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Artigo 20 e 21

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Erro de tipo.

 
 Conceito.
 
 De acordo com o Código Penal, erro de tipo "é o erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal." (Art.20, caput)
 
Fernando Capez, por sua vez, conceitua-o da seguinte maneira: "Trata-
se de um erro incidente sobre situação de fato ou relação jurídica descritas:

a) Como elementares ou circunstâncias de tipo incriminador;

b) Como elementares de tipo permissivo; ou

c) Como dados acessórios irrelevantes para a figura típica."(Curso de


Direito Penal, vol.I, página 174)
 
Luiz Flávio Gomes, em sua monografia sobre o tema, afirma que
"estamos perante um erro de tipo, quando o agente erra (por desconhecimento
ou falso conhecimento) sobre os elementos objetivos - sejam eles descritivos
ou normativos - do tipo, ou seja, o agente não conhece todos os elementos a
que, de acordo com o respectivo tipo legal de crime, se deveria estender o
dolo."(Erro de tipo e erro de proibição, p.96)
 
Tal instituto chama-se erro de tipo, justamente, porque o equívoco do
agente incide sobre um dado da realidade que se encontra descrito em um tipo
penal.
 
 Exemplos de erro de tipo.
  
1) Erro incidente sobre situação de fato descrita como elementar do
tipo incriminador.
  
Imagine que o agente pega uma caneta alheia, supondo-a ser sua. Seu
erro incidiu, justamente, sobre uma situação de fato (pensou que a caneta
fosse dele).
 
Devido ao erro, o agente não podia saber que estava subtraindo coisa
alheia e, conseqüentemente, desconhecia a existência de um elemento
imprescindível para a caracterização do crime de furto (art.155 do CP).
 
Veja! No caso, o desconhecimento eliminou a consciência e a vontade
de realizar um fato típico, pois, se o sujeito não sabia que estava subtraindo
coisa alheia, é óbvio que não poderia querer subtraí-la.
 
Assim, o erro incidente sobre situação fática definida como elemento de
tipo incriminador (que descreve crimes e estipula sanções), exclui o dolo, uma
vez que impede que o sujeito saiba que está cometendo crime.
 
2) Erro incidente sobre relação jurídica descrita como elementar de
tipo incriminador.
 
Imagine, agora, que o agente resolva casar-se com mulher já casada,
supondo ser ela solteira, viúva ou divorciada.

Veja! Mais uma vez, houve um equívoco. Dessa vez, incidente sobre o
estado civil da nubente (situação jurídica). No entanto, a conduta praticada
encontra-se descrita, no Código Penal, como crime de bigamia.
 
Entretanto, o equívoco do agente excluiu sua consciência e,
conseqüentemente, sua vontade de realizar a conduta típica, uma vez que, não
conhecendo o impedimento absolutamente dirimente, não poderia ter a
vontade de cometer o crime de bigamia. Assim, mais uma vez, há a exclusão
do dolo.
 
 3) Erro incidente sobre situação de fato descrita como elementar
de tipo permissivo.
  
Como já vimos outrora, o tipo permissivo é aquele que permite a
realização de um fato típico, sem que se configure infração penal. Trata-se,
justamente, das causas de exclusão de ilicitude, também chamadas de tipos
justificadores ou excludentes.
 
Sempre que o equívoco incidir sobre uma situação que resta descrita
como elementar de um tipo permissivo, estaremos diante de um erro de tipo.
 
Assim, se a vítima enfia a mão no bolso para tirar um lenço e o agente,
supondo que ela sacará uma arma, imagina-se em legítima defesa, estará
cometendo um erro sobre um dado da realidade que é exigido para a
configuração da justificativa. Imagina que existe uma agressão iminente
quando essa, em verdade, não existe.
  
4) Erro incidente sobre circunstância de tipo incriminador.
 
 Imagine, agora, que um ladrão resolva furtar um bem de grande valor
(um relógio de ouro). No entanto, por engano, acaba levando um de valor
mínimo (relógio de lata pintada). Seu erro, no caso, incidiu sobre uma situação
concreta descrita como circunstância privilegiadora do tipo de furto (furto de
pequeno valor).
 
No caso, não haverá a exclusão do dolo, porque o equívoco não incidiu
sobre elementar, dado essencial à existência do crime, mas sobre simples
circunstância privilegiadora, que tem como função somente diminuir a sanção
penal.
 
