TGDC - Sebenta P - 1.ºS
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1.º SEMESTRE
SEBENTA PRÁTICA DE
T E O R
I A G E R A L D O
DIREITO CIVIL
Miguel Louro
Com os apontamentos de
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2021/2022
Aula de 01/10/2021
1.A invocou / arguiu a nulidade do negócio celebrado com B.
Há duas formas de invalidade, a nulidade (mais grave) e a anulabilidade, menos
grave. Nulidade encontra-se prevista no 286º do CC. Anulabilidade no 287º.
Nulidade pode ser invocada a todo o tempo e por qualquer interessado ou
oficiosamente declarada pelo tribunal. A anulabilidade só pode ser arguida pelas
pessoas em cujo interesse a lei estabelece, no prazo de um ano. No entanto, quando
um negócio não está concluído, a anulabilidade pode ser arguida sem dependência
de prazo. Não pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal.
2. O tribunal declarou a nulidade do negócio concluído entre A e B.
Na anulabilidade, o tribunal anula o negócio. Na nulidade, o tribunal limita-se a
declará-lo nulo.
3. A celebrou com B um contrato de compra e venda.
4. A e B, por acordo, revogaram o contrato que haviam celebrado no ano anterior.
A resolução é unilateral. Como neste caso é por acordo entre as partes, o contrato
é revogado, de acordo com o artigo 406º/1 do CC.
5. A intentou uma ação de indemnização contra B.
6. A interpôs recurso da decisão proferida pelo tribunal de primeira instância.
Em termos hierárquicos, seguem-se aos tribunais de primeira instância os
tribunais da Relação e o Supremo Tribunal de Justiça, na hierarquia civil. Os juízes
de primeira instância designam-se Juízes de Direito, os da Relação designam-se
Desembargadores e os do Supremo Juízes Conselheiros.
7. A resolveu o contrato por incumprimento com B.
A resolução é unilateral, também pode ser designada de rescisão e está prevista
no artigo 798º do CC. O princípio geral, do 406º, é a pontualidade do cumprimento
dos contratos, pelo que a resolução é excecional. Além do incumprimento, o
direito à resolução também pode resultar, por exemplo, da alteração superveniente
das circunstâncias (437º).
8. A declaração negocial de A encontra-se viciada / inquinada por erro.
9. A disposição do artigo 410º, n.º 3, CC aplica-se ao contrato celebrado entre A e B.
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10. O contrato é nulo porque as partes não outorgaram a necessária escritura pública.
Por força do 875º do CC, o contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido
se for celebrado por escritura pública ou por documento particular autenticado. Os
negócios podem ser consensuais ou formais. Os negócios são consensuais quando
se bastam com o consenso das partes, não sendo necessária nenhuma formalidade
adicional. A consensualidade é a regra, por força do 219º do CC. Os negócios são
formais, excecionalmente, quando requerem a existência de uma forma especial.
A consequência da inobservância da forma especial está prevista no 220º do CC,
sendo a nulidade do negócio.
As formalidades são comportamentos complementares ou acessórios à celebração
de um negócio, podendo ser anteriores, concomitantes ou posteriores à sua
celebração. Existem sempre formalidades num contrato, nem que sejam
declarações verbais, pois a forma é o modo de exteriorização de um negócio, mas
isso não torna o negócio formal, pois estes requerem um modo de formalização
especial, previsto em lei.
A consequência da inobservância de uma formalidade tem como consequência a
nulidade, por força do 294º do CC.
11. A retificou o erro de cálculo na sua declaração negocial.
O direito a retificar ocorre quando há um lapso legal ou de escrita, nos termos do
249º do CC.
12. A ratifica o negócio que B havia celebrado em seu nome.
A representação voluntária é a atribuição a outrem, voluntariamente, de poderes
representativos, através de uma procuração, pelo 262º do CC. Pelo 268º do CC, o
negócio que uma pessoa, sem poderes de representação, celebre em nome de
outrem é ineficaz em relação a este, se não for por ele ratificado.
13. A revogou a procuração a favor de B.
Pelo 265º/2 do CC, a procuração é livremente revogável pelo representado, não
obstante convenção em contrário ou renúncia ao direito de revogação.
14. O procurador de A renunciou à procuração.
Pelo 265º/1 do CC, a procuração extingue-se quando o procurador a ela renuncia,
ou quando cessa a relação jurídica que lhe serve de base, exceto se outra for, neste
caso, a vontade do representado.
15. A ilidiu a presunção de culpa que sobre ele recaía.
Uma presunção é quando, através de um facto conhecido, se dá por assente um
facto desconhecido. As presunções podem ser legais, resultantes da nossa lei, ou
judiciais, fixadas por um tribunal. As presunções também se dividem entre iuris
et de iure (ou inelidíveis) e iuris tantum (ou ilidíveis). Uma presunção iuris et de
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iure não admite prova em contrário, como é o caso do 243º/3 do CC. Uma
presunção iuris tantum admite prova em contrário e é a regra geral.
16. A sede social foi designada nos estatutos.
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do CC é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou outra coisa
fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade.
Os bens imóveis são sempre infungíveis, pelo que se aplica apenas aos bens móveis.
22. A e B constituíram uma sociedade comercial.
23. A instituiu uma fundação.
Nos termos do artigo 185º do CC. A instituição é um negócio jurídico unilateral, bastando
uma declaração negocial, ao contrário dos contratos, em que são necessárias duas
declarações negociais.
24. A constituiu B seu procurador.
Estamos a falar de um exemplo de representação voluntária. Pelo 262º do CC, diz-se
procuração o ato pelo qual alguém atribui a outrem, voluntariamente, poderes
representativos. Diferente da representação voluntária é a representação legal, que
decorre da lei. Este é o caso das pessoas que, pela lei, não têm capacidade de exercício,
como os menores ou os maiores acompanhados.
25. A assembleia geral da sociedade deliberou aumentar o capital social.
As decisões dos órgãos colegiais tomam a forma de deliberações, ao contrário das
decisões dos órgãos singulares, que se designam decisões.
26. Na ausência de B, A foi nomeado seu curador provisório.
Esta questão remete ao instituto da ausência, que consta dos artigos 89º e seguintes. Este
instituto existe para fazer face ao problema da administração do património de alguém
cujo paradeiro seja desconhecido. Das várias soluções, a menos intrusiva é a curadoria
provisória, prevendo também a lei a curadoria definitiva e a morte presumida.
27. A requereu ao tribunal que decretasse as providências previstas no n.º 2 do artigo
70º, CC.
O artigo 70º trata da tutela geral da personalidade. O número 2 determina que
independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa ameaçada ou
ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim
de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida. Por
exemplo, se existir uma ofensa à honra de alguém, um pedido público de desculpas pode
ser uma providência adequada para atenuar os efeitos da ofensa.
28. O juiz conheceu/declarou oficiosamente a nulidade do contrato.
29. Na ação intentada por B, A excecionou com a prescrição do direito.
A defesa processual pode dar-se por duas formas: por impugnação ou por exceção. A
defesa por impugnação é quando o réu ou nega diretamente os factos alegados pelo autor
ou, apesar de não negar os factos, nega o efeito jurídico que o autor pretende retirar. Por
outro lado, quando se defende por exceção, o réu ou alega factos novos que obstam ao
conhecimento do mérito da causa (por exemplo, que o tribunal é incompetente) ou alega
factos novos que sejam modificativos, impeditivos ou extintivos do direito (como é o caso
da prescrição). Esta matéria será desenvolvida em Direito Processual Civil, no 3º ano.
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CÓDIGO CIVIL
O atual CC data de 1966, tendo entrado em vigor em 1967. O período entre a publicação
e a entrada em vigor designa-se de vacatio leges. O CC que o precedia era o Código de
Seabra, de 1867. Antes do Código de Seabra, o Direito Civil era regido pelas Ordenações
Filipinas, precedidas pelas Ordenações Manuelinas e Afonsinas. Entre as diferentes
Ordenações, as mudanças foram mais em termos de sistematização do que conteúdo. As
suas muitas lacunas eram preenchidas por Direito subsidiário e extravagante.
