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GRUPO DE GESTANTES: ESPAO DE CONHECIMENTOS, DE TROCAS E DE VNCULOS ENTRE OS PARTICIPANTES1

Graziele Strada Sartori2 Isabel Cristina Pacheco Van der Sand3

RESUMO: Na gestao passa-se por uma srie de mudanas e a conseqente adaptao pode gerar ansiedade e medo para quem a vive. Uma das formas de enfrentamento dessa situao pode ser a busca de grupos de gestantes. Este estudo busca: conhecer a percepo dos participantes de um grupo de gestantes sobre a vivncia nessa atividade; conhecer a repercusso em suas vidas aps o trmino dos encontros. A pesquisa qualitativa, descritiva, exploratria, do tipo estudo de caso. Para a coleta de dados utilizou-se entrevista aberta e para anlise foi utilizada a anlise de contedo de Bardin. Dos quatro temas emergentes apresentase neste artigo: o grupo como um espao de conhecimentos, de trocas e de vnculo; e, o grupo e as repercusses na vida dos participantes . Os grupos de gestantes podem ser teraputicos para seus participantes, sendo pertinente a sua implementao como forma de assistir de modo integral s pessoas. PALAVRAS-CHAVE Grupo; Gestao; Operativo e Teraputico. ABSTRACT: During pregnancy there are several changes and consequent adaptations that might produce anxiety and fear. A form of confronting might be the participation in pregnant women groups. This study wants to know the perception of the participants in pregnant women groups and its repercussion in the womens lives after the meetings. It is a study with qualitative, descriptive and exploratory approach, of the case study kind. The data were gathered through non-structured interviews. For the analysis the proposition of Bardin was taken into consideration. Two out of four emergent themes two are presented in this article: the group as a space of knowledge, changes and links; and, the group and the repercussions in the participants lives. The pregnant women groups can be therapeutic for their participants and they pertinent while integral form to assistance people. KEY-WORDS: Operative Group; Pregnancy and Therapeutic. RESUMEN: En el embarazo hay varios cambios y la adaptacin consecuente pueden producir ansiedad y miedo. Una forma para confrontar puede ser la participacin en los grupos de las mujeres embarazadas. Este estudio quiere conocer la percepcin de los participantes en unos grupos de las mujeres embarazadas y a conocer la repercusin en sus vidas despus de las reuniones. Es un estudio con el acercamiento cualitativo, descriptivo y exploratorio, un estudio del caso. Los datos se recogieron a travs de las entrevistas non-estructuradas. Para el anlisis, la proposicin de Bardin se tuvo en la cuenta. De estos cuatro temas emergentes se presentan en este artculo: el grupo mientras un conocimiento, cambios y el espacio de eslabn; y, el grupo y las repercusiones en la vida de los participantes. Los grupos de las mujeres embarazadas pueden ser teraputicos para sus participantes, y ellos son pertinentes mientras la forma ntegra a la ayuda a las personas. PALABRAS CLAVES: Grupo; Embarazo; Operativo y Teraputico.

INTRODUO Percebemos, na atualidade, a necessidade da grupalidade em quase todos os tipos de ambientes em que convivemos. Significa segundo MUNARI & ZAGO

(1997) que, atravs do grupo o homem pode desenvolver atividades em suas relaes pessoais, realizar tarefas, oferecer e receber ajuda. Ao referir-nos ao termo grupo, consideramos o conceito de PICHON-RIVIRE (2000, p. 234) que diz que:grupo o conjunto restrito de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e espao, e articuladas por sua mtua representao interna, que se prope, de forma explcita ou implcita, a uma tarefa que constitui sua finalidade. A experincia que temos nesse campo e o conhecimento que adquirimos sobre este tema nos fazem considerar que a atividade pode ser significativa para seus participantes, constituindo-se em importante recurso para assistir as pessoas. Este assistir tem relao direta com a rea da sade, em especial com a enfermagem, uma vez que o cuidado s pessoas o principal instrumento desta. O trabalho de natureza grupal, para o enfermeiro, se desenha como mais uma possibilidade da inter-relao com sujeitos de diferentes profisses. Na Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul (UNIJU), instituio na qual este estudo foi realizado, disponibilizado um componente curricular no Curso de Enfermagem, que aborda temas relacionados ao trabalho grupal e que estimula seus alunos a uma ateno especial ao mesmo, buscando conscientizar que conhecer e trabalhar com grupos essencial para desenvolver aes que promovam sade. Percebemos que o ser humano busca conviver em certos grupos, mais especficos, em determinadas fases de sua vida, especialmente em momentos de crise, quando sente necessidade de ser acolhido e identificado com pessoas que vivenciam as mesmas situaes que as suas. A fase da gestao uma dessas situaes, quando a mulher e companheiro/famlia passam por uma srie de mudanas em suas vidas, pois, conforme Viosa (1997, p.305), neste perodo, alm das mudanas corporais da mulher, vo acontecer mobilizaes emocionais em sua vida, para adaptar-se ao novo papel que lhe dado a partir desta vivncia. Essa adaptao pode gerar ansiedade e medo para quem a vive. Vale considerar que, ao longo dos anos, a gravidez deixou de ser assunto exclusivo da mulher, pois conforme JENERAL (2000), ela transforma a identidade tanto de homens como de mulheres, e influenciada por aspectos afetivos, sociais, psquicos e culturais que abrangem o casal e a famlia, exigindo adaptaes destes a um novo contexto de vida, no mbito pessoal, familiar e sociocultural. Tendo como base as perspectivas descritas at aqui a respeito da gravidez, estudos apontam que a participao em grupos, por parte das pessoas envolvidas com o processo de gestar, tem se mostrado de grande valia. Em especial, se referindo a grupos de gestantes, estes vm trazer aspectos teraputicos e oferecer suporte a estas pessoas, uma vez que, segundo MUNARI & RODRIGUES (1997, p.14, a) um grupo pode ajudar pessoas durante perodos de ajustamentos a mudanas, no tratamento de crises ou ainda na manuteno ou adaptao a novas situaes.

