conveno, os governos devero consultar os povos interessados,
mediante procedimentos apropriados e, particularmente, atravs de suas instituies representativas, cada vez que sejam
previstas medidas legislativas ou administrativas suscetveis de afet-los diretamente, bem como estabelecer os meios
atravs dos quais os povos interessados possam participar livremente, pelo menos na mesma medida que outros setores da
populao e em todos os nveis, na adoo de decises em instituies efetivas ou organismos administrativos e de outra
natureza responsveis pelas polticas e programas que lhes sejam concernentes, devendo as consultas realizadas na aplicao
da Conveno ser efetuadas com boa f e de maneira apropriada s circunstncias, com o objetivo de se chegar a um acordo
e conseguir o consentimento acerca das medidas propostas (O Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo n. 143,
de 20/6/2002, aprovou o texto da Conveno no 169 da Organizao Internacional do Trabalho - OIT sobre Povos Indgenas e
Tribais, adotada em Genebra, em 27/06/1989, e o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificao junto ao Diretor
Executivo da OIT em 25/7/2002, tendo referida Conveno entrado em vigor internacional em 5/9/1991, e, para o Brasil, em
25/7/2003, nos termos do artigo 38 da mencionada Conveno, que foi, por fim, promulgada pela Presidncia da Repblica
por meio do Decreto 5.051, de 19/4/2004, devendo, nos termos do decreto que a promulgou, ser executada e cumprida to
inteiramente como nela se contm, de forma que no h nenhuma dvida sobre a vinculao do Estado Brasileiro aos termos
da Conveno 169, em especial vista do disposto no artigo 5, 2 da Constituio da Repblica, que dispe que os direitos e
garantias expressos na Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte.
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Ao contrrio. A recomendao do grupo de pesquisa no sentido de que


necessrio que o Estado implemente uma Unidade de Conservao nessa rea e que
estabelea seu plano de manejo (...) ouvindo cientistas e ambientalistas para conservao e
recuperao da Baa do Ara e de seu manguezal, bem como do seu entorno e adote outrs
medidas para diagnstico, proteo, recuperao e educao ambiental sobre este ecossistema.
E alegao, recorrente, de que o ecossistema j est degradado no pode, por
bvio, ser utilizada para avalizar qualquer supresso deste ecossistema na regio. Ao contrrio,
dever servir de fundamento obrigao do Poder Pblico de recuperar o dano causado pela sua
omisso no trato com bem de tamanha relevncia ambiental e impedir novas agresses, como
bem destaca o aprofundado, completo e crtico parecer dos peritos do Centro de Apoio Execuo
do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, segundo o qual a atual situao de degradao
ambiental registrada no Ara decorrente de omisses e falta de planejamento de
diversos rgos pblicos.
H de se considerar, ainda no que se refere possibilidade de recuperao, que
embora a Baa do Ara venha sofrendo impactos dos mais diversos tipos e com as mais
variadas magnitudes, a regio apresenta uma significativa vitalidade, revelando sua
particular biodiversidade e alta produtividade, e que tcnicas de recuperao ambiental tm
sido

aprimoradas

recentemente,

inclusive

com

exemplos

concretos

de

recuperao

de

manguezais.
Como se v, so evidentes e de grandes propores os riscos ambientais
inerentes a obras da magnitude da que se pretende levar a efeito para a ampliao do Porto
de So Sebastio/SP, em especial no que se refere ao ecossistema da Baa do Ara, que ter
75% da sua baia ocupada pelo projeto atual, grande parte por uma laje de concreto que
causar a alterao quase que completa do ecossistema.
Todos estes aspectos, no entanto, ou no foram abordados, ou o foram de
forma insuficiente nos estudos apresentados pelo empreendedor e nos quais se fundamentou a
autarquia r para a emisso da Licena cuja anulao se pretende com a presente demanda.
Ou seja, no obstante a concluso de um grupo que rene quase 120
pesquisadores e cientistas no sentido de que O EIA apresenta uma viso parcial, no
evidenciando a importncia da Baa do Ara em seus aspectos cultural, social,
econmico, ambiental, cientfico e educacional, e que A falta de uma abordagem
holstica e imparcial, baseada na anlise de servios ecossistmicos e visando
identificao das externalidades do empreendimento compromete a anlise de sua
viabilidade, o IBAMA atestou a viabilidade ambiental do empreendimento.

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No bastasse isso, mesmo aps alertado pelo Ministrio Pblico por meio da
recomendao j mencionada sobre a importncia da Baa do Ara e dos estudos nela em curso,
o IBAMA ratificou o ato e informou o no acatamento da recomendao, limitando-se a afirmar
que o empreendedor apresentou os estudos necessrio e os demais rgo tiveram oportunidade
de se manifestar e apresentar suas consideraes sobre o EIA/RIMA no momento (DOC. 04).
Ora. Muito embora o IBAMA alegue que houve momento oportuno para o envio
de contribuies ao EIA, a vasta quantidade de informaes trazidas na presente e que foram
absolutamente desconsideradas pelo rgo licenciador no deixam dvidas de que o cumprimento
da legislao ambiental se deu, apenas, em seu aspecto formal.
Observe-se, neste sentido, e no que se refere aos impactos na Baa do Ara,
que sequer h possibilidade do IBAMA ter acesso a todas as informaes a permitir anlise segura
a respeito da viabilidade do empreendimento, j que o projeto de pesquisa que as rene sequer foi
concludo.
Se anlise de viabilidade do empreendimento est comprometida em razo da
insuficincia dos estudos, conforme exaustivamente demonstrado, e se a licena prvia, baseada
nestes estudos viciados, tem por objeto atestar a viabilidade do empreendimento, tem-se por
invlido o fundamento de validade da prpria licena prvia o EIA porquanto sua finalidade,
vista das omisses, no foi atingida.
A regularizao desta situao dar-se, nica e exclusivamente, com a
complementao dos estudos para sanar as omisses nele constantes, dentre as quais a ausncia
de estudo aprofundado sobre a Baa do Ara. Assim, e to somente assim, o procedimento de
licenciamento poder ser retomado, compreendido e utilizado como instrumento da poltica
nacional do meio ambiente, nos termos em que foi concebido, cumprindo-se, no apenas o
aspecto formal, mas principalmente material do devido processo legal administrativo.
bem verdade que cabe ao empreendedor a realizao de tais estudos.
Entretanto, tamanha a relevncia socioambiental da Baa do Ara que est em
curso criteriosa pesquisa que rene mais de uma centena de pesquisadores a respeito da Baa do
Ara.
Este grupo, aps estudos iniciais, concluiu pela necessidade de realizao de
estudos com foco especfico nesse ecossistema e elaborou, por cerca de dois anos e submeteu
aprovao da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), no mbito do
Programa BIOTA, um projeto aprovado em 01/03/12 que tem como objetivo A COMPREENSO DA

