Síntese Sobre A Convenção de Viena
Síntese Sobre A Convenção de Viena
Síntese Sobre A Convenção de Viena
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………… 3
2. DESENVOLVIMENTO ………………………………………………..………………. 4
2.1. Princípios Norteadores da Convenção………………………………………………..4
2.2. Regulação Internacional do Contrato Internacional de Compra e Venda de
Mercadorias…………………………………………………………………………………4
2.3. Campo de Aplicação da Convenção de Viena………………………….……………..5
2.4. Formação do Contrato Internacional de Compra e Venda de Mercadorias……….6
2.5. Obrigações do Vendedor…………………………………………….…………………8
2.6. Remédios Disponíveis ao Comprador em Caso de Violação do Contrato por Parte do
Vendedor…………………………………………………………………………………….9
2.7. Obrigações do comprador……………………………………………………………..9
2.8. Transferência do Risco……………………………………………………..…………11
2.9. Disposições Aplicáveis ao Comprador e Vendedor………………………………….11
2.10. Vantagens e Desvantagens da Convenção de Viena………………………………..12
3. CONCLUSÃO………………………………………………………..………………….17
4. BIBILIOGRAFIA…………….…………………………………………………………18
1.INTRODUÇÃO
O ano de 1928 é tido como o impulsionador da construção de um Direito Unitário com base nos
contratos de compra e venda internacionais, uma vez que Ernest Rabel, presidente à época da
UNIDROIT, incentivou a unificação do direito de contratos transnacionais.
Mais tarde em 1964, houve a aprovação de uma Lei Uniforme referente à Compra e Venda
Internacional, como também a Formação dos Contratos de Compra e Venda Internacionais de
Mercadorias. Entretanto, não foram amplamente aceitos, possuindo apenas nove ratificações.
Foi somente em 1966, com a fundação da Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial
Internacional que figurou-se dificuldades quanto a circulação de mercadorias, transparecendo no
plano de regulação do comércio internacional, divergências entre os Direitos Nacionais.
Com isso, em 11 de abril de 1980 na capital da Áustria, foi aprovada a Convenção de Viena
acerca da Compra e Venda Internacional de Mercadorias, a fim de tentar solucionar a citada
problemática e conciliar a necessidade de desenvolvimento do Comércio Internacional segundo a
igualdade e os benefícios mútuos dos Estados, assim como o dissenso entre o social, o econômico
e o jurídico. Sua aprovação se deu por unanimidade, já que os 41 países participantes votaram à
seu favor.
O Brasil, por sua vez, assinou o ato final de aprovação da Convenção, no entanto, não aderiu
verdadeiramente à Convenção. Apenas recentemente, nosso País, através do Congresso Nacional
aprovou o estatuto normativo do Congresso de Viena, que entrou em vigor em abril de 2014.
Internacionalmente, a Convenção de Viena entrou tão-somente em vigor em janeiro de 1980, uma
vez atingindo o mínimo de ratificações necessárias, de acordo com seu art. 84. Considera-se que
os termos da citada Convenção aplicam-se a Estados que não participam dela, posto que em sua
essência, acolhem o Direito Internacional habitual os quais vigoram sobre o assunto.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Princípios Norteadores da Convenção
O Professor Doutor Peter Huber, em seu artigo “Two contentious German Contributions to the
CISG”, disserta sobre contribuições da jurisprudência e da doutrina alemãs, destacando a ampla
adesão dos Estados à Convenção de Viena. Ele justificou, ademais, a escolha pela Alemanha para
a realização de seu artigo, tendo mencionado o elevado grau de escritas sobre o tema em virtude
da aplicação da CISG. Segundo ele, a CISG tem por finalidade a preservação dos contratos, razão
pela qual fomenta o não relaxamento dos mesmos.
