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FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
Nº de Estudante: 20201565
FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
Nº de Estudante: 20201565
___________________________________
O presente trabalho de fim de curso visa, com recurso à consulta de legislação, doutrina,
jurisprudência e sítios de internet, analisar a doação enquanto um contrato comercial em
Moçambique, onde, em primeiro lugar, se apresenta a noção, elementos constitutivos e
características de doação comercial, em segundo lugar, se traz ao debate a noção, pressupostos e
características de contrato comercial e, finalmente, discute-se relativamente à problemática da
natureza mercantil da doação, analisando se a doação é verdadeiramente um contrato comercial,
na perspectiva de um contrato comercial principal e na perspectiva de “contrato acessório”, e se
algumas modalidades de doação, nomeadamente a doação modal, remuneratória e mista, possuem
uma verdadeira onerosidade capaz de satisfazer a exigência legal de que a doação deve ser
efectuada no âmbito de exercício de actividade empresarial, para se tornar um contrato comercial.
Dada a onerosidade que caracteriza o Direito Comercial em geral e os contratos comerciais em
especial, a doação, tendo um caracter gratuito e não sinalagmático, é material e exclusivamente um
contrato civil, que só execepcionalmente pode assumir a natureza mercantil, daí que tal
consideração conduz, regra geral, a uma autêntica descaracterização da actividade empresarial.
This final course work aims, using legislation, doctrine, jurisdiction and websites, to
analyze the donation as a commercial contract in Mozambique, where, firstly, the notion,
constituent elements and characteristics of commercial donation, secondly, the notion, assumptions
and characteristics of the commercial contract are brought to debate and, finally, it is discussed
regarding the issue of the commercial nature of the donation, analyzing whether the donation is
really a commercial contract, from the perspective of a The main commercial contract and the
perspective of an “ancillary contract”, and some types of donation, namely modal, remunerative
and mixed donation, have a true burden capable of satisfying the legal requirement that the donation
must be made within the scope of exercising business activity, to become a commercial contract.
Given the onerous nature that characterizes Commercial Law in general and commercial contracts
in particular, the donation, having a free and non-signalling nature, is materially and exclusively a
civil contract, which can only exceptionally assume a commercial nature, hence such guidance
leads , as a general rule, an authentic mischaracterization of business activity.
(Paulo Turner)
DEDICATÓRIA
Para a realização do presente trabalho de fim de curso existiram vários doadores, no sentido
mais amplo do termo, que contribuíram para tal efeito. É chegada, agora, a hora de cumprir a
obrigação moral de retribuir essas liberalidades, com a minha sincera gratidão.
Primeiramente, agradeço a Deus, por suas infinitas bênçãos durante todo o meu período
académico, e por me dar força de vontade e coragem para enfrentar e superar todos os desafios.
Ao meu supervisor, Mestre Gil Cambule, por ter aceitado prontamente acompanhar-me
nesta grande caminhada e, por toda sua simplicidade, sabedoria e empenho na realização deste
trabalho de fim de curso.
Por fim, aos meus amigos e colegas, Amiel Janja, Julião Machai, Lourenço Armando,
David Sambu, Sheron Dava, Frank Banze, Caetano Francisco, Marília Novela, Alex Duave,
Manuel Nomboro, Marquisinho Felix, Cângina Omar, Ivânia Pene, Raimira Mazive, Lizeth
Eunice, Lírio Guambe, Almeida Muchanga, Euclides Chiwadoy, Chandel Ngala, Dionísio Cossa e
Dalton Mazive, com quem convivi intensamente durante os últimos anos, pelo companheirismo e
pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como
formando.
SUMÁRIO
ABREVIATURAS....................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 2
1. ENQUADRAMENTO ......................................................................................................... 2
2. PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA .................................................................................... 4
2. JUSTIFICATIVA DO TEMA .............................................................................................. 5
2.1. OBJECTIVOS .................................................................................................................. 6
2.1.1. OBJECTIVO GERAL ................................................................................................... 6
2.1.2. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 6
3. METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................................................... 7
CAPÍTULO I - DOAÇÃO COMERCIAL NO DIREITO MOÇAMBICANO ........................... 8
1.1. Noção e Natureza Jurídica da Doação Comercial............................................................. 8
1.2. Elementos constitutivos do contrato de doação comercial ............................................. 12
1.2.1. Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento ou gratuitidade.......................... 12
1.2.2. Diminuição do património ou empobrecimento do doador ........................................ 14
1.2.3. Espírito de liberalidade ou Animus Donandi............................................................... 15
1.3. As principais características da doação comercial .......................................................... 17
1.3.1. A doação como contrato nominado e típico ................................................................ 18
1.3.2. A doação como contrato primordialmente bilateral .................................................... 18
1.3.3. A doação como contrato gratuito ................................................................................ 18
1.3.4. A doação como contrato não sinalagmático ................................................................ 19
1.3.5 A doação como contrato primordialmente consensual ou não real ............................. 19
1.3.6. A doação como contrato principal .............................................................................. 21
1.3.7. A doação como contrato primordialmente formal ...................................................... 21
CAPÍTULO II- CONTRATO COMERCIAL ........................................................................... 22
2.1. Noção do Contrato Comercial ........................................................................................ 22
2.2. Pressupostos do Contrato Comercial .............................................................................. 22
2.2.1. Ambos ou um dos sujeitos contratantes dever ser um empresário comercial ............. 22
a) Exercício de actividade empresarial ................................................................................... 23
b) Profissionalidade ou profissionalismo ................................................................................ 23
c) Habitualidade ...................................................................................................................... 24
2.2.2. O contrato deve ser celebrado no exercício de actividade empresarial ....................... 24
2.3. Dispensa ou irrelevância do requisito “o contrato deve ser celebrado no exercício de
actividade empresarial” nos contratos acessórios ...................................................................... 25
2.4. A caracterização em geral dos contratos comerciais ...................................................... 26
a) A onerosidade ou economicidade ....................................................................................... 26
b) Os custos de transacção ...................................................................................................... 27
c) O egoísmo do empresário comercial .................................................................................. 27
CAPÍTULO III- PROBLEMÁTICA DA NATUREZA MERCANTIL DA DOAÇÃO ........... 28
3.1. Doação como contrato comercial independente e principal ........................................... 28
3.2. Doação como “contrato acessório” ao contrato comercial principal .............................. 30
3.3. Pretenso cabimento da doação modal, remuneratória e mista no exercício da actividade
empresarial ................................................................................................................................. 31
a) A doação modal ou com encargo ....................................................................................... 31
b) A doação remuneratória...................................................................................................... 32
c) A doação mista ................................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 37
1. Legislação ........................................................................................................................... 37
2. Jurisprudência ..................................................................................................................... 37
3. Doutrina .............................................................................................................................. 38
4. Sítios de Internet ................................................................................................................. 42
ABREVIATURAS
Art.- Artigo
Cfr.- Confira
DL- Decreto-Lei
Vol- Volume
1
INTRODUÇÃO
1. ENQUADRAMENTO
O que há em comum entre estes dois Códigos é o facto de não se referirem, nas suas
disposições, em momento algum, ao contrato de doação comercial.
1
CORREIA, A. Ferrer (1994). Lições de Direito Comercial, Vol. I, II e III, Lex, Lisboa: Coimbra.,Pág. 33.
2
JÚNIOR, Manuel Guilherme (2013). Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.I, Escolar Editora,
Maputo.,Pág.33.
3
CAMBULE, Gil (2018), Teoria Geral do Direito Civil I, Vol. I., W Editora, Maputo.,Pág.74.
