SOBERANIA DIVINA

Sermo (N. 77) Domingo, 04 de Maio de 1856 REV. C. H. Spurgeon Capela de New Park Street, Southwark - Inglaterra No me lcito fazer o que quiser do que meu? Mateus 20:15

O chefe de famlia diz: No me lcito fazer o que quiser do que meu? e o Deus dos cus e da terra te faz esta mesma pergunta nesta manh. No me lcito fazer o que quiser do que meu? No existe atributo de Deus que oferea mais conforto aos seus filhos do que a doutrina da Soberania Divina. Nas circunstncias mais adversas, nas mais severas inquietaes, eles crem que a Soberania ordenou as suas aflies, acreditam que ela as governa e os santificar completamente. No existe outra coisa pela qual os filhos de Deus devam mais ardentemente contender do pelo assunto referente ao domnio de seu Mestre sobre toda a criao a majestade de Deus sobre todas as obras de suas prprias mos e pelo assunto referente ao trono de Deus, e ao Seu direito de assentar-se sobre esse trono. Por outro lado, no h doutrina mais odiada pelos mundanos, nem uma verdade com a qual eles mais brincam do que a grande e estupenda, mas, todavia mui certa doutrina da Soberania do infinito Jeov. Os homens permitem que Deus esteja em qualquer lugar, exceto em Seu trono. Permitem que Ele esteja em Sua oficina, moldando os mundos e criando as estrelas. Permitem que Ele esteja em Sua entidade filantrpica para dispensar Suas esmolas e conceder Suas generosidades. Permitem que Ele mantenha firme a terra e sustenha os pilares dela, ou que ilumine as lmpadas do cu, ou governo as ondas do oceano inquieto; porm, quando Deus ascende ao Seu trono, Suas criaturas ento rangem os dentes; e, quando proclamamos um Deus entronizado , e Seus direitos de fazer o que quiser com o que Seu, de dispor de Suas criaturas como considerar melhor, sem consultlas a respeito do assunto, ento, nesse momento somos vaiados e execrados, e os homens tapam os ouvidos para ns, porque o Deus que est em Seu trono no o Deus que eles amam. Eles O amam em qualquer lugar, exceto quando Ele se assenta no trono, com Seu cetro em Suas mos e Sua coroa sobre a cabea. Mas um Deus entronizado que amamos pregar. Deus sobre o Seu trono em quem confiamos. Deus sobre o Seu trono de quem temos cantado esta manh; e Deus sobre o Seu trono de quem falaremos neste discurso. Tratarei somente, contudo, sobre a parte da Soberania de Deus, isto , a Soberania de Deus na distribuio de Seus dons. Neste respeito creio que, Ele no somente tem o direito de fazer o que Ele quiser com o que Seu, mas que, na realidade, exerce esse direito. Devemos assumir, antes de comear o nosso discurso uma coisa certa, a saber, que todas as bnos so dons e que no temos nenhuma reivindicao delas por nossos prprios mritos. Penso que toda pessoa que considera os fatos concordar. E sendo isto admitido, nos esforaremos para mostrar que Ele tem um direito, vendo que eles so Seus para fazer o que Ele quiser com eles reter deles totalmente como Lhe agradar distribuir para com todos eles se Ele escolher dar a alguns e a outros no dar a ningum ou a todos, segundo parea bom a Sua vista. No me lcito fazer o que quiser do que meu?

Dividiremos os dons de Deus em seis classes. Primeiro, temos dos dons temporais; em segundo lugar, os dons Intelectuais; terceiro, os dons salvficos; quarto, os dons honorficos; quinto, os dons teis; e em sexto lugar, os dons consoladores. De todos eles diremos: No me lcito fazer o que quiser do que meu?

