CMARA DOS DEPUTADOS

PROJETO DE LEI N

, DE 2011.

(Do Sr. Domingos Dutra)

Institui o Estatuto Penitencirio Nacional.

O Congresso Nacional decreta: Art. 1 Esta Lei institui o Estatuto Penitencirio Nacional. Art. 2 As disposies desta Lei devem ser aplicadas imparcialmente, sem distino de natureza racial, econmica, social, religiosa, poltica, de gnero, de orientao sexual, de nacionalidade, idiomtica ou de qualquer outra ordem. Art. 3 assegurado ao preso o respeito individualidade, integridade fsica, dignidade pessoal, crena religiosa e preceitos morais. Art. 4 O preso tem o direito de ser chamado pelo seu nome.

TTULO I DAS REGRAS DE APLICAO GERAL CAPTULO I DA ADMISSO E DO REGISTRO Art. 5 Ningum poder ser admitido em estabelecimento penal sem ordem legal de priso. Art. 6 Os estabelecimentos penais e os locais que abriguem pessoas privadas de sua liberdade devero manter livro oficial para o registro da admisso e sada do preso. 1 O registro conter obrigatoriamente as seguintes informaes: a) dados pessoais do preso: nome, filiao, data de nascimento, sexo, caracteres de identificao, endereo, nacionalidade e lngua; b) as razes da priso; c) nome da autoridade que a determinou;
1

CMARA DOS DEPUTADOS

d) data e hora da admisso; e) dados e detalhes sobre vnculos de parentesco do preso, at o terceiro grau; f) antecedentes penais e penitencirios; g) lista dos pertences mantidos na posse do preso e daqueles guardados pela autoridade competente; h) assinatura preenchimento do registro; da autoridade responsvel pelo

i) assinatura do preso, aps ser devidamente cientificado de seus direitos e deveres; j) data e hora da sada do preso. 2 As informaes constantes do mandado de priso devem ser integralmente lanadas no livro de registro do estabelecimento quando da admisso do preso. 3 O Poder Executivo poder determinar que outras informaes constem do livro oficial de registro.

CAPTULO II DA AVALIAO, SELEO E SEPARAO Art. 7 O preso ser alojado em diferentes estabelecimentos penais ou em suas sees de acordo com a categoria a qual pertena, observadas suas caractersticas pessoais, tais como sexo, idade, situao legal e judicial, antecedentes criminais, quantidade de pena a que foi condenado, o regime de execuo, a natureza da priso e o tratamento especfico que lhe corresponda, atendendo ao princpio da individualizao da pena. 1 A mulher cumprir pena em estabelecimento penal prprio, sendo-lhe asseguradas condies para que permaneam com seus filhos durante o perodo de amamentao. 2 O preso provisrio ser mantido separado do preso condenado. 3 O preso por razes de ordem civil ser mantido
2

CMARA DOS DEPUTADOS

separado daquele preso por fora do cometimento de infrao penal.

CAPTULO III DA ASSISTNCIA MATERIAL Seo I Da alimentao Art. 8 O estabelecimento penal fornecer ao preso, em horas determinadas, alimentao de boa qualidade, bem preparada e servida, cujo valor nutritivo deve ser suficiente para a manuteno de sua sade e vigor fsico. Pargrafo nico. A alimentao ser preparada de acordo com as normas de higiene e de dieta, controladas por nutricionista. Art. 9 Ao preso assegurado o acesso gua potvel sempre que dela necessitar.

Seo II Do vesturio e das roupas de cama Art. 10. Ao preso sero fornecidos uniformes apropriados ao clima e em quantidade suficiente manuteno de sua sade. 1 Os uniformes no podero ser degradantes ou humilhantes e no afetaro a dignidade do preso. 2 Todas as roupas devero estar limpas e mantidas em bom estado, e as peas ntimas sero trocadas e lavadas com a freqncia necessria manuteno da higiene. 3 Quando o preso necessitar se afastar do estabelecimento penal para fins autorizados, permitida a utilizao de suas prprias roupas, devendo ser tomadas medidas para que, quando do seu retorno, tais sejam limpas e possam ser reutilizadas. 4 O Estado deve prover, obrigatoriamente, os seguintes artigos de vesturio ao preso: I trs exemplares de uniforme, no mnimo; II um agasalho ou casaco, no mnimo; III seis cuecas, para o homem preso;
3

CMARA DOS DEPUTADOS

IV seis jogos de peas ntimas, para a mulher presa; V trs pares de meias; VI um sapato; VII um tnis; VIII um par de sandlias ou chinelas. Art. 11. O preso dispor de cama individual e roupa de cama e banho suficiente e prpria, mantida em bom estado de conservao e trocada com freqncia capaz de assegurar a sua limpeza. Pargrafo nico. O Estado dever prover ao preso, obrigatoriamente, e no mnimo, dois lenis, um cobertor e uma toalha de banho. Art. 12. O Departamento Penitencirio Nacional estabelecer, em carter nacional, normas sobre a padronizao, confeco, utilizao, manuteno e disposio de uniformes pelo preso, cuja observncia obrigatria pela Unio, Estados e Distrito Federal.

Seo III Das instalaes Art. 13. O preso ser alojado individualmente, salvo em situaes especiais. 1 vedado o alojamento de dois ou mais presos em celas individuais. 2 Quando da utilizao de dormitrios coletivos, estes sero ocupados por presos cuidadosamente selecionados e reconhecidos como aptos a serem alojados nessas condies. 3 Os locais destinados ao preso devero satisfazer exigncias mnimas de higiene, em considerao ao clima, especialmente quanto ao espao mnimo, volume de ar, iluminao, calefao e ventilao, a fim de assegurar condies bsicas de limpeza e conforto. 4 vedado o alojamento de preso em celas metlicas ou construdas com materiais prejudiciais sade humana. Art. 14. O local onde o preso desenvolva suas atividades
4

CMARA DOS DEPUTADOS

dever apresentar: I janelas suficientemente amplas, de modo a propiciar a entrada de ar fresco, haja ou no ventilao natural, a fim de permitir que leia ou trabalhe sob luz natural; II quando necessrio, luz artificial suficiente, para que o preso possa desempenhar atividades sem prejuzo da sua viso; III instalaes sanitrias adequadas, de modo que satisfaa suas necessidades naturais de forma higinica e decente, preservada a sua privacidade; IV instalaes de banho prprias para que o preso possa tomar banho temperatura adequada ao clima, de acordo com a estao do ano e a regio geogrfica, e com a freqncia necessria sua higiene geral. Art. 15. Todas as dependncias do estabelecimento penal freqentadas regularmente pelo preso sero mantidas e conservadas limpas. Art. 16. vedada a manuteno de preso em delegacia de polcia, em superintendncia da Polcia Federal ou em cela de isolamento por mais tempo do que determinado pela autoridade competente.