Os trabalhos de preparação do Código de Seabra foram realizados pelo Visconde de
Seabra, que se inspirou no movimento codificador do séc. XIX. O Código de Seabra é
inspirado no CC francês de 1804. Fruto das crenças da época, é marcado pelo
antropocentrismo, ao contrário do atual, marcado pela relação jurídica.
O atual CC é baseado no Código alemão de 1900, conhecido por BGB, sigla de
“Bürgerliches Gesetzbuch”, que significa “Livro Jurídico dos Cidadãos”. Assim, o nosso
CC é inspirado na pandectística alemã, o que se reflete na sua sistematização,
nomeadamente na adoção de uma parte geral.
O CC é composto por 5 livros (Parte Geral, Obrigações, Reais, Família e Sucessões).
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Desde a sua entrada em vigor, o CC já sofreu 79 alterações. Uma das mais importantes
foi a ocorrida em 1977, na sequência da aprovação da CRP de 1976. A principal alteração
ocorrida neste ano foi no livro do Direito da Família.
PARTE GERAL
O Prof. Orlando Carvalho critica a sistematização do nosso CC, por considerar que é
marcado pela desumanização, já que coloca pessoas, factos jurídicos e exercício de
direitos ao mesmo nível. Além desta crítica, o Prof. considera que a parte geral não é a
melhor opção para chegar a soluções, por tornar mais confusa e complexa a aplicação do
Direito.
As vantagens de uma Parte Geral são a clareza - pois é um local onde se encontram as
matérias gerais -, a racionalização do Direito e sua simplificação, o impedimento das
repetições e o facto de garantir tratamento igual para cada solução, impedindo o
fracionamento. Assim, antecipa um conjunto de matérias aplicáveis a todos os negócios
jurídicos.
As suas desvantagens são a abstração, a heterogeneidade de matérias - já que cumula de
tudo um pouco sem que haja ligação entre matérias -, a necessidade de estabelecer
regimes de exceção, porque a regra geral não pode ser aplicada a todos os casos, e as
dificuldades que gera do ponto de vista pedagógico, porque há certas matérias que
estudamos e não estão na Parte Geral.
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Resposta:
Neste caso, é estabelecido um contrato de compra e venda de um imóvel, presente nos
artigos 874º e seguintes do CC, com os efeitos do 879º, sendo um deles a obrigação do
pagamento do preço. Quando há dúvida quanto a que tribunal deve julgar um caso,
estamos perante uma dúvida de jurisdição, neste caso se deve ser julgado pelos Tribunais
Comuns, que julgam questões de Direito Civil, ou nos Tribunais Administrativos, que
julgam questões de Direito Administrativo, nos termos do artigo 29º da Lei de
Organização do Sistema Judiciário (62/2013).
Quando há estes conflitos de jurisdição, os mesmos devem ser resolvidos pelo Tribunal
de Conflitos.
Summa Divisio do Direito é a distinção entre Direito Público e Direito Privado. Esta
relação inclui-se no Direito Privado. Para o sabermos, usamos três critérios de distinção:
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Neste caso em particular, o tribunal deveria dar razão a A quanto à competência absoluta,
já que a Câmara Municipal atua sem ius imperium, pelo que a competência para julgar o
caso pertence efetivamente ao tribunal comum.
Resposta:
Sendo a mãe titular do direito de propriedade, A não o pode transmitir. A venda de bens
alheios, pelo artigo 892º do CC, é nula, com o regime do 286º e efeitos do 289º. Em
termos técnico-jurídicos, a venda de bens alheios é a venda de um bem alheio como se
fosse próprio.
Se A, quando se apresenta para vender o carro, dissesse a X que a mãe lhe iria doar o
carro no futuro, já não se trataria de uma venda de bens alheios, mas sim uma venda de
bens futuros, pelo 893º do CC. Pelo 880º, o vendedor de bens futuros fica obrigado a
exercer as diligências necessárias para que o comprador adquira os bens vendidos
segundo o que for estipulado ou resultar das circunstâncias do contrato. Esta venda é
válida, mas apenas é eficaz quando a mãe de A efetivamente lhe doar o bem.
Se A, nas negociações com X, afirmasse que o automóvel pertence à mãe e que esta
pretende vender o automóvel, estando assim na qualidade de seu representante,
estaríamos no âmbito da representação voluntária, nos termos do 262º e seguintes do CC.
Caso não existisse procuração, estaríamos no âmbito de uma representação sem poderes.
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Ainda assim, poderia celebrar o negócio, mas este só seria eficaz se a mãe o ratificasse.
Se não o fizer, ele será ineficaz.
Se fosse celebrado um contrato-promessa de compra e venda, regulado pelo 410º do CC,
ou seja, se A, agindo em nome da mãe e tendo poderes de representação, prometesse
vender o automóvel a X e X prometesse comprar o automóvel, as partes obrigar-se-iam a
celebrar um contrato no futuro, ao contrário dos casos anteriores, em que o negócio fora
celebrado no imediato.
Hipótese B:
B, proprietário de um stand de automóveis, vende uma carrinha em segunda mão a
C, técnico de vendas. A carrinha, no entanto, não era de B, mas sim de D, que a tinha
colocado no stand com o objectivo de B a vender, facto que este último ocultou ao
comprador.
Resposta:
Estamos perante um contrato de compra e venda de um bem móvel, em que não existem
poderes de representação. Assim, seria uma venda de bens alheios.
No entanto, esta venda de bens alheios está sujeita a um regime especial, a do 467º do
Código Comercial. Isto porque tanto B como C são comerciantes, pelo artigo 13º do
Código Comercial. Pelo 467º, esta compra e venda é válida, ao contrário da compra e
venda de bens alheios civil, criando no vendedor a obrigação de vender o bem, sob pena
de ter de indemnizar. Esta diferença entre a compra e venda de bens alheios civil e
comercial existe porque, por um lado, no âmbito comercial, os negócios são celebrados
de um modo mais célere e, por outro, pelo interesse e confiança dos negócios comerciais
a celebrar. Assim, o contrato é válido e só depois se verá se haverá lugar a transmissão
de propriedade ou a indemnização.
Resposta:
O contrato é válido. Este dever de sigilo decorre do princípio geral da liberdade
contratual, prevista no 405º do CC, que por sua vez decorre do princípio mais amplo da
autonomia privada. Segundo o princípio da autonomia privada, os privados podem
estabelecer relações jurídicas segundo a sua vontade, dentro dos limites da lei. Da
autonomia privada decorre a liberdade contratual, ou seja, a possibilidade de se celebrar
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contratos livremente dentro dos limites da lei, definindo o seu conteúdo e estabelecendo
as cláusulas que as partes entenderem.
Além destes princípios, está aqui em causa o princípio da boa-fé, segundo o 227º do CC,
relativamente a uma fase pré contratual e o 762º/2, relativamente ao decurso do contrato
e numa fase posterior à sua celebração. A boa-fé pode ser entendida num sentido subjetivo
ou objetivo. Neste caso, estamos a convocar o sentido objetivo. Em sentido subjetivo,
refere-se ao estado psicológico do Homem, por exemplo no 243º/2. Em sentido objetivo,
a boa-fé remete-nos para o dever do comportamento, nomeadamente um comportamento
leal, honesto e fiel.
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II. B celebra com C um contrato pelo qual se obriga a professar durante cinco anos
uma religião evangélica, mediante o pagamento de uma determinada quantia em
dinheiro.
Resposta: Está a ser posta em causa a liberdade religiosa, prevista no artigo 41º da CRP.
