Sao Paulo Da Cruz PDF
Sao Paulo Da Cruz PDF
Sao Paulo Da Cruz PDF
ndice Geral
CAPTULO I: 1694 - 1709
CAPTULO II: 1709 - 1715
CAPTULO III: 1715 - 1719
CAPTULO IV: 1716 - 1719
CAPTULO V: JANEIRO A NOVEMBRO
DE 1720
CAPTULO VI: NOVEMBRO 1720 JANEIRO 1721
CAPTULO VII: JANEIRO SETEMBRO 1721
CAPTULO VIII: SETEMBRO A
NOVEMBRO DE 1721
CAPTULO IX: 1721 - 1723
CAPTULO X: 1723 - 1726
CAPTULO XI: 1725 - 1727
CAPTULO XII: 1727 - 1728
CAPTULO XIII: 1728 - 1730
CAPTULO XIV: 1730 -1733
CAPTULO XV: FEVEREIRO A
OUTUBRO DE 1733
CAPTULO XVI: 1733 - 1736
CAPTULO XVII: 1736 - 1738
CAPTULO XVIII: 1738 - 1740
CAPTULO XIX: 1740 - 1741
CAPTULO XX: 1741 - 1742
CAPTULO XXI: 1742 - 1745
CAPTULO XXII: 1745 - 1748
CAPTULO XXIII
CAPTULO XXIV: 1748 - 1749
CAPTULO XXV: 1749 - 1758
CAPTULO XXVI: 1758 - 1761
CAPTULO XXVII: 1761 - 1765
CAPTULO XXVIII
CAPTULO XXIX
CAPTULO XXX
CAPTULO XXXI: 1765 - 1767
CAPTULO XXXII: 1767 - 1769
CAPTULO XXXIII: 1769 - 1770
CAPTULO XXXIV: 1770 - 1771
CAPTULO XXXV: 1771 - 1772
CAPTULO XXXVI: 1772 -1773
CAPTULO XXXVII: 1773 - 1775
CAPTULO XXXVIII: 1775
CAPTULO XXXIX: JUNHO A 18 DE
OUTUBRO DE 1775
CAPTULO XL
CAPTULO I
1694 - 1709
ndice
NASCIMENTO DE PAULO
SUA INFNCIA
DEVOO SAGRADA PAIXO
SEUS PRIMEIROS ESTUDOS
PE. LUIS TERESA DE JESUS AGONIZANTE
VIDA DE SO PAULO DA CRUZ
SUA INFNCIA
E' no bero que o homem se forma para a virtude ou para o vcio. Cumpre
me amoldar a alma e as inclinaes do filhinho para o bem, dando-lhe
slida educao religiosa, que permanecer para toda vida. Ana Maria,
penetrando a extenso da imensa responsabilidade, ps todas as suas
virtudes a servio desse altssimo dever: elevao de inteligncia,
delicadeza de sentimento; bondade e energia, uno e piedade, mas,
sobretudo, grande f em Deus.
Com que solicitude zelou pelo tesouro que o Pai celeste lhe confiara!
Com que cuidado no lhe depositou no corao pequenino a semente de todas
as virtudes! Tinha-o sempre ante os olhos se esmerava por afastar dele tudo
o que pudesse empanar-lhe a candura. E Paulo levar ao tmulo a
inocncia batismal!
Ensinava-o a conhecer, amar e servir o Pai celeste, narrando-lhe a vida
dos santos anacoretas. E como estava Intimamente unida a Deus, sabia dar
s palavras tais acentos e tal expresso, que o menino a ouvia com o maior
interesse. Foi assim que nasceu nele esse amor solido, que se tornou a
caracterstica de sua vida.
CAPTULO II
1709 - 1715
ndice
SUA JUVENTUDE
UMA GRAA EXTRAORDINRIA
PROVAES ESPIRITUAIS
ENTRE OS CRUZADOS
CAPTULO II
1709 - 1715
SUA JUVENTUDE
Pelos fins de 1709, de Ovada se transferia a famlia Dnei para as
proximidades de Gnova (Campo Ligrio). No diminus aqui o santo
PROVAES ESPIRITUAIS
Quando Deus nos concede alguma graa particular, faz-se mister
preparar-nos contra os ataques do inimigo da salvao
Enquanto Paulo se inebriava no divino amor, desencadeou o demnio contra
ele a mais terrvel das tentaes Dvidas a respeito da f
acometeram-lhe o espirito, apossando-se dele a perturbao, a angstia e
a perplexidade.
Houvera, por ventura, ofendido a Deus, seu soberano Bem? No
combatera devidamente os pensamentos, que lhe moviam to violenta guerra?
No sabendo como tranquilizar-se, corria igreja e derramava a sua
mgoa aos ps do divino Mestre, apoiando a cabea fatigada na mesa da
comunho..
Ignoramos quanto durasse a provao; certo , porm, que no dia de
Pentecostes, quando implorava o socorro do Senhor, sentiu elevar-se a alta
contemplao e o Esprito Santo esclareceu-lhe a inteligncia com
abundantes luzes, com que se lhe dissiparam para sempre todas as dvidas.
ENTRE OS CRUZADOS
Esta divina claridade acendeu-lhe tambm no corao labaredas de amor a
Jesus Crucificado, com ardentes desejos de sacrificar-se pela sua glria.
Por vezes d Deus s almas sde ardente de imolao, sem
manifestar-lhes o gnero de sacrifcio que lhes pede. Ao serfico
patriarca so Francisco, refere so Boaventura, mostrou-se-lhe em
viso magnifico palcio repleto de resplandecentes armas marcadas com o
emblema da Cruz.
Para quem so estas armas e este palcio to
encantador? ,
perguntou o santo.
CAPTULO III
1715 - 1719
ndice
CRESCENDO SEMPRE EM FERVOR
SEU CONFESSOR
PROPOSTA DE CASAMENTO
HERANA PRECIOSA
PRIMEIROS ENSAIOS DE
APOSTOLADO
A VOZ DOS PRODGIOS
CAPTULO III
1715 - 1719
CRESCENDO SEMPRE EM FERVOR
Transferindo-se com a famlia para Castellazzo, o soldado de Cristo
recomeou todos seus exerccios de piedade, esperando que a Vontade de
Deus lhe manifestasse qual a sua vocao. Desde esse instante se entregou
de vez contemplao dos tormentos do Redentor, envidando todos os
esforos por identificar-se com este divino modelo, mediante a mais rigorosa
mortificao.
Raras vezes dormia no leito. Teresa, sua irm, notou-o e, desejando
esclarecimentos, dirigiu-lhe algumas perguntas a respeito. Paulo, que
desejava somente a Deus por testemunha, nada respondeu. No entanto, a
irm, que o vira subir muitas vezes ao sto com Joo Batista, suspeitou
l passassem a noite. E, ambos ausentes, l deparou com umas tbuas e
sobre elas alguns tijolos e um crucifixo. Foi o que declarou com juramento
no processo de beatificao.
Outra testemunha tambm asseverou que Paulo dormia muito pouco e sobre
tbuas nuas, com tijolos por travesseiros, meditando em tal maneira, sem
interrupo, os cruis tormentos de Jesus Crucificado.
Aps breve e torturante descanso, levantavam-se ambos, at ao mais
rigoroso inverno, para entregar-se contemplao do Sumo Bem.
A meditao inflama o amor e com o amor nasce o desejo de assemelhar-se ao
objeto amado. Com a Cruz em uma das mos e na outra o instrumento de
penitncia, Paulo oferecia a Deus seu corpo, como hstia viva, ao gravar
nas carnes as chagas de Jesus. Certa vez a me teve ocasio de ouvir, em
meio das trevas da noite, o rudo espantoso e lgubre do instrumento de
penitncia e o narrou depois, soluando, filha.
Tambm o pai os surpreendeu um dia, quando se feriam cruelmente com
correias de couro, e no pde deixar de exclamar:
Vocs querem se matar?
To grande era o ardor que estimulava o nosso santo na prtica da
penitncia, que Joo Batista, embora mui fervoroso, teve inmeras vezes
de arrancar-lhe das mos o aoite. Quase sempre antecipava a hora de
levantar e, sem fazer rudo, para no despertar o mano, entretinha-se
com Deus em altssima contemplao. s sextas-feiras mais rigorosas
eram as penitncias e mais austero o jejum. Contentava-se de uma fatia de
po, que mendigava de joelhos, banhando-o com abundantes lgrimas. A
bebida, diz-nos testemunha ocular, consistia numa mistura de fel e vinagre.
A irm, que j o suspeitara, surpreendeu-o certa vez com o fel nas
mos, perguntando-lhe, aflita:
Que vais fazer com isto?
O jovem guardou silncio, lanando o contedo em pequeno frasco, que se
esmerava em esconder. Quando Paulo deixou o lar paterno, certo dia
Teresa, ao varrer a casa, bateu no frasco com a vassoura e o quebrou.
Coisa admirvel
diz so Vicente Strambi,
apenas quebrado o vaso, difundiu-se pela habitao
estranho perfume, que surpreendeu a todos. A piedosa irm
recolheu os fragmentos, examinou-os com ateno e notou
que ainda estavam impregnados do fel que o servo de Deus ai
guardara. Levou um fragmento a uma de suas tias, Rosa
Maria, irm corista no convento de Santo Agostinho, que
tambm se, inebriou daquele delicioso perfume, revelando
Deus por este prodgio quo agradveis lhe eram as
austeridades de seu servo, em louvor da Paixo ss. de
Jesus Cristo!
Eis como Paulo e Joo Batista se estimulavam mutuamente na prtica da
mortificao. Espetculo comovente, que Deus e os Anjos contemplavam com
amor e que o mundo, sensual e frvolo, jamais poder compreender: dois
delicados jovens, calcando aos ps as flores da vida, lanam-se em busca
dos sofrimentos, com o mesmo af com que outros se atiram ao lodo dos
prazeres!...
No pensemos, contado, que a mortificao crist esteja sempre
despojada dos encantos da seduo. No, pois a alma se eleva e se
enobrece medida que se desprende dos sentidos, ao passo que se degrada e
se avilta, em se tornando escrava das paixes. Da Cruz, que abrasa,
ressumbra tal felicidade, com que no h comparar as alegrias da terra.
De fato, a generosidade do sacrifcio derramava nestas duas almas
privilegiadas inexaurveis torrentes de celestiais consolaes.
E' assim a primavera da santidade. Atrai Deus aos eleitos pela doura
infinita do seu amor, saciando-os no manancial dos gozou santos e dos
divinos arrebatamentos. Ento a terra nada mais representa para eles.
Parecem ter asas na alma. Voam ou, para falar com muito acerto, asno
elevados pelo sopro do Alto, ao prtico celeste balado este que oferece,
por sem dvida, inefveis atrativos; no entanto, nada mais do que o
comeo da vida espiritual. Se durara sempre, tornando fcil a santidade,
seus merecimentos no seriam to grandes nem to preciosa a coroa e o homem
jamais conseguiria a perfeio. Chega, pois, o momento em que se deve
passar do Tabor ao Calvrio, atravessando ridos desertos e as trevas da
provao. Paulo no o ignorava. Sabia que no a terra lugar para se
gozar de Jesus Cristo, mas para sofrer por ele. Quando, pois, estas
inebriantes delcias lhe inundavam a alma, humilhava-se, aniquilava-se,
acercava-se mais e mais dos espinhos da Cruz, multiplicando as
mortificaes.
SEU CONFESSOR
Persuadido de que a obedincia o meio mais eficaz para o cumprimento dos
divinos desgnios, desde o momento em que fizera a confisso geral
entregara-se sem reserva direo de seu proco. O sacerdote, admirado
dos singulares caminhos percorridos pelo penitente e desejando discernir o
princpio que lhe animava o agir, submeteu-o a duras provaes.
Humilhava-o e o mortificava. Quando se apresentava na sacristia para se
confessar, dizia-lhe o severo confessor que o atenderia na igreja; fazia-o
esperar largo tempo, despachando-o sempre por ltimo. Dizia-lhe,
ento, com aspereza:
Vamos, depressa!
E, quando o humilde penitente acusava alguma dessas imperfeies
inevitveis, de que s os santos se acusam, repreendia-o como dos maiores
crimes.
E' para lamentar como esse diretor ultrapassasse por vezes os limites da
prudncia. Chegou a despedi-lo da mesa eucarstica, negando-lhe a
Comunho, como a pecador pblico, quando era maior o concurso de povo.
Diais que humilhao, era isso profunda ferida para o amor de Paulo.
Nada obstante, resignava-se em silncio, imolando ao Deus do Calvrio
seu ardente desejo de se unir misticamente a Ele.
De outra feita, enquanto orava no cro da igreja, sentiu-se arrebatado
pelo divino amor, entre delcias e lgrimas. A fim de ocultar esses
dons, cobriu o rosto com a capa. O implacvel diretor correu para ele e,
arrancando-lha com desdm, admoestou-o severamente:
E' assim que se h de estar diante do SS.
Sacramento?
E Paulo, de carter vivo e sensvel, sorvia, por amor de Jesus
Crucificado, o amargo clice dessas ignomnias.
Dizia-lhe a natureza ou o demnio:
Abandona esse confessor e procura outro .
Ao que respondia o herico jovem:
No, o demnio no h de levar a melhor;
continuarei, custe o que custar. Este o confessor talhado
para mim, pois me faz baixar a cabea .
Em dia de carnaval, quando muitos se entregam desenfreadamente a
PROPOSTA DE CASAMENTO
Todavia, nova provao o esperava. Seus pais, desfavorecidos dos bens
de fortuna, tinham que manter numerosa famlia.
Todas as suas esperanas repousavam em Paulo. Um de seus tios, o
sacerdote Cristvo Dnei, desejoso de reintegrar a famlia no antigo
esplendor, resolveu, de acordo com os pais de Paulo, uni-lo em matrimnio
com rica e virtuosa donzela.
O xito da empresa parecia-lhe assegurado com o propsito de legar ao
sobrinho todos os seus bens. Tratava-se, no entanto, de
proporcionar-lhes uma entrevista, a fim de que tudo se ajustasse.
Paulo, porm, que j se entregara sem reserva a Deus, recusou to
sedutoras ofertas. s instncias do tio, respondia cortesmente no julgar
fossem esses os desgnios divinos sobre ele. O sacerdote, porm,
aferrado sem dvida convico da poca, de que os primognitos so
destinados por Deus a perpetuarem a famlia, replicou-lhe ser seu dever
aceitar a proposta em considerao aos pais, a quem o enlace iria tirar do
humilde estado em que jaziam. Mas ele permanecia inflexvel.
Todos os membros da famlia juntaram ento seus rogos aos do tio. O jovem
sempre irredutvel! Julgando a modstia a causa da negativa e abusando da
ascendncia de tio e sacerdote, Cristvo o obrigou a acompanh-lo
casa da moa. O humilde filho da obedincia disps-se a segui-lo.
Eis, porm, reproduzido o belo edificante exemplo de so Francisco de
Sales: o anglico jovem nem sequer alou os olhos para v-la; pelo que
nada se concluiu. E no entanto o tio pretendia triunfar a todo custo.
HERANA PRECIOSA
Cruel perseguio para o espirito de Paulo! Os sentimentos mais opostos
agitavam-lhe a alma. De um lado, o propsito de corresponder ao chamamento
divino; de outro, o amor aos pais a braos com as mais duras
dificuldades... Nessa dolorosa perplexidade implorava o auxilio do Alto. E
Deus lhe veio em ajuda de maneira extraordinria.
Cai enfermo o tio e falece imprevistamente, deixando-lhe os haveres para
garantir o bom xito de seus planos. Mas o santo herdeiro renunciou
generosamente herana em presena do vigrio forneo.
CAPTULO IV
1716 - 1719
ndice
NOVO DIRETOR
DEUS PREPARA O FUNDADOR DOS
PASSIONISTAS
DOENA MISTERIOSA
SACRIFCIOS PELA DIREO
CAPTULO IV
1716 - 1719
NOVO DIRETOR
O diretor espiritual de Paulo, j o vimos, era o proco de
Castellazzo.
Notando no jovem dons extraordinrios, sinal de grandes desgnios do
Senhor, julgou bem confi-lo direo de sacerdote mais versado nos
caminhos de Deus.
A Providncia conduziu o nosso santo a frei Jernimo de Tortona,
religioso capuchinho, do convento de Castellazzo.
O novo diretor, dotado daquele tato divino que nenhuma qualidade natural
pode suprir, divisou em Paulo Francisco uma dessas almas grandes,
predestinadas a eminente santidade. Comeou, pois, a gui-lo pelo
caminho da perfeio e permitiu-lhe a Comunho diria, secundando-lhe
o ardente desejo de viver constantemente unido a Jesus.
DOENA MISTERIOSA
Paulo devia ser Apstolo e plasmar apstolos. Fadara chamado para a vida
mais espinhosa, para o martrio do apostolado. Duas coisas so
necessrias para a sua completa submisso ao sacrifcio: o perfeito
conhecimento da misericrdia de Deus e de sua infinita justia.
Quanto misericrdia, j o instrura Jesus, patenteando-se a ele em
sua Paixo; vai faz-lo sentir agora a justia. viso do amor
seguiu-se a viso espantosa do inferno. Contemplou por instantes as
horrveis penas dos condenados.
Estava acamado por contuso em unia das pernas. De sbito, assaltado
de pavorosos estremecimentos. Perde os sentidos e prorrompe em altos
brados, misto confuso de palavras de raiva e de desespero.
No fcil imaginar o espanto dos irmos Joo Batista e Teresa, que
lhe vieram em socorro, vendo-o tremer dos ps cabea, desfigurado,
tendo estampada no rosto a sensao de horror, e a exclamar:
No! Jamais direi o que vi .
Roga chamem o pe. Jernimo, com o qual se entretm largo tempo em
secreta conversao. Sua irm que, levada de repreensvel curiosidade,
se pusera a auscultar na porta, ouviu-o exclamar:
Oh! pe. Jernimo, como longa a eternidade!
Mais tarde confiou a algum que naquela ocasio fora transportado pelos
Anjos ao inferno e l contemplara, apavorado, as, penas eternas dos
rprobos.
CAPTULO V
JANEIRO A NOVEMBRO DE 1720
ndice
D. FRANCISCO M. GATTINARA
APARECE-LHE NOSSA SENHORA
PAULO REVESTIDO DO HABITO
RELIGIOSO
CAPTULO V
JANEIRO A NOVEMBRO DE 1720
D. FRANCISCO M. GATTINARA
de to sublime que
exprimir-me o melhor
espiritual, corno
vezes, quando se
provao .
Como vimos o pe. Colombano aprovara o esprito de Paulo, quem amava como
a filho em Jesus Cristo. Descobrindo nessas maravilhas a obra do
Esprito Santo, apressou-se em dar o seu parecer ao digno bispo,
suplicando-lhe revestisse quanto antes do santo hbito da Paixo o eleito
do Senhor.
Possumos uma carta desse religioso, escrita ao prelado no dia 25 de
novembro de 1720.
Aps referir que Paulo passara por todos os graus da orao e era dotado
do esprito proftico, assim se expressa:
Por intermdio de v. senhoria ilustrssima, dignou-se
o Pai das misericrdias e o Deus de toda consolao
confortar-me. Passei por muitas penas ao conduzir as almas
perfeio; no entanto hoje, graas divina Bondade, vejo
com alegria como fcil a. Deus enriquecer o pobre em um
momento, hoje, em que Paulo Francisco recebeu, creio, o
santo hbito. Agradeo humildemente a v. senhoria
ilustrssima .
..
Esse notvel diretor de almas verificou que o mestre de Paulo era o mesmo
divino Esprito Santo.
Demasiadamente clara se manifestava a vontade de Deus para que o snr. bispo
vacilasse ou retardasse em cumpri-la. Ordenou, pois, a Paulo se
preparasse para receber o santo hbito, o mesmo que Nosso Senhor e sua
Me ss. lhe mostraram.
Quem jamais poderia descrever a felicidade do nosso santo
Todavia, como foi fugaz! No devia Paulo reproduzir em si a imagem de
Jesus Crucificado?
O divino Salvador desejara ardentemente beber o clice da amargura que o
Pai lhe oferecera, mas na Vspera do supremo. sacrifcio,
perturbou-se-lhe a alma e experimentou todas as repugnncias da natureza
humana.
Paulo suspirava pela hora de sacrificar-se por Deus e pelas almas, em
unio com a Vitima do Calvrio. Ao chegar, porm, o momento do
sacrifcio, as tristezas, os desalentos, o abandono e o tdio
assaltaram-lhe o esprito. Esses combates interiores ele mesmo os descreveu
mais tarde, em carta a um jovem, seu penitente, para anim-lo
vocao religiosa:
Sereis feliz, meu querido amigo, dizia-lhe, se fordes
fiel em combater e vencer, no vos deixando arrastar pelos
sentimentos da natureza, tendo unicamente em vista a Jesus
Crucificado, que vos chama com especial bondade a segui-lo.
Ser Ele para vs pai, me e tudo o mais. Oh! se
soubsseis os assaltos que tive que sustentar antes de
abraar a vida religiosa; a extrema repugnncia que me
insinuava o demnio e a ternura para com meus pais, cujas
esperanas, conforme a prudncia humana, se estribavam
unicamente em mim! As desolaes interiores, as
tristezas, os temores, tudo me dizia: no resistirs.
Satans fazia-me crer joguete de iluses e que bem poderia
CAPTULO VI
NOVEMBRO 1720 - JANEIRO 1721
ndice
RETIRO DE 40 DIAS
ESCREVE AS REGRAS DO FUTURO
INSTITUTO
APROVAO DO SNR. BISPO
CAPTULO VI
NOVEMBRO 1720 - JANEIRO 1721
RETIRO DE 40 DIAS
Quando a alma generosa e confiante, apesar das lutas de toda espcie, se
entrega sem reservas ao sacrifcio, retira-se o tentador, aproximam-se os
Anjos e Deus derrama sobre ela graas e consolaes a flux.
Desde o dia da vestidura experimentou Paulo completa mudana interior.
Dir-se-ia revestido do HOMEM NOVO.
desterrada...
Com efeito, enamorada da formosura irresistvel que acabava de contemplar,
j no podia viver na terra. Era-lhe a vida perene martrio, o corpo
pesadssima cadeia, que desejava romper para unir-se a Deus l na manso
eterna.
No, a alma no podia sofrer esse desterro, se a Providncia lhe no
amenizasse os ardores do amor ou, ao menos, no lhe entregasse o universo
onde espraiar as expanses do corao.
CAPTULO VII
JANEIRO - SETEMBRO 1721
ndice
NA ERMIDA DA SS. TRINDADE
NA ERMIDA DE SANTO ESTVO
OS PRIMEIROS COMPANHEIROS
EM PLENO APOSTOLADO
CAPTULO VII
JANEIRO - SETEMBRO 1721
NA ERMIDA DA SS. TRINDADE
A solido conservava a alma de Paulo Francisco em continuo recolhimento.
Pequena ermida ao lado de pobre igreja, a quilmetro e meio de
Castellazzo, foi o lugar onde, por determinao do snr. bispo, fixou
provisoriamente residncia.
Ali, segregado do mundo, passou cerca de quinze dias na contemplao e na
penitncia Segundo Paulo Sardi, o nosso santo teria ficado um ms na
ermida da SS. Trindade. Jos Dnei, depois de ter lembrado os 40
dias passados em So Carlos, diz que passou alguns na Trindade e foi em
seguida para S. Estvo. A verdade que o nosso Paulo no dia da
Epifania se achava nos montes de Gnova e, a 26 de janeiro, da ermida da
SS. Trindade se transferia para a de S. Estvo. Tem razo, pois, o
nosso autor em dizer que a demora na SS. Trindade foi apenas de uns quinze
dias.
Em relatrio inserido no processo de canonizao, narra-se que l lhe
apareceram os demnios em forma de monstruosos animais. Essas aparies
renovar-se-o amide. Anuncia-las-emos medida que se apresentarem,
para resumi-las todas em capitulo especial, a fim de no incorrermos em
demasiadas repeties.
Paulo no recebera de Deus unicamente a incumbncia de trabalhar, no
silncio dos desertos, pela prpria santificao; devia ser grande
obreiro evanglico, antes mesmo de receber o carter sacerdotal.
No era indito na histria da Igreja simples religiosos exercerem o
apostolado da palavra. Santo Anto e os solitrios da Tebaida vinham do
Egito a Alexandria para combater os sectrios de rio. Santo Efrm e
so Francisco de Assis, apenas diconos, anunciavam a palavra divina.
O apostolado era um dos pontos capitais das Regras aprovadas por d.
Gattinara. O prelado conhecia, portanto, os desgnios de Deus a respeito
de Paulo. No ignorava outrossim o zelo do santo religioso. Para
dilatar-lhe o campo de trabalho em prol das almas, transferiu-o, no dia
25 de janeiro, da ermida da SS. Trindade para a de Santo Estvo,
mais prxima da cidade, e ordenou-lhe explicasse o catecismo s
OS PRIMEIROS COMPANHEIROS
O primeiro a agregar-se a Paulo em sua vida de penitncia foi seu irmo
Joo Batista. Aos dois cenobitas juntou-se um jovem chamado Paulo
Sardi, cujo recolhimento, esprito de orao e amor ao jejum causavam
admirao ao nosso santo, fazendo-o exclamar:
Que alma santa!
Ambos os postulantes desejavam ardentemente vestir o santo hbito. Aquela
ermida pode considerar-se como o bero do Instituto nascente. Ali se
plasmavam esses dignos modelos de virtude e perfeio.
Possuam apenas pequeno quarto. Os mveis consistiam num Crucifixo,
numa disciplina pendurada parede e numa enxerga coberta com uma colcha
remendada. Como no pudessem acomodar-se os trs em local to acanhado,
Paulo Sardi pernoitava em casa dos pais. Quem iria repousar naquele pobre
leito? Ambos os irmos o recusavam e, aps longas oraes na igreja,
tomavam seu descanso sobre o soalho nu, em uma espcie de cripta, debaixo
do altar-mr.
Pendurara Paulo na parte exterior da ermida pequena cesta com a
inscrio: ESMOLA PARA OS POBRES DE JESUS. Das
ofertas, guardavam apenas um pouco de po, de que se alimentavam uma vez ao
dia, distribuindo o mais aos pobres. Esse escasso e pauprrimo alimento
parecia-lhes assaz delicado. Desejavam submeter-se a mais rigoroso jejum.
Eis o que escreve Paulo ao venerando antstite, predileto diretor de sua
alma
Pensei em comer uma s vez cada dois dias, mas esperarei
maior inspirao de Deus. Informa-lo-ei de tudo para
que se digne abenoar-me .
EM PLENO APOSTOLADO
Logo que se transferiu para Santo Estvo, levou ao conhecimento do
proco a ordem do snr. bispo de explicar o catecismo s crianas e que era
seu desejo come-lo no prximo domingo.
Sendo tempo de carnaval, julgou melhor o sacerdote que tais instrues
tivessem inicio na quaresma.
Condescendeu docilmente o humilde servo de Deus, mas, ao voltar a Santo
Estvo, ouviu, na orao, a voz do Senhor a repreend-lo asperamente.
Compreendeu, ento, que todo tempo propicio para a prtica do bem,
quando esta ordenada por Deus.
No domingo, tomou do Crucifixo e percorreu as ruas de Castellazzo,
tocando a campainha e bradando: Ao catecismo, na igreja de So Carlos.
O templo ficou repleto, no somente de crianas, mas tambm de adultos.
Paulo dedicava-se a esse santo exerccio com todo o ardor de seu zelo.
Aquelas breves instrues produziram frutos inesperados, alegrando
sobremaneira o corao do snr. bispo.
Aproveitando-se do grande prestigio do catequista, mesmo em sua terra
natal, no duvidou o sbio prelado afastar-se das, regras ordinrias da
Igreja, em se tratando do bem das almas. Ordenou ao religioso, que nem
sequer galgara o primeiro degrau da hierarquia sacerdotal, subisse ao
plpito para expor ao povo as verdades da f e pregar sobre a Paixo de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Abenoou Deus o agir do prelado, patenteando ter sido por inspirao do
Espirito Santo que ele concedera tal dispensa a quem o Cu cumulara de
tantos dons extraordinrios.
Terminadas as instrues, inmeras pessoas acompanhavam Paulo
ermida, no se saciando de v-lo e ouvi-lo.
O snr. bispo quis que o servo de Deus pregasse um trduo solene durante o
carnaval. O santo obedeceu.
CAPTULO VIII
SETEMBRO A NOVEMBRO DE 1721
ndice
PAULO VAI A ROMA
MISTERIOSO CONVITE DE MARIA
DIRIGE-SE AO MONTE ARGENTRIO
O MONTE ARGENTRIO
VOLTA A CASTELLAZZO
CAPTULO VIII
SETEMBRO A NOVEMBRO DE 1721
PAULO VAI A ROMA
Deus abenoava a olhos vistos a obra do jovem apstolo: patenteavam-no os
maravilhosos frutos de seu zelo. Contudo, para seu remate e perfeito
acabamento, far-se-iam necessrios dois lugares: Jerusalm e Roma.