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FUNO E DA RELEVNCIA SOCIAL, ECONMICA, ECOLGICA E AMBIENTAL DA BAA DO ARA,


INTITULADO Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical:
subsdios para gesto integrada, com o intuito de PROMOVER ANLISE CRTICA SOBRE O
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL DO PLANO INTEGRADO PORTO CIDADE PIPC, SO
SEBASTIO/SP, proposto pela Companhia Docas de So Sebastio, quanto sua qualificao para
subsidiar a anlise da viabilidade ambiental do empreendimento e a tomada de deciso pelos
rgos representativos da sociedade.
O referido projeto de pesquisa estrutura-se em 11 mdulos, estrategicamente
interconectados e interdependentes, e segundo os pesquisadores, a concepo do projeto segue
um processo novo no pas, ante a criao de um banco de dados para tomadores de deciso e
para a comunidade, em paralelo com os objetivos cientficos propostos, sendo que, AO FINAL, O
ESTUDO POSSIBILITAR AFERIR A IMPORTNCIA AMBIENTAL, ECONMICA E SOCIAL
DA REGIO DO ARA, bem como fornecer diversas outras informaes a subsidiar a atuao
da administrao na proteo do meio ambiente, em especial na exigncia do necessrio
garantia da sustentabilidade do empreendimento sob licenciamento.

Os resultados e a base de dados do estudo sero gerados ao longo do


desenvolvimento do projeto, durante os prximos quatro anos (2012/2016), de acordo com termo
de outorga, e, segundo o grupo de mais de uma centena de cientistas e pesquisadores,
QUALQUER TOMADA DE DECISO QUANTO A INTERVENES DE EMPREENDIMENTOS
NA REGIO, COMO A DO PLANO ATUAL DE AMPLIAO DO PORTO DE SO SEBASTIO,
NECESSARIAMENTE DEVER AGUARDAR OS RESULTADOS QUE SERO GERADOS PELO
REFERIDO PROJETO, que alm de possibilitar uma avaliao dos danos pretritos, () tem um
carter singular ao tambm permitir a qualificao da discusso sobre a proposta de ampliao do
porto.
Ser possvel, a partir das concluses da pesquisa, dentre outras coisas:

caracterizar a biodiversidade e a paisagem da regio;

diagnosticar a qualidade do ambiente e o uso que os componentes biolgicos e

humanos fazem da rea;

caracterizar as variaes ambientais e biolgicas ao longo do tempo e projees de

mudanas em longo prazo;

Estas informaes no constam do EIA apresentado pelo empreendedor em


nem poderiam, j que jamais foi realizado estudo desta profundidade sobre a rea . No entanto,
esto sendo produzidas por uma centena de cientistas e permitiro responder a questionamentos
esseneciais continuidade do empreendimento.
96
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E embora os estudos sejam, repita-se, de responsabilidade do empreendedor,


no caso presente ele sequer ter que custe-los ou encomend-los, j que uma fundao estatal o
est realizando COM VERBA DO PRPRIO ESTADO DE SO PAULO, por meio do projeto n.
2011/50317-5, cujo valor de aproximadamente 3 milhes de reais e envolve um sem nmero de
pesquisadores e instituies de ensino e pesquisa54.
Concludos estes estudos poder ser fielmente caracterizada a Baa do Ara e
identificado o grau de comprometimento de sua funo ecolgica para, ento, analisar-se se
possvel a interveno em seu ecossistema, nos termos do disposto no j mencionado artigo 8,
2 do Cdigo Florestal. Superada esta primeira etapa, resta, ainda, a avaliao da magnitude dos
impactos ambientais a fim de analisar a viabilidade socioambiental do empreendimento, ao menos
naquele local.
Imperioso que se aguarde a concluso desta pesquisa pblica e oficiealmente
reconhecida como importante pelo Estado de So Paulo. At mesmo porque no crvel que o
mesmo Estado que investe milhes em um projeto de pesquisa da magnitude do Projeto Biota je
que agora ocupa, tambm, o papel de empreendedor, o pretenda ver prejudicado por ser
interrompido de forma a impossibilitar a sua retomada ante a irreversibilidade dos danos causados
ao ecossistema objeto da pesquisa. Tal conduta, considerada a vultosa quantia investida, estaria
na linha limtrofe a qualific-la como improba, o que no se acredita e nem se poderia admitir
estar no rol de intenes e objetivos da administrao pblica estadual e federal.
Diante de todo o exposto neste item, tem-se que antes de qualquer
interveno

na

Baa

do

Ara

ainda que para fins de estudos preliminares do

empreendimento devem ser concludos os estudos desenvolvidos no projeto da FAPESP, a fim de


se aferir, com a segurana exigida por todas asa normas ambientais, nacionais e internacionais, a
importncia ambiental, econmica e social da regio, bem como se proceder segura

54

INSTITUIES ENVOLVIDAS: Nmero de pesquisadores doutores, contratados nas diferentes instituies envolvidas no

projeto:Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas IB/UNICAMP (3 pesquisadores); Museu de Zoologia,


