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D I R E
I T O
ADMINISTRATIVO
Duarte Nogueira
Com os apontamentos de
Débora Sá
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2021/2022
Notas introdutórias
Esta sebenta de Direito Administrativo, disponibilizada pela Comissão de Curso dos
alunos do 2º ano da licenciatura em Direito, foi elaborada pelo estudante Duarte Nogueira
e revista pelos estudantes: José Santos e Eduardo Vasconcelos. Esta sebenta tem por base
as aulas teóricas lecionadas pelo Sr. Professor Pacheco de Amorim bem como as suas
Lições, os apontamentos semanais da estudante Débora Sá e o Curso de Direito
Administrativo (volumes I e II) do Professor Freitas do Amaral, sendo que constitui um
mero complemento do estudo, não dispensando, por isso, a leitura das obras obrigatórias
e a frequência das aulas teóricas e páticas.
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Índice
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Administração Estadual
o Administração Estadual Direta
Formada por um conjunto de órgãos não personalizados (sem personalidade jurídica pois
pertencem à pessoa coletiva pública Estado-Administração, cujo órgão máximo é o
Governo) assistidos por serviços que preparam e executam as respetivas decisões e que
se estruturam em forma de pirâmide ou árvore invertida. Todos estes estão sujeitos à
direção e fiscalização de um poder situado no Governo. Esta tipo de Administração
apresenta uma estrutura bastante hierarquizada.
Estes órgãos e serviços podem ser:
Ø Centrais (administração central, fisicamente sediada, por norma, em Lisboa);
Ø Periféricos (administração periférica, compreende os órgãos e serviços sediados
noutros pontos do território nacional e pontualmente no estrangeiro).
Administração Autónoma
Podem ser de dois tipos:
o Administração Autónoma Territorial
Formada por entes autónomos com uma base geográfica que coincide com determinada
parcela do território do Estado:
§ Autarquias Locais (freguesias e municípios)
o Sujeitas a uma mera tutela da legalidade exercida pelo Governo –
tutela inspetiva.
§ Regiões Autónomas.
Juridicamente são pessoas coletivas que têm por substrato uma comunidade de vizinhos
– um conjunto de pessoas que por habitarem numa determinada área contígua têm entre
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No entanto, a ideia original destes filósofos, de uma rígida separação entre poderes
legislativo, executivo e judicial não foi inteiramente respeitada pelas Revoluções Liberais
(principalmente pela Revolução Francesa) tendo resultado numa absoluta primazia do
Parlamento, uma vez que este era considerado como o único poder criador do Direito e a
competência dos outros poderes era apenas executar e aplicar o Direito (pretendia-se
confinar o executivo e o judicial a uma atividade de cega execução da lei).
Os vários sentidos do Princípio da Separação de Poderes:
o Sentido Político
Este sentido relaciona-se com a questão da titularidade do poder (onde reside a soberania).
Montesquieu, com os olhos postos no sistema político inglês – um sistema misto de vários
portadores legítimos do poder – advogou a coexistência de várias legitimidades. Assim,
para além do monarca, também o povo, o clero e a nobreza seriam legítimos e originários
detentores do poder.
o Sentido Organizativo
Está presente a ideia da divisão dos serviços dentro da organização estadual – similar com
um sistema monista uma vez que o Parlamento assume o centro da vida política e jurídica
do país, em vez do monarca absoluto. Esta conceção resulta do facto dos revolucionários
liberais apenas reconhecerem verdadeira legitimidade ao Parlamento, dada a sua
qualidade de assembleia representativa da nação e por isso atribuíam uma quase absoluta
primazia ao poder legislativo.
o Sentido Funcional ou Material
Tem a ver com a determinação de atividades, tarefas ou funções fundamentais do Estado
e a respetiva caracterização material, a fim de se proceder à sua correta distribuição pelos
complexos orgânicos que constituem cada um dos três poderes do Estado. Procura-se,
assim, que cada complexo de órgãos de soberania desempenhe as funções para que está
mais vocacionado, em razão das respetivas características.
Foi a constatação de uma maior complexidade da matéria, à entrada do século XX, que
levou ao surgimento de uma nova função – Política ou Governamental. E também foi à
luz deste entendimento que se deu a evolução do tradicional esquema de rígida separação
de poderes para um sistema flexível de divisão de poderes.
A Função Administrativa no contexto de uma Separação de Poderes Funcional ou
Material das Funções do Estado
Apesar do modelo originário da separação de poderes, que pressupunha a perfeita
correspondência entre cada um dos três poderes do Estado e a respetiva função, as
profundas mudanças políticas, sociais, económicas e tecnológicas, durante a segunda
metade do século XIX ditaram o seguinte:
o A função legislativa começou também a ser exercida pelo poder executivo, ou
seja, face à incapacidade de o Parlamento responder às carências do regime o
governo passou a ter competências para emanar decretos com força de lei
(decretos-lei) sem a necessidade de autorização parlamentar;
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Diferenças:
§ Imparcialidade vs. Parcialidade
O ato jurisdicional é um ato praticado por autoridades do Estado que são por definição
imparciais, neutras e independentes. Os juízes apenas estão subordinados à Lei, não
havendo nenhuma relação hierárquica entre juízes. Estes não estão implicados em
qualquer um dos interesses em jogo que lhe cabe arbitrar, nem mesmo o juiz
administrativo está mais comprometido com o interesse público do que com os legítimos
interesses dos particulares: a sua posição é de perfeita equidistância relativamente às
partes em conflito e aos interesses representados por eles.
