A Culpa in Contrahendo Nos Direitos Ingl PDF
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1. Introdução
1. 2 Matriz Problemática
2. Análise Comparativa
2. 1 Origem do instituto da culpa in contrahendo
2.2 Surgimento no Direito Português
2.3 Surgimento no Direito Alemão
2.4 A culpa in contrahendo e o Direito Inglês
3. Síntese comparativa
4. Grelha comparativa
5. Bibliografia e jurisprudência
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1. Introdução
Para tal começarei por expor em breves linhas o problema que a culpa in contrahendo
pretende resolver.
Com este trabalho não se pretende aprofundar a querela doutrinária relativa ao tipo
de responsabilidade civil em que deve ser enquadrada a culpa na formação dos
contratos ou outras querelas que no que a este preceito diz respeito têm surgido.
Pretende-se sim analisar o acolhimento que os ordenamentos jurídicos dos países em
causa oferecem a este instituto.
1. Matriz Problemática
Para tal, penso ser mais útil partir para a análise com um caso prático. Consideremos
o seguinte exemplo:
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A é proprietário e gestor de uma empresa de manufatura de condutas de
ar-condicionado. B é uma empresa que pretende contratar com A para a
instalação desse tipo de condutas na sua sede.
Para tal, A, a suas expensas, desloca-se várias vezes à sede da empresa
B, efetua uma memória descritiva e um projeto de pormenor, tendo
inclusive contratado pessoas para o auxiliarem na feitura do projeto.
No decorrer das negociações, B anuncia subitamente a A que não pretende
contratar com ele, pois já contratou com um terceiro para o mesmo efeito.
Pergunta-se:
Pode A, o empresário de Famalicão, exigir de B, empresa do Porto, o
reembolso das despesas que fez tendo em vista a conclusão do referido
contrato?
E pode, além disso, reclamar uma indemnização por ter perdido a
oportunidade de celebrar o mesmo contrato com um terceiro?
E se, em vez desta questão se ter colocado em Portugal, fosse colocada
na Alemanha e com alemães? E no Reino Unido e com ingleses?
São situações como estas que suscitam o problema da culpa na formação dos
contratos.
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2. Análise Comparativa
2.1 Origem do instituto da culpa in contrahendo
À data da publicação desta obra, ainda estava em vigor na Alemanha o Direito das
Pandectas, Direito romano, como fonte do Direito Civil. Atendendo ao ordenamento
jurídico que o rodeava, JHERING propõe-se a preencher uma lacuna que tinha
detetado no Direito romano. Este deteta e isola, na compra e venda romana, uma
situação em que um contrato concluído que fosse nulo devido a uma falha do
vendedor, falha essa que o comprador desconheceria, não originava uma ação
contratual de indemnização2. Analisando os princípios do direito romano, entendeu
que nem a actio doli, nem a actio legis Aquiliae poderiam sustentar a pretensão do
lesado. A primeira implicava uma atuação dolosa inexistente nos exemplos a que
referiu e a segunda, uma lesão à pessoa ou ao património. Por conseguinte, a parte
culpada saia livre, a inocente era vítima da culpa alheia. Interroga JHERING: “Quem
não sente que é aqui necessária uma ação de indemnização?”3.
Perante tal situação, o responsável, por via das regras gerais sobre danos e culpa,
deveria indemnizar pelo interesse contratual negativo, colocando o prejudicado na
situação em que ele se encontraria se nunca tivesse havido negociações e contrato
nulo5.
1
Afirma ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO que a imputação a JHERING de criador de
um invento totalmente novo é unânime, apresentando a posição de vasta doutrina
alemã, com destaque para, entre outros, LARENZ. In: Cordeiro, António Menezes
(1999) p.501
2
JHERING (1861) pp.10-15, in: Cordeiro, António Menezes (1999) p.500
3
Diamvutu , Lino (2010/2011) pp.17-18
4
Idem p.17, in: idem p.503
5
Cordeiro, António Menezes (março de 1999) p. 331
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na nulidade de um contrato concluído. Contudo, e no dizer de MENEZES CORDEIRO,
esta obra deve ser entendida atendendo ao seu espírito. JHERING procurou chamar
a atenção para a necessidade de complementação da área da formação dos
contratos, oferecendo um pré-entendimento que ainda hoje se mantém 6.