Universidade Estadual de Campinas ZUEC/UNICAMP (1); Instituto Oceanogrfico, Universidade de So Paulo IOUSP (22);
Centro de Biologia Marinha, Universidade de So Paulo CEBIMar/USP (2); Instituto de Biocincias, Universidade de So Paulo
IB/USP (2); Museu de Zoologia, Universidade de So Paulo MZUSP (3); Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita
Filho UNESP (1); Universidade Federal de So Paulo UNIFESP (4); Universidade Federal do ABC UFABC (1); Universidade
Federal do Rio de Janeiro UFRJ (3) Universidade Federal do Paran UFPR (1); Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRN 2); Universidade Federal de So Carlos UFSCAR (1); Jardim Botnico do Rio de Janeiro JBRJ (1); Instituto de Pesca
(3); SOS Mata Atlntica (1) Universidades Estrangeiras (3)
APOIO FINANCEIRO: Auxilio Concedido pela FAPESP para realizao do projeto: aproximadamente R$ 3 milhes
Bolsas (Total de 47 bolsas, alcanando um valor aproximado de R$ 1,5 milhes por ano FAPESP (25 bolsas); Apoio, 08 bolsas
(Iniciao Cientfica IC; Treinamento Tcnico TT3); Ps-Graduao, 07 (Mestrado Ms; Doutorado Dr) Ps-Doutorado, 10
CNPq (16) Apoio, 2 (IC) Ps-Graduao, 14 (Ms; Dr) CAPES Ps-Graduao, 2 (Ms) FINEP Ps-Graduao, 4 (Ms) Outras
Bolsas Institucionais

97
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AVALIAO DOS IMPACTOS decorrentes da ampliao do Porto de So Sebastio na Baa


do Ara a fim de ANALISAR A PRPRIA VIABILIDADE DO EMPREENDIMENTO NAQUELE
LOCAL e, em caso afirmativo, ESTIMAR OS DANOS diretos e indiretos causados pela
interveno decorrente da sua implantao a fim de subsidiar a definio de aes
compensatrias compatveis com as externalidades ambientais do projeto, garantindo,
assim a materializao da constitucional garantia do devido processo administrativo
ambiental, atingindo-se a finalidade para a qual o instrumento foi constitudo.

4. CONCLUSO
A partir dos fundamentos de fato e de direito acima expostos, possvel
estabelecer as seguintes concluses:
1.

A caracterstica marcante do Litoral Norte, moldada no s fsica e juridi-

camente, de regio essencialmente constituda de reas com especial proteo ambiental.

2.

Historicamente, as tentativas de ampliao do complexo porturio foram

rejeitadas, diante da considerao das complexas peculiaridades regionais.


3.

No se exigiu do empreendedor, no procedimento de licenciamento em

anlise que demonstrasse no EIA/RIMA os impactos cumulativos e sinergticos, em desrespeito


no s ao art. 6, II, da Res. CONAMA 01/86, mas tambm aos princpios da precauo e preveno, de forma que a licena concedida deve ser suspensa para sua correo, conforme precedente

do STJ (AgRg na SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N 1.753 MG

(2013/0136370-5). Ministro FELIX FISCHER. CE - CORTE ESPECIAL. DJe 26/08/2013), e, ao final,


o ato administrativo ser declarado nulo em desobedincia ao princpio da legalidade.
4.

A ausncia da anlise de impactos cumulativos e sinrgicos ocasionou uma

equivocada avaliao sobre a interdependncia dos 13 mega empreendimentos e, por consequncia, insuficiente avaliao sobre, por exemplo: (a) a emisso de CO - desconsiderando o aumento da emisso em decorrncia do trnsito dos navios cargueiros de grande porte; (b) supresso de vegetao nativa errnea constatao da expressividade da supresso de vegetao,
pela desconsiderao dos impactos indiretos relacionados ao crescimento populacional, induo
de novas atividades de produo, tudo a aumentar a presso sobre a floresta; (c) acidentes ambientais tecnolgicos pois o aumento no trnsito de produtos perigosos na regio, via dutoviria, rodoviria ou martima, prevista nos 13 projetos em anlise, ser obrigatoriamente acompanhado de um aumento do risco de eventos com grave contaminao ambiental e, possivelmente,
com efeitos sobre as comunidades; (d) gerao de empregos no considerao dos impactos
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negativos posteriores instalao dos empreendimentos, conforme j ocorrido com outros empreendimentos realizados na regio, no contando, por consequncia, com um planejamento adequado; (e) uso e ocupao do solo que, sem a anlise dos movimentos demogrficos decorrentes
da instalao de grandes empreendimentos, continuar desordenada, conforme histrico da ocupao ocasionada pela prpria instalao do ponto entre as dcadas de 40 e 50; (f) capacidade
de suporte do Litoral Norte ausncia desta constatao, gerada pela no considerao da
presso dos empreendimentos sobre a ocupao desordenada do solo e a respectiva consequncia
gerada sobre as restries legais ambientais da regio, culminando com a no anlise sobre a real
capacidade de suporte e eventuais medidas mitigadoras e de planejamento, ou, qui, sobre eventual concluso sobre a inviabilidade do empreendimento; (g) guas - razes srias existem para
se questionar se a regio possui capacidade de abastecimento de gua para a populao projetada
para os prximos anos, e o estudo no cumulativo impede a compreenso deste problema, atualmente j vivido na Grande So Paulo.

5.

No h se falar em ausncia critrios procedimentais disposio do rgo

licenciador para exigir o estudo de impactos cumulativos e sinrgicos, vista os estudos j citados
na petio inicial e das diversas metodologias conhecidas, j utilizadas em produes cientficas.