A Função Administrativa é levada a cabo por agentes e órgãos do Estado que não são de
moldo algum neutros, são parciais – A Administração Pública é parte interessada nos
procedimentos em que entra em relação com os particulares, sendo que lhe cabe defender
o interesse público que a lei lhe que confia. A Administração prossegue interesses que a
levam a entrar em colisão com os particulares (com interesses opostos). A postura da
imparcialidade da Administração apenas se circunscreve aos vários interesses privados
contrapostos eventualmente envolvidos, que o Princípio da Imparcialidade (artigo 9.º
CPA) exige (não podem ser prejudicados nem beneficiados por motivos irrelevantes ao
Direito).
§ Passividade vs. Atividade
A Função Jurisdicional é uma função passiva na medida de que tem como conteúdo e fim
a atuação a conservação da ordem jurídica, através da aplicação do Direito ao caso
concreto.
Já a Função Administrativa é uma função ativa e que tem como objetivo a mudança e
transformação do status quo, executando a Administração as tarefas necessárias à
modelação da sociedade em função dos fins cuja prossecução em concreto a Constituição
e a lei põem a seu cargo.
A Função Jurisdicional também é passiva na medida em que o juiz não procura de uma
forma proativa litígios para resolver, ele espera que os conflitos cheguem até ele para os
resolver enquanto a Função Administrativa é uma função ativa na medida em que tem
iniciativa na procura pela transformação da realidade em prol de dar resposta aos
interesses públicos.
Distinção entre a Função Administrativa e a Função Política e Governamental
A função política ou governamental situa-se a par da F. Legislativa na medida em que
são ambas funções primárias, situam-se no âmbito das decisões/escolhas fundamentais da
comunidade política.
No entanto, a Função Política realiza em termos concretos o interesse geral definido
enquanto política – por isso tal função se manifesta essencialmente, enquanto função
autónoma da legislativa, em decisões individuais e concretas (tal como a Função
Administrativa).
São atos políticos por excelência os atos constitucionais (exemplo: atos da competência
do PR). Mas a Função Política manifesta-se também na gestão corrente dos negócios
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Época Contemporânea
O Estado de Direito Liberal
O Estado de Direito que na primeira metade do século XIX se implanta de forma
generalizada na Europa é um Estado baseado no:
§ Sistema de Governo representativo;
§ Princípio da Separação ou divisão de poderes;
§ Princípio da Igualdade;
§ Supremacia da Lei sobre todas as demais atividades do Estado (Princípio da
legalidade);
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No fundo, quem administra são os Tribunais – estes têm o poder de decidir em sentido
contrário às pretensões da administração, em função da avaliação que levarem a cabo em
cada caso do interesse público invocado por aquela.
Exemplo – Entre nós, bem como nos demais sistemas administrativos continentais, para
construir uma estrada que tenha de passar num terreno de um particular, o Governo,
através de um seu Ministro, ou um município, por deliberação da respetiva assembleia
municipal, expropria o terreno ao particular, através de um ato administrativo (um ato
unilateral e autoritário que opera por si só a transferência da propriedade do bem imóvel
para a titularidade do ente publico, contra o pagamento da indemnização arbitrada), e
pode executar logo o ato expropriativo (pois os atos administrativos são títulos
executivos), apoderando-se materialmente do terreno, com recurso à forca se necessário
(porque para além de executivos, os atos administrativos são também executórios).
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Tudo sem interferência dos Tribunais, não sendo necessária qualquer previa declaração
ou autorização judicial para o efeito. No entanto, no caso do sistema judiciário, a
Administração não tem este prévio poder de autoridade: para obrigar o particular (no
mesmo exemplo, o proprietário do terreno) nos termos que se acaba de referir. Terá que
haver recurso aos tribunais – e só se este decidir que o terreno deve ser efetivamente
expropriado, é que o proprietário, por ordem do Tribunal, e na sequência do pedido da
Administração nesse sentido, se verá forçado a vender-lhe o dito terreno. Compete, pois,
neste sistema aos tribunais a prévia avaliação do interesse público da passagem da estrada
por aquele terreno, face aos direitos do proprietário.