VIOSA (1997) contribui referindo que nos grupos de gestantes se cria um espao onde os participantes podem dizer seus problemas e refletir sobre eles. Nesta perspectiva h o incentivo para a troca de experincias comuns entre os integrantes e os coordenadores do grupo, o que gera mobilizaes entre os participantes. PICHON-RIVIRE (2000, p. 143) aponta que, pela mobilizao das estruturas estereotipadas por causa do montante de ansiedade que desperta a possibilidade de mudana[1],chegamos a captar no aqui-agoracomigo e na tarefa do grupo, um conjunto de experincias, afetos e conhecimentos com os quais os participantes do grupo pensam e atuam,tanto em nvel individual como grupal. Frente ao exposto este estudo busca saber: qual a percepo dos participantes de grupos de gestantes sobre esta vivncia e qual a repercusso desta em suas vidas aps o trmino dos encontros? Considerando o objeto de estudo delineou-se para a investigao os seguintes objetivos: conhecer a percepo de gestantes e acompanhantes em relao vivncia em grupo de apoio psicoprofiltico gestao; identificar a repercusso desta vivncia na vida dos participantes aps o trmino dos encontros. CAMINHO METODOLGICO Considerando os objetivos deste estudo optamos pela pesquisa de natureza qualitativa., entendida conforme apontamentos de MINAYO (1994, b). A mesma caracteriza-se, ainda, como descritiva e exploratria em consonncia com GIL (1999), e do tipo estudo de caso, considerando as idias de BODGAN; BIKLEN (1994). Nesta pesquisa, o caso em estudo o Curso de Preparao para o Parto e Noes de Puericultura, implementado pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJU., a partir do ano de 1992 por professores do Curso de Graduao em Enfermagem (VAN DER SAND, 1994), e que ser referido aqui como Grupo de Gestantes. O grupo de gestantes, em estudo, do tipo homogneo, em virtude do fato de seus participantes compartilharem de uma mesma vivncia: a gestao. Esta atividade grupal caracterizada como operativa, teraputica, pois centrase na socializao da vivncia da gestao, caracterstica baseada em apontamentos de PICHON-RIVIRE (2000) e de CAVALCANTE (1999). Alm da gestante, permite a participao de um acompanhante, os quais podem falar sobre a vivncia da gestao, trocar informaes e aprender sobre ela. Tem a coordenao de profissionais de sade. O nmero de participantes varia de cinco a doze, incluindo os acompanhantes. Os encontros so semanais, em mdia oito, a depender da necessidade de cada grupo, sendo que a metodologia implementada baseia-se na abordagem de assuntos pr-definidos pela coordenao e discutidos com os elementos do grupo, referentes gravidez, parto e puerprio. Em geral, estes assuntos so acompanhados de tcnicas de animao grupal, com a finalidade de aquecer a inter -relao dos participantes. Vale ressaltar que, apesar da pr-definio de temas, o enfoque est voltado para assuntos que emergem do prprio grupo.

Os sujeitos deste estudo, escolhidos aleatoriamente, so gestantes e/ou acompanhantes que participaram de uma das edies do Grupo de Gestantes da UNIJU, em nmero de sete (determinado pela saturao dos dados), sendo seis mulheres (uma av e cinco ex-gestantes) e um homem (pai). Para participar do estudo os sujeitos deveriam ter freqentado pelo menos uma das edies do Grupo de Gestantes, em que a pesquisadora, que faria a coleta dos dados, no se fazia presente, alm de estar cientes dos requisitos e normas adotadas na pesquisa, bem como, desejar participar dela. A coleta de dados se deu pela entrevista, gravada em audiotape, com pergunta aberta, em consonncia com apontamentos de MINAYO (1994), tendo como pergunta norteadora: Conte-me como foi para voc ter participado de um grupo de gestantes? Se o sujeito no discorresse sobre as repercusses da atividade em sua vida, fez-se a seguinte questo: Voc julga que houve alguma repercusso desta vivncia na sua vida? Se sim, fale-me sobre isso. Para a anlise dos dados utilizamos a tcnica de anlise de contedo de BARDIN (1977), que possibilita encontrar, conforme GOMES (2000), descobrir o que est por trs dos contedos manifestos. Foi utilizada a assinatura de um termo de consentimento livre e informado por parte dos sujeitos investigados, que continha dados acerca da relevncia da pesquisa, seus objetivos e metodologia e garantia-lhes anonimato, iseno de qualquer dano, bem como uso dos dados somente para fins cientficos. O termo, conforme preconiza a Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade do Ministrio da Sade, continha endereo para eventuais contatos dos sujeitos como as pesquisadoras. Os dados do estudo, aps anlise, foram expostos aos sujeitos a fim de que fossem validados, o que se deu atravs da assinatura de um termo de validao. Na transcrio dos fragmentos de falas foram utilizados codinomes especficos e diferentes para cada sujeito. RESULTADOS E DISCUSSO Aps a leitura exaustiva das entrevistas, procuramos apreender nas falas dos sujeitos as idias relacionadas e agrup-las em temticas, de acordo com a similaridade das informaes. Desta forma, emergiram quatro temticas de anlise, das quais discorremos sobre duas: o grupo: um espao de conhecimentos, de trocas e de vnculos; o grupo e as repercusses na vida dos participantes. TEMA 1: o grupo: um espao de conhecimentos, de trocas e de vnculos entre os participantes Embora o enfoque central do grupo de gestantes no seja a transmisso de informaes, surgem diversas situaes, durante as atividades realizadas no campo grupal, em que a quantidade de informaes manifestas substancialmente importante e indispensvel de serem trabalhadas no momento vivido pelo grupo, uma vez que emergem deste. Neste sentido vale