Jerusalm, a Paixo de Jesus Cristo!... Roma, a autoridade divina,
sem o que toda obra estril, morta. Roma comunica ao que lhe pertence o
germen fecundo de vida e imortalidade.
Ver Jerusalm, regar com lgrimas a terra banhada pelo Sangue divino,
eis o desejo que lhe inspirava a perene contemplao dos sofrimentos do seu
Deus. Quo feliz seria se pudesse visitar os Lugares Santos e exclamar:
Aqui entrou Jesus em agonia; ali recebeu o sculo da traio!... Eis
o Pretrio, onde foi aoitado e coroado de espinhos!... a via dolorosa
O MONTE ARGENTRIO
E' imenso promontrio, que se alarga e se eleva medida que avana pelo
Mediterrneo. O mar forma ali bela enseada, onde se encontra o famoso porto
de Hrcules, donde o nome italiano Portercole, dominado por um outeiro,
em cujo cimo se ergue o forte de Monte Felipe.
Da banda do mar, reveste-se a montanha de matizado verdor, formado por
arbustos, por cerejeiras marinhas de fruto verme. lho vivo a ressaltar no
fundo verde, pela ramagem dos bosques, pelos tapetes de relva, pelos
ramalhetes de mirto com bagas purpreas, pela aroeira, pelo alecrim, pela
alfazema e outras plantas aromticas, a recrearem a vista e a convidar ao
gozo dos seus perfumes.
Do lado oposto, o cenrio se apresenta mais vago e fugitivo. Das
montanhas e colinas avista-se majestoso lago, separado do mar por estreita
faixa de terra. O lago se divide em duas partes. Numa das extremidades da
linha que o recorta, est situada a praa forte de Orbetello, rodeada de
gua por todos os lados. A montanha, que banha os ps naquelas cerleas
ondas, entrecortada por terrenos agrestes onde medram arbustos e rvores,
oferece vista o encanto de uma variedade deveras pinturesca.
Subitamente, eleva-se o cume em escarpados penhascos ou se espraia em
planos suavemente inclinados, onde, por vezes, o terreno d lugar a
verdejantes campinas e a pequenos castanheiros. Ali, a duas milhas da
costa, no longe de mananciais de guas frescas e cristalinas, em meio s
ruinas de antigo mosteiro, est a humilde ermida da Anunciao,
contgua a pequeno jardim, com um parreiral, donde pendiam alguns cachos de
uva quando l chegou o servo de Deus.
O encanto da natureza e o profundo silncio que a domina, alcandoravam-lhe
suavemente a alma na contemplao das divinas belezas do Criador.
Apelidou a esta montanha: MONS SANCTIFICATIONIS, monte
da santificao, que convida as almas a desprender-se da terra e
elevar-se para Deus. E bem harmonizava o nome quela solido, pois desde
a origem do cristianismo vira florescer sombra de suas azinheiras, a
prece, o jejum, todas as virtudes, em suma. So Gregrio faz meno,
em seus DILOGOS, dos eremitas do Monte Argentrio. Refere que
um deles, indo a Roma em visita ao sepulcro de so Pedro, ressuscitou um
VOLTA A CASTELLAZZO
Desceu a Orbetello. Estava na praa de So Francisco de Paula, a
espera de que a divina Providncia lhe proporcionasse algum abrigo onde
passar a noite, quando um religioso da Ordem dos Mnimos, movido de
compaixo vista de jovem to pobremente trajado, obteve licena do
superior para lev-lo ao convento, tratando-o com muita caridade.
O servo de Deus descortinou no pe. guardio douto e santo religiosa,
tomando-o mais tarde por confessor.
De Orbetello dirigiu-se para Pitigliano, residncia ordinria do
prelado. Ao atravessar aquelas inspitas campinas, indeciso multas vezes
sobre o caminho a tomar, implorava de joelhos o auxlio do Anjo da
Guarda, e sempre acertava.
Ao cair do sol chegou a Manciano. L encontrou um sacerdote a quem
solicitou lhe indicasse a casa paroquial.
O proco sou eu, respondeu-lhe rispidamente. Que
deseja?
Que me desse hospitalidade por esta noite .
No! - replicou o sacerdote. - Passam por aqui
tantos aventureiros... e basta um para fazer mal a cem
pessoas .
CAPTULO IX
1721 - 1723
ndice
JOO BATISTA RECEBE O SANTO
HBITO
ADEUS FAMLIA
A VIAGEM
COMO VIVIAM NO MONTE ARGENTRIO
CAPTULO IX
1721 - 1723
JOO BATISTA RECEBE O SANTO HBITO
Apenas desembarcaram, foi ter Paulo a uma das igrejas da cidade. Depois
de longa orao, prosseguiu viagem para Alexandria.
Grande jbilo experimentou ao rever, aps tantas provaes e fadigas, a
d. Gattinara. Este abraou-o como a filho muito amado.
O santo prestou-lhe conta minuciosa da viagem. Contou-lhe como descobrira
a santa montanha para onde Maria o chamara e suplicou-lhe se dignasse
revestir tambm a Joo Batista do santo hbito da Paixo, permitindo a
ambos irem se ocultar naquele ermo.
Sentiu muito o Prelado privar a diocese de um santo e de um apstolo,
mas, ciente de que Paulo Francisco era guiado pelo Espirito Santo,
secundou-lhe os desejos.
Joo Batista exultou de alegria ao receber tal noticia.
Realizou-se a vestidura no dia vinte e oito de novembro de 1721, oitava
da Apresentao. Paulo derramava doces lgrimas de consolao.
Passaram os meses mais rigorosos do inverno na ermida de Santo Estvo,
edificando a todos com vida anglica.
Impacientes por voarem para o Argentrio, apenas o inverno comea a
ceder, preparam-se para partir.
ADEUS FAMLIA
Que a santa paz de Jesus Cristo, que excede todo o
entendimento, guarde os nossos coraes.
Mui queridos irmos e irms em Jesus Cristo: Eu, pobre
pecador, Paulo Francisco, vosso irmo e indigno servo dos
pobres de Jesus, vejo-me obrigado, para obedecer s
santas inspiraes do Cu, a deixar esta cidade e
retirar-me solido, a fim de convidar no somente as
criaturas racionais, mas tambm as que so privadas de
razo e entendimento, a chorarem comigo os meus enormes
pecados e cantarem os louvores de Deus, a quem tanto
ofendi.
Antes de partir para aquele santo retiro, creio ser
obrigao minha deixar-vos alguns avisos espirituais, para
progredirdes sempre e coro desdobrado fervor no santo amor de
Deus.
Em primeiro lugar, observai com grande exatido a santa lei
de Deus.
Tende afeto filial para com este Deus que nos criou e nos
remiu; pois ele digno de todo amor.
Sabei, meus queridos, que quanto mais ternamente ama o
filho a seu pai, mais teme ofend-lo e desgost-lo.
Este santo amor ser barreira que vos impedir de cairdes no
pecado.
Amai a Deus, amai a este terno Pai, com amor ardente;
depositai nEle a mais doce confiana. Que todas as vossas
oraes, palavras, suspiros, penas e lgrimas sejam
verdadeiro holocausto oferecido a seu infinito amor. Para
manterdes esse santo amor, freqentai os sacramentos. No
vos aproximeis do santo altar se no para abrasardes sempre
mais a alma nas labaredas do divino amor.
Ah! meus queridos irmos, nada vos digo sobre a
preparao para a sagrada Comunho, porque suponho afareis
com toda diligncia possvel. Lembrai-vos de que se trata
do ato mais sublime que se possa praticar.
Ide freqentemente igreja para adorar o ss. Sacramenta
penetre no corao.
Deixo-vos, pois, nas chagas sagradas de Jesus e sob a
proteo da Me das Dores. Sim, onde vos deixo, bem
conto a todos os parentes.
Rogo ss. Virgem inunde vossos coraes com suas
pungentes lagrimas, imprimindo neles a lembrana continua da
amarssima Paixo de Jesus e de suas prprias dores.
Rogo-lhe outrossim vos conceda a perseverana no seu santo
amor e a fora e resignao nos sofrimentos.
Tende por especial Protetora a Virgem das Dores; jamais
abandoneis a meditao dos padecimentos do Redentor.
Deus, em sua infinita misericrdia, vos cumule a todos de
suas santas bnos. Rezai por mim.
Deo gratias et Mariae semper Virgini.
Vosso indignssimo irmo,
Paulo Francisco, o ltimo dos servos dos Pobres de Jesus
.
Que admirvel norma de vida crist!
Observncia dos mandamentos, dio ao pecado, freqncia dos
Sacramentos, devoo sagrada Eucaristia, Paixo do Salvador, s
dores de Nossa Senhora, aos Anjos e aos Santos; prtica eficaz das
oraes jaculatrias, visitas ao ss. Sacramento, leitura espiritual, o
amor dos pobres e da justia.
E tudo coroado pela caridade, perfeio da lei!
Como remate, deixa-os nas chagas adorveis do Redentor!
A VIAGEM
No primeiro domingo da Quaresma, aps haver-se compenetrado dos
sentimentos de Jesus conduzido pelo divino Parclito ao deserto, expressos
no Evangelho da Missa, Paulo e Joo Batista partem para o Monte
Argentrio. Era o dia 22 de fevereiro de 1722. A 10 do mesmo ms o
snr. bispo assinara um atestado de bom comportamento.
Embarcam em Gnova e chegam sem novidades a Civitavecchia, onde so
obrigados a fazer a quarentena at a manh de quarta feira santa. Nesse
dia se dirigem a Portrcole, ansiosos por receber no dia seguinte a sagrada
Comunho, mas o sol j se ocultava no horizonte e eles ainda estavam nas
vizinhanas de Burano, a vinte quilmetros da Montanha.
Naqueles ermos era impossvel caminhar noite, pois o terreno agreste
e semeado de atalhos. Sem teto e sem po, deitaram-se na terra nua, sob
um espinheiro. Ao levantar-se, aos primeiros clares da aurora, estavam
banhados de orvalho. Com o corpo enfraquecido, mas com o espirito alentado
pelo desejo de celebrar a Pscoa com Jesus no corao, prosseguiram
apressadamente a viagem. Chegaram em tempo de assistir a Missa solene.
Jesus Sacramentado fez-lhes olvidar os sofrimentos passados e os fortificou
CAPTULO X
1723 - 1726
ndice
S. JANURIO
Ao aproximar-se a festa de so Janurio, foram a Npoles venerar as
VO A TRIA
Governava a diocese de Tria, no reino de Npoles, prelado de rara
doutrina e eminente virtude. Quando recorria Santa S no interesse da
diocese, Clemente XI soa dizer:
Devo content-lo; seu saber e delicadeza de
conscincia no lhe permitem pedir o que no possa
justificar-se pela autoridade e exemplos da antigidade .
Inocncio XIII e Bento XIII apelidavam-no de santo. Esse
venervel antstite era d. Santiago Emlio Cavalieri, tio materno de
santo Afonso de Ligrio.
Quando Afonso, na flor da idade, resolveu consagrar-se a Deus, o pai
pediu ao bispo o dissuadisse da idia do sacerdcio.
Eis a resposta de d. Cavalieri:
Meu querido Jos, eu tambm abandonei o mundo e
renunciei ao direito de primogenitura para salvar a minha
alma. V, portanto, que no posso aconselhar o
COM D. CAVALIERI
O bispo de Tria chorou, comovido, ao ver os servos de Deus, e os
estreitou de encontro ao corao. Ordenou que lhes dessem no palcio o
necessrio como lenitivo dos sofrimentos passados. E eles recomearam logo
depois os exerccios de adorao ante o ss. Sacramento, porquanto este
inefvel mistrio de amor atra os coraes como o m atrai o ferro.
O santo prelado, embora enfermo, permanecia tambm prolongadas horas em
ntimos colquios com Jesus Hstia. Os fiis os acompanhavam.
Ouamos o bigrafo de d. Cavalieri
Teve outrossim o santo bispo a inefvel alegria de ver
grande nmero de almas inflamar-se no amor do adorvel
Sacramento dos nossos altares .
Querendo ampliar os frutos produzidos pelos exemplos eloqentssimos de
Paulo, confiou-lhe, como fizeram outros bispos, o ministrio da palavra.
O obedientssimo jovem, acompanhado de piedosa irmandade, pregava,
noite, nas ruas e praas da cidade.
Aquela voz possante a ecoar em meio s trevas, despertava o pecador do
profundo letargo da culpa. O efeito singular produzido por tais prdicas
induziu Paulo a introduzi-las nas Misses.
No palcio episcopal, onde no havia outros adornos que imagens de Jesus
Crucificado, habitavam os dois irmos como nas pobres celas de Gaeta.
Tendo ante os olhos os exemplos de um bispo que, para comparticipar dos
sofrimentos de Jesus Crucificado, se alimentava ordinariamente de um bocado
de po e algumas frutas, dormia sobre tbuas e tratava asperamente o
corpo, Paulo e Joo Batista aspiravam por jejuns mais austeros e mais
cruentas maceraes. No lhos permitiram, porm.
Admirado da santidade de d. Cavalieri, franqueou-lhe Paulo o corao,
revelando-lhe todos os refolhos da alma e as inspiraes do Cu a respeito
da Congregao da SS. Cruz e Paixo de N. S. Jesus Cristo.
Verdadeiro dardo de luz para o venervel antstite!
Eis, pois, o fundador da Congregao que, por convico
sobrenatural, sabia haver de surgir na Igreja de Deus!
Apoderando-se-lhe, ento, da alma os profticos transportes do velho
Simeo, apertou a Paulo nos braos e entoou o cntico:
Contemplo urna obra que toda de Deus!... Vereis
VO A ROMA
Era o ano jubilar de 1725. Paulo resolveu ir em peregrinao
cidade eterna para lucrar o precioso tesouro de indulgncias e prostrar-se
aos ps do Soberano Pontfice.
D. Cavalieri, diz seu bigrafo, encorajou aquelas
grandes almas a empreenderem a viagem a Roma para obter da
Santa S a aprovao da santa empresa, deu-lhes cartas
comendatcias a vrios cardeais e a outros personagens da
corte romana .
CAPTULO XI
1725 - 1727
ndice
ENCONTRO PROVIDENCIAL
SO APRESENTADOS A BENTO XIII
VOLTAM A GAETA
JUNTO A N. SENHORA DA CIDADE
MORTE DE D. CAVALIERI
PARTEM DEFINITIVAMENTE PARA
ROMA
ENFERMEIROS EM S. GALICANO
CAPTULO XI
1725 - 1727
ENCONTRO PROVIDENCIAL
Em Roma, quando oravam fervorosamente ante o altar da Confisso do
Prncipe dos Apstolos, foram os dois irmos vistos por monsenhor Marcelo
Crescenzi, cnego da baslica Vaticana, logo depois cardeal da santa
Igreja. Enternecido pela grande modstia e recolhimento e pela pobreza do
traje dos peregrinos, sentiu-se internamente impelido a perguntar-lhes
donde eram e o motivo que os trazia a Roma. Exps-lhe Paulo a finalidade
do Instituto da Paixo, acrescentando que viera solicitar do Soberano
Pontfice a aprovao das Regras. O pe. Joo Maria afirma que o
primeiro encontro se teria dado nas
Tre Fontane .
O de So Pedro teria sido o segundo.
Notou o prelado na resposta tanta humildade e bom senso, que dele concebeu
elevada estima e afeio, inalterveis at a morte. Muitos anos
depois, em carta ao pe. Paulo, rememorava aquelas circunstncias
VOLTAM A GAETA
Aps entoar de corao cnticos de ao de graas ao Senhor, aos
apstolos so Pedro e so Paulo e aos mrtires da cidade eterna,
voltaram para Gaeta.
O primeiro a ter conhecimento da feliz nova foi o snr. bispo de Tria.
Satisfeitssimo com noticia to agradvel, quando mais sofria a ausncia
de seus amadssimos irmos, assim os chamava em sua bondade,
respondeu-lhes nos termos seguintes:
Oh! quanto me consola o saber - bendito seja Deus! que podeis reunir-vos em comunidade com os que desejam
imitar-vos! No sou invejoso, mas Aemulor Dei
aemulatione: tenho santa inveja do bispo de Gaeta, por vos
possuir em sua diocese. Nada obstante, in spe contra spem
spero et confido: confio e espero contra toda esperana
.
Que que esperava? Ele mesmo o diz claramente em outra carta
Se meus pensamentos no so temerrios, espero e
confio ter em minha diocese, antes de falecer, alguns dos
vossos companheiros, caso os meus pecados no impeam to
grande ventura
O santo bispo envidou todos os esforos por encontrar lugar conveniente e
fundar uma casa do Instituto, pois ele e mais um sacerdote aspiravam
terminar os dias revestidos da santa libr da Paixo, entregando-se
unicamente prece, penitncia e propagao das glrias e
ignominias de Jesus Crucificado.
Paulo anelava proporcionar-lhe essa consolao e, ao mesmo tempo, viver
ao lado de alma to santa, mas graves razes o retinham em Gaeta, na
ermida de Nossa Senhora da Cadeia, admiravelmente conforme o espirito do
Instituto e onde comeavam a chegar alguns companheiros desejosos de
consagrar-se Paixo do Redentor.
Eram um sacerdote, que apenas conhecemos pela meno que dele faz d.
Cavalieri, e o bom Ricinelli, o clrigo de que j falamos.
Este, havia muito se entregara vida de comunidade com os servos de
Deus, imitando-os com fervor admirvel em todas as prticas de devoo e
penitncia. Resolvido a no mais deix-los, aspirava pelo dia da
vestidura.
Paulo chamou ermida de RETIRO para caraterizar o espirito do
Instituto. Esta a razo por que os Passionistas chamam suas casas de
RETIROS.
Ali formava, com o exemplo e a palavra, os primeiros filhos, excitando-os
a imitarem as virtudes de Jesus Crucificado. Foi, ento, com mais
clareza, que demonstrou possuir o dom de ler nas conscincias e no futuro:
dom esse que mais lhe realou a santidade.
Certa pessoa, ligada pelos laos do matrimnio, aparentemente desprendida dos cuidados terrenos, estava, conforme se dizia, em continua
orao. Julgavam-na em intimas comunicaes com Deus e alguns afirmavam
que a ss. Virgem a honrava por vezes com sua presena e seus colquios.
Naquele profundo ermo podiam os homens de Deus gozar mais livremente dos
frutos da solido e abismar-se com mais fervor nas contemplaes
celestes. O canto dos divinos louvores e a santidade de Paulo e Joo
Batista consagraram novamente aquele lugar abenoado. Colocaram-se sob a
direo espiritual do venervel sacerdote Erasmo Tuccinardi, que, embora
lhes refreasse o rigor das penitncias, mortificava-os de mil maneiras.
Tirou de Paulo e conservou como preciosa relquia uma disciplina
ensangentada, confeccionada de sete cordas, de cujas extremidades pendiam
outras tantas bolas de chumbo, com seis pontas de ferro cada uma. Impunha
por vezes aos dois irmos humilhaes hericas. Ordenava-lhes, por
exemplo, levarem ao santurio grandes troncos de rvores, cortadas no mais
espesso da floresta, e eles, alegres, obedeciam, carregando-os aos
ombros, descalos, a derramar suor, atravs dos escabrosos atalhos.
A santidade possui irresistvel seduo. Os santos fogem do mundo para
os desertos e o mundo teima em segui-tos.
O desejo de ver e ouvir o apstolo da Paixo atraia quelas alturas
numerosos peregrinos. Paulo sempre pronto a deixar Deus por Deus,
acolhia-os com a afabilidade dos santos, inflamando-os no amor a Jesus
Crucificado.
Mais unidos pelos laos da graa que pelos vnculos do sangue, os dois
irmos auxiliavam-se mutuamente na subida para a cume da perfeio. Certa
feita, discorrendo de assuntos espirituais com algumas senhoras que foram
visit-lo, Paulo sentiu, de repente o fogo do santo amor a refletir-lhe do
corao no rosto e comeou a relatar com simplicidade diversas graas
recebidas de N. Senhor, quando chegou Joo Batista. Como se o
surpreendera em alguma falta, disse-lhe em tom severo
Ah! Paulo, Paulo, ai esto os seus costumes!...
MORTE DE D. CAVALIERI
Dois meses ainda no eram decorridos da sua permanncia no santurio de
Nossa Senhora da Cidade, quando sobreveio a mor. te do estimado d.
Cavalieri.
Aps a carta de que falamos, o venervel antstite, sempre com o desejo
de possuir um retiro Passionista, confiara ao pe. Crivelli, da Companhia
de Jesus, a incumbncia de examinar vrios lugares, escolhendo o que
julgasse mais conveniente. O prelado escrevera a respeito aos servos de
Deus, manifestando a esperana de tornar a v-los no local
escolhido por to admirvel homem de Deus como o
padre Crivelli .
Satisfeito com os piedosos desejos do prelado, aprouve a N. Senhor
tir-lo do desterro e lev-lo para. o repouso da ptria celeste. E' de
crer que Deus revelasse ao santo bispo seu prximo trespasse, pois, antes
de enfermar, dissera com convico:
Em breve morrerei... No tardar o dia em que
ENFERMEIROS EM S. GALICANO
Terminado o hospital e consagrada a igreja pelo Soberano Pontfice sob a
invocao de So Galicano, aos 8 de outubro de 1726 houve solene
tomada de posse.
Espetculo comovente que houvera maravilhado aos Csares da Roma pag!
Marcha gloriosa, bem diversa da dos antigos triunfadores em demanda do
Capitlio, arrastando, acorrentados, os mseros vencidos!
,Aqui triunfam os vencidos da dor, divinizada no Calvrio. Os
enfermos, com passo lento ou carregados em carros, em liteiras ou nos braos
de pessoas caridosas, avanam por entre a multido comovida! Vai
frente Joo Batista, empunhando o estandarte da Cruz; Paulo, os
sacerdotes e os cardeais, entoando hinos, encerram o cortejo triunfal.
Conduzem ao palcio da caridade aqueles pobres, enfermos, ancios,
crianas... que os patrcios da antiga Roma lanaram aos tanques para cevar
as lamprias.
Os servos de Deus dedicaram-se quela obra como
se abraassem nos pobres o mesmo Jesus Cristo ,
segundo a expresso de Paulo. Indizvel a ternura e a caridade com que os
instruam nas verdades da f, dispondo-os a receberem os santos
Sacramentos. Ensinavam-lhes a santificar os sofrimentos,
prodigalizavam-lhes os mais humildes favores. Sua palavra inflamada
CAPTULO XII
1727 - 1728
ndice
SO ORDENADOS SACERDOTES POR
BENTO XIII
O SANTO NO ALTAR
VISITA INESPERADA
MORTE DO PAI
LTIMA VISITA A CASTELLAZZO
NOVAMENTE EM ROMA
CAPTULO XII
1727 - 1728
SO ORDENADOS SACERDOTES POR BENTO XIII
Como o pe. Lami, tambm o cardeal Corradini amava e venerava a Paulo e
Joo Batista. Grandemente admirados do zelo dos servos de Deus, julgaram
maior bem produziriam, ordenados sacerdotes. Estes jamais aspirariam a to
sublime dignidade, no soubessem ser esta a vontade de N. Senhor,
manifestada por d. Cavalieri. E' que estavam compenetrados da divina
excelncia do sacerdcio!
O cardeal falou-lhes a respeito. A humildade dos dois irmos ops sua
autoridade de superior, ordenando-lhes, em nome da obedincia, se
preparassem s Ordens sagradas.
Incumbiu-se s. eminncia de escrever ao bispo de Alexandria, d.
Gattinara, que os revestira do santo habito, solicitando as cartas
dimissoriais.
Os servos de Deus preparavam-se, com extraordinrio fervor, tremenda
dignidade. Amestrados, na solido, nos sublimes mistrios da f e nos
ensinamentos das sagradas escrituras, apenas lhes faltava conhecer da
teologia o necessrio para as funes sacerdotais. Entregaram-se a esse
estudo com todo o entusiasmo. Tiveram por professor o pe. frei Domingos
Maria, menor observante e proco de So Bartolomeu, na ilha Tiberina.
Receberam a tonsura das mos de d. Beccari, vigrio geral, em sua
capela particular, aos 6 de fevereiro de 1727, e as ordens menores no
dia 23 do mesmo ms. Aos 12 de abril seguinte, sbado, feitos os
exerccios espirituais em o noviciado dos padres Jesutas, em Santo
Andr de Monte Cavallo, foram promovidos ao subdiaconato, na baslica de
Latro, e ao diaconato no dia 1.o de maio, EXTRA TEMPORA, com
dispensa apostlica, aps o retiro espiritual na casa dos Lazaristas, no
Monte Citrio. Finalmente, aos 7 de junho do mesmo ano, sbado das
tmporas de Pentecostes, foram ordenados sacerdotes na baslica Vaticana,
pelo Santo Padre, o Papa Bento XIII.
O SANTO NO ALTAR
O nosso santo , pois, sacerdote!... Vai tomar nas mos o sangue do
Cordeiro divino e oferecer a Vtima imaculada... Tudo eram transportes
de alegria e xtases de amor...
Nesse primeiro Sacrifcio oferecido por mos to puras, visitou Deus a
seu ELEITO com assinalados favores. Muitos anos decorridos, ao
recordar-se daquele momento feliz, derramava dulcssimas lgrimas.
Ignoramos quais fossem esses favores, mas conhecimentos uma viso admirvel
numa festa da ss. Trindade e todas as circunstncias se unem a essa
primeira hora de iniciao sacerdotal. Vejamo-lo.
Paulo rendia fervorosas aes de graas da santa missa, quando,
arrebatado em xtase, ouviu os anjos cantarem:
AO CU... AO CU...
Raios de luz celeste desvelaram-lhe as belezas da eterna Jerusalm! A
transbordar de alegria, contemplou os coros dos santos, a hierarquia dos
anjos e a Rainha do paraso, sobrepujando a todos os bem-aventurados pelo
resplendor da glria, e viu...
oh! que viso!...
exclamava mais tarde, referindo-se quelas maravilhas. Ante seus olhares
estava a HUMANIDADE DO VERBO, manancial da glria, cujos
fulgores enchem o paraso. Contemplou, ademais, em meio dum oceano de luz
e atravs de luminosos vus, a Trindade augusta. Penetrou, ao mesmo
tempo, profundamente, no conhecimento das infinitas perfeies divinas, a
ponto de poder exclamar
Oh! que noo possuo, desde aquele arrebatamento, do
Poder, da Sabedoria, da Bondade e dos demais atributos
divinos!... Altura incomensurvel!... Impossvel
descrever o que vi, pois no h expresses adequadas .
Mais. O divino Espirito Santo mostrou-lhe o fulgurante trono que lhe
estava preparado desde o principio do mundo.
Durou a viso cerca de hora e meia.
VISITA INESPERADA
Os neo-sacerdotes, animados de novo espirito, desenvolviam maior atividade
em prol dos queridos enfermos, sem interromper os estudos da teologia e das
sagradas Escrituras, sob o magistrio do vigrio de So Bartolomeu.
No lhes parecia suficiente o apostolado do exemplo: era necessria a
cincia, luz do intelecto, triunfadora do erro. Deveriam ser, na casa de
Deus, lmpadas ACESAS E FULGURANTES. Joo Batista
tornou-se mui versado nas Escrituras; Paulo adquiriu o dom da palavra,
forjadora de apstolos.
Por esse tempo, receberam inesperada visita.
Os idosos pais, no tendo noticias dos dois filhos, enviaram a Roma
Jos, seu irmo, que, desconhecendo a cidade, muito andou para
encontr-los. Extenuado pela longa viagem, acometeram-no violentssima
febre e fortes dores de cabea. No podendo suportar as dores, suplicou a
Paulo, sentado junto ao leito, lhe colocasse a mo na cabea...
Persuadira-se de que se restabeleceria pelos mritos do santo. Descobriu
Paulo as intenes do irmo e aconselhou-o se recomendasse a Deus, em
quem deveria confiar. Vencido, porm, pelas reiteradas splicas do
enfermo, ps-se de p e exclamou
Pois bem, tem confiana. O sacerdote tem poder para
ressuscitar os mortos ...
E colocando a destra na fronte de Jos, proferiu as palavras do
Evangelho:
Super aegros manos imponent et bene habebunt: imporo as
mos sbre os enfermos e estes sero curadas (Marc.
16, 18) .
E o irmo adormeceu... Ao despertar, duas horas aps, j no sentia
dor alguma. De volta a Castellazzo, inebriou de contentamento o corao
dos pais, narrando maravilhas a respeito dos irmos.
MORTE DO PAI
Mas, ai! as alegrias deste mundo so fugazes
A morte veio ferir o venerando Lucas Danei. Algum, ao passar-lhe ao
lado, inadvertidamente esbarrou nele com violncia, lanando-o por terra.
A queda foi mortal. O primeiro pensamento do moribundo foi recomendar
famlia no guardasse ressentimento contra o involuntrio autor de sua
morte. Abandonando-se totalmente ao divino beneplcito, recebeu os
ltimos sacramentos e abenoou a desolada famlia. A esposa, com coragem
NOVAMENTE EM ROMA
Fizemos esta digresso, enquanto o navio se fazia de vela para Roma.