Por isso sustenta a nossa doutrina juspublicista que no sistema de administração judiciária
quem administra são afinal os Tribunais.
o Sistema centralizado;
o Sistema fortemente hierarquizado;
o A Administração apresenta-se como um poder forte, autónomo, que existe a par
dos outros poderes do Estado – corresponde a um poder soberano do Estado (como
figura abstrata);
o A Administração Pública goza de poder de autoridade para definir o direito
aplicável em cada situação concreta, bem como o poder de impor as
determinações de um ato aos particulares sem recorrer previamente aos tribunais,
uma vez que a Lei confia, a esta, a realização de um determinado interesse público
cuja satisfação envolva e afete direitos e interesses dos particulares;
o Existe uma rede de tribunais distinta da ordem jurisdicional comum, de
competência especializada – ordem jurisdicional dos tribunais administrativos,
mas não têm plena jurisdição como os tribunais comuns;
o A atividade administrativa rege-se por um direito próprio (o Direito
Administrativo).
Nas últimas décadas tem-se verificado uma aproximação do Sistema Britânico ao sistema
continental, e vice-versa. Quanto ao sistema britânico:
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No entanto, a própria competência, o fim público a que lhe preside e (em regra) os
pressupostos do ato não são de escolha discricionária.
Nota – ao longo da unidade curricular, a discricionariedade de conteúdo será a mais
estudada, devido à sua maior importância.
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Indeterminações conceituais
a. Discricionariedade de escolha criativa (mais forte que as anteriores)
O legislador confia à Administração a escolha da medida a tomar, mas sem sequer
prefigurar as alternativas possíveis. Há uma grande liberdade por parte da Administração,
pois o legislador apenas enuncia uma orientação genérica. Fala-se numa
discricionariedade máxima, não obstante a norma não ter uma estrutura aberta.
São utlizados conceitos extremamente vagos, tais como: “interesse público”, “o que for
necessário”, “o que for conveniente”. São também chamados de Conceitos Subjetivos ou
Conceitos discricionários.
b. Conceitos Classificatórios
Contrariamente, relativamente a estes conceitos entende-se que a sua aparente imprecisão
é resolvida em sede ainda de interpretação jurídica, em virtude das remissões que eles
operam para parâmetros decisórios tão precisos quanto os das regras jurídicas, não
deixando margem de manobra. Importa distinguir os diversos tipos de parâmetros
decisórios a que a Administração deverá recorrer por vias de tais remissões:
i. Conceitos jurídicos (quando se remete para a própria ciência jurídica,
conceitos já enraizados na dogmática jurídica e cujo exato significado
pode e deve ser encontrado nesta ciência que o juiz domina, não
obstante a existência de controvérsias doutrinárias – aplicador adota
uma das posições);
ii. Conceitos técnico-científicos (quando se remete para normas
extrajurídicas das ciências exatas);
iii. Conceitos descritivo-empíricos (quando se remete para
circunstâncias de tempo ou de lugar ou para conhecimentos empíricos,
que estão na posse de pessoas comuns que lidam com a matéria em
causa – o aplicador deve procurar perceber naquele campo qual é o
conhecimento comum/geral).
a. Exemplo – uma norma dita que os vendedores-ambulantes não
podem vender durante a noite, mas a “noite começa mais cedo”
no campo, na medida em que as pessoas regressam a casa mais
cedo em contraste com a azáfama da cidade.
Conceitos imprecisos-tipo: as teorias da margem de livre apreciação
É hoje mais ou menos consensual na doutrina e na jurisprudência que, por força do
princípio da separação de poderes, assiste sempre à Administração uma margem de livre
apreciação ou decisão, no preenchimento deste tipo de conceitos, gozando dentro dessa
margem de uma liberdade de subsumir ou não ao conceito a situação concreta que se lhe
depare.
Teoria de Jellinek e a teoria da folga de Otto Bachof – quando se diz que à
Administração se assiste uma margem de livre apreciação no preenchimento de conceitos
imprecisos, significa isto que:
• Tais conceitos apresentam um “núcleo duro” de situações passiveis de ocorrer na
vida real onde não existe qualquer possibilidade de valoração administrativa
autónoma;
• Por outro lado, há um conjunto virtual de situações que manifestamente não
cabem nesse núcleo.
Em ambas as hipóteses o preenchimento do conceito constitui uma tarefa interpretativa
necessariamente objeto de controlo judicial a posteriori.
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§ No entanto, os conceitos têm sempre uma zona cinzenta, uma auréola, que nem
sempre é do mesmo tamanho e representa uma zona de indefinição, onde se
agrupam situações intermédias – que proporcionam à Administração uma folga
em cada operação de subsunção do caso concreto à previsão normativa, que lhe
permite incluir ou excluir do conceito a situação concreta cuja resolução lhe
incumba e presume-se que o legislador pretendia atribuir poderes discricionários.
Outras teses que chegam a idênticos resultados, mas por caminhos diferentes: Teoria da
Defensabilidade/sustentabilidade (de Ule) – o aplicador deve questionar-se como é que
a maioria das pessoas preencheria aquele conceito:
i. Se a maioria decidisse de certa maneira, então o aplicador deveria seguir essa
orientação;
ii. Em caso de divisão de opiniões, aquela que for a decisão do aplicador deve ser
respeitada.