De acordo com Amanda Athayde Linhares Martins e Luiz Felipe Calábria Lopes, em sua obra “A
interpretação de contratos internacionais segundo a CISG: Uma análise comparativa com o
Código Civil Brasileiro, à luz dos princípios do UNIDROIT”, os princípios fundamentais dos
contratos internacionais seriam da liberdade contratual(vinculação à liberdade das partes para
estabelecer o contrato), do consensualismo(ligado, principalmente, à liberdade de forma), da força
obrigatória do contrato(pacta sund servanda, o contrato como lei entre as partes), da primazia das
regras imperativas(restringem a liberdade de contratar), da natureza dispositiva dos
princípios(encontra-se no Artigo 60 da CISG, associa-se à adaptação de regras presentes nas
Convenções pela percepção dos interesses das partes), da internacionalidade e uniformidade -
Artigo 70 da CISG, verificação dos dispositivos de acordo com o comércio internacional - e da
boa-fé - representa a lealdade negocial e a vedação do venire contra factum proprium.
2.2. Regulação Internacional do Contrato Internacional de Compra e Venda de Mercadorias
O contrato internacional de compra e venda de mercadorias surgiu para uniformizar, em meio a
desregularização do comércio global, os deveres e obrigações dos compradores e vendedores.
Historicamente, o contrato internacional de compra e venda (aprovada por uma conferência
diplomática em 11 de abril de 1980) foi baseado nos trabalhos iniciados em 1930 pelo Instituto
Internacional para a Unificação do Direito Privado. Devido à Segunda Guerra Mundial, a
apresentação dos trabalhos ocorreu, somente, em 1964 (conferência de Haia) no qual aprovou-se a
convenção sobre os contratos de compra e venda internacional de mercadorias e outra sobre a
formação desses contratos. Após a aprovação, diversas Estados teceram críticas ao conteúdo da
convenção, sustentando que contemplava somente as tradições jurídicas e a realidade econômica
da Europa Ocidental. Assim sendo, poucos Estados estavam dispostos a aderir o tratado. Perante a
situação, a UNCITRAL, recém criada, ficou incubida de receber as respostas dos Estados
relacionada a não adesão a Convenção. A partir dessas respostas, a UNCITRAL estudou e tentou
modificar as duas Convenções para que ocorresse uma maior aceitação por parte de Estados que
possuíam um sistema jurídico, uma realidade social e econômica diferente da Europa Ocidental. O
desfecho deste estudo foi a aprovação, de apenas uma convenção, em 1980, combinando as
matérias tratadas nas duas convenções anteriores; respeitando as divergências jurídicas, sociais e
econômicas dos países. A nova convenção chamou-se de Convenção das Nações Unidas sobre
Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias.
Essa única convenção teve grande receptividade, diversos Estados, de diferentes sistemas
jurídicos, a aderiu até 1990, como: Alemanha, Zâmbia, Bielorrússia, Austrália, Argentina, Áustria,
Dinamarca, Egito, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Itália, Lesoto, Noruega, Suécia, China e
Estados Unidos da América. Além disso, ao passar do tempo, outros Estados aderiram a
Convenção, como: Albânia, Armênia, Bélgica, Bulgária, Canadá, Chipre, Cingapura, Colômbia,
Brasil em 2013 e outros.
2.3. Campo de Aplicação da Convenção de Viena
Um importante ponto a se destacar é quanto ao campo de aplicação da Convenção de Viena,
definindo, assim, que tipos de contratos e de que maneira ela os aborda, inferindo assim, o que ela
absorve ou não. Seus artigos definidores são juridicamente os mais importantes e restringem-se do
1º ao 6º. De acordo com seu art. 1º, a Convenção de Viena abrange os contratos de compra e
venda mercantil internacional, ou seja, tal transação ocorre entre mercados de diferentes Estados,
como também os casos onde as normas de direito internacional privado acarretam na aplicação da
lei de um Estado contratante. Este último elemento, mesmo sendo um dispositivo bastante
favorável por ser abrangente, é questão de bastante controvérsia, visto que muitos países se
utilizaram do seu art. 95º para suprimirem sua aplicação. Assim, determinados Estados aderiam
somente à primeira parte do art. 1º e não à segunda, como uma tentativa de preservação de suas
particulares leis comerciais. Não se pode negar, no entanto, o caráter recíproco do art. 1º,
obrigando ambas os Estados (se a compra e venda for realmente internacional) a utilizarem a
Convenção. Já nos seus arts. 2º e 3º a Convenção procura limitar o emprego dos citados contratos,
suprimindo dessa forma, os relativos à valores mobiliários, os de consumo e também os de
prestação de serviços. Esses últimos são temas de intensos debates, dado que não se concebem
como contratos de compra e venda os contratos de produtos a serem fabricados, excepcionando os
casos em que a parte que contratou conceda um determinado montante de materiais a serem
utilizados. Vale frisar que, se a maior parte das obrigações de quem proveu tais materiais se
caracterizar pela concessão de mão-de-obra ou de prestação de qualquer outro tipo de serviço, a
Convenção de Viena não será empregada.