I. Em primeiro lugar, ento, observemos os DONS TEMPORAIS. um fato indisputvel que Deus no tem, nas questes temporais, dado a todos os homens da mesma forma; que Ele no tem distribudo a todas as Suas criaturas a mesma quantidade de felicidade ou a mesma posio na criao. H uma diferena. Observe que diferena h nos homens pessoalmente (porque consideraremos os homens principalmente); um nascido como Saul, que era mais alto do que todo o povo desde o ombro para cima outro vive toda a sua vida como um Zaqueu um homem de baixa estatura. Uns tem uma estrutura musculosa e uma poro da beleza outros so fracos, e esto longes de ter qualquer estilo, formosura. Quantos encontramos cujos olhos nunca se regozijaram na luz do sol, cujos ouvidos nunca ouviram os encantos da msica, e cujos lbios nunca proporcionaram sons inteligveis ou harmoniosos. Andai por toda a terra e achareis homens superiores a vocs em vigor, sade e estilo, e outros inferiores nestas mesmas coisas. Alguns dos que esto aqui so preferidos muito acima dos seus semelhantes em sua aparncia exterior, e alguns so deixados de lado e no tm nada do que possam se gloriar na carne. Por que Deus tem dado beleza a um homem, e a outro no? A um todos os seus sentidos, e a outro s uma parte deles? Porque, em alguns, tem despertado o senso de apreenso, enquanto que outros so obrigados a ter uma mente entorpecida e teimosa? Respondemos: que os homens digam o que quiser, mas nenhuma resposta pode ser dada, exceto esta: Sim, Pai, porque assim te aprouve. Os antigos fariseus perguntaram: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Sabemos que no foi por causa dos pecados dos pais nem do filho, que ele nasceu cego, ou que outros tm sofrido aflies similares, mas que Deus est agindo segundo Lhe agrada na distribuio dos benefcios terrenos e, dessa forma, diz ao mundo: No me lcito fazer o que quiser do que meu?. Observe tambm, na distribuio dos DONS INTELECTUAIS, que diferena existe. Nem todos os homens so como Scrates; h poucos como Plato; podemos descobrir apenas aqui e ali um Bacon; apenas de vez em quando conversamos com um Sir Isaac Newton. Alguns tm um intelecto estupendo com o qual podem desatar grandes enigmas sondar as profundezas do oceano medir a altura das montanhas dissecar os raios solares e pesar as estrelas. Outros tm apenas mentes superficiais. Podeis educ-los e educ-los, mas nunca faro deles grandes homens. Vocs no podem melhorar o que no existe. Eles carecem de gnio, e vocs no podem conced-lo. Qualquer um pode ver que h uma diferena inerente nos homens desde o prprio nascimento. Alguns, com uma pequena educao, sobrepujam aqueles que tm sido treinados de forma elaborada. Tomai dois garotos, educados na mesma escola, pelo mesmo mestre, e que se aplicam aos seus estudos com a mesma diligncia mas, todavia, um deles superar o seu companheiro. Por que isto? Porque Deus tem declarado Sua soberania tanto sobre o intelecto como sobre o corpo. Deus no nos tem feito a todos da mesma forma, mas tem diversificado os Seus dons. Um homem eloquente como Whitefield; outro gagueja ainda que tenha que falar

