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DP II Dolo e Erro 19.04.2024

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Direito Penal II

2.º Semestre
3.º Ano – Turno Dia Turma B
Regente:
Paulo de Sousa Mendes
Colaboradores:
Alaor Leite
João Matos Viana
Inês Vieira Santos
DOLO E ERRO

Paulo de Sousa Mendes


Professor Catedrático da FDUL
SUMÁRIO
SUMÁRIO:
I. O erro sobre os elementos obje/vos do /po (16.º/1, 1.ª parte,
CP);
II. O erro sobre a iden/dade da ví/ma ou objeto da ação (error in
persona vel objecto);
III. O erro na execução (aberra0o ictus);
IV. O erro sobre o processo causal;
V. O erro sobre a posição de garante nos crimes de comissão por
omissão;
VI. O erro sobre proibições cujo conhecimento seja razoavelmente
indispensável para aceder à consciência da ilicitude do facto
(16.º/1, parte final, CP); remissão.
Ar$go 16.º
Erro sobre as circunstâncias do facto
1 - O erro sobre elementos de facto ou de direito de um 8po
de crime, ou sobre proibições cujo conhecimento for
razoavelmente indispensável para que o agente possa tomar
consciência da ilicitude do facto, exclui o dolo.
2 - O preceituado no número anterior abrange o erro sobre um
estado de coisas que, a exis8r, excluiria a ilicitude do facto ou a
culpa do agente.
3 - Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos
gerais.
I. O ERRO SOBRE OS ELEMENTOS
OBJETIVOS DO TIPO
ERRO SOBRE OS ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO

Artigo 16.º
Erro sobre as circunstâncias do facto
1 - O erro sobre elementos de facto ou de direito de
um tipo de crime [...] exclui o dolo.
Artigo 16.º
Erro sobre as circunstâncias do facto

1 - O erro sobre elementos de facto...


... ou de direito de um tipo de crime...
... exclui o dolo.
Artigo 16.º
Erro sobre as circunstâncias do facto

1 - O erro sobre elementos de facto [elementos


descritivos] ...
... ou de direito [elementos normativos] de um tipo de
crime...
... exclui o dolo.
EM SUMA:

Os elementos objetivos de um tipo de crime


podem ser descritivos (elementos de facto) ou
normativos (elementos de direito).
EXEMPLOS:

• Elemento descri:vo: “pessoa” (art. 131.º CP);


• Elemento norma:vo: “coisa móvel alheia” (art.
203.º/1 CP), “valor elevado” (art. 204.º/1/a) CP e
202.º/a) CP), “valor consideravelmente elevado” (art.
204.º/2/a) CP e 202.º/b) CP) e “valor diminuto” (art.
204.º/4) CP e 202.º/c) CP).
CONCEITO:

• Os elementos descri:vos carecem de uma


perceção sensorial efe:va;
• Os elementos norma:vos bastam-se com uma
“valoração paralela na esfera dos leigos”.

PALMA, Maria Fernanda, Direito Penal – Parte Geral: A teoria da infração


como teoria da decisão penal, 5.ª ed. revista, Lisboa: AAFDL, 2020, p. 189.
PROBLEMATIZAÇÃO:

• Rigidez da dis:nção: elementos mistos;


• Dever específico de conhecimento dos
elementos norma:vos;
• Elementos formais (e.g., idade do ofendido);
• Valor meramente indiciador.
PALMA, Direito Penal – Parte Geral , cit., pp. 189-196.
II. O ERRO SOBRE A IDENTIDADE
DA VÍTIMA OU OBJETO DA AÇÃO
(ERROR IN PERSONA VEL
OBJECTO)
ERROR IN PERSONA VEL OBJECTO

• Em princípio, não é um erro sobre a


factualidade típica;
• É um erro irrelevante, salvo se a identidade da
vítima ou objeto da ação fizer parte dos
elementos objetivos do tipo de crime.
EXEMPLO DE ERROR IN PERSONA RELEVANTE:
Artigo 132.º
Homicídio qualificado
1 - Se a morte for produzida em circunstâncias que revelem
especial censurabilidade ou perversidade, o agente é punido
com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos.
2 - É susceptível de revelar a especial censurabilidade ou
perversidade a que se refere o número anterior, entre outras, a
circunstância de o agente:
a) Ser descendente ou ascendente, adoptado ou adoptante, da
vítima;
CASO CONCRETO:

• A quer matar B, mas, por erro de representação,


mata C, pai de A (error in persona, só que incide
sobre um elemento objetivo do tipo de homicídio
qualificado).
• A não pode ser punido por homicídio qualificado,
mas só por homicídio simples.
NÃO CONFUNDIR COM A SITUAÇÃO INVERSA:

A quer matar C, seu pai, mas, por erro de


representação, mata B (error in persona
irrelevante).
A é punido por homicídio simples.
III. O ERRO NA EXECUÇÃO
(ABERRATIO ICTUS)
ABERRATIO ICTUS
• Não é um erro de representação;
• Portanto, não é subsumível no art. 16.º/1 CP;
• É um mero desvio na execução do facto;
• Redunda num problema de concurso efe:vo de
infrações: o agente é punido pela tenta:va do crime
projetado (se for punível), em concurso ideal com o
crime consumado, a Ytulo de negligência (nos
termos gerais).
PALMA, Direito Penal – Parte Geral, cit., pp. 209-215.
IV. O ERRO SOBRE O PROCESSO
CAUSAL
ERRO SOBRE O PROCESSO CAUSAL
• A doutrina tradicional -nha estabelecido o critério de
que apenas um desvio essencial entre o processo causal
concreto efetuado e o representado excluiria o dolo nos
crimes de forma livre (e.g., homicídio);
• A representação do processo causal é essencial para o
dolo?
• Hoje considera-se frequentemente que este problema
deve ser resolvido a montante da análise do -po
subje-vo, em sede de imputação obje-va.
PALMA, Direito Penal – Parte Geral , cit., pp. 200-209.
EXEMPLO:

• O caso da ambulância, em que a vítima do


disparo morre a caminho do hospital, em
acidente de trânsito.
• Solução?
ERRO SOBRE O PROCESSO CAUSAL:

• Há casos de desvio irrelevante do processo


causal, considerando que o modo concreto da
verificação do resultado era plenamente
previsível.
PALMA, Direito Penal – Parte Geral , cit., p. 203-206.
DOLUS GENERALIS:

• Há ainda o caso especial da figura de dolus generalis.


• Por exemplo, o agente pretende matar a vítima por
estrangulamento e esconder o cadáver, atirando-o a
um poço. A vítima acaba morrendo por afogamento.
• Solução?
PALMA, Direito Penal – Parte Geral, cit., pp. 207-209.
V. O ERRO SOBRE A POSIÇÃO DE
GARANTE
ERRO SOBRE A POSIÇÃO DE GARANTE:

• Remissão para o erro sobre os elementos


obje<vos do <po.
VI. O ERRO SOBRE PROIBIÇÕES
LEGAIS
ArMgo 16.º
Erro sobre as circunstâncias do facto
1 - O erro sobre [...] sobre proibições cujo
conhecimento for razoavelmente indispensável
para que o agente possa tomar consciência da
ilicitude do facto, exclui o dolo.
ArMgo 16.º/1, in fine
Posição original de FIGUEIREDO DIAS:
“[…] correspondendo as incriminações do direito penal de jusEça a
verdadeiros delitos ’a se’ ou ‘naturais’, o seu fundamento éEco e o
consequente desvalor da ilicitude são tão evidentes e indiscuMveis que
tornam irrelevante o desconhecimento da proibição; diferentemente
no direito de mera ordenação, respondendo as suas incriminações a
moEvos conEngentes de mera oportunidade e sendo a ilicitude
consEtuída pela própria proibição, torna-se indispensável o
conhecimento desta para que possa afirmar-se a consciência da
ilicitude”.
FIGUEIREDO DIAS, Jorge, O Problema da Consciência da Ilicitude em Direito
Penal, 6.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2009 (1.ª ed., 1969), p. 394.
Artigo 16.º/1, in fine
Posição original de FIGUEIREDO DIAS:
“[…] relativamente a certas incriminações – que
correspondem grosso modo ao âmbito do direito penal
de mera ordenação – o desconhecimento da proibição
deve ser tratado essencialmente como um ‘erro de facto’
ou ‘sobre a factualidade típica’, em suma, como um erro
que exclui o dolo.”

FIGUEIREDO DIAS, O Problema da Consciência da Ilicitude..., cit., pp. 396-397.