Seo IV Da higiene pessoal Art. 17. obrigatrio que o preso se mantenha limpo, devendo lhe ser fornecidos gua e os artigos de higiene necessrios sua sade e limpeza. Pargrafo nico. O Estado deve prover, obrigatoriamente, os seguintes artigos de higiene ao preso: I sabonete; II papel higinico; III creme dental, em embalagem plstica e transparente; IV barbeador de plstico; V transparente;
5

creme

hidratante,

em

embalagem

plstica

CMARA DOS DEPUTADOS

VI desodorante; VII xampu e condicionador, em embalagem plstica e transparente; VIII absorvente ntimo; IX escova ou pente de plstico. Art. 18. Ao preso sero disponibilizados meios para o cuidado com cabelo e barba, a fim de que se apresente corretamente e conserve o respeito por si prprio.

CAPTULO IV DA ASSISTNCIA SADE Art. 19. A assistncia sade do preso, de carter preventivo-curativo, compreende atendimento mdico, odontolgico, psicolgico e farmacutico. Pargrafo nico. O atendimento mdico abranger servio de psiquiatria para o diagnstico e tratamento de estados de anomalia do preso. Art. 20. Para a prestao de assistncia sade do preso, cada estabelecimento penal dever ter, obrigatoriamente: I enfermaria, com camas, materiais clnicos, instrumental adequado e produtos farmacuticos indispensveis internao mdica ou odontolgica de urgncia; II dependncia para observao psiquitrica e para cuidado aos toxicmanos; III contagiosas. Pargrafo nico. Caso o estabelecimento penal no esteja suficientemente aparelhado para prover a necessria assistncia mdica ao preso, poder ele ser transferido para unidade hospitalar apropriada. Art. 21. O estabelecimento penal destinado a mulheres dispor de dependncia dotada de material obsttrico para, em caso de emergncia, atender a grvida, a parturiente ou a convalescente sem condies
6

unidade

de

isolamento

para

doenas

infecto-

CMARA DOS DEPUTADOS

de ser transferida a unidade hospitalar para tratamento apropriado. 1 Sempre que possvel, os partos devero ocorrer em hospitais pblicos ou privados conveniados ao Sistema nico de Sade - SUS. 2 O filho de presa nascido em estabelecimento penal no ter tal informao lanada no seu registro de nascimento. 3 Ao menor de 0 (zero) a 2 (dois) anos dependente de mulher presa assegurado o atendimento em creche e pr-escola mantidos pelo Estado no prprio estabelecimento penal, em local especfico e afastado dos locais de alocao de mulheres presas, com instalaes adequadas moradia, lazer e educao, e prestao das modalidades de assistncia previstas nesta Lei. Art. 22. O mdico, obrigatoriamente, examinar o preso, quando de seu ingresso no estabelecimento penal e, posteriormente, se necessrio, para: I determinar a existncia de enfermidade fsica ou mental; II assegurar o isolamento de presos suspeitos de sofrerem doena infecto-contagiosa; III determinar a capacidade fsica de cada preso para o trabalho; IV assinalar as deficincias fsicas e mentais que possam constituir obstculo sua reintegrao social. Art. 23. Ao mdico cumpre velar pela sade fsica e mental do preso, devendo realizar visitas dirias aqueles que necessitem. Art. 24. O mdico informar ao diretor do estabelecimento penal se a sade fsica ou mental do preso foi ou poder vir a ser afetada pelas condies do regime prisional. Pargrafo nico. assegurada ao preso a liberdade de contratao de mdico de sua confiana pessoal ou da de seus familiares, a fim de orientar e acompanhar seu tratamento. Art. 25. O mdico inspecionar regularmente o

estabelecimento penal e apresentar ao diretor, mensalmente, relatrio que

CMARA DOS DEPUTADOS

contenha informaes sobre: I a quantidade, qualidade, preparao e servio da alimentao; II a higiene e limpeza do estabelecimento penal e dos presos; III as condies sanitrias, calefao, iluminao e ventilao do estabelecimento penal; IV a adequao e limpeza do vesturio e das roupas de cama dos presos; V a observncia das normas concernentes educao fsica e aos desportos, quando no houver no estabelecimento penal pessoal capacitado para o desempenho dessas atividades. Pargrafo nico. Caso o diretor concorde com as recomendaes apresentadas pelo mdico, imediatamente tomar medidas para coloc-las em prtica. Caso contrrio, encaminhar relatrio autoridade superior, juntamente com as informaes que lhe foram repassadas. Art. 26. mulher presa assegurado atendimento ginecolgico e garantida a realizao de exames preventivos peridicos para deteco de cncer ginecolgico. Pargrafo nico. obrigatria a realizao de exame preventivo anual de cncer ginecolgico para as mulheres com idade superior a 35 (trinta e cinco) anos.

CAPTULO V DA ASSISTNCIA JURDICA Art. 27. Todo preso tem direito a ser assistido por advogado. 1 As visitas de advogado ocorrero em local reservado, respeitado o direito a sua privacidade. 2 Os servios de assistncia jurdica nos

estabelecimentos penais sero prestados pelas Defensorias Pblicas da Unio, dos Estados e do Distrito Federal.
8

CMARA DOS DEPUTADOS

3 Os estabelecimentos penais mantero setor especfico, com instalaes e recursos materiais e humanos prprios, para o processamento de pronturios e expedientes de benefcios de presos. 4 Os estabelecimentos penais mantero pronturio jurdico de cada preso, devidamente atualizado, com informaes completas sobre a execuo de sua pena. 5 A cada semestre, os estabelecimentos penais

realizaro clculo atualizado de liquidao da pena de cada preso, com vista obteno de benefcios, e elaboraro relatrio, que dever ser publicado no Dirio Oficial, disponibilizado pela Internet e remetido ao Tribunal respectivo.

CAPTULO VI DA ASSISTNCIA EDUCACIONAL Art. 28. A assistncia educacional compreende a instruo escolar e a formao profissional do preso. Art. 29. O ensino profissional ser ministrado em nvel de iniciao e de aperfeioamento tcnico. Art. 30. A instruo primria ser obrigatoriamente ofertada ao preso que no a possua. Pargrafo nico. obrigatria a criao e manuteno de cursos de alfabetizao para os presos analfabetos. Art. 31. Os estabelecimentos penais contaro com biblioteca organizada com livros de contedo informativo, educativo e recreativo, adequados formao cultural, profissional e espiritual do preso. Art. 32. permitida ao preso a participao de cursos por correspondncia, rdio, televiso ou pela Internet, sem prejuzo da ordem, segurana e disciplina no estabelecimento penal.

CAPTULO VII DA ASSISTNCIA SOCIAL Art. 33. O Estado estimular a manuteno e a melhora das relaes entre o preso e sua famlia que se lhe afigurem vantajosas. Art. 34. O Estado considerar sempre o futuro do preso
9

CMARA DOS DEPUTADOS

aps o cumprimento da pena, devendo incentiv-lo a manter ou estabelecer relaes com pessoas, rgos, instituies ou entidades que possam favorecer os interesses de sua famlia, assim como sua prpria reintegrao social.