A Convenção também traz em seu âmbito a exclusão de outros tipos de contratos de compra e
venda. Isso acontece em razão de seus objetivos, como produtos comprados para utilização
individual, coletiva; de sua espécie ou mesmo da essência das próprias mercadorias, como
dinheiro, títulos de créditos, dentre outros. Tal fato se materializa uma vez que os Estados
possuem em sua legislação a normatização das referidas circunstâncias, reverenciando sua
especial natureza. Tomando por base seu art. 4º infere-se a limitação da Convenção acerca de
diversificadas matérias, tais como a eficácia do estimado contrato, assim como a validade de
algum uso ou costume e as consequências do contrato a respeito da posse de mercadorias que
foram vendidas. Ainda sobre exclusão, encontramos o art. 5º que esclarece a não-aplicabilidade da
convenção quanto à obrigação do vendedor por morte ou lesão corporal providas pelas
mercadorias. Fica evidente, dessa forma, que a Convenção somente se caracteriza por intitular a
constituição do contrato, bem como os direitos e obrigações de vendedores e compradores.
Finalmente, o art. 6º institui permissão às partes para que modifiquem os efeitos, suprimam as
disposições ou até mesmo não utilizem a citada Convenção, desde que possuam leis internas
iguais ou similares, tendo sempre em vista o art. 12º. É possível concluir que a CISG, como é
chamada, tem como característica privilegiadora a vontade das partes, uma vez que como já
exposto, elas possuem bastante liberdade para aplicar ou não o dispositivo, de acordo com seu art.
6º. Vale frisar que a opção por sua não aplicação traz reflexos negativos, dificultando as
transações comerciais, limitando assim, um dispositivo que objetiva um grande desenvolvimento
procedente da globalização.
2.4. Formação do Contrato Internacional de Compra e Venda de Mercadorias
No tocante à parte II da Convenção de Genebra, verificam-se uma abordagem ampla acerca dos
aspectos concernentes à formação do contrato internacional de compra e venda de mercadorias.
Nesse respaldo, constata-se um contraste entre a emissão da proposta pelo proponente e a
aceitação pelo oblato. No plano da etapa sob análise, reputa-se perfeito e acabado o contrato na
circunstância em que a aceitação da oferta torna-se eficaz. Contudo, essa possibilidade se
confirma em caso de colocação da oferta e posterior aceitação. Consoante reza a Convenção em
exame, a oferta do contrato, para que possa constituir uma proposta, deve ser suficientemente
precisa e proporcionar o entendimento de que o proponente se dispõe a uma obrigação, a qual
decorreria de uma possível aceitação. No intuito de definir a expressão “suficientemente precisa”,
os dispositivos esclarecem que ela se subordina à designação de mercadorias e à fixação de
quantidade e preço, mesmo que sejam apontados, apenas, meios para defini-lo.
No que tange à revogação da oferta, elucida-se que posicionamentos unívocos da doutrina foram
relativizados pela Convenção em comento, na medida em que, pela regra, a oferta pode ser
revogada. Ressalte-se, no entanto, que o oblato deve receber a retratação antes de ter expedido a
aceitação e, caso seja percebido o intuito de irrevogabilidade, não pode a proposta ser revogada.
No mesmo diapasão, depreende-se que a confiança compreende a formação dos contratos em
exame, de tal sorte que a proposta notada como irrevogável se insere nessas circunstâncias.