lembrar de MUNARI & RODRIGUES (1997, p. 19) quando referem que embora a informao cognitiva seja condio necessria para a mudana de comportamento, na maioria das instncias, por si s no suficiente para alterar a postura dos participantes, frente ao assunto. Poucas pessoas mudam apenas pela informao recebida. Porm, percebemos que a troca de conhecimentos possui tambm importante papel na dinmica grupal, pois os participantes encontram no grupo local onde podem expressar suas dvidas e buscar a melhor forma de solucion-las ou no. uma importncia muito grande, porque te d uma tranqilidade e algumas coisas, ... Esclarece algumas coisas que voc tem dvida, e voc pode indagar estas coisas. (Castor). Conforme expressa Castor, o grupo d a possibilidade de manifestao de dvidas e dificuldades de cada um e de todos. Isso porque trabalha a partir de uma situao concreta expressa no aqui e agora do grupo, o que facilita o entendimento e a adeso aos conhecimentos (re)velados por parte das pessoas envolvidas. Ter idia das situaes futuras da gestao e mesmo daquilo que ocorrer aps a mesma traz bem-estar e tranqilidade s pessoas grvidas. Este tipo de informao no sugestiona as pessoas, ao contrrio, previne a instalao de ansiedades desnecessrias, provocadas pelo desconhecimento das situaes prprias da gravidez, parto e puerprio (VILA, 1998). Pra ver coisas novas, porque por ser uma gravidez no... vamos dizer assim... ocorrem alteraes n, e pra mim, as duas gestaes foram muito bem, ento eu no tinha nada de alterado, e... o mais importante compartilhar as coisas novas que a gente aprende. (Hyades) A necessidade de aprender e de ver coisas novas nos parece estar intimamente relacionada idealizao das pessoas grvidas de seu futuro enquanto pais e avs. As pessoas quando se projetam enquanto pai/me ideal buscam no grupo um lugar para aprender a lidar com estes novos papis. Foi interessante nesse sentido assim [...] at vrias coisas que eram faladas a gente j sabia, mas eu tentei fazer, passar por aquele momento assim, fazendo de conta que eu no sabia de nada, e ser s grvida mesmo e estar participando da experincia de compartilhar com outras mulheres, com maridos n, que tinha l, tinha avs tambm, com as colegas que estavam na coordenao, com os estagirios que estavam l tambm participando. (Polaris) A expresso de Polaris revela o aspecto da universalidade, expressa por Yalon apud MUNARI & RODRIGUES (1997) como um dos fatores teraputicos dos grupos. Conforme esta autora, a universalidade se coloca durante a interao grupal, quando os seus participantes conseguem se dar conta de que no so os nicos que tm dvidas e ansiedades e essa percepo parece ser reconfortante, trazendo esperana de que as coisas podem ser diferentes.

 interessante apontar que Polaris, apesar de ser profissional de sade, e j ter conhecimento de vrias temas discutidos no grupo, expe a necessidade de ser s grvida e ser vista como as outras, expressando o quanto a universalidade realmente teraputica, em se tratando de um grupo de iguais e que vivenciam as mesmas alegrias e dificuldades. A questo da interdisciplinaridade da equipe de coordenao do grupo pode ser percebida tambm como fator significativo para os participantes, uma vez que, conforme expressa a fala dos entrevistados, a abordagem de outros aspectos que no s queles relativos gravidez orgnica considerada como fator positivo. A gente aprendeu fazer alongamentos, tipos de alongamentos, as formas, depois com o passar do tempo e das semanas, que ia se chegando perto da, do beb nascer, como dormir com mais tranqilidade n, ento at foi interessante. A gente tambm fazia tcnicas de grupo, onde a gente pde montar, desde o cardpio da gestante, estas coisas, da alimentao o que pode, o que se pode cuidar, essas coisas. (Canopus) Salientamos que o grupo em estudo tem se configurado, ao longo dos anos, de forma interdisciplinar, sendo que, na poca da participao dos sujeitos entrevistados, a coordenao dos encontros se dava por professores e acadmicos dos cursos de Enfermagem e de Nutrio e contava-se com um profissional da Educao Fsica. Atualmente a atividade conta tambm com a Fisioterapia e a Psicologia, sem a figura do professor de Educao Fsica. Conforme explicitado por CAMPOS et al (2003), mulher/companheiro que se encontram esclarecidos e informados e que tiveram a oportunidade de falar sobre seus anseios e planos em prol de dar termo gravidez, tornam-se menos ansiosos e o medo frente ao desconhecido tende a diminuir. Assim, abordando a gravidez de forma holstica, atravs de grupos coordenados por equipes interdisciplinares, favorecido um melhor entendimento do momento vivido, j que se trata dos temas trazidos pelos participantes. VILA (2000) pondera que as informaes oferecidas pelo profissional devem ser acompanhadas de reflexo, acerca dos sentimentos suscitados em cada pessoa ou casal diante destas informaes. Tais idias corroboram os princpios que pautam as aes do grupo estudado, visto que cada profissional da equipe de coordenao utiliza-se de seu ncleo de conhecimento no sentido de acolher as manifestaes ali expressas, desenvolvendo sua funo de Egoauxiliar. Para ZIMERMAN & OSRIO (1997) este um dos atributos necessrios a um coordenador de grupo, quando empresta, por algum tempo, suas funes de Ego, s pessoas que ainda no as possuem. Assim, auxilia o grupo a pensar seus sentimentos: Foi abordado todo o aspecto, eu acho que no chegou a faltar nada, sabe. (Quasar) A percepo do grupo como completo, como expressa Quasar, tem relao com a questo do aprendizado, mas tambm com o acolher daquele momento, vivido pelos participantes, de forma integral e satisfatria, o que vai

