Apontamentos Semanais de Direito Penal Aula de 29/11 (Manhã)
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O ilícito pessoal doloso é expresso através do tipo (fundimos o ilícito e o tipo – ilícito
típico). O conteúdo do tipo é também composto por elementos de natureza objetiva, mas
também elementos subjetivos (o dolo).
A doutrina distingue entre o tipo objetivo e o tipo subjetivo.
o Esta distinção falsifica a realidade, porque a falta de um elemento subjetivo é como a
falta de um elemento objetivo – a conduta deixa de ter um ilícito típico.
Por norma, o elemento subjetivo do tipo doloso é o próprio dolo. O dolo consiste numa
designação – conhecimento e vontade de realização do crime; sujeito conhece as
circunstâncias em que está a atuar. Ele conhece e quer realizar o tipo objetivo.
A partir daqui fala-se dos DOIS ELEMENTOS DO DOLO E DO TIPO:
ELEMENTO INTELECTUAL
Conhecimento da realidade concreta em que o agente está a atuar. Não está em causa
saber se ele representa que está a preencher um crime ou não; ele tem apenas de
atualizar naquele momento os elementos constitutivos do tipo (homem, casa,
património, objeto); representação do nexo causal. Se falta esta representação deixamos
de ter dolo.
Exemplo: Sr. A vai à caça; vê um vulto, dispara e mata a achar que era um animal. Afinal
era um homem àAqui falta o elemento intelectual para se tratar de um dolo (precisava de
saber que o vulto era um homem). Será punido a título de negligência.
O legislador muitas vezes socorre-se de conceitos descritivos (homem, casa, etc.); mas
por vezes vezes socorre-se de elementos normativos – que convocam uma valoração –
conceitos normativos de índole técnico jurídica.
O legislador recorre a conceitos técnico jurídicos de outros ramos do direito (boa fé, ato
administrativo válido ou inválido, etc.).
à O que está em causa é a realidade fáctica que ele quer retratar.
O problema que se põe quando se recorre a estes conceitos é o de saber que tipo de
conhecimento se vai exigir ao agente. Temos de exigir o conhecimento técnico,
dogmático? Se assim fosse, só juristas especializados poderiam cometer esses crimes.
Por isso é que a generalidade da doutrina diz que se exige o conhecimento à esfera do
leigo. A mesma ideia foi expressa por Beleza dos Santos (professor prefere esta
perspetiva) – deve atender-se às consequências práticas que se atribui a esses conceitos
jurídicos.
à É necessário que o erro se tenha ficado a dever a descuido do agente; se ele tivesse agido
com o cuidado mínimo, tinha conhecido o tipo e tinha-se abstido da prática dessa ação.
Nas formas especiais, o agente quer praticar um crime, mas por um erro intelectual vem
a praticar um crime diverso do pretendido inicialmente.
• Erro sobre a pessoa: Agente pratica o crime em pessoa diferente do que o que tinha
planeado [Exemplo: Sr. A quer matar Sr. B. Vê um vulto, achando que era B e
dispara, mas era C.]
• Erro sobre objeto: Sr. A quer roubar uma caixa de latão. Após furtar, repara que a
caixa era de ouro – queria praticar um furto simples, mas acaba por praticar um furto
qualificado.
Deve-se fazer uma questão prévia: há ou não identidade típica entre o crime
projetado e o crime consumado? Há coincidência entre o desvalor intencionado e o
desvalor de resultado?
Se houver identidade típica entre o crime projetado e o crime consumado (se o crime
praticado couber no mesmo tipo legal do crime intencionado) o erro não releva, vai ser
punido pelo crime consumado a título de dolo.
Quanto ao 1º exemplo – é sempre homicídio; Sr. A quer matar uma pessoa e mata uma
pessoa.
àNão está aqui em causa o conhecimento da realidade fáctica – esse, ele conhece-a
bem. Está em causa o agente aperceber-se do caráter ilícito da conduta. O erro das
proibições exclui o dolo, julgando-se a título de negligencia, verificando-se o requisito
formal (admite em abstrato a negligencia) e material (o resultado adveio de negligência)
da negligência.