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Arquitetura Moderna No Brasil

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ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL

sobre o livro
O livro Arquitetura moderna no Brasil, de Henrique Mindlin, editado em 1956,
apenas em ingls, francs e alemo, o principal registro e uma espcie de catlogueraison da construo brasileira de 1937 a 1955. Henrique Mindlin fornece uma rica e
minuciosa viso do movimento. Situa o Brasil e a poca, alm de no se esquecer em
momento algum, do prazer que deve propiciar uma leitura.

sobre o autor
Henrique Mindlin
Foi um dos fundadores e diretor do MAM-RJ e amigo de inmeros artistas.
Diplomou-se em arquitetura pela Escola Mackenzie-SP, tendo conquistado, pelo seu
trabalho, posio marcante entre os representantes da arquitetura moderna no Brasil.

Historiografia da arquitetura
Abilio Guerra

Os arquitetos Affonso Eduardo Reidy e Joo Filgueras Lima, conhecido como Lel,
entraram h poucos meses na srie "Arquitetos Brasileiros". Os dois livros do
seqncia coleo iniciada com Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas e que merecer em
breve a solene companhia de Oscar Niemeyer. O srio trabalho de pesquisa e
levantamento de fontes atestado pela riqueza excepcional da documentao textual e
iconogrfica apresentada, que cobre parte substancial da obra dos arquitetos abordados e
tornam os volumes obrigatrios nas prateleiras dos estudiosos e dos amantes da
arquitetura.
Reidy pertencente primeira gerao de arquitetos modernos brasileiros que se
alinharam ao lado dos LCs Le Corbusier e Lucio Costa para a construo do edifcio
do Ministrio da Educao e Sade no Rio de Janeiro, autor de obras cannicas, quase
todas elas na ex-capital federal os conjuntos habitacionais de Pedregulho e da Gvea,
o Aterro do Flamengo, o Museu de Arte Moderna, entre outras. Lel, arquiteto atuante,
homenageado na ltima Bienal Internacional de Arquitetura de So Paulo e
representante oficial do Brasil na atual Bienal de Veneza, concentra a maior parte de sua
obra em Braslia e Salvador, aonde se radicou h muito tempo. Destacam-se seus
projetos para os hospitais da rede Sarah Kubitschek, o Centro de Exposies do Centro
Administrativo da Bahia e a Sede da Prefeitura de Salvador.
A abundncia documental e a parcimnia dos textos introdutrios, caracterstica
fundamental dos volumes, demonstra uma enorme confiana editorial na capacidade do

leitor em processar a constelao de testemunhos, depoimentos, memoriais, fotos,


desenhos e fotos, chegando por suas prprias conjecturas uma inteligibilidade da obra.
Vale salientar que as mencionadas introdues so muito desiguais, e a interessante mas
insuficiente entrevista com Lel e o correto texto de Nabil Bonduki sobre Reidy sem
dvida, a melhor dentre elas nem de longe se aproximam da fantasmagrica
montagem de textos de Artigas que abre o volume do arquiteto na coleo.
O desequilbrio apontado no impede que algumas caractersticas fundamentais das
atuaes dos arquitetos sejam devidamente destacadas. Reidy aparece como o
funcionrio pblico exemplar que dedicou quase toda sua vida profissional
materializao do iderio moderno nos mbitos da arquitetura e do urbanismo, assim
como a experimentao de Lel com pr-fabricao est devidamente apresentada. Mas
ao invs de centrar foco sobre a qualidade arquitetnico-urbanstica das obras afinal
isto que as credenciam a merecerem a publicao a preocupao maior com as
vicissitudes pessoais, as relaes de amizade e parentesco, a ao poltica, a
preocupao social e os valores ticos. Tais tpicos so relevantes para a qualificao da
arquitetura quando devidamente enfocados, como se evidencia na citao de Max Bill
salientando o sentido humano das habitaes de Pedregulho. Contudo, com o exagero
na viso perifrica sobre o fato arquitetnico corre-se o risco de se deixar escapar
consideraes substantivas, como, por exemplo, a evidente filiao do brutalismo
paulista uma das mais importantes manifestaes estticas brasileiras das ltimas
dcadas aos projetos do Colgio Brasil-Paraguai, em Assuno, e do MAM no Rio de
Janeiro, ambos de Affonso Reidy.
Nada disso teria muita importncia se no intussemos que houvesse aqui um silncio
sintomtico. E usamos o termo no seu sentido preciso, como manifestao de um malestar difuso, sensao que aumenta e se solidifica ao nos depararmos com uma
interessante coincidncia. Tanto os livros de Reidy como de Lel os aproximam da
mesma dupla Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Bonduki apresenta os trs como os
"pioneiros da renovao da arquitetura no Brasil", enquanto que Lel nas palavras de
Lucio Costa em texto usado como prefcio seria o "construtor" ao lado do "criador"
(Niemeyer) e da "tradio" (ele prprio) da arquitetura brasileira. As duas trincas, onde
apenas um dos elementos trocado, apontam para um "valor" a brasilidade de nossa
arquitetura que estranha ao mbito esttico, uma espcie de contaminao
culturalista dmode.
Podemos identificar aqui, neste tpico especfico, uma genealogia intelectual pouco
visvel mas vigorosa, um rio caudaloso que flui de um livro de 1956 e lanado pela
primeira vez em portugus h pouco tempo: Arquitetura Moderna no Brasil, de
Henrique Mindlin, publicado em ingls prximo do incio da construo de Braslia.
Parido prximo ao fecho do perodo herico da constituio de nossa arquitetura
moderna, o livro de Mindlin tem como inteno flagrante a divulgao mundial de um
modo especfico de materializar os pressupostos modernos, ou seja, a brasilidade de
nossa arquitetura.