2
como a necessidade de harmonizar as disposições sobre as obrigações e contratos com outros
regimes mais progressistas e mais amigos da economia de mercado e do desenvolvimento,
ocorridos nos últimos anos, impõe-se a adequação do Código Comercial às tendências modernas
do comércio internacional, assim como a necessidade de se responder às exigências ditadas pela
integração no mercado regional e continental,4e inspirando-se em legislações recentes sobre a
matéria, tais como o Código Civil francês (inclusas as modificações introduzidas em época
relativamente recente), o Regime Legal canadiano e o Código Civil e Comercial da Argentina, os
Princípios do UNIDROIT em matéria de contratos, o Código Tipo Latino-Americano dos
Contratos5 e a Convenção das Nações Unidas para a Compra e Venda Internacional de
Mercadorias, e na tentativa de aproximar o direito comercial e o direito civil6, o legislador
comercial revogou o Código Comercial de 2005 aprovado pelo DL nº2/2005, de 27 de Dezembro,
com as alterações introduzidas pelo DL n.º 2/2009, de 24 de Abril, e DL n.º 1/2018, de 4 de Maio,
por três novos Decretos-Lei em partes correspondentes. Com efeito, o DL nº1/2022, de 25 de Maio,
aprova o actual Código Comercial, revogando os Livros Primeiro e Segundo do CCom de 2005, o
DL nº3/2022, de 25 de Maio, aprova o Regime Jurídico dos Contratos Comerciais, revogando o
Livro Terceiro do CCom de 2005 e, finalmente, o DL nº2/2022, de 25 de Maio, aprova o Regime
Jurídico dos Títulos de Créditos, revogando, assim, o Livro Quarto, relativo aos Títulos de
Créditos, do CCom de 2005.
Esta é uma das razões para se dizer que estamos perante uma verdadeira reforma do Direito
Comercial moçambicano e não uma mera revisão7 do Código Comercial de 2005, pois a doação
4
Vide Preâmbulos do Decreto-Lei nº1/2022 e do Decreto-Lei nº3/2022, ambos de 25 de Maio.
5
Cfr. pág. 2 da Proposta de Decreto-Lei que aprova o Regime Jurídico dos Contratos Comerciais.
6
Cfr. pág. 7 do Anteprojecto do Regime Jurídico dos Contratos Comerciais
7
JÚNIOR, Manuel Guilherme. Manual de Direito Comercial Moçambicano. Vol.I, 2ª edição, revista e
actualizada, Escolar Editora, Maputo.,Pág.197.
3
comercial é um contrato novo8, isto é, é uma inovação e/ou criação do novo legislador comercial
e, por isso, trata-se de uma figura que não constava da estrutura do Código Comercial anterior que
se pretende proceder a sua “revisão”9.
2. PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA
Será que a doação comercial introduzida pelo Regime Jurídico dos Contratos Comerciais,
aprovado pelo DL nº3/2022, de 25 de Maio, é materializável e/ou praticável num contexto em que
o empresário comercial, no exercício da actividade empresarial, prossegue sempre lucros?
Para o efeito e com vista a dar resposta à grande questão acima levantada, o nosso trabalho
será estruturado em três capítulos.
No primeiro capítulo far-se-á uma abordagem geral da doação comercial, seu conceito,
elementos constitutivos bem como as suas principais características.
8
Não obstante o legislador dar a impressão de que se trata de um contrato que já existência na vigência do
CCom de 2005 quando estabelece no artigo 3, al.f) da Lei de Autorização Legislativa, aprovada pela Lei n.º 1/2021 de
15 de Abril, “modernizar o regime dos contratos comerciais existentes, designadamente:…. ii.a doação comercial”.
9
É o termo que se acha empregue no Preâmbulo e art.1, da Lei n.º 1/2021 de 15 de Abril.
4
O terceiro e último capítulo discorrerá sobre o tema central do trabalho, ou seja, a
problemática da natureza mercantil da doação em Moçambique, em que a doação será analisada
em duas perspectivas, na primeira a doação é vista enquanto um contrato comercial independente
e principal e, na segunda perspectiva, a doação é vista enquanto um “contrato acessório” ao contrato
comercial principal e, finalmente, discutir-se-á se a doação modal, remuneratória10 e mista possuem
ou não uma “onerosidade” suficiente para se enquadrar na exigência da celebração do contrato no
âmbito da actividade empresarial.
2. JUSTIFICATIVA DO TEMA
A reflexão acerca de doação como contrato comercial, previsto no art. 213 do RJCCom, é
de urgente e extrema importância dada a sua actualidade e novidade que representa para o Direito
Comercial moçambicano, considerando que só recentemente, em 2022, é que o legislador
comercial introduziu essa figura de doação comercial no nosso ordenamento jurídico.
Tratando-se de uma matéria nova que resulta da recente introdução de profundas inovações
legislativas no âmbito do Direito Comercial, em especial no domínio dos contratos comerciais,
mostra-se útil e urgente ser explorada científica e juridicamente e carece de uma análise,
juridicamente, rigorosa e muito bem aprofundada, porque, parece-nos que, daquelas inovações,
sobretudo a introdução da doação comercial, surgem algumas incongruências legislativas e teórico-
práticas para aquilo que é a actividade empresarial em geral e a contratação mercantil em especial.
Além do facto de ser recente, a escolha deste tema surge, também, com base na observação
do quotidiano, nas reformas legislativas feitas na nossa ordem jurídica em 2022, principalmente do
Código Comercial, nos debates levados a cabo ao longo das aulas e nas palestras, em que se fazia
uma apreciação crítica dos instrumentos que foram aprovados naquela reforma, e no estudo da
literatura especializada.
A escolha deste tema deve-se, finalmente, ao facto de se pretender, por um lado, incitar aos
profissionais da área jurídica, juristas, académicos, docentes, estudantes das Faculdades e Escolas
10
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009). Direito das Obrigações: Contratos em Especial., Vol.
III, 6ª Edição, Almedina, Coimbra., Págs. 204 e 213.
5
de Direito moçambicanas e outros, a que explorem esta matéria objecto de trabalho, no sentido de
discutirem mais, debaterem e escreverem sobre o assunto, porque são ainda escassos ou quase
inexistentes as informações, artigos, revistas, livros ou jurisprudência disponíveis sobre a doação
comercial, e, por outro lado, promover uma apreciação crítica dos instrumentos legais da área
comercial aprovados, nos últimos tempos, pelo nosso legislador.
2.1. OBJECTIVOS
6
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
11
CORDEIRO, António Menezes (2007). Manual de Direito Comercial, 2ª Edição, revista e actualizada,
Almedina, Coimbra.,Pág.39.
7
CAPÍTULO I - DOAÇÃO COMERCIAL NO DIREITO
MOÇAMBICANO
A noção legal de doação comercial se acha patente no art.213 do RJCCom, segundo o qual
“contrato de doação comercial consiste na convenção mediante a qual uma parte, o doador,
dispõe, ou assume a obrigação de dispor, a propriedade de certos bens, gratuitamente, e à custa
do seu património, em benefício de outra parte, o donatário.”
Daqui, retira-se o entendimento de que a doação comercial não passa de um “contrato pelo
qual uma das partes se obriga a transferir gratuitamente um bem de sua propriedade para
património da outra, que se enriquece na medida em que aquela empobrece.”12
Pequena observação: partindo desta noção legal de doação comercial é difícil senão
impossível, em termos práticos, estabelecer a distinção com o conceito legal de doação civil
previsto no nº1 do art. 940 do CC, pois o legislador comercial não evidencia a natureza mercantil
da doação no sentido de deixar nítido que, pelo menos, uma das partes intervenientes do contrato
prossegue lucros, isto é, é empresário comercial e que esta doação é coberta pelos chamados
princípios comerciais materiais, designadamente a onerosidade13.
Fazendo uma análise comparativa entre a noção de doação prevista no Regime Jurídico dos
Contratos Comerciais e no Código Civil conclui-se que a diferença reside em termos de
abrangência do objecto do próprio contrato de doação, uma vez que o Código Civil amplia o objecto
da doação no sentido de que, não só consistirá na disposição gratuita de uma coisa (ou bem), mas
também na disposição de um direito ou na assunção de uma obrigação, e usa o termo “por espírito
de liberalidade”.
Por isso, não nos parece que seja esta a verdadeira definição de doação comercial, talvez a
prevista no artigo 214 do RJCCom segundo o qual “ é considerada doação comercial a convenção
12
GOMES, Orlando (2009). Contratos. 26ª edição, revista, actualizada e aumentada de acordo com Código
Civil de 2002, Editora Forense, Rio de Janeiro., Pág.253.
13
CORDEIRO, António Menezes (2012). Manual de Direito Comercial, 3ª Edição, revista, actualizada e
aumentada, Almedina, Coimbra, pág. 347.
8
mediante a qual uma parte, o doador, se compromete a fabricar ou produzir bens, gratuitamente
e em benefício de outra parte, o donatário, transmitindo a propriedade dos mesmos”, na medida
em que deste conceito legal é possível extrair a ideia de que uma das partes contratantes exerce
uma actividade económica que consiste na produção ou fabricação de bens, ou seja, é empresário
comercial.