6. Est cabalmente demonstrada a incorreta definio, no EIA, das reas de


influncias, direta e indireta, do empreendimento, vista que, quando da anlise dos impactos
positivos, adotou-se uma viso ampla e global, mas no tocante aos impactos negativos, a
abordagem foi pontual e restrita ao local do empreendimento, com consequente violao ao art.
5, inciso II, da Resoluo CONAMA 01/81, de modo a vulnerar o princpio da precauo,
sobretudo para correta avaliao de riscos.
7. Compromete a validade do licenciamento a ausncia de autorizao de
licenciamento ambiental do ICMBio ESEC Tupinambs e a desconsiderao dos estudos
complementares exigidos pelos gestores das Unidades de Conservao atingidas, com violao
no apenas ao disposto nos arts. 36, 3, da Lei 9985/00 e nos arts. 1 e 3, inciso II c.c. o
3 da Resoluo CONAMA n 428/10 mas, sobretudo, aos princpios da preveno e
precauo, impondo-se a invalidao da Licena Prvia concedida e a proibio de nova emisso
at que tais ilegalidades sejam sanadas.
8. Representa grave vcio a ausncia de demonstrao da compatibilidade do
projeto com os planos e programas governamentais, propostos e em implantao em sua rea de
influncia, em especial no que se refere ao Zoneamento Econmico Ecolgico, Planos Diretores dos
Municpios na AI, e Plano de Bacia da UGRHI do Litoral Norte, em violao ao que dispe o art.
5, inciso IV, da Resoluo CONAMA 01/86.

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9. Desatendeu-se a necessidade de demonstrao, no EIA, das alternativas


locacionais e tecnolgicas, pois no h nenhuma opo estudada que no implique em avano
sobre a Baa do Ara. No se demonstrou alternativas com diferenas minimamente consistentes
que permitissem um real cotejo entre elas, inclusive com a alternativa da no execuo, com
grave comprometimento ao direito informao e participao popular e, ainda, em
violao ao que dispe o art. 5, inciso I, da Resoluo CONAMA 01/86.
10. Evidenciou-se a ausncia de diagnstico a viabilizar a anlise dos impactos
na Baa do Ara, rea de preservao permanente e ecossistema de relevada importncia
ambiental, social e cientfica, e objeto de estudo financiado pelo prprio Estado de So Paulo, bem
como o grau de comprometimento da funo ecolgica da Baa, o que impede, ao menos por ora,
qualquer interveno nesta rea, nos termos do Cdigo Florestal (art. 8, 2).
Essas omisses maculam o ato administrativo no plano formal e material: (a)
vcio de forma (art. 2, b, c/c 1, b, da Lei n 4.717/65: seja pela omisso de informao
relevante, decorrente de inobservncia das formalidades indispensveis existncia e validade do
ato, pelas razes j apontados; (b) ilegalidade do objeto (art. 2, c, c/c 1, c, da Lei n
4.717/65 ): pois o resultado pretendido pelo rgo licenciador ser um empreendimento em
desrespeito s reas especialmente protegidas da regio, violando a legislao protetiva ambiental,
e em desconsiderao ao ditame constitucional do desenvolvimento sustentvel, ocasionando uma
previso

insuficiente

irrealista

das

medidas

mitigadoras

em

caso

da

viabilidade

do

empreendimento e, principalmente, a impossibilidade da constatao da prpria viabilidade do


empreendimento.
Conclui-se, pois, que o conjunto de projetos de infraestrutura incidentes
sobre a regio do Litoral Norte do Estado de So Paulo, incluindo aqueles especialmente focados
no setor de transportes (complexo porturio e obras virias), que se somar aos empreendimentos
existentes, em construo e previstos relacionados explorao e produo de petrleo e gs
(petrleo, gs e Offshore), como a prpria ampliao do Porto de So Sebastio, pe em risco os
atributos, caractersticas e fragilidades regionais, comprometendo a vocao historicamente
estabelecida para conservao, turismo e lazer e as perspectivas de desenvolvimento sustentvel
da regio.
Os projetos de ampliao do porto e dos demais empreendimentos devem se
compatibilizar, como um todo, com a capacidade de suporte ambiental regional e com a
preservao e manuteno dos atributos dos espaos territoriais especialmente protegidos
existentes na regio.

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As

apontadas

deficincias

materiais

formais

no

procedimento

de

licenciamento do projeto de ampliao do Porto de So Sebastio, seja no que se refere aos


aspectos relacionados avaliao da compatibilidade dos empreendimentos com instrumentos de
planejamento territorial, seja no tocante anlise de alternativas, definio de reas de influncia,
diagnsticos, avaliaes de impactos, entre outras omisses relevantes, levam inevitvel
subestimativa de efeitos negativos e prejudicam a previso adequada de medidas
mitigadoras e compensatrias do empreendimento, no atendendo, pois, aos requisitos
previstos na Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente nem na Resoluo CONAMA 01/86, dentre
outras e com grave violao aos princpios da precauo e preveno, e, como consequncia,
o comprometimento da validade de todo o procedimento de licenciamento ambiental do
Porto de So Sebastio.
5. LIMINAR
Presentes os requisitos para o provimento jurisdicional de urgncia, a
suspenso de todo o processo de licenciamento se impe. Contemporaneamente definida como
tutela antecipada no satisfativa, o provimento cautelar incidental se assenta em dois
pressupostos bsicos, a saber, fumus boni iuris e periculum in mora, representando uma
espcie da tutela de urgncia.
No h dvidas sobre o fumus boni iuris, requisito este que advm do direito
informao, dos princpios da preveno e precauo, e, enfim, da prpria disposio legislativa
deles decorrentes, ao prever (a) a obrigatoriedade da anlise de impactos cumulativos e sinrgicos
(ARTIGO 6, INC. II DA RESOLUO CONAMA 01/86), (b) a correta definio das reas de influncia,
com a consequente obteno de autorizao de licenciamento ambiental junto aos gestores das
Unidades de Conservao impactadas (ARTIGO 36,
II,

C.C.

DA

CAPUT E

DA

LEI 9.985/00

E ARTIGOS

3,

RESOLUO CONAMA 428/10), (c) a imprescindibilidade da anlise de

compatibilidade do projeto com os planos governamentais incidentes sobre a rea de influncia,


em especial com o ZEE, Plano Diretor, e Plano de Bacias Hidrogrficas (ART. 5,

INCISO

IV,

DA

RESOLUO CONAMA 01/86), a demonstrao efetiva das alternativas locacionais e tecnolgicas


(ART. 5, I,

DA

RESOLUO CONAMA 01/86), a proteo de mangue cuja funo ecolgica esteja

comprometida (ART. 8, 2
N

DA

LEI

12.651/2012;

ART.