Ei-los j no termo da jornada. Aps dois meses de ausncia, ei-los
novamente no hospital de So Galicano. Parece que a viagem no foi muito
boa. Sabemos, com efeito, que, apenas chegados em Roma, Paulo e Joo
Batista caram enfermos de febre ter e o estado do nosso santo se agravou
de tal forma que por 18 dias no pde celebrar, continuando acamado
durante todo o inverno. De uma carta marquesa Del Pozzo consta que a
31 de outubro de 1727 Paulo se acha novamente em Roma. A doena que
por 18 dias lhe impediu de celebrar a santa Missa acometeu-o aps o
regresso de Castellazzo.
A prova est concluda. Os apstolos j esto formados na caridade,
na pacincia e na humildade. Soou a hora de fix-los no verdadeiro
caminho de sua predestinao, descortinando-se diante deles a larga
estrada do apostolado.
CAPTULO XIII
1728 - 1730
ndice
A CAMINHO DO ARGENTRIO
NA ERMIDA DE S. ANTO
APOSTOLADO EM PORTRCOLE
FATOS PRODIGIOSOS
PRIMEIROS COMPANHEIROS
COMO VIVIAM OS PRIMEIROS
PASSIONISTAS
DEFECES
CAPTULO XIII
1728 - 1730
A CAMINHO DO ARGENTRIO
Deus manifestara a sua vontade.
Quais cervos sedentos em busca das fontes da gua viva, Paulo e Joo
Batista voam para o Monte Argentrio, futuro bero do Instituto da
Paixo.
Chegados a Portrcole, souberam que a ermida da Anunciao estava
habitada por certo anacoreta. L estava Antnio Schiaffino, o
conterrneo que sara de Gaete. ' verdade que, no longe, havia outra
ermida dedicada a santo Anto, mas em tal estado que lhes no pareceu
bastante decorosa para nela se celebrar o divino Sacrifcio. Sobem, nada
obstante, o monte, suplicando humildemente ao ermito habitarem o santo
lugar em unio de caridade. A proposta foi recusada; nem sequer lhes
permitia permanecerem na montanha... Em silncio e calma, adoraram
naquela recusa a vontade do Altssimo e resolveram voltar a Castellazzo.
Descem ao porto de Santo Estvo, onde trs vapores esto para
levantar ferros. Conseguem passagem grtis num daqueles navios. Ao
primeiro vento favorvel, pem-se em movimento as trs embarcaes.
Duas, desfraldadas as velas, fazem-se rapidamente ao largo, ao passo que a
terceira, em que se encontram os servos de Deus, no se move, por maiores
esforos que faam os marinheiros. Vem em seu auxlio as outras
embarcaes. Grossos cabos presos popa esforam-se por reboc-la.
Tudo intil. Permanece imvel como rocha. Admirados e estupefatos,
temeram os marinheiros algum malefcio ou castigo do Cu.
J no sabiam o que fazer, quando Paulo, que estivera em orao no
camarote do proprietrio da nau, vem acalm-los, esclarecendo ser ele
prprio a causa de o navio no se mover, visto como Deus queria que fixasse
NA ERMIDA DE S. ANTO
Mais uma vez N. Senhor manifestara o carinho com que velava por eles.
Retornam ermida de Santo Anto, resolvidos a tudo sofrer para
cumprimento da ss. Vontade de Deus. De fato a habitao estava em
runas. O andar trreo era dividido em dois compartimentos, um dos quais
servia de capela. No andar superior havia dois mseros quartos, cujo teto
no os defendia do vento nem da chuva. Mesmo em 1736 no passava de
msero tugrio, que inspirava aborrecimento e horror.
Longe de desanimarem, retiram os escombros e comeam a restaurao. Ao
cabo de alguns dias, a capela, embora pobre, tornou-se decente. Suprindo
a falta de adornos, nela resplandecia o mximo asseio. No ano precedente
(1727), falecera d. Flvio Salvi, grande admirador de Paulo e Joo
Batista. Seu sucessor, d. Cristvo Palmieri, manifestou-lhes igual
afeto, permitindo-lhes habitarem aquela ermida e l celebrarem o santo
Sacrifcio.
O ar puro da montanha e o silncio da floresta, a calma do esprito e do
corao restauraram-lhes em breve a sade e as foras. Recomearam,
pois, o teor de vida, que j delineamos, a saber
orao contnua, austeras penitncias e o canto diurno e noturno dos
divinos louvores.
Alegraram-se sobremaneira os habitantes daquelas paragens ao rever os dois
solitrios, cujas virtudes tanto admiravam. O ermito que no estava
satisfeito, muito embora Paulo empregasse todos os meios para atra-lo a
melhores sentimentos.
Meses aps enviou-lhes N. Senhor um jovem piemonts, desejoso de se
lhes associar na vila, penitente. O santo Fundador recebeu-o como irmo
leigo e, depois de prov-lo, revestiu-o do santo lbito, com o nome de
Joo Maria. O recm-chegado permanecia muitas horas em orao com os
sacerdotes, ajudava-lhes a missa e desempenhava os misteres prprios do seu
ofcio. Desembaraados dos cuidados temporais, puderam os padres empregar
mais tempo nos estudos e na orao, preparando-se eficazmente Iara, o
ministrio da palavra.
APOSTOLADO EM PORTRCOLE
Em sua primeira visita pastoral a Portrcole, na quaresma de 1729,
d. Palmieri conheceu melhor os santos anacoretas, cuja fama se apregoava ao
longe, e resolveu empreg-los na santificao do seu rebanho. Aps
prvio exame de moral, concedeu-lhes jurisdio sobre as conscincias.
Ademais, incumbiu-os de preparar o povo de Portrcole para a Comunho
pascal. O documento que o autoriza a ouvir confisses traz a data de 21 de
maro de 1729.
FATOS PRODIGIOSOS
Esse povo mereceu, por sua docilidade, prodigiosa recompensa. Os santos,
a par de uma potncia liara a conquista do Cu, so verdadeiros
pra-raios contra as calamidades da terra, como o atestam inmeros e
incontestveis milagres.
Obscurecera-se o cu sobre a cidade de Portrcole Espessas nuvens
agitavam-se confusamente no espao; relmpagos e espantosos troves
pressagiavam deplorvel furaco. Antevia-se a desolao dos campos
assolados. Atemorizados, correm presena de Paulo, em busca do auxilio
de suas oraes. Anima-os o santo e, tomando a Cruz, abenoa os
elementos desencadeados. Cai no mesmo instante o granizo em grande
quantidade. Lamentavam-se todos, julgando perdida a colheita daquele ano.
Passada a tempestade, vo pressurosos examinar os campos e os vinhedos.
Qual no a surpresa e a alegria daquele bom povo ao ver intatas as uvas e
as demais frutas, como se cara apenas benfica chuva!.
Igual prodgio renovou-o Paulo na mesma cidade, anos decorridos, quando
l, pregou uma, misso.
Outra feita percorria o servo de Deus as praias, quando se lhe apresentou
um pescador dizendo-lhe, com as lgrimas nos olhos, que havia quatro meses
no apanhava peixes e, para cmulo de desgraa, encontrava as redes sempre
laceradas. As despesas com a manuteno dos empregados obrigaram-no a
contrair muitas dividas, sem saber como sald-las.
Padre Paulo, exclamava com os braos estendidos, por
caridade, benzei minhas redes e o mar .
O homem de Deus ps-se de joelhos, recitou as ladainhas da ss. Virgem
e, aps benzer com o Crucifixo o mar e as redes, disse ao proprietrio que
tivesse confiana, pois N. Senhor viria em seu auxlio.
Ao cair da tarde, cheio de f, foi lanar as redes. Apanhou to grande
quantidade de peixe, que deu para reparar os prejuzos passados.
Reconhecido, enviou na manh seguinte abundantes peixes aos solitrios do
Argentrio. Desde ento a pesca foi sempre abundante.
PRIMEIROS COMPANHEIROS
No ms de maio de 1730, o mais jovem de seus irmos, Antnio, veio
visit-lo. Trazia uma carta e generosa oferta da marquesa Del Pozzo, cujas
terras o apstolo evangelizara, como dissemos. A morte arrebatara-lhe
pessoas queridas. Suplicava-lhe celebrasse algumas missas e lhe enviasse
palavras de conforto. Respondeu-lhe Paulo como somente os santos sabem
responder. Eis algumas de suas expresses:
A morte aumentou vossas penas... graas sejam dadas ao nosso verdadeiro
Bem, por vos conservar pregada Cruz... Cruz amada! santa
Cruz! RVORE DA VIDA, em que est suspensa a eterna VIDA,
eu te sado, abrao-te e te aconchego ao corao! Senhora, estes so
os sentimentos que devem anim-la na presente circunstncia. Coragem,
pois, coragem! Imite a mulher forte da SABEDORIA. Sob fardo to
pesado, a parte inferior da alma tem que sofrer, no h dvida, mas a
parte racional, a mais alta do espirito, fruir doce repouso no seio de
Deus. No encare de frente os trabalhos, os encargos da casa ou quaisquer
outros afazeres; mas fite seu olhar no querido Amor Crucificado, o nosso
DEFECES
Belas esperanas... de pronto, porm, desvanecidas...
E' que Deus se comprazia em submeter o nosso santo a duras provas...
Cumpria-se o vaticnio do venervel bispo de Tria, ao compar-lo com
Abrao. Prometera o Senhor ao Patriarca numerosa posteridade e lhe ordenara
sacrificasse Isac, o filho de suas esperanas...
Paulo recebe a mesma promessa e tem que sacrificar os primeiros
companheiros, esperanas do Instituto. A semelhana do divino Mestre, o
servo de Deus sofreu o abandono dos seus discpulos. Todos abraaram com
fervor as austeridades da Congregao, mas faltou-lhes fora bastante
para prosseguirem a rgida jornada.
Confessemos que anui Congregao recm-nascida, sem o prestigio elo
passado amo os recursos elo presente exige f inquebrantvel no futuro.
No necessrios heris de abnegao, que avancem corajosamente, seguindo
o Fundador, at o cume da santidade. Assim contemplamos pliades de
santos em torno de Domingos de Gusmo, de Francisco de Assis, de
Incio de Loiola e de todos os grandes fundadores. Paulo da Cruz ter
tambm valorosa falange de santos.
Mas, por agora, est s com seus dois irmos. E a tristeza do abandono
cresceu com o esmorecimento do benfeitor que, cedendo a prfidas
sugestes, decidira no mais cumprir a palavra dada para ampliao da
ermida.
Paulo, amparado na Cruz, suportou esse contratempo sem desfalecer.
Derramou, contudo, sua mgoa no corao de mons. Crescenzi. Este
respondeu exortando-o a no desanimar. Dizia-lhe chie Deus, quando os
interesses de sua glria o exigissem, abriria caminho para o estabelecimento
do Instituto. Recomendava-lhe a santa perseverana. Paulo abandonou-se
sem reservas nos braos da Providncia.
O barco, escrevia ele a Tuccinardi, est lanado ao
mar sem vela nem remo, mas sob a direo do grande
Piloto, que o conduzir com segurana ao porto.
Investem-no os ventos e as tempestades, para melhor
resplandecer a sabedoria de quem o governa. Viva sempre N.
S. Jesus Cristo, que nos tem dado fora para tudo
vencermos por seu amor!...
Nas obras de Deus, quando as coisas baixam, ento
que mais se elevam... Reze por ns, para podermos levar
de vencida os nossos inimigos, fortemente armados contra
ns...
Que se cumpra sempre a ss. Vontade de Deus!...
Desprezo de ns mesmos, unio perfeita com a vontade
divina... eis os pontos capitais da vida crist .
Como se conhece, na tribulao, a linguagem dos santos! Humilham-se e
adoram; no vm os homens, mas unicamente a Deus. Os inimigos de que
fala Paulo so apenas os demnios. Eram eles que estimulavam os
perseguidores e, raivosos, lhe apareciam sob formas horrendas,
martirizando-o com pancadas.
Humilde,
Todavia,
Deus lhe
a glria
CAPTULO XIV
1730 -1733
ndice
MISSES EM TALAMONA
RECEBE DE CLEMENTE XII O TTULO
DE MISSIONRIO
OUTRAS MISSES
CAPTULO XIV
1730 -1733
MISSES EM TALAMONA
Teremos ocasio de contemplar, em todo o seu esplendor, o apostolado de
Paulo da Cruz. Vimos apenas o preldio.
O Fundador conta trinta e seis anos; trabalhar ainda pelo espao de
quarenta anos na conquista das almas. Jamais deixar de anunciar Jesus
Crucificado, no alto das montanhas, no profundo dos vales, em pleno mar,
s margens dos rios, nas cidades populosas, nas humildes aldeias, lios
hospitais, nos crceres, nos patbulos, nos canil de batalha, em meio aos
empestados, bem como s virgens esposas de Cristo e aos sacerdotes do
Senhor. Em suma, onde quer que haja unia alma a salvar, pecadores a perdoar
e coraes a inflamar no santo amor de Deus.
Nada o deter no ardor de seu zelo: nem os calores do sol nem as geadas,
as tempestades, o dio dos homens, o furor do inferno, as enfermidades, o
peso dos anos. Sempre debilitado e reanimado sempre por novo vigor,
assinalar as pegadas com o prprio sangue e cada passo ser em beneficio
das almas, para glria de Deus, para triunfo da Igreja.
Para descrever essa inumervel messe de almas, fora mister muitos volumes.
Referiremos aqui apenas o necessria para nos dar a conhecer a vida do santo
apstolo.
O snr. bispo de Soana sofria ao ver a diocese contaminada por pessoas de
pssimos costumes, por malfeitores de toda espcie, vindos dom Estados
limtrofes, acossados pela policia. Quem conseguir comover esses
coraes empedernidos, reformar-lhes ore costumes e lev-los para Deus?
Os apstolos do Argentrio... Esta a inspirao do prelado. Sabia
por experincia possurem ambos a cincia dos santos e o Espirito do
Senhor.
Ao apelo do snr. bispo, abandonam o deserto para, imita de Joo
Batista, o precursor, pregar a penitncia, e, como o grande Apstolo das
gentes, anunciar Jesus Crucificado.
Sua presena era j a mais eloqente das prticas. A tnica ou,
melhor, o cilicio, os ps descalos, a austeridade da vida, aquela
santidade atraente e grave ao mesmo tempo, aquelas palavras partidas de
coraes em chamas, eram luz para as inteligncias, fora para a vontade,
blsamo para os coraes. Os alais obstinados pecadores caam,
vencidos, a seus ps...
O snr. bispo no cabia em si de contente, bendizendo a Bondade divina.
Em dezembro de 1730 mandou-os pregar a santa misso em Talamona,
outrora famoso porto da repblica de Sena, ento pequena cidade de mil
habitantes.
Eloquncia e uno se aliam nos sermes dos humildes missionrios. O
auditrio est suspenso desde as primeiras palavras. E passa da admirao
ao estupor, do estupor ao entusiasmo. Paulo no estrado parece
transfigurado. Raios de luz jorram-lhe do rosto. E' Jesus que fala pelos
lbios de seu apstolo. Fervor universal, emoes profundas e
duradouras, reforma dos costumes, abundantes graas do Cu... eis os
frutos dessa misso.
Certo dia, falava o santo a imenso auditrio sobre os suplcios eternos,
quando uma jovem entra na igreja.
Oh! tu - exclama com nfase - oh! tu que no podes
suportar uma dor de dente, como poders suportar os
tormentos do inferno, merecidos pelos teus pecados!
A jovem sofrera a noite toda forte dor de dente... Interpelao to
singular, com aquele olhar a penetrar-lhe o mago da alma, comove-a
profundamente. Terminado o sermo, ei-la aos ps de Paulo. Faz
confisso geral, renuncia s vaidades do mundo e consagra-se a Deus pelo
voto de virgindade. Chamava-se Ins Grazi e pertencia a uma das mais
distintas famlias de Orbetello, quer pela posio social como pelos bens
de fortuna. Embora no fosse m, era demasiado inclinada s diverses e
pompas mundanas. Viera casa, de campo para entregar-se a frvolas
distraes e descobriu as castas alegrias de rins corao todo entregue ao
puro amor de Deus. Possua alma nobre s generosa, chamada por N.
Senhor a alta perfeio.
Ins, desde ento, considerou como pai quem a gerara em Cristo.
Adotou-a Paulo por filha espiritual, jamais cessando de cultivar para o
Cu aquela flor do Calvrio. Veremos corno Ins ser o instrumento de
valiosa obra do santo Fundador. Permita explicar aqui por que caminho
Paulo a conduziu a eminente santidade. Ouviremos, aps ter ela voado para
o cu, os elogios que o servo de Deus tece a essa alma de escol.
OUTRAS MISSES
Aps breve convalescncia, prosseguiu as misses na diocese de Soana,
mas to debilitado que causava compaixo a quantos o viam. Passou dois
anos em alternativas de sofrimentos, solido e apostolado; missionrio ou
anacoreta, distinguiu-se sempre pelos benefcios outorgados ao prximo.
Joo Fontana, rico senhor de Protocole, havia muito sofria erupes
cutneas de carter maligno. As mos e o rosto apresentavam aspeto
horrvel. Todos o evitavam como se fora leproso. Esgotados os recursos
mdicos, recorreu ao poder de Paulo. Subiu o Argentrio e lanou-se aos
ps do santo, rogando-lhe o libertasse da ignominiosa molstia. O servo
de Deus encorajou-o, benzeu-o e o despediu. Tomado de alegria e
esperana como jamais experimentara, volto Joo para casa pouco antes do
anoitecer. Na manh seguinte, ao levantar-se, pareceu-lhe estar
radicalmente curado; mas, temendo uma iluso, chamou os empregados,
ordenando abrissem as janelas. Estava realmente curado. Puseram-se todos
de joelhos, rendendo sinceras graas a Deus, sempre prodigioso nos seus
santos.
E o apstolo de Jesus Crucificado continuava as santas misses.
Em Monte Orgiali veio todo o povo ao encontro dos missionrios; mas, ao
v-los descalos e trajados to insolitamente, recebeu-os com vaias,
assobios e insultos.
Sem se perturbar, ps-se Paulo a evangeliz-los. Sua voz tomou um
no sei qu de solenidade, que a multido, passando subitamente do
desprezo ao respeito, ouviu-o silenciosa e recolhida. Foi uma das mais
frutuosas misses pregadas pelo nosso santo. Desapareceram as discrdias
mais inveteradas, os jogos, a embriaguez e os costumes dissolutos. Monte
Orgiali estava transformada!.
CAPTULO XV
FEVEREIRO A OUTUBRO DE 1733
ndice
PRIMEIRA MISSO EM ORBETELLO
PROSSEGUE A CONSTRUO DO
RETIRO
QUARESMA EM PIOMBINO
A FONTE DO PE. JOO BATISTA
CONTINUAM AS MISSES
SUSPENSA A CONSTRUO
PEREGRINAO A CORETO
CAPTULO XV
FEVEREIRO A OUTUBRO DE 1733
PRIMEIRA MISSO EM ORBETELLO
Apesar da debilidade do corpo, entregava-se o infatigvel apstolo ao
trabalho com todo o ardor de seu zelo. Suas misses, assinaladas sempre
por grandes prodgios, atraiam a ateno pblica. A porfia
reclamavam-no os snrs. bispos para suas dioceses.
O cardeal Altieri foi dos primeiros a cham-lo para pregar em Orbetello,
donde j se haviam dissipado os temores da guerra, pois a, armada espanhola
tomara a direo da frica para combater os infiis. Paulo, que amava
de corao aquele povo, aceitou a incumbncia. A cidade toda exultou de
alegria por desejar ardentemente ouvir a palavra do herico
pai dos empestados .
Paulo e Joo Batista deram inicio misso no ms de fevereiro de
1733. Ricos e pobres, oficiais e soldados da guarnio, todos o ouviam
com muito recolhimento. Durou de 4 a 17 de fevereiro.
As mulheres de Orbetello tinham o deplorvel costume de vestir-se com
pouca decncia. Bradou o apstolo com vigor contra esse abuso, e as leis
da modstia crist foram respeitadas. somente uma senhora francesa
obstinou-se em no obedecer, colocando-se ostensivamente diante do plpito
para ser vista pelo pregador. Este, todo pacincia, esperava que a luz
divina abrisse afinal os olhos quela alma e ela reconhecesse a sua torpeza.
Vendo, porm, desprezadas as admoestaes, lanou sobre ela um daqueles
olhares que refletem a indignao da divina justia.
Prodgio!... O peito e os braos da impudente se tornaram no momento
pretos como carvo!... Horrorizou-se a infeliz e, no podendo
retirar-se por causa da multido, cobriu-se o melhor que pde. No mesmo
instante a graa de Deus a iluminou e a converteu. Terminada a prtica,
humilde e arrependida, lanou-se aos ps do missionrio, confessou-se e
prometeu reparar os escndalos passados. Paulo, mais inclinado
misericrdia que justia, milagrosamente a curou.
O prodgio abalou a cidade... Desde ento, as mulheres de Orbetello
foram admirveis pela modstia. Mais de quarenta jovens das mais distintas
famlias, tornaram-se modelos de piedade e verdadeiras apstolas, cujas
palavras e exemplos incitavam as demais ao desprezo das vaidades mundanas e ao
amor a Jesus Crucificado.
,A misria do corpo causa ordinria das misrias morais. Entre as
classes nfimas, famlias havia que habitavam obscuros e asquerosos
cortios. Pais e filhos viviam promiscuamente no mesmo recinto. Perorou
Paulo com eloquncia a causa daqueles infelizes e os ricos moveram-se
compaixo. Numerosas famlias deixaram aquele estado de aviltamento.
A misso estava para terminar.
Nada h que melhor nos d uma idia do Cu, que o trmino de uma
misso. O jbilo das almas reconciliadas com Deus, a paz dos coraes,
a harmonia nas famlias, os cnticos sagrados de triunfo e amor, o
QUARESMA EM PIOMBINO
Na poca em que nos encontramos, pela triste influncia do sculo
XVIII, tudo degenerara. As pregaes quaresmais eram apenas v e pomposa
ostentao de frvola e presunosa eloquncia. Eloquncia artificial,
que podia deslumbrar o vulgo, mas deixava as almas como as encontrava: o
corao glido, o espirito sem convico, a vontade indiferente.
Paulo detestava essas pregaes to contrrias simplicidade
evanglica e eloquncia dos Santos Padres. Nas Regras prescreveu aos
missionrios a eloquncia apostlica: devem pregar, assim nas cidades como
nas aldeias, a Jesus Crucificado, no com palavras que lisonjeiam a
sabedoria humana, mas com as que revelam o espirito e a virtude de Deus.
Essa eloquncia o nosso santo a possua em grau eminente.
Os habitantes de Piombino anelavam ouvi-lo de novo. D. Ciani, Bispo
de Massa e Populnia, pediu ao servo de Deus lhes pregasse os
quaresmais. Paulo aceitou, permanecendo, porm, sempre apstolo. Sua
eloquncia costumava ele hauri-la nas chagas do Salvador. Subia ao
plpito abrasado de amor para comunic-lo aos ouvintes.
CONTINUAM AS MISSES
Em Satrnia, vetusta aldeia da diocese de Soana, embora o povo
retornasse a Nosso Senhor, sangrava o corao do apstolo pela
penitncia de um pecador pblico, chefe de uma quadrilha de ladres,
temido por sua ferocidade, rapinas e homicdios. Ademais, esse homem
vivia em pblico concubinato. O mal parecia incurvel em corao to
corrompido, tanto mais que no ouviria a palavra divina, destruidora do
crime...
Como aproximar-se daquele sanguinrio, sem expor-se ao perigo de morte?
Os santos no temem a morte em se tratando da glria de Divina e bem das
almas. Paulo, embora todos se esforassem por dissuadi-lo, dirigiu-se
casa do facnora. Este, armado, saiu-lhe ao encontro, perguntando com
arrogncia e irritao:
Que deseja, padre?
O santo, tomando o Crucifixo que levava ao peito, respondeu-lhe
Que afaste de sua casa aquela infeliz .
SUSPENSA A CONSTRUO
Enquanto galgava o monte, procurava com o olhar o novo edifcio para
admirar seus progressos; mas o trabalho estava paralisado.
Explicaram-lhe que era ordem dos ministros reais. Triste, passou a noite
em orao. No dia seguinte desceu a Orbetello para inteirar-se do
motivo. Responderam-lhe que o vice-se fora transferido para Npoles e
somente seu sucessor poderia dar licena para o prosseguimento dos
trabalhos. A fim de evitar delongas, resolveu ir pessoalmente a Npoles
tratar do assento. Apesar do calor intensivo do vero, empreendeu a p a
longa viagem.
Nada conseguindo, retornou ao monte Argentrio, onde novas provaes o
esperavam. No s no poderia continuar a construo, mas, talvez,
at a parte construda deveria ser arrasada!...
Dor profunda para o corao do santo Fundador! Tanto maior quanto
horizontes sombrios prenunciavam grandes calamidades... Mas ir ele
suaviz-las com o calor de sua caridade...
PEREGRINAO A CORETO
Maria SS. lhe ser a medianeira. Parte para Coreto...
Visitar o pobre casebre, onde o Verbo divino se dignou incarnar-se no seio
imaculado da mais pura das virgens; beijar aquelas paredes sagradas;
depositar no corao da Me as angstias do corao ferido: essas as
aspiraes de Paulo da Cruz.
L irei mesmo de joelhos, se for necessrio ,
exclamou o santo.
Dois prodgios se operaram durante a viagem.
Em Pitigliano, o dr. Gheraldini, grande amigo do homem do Deus,
entregou-lhe uma carta para o pe. Pedro Bianchi, um parente, morador em
Perugia. Um empregado de Gheraldini acompanharia a Paulo at Cetona,
atravs de verdadeiros desertos. Ao chegarem ao lugar denominado Cruz de
So Cassiano formou-se horrvel temporal, anncio de chuvas torrenciais.
Ajoelhou-se o servo de Deus e orou por breve tempo. Coisa admirvel!
Chovia a cntaros; no, porm, na estrada por onde passavam!
CAPTULO XVI
1733 - 1736
ndice
SITUAO PERIGOSA
CONQUISTAS
PREPARATIVOS DE GUERRA
O CAPELO MILITAR
OUTROS MINISTRIOS SAGRADOS
NOVOS COMPANHEIROS
CAPTULO XVI
1733 - 1736
SITUAO PERIGOSA
Corria o ano de 1733. Negras nuvens acumulavam-se no cu da
Itlia. Espanha, Frana e Sardenha confederaram-se para apoderar-se das
possesses austracas na Itlia.
CONQUISTAS
Ao passo que ambiciosos guerreiros se sacrificavam pela conquista de algumas
terras com a espada que mata, Paulo, com a Cruz que salva,
sacrificava-se pela conquista das almas imortais... Apesar da guerra,
missionou o nosso santo diversas cidades das dioceses de Aquapendente, de
Citt della Pieve, de Soana e da Abadia das Trs Fontes.
Dentre os muitos e portentosos milagres operados nessas misses,
relataremos os dois seguintes.
Em Scanzano, diocese de Soana, um cnego, ameaado de morte por seu
parente, permanecia temeroso em casa. O santo foi em procura do homem
vingativo. Vendo-o este, ps-se a correr. Paulo seguiu-o por largo
tempo, atravs dos campos, rogando-lhe que parasse. Vendo que no
obedecia, tomou do Crucifixo, que levava ao peito, e bradou fortemente:
Se desobedeceres a este Cristo e no fizeres as pazes
com teu parente, cairs morto na primeira fossa que
encontrares .
Atemorizado pela ameaa, deteve-se o culpado por alguns instantes, mas
continuou logo a fugir de quem desejava salv-lo. Ao aproximar-se,
porm, de uma fossa, deteve-se, refletiu, mudou de sentimentos e foi ter
com o homem de Deus. Estava este a orar ao p de uma rvore. Pediu-lhe
perdo e ouviu de seus lbios palavras de paz e de conforto. Paulo mandou
chamar o cnego. Abraaram-se e reconciliaram-se para sempre.
PREPARATIVOS DE GUERRA
Enquanto o santo missionrio regava com suores o campo evanglico,
aproximavam-se os espanhis do monte Argentrio. Conquistadas Npoles e
a Siclia, comeou o duque de Montemar, em fevereiro de 1735, a
concentrar na Toscana, por mar e por terra, grande contingente de tropas.
Iminente era o ataque. O general austraco, Espejo vendo ser
impossvel, com os poucos soldados de que dispunha atacar o inimigo, resolveu
concentrar-se nas fortalezas e resistir o quanto possvel.
Reinavam em Orbetello e comarcas circunvizinhas o salto e o terror; o
perigo geral ameaava tambm o santo apstolo, pois estava em toda parte.
Consolava os desalentados elevava os nimos e coraes para o Cu.
Penetrava nas fortalezas, doutrinava os soldados, ouvia-os em confisso e
lhes comunicava o invencvel valor do herosmo cristo, que no teme a
morte, por no temer a eternidade.
A glria de Deus reclamava certo dia a presena do apstolo na vila de
Santa Flora, provncia de Sena. Repleta de perigos era a viagem.
Nada, todavia, o retinha em se tratando da glria de Deus.