O nosso Direito, diferentemente do que fazem outros ordenamentos jurídicos, por exemplo,
o Código Civil francês e espanhol, que a consideram como um acto unilateral14 e/ou um dos modos
de aquisição da propriedade15, qualificou expressamente, no artigo 213 RJCCom, a doação como
um contrato16, pois considera essencial a manifestação de vontade por parte de donatário no sentido
de aceitar a doação. Foi, assim, abandonada a tradicional orientação que qualificava a doação como
um acto, no sentido de que a obrigação de doar se perfaz com a simples manifestação de vontade
de doador, sendo dispensável a expressão de aceitação17do donatário.
Não obstante, o entendimento de que a doação seja um contrato não é também unânime na
ciência jurídica.
A esse respeito, Nestor Diógenes18defende que a doação não é um contrato, devendo, antes,
ser qualificado como um acto de transferência patrimonial específico, que é gratuito e pressupõe a
existência de uma única manifestação de vontade, a do doador, ou seja, o motor próprio para haver
a doação é a exclusiva vontade do doador.
O fundamento que este estudioso apresenta é o facto do próprio termo contrato evocar a
imposição de uma obrigação ou a sua constituição, ao passo que a doação, vista de maneira natural
ou pura, remete à transferência de um bem do património de uma pessoa à outra, sem que exista
uma contraprestação ou cumprimento de uma obrigação.
Ainda nesta senda, Luciano de Camargo Penteado entende haver muita ambiguidade na
determinação da natureza jurídica da doação, pois, pese embora a clareza do Código Civil brasileiro
14
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág. 254.
15
Cfr., art. 609, 2º parágrafo, e Título II do Livro III, do Código Civil espanhol.
16
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009).Op.cit., pág.173.
17
A aceitação de donatário é presumida, por isso é afastável mediante posicionamento expresso diferente por
parte do donatário.
18
Apud VARGAS, Pedro Paulo de Siqueira (2014), O Contrato de Doação como Instrumento de
Planejamento Sucessório no Direito Civil Brasileiro, Dissertação, Mestrado, Universidade de São Paulo, págs. 26-27.
9
de 2002, que a submete explicitamente ao regime dos contratos, na medida em que, de acordo com
este autor, a doação pode ser vista não só sob prisma contratual, mas também como um acto
unilateral de vontade e um modo de aquisição de propriedade. Este estudioso qualifica a doação
como um negócio unilateral, porque, segundo ele, na doação não há propriamente negociação, mas
sim o facto de que o doador tem a vontade de doar e ao donatário cabe aceitar tal acto volitivo ou
não19.
Alguns professores, como Martmitt20e Pisanelli21, reconhecem que a doação tenha natureza
contratual, entretanto, trata-se de um contrato diferente dos outros contratos, pois é um “contrato
sui generis”, na medida em que o objecto de doação pode ser transferido tanto onerosamente, como
por um acto de liberalidade, ou até por sucessão mortis causa, ou seja, estes autores justificam tal
opção, afirmando que a disciplina de doações é conexa tanto à do direito das sucessões quanto à
dos contratos ou obrigações e a sua causa é espírito de liberalidade.
Do nosso ponto de vista, esta posição não é de todo verdadeira pelas razões seguintes:
Primeiro, na dita doação onerosa não há propriamente onerosidade, mas antes um encargo
no sentido de restrição da liberalidade, e, mesmo se tivesse tal onerosidade, não seria suficiente
para qualificar-se como contrato sui generis, pois, vários contratos podem, umas vezes, estar
revestidos de onerosidade e, outras vezes, de gratuitidade e nem por isso são considerados contratos
sui generis. Por exemplo, o contrato de mandato pode tanto ser gratuito (regra geral) como
oneroso22, mas por isso nem é considerado sui generis.
Segundo, o facto de a doação ter ligação tanto com Direito das Sucessões bem como com
Direito das Obrigações não é igualmente um fundamento bastante para qualificar-se como contrato
sui generis, pois, há tantos outros contratos obrigacionais que interferem ou têm repercussões
directas noutros ramos de direito e nem com isso são considerados sui generis. Por exemplo, se um
casal celebra um contrato de mútuo ou de empréstimo com outrem, não obstante ser matéria de
19
PENTEADO, Luciano de Camargo (2004). Doação com Encargo e Causa Contratual. Campinas,
Millennium, págs.206-207 e 138.
20
MARMITT, Arnaldo (1994). Doação. Aide Editora, Rio de Janeiro, pág. 10.
21
PISANELLI, Giuseppe (1866). Relazione del Ministro Sul terzo libro del progetto, in Raccolta dei lavori
praparatori del codice civile del Regno d’ Italia I. Palermo-Napoli, Pedone Lauriel, pág.90
22
Cfr. Art.1158, nº1 do CC.
10
Direito das Obrigações23, este contrato não será considerado sui generis por simplesmente se
enquadrar no regime das dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges24, que é matéria de
Família. Efectivamente, a divisão do Direito em ramos para efeitos de leccionação e regulação de
matérias específicas, não torna cada ramo uma “ilha isolada”, deve, lógica e naturalmente,
comunicar-se com outros ramos, pois o Direito, como sistema, é unitário25.
Portanto, não qualificamos a doação como contrato sui generis não por “preconceito
dogmático”26 conforme avança Nestor Diógenes, mas sim por falta de fundamentos legais,
jurisprudenciais e doutrinais convincentes e plausíveis para nos simpatizarmos com tal
qualificação.
De todo modo acolhemos a posição que atribui a natureza contratual à doação, que é
também abraçada pelo nosso legislador. Reconhecemos, contudo, que essa natureza contratual de
doação não é absoluta, uma vez que a lei prevê expressamente, por força do art. 594 do RJCCom
conjugado com o art.951 do CC, a desnecessidade da aceitação no caso de doação pura27efectuada
a incapaz. Efectivamente, o art. 951, nº2 do CC, determina que essas doações puras feitas a tais
pessoas produzem efeitos independentemente de aceitação em tudo o que aproveite aos donatários,
o que implica que o negócio se forma sem aceitação, sendo por isso, neste caso, a doação um
negócio unilateral28e não um contrato29.
Em suma, regra geral, a doação tem carácter contratual, pelo que necessita de proposta e
aceitação, ou seja, é indispensável o consentimento do donatário, e, como se trata de contrato
benéfico, somente não se forma se houver explícita repulsa do donatário30. Sucede, porém, que esta
23
Cfr.arts 1142 do CC.
24
Cfr. Art.115, nº1, al.a), da LF.
25
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/busca?q=O+Direito%2C+como+sistema%2C+%C3%A9+unit%C3%
A1rio, cessado em 28/12/2023.
26
DIÓGENES, Nestor (1947). Doação Não É Contrato. Recife, págs.26.
27
Doação pura é, segundo Prof. Orlando Gomes, a que se faz por espírito de liberalidade, sem subordinação
a qualquer acontecimento futuro e incerto, ao cumprimento de encargo ou em consideração do mérito ou
reconhecimento de serviços prestados pelo favorecimento. É a mais simples espécie de doação, a mais comum, a que
responde genuinamente ao espírito do acto. Na doação pura, não há limitações ao direito do donatário, nem motivo
especial que a determine. É a liberalidade plena.
28
Por exemplo, os gastos feitos por conta de outra pessoa, sem intenção de os reclamar. Neste caso, este acto
jurídico constitui uma verdadeira doação, independentemente do consentimento do donatário.
29
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009). Op.cit., pág. 174.
30
GOMES, Orlando (2009), Op.cit, pág.255.
11
regra geral conhece uma excepção, prevista no art.951, nº2, que dispensa a aceitação do donatário
incapaz, quando a doação for pura.
Assim, apesar de, em algumas situações, a doação ganhar a feição de um negócio unilateral,
especialmente quando a manifestação de vontade de donatário no sentido de aceitar a liberalidade
não se mostra necessária para sua formação, por ser uma rara excepção, prevalece a tese
dominante31, que é a contratualista.
Em face dos arts. 213 e 214, ambos do RJCCom, é possível descortinar os seguintes
elementos constitutivos de doação comercial: (i) atribuição patrimonial geradora de
enriquecimento ou gratuitidade, (ii) diminuição do património do doador e (iii) espírito de
liberalidade ou animus donandi.