alm da aquisio de conhecimentos. MUNARI & RODRIGUES (1997) apontam a importncia daquilo que se aprende com o prprio movimento do grupo, pois atravs destas vivncias que as pessoas podem aprender como so vistas pelas outras pessoas, como elas se colocam frente a si prprias, frente aos outros e, ainda, porque agem de determinada forma em seus relacionamentos. O fato de perceber a si prprios e aos outros faz com que as pessoas, que passam por um momento de crise, possam ter a oportunidade de reajustar-se s novas realidades, uma vez que os grupos de gestantes oferecem essa possibilidade. Cabe destacar que a gestao um perodo de crise, por constituir-se num momento de transio do que est em vigor, para o que ir vigorar, re-significando vivncias. O contexto grupal caracterizado por trocas entre seus participantes e este revela-se um dos principais potenciais teraputicos do grupo em questo, pois atravs das trocas que ocorre a maioria das configuraes j descritas e importantes neste campo grupal. Ento a pergunta, da a gente falava, da s vezes quem orientava ainda falava alguma coisa, tinha uma parte, e depois tinha uma socializao, mas todo mundo participava, porque na verdade um perguntava alguma coisa duma prtica daquelas, ou, viu algum passar por aquilo e, sempre colocavam uma experincia. Isso uma coisa muito (se referindo as trocas citadas anteriormente) positiva n, porque isso vem enriquecer o grupo, porque a gente consegue absorver que aquilo que elas estavam colocando, de fato era o que estava acontecendo, eu acho um trabalho bem bonito. (Canopus) A comunicao entre os membros do grupo uma das oportunidades mpares que o campo grupal propicia. A comunicao expressa neste tema no se constitui apenas na expresso verbal dos componentes do grupo e sim, tambm, na no verbal, pois esta segunda, muitas vezes, tanto ou at mais importante do que o expresso verbalmente, demandando sensibilidade para interpret-las. Nos grupos homogneos, como no caso do grupo de gestantes, onde todos os participantes compartilham da mesma situao - a de gestar -, um elemento considerado teraputico que deve ser valorizado o fato de compartilharem uma linguagem comum, o que faz com que, mutuamente, se sintam acolhidos, respeitados e, sobretudo, compreendidos (ZIMERMAN & OSRIO, 1997, p. 122). PICHON-RIVIRE (2000, p. 174) corrobora afirmando que de acordo com a teoria da informao, o que permite ao receptor que compreenda a mensagem transmitida pelo transmissor, atravs de operaes de codificao e decodificao, uma semelhana de esquemas referenciais. Constata-se que a expresso de um dos componentes do grupo faz com que os outros identifiquem, neles mesmos, a vivncia da mesma situao. Desta forma alm da universalidade, o grupo em estudo configura-se no que ZIMERMAN (2000) aponta um espao de ressonncias, o que consiste no fato de que, como um jogo de diapases acsticos ou de bilhar, a comunicao trazida por um membro do grupo ressoa em outra, a qual, por sua vez,

transmite um significado afetivo equivalente, ainda que embutido numa narrativa de embalagem bem diferente (ZIMERMAN, 2000). um momento mais do que a coisa assim do que aprender coisas, n? Tem a coisa de tu v o que os outros te dizem de como que foi a passagem por esta experincia [...] O fato de contar coisas pra algum, como que tu faz, talvez ajude a que elas tambm se tranqilizem ou repensem o jeito que esto fazendo, considerem aquilo, decidam por aquilo que esto fazendo tambm. (Polaris) A partir das trocas de experincias, as pessoas participantes do grupo apreendem o que consideram importante para si, tm a oportunidade de elaborar e re-significar a sua prpria vivncia enquanto pai e me, e executlas, se assim o julgarem pertinente. Este processo tem vinculao com o que PICHON-RIVIRE (2000) chama de esquema conceitual referencial operativo (ECRO), fator essencial para que haja aprendizagem da realidade. Atravs dele, cada integrante do grupo traz um esquema referencial prprio (experincias, sentimentos...) que interage com o dos outros participantes do grupo, atravs de um movimento espiral, configurando-se o ECRO. Este se constitui extremamente importante na medida em que se estrutura como um processo contnuo e com oscilaes, aberto a conhecimentos e questionamentos. claro, na expresso de Polaris, que no grupo realmente se configura a possibilidade de formao do ECRO. Porm, preciso levar em considerao que a mudana de um esquema referencial exige a interao subjetiva dos componentes do grupo e que esta ocorre gradativamente ao longo dos encontros. Porm, no significa que todos passem a pensar de uma mesma maneira aps o processo de formao de um novo esquema referencial. CAVALCANTE (1999, p. 35) afirma que unidade no significa, no sentido dialtico, excluso de opostos, de conflitos, mas inversamente a unidade inclui e implica a existncia de opostos em seu seio. O que se prope, na verdade, o questionamento dos comportamentos, crenas e afetos de cada um, a fim de romper esteretipos. O potencial teraputico se d no momento em que cada pessoa grvida tem a possibilidade permanente de rever seu prprio referencial, a partir da experincia de cada componente do grupo. Isso pode se configurar dentro ou fora dele. A ansiedade tambm emerge no contedo das falas com intensidade, sendo importante atentar para o fato de que tal manifestao intensificada no perodo gravdico, tanto pela gestante, como pelos seus familiares. Na maioria das vezes, a ansiedade se relaciona com o desconhecimento do novo, das situaes que esto vivenciando e daquelas que ainda iro vivenciar enquanto me, pai, av entre outros. Srius contribui para esta percepo. , e a parece que tu tem que ir l pra aprender alguma coisa, e na realidade no, o que tu vai, o que vai acontecer l, trocar experincias e, assim uma coisa que eu me lembro, era a ansiedade que todo mundo tinha. Acho que l, eu no tenho bem certeza, mas eu acho que no nosso grupo, a maioria era...