Ao regressar, foi preso por um destacamento de soldador espanhis que,
tomando-o por espio das tropas imperiais, o conduziram presena do
general, marqus de Las Minas, valoroso soldado como fervoroso catlico.
O CAPELO MILITAR
Aos dezesseis de abril, sbado depois da Pscoa, comeou o fortaleza.
Viu-se ento o que pode a caridade de um santo. Ao primeiro ribombo da
artilharia, tomou o Crucifixo e lanou-se ao fragor das batalhas, qual
anjo consolador. Da fortaleza inimiga caiam por toda parte balas e
metralhas. Um s pensamento dominava a Paulo da Cruz: salvar almas.
Corria em procura dos feridos e moribundos, prodigalizando-lhes as
consolaes do Cu e purificando-lhes a conscincia no Sangue de
Cristo.
Explode-lhe to perto uma bomba, que o deixa coberto de terra! Em seu
derredor caem mortos e feridos. No levando em conta os perigos,
multiplica-se para acudir em toda parte onde haja uma alma a reclam-lo.
Para confessar um soldado moribundo, no teme, com a intrepidez do
heri, chegar precisamente onde a artilharia causava maior destroo. Las
Minas, testemunha da santa audcia do venervel amigo, no podendo
moderar-lhe o zelo, f-lo acompanhar por um soldado. A cada troar da
artilharia imperial, este o adverte que se lance por terra. Se no ficou
no campo de batalha., foi por patente proteo divina. E' que Deus se
compraz em ver os seus servos desprezarem a morte para salvar as almas.
Mas o apstolo ainda no se dava por satisfeito. Infatigvel, corria
sob nuvens de fogo para o exrcito que sitiava Orbetello do lado oposto,
dizimado por mortfera epidemia. Graas ao seu zelo, ningum morria sem
os ltimos Sacramentos. No comeo, muitos soldados encontravam
dificuldades para confessar-se por no compreenderem o italiano nem o
espanhol. Paulo, todavia, aprendeu em pouco tempo seus idiomas, pelo menos
o suficiente para ouvi-los em confisso.
E, coisa extraordinria, somente explicvel pelo ascendente da
santidade: ambos os contendores davam livre acesso caridade do servo de
Deus! Dos sitiantes passava aos sitiados verem-no, suspendiam o fogo da
artilharia, abriam-lhe as portas e o recebiam como um amigo, como um pai.
Tal foi a prudncia, que sempre guardou, tal a venerao que inspirava,
Trs meses consecutivos regou com seus suores aqueles campos apostlicos.
Deus o recompensou com a abundncia dos frutos colhidos. Portentosos
prodgios acompanharam essas misses.
Em Rio residia uma senhora maltratada pelo marido por causa das calnias de
uma vizinha, que lhe votava dio mortal. A vtima, desfeita em pranto,
foi desabafar-se com o santo missionrio. Mandou este chamar a caluniadora
e falou-lhe com energia de que s capaz o corao de um apstolo. A
infeliz parecia querer retratar-se. Aproveitando a boa disposio fez vir
sua presena o marido da caluniada. E dirigindo-se culpada:
Ento, est disposta a retratar o que disse a respeito
da esposa deste homem?
Como difcil ao orgulho a reparao da calnia! A msera no soube
vencer-se e, obstinando-se na culpa, respondeu com pertincia:
O que eu disse a seu respeito a pura verdade!
O defensor da inocncia, repleto do espirito de Deus, exclamou:
Pois bem, venha comigo igreja e confirme ante o ss.
Sacramento o que disse .
E l, ante o tabernculo, em presena de outro sacerdote, da vtima e
do esposo, a mulher no titubeou em cometer execrvel perjrio,
confirmando as calnias. Em castigo, porm, audcia, ficou
imediatamente possessa do demnio, que a elevou aos ares, enquanto da
boca, espumante e colrica, lhe saia a lngua toda. As testemunhas
estavam apavoradas... Pondo-se em orao, recitou Paulo os
exorcismos, e o espirito maligno, passados instantes, deixou-a cair por
terra sem sentidos. Retirando do tabernculo o cibrio, o santo o
aconchegou cabea da desventurada mulher. A virtude do ss. Sacramento
f-la voltar a si e, com o corao lacerado pelo arrependimento,
retratou-se de tudo o que dissera.
Na mesma localidade a voz do missionrio tomou repentinamente solene e
terrifica entoao, como se se dirigisse a obstinado pecador. Fixa os
olhares no portal do templo, detm-se por instantes e exclama, imerso em
profunda tristeza
Oh! tu somente queres permanecer obstinado na culpa?
E abraando o grande Crucifixo que estava sobre o estrado em que pregava,
prosseguiu
Eu, eu mesmo, com meu Jesus, virei converter-te .
Ao pronunciar estas palavras, elevou-se exttico, voou por sobre o
auditrio, chegou at a porta da igreja e retornou ao mesmo lugar.
Estavam todos imveis pelo inaudito do milagre!
Ao chegar ilha de Elba, nos primeiros dias de junho, Paulo
encontrou-a assolada pela seca. Era o tempo da ceifa e no cara uma gota
de gua! Ningum queria ter o trabalho de colher alguns feixes de palha.
O santo, imploradas as bnos do Pai celeste, dizia-lhes, no
entretanto:
Confiana, meus filhos. Ide messe e vereis como
N. Senhor bom...
NOVOS COMPANHEIROS
Essas inmeras vitrias faziam o santo olvidar as ingentes e incessantes
fadigas do apostolado.
Como prmio de seu zelo, aumentou Deus o pequeno rebanho, formado por
Paulo na escola da Cruz, a fim de envi-lo mais tarde aos combates do
Senhor.
No sbado das tmporas do Advento de 1735, o snr. bispo de Soana
ordenava sacerdote a seu irmo, Antnio. Celebrou ele a primeira missa
na pequena igreja da ermida, assistido por Paulo e Joo Batista, que
choravam de comoo. Dias aps, chegou um jovem sacerdote de Pereta,
diocese de Soana por nome Fulgncio Pastorelli. Quando clrigo,
assistira uma misso do pe. Paulo e, desde ento, desejou ser
Passionista. Te-lo-ia feito imediatamente, no o aconselhara o santo
esperasse a ordenao. O afeto que nutria pelo santo Fundador levava-o
freqentemente ao Argentrio, onde permanecia por vrios dias em
conferncias espirituais com o servo de Deus.
Sucedeu certa feita graciosa aventura, prova de que aqueles solitrios no
viviam para a terra. A primeira vez que o pe. Fulgncio chegou ao monte,
Paulo e seus companheiros quiseram preparar-lhe um
banquete .
Acenderam o fogo e puseram a cozinhar algumas favas. Mas... comeando a
discorrer sobre a grandeza de Deus e as alegrias do paraso, engolfaram
tanto nesses santos e sublimes conceitos, que olvidaram as favas e a
ceia... No dia seguinte deram com o fogo apagado, a panela fria e as favas
queimadas...
Apresentaram-se outros postulantes, todos desejosas de vestir a libr da
Paixo. Eram nove ao todo. No sendo possvel aloj-los na pequena
ermida, construram uma choupana de folhagem, coberta de palha, onde quatro
deles pernoitavam. Eram pobres, mas felizes...
Como eram fervorosos e penitentes aqueles primeiros Passionistas!...
CAPTULO XVII
1736 - 1738
ndice
VAI A NPOLES CONFERENCIAR COM
CARLOS III
VIAGEM A PISA
OBSTINADAS PERSEGUIES
INTERVENO DE S. MIGUEL
ARCANJO
INAUGURAO DA PRIMEIRA IGREJA
DO INSTITUTO
A NOVENA DA APRESENTAO
NAS CULMINNCIAS DA MSTICA
CAPTULO XVII
1736 - 1738
VAI A NPOLES CONFERENCIAR COM CARLOS III
Paulo sentia no poder instalar melhor a querida famlia religiosa. A
construo continuava suspensa por falta de recursos.
O irmo Marcos fora incumbido de conservar, ao menos, as paredes j
levantadas. Quando em casa, Paulo comprazia-se em ajuda-lo pessoalmente.
Um sacerdote seu amigo, ao v-lo trabalhar, perguntou-lhe com que meios
contava levar a cabo o edifcio. Paulo respondeu
Tenho apenas 30 soldados, mas conto com o auxlio de
Deus .
A compra e o transporte dos primeiros materiais custaram muito e lhe
consumiram as abundantes esmolas que recebera de Orbetello e j no tinha
coragem de solicitar novos auxlios, levando em considerao as
devastaes da guerra.
O general de Las Minas, que conseguira do rei licena para a
continuao das obras, aconselhara-o a dirigir-se a Carlos III, cuja
generosidade, dizia ele, corria parelhas com sua bondade.
Aps a festa de santo Anto, no rigor do inverno, confiando a pequena
comunidade direo do pe. Fulgncio, partiu para Npoles com o pe,
Joo Batista. Recebeu-os o rei durante o jantar. Perguntou-lhes com
vivo interesse o motivo da viagem. Exps-lhe o servo de Deus em breves
palavras a finalidade do Instituto e os primrdios da construo do
convento. Agradeceu a Sua Majestade a licena concedida e concluiu
afirmando contar com sus generosidade para o remate do edifcio.
VIAGEM A PISA
De regresso da expedio militar Lombardia, assentara o exrcito
espanhol quartel em Livorno e Pisa, para onde teve que seguir o general de
Las Minas. Este falou ao generalssimo, duque de Montemar, a respeito
do bem imenso que fizera Paulo em prol de seus soldados. O duque, que j
admirava as virtudes do servo de Deus, convidou-o a pregar misso s
tropas.
Paulo embarcou no Porto de Santo Estvo em falua real, que navegava em
companhia de outras embarcaes. J estavam vista de Livorno,
quando, improvisamente, se levantou furiosa tempestade. As outras naves,
arrebatadas pelo furaco e feitas joguetes das ondas, sossobraram. Igual
sorte ameaava o barco em que se achava o nosso santo. Os marinheiros
colheram as velas, lanando mo dos remos; mas um deles fez-se logo em
pedaos, deixando-os merc dos ventos. Paulo invocou o socorro da
Estrila dos mares, recitando as ladainhas da ss. Virgem e abandonou-se s
mos da Providncia.
Os marinheiros, animados por suas palavras, conseguiram levar a
embarcao ao porto, aps ingentes esforos. Geral foi a estupefao,
pois parecia inevitvel o naufrgio.
Depois de render sentidas graas Me de Deus, Paulo apresentou-se
ao duque, pondo-se sua disposio. Combinaram a misso para a semana
depois da Pscoa, na cidade de Sena. Paulo retornou imediatamente ao
monte Argentrio, levando abundantes esmolas recebidas do generalssimo e
dos demais oficiais espanhis.
Nos ltimos dias da quaresma partiu para Pisa com o pe. Joo Batista,
mas a misso fora adiada, porque Madri ordenara que o exrcito deixasse
aos poucos a Toscana.
A convite do Vigrio Capitular de Chiusi, foram ambos missionar aquela
diocese.
OBSTINADAS PERSEGUIES
De volta solido, ao invs de doce e merecido descanso, encontraram
perseguies e angstias tais, que, sem especialssima proteo do
Cu, no teriam resistido. Os demnios e os homens coligavam-se para
destruir o Instituto. Dir-se-ia haver N. Senhor entregue o santo s
mos dos inimigos. Ouamos as cruis angstias de sua alma em carta
confidencial a um amigo
Deus! como esto raivosos os demnios! Quanto dano
causam as ms lnguas! No sei para que lado voltar-me.
S Deus sabe como estou. Aumentam de todas as partes as
tempestades e de todos os lados sopram ventos contrrios.
Perseguem-no. os demnios com perversidade e os homens com
boa inteno. Bendito seja Deus!...
Em outra carta, escreve:
Preparam-se novos combates. Como me sairei deles?
Sucedem-se as tempestades, aumentam as trevas, os temores
no se desvanecem. Os demnios atacam, os homens ferem com
a lngua Por fora rudes assaltos, por dentro temores,
trevas, aridezas espirituais, desgostos e desolaes .
Vejamos donde surgiu a tempestade.
Por inveja, julgava Portrcole injuriosa preferncia a construo do
retiro em territrio de Orbetello. O descontentamento chegou a explodir em
burlas e insultos ao santo e a seus filhos
O que, porm, mais amargurava o corao de Paulo era que a,
perseguies vinham tambm de Orbetello, onde alguns homem influentes
olhavam de maus olhos o servo de Deus, talvez ofendi dos por sua apostlica
franqueza ou por motivos outros, que se envergonhavam de declarar. No se
atreviam, contudo, a cumba t-lo abertamente, por causa da estima do povo
e da proteo que lhe dispensavam os membros mais eminentes do governo.
Com a ausncia, porm, do general de Las Minas, no teve limites a
audcia daqueles homens. Estimulados pelos demnio, comearam por
desacredit-lo publicamente. Ele devia abandonar o retiro... Inventaram
as mais negras calnias e urdiram a trama com to fina malcia, que nela
prenderam at o eminentssimo abade, alis de nimo j prevenido, em
virtude de outras falsa acusaes.
Daqui provieram ao homem de Deus tribulaes sem conta. Chegaram os
perversos a propalar que o cardeal ameaara aos que auxiliassem os
missionrios do Argentrio. Esses infames ardis entibiaram o amor dos
fiis aos seus benfeitores. Uns por temor outros por respeito humano,
outros ainda desalentados pelas calnias, todos enfim deixaram de enviar
ofertas ermida. E o servos de Deus se viram reduzidos a tal
indigncia, a ponto de alimentar-se somente de ervas silvestres.
Em tais angstias, acrescidas por desolaes espirituais e vexaes
diablicas, gemia o santo:
Em que guas se encontra submerso o pobre Paul Ah!
Deus flagela-me de maneira indescritvel e temo que os
sempre celebrada
Crescenzi e, como se
referia-lhe as
com o cardeal
A NOVENA DA APRESENTAO
O cardeal abade presenteou-o com grande e magnfico quadro, da escola do
cavalheiro Conca, representando a ss. Virgem ao consagrar-se a Deus no
templo de Jerusalm.
Essa ateno agradou imensamente a Paulo; alis, era tocar-lhe na
fibra mais sensvel do corao, pois a Apresentao de Maria ao templo
foi sempre uma das principais devoes do serve, de Deus. Comeou a
celebrar a festa com muita solenidade, precedida de novena. Nesses dias
venturosos, experimentava consolaes celestiais, sobretudo ao entoar o
salmo, to em harmonia corai suas lutas e triunfos. Citemos alguns
trechos:
Alegrai-vos no Senhor, vs, povos de toda a terra;
entoai cnticos ao seu nome; celebrai-lhe a glria e os
louvares... meu Deus, que toda a terra vos adore,
apregoe a vossa glria e cante o vosso nome...
Parecia, reconhecer nas seguintes expresses as veredas por onde Deus o
conduzia:
Foi o Senhor que me fortaleceu a alma na vida e no
permitiu me vacilassem os ps; vs, porm, meu
Deus, nos provastes, fazendo-nos passar pelo fogo, como o
ouro pelo crisol... Caminhamos pelo fogo e pelas guas,
e afinal nos conduzistes a um lugar de refrigrio...
Com que efuso da alma ele cantava:
Entrarei em vossa casa com holocaustos: cumprirei os
CAPTULO XVIII
1738 - 1740
ndice
TENTA OBTER A APROVAO DA
REGRA
MISSIONRIO APOSTLICO
DIFERIDA A APROVAO DA REGRA
MISSES NA DIOCESE DE CITT
DELLA PIEVE
OUTRAS PENOSAS PROVAES
CAPTULO XVIII
1738 - 1740
TENTA OBTER A APROVAO DA REGRA
Estava fundado o primeiro retiro da Congregao. A pequena semente
germinara e a rvore, embora dbil, comeara a desenvolver-se.
O servo de Deus julgou chegado o momento de dar-lhe existncia jurdica
pela aprovao apostlica.
Em princpios de 1738 partiu para Roma e, por intermdio de mons.
Crescenzi, apresentou as Regras a Clemente XII, solicitando
aprovao.
O soberano Pontfice acolheu benignamente a splica e mandou examin-las
por uma comisso de cardeais.
MISSIONRIO APOSTLICO
Como mons. Crecenzi desejasse que na primavera seguinte Paulo pregasse
misses em Citt della Pieve e em diversas povoaes da diocese, obteve
para ele e Joo Batista, com rescrito de 22 de janeiro, o titulo de
MISSIONRIOS APOSTLICOS e a faculdade de darem a bno papal
com indulgncia plenria aos que assistissem os exerccios da misso.
ressurreio.
Jesus passou dos oprbrios glria; em Paulo da Cruz resplandecer,
no teatro de suas humilhaes, em Orbetello, a mais refulgente aurola
que possa coroar a fronte do apstolo.
Por agora mister tragar at as fezes o clice da amargura.
Deus soberanamente cioso de suas obras. Parece por vezes deix-las
perecer, para, em seguida, elev-las bem alto, a fim de que se saiba ser
Ele seu nico autor.
Maneja assim a debilidade humana para sua glria, sem exp-la aos enganos
do amor prprio. Quanto mais excelsa a obra que lhe apraz construir por
intermdio do homem, mais este sente a sua insuficincia e misria. E do
remate base aparecer unicamente a poderosa mo de Deus.
Qual o marinheiro, que, ao ver sua embarcao batida pela tempestade e
desesperado dos auxlios da terra, volve ao Cu os olhares e tem corno
resposta apenas os clares do raio, assim Paulo da Cruz, ao contemplar a
humilde Congregao combatida pelas conspiraes do dio, volta-se
para Deus, parecendo-lhe que Deus repele e o abandona a ele e
Congregao!...
Na Capela da SS. Trindade de Gaeta, apresentara-se-lhe um Anjo com
uma Cruz de ouro e Deus lhe dissera interiormente:
Apraz-me fazer de ti outro J .
Efetivamente, o estado atual do nosso santo, os brados lancinantes de sua
alma relembram-nos o patriarca da Idumia.
Meus enormes pecados precipitaram-me na mais lastimosa
misria. As perseguies, as murmuraes e as calnias
dos homens, que abrao de boa vontade para abater o meu
orgulho; a espantosa guerra suscitada pelos demnios e, o
que mais terrvel, o tremendo aoite do
Altssimo... eis o inferno que sofro. Suspiro apenas por uma
boa morte, pelos mritos da sacratssima Paixo de N.
S. Jesus Cristo...
Notem-se as ltimas palavras; eram furtivos clares em meio da noite
tenebrosa. Tudo voltar s trevas. E Paulo prossegue:
Sim, estou persuadido, antes, certo de que a divina
Majestade no aceita a obra que eu julgava deveria
realizar-se e a respeito da qual Deus me d sinais demasiado
palpveis. Prevejo para breve a destruio do convento e
serei aoitado com golpes to terrveis, a ponto de me
causarem a morte. Deus manifesta-me claramente sua nusea
e me faz conhecer que no deseja servir-se desta prfida
criatura. Espero, todavia, a salvao de minha alma;
pelos mritos infinitos da ss. Paixo de N. Senhor
.
Com razo se tem relevado que
o fundo de espiritualidade de so Paulo da Cruz a
participao Paixo de Nosso Senhor e a unio com
Cristo sofredor (M. Viller, em Revue de Ascetique et de
Mystiques 1951, p. 133) .
Julgamos que em nenhuma outra carta como nesta aparece melhor quanto o
nosso, santo participou das dores de Jesus. Sem dvida causa espanto a
terrvel provao por que passou, principalmente se se refletir que durou
cerca de 45 anos. O pe. Garrigou-Lagrange, em seu artigo Nuit de
lesprit reparatrice en Saint Paul de la Croix, d uma boa explicao,
dizendo que, nos msticos, alm da provao purificadora, h outrossim
a reparadora. So Paulo da Cruz, mais que para se purificar, sofre com
Jesus para expiar as culpas alheias.
Paulo da Cruz, e as promessas de N. Senhor e da divina Me?! J
vos no recordais das celestes aparies, que tanta segurana vos
causavam?!
O santo no as olvidara, mas julgava ter-se tornado indigno delas por seus
pecados. Prova de sua infidelidade era o abandono de Deus, abandono de
amor, por ele considerado abandono de clera.
No lhe faltava a confiana, mas nele devia resplandecer a humildade.
Quando Deus deixa o FUMO DO POO DO ABISMO (Apoc. 9,
2), isto , o lodo da natureza decada, se eleve parte superior do
homem, at a alma do santo se v obscurecida e como envolta em trevas.
Percebe to somente as chagas da primeira queda.
Embora pura como a luz meridiana, ela se cr coberta de todas as mculas.
E' o velho Ado a agitar-se, pois ele jamais perece completamente aqui na
terra nem mesmo nos santos.
A indiferena existente entre os santos e os pecadores que estes deixam
crescer o germe original da morte, ao passo que aqueles tenazmente o
combatem, extirpando-lhe continuamente os rebentos.
Sem este conhecimento da natureza humana, ser-nos-ia incompreensvel a
linguagem dos santos e o estranho apreo que fazem de si, chamando-se e
considerando-se grandes pecadores, no obstante a santidade de vida.
Todavia, nessa aparente crise de desesperao, conserva-se, ao mago
da alma, por vezes desconhecido, o nico e supremo lao de confiana.
Paulo termina as sentidas lamentaes com esta expresso:
Espero que N. Senhor me h de salvar pelos mritos de
sua sagrada Paixo e Morte .
As cruis agonias que o martirizavam, ele as guardava no corao,
ocultando-as aos filhos. Dizia-lhes:
Irmos meus, pratiquemos o bem e abandonemo-nos nos
braos da divina Providncia. Deus nosso Pai .
Nova mgoa vem ferir-lhe o corao. Mons. Crescenzi ausentar-se-
de Roma. Perder o santo o ativo auxiliar, que empregava sua poderosa
influncia em prol do amigo.
Aos seis de fevereiro de 1740, falecia Clemente XII. Por seis
meses permaneceu vacante a S Apostlica, prolongando-se assim as
provaes do santo Fundador. Para cmulo de males, abatido por
sofrimentos morais e esgotado pelos trabalhos apostlicos, caiu Paulo
gravemente enfermo. Esteve s portas da morte. Quando tudo parecia
perdido, apareceu-lhe a SS. Virgem e o animou com as seguintes palavras:
CAPTULO XIX
1740 - 1741
ndice
A ELEIO DE BENTO XIV
PODEROSO PROTETOR: O CARDEAL
REZZONICO
AUDINCIA PAPAL
APROVAO DA REGRA
A PROFISSO RELIGIOSA
CAPTULO XIX
1740 - 1741
A ELEIO DE BENTO XIV
Aos 17 de agosto de 1740 subia ao trono de So Pedro, com o nome de
Bento XIV, um dos mais ilustres Pontfices, glria e honra de sculo
o cardeal Prspero Lambertini, arcebispo de Bolonha. Paulo saudou com
alegria a nomeao do grande Pontfice, pressentindo-o poderoso
sustentculo da f, ameaada por todos os quadrantes pelas sacrlegas
violncias da incredulidade. Assim profetizou o glorioso pontificado de
Bento XIV:
Para falar-lhe com toda confiana, posso garantir a v.
s. ilma. que, ao receber a grata notcia da exaltao de
Lambertini S Apostlica, embora o no conhecesse
como cardeal, comovi-me extraordinariamente. Senti
nascer-me vivssima esperana de qu este santo e zeloso
Pontfice estimular a piedade, to decada no seio do
cristianismo. Meu corao derramou-se em louvores e
aes de graas ao Altssimo, pela grande misericrdia
que concedeu ao seu povo .
Uma voz interior lhe dizia:
Eis o Papa que estabelecer na Igreja, com autoridade
apostlica, o Instituto da Santa Cruz .
Este doce pensamento desabrochava-lhe no corao, mas no se abandonava
AUDINCIA PAPAL
Persuadido de que deixaria em Roma poderoso protetor, pensou o santo em
regressar imediatamente sua solido do Monte Argentrio. Mas de
partir, teve outra Consolao: a de oscular os ps do Vigrio de Jesus
Cristo. O Papa, ao ver os dois irmos, humildes e pobres, encorajou-os
com palavras paternais. Disse que aprovaria com mximo prazer as santas
Regras, mas com algumas mitigaes, como sejam: o uso do chapu, da
capa, da sandlias e de hbito menos grosseiro. Sem tais mitigaes
acrescentou o Santo Padre, os que se agregassem Congregao no
perseverariam.
Sempre dcil em obedecer, respondeu Paulo que para ele a voz de Sua
Santidade era a mesma voz de Deus.
Deu-lhes em seguida o Santo Padre a bno apostlica e eles, felizes
como se houvessem estado na presena do mesmo Jesus Cristo, partiram para
a solido.
O santo escrevia freqentemente ao abade Garagni, recomendando-lhe
velasse pela integridade das santas Regras, como lhas inspirara a divina
Majestade, sem outras modificaes que as apontadas por Sua Santidade.
Anelava ardentemente trazer no peito o DISTINTIVO que lhe mostrara
mais de uma vez a ss. Virgem:
Se no atrevimento da minha parte, recomendo vossa
piedade esse sagrado SINAL de salvao, para termos a
ventura de traz-lo externamente e muito mais no corao,
para vexame do inferno .
Paulo estimulava o zelo do amigo, expondo-lhe a misso e a beleza da obra
a que emprestava eficiente assistncia.
Sondara o apstolo as profundas chagas do seu sculo: a libertinagem, o
orgulho, o esprito de incredulidade, as falsas doutrinas. Percebera os
surdos e ameaadores rudos do vulco prestes a entrar em atividade e que
tantas runas iria causar.
Oh! como desejaria deter o brao de Deus, alado para castigar a terra!
Porm, tremo e temo, dizia ao abade Garagni. O mundo
est talvez to pervertido, que j no h reter os
terrveis aoites dos flagelos divinos. O que digo,
toco-o com a mo .
Faziam-se, portanto, necessrios os apstolos da Cruz.
A sagrada Paixo do Redentor, pregada por toda parte e sem cessar, ser
a poderosa alavanca que ir levantar o imenso peso das iniqidades humanas.
O sofisma pervertera de tal modo o esprito que no futuro, se dirigir
forosamente ao corao do homem.
Outro argumento da oportunidade do Instituto da Paixo:
A maior parte dos cristos vive esquecida dos, infinitos
sofrimentos do nosso amabilssimo Jesus. Esta a causa por
que dorme na lama da iniquidade. Para arranc-la do
letargo, mister se faz obreiros zelosos que anunciem, com o
clarim da divina palavra, a sacratssima Paixo de
Jesus, Cristo, despertando os pobres pecadores, sentados
nas trevas e sombras da morte. S assim glorificar-se-
a N. Senhor com inmeras almas convertidas e com muitas
outras que se ho de entregar orao, caminho da
santidade. Inflame-se, pois, de zelo, ilmo. senhor, e
insista com os eminentssimos cardeais, caridosos protetores
desta santa obra, para lhe obterem do Santo Padre a
aprovao .
APROVAO DA REGRA
Meses decorridos, terminaram os comissrios o exame das Regras, com a
prudncia reclamada pela importncia do assunto.
Aos 30 de abril de 1741, emitiram voto favorvel, declarando que as
Regras dos Clrigos Menores Regulares Descalos da Santa Cruz e
Paixo de Jesus Cristo, com as pequenas alteraes prescritas pelo santo
Padre, podiam, crescido o nmero de religiosos, ser aprovadas com Rescrito
Apostlico.
Na mesma tarde levou o abade Garagni ao Santo Padre, juntamente com as
Regras, o voto dos comissrios.
O grande Pontfice julgava o Instituto de muita vantagem para as almas e
de muita glria para Deus. Chegou a dizer:
Este Instituto foi o ltimo a aparecer na Igreja de
Deus, quando deveria ter sido o primeiro .
Antes, porm, do juzo definitivo, quis Bento XIV refletir por
alguns dias. A fim de implorar as luzes do Cu e a proteo Maria,
convidou os habitantes de Roma a visitarem as quatro principais igrejas
consagradas ss. Virgem. Ele mesmo, no dia, 14 de maio, visitou a
igreja de Santa Maria IN TRASTEVERE, orando por largo tempo.
De volta ao Palcio, deu ordens ao auditor, mons. Millo, para, que
escrevesse o Rescrito de aprovao, publicado com data do dia seguinte,
no qual Sua Santidade APROVA, CONFIRMA E LOUVA o
Instituto da Santa Cruz e Paixo de Jesus Cristo.
Triunfara o Cu, o inferno jazia vencido.
Contemplemos em esprito, atravs dos sculos, alistados na, gloriosa
milcia da Cruz, legies de apstolos, jovens e fortes, seguros do seu
porvir.
Os filhos de Paulo da Cruz, sob o estandarte da Igreja, tomam posto de
combate, ao lado de Domingos de Gusmo, de Francisco de Assis e de
Incio de Loiola. E o santo desabafa as efuses de sua alma em louvores ao
Deus das vitrias:
Que todos os viventes louvem ao Senhor (Sl. 150,
6)! Que todas as criaturas glorifiquem as infinitas
misericrdias deste grande Deus que, sem deixar-se vencer
pela malcia de meu corao, dignou-se coroar esta obra,
que toda sua! Como a Providncia a conduziu suavemente
e por caminhos secretos! Oh! como bom o meu
amabilssimo Salvador! Oh! quo suave o seu divino
Esprito!... Oh! quo amvel a sua Bondade!
tempestade sucede a bonana, borrasca segue-se a
serenidade. Seja para sempre bendito o seu santo Nome...