31
GOMES, Orlando (1993), Contratos, 12ª edição, Forense, Rio de Janeiro, pág.234.
32
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, pág.175.
12
traduzir no enriquecimento do beneficiário. Por exemplo, o mútuo e o mandato são actos gratuitos
desde que desacompanhados de retribuição, mas não representam liberalidades33.
É nesta senda que Ozéias J. Santos35entende que a gratuitidade é o título no qual se celebra
o contrato de doação, porque nele não há contraprestação, sendo um elemento essencial do
contrato, isto é, a gratuitidade é essencial à doação.
Não há, entretanto, unanimidade dentro da doutrina relativamente a essa matéria. Outros
doutrinários afirmam que aqueles que veem na gratuitidade a centralidade da doação exageram na
objectividade, pois não têm em consideração o papel de animus donandi na caracterização do
instituto doação.
A esse propósito, Paul Delony compreende que pode haver acto jurídico com gratuitidade
(renúncia abdicativa, por exemplo) sem ânimo de doar, o que desqualifica como doação, ao passo
que pode haver a liberalidade com desejo de doar sem gratuitidade, como na doação com encargo
em favor do doador. Ainda nessa linha de ideias, Pablo Stolze Gagliano afirma que a gratuitidade
só se acha presente na doação na sua forma pura, ao passo que não se verifica na modalidade de
doação onerosa36.
De qualquer forma, somos da opinião de que tanto a gratuitidade como o animus donandi
são elementos caracterizadores da doação comercial essenciais e sem os quais estaremos perante
qualquer instituto e não doação37, de tal sorte que, não obstante a presença de gratuitidade na
renúncia de direitos, por falta de intenção de provocar o aumento do património do donatário
33
TELLES, Inocêncio Galvão (1989). Direito das Obrigações, 6 ͣ edição, revista e actualizada, Coimbra
Editora, Portugal, pág.80.
34
MARMITT, Arnaldo apud VARGAS, Pedro Paulo de Siqueira (2014), Op.cit, pág. 44.
35
Apud VARGAS, Pedro Paulo de Siqueira (2014), Op.cit., pág. 45.
36
Ibidem, págs.45-46.
37
GOMES, Orlando (2009), Op.cit., pág.256.
13
(animus donandi), não estaremos diante de doação. Por outro lado, na doação onerosa (ou com
encargos) não há ausência de gratuitidade, pois o encargo não constitui uma contrapartida à
atribuição patrimonial efectuada pelo doador, sendo antes uma simples restrição à liberalidade38.
No entanto, este empobrecimento não pode levar o doador numa situação em que não
consegue manter o seu património ou rendimento, pois numa situação dessas, a doação comercial
pode ser revogada, excepto se for o donatário a atribuir ao doador o direito de reivindicar o apoio
de terceiro que o possa prestar ou o direito a apoio social, na medida em que neste caso, o direito
de revogação é suspenso (Cfr. Art. 229, nºs 1 a 3, RJCCom).
A este propósito, o Prof. Pontes de Miranda43afirma que, para de doação se possa falar, é
necessária uma atribuição patrimonial que implique “o enriquecimento de um figurante, com
38
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, págs.177 e 179.
39
STANCIA, Sergio Tuthill (2016), Gratuitidade e Liberalidade no Âmbito de Doação, Tese de Doutorado,
Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito, São Paulo, pág.139.
40
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, pág.175-176.
41
Cfr. Art.1154 do CC.
42
Cfr.1129 CC.
43
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti (1972),Tratado de Direito Privado XLVI-Parte Especial-
Direito das Obrigações, 3ª edição, Borsoi, Rio de Janeiro, pág.191-196.
14
diminuição patrimonial do outro”, constituindo este o “elemento efeito” do contrato. Ou seja, para
que se configure a doação ambos elementos- enriquecimento e empobrecimento- são necessários e
indispensáveis, daí que não pode existir um sem que outro também exista, porque deve haver
“causalidade” entre a diminuição do património do doador e o aumento do património do
donatário. Ainda destaca este estudioso que “ quem doa sofre com a doação. Quem dá, sem que
aumente o património de outrem, não doa. Nem doa quem faz aumentar o património de outrem,
sem que, com isso, diminua o seu.”
O espírito de liberalidade ou animus donandi (a vontade de doar), ainda que não resulte
expressamente das disposições do RJCCom que regulam a doação comercial tal como sucede na
doação civil em que o art. 940, nº1 CC, se reporta explicitamente a ele, é o último elemento
constitutivo de doação, que se traduz no acto volitivo do doador ver diminuído o seu património
para enriquecer o donatário44. Dito de outro modo, o animus donandi é o intento de praticar o acto
de liberalidade45, a intenção do doador de atribuir o correspondente benefício ao donatário por
simples generosidade ou espontaneidade e, não com qualquer intenção como, por exemplo, o
cumprimento de um dever46, isto é, o animus solvendi (vontade de pagar uma dívida)47.
44
MENDONÇA, Manuel Inácio Carvalho de (1957), Contratos no Direito Civil Brasileiro, Tomo I, 4ª edição,
actualizada, Forense, Rio de Janeiro, pág.34.
45
MARRONE, Matteo (2006), Instituzion de diritto Romano, 3ª edição, Palermo, Palumbo, pág.557.
46
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, pág.176.
47
VARGAS, Pedro Paulo de Siqueira (2014), Op.cit., pág.48.
48
CASULLI, Vincenzo Rodolfo (1964), Donazione (Diretto Civile), 13ª edição, Foro Italiano, Roma,
Pág.968.
15
liberalidade traduz-se no ânimo ou consciência de dar bem do seu próprio património para a
satisfação económica de alguém, de dar o que não tem obrigação de dar49.
Em vista disso, afirma-se que o animus donandi é a causa jurídica da doação,51de tal sorte
que, por um lado, o simples enriquecimento do donatário em si não é suficiente, deve ser
acompanhado da intenção de doar52, isto é, a vontade do doador de atribuir um benefício ao
donatário no sentido de produzir o enriquecimento, sem, contudo, pretender nada de volta, daí que
o animus donandi não se presume, não podendo, por isso, ser deduzido da simples gratuitidade do
acto53, e, por outro lado, a mera transferência patrimonial em si é insuficiente para explicar a
doação, ela apenas ganha a efectiva existência quando há intenção do doador de realizar a
liberalidade, ainda que por motivos não altruísticos54 ou outras expectativas, pois são irrelevantes.
Relativamente a essa matéria, a doutrina não é unânime, pois há outros estudiosos que
entendem que este elemento é desnecessário.
A este respeito, o Prof. Luciano de Camargo55sustenta que o animus donandi não constitui
a centralidade de doação, porque necessita da complementação fáctica e real de disposição do bem
pelo doador em favor do donatário, pois somente nesse momento é que se atigirá o âmbito de
actuação de direito, considerando que não releva a mera intenção de praticar o acto jurídico.
Ainda neste contexto, Broise56 defende que o animus donandi só seria relevante para a
concepção clássica da doação enquanto causa, em que servia para distinguir os negócios abstractos
49
LÔBO, Paulo Luiz Netto (2003), Comentários ao Código Civil VI-Parte Especial-Das Várias Espécies de
Contratos, Saraiva, São Paulo, págs.275-276.
50
Ibidem, pág.176.
51
FIUZA, César (2008), Direito Civil-Curso Completo, 11ª edição, revista e actualizada, Del Rey, Belo
Horizonte, pág. 502.
52
LÔBO, Paulo (2017), Direito Civil: Contratos, 3ª edição, Saraiva, São Paulo, pág.282.
53
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, pág.176.
54
JÚNIOR, Sabino Vicente (1979), Contrato de Doação: Doutrina-Prática- Legislação- Jurisprudência,
Brasilivros, São Paulo, pág.23.
55
PENTEADO, Luciano de Camargo (2004), Op.cit., pág.127.
56
Apud STANCIA, Sergio Tuthill (2016), Op.cit., pág.93.
16
praticados em razão da causa donationis daqueles praticados em razão de alguma outra causa.
Entretanto, com a transformação da doação em negócio típico, o animus donandi perdeu toda a sua
importância, pois o animus de praticar a gratuitidade se confunde com a vontade direccionada à
prática da própria doação enquanto acto jurídico. Por isso, o animus donandi seria desnecessário
para caracterizar o contrato típico de doação.