primeiro filho, sabe. Ento, todo mundo, um mais ansioso que o outro n, mas foi muito... muito legal. (Srius). Segundo NINA (1997, p.90), a ansiedade um estado mental ligado s emoes e coexistncia de sentimentos, conscientemente perceptveis relacionados causa especfica: o perigo. As ansiedades, segundo PICHON RIVIRE (2000), so de dois tipos: depressiva, expressa com o medo da perda de uma determinada condio e, a paranide frente ao medo do ataque da situao a ser instaurada. Consideramos que a presena de ansiedades importante e necessria para uma boa condio de elaborao da nova condio de pai e de me. PICHON-RIVIRE (2000), ao mencionar a presena de ansiedade, refere que ela se configura como um mecanismo de segurana patolgica. justamente a respeito dessas ansiedades que trabalha o grupo de gestantes, oferecendo a oportunidade para as pessoas elaborarem a melhor forma de minimiz-las, atravs do compartilhamento das mesmas. Ocorre que mexendo nos esteretipos de cada um, o grupo pode enfrentar, ento, as situaes de mudana. Depreende-se do depoimento de SRIUS que todas eram primigestas e vivenciavam ansiedades em comum, o que revela a funo de espelho que cada pessoa grvida representa ao grupo. Esta funo para ZIMERMAN E OSRIO (1997, p.121) conseqncia do jogo contnuo de identificaes projetivas e introjetivas colocadas no campo grupal. Para estes autores tratase de uma expresso muito feliz, pois ela traduz a ao teraputica do grupo, que se processa atravs da possibilidade de cada um mirar e se refletir nos outros e, especialmente, de poder reconhecer no espelho dos outros, aspectos seus, que esto negados em si prprios. A atividade grupal coloca -se como possibilidade, a cada componente, de discriminar, afirmar e consolidar a sua prpria identidade. Ainda em relao s ansiedades expressas no grupo, gostaramos de acrescentar, como funo deste tambm, a de ser um continente das manifestaes de cada um dos participantes. ZIMERMAN (2000), ao se referir funo de continente do grupo, compara esta aos cuidados de uma me em relao ao seu filho, a qual acolhe as necessidades, decodifica o significado delas e lhe d um sentido e, em seguida, devolve transformada e apropriada s condies da criana. Assim, o grupo possui a tarefa de acolher as angstias e necessidades dos participantes, reconhecer e aceit-las e devolver a cada um a possibilidade de mudana. Muito do que foi descrito e analisado at agora est expresso na fala de Canopus, revelando que a atividade em estudo trata-se de um grupo, e no de um curso. Vale considerar que hoje esta atividade recebe o nom e de Grupo de Gestantes e Familiares, pois seus coordenadores julgam ser a que melhor se adapta as caractersticas da mesma. O curso, pra mim, uma coisa que tu vai independente de tu atingir a tua expectativa ou no. Agora, o grupo no! Grupo aquele, assim, que tu t louca pra se encontrar, tu vai se reunir, tu vai colocar as tuas expectativas, n, os pontos negativos. At porque a gente socializa muito [...] Ento, eu vejo como

