Memorial CNPG
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“1. No julgamento do recurso especial repetitivo (representativo de controvérsia) n.º 1.243.887/PR, Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, ao analisar a regra prevista no
art. 16 da Lei n.º 7.347/85, primeira parte, consignou ser indevido limitar, aprioristicamente, a eficácia de
decisões proferidas em ações civis públicas coletivas ao território da competência do órgão judicante. 2.
Embargos de divergência acolhidos para restabelecer o acórdão de fls. 2.418-2.425 (volume 11), no ponto
em que afastou a limitação territorial prevista no art. 16 da Lei n.º 7.347/85. (EREsp 1134957/SP, Rel.
Min. Laurita Vaz, CORTE ESPECIAL, julgado em 24/10/2016, DJe 30/11/2016).
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No julgamento do ARE 796473, Rel. Min Gilmar Mendes, foi corretamente assentado:
“Processual civil. Ação Civil Pública. Limites territoriais da coisa julgada. alegação de
violação aos artigos 18 e 125 da Constituição Federal. Interpretação de normas
infraconstitucionais. Impossibilidade. Repercussão geral rejeitada.”
Em seu voto, o Min. Gilmar Mendes destaca: “Verifico que a controvérsia em exame
discute questão atinente à limitação territorial da eficácia da decisão proferida em ação
coletiva, questão que se restringe ao âmbito infraconstitucional (Lei de Ação Civil Pública
e Código de Processo Civil). A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que
configura ofensa reflexa ao texto constitucional mera alegação de ofensa a dispositivos
constitucionais quando a controvérsia se cingir à interpretação ou aplicação de normas
infraconstitucionais, o que inviabiliza o prosseguimento do recurso extraordinário”.
Ao final, conclui-se: “diante da manifesta natureza infraconstitucional da matéria, rejeito
a repercussão geral”.
Com a devida vênia, não tem sentido, sete anos depois, sem qualquer mudança do texto
constitucional, ignorar o referido precedente.
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Na ocasião, a Suprema Corte definiu que, em ações coletivas de servidores públicos relacionadas a
aumentos salariais, a sentença da “ação coletiva sob o rito ordinário” estaria limitada territorialmente e se
aplicaria apenas aos associados que se filiaram antes do ajuizamento da demanda. No entanto, o Plenário
deixou evidente que tais limitações não alcançam as ações coletivas regidas pela Lei 7.347/85 e Lei
8.078/90, ao julgar e acolher os embargos declaratório opostos pelo Idec. Por ocasião do julgamento, o
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Com relação à ADI 1.576, o STF, ao contrário do afirmado, não declarou a
constitucionalidade do art. 16 da Lei 7.347/85. A leitura do acórdão, publicado no DJ em
24/04/1999, indica que houve suspensão temporal da vigência do art. 2º da MP 1.570, de
26/03/97, o qual justamente deu nova redação ao art. 16 para estabelecer a limitação
geográfica.
Posteriormente, em razão de falta de aditamento à inicial, o Min. Marco Aurélio, Relator,
declarou prejudicada a ADI e negou-lhe seguimento. A decisão foi publicada no DJ n.
150, em 07/08/1997.
Trata-se de ação de inconstitucionalidade que perdeu o objeto e – destaque-se – mesmo
se fosse julgada no sentido de declarar a constitucionalidade da atual redação do art. 16
da Lei 7.347/85, não se afastaria com o julgamento pela Suprema Corte a interpretação
conferida ao dispositivo pelo Superior Tribunal de Justiça – que decorre de análise
sistemática de diplomas infraconstitucionais.
Em resumo, nenhum dos precedentes citados (RE 612.043 e Medida Cautelar na ADI
1576) é capaz de afetar a jurisprudência firmada recentemente pelos Superior Tribunal de
Justiça quanto à eficácia nacional de decisão proferida em ação civil pública (ação
coletiva) na tutela de direitos metaindividuais (difusos, coletivos e individuais
homogêneos).
Ministro Relator (Marco Aurélio Mello) debateu a questão com os ministros Ricardo Lewandowski e Luiz
Fux.
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Tal entendimento está em absoluta consonância com a melhor doutrina. Renomados
processualistas, considerando a importância e possível retrocesso decorrente do
julgamento do RE, elaboraram manifestação dirigida ao Supremo Tribunal Federal (DOC.
ANEXO).
Em análise sistemática das normas que disciplinam o processo civil coletivo (art. 103 do
CDC) e regras relativas à coisa julgada, o STJ posiciona-se corretamente pela abrangência
nacional de decisão proferida em demanda que tutela dano – efetivo ou potencial – de
âmbito nacional.
Assim, ilustrativamente, ação ajuizada contra companhia aérea por cobrança
indevida dos passageiros tem eficácia em todo território nacional e não apenas no
Estado no qual a ação foi ajuizada.
Também tem eficácia nacional ação contra operadora do plano de saúde que
determine cobertura obrigatória para determinado procedimento de cura de doença.
Qual o sentido racional ou jurídico da decisão beneficiar consumidores que moram
apenas em uma unidade federativa? E se houver mudança de endereço do
consumidor? Como fica?
Caso se prestigie a interpretação isolada e literal do art. 16 da Lei da Ação Civil Pública,
seria necessário ajuizar outras 26 ações, uma para cada unidade federativa, gerando
incertezas quanto ao resultado, decisões contraditórias, ofensa a isonomia, insegurança
jurídica, custos, o que se traduz em ineficácia da prestação jurisdicional.
6) A limitação territorial propicia incertezas e insegurança jurídica
O processo civil – individual ou coletivo – possui objetivo de solucionar conflitos com
segurança e de modo isonômico.
A ação civil pública é importante instrumento de diminuição de demandas judiciais,
pacificação social e segurança jurídica.
O entendimento de que os efeitos da ação se limitam ao território de determinada unidade
federativa ou região abrangida pelos Tribunais Regionais Federais estimula a repetição de
ações nas diversas unidades, posterga a definição de temas relevantes, propicia a edição
de soluções conflitantes. Em resumo, contraria todo movimento legal, doutrinário e
jurisprudencial de prestígio ao Poder Judiciário, de solução concentrada e mais célere de
conflitos.
7) A Constituição Federal prestigia a eficácia social e tutela processual adequada dos
direitos metaindividuais
Já na década de 1980, era perceptível que o processo civil individual não era capaz de
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atender a litigiosidade inerente à sociedade massificada. A Constituição de 1988 previu e
realçou diversos meios processuais de tutela de interesses metaindividuais.
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