Artigo 16.º/1, in fine
Posição original de FIGUEIREDO DIAS:
“Quando […] se não verifique a imediata correspondência da conduta
a uma valoração moral, social ou cultural, teremos de concluir ser ela
uma tal que, no conjunto dos seus elementos constitutivos, não
suscita imediatamente um problema de desvalor ligado ao dever-ser
ético, e, portanto também de desvalor jurídico. Se, não obstante ser
assim, se verifica que o direito valora algumas destas condutas como
ilícitas, tal só pode acontecer porque o substrato da valoração jurídica
não é aqui constituído apenas pela conduta como tal, antes por esta
acrescida de um elemento novo: a proibição legal.”
FIGUEIREDO DIAS, O Problema da Consciência da Ilicitude..., cit., p. 398.
Artigo 16.º/1, in fine
Posição original de FIGUEIREDO DIAS:
“[N]o erro sobre proibições cujo conhecimento seja
razoavelmente indispensável para que o agente possa tomar
consciência da ilicitude do facto [...], o dolo-do-tipo não pode
deixar de ser afirmado, pressuposto que o agente tenha atuado
com o conhecimento e vontade de realização do tipo-de-ilícito
objetivo que o artigo 14.º do CP requer.”

FIGUEIREDO DIAS, Jorge, “Sobre o estado atual da doutrina do crime – 2.ª


Parte: Sobre a construção do tipo-de-culpa e os restantes pressupostos da
punibilidade”, RPCC 2 (1992), (pp. 7-44) p. 20.
Artigo 16.º/1, in fine
Posição original de FIGUEIREDO DIAS:
“É verdade que também estas espécies de erro, como expressamente
o indica o referido artigo 16.º, excluem o dolo, em perfeita paridade
com o que sucede com o erro sobre a factualidade típica em sentido
estrito; isso sucede, porém, não porque o dolo-do-tipo fique em tais
hipóteses excluído, mas por considerações de culpa material que
conduzem a negar que o agente tenha exprimido no facto uma atitude
interior contrária ou indiferente à violação dos bens jurídicos. Numa
palavra, isso sucede só porque o tipo-de-culpa doloso fica excluído e,
com ele, a punição do agente a esse título”
FIGUEIREDO DIAS, RPCC 2 (1992), cit., pp. 20-21.
ArMgo 16.º/1, in fine
Posição atual de FIGUEIREDO DIAS:
“Durante muito tempo pensámos e ensinámos que
[quando] o conhecimento de certas proibições legais seja
indispensável à punição do agente a /tulo de dolo, todavia
isso ocorreria não – como aqui defendemos – porque o erro
respe-vo exclua logo o dolo do -po, mas sim porque,
devendo em casos tais o dolo do -po ser afirmado, todavia
deveria ser negada a culpa dolosa”.
FIGUEIREDO DIAS, Jorge, Direito Penal – Parte Geral, t. I, 3.ª ed., Coimbra: Gestlegal,
2019, p. 426.
BIBLIOGRAFIA GERAL
DIAS, Jorge de Figueiredo,
Direito Penal – Parte Geral, T. I (Questões Fundamentais, A
Doutrina Geral do Crime), Coimbra: Gestlegal, 2019.
HILGENDORF, Eric / VALERIUS, Brian,
Direito Penal – Parte Geral (trad. portuguesa por Orlandino
Gleizer e prefácio de Luís Greco), São Paulo: Marcial Pons, 2019.
PALMA, Maria Fernanda,
Direito Penal – A Teoria Geral da Infração como Teoria da Decisão
Penal, 5.ª ed., Lisboa: AAFDL, 2020.
BIBLIOGRAFIA ESPECIAL
DIAS, Jorge de Figueiredo,
O Problema da Consciência da Ilicitude em Direito Penal, 6.ª
ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2009 (1.ª ed., 1969).
DIAS, Jorge de Figueiredo,
Liberdade – Culpa – Direito Penal, 3.ª ed.,
Coimbra: Coimbra Editora, 1995 (1.ª ed., 1977).
FIGUEIREDO DIAS, Jorge,
“Sobre o estado atual da doutrina do crime – 2.ª Parte: Sobre a
construção do 8po-de-culpa e os restantes pressupostos da
punibilidade”, RPCC 2 (1992), pp. 7-44.
Obrigado pela V. atenção!

paulosousamendes@fd.ulisboa.pt

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