Familias Lagunenses
Familias Lagunenses
Familias Lagunenses
Prezados amigos,
O amigo Norberto, possuidor dos originais da inédita obra, sempre manifestou interesse em
publicar o material, objetivando oferecer acesso a todos os pesquisadores de genealogia e história.
Abaixo transcrevo a história que deu origem ao trabalho que ora disponibilizamos, conforme e-mail
enviado em 28.06.2006 – 18:48 hs:
“Não sei se vc sabe - presumo que sim, pois contei isto a todos aqui da lista, mais de uma vez - as
circunstâncias em que sou possuidor dos originais de "Famílias Lagunenses".
Foi o próprio Moacyr Domingues quem os ofereceu ao historiador catarinense e meu grande
amigo Oswaldo Cabral. Fez acompanhar a oferta de uma carta em que expressava sua admiração
por aquele historiador, com quem lamentava haver mantido apenas um ligeiro contacto pessoal, se
não me engano num encontro de aeroporto. E como o dr. Oswaldo Cabral era lagunense e o mais
eminente historiador catarinense da sua época, ele, Moacyr Domingues, achava que seu trabalho
estaria em ótimas mãos, autorizando o dr. Cabral a publicá-lo, se o desejasse e houvesse interesse.
Na ocasião desta oferta, que deve ter sido aí por 1975, o dr. Cabral me emprestou o trabalho,
que devolvi depois de copiar alguns poucos dados, referentes a ascendentes meus.
Em 1978 o dr. Oswaldo Cabral faleceu.
Foi herdeira de seus arquivos e sua biblioteca, sua sobrinha, a profa. Sara Regina Poyares dos
Reis, que transferiu residência para São Paulo.
Há uns três anos voltou para Florianópolis. É minha amiga também,e por isso manifestei-lhe
interesse em reler aquele trabalho. Quando ela o localizou, em meio ao vasto material deixado por
seu ilustre tio, fez a gentileza de oferecer-me, ao invés de emprestar-me, assim procedendo
certamente em consideração à minha grande amizade com o dr. Oswaldo Cabral.
Abraço,
Norberto Ungaretti”.
Dedico especial agradecimento ao estimado primo e amigo Luiz César Nunes, pela
intermediação, reprodução e remessa da cópia da obra que serviu como base para a realização
deste trabalho.
Mauro Esteves
Famílias Lagunenes
Moacyr Domingues
Este assunto me seduz a tal ponto, que empreendi uma dispendiosa viagem a Portugal com o
objetivo exclusivo de fazer pesquisas a respeito nos opulentos arquivos portugueses e o resultado
colhido superou, felizmente, minhas mais otimistas expectativas; pronto para o prelo tenho um
alentado estudo, calcado em documentação inédita ou pouco estudada que, acredito, dissipará
muitas controvérsias e imprecisões hoje existentes.
Posso afirmar que a primeira tentativa do Capitão Domingos de Brito Peixoto para se estabelecer
em caráter definitivo em Laguna, onde já exercia atividades pesqueiras, foi levada a efeito pelo mês
de fevereiro de 1680, fracassando devido ao naufrágio de sua embarcação na foz do Rio Araranguá, e
não no litoral baiano, como repetidamente se tem afirmado, e isso precisamente quando Dom Manuel
Lobo acabava de fundar, defronte a Buenos Aires, a malfadada Colônia do Sacramento.
E não é só, concomitantemente, o Capitão Francisco Dias Velho se estabelecia em Destêrro (hoje
Florianópolis) com seu clã e Manuel Jordão da Silva, Sargento-Mór das Ordenanças do Rio de Janeiro,
tentava fundar uma povoação na barra do Rio Grande, naufragando também e o fazia sob o patrocínio
do General Salvador Corrêia de Sá, que pouco tempo antes obtivera, para seus herdeiros, a Donataria
daquelas terras.