3,

INCISO

X,

DA

RESOLUO CONAMA

303/2002).
Mais do que fumaa, h liquidez na exigncia normativa da anlise segura e

contextualizada para o empreendimento, o que, fosse respeitado, traria baila as discusses e


anlises adequadas de todos os pontos debatidos nesta ao, dentre os quais se destaca: (a) a
importncia da Baa do

Ara;

(b)

a considerao

da viabilidade

ou inviabilidade

do

empreendimento, tendo como mosaico a real possibilidade de suporte do Litoral Norte, aqui

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includa questes como, por exemplo, do abastecimento de gua; (c) aspectos socioambientais,
dos quais decorrem no s uma ocupao desordenada e irracional do solo, mas srios problemas
de sade e segurana pblica; (d) deficincia na informao democrtica sociedade e prejuzo
ao direito de participao; (e) avaliao incorreta dos impactos diretos e indiretos; (f) incorreo
grosseira na definio das reas de influncias, e tantos outros vcios j apontados.
Todos esses pontos so decorrentes de uma s postura: a superficialidade da
anlise ambiental dentro do processo de licenciamento especfico aqui combatido. Fossem
realmente obedecidas as posturas exigidas pela legislao de regncia, tudo o quanto aventado
nesta ao civil pblica seria posto em pauta de discusso e gesto no licenciamento do
empreendimento, ao final do qual o rgo licenciador, a sim, poderia tomar sua deciso
administrativa.
Afinal, o meio ambiente um direito transindividual e a anlise de sua
interveno deve obedecer a lgica de sua prpria natureza: considerando todas as suas
peculiaridades e conflitos nsitos, deixando-as transparecer no EIA/RIMA, para que sociedade
exera seu dever constitucional de proteo ao meio ambiente.
Enfim, os vcios materiais e formais do procedimento de licenciamento
so patentes, o que muito bem caracteriza o fumus boni iuris.
De outro lado, por consequncia bvia dos princpios da precauo e preveno,
que materializam o periculum in mora, fcil se concluir pela necessidade de suspenso de todo
o procedimento de licenciamento.
A continuidade do empreendimento, ainda em que suas fases iniciais, durante o
trmite desta ao, ao final da qual dever ser reconhecida a nulidade da licena concedida,
poder ocasionar a perda do objeto principal: a proteo do meio ambiente e a garantia do
desenvolvimento sustentvel.
Neste passo, importante notar o contexto de incerteza cientfica dos impactos
do empreendimento, em decorrncia das falhas no processo de licenciamento e da insuficincia do
EIA/RIMA. Falhas foram apontadas, as quais no restringiram suas consequncias ao
mbito jurdico, possuindo carter translcido de multidisciplinariedade, na qual se
assentam todos os eixos de do meio ambiente, a saber, preservao ambiental, com
equidade social e desenvolvimento econmico, tudo a materializar o desenvolvimento
sustentvel.

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Alm disso, ainda que no se tivesse a incerteza cientfica, o mero risco do


dano, que tambm avulta claramente dos elementos de convico presentes nos autos, j
autoriza o deferimento da medida de urgncia, tendo em mente os princpios da preveno, da
precauo e do desenvolvimento sustentvel, que orientam o Direito Ambiental, pois, conforme
dis Milar, a dvida milita em favor do meio ambiente:
Os objetivos do direito ambiental so fundamentalmente preventivos, ou seja,
sua ateno est voltada primordialmente para momento anterior da consumao do dano a
do mero risco

55

(...) a ausncia de certeza cientfica absoluta no deve servir de pretexto para


procrastinar a adoo de medidas efetivas visando a evitar a degradao do meio ambiente. Vale
dizer, a incerteza cientfica milita em favor do ambiente, carregando-se ao interessado o nus de
provar que as intervenes pretendidas no traro consequncias indesejadas ao meio
considerado. O motivo para a adoo de um posicionamento dessa natureza simples: em muitas
situaes, torna-se verdadeiramente imperativa a cessao de atividades potencialmente
degradadoras do meio ambiente, mesmo diante de controvrsias cientficas em relao aos seus
efeitos nocivos

56

.
Assim, a um s tempo, as deficincia do EIA/RIMA conduz a um cenrio

de vcuo de informao, o que invoca a aplicao do princpio da precauo. Ora, se no


se sabe ao certo sobre as consequncias advindas do empreendimento, pois o empreendedor e o
rgo ambiental no cumpriram com seus deveres de ao (vertente cominatria da precauo
j explorada), a suspenso das pretensas atividades deve acontecer.
De

outro

lado,

considerando-se

gama

de

documentos

tcnicos

multidisciplinares trazidos com a petio inicial, pode-se concluir pela instaurao de um cenrio
de incertezas jurdicas, ao ponto de, pelo princpio da preveno, necessrio ser a suspenso
do empreendimento.
E no se diga que a emisso de Licena Prvia parcial (fases 1 e 2 do projeto),
no tem o condo de gerar importante risco de grave leso ao meio ambiente.
A uma, porque os diagnsticos de impactos no esto divididos por fases. O
EIA/RIMA e o processo de licenciamento tratam do todo. No h qualquer informao que permita
aferir os impactos ao meio ambiente e ao meio social de forma segmentada, para cada fase do
projeto.

55
56

DIREITO DO AMBIENTE. 3Ed. Editora RT, 2004, p.144


Direito do Ambiente. 2 Ed., Editora RT, 2001, p. 119.