No entanto, não se põe em causa a liberdade contratual. Ainda assim, esta não é absoluta,
exerce-se dentro dos limites da lei, de acordo com o 405º do CC. Pelo artigo 280º, são
nulos o negócio jurídico cujo objeto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei
ou indeterminável (número 1) e o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos
bons costumes (número 2). O negócio deste caso prático é contrário à ordem pública, pelo
que é nulo.
Ordem pública diz respeito aos princípios que se encontram plasmados na nossa ordem
jurídica, designadamente os princípios com consagração constitucional. O Direito Civil
dá tradução a estes princípios constitucionais no ordenamento civil. Ordem pública difere
de bons costumes, que dizem respeito à moral social vigente numa determinada
comunidade num determinado tempo. No caso concreto, podem ser violados
simultaneamente a ordem pública e os bons costumes. Neste caso, falamos apenas da
ordem pública. Um exemplo de um contrato eventualmente contrário aos bons costumes
poderia ser o caso de alguém que se dedica a transportar alguém para uma atividade ilícita
ou socialmente reprovável.
Sendo o contrato nulo, é aplicado o regime do 286º, tendo os efeitos do 289º do CC.
III. D doa a E, seu sobrinho, todo o seu património imobiliário na condição de este
casar com F.
Resposta: O contrato de doação é válido, mas a condição não. Esta condição põe em
causa o direito a constituir família e a liberdade de casamento, em particular a liberdade
negativa, ou seja, ninguém pode ser obrigado a casar com quem não quiser. Também põe
em causa a liberdade positiva, porque não permite que E case com quem quiser.
Pelo 2233º do CC, a condição de casar ou não casar é contrária à lei, apesar de ser aplicada
ao testamento ou legado. No entanto, o 967º, referente ao contrato de doação, remete as
condições ou encargos física ou legalmente impossíveis, contrários à lei ou à ordem
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Resposta: Esta conduta é ilícita porque viola o princípio da igualdade, presente no artigo
13º da CRP. Assim, é contrário à ordem pública. Além disso, a lei 93/2017, que estabelece
o regime jurídico de proibição, prevenção e combate à discriminação, no seu artigo 2º,
número 2, alínea d), proíbe a discriminação no acesso a bens e serviços.
VI. L, proprietário de um imóvel, tendo recebido de M uma oferta para a sua compra
no valor de 100.000 euros, decidiu vendê-lo a N que por ele ofereceu 50.000 euros.
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II. A, avô de B e de C, vende a este último uma joia de família sem consentimento de
B.
Resposta: Pelo 877º do CC, os pais e avós não podem vender a filhos ou netos, se os
outros filhos ou netos não consentirem na venda. Esta norma é uma limitação à liberdade
contratual. A consequência da venda sem consentimento é a anulabilidade do contrato,
nos termos do 877º/2, sendo que a anulação pode ser pedida pelos filhos ou netos que não
deram o seu consentimento, dentro do prazo de um ano a contar do conhecimento da
celebração do contrato, ou do termo da incapacidade, se forem incapazes. Sendo um
contrato anulável, se após um ano os filhos ou netos nada fazem, o contrato convalida-se.
A teleologia da norma é garantir a igualdade dos descendentes, porque o legislador
desconfia que uma venda a um filho ou neto seja uma venda simulada de doação, ou seja,
que as pessoas estão a simular vender, mas não há verdadeiramente pagamento do preço.
Isto porque as doações podem estar sujeitas a colação, segundo a qual os descendentes
que pretendam entrar na sucessão do ascendente devem restituir à massa da herança, para
igualação da partilha, os bens ou valores que lhes foram doados por este, segundo o 2104º
do CC. Para evitar que se contornem as normas imperativas da colação, existe o 877º.
III. D, casado com E no regime de comunhão de bens, aliena um prédio urbano sem
consentimento do cônjuge.
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Caso prático nº 5
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Resposta: Estamos no âmbito de um contrato de adesão, em que o conteúdo não pode ser
modelado por uma das partes. Por se perceber que o aderente se encontrava fragilizado,
surgiram normas de proteção do consumidor, inseridas no Decreto-lei 446/85,
transposição de uma diretiva da UE.
Os contratos de adesão são previamente formulados e unilateralmente determinados,
sendo imodificáveis.
O DL 446/85 é aplicado, do ponto de vista subjetivo, às relações com consumidores finais
ou entre empresários ou entidades equiparáveis.
O diploma faz um controlo de inclusão e de conteúdo. Quanto ao controlo de inclusão, a
questão é saber se a cláusula contratual foi conhecida (ónus da comunicação) e se o
aderente foi informado dessa mesma cláusula (ónus da informação). Caso a cláusula não
passe neste controlo, considera-se excluída, pelo artigo 8º. Neste caso, o aderente alega
não conhecer a cláusula, pelo que a cláusula estaria excluída. Pelo 5º/3, cabe ao banco
provar a comunicação.
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Em relação à interpretação destes contratos de adesão, é regida pelos artigos 10º e 11º do
diploma, que esclarecem como é que as cláusulas devem ser interpretadas caso sejam
duvidosas. Em caso de ambiguidade, pelo art. 11º, prevalece o sentido que lhe daria o
contratante indeterminado normal. Mas, pelo número 2, na dúvida, permanece o sentido
mais favorável ao aderente. Isto demonstra que o nosso ordenamento vem responsabilizar
o predisponente por apresentar cláusulas ambíguas, ou seja, se tem a liberdade para
formular as cláusulas, também deve ser responsabilizado.
Se no contrato existirem cláusulas gerais e particulares, prevalecerão, em caso de
contrariedade entre umas e outras, as particulares, por serem as que melhor espelham a
autonomia privada e liberdade contratual.
Em suma, neste caso prático, as condições gerais de utilização estão assinadas por C, pelo
que está realizado o controlo de inclusão. Relativamente ao controlo do conteúdo, releva
o art 22º/1/o).
Nota: a lei 32/2021 vem alterar o art. 21º do DL, acrescentando que as cláusulas com
tamanho inferior a 11 ou a 2,5 milímetros e com um espaçamento entre linhas inferior a
1,15 são também absolutamente proibidas.
Caso prático nº 6
Resposta:
É celebrado um contrato de compra e venda de um automóvel, que não está sujeito a
nenhuma forma legal.
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b) Por outro lado, C tem sido constantemente interpelado por X para lhe entregar o
carro com o argumento de que B lho terá vendido em 2012. Quid iuris?
Resposta: A venda de C a X é uma venda de bens alheios. Pelo 892º CC, venda de bens
alheios é nula. Como o contrato entre B e C é valido, tem como efeito a transmissão de
propriedade, pelo 879º/a). Estando a propriedade na esfera patrimonial de C, então B está
a celebrar uma venda de bens alheios.
Importa também referir o art. 408º, que diz que a transferência de direitos reais sobre uma
coisa se dá por mero efeito do contrato. O registo do contrato tem um mero efeito
declarativo e não constitutivo.
Caso prático nº 7
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Resposta:
Trata-se de um contrato de adesão com recurso a cláusulas contratuais gerais. O âmbito
subjetivo de aplicação é uma relação com o consumidor final.
Neste caso, o controlo de inclusão falha, na medida em que A desconhecia a cláusula 28ª,
porque à partida não lhe foi comunicada, nos termos do art. 5º. Assim, é a operadora de
telecomunicações que tem de provar que cumpriu o ónus da comunicação (art.º 5/3).
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Resposta:
São 6 meses, nos termos da Lei 23/96 (art.º 10).
O art. 13º consagra a imperatividade das normas que preveem direitos para os utentes.
Logo, são nulas as cláusulas que limitam os efeitos da lei.
Assim, nos termos do art. 13º, a cláusula do caso prático é nula.