O caso da Itália merece menção, pois também positivou a culpa in contrahendo. Este
instituto teve alguma divulgação doutrinária neste país devido a influência alemã9. O
Código Civil de 1942 acolheu expressamente o preceito, apesar de falta de tradições
práticas, no seu artigo 1337.º. Este preceito não foi tanto o fruto de uma elaboração
6
Cordeiro, António Menezes (1999) p.506
7
Cordeiro, António Menezes (março de 1999) p. 332
8
CARBONNIER, J., 4 DROIT CIVIL - THEORIE DES OBLIGATIONS (1963) p.104 in:
Monsalve-Caballero (2013)
9
Nesse sentido conferir: Cordeiro, António Menezes (março de 1999) p. 333
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prévia do instituto, que faltou10, mas sim do produto da receção do pensamento
jurídico alemão da terceira sistemática11. A jurisprudência tem feito uma aplicação
tímida do novo texto legal12.
Afirma DÁRIO MOURA VICENTE13, que se reflete nesta orientação comum aos Direitos
alemão, italiano e português a permeabilidade destes ordenamentos jurídicos a
exigências de ordem ética e social, traduzida na consagração legal de certos limites
à autonomia privada, a qual os marcou sobretudo a partir do primeiro quartel do
século pregresso: o contrato postulado pelos sistemas que consagram o princípio da
boa fé nos respetivos preliminares e na sua formação não é apenas o contrato querido
pelos contraentes, mas antes o contrato socialmente aceitável.
10
Loi, Maria L./ Tessitore, Branca, Buona fede e responsabilità precontrattualle
(1975), p.7 in: Cordeiro, António Menezes (março de 1999) p. 333
11
Cordeiro, António Menezes (março de 1999) p. 333
12
Cordeiro, António Menezes (1999)
13
Vicente, Dário Moura (2013)
14
Cordeiro, António Menezes (1999) p.570
15
Moreira, Guilherme, Instituições do Direito Civil Português II (1911) pp.664 e ss.
16
Tavares, José, Princípios I, pp. 492 e ss., in: Leitão, Luís Menezes, Direito das
Obrigações Vol. I p. 358
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«indemnização por perdas e danos» por vício da coisa ou pela «culpa ou negligência»
na verificação dos requisitos da validade do contrato17.
17
Idem pp. 664-675 in: Cordeiro, António Menezes (1999) p.571
18
Cfr. Santos, José Belesa dos, A simulação, p. 10 e ss.
19
Cfr. Gonçalves, Cunha, Tratado de Direito Civil, p. 293-294
20
Cfr. Gouveia, Jaime de, Da responsabilidade contratual (1932), p.293-294
21
Vicente, Dário Moura (2013) p.56
22
Idem
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por atos prejudiciais dos seus auxiliares sempre que não haja culpa in eligendo ou in
vigilando da sua parte;
- Por outro, o ethos social que impregna o Direito alemão desde Bismarck e que se
revelaria particularmente favorável à ampliação do âmbito das situações geradoras
de responsabilidade obrigacional na jurisprudência tanto do Tribunal do Império,
como do Tribunal Federal alemão.
Conclui DÁRIO MOURA VICENTE que é natural que um sistema como o inglês, que
entende o Direito como nada mais do que a expressão normativa das necessidades
do tráfico jurídico, tal como os tribunais as interpretam, olhe com desconfiança para
23
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) p.249
24
Leitão, Luís Menezes (outubro de 2007) p. 355
25
Cordeiro, António Menezes (1999) p. 54
26
Leitão, Luís Menezes (2001) p. 69
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a consagração de um princípio de boa fé nos preliminares e na formação dos
contratos27.
Anota ainda que a doutrina da culpa in contrahendo não logrou penetrar nos sistemas
de common law. Tradicionalmente, não impendiam aí sobre as partes, durante o
período das negociações preparatórias e da formação dos contratos, os deveres
recíprocos de esclarecimentos e informação que a doutrina e a jurisprudência dos
países continentais extraem da boa fé28.
Assim, o rompimento das negociações, ainda que arbitrário, era tido por
perfeitamente lícito. Isto significa que a qualquer das partes assistia o direito de
romper as negociações30.
Vigorava uma visão aleatória das negociações31, que constituía um corolário dos
princípios da liberdade contratual e da liberdade de negociar, e era vista como uma
exigência da eficiência do sistema económico: qualquer outra solução subverteria
aqueles princípios e poderia desencorajar as partes de entabular negociações em
vista da celebração de um contrato, traduzindo-se num prejuízo para a economia em
geral32.