Aqui, há a subsistência do dolo, eliminando-se só a circunstância.
 
5) Erro sobre dado irrelevante.
 
Ainda, imagine que o agente, desejando matar seu filho, assassina um
sósia dele. No caso, o erro incidiu sobre dado irrelevante do tipo do homicídio,
uma vez que pouco importa quem seja a vítima. Importa que o sujeito quis
matar alguém. E matou... Assim, o sujeito responderá pelo crime, levando-se
em conta as características da vítima que pretendia atingir (seu filho), sendo
irrelevante o erro, na hipótese.
 
 Diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro de tipo.
  
Primeiramente, devemos assinalar que, no erro de tipo, o sujeito não
sabe que está cometendo um crime e acaba praticando-o. É o caso da
subtração de coisa própria, ou do caçador.
 
Já, no delito putativo por erro de tipo, o sujeito quer praticar um crime,
mas, diante do erro, acaba praticando um irrelevante penal, o delito putativo é o
delito equivocadamente imaginado, que só existe na cabeça do agente.
 
Imagine que o sujeito, querendo vender cocaína, acaba vendendo talco.
Veja! Ele acha que está vendendo uma droga, mas vende substância sem
qualquer princípio ativo. Acha que está cometendo um crime, mas trata-se de
um irrelevante penal.
 
Por sua vez, no caso do erro de tipo, o sujeito não quer cometer
qualquer ilícito penal. É o caso, por exemplo, do sujeito que vai à farmácia
comprar talco, mas o balconista entrega-lhe um pacote de cocaína.
 Ora! Ele não foi à farmácia comprar cocaína. Portanto, não quis cometer
crime algum. Houve um equívoco. Portanto, há exclusão do dolo.
 
Como já estudamos, anteriormente, há três espécies de delito putativo: o
delito putativo por erro de tipo, por erro de proibição e por obra do agente
provocador.
 
 Formas de erro de tipo.
  
O erro de tipo pode ser essencial (vencível ou invencível) ou acidental.
Estudemos cada um deles.
 
 Erro de tipo essencial.
 
O erro de tipo essencial incide sobre elementares e circunstâncias.
 
De acordo com a teoria finalista, o dolo deve abranger todos os
elementos constitutivos do tipo. Assim, para praticar um crime, o agente deve
ter a consciência e a vontade de realizar todos os elementos que compõem o
tipo legal.
 O erro de tipo essencial ou impede que o agente saiba que está
cometendo um crime (quando o equívoco refere-se a elementar) ou impede
que ele perceba a existência de uma elementar.
 Chama-se erro de tipo essencial porque, se tal erro não ocorresse,
certamente, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos, não nas
circunstâncias em que cometeu.
 
Vejamos dois exemplos.
 
Alguém está deixando a sala de aula e, por engano, leva o Código de
um colega, que é igualzinho ao seu. Sabemos que há uma grande diferença
entre pegar um bem próprio (irrelevante penal) e um alheio (crime de furto).
Estamos diante de um caso de erro essencial, porque se o aluno percebesse
que o livro era do colega, certamente, não o levaria consigo. Tal erro incidiu
sobre uma das elementares do crime de furto, impedindo que o agente
conhecesse o caráter criminoso do fato.
 
Imagine, agora, que um estelionatário, pensando ter aplicado um grande
golpe, recebe um veículo com o motor fundido. O pequeno prejuízo da vítima é
uma circunstância (dado secundário da figura típica) desconhecida pelo
agente. Assim, o autor não terá direito ao privilégio previsto no parágrafo 1° do
art.171, porque não sabia que estava agindo sobre circunstância favorável.
 
Veja que o erro essencial é aquele que é tão relevante que, se o agente
o conhecesse, não teria praticado o crime, pelo menos, não daquela maneira.
 
Característica do erro de tipo essencial.
 
Qual a característica do erro essencial? Tal erro impede o agente de
compreender o caráter criminoso do fato (erro de tipo essencial incidente sobre
elementar) ou de conhecer a circunstância (erro de tipo essencial incidente
sobre circunstância).
 
 Formas de erro de tipo.
  
Temos tanto o erro de tipo essencial invencível (inevitável, desculpável
ou escusável), quanto o erro de tipo essencial vencível (evitável, indesculpável
ou inescusável).
 
O erro invencível é aquele que o agente não poderia evitar, nem com o
emprego de uma diligência mediana. Já o vencível é aquele que poderia ser
evitado se o agente empregasse prudência mediana.
 