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Resposta:
Estamos no âmbito da responsabilidade civil extracontratual/extraobrigacional. A
responsabilidade civil divide se entre extracontratual/extraobrigacional e
contratual/obrigacional. Na responsabilidade civil obrigacional há um vínculo entre as
partes que determina a existência de uma obrigação à qual corresponde um direito de
crédito/relativo. Por outro lado, na responsabilidade civil extracontratual, não há este
vínculo prévio entre as partes, sendo violado um direito absoluto. Um direito absoluto
tem vinculação erga omnes e tem como contraponto um dever geral de abstenção. Os
direitos relativos vinculam apenas as partes determinadas em qualquer obrigação.
Nos artigos 405º e seguintes estão previstas as fontes das obrigações, institutos cuja
aplicabilidade vai dar lugar ao nascimento de uma obrigação. Como há mais obrigações
que os contratos é mais correto dizer responsabilidade civil obrigacional que contratual.
Se a obrigação não é cumprida, há lugar à responsabilidade civil obrigacional.
A responsabilidade civil extraobrigacional pode ser por factos ilícitos/subjetiva (com
culpa - ex: 483º), objetiva (independentemente da culpa - ex: 500º) ou por factos lícitos
(ex: 339º/2)
A responsabilidade civil obrigacional também pode ser por factos ilícitos/subjetiva (com
culpa - 798º), objetiva (independentemente da culpa – ex: 800º) ou por factos lícitos (ex:
1229º)
Aquele que sofre dano em princípio terá de suportar esse prejuízo (sentit dominus), a não
ser que o possamos imputar a outrem. Por regra, apenas existe responsabilidade civil se
existir culpa (por factos ilícitos/subjetiva), pois pelo 433º/2, apenas existe obrigação de
indemnizar sem culpa nos casos especificados na lei.
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Quanto aos danos morais não se pode realizar uma reconstituição natural nem
pagar uma indemnização em dinheiro, pois não é possível tornar indemne (sem
dano) um dano moral. Assim, há lugar a uma compensação.
5- Nexo de causalidade – o dano tem de ter sido causado pelo facto.
Caso prático nº 9
C, proprietário de um snack-bar, comprou um “plasma” no hipermercado D a fim de
substituir o seu velho aparelho de televisão. Ficou acordado que D entregaria o
“plasma” no estabelecimento de C até à quarta-feira seguinte, dia em que a televisão
transmitia um importante desafio de futebol, pretendendo C o aparelho para que os
seus clientes pudessem assistir ao jogo. No entanto, o funcionário de D encarregado
de distribuir as várias entregas esqueceu-se de incluir o “plasma” de C na distribuição
dessa semana, procedendo à sua entrega uma semana mais tarde. Assim, C vem exigir
o pagamento de uma indemnização em virtude da quebra de movimento que teve nessa
quarta-feira, uma vez que os seus clientes foram todos ver o jogo de futebol para um
café concorrente. Quid iuris?
Resposta:
Neste caso prático há duas responsabilidades civis a ter em conta.
Por um lado, a responsabilidade civil obrigacional objetiva, ou seja, independentemente
da culpa, por parte do hipermercado. Pelo 800º do CC, o devedor é responsável perante o
credor pelos atos dos seus representantes legais ou das pessoas que utilize para o
cumprimento da obrigação, como se tais atos fossem praticados pelo próprio devedor. A
responsabilidade civil objetiva ocorre quando o facto é ilícito, causa dano, há nexo de
causalidade, mas já não se aprecia a questão da culpa
Por vezes, podes ser difícil distinguir o 800º do 500º. O 800º aplica-se à responsabilidade
civil obrigacional, ou seja, alguém responde aos atos de outrem praticados no
cumprimento de uma obrigação. No 500º estamos no âmbito da responsabilidade
extraobrigacional, pela qual se alguém se serve de outrem, responde pelos atos q ele causa
desde que sobre ele também recaia a obrigação de indemnizar. Por exemplo, se na entrega
do plasma, o motorista atropelasse uma pessoa, seria uma responsabilidade civil
extraobrigacional por factos ilícitos. O comitente pode responder pelos atos do
comissário, de acordo com o artigo 500º.
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interesse do credor, por já ter passado o jogo, pelo que, pelo 808º, há incumprimento
definitivo. Além de ilícito, o facto tem de ser culposo, neste caso por mera culpa, ou seja,
sem dolo. Além disso, também tem de haver dano, neste caso lucros cessantes, de acordo
com o 564º do CC. Por fim, tem de haver nexo de causalidade, o que também se verifica.
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Resposta: Aqui há danos em três pessoas (peão, passageiro e motorista do táxi). Deve-se
apreciar se há a possibilidade de se imputar os danos a outrem ou não.
No caso dos danos ao motorista do táxi, são patrimoniais e emergentes. Não se pode
imputar a responsabilidade a outrem, o taxista terá de suportar os danos que sofreu,
segundo a regra geral de causa sentit dominus.
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Pelo 503º, aquele que tiver a direção efetiva de qualquer veículo de circulação terrestre e
o utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário, responde pelos
danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em
circulação. Esta norma não se aplica ao nosso caso, pois o condutor ia distraído e não se
apercebeu que o peão ia a atravessar na passadeira, pelo que o taxista tem culpa. Como o
taxista tem culpa, prevalece a responsabilidade civil subjetiva. Se não existisse culpa,
poderíamos enquadrar a questão no 503º. Por exemplo, se se despistasse por causa de
óleo na estrada, não havendo culpa, não poderíamos imputar responsabilidade civil por
factos ilícitos, mas sim responsabilidade civil objetiva, ou seja, independentemente da
culpa.
O art. 506º não é tão linear como possa parecer. Encontra-se na responsabilidade pelo
risco, mas enquadra casos de responsabilidade civil que não são pelo risco, pelo que
apenas será estudado no âmbito do Direito das Obrigações. O mesmo acontece com o
503º/3, pelo que nos devemos ater ao 503º/1.
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nos abstrair do direito estrutural e ver se a ponderação de interesses que está na base do
direito é a mesma que o titular quer prosseguir e, aparentemente, não é. Ele já tinha
conhecimento da alteração do fim do locado e aproveita-se disso para resolver o contrato.
Os interesses na base do direito de resolução por alteração do fim do locado não são esses,
pelo que há lugar ao exercício abusivo de um direito.
Este exercício abusivo de direito pode ser definido na modalidade de tu quoque.
Se alguém é titular de um direito subjetivo, à partida pode exercê-lo nos termos que
quiser. Só em casos muito especiais se justifica o instituto do abuso do direito. O art. 334º
define 3 limites: quando o exercício do direito é manifestamente atentatório da boa-fé,
bons costumes e do fim social ou económico do direito.
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Caso prático nº 12
Resposta:
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detrás, nomeadamente na segurança e publicidade, pelo que esta norma não pode ser
afastada, sendo necessário declarar na mesma a nulidade do contrato.
Além disso, pelo 286º, que consagra o regime da nulidade, esta é do reconhecimento
oficioso do tribunal, pelo que mesmo que as partes não a invocassem, o tribunal tem o
dever de a reconhecer oficiosamente.
Se o contrato é válido porque em 1993 não eram exigidas as formalidades, não há direito
à invocação da nulidade. Não é uma questão de abuso do direito, mas de falta de
titularidade do direito.
3º caso
Quando alguém, pelo exercício do direito por um longo período de tempo, cria a
expectativa de que tem um direito, há supresio. Y constitui a expectativa de que tem
direito àquela quantia.
Miguel Louro 2
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Do lado da seguradora, pode ser argumentado que as partes agiram no exercício da sua
liberdade contratual, pelo que a seguradora atua no exercício legítimo de um direito.
6º caso
O condómino que não pagou vem a tribunal pedir que o mesmo condene o condomínio
ao pagamento dos danos que sofre na sua fração por não terem sido feitas obras,
pedindo também a condenação do condomínio à realização das obras.