Também existe a teoria da Razoabilidade (de origem francesa) que faz um apelo à razão,
se o conceito foi preenchido de forma razoável, então o juiz deve conter-se e não substituir
o aplicador, mesmo que não concorde.
Em conclusão – nesta margem livre de apreciação, a Administração deve proceder a uma
integração ou preenchimento definitivo dos conceitos indeterminados, atendendo às
circunstâncias do caso concreto, com recurso à sua experiência, designadamente através
da formulação de juízos valorativos – não devendo então o juiz sobrepor o seu juízo ao
juízo administrativo, num exercício de autocontenção dos seus poderes.
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vez que quase toda a atividade administrativa, incluindo a discricionária, é uma atividade
jurídica – está sujeita ao Direito e também é criadora de Direito.
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Para além destes, outros foram revelados pela jurisprudência administrativa, sendo os
mais importantes:
o Princípio da igualdade;
o Princípio da imparcialidade;
o Princípio da justiça;
o Princípio da proporcionalidade;
o Princípio da racionalidade;
o Princípio da razoabilidade;
o Princípio da boa-fé: é transposto do Direito Civil para o Direito Administrativo,
com as necessárias adaptações.
Com esta significativa evolução a Administração passa a estar (mais amplamente) sujeita
ao Direito, e não apenas à lei.
O clássico e fundamental parâmetro da atividade administrativa começa a ser entendido:
> Já não como princípio de legalidade estrita (de sujeição a regras legais);
> Mas sim como: um princípio de juridicidade, através designadamente da sujeição
da Administração, quer na atividade de gestão pública, quer na atividade de gestão
privada, não apenas à lei (no sentido estrito de regras legais), mas também aos direitos
fundamentais e aos princípios gerais de Direito Administrativo.
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legislador, ou seja, a Administração não tem liberdades propriamente ditas – ela não
dispõe de espaços de licitude onde possa atuar fora do direito, em função de fins por si
livremente escolhidos. Enquanto aos privados é permitido tudo o que a lei não proíba, a
Administração está vinculada a satisfação de necessidades, interesses ou fins fixados
externamente, pelo legislador. Esta vinculação impõe-se a toda a Administração e a toda
e qualquer pessoa coletiva que, não integrando aquela, exerça a atividade administrativa
(por exemplo, os concessionários).
À luz deste interesse público primário (definido pelo legislador), a Administração Pública
atua em cada procedimento administrativo e ao longo deste, o interesse público será
relativizado face ao caso concreto, de acordo com o princípio da proporcionalidade, até
se chegar ao ato administrativo que satisfaz o interesse público concreto.
Assim, aquando da atribuição de poderes discricionários à Administração, tais poderes
traduzem-se quando muito numa escolha de meios e não de fins – não é, pois, possível a
cada órgão administrativo usar os poderes que o legislador lhe atribui para prosseguir
outros fins que não aqueles que cada lei lhes fixa especificamente.
Fala-se em desvio de poder quando:
v O fim prosseguido no procedimento administrativo é de interesse privado –
sanção jurídica prevista no artigo 161º/2/a) do CPA (nulidade);
v Prossegue um fim de interesse público diferente daquele que é imposto por lei
àquela pessoa coletiva específica.
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constituirá uma agravante do respetivo vício, podendo o ato praticado padecer de nulidade
naquelas situações em que a arbitrariedade seja mais evidente ou manifesta.
O princípio da igualdade de tratamento traduz-se numa autovinculação da Administração
no âmbito dos seus poderes discricionários, devendo ela utilizar critérios
substancialmente idênticos para a resolução de casos idênticos – a mudança de critérios,
sem qualquer fundamento material, é violadora do princípio da igualdade.
Momentos mais relevantes da vinculação da Administração:
o Proibição de medidas administrativas portadoras de incidências coativas desiguais
na esfera jurídica dos cidadãos;
o Exigência de igualdade de benefícios ou prestações concedidas pela
Administração;
o Direito à compensação de sacrifícios quando a Administração impôs aos cidadãos
sacríficos especiais, violadores do princípio da igualdade perante cargos públicos
(artigo 22º da CRP e 16º da Lei 67/2007).
Há que entender que a ideia de igualdade formal contempla por vezes exceções
(convertendo-se em desigualdade), podendo ser corrigida de forma a assegurar a
igualdade material (artigo 9º/alínea d) da CRP). Ou seja, o princípio da igualdade pode
impor, em certos casos, a obrigação de distinção por forma a poder compensar-se a
desigualdade fáctica de oportunidades.
Podemos considerar que estamos perante uma violação do princípio da igualdade quando:
o Existem dois atos jurídicos contraditórios para situações fácticas semelhantes;
o Existem dois atos jurídicos iguais para situações de facto que exigem um
tratamento diferenciado.
Por vezes, pode haver um conflito entre o princípio da igualdade e da legalidade.