No toa que em seu texto e no prefcio assinado por S. Giedion vamos encontrar
reiteradas afirmaes sobre as vicissitudes (quase todas positivas) de nossa arquitetura
moderna, seu enraizamento em nosso passado cultural, sua capacidade de fusionar
elementos da tradio construtiva colonial aos aspectos tcnicos e funcionais do iderio
europeu. Para justificar tal especificidade, tanto Giedion como Mindlin vo sacar de
noes como a miscigenao racial brasileira, a elasticidade mental de nosso povo, a
integrao com a natureza tropical... O mesmo Giedion que prefaciaria o livro sobre
Reidy lanado na Alemanha em 1961!
Henrique Mindlin concebeu sua obra como suplemento do catlogo Brazil Builds texto
de Philip Goodwin, fotos de Kidder Smith)publicado pelo MoMA de Nova York em
1943 por ocasio da exposio que apresentou para o pblico americano, em plena 2
Guerra Mundial, a trajetria de nossa arquitetura desde o perodo colonial, fatos que
somados ao pavilho brasileiro na exposio de Nova York em 1942 formam o desvio
americano que abrir o caminho para o reconhecimento europeu de nossa arquitetura
moderna. O "suplemento" de Mindlin, ao se filiar a Brazil Builds, herda deste aspectos
estruturais, em especial a retrica que explora o liame espiritual entre as arquiteturas
moderna e colonial, inflando a percepo de uma tradio nacional. No custa lembrar
ao leitor que tal inveno, apresentada como descoberta, foi lavra do mestre Lcio
Costa, que passou toda a vida costurando e recosturando sua verso.
No livro de Mindlin a gnese de nossa arquitetura moderna tratada como algo
inquestionvel. A finalidade do livro era cantar uma ode em homenagem nossa
arquitetura, enaltec-la mais uma vez, dar-lhe uma amplitude ainda larga, espraiando
para um nmero muito maior de autores e obras os eptetos anteriormente atribudos
apenas aos mestres. Nada mais natural, portanto, do que trazer mais uma vez tona,
pela ensima vez, os mesmos argumentos de sempre, alinhando os novos espcimes
arquitetnicos na pauta da tradio moderna brasileira. Tradio qual pertencem
Reidy e Lel, como fazem questo de assinalar os responsveis pelos livros ao alinhlos no Panthon com Costa e Niemeyer.
O problema que a ausncia de uma base poltica, social e tecnolgica necessria
introduo da arquitetura moderna em nosso pas foi um dos argumentos mais fortes
para a sedimentao de uma viso mais cida da crtica internacional em relao
arquitetura moderna brasileira. O selo de "formalismo" dado s obras de Niemeyer e
companheiros tinha como principal aliado, por ironia do destino, o prprio discurso
hegemnico de atribuir nossa arquitetura caractersticas inatas de nosso povo uma
espcie de flor rara que brota espontaneamente do prprio solo. A falta de clareza de que
a arquitetura realizada no Brasil s poderia ser defendida com argumentos
arquitetnicos permitiu que a crtica internacional algumas vezes canhestra, apressada
e caricata retirasse quase por completo nossos representantes de seu manuais e de suas
especulaes.