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Quando celebra um contrato, a arrendatária sabia que não havia licença - concordaram
que a iriam obter. A arrendatária sempre pagou as rendas e lá desenvolveu a sua
atividade; agora invoca a falta de licença para denunciar o contrato. Assim, o contrato é
aceite e posteriormente há um comportamento contrário, a invocação de falta de licença.
Nemo Plus Iuris ad alium transfere potest quam ipse habet – ninguém pode transmitir
mais direitos do que aqueles de que é titular.
1- Funcionamento do Registo
2- Proteção de terceiros de boa-fé (291º e 243º do CC)
Se alguém adquire apesar de o transmitente não poder transmitir, adquire a non domino.
Se A vende a B um imóvel por escrito particular (negócio nulo, pelos 220º e 875º) e B
vende a C, por força das exceções, C pode adquirir o direito de propriedade, não por força
do contrato, mas a non domino. C é um terceiro de boa-fé.
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- Terceiro;
- Invalidade anterior;
- Bem imóvel ou movel sujeito a registo;
- Adquire o direito onerosamente;
- Regista a aquisição;
- Não ser proposta uma ação de invalidade dentro dos três anos posteriores à
conclusão do negócio;
- Boa fé (o terceiro adquirente que no momento da aquisição desconhecia, sem
culpa, o vício do negócio nulo ou anulável).
- Terceiro;
- Simulação anterior;
- Boa-fé do terceiro (com ou sem culpa).
Resposta: Negócio simulado e nulo pelo 240º/2. C é terceiro afetado por situação anterior
e ignora a simulação. Assim, aplica-se o 243º.
Segundo caso:
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Resposta: Pelo 243º, C é um terceiro afetado por simulação anterior e está de boa fé. Não
é necessário registo.
Terceiro caso:
Resposta: C ignora simulação com culpa. No entanto, a culpa é irrelevante, pelo artigo
243º.
Quarto caso:
Resposta: Ainda continuamos no 243º, porque não se exige que C adquira onerosamente.
Quinto caso:
“A vende prédio a B por escrito particular (vício de forma), que troca por escritura pública
com C, que ignora o vício de forma sem culpa e regista “
Sexto caso:
“A celebra contrato comodato com B, que vende por escritura pública a C em 1982, que
celebra contrato de troca com D, que ignora a falta de legitimidade de B sem culpa e
regista, em 1984.”
Resposta: Comodato é um contrato pelo qual alguém empresta a outrem uma coisa
infungível, sendo um contrato gratuito. Assim, B não podia vender a C, porque o
comodato é um empréstimo. Deste modo, há venda de um bem alheio, nula pelo 892º.
Não é uma simulação, pelo que excluímos o 243º. D é um terceiro; trata-se de um bem
imóvel, há invalidade anterior, é contrato oneroso - regista e atua de boa-fé sem culpa.
Têm de passar 3 anos sem ação de invalidade anterior 1982 + 3 anos 1985.
Se até este ano não houver ação, D adquire.
Sétimo caso
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“A vende prédio por registo particular a B em 1980, que doa de forma simulada a C em
1982, que vende por escritura pública em 1984 a D. D ignora o vício de forma e a
simulação sem culpa e regista em 1986”
Resposta: Em relação ao vício de forma, apenas serve o 291º. D é terceiro, afetado por
invalidade anterior, o bem é imóvel. D adquire onerosamente, regista e têm de passar 3
anos sem ação de invalidade e agir de boa-fé sem culpa. É afastada a invalidade de ambos
Miguel Louro 7
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Os dois primeiros negócios são nulos, pelo que a propriedade seria de A. C não tinha direito,
por isso, pelo nemo plus iuris não pode transmitir a D.
Mas D poderia adquirir a non domino, pelo 291º do CC.
No negócio entre A e B há um terceiro, afetado por invalidade anterior, um bem imóvel é
adquirido onerosamente, registado em 1983, de boa fé sem culpa e não pode haver ação de
invalidade nos 3 anos posteriores - até 1983 não houve, pelo que já passou este período.
Relativamente ao negócio entre B e C, só perfazia 3 anos em 1985 e a ação é interposta em
1984, pelo que o 291º não o protege. Mas podemos aplicar o 243º, pois há um 3º de boa fé
afetado por simulação anterior.
Assim, D adquire a non domino em 1983, quando regista.
Nono Caso
A vende a B um prédio por escrito particular em 1980;
B doa por escritura pública a C em 1981 (regista em 1984) e vende por escritura pública a D
em 1982 (regista em 1983).
O negócio entre A e B é nulo nos termos do 220º, porque não cumpre a forma legal do 875º.
Logo, B não pode doar a C.
Relativamente a C, este não poderia aplicar o 291º, pois não adquire onerosamente, já que se
trata de uma doação. Assim, não pode adquirir o seu direito.
Já no caso de D, este cumpre todos os requisitos deste artigo, pelo que adquire em 1983.
C e D são terceiros para efeitos de registo que, pelo Código de Registo Predial, são os que
adquirem do mesmo transmitente direitos total ou parcialmente incompatíveis.
Quando C tenta registar em 1984 com um contrato cujo transmitente é B, não o poderá fazer
porque quem consta do registo é D, pois pelo princípio do trato sucessivo, o registo definitivo
de constituição de encargos por negócio jurídico depende da prévia inscrição dos bens em
nome de quem os onera (art. 34º do Código de Registo Predial).
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Décimo Caso
A vende de forma absolutamente simulada a B em 1980;
B doa a C por escrito particular em 1982;
C vende por escritura pública a D em 1984;
D regista em 1985, ignorando o vício sem culpa;
D constitui usufruto oneroso a E em 1986 (E não regista);
D vende sem reserva a F, que conhece os vícios e regista em 1987.
O negócio entre A e B é nulo pelo 240º.
A Doação por escrito particular é nula pelo 220º, por inobservância do 947º do CC.
D é terceiro, afetado por invalidade anterior. Temos de ver se vai adquirir a non domino. O
243º apenas o protege relativamente ao negócio entre A e B. Assim, D fica protegido pelo
291º - D é terceiro, afetado por invalidade anterior, trata-se de um imóvel, o terceiro adquire
onerosamente (não interessa que o negócio anterior seja gratuito), regista em 1985, está de
boa-fé sem culpa e têm de passar 3 anos sem registo de ação de invalidade. Logo, D adquire a
non domino em 1985.
Se adquire em 1985, em 1986 pode constituir usufruto a E.
Mas D vende sem reserva a F em 1987. Logo, E e F são terceiros para efeitos de registo, pois
adquirem do mesmo transmitente direitos incompatíveis.
O negócio entre D e E é valido. O facto de E não registar não afeta a validade do negócio,
pois o registo tem um efeito meramente declarativo e não constitutivo. Pelo 408º, a
transferência e transmissão de direitos reais dá-se por mero efeito do contrato.
A consequência de não registar é não conseguir opor o seu direito a terceiros, pelo art. 5⁰ a
contrario do Código de Registo Predial. Assim, F, quando regista, por força do efeito central
do registo, consegue opor o seu direito e este tem prioridade.
Logo, F adquire a propriedade sem reservas. Por sua vez, o direito de E vai extinguir-se por
decadência.
As partes disseram querer vender, mas na verdade queriam doar. Na simulação absoluta, as
partes não pretendem realizar nenhum negócio jurídico. Já na simulação relativa, as partes
pretendem realizar determinado negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Quando há
uma simulação relativa, o negócio simulado é nulo, mas o negócio dissimulado é válido. A
doação dissimulada entre A e B (1980) seria válida, pelo 241º. Mas não é, porque a A e B
mantêm relações adulterinas - pelo 2196º, é nula a disposição a favor da pessoa com quem o
testador casado cometeu adultério. Pelo 967º, relativo a contratos de doação, as condições ou
encargos física ou legalmente impossíveis, contrários à lei ou à ordem pública, ou ofensivos
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dos bons costumes ficam sujeitos às regras estabelecidas em matéria testamentária. Assim, o
2196º aplica-se às doações. Deste modo, o negócio dissimulado é nulo.