A expedição de Jordão da Silva, da qual Domingos de Brito Peixoto participava, é muito pouco
conhecida
e no trabalho citado eu a estudo exaustivamente; acredito também ter decifrado o mistério que até
agora envolvia a expedição chefiada, na mesma oportunidade, pelo Tenente-de-Mestre-de-Campo-
General Jorge Soares de Macedo, cujos passos acompanho desde sua partida de Portugal até sua
morte, que deve ter ocorrido em Óbidos pelo ano de 1713, ficaram explicadas cabalmente, assim
creio, as razões que motivaram seu enigmático comportamento no episódio da fundação da Colônia
do Sacramento, que tanto tem intrigado nossos historiadores.
Não me estendo mais nesse assunto, que abordei por duas razões:
despertar, quem sabe, o interesse de alguma instituição cultural para a divulgação desse estudo,
destinado ao campo restrito dos estudiosos e por isso mesmo sem perspectivas comerciais; e explicar
ao leitor a origem de meu apreço por Laguna, que vem de longe.
Foi, pois, com especial satisfação que, no desempenho de uma função pública em Criciúma, de
1966 a 1968, pude travar contato com essa formosa e acolhedora cidade, que está sendo agora
"descoberta" pelos gaúchos, graças à melhoria das comunicações e aos encantos turísticos que
encerra.
Ficou ela à margem do progresso material que empolgou algumas comunas próximas, muito mais
modernas; nenhuma a suplanta, porém, na riqueza dos fundamentos culturais, ciosamente guardados
e milagrosamente preservados a influências externas, que lhe marcam a feição tipicamente brasileira.
Sente-se, desde o primeiro contato, a presença palpável, até nas camadas mais humildes e menos
instruídas de sua população, de um sólido substrato de cultura, bom gosto e refinamento, e da índole
pacata e amorável, tão característica de nosso povo.
Ali conheci uma pessoa realmente extraordinária, Dona Joana Daux Mussi, que, embora não
nascida em Laguna, encarnava perfeitamente todas as virtudes de sua gente, ela fez da gentileza, do
amor ao próximo, e da caridade para com os humildes, os desvalidos, os desprezados e os velhos, a
própria razão de ser de sua existência ativa e fecunda.
À sua memória dedico, com a maior reverência e saudade, este trabalho, no qual se encontrarão as
raízes daqueles a quem ela tanto protegeu.
Este trabalho foi feito mediante a organização sistemática, por famílias, dos assentos paroquiais de
Laguna, hoje recolhidos à Cúria Metropolitana do Bispado de Tubarão, a saber:
a) 1595 assentos de casamento, contidos em 3 Livros, abrangendo os períodos de 14/9/1783 a
4/4/1804, de 4/4/1804 a 21/9/1822 e de 21/9/1822 a 16/6/1832;
b) 2169 assentos de batismo, também em 3 Livros: de 5/2/1804 a 26/12/1808 e de 26/3/1809
a 15/3/1815 (que inicialmente estavam contidos num único Livro, com folhas numeradas de 1 a 387)
e de 25/5/1815 a 20/9/1818;
c) 1490 assentos de óbito, num único Livro, relativos ao período de 27/3/1820 e 18/4/1832.
Esses, segundo fui informado, são os Livros paroquiais mais antigos recolhidos à Cúria de Tubarão;
apesar de minhas diligências, não consegui localizar os que os antecederam, cujo valor histórico seria,
sem dúvida, muito maior.
0 que se oferece ao leitor, pois, é uma imagem da população da Freguesia de Laguna, tão precisa
quanto possível, no alvorecer do século XIX; apesar de todo o meu cuidado, devo acentuar que são
quase inevitáveis os enganos em trabalhos desta natureza, em que tantas datas são citadas; aqueles
que porventura se interessarem em prosseguir o estudo das respectivas famílias até os dias atuais,
aconselho que não deixem de conferir os dados que aqui divulgo, para cujo fim são dadas todas as
referências necessárias.