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E os vcios constatados sobre o todo, evidentemente, se estendem


sobre a parte.
No h, mesmo em relao as fases 1 e 2, estudos de impactos cumulativos,
correta definio da rea de influncia, anlise de compatibilidade com o programas e planos
governamentais e verdadeira anlise de alternativas locacionais.
Nesse sentido, que Alexandre Turra, do Instituto Oceanogrfico da USP, ao
comentar sobre as falhas do procedimento de licenciamento, sabiamente afirma: Embora as
etapas 1 e 2 tenham sido listadas, no h informaes mais detalhadas sobre as aes
impactantes (ou atividades/obras), como local e estratgia construtiva, imprescindveis
para

avaliao

dos

impactos

ambientais

da

viabilidade

ambiental

deste

empreendimento.
E segue em sua anlise: Ainda que parte do empreendimento inicialmente
proposto, as etapas 1 e 2, realizadas de forma independente, possuem impactos
especficos que precisam ser avaliados.
Ao final, conclui de forma categrica: COM ESTAS INFORMAES NO
POSSVEL AVALIAR PRECISAMENTE OS IMPACTOS NAS FASES DE INSTALAO E
OPERAO.
A duas, porque, consoante exaustivamente demonstrado no item 3.4.4 o local
em que ser implantado o empreendimento a Baa do Ara um ecossistema com funo
ecolgica j bastante comprometida, havendo, pois, risco concreto de que as fases 1 e 2,
sobretudo a segunda, que j implica em considervel avano sobre a Baa do Araa, possa causar
o comprometimento irreversvel a este to relevante remanescente de mangue.
Portanto, cristalino est que no h qualquer segurana no seguimento do
empreendimento, pois a par da desconsiderao dos impactos cumulativos e sinrgicos, da
incorreta delimitao das reas de influncias, houve tambm inequvoca displicncia na anlise
dos impactos das prprias fases 1 e 2.
A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia j teve oportunidade de
reconhecer a viabilidade e adequao de liminar concedidas nos termos da aqui solicitada,
conforme se v abaixo:

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AGRAVO REGIMENTAL NO PEDIDO DE SUSPENSO. GRAVE LESO ORDEM E


ECONOMIA PBLICAS. INEXISTNCIA. PEDIDO DE SUSPENSO INDEFERIDO.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - Consoante a legislao de regncia (v.g. Lei n. 8.437/1992 e n. 12.016/2009)
e a jurisprudncia deste Superior Tribunal e do c. Pretrio Excelso, somente
ser cabvel o pedido de suspenso quando a deciso proferida contra o Poder
Pblico puder provocar grave leso ordem, sade, segurana e
economia pblicas.
II - No se mostra vivel na presente senda o exame do acerto ou desacerto de
decisum, no podendo o incidente ser utilizado com o objetivo de discutir o
prprio mrito da ao principal, in casu, a questo da possibilidade ou no de
convalidao das licenas ambientais expedidas sem considerao dos efeitos
cumulativos ou sinrgicos entre os empreendimentos hidreltricos instalados
numa mesma regio da Bacia Hidrogrfica do Rio Santo Antnio.
III - Em relao alegao de grave leso ordem e economia pblicas,
denota-se que a preocupao contida na ao civil pblica analisada pelo Poder
Judicirio mineiro tem ndole ambiental, focada na necessidade de que a
implementao de poltica pblica consubstanciada no progresso energtico
estadual e nacional seja feita com a devida preservao do meio ambiente.
IV - Sem emitir juzo de mrito sobre questo acima exposta, diante da
dvida sobre validade dos procedimentos administrativos das licenas
ambientais pendentes ou j concedidas, bem como sobre as incertezas
a respeito dos impactos ambientais dos mencionados empreendimentos
em conjunto considerados, no visualizo, em ateno aos princpios
ambientais da precauo/preveno, grave leso s ordens pblica e
econmica do Estado de Minas Gerais.
V - Entendo que a suspenso das licenas ambientais at o julgamento
de mrito da ao civil pblica, prestigia, ao final, o interesse coletivo
lato sensu sade pblica.
Agravo regimental desprovido (STJ. AgRg na SUSPENSO DE LIMINAR E DE
SENTENA N 1.753 MG (2013/0136370-5). Ministro FELIX FISCHER. CE CORTE ESPECIAL. DJe 26/08/2013) grifo nosso.
Observa-se que no s a viabilidade da liminar foi reconhecida, como se afastou
o periculum in mora inverso, ao concluiu pela ausncia de grave leso ordem, sade,
segurana e economia pblicas, afinal, o que se busca justamente a preservao de tais
direitos, o que, na presente demanda, necessita de medida energia e urgente, sob pena de
comprometimento da feio mais correta de tutela jurdica, a preventiva.

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MPSP/GAEMA: Praa Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, s/n Centro So Sebastio/SP CEP: 11600-000

Some-se a isto, o no atendimento da recomendao expedida pelo MPF e MPSP,


pelo qual o rgo ambiental reconhece a viabilidade do empreendimento, mesmo com todas as
falhas materiais e formais do processo de licenciamento.
Vale colacionar, ainda, dois julgados nos quais se ressaltaram alguns dos vcios
aqui apontados:
ESPECIFICAMENTE SOBRE PORTOS
DIREITO AMBIENTAL. HIDROVIA PARAGUAI-PARAN. PORTO DE MORRINHOS,
NA REGIO DE CCERES/MT. PRETENSO DE CONSTRUO PARA INCREMENTO
DA NAVEGAO CINCO VEZES A CAPACIDADE ATUAL. LICENCIAMENTO
REQUERIDO

FEMA/MT

EIA/RIMA

ISOLADO.

LIMIAR

DO

PANTANAL

MATOGROSSENSE ("PATRIMNIO NACIONAL" E "PATRIMNIO NATURAL DA


HUMANIDADE").

ADAPTAO

DA

HIDROVIA

PROPRIAMENTE

DITA.

CONSEQNCIA INEVITVEL. IMPACTO AMBIENTAL DE CARTER REGIONAL.