apenas trs palavras de sua lngua materna. O que faz estas variadas diferenas entre homem e homem? Respondemos: devemos atribuir tudo isto Soberania de Deus, que faz o que quer com o que Seu. Notai, novamente, que diferenas h nas condies dos homens neste mundo . Mentes poderosas so de vez em quando descobertas em homens cujos membros esto vestindo as correntes da escravido, e cujas costas so oferecidas ao chicote eles tm pele negra, mas so no intelecto vastamente superiores aos seus brutais senhores. Assim, tambm, na Inglaterra; encontramos homens sbios frequentemente pobres, e homens ricos raramente no so ignorantes e vos. Um vem a este mundo para ser ataviado com a prpura imperial outro nunca vestir seno a humilde vestimenta de um campons. Um tem um palcio para morar e colcho de penugem para o seu repouso, enquanto outros encontram seno um lugar duro de descanso, e nunca ter um cobertor mais suntuoso do que as palhas de sua cabana. Se perguntarmos a razo disto, a resposta ainda : Sim, Pai, porque assim te aprouve. Assim, de outras maneiras voc poder observar na passagem pela vida como a soberania se manifesta. A um homem Deus d uma vida longa e uma sade uniforme, para que ele dificilmente conhea o que ter dias de enfermidade, enquanto outros cambaleiam atravs do mundo e encontram um tmulo a quase todo passo, sentindo milhares de mortes ao temer uma. Um homem, mesmo na extrema idade avanada, como Moiss, tem os seus olhos no turvados; e embora seu cabelo seja grisalho, ele permanece to firmemente sobre os seus ps como quando era um jovem na casa de seu pai. Onde, novamente perguntamos, est a diferena? E a nica resposta adequada : o efeito da Soberania de Jeov. Encontrareis, tambm, que alguns homens so tirados na aurora de sua vida na flor da juventude enquanto outros vivem alm dos setenta anos. Uma parte antes de alcanar o primeiro estgio de existncia, e outro tem sua vida prolongada at que se torne totalmente um fardo; devemos, eu compreendo, necessariamente traar a causa de todas estas diferenas na vida ao fato da Soberania de Deus. Ele o Governador e Rei, e no far o que quer com o que Seu? Passemos deste ponto mas antes devemos parar s um momento para aperfeiolo. Oh tu que tens sido dotado com uma nobre estrutura, um corpo formoso, no te glories nisto, porque teus dons vm de Deus. No te glories, porque se o fazes, tua formosura desaparecer num momento. As flores no se gloriam de sua beleza; no exultai, vs, filhos da formosura; e oh!, vs, filhos da fora e do intelecto, lembrem-se, que o que vocs tm foi concedido por um Senhor Soberano; Ele criou; Ele pode destruir. No h muitos passos entre a poderosa inteligncia e o idiota mais desvalido os pensamentos profundos beiram a insanidade. Seus crebros podem num momento ser golpeados, e daqui em diante serem destinados a viver como loucos. No te glories de tudo o que conheceis, porque at mesmo o menor conhecimento que tem, te foi dado. Portanto, digo, no te enaltea sobremaneira, mas use para Deus o que Deus te deu, porque um dom real, e tu no deves o colocar de lado. Mas se o Soberano Senhor tem te dado um talento, e no mais, no o enterre num lenol, mas use-o bem, e ento, pode ser que Ele te d mais. Bendiga a Deus, tu que tens mais do que os outros, e Lhe agradea tambm que tenha lhe dado menos do que os outros, porque tu tens menos o que carregar sobre os teus ombros; e como o teu fardo mais leve, menos gemereis em vosso caminho para a terra melhor.

Bendiga a Deus, ento, se possui menos do que teus companheiros, e veja Sua bondade tanto no reter como no conceder.