A Ele somente honra, glria e poder pelos sculos dos
sculos. Assim seja .
Soara a hora das graas: Deus se compraz agora em derram-las a flux
sobre o servo fiel, sempre intrpido em meio das procelas.
Estava ento em Roma o cnego ngelo de Stefano, de Gaeta, dos
primeiros a vestir o santo hbito da Paixo, mas que no suportara as
austeridades do Instituto. Ao saber que Bento XIV lhe mitigara os
rigores, desejou retornar ao caminho do Calvrio. Falou a respeito com o
Soberano Pontfice, que o encorajou a levar a efeito a resoluo.
Ao partir para o monte Argentrio, encarregou-lhe o abade Garagni de
entregar ao santo amigo as Regras e Constituies aprovadas, bem como um
Rescrito do cardeal Altieri. Sua Eminncia concedia, finalmente, ao
pe. Paulo a faculdade de conservar na. igreja o ss. Sacramento.
O servo de Deus recebeu carinhosamente a seu antigo filho, portador de
tantos favores, chamados por ele: GOLPES DA INFINITA E
DIVINA BONDADE.
Sem mais, deram princpio aos exerccios espirituais em preparao
profisso religiosa, conforme prescrevem as santas Regras. Quis o santo
solenizar de modo particular o dia em que o Deus do Tabernculo estabeleceu
entre eles a sua morada. Dir-se-ia que o mesmo Cu fizera a escolha.
Assim o diz o cardeal Rezzonico, em carta ao pe. Paulo:
No foi sem desgnio particular da Providncia o
haverdes esperado tanto tempo... Queria Deus
comesseis a gozar da presena real de Jesus Cristo, no
mesmo dia em que a santa Igreja comemora o adorvel
benefcio outorgado a todo o gnero humano. Grande,
portanto, o jbilo que sinto, na esperana de que
reparareis, conforme puderdes, as inmeras irreverncias
cometidas diariamente contra o ss. Sacramento .
A PROFISSO RELIGIOSA
No dia 1 de junho de 1741 - CORPO DE DEUS - os religiosos
cantaram solenemente a santa Missa e o TE DEUM, sendo Jesus
Eucarstico colocado no Tabernculo da bela igreja da Apresentao.
CAPTULO XX
1741 - 1742
ndice
O APSTOLO DOS SOLDADOS
MISSES EM ORBETELLO
MISSES EM PORTRCOLE E EM
PORTO LONGONE
DEFENSOR DOS SOLDADOS
CAPTULO XX
1741 - 1742
O APSTOLO DOS SOLDADOS
As Ordens e Congregaes religiosas, assim como os indivduos, recebem
graas especiais, referentes misso a que Deus os destina.
Agora que o Instituto da Paixo recebeu das mos da Igreja a
incumbncia oficial de pregar a Jesus e Jesus Crucificado, j podemos
entrever quais sejam essas graas e qual a sua eficcia e fecundidade.
Veremos tambm o nosso santo alar o vo das alturas do Argentrio e
estender as asas de apstolo. Chegamos ao znite deste ardente sol que vai
abrasar o mundo.
Paulo tem quarenta e sete anos, idade em que a experincia, unida ao
vigor, opera o bem mais slido e duradouro que na juventude.
Ademais, por graa extraordinria, possui uma dessas naturezas
invejveis, que nunca envelhecem e cujo vigor se renova como o da guia.
Esta chama acompanha-lo- at a idade mais avanada.
A comear de agora, caminharemos de prodgio em prodgio.
MISSES EM ORBETELLO
Desceu, pois, o apstolo a Orbetello, acompanhado do pe. ngelo de
Stefano, ainda novio. Colocaram na ampla praa um tablado, de sobre o
qual Paulo dirigia a palavra divina imensa multido de fiis e a
milhares de soldados de diversos idiomas e naes: italianos, espanhis,
franceses e suos.
Renovou N. Senhor, na pessoa de seu servo, os prodgios da Igreja
nascente. Pregava Paulo em italiano e os soldados entendiam como se falasse
suas prprias lnguas, pelo que, estupefatos, exclamavam:
No , por ventura, italiano esse sacerdote? Como
, ento, que fala o meu idioma e o de meus companheiros, e
todos ao mesmo tempo...?
E todos pendiam de seus lbios sem perder palavra daqueles comoventes
sermes. A compuno era geral.
Aos acentos daquela voz, por vezes ameaadora e terrvel como a justia,
outras carinhosa e doce como a misericrdia, as lgrimas, os soluos, o
pavor ou a esperana produziam no auditrio espetculo indescritvel.
A emoo atingia o auge quando o santo, armando-se de pesada corrente de
ferro, dilacerava-se os ombros, fazendo jorrar o sangue. Os oficiais do
Estado Maior, mais prximos do tablado, chegavam-se a ele, chorando,
para arrancar-lhe das mos a disciplina ensangentada. Os brados de
PIEDADE! e os gemidos aumentavam e repercutiam no meio da multido, que
bradava:
PERDO! MISERICRDIA! BASTA,
PADRE! BASTA! J ESTAMOS
CONVERTIDOS!
Homens, mulheres, soldados e at pessoas de alta linhagem, que viviam em
inimizade, diz um oficial, testemunha de vista, reconciliavam-se naquela
praa pblica, pedindo mutuamente perdo. Colocaram sobre o tablado, aos
ps do pregador, livros obscenos e mpios, baralhos, etc. Paulo
lanou-os imediatamente ao fogo. Espetculo que sobremaneira excitou ao
arrependimento todos os assistentes.
Apenas descia do estrado, todos corriam para ele e lhe circundavam o
confessionrio. Ouamos ainda um depoimento simples e sincero, como si
ser o do soldado. Vamos resumi-lo:
Pregava o pe. Paulo com tanto zelo, que o rosto se lhe
inflamava; sua voz atemorizava, compungia e convertia os
pecadores. Em suma, o dedo de Deus era visvel...
Assim como atemorizava no decurso do sermo, era todo
doura ao termin-lo: enternecia os coraes e a todos
inspirava confiana em Deus e esperana do perdo .
Todo o povo, comovido e contrito, derramava abundantes lgrimas... O
que Paulo semeava nos sermes colhia no tribunal da penitncia, onde era
todo caridade. Muitos soldados que se no atreviam a confessar-se,
temerosos pelas faltas cometidas, fizeram-no a conselho dos companheiros,
que j haviam tocado, por assim dizer, com as mos, a afabilidade e a
doura extraordinrias do servo de Deus para com os pecadores,
principalmente para com os mais infelizes. Essa pregao produziu em
Orbetello admirveis converses.
Havia no regimento suo inmeros luteranos e calvinistas. Ao
presenciarem espetculo indito em suas seitas, atrados pela caridade do
apstolo, pelo poder de sua palavra e iluminados pela graa, concluam:
Este pregador forosamente o arauto da verdade .
E, descobrindo no verdadeiro apstolo a verdadeira Igreja, lanavam-se
em grande nmero para o tablado, declarando, sem respeito humano,
desejarem abjurar os erros e a heresia,
Houve entre eles um jovem de nobre linhagem, que exclamou em perfeito
italiano:
Abjuro, detesto e abomino a seita a que pertenci at o
dia de hoje tendo-a por falsa. Reconheo e confesso ser a
Igreja Catlica Apostlica Romana a verdadeira Igreja
fundada por Jesus Cristo .
Estas palavras foram pronunciadas com tal expresso de f, que a todos
comoveram.
Quem poder descrever a ternura com que Paulo os apertava de encontro ao
corao? Com solicitude paternal instrua-os nas verdades da f,
preparando-os para ingressarem na Igreja Chegou a setenta o nmero de tais
abjuraes.
Eis o poder do santo; bastava v-lo e ouvi-lo para se encontrar a
demonstrao apodtica da verdade catlica.
As palavras do apstolo confirmava-as Deus com milagres.
Referiremos apenas alguns.
Certa noite, aps ingentes fadigas, tomava Paulo breve descanso, quando
foi despertado por um sargento do regimento de Namur:
Pe. Paulo, vem depressa, que o demnio est
arrastando um soldado do quartel .
O santo missionrio salta da cama, toma o Crucifixo e corre para o
quartel. Em meio do povo e dos militares, v o soldado, plido e a
tremer, ser arrebatado por mo invisvel. Bradava o pobrezinho:
Socorro! Socorro! o demnio me arrasta...
Paulo impe preceito ao esprito maligno e diz ao soldado:
No temas, meu filho, aqui estou para socorrer-te.
Arrepende-te de teus pecados. E' o suficiente .
Inspira-lhe ao mesmo tempo grande confiana na misericrdia divina e nos
mritos de N. Senhor, obrigando-o a todo o pacto com o demnio.
Os presentes esto assombrados! O santo reitera as ordens ao inimigo das
almas e este pe-se em fuga
O soldado, depois de to violentos sobressaltos, desfigurado e abatido,
apenas se mantm em p. pergunta-lhe o servo de Deus se ainda v algum
demnio.
No os vejo, responde, mas quero confessar-me .
Paulo coloca-lhe ao pescoo o rosrio, arma poderosssima contra o
inferno, e diz-lhe que o confessar na manh seguinte.
O soldado no faltou palavra, mas, como no falava o italiano foi
conduzido ao capelo do regimento que o ouviu em confisso.
Outro militar, resolvido a reconciliar-se com Deus, vai lanar se aos
ps do pe. ngelo. Enquanto se acusa dos, pecados, percebe que mo
invisvel o arrasta com violncia. Agarra-se ao confessionrio. O
misterioso poder arrasta o penitente o confessor e o confessionrio Na
igreja tudo so gritos e tumulto. Acorre o pe. Paulo, pe o rosrio no
pescoo do penitente e d ordens ao demnio. Cobre com a capa o soldado
espavorido, leva-o sacristia e o confessa, libertando-o das sugestes
diablicas.
Tanta a tranqilidade e to doce a paz do penitente, que anela morrer
na, graa de Deus. Ao voltar igreja, levanta a pedra que cobre um dos
sepulcros e atira-se a ele, julgando em boa f que, para garantir a
glria celeste, fosse lcito sepultar-se vivo.
Intervm novamente o santo e ordena-lhe que saia dali. Mas so
necessrias reiteradas ordens.
Ao referir o fato a um sacerdote, dizia Paulo, a sorrir, que mais lhe
custara tirar o pobre convertido do sepulcro que arranc-lo das mos do
demnio.
Pregava o servo de Deus na igreja de Santa Cruz, hoje demolida.
Detm-se, de repente, e exclama:
Pobres irmos meus! Pobres irmos meus!
,
e continuou a orao.
Ao tomarem o barco, interrogou o barqueiro:
Vieste buscar-me para o soldado?
Este, admirado, quer saber quem lho dissera.
Eu o sei, eu o sei ,
respondeu o santo.
No quartel tudo era susto e confuso. O demnio levantara do solo o
infeliz soldado e ningum conseguia Neutralizar a violncia satnica, por
mais esforos que empregassem.
Paulo comeou o exorcismo, mas bradava o demnio com ar de burla.
Este entregou-me a alma a troco de dinheiro .
Jamais cunhaste moeda, - disse o santo - no podes ter
dinheiro seno roubado. Ao demais, injusto o contrato,
porque este infeliz tem obrigao de entregar a alma a quem
lha deu .
E continuou o exorcismo. No pde o demnio resistir. Fugiu, caindo o
soldado desfalecido. Ao tornar a si, confessou-se com verdadeiro
arrependimento. O mesmo fizeram os companheiro Paulo passou o dia todo no
confessionrio.
CAPTULO XXI
1742 - 1745
ndice
MISSO EM VETRALLA
DUAS DEFECES
NOVOS RECRUTAS
FUNDAO DE SORIANO
INAUGURAO DE DOIS RETIROS
CAPTULO XXI
1742 - 1745
MISSO EM VETRALLA
DUAS DEFECES
Mas, as obras de Deus trazem sempre o selo das contradies A vida dos
santos entrelaada de consolaes e amarguras.
De consolaes, para superarem a debilidade da natureza humana; de
amarguras, para enriquecerem a alma de virtudes e merecimentos.
O novio ngelo de Stefano, sempre enfermio, no suportou os rigores
do inverno e retornou ao sculo. Que mgoa para o corao do santo, que
o considerava uma das colunas da Congregao nascente!.
Teve de sofrer outra separao. O pe. Antnio, seu irmo, no se
comportava conforme o seu desejo. Paulo, unindo a doura severidade,
esforava-se por faz-lo voltar ao antigo fervor. Tudo intil.
Despediu-o, pois, preferindo reduzir a Congregao a trs sacerdotes e
dois irmos leigos a permitir nela se introduzisse a tibieza.
Rude golpe para o Instituto porque, embora no afetasse as bases de sua
existncia, comprometia a fundao projetada.
De fato, certa comunidade aproveitou, o ensejo para defender pretensos
direitos, obtendo em Roma que a Congregao do Bom Governo proibisse
terminantemente ao Conselho de Vetralla ceder a Paulo a ermida do Santo
Anjo.
A morte arrebatara-lhe, no dia 8 de fevereiro, o poderoso protetor,
cardeal Corradini. Por outro lado, experimentava completo abandono
espiritual e cruis vexaes diablicas.
Estava envolto em densas trevas, quando recebeu carta do cardeal
Rezzonico. Verdadeiro blsamo consolados!
Muito me alegrou, dizia este, a notcia de que estais
disposto a aceitar a ermida ofertada pelo Conselho de
Vetralla. Ainda que a no possais inaugurar com mais de
trs ou quatro religiosos, no a recuseis. Espero que a
divina Providncia aumente os operrios de sua vinha.
No temais as oposies do inimigo, que vos move to crua
guerra. Haveis de venc-lo, confundindo-o. Que N.
Senhor vos de nimo e valor; para este fim dirijo-me
incessantes splicas. Agradeo-vos a caridade das
oraes e desejo-vos abundantes bnos do Cu .
NOVOS RECRUTAS
Essas palavras no eram somente uma esperana; eram uma profecia.
Do Piemonte, da Toscana, dos Estados Pontifcios, acorreram ao monte
Argentrio, para alistar-se na milcia da Cruz, clrigos e irmos
leigos, em nmero to elevado, que no restou vaga uma cela sequer. Eram
FUNDAO DE SORIANO
CAPTULO XXII
1745 - 1748
ndice
O PADRE TOMS STRUZZIERI
GRAVSSIMA ENFERMIDADE
OUTRA APROVAO DAS REGRAS
MISTERIOSA PROMESSA
I. CAPTULO GERAL
CAPTULO XXII
1745 - 1748
O PADRE TOMS STRUZZIERI
Em profundo recolhimento. orava o nosso santo ante o sacrrio, na igreja
da Imaculada dos Montes. das religiosas capuchinhas, quando entrou um
sacerdote e se dirigiu sacristia.
Guiado por impulso interno, pe. Paulo o segue.
Ao se encontrarem perguntam-se mutuamente:
- O senhor o pe. Paulo?
- E v. revma. o pe. Toms Struzzieri?
E abraaras-se cordialmente, como se foram velhos amigos, que havia muito
no se encontravam.
igrejas.
Onde quer que se apresentasse o pe. Toms Maria, sua eloquncia doce e
insinuante conquistava os coraes e acalmava os espritos.
Pelos trabalhos excessivos em pas montanhoso, muita vez com perigo de
vida, De ngelis cau doente. Obrigado a abandonar a ilha, deixou o pe.
Toms como seu vigrio geral. Ao chegar a Roma, teceu-lhe elogios tais,
que o Santo Padre o constituu visitador apostlico e o nomeou bispo de
Tiana.
Longe de arrefecerem-lhe o zelo, essas honras deram-lhe maior vida,
fora e constncia. Enfim, por seu intermdio, a grande voz da Igreja
conseguiu dominar os furiosos brados de independncia nacional. Sua
caridade e prudncia souberam unificar os nimos e pacificar a ilha. Todos
o amavam como a ternssimo pai. Contudo, a mais digna de suas obras, quer
como religioso, quer como apstolo - permita-se-nos record-la aqui,
para que o mundo conhea o vinculo que une os filhos de Deus - foi a
caridade com que acolheu, consolou e alimentou a quatro mil Jesutas,
hericos e santos mrtires, lanados naquelas praias, aps serem tratados
da maneira mais inqua e caluniados como somente o poderia fazer a malcia
infernal.
Gnova cedeu a Crsega ao rei de Frana. Restabeleceu-se a hierarquia
eclesistica, terminando gloriosamente. em 1770, a visita do santo
Pastor.
Informado de seus mritos, ofereceu-lhe Lus XV o titulo de
metropolita da ilha. As honras, porm, o no atraam. Sua nica
aspirao era voltar ao monte Argentrio, para janto dos coirmos, e
entregar-se novamente vida de silncio e orao.
O rei, patenteando-lhe estima e reconhecimento, enviou-lhe dez mil
flancos. O apstolo recebeu-os quando j se encontrava a bordo e os
remeteu imediatamente ao Cabido da catedral, para serem distribudos aos
pobres.
Clemente XIV obrigou-o a aceitar o bispado de Amlia, transferindo-o
mais tarde, apesar das lgrimas do rebanho e resistncia do Pastor,
S de Todi, onde, em 1780, com a idade de 74 anos, falecia em odor
de santidade. Seu corpo repousa na catedral de Todi, cercado pela
venerao dos fiis e glorificado por muitos milagres; mas a santa Igreja
no pronunciou ainda seu parecer.
Tivemos como obrigao traar, de relance, a vida desta grande e santa
figura de religioso, cuja glria reverbera na fronte augusta de Paulo da
Cruz.
GRAVSSIMA ENFERMIDADE
De par com a graa vai sempre o sacrifcio. Paulo comprara seus
com oraes, lgrimas e dores. Satans fazia-os pagar bem caro.
pe. Toms custou-lhe trabalhos inenarrveis. Conduziu-o de Roma
Argentrio no rigor do inverno. Fatigado como estava por tintas
trabalhos, caiu enfermo. Dores atrozes o martirizavam, chegando
apreenso o seu estado.
Transportaram-no a Orbetello, em casa de piedoso benfeitor. Nada
filhos
O
ao
viagens e
a causar
Nada o deteve: nem as dores que ainda o atormentavam nem as fadigas de nova
viagem. Chegou a Roma em fevereiro de 1746. O cardeal Albani obteve
dos Mnimos de so Francisco de Paulo, de quem era o Protetor, o
hospedassem no convento de Santo Andr. Seu estado de sade reclamava
especiais cuidados.
A presena de Paulo, sua doura e humildade, salvaram a obra de Deus.
Girlami, persistente em suas opinies, cau enfermo. O sumo
Pontfice, admirador sincero do Instituto, excluu-o da comisso. Era o
termo dos debates. Era o triunfo. Mitigadas as Regras em coisas de
somenos, como o uso constante (Ias sandlias e o jejum e abstinncia
apenas trs vezes por semana, exceto no advento, que continuava
quotidiano, os juizes, de comum acordo, aprovaram-nas no dia 27 de maro
de 1746, apresentando-as no dia seguinte ao Santo Padre.
O sbio Pontfice, satisfeitssimo, dignou-se escrever de prprio
punho o Rescrito para a expedio do Breve.
Ouamos os acentos de reconhecimento e jbilo, que brotaram da alma de
Paulo da Cruz
Querido e amadssimo pe. Fulgncio. A caridade
inspirar-vos- compaixo de uma alma to pobre e imperfeita
como a minha...
- O santo pensa sempre no seu nada, toda vez que Deus o glorifica, mas
seus olhares se voltam logo para o Cu:
Graas a Deus, segunda-feira da Paixo, 28 do
corrente ms, quando se l no Evangelho da Missa: SI
QUIS SITIT VENIAT AD ME ET BIBAT, etc.
(Jo. 7, 37), o Vigrio de Jesus Cristo firmou a
minuta do Breve para a aprovao de nossas santas
Regras...
Ontem me lancei aos ps de Sua Santidade,
manifestando-lhe o meu reconhecimento...
Que dizer da altssima Providncia de Deus.
permitindo, apesar das mais ativas diligncias, no nos
fosse outorgada essa merc antes dos grandes dias da
Paixo? Quantos mistrios!...
V. Revcia. estar lembrado de que o mesmo sucedeu com
o retiro do monte Argentrio. No conseguimos. a
despeito de todos os esforos, tomar posse solene do retiro
nem celebrar o divino Sacrifcio seno no dia da
Exaltao da Santa Cruz... NOS AUTEM
GLORIARI OPORTET IN CRUCE DOMINI
NOSTRI JESU CHRISTI (Gal 6. 37): No
devemos gloriar-nos seno na Cruz de N. S. Jesus
Cristo... Conveno-me sempre mais de que a Congregao
obra de Deus. Assim o cr Roma em peso: religiosos e
prelados... Deus me tem ajudado. Posso dizer que milagre
de sua misericrdia resolver-se o magno assunto to
depressa e com xito feliz .
Em breve ordenarei solene: aes de graas... No
entanto, que todos se esmerem em louvar e agradecer ao
Altssimo .
31 maro 1746
O Breve de aprovao tem a data de 28 de abril. O cardeal Albani
custeou todas as despesas, levando-o no ms de junho, pessoalmente, ao
santo Fundador, ento de passagem pelo retiro de Santo Eutzio.
MISTERIOSA PROMESSA
Paulo escrevia ao pe. Fulgncio:
No dia da Comemorao de so Paulo, 30 do
corrente, comeai, vo-lo peo, o trduo solene em ao
de graas, com exposio do ss. Sacramento, devendo
termin-lo no dia da Visitao da ss. Virgem, em que
cantareis e aplicareis a santa missa segundo a minha
inteno. Haver comunho geral nos trs dias. Pedi
todos com muita piedade e fervor o desenvolvimento do
Instituto e, para os religiosos, o verdadeira esprito
apostlico, que esprito de grande perfeio .
Em suma, rogai a Jesus nos conceda a todos o seu santo
esprito .
Disse tudo em poucas palavras .
E a mim, miservel, que destruo a obra de Deus, que
direi? Prostro-me aos ps de todos e a todos peo perdo
de minha vida pecaminosa, relaxada, tbia e escandalosa,
porque no sou regular, mas, ao contrrio, muito
irregular. Rogo-vos supliqueis divina Majestade me
perdoe os pecados, que so graves, gravssimos mesmo; e
se, por minha culpa, eu no sirva de exemplo aos demais com
vida verdadeiramente santa, rogai a Deus me tire deste
mundo, concedendo-me, porm, uma santa morte .
Por amor de Deus, no me recuseis esta caridade.
ESTOU CERTO, CERTSSIMO DE QUE, SE
CORRESPONDERDES A VOCAO, DEUS A TODOS
VOS FAR SANTOS. SEI O QUE ESTOU
DIZENDO... .
Sei o que estou dizendo...
Os santos ocultam os favores do Cu, mas muitas vezes se traem por uma
palavra, um suspiro, um nada... E' preciso interpret-los e
surpreend-los quando distrados. Aqui h, evidentemente, alguma
revelao sobrenatural, alguma promessa de graas especiais aos que abraam
o Instituto da sagrada Paixo. Deus lhe daria uma coroa de santos...
Quando o santo Fundador escrevia estas frases tinha como discpulos almas
que praticavam a virtude em grau herico, como sejam, seu irmo pe.
Joo Batista, o pe. Fulgncio de Jesus, o pe. Marco Aurlio do
SS. Sacramento, o pe. Tom do Sagrado Lado, o pe. Francisco
Antnio do Ss. Crucifixo, o pe. Tom de So Francisco Xavier, o
pe. Jos das Dores de Maria Santssima, o pe. Antnio do
Calvrio, o pe. Felipe Jacinto do SS. Salvador, o pe. Bernardino de
Jesus, o pe. Joo Batista de So Vicente Frrer, o irmo Jos de
I. CAPTULO GERAL
Aprovadas as Constituies, era mister constituir-se a hierarquia, com
a eleio cannica dos superiores, especialmente do Prepsito Geral.
Nos primeiros dias de abril de 1747, dos diversos retiros partiram para
o monte Argentrio os membros mais conspcuos da Congregao. Embora
pequeno quanto ao nmero, esse Captulo venervel pela santidade e
luzes celestiais de que eram ornados os que nele tomaram parte.
Aos dez do ms, por unanimidade de sufrgios, foi eleito Prepsito
Geral o santo Fundador.
A Igreja, ao aprovar a nova Congregao, elevou-a nobreza do
Calvrio. Necessitava, pois, de uni braso. Adotou-se o mesmo emblema
apresentado por daria s. ao santo Fundador e aprovado por Bento XIV.
Acrescentaram-se-lhe apenas um ramo de oliveira ao lado direito e, ao
esquerdo, uma palma, smbolos das divinas conquistas da Cruz: a paz e a
vitria. Vitria sobre o inferno e o mundo, paz entre o Cu e a terra, o
homem e Deus.
Paulo da Cruz pediu, implorou o libertassem do fardo que lhe impuseram aos
ombros. Tudo em vo.
Inclinou, ento, a cabea e submeteu-se s ordens da Providncia.
E ser Superior Geral at a morte!...
Quo sbia fosse a escolha, ve-lo-emos no captulo seguinte. Bem
mereceu ele o elogio de Maria ss.:
A Congregao vai bem; continue a govern-la como
tem feito at agora .
CAPTULO XXIII
ndice
GOVERNO DE PAULO
SUA PRUDNCIA
AMVEL SIMPLICIDADE
CONFIANA EM DEUS
JUSTIA PARA COM TODOS
INVICTA PACINCIA
CARIDADE PARA COM OS SDITOS
TERNURA PATERNAL PARA COM OS
DOENTES
CARINHO PARA COM OS JOVENS
FIRMEZA INABALVEL
CAPTULO XXIII
GOVERNO DE PAULO
A bondade o trao supremo, o esplendor da beleza moral chamada
SANTIDADE.
Se nas perfeies divinas houvera graus, poder-se-ia dizer que a bondade
seria o primeiro de seus atributos, por ser o poderoso m que a Ele atrai
todos os seres. Causam-nos admirao a grandeza e a eternidade de Deus;
sua bondade, porm, comovemos o corao e nos subjuga a alma.
E' a humildade justa e agradvel amlgama de doura e de fora. Sem
doura, a fora seria rigor inflexvel; a doura, sem a fora,
tornar-se-ia debilidade. Nada mais doce do que a fora; nada mais forte
que a doura.
SUA PRUDNCIA
Deus, ao inspirar-lhe a fundao do Instituto, parece haver-lhe
outrossim gravado no esprito a maneira como govern-lo.
Dirigia-se sempre pela operao invisvel da graa. Completamente
alheio falsa prudncia do sculo, antepunha aos interesses da
Congregao o beneplcito e a glria de Deus.
Quando se tratava da glria de N. Senhor nada o detinha. Jamais,
porm, iniciava qualquer trabalho com ansiosa precipitao; muito ao
contrrio, refletia seriamente, escolhendo os meios mais adequados para o bom
xito da empresa. Por vezes as circunstncias o obrigavam a agir com
presteza. Mas, quer temporizasse, quer se lanasse logo ao trabalho,
opera-a sempre com plena posse de si mesmo e com a calma de quem est unido a
Deus.
Agir diversamente, dizia, no convm nem pode dar bom
resultado .
Em afazeres de alguma importncia, no confiava na prpria opinio;
pedia luzes a Deus e tomava conselho dos homens.
Repetia com freqncia as sentenas do Esprito Santo:
EU, A SABEDORIA, HABITO NO
CONSELHO (Prov. 8, 12)... MEU FILHO,
NADA FAAS SEM CONSELHO
(Ecl. 32, 24).
Essa a sua regra. Quando lhe davam parecer justo e reto, rendia-se
imediatamente, sem levar em conta a condio de quem lho dava.
AMVEL SIMPLICIDADE
CONFIANA EM DEUS
Outro efeito de sua simplicidade era viver continuamente abandonado nos
braos da divina Providncia, qual uma criana no regao materno.
Reprovava o desassossego exagerado dos superiores no que diz respeito s
necessidades do convento. Recomendava-lhes a confiana na Providncia,
que jamais abandona aos que se lhe lanam nos braos. Costumava repetir
..Quando ramos trs, N. Senhor providenciava para trs; quando
dez, para dez, e agora que somos muitos, providenciar para muitos. Basta
que sejamos bons e observantes fiis das santa: Regras e nada nos
faltar, conforme o nosso estado de pobreza.
E a experincia tem confirmado essa profecia. Jamais faltou o necessrio
a seus filhos e, mesmo em pocas de escassez geral, -eles puderam socorrer
os pobres.
Numa de tais circunstncias escrevia o Servo de Deus:
A geada destruiu os vinhedos, a colheita do trigo
bastante escassa. Teme-se a carestia, mas os celeiros e as
adegas do Soberano Senhor no podem falir .
Deus vinha sempre em seu auxlio, bastas vezes com milagres, para
conservar viva nos filhos esta confiana.