Na região Sul de Santa Catarina existiam, na época, apenas duas Freguesias: a de Vila Nova, que
deveria estender-se desde essa vila até os limites com a Freguesia da Enseada de Brito, isto é, até o
atual Morro dos Cavalos, e a Freguesia de Laguna, que se estendia para o Sul, até o Rio Mampituba,
atual divisa com o Estado do Rio Grande do Sul. 0 fato, pois, de dizer-se que alguém nasceu e foi
batizado "em Laguna", naquela época, não significa, necessariamente, que o tenha sido na própria
Vila: da leitura atenta dos assentos ficou-me a certeza de que o Vigário percorria periodicamente sua
Paróquia, ministrando os sacramentos.
Percebe-se que duas localidades já despontavam: Tubarão e Araranguá, citadas com frequência nos
assentos consultados; uma única referência encontrei a Urussanga, que deve ser a hoje chamada
Urussanga Velha. Outros lugares citados várias vezes são: Pescaria Brava, Caputera, Perrexil, Barra,
São Tiago, Areias, Ponta do Daniel, Saco do Lessa, Saco das Flores, Congonhas, Rio de Aratingaúva,
Saco de Tacoroçutuba, Rincão, Morro Grande, Morrinhos de Tubarão, Costa do Siqueiro, Ponta Grossa,
Laranjeiras, Cabeçuda e Imaruí, onde já existia a Capela de São João Batista.
O escasso conhecimento que tenho dos fatos lagunenses relativos ao século XIX impediu-me de
juntar dados biográficos às personagens citadas, o que, decerto, tornaria este trabalho menos
monótono; tarefa que incumbe aos cronistas locais.
Chamo a atenção do leitor para alguns pontos cujo interesse histórico é maior, como sejam: a
identificação das raízes paulistas da heroína Anita Garibaldi (v. título Salvador Antunes, N-16) e os
estudos sobre as famílias Gonçalves Ribeiro, Prates e Rodrigues de Jesus, a cujo respeito trago alguns
dados inéditos.
Finalmente, fique claro que o título "Dona" não era de uso indiscriminado, como atualmente: só
usavam-no as mulheres que a ele tinham direito, seja por sua ascendência seja por casamento;
respeitei cuidadosamente esse critério, que de um relance permite identificar as famílias de maior
projeção social da localidade.
Lamento que não me tenha sido possível examinar, por falta de oportunidade, os autos de inúmeros
inventários existentes no "Museu Anita Garibaldi", de Laguna e numerosos outros existentes no
Arquivo Público do Rio Grande do Sul (estes, notadamente, do período de 1800 a 1820), que
encerram, sem dúvida, preciosos dados sobre as famílias estudadas; forneço porém, sempre que
possível, os dados de catálogo.
PERFIL BIOGRÁFICO
DE MOACYR DOMINGUES
Astrogildo Fernandes
Nasceu em Itapeva, SP, a 30 de março de 1924, filho de Israel Dias Domingues e Antônia Barcelos
Domingues. Faleceu no Rio de Janeiro a 11 de novembro de 1996.
Estudou no Grupo Escolar de Panambi (RS), no Ginásio Municipal Cristo Redentor (Cruz Alta, RS),
na Escola Preparatória de Cadetes (Porto Alegre), na Escola Militar do Realengo (RJ), na Escola de
Aeronáutica dos Afonsos. Foi declarado Aspirante e Oficial Aviador a 21 de agosto de 1944. Fez os
cursos de Oficial Aviador; de "Operation Training Unit", na Base Aérea de Recife, com instrutores
norte-americanos; de Tática Aérea, na Base Aérea de Cumbica (SP).
Exerceu as seguintes funções militares: serviu no 1º Grupo de Caça da Base Aérea de Recife (1944-
1946); Escola de Aeronáutica dos Afonsos (1946); Destacamento da Base Aérea de Curitiba (1946-
1950); Base Aérea de Porto Alegre - Gravataí; Estado Maior da Aeronáutica, em cuja Inspetoria
Geral foi transferido, a pedido, para a Reserva Remunerada, no posto de Tenente-Coronel Aviador.
Fez o Correio Aéreo Nacional nas linhas Recife - Rio de Janeiro, Curitiba - Campo Grande e interior
do Rio Grande do Sul.