Não nos simpatizamos com esses posicionamentos, pois, para a efectiva configuração de
doação, não basta a simples transferência patrimonial que implica o enriquecimento do donatário,
é imperioso, por força da lei (ainda que não resulte expressamente no RJCCom) e doutrina
dominante, que exista a intenção do doador atribuir este enriquecimento ao donatário.
Efectivamente, se considerarmos o animus donandi desnecessário, todas aquelas figuras que
produzem efeitos análogos à doação seriam considerados actos de liberalidades. Por isso, sempre
que não seja visível o espírito de liberalidade, o acto não estará em condições de ser qualificado
como doação57. Assim, não será doação, por exemplo, a renúncia de direitos, na medida em que
desse acto não resulta a intenção de provocar o aumento do património de outrem, o que está
presente neste acto é a intenção de extinguir o próprio direito. Igualmente, por falta de espírito de
liberalidade, não são doação os donativos considerados conformes aos usos sociais (por exemplo,
pagar gorjeta ao garçom ou taxista), na medida em que a vontade do autor que os realiza não é de
fazer uma liberalidade, pelo contrário, é de cumprir uma obrigação resultante das regras de trato
social cuja realização corresponde a um animus solvendi e não a animus donandi58.
57
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Op.cit, pág.177.
58
Ibid. pág.177.
17
1.3.1. A doação como contrato nominado e típico
A doação comercial é, em primeiro lugar, um contrato nominado, uma vez que a lei o
reconhece como categoria jurídica, atribuindo-lhe uma denominação (nomem iuris)59, no artigo
213 do RJCCom, e típico, na medida em que se acha expressamente previsto e regulado na lei, isto
é, a lei prevê-lhe ou estabelece-lhe um regime60, nos artigos 213 a 230 do RJCCom.
A doação comercial é um negócio bilateral porque pressupõe a existência de, pelo menos,
duas declarações de vontade, de conteúdo oposto, mas convergentes, ajustando-se na sua comum
pretensão de produzir resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte61,
isto é, empobrecimento para o doador e enriquecimento para o donatário. Aliás, o facto de ser
qualificado como contrato em si é que torna a doação um negócio bilateral62, no sentido de que,
para a sua formação, deve existir a proposta e a aceitação. Esta situação é, no entanto, exceptuada
em relação às doações puras feitas a pessoas incapazes, pois tais doações produzem efeitos
independentemente de aceitação em tudo o que aproveite aos donatários (cfr.art.951 CC), passando,
neste caso, a doação a ser qualificada como um negócio unilateral e não bilateral63. Quer isto dizer
que, nesta situação, a doação se forma, mesmo que o donatário não tenha expressado a sua vontade
de aceitação, bastando a existência da oferta do doador.
A doação comercial é um contrato gratuito, na medida em que nele não existe qualquer
contrapartida pecuniária em relação à transmissão dos bens, implicando apenas sacrifícios
económicos para uma das partes, o doador64. Dito de outro modo, a doação é um contrato gratuito,
uma vez que nele uma parte, o doador, tem uma intenção liberal (animus donandi), devidamente
59
TELLES, Inocêncio Galvão (1989), Op.cit., pág.68.
60
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Direito das Obrigações- Introdução: Da constituição
das obrigações, Vol.I, 8.ª edição, Almedina, Coimbra, pág.208.
61
PINTO, Carlos Alberto da Mota (2005), Teoria Geral de Direito Civil, 4ª edição, Coimbra Editora,
Coimbra, pág.385.
62
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Teoria Geral dos Contratos, Editora Expert, Belo Horizonte,
pág.253.
63
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág.174.
64
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág.179.
18
manifestada, de efectuar uma atribuição patrimonial a favor de outra, o donatário, sem
contrapartida ou correspectivo económico65, ou seja, ao empobrecimento do património do
doador corresponde o enriquecimento do património do donatário66.
Todavia, alguns autores, como Prof. Menezes Cordeiro, entendem que o carácter gratuito
de doação não é absoluto, na medida em que não se achará presente em algumas modalidades,
principalmente, nas chamadas doações onerosas, previstas no artigo 963 do CC. Nestas, o
contrato é gratuito para uma das partes, o doador, e é oneroso para a outra, o donatário67.
A nosso ver, a doação é um contrato absolutamente gratuito, uma vez que nas tais doações
onerosas, também conhecidas como doações com encargo, não se verifica uma verdadeira
onerosidade, pois o encargo não representa uma contrapartida económica de atribuição
patrimonial do doador, o que há, na verdade, é uma mera restrição da liberalidade 68efectuada a
favor do donatário. Portanto, o contrato de doação é gratuito por excelência, porque o donatário
enriquece seu patrimônio sem contrapartida69.
A doação comercial é um contrato não sinalagmático, na medida em que dá, apenas, lugar
a uma prestação70 e não a obrigações recíprocas, isto é, só faz emergir obrigações para uma das
partes, não podendo estas, em momento algum, ficar, simultaneamente, na situação de credores e
de devedores, pois o doador fica sempre na posição de devedor e o donatário na de credor. Ou seja,
na doação só o doador se obriga a entregar a coisa doada71.
65
PINTO, Carlos Alberto da Mota (2005), Op.cit., pág.401.
66
CORDEIRO, António Menezes (1980), Direito das Obrigações, Vol I, Lisboa, pág. 424.
67
Ibidem, pág.424.
68
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág.179.
69
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág. 254.
70
CORDEIRO, António Menezes (1980), Op.cit., págs.422-423.
71
FERNANDES, Luís A. Carvalho (1996), Teoria Geral do Direito Civil, Vol. II, 2ª edição, Lex, Lisboa,
Pág.53.
19
independentemente da entrega da coisa72. Esta posição tem a sua base na lei, pois, ao prever
expressamente a existência de uma obrigação de entrega por parte do doador (art. 216, al.b),
RJCCom), dá a ideia de que a lei não faz depender a constituição ou perfeição do contrato da
entrega da coisa, admitindo assim a existência do contrato de doação antes de a coisa doada ser
entregue73.
No entanto, casos há em que a doação comercial pode se afigurar como contrato real quoad
constitutionem, no sentido de que para a sua validade e eficácia exige-se, para além dos requisitos
comuns a todos os contratos, como sejam a capacidade, o objecto e a forma, a entrega da coisa em
causa à contraparte, isto é, a transferência da posse da coisa, a datio rei74. Sem essa transmissão ou
entrega da coisa, o contrato não existe, pois, este ainda não está formado. Enquadra-se, nesta
situação, a doação verbal de coisa móvel (art. 947, nº 2 CC, conjugado com o art.594 RJCCom),
cuja validade e eficácia faz depender não só do consenso contratual, mas também da ocorrência
concomitante de tradição da coisa doada75.
Por esse facto, alguns doutrinários, nomeadamente Paulo Lôbo76e Vicente Júnior77,
cometem o equívoco de considerar a doação como, por essência, um contrato real quoad
constitutionem, afirmando que a doação importa necessariamente a entrega imediata da coisa
doada, isto é, a transmissão do bem é simultânea e sem isso nem sequer existe, ou seja, a tradição
da coisa é indispensável, daí que a aceitação do donatário é um mero elemento formador da
consensualidade contratual, não servindo como um critério distintivo do acto, o que somente se
verifica quando há efectiva entrega da coisa doada.
A nosso ver, uma vez que somente na doação verbal de coisa móvel é que, para a perfeição
do contrato de doação comercial, se exige não só o consenso contratual e outros requisitos
negociais, mas também a efectiva tradição da coisa, e na globalidade das situações não se verifica
tal exigência, no sentido de que o contrato torna-se perfeito por simples acordo das partes,
72
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.260-261.
73
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág.178.
74
TELLES, Inocêncio Galvão (1989), Op.cit., pág.73.
75
CORDEIRO, António Menezes (1980), Op.cit., pág. 420; LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes
(2009), Vol.III, Op.cit, pág.178.
76
LÔBO, Paulo (2011), Direito Civil: Contratos, 1ª edição, Saraiva, São Paulo, pág.281.
77
JÚNIOR, Sabino Vicente (1979), Op.cit., págs.61-62.
