Apontamentos Semanais de Direito Penal Aula de 22.11: Manhã
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Manhã
Vamos começar a construir a nossa teoria geral do delito.
Da luta de escolas resultou um sistema a partir de uma communis opinio – década 70/80.
Vamos começar a construir a nossa teoria geral dos crimes de ação dolosos.
è Os crimes dolosos são caracterizados por uma relação de simetria ou de
congruência entre o lado subjetivo e objetivo do crime. O que o agente pensa é o
que ele realiza numa realidade exterior.
è Na negligência, em princípio, o agente até quer praticar um ato lícito, mas por
acidente e circunstancialismos, pratica um ato ilícito, pratica um crime; há uma
relação de assimetria.
Este conceito de ação e as funções valem para todas as outras categorias (como o conceito
de tipicidade), ou seja, este conceito nada nos diz concretamente sobre a ação, mas sim
sobre todo o método da teoria geral do crime doloso.
Conceito de ação cumpre duas funções, de forma correta (do ponto de vista do Professor):
- Função positiva: este conceito de ação coloca na tónica de que o núcleo do desvalor do
crime é o desvalor da ação; é o comportamento humano, logo vincula a construção do
sistema à perspetiva valorativa do direito penal. As normas penais têm como exclusivos
destinatários pessoas humanas. Este conceito pessoal ou personalista da ação vincula o
valor do crime ao desvalor da ação.
àLevanta sérios problemas porque a sanção aplicada à pessoa coletiva, regra geral é a
multa – multas elevadas, responsabilizando os sócios que muitas vezes não têm peso na
vida da empresa. No fundo, são estas pessoas que vão sofrer as consequências, ainda que
nada tenham a ver com as decisões da empresa – a responsabilidade cai sobre quem não
a tem efetivamente.
è Contudo, não vamos analisar os pormenores deste problema, por falta de tempo.
Numa 1.ª abordagem temos de avaliar a conduta humana como ato geral. Aqui podemos
distinguir entre ação dolosa e ação negligente por isso é que falamos do crime doloso (na
ação dolosa há a simetria entre o lado subjetivo e objetivo, na ação negligente não).
O ilícito doloso é uma unidade subjetiva-objetiva. A definição das ações dolosas
penalmente relevantes tem de ser feita com a maior precisão possível, no momento da
tipicidade.
O tipo é a forma através da qual se exprime a ilicitude. É preciso precisar o conceito
do tipo. O momento da tipicidade coincide com o próprio princípio da legalidade. Todos
os pressupostos da punição têm de estar previstos na lei. O tipo no plano do sistema tem
um sentido mais restrito – abrange apenas aqueles elementos da descrição da lei – aqueles
que contendem com o valor subjetivo do sentido do ato.
O legislador ao descrever um crime, fá-lo na generalidade.
Outra distinção:
è Tipos incriminadores
è Tipos justificadores
Para que eu tenha um ilícito é preciso que a conduta por um lado preencha os elementos
do tipo incriminador e por outro que não preencha nenhum requisito do tipo justificador.
Ambos concorrem para concretizar o juízo de ilicitude em cada caso concreto. Porém, a
doutrina portuguesa trata-os em separado, porque se diz que apesar de serem
complementares, fazem-no de maneira diversa.
Tipo incriminador:
è Unidade subjetivo-objetiva
Tipo objetivo:
è Agente
è Conduta
è Bem jurídico
Agente:
A esmagadora maioria dos crimes são crimes comuns – os crimes específicos ou especiais
são uma exceção.
Conduta:
Temos 2 categorizações:
o Crimes de execução livre ou não vinculada: maioria dos crimes encaixa-se aqui.
O legislador, na maioria dos casos, proíbe condutas que possam atentar contra
determinado bem jurídico.
o Crimes de execução vinculada ou não livre – o que interessa é a produção de
situação de perigo ou de crime; como foi produzido não interessa. Desde que a
conduta seja idónea e tenha posto em perigo o bem jurídico, está completo o
pressuposto.
Bem jurídico:
Distinção entre:
o Crimes de perigo – ato consuma-se com o simples pôr em perigo. Legislador
entende que uma conduta é sempre perigosa, por isso a prática dessa conduta é
sempre punível e não admite prova em contrário. Perigo abstrato vs. perigo
concreto.