Questiona-se se poderá haver direito à igualdade na ilegalidade, havendo uma divisão na
doutrina:
Ø Há quem considere que, havendo uma atuação ilegal da Administração Pública,
estando em causa a mesma autoridade administrativa, deve se dar prevalência ao
princípio da igualdade;
Ø Há quem considere que o facto da Administração Pública adotar uma conduta
ilegal perante um particular não significa que deva adotar perante todos essa
conduta em virtude do princípio da igualdade (posição defendida pelo Prof.
Pacheco de Amorim).
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sua vez remetam, a partir de uma carga de sentido imediata, para um sentido de base ou
último, um fim derradeiro que preside a todo o direito e que constitui a causa final de
justificação de toda a pretensão normativa’.
Sublinha-se que a ideia de direito não é uma pura abstração, apresentando um conteúdo
mínimo identificável com os valores da paz jurídica e da realização da justiça, nas suas
várias concretizações.
Princípio da Razoabilidade – a aplicação deste princípio traduz-se num controlo da
qualidade global da ponderação dos interesses efetuada pela Administração, numa
verificação, por definição, não aprofundada ou detalhada da genérica e prévia
aceitabilidade, justificabilidade ou plausibilidade da decisão em causa. Não está em causa
uma aferição da “justa quantidade” da medida ou intensidade do sacrifício imposto a um
determinado interesse em razão da satisfação de outro interesse.
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Limites Constitucionais
Para os entes públicos tal capacidade geral assume papel secundário por força do direito
administrativo, que fixa previamente os termos e os limites do exercício da autonomia
privada da Administração.
Sempre que, no contexto do contrato a celebrar, esteja presente pelo menos um dos fatores
de administratividade enunciados nas alíneas a) a d) do artigo 280.º/1 do Código dos
Contratos Públicos, o recurso ao contrato de direito privado só terá lugar se a lei
expressamente o impuser ou permitir. Em especial:
§ Artigo 280.º/1/alínea a) – Contratos Administrativos Nominados (por força da
lei, são qualificados como contratos administrativos), um exemplo é o contrato de
empreitada de obras públicas;
§ Artigo 280.º/1/alínea b) – Contratos com o objeto passível de ato administrativo e
demais contratos sobre o exercício de poderes públicos, um exemplo é o direito
urbanístico;
§ Artigo 280.º/1/alínea c) – Contratos que confiram ao cocontratante direitos
especiais sobre coisas públicas/exercício de funções dos órgãos do contratante
público: quando há transferência de funções para o privado, tem de ser por
contrato administrativo;
§ Artigo 280.º/1/alínea d) – Contratos que a lei submeta a um procedimento de
formação regulado por normas de direito público e em que a prestação do
cocontratante possa condicionar ou substituir, de forma relevante, a realização das
atribuições do contraente público.
Casos em que a Lei proíbe o recurso ao direito privado:
o Proibição de criação de entidades de direito privado que impende sob os institutos
públicos (artigo 13.º/1 da Lei-Quadro dos Institutos Públicos);
o Interdição que recai sobre as pessoas coletivas públicas de criar ou participar em
novas fundações públicas de direito privado (artigo 57.º/1 da Lei-Quadro das
Fundações).
Casos em que a Lei impõe o recurso a instrumentos de direito privado:
o Instituição de empresas públicas que não assumam o formato de entidade pública
empresarial ou de serviço municipalizado – tais empresas devem ser constituídas
sob a forma de sociedade comercial de responsabilidade limitada e nos termos da
lei comercial;
o Empresas públicas devem-se submeter ao direito privado, inclusive das com
natureza jurídico-organizativa pública;
o Obrigatoriedade de as entidades expropriantes tentarem adquirir o bem de que
necessitam pela via do direito privado, antes de requerer a declaração de utilidade
púbica para efeitos de expropriação.
E quando a Lei nada diz quanto à utilização do direito privado?
Desde logo, relativamente a determinadas tarefas públicas fundamentais (da reserva
constitucional de Direito Administrativo) está a discricionariedade de escolha da
Administração limitada por esta reserva. Em certas atividades, em razão da salvaguarda
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de certos bens jurídico-constitucionais, não poderá aquela prescindir dos seus poderes de
autoridade – “sendo o direito administrativo um direito de imperium, não o pode o Estado
de Direito Democrático dele prescindir quando tal seja reclamado pelo interesse geral da
comunidade política”.
Tal ocorre com o núcleo das suas funções de autoridade, que inclui entre outras, as:
o Atividades sancionatórias (contraordenacional e disciplinar);
o Atividades de licenciamento;
o Atividades de fiscalização de atividades privadas.
Fora dessa reserva constitucional, os entes públicos apenas podem recorrer a instrumentos
de direito privado:
a. No contexto da especialidade das respetivas atribuições;
b. Se tal for comprovadamente necessário ou conveniente à prossecução dos fins
públicos a seu cargo.
Por isso, o artigo 200.º/1 do CPA deverá ser alvo de uma interpretação restritiva, quando
enuncia a aparente ampla discricionariedade de que dispõe a Administração de celebrar
contratos administrativos ou contratos de direito privado.