II. Em tudo quanto temos dito aqui, provavelmente a maioria est de acordo conosco; mas, quando chegamos ao segundo ponto, OS DONS SALVFICOS, um grande nmero de pessoas ficar contra ns, porque no podem receber nossa doutrina. Quando aplicamos esta verdade com respeito Soberania Divina na salvao dos homens, ento, encontramos os homens se levantando para defender os seus semelhantes, a quem eles consideram prejudicados pela predestinao de Deus. Porm, nunca ouvi de homens se levantando pelo diabo; e, todavia, creio que se algumas das criaturas de Deus tivessem direito de queixar-se de Seus tratamentos, estas seriam os anjos cados. Pelo seu pecado, eles foram arremessados do cu imediatamente, e no lemos de qualquer mensagem de misericrdia que tenha sido enviada a eles. Uma vez lanados fora, sua condenao foi selada; enquanto que aos homens Deus deu uma trgua, foi enviada redeno a seu mundo, e um grande nmero deles foram escolhidos para vida eterna. Por que no contender com a Soberania tanto num caso como no outro? Afirmamos que Deus escolheu um povo dentre a raa humana, e Seu direito de assim fazer negado. Mas eu pergunto: porque no se discute igualmente o fato de Deus ter escolhido homens e no anjos cados, ou Sua justia em fazer tal escolha? Se a salvao fosse uma questo de direito, certamente os anjos teriam direito de reivindicar misericrdia tanto como os homens. No estavam assentados numa dignidade mais do que igual? Pecaram mais? Cremos que no. O pecado de Ado foi to deliberado e completo, que no podemos supor um pecado maior do que o que ele cometeu. Se os anjos que foram expulsos do cu tivessem sido restaurados, no haveriam prestado maior servio a Seu Criador, do que o que ns jamais poderemos prestar? Se fssemos os juzes nesta questo, poderamos dar liberdade aos anjos, mas no aos homens. Admirai, ento, a Soberania e o amor Divino que, apesar dos anjos terem sido quebrados em pedaos, Deus levantou um nmero de eleitos dentre a raa humana para coloc-los entre os prncipes, atravs dos mritos de Jesus Cristo nosso Senhor. Notai novamente a Soberania Divina, na qual Deus escolheu o povo israelita e deixou os gentios por anos na escurido. Por que Israel foi instrudo e salvo, enquanto a Sria foi deixada a perecer na idolatria? Era uma raa mais pura em sua origem e melhor em seu carter do que a outra? No tomaram os israelitas deuses falsos para si milhares de vezes, e provocaram ira e ao aborrecimento o Deus verdadeiro? Por que, ento, eles foram favorecidos acima dos seus semelhantes? Por que o sol do cu brilhou sobre eles, enquanto todas as naes ao redor deles foram deixadas na escurido, e desciam ao inferno s mirades? Por qu? A nica resposta que pode ser dada esta: que Deus Soberano, e compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer. Assim tambm agora, por que Deus tem enviado Sua palavra a ns, enquanto uma multido de pessoas ainda est sem ela? Por que cada um de ns aproxima-se do tabernculo de Deus, Domingo aps Domingo, tendo o privilgio de ouvir a voz de um ministro de Jesus, enquanto outras naes no tm sido visitadas do mesmo modo? No poderia Deus fazer com que a luz brilhasse nas trevas ali bem como fez aqui? No poderia Ele, se tivesse Lhe agradado, ter enviado mensageiros ligeiros como a luz para proclamar o evangelho por toda a terra? Poderia ter feito se quisesse. Visto que sabemos que Ele no o

fez, nos inclinamos com humildade, confessando Seus direitos de fazer o que quiser com o que Seu. Mas, permita-me trazer a doutrina uma vez mais para os nossos mbitos. Contemplai como Deus mostra Sua Soberania neste fato, que dentro da mesma congregao, aqueles que ouvem o mesmo ministro, e ouvem a mesma verdade, um tomado e outro deixado . Por que ser que numa de minhas ouvintes, sentada nos ltimos bancos da capela, e tendo sua irm ao seu lado, o efeito da pregao ser diferente do que na outra? Elas tm sido criadas sobre os mesmos joelhos, balanadas no mesmo bero, educadas sob os mesmos auspcios, ouvem o mesmo ministro, com a mesma ateno por que uma ser salva e a outra deixada? Longe de ns criar qualquer escusa para o homem que condenado; no conhecemos nenhuma; mas tambm, longe esteja de ns o tomar a glria de Deus. Afirmamos que Deus que faz a diferena que a irm salva no ter que agradecer a si mesma, mas a Deus. Haver tambm dois homens dados a bebedice. Algumas palavras faladas transpassaro um deles fora a fora, mas o outro permanecer imvel, embora eles sejam, em todos aspectos iguais, tanto na constituio como na educao. Qual a razo? Talvez voc diga: porque um aceitou e o outro rejeitou a mensagem do evangelho. Porm, voc voltou mesma questo: quem fez com que um aceite-a e o outro a rejeite? No se atreva a dizer que o homem fez a diferena por si prprio. Voc deve admitir em sua conscincia que somente a Deus que pertence este poder. Mas aqueles que no gostam desta doutrina esto, todavia, armados contra ns; e dizem: como Deus pode justamente fazer tal diferena entre os membros de Sua famlia? Suponha um pai que tivesse um certo nmero de filhos, e que a um desse todos os seus favores, e consignasse os outros misria no deveramos dizer que o mesmo era um pai mau e cruel? Respondo: sim. Mas no o mesmo caso. Voc no tem um pai com quem tratar, mas um juiz. Voc diz: todos os homens so filhos de Deus; eu exijo que voc prove isto. Nunca li isto na minha Bblia. Jamais me atreveria a dizer, Pai nosso que ests no cu', at que fosse regenerado. No posso me regozijar na paternidade de Deus para comigo at que seja um com Ele, e co-herdeiro com Cristo. No ousaria reivindicar a paternidade de Deus como um homem no regenerado. No um pai e um filho porque o filho tem o que reivindicar de seu pai mas um Rei e um sdito; e no nem mesmo uma relao como esta, porque h uma reivindicao entre sdito e Rei. Uma criatura uma criatura pecaminosa, no pode ter nenhuma reivindicao sobre Deus; porque isto faria a salvao ser pelas obras e no pela graa. Se os homens podem merecer salvao, ento, o lhes salvar somente o pagamento de um dbito, e no seria dado a eles mais do que deveria ser dado. Mas afirmamos que a graa deve ser diferenciada, se para ser graa de alguma forma. Oh, mas alguns diro: no est escrito que Ele d a cada um a medida de graa, para o que for til? Bem, se voc gosta de repetir esta maravilhosa citao to frequentemente atirada sobre minha cabea, voc bem vindo; porque est no uma citao da Escritura, a menos que seja duma edio Arminiana. A nica passagem parecida com esta se refere aos dons espirituais dos santos, e dos santos somente. Mas digo, admitindo a vossa suposio, que uma medida de graa dada a cada um para o que foi til, todavia, Ele d alguma medida de graa particular para que faa aquela proveitosa. Por que o que entendeis por graa, que possa ser usada para o que for til? Eu posso entender que seja um aperfeioamento do homem no uso da graa, mas no posso compreender que seja uma graa que aperfeioada para ser usada pelos homens. Graa