CAPTULO VIII DA ASSISTNCIA RELIGIOSA Art. 35. A assistncia religiosa assegurada ao preso, respeitada a liberdade de culto. Art. 36. No estabelecimento penal que reunir nmero suficiente de presos adeptos de determinado culto religioso, o diretor nomear e cadastrar representante qualificado desse culto, a fim de que lhes seja prestada assistncia religiosa. 1 assegurado o acesso do preso a representante qualificado de qualquer culto, exceto se o prprio preso recus-lo. 2 O representante qualificado est autorizado a celebrar cultos regulares e a realizar visitas pastorais particulares a presos de seu culto. 3 O preso est autorizado a satisfazer as necessidades de sua vida religiosa, sendo-lhe permitida a participao nos servios litrgicos ministrados no estabelecimento penal e a posse de livros de rito e de prtica religiosa de seu culto.

CAPTULO IX DOS EXERCCIOS FSICOS Art. 37. O preso que no realizar atividades ao ar livre dispor de, no mnimo, uma hora por dia para a realizao de exerccios adequados ao banho de sol, de natureza fsica e recreativa. Pargrafo nico. Ao preso sero disponibilizados espao, instalaes e equipamentos necessrios ao desempenho de suas atividades fsicas. CAPTULO X DA ORDEM E DA DISCIPLINA Art. 38. A ordem e a disciplina sero mantidas no estabelecimento penal com a imposio das restries necessrias e suficientes segurana e boa organizao da vida em comum.
10

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 39. Nenhum preso desempenhar funo ou tarefa no estabelecimento penal em decorrncia da imposio de sano disciplinar. Pargrafo nico. Este dispositivo no se aplica aos sistemas baseados na autodisciplina e no constitui obstculo para a atribuio de tarefas, atividades ou responsabilidades de ordem social, educativa ou desportiva. Art. 40. No haver falta ou sano disciplinar sem a expressa e anterior previso legal ou regulamentar. Pargrafo nico. As sanes no podero colocar em perigo a integridade fsica e a dignidade do preso. Art. 41. So proibidos, como sanes disciplinares, castigos corporais, clausura em cela escura, sanes coletivas, bem como toda punio cruel, desumana ou degradante, e qualquer forma de tortura. Art. 42. vedada a utilizao de correntes, algemas e camisas-de-fora como instrumentos de punio, exceto nos casos previstos nesta Lei. Art. 43. Nenhum preso ser punido sem que tenha sido informado da infrao que lhe imputada e sem que lhe tenha sido assegurado direito de defesa real e efetivo. Art. 44. As medidas coercitivas sero aplicadas, exclusivamente, para o restabelecimento da normalidade e cessaro, de imediato, aps atingida a sua finalidade.

Captulo XI Dos meios de coero Art. 45. A utilizao de algemas, camisas-de-fora e de outros instrumentos de coero s se dar: I como medida de precauo contra fuga, durante o deslocamento do preso, devendo ser retirados quando do comparecimento em audincia perante autoridade judiciria ou administrativa; II por motivo de sade, de acordo com recomendao e sob superviso do mdico; III por ordem do diretor, em razo do insucesso de outros
11

CMARA DOS DEPUTADOS

mtodos de controle, a fim de evitar que o preso ofenda a si, a outros, ou cause danos materiais, hiptese em que o diretor consultar imediatamente o mdico e informar a autoridade superior; Art. 46. proibido o transporte de preso em condies ou situaes que lhe importem sofrimentos fsicos. Pargrafo nico. No deslocamento de mulher presa, a escolta ser integrada por, no mnimo, um policial ou servidor penitencirio do mesmo sexo.

CAPTULO XII DA INFORMAO E DO DIREITO DE QUEIXA Seo I Disposies gerais Art. 47. Quando de seu ingresso no estabelecimento penal, o preso receber informaes escritas sobre o regime de cumprimento de pena para a sua categoria, as normas e regulamentos que orientaro o seu tratamento, as imposies de carter disciplinar, os seus direitos e deveres, os mtodos autorizados para obter informaes e formular queixas, bem como qualquer outra informao relevante para a sua adaptao vida na instituio. Pargrafo nico. verbalmente ao preso analfabeto. As informaes sero prestadas

Art. 48. assegurado ao preso o direito de apresentar pedidos ou formular queixas ao diretor do estabelecimento penal ou seu representante, autoridade judiciria ou a outra competente. 1 O preso poder se comunicar com autoridade responsvel pela inspeo do estabelecimento penal sem a presena do diretor ou de qualquer outro servidor penitencirio. 2 As peties ou queixas do preso sero analisadas e respondidas em tempo hbil, salvo quando temerrias ou infundadas.

Seo II Da Ouvidoria Penitenciria Art. 49. A Unio, os Estados e o Distrito Federal criaro Ouvidorias Penitencirias, com o objetivo de:
12

CMARA DOS DEPUTADOS

I ouvir reclamaes contra abuso de autoridades e de servidores do sistema penitencirio; II receber denncias contra atos arbitrrios, ilegais e de improbidade administrativa praticados por servidores penitencirios; III promover as aes necessrias apurao da veracidade das reclamaes e denncias e, sendo o caso, tomar as medidas necessrias apurao das irregularidades, ilegalidades e arbitrariedades constatadas, bem como responsabilizao civil, administrativa e criminal dos envolvidos. Art. 50. O Estado disponibilizar linha telefnica destinada ao acesso direto, simples e gratuito de qualquer pessoa Ouvidoria Penitenciria. Pargrafo nico. A Ouvidoria Penitenciria garantir o sigilo da fonte e o anonimato ao denunciante. Art. 51. No desempenho de suas atribuies, a Ouvidoria Penitenciria dever: I formular e encaminhar reclamaes e denncias aos rgos competentes; II apresentar, trimestralmente, relatrio pblico do qual constar informaes sobre as reclamaes e denncias apuradas, os encaminhamentos realizados e o seu resultado.

CAPTULO XIII DO CONTATO COM O MUNDO EXTERIOR Seo I Dos meios de comunicao Art. 52. O preso est autorizado a se comunicar periodicamente, sob superviso e vigilncia, com sua famlia, parentes, amigos e instituies idneas, por correspondncia ou por meio de visitas. 1 A seu pedido, a correspondncia do preso analfabeto pode ser lida ou escrita por servidor penitencirio ou algum indicado por ele. 2 vedado ao preso o uso de servios de

telecomunicao e a utilizao de qualquer aparelho de comunicao no interior do estabelecimento penal.