Armadilha intuda por Bonduki, que busca uma explicao mais abrangente para a obra
de Affonso Eduardo Reidy, mas sem evitar a contaminao ideolgica ao qualific-lo
pelo atendimento das demandas dos oprimidos. Acontece que o verdadeiro estatuto do
autor do MAM e de Pedregulho seguramente um dos mais importantes arquitetos do
sculo jamais poder se materializar com um discurso que destaca fundamentalmente
sua estatura tica e seus princpios polticos, mesmo que estes sejam a mola propulsora
de sua excepcional participao. E por um motivo muito simples: as boas intenes so
condies necessrias, mas no suficientes, para uma arquitetura adequada s reais
necessidades de uma sociedade.
Os lanamentos editoriais nos colocam diante de uma situao paradoxal: no momento
onde a historiografia brasileira da arquitetura ameaa os primeiros passos na busca de
respostas menos ideolgicas, eis que acontecem os lanamentos, por um lado, de uma
das obras mais significativas na montagem da viso mais edulcorada de nosso passado
arquitetnico, onde todo tipo de conflito, dvida ou desvio so esmagados pelo rolo
compressor da tradio, e por outro, de catlogos laudatrios de dois nobres
representantes desta mesma tradio forjada. Se inquestionvel a qualidade da maior
parte da arquitetura apresentada nos trs volumes, do ponto de vista da crtica e da
histria da arquitetura, o mais importante o visvel descompasso entre a qualidade
arquitetnica que sobrevive ao tempo e que hoje novamente desperta interesse no
exterior e a explicao histrica insustentvel que tenta justific-la. Nesta fissura
poder se infiltrar o vento saudvel da renovao, constituindo um ambiente fresco e
propcio a um acerto histrico tardio mas necessrio. Para isso, porm, preciso ter
coragem. Teremos?

Arquiteturas no Brasil: 1900-1990


Ruth Verde Zein

Comemorou-se ano passado os 50 anos da FAU-USP atravs de vrias homenagens e


eventos, organizados sempre de maneira enfatizar uma das caractersticas mais
peculiares daquela escola de arquitetura paulista: a pluralidade de direes profissionais
a que se dedicam ou se dedicaram seus membros alunos, ex-alunos, professores.
Viam-se na exposio comemorativa de edifcios a objetos, de obras artsticas a
cenografias, de atividades grficas a reciclagens. Mas, fato notvel, pouco se falou e
apenas de passagem sobre a importncia cultural da contribuio terica de vrios
componentes do universo humano daquela escola a qual , sem dvida, da maior
importncia.
Basta citar a profundidade do trabalho de pesquisa quem vem sendo realizada por
emritos professores da FAU tais como Carlos Cerqueira Lemos, Nestor Goulart dos
Reis Filho, Benedito Lima de Toledo, entre outros, autores de vrios e importantes
livros e de contribuies inestimveis compreenso da arquitetura brasileira, dos
primrdios coloniais aos dias de hoje; sem esquecer de outros nomes indissoluvelmente
ligados prpria substncia da FAU-USP, como a crtica de arte e arquitetura Aracy

Amaral, de grande prestgio nacional e internacional, ou ainda Flavio Motta, terico e