no uma coisa que eu uso; graa algo que me usa. Mas as pessoas falam da graa s vezes como se fosse algo que elas pudessem usar, e no como uma influncia que tem poder sobre eles. Graa no algo que eu posso aperfeioar, mas que me aperfeioa, me usa e opera em mim; e que as pessoas falem sobre a graa universal, ela totalmente sem sentido, no existe tal coisa, nem pode existir. Eles podem falar corretamente das bnos universais, porque vemos que os dons naturais de Deus so espalhados por todo lugar, num maior ou menor grau, e os homens podem receb-los ou rejeit-los. No assim, contudo, com a graa. Os homens no podem tomar a graa de Deus e us-la para voltar, por si mesmos, das trevas para luz. A luz no vem para as trevas e diz: use-me; mas a luz vem e dissipa as trevas. A vida no chega ao morto e diz: use-me, e seja restaurado vida; mas ela vem com um poder de si prpria e restaura o morto vida. A influncia espiritual no chega aos ossos secos e diz: use este poder e se revistam de carne; mas ela vem e os reveste com carne, e a obra feita. A graa pois uma coisa que vem e exerce uma influncia sobre ns. A vontade soberana de Deus somente Nos faz herdeiros da graa; Nascidos imagem de Seu Filho, Uma novamente criada raa. E dizemos a todos aqueles que rangem os seus dentes contra esta doutrina, quer saibam quer no, que seus coraes esto cheios de inimizade contra Deus; porque at que voc possa ser trazido ao conhecimento desta doutrina, h algo que voc ainda no descobriu, que te faz se opor ideia de um Deus absoluto, um Deus livre, um Deus que no est algemado, um Deus imutvel, e um Deus que tem um livre-arbtrio, o qual voc to profundamente gosta de provar que as criaturas possuem. Estou persuadido que a Soberania de Deus deve ser sustentada por ns, se estivermos num estado de mente saudvel. A salvao do Senhor somente. Ento, dem toda a glria ao Seu santo nome, a quem toda glria pertence.