Averigua-se, ainda, que uma declaração ou condutas do oblato indicadoras de sua aceitação
mediante a oferta estabelecida pelo proponente representam sua aceitação. Outrossim,
determinadas atitudes são capazes de ensejar a aceitação, a qual se torna eficaz na ocasião em que
se realizam tais atos. A título de ilustração, mencionam-se pagamento do preço e expedição de
mercadorias.
A partir de uma perscrutação da Convenção em tela, os temas da determinação de contraproposta
e da modificação na proposta são colocados de modo que, se não houver uma alteração
substancial nos termos da oferta pela resposta, interpreta-se como uma adição realizada pelo
oblato em face da proposta, havendo aceitação. Assim sendo, as alterações empreendidas não
comprometeram o teor da oferta original. Nesse sentido, elas são ensejam contraproposta, salvo se
o proponente se opuser a tais medidas durante um período adequado. No caso de contraproposta,
deve haver nova aceitação com a finalidade de formação do contrato. São exemplos de entes
modificadores que podem alterar a oferta materialmente: lugar e momento da entrega, preço,
pagamento e extensão da responsabilidade das partes.
2.5. Obrigações do Vendedor
Diante do exposto na Convenção de Viena sobre a compra e venda de mercadorias, depreendem-
se como obrigações básicas do vendedor: a entrega das mercadorias; repassar quaisquer
documentos relacionados a elas e transferir sua propriedade, de acordo com o contrato firmado ou
pelo estabelecido na Convenção em análise. Como nas relações de direito privado prevalece a
autonomia das partes, salvo algumas restrições de ordem pública, tal convenção visa suplementar
a eventual omissão contratual sobre quando, onde e como o vendedor deve executar suas
obrigações.
Fica evidente ao observar o texto da referida Convenção o intuito de resguardar ao comprador a
qualidade dos bens que este esteja adquirindo, pois na mesma se encontram diversas normas que
estipulam obrigações do vendedor quanto à qualidade dos bens. Com isso, em regra, o vendedor
deve fornecer as mercadorias que são de quantidade, qualidade e descrição determinadas pelo
contrato e que as mesmas sejam enviadas e embaladas conforme o estabelecido pelo mesmo,
restando claro o objetivo dos redatores da Convenção em garantir o efetivo cumprimento
contratual. Há de se fazer menção a um conjunto de normas com destacada importância em
contratos internacionais de compra e venda, as quais versam sobre contratos em que o estipulado é
a entrega de mercadorias livres de qualquer direito ou reivindicação de terceiros, e inclui direitos
concernentes à propriedade industrial ou à modalidade de propriedade intelectual.
Nesse diapasão, a Convenção estabelece diversas obrigações ao vendedor mas também de forma
correspondente ao comprador, sendo que no tocante à qualidade das mercadorias, a Convenção
dispõe sobre a obrigação do comprador em inspecionar os bens, sendo seu ônus a comunicação ao
vendedor sobre quaisquer desconformidades ou vícios em relação à mercadoria entregue e a
estipulada contratualmente, em um prazo razoável após tê-la descoberto ou de dever tê-la
descoberto, e ainda conforme a Convenção, de fazê-lo em até 2 anos a contar da data em que as
mercadorias tenham, de fato, sido entregues, ressalvada a hipótese de um prazo diferente ter sido
estipulado no contrato, consoante ao artigo 39, II da CISG.
2.6. Remédios Disponíveis ao Comprador em Caso de Violação do Contrato por Parte do
Vendedor
O foco, a partir deste momento, será concernente aos recursos disponíveis àquele que compra em
caso de infração do contrato por parte daquele que vende. O vigor e razão da Convenção se dão de
maneira clara: os recursos disponíveis são determinados com relação às obrigações da outra parte,
ou seja, o padrão geral de direitos e ações cabíveis é o mesmo em ambos os casos - seja a violação
por parte do vendedor ou comprador.