artista e o fato destes dois ltimos no serem arquitetos, ou de algum dos professores
citados no ter se formado naquela escola sendo, sem dvida, um detalhe de todo
irrelevante numa homenagem desse porte. Seria o caso tambm de se destacar autores e
pesquisadores da gerao seguinte, tais como Luiz Carlos Daher, Marlene Milan
Acayaba, Silvia Ficher, Maria Helena Flynn, entre outros, discpulos de alguns dos
mestres da FAU mas cuja contribuio alcanou uma importncia prpria, ou sua outra
metade da laranja, na pessoa e nos discpulos de Srgio Ferro; e finalmente, de uma
gerao algo mais nova, mais crtica e contestadora, e que encontrou nas revistas de
arquitetura seu espao privilegiado de debate, divulgao e pesquisa da qual se
destaca, entre outros nomes, Hugo Segawa, autor do recm lanado livro "Arquiteturas
no Brasil. 1900-1990", que bem pode ser considerado a contribuio pessoal do autor
quele cinqentenrio.
Esse "esquecimento" revela uma das idiossincrasias da FAU-USP e, de resto, da
formao do arquiteto brasileiro em geral. Qual seja um difuso mas persistente antiintelectualismo, fruto talvez da viso do arquiteto como ser genial, nascido j pronto da
cabea de Zeus e que, se no despreza, ao menos considera as questes tericas do
ofcio da arquitetura como secundrias e no operativas viso errnea, bitolada e
partcipe do fracasso pedaggico cada vez mais freqente na formao dos arquitetos.
Esquecer a contribuio dos tericos da arquitetura brasileira no caso em foco, os da
FAU-USP em busca de um discurso um tanto descosido da "volta prancheta" uma
falcia que revela seus resultados efetivos na baixa qualidade da produo dessas
pranchetas, esgotando-se num saber prtico que, se atinge alguns picos em certos
momentos, nunca chega a formar um padro arquitetnico de consistncia, o qual s
pode existir a partir de uma prtica crtica, teoricamente bem fundamentada.
O livro de Hugo Segawa histrico mas tambm crtico. No lhe faltam
informaes, pesquisas, dados relevantes organizados de maneira a dar ao leitor uma
viso ampla e genrica da arquitetura brasileira de quase todo este sculo tarefa
herclea que o autor no pretende esgotar. crtico, porm, na medida em que recorta e
seleciona, analisa e valoriza, dando maior ou menor destaque a alguns eventos, obras ou
tendncias que o autor considera e por isso as seleciona como de relevncia e
transcendncia maior. E, principalmente, porque se recusa a uma viso totalizadora,
unvoca e triunfal desse panorama da arquitetura brasileira. No tem, como o autor
afirma, "a pretenso acadmica do amplo esforo de Yves Bruand" autor do clssico
"Arquitetura Contempornea no Brasil". No privilegia arquitetos, com honrosas
excees a poucos mestres como Gregori Warchavchik, Oscar Niemeyer, Lcio Costa e
Vilanova Artigas. E o faz porque deseja operar no com produtos mas com processos,
qualificados em alguns temas que, se bem sejam organizados a partir de certa
contiguidade temporal, no so meramente seqenciais mas se superpem parcialmente,
deixando claro que, em cada momento, muitas e diferentes tendncias buscam caminhos
distintos, divergentes ou convergentes, algumas vezes apenas paralelos.

Publicar um livro com essa amplitude temporal num panorama da cultura arquitetnica
brasileira onde se exibem rarssimos exemplos de outros trabalhos do mesmo porte o
mais conhecido sendo o j citado Bruand, que atinge apenas at os anos 1960, sendo os
demais apenas manuais pontuais de muito menor abrangncia tarefa das mais
polmicas, pois ir enfrentar, da parte de alguns leitores, toda a expectativa prvia que
inevitavelmente nasce da ausncia de outras fontes. O livro de Hugo Segawa se sai com
galhardia desse desafio configurando-se, desde o seu lanamento, como um clssico que
se tornar cada vez mais indispensvel, tanto ao arquiteto formado ou em formao,
como a qualquer interessado em compreender as questes mais relevantes da arquitetura
brasileira deste sculo. Apenas a lamentar a edio demasiado "casual" da Edusp, com
uma quantidade de ilustraes inferior ao que seria desejvel, quando se esperaria da
editora um tratamento altura do da abrangncia do tema.
No seu livro Segawa abre o sculo 20 com as importantes transformaes pelas quais
passavam as principais cidades brasileiras, iniciadas em geral por mdicos e
engenheiros sanitaristas, superando e negando as estruturas coloniais em busca da
consolidao de novos modelos urbanos, tomados de emprstimo e adaptados das
amplas discusses utopistas ou reformadoras da Europa do sculo anterior. Sobre essas
novas bases urbanas se preparam os cenrios para a modernidade arquitetnica cujo
significado, num primeiro momento, abranger uma amplitude muito mais diversificada
do que o termo "modernidade" assumir na segunda metade do sculo 20, questionando,
embora sutilmente, a mitografia dos historiadores "orgnicos" do movimento moderno.
Dessa maneira, Segawa organiza nos captulos seguintes no um processo linear,
ufanista e excessivamente coerente, alinhavando precursores/ desbravadores/
consolidadores, para desvelar um panorama plural para o qual concorrem diferentes
interpretaes do que poderia ser a "modernidade" no campo arquitetnico. Qualifica
assim (e os termos so indicaes, e no etiquetas) "Alguma Modernidade", que
incluiria desde o debate neo-colonial aos primrdios de um certo racionalismo
construtivo; um "Modernismo Programtico", proselitista, de fontes formais centroeuropias, que tem em Warchavchik seu epgono; um "Modernismo Pragmtico", menos
preocupado com manifestos e sim com a efetiva modernizao da construo, servindose do conceito de "estilo moderno" mas de fato alavancando e disseminando uma nova
compreenso para a arquitetura moderna; para ento qualificar uma "Modernidade
Corrente", ndex que Segawa d cannica "arquitetura moderna brasileira". Essa
estrutura inicial do livro torna o esforo do autor e ainda mais se o compararmos sua
obra ao livro de Bruand no apenas uma "atualizao", complementando informaes
sobre a arquitetura brasileira dos ltimos 30/40 anos, como igualmente uma "re-viso"
dos primeiros 30/40 anos do sculo.
Nos dois captulos seguintes o livro rev a histria que , de fato, indiscutivelmente
pica da modernidade brasileira de Lcio Costa, Oscar Niemeyer e vrios outros e
importantes autores da chamada "escola carioca", que se dissemina por todo Brasil, seja
atravs dos arquitetos "peregrinos", seja atravs da adeso espontnea de profissionais
de outras regies. Esse miolo do livro culmina em Braslia, obra mxima dessa