20
independentemente da entrega imediata da coisa doada, o contrato de doação é predominantemente
consensual, sendo que apenas numa situação excepcional poderá revestir o carácter real. Logo, não
concordamos com os autores que a caracterizam como um contrato essencialmente real quoad
constitutionem, mas antes com os defensores da ideia de que é um contrato primordialmente
consensual. Efectivamente, regra geral, não se mostra necessária a tradição do bem doado para a
perfeição do contrato de doação, bastando, para tanto, o mero consenso entre o doador e o
donatário.
A doação comercial é um contrato principal, uma vez que tem uma existência própria,
independente e autónoma78, isto é, não depende de outros contratos para sua existência, existe por
si só, ou seja, a sua realização não pressupõe a prévia celebração de outro contrato 79 que lhe sirva
de base. Por outras palavras, o facto de a sua existência, validade e eficácia ser independente de
qualquer outro facto jurídico é que torna a doação comercial um contrato principal80.
Uma vez que o Regime Jurídico dos Contratos Comerciais não regula expressamente a
matéria de forma de doação comercial, deve-se, por força do art.594 RJCCom, recorrer às regras
previstas no Código Civil, donde se pode extrair a ideia de que a doação comercial é, em regra, um
contrato formal, na medida em que o art.947, nº1 do CC, sujeita a doação de coisas imóveis à forma
de escritura pública e a doação de coisas móveis à forma escrita (art.947, nº2, in fine, CC). Esta
última forma é, no entanto, dispensada, se a doação de coisas móveis for acompanhada de tradição
de coisa, caso em que a celebração e a sua execução ocorrem simultaneamente81.
78
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág.93.
79
FERNANDES, Luís A. Carvalho (1996), Op.cit., pág.73.
80
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.286.
81
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág.178
21
CAPÍTULO II- CONTRATO COMERCIAL
O conceito legal de contrato comercial é-nos dado no art.1, nº1 do RJCCom, nos termos do
qual “ contrato comercial é o acordo de vontades, celebrado entre duas ou mais partes, no
exercício da sua actividade empresarial, visando criar, alterar ou extinguir direitos e obrigações.”
Uma análise deste conceito leva-nos a crer que o contrato comercial difere dos demais
contratos, sobretudo os civis, pelo facto de se exigir que um dos contraentes do contrato comercial
deva estar na exploração da actividade empresarial a que se dedica, ao passo que no contrato civil
basta que os sujeitos envolvidos sejam de direito privado (particulares) ou, sendo do direito público,
intervenham despidos do seu poder de autoridade82.
Da leitura do art.1, nº2 do RJCCom depreende-se que podem ser extraídos dois
pressupostos do contrato comercial, ou seja, os elementos primordiais que formam o núcleo central
do contrato comercial, são, em regra, imprescindíveis, estando neles a essência do contrato
comercial. São eles: (i) ambos ou um dos sujeitos contratantes dever ser um empresário comercial
e (ii) o contrato deve ser celebrado no exercício da actividade empresarial.
O art.1, nº2 RJCCom prevê que “o contrato é comercial sempre que for celebrado por
empresários comerciais, entre si, ou com sujeito não empresário...”, deixando, assim, evidente que
um dos requisitos para se falar do contrato comercial, no ordenamento jurídico moçambicano, é a
necessidade de pelo menos um dos figurantes da relação contratual ser um empresário comercial.
82
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.310
22
É considerado empresário comercial uma pessoa singular (empresário individual) ou
colectiva (sociedade empresarial) que exerça, profissional e habitualmente, actividade
empresarial83.
b) Profissionalidade ou profissionalismo
Não basta o simples exercício de uma actividade empresarial, deve ser de forma
profissional, pois é uma actividade que exige conhecimentos específicos, experiência, argúcia,
assunção de riscos, prudência e competência. O empresário comercial não pode ser um amador
ou um ingénuo, nem deve exercer a actividade empresarial para se entreter ou desportivamente,
pois se supõe que ele vive daquela actividade e é dela que retira os seus meios de subsistência,
de melhoria da sua condição económica e social e, quando tem êxito, a sua fortuna90. É, assim,
83
Cfr.arts.3, nºs 1 e 2, e 66, ambos do CCom.
84
Actividade económica: no sentido de produção e/ou distribuição de bens e prestação de serviços e não de
mero consumo ou uso da coisa ou dos seus frutos e, por outro lado, no sentido de que busca gerar lucro para quem a
explora84, isto é, a actividade empresarial é sempre voltada para a produção de riquezas.
85
Organizada: no sentido de que nela se encontram articulados, pelo empresário, os três ou quatro factores
de produção: capital, mão-de-obra, terra ou tecnologia.
86
Produção e/ou circulação de bens: consiste, por um lado, na fabricação de produtos ou mercadorias, ou,
por outro, na sua intermediação, no sentido de ir buscar o bem no produtor para trazê-lo ao consumidor.
87
Prestação de serviços: consiste sempre numa obrigação de fazer algo que implique ou possa gerar lucros.
Por exemplo: reparar uma viatura do cliente.
88
Destinados ao mercado: significa que os bens produzidos ou os serviços prestados não devem ser para o
consumo ou proveito próprio do empresário, devem ser colocados à disposição de potenciais consumidores ou clientes,
ou ainda, de outros empresários situados na fase seguinte da cadeia de comercialização.
89
Finalidade lucrativa: significa que o fim ou escopo do empresário comercial é a obtenção, através do
exercício da actividade empresarial, de lucros, ou seja, desta actividade deve resultar uma certa vantagem económica
ou lucro patrimonial para o empresário, daí falar-se de especulação enquanto um elemento caracterizador de actividade
empresarial.
90
VASCONCELOS, Pedro Pais de (2017), Direito Comercial: Parte Geral, Contratos Mercantis, Títulos de
Créditos, Vol.I, Almedina, Portugal, pág.23.
23
empresário comercial quem faz a actividade empresarial como o seu meio de vida (modus
vivendi) e a exerce com o intuito de ganho e de enriquecimento, de incremento patrimonial91.
c) Habitualidade
91
Ibidem, pág.44.
92
CORREIA, A. Ferrer (1994), Op.cit., pág.75.
93
COELHO, Fábio Ulhoa (2011), Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa, 23ª edição, Saraiva,
São Paulo, págs.25-30.
94
SOUSA, António Francisco de (1993), Direito Comercial, 4ª edição, AIESCAL, Lisboa,pág.60.
95
Ibidem, pág.32.
96
VASCONCELOS, Pedro Pais de (2017), Op.cit., pág.45
24
oferecer à sua filha em alusão ao seu aniversário natalício, pois não se acha, neste contrato, presente
a especulação, isto é, A, ao celebrá-lo, não pretende obter lucros. Mas já, se A comprasse a viatura
para a revenda, aquele contrato seria, indubitavelmente, comercial97.
Desta disposição legal resulta claramente que a comercialidade dos contratos acessórios de
um contrato comercial principal depende apenas do requisito “ambos ou um dos contratantes dever
ser empresário comercial”, sendo assim irrelevante o facto de ter sido celebrado no exercício de
actividade empresarial, pois, será comercial, por força da lei, independentemente de ter sido
celebrado no exercício de actividade empresarial. Assim, o penhor (art.539 RJCCom), contrato
acessório, por exemplo, é comercial em virtude de estar a garantir o cumprimento de obrigações
contraídas em contrato comercial principal99, ainda que não tenha sido celebrado no âmbito da
realização da actividade empresarial.
97
OLAVO, Fernando (1978), Direito Comercial, Vl.I, 2ª edição, Coimbra Editora, Coimbra., pág.72
98
ANTUNES, José A. Engrácia (2012), Direito dos contratos comerciais, Almedina, Coimbra, pág. 40.
99
CORREIA, A. Ferrer (1994), Op.cit., pág.40.
100
JÚNIOR, Manuel Guilherme (2013), Op.cit., pág.50.
25
comercial, nomeadamente, pelo menos um dos contraentes deve ser empresário comercial e intervir
na relação contratual com finalidade de obter lucro. Por conseguinte, o contrato acessório não existe
autonomamente ou por si só, consequentemente, a extinção do contrato principal acarreta a do
contrato acessório, pois, logicamente, não pode sobreviver, por lhe faltar a razão de ser. Pelo
mesmo motivo, se o contrato principal for nulo, também o será, por via de consequência, o
acessório101.