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A criação de novos entes (pessoas coletivas públicas com fins específicos), tais como:
o Os institutos públicos;
o As fundações públicas;
o As entidades públicas empresariais/institucionais;
o As associações públicas de entidades privadas;
o Os institutos de ensino superior público.
> Passam a ter a seu cargo um específico conjunto de interesses públicos restritos a
um determinado domínio, descarregando o Estado (ou a região autónoma, ou o
município) do desempenho das tarefas correspondentes;
> Ficam, em regra, submetidas aos poderes de superintendência do governo, assim
como à tutela e aos demais poderes tutelares legalmente fixados;
> São entes de tipo institucional ou fundacional – têm apenas um órgão de
administração e um órgão de fiscalização.
A razão de ser deste desdobramento reside nas especiais exigências que as matérias em
causa requerem aos organismos públicos incumbentes. Com efeito, estes novos entes:
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Os quatro princípios constitucionais até agora abordados são princípios que concretizam
o imperativo da aproximação dos serviços públicos às populações – são princípios
centrífugos, ou seja, tendencionalmente desagregadores da unidade da Administração. No
entanto é preciso ter em conta a Unidade do Estado (artigo 267.º/2 da CRP) que é o ponto
de partida de toda a organização administrativa – o Estado não pode deixar de ser uno. O
artigo 199.º/alínea d) da CRP também dita competências ao órgão executivo do Estado.
Assim, surge o próximo artigo.
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iii. Sancionatória
iii. Por regra têm que ser objeto de expressa previsão legal;
iv. Esses poderes assistem ao governo e demais entes públicos territoriais
sobre as respetivas administrações indiretas; e ao governo e aos governos
regionais sobre as respetivas autarquias locais;
v. Quando são assinalados os poderes de tutela sobre a Administração
Autónoma, pretende esta norma interditar, por sua vez, o próprio poder de
superintendência sobre esta administração.
Relações de equiordenação entre sujeitos públicos
Certos entes que são criados, fruto dos princípios da descentralização e da devolução de
poderes, são dotados de esferas materiais próprias de atuação que em certos casos estão
inclusive protegidas por uma autonomia constitucionalmente qualificada. No caso das
autarquias locais, tal autonomia proporciona-lhes a capacidade para intervir em espaços
territorialmente delimitados de acordo com as estratégias de ação definidas
autonomamente pelos respetivos órgãos representativos.
A organização administrativa portuguesa pode ser desdobrada em diferentes níveis de
intervenção territorial a que correspondem diferentes tipos de organização:
i. Nacional (abrange a totalidade do território português e é composto pela pessoa
coletiva Estado e pelas pessoas coletivas públicas que integram a sua
administração indireta);
ii. Regional (abrange as parcelas do território nacional sob alçada das regiões
autónomas);
iii. Local
a. Subnível municipal (município)
b. Subnível paroquial (freguesia)
A cada um destes níveis de administração compete a satisfação de diferentes necessidades
coletivas, as quais são identificadas e prosseguidas com referência a uma determinada
comunidade e no âmbito dessa mesma comunidade.
O modelo de repartição das esferas de atuação pode ser representado também por:
§ Atribuições e competências concorrentes;
§ Atribuições e competências paralelas;
No que toca às Atribuições e Competências Concorrentes:
§ São tituladas e exercidas por diferentes entes territoriais;
§ Respeitam a uma mesma matéria/assunto;
§ São exercidas na mesma área geográfica.
Este fenómeno pode verificar-se na relação entre:
ü O Estado (ou as Regiões Autónomas) e as Autarquias Locais – o interesse
nacional não é limitado quanto à sua substância e quanto à sua incidência
territorial, enquanto os interesses locais são sempre identificados e prosseguidos
com referência a uma determinada parcela do território nacional
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Assim, o princípio da imparcialidade terá um valor reforçado – no atual artigo 9.º do CPA
este princípio surge-nos como imperativo a toda a organização administrativa. As
garantias da imparcialidade vêm previstas no artigo 69.º e seguintes do CPA (remissão
para as aulas práticas).
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A Administração é, por definição, constituída por pessoas coletivas, que são figuras
abstratas, mas detentoras de poderes, direitos e deveres. As pessoas coletivas cujo
conjunto se designa por Administração Pública são as pessoas coletivas de direito
público, ou seja, o:
§ Estado (Estado-Administração);
§ Regiões Autónomas;
§ Autarquias Locais;
§ Institutos Públicos;
§ Fundações Públicas;
§ Empresas públicas institucionais;
§ Associações Públicas.
Características:
Ø São dotadas de personalidade jurídica própria e podem ser sujeitas de relações
jurídicas (atuam por si próprias no tráfico jurídico, no uso da sua capacidade
jurídica);
Ø São entidades abstratas, construções ou ficções jurídicas muito sofisticadas;
Ø São instituídas em concreto por um ato jurídico (diploma legal ou
administrativo);
Ø A sua razão de ser prende-se no facto de facilitar o tráfico jurídico que envolva
atuações humanas ou conjuntas.