B decide vender a C, que regista em 1983. C é terceiro afetado por invalidade anterior, trata-
se de um imóvel, adquire onerosamente, regista em 1983, está de boa-fé sem culpa e têm de
passar 3 anos da data do negócio inválido – cumprem-se em 1983. Assim, cumpre os
requisitos. Mas também cumpre os termos do 243º (terceiro, de boa-fé, afetado por simulação
anterior) e por força deste artigo adquirira logo em 1982 - assim, deve ser este o aplicado.
A compra e venda é nula pelo 240⁰/2. A doação é válida, pois o negócio dissimulado, pelo
241º, é valido.
Se é válido, B adquire. Assim, pode vender a C, que adquire legitimamente.
Se C conhecesse a simulação, mas ignorasse sem culpa a indisponibilidade relativa da doação
dissimulada e registasse em 1984, não poderíamos aplicar o 243º, pois ele conhece a
simulação. Mas ignora sem culpa a indisponibilidade relativa, pelo que adquiriria por força
do 291º, em 1984, quando regista.
No negócio entre A e B há um vício de forma, nos termos do art. 875º, uma exceção à regra
geral da liberdade de forma. Assim, a propriedade mantém-se com A.
Pelo nemo plus iuris, B não pode transmitir a C.
Mas veremos se C pode ser protegido por exceção a este princípio. De imediato excluímos o
243º, pois não há nenhuma simulação.
Na primeira hipótese, havendo ação de invalidade em 2016, C é terceiro, afetado por
invalidade anterior, há um bem imóvel, adquire onerosamente, regista, está de boa-fé (não
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está explícito no enunciado, mas vamos supor que sem culpa) e não pode ser interposta uma
ação de invalidade nos 3 anos posteriores ao negócio - cumprem se em 2017. Sendo a ação
interposta em 2016, C não está protegido e a propriedade pertence a A.
Na segunda hipótese, já passaram os 3 anos, pelo que C adquire a nom domino por forca do
291º.
Caso prático nº 16
E, comerciante, receosa de uma acção judicial com vista à declaração da sua insolvência em
virtude das avultadas dívidas acumuladas nos últimos anos, e pretendendo salvaguardar os seus
bens, forjou com F, sua empregada, um contrato de compra e venda de um valioso colar de
pérolas, recebendo um preço simbólico a título de pagamento.
Mais tarde, F doa o mesmo colar a G, sua filha, que, embora estranhando que a sua mãe tivesse
uma jóia tão valiosa, desconhecia o acordo entre E e F.
Que direitos assistem a G?
Estamos no âmbito das exceções ao nemo plus iuris, nomeadamente a proteção de terceiros
de boa-fé. A terceira é G, pelo que vamos tentar proteger a sua aquisição.
O negócio entre E e F é uma compra e venda simulada de forma absoluta, pois as partes não
pretendiam celebrar negócio nenhum. Logo, o negócio é nulo pelo 240º/2.
Assim, G é terceira afetada por simulação anterior. Está de boa-fé, mas parece ter culpa, por
estranhar que a mãe tenha joia tão valiosa. Mas, pelo 243º, a culpa não é requisito, pelo que
se aplica este artigo e G adquire o colar a non domino.
Por sua vez, o direito de E extingue-se por decadência.
Caso prático nº 17
M, viúvo, decidiu doar a sua casa sita na Av. da Boavista, ao seu único filho N, residente em
França, instalando-se num "Lar de Terceira Idade". N não regista a sua aquisição. Entretanto,
tendo-se M apercebido que o filho pretendia arrendar a casa a uma empresa, o que implicava o
"despejo" de uma empregada antiga (O) que ainda lá habitava, decidiu constituir a favor de esta
um usufruto até à sua morte, por via contratual. Ambos os contratos foram celebrados mediante
escritura pública.
N, quando preparava os documentos para arrendar a casa é confrontado com o registo do direito
de usufruto a favor de O, incompatível com a possibilidade de arrendamento.
Quid iuris?
M doa por escritura pública a N, que não regista e posteriormente constitui usufruto a O, que
regista.
N e O são terceiros para efeitos de registo.
Como N não regista, não pode opor o seu direito a terceiros.
O negócio entre M e N é valido, pois o registo não é constitutivo, mas apenas declarativo.
Sendo o contrato válido, N é o proprietário, mas o seu direito não é oponível perante
terceiros, ou seja, O. Assim, por força do art. 6º do Código de Registo Predial, tem prioridade
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o registo, podendo opor o seu direito perante N. Deste modo, existe um direito de propriedade
a favor de N onerado por um direito de usufruto a favor de O.
Se a doação de M a N tivesse sido celebrada por escritura particular, o contrato seria nulo,
nos termos do 947º, logo a propriedade seria de M e o contrato entre M e O seria válido.
Caso prático nº 18
A vende a B a sua casa de praia em Janeiro de 2012. B, no entanto, não registou a sua aquisição.
Posteriormente, verificando A que a casa ainda se encontrava registada em seu nome, decide doá-
la a um seu sobrinho C, que muito o havia ajudado na sua velhice. C, tendo conhecimento, antes
da aceitação da doação, do anterior negócio realizado pelo tio, sossegou-o dizendo que "o
proprietário é aquele que aparece mencionado como tal no registo", e como tal o tio estava no seu
pleno direito ao fazer a doação.
Quid iuris?
Há uma modificação subjetiva e uma aquisição derivada translativa.
O negócio entre A e B é valido e eficaz inter partes, mas inoponível a terceiros, porque B não
regista. Assim, B é proprietário, mas não consegue opor o seu direito a C, que é o terceiro
para efeitos de registo pelo art. 5⁰ do Código de Registo Predial. Sendo uma aquisição
derivada, depende do direito do transmitente. Como A não tem direito, fica prejudicada a
transmissão.
C, ao registar, consegue opor o seu direito a B e este prevalece, pelo art. 6º do Código de
Registo Predial. C só consegue registar porque quem figura no registo como proprietário é A.
A afirmação "o proprietário é quem figura no registo" não é correta, pois a propriedade
pertencia a B. O registo constitui uma presunção da titularidade do direito. Mas é uma
presunção ilidível, permite prova em contrário, de acordo com o art. 7º do Código de Registo
Predial.
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Caso prático nº 19
Suponha que numa determinada Conservatória de Registo Predial se encontram
registados relativamente a um imóvel, composto de um edifício destinado a habitação
e respectivo logradouro, os seguintes factos:
(...)
- aquisição por C, mediante contrato de compra e venda celebrado por escritura
pública, em 1960;
- aquisição por D, em 1995, por usucapião;
- aquisição por E, em 2015, em virtude de contrato de doação celebrado entre D e E
por escrito particular;
- usufruto constituído onerosamente por E a favor de F, em 2018, formalmente válido;
- uma acção judicial com vista à declaração da nulidade da doação realizada a favor
de E, intentada por D em 2019 (e registada no mesmo ano).
Tendo em conta os dados referidos, qualifique todos os fenómenos de aquisição de
direitos aqui em causa e diga que direitos incidem actualmente sobre o prédio em
questão e quais os respectivos titulares.
Resposta: Aquisição por C é uma aquisição derivada translativa (o seu direito depende
de um direito anterior). A aquisição por D por usucapião é uma aquisição originária (ou
seja, o seu direito de propriedade não depende do de C). A doação a E é uma aquisição
derivada translativa. O usufruto a favor de F é uma aquisição derivada constitutiva
(constitutiva porque o direito não existia).
A propósito das aquisições privadas, importa o princípio do nemo plus iuris, ninguém
pode transmitir direito que não possui.