Vejamos seus efeitos.
 
 
Efeitos dos erros essenciais vencíveis e invencíveis.
 
 
O erro essencial que recai sobre elementar sempre exclui o dolo, sendo
evitável ou não. Assim, se o agente não sabia que estava cometendo o crime,
por desconhecer a existência de uma elementar, jamais poderia querer praticá-
lo. Afinal, se o sujeito não sabe que está cometendo um crime, como dizer que
ele queria praticá-lo? Isso seria absurdo.
 
Ainda, o erro invencível (desculpável, escusável, inevitável), recaindo
sobre elementar não exclui somente o dolo, mas também a culpa. Afinal, se o
erro não poderia ser evitado, nem mesmo com cautela, não podemos afirmar
que o sujeito agiu de forma culposa. Assim, excluído o dolo e a culpa, não
haverá conduta, não havendo fato típico, e, conseqüentemente, crime.
 
Imagine que um artista se vista de veadinho em uma floresta e seja
alvejado por um caçador. Ora! A fantasia era tão perfeita que o caçador não
poderia imaginar que se tratava de um homem. Assim, houve a exclusão, no
caso, até da culpa, uma vez que mesmo com o emprego de uma prudência
mediana, ninguém poderia prever que um sujeito iria se vestir de veadinho e
sair saltitante pela floresta.
 
Por sua vez, tratando-se de erro vencível, que recai sobre elementar,
haverá a exclusão do dolo, mas não da culpa. Afinal, se o erro poderia ser
evitado com um pingo de prudência, não podemos dizer que o agente não agiu
com culpa. Dessa forma, havendo a previsão da modalidade culposa do delito,
o agente responderá por ela.
 
Voltemos ao caso do artista no meio da floresta. Imagine, entretanto,
que ele não está fantasiado. Mas o caçador, míope, sem óculos, vê somente
um vulto perto dos galhos de uma árvore, e, pensando tratar-se de um
veadinho, atira, matando um homem.
 
Veja! O erro de tipo essencial não deixou de existir. Afinal, o caçador se
equivocou sobre uma das elementares do tipo (alguém). Entretanto, seu erro
poderia ser evitado com um pouquinho de cuidado. Assim, por existir homicídio
culposo, o caçador há de responder por ele.
 
Se, entretanto, o tipo não admitir a modalidade culposa, será irrelevante
perguntarmos sobre a evitabilidade ou não do erro, pois, como já frisamos, o
erro de tipo essencial sempre excluirá o dolo, e não havendo a possibilidade de
crime culposo, na hipótese, não há mais nada a ser analisado.
 
Assim, se tratar-se, por exemplo, de um crime de furto, que inadmite a
forma culposa, não haverá qualquer importância em sabermos se o erro era ou
não evitável.
 
Por último, o erro essencial que recai sobre uma circunstância
desconhecida do agente exclui essa mesma circunstância.
 
Imagine, por exemplo, que o agente queira subtrair um objeto de grande
valor (uma escultura caríssima). No entanto, por erro, acaba levando uma
imitação sem valor significativo. Mesmo sendo o objeto de pequeno valor
(art.155, parágrafo 2°, do CP), o agente não poderá valer-se do privilégio,
porque o desconhecia. Em verdade, queria furtar bem de grande valor.
 
Descriminantes putativas.
 
 As descriminantes são causas que descriminam, ou seja, que excluem
o crime, porque retiram a ilicitude do fato típico. Já a palavra putativa, como já
visto, significa imaginária. Assim, a descriminante putativa é a causa
excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Em verdade, ela
inexiste. No entanto, o sujeito a imagina.
 
Essas descriminantes englobam a legítima defesa putativa, o estado de
necessidade putativo, o exercício regular de direito putativo, e o estrito
cumprimento do dever legal putativo.
 
Como exemplo de legítima defesa putativa, podemos imaginar o caso de
sujeito que assiste televisão, quando um primo brincalhão invade sua sala, com
um capuz na cara, fingindo-se de um assaltante. Ele, imaginando-se em
legítima defesa, mata o primo.
 
Exemplo de estado de necessidade putativo é o caso do piloto que,
diante de um pane, acreditando haver somente um pára-quedas no helicóptero,
joga o co-piloto para fora, quando, em verdade, havia outro pára-quedas.
 