Verificadas todas as condições instituídas, a parte lesada pode exigir da outra parte o cumprimento
de seus deveres, reivindicar perdas e danos ou romper com o contrato. Vale ressaltar, que em caso
de as mercadorias entregues não estiverem segundo o disposto no contrato, o comprador também
tem o direito de reduzir o valor pago.
Visto isso, nossa abordagem enseja, agora, uma das mais importantes limitações do direito
reinvindicatório de uma parte lesada: o conceito de inadimplemento substancial do contrato. A
inadimplência é considerada substancial quando provoca à outra parte dano tal que a abstenha do
que a mesma tem direito de gozar de acordo com o contrato, exceto se o descumprimento não
tenha sido previsto pela parte inadimplente do contrato, nem tenha sido previsível pelo bônus
paterfamilias nas mesmas circunstâncias. De modo que, em caso de inadimplemento substancial o
comprador pode exigir a entrega de mercadorias substitutas.
Há ainda outra ocasião em que se justifica a resolução do contrato pela parte lesada, sendo esta o
acaso de não ocorrer a entrega das mercadorias pelo vendedor ou não ocorrer o pagamento do
preço ora falha na tomada de posse pelo comprador; a parte em descumprimento não sana as
irregularidades em um tempo decorrido aceitável determinado pela parte prejudicada.
Restam, por último, ações que podem ser contidas por particularidades. A propósito, faz notar-se
as mercadorias não conformes ao contrato, as quais o comprador pode reclamar que o vendedor
corrija a desconformidade por meio de concerto das referidas, a menos que tal não seja coerente
considerando a conjuntura; em suma, uma parte não pode ser indenizada por perdas e danos os
quais ela poderia ter reinvidicado conforme medidas apropriadas. Cabe salientar, finalmente, que
uma parte esta sujeita a ser desobrigada de ressarcir perdas e danos providas de força maior.
2.7. Obrigações do comprador
Tendo como base o capítulo 3 da Convenção de Viena – que se inicia no artigo 53 e se estende até
o artigo 65 – podemos destacar que as principais obrigações do comprador são: pagar o preço das
mercadorias e recebê-las nas condições estabelecidas no contrato de compra e venda e na própria
Convenção. Nesse contexto, vale, ainda, ressaltar, que a compra e venda de mercadorias trata-se
da operação mais frequente do comércio internacional, tornando, assim, o seu contrato o principal
instrumento jurídico entre exportador e importador. Ademais, a obrigação de pagar o preço das
mercadorias ainda se desdobra em três elementos, sendo eles: fixação do preço, do lugar do
pagamento e do momento do mesmo. Desse modo, o preço deve ser fixado pelas partes em
comum acordo no contrato. Entretanto, tendo em vista o artigo 55,
“se o contrato tiver sido validamente concluído sem que, expressa ou implicitamente, tenha sido
nele fixado o preço, ou o modo de determiná-lo, entender-se-á, salvo disposição em contrário, que
as partes tenham implicitamente se referido ao preço geralmente cobrado por tais mercadorias no
momento da conclusão do contrato, vendidas em circunstâncias semelhantes no mesmo ramo de
comércio”.
O lugar do pagamento; se não pré-determinado, conforme explica o artigo 57, deverá, então, ser
pago no estabelecimento do vendedor ou no lugar em que se efetuar a entrega – se o pagamento
tiver de ser feito contra entrega das mercadorias ou de documentos. Já o momento do pagamento
relaciona-se com o artigo 58, que determina que seja pago quando o vendedor colocar à sua
disposição as mercadorias ou documentos que as representem – partindo do pressuposto que o
comprador não esteja obrigado a pagar o preço em momento já determinado. O vendedor também
pode – se o contrato implicar o transporte das mercadorias – expedi-las sob a condição de que elas
(ou os documentos que as representem) apenas sejam entregues com o pagamento do preço pelo
comprador. De maneira semelhante, não se obriga o comprador de pagar o preço antes de ter tido
possibilidade de examinar as mercadorias em questão, salvo se as modalidades de pagamento ou
de entrega forem incompatíveis com essa possibilidade.