COMPETNCIA DO IBAMA PARA O LICENCIAMENTO. APRECIAO CONJUNTA
DO PEDIDO DE LICENCIAMENTO DAS DIVERSAS OBRAS. NECESSIDADE.
PRINCPIOS DA PREVENO E PRECAUO. CONSULTA S POPULAES
ATINGIDAS. EXIGNCIA IMPLCITA. 1. Nos termos do Tratado de Santa Cruz de
La Sierra, os pases signatrios (Argentina, Bolvia, Brasil, Paraguai e Uruguai):
a) garantiro mutuamente facilidades de acesso e operao nos portos
localizados na Hidrovia Paraguai-Paran; b) promovero medidas tendentes a
incrementar a eficincia dos servios porturios prestados s embarcaes e s
cargas que se movem pela Hidrovia e o desenvolvimento de aes de
cooperao em matria porturia e de coordenao de transporte internacional;
c) adotaro medidas necessrias para criar as condies que permitam otimizar
os servios de praticagem e pilotagem para as operaes de transporte fluvial
realizadas pelas embarcaes dos pases que integram a Hidrovia; d) revisaro
as caractersticas e os custos dos servios de praticagem e pilotagem com o
objetivo de readequar sua estrutura, de modo a harmonizar as condies de
prestao do servio, reduzir os custos e garantir uma eqitativa e igualitria
aplicao destes para todos os armadores da Hidrovia. 2. No h propriamente
plano unitrio de reconstruo da hidrovia, mas um compromisso de gradativo
melhoramento de suas atuais condies. No haver, assim, demolio e
posterior reconstruo (instalao) de uma obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradao do meio ambiente para os efeitos do art.
225, 1, IV, da Constituio. No h, por isso, necessidade de interferir na
organizao e funcionamento de portos que existiam antes da assinatura do
mencionado tratado. 3. Extino do processo, por ausncia de interesse

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processual do autor, em relao s rs Fundao Estadual do Meio Ambiente de


Mato Grosso do Sul (Fundao Pantanal), Companhia de Cimento Portland Ita,
Minerao Corumbaense Reunida S/A, Urucum Minerao S/A e Granel Qumica
Ltda.,

ficando

prejudicadas

as

respectivas

apelaes.

4.

Litisconsrcio

necessrio de Macrologstica Consultoria S/C S/A tendo em vista que, sendo a


empreendedora do Porto de Morrinhos, a soluo a ser dada ao mrito da
questo (extenso do EIA-RIMA para efeito de licenciamento da mencionada
obra) obviamente atinge seus interesses. 5. O projeto de construo do Porto
de Morrinhos, em face de sua localizao e da finalidade de incrementar cinco
vezes a capacidade de navegao no Rio Paraguai, poder causar graves
conseqncias ambientais ao Pantanal Matogrossense, a cujo respeito dispe a
Constituio que constitui "patrimnio nacional" e que "sua utilizao far-se-,
na forma da lei, dentro de condies que assegurem a preservao do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais" (art. 225, 4). 6. A
inexistncia de um projeto global, formalmente estabelecido, de
reconstruo

da

hidrovia

Paraguai-Paran

no

significa

que

EIA/RIMA para efeito de licenciamento do projeto do Porto de


Morrinhos possa ser feito isoladamente. Ao contrrio, depende de
estudo de impacto ambiental, seno unitrio, concomitante de todas as
inevitveis adaptaes no trecho da hidrovia que corta o Pantanal
Matogrossense,

precedido

de

autorizao

do

Congresso

Nacional

relativamente ao(s) segmento(s) em que h reserva(s) indgena(s). 7.


A fragmentao da realidade, em casos da espcie, serve aos interesses
econmicos, em detrimento dos interesses ambientais. Cumpre a
finalidade

de

vencer

furtiva

gradativamente

as

resistncias,

utilizando-se, inclusive, de arma psicolgica. Uma etapa abre caminho e


fora a outra, sob o argumento de desperdcio de recursos, at a
conquista final do objetivo. Construdo isoladamente o Porto de Morrinhos, o
Pantanal Matogrossense ficar literalmente "sitiado". Em tal situao a
autoridade administrativa, na tomada de deciso, e o Poder Judicirio, no papel
de controle, no podem circunscrever o exame ao fragmento ftico, isolado do
conjunto sistmico, nem s regras legais, isoladas da Constituio. 8.
Competncia administrativa do IBAMA para apreciar o pedido de licenciamento
ambiental do Porto de Morrinhos, em face do carter regional dos impactos
ambientais, s podendo faz-lo juntamente com a apreciao de pedido(s) de
licenciamento das conseqentes obras de adaptao da hidrovia ao fluxo de
embarcaes e cargas que o novo porto provocar no trecho que atravessa o
Pantanal Matogrossense, dependente tal licenciamento, ainda, de prvia
autorizao do Congresso Nacional para a interveno em reas indgenas. 9.

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Os princpios da preveno e da precauo conduzem concluso que o


referido porto s poder ter sua construo liberada caso se verifique, mediante
aprofundada

pesquisa,

que

inexistem riscos de

significativa degradao

ambiental ao Pantanal Matogrossense ou sejam encontradas alternativas


tcnicas para preveni-los. Preserva-se, ao mesmo tempo, o princpio da
proporcionalidade ("verso balanceada" dos princpios da preveno e da
precauo): no se admite que o porto seja licenciado isoladamente, mas no
se vai ao ponto de exigir licenciamento unitrio e global de todo o trecho
brasileiro da Hidrovia Paraguai-Paran, nas suas mais de duzentas obras. 10.
Na exigncia de que no processo de licenciamento do Porto de Morrinhos seja
levada em conta a repercusso fsica e social da obra na regio pantaneira est
implcita a necessidade de consulta s populaes atingidas, por meio de
audincias pblicas. 11. Em face da natureza da causa e da sucumbncia
recproca, deixa de haver condenao em honorrios de advogado. 12. Parcial
provimento remessa oficial e s apelaes. (AC 200036000106495 ,
05/10/2007, TRF1 - QUINTA TURMA.)
SOBRE FALHA EM EIA/RIMA
AGRAVO DE INSTRUMENTO. LIMINAR QUE DETERMINOU A SUSPENSO DO
PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL. VCIOS NO PROCEDIMENTO.
PROTEO AMBIENTAL. PRINCPIO DA PREVENO. DESPROVIMENTO DO
RECURSO. 1. Vislumbro a ocorrncia de diversas falhas nos estudos de impacto
ambiental que fundamentam a concesso de licenciamento ambiental. 2. Os
objetivos do Direito Ambiental so fundamentalmente preventivos. Sua
ateno est voltada para o momento anterior consumao do dano.
3. Ante as falhas do EIA/RIMA, reputo correto o posicionamento do
Juzo agravado quanto defesa do meio ambiente em ateno do
princpio

da

preveno.

4.

Agravo

de

instrumento

desprovido.