III. Vamos agora, em terceiro lugar, observar as diferenas que Deus frequentemente faz em Sua igreja nos DONS HONIRFICOS. H uma diferena entre os prprios filhos de Deus quando eles na verdade so Seus filhos. Observai o que quero dizer: Um tem o dom honorfico do conhecimento, outro conhece quase nada. Encontro-me, de vez em quando, com um querido irmo Cristo com quem eu posso falar por um ms, e aprender algo dele todos os dias. Ele tem tido experincias profundas tem visto as coisas profundas de Deus toda a sua vida tem sido um perptuo estudo, onde quer que esteja. Ele parece ter colhido pensamentos, no de livros meramente, mas dos homens, de Deus e de seu prprio corao. Ele conhece todas as idas e voltas da experincia Crist: ele entende a altura, a profundidade, a comprimento e a largura do amor de Cristo, que excede todo o entendimento. Ele adquiriu uma grande ideia, um conhecimento ntimo do sistema da graa, e pode vindicar os tratamentos do Senhor com o Seu povo. Ento, voc deve encontrar outro que tem passado por muitas tribulaes, mas que no tem um conhecimento profundo da experincia Crist. Ele nunca aprendeu um s

segredo em todas as suas tribulaes. Ele simplesmente saa de um problema para outro, mas nunca parou para apanhar algumas das joias que estavam enterradas na lama nunca tentou descobrir as preciosas joias que residiam em suas aflies. Ele conhece mui pouco a mais das alturas e profundezas do amor do Salvador, do que quando veio ao mundo. Voc pode conversar com tal homem tanto quanto desejar, mas voc no receber nada dele. Se me perguntar o porqu disto, responderei: h uma Soberania de Deus em dar conhecimento a alguns, e a outros no. Estive andando outro dia com um Cristo idoso, que me disse como ele tinha se beneficiado por meu ministrio. No h nada que me faa humilhar mais do que o pensamento que um crente ancio derivando experincias nas coisas de Deus e recebendo instruo nos caminhos do Senhor de um mero beb na graa. Porm espero, quando chegar a ser um velho homem, se viver o suficiente para ser um, que alguns bebs na graa me instruiro. Deus algumas vezes fecha a boca dos velhos e abre a boca das crianas. Por que somos mestres de centenas que so, em alguns aspectos, muito mais capazes de nos ensinar? A nica resposta que podemos encontrar na Soberania Divina, e devemos nos curvar diante dela, porque no lcito que Ele faa o que quer com o que Seu? Em vez de ter inveja daqueles que tem o dom de conhecimento, deveramos buscar ganhar o mesmo, se possvel. No lugar de se sentar e murmurar por no termos mais conhecimento, deveramos nos lembrar que o p no pode dizer a cabea, nem a cabea ao p: eu no tenho necessidade de ti; porque Deus nos deu talentos como Lhe agradou. Observe, novamente, quando falamos dos dons honorficos. No somente o conhecimento, mas o ofcio um dom honorfico. No h nada mais honroso para um homem do que o ofcio de um dicono ou ministro. Magnificamos os nossos ofcios, embora no magnifiquemos a ns mesmos. Estamos seguros de que nada pode dignificar um homem mais do que ser apontado para ser um oficial numa igreja Crist. Preferiria ser um dicono de uma igreja a ser um Prefeito de Londres. Ser um ministro de Cristo , em minha estimao, uma honra infinitamente maior do que qualquer coisa que o mundo possa conceder. Meu plpito para mim mais desejvel do que um trono, e minha congregao um imprio maior do que o suficiente; um imprio ante o qual os imprios da terra se definham em nada, sem importncia eterna. Por que Deus, por meio do Esprito Santo, chama com vocao especial algum para ser um ministro, e ignora outros? H outros homens mais dotados, talvez, mas no devemos nos atrever a coloc-los num plpito, porque no possuem um chamado especial. Assim tambm com o diaconato; o homem a quem alguns talvez pensem ser o mais adequado para o ofcio deixado de lado, e outro escolhido. H uma manifestao da Soberania de Deus no apontamento para o ofcio em colocar Davi sobre o trono, em fazer de Moiss o lder dos filhos de Israel atravs do deserto, em escolher Daniel para permanecer entre os prncipes, em eleger a Paulo para ser o ministro dos Gentios e Pedro para ser o Apstolo da Circunciso. E voc que no tem o dom honrado de ofcio, deve aprender a grande verdade contida na questo do Mestre: No me lcito fazer o que quiser do que meu?. H outro dom honorfico, o dom da expresso. A eloquncia tem mais poder sobre os homens do que todos os demais dons juntos. Se um homem deve ter poder sobre a multido, ele deve buscar tocar os seus coraes e prender seus ouvidos. H alguns homens que so como vasos cheios de conhecimento at as bordas, mas no tendo nenhum meio de despej-lo ao mundo. Eles so ricos em todas as prolas do saber, mas no sabem como