27
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) p. 352
28
Idem, p. 274
29
Cheshire-Fifoot-Furmston, Law of Contract p.136 in: idem
30
Idem p. 275
31
Allen, England in Precontractual Liability. Reports to the XIIIth International
Academy of Comparative Law, Montreal, Canadá, 18-24 agosto de 1990 pp. 125 ss.
in Idem
32
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) p. 275
33
Idem p.276
34
Idem
35
Existem três espécies de misrepresentation: fraudulent, negligent e a innocent. A
primeira consiste na declaração conscientemente falsa, a segunda numa declaração
feita descuidadamente ou sem que houvesse fundamento razoável para o
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Afirma DÁRIO MOURA VICENTE36 que a misrepresentation é uma manifestação do
acolhimento que o Direito inglês deu a princípios de responsabilidade pré-contratual.
«Quem negoceia com outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos
preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena
de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte.»
Pode, assim, afirmar-se que o Código consagrou a figura da culpa na formação dos
contratos. Há, por força deste preceito, uma relação obrigacional nascida nos
preliminares do contrato e integrada por deveres de conduta fundados na boa fé,
cuja violação faz incorrer o infrator na obrigação de indemnizar os danos desse modo
causados a outrem37.
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Em contrapartida, não parece suscetível de ser reconduzido ao artigo 227.º o
incumprimento de obrigações voluntariamente assumidas pelas partes quanto aos
preliminares e à conclusão dos contratos, por exemplo através de acordos de
negociação ou de princípio, pelos quais as partes se vinculam a iniciar ou a prosseguir
negociações com vista à conclusão futura de um contrato, ou ainda de acordos de
confidencialidade, mediante os quais uma ou ambas se obrigam a não divulgar
informações obtidas no decurso das negociações. O incumprimento de tais acordos
– que têm encontrado acolhimento sobretudo na contratação internacional – dá lugar
a uma forma de responsabilidade cujos pressupostos e conteúdo são em ampla
medida determinados pela vontade das partes; razão por que a mesma não se
confunde com a responsabilidade por violação de deveres legais de que se ocupa o
artigo 227.º39.
Outro aspeto saliente deste preceito prende-se com a sanção nele consignada para
os comportamentos pré-contratuais ofensivos da boa fé, a qual consiste unicamente
na obrigação de indemnizar40.
39
Idem p.267-268
40
Idem p.268
41
Cordeiro, António Menezes (março 1999) pp. 338 - 339
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deveres de informação e a dos deveres de lealdade. Os deveres de proteção obrigam
a que, sob pretexto de negociações preliminares, não se inflijam danos à contraparte.
Os deveres de informação adstringem as partes à prestação de todos os
esclarecimentos necessários à conclusão honesta do contrato. Os deveres de lealdade
vinculam os negociadores a não assumir comportamentos que se desviem de uma
negociação correta e honesta.
Afirma ainda que a culpa in contrahendo funciona quando a violação dos deveres de
proteção, de informação e de lealdade conduzam à frustração da confiança criada na
contraparte pela atividade anterior do violador ou quando essa mesma violação retire
às negociações o seu sentido substancial profundo de busca de um consenso na
formação de um contrato válido, apto a prosseguir o escopo que, em termos de
normalidade, as partes lhe atribuam42.
42
Idem p. 340
43
Idem p. 343
44
Vicente, Dário Moura (11 de setembro de 2010) p.6
45
Neste sentido, conferir: acórdão de 24 de outubro de 1995, BMJ, n.450 (1995)
pp.443 e ss.
46
Vicente, Dário Moura (2007) pp.268-269
47
Admite-se na jurisprudência portuguesa a concorrência de culpa do lesado,
traduzida, por exemplo, na omissão dos cuidados, precauções e cautelas usuais no
tráfico jurídico. Neste caso, pode a indemnização ser excluída.