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 53. O estabelecimento penal dever facilitar a comunicao entre o preso de nacionalidade estrangeira e os representantes diplomticos e consulares do Estado ao qual pertence, ou qualquer entidade nacional ou internacional que tenha por objetivo zelar pela sua proteo. Pargrafo nico. A mesma obrigao se impe quando se tratar de preso de nacionalidade de Estado sem representao diplomtica ou consular no pas, de refugiado ou de aptrida. Art. 54. Em caso de ameaa ordem ou segurana do estabelecimento penal, a autoridade competente poder restringir a correspondncia do preso, respeitados os seus direitos, at o restabelecimento da normalidade. Art. 55. O preso ter acesso regular a informaes por meio de jornais, peridicos ou publicaes especiais do estabelecimento penal, por transmisso de rdio ou por canal de televiso exclusivo do sistema penitencirio, desde que autorizados e controlados pela administrao. Pargrafo nico. vedada a difuso de sinal de canal aberto de televiso no interior de estabelecimento penal.

Seo II Das visitas Art. 56. A visita ao preso do cnjuge, companheiro, famlia, parentes e amigos dever observar a fixao dos dias e horrios prprios. Pargrafo nico. vedado o acesso de visitantes e advogados de preso s celas. Art. 57. assegurado ao homem e mulher presos o direito visita ntima. 1 A visita ntima ser realizada em turnos, de forma individual e escalonada, sendo o nmero dirio limitado a 1/10 (um dcimo) do total de presos alojados no estabelecimento penal. 2 A visita ntima se realizar em ambiente que assegure a intimidade e a privacidade do preso e de seu visitante. 3 Somente sero admitidos para visita ntima o cnjuge,
14

CMARA DOS DEPUTADOS

companheiro ou a pessoa designada em carter permanente pelo preso. 4 O visitante ser identificado e registrado junto direo do estabelecimento penal, que emitir documento de identificao, pessoal e intransfervel, especfico para a realizao da visita ntima. 5 O diretor do estabelecimento penal vedar, em carter definitivo, a visita de pessoa que tentar ingressar, indevidamente, com arma, aparelho celular, substncia entorpecente ou qualquer outro objeto ou material cuja entrada seja proibida. 6 assegurada a distribuio gratuita de preservativos ao preso quando da realizao da visita ntima. 7 proibida a realizao de visita ntima em cela. Art. 58. garantido ao filho maior de 2 (dois) anos de idade o direito de visita me recolhida em estabelecimento penal. Art. 59. As instalaes destinadas recepo e revista oferecero abrigo e conforto condizentes com o nmero de visitantes. Art. 60. Os visitantes sero revistados de forma segura e individualizada. Art. 61. Os servidores penitencirios esto obrigados a dispensar tratamento absolutamente cordial e respeitoso ao visitante do preso.

CAPTULO XIV DO DEPSITO E GUARDA DE OBJETOS PESSOAIS Art. 62. Quando do ingresso do preso no estabelecimento penal, sero guardados em local seguro dinheiro, objetos de valor, roupas e outras peas de uso que lhe pertenam e cuja posse lhe seja permitida. 1 Os objetos depositados sero inventariados em documento que deve ser assinado pelo preso, devendo o estabelecimento penal tomar as medidas necessrias sua conservao. 2 Os bens depositados sero devolvidos ao preso no momento de sua transferncia ou liberao, exceo do dinheiro que esteja autorizado a gastar, dos objetos que hajam sido remetidos para o exterior da instituio com a devida autorizao, e das roupas cuja destruio tenha sido
15

CMARA DOS DEPUTADOS

determinada por motivo de higiene. 3 O preso assinar recibo dos objetos e dos documentos que lhe forem restitudos, bem como daqueles que forem enviados ao exterior do estabelecimento penal. 4 O mdico decidir acerca da destinao de medicamento ou de substncia entorpecente que estiver na posse do preso no momento de sua admisso.

CAPTULO XV DAS NOTIFICAES Art. 63. O diretor do estabelecimento penal informar imediatamente o cnjuge, parente ou pessoa previamente designada a ocorrncia de falecimento, doena, acidente grave ou de transferncia do preso para outro estabelecimento penal. 1 O preso ser imediatamente informado do falecimento ou de doena grave do cnjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmo, sendo-lhe permitida, sempre que possvel e sob custdia, a realizao de visita pessoa enferma. 2 O preso tem o direito de comunicar, imediatamente, sua famlia, sua priso ou transferncia para outro estabelecimento penal.

Captulo XVI Das transferncias Art. 64. A transferncia de preso para outro estabelecimento penal dever ocorrer, sempre que possvel, sem que haja sua exposio pblica, devendo ser tomadas medidas para proteg-lo de toda sorte de violncia e publicidade. Art. 65. vedada a transferncia de presos em meios de transporte com ventilao ou iluminao imprprios, ou que de qualquer modo o submeta a sofrimento. Art. 66. O transporte de presos ocorrer em condies iguais para todos e ser efetuado custa do Estado. Art. 67. vedada a permanncia de preso em delegacia de
16

CMARA DOS DEPUTADOS

polcia depois de encerrada a lavratura do auto de flagrante ou apreenso, devendo este ser imediatamente transferido ao sistema penitencirio aps sua apresentao autoridade judiciria.

CAPTULO XVII DA PRESERVAO DA VIDA PRIVADA E DA IMAGEM Art. 68. O preso no ser constrangido a participar, ativa ou passivamente, de ato de divulgao de informaes aos meios de comunicao social, particularmente no que concerne sua exposio compulsria a fotografia ou filmagem. Pargrafo nico. O Estado tomar as medidas necessrias a assegurar que informaes sobre a vida privada e a intimidade do preso sejam mantidas em sigilo, em especial aquelas que no guardem relao com a sua priso.

CAPTULO XVIII DO SERVIDOR PENITENCIRIO Art. 69. Os servidores penitencirios sero selecionados em atendimento aos critrios de integridade, humanidade, aptido pessoal, formao acadmica adequada e capacidade profissional. Art. 70. Os servidores penitencirios sero admitidos mediante concurso pblico e exercero suas atividades em regime de exclusividade, sendo-lhes assegurada remunerao adequada, capacitao profissional e condies necessrias ao desempenho de suas funes, em considerao ao ambiente de trabalho a que so submetidos. 1 Antes de entrar em atividade, os servidores penitencirios devero ser submetidos a curso de formao, cuja avaliao se dar por meio de avaliaes tericas e prticas. 2 Os servidores penitencirios sero periodicamente submetidos a cursos de aperfeioamento, com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos tcnicos e aumentar sua capacidade profissional. Art. 71. O servidor penitencirio dever cumprir suas funes de maneira que inspire respeito e exera influncia benfica sobre o preso.
17