coloc-las no anel dourado da eloquncia. Eles podem colher as mais seletas flores, mas no sabem como disp-las num doce buqu para oferecer-lhe a sua amada. Como isto? Novamente respondemos: a Soberania de Deus aqui demonstrada na distribuio dos dons honorficos. Aprenda aqui, oh Cristo, se voc possui dons, lance a honra deles aos ps do Salvador, e se voc no os possui, aprenda a no murmurar; lembre-se que Deus igualmente bondoso tanto quando retm como quando distribui os Seus favores. Se algum dentre vs foi exaltado, que no se inche; se algum foi humilhado, que no se despreze; porque Deus d a cada vaso Sua medida de graa. Sirva-O segundo a sua medida, e adore o Rei do Cu que faz tudo segundo Lhe apraz.

IV. Observemos em quarto lugar, o dom de UTILIDADE. Frequentemente tenho errado em censurar alguns irmos ministros por no serem mais teis, e tenho dito que poderiam ser to teis como eu se tivessem sido mais diligentes. Mas certamente h outros mais diligentes, e mais eficientes: outros que labutam constantemente, mas com muito menos resultados. E, portanto, me permitam retratar minha acusao, e em lugar disso asseverar que o dom de utilidade o resultado da Soberania de Deus. Ns podemos labutar com todas as nossas foras, mas somente Deus pode nos fazer teis. Podemos iar nossas velas quando o vento sopra, mas no podemos fazer com que o vento sopre.

A Soberania de Deus vista tambm na diversidade dos dons ministeriais. Vocs vo a um ministro e so alimentados com abundncia de boa comida; outros no tm o suficiente para alimentar um rato; ele tem abundncia de censuras, mas nenhuma comida para o filho de Deus. Outro pode confortar o filho de Deus, mas no pode reprovar um apstata. Ele no tem fora de esprito suficiente para dar aquelas srias e amorosas chicotadas que tantas vezes so necessrias. E, qual a razo? A Soberania de Deus. Outros podem utilizar com destreza o martelo de forja, mas no podem curar um corao quebrantado. Se ele tentasse fazer isso, te faria lembrar um elefante tentando passar um fio no fundo de uma agulha. Tal homem pode repreender, mas no pode aplicar azeite e vinho numa conscincia esmagada. Por qu? Porque Deus no lhe deu o dom. H outro que sempre prega teologia experimental; e mui raramente toca em doutrina. Outro toda doutrina, e no pode pregar sobre Jesus Cristo e Ele crucificado. Por qu? Deus no lhe deu o dom de doutrina. Outros pregam sempre Jesus bendito Jesus; homens da escola Hawker e muitos dizem: oh! Eles no nos do experincia suficiente; eles no entram nas experincias profundas da corrupo que atormenta os filhos de Deus. Mas, no devemos censur-los por isto. Vocs notaro que de um mesmo homem brotam s vezes fontes de gua viva, enquanto noutros tempos eles sero to secos quanto possvel. Num Domingo voc vai embora refrescado pela pregao, e no prximo no recebe nenhum bem. H Soberania Divina em tudo isto, e devemos aprender a reconhecer e admir-la. Estive pregando numa ocasio semana passada a uma grande multido de pessoas, e numa parte do sermo as pessoas foram muito afetadas; senti que o poder de Deus estava ali; uma pobre criatura gritava absolutamente em voz alta por causa da ira de Deus contra o pecado; mas numa outra ocasio quelas mesmas palavras poderiam ser pronunciadas e poderia haver o mesmo desejo no corao do ministro e, todavia, no produzir nenhum efeito. Devemos atribuir, digo, Soberania Divina tais casos. Devemos reconhecer a mo de Deus