48
Vicente, Dário Moura (2007) pp.207-271
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- Um dano. De acordo com certo entendimento - acolhido na maioria49 dos arestos
dos tribunais superiores - a obrigação de indemnizar consagrada no artigo 227.º do
Código Civil visa essencialmente o ressarcimento do interesse negativo ou de
confiança. Neste inclui-se tanto o dano emergente (as despesas efetuadas por causa
das negociações) como o lucro cessante (os benefícios que o lesado teria auferido
em virtude de oportunidades negociais falhadas se não se tivessem iniciado as
negociações) resultantes da imperfeição ou ineficácia do contrato50;
- Nexo de causalidade. Esse nexo deve ser aferido nos termos da doutrina da
causalidade adequada51.
Com a reforma de 2002 do Direito das Obrigações do BGB, surge a sec.2 do §311,
que positiva a culpa in contrahendo, com o seguinte conteúdo:
“Ein Schuldverhaltnis mit Pflichten nach. 241 abs. 2 entsteht auch durch [...], 2. die
Andahnung eines Vertrags, bei welcher der eine Teil im Hinblick auf eine etwaige
rechtsgeschaftliche Beziehung dem anderen Teil die Moglichkeit zur Einwirking auf
seine Rechte, Rechtsguter und Interessen gewahrt oder ihm diese anvertraut, oder
3. ahnliche geschaftliche kontakte”52
A sec. 2 vem afirmar que surge uma obrigação que acarta deveres com o começo de
um contrato onde uma parte, com vista a uma potencial relação contratual, oferece
à outra parte a possibilidade de afetar os seus direitos, interesses legais e outros
interesses, ou confia-lhe estes. De acordo com a secção 2 do §311, a culpa in
contrahendo inclui casos em que a relação jurídica que surgem na fase de negociação
49
Em sentido oposto, uma corrente jurisprudencial minoritária admite a
indemnização, nos termos gerais, de todos os danos causados pelo ilícito pré-
contratual, incluindo, por conseguinte, o interesse positivo ou de cumprimento.
50
Vicente, Dário Moura (2007) pp.271-273
51
Idem pp-274
52
Tradução para inglês: An obligation with duties under section 241 (2) also comes
into existence by […] 2. the initiation of a contract where one party, with regard to
a potential contractual relationship, gives the other party the possibility of affecting
his rights, legal interests and other interests, or entrusts these to him, or 3. similar
business contacts. In: https://www.gesetze-im-
internet.de/englisch_bgb/englisch_bgb.html#p1008
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é presente, isto é, na preparação do contrato, com o potencial de negociação e outros
contratos de negociação semelhantes53.
CANARIS55, contudo, mantém que o termo interesses na sec.2 do §311 foi incluído
por sua inicativa e com o objetivo de relacionar a liberdade de decisão com o espetro
da culpa in contrahendo.
A norma é tão ampla que permite que permite uma interpretação mais extensiva,
incluindo, deveres acessórios de conduta, que serão aflorados adiante, por parte da
jurisprudência e doutrina.
Existem, contudo, requisitos para a sua aplicação, conforme indica DÁRIO MOURA
VICENTE57, nomeadamente:
53
Monsalve-Caballero, Vladimir (2013) p.136
54
Idem
55
Canaris, Claus-Wilhelm, DIE REFORM DES RECHTS DER LEISTUNGSSTÖRUNGEN
519 (2001).
56
Monsalve-Caballero, Vladimir (2013) p.136
57
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) p.307
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- A culpa é requisito de imputação ao lesante dos danos produzidos na
formação do contrato, resultantes da violação de veres de conduta integrados na
relação jurídica de negociações58.
Nos casos em que seja exigível, a culpa é apreciada por referência à conduta exigível
ao homem médio59.
houvesse sido celebrado, foi a solução preconizada por JHERING. Este autor
sustentou que a pretensão ressarcitória do credor não podia dirigir-se à satisfação
do seu interesse positivo ou de cumprimento, antes devia cingir-se ao interesse
negativo61.
Esta doutrina obteve consagração nos §§122, 179 (2), 307 e 309 do BGB pelo que
respeita às hipóteses de invalidade da declaração negocial ou do contrato. Aí se
prescreve a obrigação de o declarante a quem pertencer o direito de anulação da
declaração negocial aquando do contrato tinha ou devia ter conhecimento da
impossibilidade da prestação ou de que o contrato violava proibição legal,
indemnizarem o dano sofrido pela contraparte em virtude de esta ter confiado na
validade da declaração, do poder de representação ou do contrato. A indemnização
tem como limite o valor do interesse que o lesado teria na validade do contrato.