Foi condecorado com a "Cruz de Aviação" com três estrelas; e com a "Medalha de Campanha do
Atlântico Sul" por serviços prestados no Nordeste brasileiro durante a II Guerra Mundial.
Ocupou os seguintes cargos: Chefe do Departamento Administrativo da Comissão do Plano do
Carvão Nacional (Rio de Janeiro, 1964); Chefe da Administração Regional de Santa Catarina da
Comissão do Plano do Carvão Nacional (1966-1968); Chefe do Pessoal da Companhia Nacional
Mineração do Carvão do Barro Branco, em Lauro Müller (SC), até agosto de 1969; Diretor do
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul; respondeu pela direção do Museu Júlio de Castilhos, em
Porto Alegre; Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura, empossado a 6 de junho de 1973;
atuou em cargo administrativo na Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo; em Goiás Velho,
durante dois anos, organizou o Arquivo Histórico do Museu das Bandeiras, indicado pelo do sphan.
De setembro de 1969 a janeiro de 1970, esteve em Portugal e Espanha fazendo pesquisas
históricas.
Foi especialista em temas históricos relativos aos seguintes assuntos: povoamento do Rio Grande
do Sul, região missioneira após a conquista de 1801 e povoamento do Planalto Médio do RS.
Livros publicados: A Colônia do Sacramento ao Sul do Brasil (1973, prefácio de Guilhermino Cesar);
A nova face dos Mucker (1977, esgotado); Portugueses no Uruguai São Carlos de Maldonado -
1764 (Edições est, Porto Alegre, 1994, apresentação de Luís Manoel Dias da Silveira, Cônsul de
Portugal em Porto Alegre).
Trabalhos históricos publicados:
- "Conquista e povoamento do Rio Grande do Sul": III Encontro dos Municípios Originários de Santo
Antônio da Patrulha, realizado em Tramandaí, de 13 a 15 de maio de 1992.
- Durante mais de um ano publicou, semanalmente, no Diário Serrano, de Cruz Alta, artigos sobre:
"Antigas famílias cruz-altenses", "Capítulos da história cruz-altense", "A Revolução Farroupilha em
Cruz Alta".
- "O caminho das Missões", em Raízes de Lagoa Vermelha, Porto Alegre, Edições EST, 1993, p. 48-
58.
- "O Rio Grande do Sul antes dos açorianos" e "Antigas famílias patrulhenses presença açoriana",
em Presença açoriana em Santo Antônio do Patrulha e no Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Edições
EST, 1993 (1ª ed.), respectivamente p. 26-32 e 89-216.
- "O tropeiro Cristóvão Pereira” e "Os primeiros tropeiros", em Bom Jesus e o tropeirismo no Brasil
Meridional, Porto Alegre, Edições EST, 1995, respectivamente p. 31-36 e 100-107.
Instituições culturais a que pertenceu:
Instituto Histórico de São Leopoldo - presença nos seus simpósios sobre a história da imigração
alemã.
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul - proposto pelo historiador Arthur Ferreira
Filho, sócio efetivo, 20 de julho de 1973. 15-10-1973, Parecer da Comissão de Sindicância formada
por Armando Dias de Azevedo, Monsenhor João Maria Balem e Guilhermino Cesar (relator, com
parecer favorável). 5-12-1974, admitido como sócio efetivo. Tomou posse a 25-9-1975, quando foi
saudado por Arthur Ferreira Filho; na ocasião, Moacyr Domingues falou sobre "A nova face dos
Mucker". Foi Secretário (1986-1988) e Bibliotecário (1980-1982, 1983-1990). Em 5-8-1992,
aniversário de fundação do Instituto, proferiu a conferência "O Rio Grande do Sul antes de Silva
Paes"; na mesma data foi dado o nome de Thomaz Carlos Duarte à biblioteca do Instituto.
Fonte: Barroso, Vera Lúcia Maciel (Organizadora). Presença Açoriana em Santo Antônio da Patrulha e no Rio
Grande do Sul. Edições EST, Porto Alegre 1997, p. 217-219.
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