Perigo abstrato: são crimes de perigo presumido. Não é necessário que o bem
jurídico tenha sido, na situação concreta, colocado em perigo. Não admite prova em
contrário, porque se pune o desvalor da ação. Trata-se de um alargamento da punição,
uma vez que o direito penal tutela os bens jurídicos e aqui pode até nem se colocar em
perigo bens jurídicos, por isso, muita doutrina tentou limitar este perigo abstrato. Ex.:
ultrapassar numa rotunda.
Crimes abstrato-concretos: introduz uma categoria intermédia. Assume-se crime
de perigo abstrato, mas nestes casos seria de admitir prova em contrário; desde que o
arguido provasse que não tinha havido perigo, então não havia crime. Envolvia uma
inversão do ónus da prova (a pessoa é que tinha que provar que não tinha havido dano, o
que não é aceite no DP, em que deve ser o tribunal a provar a existência de dano e perante
a falta de prova atua o princípio in dubio pro reu. Depois de negar esta categoria surgiu
outra).
Crimes de aptidão: vigora; são crimes de perigo abstrato, em que é necessário
provar que no momento em que o agente atuou não estava previsto ocorrer nenhum
perigo.
Perigo concreto: tem que haver efetivo perigo; exige-se a prova de que naquele caso
concreto houve efetivo perigo.
A distinção crime formal e material tem a ver com conduta. A distinção entre crime de
perigo e crime de dano cruzam-se. Pode haver crime formal de perigo e crime formal de
dano e crime material de perigo e crime material de dano.
Ao modelar o crime, o legislador joga com os três elementos principais (ação, ilícito,
tipicidade).
Tarde
Em substituição dos crimes de perigo abstrato-concreto, surgiram os crimes de aptidão.
è Crime de perigo abstrato, só que tem de se provar em concreto que naquela
situação não houve perigo para o bem jurídico.
Nota: Não confundir crime formal e crime material com crimes de perigo e crimes de
dano.
Quanto aos crimes materiais surgem algumas questões – problema da imputação objetiva.
Exemplo 1: Sr. A bate no Sr. B e este vai ao hospital. No hospital, Sr. B recebe a
medicação errada, devido a negligência do médico e morre. A morte não seria
imputada ao médico, porque se o Sr. A não tivesse batido no Sr. B este não tinha
ido ao hospital e recebido a medicação errada – mas se assim fosse, a morte podia
ser imputada aos pais do Sr. A porque se ele não tivesse nascido não tinha batido
no Sr. B e este não tinha morrido. Mas se assim fosse podia-se imputar a morte a
“Adão e Eva”. Por isso surge a limitação da culpa.
Exemplo 2: Um condutor faltoso choca com outro na estrada. A culpa é
aparentemente do condutor faltoso, porém isto não teria acontecido se o outro não
estivesse lá. Em ultima análise, também não teria acontecido se não existissem
carros e por aí em diante.
Esta doutrina é, por si só, insuficiente para dar uma resposta ao problema da causalidade.
Exemplo 1: A fere B, mas B era hemofílico e morre. Se A não soubesse que B era
hemofílico, atendendo às regras da experiência, ao conhecimento geral e ao
conhecimento concreto do agente, a morte não seria imputada a A.
Mas se A soubesse que B era hemofílico, a situação seria diferente.
Ver situação do tiro: deve-se atender às regras de previsibilidade ou às regras de
mera não impossibilidade? A doutrina diverge, mas o Professor defende a última
opção. Perante a não impossibilidade, a ação é proibida e punível.
Exemplo 2: A quer matar B. Há 99,99% de hipóteses de falhar. Porém, ele acerta.
Imputa-se? Deve ter-se em consideração o critério da não impossibilidade, ou
seja, ainda que não fosse provável, este resultado não era impossível.
Teoria do professor:
No âmbito dos delitos dolosos:
Características:
• O crime é conhecimento e a realização é da vontade do agente – o quando, como
e o quê dependem da vontade do agente.
• Domínio do facto: critério material fundamental para a imputação objetiva do
resultado exprime o desvalor da ação:
o Nexo de previsibilidade
o Nexo de dominabilidade
No entanto, no domínio do DP, muitas vezes o desvalor da ação não é
fundamental. Na perspetiva do professor, o desvalor de resultado vem em 2º
lugar.
• Segundo o professor, os corretores de conexão de risco não são critérios de
imputação objetiva – limitam o âmbito do tipo.
Os critérios são causas de exclusão da ilicitude/tipicidade.