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 72. Para cada grupo de 400 presos, o quadro de pessoal de estabelecimento penal ser integrado, obrigatoriamente, pelos seguintes profissionais: I cinco mdicos, sendo um psiquiatra e um oftalmologista; II um mdico ginecologista e um mdico obstetra, nos estabelecimentos penais destinados mulher; III trs enfermeiros; IV seis auxiliares de enfermagem; V trs odontlogos; VI seis tcnicos em higiene dental; VII trs psiclogos; VIII trs assistentes sociais; IX trs nutricionistas; X doze professores, com formao adequada s necessidades da populao prisional; XI vinte e quatro instrutores tcnicos profissionalizantes, com formao adequada s necessidades da populao prisional. 1 Os servios de assistentes sociais, professores e instrutores tcnicos sero prestados em carter permanente, sem prejuzo daqueles prestados por servidores auxiliares em tempo parcial ou por voluntrios. 2 Nos estabelecimentos penais menores, os nmeros de profissionais previstos neste artigo sero adequados ao total da populao prisional. Art. 73. O cargo de diretor de estabelecimento penal dever ser ocupado por pessoa devidamente qualificada para a funo em razo de seu carter, integridade moral, capacidade administrativa, experincia profissional e formao acadmica adequada. 1 As atividades do diretor sero realizadas em tempo integral e sem restries de horrio, obedecidas as disposies pertinentes.

18

CMARA DOS DEPUTADOS

2 O diretor dever residir no estabelecimento penal ou prximo a ele. Art. 74. No estabelecimento penal destinado a mulheres, os servidores penitencirios responsveis pela custdia e vigilncia sero do sexo feminino, sem prejuzo do desempenho das funes de servidores penitencirios do sexo masculino. Art. 75. Nos estabelecimentos penais mistos, a seo destinada s mulheres estar sob a direo de servidor penitencirio do sexo feminino. Pargrafo nico. Nenhum servidor penitencirio do sexo masculino ingressar na seo destinada s mulheres desacompanhado de servidor penitencirio do sexo feminino. Art. 76. Nos estabelecimentos penais cuja importncia exija a prestao contnua de servios por um ou mais mdicos, pelo menos um deles dever residir na instituio ou prximo a ela. Pargrafo nico. Nos demais estabelecimentos penais, o mdico visitar diariamente os presos e residir nas proximidades, de modo a atender prontamente nos casos de urgncia ou emergncia. Art. 77. Quando do contato com o preso, vedado ao servidor penitencirio o uso da fora, salvo nas hipteses de legtima defesa, tentativa de fuga, ou de resistncia fsica ativa ou passiva a ordem fundada de natureza legal ou regulamentar. 1 O uso da fora ser aquele estritamente necessrio ao restabelecimento da ordem e dever ser imediatamente informado ao diretor do estabelecimento penal. 2 O servidor penitencirio receber treinamento fsico especial, a fim de habilit-lo a dominar e conter presos violentos. Art. 78. vedado ao servidor penitencirio o uso de arma no exerccio de funes que impliquem contato direto com os presos, exceto em circunstncias especiais. Pargrafo nico. O uso de arma por servidor penitencirio est condicionado prvia capacitao que possibilite o seu manejo.

19

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 79. A Unio, os Estados e o Distrito Federal criaro Escolas de Administrao Penitenciria, destinadas formao e capacitao tcnica dos servidores do sistema penitencirio.

CAPTULO XIX DA PARTICIPAO DE RGOS E ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL Art. 80. O Estado poder firmar acordos e convnios com rgos e entidades da sociedade civil, tendo por finalidade o aperfeioamento do sistema penitencirio, a proteo dos direitos e da dignidade dos presos, a criao de postos e funes para o cumprimento de penas e medidas alternativas priso, e o fornecimento de assistncia ao egresso e sua famlia.

CAPTULO XX DA AVALIAO DO SISTEMA PENITENCIRIO Seo I Da fiscalizao e das inspees Art. 81. O estabelecimento penal ser mensalmente pelo Juiz da execuo e pelo Ministrio Pblico. inspecionado

1 A inspeo mensal dever ser acompanhada por representantes do corpo de bombeiros, da vigilncia sanitria, da Defensoria Pblica e da Ordem dos Advogados do Brasil. 2 O Juiz da execuo elaborar relatrio completo da inspeo e o encaminhar s corregedorias do Tribunal e do Ministrio Pblico respectivos. Seo II Da coleta de informaes e dados Art. 82. O Departamento Penitencirio Nacional realizar, a cada 6 meses, o censo penitencirio nacional, com o objetivo de obter dados sobre o sistema penitencirio e elaborar estatsticas. Seo III Do ndice de Desenvolvimento Humano do Sistema Penitencirio Art. 83. Fica criado o ndice de Desenvolvimento Humano do Sistema Penitencirio IDHP , destinado a informar o nvel de qualidade dos estabelecimentos penais que compem o sistema penitencirio nacional. 1 O Departamento Penitencirio Nacional estabelecer
20

CMARA DOS DEPUTADOS

normas sobre os procedimentos e critrios utilizados para a apurao do IDHP. 2 O IDHP ser calculado segundo distino de gnero e refletir as condies especiais da mulher presa.

CAPTULO XXI DOS PROCEDIMENTOS DE SEGURANA Seo I Dos equipamentos e aparelhos Art. 84. obrigatria a instalao de portais detectores de metais e de raios X nos estabelecimentos penais federais e estaduais para a realizao de revista eletrnica. Pargrafo nico. As especificaes tcnicas, as normas para instalao e os procedimentos de operao e manuteno dos equipamentos sero regulamentados pelo Departamento Penitencirio Nacional.

Seo II Da revista Art. 85. Todas as pessoas, veculos, cargas, encomendas, pertences e demais objetos que ingressem ou saiam dos estabelecimentos penais esto sujeitos inspeo por meio de revista, a se realizar manualmente ou por aparelhos eletrnicos. 1 A revista eletrnica deve ser feita por equipamentos de segurana capazes de identificar armas, explosivos, telefones celulares, baterias, carregadores e microchips, aparelhos de radiocomunicao, drogas, e quaisquer outros objetos, produtos ou substncias proibidos ou prejudiciais aos objetivos da execuo penal. 2 Sero submetidas revista eletrnica todas as pessoas que queiram ter acesso ao estabelecimento penal, ainda que exeram cargo ou funo pblica, excetuando-se os portadores de marca passo e as gestantes, que sero submetidos revista manual, desde que devidamente comprovada a sua condio. 3 A revista manual dever ser realizada por servidor habilitado, do mesmo sexo do revistando, e preservar o respeito dignidade da pessoa humana.
21

CMARA DOS DEPUTADOS

Seo III Do Servio de Inteligncia Penitenciria Art. 86. A Unio, os Estados e o Distrito Federal criaro o Servio de Inteligncia Penitenciria SIP , com o objetivo de proceder coleta e ao tratamento de informaes relativas aos presos, a fim de subsidiar medidas para neutralizar, com antecedncia, a prtica de infraes penais por presos e a ao das organizaes criminosas. Pargrafo nico. O Servio de Inteligncia Penitenciria exercer suas atribuies de forma integrada e articulada com autoridades e rgos pblicos que atuam na rea da Justia e da Segurana Pblica.