O artigo 947º do CC estabelece a forma legal de doação de imóveis, pelo que este contrato
não respeita a forma legal, sendo assim nulo nos termos do artigo 220º. Se o contrato é
nulo, não produz efeitos, podendo a nulidade ser declarada a qualquer momento por
qualquer interessado e reconhecida oficiosamente pelo tribunal. A declaração da nulidade
terá como efeito a restituição do que foi prestado, neste caso, o bem. Um terceiro, para
efeitos de registo, é aquele que do mesmo transmitente adquire direitos total ou
parcialmente incompatíveis. Não é o que acontece neste caso prático, pois não há duas
pessoas que adquirem do mesmo transmitente. Assim, F é terceiro de boa-fé, ou seja,
alguém que vê a sua aquisição do direito afetada por uma invalidade anterior.
Enquanto terceiro de boa-fé, pode ser protegido pelo artigo 243º ou pelo 291º. Como não
há simulação, excluímos logo o 243º. Pelo 291º, F é terceiro, afetado por invalidade
anterior, trata-se de um bem imóvel, registou, adquire onerosamente, está de boa-fé
Miguel Louro 1
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(supomos que sem culpa) e têm de passar 3 anos da data do negócio inválido sem que
seja interposta ação de invalidade. Passam 3 anos em 2018, que é a data em que F regista,
pelo que este pressuposto também se verifica. Assim, F adquire a non domino.
Em suma, a propriedade incide sobre F, e E é titular do direito de usufruto.
Caso prático nº 13 (recuamos a este caso, pois tínhamos avançado esta matéria)
Caso prático nº 14
F é abordado à noite por um indivíduo empunhando uma faca exigindo a sua carteira.
1ª hipótese: F dá-lhe um pontapé e o indivíduo cai na rua.
2ª hipótese: F, que andava sempre armado, dá um tiro ao indivíduo
Resposta: É um caso de legítima defesa que, de acordo com o artigo 337º, é lícita quando
há uma agressão, atual ou iminente (não pode ser meramente preventiva), ilícita (pois o
indivíduo ameaça o direito à integridade física de F, bem como o seu património), contra
a pessoa ou património do agente (neste caso ambos) e admite-se a legítima defesa a favor
do próprio ou de terceiro (neste caso, do próprio). Além disto, é necessário não ser
possível recorrer aos meios coercíveis normais e existir proporcionalidade (entendida de
Miguel Louro 2
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um modo mais flexível, já que a legítima defesa apenas não pode ultrapassar
manifestamente os danos provocados). Além disso, a legítima defesa, mesmo que haja
exceção, pode ser justificada se este se tiver devido a medo ou perturbação do agente,
desde que não culposos, de acordo com o artigo 337º/2.
Assim, na 1ª hipótese, parece ser legítimo recorrer à legitima defesa.
Na 2ª hipótese, se considerarmos que há excesso manifesto, a legítima defesa não está
justificada. Se considerarmos que se deveu a medo ou perturbação de F, já pode ser
justificada.
Caso prático nº 20
Num dia de mar revolto, A foi pescar num pequeno barco para a barra de Viana do
Castelo. Perante o olhar impotente de alguns transeuntes, a embarcação voltou-se, foi
arrastada para o alto mar pela corrente, e nunca mais se viu A.
Diga se um credor de Braga, interessado na conservação dos bens de A para garantia
de vultuosos créditos, pode ser nomeado seu curador provisório nos termos dos artigos
89º e segs., e, sobretudo, 92º do Código Civil.
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Caso prático nº 21
a) Como, quando e por quem podem ser requeridas medidas para prover à
administração dos bens de A e B?
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Caso prático nº 22
F, grávida de 4 meses, é atropelada por G ao atravessar a rua com toda a atenção, numa
passadeira para peões. Conduzida de imediato ao hospital, é submetida a uma
intervenção cirúrgica de urgência. Supondo que o filho de F veio a nascer com uma
grave deformação física em resultado de traumatismos sofridos devido ao acidente,
diga se existe responsabilidade civil de G e, em caso afirmativo, quem tem direito a
indemnização e quais os danos indemnizáveis.
Poderá F accionar judicialmente o hospital, pedindo uma indemnização pelo facto de
ter sido operada sem o seu consentimento?
Miguel Louro 1
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jurídica designa uma qualidade, ao passo que a capacidade jurídica designa uma
quantidade. A capacidade de exercício é a possibilidade de exercer por si ou através de
representante voluntário os direitos. Assim, os menores não têm capacidade de exercício,
sendo esta suprida pela representação legal, detida em princípio pelos responsáveis
parentais.
Neste caso prático, o nascituro não tinha ainda, por lei, personalidade jurídica, mas
alguma doutrina (por exemplo, os Profs. Carneiro da Frada, Maria Clara Sottomayor,
Menezes Cordeiro, Oliveira Ascensão, Paulo Otero e Pedro Pais de Vasconcelos) tem
entendido que o nascituro tem sim personalidade jurídica. Outros professores, como
Cabral de Moncada, Carlos Mota Pinto, Carlos Fernandes, Castro Mendes, Dias Marques,
Rita Lobo Xavier, Pires de Lima e Antunes Varela pronunciam-se contra a personalidade
jurídica do nascituro. Há, assim, uma grande divergência doutrinal em relação a este tema.
Caso prático nº 23
Miguel Louro 2
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Resposta: Por uma questão de mera opinião pública, B não poderia ser obrigada a
consentir. Se fosse feita recolha de sangue sem consentimento, seriam violados os direitos
à liberdade, à reserva da vida privada e ainda à integridade física, quer da mãe quer da
filha.
Tendo em conta a divisão tripartida de Orlando de Carvalho, caso B prestasse
consentimento, seria um consentimento autorizante.
Relativamente à filha, por ser menor, não poderia prestar o seu consentimento, pelo que
a sua incapacidade teria de ser suprida pela representante legal, ou seja, a mãe.
Caso prático nº 24
Ao chegar a casa do seu amigo A, B depara com a porta da entrada aberta e com um
bilhete colado numa parede dizendo “Não me salves!”, compreendendo então que A
decidira cometer suicídio. Com efeito, A encontrava-se dentro da banheira esvaído em
sangue, mas ainda com vida.
Deverá B tentar salvar A?
Sendo um direito absoluto, vincula erga omnes, pelo que a todas as pessoas do lado
passivo corresponde um dever geral de respeito, que vincula todos a respeitar este direito.
Há, assim, uma obrigação de non facere. Mas, no caso dos direitos de personalidade, a
par deste dever geral de respeito, há também um dever de auxílio.
Logo, B deverá tentar salvar A. Se não o fizer, incorrerá em responsabilidade civil por
omissão. Se de facto houvesse lugar a esta ação de responsabilidade civil, B poderia
argumentar que o bilhete poderia traduzir um não consentimento numa intervenção de
que necessitasse para ser salvo. No entanto, B não poderia saber se foi mesmo A que
escreveu o bilhete nem se, mesmo que tenha sido escrito por B, a vontade expressa no
bilhete ainda seria atual. Além disso, sendo o direito à vida irrenunciável e indisponível,
se A estivesse a renunciar estaria a cometer um ato ilícito. Esta mensagem também não
poderia ser valorada como testamento vital, porque este exige uma forma especial que
não se verifica neste caso.
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Caso prático nº 25
No artigo 13º-A da Lei 41/2004, é dito que “está sujeito a consentimento prévio e
expresso do assinante que seja pessoa singular, ou do utilizador, o envio de
comunicações não solicitadas para fins de marketing direto, designadamente através da
utilização de sistemas automatizados de chamada e comunicação que não dependam da
intervenção humana (aparelhos de chamada automática), de aparelhos de telecópia ou
de correio eletrónico, incluindo SMS (serviços de mensagens curtas), EMS (serviços de
mensagens melhoradas) MMS (serviços de mensagem multimédia) e outros tipos de
aplicações similares”. Ou seja, E teria de dar consentimento prévio para ocorrerem estas
comunicações.