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v. A conceção aqui adotada de órgão é a Funcional – isto implica que sempre que se
constate a existência de uma manifestação de uma vontade/decisão provinda de
uma pessoa coletiva pública lesiva de um direito de um particular, basta a certeza
da proveniência daquela vontade da Administração para que esta incorra em
responsabilidade pelos danos causados, mesmo que não se saiba qual o órgão
responsável;
vi. As pessoas coletivas têm sempre mais do que um órgão (no mínimo têm dois –
um diretivo ou executivo; e um deliberativo ou de fiscalização).
vii. A existência de dois ou mais órgãos em cada ente público satisfaz a necessidade
de o legislador repartir por eles as várias competências cujo exercício é
indispensável à prossecução das atribuições da pessoa coletiva – a competência
de cada órgão é o conjunto dos poderes funcionais que a Lei lhe atribui;
viii. As leis orgânicas que estabelecem o elenco dos órgãos administrativos do ente,
que como tal são explicitamente qualificados, mas muitas vezes é necessária uma
verificação substantiva, no sentido de se averiguar se os órgãos administrativos
dispõem de verdadeiras competências próprias
a. Se tiver – é um verdadeiro órgão administrativo.
b) Serviços Administrativos
i. São compostos por funcionários ou agentes com vínculo de emprego público;
ii. Asseguram a atividade da Administração no dia-a-dia através da:
a. Atuação material de exercício;
b. Atuação material de direta execução da lei.
iii. Têm como função preparar e executar as decisões e deliberações dos órgãos;
iv. Atuam sempre sob a direção dos ditos órgãos administrativos:
a. Sob a direção dos membros do governo e dos dirigentes superiores e
intermédios - no caso da Administração Direta do Estado, das Regiões
Autónomas e das Autarquias Locais;
b. Sob a direção sobretudo dos órgãos colegiais executivos e respetivos
presidentes (e também dos órgãos deliberativos no caso dos entes
públicos com substrato corporativo) – no caso das autoridades
administrativas independentes e dos entes públicos menores.
v. Os Funcionários e agentes que integram os serviços administrativos:
a. Não praticam atos administrativos;
b. Não emanam regulamentos;
c. Não celebram contratos administrativos.
vi. No que respeita à prática dos atos jurídico-públicos limitam-se:
a. Aos atos instrumentais, mais precisamente à emissão de atos declarativos
(designadamente certificativos);
vii. No âmbito da atividade profissional
a. Dentro do procedimento declarativo – emissão de atos preparatórios
(sobretudo instrutórios);
b. Dentro do procedimento executivo – emissão de atos executivos.
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Tenha-se presente que por vezes a lei confere ao parecer um caráter vinculativo,
transformando o suposto parecer numa verdadeira decisão (pré-decisão); e o ato do órgão
a quem, aparentemente, cabe na matéria em causa a decisão principal ou final do
procedimento, num simples ato de execução do primeiro.
Centrais – exercem a sua competência sobre todo o território nacional: a partir da capital
ou, excecionalmente, de outra localidade onde possam estar sedeados
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Diz-se que é simultânea quando os mesmos poderes são conferidos por lei a dois ou mais
órgãos, podendo ser alternativamente exercidos por um ou por outro – exige-se apenas
que um deles a exercite para que o ato seja válido.
Âmbito específico
a) Competência própria
Quando a lei a atribui a um órgão subalterno, que por isso a pode exercer “em primeira
mão” – é sempre uma competência comum, na medida em que é partilhada com os seus
superiores hierárquicos (a competência do superior hierárquico abrange, em regra, a do
inferior – princípio organizativo).
b) Competência exclusiva
Quando a decisão do subalterno está sujeita apenas ao poder de controlo do superior
hierárquico, que só pode anular o ato na sequência de recurso hierárquico interposto por
um particular interessado e já não: revogá-lo, modificá-lo ou substituí-lo (artigo 197.º/1
do CPA), na medida em que não goza da mesma competência dispositiva.
O caráter exclusivo da competência tem de resultar inequivocamente dos termos em que
a lei a consagra.
c) Competência independente
É independente em duas situações possíveis:
§ Quando o órgão seu titular situa-se no vértice da hierarquia da pessoa coletiva;
§ Nos casos em que a Lei afasta expressamente o próprio poder de controlo do
superior hierárquico, com total subtração do órgão à hierarquia, mesmo à chamada
‘hierarquia imprópria’.
o Só pode, por isso, o ato que traduza o exercício dessa competência ser
impugnado judicialmente.
o Fala-se em competência excludente.
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Conselho de Ministros
O Governo funciona quer colegialmente, quer através de cada um dos seus membros –
relativamente ao funcionamento colegial, este processa-se através do Conselho de
Ministros, onde têm assento o:
§ Primeiro-Ministro;
§ Vice-Primeiro Ministro;
§ Ministros.
Podem, ainda, participar nas reuniões os Secretários e Subsecretários de Estado, em
substituição do ministro que coadjuvem ou se para tanto forem também convocados
(artigos 184.º e 185.º da CRP).