CAPTULO XXII DA ARQUITETURA E ENGENHARIA DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS Art. 87. A edificao de estabelecimento penal observar as seguintes normas: 1 A escolha do local para construo considerar, dentre outros critrios, a vizinhana, o acesso virio, o zoneamento urbano ou rural do municpio, as condies de fornecimento de gua potvel e de energia eltrica e a forma de tratamento do esgoto e do lixo. 2 As edificaes e a urbanizao externas e internas do estabelecimento penal devero atender s normas para portadores de necessidades especiais. 3 As paredes, pisos, tetos, muros e mobilirio sero executados totalmente em concreto armado. 4 A edificao de estabelecimento penal ser executada em observao demanda por vagas. 5 O posto de vigilncia ser construdo de forma que permita a visualizao completa do ptio. 6 O acesso s celas sempre se dar por meio de corredor. 7 O projeto arquitetnico de estabelecimento penal dever minimizar, ao mximo, o contato fsico direto entre o servidor penitencirio
22

CMARA DOS DEPUTADOS

e o preso. 8 vedada a construo de instalaes que permitam acesso direto ao ptio e ao corredor de acesso s celas. 9 Do total de vagas do estabelecimento penal, 5% (cinco por cento) delas sero distribudas em celas individuais ou duplas sem solrio, e 2,5% em celas individuais ou duplas com solrio. 10. vedada a construo de cadeia pblica em rea residencial. 11. vedada a instalao de caixa dgua em pavilho de celas, devendo ser alocada em rea segura do estabelecimento penal. 12. A cantina deve ser instalada no ptio do estabelecimento penal, sendo vedado o acmulo de gneros alimentcios e botijes de gs em seu interior. Art. 88. As penitencirias sero estruturadas em mdulos de vivncia. 1 O mdulo de vivncia a edificao destinada ao alojamento do preso e realizao de todas as suas atividades. 2 A penitenciria ser composta de 4 (quatro) mdulos de vivncia, que constaro previamente do projeto arquitetnico e podero ser construdos de forma progressiva, de acordo com as necessidades da Administrao. 3 Cada mdulo de vivncia ser trreo e composto por duas alas com, no mnimo, galerias de celas, ptio com cobertura, oficina, consultrio, salo para atividades mltiplas, quarto para visita ntima, sala de advogado, sala para oitiva, sala de controle da vigilncia, cantina, barbearia, sala de controle central, celas de conteno, guarita de vigilncia superior e alojamento para os servidores penitencirios. 4 O mdulo de vivncia destinado ao alojamento de mulheres presas ter reas para berrio e creche, cela para lactantes com ptio, ptio destinado a crianas, celas de isolamento com e sem ptio prprio, e salo de beleza. 5 A penitenciria poder abrigar presos provisrios e
23

CMARA DOS DEPUTADOS

condenados, e de ambos os sexos, desde que permaneam em mdulos de vivncia separados. 6 A penitenciria dever possuir rea perimetral de segurana, livre de edificaes e vias pblicas, rea limtrofe devidamente urbanizada, com acesso virio, heliporto e estacionamento asfaltados, iluminao de segurana, corpo de guarda da vigilncia externa, urbanizao externa e interna, guaritas, alambrados, caladas, gramados e cercas de segurana ou muralhas. 7 A penitenciria ser composta, no mnimo, por instalaes destinadas a: I recepo e revista; II administrao; III refeitrio; IV subestao eltrica com grupo gerador; V garagem; VI mdulos de vivncia; VII ncleo de sade; 8 opcional a instalao de cozinha e almoxarifado em penitenciria. 9 A penitenciria conter de 1.400 a 1.600 vagas; cada mdulo de vivncia conter de 120 a 500 vagas; e cada ala abrigar, no mximo, 250 vagas. 10. permitida a construo de complexo formado por duas ou mais penitencirias contguas e integradas, com estruturas fsica e administrativa independentes, quando a demanda por vagas assim o exigir. Art. 89. As celas dos estabelecimentos penais sero: I individuais, com dimenso mnima de 2,0 metros por 3,0 metros; II duplas, com dimenso mnima de 2,0 metros por 3,0 metros;
24

CMARA DOS DEPUTADOS

III qudruplas, com dimenso mnima de 3,0 metros por 3,6 metros; IV ctuplas, com dimenso mnima de 3,0 metros por 6,0 metros. 1 As celas coletivas tero camas beliche, sendo os leitos inferior e superior construdos, respectivamente, s alturas de 0,6 metros e 1,5 metros acima do nvel do piso. 2 vedada a construo de cama beliche com mais de dois leitos ou cama ao nvel do piso. 3 A cela ter p direito mnimo de 2,7 metros. 4 A cela dever ter rea efetiva mnima de ventilao equivalente a 1/8 (um oitavo) da rea do piso. 5 A cela poder ter ventilao indireta atravs de corredor com, no mximo, 2,5 metros de largura, devendo a rea efetiva mnima de ventilao ser equivalente a 1/8 (um oitavo) da rea do piso acrescida da rea correspondente do corredor. 6 O corredor de acesso s celas somente poder t-las dispostas em um dos lados. 7 Cada cela conter aparelho sanitrio, ponto de gua potvel, tomada eltrica e iluminao artificial. 8 Todas as celas tero laje e cobertura. 9 Cada mdulo de vivncia conter, no mnimo, 4 (quatro) celas adaptadas para portadores de necessidades especiais. 10. As celas individuais e duplas podero ter solrio destinado ao banho de sol de forma individualizada, com dimenses de 2,0 metros por 3,0 metros. 11. O preso identificado como membro de organizao criminosa ser alojado em cela individual com solrio, construda em local especfico para tal finalidade. Art. 90. A Unio, os Estados e o Distrito Federal apresentaro ao Departamento Penitencirio Nacional, em at um ano aps a
25

CMARA DOS DEPUTADOS

data de edio desta Lei, Plano Diretor de Construo, Reforma e Manuteno de Estabelecimentos Penais, para implementao em at 15 (quinze) anos. 1 O plano diretor contemplar a construo de estabelecimentos penais novos e a reforma, adequao e manuteno dos j existentes. 2 Para a elaborao do plano diretor, sero observados os seguintes critrios: I o nmero de vagas existentes no sistema penitencirio e a previso de crescimento da populao carcerria da comarca, regional ou metropolitana; II o tipo de pena e o regime de seu cumprimento, e o sexo dos presos a serem alojados; III a distribuio espacial dos estabelecimentos penais na unidade federada; IV o cronograma das aes a serem executadas. 3 A implementao do plano diretor se condicionar a sua prvia homologao pelo Departamento Penitencirio Nacional. 4 As diretrizes constantes do plano diretor devero ser reavaliadas a cada 3 (trs) anos e novamente submetidas ao Departamento Penitencirio Nacional para homologao. 5 O Ministrio da Justia destinar recursos do FUNPEN para a implementao do plano diretor, ainda que a unidade federativa esteja inadimplente no SICAF, exceto se restrio no sistema houver sido feita pelo prprio ministrio. Art. 91. obrigatrio Unio, aos Estados e ao Distrito Federal o atendimento das normas e regulamentos relativos arquitetura e engenharia prisional editados pelo Departamento Penitencirio Nacional, ainda que os recursos aplicados em obras ou servios lhe sejam exclusivos.