O disposto no §249 do BGB estatui que se visa reconstituir a situação que existiria
se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação. Assim, ocorrendo
violação dos deveres de proteção e cuidado nos preliminares dos contratos há lugar
à indemnização do «interesse de conservação» (Erhaltungsinteresse) ou «de
integridade» (Integritätsinteresse), ou seja, ao ressarcimento de todos os danos
sofridos62.
58
Nirk, Culpa in contrahendo – eine richterliche Rechtsfortbildung – in der
Rechtsprechung des Bundesgerichtshofes (1965) pp. 384 e ss. in Vicente, Dário
Moura (fevereiro de 2001) p.311
59
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) pp.311 e ss.
60
Idem p.18
61
Jhering (1861) pp. 16 e ss. in: Idem
62
Larenz, Schuldrecht I, Allgemeiner Teil p.112 in: Vicente, Dário Moura (fevereiro
de 2001) p.319
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A indemnização do interesse negativo (negatives Interesse) consiste nas despesas
inutilmente feitas pelo lesado com vista à conclusão do contrato 63 ou nas despesas a
mais que aquele incorreu para a aquisição do respetivo objeto. LARENZ64 defende
que a indemnização teria como limite o interesse contratual positivo
(Erfüllungsinteresse), visto que não seria admissível colocar o lesado em melhor
posição do que a que ocuparia se o contrato houvesse sido celebrado sem vício.
Defende DÁRIO MOURA VICENTE65 que após uma utilização controvertida do instituto
da culpa in contrahendo66, durante os anos 90, este conheceu uma assinalável
expansão da sua aplicação.
Este caso opunha duas partes, a autora era uma cooperativa de produtores de pesca
que também se dedicava a trabalhos de construção e reparação naval, o réu era um
armador que entrou em contacto com a autora no sentido desta lhe construir uma
embarcação de pesca. Para tal, a autora procedeu à elaboração de estudos, pareceres
e projetos, tendo efetuado deslocações e contratado pessoal para auxiliar naquela
empreitada, à sua custa. As negociações foram ocorrendo dentro da normalidade,
sem que nunca o réu tivesse dado a indicação de que a qualquer momento estas
pudessem cessar. Ocorreu que, de facto, o réu cessou as negociações, alegando que
tinha uma melhor proposta para a construção de um outro construtor. Ora, discute-
se neste caso se os preliminares do negócio configuravam um caso passível de
indemnização por culpa in contrahendo. Vieram os juízes afirmar que, atenta a
63
Idem
64
Larenz, FS Ballerstedt p.419 in: Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) p.319
65
Conforme posição defendia em sede de aula teórica da disciplina de Direito das
Obrigações
66
Neste mesmo sentido, cfr. Cordeiro, António Menzes (1999), p.576
67
Cordeiro, António Menzes (março de 1999), p.343
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matéria de facto, impõe-se concluir que existiram negociações entre o réu e a autora
e que elas permitiram à autora formar uma razoável base de confiança na celebração
do contrato de construção da embarcação. Dizem ainda que o réu deveria ter
prevenido a autora para a existência de conversações paralelas, por forma a
prevenir-lhe esforço, que talvez de outra forma não teria sido empreendido.
Caso que evidencia a mera referência ao instituto, diz MENEZES CORDEIRO 68 que
estes se tratam de um fenómeno importante que recorda a estrutura decisiona que
sempre apresenta a aplicação do Direito e a natureza de argumento assumida pelos
atores jurídico-legais que orientavam a vontade humana. A inclusão, nos modelos de
decisão, do tópico da culpa in contrahendo contribuirá, por certo, para a sua radiação
na cultura jurídica.
68
Idem pp.342-343
69
Cordeiro, António Menzes (março de 1999), p.337
70
Idem
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- BGH 20-fev-1967: um instituto de crédito financia, junto de um particular,
a aquisição de um automóvel; este, apesar de pago, é retido por, entretanto,
ter ocorrido a falência do vendedor; o instituto em causa pretende reaver, do
comprador frustrado, a importância mutuada: é condenado por não ter
esclarecido suficientemente o mutuário dos riscos por ele corridos.