grupo quando voc consegue abrir as coisas pro grupo. J se fosse curso, no.(...). No grupo voc tem necessidade de ir, socializar, por mais que daqui a pouco tu vai fugir daquilo, da regra do dia n (do tema agendado para o encontro), o que tava pr-determinado. Daqui a pouco, muitas vezes, a gente fugia, ns fizemos ... no final ns fizemos dois encontros a mais, porque acabamos pegando ganchos daquilo que era colocado, e da a gente no terminava mais, cada uma queria colocar, cada uma queria falar, dizer sua experincia, no caso a M. j tinha filhos, ento colocava experincias tambm dos manos, com os futuros bebs, uma experincia bem bacana. (Canopus). clara a pertencncia de Canopus ao grupo ao qual integrou-se durante a gestao. CAVALCANTE (1999, p. 30) indica que a pertena (ou pertencncia) consiste no sentimento de fazer parte de um grupo, podendo, neste momento, ocorrer uma identificao mais intensa com os processos grupais. Isso importante e necessrio para a configurao de muitos aspectos teraputicos do grupo em questo. A interao entre os participantes do grupo, expressa positivamente por Canopus, tem relao com a vinculao (vnculo) que se configura entre os participantes. A colaboradora sente o grupo como dela, no qual deposita expectativas e consegue sentir-se vontade, reforando a questo da pertencncia e da funo continente do grupo em estudo. O termo vnculo, utilizado neste estudo, est relacionado forma de ligao entre partes que esto unidas e inseparveis, mesmo visivelmente delimitada entre si (ZIMERMAN, 2000). Este mesmo autor introduz o vnculo do reconhecimento nas inter-relaes pessoais[2], aspecto importante nas relaes vinculares apresentadas no grupo em questo. Para o autor, em uma atividade grupal pode haver: o re-conhecimento, relacionado ao fato de que todo conhecimento novo um reconhecimento de prvias represses, reminiscncias e pr-concepes; o reconhecimento do outro necessrio para o crescimento mental do indivduo, que reconhece que o outro no um mero espelho seu, que autnomo e tem valores diferentes dos seus; ser reconhecido aos outros, que se refere ao desenvolvimento de sua capacidade de considerao e de gratido em relao presena dos outros; e o quarto e ltimo o de ser reconhecido pelos outros, que se relaciona ao fato de as pessoas necessitarem ser reconhecidas para a manuteno da auto-estima. Ser reconhecido e valorizado pelos demais e saber que ele realmente existe como uma individualidade uma necessidade humana (ZIMERMAN, 2000). As expresses que seguem parecem evidenciar o vnculo do reconhecimento aludido anteriormente, em seus diferentes aspectos: Ento cada dia que tinha curso a gente esperava o dia chegar, pra fazer, pra poder se encontrar com o pessoal, com os colegas. (Hyades) Acho que acabei deixando as outras preocupadas, porque elas estavam l no grupo e, as duas semanas que eu no fui, elas estavam preocupadas comigo, tanto que elas me ligavam: ah! Como que tu t, ai que pena, n, no deu pra ti vir, a gente sentiu assim que... como que eu vou te dizer, a gente tinha

muitas afinidades no grupo n, porque a gente contava a vivncia nossa do dia-a-dia uma pra outra, e isso circulava, n? (Canopus) As relaes vinculares estabelecidas no grupo tm ligao tambm com a coeso grupal, expressa por Yalon apud MUNARI & RODRIGUES (1997, a) como fator curativo dos grupos operativos. A coeso do grupo congrega os vnculos entre todos os participantes e a manuteno desta condio garante muitas caractersticas do grupo, como suas facilidades, dificuldades, valores, compromisso e confiana mtua. A coeso grupal percebida nas colocaes de Canopus e Hyades, que expressam claramente suas vinculaes com o grupo e o quanto isso lhes era importante. PICHON-RIVIRE (2000), ao se referir a essa sensao de pertencer a um grupo, refere que o sujeito participante tem a possibilidade de adquirir uma identidade, uma referncia bsica, que lhe permite localizar-se situacionalmente e elaborar estratgias para mudanas, o que refora a importncia de atividades de natureza grupal operativa junto a gestantes e seus familiares, os quais passam por uma situao vivencial transitiva em suas vidas, e que portanto indica possibilidade de mudanas. TEMA II - O GRUPO PARTICIPANTES E AS REPERCUSSES NA VIDA DOS

Aps o trmino de cada edio do grupo em estudo os participantes deixam de se encontrar e retornam para o cotidiano, sem a convivncia com os colegas de grupo. Porm, foi possvel compreender que a convivncia no grupo trouxe repercusses para a vida dos participantes, mesmo aps desligarem-se dele. Algumas destas repercusses so percebidas pelos participantes logo aps o final da edio do grupo, como o caso daquelas relacionadas ao momento do parto. Acho que muita da nossa experincia do parto, de ter sido tranqilo, um pouco pelo meu jeito, um pouco pelo curso, tambm acho que foi muito legal, foi tranqilo sabe, rpido, depois diferente, mas antes a preparao assim foi legal acho que foi muito interessante, acho que eu aproveitei muitas coisas do curso nesse momento, especialmente no momento do parto n tambm. (Polaris) No grupo h tambm ocorre uma visita s maternidades do municpio, a fim de que os participantes tenham noo mais aproximada do que podero passar durante o parto, podendo optar pela unidade hospitalar que considerarem adequada. VILA (1998) menciona que a esta visita funcionaria de modo a facilitar um ensaio psicolgico das pessoas grvidas para poderem lidar com o momento do parto, atenuando a ansiedade, conhecendo as vantagens de cada tipo de parto e trabalhando as vivncias despertadas por cada tema. O desenvolvimento de tranqilidade, aps conhecimento do novo, parece ter repercusses tambm no pai/companheiro, conforme expresso nas falas. Em este estando tranqilo, conseqentemente transmite segurana mulher durante o processo de nascimento, tornando esta experincia menos