TTULO II DAS REGRAS APLICVEIS A CATEGORIAS ESPECIAIS CAPTULO I DOS CONDENADOS

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 92. A classificao tem por finalidade: I separar os presos que, em razo de sua conduta e antecedentes penais e penitencirios, possam exercer influncia nociva sobre os demais; II dividir os presos em grupos para orientar sua reintegrao social. Art. 93. Quando do seu ingresso no estabelecimento penal, o preso ser submetido a exame de personalidade, a fim de que lhe seja estabelecido programa de tratamento especfico e apropriado com o propsito de promover a individualizao da pena.

CAPTULO II DAS RECOMPENSAS Art. 94. Cada estabelecimento penal instituir sistema de recompensas, em considerao aos diferentes grupos de presos e de mtodos de tratamento, de modo a motivar a boa conduta, desenvolver o sentido de responsabilidade e promover o interesse e a cooperao dos presos.

CAPTULO III DO TRABALHO Art. 95. O trabalho nos estabelecimentos penais no deve ser aflitivo ou penoso. Art. 96. O trabalho obrigatrio a todos os presos condenados, em conformidade com suas aptides fsicas e mentais, e com determinaes mdicas, se houver. Art. 97. O Estado deve prover aos presos trabalho suficiente e de natureza til, de modo a conserv-los ativos durante um dia normal de trabalho. 1 O trabalho provido deve manter ou aumentar as capacidades dos presos para obter seu sustento de forma lcita e honesta aps a sua liberdade. 2 O Estado proporcionar treinamento profissional adequado em profisses teis ao preso, especialmente para aquele de idade
27

CMARA DOS DEPUTADOS

entre 18 e 29 anos. 3 O preso poder escolher o tipo de trabalho que queira realizar, dentro dos limites compatveis com o quadro de profissionais do estabelecimento penal e com as exigncias da administrao e disciplina prisionais. Art. 98. A organizao e os mtodos de trabalho nos estabelecimentos penais devero se assemelhar, o mais possvel, aos que se aplicam a trabalho similar fora da instituio, a fim de que os presos sejam preparados para condies normais de trabalho livre. Pargrafo nico. O trabalho no dever visar o lucro e atender exclusivamente os interesses dos presos e de sua formao profissional. Art. 99. Quanto oferta de trabalho ao preso: I ser proporcionado ao condenado trabalho educativo e produtivo; II devem ser consideradas as necessidades futuras do condenado, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho; III nos estabelecimentos penais devem ser tomadas as mesmas precaues prescritas para proteger a segurana e a sade dos trabalhadores livres; IV sero tomadas medidas para indenizar os presos por acidentes de trabalho e doenas profissionais, em condies semelhantes s que a lei dispe para os trabalhadores livres; V a lei ou regulamento fixar a jornada de trabalho diria e semanal para os condenados, observada a destinao de tempo para lazer e descanso, educao e outras atividades que se exigem como parte do tratamento e com vistas reintegrao social; VI a remunerao aos condenados dever possibilitar a indenizao pelos danos causados pelo crime, aquisio de objetos de uso pessoal, ajuda famlia, constituio de peclio que lhe ser entregue quando colocado em liberdade.

28

CMARA DOS DEPUTADOS

CAPTULO IV DO DOENTE MENTAL Art. 100. O doente mental dever ser custodiado em estabelecimento apropriado, no devendo permanecer em estabelecimento penal alm do tempo necessrio sua transferncia. Art. 101. Sempre que necessrio, o Estado providenciar a continuidade do tratamento psiquitrico ao qual o egresso est submetido.

CAPTULO V DO PRESO PROVISRIO Art. 102. provisrio, no qual se observar: assegurado regime especial ao preso

I a sua separao de presos condenados; II a alocao em cela individual, sempre que possvel; III a opo por se alimentar s suas expensas; IV a utilizao de pertences pessoais; V o uso da prpria roupa ou, quando for o caso, de uniforme diferenciado daquele utilizado pelo preso condenado; VI o oferecimento de oportunidades de trabalho; VII a visita e atendimento de mdico ou dentista de sua confiana.

CAPTULO VI DO PRESO POR PRISO CIVIL Art. 103. No caso de priso de natureza civil, o preso ser alocado em recinto separado dos demais, aplicando-se-lhe, no que couber, as disposies referentes ao preso provisrio.

CAPTULO VII DOS DIREITOS POLTICOS Art. 104. So assegurados os direitos polticos aos presos no sujeitos aos efeitos da sentena penal condenatria transitada em julgado.
29

CMARA DOS DEPUTADOS

TTULO III DOS CRIMES CONTRA O PRESO Abandono material de preso Art. 105. Deixar de fornecer alimentao, gua potvel, artigos de higiene pessoal e acomodao adequada ao preso, ou faz-lo em desacordo com as disposies desta Lei: Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Maus tratos de preso Art. 106. Submeter o preso sob sua autoridade, guarda ou vigilncia, para fim de tratamento ou custdia, a tratamento cruel, desumano ou degradante, ou em desacordo com as disposies desta Lei. Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. 1 Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Pena recluso, de 3 (trs) a 8 (oito) anos, e multa. 2 Se resulta a morte: Pena recluso, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, e multa. Separao irregular de presos Art. 107. Deixar de determinar, garantir, fiscalizar ou realizar a efetiva separao entre presos provisrios e condenados, ou entre homens e mulheres. Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Manuteno indevida de preso Art. 108. Manter preso em delegacia de polcia civil ou federal, ou superintendncia da Polcia Federal , aps o prazo estritamente necessrio concluso da lavratura do flagrante. Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Trabalho excessivo ou inadequado de preso Art. 109. Sujeitar o
30

preso

trabalho

excessivo

ou

CMARA DOS DEPUTADOS

inadequado. Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Abuso disciplinar Art. 110. Abusar de meios de correo ou disciplina de presos: Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Visitao irregular de estabelecimento penal Art. 111. Deixar o Juiz da execuo, o membro do Ministrio Pblico, o membro de Conselho Penitencirio ou de Conselho da Comunidade de realizar, mensalmente, a visita ao estabelecimento penal ao qual estiver administrativamente vinculado, ou faz-lo de modo deficiente ou precrio. Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Manuteno indevida em cela de isolamento Art. 112. Manter o preso em cela de isolamento por mais tempo do que determinado pela autoridade competente. Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Lotao irregular de estabelecimento penal Art. 113. Alojar presos em desrespeito capacidade mxima de ocupao do estabelecimento penal prevista nesta Lei ou em norma de natureza infralegal. Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa. Art. 114. Para os crimes previstos nesta Lei, efeito da condenao a perda do cargo ou funo pblica e a inabilitao para o seu exerccio pelo prazo de 10 (dez) anos. Art. 115. Os crimes previstos nesta Lei so de ao pblica incondicionada.