Batendo os bosques do monte Argentrio, alguns caadores, obrigados pela
fome, foram ter ao retiro da Apresentao. Paulo d-lhes po e vinho,
restando apenas algumas favas para a ceia dos religiosos.
Pois bem, aquele legume, insuficiente para um, multiplicou-se a ponto de
ter cada religioso a quantidade necessria. E no terminou aqui o
prodgio. Ainda estavam mesa, quando receberam melhores alimentos.
Os religiosos de outro convento, por uma terrvel tempestade de neve,
estavam sem po e sem esperana de obt-lo. Chegou a hora da refeio
e o santo mandou tranqilamente a seus filhos que fossem ao refeitrio.
Instantes depois, tocaram a sineta da portaria. Era um senhor desconhecido
a entregar-lhes, sem dizer palavra, uma cesta cheia de branqussimos
pes. No se podendo conter de alegria, o bom irmo levou imediatamente ao
refeitrio a inesperada esmola. Quando voltou para agradecer ao misterioso
benfeitor, este desaparecera, sem deixar sequer as pegadas na neve!
Estes e semelhantes fatos, que tanto realam a prudncia e simplicidade do
servo de Deus, emprestam outrossim a seu governo encanto indescritvel.
Mais do que tudo, porm. contribua para faz-lo querido e respeitado a
incomparvel suavidade do seu jugo.
Severo para consigo. era todo indulgncia para com os demais. No
ordenava, suplicava sempre.
INVICTA PACINCIA
A par da justia, resplandeceu em Paulo pacincia inaltervel. Jamais
repreendia com voz alterada pela indignao ou clera.
Dizia que
o aviso dado com bondade cura qualquer chaga, ao passo
que, dado com aspereza, produz dez .
Escreveu a um reitor demasiado severo:
No seja precipitado no corrigir, principalmente quando
sentir qualquer princpio de paixo; mas, passado algum
tempo. quando estiver calmo, chame o culpado e o corrija com
corao de pai e de me .
E dava o exemplo. Que doura e pacincia nas correes!
Ao advertir a um irmo leigo, este alterou-se a ponto de proferir palavras
inconvenientes. Paulo, calmo e humilde, abaixou a cabea, abriu os
braos e falou ao culpado:
Tenha compaixo de mim, querido irmo; um pouco de
pacincia...
O irmo, arrependido, lanou-se chorando aos ps do pai amoroso.
FIRMEZA INABALVEL
O governo do nosso santo, com ser suave, no deixava de ser forte.
Observava, com vista perspicaz, a conduta dos religiosos.
Aos incorrigveis, aps os meios brandos, empregava atitudes enrgicas,
fazendo-os tremer. Se algum resolvesse abandonar o Instituto, deixava-o
partir, dizendo
Prefiro a observncia a todos os indivduos do mundo.
Deus no precisa de ningum; poucos e bons! .
Corrigia as mais leves faltas, porque desejava que todos fossem perfeitos.
Falar em voz alta, rir estrepitosamente, proferir palavras ociosas,
mostrar-se demasiado alegre ou delicado, eram defeitos que no passavam sem
correo.
Cantando o divino Ofcio no coro, um clrigo cometeu um erro.
Voltou-se o santo para ele, repetindo a sentena:
MALEDICTUS HOMO QUI FACIT OPUS
DEI FRAUDULENTER
(Jerem. 48, 10). Essas palavras foram pronunciadas com tal
inflexo de voz, que a todos fz tremer, servindo de lio para o
futuro.
Se algum no inclinava a cabea ao GLORIA PATRI ou ao nome
ss. de Jesus, repreendia-o severamente.
No hesitou em mudar de retiro a um irmo leigo que faltara santa
caridade.
Um religioso se mostrara demasiado familiar e alegre em presena de algumas
piedosas benfeitoras, em visita ao retiro do Santo Anjo. Advertiu-o
asperamente, exigindo-lhe para o futuro mais modstia e gravidade
religiosa, como convm aos filhos da Paixo. Alguma vez exclamou:
No conheceis a fora que Deus colocou neste peito?
No bom superior quem no sabe dizer no .
Julgava-se ru de grande pecado se, para no perder a estima dos
A MURALHA INEXPUGNVEL DO
INSTITUTO .
Recomendo-vos, dizia aos religiosos, a santa pobreza.
Se fordes pobres, sereis santos. Se, porm, andardes em
procura dos bens deste mundo, perdereis o esprito religioso
e desaparecer dentre vs a observncia regular. Os
filhos da Paixo de Jesus Cristo devem viver despojados de
todos os bens terrenos. Nossa Congregao deve ser pobre
de esprito e completamente desnuda, Somente assim
conservar perene vigor .
Era zelosssimo na prtica desta celestial virtude. Exigia que pobre
fosse o vesturio dos religiosos, pobre a alimentao, pobres as celas,
pobres os edifcios.
Como da santa pobreza nasce a vida perfeitamente comum, tinha esta em grande
estima
Oh! que felicidade a vida comum! que grande tesouro
encerra! .
E suas obras se conformavam ao seu parecer. Nunca possuiu coisa alguma como
prpria e exigia que entre os filhos tudo fosse comum.
Era a pobreza personificada. Entremos em sua cela: pequena mesa de madeira
ordinria, duas ou trs cadeiras de palha, uma enxerga sobre algumas
tboas, uma coberta de l. uni Crucifixo, uma pia de barro para gua
benta, alguns quadros ordinrios... essas as preciosas moblias de Paulo
da Cruz! Esmerava-se por ser o mais pobre entre os pobres.
No era menor seu amor orao.
Se formos homens de orao, sentenciava, Deus
servir-se- de ns, embora miserveis, para os mais
brilhantes triunfos de sua glria. Sem a orao, nada
faremos de bom .
Estimava deveras os religiosos que se entregavam de fato orao, e com
eles se aconselhava.
Para que o esprito de orao lanasse profundas razes na alma de seus
filhos, exortava-os ao recolhimento com a lembrana da presena de Deus:
Este exerccio faz com que a orao seja contnua
.
E prosseguia:
Pessoas h que tm grande devoo em visitar lugares
santos e as igrejas mais clebres. Estou longe de
critic-las; digo, contudo, que o nosso interior grande
santurio, por ser o templo vivo de Deus. Nle reside a
ss. Trindade. Permanecer nesse templo devoo
verdadeiramente sublime
Com tais expresses inflamava os coraes dos filhos no desejo de tratarem
familiarmente com Deus, comunicando-lhes o verdadeiro espirito de
orao.
CAPTULO XXIV
1748 - 1749
ndice
FUNDAO EM CECCANO
FUNDAO EM TUSCNIA
OUTROS PEDIDOS DE FUNDAO
FURIOSA TEMPESTADE
CAPTULO XXIV
1748 - 1749
FUNDAO EM CECCANO
Fecundada por graas extraordinrias, a Congregao da Santa Cruz
produzia frutos de eminentes virtudes, expandindo por toda parte o bom odor
de Jesus Cristo.
Ceccano, florescente cidade dos Agros Romanos, anelou possuir um retiro
de Passionistas. Ofereciam um convento a pequena distncia da cidade,
antiga residncia dos Beneditinos. Contguo ao mosteiro havia humilde
igreja sob a invocao de Santa Maria de Corniano, cuja imagem,
conforme piedosa lenda, fora encontrada milagrosamente.
Ceccano em peso ansiava por acolher quanto antes os novos apstolos.
D. Brgia bispo de Ferentino, grande admirador de Paulo e de seus
filhos, secundava os desejos de Ceccano, auxiliando a restaurao do
mosteiro e da igreja. O piedoso prelado escreveu ao santo Fundador,
rogando-lhe com vivssimas instncias aceitasse a oferta.
Paulo enviou a Ceccano o pe. Toms Maria para tratar da fundao.
FUNDAO EM TUSCNIA
Em 1743, aps frutuosssima misso em Toscanella, hoje Tuscnia,
cidade da Etrria, todos, autoridades e povo, desejaram possuir os novos
apstolos de Jesus Crucificado. Ias, como toda obra de Deus, essa
fundao deveria sofrer contradies. Somente em 1747, Bento
XIV, estando em Civitavecchia em visita a alguns monumentos que mandara
erigir, removeu todos os obstculos. No ano seguinte, d. Abatti. bispo
de Toscanella, teve a ventura de receber os Passionistas.
O venervel Fundador deixou o monte Argentrio em companhia de vrio,
religiosos e se encaminhou para Toscanella. A viagem foi semelhante s
demais. Pernoitaram em Montalto. Dolorosa foi a jornada do dia seguinte.
Ao chegarem s vizinhanas de Toscanella, cau Paulo desfalecido. Ao
tornar a si, arrastou-se penosamente at a cidade, onde o esperavam
amarguras e desengano:. Nada fora preparado. O lugar prometido era
humilde santurio, chamado de Nossa Senhora do Cerro, em meio de um
bosque. A pequena distncia elevava-se pobre ermida quase em runas.
Descuidaram-se de restaur-la e de prov-la do necessrio.
Paulo exigia a pobreza, mas que no prejudicasse a sade dos filhos.
Fora exp-los morte deix-los naquele lugar mido e malso.
Resolveu, pois, lev-los de volta ao Santo Anjo, a isto se opondo o
snr. bispo, que os alojou provisoriamente numa casa da cidade. No entanto,
convocou os maiorais, expondo-lhes a urgente necessidade de restaurar-se a
ermida e a igreja de Nossa Senhora do Cerro.
Abriu a subscrio com quinhentos escudos, em honra, dizia ele, das
cinco chagas de Nosso Senhor. O exemplo foi contagiante e no espao de um
ms tudo estava convenientemente preparado.
No dia 27 de maro, com grande afluncia de fiis, tendo frente o
venervel Pastor, tomaram posse daquela ermida, elevando, desde ento,
para os Cus, o perene concerto dos divinos louvores.
FURIOSA TEMPESTADE
Mas eis que se levanta contra a Congregao to furiosa tempestade, que
ameaa destru-la por completo, lanando a alma de Paulo num oceano de
amarguras. Satans empregou esforo supremo para arruinar a obra de Deus,
arrojando contra ela espumas de raiva. Deus assim o permitiu para glria do
Instituto.,
Apresentaram ao Papa libelos difamatrios, imputando aos filhos da
Paixo crimes horrendos. Diziam que a f e mesmo a igreja corriam iminente
perigo, no fossem logo exterminados os Passionistas.
E' doloroso saber que pessoas eminentes pela santidade caram na cilada,
abraando em boa f a causa da calnia, julgando defender assim a
Religio.
Bento XIV, porm, no deu crdito queles panfletos mentirosos.
Conhecia e admirava os religiosos pintando com to negras cores. Quando se
lhe apresenta-a ocasio. patenteava-lhes cordialssimo afeto. Perito na
arte de conhecer a verdadeira santidade e os refolhos do corao humano,
como o demonstrou na admirvel obra DE CANONIZATIONE
SANCTORUM, desde o primeiro encontro que teve com Paulo da Cruz reputou-o
santo extraordinrio, recomendando-se a si mesmo e a Igreja s suas
oraes. Desejava v-lo amide e trat-lo familiarmente, chegam do a
dizer-lhe em presena de outras pessoas:
Pe. Paulo, sei que fazeis muitssimo bem Igreja
.
E to grande era a benevolncia do sbio Pontfice para com o nosso
santo, a ponto de faz-lo sentar-se a seu lado e conversar com ele com a
maior familiaridade. Concedia-lhe o que pedisse. Valeu-se o servo de
Deus, certa vez, de um cardeal para obter um favor. O Papa ressentiu-se,
queixando-se docemente:
Padre Paulo, quando deseja alguma coisa, no se sirva
de intermedirio, dirija-se diretamente a Ns .
O santo acenara apenas ao Santo Padre sobre a nomeao de um cardeal
protetor da Congregao, como possuam todos os Institutos. O benigno
Pontfice respondeu imediatamente:
Ns somos o Protetor da vossa Congregao .
Desde ento o Instituto da Santa Cruz sempre esteve sob a imediata
proteo do Vigrio de Jesus Cristo.
Todavia, para no faltar ao dever de Pastor vigilante, Bento XIV
nomeou secreta comisso de cardeais para vigiar de perto o Fundador e seu
Instituto e observar atentamente os costumes dos novos missionrios, sua
doutrina e ensinamentos.
A perseguio afligia imensamente o nosso santo, sem, contudo,
roubar-lhe a confiana nAquele que, do alto dos Cus, toma a defesa do
justo.
CAPTULO XXV
1749 - 1758
ndice
MAIS PROVAES E SOFRIMENTOS
VISITA DE PAULO A CECCANO
CARTAS AMIGAS
PREGA O JUBILEU
FUNDAO EM FALVATERRA
FUNDAO EM TERRACINA
FUNDAO EM PALIANO
FUNDAO EM MONTECAVO
VISITA AOS SEUS CONVENTOS
CAPTULO XXV
1749 - 1758
MAIS PROVAES E SOFRIMENTOS
A fim de subtrair ao joguete de rancorosos inimigos a Congregao que
DEVERA TER SIDO A PRIMEIRA A
APARECER NA IGREJA DE DEUS ,
reuniu Bento XIV nova comisso de cardeais para o julgamento definitivo.
Mas foi tal a audcia e persistncia dos desalmados que no temeram, nem
sequer ante aquele supremo tribunal, enfrentar os bispos e conclios
so provas patentes de amor quelas almas generosas, que tudo deixaram para
segui-lo pela encosta escarpada do Calvrio.
CARTAS AMIGAS
Com o multiplicar-se das perseguies, ter o leitor mais de uma vez
perguntado a si mesmo
- Que feito dos cardeais Rezzonico e Crescenzi. amigos de peito do
nosso santo?
O primeiro fora elevado S de Pdua e o segundo, terminada a misso
em Paris, fora nomeado arcebispo de Ferrara. Ambos, porm, no
perdiam de vista o dileto amigo. Escreviam-lhe de freqente, animando-o
a levar de vencida os inimigo. do Instituto,
Nada temais, diziam-lhe, tudo resultar em grande
glria para Deus .
Dias N. Senhor reservara a si proporcionar a mais doce consolao ao
nervo fiel.
E' o dia da Inveno da unta Cruz. Paulo est em Roma, onde fora
regularizar os negcios da Congregao, ainda em preito.
Andara a manh toda. Esgotado, volta casa dos snrs. Angeletti e
retira-se a seu aposento. Unia hora depois, como no aparecesse, o
companheiro aproxima-se de mansinho porta do quarto. Silncio
profundo. Deve estar dormindo. Volta duas horas aps, persuadido de que
j despertara. Chama-o por diversas vezes e nada de resposta! Temendo
algum grave acidente, abre a porta e... afigura-se-lhe entrar no
paraso! Que alegria inefvel! O santo est aureolado de luz, como se
fora o sol!
A vista do prodgio, exclama com simplicidade:
Agora compreendo porque no respondia... Padre, tudo
para v. revcia. e nada para mim?
A estas palavras, cessa o xtase. Paulo impe-lhe silncio:
A ningum diga o que viu .
PREGA O JUBILEU
Deus e o Papa parece coligarem-se no aliviar as angstias do santo.
De fato, o soberano Pontfice vai testemunhar de pblico quanto estima o
Instituto perseguido.
Aproxima-se o ano jubilar de 1750. Roma deve servir de exemplo aos
fiis de todo o mundo, que l vo ter nesse ano de graas e de perdo.
O Santo Padre ordena grandes misses em 14 igrejas da cidade, confiando
o honroso encargo ao. pregadores de maior renome, assim pela santidade de
FUNDAO EM FALVATERRA
A primeira casa a ser aberta foi a de Falvaterra, nos limites dos Estados
Pontifcios com o reino de Npoles, a milha e meia da cidade, cuja igreja
era dedicada a so Scio.
Graas assinaladas e freqentes milagres atraam diariamente para l
multides de peregrinos. Aps uma misso pregada em 1748 pelo pe.
Toms Maria, decidiu-se edificar ao lado do santurio um retiro para os
apstolos de Jesus Crucificado. D. Loureno Tartagni secundou as
aspiraes do rebanho, auxiliando generosamente a construo.
Na quaresma de 1751. Paulo com doze religiosos tomavam posse do
santurio. Isto se deu a 2 de abril, festa das Dores de Nossa Senhora.
Seus santos, exemplos e sua palavra a- postlica produziram imenso bem no
somente nos habitantes da localidade, mas em todos os peregrinos que l iam
ter para venerar as relquias do glorioso mrtir.
FUNDAO EM TERRACINA
A segunda fundao foi perto de Terracina, tambm nos Estados
FUNDAO EM PALIANO
Paulo aceitara outra fundao a trs milhas de Paliano, mas, sobrevindo
diversos obstculos, s pde lev-la a efeito no dia 23 de novembro de
1755. Como sempre, uma misso l pregada pelo grande apstolo excitou os
habitantes da localidade a solicitarem um retiro dos religiosos de Jesus
Crucificado. Sua eminncia, o cardeal Gentili, bispo de Palestrina e
grande admirador do santo, ofereceu-lhe antigo santurio. situado em
pinturesca e graciosa colina, por nome SANTA MARIA DE
PUGLIANO. O. Venera-se ali vetusta imagem da Me de Deus, a que
piedosa lenda atribui origem milagrosa. Amainada a tempestade, Paulo para
l enviou o pe. Toms Maria, ento Provincial, com onze religiosos,
cujas virtudes aumentaram os atrativos daquela colina, protegida pela augusta
Rainha do Cu. Foi a 23 de novembro de 1755.
FUNDAO EM MONTECAVO
A rvore sagrada da Congregao continua a estender seus ramos.
Nas altura: de Montecavo. outrora Monte Albano, erigira o paganismo
clebre templo a Jpiter Lcio, objeto de cega venerao.
Os romanos e os povos do Lcio l celebravam as famosas frias latinas,
rendendo impudica divindade o culto de vtimas humanas e de crimes
inominveis.
Ao desmoronar-se o templo, com a gentilidade, o cristianismo triunfante
ergueu abre suas runas bela igreja em louvor da Trindade. Por muitos
anos, os sacerdotes de Jesus Cristo dali alavam para o Cu o perfume
divino da Vtima purificadora de todas as manchas. Todavia, fora
abandonada aquela solido; as freqentes tempestades que varrem a montanha
com impetuosa violncia arruinaram a igreja e a casa. Graas
generosidade da ilustre famlia Colonna, tudo se restaurou e. no domingo
de Iramos, 19 de maro de 1758, doze filhos de Paulo da Cruz ali
chegavam para reatar a misteriosa cadeia de oraes e sacrifcios.
cantando em unssono com os Anjos as imortais vitrias da Cruz.
Paulo, no podendo assistir pessoalmente a tomada de posse, f-lo em
esprito. Os religiosos curtiram por algum tempo extrema pobreza. O terno
pai os encorajava por cartas:
Vossos sofrimentos so ricos presentes da divina
Majestade, que se compraz estejais profunda e fortemente
engastados no ureo anel de caridade. Deseja que sejais
vitimas, holocaustos oferecidos glria do Altssimo no
sagrado crisol do sofrimento. Quer que, pelo sacrifcio,
espalheis sempre o suave odor das virtudes... Oh! eu
espero que estas fundaes, face de Roma, sejam de
muita glria para Deus e de grande vantagem para a
Congregao.
CAPTULO XXVI
1758 - 1761
ndice
MORTE DE BENTO XIV
CLEMENTE XIII
A IGREJA DE ISCHIA
CONSTRUO DO NOVICIADO NO
ARGENTRIO
PEDIDO DA PROPAGANDA FIDE
PAULO E A INGLATERRA
CAPTULO XXVI
1758 - 1761
CLEMENTE XIII
Discorrendo os religiosos sobre a eleio do futuro Vigrio de Jesus
Cristo. perguntaram familiarmente ao santo quem seria o sucessor do
Pontfice falecido. Como guardasse silncio, cada qual indicou o seu
candidato.
Ento Paulo, inspirado por Deus, interrompeu-os, dizendo
E que direis se o novo Papa fosse o cardeal
Rezzonico?
Exclamaram todos:
E' impossvel. Rezzonico veneziano e to terrvel
a guerra entre a corte de Roma e a repblica de Veneza,
que certamente o sagrado Colgio no ir escolher um
cardeal dessa cidade .
Parecia convincente a razo. Houve um momento de silncio. Esperavam
que o santo confessasse o equvoco. Ele permanecia calado, em atitude
sumamente grave. Sabiam, por experincia, o significado de semelhante
conduta. Quando, por inadvertncia, manifestava alguma merc do Cu,
procurava imediatamente ocult-la com o vu do silncio. Desconfiaram,
pois, houvesse Paulo feito uma profecia.
Aos seis de julho, com surpresa geral, Rezzonico era nomeado Papa.
Todas as dificuldades eleio foram vencidas pelo conceito de santidade
que gozava, especialmente em Pdua.
Exultou o santo de alegria.
Ao ver, em dias to calamitosos, impvido piloto guiar a barca de
Pedro, ordenou aos religiosos rendessem fervorosas aes de graas a Deus
N. Senhor.
O ntimo amigo do servo de Deus era, pois, o sucessor de so Pedro!
Sua bondade e amor ao Instituto, suas cartas a Paulo, gentis e
afetuosas; a hospitalidade dada aos dois irmos e o interesse tomado junto de
Bento XIV em prol da Congregao, tudo prenunciava que o Santo Padre
iria cumul-la de graas e benefcios.
Folgo em saber, escrevia o santo aos 8 de junho de
1758 ao mestre de novios, folgo em saber que o cardeal
Rezzonico foi eleito Papa. O pe. Joo Batista e eu
iremos a Roma beijar os ps de Sua Santidade e tratar dos
votos solenes, bem como de uma residncia na Cidade Eterna
.
Foram recebidos com a mxima afabilidade pelo santo Padre, que conversou
com eles por largo tempo, recordando-lhes os doces colquios que tiveram
antes de sua elevao S arquiepiscopal de Pdua.
Sensibilizado pela bondade de Clemente XIII, falou-lhe o santo a
respeito dos votos solenes e do desejo de ter uma casa em Roma. O bondoso
Pontfice prometeu satisfaz-lo. Abenoou-os e os despediu, imensamente
satisfeito pela visita.
De regresso solido do Santo Anjo, Paulo providenciou os documentos
necessrios para estabelecer os votos solenes no Instituto. O Papa lhe
aconselhara os enviasse ao cardeal Crescenzi, ento em Roma. Este
apresentou a Clemente XIII a petio, que em fevereiro de 1760 foi
confiada, como de praxe, ao exame de uma comisso cardinalcia.
Paulo esperava a deciso com santa indiferena, tendo unicamente em vista
a vontade de Deus. Para no faltar ao dever, embora idoso e achacado,
empreendeu vrias viagens a Roma e escreveu inmeras cartas. Ouamo-lo
em uma delas:
A IGREJA DE ISCHIA
A igreja de Ischia, povoado da diocese de Aquapendente, estava quase em
runas e o povo no se resolvia a edificar novo templo. Inteis foram os
pedidos do vigrio e at do bispo diocesano. Este apelou para o zelo de
Paulo, enviando-o quela localidade a fim de pregar uma misso e convencer
o povo da necessidade de um templo digno da Majestade divina.
O apstolo, aps a prtica de mxima, fz breve mas calorosa
exortao a respeito. Foi o suficiente. Terminou a ciso; a igreja seria
edificada.
Com a partida do missionrio, alaram novamente a cabea os opositores.
Sabendo-o Paulo, com cartas vibrantes revigorava os nimos para continuarem
com entusiasmo a obra comeada.
Coragem! dizia-lhes, imitai a Neemias que, com a
trolha em uma das mos e a espada na outra, reedificou
Jerusalm de suas runas... .
E ao cnego Scarsella:
Imitai a santa Teresa, para quem os obstculos s
contribuam a inflamar-lhe o ardor na construo dos
mosteiros: as oposies eram-lhe pressgio manifesto da
glria que dariam a Deus as obras assim combatidas .
Encontrando-se o cnego em Roma no interesse da construo obstaculada,
recebeu carta do santo. clamando como sempre pela cansa da igreja.
Apresentou-a ao cardeal Orsini. que a guardou para mostr-la aos
amigos. Foi, enfim. cair s mos de Clemente XIII. Sua
Santidade. comovi ido, ps termo contenda, ordenando a construo alo
templo e, para o adorno da caga de Deus, ofertou cem moedas de ouro.
O snr. bispo no cabia em si de contente.
No tenho palavras nem expresses, escrevia a Paulo,
para devidamente agradecer a v. revcia. pelo grande bem que
fz em Ischia, com a santa misso. Apaziguou aquele povo
e conseguiu que se consumisse a igreja. Devo-lhe eterna
gratido... Sou ias, capaz de corresponder aos trabalhos de
Deus. E
igreja e
elegantes e
do mundo,
PAULO E A INGLATERRA
O nosso santo tinha predilees pela Inglaterra. Quantas lgrimas,
quantos suspiros, que ardentes votos pelo seu retorno ao seio da santa
Igreja Catlica
Ah! A Inglaterra dilacera-me o corao.... Ah!
a Inglaterra, a Inglaterra!
repetia emocionado.
Certa vez exclamou:
Peamos pela Inglaterra. Sou obrigado a faz-lo,
porque apenas me ponho em orao, apresenta-se-me ao
esprito esse pobre reino. H mais de cinqenta anos que
pego a converso da Inglaterra; fao-o todos os dias na
santa Missa. Ignoro os desgnios de Deus; talvez queira
usar-lhe de misericrdia, com cham-la , verdadeira
f. Rezemos, rezemos muito; o resto pertence a Deus .
Paulo estava de cama; o enfermeiro, encontrando-o em xtase, tocou-o
por trs vezes. Ao voltar a si, exclamou
Onde estava eu? Na Inglaterra; perpassaram-me pela
mente os ilustres mrtires ingleses. Oh! como roguei por
aquele reino! .
De outra feita. ao celebrar o divino Sacrifcio, N. Senhor
desvendara-lhe o porvir daquela nao. Continuaria nas sombras do erro ou
resplandeceria na luz indefectvel da verdade? Ignoramo-lo. A ltima
hiptese parece-nos mais provvel e nosso corao se regozija ao
espos-la. O que no padece dvida que Paulo teve a felicidade de
contemplar em esprito os Passionistas na Inglaterra.
Terminada a santa Missa, disse aos religiosos:
- Oh! que me foi dado contemplar! Os meus filhos na Inglaterra!
O ven. pe. Domingos da Me de Deus, no prefcio que escreveu a 21
de novembro de 1847 para a traduo inglesa da Vida de So Paulo da
Cruz composta por so Vicente Strambi, assim confirma esta consoladora
viso:
O fato foi referido pelo confessor do ven. Padre. Um
dia, enquanto celebrava a santa Missa em uma de nossas
igrejas situada na diocese de Viterbo, sob a invocao de
CAPTULO XXVII
1761 - 1765
ndice
A PAIXO DE JESUS O TRANSFORMA
FERIDAS E SEDE DE AMOR
TUDO O ELEVA A DEUS
SEU DOMNIO SOBRE A NATUREZA
CAPTULO XXVII
1761 - 1765
A PAIXO DE JESUS O TRANSFORMA
Supera de muito as nossas dbeis foras o que nos resta dizer a respeito de
Paulo da Cruz. Para cantar as maravilhas que iremos referir neste
capitulo, fora necessrio a lira do Anjo e o corao do Serafim.
Balbuciaremos apenas algumas palavras.
Jesus Crucificado, que de portentos no operais com vossos santos!
Paulo foi sempre serafim de amor. Com o transcorrer dos anos essas
labaredas cresceram tanto, a ponto de transformar-se em verdadeiro
incndio. Ao meditar os padecimentos do Redentor, abismava-se o santo
naquele oceano sem praias nem fundo. Flexas de amor transpassavam-lhe o
corao e ele chorava copiosamente. Os colquios com Jesus Crucificado
comoveriam coraes de pedra. Ouamo-lo
meu amado Redentor, que se passava no vosso Corao
no convento de Sant'Ana, em
alguns personagens da cidade, inclusive um
A casa estava infestada de moscas. O
daqueles senhores, disse-lhes:
CAPTULO XXVIII
ndice
ARAUTO DA SAGRADA PAIXO
CRUCIFICADO COM CRISTO
BENEVOLNCIA PARA COM OS OUTROS
SEU MTODO NAS MISSES
FRUTOS CONSOLADORES
O MEIO INFALVEL
CAPTULO XXVIII
Sempre!... Jamais!...
Tremia, estremecia, chorava, fazendo o auditrio tremer,, estremecer e
chorar com ele.
Qualquer que fosse o assunto, na perorao abrandava a voz e falava com
extraordinria ternura, comovendo os coraes mais empedernidos.
Se pregava sobre o paraso, os ouvintes deixavam com ele a terra, para
antegozarem as inefveis delcias do Cu.
Diziam sbios doutores:
O pe. Paulo sabe mais teologia do que ns...
Preliba a felicidade do paraso; eis porque discorre
maravilhosamente sobre ele .
Pregava sobre a Eucaristia? Suas palavras eram um cntico de amor, um
hino serfico. Amide era arrebatado em xtase e envolvido de brilhante
luz.