Haverá, também, exercício regular do direito putativo quando o sujeito
corta galhos da árvore do vizinho, por imaginar, falsamente, que eles estavam
invadindo sua propriedade.
 
Por último, estaremos diante do estrito cumprimento do dever legal
putativo quando o policial, erroneamente, algemar um cidadão honesto que
era, em verdade, sósia de um fugitivo.
 
Espécies.
 
Temos tanto descriminantes por erro de tipo como descriminantes por
erro de proibição. Estudemos ambas.
  
Descriminantes putativas por erro de proibição.
  
No caso das descriminantes putativas por erro de proibição, o agente
sabe muito bem tudo o que está ocorrendo. Não há, portanto, qualquer engano
acerca da realidade. Assim, não há erro qualquer sobre a situação fática.
Entretanto, ele supõe que está diante de uma causa que exclui o crime, uma
vez que faz uma avaliação equivocada da norma. Pensa que ela autoriza a sua
conduta quando, na verdade, ela a proíbe. Ele pensa que está agindo certo, no
entanto, age errado, supondo que o injusto é justo.
 
Essa descriminante é considerada um verdadeiro erro de proibição
indireto que leva às mesmas conseqüências do erro de proibição, que
estudaremos mais adiante (culpabilidade).
 
O sujeito imagina estar autorizado pela norma a agir em legítima defesa,
ou estado de necessidade, naquela determinada situação.
 
Imagine o caso do velho e do jovem. Um senhor bastante idoso leva um
tapa no rosto de um jovem atrevido. Ele sabe perfeitamente o que está
acontecendo, sabe que seu agressor está desarmado e que o ataque já
cessou. Tem perfeita noção da realidade. No entanto, por erro, imagina estar
autorizado pelo ordenamento jurídico a matar aquele que o humilhou, agindo,
assim, em legítima defesa de sua honra.
 
Veja! No caso há uma descriminante (legítima defesa) putativa
(imaginada, porque não existe a situação legitimadora, no caso concreto) por
erro de proibição (velhinho pensou que a conduta proibida fosse permitida, na
hipótese).
 
Trata-se de descriminante que só existiu na cabeça do agente, que
imaginou que a lei o autorizava a matar, naquelas circunstâncias. Essa
suposição equivocada foi provocada por um erro de proibição, ou seja, por erro
sobre a ilicitude da conduta praticada.
 
Qual a conseqüência do erro de proibição indireto? No caso, o dolo não
será excluído, porque o engano incide sobre a culpabilidade e não sobre a
conduta. Se o erro for inevitável, o agente terá cometido crime doloso, mas não
responderá por ela, por ausência de culpabilidade (art.21 do CP). Se, por sua
vez, o erro poderia ser evitado, responderá pelo crime doloso, com pena
diminuída de 1/6 a 1/3.
  
Descriminante putativa por erro de tipo.
 
Ocorre, justamente, quando o agente, por erro, imagina uma situação
fática que, se existisse, permitiria sua ação acobertada por uma causa de
exclusão da ilicitude.
 
Trata-se de um erro de tipo essencial que recai sobre as elementares de
um tipo permissivo, que é aquele que permite a realização de condutas
inicialmente proibidas.
 
Os tipos permissivos (previstos no art.23 do CP), como os
incriminadores, também são compostos de elementos (requisitos). Assim, se o
sujeito praticar uma conduta, imaginando, equivocadamente, que está agindo
acobertado por uma das causa de justificação.
 
Assim, imagine que um sujeito, ao ver um estranho colocar a mão no
bolso para pegar um lenço e, acreditando que esse vai sacar uma arma para
matá-lo, supõe estar em legítima defesa.
 
Em verdade, a descriminante putativa por erro de tipo é uma espécie de
erro de tipo essencial. As suas conseqüências, portanto, serão as mesmas do
erro de tipo, previstas no art.20, parágrafo 1°, do CP. Assim, se o erro for
evitável, o sujeito poderá responder pelo crime culposo, se esse existir. Se for
inevitável, há a exclusão tanto do dolo como da culpa.
 
Ainda, é bom notar que, a culpa imprópria, já estudada, é a que resulta
do erro de tipo vencível.
 
Erro de tipo acidental.
 
O erro de tipo acidental é aquele que incide sobre dados irrelevantes da
figura típica.
 