TTULO IV DAS DISPOSIES FINAIS

31

CMARA DOS DEPUTADOS

Art. 116. O Departamento Penitencirio Nacional adotar as providncias essenciais ou complementares para o fiel e integral cumprimento das disposies desta Lei, em todas as unidades da federao. Art.117. do Encarcerado. Art. 118. Ficam revogados os arts. 88 e 92 da Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Art. 119. Esta lei entra em vigor 1 (um) ano aps a data de sua publicao. institudo o dia 25 de junho como Dia Nacional

JUSTIFICATIVA

Como principal fruto de seus trabalhos, a CPI Destinada a Investigar o Sistema Carcerrio apresenta este Projeto de Estatuto Penitencirio, com o objetivo de criar regras nacionais para o funcionamento das diversas unidades prisionais. Nossa anlise da situao do sistema carcerrio concluiu que as diferenas regionais so muitas vezes responsveis pelas deturpaes no atendimento dos presos e que preciso padronizar alguns tipos de procedimentos. Baseado nas Regras Mnimas para Tratamento do Preso da ONU, Resoluo 2076/77, o Estatuto busca consolidar regras que garantam precipuamente todas as atividades e condies que concretizem a finalidade ressocializante das penas. Adota normas mnimas sobre todas as condies em que funcionaro as unidades prisionais, suas caractersticas, regncia de suas atividades e dos sujeitos que participam de todo o sistema. O Projeto inicia por garantir o direito dos presos de receberem tratamento sem distino de natureza racial, social, religiosa, de gnero, orientao sexual, poltica, econmica, idiomtica ou de qualquer outra ordem. Tambm assegura respeito sua individualidade, integridade fsica, dignidade pessoal, crena religiosa e a seus preceitos morais. A Proposio apresenta normas para registro, recepo, avaliao, seleo e separao dos presos por tipo de delito e pena. Estabelece
32

CMARA DOS DEPUTADOS

parmetros e garantias referentes sade, fornecimento de alimentao, vesturio, material de higiene pessoal, ambiente arejado, luz solar, instalaes sanitrias mnimas. Tambm garante a privacidade dos presos em locais destinados higiene pessoal. O projeto veda absolutamente que haja presos mantidos em Delegacias ou Superintendncia da Polcia Federal. H normas especficas sobre sade da mulher com preveno do cncer ginecolgico, creche e berrio para filhos de mulheres encarceradas at dois anos de idade, em locais apropriados e com estrutura que proporcione educao e lazer. O projeto define parmetros para a Assistncia Jurdica pela Defensoria Pblica e garante acesso ao pronturio atualizado de cada um e lista pblica sobre o tempo de pena cumprido e faltante. Um mapa da populao carcerria, incluindo tempo de pena atualizado, dever ser publicado em Dirio Oficial e disponibilizado mensalmente na Internet. Sobre educao, estabelece obrigatoriedade de

alfabetizao, estudo bsico e profissionalizante, criando estrutura de biblioteca, sala de aula e acesso a cursos em rdio, TV e Internet. Cria parmetros para a assistncia social e define as condies da assistncia religiosa. H captulo sobre ordem e disciplina, com garantias dos presos a direito de queixa, informao e representao, e procedimentos disciplinares com ampla defesa. H a vedao de correntes, algemas e camisas de fora como meios de castigo. Tambm so proibidos castigos cruis, corporais, em cela escura, sanes coletivas, sanes degradantes e h proibio absoluta da tortura. Cria as Ouvidorias do Sistema Penitencirio, para anlise de queixas e demais denncias, com linha telefnica direta gratuita. Tambm cria o SIP Servio de Inteligncia

Penitenciria, que ser composto por funcionrios que devero colher informaes para prevenir aes delituosas e sero instrumento indispensvel no
33

CMARA DOS DEPUTADOS

combate s faces criminosas. O PL estabelece direito das visitas a revistas eletrnicas, sem humilhao, com local de espera confortvel e abrigado, garantindo tambm que as revistas sejam feitas apenas por pessoas do mesmo sexo do revistado. Muito importante para combater o problema de introduo de telefones celulares ou outros objetos e substncias ilegais nos presdios ser a norma que veda, em carter definitivo, as visitas de pessoas flagradas na tentativa de passar aos presos essas coisas. Se o parente se arriscar a tentar passar com os materiais ilegais, arrisca-se a no mais ter acesso ao preso. H norma sobre capacitao e treinamento dos servidores penitencirios, alm de estabelecimento de condies para a direo dos estabelecimentos. O Estatuto exige visitas e inspees mensais dos Juzes de Execuo e Ministrio Pblico, acompanhados da vigilncia sanitria e bombeiros, Defensoria Pblica e OAB. A cada 6 meses dever ser renovado o Censo Penitencirio Nacional e apurado o IDH - ndice de Desenvolvimento Humano dos presos, inclusive analisando a situao de cada gnero. H o estabelecimento de um modelo arquitetnico a ser seguido, constitudo de Mdulos de Vivncia, com caractersticas que garantam que os presos faam todas as suas atividades habituais sem sair desses espaos. O Estatuto tipifica os CRIMES CONTRA PRESOS,

prevendo as punies para os responsveis por abandono material do preso, maus tratos, separao irregular, condies indevidas, em cela de isolamento por tempo exagerado, sujeio do preso a trabalhos excessivos ou inadequados, abuso dos meios de correo ou disciplina. Tambm cometer crime o Juiz ou Promotor que deixar de visitar mensalmente os estabelecimentos prisionais que lhe competem, o Diretor de presdio que desrespeitar a capacidade mxima de lotao da unidade prisional, e as autoridades que mantiverem presos irregularmente em Delegacias ou Superintendncias por mais tempo que o estritamente necessrio finalizao do inqurito policial. Todos os crimes desse PL tm como efeito da condenao
34

CMARA DOS DEPUTADOS

a perda do cargo ou funo pblica e a inabilitao para seu exerccio por dez anos. Pelo aperfeioamento inegvel que trar a todo o sistema carcerrio, conclamamos os Nobres Pares a aprovarem com a maior brevidade possvel este Estatuto Penitencirio Nacional, que ter vacncia de um ano para que todos os Estados tenham tempo de adequar-se nova legislao. Sala das Sesses, em de de 2011.

Deputado DOMINGOS DUTRA PT/MA

35