(AI

00446500620064030000, DESEMBARGADOR FEDERAL NERY JUNIOR, TRF3 TERCEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:05/11/2010 PGINA: 511).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. LIMINAR QUE DETERMINOU A SUSPENSO DO
PROCESSO

DE

LICENCIAMENTO

AMBIENTAL.

INVASO

DO

MRITO

ADMINISTRATIVO. INOCORRNCIA. AUSNCIA DE VIOLAO AO PRINCPIO DO


CONTRADITRIO.
PRINCPIO

DA

VCIOS

NO

PREVENO.

PROCEDIMENTO.
DESPROVIMENTO

PROTEO
DO

AMBIENTAL.

RECURSO.

1.

ordenamento jurdico prev a figura da concesso de medida liminar


inaudita altera pars. Tal previso fundamental para o prprio
exerccio da funo jurisdicional, que no deve encontrar obstculos,

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salvo no ordenamento jurdico. 2. No houve invaso no mrito do ato


administrativo, na medida em que o Juzo agravado pautou-se no
exame da legalidade do licenciamento ambiental e, em decorrncia de
vcios existentes no procedimento, deferiu a tutela postulada pelos
agravados. 3. Vislumbro a ocorrncia de diversas falhas nos estudos de
impacto ambiental que fundamentam a concesso de licenciamento
ambiental. 4. Os objetivos do Direito Ambiental so fundamentalmente
preventivos. Sua ateno est voltada para o momento anterior consumao
do

dano.

5.

Ante

as

falhas

do

EIA/RIMA,

reputo

correto

posicionamento do Juzo agravado quanto defesa do meio ambiente


em

ateno

do

princpio

da

preveno. 6. Agravo de instrumento

desprovido. (AI 00209977220064030000, DESEMBARGADOR FEDERAL NERY


JUNIOR, TRF3 - TERCEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:18/10/2010 PGINA:
359)
Vale ressaltar, ainda, os ensinamentos da doutrina mais especializada, pela qual
quando a tutela adequada para o jurisdicionado for medida urgente, o juiz, preenchidos os
requisitos legais, tem de conced-la, independentemente de haver lei autorizando, ou, ainda, que
haja lei proibindo a tutela urgente.

57

Sobre o poder geral de cautela (art. 798 do CPC), o Superior Tribunal de Justia
bastante claro ao reconhecer sua matriz constitucional, com assento na garantia de acesso
Justia (art. 5, XXXV, da CF/88):
O poder geral de cautela, conferido ao Juiz, tem matriz na constituio, na
norma segundo a qual a lei no excluir da apreciao do Judicirio leso ou ameaa de leso a
direito. A garantia da prestao jurisdicional h de ser entendida como garantia de prestao
jurisdicional til, e a cautela tem por fim garantia a utilidade da prestao jurisdicional (REsp
653.889/DF, 1 T., j. 01.09.2005, rel. Min. Luiz Fux, DJ 26.09.2005, p. 201).
Assim sendo, uma vez preenchidos os pressupostos legais, com fundamento
no art. 12 da Lei n 7.347/85 c/c art. 798 do CPC, com respaldo tambm em farta literatura
jurisprudencial, o MINISTRIO PBLICO FEDERAL e o MINISTRIO PBLICO DE SO PAULO
requerem seja concedida LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE PARA ANTECIPAR OS EFEITOS DA
TUTELA pretendida, a fim de suspender o andamento do processo de licenciamento
ambiental

do

Porto

de

So

Sebastio,

Processo

02001.005403/2004-01

DILIC/IBAMA, at final deciso de mrito da presente ao, impondo-se multa diria em valor
a ser arbitrado por Vossa Excelncia em caso de descumprimento da liminar.
57

Nelson Nery Jnior; Rosa Maria de Andrade Nery. Cdigo de Processo Civil Comentado e Legislao
extravagente, p. 1161.
109
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6.

PEDIDO

Ante o exposto, o Ministrio Pblico requer:


a) a citao dos rus para apresentar contestao sob pena de revelia;
b) a concesso da liminar, determinando-se a suspenso de todo o
procedimento administrativo de licenciamento at deciso final desta ao.
c) ao final, seja declarada a nulidade da licena prvia n 474/13;
d) seja o ru IBAMA condenado obrigao de no fazer, consistente em no
emitir nova licena prvia referente ao processo de licenciamento de ampliao do porto de So
Sebastio enquanto o EIA/RIMA no for complementado para incluir, ao menos:
(d.1) estudos de impactos cumulativos e sinrgicos contemplando outros
12 megaempreendimentos colocalizados no Litoral Norte nos termos do
item 3.4.1;
(d.2)

redefinio

das

reas

de

influncia

direta

indireta

do

empreendimento, bem como obteno de Autorizao de Licenciamento


Ambiental A.L.A. de todas as Unidades de Conservao impactadas nos
termos item 3.4.2;
(d.3) efetiva avaliao e compatibilidade dos planos e programas
governamentais propostos e em implantao na rea de influncia do
empreendimento nos termos tem3.4.3;
(d.4)

apresentao

de

reais

alternativas

locacionais,

modais

tecnolgicas nos termos item 3.4.4;


(d.5) as concluses do projeto de pesquisa Biota Araa/FAPESP n
2011/50317-5 nos termos item 3.4.4;
e) seja cominado ao ru multa cominatria por dia de atraso no cumprimento
da r. deciso cautelar, conforme art. 11 da Lei n. 7.347/85, em valor a ser arbitrado por Vossa
Excelncia;
f) a produo de todos os meios de prova por direito permitidas.

110
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Atribui-se causa, para efeito de alada, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil


reais).

Termos em que, pede deferimento.

MARIA REZENDE CAPUCCI


PROCURADORA DA REPBLICA

TADEU SALGADO IVAHY BADAR JNIOR


PROMOTOR DE JUSTIA
GAEMA-LN

PAULO GUILHERME CAROLIS LIMA


PROMOTOR DE JUSTIA SUBSTITUTO
GAEMA-LN

ALFREDO LUIS PORTES NETO


PROMOTOR DE JUSTIA
GAEMA-LN

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