É um órgão colegial imperfeito, na medida em que as deliberações são tomadas por
consenso, e não por votações, prevalecendo sempre a vontade do Primeiro-Ministro sobre
os demais membros do governo com assento no Conselho – o que decorre da
responsabilidade última por toda a atividade governativa do Primeiro-Ministro perante a
Assembleia da República e o Presidente da República (artigo 191.º).
As competências do Conselho de Ministros vêm previstas no artigo 200.º da CRP.
Os Ministérios
Cada ministério é composto por:
§ Duas ou mais direções-gerais
o Cada uma integrada por duas ou mais direções de serviço;
§ Decompõem-se em divisões.
§ Uma secretaria-geral;
§ Um serviço de inspeção (decomposto em divisões);
§ Nos ministérios com estruturas desconcentradas no território temos também as
direções regionais.
Seguindo aqui a classificação de Freitas do Amaral, as chamadas pastas ministeriais
reconduzem-se a cinco categorias, e são elas as relativas às funções:
v Soberania (Negócios Estrangeiros, Defesa Nacional, Justiça e Administração
Interna);
v Política interna (Presidência e Assuntos Parlamentares, e pastas eventuais que
podemos designar de coadjuvação do Primeiro-Ministro, a que correspondem as
missões normalmente atribuídas ao Vice-Primeiro Ministro e aos chamados
Ministros Adjuntos);
v Económicas e financeiras (Agricultura e Pescas, Comércio, Indústria e Serviços,
Planeamento e Fomento Económico e Finanças);
v Sociais (Saúde, Habitação, Educação e Cultura, Juventude e Desporto, População,
Emprego e Segurança Social);
v Técnicas (Obras Publicas, Urbanismo, Ordenamento do Território e Ambiente,
Transportes e Comunicações, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior).
Podem os membros do Governo neles delegar o exercício de importantes poderes,
cabendo aos dirigentes nos demais casos (em que não disponham de competências
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próprias ou delegadas), propor ao membro do Governo a que reportam a prática dos atos
de gestão do serviço ou órgão e em geral as medidas que considerem mais aconselháveis
para se atingirem os objetivos e metas consagrados na lei e no Programa do Governo.
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Exemplos de EPEs:
o Hospitais EPE;
o Entidade nacional para o Mercado dos Combustíveis EPE;
o Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal EPE;
o Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública EPE.
Regime Jurídico (RJSPE)
Ø São dotadas de autonomia administrativa, financeira e patrimonial (artigo 59.º/1);
Ø Têm um capital estatuário indiviso que só pode ser de titularidade estadual (artigo
60.º/1);
Ø Apenas dispõem de órgãos de administração e fiscalização;
Ø A sua extinção é levada a cabo por decreto-lei (artigo 35.º);
Ø Com o objetivo de aproximar o respetivo regime organizativo ao das empresas
públicas societárias, o DL 133/2013 designa os poderes do Governo de orientação
e controlo por Função Acionista (artigo 37.º) – “exercício de poderes e deveres
inerentes à detenção das participações representativas do capital social ou
estatutário”.
o São poderes de natureza pública que sobre estas exercem ad extra, ou seja,
verdadeiros poderes de tutela e superintendência.
Ø No respeitante ao controlo financeiro – estão sujeitas à jurisdição e ao controlo do
Tribunal de Contas e da Inspeção-Geral de Finanças (artigo 26.º).
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Tudo isto com o objetivo principal de evitar a repetição do erro cometido nas antigas
empresas públicas encarregadas da exploração de serviços públicos essenciais, de os
preços sociais por elas praticados acabarem por ser fixados, sob intensa pressão do
governo, e por razões eleitoralistas, num patamar muito inferior àquele que seria
suficiente para tornar o bem ou serviço produzido acessível.
Exemplos destas entidades:
v ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões;
v CMVM - Comissão do Mercado de Valores Mobiliários;
v Autoridade de Concorrência;
v ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos;
v ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações;
v Autoridade Nacional de Aviação Civil;
v Autoridade da Mobilidade e dos Transportes;
v ERSAR - Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos;
v ERS - Entidade Reguladora da Saúde;
v CAAJ - Comissão de Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça (regula
profissionais liberais);
v Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior – tal como a ERS, é
uma entidade reguladora de uma atividade de interesse geral, e já não
propriamente de interesse económico geral;
v Entidade Reguladora da Comunicação Social (artigo 49.º da CRP);
v Banco de Portugal (artigo 102.º da CRP).
Não obstante a ERS e o Banco de Portugal terem expressa previsão na Lei Fundamental,
é inquestionável o exercerem elas, como as demais entidades reguladoras independentes,
típicas funções administrativas regulatórias, razão pela qual não podem deixar de ser
consideradas integradas na Administração Pública.
Entidades como o: INFARMED (autoridade nacional de medicamentos e produtos de
saúde) e o IMPIC (instituto dos mercados públicos, do imobiliário e da construção) não
se inserem na Administração Independente, pois falta-lhes o requisito da independência
face ao Governo.
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