Sua característica é não impedir a apreciação do caráter criminoso do
fato. Assim, o agente sabe perfeitamente que está a cometer um delito. Por
essa razão é um erro que não traz qualquer conseqüência jurídica. O agente
responde como se não houvesse qualquer erro.
 
Espécies de erro de tipo acidental.
 
 São as seguintes: erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa, erro na
execução (aberratio ictus), resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
e dolo geral (erro sucessivo ou aberratio causae). Estudemos cada uma delas.
 
 Erro sobre o objeto.
 
Já dissemos que o objeto material é a coisa ou a pessoa sobre qual
recai a conduta. Assim, o erro sobre o objeto é o erro sobre a coisa, objeto
material do delito.
 
Trata-se de erro absolutamente irrelevante, uma vez que não traz
qualquer conseqüência jurídica. Como exemplo, podemos citar o caso do
sujeito que, ao invés de subtrair café, furta feijão. Pelo que responderá? Ora!
Responderá pelo mesmo crime, pois seu erro não o impediu de saber que
praticava crime de furto.
 
Quando a coisa, entretanto, estiver descrita como elementar do tipo, o
erro será essencial. No exemplo, pouco importa a distinção porque tanto o
feijão quanto o café constituem coisa alheia móvel, sendo elementar do tipo.
No entanto, se o agente confundisse cocaína com talco, como no exemplo da
farmácia, o erro seria essencial, pois, enquanto a cocaína é elementar do crime
de tráfico, o talco não.
 
Também, quando existe diferença de valor entre os produtos furtados, o
erro pode passar a ser essencial, pois o pequeno valor da res furtiva é
circunstância privilegiadora do crime de furto.
 
Erro sobre a pessoa.
 
É aquele que recai sobre a pessoa humana. O agente,
equivocadamente, olha um desconhecido e o confunde com a pessoa que
deseja atingir. Ou seja, pensa que Manuel é Joaquim.
 
Tal erro é tão irrelevante, que o legislador determina que o autor seja
punido pelo crime que efetivamente cometeu contra o terceiro inocente, como
se, em verdade, ele tivesse atingido a pessoa pretendida (vítima virtual),
considerando as suas qualidades e não as da pessoa atingida. É o que dispõe
o art.20, parágrafo 3°, do CP).
 
Imagine que o pai queira matar o filho para poder dedicar-se a adúltero
romance. No dia dos fatos, posta-se em frente ao colégio de seu filho, com
uma arma, aguardando, ansiosamente, a sua saída. Vai saindo um gordinho,
baixinho, tênis Nike, boné, camisa do palmeiras, com uma mochila nas costas.
O pai, vendo a oportunidade de eliminá-lo, aponta a arma e atira. O gordinho
(vítima efetiva) é atingido na testa e cai morto.
 
O pai fica feliz, saí de trás da árvore e quando atravessa a rua, em
direção ao colégio, vê seu filho, saltitante, correndo em sua direção para o
abraço. Leva um susto e percebe, perplexo, que tinha matado um sósia de seu
filho (vítima virtual).
 
Veja! Nesse caso, o sujeito olha terceiro e o confunde. Pensa que "A" é
"B". Confunde vítima efetiva com vítima virtual.
 
Segundo o art.20, parágrafo 3°, do CP, esse erro é irrelevante,
respondendo o agente pelo crime que queria cometer, levando-se em
consideração as qualidades e a sua relação com a pessoa que queria matar
(virtual) e não que matou (vítima efetiva, real).
 
No caso, o pai responderia por homicídio doloso, qualificado pelo motivo
torpe e agravado por ter sido cometido contra descendente.
 
Erro na execução do crime ou aberratio ictus.
 
 O agente não se confunde quanto à pessoa que pretende atingir, mas
realiza o delito de forma desastrada, errando o alvo e atingindo vítima diversa.
 
Segundo Damásio, pode ocorrer de diversas formas: "por acidente ou
erro no uso dos meios de execução, como, p.ex., erro de pontaria, desvio da
trajetória do projétil por alguém haver esbarrado no braço do agente no instante
do disparo, movimento da vítima no momento do tiro, desvio de golpe de faca
pela vítima, defeito da arma de fogo etc." (Direito Penal, página 319)
 
Formas.
 
Com unidade simples ou resultado único.
 
 Ocorre quando, em face do erro na execução do crime, o agente não
atinge a vítima que queria acertar (vítima virtual), mas somente um terceiro
(vítima efetiva). Denomina-se de unidade simples ou resultado único, porque
somente a pessoa diversa da visada acaba sendo atingida.
 