traumatizante, de modo a deixar marcas internas mais positivas nos sujeitos que protagonizam este momento me, pai, filho. Em uma vez tu participando, tu tira tua curiosidade, voc tira suas dvidas e, voc fica tranqilo, como eu dizia, voc fica tranqilo, para que no momento do parto voc d tranqilidade para sua esposa e, d tranqilidade pro mdico, e, eu vi essa importncia, n? (Castor) Na medida em que adquirem uma viso ampliada do momento do parto, o que se d atravs das trocas de experincias ocorridas no grupo a este respeito e, tambm, pela visita s maternidades, os companheiros parecem mostrar-se empticos e colaborativos na vivncia do nascimento, se relacionando tambm melhor com a equipe de sade que os assiste. Este aspecto contribui para a efetivao de um clima de harmonia, importante para este momento existencial transitivo, to significativo na vida das pessoas. E se pr no outro lado (refere-se a ser emptico com os profissionais de sade), pra ver como que seria n? Se pr no lado do mdico, se pr no lado da enfermeira, porque, muitas vezes, a gente quer o resultado final, que o nascimento bem, coisa e tal, mas a gente no percebe que tem todo um contexto que trabalha pra que isso acontea bem n. Se o mdico tiver mal humorado j comea mal a n? Se a enfermeira no estiver bem n, [...] tambm isso importante, tem todo um contexto que envolve o parto, no vai l e nasceu n e, em a gente estando tranqilo, passa essa tranqilidade tambm, eu vejo assim (Castor). Estudo realizado por Brown ad CURY (1995), com 64 primparas, que buscou avaliar a relao psicolgica da mulher e o uso de drogas no trabalho de parto, evidenciou que as caractersticas psicolgicas da gestante tm relao direta com a quantidade de analgsico necessrio para aliviar a dor no momento do parto. Pensamos que, de acordo com esse resultado, refora-se a necessidade e a importncia da ateno mulher/companheiro, durante o perodo que antecede ao parto, de forma realmente integral, abrangendo tambm os aspectos emocionais e psicolgicos da mulher/companheiro grvidos. Percebemos que os grupos de gestantes oferecem essa possibilidade a seus participantes. Porm, importante considerar que, de maneira nenhuma, inteno do grupo de gestantes atingir a perfeio dos futuros pais. Ao contrrio, tenta-se fazer deste espao um local onde possam ser reveladas as limitaes, as dificuldades e os temores de cada um e do grupo como todo. Desta forma, tenta-se, no campo grupal, elaborar estas manifestaes, de modo que homens e mulheres possam vivenciar, tambm, o momento do nascimento e a maternidade/paternidade, propriamente ditos, do modo mais positivo possvel. VIOSA (1997, p. 308) contribui aludindo que uma boa preparao deve utilizar-se de um momento psicolgico de intensa sensibilidade, para explorar, conhecer e orientar as gestantes, com o objetivo de ampliar ou criar um espao psicolgico necessrio interao com o(a) filho(a).

Alm das repercusses suscitadas no momento do parto, possvel apreender que a convivncia grupal tem conseqncia tambm para a vida dos seus participantes, principalmente no que se refere compreenso da importncia que um momento de trocas possui para as pessoas. Eu percebo que foi importante para mim, que eu acho que mudou mesmo o fato de eu valorizar esta coisa... assim sabe, de eu valorizar esta coisa do compartilhar, esta coisa das experincias, da conversa, da reflexo, de trocar coisas, n, mesmo (...) Acho que mudou porque eu consegui ser mais assim, ah... Apesar de, nos primeiros tempos, stress... mas depois tu consegue ter a mente mais aberta um pouquinho, e, acho que entender tambm... Sabe, que no s um tem razo ou o outro, mas tambm de estar, assim... como a gente falava muito n, tem uma famlia inteira envolvida no cuidado da criana, no s a me, no s o pai, mas tambm tem... no s a criana o centro de todas as coisas, mas tambm a mulher o centro das diversas coisas que acontecem durante a gravidez n, e isso uma coisa que eu passei a fazer diferente tambm depois do curso, depois do grupo. (Polaris) Pelo fato de tu conhecer outras pessoas, outras experincias, porque assim, l tu vai ver que, assim, que cada pessoa tem um objetivo e pensava alguma coisa ou pros filhos, pra sua vida n, de repente estava com a... como que eu vou dizer, tinha uma esperana naquele filho n. Tem uns que pensavam assim: h! Vou fazer um filho pra construir um mundo melhor, sabe, assim, aquela coisa de... a tu fica olhando a vida de cada um, as suas experincias. (Srius) Os sujeitos do estudo revelam que tiveram a oportunidade de mudar a qualidade de suas vivncias, o que refora a possibilidade oferecida pelo grupo de fazer (re)conhecimentos de cada um e dos outros, o que importante para o crescimento enquanto pessoas e enquanto integrantes de uma famlia e de uma sociedade. MUNARI & RODRIGUES (1997) indicam que as mudanas configuradas no campo grupal podem ser classificadas como mudanas em relao a si mesmo, em relao s pessoas sua volta e com relao ao meio em que vivemos. A convivncia em grupo tanto foi significativa para os entrevistados, que estes colocam e do nfase importncia de que todas as pessoas pudessem participar deste tipo de atividade, demonstrando e reforando o valor que esta representou para a sua vivncia enquanto pessoa. Eu indiquei o curso para vrias pessoas, porque um momento tambm de voc, no grupo colocar os teus anseios, as tuas dvidas (...) ento, sempre tu vai indicar n, porque aquilo que bom pra gente, a gente quer que as outras pessoas conheam n, ento claro que indicaria, n? (Canopus) Foi bem completo, de verdade, assim, eu sinto pena das mes que no participam, que a gente sempre tem alguma coisa pra aprender e trocar, foi excelente. (Quasar)