Discorria sobre a Paixo de N. Senhor? Sua alma se desfazia em
suspiros e lgrimas.
Este Padre, diziam todos um dia morrer no estrado,
pregando a Paixo de Jesus .
Com que emoo no repetia:
Um Deus amarrado por meu amor! Um Deus aoitado por
meu amor! Um Deus morto por meu amor!
Ao pronunciar essas palavras, penetrava no santurio da Divindade, oceano
de bondade e perfeio infinitas. O amor arrebatava-o; ningum sabia
falar sobre a sagrada Paixo como o pe., Paulo.
FRUTOS CONSOLADORES
Sua eloquncia, aurida no Calvrio, produzia incalculveis frutos de
salvao. Os pecadores interrompiam-lhe freqentemente os sermes com
soluos e gemidos, ferindo o peito e confessando as prprias culpas em altos
brados. O missionrio ia busc-los at nos braos de Satans.
Todos desejavam ouvi-lo e confessar-se com ele, porque a todos
prodigalizava ternssima caridade. Como bondoso mdico, cuidava de
todos, mas de modo particular dos mais enfermos. Costumava dizer serem os
ladres seus melhores amigos. Como os amava! Estes, convencidos de que
Paulo os estimava, afeioavam-se-lhe extraordinariamente.
Doura e insinuao eram as armas usadas pelo santo para ganh-los a
Deus. Tomava parte em suas penas. Abraava-os e os acariciava. Numa
palavra, fazia-lhe, de pai, a fim de libert-los das cadeias do pecado.
Para significar que algum era grande pecador, soam dizer
Para ti s o pe. Paulo .
Fora mister grossos volumes para referir as admirveis converses de
bandidos, operadas por Deus nos ministrios de seu apstolo.
O MEIO INFALVEL
Se Jesus era o princpio de seu apostolado, era outrossim o meio mais
poderoso. Diariamente, nas misses, terminada a prtica de mxima,
meditava, juntamente com os fiis, a Paixo de N. Senhor. Aos
pecadores, temerosos da divina justia, encorajava-os com as chagas e o
sangue do Salvador.
Ao findar a misso pronunciava solene sermo sobre Jesus Crucificado.
Era, por assim dizer, o golpe de misericrdia nas almas obstinadas.
Dificilmente deixavam de arrojar-se nos braos amorosos do Redentor.
Eis as palavras do santo:
Vejo cada vez melhor que o meio mais eficaz para converter
os pecadores obstinados a Paixo de N. Senhor,
pregada conforme o mtodo que a divina, incriada e
infalvel Bondade aprovou por intermdio de seu Vigrio na
terra .
Paulo sempre exigiu a discrio, to necessria para conduzir a bom
termo qualquer empresa, mxime as que requerem grandes fadigas. Com o
correr dos tempos teve que moderar o ardor de seu zelo. De manh, ouvia
confisses at o meio dia. A noite, terminado o sermo, descansava ou,
melhor, recolhia-se por instantes, recomendando a Deus o xito da
prtica, antes de voltar ao confessionrio.
A sagrada Paixo era tambm para o servo de Deus o meio mais eficaz para
garantir os frutos da misso. Exortava a todos meditassem os cruis
tormentos do Redentor ou, pelos menos, deles se recordassem
freqentemente.
Eu converti por esse meio os mais empedernidos pecadores e
CAPTULO XXIX
ndice
O APSTOLO DOS BANDIDOS
OS BANDIDOS DE MONTIANO
O SALTEADOR DE MAGLIANO
TEMEROSA SURPRESA
H DOZE ANOS NO ME CONFESSO
SUA VOZ OUVIDA AO LONGE
BILOCAO
SEU ANJO OU ELE MESMO?
PODER SOBRE OS ELEMENTOS
DEUS PREGA EM LUGAR DE PAULO
CONHECE O FUTURO E AS COISAS
OCULTAS
PROTEO DIVINA
CAPTULO XXIX
O APSTOLO DOS BANDIDOS
OS BANDIDOS DE MONTIANO
Paulo, em viagem para Montiano, deu com um bando de bandidos, a cavalo.
Atrados por sua afabilidade, resolveram acompanh-lo. Paulo falou-lhes
sobre Deus, a alma e a salvao eterna, como somente ele sabia
faz-lo. Aqueles homens, habituados aos crimes e homicdios, sentiam
diminuir-lhes a crueldade e a fereza. Ao repararem que as pegadas do servo
de Deus eram assinaladas por manchas de sangue, apearam, instando a que
montasse um dos cavalos. Recusada a oferta, os bandidos, nos trechos
escabrosos, estendiam as suas capas e o obrigavam a passar sobre elas.
Seguiram-no at Montiano. Armados como estavam, atravessaram as ruas em
silncio e entraram na igreja, assistindo com o mximo respeito o sermo
pregado pelo servo de Deus. Assim fizeram at o trmino da misso.
O que mais admirvel que todos mudaram de vida, tornando-se timos
cristos at a morte.
O SALTEADOR DE MAGLIANO
Eis mais um fato em que resplandece a misericrdia divina.
Famoso salteador jurara assassinar um senhor de Orbetello. Paulo deliberou
ir ter com o temvel bandido. Em vo quiseram demov-lo do intento.
Armado do Crucifixo, encaminhou-se ao esconderijo do facnora. Encontrou
um homem armado dos ps cabea e perguntou lhe se era fulano de tal...
Sou ,
respondeu-lhe este com ar ameaador. Paulo ergueu a Cruz, ajoelhou-se e
exclamou:
Vim expressamente para solicitar-lhe um favor em nome de
Jesus Cristo e no voltarei sem hav-lo conseguido .
Que o que deseja?
Que perdoe tal pessoa, pondo fim a seus temores .
Tanta doura triunfou da fereza cruel:
Ah! Padre! balbuciou o vencido da graa,
levante-se, pois no posso negar o que me pede. Somente o
senhor poderia consegui-lo. Sim, perdo-o de todo o
corao .
A pedido de Paulo firmou um documento em que declarava perdoar a quem at
ento perseguira de morte. Notando as boas disposies do facnora,
falou-lhe, com a habitual bondade, de Jesus, cujos braos abertos anelavam
por apert-lo ao Corao.
Novo triunfo da Cruz. Confessou-se no somente o bandido, mas todos os
seus cmplices, e perseveraram nos bons propsitos.
Que alegria a daquela pobre gente! Que jbilo, sobretudo, para o
corao do apstolo!
Como tardasse a voltar, preocupavam-se os de Orbetello. Com seu
regresso, geral foi o contentamento, notadamente do pobre homem a quem Paulo
salvara a vida.
TEMEROSA SURPRESA
Essas converses tornaram-se notveis em toda a Itlia, repercutindo
at nos antros dos salteadores. Vrios entre eles foram procura do santo
para depor-lhe aos ps o plo de tantos delitos.
Vejamos apenas o seguinte.
Anoitecia. Paulo e Joo Batista percorriam a estrada, ladeada de
bosques, que vai ter a Montemarano, aldeia da Toscava. Para tratar a ss
com Deus, conforme costumava, mandou que se adiantasse o companheiro.
Um ladro, armado, tomou-o pelo brao, arrastando-o para o bosque.
Assustado, Paulo o foi seguindo. Ao recobrar coragem, perguntou ao
estranho personagem o que desejava.
Mais para dentro! mais para dentro! ,
replicou o bandido, continuando a arrast-lo. Julgando-se perdido,
encomendou a alma a Deus.
No mais espesso da floresta, lanou-se de joelhos o facnora e implorou
humildemente:
Vivia nesse msero estado havia vrios meses, quando l chegou o pe.
Paulo, hospedando-se na casa dos Grazi, seus benfeitores.
Uma irm da desditosa jovem, certamente por inspirao divina, levou-a
ao santo. Aps a missa, o serro de Deus, espontaneamente, perguntou
pela cega. Ao apresentarem-na, foi-lhe dizendo:
Jlia, necessitas duas granas: a luz da alma e a luz
dos olho.. Qual a tua preferncia?
- E, sem dar-lhe tempo para a resposta:
Oh! no h dvida, preferes a vista da alma, no
?
E pousou dois dedos nos olhos da cega.
Estes dois dedos acabam de tocar grande e santa coisa, O
PO DOS ANJOS...
A vista da alma..., exclamou logo Jlia fora de si,
a vista da alma .
A luz divina iluminara o espirito da donzela. Reconciliou-se com Deus,
gozando, desde ento, inefvel felicidade, como jamais experimentara no
pastado.
Como N. penhor Crucificado infinitamente misericordioso! Vejamos
agora o teu infinito poder.
BILOCAO
Terminara o santo a misso em Piombino.
Verdadeira multido acompanhara-o ao porto para dar-lhe o adeus de
despedida. Com vento propicio, em breve o vapor desaparecera no horizonte.
Entre os que l se achavam, estava o dr. Gheraldini. De volta
cidade, fora visitar um amigo. Qual no foi, porm, o seu espanto ao ver
o pe. Paulo deixar aquela casa!
Como, pe. Paulo, v. revma. por aqui? Acompanhei-o
ao porto, vi-o partir... perdi de vista o vapor...
Silncio, senhor Gheraldini, aqui estou por um ato de
caridade .
E desapareceu....
Por vezes, voz misteriosa obrigava os pecadores a procurarem o caridoso
mdico. No era raro aparecer o santo a alguma pessoa para consol-la ou
para reconcili-la com N. Senhor.
Certa manh, enquanto depunha os paramentos sagrados, apresentou-se-lhe
um homem e foi logo dizendo:
Padre Paulo, oua-me em confisso, pois h dez anos
no me confesso .
Voc quer infamar-se? ,
respondeu-lhe o santo. E voltando-se para os presentes:
No acreditem o que ele quer confessar-se em primeiro
lugar .
Repito, protestou aquele senhor, faz dez anos que no
me confesso .
Terminada a ao de graas, Paulo o confessou. Misericrdia de
Deus! Onde abundara a culpa, superabundou a graa. O pobre homem, grande
pecador, golpeava o peito com uma pedra, prova do sincero arrependimento. O
santo teve que intervir, arrancando-lhe a pedra da mo.
O mais maravilhoso foi v modo como o penitente chegou aos ps -Io
confessor. Enquanto se dirigia ao povoado onde se pregava a misso,
apareceu-lhe o demnio, ameaando lev-lo ao inferno. Compreende-se
facilmente o espanto do pobre pecador. Durante a noite, uma voz se fizera
ouvir diversas vezes:
Confessa-te com o pe. Paulo .
Essa a razo por que o chamou pelo nome, embora o no conhecesse.
infamante.
O farmacutico experimentou os revezes da fortuna. Reduzido misria,
perdeu o estabelecimento. Este ficara aberto, mas no para ele.
Ademais, toda a populao foi castigada com mortfera peste, que ceifou
setecentas pessoas! Ai dos apstolos de Satans que molestam aos
apstolos de Jesus Cristo!
Em Magliano, seis ou sete pessoas resistiam graa.
Compadeo-me dos que desprezam a divina misericrdia,
suspirava Paulo. Cairo sob os golpes da divina justia!
recompensou a f.
Em Arlena, diocese de Montefiascone, uma senhora chamada Jernima
Ricci, havia trs anos ficara completamente surda: no ouvia sequer o som
dos sinos. O que mais a amargurava era no poder ouvir a palavra do santo
missionrio. Uma tarde, esporou-o porta da igreja e, ao passar,
cortou-lhe, s escondidas, partezinha da capa, aplicando-a aos ouvidos.
Repreendeu-a o homem de Deus severamente
Muito bem! Ganhou alguma coisa com isto?
A felicidade de ouvi-lo ,
pde ela responder, porque recuperara a audio.
Em Orbetello, consumia-se em alta e prolongada febre uma menina de doze
anos. Paulo foi visit-la. Consolou-a, asseverando que seu mal
perduraria ainda por muito tempo por ser de grande glria de Deus, mas
recuperaria a sade por um milagre. Quinze anos esteve a pobrezinha entre a
vida e a morte. Decorrido esse tempo, voltou o santo a Orbetello, a fim
de pregar outra misso. A enferma desejou ouvi-lo, pelo menos uma vez.
Para satisfaz-la, os pais carregaram-na igreja, mas, quase ao findar
o sermo, cau desmaiada. Temeram por sua vida. O santo missionrio
aproximou-se da moribunda, benzeu-a com o sinal da Cruz e retirou-se.
Prodgio? Instantes aps, a menina estava radicalmente curada!
A cidade toda chorou de comoo, vendo-a passar das portas da morte
sade perfeita.
Viveu ainda muitos anos e pde narrar o milagre no processo de
canonizao.
o pejo. No o
os que lhe afligiam
vez em quando,
se decidia.
PROTEO DIVINA
CAPTULO XXX
ndice
RETIROS AO CLERO
ANJO DOS CLAUSTROS
DESCOBRE AS VOCAES
PRUDENTE DIRETOR ESPIRITUAL
A SAGRADA PAIXO, BASE DA VIDA
ESPIRITUAL
O ABANDONO EM DEUS
MORTE MSTICA
CAPTULO XXX
RETIROS AO CLERO
Inacabado seria o quadro que traamos sobre o apostolado de Paulo da
Cruz, no dissssemos algo dos exerccios espirituais pregados aos
sacerdotes e s comunidades femininas, bem como seu mtodo no dirigir as
almas perfeio.
Nos trios do santurio, expandia-se o santo com toda liberdade. J se
no tratava da luta contra as misrias do mundo, luta dolorosa, porque h
almas impenetrveis s flexas divinas. Nos exerccios espirituais,
Paulo encontrava-se em seu elemento, respirava a atmosfera de seu
corao, atmosfera de pureza, de luz e amor.
DESCOBRE AS VOCAES
Quando o servo de Deus ia a Civita-Castellana, hospedava-se em casa do
dr. Ercolani, nosso grande benfeitor. Tinha este uma filha de sete ou oito
anos por nome Isabel, a quem o santo costumava chamar
a minha freirinha .
A pequena zangava-se, respondendo em tom de revolta:
Por que me chama assim? No quero absolutamente ser
freira .
Por que no? ,
replicava o santo, a sorrir.
Porque desejo ficar sempre com mame .
Com a partida de Paulo, Isabel se punha a pensar:
Dizem que o pe. Paulo l no futuro. Talvez ele fale
por inspirao divina!
E temendo que assim fosse, desabafava-se com a me:
Mame, se o pe. Paulo me chama de freirinha,
porque eu devo ser religiosa .
O ABANDONO EM DEUS
Dirigindo as almas sempre para a humildade e para as virtudes slidas, o
incomparvel mestre elevava-as, gradativamente, ao mais alto grau de
orao, ao recolhimento, ao silncio espiritual, ao descanso, unio e
transformao divina. Vrias pessoas, religiosas e seculares,
dirigidas pelo nosso santo, morreram em odor de santidade. Citemos apenas
sror Maria Querubim Bresciani, Ins Grazi, Rosa Calabresi, sror
Maria Crucifixa, Lcia Burlini, etc..
Aduzamos, em confirmao do que dissemos, algumas citaes;
guardemo-nos, porm, de escalpel-las com seca e rida anlise.
Quando estiver bem aniquilada, bem desprezada e
convencida do seu nada, pea a Deus lhe permita penetrar em
seu divino Corao, e Ele no lho negar. Permanea
como vtima naquele divino altar, em que arde eternamente o
fogo do santo Amor. Deixe que essas chama. sagradas
penetrem at a medula de seus ossos e a reduza a cinza. Em
seguida, se o Divino Espirito Santo dignar-se elevar essa
cinza contemplao dos divinos mistrios, consinta que
sua alma se abisme na santa contemplao. Oh! como isto
agrada a N. Senhor!
Para melhor se fazer compreender, elucidava esses ensinamentos com graciosas
comparaes.
Veja essa criana. Aps haver acariciado a me e
brincado em torno dela, descansa e dorme em seu regao,
continuando, contudo, a mover os labiozinhos para sugar o
leite. Assim a alma, esgotados os afetos, deve dormitar no
seio do Pai celeste, no despertando dessa considerao
de f e amor sem consentimento do Soberano Bem .
Dizia ainda:
Permanea em descanso. Se o Esposo a convidar ao
sono, durma tranqila e no desperte sem sua permisso.
Esse sono divino dom outorgado pelo Pai celeste aos filhos
queridos: sono de f e de amor, em que se adquire a cincia
dos santos e onde no h lugar para as amarguras das
adversidades... Oh! silncio! Oh! sono sagrado! Oh!
solido preciosa!
MORTE MSTICA
Ouamo-lo agora explanar o completo e perene PERDER-SE da alma em
Deus:
Esteja totalmente abismada em Deus; deixe cair o seu
esprito, qual gota de gua, nesse Oceano imenso de
caridade; repouse nEle e receba as comunicaes divinas,
sem perder de vista o prprio nada. Nessa divina solido,
aprendem-se todas as coisas; nessa escola interior, mais se
aprende calando do que falando. Santa Maria Madalena caiu
de amor aos ps de Jesus: calada, ouvia, amava e se
desfazia em amor .
Conserve em toda parte esta orao e recolhimento
interior no locutrio, nos trabalhos manuais, em todo
lugar, enfim. Saia de si mesma e perca-se em Deus,
CAPTULO XXXI
1765 - 1767
ndice
DOLOROSO PRESSENTIMENTO
OS DOIS IRMOS
OS DOIS IRMOS
Paulo e Joo Batista eram dois corpos vivificados por uma s alma..
Cada qual vivia mais no outro que em si mormo; tudo o que se passava num
refletia-se no outro. As amarguras de Paulo, atrevas, as luzes, as
perseguies humanas e diablicas, as celestes consolaes, tudo ele
depositava na alma de Joo Batista.
Interrogado pelo confessor, logo aps a santa missa, onde estaria a alma
do finado, respondeu
No posso neg-lo, senti imensamente a morte de meu
irmo; no entanto, se Deus me perguntasse: Queres que
ressuscite a teu irmo? Se o desejares, f-lo-ei, mas
eu prefiro que continue morto; eu logo responderia: No
quero, Senhor, seno o que quereis; morto tambm eu o
quero .
O conceito que so Paulo da Cruz tinha de seu irmo se deduz das
seguintes expresses: o Pe. Joo Batista
MANIFESTAES POPULARES
Conhecido o itinerrio, acompanhemos o santo na longa jornada.
Caminharemos de triunfo em triunfo.
Os religiosos corriam de bem longe a encontr-lo: jbilo, respeito,
amor, todos os sentimentos da piedade filial se lhes estampavam no rosto, ao
rever o Pai amado.
Com que ternura os abraava, com que caridade os ouvia, solava e
encorajava na via da perfeio. Assim fora sempre, mas agora, com o
pressentimento da morte prxima, essas audincias tomavam carter
extremamente comovedor. Torrentes de ternura jorravam-lhe do corao com
as ltimas recomendaes, no supremo adeus do pai aos filhos desolados.
E a despedida?! Choravam os religiosos, e Paulo, profundamente comovido
ao abra-los, misturava suas lgrimas s dos filhos queridos...
Acompanhavam-no com a vista e, quando o pai querido desaparecia no
horizonte, retornavam ao convento, tristes, silenciosos...
Que diremos do entusiasmo dos fiis? Oh! a terra bem compreende que entre
ela e o Cu so necessrios esses heris de santidade, esses amigos de
Deus, poderosos intercessores junto do divino juiz.
Eis o segredo dos admirveis arroubos que se apossam das multides
passagem dos homens de Deus, desses protetores e salvadores da humanidade.
Apenas corria a voz de que Paulo da Cruz estava para chegar, todos se
punham em movimento nas cidades, vilas e aldeias. Convidavam-se
mutuamente:
ACONTECIMENTOS PRODIGIOSOS
O leitor perguntar, com certeza: Como se explicam manifestaes to
entusisticas e gerais?
Pelo conceito que todos tinham de sua santidade e pelos prodgios que
acompanhavam sua passagem.
Todos viam nele um reflexo das perfeies divinas ou, antes, o mesmo
Jesus Cristo. Apenas se lhe aproximavam, eram curados os enfermos da alma
ou do corpo, os desesperados recobravam a paz, os que jaziam em trevas
reaviam a luz, os molestados por remorsos se compungiam.
As mes apresentavam-lhe os filhinhos para que os abenoasse, e os
enfermos, carregados ou arrastando-se, dirigiam-se para onde ele devia
passar.
Em So Ssio, Ana Amatti, viva de Falvaterra, tinha um filho com
perigosa hrnia. A boa senhora levou-o ao venervel padre. Paulo o
abenoou e, no mesmo instante, desapareceu a hrnia!.
Teresa Spagnoli, esposa de Vicente Mattia, cnsul em Terracina, que
j sofrera a extrao de um tumor no seio esquerdo, notou que novo tumor
surgia no direito. Para no contristar o marido, ocultava o mal.
Manifestou-o, todavia, ao servo de Deus. Este ordenou-lhe:
Senhora, cale-se a respeito dessa enfermidade .
Benzeu-a e, de volta casa, Teresa teve a satisfao de se ver livre
do mal e, o que mais, desaparecera a cicatriz da operao.
Em Ceccano, certa mulher, que tinha uma mo paraltica, milagrosamente
se viu curada com a aplicao de um pedao da capa do santo.
Uma menina de dez a onze anos, chamada Gertrudes Ruggieri, de Sutri,
ferira-se com um espinho na mo direita. Os mdicos se viram incapazes de
debelar o mal, que progredia, causando dores atrozes pobre paciente.
Levada presena de Paulo, um ano aps o ferimento, este a benzeu com
uma relquia, recomendando-lhe prudncia e orao. A pequena, ao
beijar-lhe a capa, arrancou-lhe alguns fiapos. Jubilosa do piedoso furto,
pediu a me lhos aplicasse na mo enferma. Dias aps disse me que
sentia coceira na parte afetada.
Confiana, minha filha, respondeu a me, o pe.
Paulo debelar o mal .
Ao tirar as ataduras, notou que nada mais havia da ferida, nem mesmo a
cicatriz.
Vs, minha filha, diz chorando a me, o pe. Paulo
te curou. Deves rezar diariamente um pai-nosso e uma
ave-maria em ao de graas .
Anuiu a menina e perseverou na promessa feita. s vezes, porm, se
esquecia quando chegava a noite, antes de deitar-se ou depois de j estar
na cama, sentia pontadas na mo, do que se queixava singelamente me.
E esta:
Recitaste o pai-nosso e a ave-maria?
Ai! me esqueci .
Reparando a omisso, imediatamente passava a dor.
Por todos esses prodgios, crescia o entusiasmo do povo.
Como industriosa a humildade para fugir das honras! Paulo comeou a
benzer a gua com a relquia da ss. Virgem e essa gua operava milagres.
Era Maria e no ele a taumaturga. A Nossa Senhora, portanto, e no a
ele, deveriam dirigir-se aquelas homenagens, que tanto o afligiam.
Impossvel fora relatar aqui todos os milagres operados pela gua benta com
a relquia de Nossa Senhora. Narremos os seguintes.
Em So Joo Incrio, cidade do reino de Npoles, estava a expirar
certa pessoa. Apenas tocou com os lbios uma gota da gua benta pelo
santo, deixou o leito, como se despertara de profundo sono. O mdico
dirigiu-se a So Ssio para relatar a Paulo o ocorrido, acrescentando:
Agora encontrei timo remdio para os meus clientes,
pe. Paulo; no prescreverei outro: a sua gua .
Em Pastera, estava para expirar uma senhora devido a um parto prematuro.
Fizeram-lhe beber daquela gua obtendo feliz resultado.
Jos Maceroni, de Terracina, atacado de febre maligna, somente por
milagre poderia escapar da morte.
Pois bem, disse a me do enfermo, far-se- o milagre
.
Na manh seguinte, de madrugada, foi ter com o servo de Deus;
encontrou-o no altar a celebrar o santo Sacrifcio. Apenas chegou ele
sacristia, lanou-se-lhe aos ps a pobre me e, chorando, lhe disse
Pe. Paulo, os mdicos desenganaram a meu filho...
Pe. Paulo, tenha piedade desta me... Piedade...
O servo de Deus, comovido, respondeu:
Deixe-me dar as aes de graas; depois falaremos
.
Voltou Paulo com o pe. Nicolau da Coroa de Espinhos, a quem dissera:
Jos no morrer .
E desolada me:
Coragem senhora, Jos no morrer. Vou benzer a
gua da ss. Virgem. No duvide, seu filho no
morrer. Chegando em casa, deu-lhe de beber desta gua e
logo melhorar. Antes de dar-lha, reze uma ave-maria e
um gloria-patri em louvor da SS. Trindade. Creia-me,
ainda que esteja na agonia, recuperar imediatamente a
sade .
Parte a pobre me, dando-lhe asas esperana. Ao entrar em casa, v
que esto preparando o remdio para o filho.
Que isto? ,
pergunta ela. Ao receber a resposta retruca:
O remdio est aqui. Todos de joelhos!... de
joelhos!...
Ajoelharam-se todos como que eletrizados por aquela voz materna.
Recitemos uma ave-maria e um gloria-patri. E' o pe.
Paula que ordena .
Terminada a orao, d uma colher de gua benta ao filho moribundo. No
mesmo instante comea a melhora. Dias depois vai o jovem agradecer ao servo
de Deus, a quem relata a cura miraculosa.
CAPTULO XXXII
1767 - 1769
ndice
GRAVE ENFERMIDADE
ASSALTOS DO DEMNIO
DESOLAES INTERIORES
ABANDONO POR PARTE DE DEUS
CANES DE AMOR
CAPTULO XXXII
1767 - 1769
GRAVE ENFERMIDADE
Os religiosos do Santo Anjo anseiam rever o pai amado. Paulo, por sua
vez, anela voltar quele retiro, to querido ao seu corao. Dias,
pesada Cruz o espera. Dias depois, de sua chegada ao Santo Anjo,
atacado de violenta febre, sintoma de grave enfermidade.
Chama-se o mdico. Com a simplicidade da criana, ps-se Paulo em
suas mos, sujeitando-se a remdios que, sabia, lhe seriam
prejudiciais.
De fato, atrofiaram-lhe por completo o organismo. Renovaram-se-lhe as
violentas dores de gota, citica e reumatismo; quarenta dias de atroz
martrio. No retinha o mais leve alimento.
ASSALTOS DO DEMNIO
Vamos referir, com lhaneza, fatos extraordinrios, indubitveis e
autnticos todavia.
Em Frana, os bigrafos de santos costumam, antes de entrar nesta
matria, fazer longas dissertaes filosficas, teolgicas. etc..
Precaues, pois estamos em pocas dos ESPRITOS FORTES.
Julgamo-nos dispensados desse trabalho por uma razo bem simples: os
chamados ESPRITOS FORTES, ridicularizadores da crena nos
demnios e dos exorcismos da Igreja, encontram-se diante de fatos que lhes
pedem pelo menos srias reflexes. Nos ltimos tempos, Satans teima
em zombar de seus zombadores, com estranhos fenmenos, explicveis somente
pela interveno real do espirito da mentira.
Serve-se a Providncia muitas vezes do demnio para plasmar os santos.
A Paulo da Cruz no podia faltar esse trao de semelhana com Jesus
Cristo, que entregou o corpo ao arbtrio de Satans nas provaes do
deserto e ao chegar o PODER DAS TREVAS nos dias da Paixo.
E' que Deus escolhera a Paulo, generoso atleta, para humilhar o gnio
da soberba.
Jesus, dissera um dia ao nosso santo:
Apraz-me v-lo sob os ps dos demnios .
Os espritos infernais aproveitaram-se da permisso divina, j que a
santidade de Paulo os exacerbava. Como vingana s derrotas sofridas,
descarregavam-lhe todo o seu furor. Ouamos ao nosso santo:
O convento (do monte Argentrio) est quase
concludo. Espero inaugur-lo na Quaresma. Oh! que
alvoroo fazem os demnios! Somente Deus sabe como me acho
.
Os demnios, j o dissemos, destruam de noite o que se edificava de
dia.
Faz muito tempo que pobre ancio, encanecido no vicio,
ouve, noite, assobios que o fazem tremer.
Garantiram-lhe, porm, que tudo h de passar e nada o
prejudicar. No vos amedronteis, pois N. Senhor
combater por vs. ALLELUIA! ALLELUIA!
DESOLAES INTERIORES
No so os combates exteriores os mais penosos nem os mais cruentos. O
rugido do leo adverte o peregrino; porm, mais para temer a serpente
que se oculta, silenciosa, na sombra.
Os espritos malignos introduziam-se, sorrateiros, na alma de Paulo,
para atorment-lo. Inspiravam-lhe desgosto, fastio, profunda
melancolia. Eis como se abre ao confessor:
Estou fortemente tentado a fugir e ocultar-me nos bosques
.
Excitavam-lhe a ira, em violentos acessos de clera. Que martrio!
Ele se tornava insuportvel a si mesmo. Em tais circunstncias,
isolava-se, temendo proferir palavras de impacincia. Sorria o heri a
de ferro...
abandono do Glgota! trevas espantosas! angstias, agonias,
desolaes!...
No h negar, o nosso santo tragou at a ltima gota o clice do
Redentor.