Consequência.
  Segundo as determinações do artigo 73 do Código Penal, o agente
responde do mesmo modo que no erro sobre a pessoa, ou seja, pelo crime
efetivamente cometido contra o terceiro inocente, como se esse fosse,
entretanto, a vítima virtual (que se pretendia atingir).
 
Imagine que, no caso do pai que quer matar o filho, ele atire contra o
próprio filho, mas, por erro de pontaria, acaba acertando um coleguinha seu.
 
No caso, responderá da mesma forma que no erro sobre a pessoa,
como se tivesse atingido quem pretendia atingir.
 
Com unidade complexa ou resultado duplo.
 
Nessa hipótese, o agente acerta tanto a vítima visada (virtual), como
terceira pessoa (ou terceiras pessoas).
 
É o caso do sujeito que, querendo acabar com o devedor pontual, efetua
disparos de metralhadora contra o mesmo, matando outras dez pessoas.
 
Veja! O resultado foi duplo: um querido e outro não previsto (morte de
várias pessoas).
 
 Conseqüência.
 
 Aplica-se a regra do concurso formal, impondo-se a pena do crime mais
grave, aumentada de 1/6 até metade, variando o acréscimo de acordo com o
número de vítimas atingidas.
 
Se, entretanto, houver dolo eventual em relação ao terceiro ou terceiros
inocentes, aplicar-se-á a regra do concurso formal imperfeito, que ocorre
quando os resultados diversos derivam de desígnios autônomos, somando-se
as penas, como no concurso material. Entretanto, parece claro que não será
uma hipótese de aberratio ictus, uma vez que o sujeito quis matar todo mundo,
não havendo erro. Ora, ninguém erra por dolo, não é mesmo?
 
O exemplo que pode ser dado aqui é o carcereiro que joga uma granada
em uma cela com trinta presos, matando todos. Houve uma só conduta, com
vários resultados, todos eles pretendidos ou, ao menos, aceitos.
 
 Diferença entre erro sobre a pessoa e "aberratio ictus".
 
 No erro sobre a pessoa, o agente faz uma verdadeira confusão mental.
Pensa que a vítima efetiva é a vítima virtual. Já no erro na execução do crime,
o sujeito não faz qualquer confusão. Ele dirige sua conduta contra a pessoa
que quer mesmo atingir, mas acaba cometendo um equívoco, na hora de
executar a conduta.
 
Verifica-se que, no erro sobre a pessoa, a execução do crime é perfeita,
enquanto não podemos dizer o mesmo do erro na execução. Dessa forma, no
primeiro o erro está na representação mental, e, no segundo, na execução.
 

 Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis).


 
 Conceito.
 
No caso, o agente pretende atingir um bem jurídico, mas, por erro na
execução, acaba atingindo um bem diverso. Não se trata de atingir uma pessoa
ao invés de outra, mas, sim, de cometer um crime no lugar de outro.
 
Imagine que alguém saia de uma loja irritado com os preços
exorbitantes. Pega uma pedra e joga-a contra a vitrine, acertando uma velhinha
que passeava bela e formosa.

Espécies.
 
Com unidade simples ou resultado único.
 
Hipótese em que somente é atingido o resultado diverso do pretendido.
É o caso da velhinha.
 
Nesse caso, há de responder somente pelo resultado produzido e,
mesmo assim, se houver a previsão de crime culposo. No exemplo, o sujeito
responderia por lesões corporais culposas.
  
Com unidade complexa ou resultado duplo.
 
 O sujeito atinge o bem visado e um outro diverso. Imagine, por exemplo,
que o sujeito quebre o vidro e, ainda, atinja a balconista.
 
Nesse caso, há de se aplicar a regra do concurso formal, com a pena do
crime mais grave aumentada de 1/6 até metade, levando-se em conta o
número de resultados diverso produzidos.
 
Erro sobre o nexo causal ou aberratio causae.
 
Ocorre quando o agente, na suposição de já ter consumado o crime,
realiza nova conduta, pensando tratar-se de mero exaurimento, atingindo,
nesse momento, a consumação.
 
Imagine, por exemplo, que o agente, depois de estrangular a vítima,
crendo estar ela morta, enforca-a para simular um suicídio. No entanto, fica
demonstrado que a vítima morreu em razão do enforcamento. Responde por
um só homicídio doloso consumado.
 

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