Faz-se mister, por fim, comentar sobre o artigo 60 – que se trata das obrigações do comprador de
proceder ao recebimento. Estas consistem em: praticar todos os atos razoáveis para que o
vendedor possa efetuar a entrega; e tomar posse das mercadorias. Assim, se o comprador não
aceita receber a mercadoria, está violando o contrato, de modo que poderá ser responsabilizado
por isso.
2.8. Transferência do Risco
O momento exato da transferência do risco do vendedor para o comprador, no que diz respeito à
perda ou à deterioração das mercadorias, é possível de ser estabelecido a partir de uma cláusula
expressa ou de um termo de comércio. Todavia, para os casos frequentes em que o contrato não
contém tal disposição, a Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda
Internacional de Mercadorias possui legislação completa acerca do tema, elencados entre os
artigos 66 e 70 da CISG. A partir da análise dos artigos acima citados, há dois principais casos
especiais tratados, especificamente no artigo 67 e 68, que são, respectivamente, quando a
transferência do risco no contrato de compra e venda envolve transporte das mercadorias, ou
quando as mercadorias são vendidas enquanto estão em trânsito. Em todos os demais casos, pelo
começo do artigo 69 da CISG, o risco é transferido ao comprador quando ele toma posse das
mercadorias ou a partir do momento em que as mercadorias são colocadas à sua disposição e ele
se mantiver em mora por não tomar posse, o que ocorrer primeiro.
Além disso, no caso frequente em que o contrato se referir a mercadorias que não estão então
identificadas ou individualizadas, estas precisarão claramente ser, para se poder considerar como
colocadas à disposição do comprador e, assim, o risco relativo à perda ou à deterioração das
mercadorias ser transferido para o comprador, como previsto no último ponto do artigo 69 da
CISG.
2.9. Disposições Aplicáveis ao Comprador e Vendedor
A necessidade de princípios e leis substantivas e uniformes para o mercado internacional, com
isso a importância de ao mesmo tempo se afastar e harmonizar as várias interpretações que os
direitos nacionais podem acabar por fazer da Convenção da ONU sobre os Contratos de Compra e
Venda Internacional de Mercadorias, tendo por regra a exclusão das interpretações fundamentadas
em direitos pátrios. O artigo 7º da convenção das nações unidas sobre compra e venda traz uma
norma que serve de guia para a interpretação dos contratos do mercado internacional, em colação:
Artigo7º: 1 - Na interpretação da presente convenção, ter-se-á em conta o seu caráter internacional
bem como a necessidade de promover a uniformidade da sua aplicação e de assegurar o respeito
da boa fé no comércio internacional.
2 - As questões respeitantes às matérias reguladas pela presente Convenção e que não são
expressamente resolvidas por ela serão decididas segundo os princípios gerais que a inspiram ou,
na falta destes princípios, de acordo com a lei aplicável em virtude das regras de direito
internacional privado.
4. BIBILIOGRAFIA
AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues. Direito do Comércio Internacional: Aspectos e
Fundamentos. São Paulo. Ed. Aduaneiras. 2004.
Convenção das Nações Unidas sobre contratos de compra e venda internacional de mercadorias.
Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/3/art20140328-07.pdf > Acesso em
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HUBER, Peter. Two Contentious German Contributions to the CISG. 2011, pp. 150-161.
University of Belgrade, Sérvia, 2011. Disponível em: <
http://www.cisg.law.pace.edu/cisg/biblio/huber3.html > Acesso em 13 de Junho de 2014.
NETO, Alberto de Campos Cordeiro. et al. O Brasil e a Ratificação da Convenção de Viena sobre
Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG): Vantagens e Desvantagens. Belo
Horizonte, 2010. Disponível em: <
http://www.cisgbrasil.net/downloads/O_BRASIL_E_A_RATIFICACAO_DA_CISG.pdf> Acesso
em 11 de junho de 2014.
Nota explicativa da secretaria da UNCITRAL sobre a convenção das nações unidas sobre
contratos de compra e venda internacional de mercadorias. Disponível em: < http://www.cisg-
brasil.net/doc/explnotecisgtradamadeusorleans-final.pdf > Acesso em 12 de junho de 2014.