No presente título não iremos abordar todas as características dos contratos comerciais, que
são quase incontáveis, mas apenas aquelas que se mostram necessárias e pertinentes para a melhor
discussão da nossa problemática. Assim sendo, nos iremos reportar, fundamentalmente, a três (3)
características, designadamente: onerosidade ou economicidade, custos de transacção e egoísmo
do empresário comercial.
a) A onerosidade ou economicidade
101
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág.93.
102
SCALZILLI, João Pedro, TELLECHEA Rodrigo, SPINELLI, Luis Felipe (2020), Introdução ao Direito
Empresarial, 1ª edição, Buqui, Porto Alegre, pág. 190.
103
MENDONÇA, José Xavier Carvalho de (1957), Tratado de Direito Comercial Brasileiro: Dos Actos de
Comércio, Vol.I, 6ª edição, Nº1517, Livrária Freitas Bastos, Rio de Janeiro, págs. 426-427.
104
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.314.
26
Compreende-se essa característica, na medida em que, o objectivo do empresário é sempre
a obtenção de lucro (finis mercatorum est lucrum), não se concebe na actividade comercial a
gratuitidade. A onerosidade é a regra, e ela presume-se105. Por isso, por exemplo, o mandato
comercial será sempre oneroso106 107, ao passo que o civil pode ser oneroso ou gratuito nos termos
do art.1158 do CC.
b) Os custos de transacção
Esta característica determina que o empresário comercial contrata porque entende que o
negócio trar-lhe-á mais vantagens do que desvantagens, em uma ponderação de custos, que tem
que ser contabilizados no cálculo de utilidades108. Se não for capaz de garantir vantagens ou
retornos económicos nas suas transacções comerciais, o empresário acaba, mais tarde ou mais cedo,
por sair do mercado, ou por desistência ou por falência109.
105
REQUIÃO, Rubens (2005), Curso de Direito Comercial, Vol. I, 1ª edição, Saraiva, São Paulo, pág. 29
106
JÚNIOR, Manuel Guilherme (2013), Op.cit., pág.43.
107
Não obstante o nosso legislador comercial admitir, equivocadamente, nos termos do art.292, nº2 do
RJCCom, a possibilidade de haver, também, o mandato comercial gratuito.
108
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.315.
109
VASCONCELOS, Pedro Pais de (2017), Op.cit., págs.23-24.
110
Ibidem, pág.45.
111
AQUINO, Leonardo Gomes de (2021), Op.cit., pág.315.
112
WILLIANSON, Oliver (1985). The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational
contracting. Free Press, New York, pág.47.
27
CAPÍTULO III- PROBLEMÁTICA DA NATUREZA
MERCANTIL DA DOAÇÃO
113
Cfr. pág. 18 do Anteprojecto do Regime Jurídico dos Contratos Comerciais.
28
Segundo, ciente de que as sociedades empresariais têm, por natureza, um intuito
lucrativo114 e os actos gratuitos mostram-se, regra geral, excluídos da capacidade de gozo
daquelas sociedades115, o nosso legislador vem, no art. 72, nº2 do CCom, vedar, em regra, às
sociedades empresariais de efectuar liberalidades que são, essencialmente, no entender de
Pedro Albuquerque, autênticas doações116. Porém, excepcionalmente, podem realizá-las, desde
que seja em benefício dos seus empregados ou da comunidade onde actuem, deliberado em
Assembleia Geral, e sempre no âmbito da sua responsabilidade social.
Entretanto, equivocadamente e em directa violação do disposto no artigo supracitado, o
consultor de reforma do Código Comercial moçambicano admite que os empresários
comerciais possam “realizar actos de liberalidade com os seus clientes...”,117ao passo que a
lei exclui, sobretudo para as sociedades comerciais, absolutamente essa possibilidade.
Portanto, as sociedades comerciais só podem realizar as liberalidades nos casos em que
se não o fizessem, sofreriam uma sanção ou reprovação social, por exemplo, dar gratificações
(bónus) aos seus trabalhadores e apoiar as vítimas de incêndios ou inundações na comunidade
onde actuam.
Obviamente, o facto de o legislador, por um lado, proibir, regra geral, as sociedades
comerciais de realizarem liberalidades, evidencia que não pretendia, de modo algum, que as
sociedades empresariais, na categoria de empresários comerciais mais comum e privilegiada e,
no exercício das suas actividades empresariais, fizessem doações e estas tomassem a natureza
mercantil e, por outro lado, nos dois casos excepcionais em que as permite, também poderia se
dizer que não seria possível aquela doação revestir a natureza mercantil, na medida em que no
nosso ordenamento jurídico, para o contrato ser considerado comercial não basta ser celebrado
por empresários comerciais, entre si, ou com sujeito não empresário, o empresário doador deve
necessariamente estar no exercício de uma actividade empresarial. Por isso, tal situação de
qualificar as liberalidades efectuadas pelas sociedades aos seus trabalhadores ou à comunidade
114
CORREIA, Luís Brito (1989), Direito Comercial: Sociedades Comerciais, 2º Volume, AAFDL, Lisboa,
pág.30.
115
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça.
116
https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=https://portal.oa.pt/upl/%257
B034fb866-ae9f-4266-b873-
94d0fb8e2732%257D.pdf&ved=2ahUKEwiwlb__rNWDAxWbVUEAHWejA3oQFnoECA4QAQ&usg=AOvVaw36
YcCvW4JtYI8z9o8BUtOy, visitado no dia 11/01/2024.
117
Cfr. pág.18 do Anteprojecto do Regime Jurídico dos Contratos Comerciais.
29
onde actuam como doação comercial, só se verificaria, se para tal bastasse o contrato ter sido
celebrado por um empresário enquanto doador e não fosse exigível o facto de ter que estar no
exercício de actividade empresarial.
No entanto, alguma doutrina defende que não significa que os empresários comerciais
não possam absolutamente fazer liberalidades, pois com a realização de algumas doações não
é, em algumas situações, posta em causa a finalidade geral dos empresários. Nada impõe que o
lucro resulte de todo e qualquer acto do empresário. Basta que essa actividade se integre nos
objectivos genericamente lucrativos118. Por isso, naqueles dois casos excepcionais e permitidos
por lei em que o empresário faz uma liberalidade para os seus trabalhadores para obter a
redução dos seus trabalhadores ou para a comunidade onde actua para conseguir publicidade
ou para melhorar a sua imagem perante o público, aquela doação terá a natureza comercial,
pois há nestas duas situações de qualquer modo um interesse económico, que nos faz dizer que
não é prejudicado o fim lucrativo da empresa.
A análise da doação como um contrato acessório não passa de uma situação hipotética e
quase inexistente, que trouxemos fundamentalmente para demonstrar todas as vias possíveis em
que, eventualmente, a doação teria a natureza mercantil, uma vez que a doação é pura e
exclusivamente um contrato principal.
Deste modo, é verdade que no contrato acessório ao contrato comercial principal, para ter
a natureza mercantil, é, por força do art.1, nº3 RJCCom, dispensável ou irrelevante a sua celebração
no exercício da actividade empresarial. Sucede, porém, que a doação é, por natureza e excelência,
118
ASCENSÃO, José de Oliveira (1993), Direito Comercial: Sociedades Comerciais, Vol.IV, Lisboa, pág.28.
30
um contrato principal e nunca poderá assumir carácter acessório, pois a sua realização não depende
absolutamente de outro contrato.
Por isso, ainda se quiséssemos, não podemos, jurídica e rigorosamente, analisar a doação
como contrato acessório e, consequentemente, nunca poderá, por essa via, ser considerada como
contrato materialmente comercial.
A doação modal, prevista no art.963, nº1 CC, consiste numa restrição imposta ao
beneficiário da liberalidade que o obriga à realização de determinada prestação no interesse do
autor da liberalidade, de terceiro ou do próprio beneficiário119.
Uma vez que impõe ao donatário a realização de uma prestação, alguma doutrina tem
defendido que na doação modal existe, pelo menos até a parte que corresponde ao valor do encargo,
onerosidade120.
A nosso ver, não existe neste caso uma verdadeira onerosidade, ou seja, o encargo nunca
torna a doação um negócio oneroso, porque, por um lado, a imposição de encargo não retira a
liberalidade da doação, pois o encargo é uma mera restrição da liberalidade e não uma atribuição
patrimonial a favor do doador ou contraprestação da liberalidade efectuada, uma vez que, ainda
que a doação modal origine, para o donatário, a obrigação de cumprir encargo, inexiste o vínculo
119
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, págs.204-205.