modernidade. Segawa no encontra espao, ali, para a necessria atualizao crtica de


Braslia, tarefa talvez demasiado complexa e polmica, mas que poderia ter sido
esboada com menor timidez do que a por ele demonstrada. Entenda-se bem: criticar
no falar mal, ao contrrio: penso ser Braslia uma fonte importante de ensinamentos,
e sua sistemtica ausncia como fato de atualidade, tanto na historiografia como nos
debates arquitetnicos e urbanos, longe de ser um ato "respeitoso" revela um temeroso
esquecimento voluntrio que tem sido nefasto para os caminhos da crtica de arquitetura
brasileira.
No captulo seguinte Segawa comete, ao meu ver, uma excessiva "rapidez" de anlise ao
considerar, no mesmo tom e com a mesma importncia, tanto a disseminao
"hegemnica" da arquitetura moderna brasileira de corte carioca por esses brasis como,
sem soluo de continuidade, a chamada "escola paulista", que se consolida a partir de
meados dos anos 50 precisamente em oposio parcial a essa hegemonia. H um certo
pudor, entre os arquitetos paulistas, de assumir s claras sua contribuio distinta e
original para a modernidade brasileira h quem chegue a duvidar da existncia dessa
escola paulista. Ora, tal atitude incoerente em face dos fatos no cabe dvida que a
arquitetura (muitas vezes chamada de "brutalista", mas a discusso desse termo caber
em outro momento) paulista, por seus resultados formais e construtivos configura-se de
maneira distinta da escola carioca, sem se necessitar cair numa viso maniquesta de
pura oposio, certamente absurda; mesmo assim, somente ao assumir a peculiaridade
paulista em sua plenitude que se poder compreender de maneira mais precisa e aberta
os rumos da arquitetura brasileira a partir dos anos 60, a qual ser profundamente
influenciada nos seus destinos por essa arquitetura paulista, ao menos at o incio dos
anos 80.
Nos dois ltimos captulos Segawa busca fazer um apanhado, necessariamente mais
superficial face pouca distncia histrica, de alguns episdios importantes do
desenvolvimento da arquitetura brasileira aps Braslia, num "mapeamento da
diversidade" que retoma a idia de pluralidade que o livro trabalha em seus captulos
iniciais. Reside ai uma contribuio praticamente original do autor pois, se bem que
esses temas tenham sido debatidos em publicaes peridicas, a seu momento, somente
agora recebem uma compilao que didaticamente de grande interesse.
O livro encerra com questionamentos e dvidas, que no podem (ou ainda no devem)
ser respondidas por que escapam j domnio da histria, mas so basicamente o atributo
da crtica de arquitetura: afinal, que rumos esto sendo e sero tomados? No h como
responder sem um exerccio de futurologia mas isso, apenas porque de fato a
arquitetura brasileira no est mais num momento "hegemnico" o que, em si mesma,
j uma constatao da maior relevncia para se compreender os rumos dessa realidade.
[texto originalmente publicado no Jornal da Tarde com o ttulo "Um olhar sobre a
arquitetura de morar paulista", Caderno de Sbado. Reproduo proibida sem
autorizao do autor]

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