em todas as coisas. Mas a presente gerao a mais mpia que j pisou esta terra; eu verdadeiramente creio. Nos dias de nossos pais dificilmente havia uma chuva torrencial, mas eles declaravam que Deus a tinha causado quando caia; e eles oravam por chuva, pela luz do sol e pelas colheitas; bem como quando um palheiro estava em chamas, ou quando uma fome desolava a terra; nossos pais diziam: o Senhor fez isso. Mas agora, os nossos filsofos tentam explicar tudo, e atribuem todos os fenmenos a causas secundrias. Mas irmos, que relacionemos a origem e a direo de todas as coisas ao Senhor, e ao Senhor somente.

V. Finalmente, os DONS CONSOLADORES so de Deus. Oh, que dons consolares alguns de ns desfrutam nas ordenanas da casa de Deus, e num ministrio que produtivo. Porm, quantas igrejas no tm um ministrio desse tipo; e por que ns o temos, ento? Porque Deus faz uma diferena. Alguns aqui tm uma f vigorosa, e podem rir das impossibilidades; podemos cantar um cntico em todos os tempos tanto nas tempestades como na calma. Mas, h outros com uma pequena f que esto prestes a desmoronar a cada vento. Ns atribumos uma f eminente inteiramente a Deus. Um nasce com um temperamento melanclico, e v uma tempestade at mesmo na calma; enquanto outro alegre, e v uma linha prateada em cada nuvem, embora estejam escuras, e um homem feliz. Porm, por que isto? Os dons consoladores vm de Deus. E, ento, observem que ns mesmos somos diferentes de vez em quando. Por que h pocas que podemos ter um relacionamento bendito com o cu, e somos permitidos olhar alm do vu? Mas repentinamente, estes deleitosas prazeres se vo. Porm, murmuramos por isso? No licito que Ele faa o que quer com o que Seu? No pode tomar de volta o que tinha dado? Os consolos que possumos so Seus, antes de serem nossos. E ainda que Tu a todos tomasse, todavia, no me queixaria, Antes de serem por mim possudos Eles eram totalmente Teus. No h alegria do Esprito no h bendita esperana nenhuma f vigorosa nenhum desejo ardente nem ntima comunho com Cristo, que no seja um dom de Deus, e que no devamos atribuir a Ele. Quando estou em trevas e sofro decepes, levanto os meus olhos e digo: Ele d salmos durante a noite; e quando tenho do que me regozijar, direi: meu monte permanecer firme para sempre. O Senhor o Soberano Jeov; e, portanto, prostrado aos seus ps estou, e se pereo, perecerei ali. Porm, permiti que vos diga ,irmos, que esta doutrina da Soberania Divina est longe de fazer com que senteis em indolncia; espero em Deus que ela vos humilhe, e vos leve a dizer: Eu sou indigno da menor de todas as Tuas misericrdias. Reconheo que Tu tens o direito de fazer comigo o que quiser. Se me esmagas, um verme miservel, Tu no sers desonrado; no tenho direito de pedir que tenhas compaixo de mim; apenas te rogo que tenhas misericrdia de mim. Senhor, se Tu quiseres, s capaz de me perdoar, e Tu nunca destes graa a algum que a procure mais. Porque estou vazio, sacia-me com o po do cu; porque estou nu, veste-me com Tua roupa; porque estou morto; d-me vida. Se elevares este pedido com toda tua alma e com toda tua mente, ainda que Jeov seja soberano, Ele estender Seu cetro e te salvar, e vivers para Lhe adorar na beleza da santidade, amando e bendizendo Sua

graciosa Soberania. O que crer a declarao da Escritura e for batizado, ser salvo; mas o que no crer ser condenado. O que crer em Cristo somente, e for batizado com gua em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, ser salvo, mas o que rejeitar a Cristo e no crer nele ser condenado. Este o Soberano decreto e proclamao do cu curve-se diante dele, reconhea-o, obedea-o e que Deus te abenoe.