Miguel Louro 4
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Caso prático nº 26
Na sua edição de 3/5/09, uma revista espanhola publicou um escrito onde se podia ler:
“Os irmãos A e B passam droga através da fronteira portuguesa. Uma vez foram
surpreendidos a assaltar uma joalharia. Um deles fugiu para o Brasil e, no seu regresso,
a polícia deteve-o num hotel de Vigo, mas o outro, B, nunca o apanharam e vive agora
em Portugal, onde continua o seu tráfico ilegal, em estreito contacto com o fadista
português C, que é ele mesmo um capo da droga em Portugal”. Em 16/5/09, D, agência
noticiosa, enviou às redacções dos principais orgãos de comunicação social
portugueses um telegrama de cujo teor constava:
“A revista espanhola cita ainda outros portugueses implicados na rede de tráfico de
droga, entre eles, o fadista C, o qual é classificado pela fonte citada pela revista como
um dos cabecilhas da droga em Portugal”.
Assim, alguns orgãos de comunicação social portugueses deram grande relevo à
matéria constante do telegrama, com títulos de primeira página e caixa alta ou com
transcrições repetidas.
C, de cujo certificado de registo criminal nada consta, viu cancelados vários
espectáculos, após a divulgação do telegrama, e deixou de auferir uma quantia não
inferior a esc. 100.400 euros.
C sente-se lesado e pretende reagir. Quid iuris?
(Cfr. Acórdão da Relação de Lisboa (secção cível) de 22.01.1998, CJ, I, 1998, pp. 83-
87).
Miguel Louro 5
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Nesta aula resolvemos alguns casos que a professora considerou mais importantes.
Caso prático nº 27
Resposta: Este contrato não é válido porque o contrato não pode ter como objeto um
órgão. Por força da lei 12/93, pelo art. 5º, há um princípio geral de gratuitidade, sendo
proibida a sua comercialização. Também o artigo 280º do CC diz que “é nulo o negócio
jurídico cujo objeto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou
indeterminável”. Assim, o negócio seria nulo. Este artigo é uma limitação ao princípio da
liberdade contratual.
Ao vender o rim estaria a limitar direitos de personalidade, o que não poderá fazer por
via contratual.
B veria limitados os direitos à integridade física e, por via contratual, à liberdade negativa
de não ceder o rim.
Miguel Louro 1
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Em suma, este contrato é nulo. Mesmo que tivesse sido válido, seria livremente revogável,
nos termos do artigo 81º/2.
Caso prático nº 29
Por força do artigo 81º/2, a primeira cláusula é nula, pois a limitação voluntária é sempre
revogável. No âmbito contratual em particular, este contrato é um contrato de adesão
celebrado com recurso a cláusulas contratuais gerais, pelo que o consentimento prestado
ainda se torna mais limitado do ponto de vista da liberdade de prestação de consentimento.
Se ele retirar o consentimento, incorre em responsabilidade civil obrigacional, pois estaria
a incumprir o contrato.
O Prof. Oliveira Ascensão entende que deve ser feita uma restrição da livre
revogabilidade no caso de ter sido celebrado um contrato, entendendo que esta só deve
existir se se fundar em aspetos essenciais à pessoa.
Miguel Louro 2
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Além da cláusula ser nula, pode ser levantada uma questão ao contrato em si, que se
prende com o facto de os direitos de personalidade serem irrenunciáveis e, neste caso, por
termos uma limitação tão violenta, por ser transmitido 24 horas por dia, poderíamos
entender que é uma renúncia a alguns direitos de personalidade, nomeadamente à reserva
da vida privada. Assim, o contrato seria ilícito.
Se entendermos que não há renúncia, mas apenas limitação, o contrato seria válido e o
consentimento também, mas a cláusula da irrevogabilidade seria nula.
Caso prático nº 32
Esta violação de direitos de personalidade não foi consentida por A, pelo que é ilícita.
Assim, tem por consequência a responsabilidade civil extracontratual. Temos um facto
ilícito, culposo e danoso e há um nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Pelo artigo 79º/2, “não é necessário o consentimento da pessoa retratada quando assim o
justifiquem a sua notoriedade, o cargo que desempenhe, exigências de polícia ou de
justiça, finalidades científicas, didáticas ou culturais, ou quando a reprodução da imagem
vier enquadrada na de lugares públicos, ou na de factos de interesse público ou que hajam
decorrido publicamente”. Não se verificando estas condições, seria necessário o
consentimento de A.
Miguel Louro 3
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Caso prático nº 40
C, com 17 anos de idade, comprou uma mota Harley Davidson por €40.000, gastando
todo o dinheiro que a sua avó lhe havia deixado em testamento, e escondeu-a na
garagem de um amigo até ao dia em que completou 18 anos, por saber que os seus pais
jamais concordariam com a compra. No dia 3 de junho de 2018, dia do seu aniversário,
C apareceu em casa com a sua mota nova, informando os pais tratar-se de uma prenda
que decidiu oferecer antecipadamente a si próprio. Tendo os pais ameaçado retirar-lhe
a mesada se este não devolvesse a mota, C pretende reagir contra o negócio. Poderá a
sua pretensão ser atendida?
C pode reagir no prazo de 1 ano a contar da sua maioridade ou emancipação, pelo artigo
125º/b), ou seja, até 03/06/19.
Pelo art. 126º, “não tem o direito de invocar a anulabilidade o menor que para praticar o
ato tenha usado de dolo com o fim de se fazer passar por maior ou emancipado”. Não nos
é informado se C se fez passar por maior, pelo que não sabemos se este artigo pode ser
invocado pelo vendedor.
Miguel Louro 4
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Caso prático nº 42
Caso prático nº 43
Miguel Louro 5
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Em relação às fraldas, pelo art. 127º/b), “os negócios jurídicos próprios da vida corrente
do menor que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou
disposições de bens, de pequena importância.” Assim, o contrato é válido.
Quanto à mobília, poderá caber igualmente na alínea b). É um ato próprio da vida corrente
de A, que está grávida. Estando prestes a celebrar 18 anos, está ao alcance da sua
capacidade natural.
Quanto ao contrato de mútuo, este é inválido, por não respeitar a forma legal do art. 1143º
(pela qual seria necessário que o documento fosse assinado pelo notário). Como não
respeita a forma legal, é nulo pelos termos do art. 220º.
Logo, a mãe não poderia invalidar as duas compras e vendas porque os negócios são
válidos, nos termos do art. 127º. Quanto ao contrato de mútuo, pelo artigo 286º, a nulidade
é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e poderia ser invocada oficiosamente
pelo tribunal.
Caso prático nº 44
Em Janeiro de 2009, A celebrou com B um contrato pelo qual este último lhe vendeu
500 acções ao portador do Banco X. B, no entanto, era alcoólico, estando pendente
uma acção com vista ao seu acompanhamento.
Mais tarde, A tem conhecimento da sentença que decretou o acompanhamento de B e
pretende requerer a anulação do contrato celebrado. De facto, em virtude da recente
crise que afectou a Bolsa, o preço das acções desceu vertiginosamente logo após a
transacção 16 efectuada, causando graves prejuízos a A. Será A bem sucedido na sua
pretensão?
Resposta: Está pendente, à data de celebração do negócio, uma ação com vista ao
acompanhamento. Nos termos do art. 138º, pode ser suscetível de acompanhamento “o
maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência, ou pelo seu comportamento, de
exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos,
cumprir os seus deveres”.
Quem pretende anular o negócio é A. Considerando o artigo 154º/11/b), que diz que “os
atos praticados pelo maior acompanhado que não observem as medidas de
acompanhamento decretadas ou a decretar são anuláveis quando posteriores ao registo do
acompanhamento”, podemos dizer que A não será bem-sucedido na sua pretensão, já que
B celebra o negócio antes de ser registado o acompanhamento.
Miguel Louro 6