120
ALVIM, Agostinho (1980), Da Doação, 3ª edição, Saraiva, São Paulo, págs.52-53.
31
de interdependência entre essa obrigação e a do doador121 e o encargo, por mais pesado que seja,
não se integra no conteúdo ou função específica de doação, constitui apenas uma cláusula
acessória122, e mesmo que o encargo beneficie o doador, deverá necessariamente ser em valor
menor que a própria coisa doada, isto é, o encargo não pode superar o valor da doação 123(art.963,
nº2 CC), e, por outro lado, ainda que haja a aposição de modus, continua a haver nesta doação a
gratuitidade, pois o encargo apenas diminui o quanto recebido pelo donatário, e isso reflecte-se em
todo acto, não podendo haver a divisão relativamente à sua natureza gratuita, mas sim em relação
aos seus efeitos124. De facto, se na doação modal houvesse efectivamente a onerosidade, estaríamos
não perante uma doação, mas antes perante uma compra e venda125.
b) A doação remuneratória
121
Daí que, segundo Orlando Gomes, se o encargo não for cumprido, nem por isso se resolverá o contrato,
salvo se o direito de pedir a resolução for estipulado expressamente no contrato.
122
TELLES, Inocéncio Galvão (2002), Manual dos Contratos em Geral, Refundido e Actualizado, 4.ª edição,
Coimbra Editora, Coimbra, pág. 283
123
COELHO, Fábio Ulhoa (2013), Curso de Direito Civil: Contratos, Vol. III, 6ª edição, Saraiva, São Paulo,
págs.237-239; BEVILAQUA, Clóvis (1955), Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Vol.VI, 10ª edição, Editora
Paulo de Azevedo, Rio de Janeiro, pág.279; GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, págs. 259 e 262.
124
GARCÍA, Manuel Albadalejo e ALABART, Silva Diaz (2006), La Donación, Colegio de Registradores
de la Propriedad y Mercantiles de Espanã, Madrid, págs. 473-475
125
LEITÃO, Luís Manuel Telles De Menezes (2009), Vol.III, Op.cit, pág. 205.
126
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág.259.
127
Cfr. Art.441 do Código Civil brasileiro.
128
RIZZARDO, Arnaldo (2010), Contratos, 10ª edição, Forense, Rio de Janeiro, págs.455-456.
129
MARMITT, Arnaldo (1994), Op.cit., pág.42.
32
por outro lado, uma vez que não constitui uma contraprestação130, a doação remuneratória não se
torna num negócio oneroso ou sinalagmático e, por isso, não perde a sua natureza jurídica ou
carácter de liberalidade131.
c) A doação mista
Portanto, temos aqui venda na aparência e doação na realidade, pois quem (o empresário)
vende quer, de facto, doar135, daí que a gratuitidade prevalece em relação à aparente onerosidade
presente neste negócio e, consequentemente, a doação mista não cabe na exigência de que, para
130
PENTEADO, Luciano de Camargo (2004), Op.cit., pág.176.
131
JÚNIOR, Sabino Vicente (1979), Op.cit., pág.40.
132
VARELA, João de Matos Antunes (1996), Das Obrigações em Geral, Vol. I, 9ª edição, revista e
actualizada, Almedina, Coimbra, pág. 303.
133
TELLES, Inocéncio Galvão (2002), Op.cit, pág. 472.
134
VARGAS, Pedro Paulo de Siqueira (2014), Op. Cit., pág.117.
135
GOMES, Orlando (2009), Op. Cit, pág. 260.
33
revestir a natureza mercantil, deve ser realizada no exercício de actividade empresarial.
Efectivamente, sendo o preço cobrado vil ou insignificante em relação ao valor da coisa doada, o
empresário doador não conseguirá, obviamente, lucro.
Em jeito de conclusão, quer a doação modal, quer a doação remuneratória, bem como a
doação mista, não possuem uma verdadeira onerosidade, ou seja, não tornam a doação num
contrato oneroso e sinalagmático, querendo isso significar que não satisfazem a exigência de que
a doação, para ser comercial, deva ser efectuada no exercício de actividade empresarial, isto é, não
é possível o empresário doador realizar a liberalidade com o intuito de obter, em contrapartida,
lucro.
Assim, a nosso ver, pelos fundamentos acima aduzidos, conclui-se que a doação é, em
termos materiais136, um contrato exclusivamente civil137 e só, excepcionalmente, poderá assumir a
natureza mercantil como admitem os Profs. Pupo Correia138 e Paulo Cunha139, pois há algumas
doações que se integram na actividade empresarial, como as ofertas feitas aos trabalhadores ou a
comunidade. Em qualquer destas situações o acto praticado pelo empresário é interessado, uma vez
que gera, para o seu autor, uma vantagem, ainda que não seja imediata.
Por isso, perante este cenário em que a doação para ser comercial deva ser feita pelo
empresário no exercício de actividade empresarial e a esta contenha como um dos seus elementos
caracterizadores a finalidade lucrativa140e, por conseguinte, na doação em todas as modalidades em
que, por ventura, o poderia, não é possível encaixar esta realidade, na medida em que somente o
empresário faz uma atribuição patrimonial a favor de outrem e ele não recebe em troca nada de
cariz económico que lhe permitirá obter lucro, a qualificação da doação como um contrato
comercial pelo nosso legislador conduz, regra geral, a uma autêntica descaracterização da
actividade empresarial.
136
Dissemos em termos materiais porque, formalmente, o nosso legislador já a considera como contrato
comercial.
137
CUNHA, Paulo Olavo (2018), Direito Comercial e do Mercado, 2ª edição, Almedina, Portugal, pág.256.
138
CORREIA, Miguel J. A. Pupo (2007), Direito Comercial: Direito da Empresa, 10ª edição, revista e
actualizada, Ediforum, Lisboa, pág.414.
139
CUNHA, Paulo Olavo (2018), Op. Cit., pág.75.
140
Cfr. Art.2, nº1, CCom, in fine.
34
CONCLUSÃO
Chegado aqui, cumpre concluir que a doação comercial, não obstante o facto de em algumas
situações ganhar a natureza de um negócio unilateral, sobretudo quando seja feita na sua
modalidade pura e o donatário seja um incapaz, tem, predominantemente, uma natureza contratual,
no sentido de que deva haver, por um lado, a proposta feita pelo doador e, por outro, a aceitação
do donatário. Com efeito, a doação comercial pressupõe o preenchimento cumulativo dos seguintes
requisitos: (i) atribuição patrimonial geradora de enriquecimento ou gratuitidade, (ii) diminuição
do património do doador e (iii) espírito de liberalidade ou animus donandi.
Uma vez que o Direito comercial em geral e os contratos comerciais em especial são
caracterizados pela onerosidade e pelo egoísmo do empresário e um dos requisitos do contrato
comercial é que dele o empresário obtenha lucro, e, por outro lado, o nosso legislador proíbe, em
regra, às sociedades empresariais de fazer liberalidades, fica claro que o ramo de Direito Comercial
não se compadece, regra geral, com actos de liberalidades, daí que a doação só em situações muito
restritas e excepcionais poderá se tronar um contrato comercial.
Por isso, a doação, ainda que analisada na vertente de contrato principal como na vertente
de um contrato acessório bem como vista em todas as modalidades em que, aparentemente, teria
onerosidade, designadamente a doação modal, remuneratória e mista, não consegue preencher um
dos pressupostos de um contrato comercial, nomeadamente o contrato dever ser celebrado no
âmbito do exercício de actividade empresarial que implica a obtenção de um incremento
económico, pois na doação não existe tal possibilidade, considerando que apenas o empresário
enquanto doador é que sacrifica o seu património e não recebe nada em troca. Logo, a doação é um
35
contrato material e exclusivamente civil e apenas em duas situações excepcionais, nomeadamente
quando é feita pelo empresário para os seus trabalhadores e para a comunidade onde actua, é que
poderá assumir a natureza mercantil.
Finalmente, importa aqui deixarmos aquilo que são as nossas recomendações ou sugestões,
sobretudo para o nosso legislador, nomeadamente:
36
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37
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