71
Idem p. 338
72
Idem p. 339
73
Cordeiro, António Menzes (1999) p.505
Página 19 de 25
acordado em vender aos autores pelo preço de dois milhões de libras o seu negócio
de fotografias. A 17 de março de 1987, as partes convencionaram que se os autores
obtivessem de um banco, até 20 do mesmo mês, uma «carta de conforto»
confirmando a concessão de um empréstimo em vista da referida aquisição, os réus
poriam termo a quaisquer negociações entabuladas para o mesmo fim com terceiros
e não tomariam em consideração qualquer proposta concorrente. A «carta de
conforto» foi apresentada pelos autores no prazo estipulado e as partes celebraram
em 25 de março de 1987 um acordo subject to contract (acordo que está sujeito a
contrato), nos termos do qual os réus manifestavam a sua vontade de vender a
empresa as condições já acordadas (entre as quais o preço referido) e nas demais
que viessem a sê-lo. Em 30 de março, porém, os réus venderam a empresa a um
terceiro.
Desta decisão recorreram para a Câmara dos Lordes, alegando que o acordo em
questão incluía a dita estipulação implícita por força da qual enquanto os réus
mantivessem a intenção de vender a empresa se obrigavam a negociar de boa fé
com os autores. O tribunal rejeitou o recurso por unanimidade.
Para tanto, sustentou LORD ACKNER: ―the concept of duty to carry on negotiations
in good faith is inherently repugnant to the adversarial position of the parties when
Página 20 de 25
involved in negotiations. Each party to the negotiations is entitled to pursue his (or
her) own interest, so long as he avoids making misrepresentations.
Inexiste, assim, no Direito inglês vigente, conclui DÁRIO MOURA VICENTE que existe
um dever geral de atuação segundo a boa fé, a cargo das partes nos preliminares e
na formação dos contratos. Encontra-se, decerto, no Direito inglês consagrações da
boa fé subjetiva e objetiva na regulamentação de situações específicas: a
interpretação e integração dos contratos segundo os standards do homem médio; o
dever de não enganar a contraparte, sancionado pelo instituto da
misrepresentation . 74
74
Vicente, Dário Moura (2007) p. 293
Página 21 de 25
3. Grelha comparativa
Existe, nos
sistemas Sim, o instituto Sim, o instituto Não, caso Walford v. Miles, de
jurídicos em da culpa in da culpa in 1992, em que o Lord Ackner
apreço, um contrahendo contrahendo afirmou que the concept of duty to
dever de encontra-se encontra-se carry on negotiations in good faith
reparar os positivado no positivado no is inherently repugnant to the
referidos artigo 227.º do parágrafo 331 do adversarial position of the parties
danos? Código Civil. BGB. when involved in negotiations76.
75
Traduz-se para: não há uma obrigação legal do vendedor informar o comprador que ele está induzido
em erro, excluindo quantos aos atos reportáveis ao vendedor.
76
Traduz-se para: o conceito de dever de conduzir as negociações em boa fé é inerentemente
repugnante à posição adversa das partes quando envolvidas em negociações
Página 22 de 25
4. Síntese comparativa
77
Vicente, Dário Moura (fevereiro de 2001) pp. 348 e ss.
78
Vicente, Dário Moura (2007) .p282
79
Princípios Unidroit, artigo 2.15
Página 23 de 25
5. Bibliografia
Cordeiro, António Menezes80, Tratado de Direito Civil Português I, Parte Geral, Tomo
I, Almedina, Março de 1999
Leitão, Luís Menezes, Direito das Obrigações I, 6.ª edi. Almedina (outubro 2007)
Vicente, Dário Moura, A culpa na formação dos contratos em Angola e Portugal in:
Conferência na Universidade José Eduardo dos Santos, Huambo, Angola, 11 de
Setembro de 2010 in: http://www.fd.ulisboa.pt/wp-
content/uploads/2014/12/Vicente-Dario-A-culpa-na-formacao-dos-contratos-em-
Angola-e-Portugal.pdf
Vicente, Dário Moura, Culpa na formação dos contratos in Sep. de: Comemorações
dos 35 anos do Código Civil e dos 25 anos da reforma de 1977, p. 265-284, Coimbra
Editora, Lisboa, 2007
80
Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
81
Professor na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto
82
Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
83
Professor of Law, School of Law - Universidad del Norte (Colombia). Ph.D.
Universidad de Salamanca (Spain), M.A. Universidad de Salamanca (Spain), J.D.
Universidad Santo Tomas (Colombia)
84
Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Página 24 de 25
Jurisprudência
Portuguesa:
Alemã:
Inglesa:
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