A oportunidade de participar do grupo de gestantes parece, na voz dos sujeitos do estudo, vir enriquecer e complementar a assistncia pr-natal individual, no significando que se baste por si mesma, mas evidenciando seu valor como prtica que vem a somar na ateno mulher/companheiro grvidos, ressaltando a importncia da integralidade da assistncia. CONSIDERAES FINAIS A gravidez um perodo de constantes modificaes fsicas, psicolgicas e sociais na vida da mulher grvida e dos que a cercam, em especial o companheiro/futuro pai. A condio de gestar um filho gera necessidade de adaptao s novas condies e papis de me, pai, av, etc. Por esta razo, as pessoas envolvidas buscam maneiras de viver estes momentos de modo a minimizar ansiedades, fantasias e temores manifestos em relao ao processo de nascimento. O grupo de gestantes uma dessas maneiras, em que atravs de um jogo de iguais, h condies para a formao de um espao de considervel poder teraputico para seus participantes. Este potencial se legitima na medida em que possibilita s pessoas, ao interagir no campo grupal, elaborem seus sentimentos em relao ao momento vivido. Na conivncia grupal h a possibilidade de gerao de conhecimentos, uma vez que nela so expressos saberes de cada um. A mobilizao destas informaes permite um melhor entendimento do momento vivido pelo grupo e facilita a adeso aos conhecimentos revelados. Esta condio ajuda a consolidar a capacidade de cada participante em acolher e cuidar paternalmente e maternalmente do filho que est por vir. A formao de um espao de trocas de experincias e vivncias no campo grupal se configura em condio indispensvel para a mobilizao dos esteretipos de cada um, o que ajuda cada participante a enfrentar as situaes de mudana, uma vez que tende a re -significar suas vivncias atravs do reconhecimento dos outros e de si. Pensamos, que a atividade grupal deveria ser mais explorada, em especial pelos profissionais de sade, pois se conforma em espao singular para mudanas, podendo ser utilizado como importante recurso para assistir as pessoas. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS VILA, A. de. Socorro doutor: atrs da barriga tem gente. So Paulo: Atheneu, 1998. BARDIN, L. Anlise de contedo. Lisboa: Edies 70, 1977. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigao qualitativa em educao: uma introduo teoria e aos mtodos. Trad. Maria Joo Alvarez, Sara Bahia dos Santos, Telmo Baptista. Portugal: Porto Editora, 1994.

CAMPOS, I. F.; SARTORI, G. S.; VAN DER SAND, I. C. P. Grupos de gestantes e familiares: uma alternativa de ateno interdisciplinar. [projeto de extenso do Departamento de Cincias da Sade, UNIJU]. Iju: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Vice Reitoria de Ps Graduao e Pesquisa, 2003. CAVALCANTE, M. B. G. O grupo operativo como estratgia de assistncia de enfermagem: a prtica revelando caminhos para a mudana no cotidiano de pacientes com transtorno mental. So Paulo, 1999, 229p. Dissertao (Mestrado). Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. CURY, A. F. Psicodinmica da gravidez. In: TEDESCO, J. J. de A.; ZUGAIB, M.; QUAYLE, J. Obstetrcia psicossomtica. So Paulo: Atheneu, 1997. p. 7784. GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. 4. ed. So Paulo: Atlas, 1995. GOMES, R. A anlise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, M. C. (org.) Pesquisa social: teoria, mtodo e criatividade. Petrpolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000. cap. 4. p. 67-80. JENERAL, R. B. R. Vivendo um futuro incerto: a vivncia da gravidez em uma comunidade. So Paulo, 2000, 189p. Dissertao (Mestrado), Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em sade. 3. ed. So Paulo, Rio de Janeiro: Hucitec Abrasco, 1994. MUNARI, B. D.; RODRIGUES, A. R. F. Enfermagem e grupos. Goinia: AB, 1997.(a) MUNARI, D.B.; ZAGO, M. M. f.; Grupos de apoio/suporte e grupos de autoajuda: aspectos conceituais e operacionais, semelhanas e diferenas . Revista de Enfermagem da UERJ. Rio de Janeiro. v.5, n.1, p.359-366, 1997. NINA, M. D. Estresse e ansiedade na gestao. In ZUGAIB, M.; TEDESCO, J.J.; QUAYLE. J. Obstetrcia Psicossomtica. So Paulo: Aheneu, 1997. PICHON-RIVIRE, E. O Processo Grupal. 6. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2000. VAN DER SAND, I. C. P. Curso de Preparao para o Parto e Noes de Puericultura como Atividade Curricular na Formao de Enfermeiros . Municpio e Sade. v. 1, n. 3, p. 4650, 1994. VIOSA, G. R. Grupos com gestantes. In ZIMERMAN, D. E.; OSRIO, L. C. Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997.

ZIMERMAN, D. E.; OSRIO, L. C. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos bsicos das grupoterapias. 2. ed . Porto Alegre: Artes Mdicas, 2000.
Texto recebido Aprovado para publicao em 31/08/2004
1

em

22/06/2004

Este artigo origina-se de pesquisa intitulada Nasce um pai, uma me, uma av... o grupo de gestantes como um espao de re-significar vivncias, fruto do Trabalho de Concluso de Curso, requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em Enfermagem, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
2

Enfermeira graduada pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJU, auditora e responsvel pela organizao de grupos operativos em sade na UNIMED de Santa Rosa/RS.
3

Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Cincias da Sade, da UNIJU, Iju, RS. e-mail: isabel@unijui.tche.br

[1]

Manifestada neste perodo pela possibilidade de alterao de papis, descrita anteriormente, conseqente da chegada de um novo membro famlia.
[2]

Alm dos vnculos L e H, e o vnculo K, respectivamente descritos por Freud e Bion (ZIMERMAN, 2000).