Desse profundo abismo, em meio das ondas encapeladas pela furiosa
tempestade, perseguido por todos os lados, o corao trespassado,
respirando com dificuldade, desprende-se-lhe do peito o brado do abandono,
o lgubre lamento:
MEU DEUS, MEU DEUS, POR QUE ME
ABANDONASTES? (Mat. 27,46). Oh! em que estado me
acho! Temo a cada instante a voz do Senhor, ordenando ,
terra que me trague!...
Estou em meio dos combates, - escrevia a um de seus
religiosos - mas Deus no permite que isto se manifeste no
exterior. At no sono me persegue a tormenta e desperto a
tremer. -J faz anos que me encontro neste estado...
Grande Cruz pesa sobre mim h tanto tempo, sem
consolao alguma. Comparo-a ao granizo, pois de todo se
lhe assemelha. Estou como um homem em alto e revolto mar e
ningum me apresenta uma tbua de salvao. Resta-me,
todavia, um raio de esperana, bem fraco, verdade, que
apenas o diviso .
Imaginai, prosseguia, imaginai pobre nufrago agarrado
a uma tbua: cada onda, cada lufada de vento o
apavora... v-se no fundo do mar... Imaginai um
condenado fora: palpita-lhe o corao e estremece sob
o peso de contnuas ansiedades. Oh! que horrvel
expetativa! Julga continuamente haver chegado a hora
fatal... esse o estado de minha alma! .
Seu nico refgio era o abandono em Deus. Como Jesus, desamparado,
ele se lana nos braos do Altssimo:
MEU PAI, EM VOSSAS MOS ENTREGO
MINHA ALMA (Luc. 23, 46) .
Exclamava ainda:
Podeis fugir, meu Deus: seguir-vos-ei sempre,
sempre serei vosso filho...
Ouviram-no protestar, na cela, com indizvel nfase:
No desejo outro bem seno ao meu Deus. bondade
infinita do meu Jesus!... Fugi, Senhor; fugi para
onde quiserdes, que eu serei vosso e vos seguirei sempre:
sim, serei sempre e inteiramente vosso .
CANES DE AMOR
CAPTULO XXXIII
1769 - 1770
ndice
MORTE DE CLEMENTE XIII
CLEMENTE XIV
SOLENE APROVAO DAS REGRAS
PAULO PREGA O JUBILEU EM ROMA
O PAPA O DETM EM ROMA
CAPTULO XXXIII
1769 - 1770
MORTE DE CLEMENTE XIII
Aos dois de fevereiro de 1769 os monarcas catlicos da Europa, por
inquas e cruis perseguies, faziam baixar ao sepulcro nobre e santo
ancio.
Clemente XIII alou-se para o seio de Deus, a fim de receber o
galardo de seus combates. Conhecemos os ntimos laos de amizade que o
unia a Paulo da Cruz. O nosso santo chorou a viuvez da Igreja e a perda
do santo amigo.
Debilitado como estava, fz questo de celebrar missa solene pelo finado
Pontfice.
Sinto verdadeira mgoa, escrevia, por essa infausta
noticia. Esta manh celebrei solenemente a missa pelo
CLEMENTE XIV
Terminada a santa missa, disse a um de seus religiosos
Mergulhei os coraes dos cardeais no Sangue de
Jesus; o que mais resplandecia era o de Ganganelli .
Paulo s conhecera Ganganelli em 1766, por ocasio de uma visita que
fz a sua eminncia. Desde essa primeira entrevista fascinaram-no e o
edificaram as eminentes virtudes do prelado. Teve, ademais, to claro
conhecimento de sua futura elevao ao Pontificado que, ao sair da
audincia, profetizou
Oh! Este ser Papa .
Uma voz interior lhe segredava:
Eis o Soberano Pontfice que dar a ltima demo no
Instituto .
Admiremos, de passagem, a divina Providncia, unindo sempre ao santo,
em cordial amizade, os cardeais predestinados S Apostlica, a fim de
facilitar, em meio de mil dificuldades, o estabelecimento do novo
Instituto.
De regresso casa dos Angeletti. afirmou sem hesitao:
Ganganelli no acaba assim: ser mais do que cardeal,
subir mais alto...
Em 1767 foi o cardeal visit-lo na humilde residncia do SS..
Crucifixo. Aps cordial conversa, ao retirar-se, enquanto abraava o
servo de Deus, dizia-lhe
Pe. Paulo, estou ao seu inteiro dispor, no que puder
fazer por V. Paternidade e pela Congregao .
Eminncia, replicou Paulo, vir o tempo em que
poder e, de fato, far muito pela minha Congregao
.
E repetiu por trs vezes as mesmas palavras. O Prncipe da Igreja
ponderou:
Pe. Paulo, nem sempre as coisas sucedem como ns as
desejamos .
No ser conforme ns desejamos, sentenciou Paulo,
mas segundo o beneplcito de Deus .
E, com o rosto abrasado, voltou-se para Antnio Frattini e
acrescentou:
CAPTULO XXXIV
1770 - 1771
ndice
VISITA A PROVNCIA DO
PATRIMNIO
BREVE DE CLEMENTE XIV
VOLTA A ROMA
ESTIMA DE CLEMENTE XIV PELO
SANTO
GRAVSSIMA ENFERMIDADE
CURA IMPROVISA
CAPTULO XXXIV
1770 - 1771
VISITA A PROVNCIA DO PATRIMNIO
Principiava o ano de 1770. Surge por vezes, em pleno inverno, um
desses dias ensolarados, que d nova vida natureza.
Tambm no ocaso da existncia deparam-se por vezes essas transformaes
repentinas, brilhantes raios solares a reanimarem e revigorarem as foras
debilitadas.
Foi o que se deu cola Paulo da Cruz.
Julgando-se com vigor bastante para empreender uma viagem, resolveu visitar
os retiros do Patrimnio de So Pedro. Isto , os dois do Monte
Argentrio, e os de Tarqunia, Tuscnia, Vetralia e Soriano.
Aos 19 de maro solicitou permisso e a bno do Santo Padre.
O Papa condescendeu com os desejos do santo, contanto que se no opusesse
o cardeal Vigrio.
Nessa ocasio manifestou o Santo Padre o desejo de cumul-lo de novos
benefcios e, como se nada houvera feito pelo Instituto, queixou-se de que
Paulo nada lhe pedisse.
Admiro sua discreo, disse o Pontfice, mas,
suplico-lhe, pea tudo o de que necessita, sem temor de ser
importuno .
Paulo foi ter com o cardeal Vigrio, que ops dificuldades partida,
anuindo, afinal, com a condio de que estivesse de volta, ao mais
tardar, para a festa de so Joo Batista. Temia sua eminncia pela
sade do ven. ancio, desejando t-lo em Roma antes dos excessivos
calores do estio.
Antes de partir foi Paulo visitar os sepulcros dos Apstolos so Pedro e
so Paulo, recomendando-se sua proteo.
No dia 27 de maro de 1770, em companhia do confessor, dirigiu-se
para Civitavecchia. Pssima era a estrada e o vento bastante frio.
Paulo, muito teve que sofrer... Ao companheiro que, a sorrir, lhe
perguntava se por essas estradas tinha puxado a carroa, respondeu Paulo
VOLTA A ROMA
Em Roma temiam pela sua sade; receavam de que as foras lhe no
correspondessem aos ardores da alma. Enviavam-lhe cartas e mais cartas
instando pela sua volta. O santo, por sua vez, percebia que as foras lhe
diminuam paulatinamente. Imprudncia seria continuar as visitas.
Delegou poderes ao pe. Joo Maria de Santo Incio para substitu-lo
e retomou o caminho de Roma. Repetiram-se por toda parte as
demonstraes de respeito e venerao. Duras provaes para o humilde
religioso.
Ao aproximar-se de Montalto, esperava-o quase toda a populao. A
entrada na cidade foi verdadeira marcha triunfal. Homens, mulheres,
crianas, velhos e enfermos, todos desejavam v-lo, falar-lhe e
receber-lhe a bno. Paulo, todo confundido, exclamava:
GRAVSSIMA ENFERMIDADE
No Advento, o servo de Deus desejava jejuar e abster-se da carne,
conforme as prescries da Regra, mas a isto se opuseram o enfermeiro, o
mdico e o confessor. Paulo obedeceu, embora a contragosto.
Na vspera da Imaculada Conceio, os demnios o maltrataram
horrivelmente. No sabia como defender-se. Para cmulo de males,
experimentava cruis desolaes de esprito.
Aps uma noite de mortais angstias, ficou to abatido, que no pde
celebrar a santa missa nem visitar o Papa que, naquela manh, lhe enviara
um coche para conduzi-lo ao Vaticano.
Dois religiosos foram notificar ao Soberano Pontfice o estado de sade
do servo de Deus. Clemente XIV, bastante preocupado, entregou-lhes
40 escudos para o tratamento do santo amigo.
Agravou-se-lhe, todavia, a enfermidade. O mdico, julgando tratar-se
de febre intermitente, aplicou-lhe uma sangria e prescreveu o quinino.
Paulo a sorrir, disse ao confessor
CURA IMPROVISA
O Sumo Pontfice, muito aflito, pronunciou estas palavras:
Eu no quero que ele morra agora. Digam-lhe que lhe
concedo uma prorrogao e que obedea.
Voltamos contentssimos assim pelas provas de
benevolncia do Pontfice, como pela esperana da cura,
desejo expresso do Papa. Demos conhecimento imediato ao
pe. Paulo da ordem do Soberano Pontfice. Coisa
verdadeiramente admirvel. O servo de Deus ps-se a
chorar e, voltando-se, com as mos postas, para o
Crucifixo que estava ao lado da cama, falou-lhe nestes
termos:
MEU JESUS CRUCIFICADO, EU QUERO
OBEDECER AO VOSSO VIGRIO.
Instantaneamente experimentou grande melhora. Logo depois
estava curado, ficando-lhe apenas os achaques da velhice.
Diz-nos o Pe. Incio que esta enfermidade durou cerca de dezoito meses.
E' o perodo no qual se receava continuamente perd-lo; vieram depois as
conseqncias, que duraram quase outro tanto. Ouamos as informaes do
prprio santo:
1771 - 10 de maio: o sexto ms que est de cama.
12 de julho: so sete meses completos que jaz no seu leito
de dores.
27 de julho: h oito meses que est pregado no leito e
no celebra.
1772 - Levanta-se um pouquinho durante o dia, mas
est fraco e precisa de muletas e do auxilio dos enfermeiros.
A 25 de dezembro diz que passa seus dias na cama com seus
graves achaques.
1773 - A 26 de janeiro diz que est ainda de cama,
sendo j o terceiro ano.
A 26 de maio, apoiado bengala e ajudado por um
religioso, chegou at o quarto do Pe. Cndido, mas
sentiu-se to cansado como quando caminhou 30 milhas.
A 19 de junho diz ter celebrado trs vezes durante a
oitava do Corpo de Deus, mas com grande custo.
CAPTULO XXXV
1771 - 1772
ndice
AS RELIGIOSAS DA PAIXO
MADRE MARIA CRUCIFIXA E
DOMINGOS CONSTANTINI
FUROR DO INFERNO
MULTIPLICA O TRIGO
REGRAS DO NOVO INSTITUTO
LUZES ESPECIAIS
APROVAO DE CLEMENTE XIV
NOVOS OBSTCULOS
INAUGURAO DO MOSTEIRO
BREVE APOSTLICO
CAPTULO XXXV
1771 - 1772
AS RELIGIOSAS DA PAIXO
Jesus Crucificado j possua seu exrcito de apstolos no Instituto da
sagrada Paixo. Graas ao Altssimo, estavam estabelecidos doze
retiros, modelos de observncia e fervor religioso, repletos de zelosos
pregoeiros da divina palavra, atraindo milhares de almas ao p da Cruz e
purificando-as no sangue do Redentor.
Jesus Crucificado convocava tambm ao Calvrio virgens consagradas sua
Paixo. Esposas dolentes, feridas no corao pelas chagas do celeste
Esposo, vivero, longe do estrpito do mundo, contemplando a sua divina
agonia, compadecendo-se de suas dores, chorando continuamente sua morte,
salvando a humanidade pela orao e pelo sacrifcio. A origem dessa
FUROR DO INFERNO
Logo, porm, pressentiu o despeito do inferno, advertindo aos fundadores
e exortando-os por cartas a permanecerem intrpidos no obstante as
oposies que no tardariam a surgir.
As provaes, com efeito, vieram multiplicar os mritos desta santa
obra, motivo de jbilo para as pessoas de bem. Os maus, ao invs,
zombavam da empresa e de seus autores. J estava bastante adiantada a
construo, quando escassearam os recursos.
Convencido Constantino de que os gastos seriam maiores do que previra,
viu-se obrigado a suspender a obra. As murmuraes e as mofas
aumentavam...
MULTIPLICA O TRIGO
Regressando de Roma, no ano de 1766, Paulo passou por Corneto.
Constantini referiu-lhe suas mgoas, acrescentando que tinha apenas dez
medidas de trigo, quando lhe eram necessrias pelo menos cinqenta para a
manuteno da casa e dos empregados. Pediu-lhe o servo de Deus o
conduzisse ao celeiro, onde, aps breve orao, benzeu o trigo,
dizendo, em seguida, a Constantini:
No desanime; prossiga firme no santo propsito para
glria de Jesus Crucificado.
A bno do santo foi maravilhosamente fecunda. As dez medidas de
trigo, reduzidas a farinha, no chegariam at o fim de maio. No entanto,
duraram at o ms de agosto, tempo da nova colheita, bastando para a
famlia, para os empregados e para abundantes esmolas. E as bnos do
Cu choviam sobre Constantini. Vrios negcios, empreendidos com a
bno do santo, saram-lhe muito bem, de maneira que pde dar a ltima
demo no mosteiro.
J no temia nenhum obstculo.
LUZES ESPECIAIS
Retornemos histria de nossa fundao, para o que Paulo da Cruz no
cessava de implorar as luzes do Cu.
Celebrava a santa Missa na residncia do Santo Crucifixo, no dia de
santa Maria Madalena, quando, de repente, inflamou-se-lhe o rosto e
comeou a chorar... E' que recebera naquele instante luzes especiais a
respeito da ereo do Instituto das religiosas Passionistas e do primeiro
NOVOS OBSTCULOS
INAUGURAO DO MOSTEIRO
No foi sem manifesta disposio da Pr Providncia que se transferiu a
cerimnia para o dia 3 de maio de 1771, festa da Santa Cruz. Trinta
e quatro anos antes, depara-se-nos a mesma dificuldade na inaugurao da
igreja do monte Argentrio, realizadas finalmente, no dia da Exaltao
da Santa Cruz.
Assim, as duas igrejas mes, ambas sob o ttulo da Apresentao,
foram dedicadas ao culto no dia consagrado s glrias da Cruz, estandarte
triunfal de salvao, distintivo do novo Instituto.
Solene foi a cerimnia, geral o contentamento.
Somente as almas enamoradas do divino amor e da solido podem compreender o
jbilo das novis esposas de Cristo Crucificado ao receberem o santo
hbito e transporem os umbrais do claustro para descansar nos braos de
Deus. A 14 de maio de 1771 M. Crucifixa e suas companheiras enviam
uma carta de agradecimento ao Papa dizendo-lhe que
no novo Instituto lhes parece viverem num paraso
terrestre.
Terminado o ano de prova, com fervor sempre crescente, mereceram todas ser
admitidas profisso religiosa.
Recebeu-a d. Banditi Prelado digno da primitiva Igreja, mais tarde
ornamento do sagrado Colgio. Eis como manifestava seu jbilo, em carta
ao santo Fundador
Posso, finalmente, anunciar ao meu veneradssimo pe.
Paulo que as onze religiosas do seu Instituto emitiram os
santos votos em minhas mos. Efetuou-se a cerimnia no
dia 20 deste ms (maio de 1772), experimentando eu a
maior consolao. Contemplei um mosteiro repleto do
esprito de Deus e de santo fervor. Todas nos do
esperana de glorificarem a N. Senhor, sua sagrada
Paixo e de serem de proveito espiritual a esta cidade.
Sim, -nos lcito esperar que Deus, movido pelas
oraes dessas boas almas, derramar sobre todos ns suas
BREVE APOSTLICO
Escreveram as religiosas ao Santo Padre, comunicando-lhe a profisso e a
eleio das Superioras. Clemente XIV, sempre benvolo e cheio de
caridade paternal, dignou-se responder-lhes com um Breve, em que
patenteia de maneira perfeita o espirito do novo Instituto e o vivo interesse
de Sua Santidade por essa fundao. Transcrevemo-lo aqui como coroa do
que dissemos a respeito das religiosas Passionistas.
s nossas amadas Filhas em Jesus Cristo, as Religiosas
da Paixo, na nossa vila de Corneto.
CLEMENTE XIV PAPA
Queridas Filhas em Jesus Cristo: Sade e bno
apostlica.
A carta em que Nos relatais a vossa solene profissso foi
para Ns objeto de grande alegria. Nada pode ser-nos mais
grato do que ver o vosso Instituto, por Ns aprovado,
enriquecer-se com as virtudes que constituem a santidade e
perfeio da vida. Manifestais-Nos a paz e consolao
espirituais experimentadas ao consagrar-vos a Deus. Isto
Nos d motivo de esperar grandes consolaes por v essa
constncia no gnero de vida que abraastes, bem como pela
unio de caridade reinante entre vs todas. Eis o que, com
grande confiana, esperamos de vs.
No entanto, apraz-Nos encorajar-vos e exortar-vos
vivamente.
Aplicai-vos, com a maior solicitude, em imitar as virgens
prudentes do Evangelho, a quem o Esposo encontrou
vigilantes e aparelhadas para receb-Lo. Vigiai, sem
olhar para o mundo que abandonastes; mas, com os olhos fitos
no Cu, agradecei continuamente a Deus pelo singular
beneficio recebido.
Gravai no espirito e no corao a Paixo de
Cristo, nosso Salvador. E' ela a insgnia e
que nos honra nela esto a fora e a beleza
Instituto. Ponde toda a vossa ateno, todo
e todas as vossas delcias em medit-la.
Jesus
o ornamento
do vosso
o vosso estudo
CAPTULO XXXVI
1772 -1773
ndice
CONTINUA DOENTE EM SANTO
CRUCIFIXO
CLEMENTE XIV, OS JESUTAS E
PAULO
DOAO DO RETIRO DOS SANTOS
JOO E PAULO
NO NOVO RETIRO
CAPTULO XXXVI
1772 -1773
CONTINUA DOENTE EM SANTO CRUCIFIXO
Voltemos residncia do Santo Crucifixo.
Em pobre e humilde cela, o santo ancio, do leito de dor, entrega a
Jesus Crucificado uma nova famlia religiosa. Esse leito foi para ele,
durante dezoito meses, como que o crisol em que se purifica o ouro.
Na primavera de 1772, readquirindo alguma fora, amparado pelos
enfermeiros e apoiado s muletas, pde ouvir missa e comungar diariamente.
Essa melhora, no testemunho do prprio Fundador, consistiu em levantar-se
durante uma hora cada dia ou, melhor,
em ficar sentado fora do leito, sem poder caminhar a no
ser com muletas e amparado por dois religiosos, para se poder
arrumar a cama ,
como escreve a 14 de abril desse ano.
Desse jeito, mais ou menos, passou o restante do ano e a primeira metade de
1773.
Na festa do Corpo de Deus de 1773, o mistrio do amor o fez
transbordar e o reanimou a tal ponto que conseguiu, embora
com grandssima dificuldade ,
celebrar trs vezes durante a oitava. A seguir, porm, teve que se
resignar a celebrar apenas alguma vez por semana, at que a festa de so
Bernardo (20 de agosto) lhe trouxe a consolao de recomear o santo
Sacrifcio dirio.
Era o ardor do esprito a triunfar da debilidade do corpo. Terminado o
santo Sacrifcio, no se mantinha em p. Deitado ou sentado, passava
os dias na cela, transformada em verdadeira escola de virtude.
Personagens os mais insignes principalmente sacerdotes, vinham visit-lo.
O Santo a todos inflamava no amor a Jesus Crucificado, terminando por
recomendar-lhes a meditao assdua da sagrada Paixo do Redentor.
Esse assunto fazia-lhe olvidar as dores que o atormentavam. A voz, quase
imperceptvel, tomava ento entoaes prodigiosas.
Os alunos da Propaganda ficaram tristes ao saber que no podiam ser
recebidos por estar o Santo muito mal. Paulo, informado pelo enfermeiro,
mandou-os entrar. Ao ver aqueles jovens, destinados a derramar pela f o
Sua primeira visita, como era de justia, foi ao Santo Padre, que
acabava de regressar de Castel-Gandolfo. Alegrou-se sobremaneira o Papa
ao rever o velho amigo, aps longa ausncia, motivada pelo estado de
sade de Paulo.
Mais afetuosa do que nunca foi a recepo. O santo Padre terminara a
missa em sua capela domstica e, ao retirar-se aos aposentos particulares,
levou consigo a Paulo, fazendo-o sentar-se a seu lado e obrigando-o a
tomar parte em sua colao.
Paulo, com profundo sentimento de respeito e gratido, disse a Clemente
XIV:
Santo Padre, se ainda no morri, devo-o a V.
Santidade. Tive grande confiana na ordem que V.
Santidade me deu e N. Senhor ouviu.
O Papa agradeceu a divina Bondade, contente por saber da boca do Servo de
Deus a maneira maravilhosa como recuperara a sade. Fazendo sinal ao
companheiro do Santo para que passasse a outra sala, continuaram em longa e
secreta conferncia. No fosse dia de audincia, a palestra ter-se-ia
prolongado por mais tempo. A 30 de outubro de 1773, dizia o Santo
escrevendo ao Papa, que esperava dartro de poucos dias ir audincia.
Este seu desejo, porm, s se realizou aos 31 de dezembro.
NO NOVO RETIRO
CAPTULO XXXVII
1773 - 1775
ndice
VIGOR JUVENIL
sagrados. Ajudado pelos ministros e muito mais pelo fervor de sua alma,
dirigiu-se ao altar com a fronte coroada da aurola de santidade a todos
patente.
Chorou durante toda a missa mas, de modo especial, quando conduzia o seu
amado Senhor ao santo Sepulcro. Dir-se-ia que o corao se lhe
desfazia em amor e compaixo para com Deus.
Teve que enxugar-se muitas vezes o rosto, para no banhar as vestes
sacerdotais.
Os ministros, os religiosos e o povo, todos choravam, d vista do comovente
espetculo.
AUDINCIAS MEMORVEIS
No ms de maio experimentou alguma melhora e foi ter com o Santo Padre.
Dias depois Sua Santidade mandou avis-lo que na festa dos santos
Patronos da baslica, 26 de junho, iria visit-lo.
Com que esprito de f se preparou para receber o Vigrio de Jesus
Cristo!
Aps haver venerado na igreja o sepulcro dos santos Mrtires, flua
Santidade subiu ao convento. Paulo, como se vira ao mesmo Jesus, exclamou
em transportes de alegria
HODIE SALUS HUIC DOMUI FACTA EST
(Luc. 19, 9)
Hoje a salvao entrou nesta casa.
Clemente XIV, conduzido a uma sala, onde lhe prepararam um trono, teve
a extrema bondade de admitir os religiosos e outros insignes personagens,
eclesisticos e seculares, ao sculo dos ps.
Retirou-se em seguida com o servo de Deus para um colquio secreto numa
sala mais afastada. De que tero falado? Eis o depoimento do enfermeiro
do santo, irmo Bartolomeu:
Entretanto o Santo Padre no quarto preparado,
entreteve-se por algum tempo a ss com o pe. Paulo,
estando eu presente para assistir ao padre, que estava
enfermo. O servo de Deus falou com o Papa a respeito de
Deus e de sua bondade e discorreu cola tal esprito,
verdadeiramente superior ao saber humano, que o Santo
Padre, admirado, escutava com as mos cruzadas sobre o peito
e a cabea inclinada, mostrando-se muito consolado
interiormente com essa conversa, afirmando que mais se teria
prolongado, no fosse a hora adiantada e o receio de
incomodar os familiares de sua corte, e se despediu levando
grande consolao, como revelou a pessoas da corte.
Deste fato fala tambm so Vicente Strambi, assim concluindo:
Retirou-se depois Sua Santidade ao quarto interno contguo sala e se
entreteve por longo tempo a discorrer em segredo com o pe. Paulo. Ao
partir declarou o Santo Padre que estava muito contente e satisfeito,
dizendo que aquela era realmente uma casa de servos de Deus.
ROSA CALABRESI
Uma outra visita cheia de interesse e de encanto, preparada, sem dvida,
por Deus, revela-nos melhor a alma de Paulo da Cruz, que se vai
iluminando sempre mais, medida que se aproxima dos esplendores eternos.
Uma jovem, natural de Cervteri, chamada Rosa Calabresi, alma pura e
cndida, experimentou, na idade de 18 para 19 anos, os suaves atrativos
do celeste Esposo, chamando-a perfeio. Ciente de que no
poderia, sem guia experimentado, corresponder ao chamamento divino, recorreu
orao. E se lhe apresentou ao pensamento o nosso santo.
No o conhecia pessoalmente, mas ouvira referir grandes coisas a respeito
de seu zelo e caridade.
Cheia de confiana, escreveu-lhe, manifestando-lhe o estado de sua alma
e suplicando-lhe se dignasse tom-la sob sua direo.
Paulo aceitou a incumbncia e comeou a dirigi-la pelas veredas da
contemplao, at a unio mstica com Deus.
A comear de ento estabeleceu-se entre essas duas grandes almas
ininterrupta correspondncia epistolar.
O Servo de Deus dirigiu-a durante 10 anos sem a conhecer pessoalmente;
nada obstante, penetrava-lhe todos os segredos da alma.
Logo depois de se entregar direo de Paulo, viu-se Rosa atormentada
por srios temores acrca da salvao. Resolvera fazer confisso
geral, mas apenas depositava confiana no servo de Deus. Estando em tais
perplexidades, uma carta de Paulo vem restituir-lhe a luz e a paz de que
necessitava
Louquinha de Jesus, dizia-lhe, afaste imediatamente
toda idia de confisso geral.
De outra feita, um missionrio passionista, grande servo de Deus,
pregava em Trevignano, nas vizinhanas da localidade em que Rosa morava.
Ardia a piedosa virgem do desejo de ouvi-lo, mas seus irmos impediram-na
de ir a Trevignano. Caiu Rosa em profunda tristeza. Por revelao
divina soube Paulo da pena que a torturava e escreveu-lhe:
Quanto melhor seria se consagrasse orao essas horas
passadas em gemer inutilmente...
A jovem j escrevera quatro cartas ao servo de Deus, sem manifestar, por
temor, um escrpulo que a atormentava. Eis as palavras de Paulo
J seria tempo de dar-me por escrito o que a inquieta e
no continuar a ocult-lo no corao, tranqilizando-se
uma vez por todas.
E declarando-lhe abertamente a causa de suas ansiedades, dizia-lhe
provirem do demnio, exortando-a a viver na paz e alegria do divino
Esprito Santo.
Que espetculo admirvel! Afigura-se-nos contemplar dois serafins
cantando as maravilhas do divino amor. Admiramos ademais as secretas
disposies da Providncia que, desta maneira, nos revelou os prodgios
de sua graa em Paulo da Cruz, prodgios que, no fora essas
confidncias, ficariam ignorados.
CAPTULO XXXVIII
1775
ndice
PERFIL DO SANTO
DOTES NATURAIS
SUA F
EM DEUS TODA SUA ESPERANA
CARIDADE PARA COM O PRXIMO
SUA HUMILDADE
SUA OBEDINCIA
PUREZA ANGLICA
PRELDIO DA GLRIA
CAPTULO XXXVIII
1775
PERFIL DO SANTO
Poucos meses de vida restam ao nosso Santo. Tudo o prenuncia. Alis,
de h muito ele j no vive na terra.
Em breve estaremos rfos! Como filhos desolados, com os olhos fitos no
pai moribundo, a fim de gravar-lhe as feies no corao, contemplemos
pela ltima vez esta egrgia figura, esta alma santa, de partida para a
eternidade.
Em Paulo da Cruz uniam-se maravilhosamente os dons da natureza e da
graa.
DOTES NATURAIS
Grave, majestoso e corts a um tempo, inspirava confiana, incutia
respeito, atraindo para Deus os coraes. De sua pessoa exalava-se como
um perfume de piedade, que excitava devoo. Tudo nele respirava perfeita
harmonia: porte esbelto, compleio robusta, sensibilidade, amabilidade,
distino e encanto; fronte espaosa, olhar vivo e penetrante, donde, no
plpito, jorravam relmpagos, suavizados, contudo, pela bondade e pela
modstia; voz sonora e insinuante, passo majestoso.
Possua alma ardente e nobre; inteligncia lcida, vasta e profunda;
memria fiel, vontade resoluta e perseverante; corao terno, sincero e
generoso.
Clemente XIV, ainda cardeal, ao v-lo pela primeira vez, admirado,
exclamava:
Encontrei no pe. Paulo um homem TALHADO
ANTIGA.
Com efeito, pertencia famlia das grandes almas.
A Igreja, juiz infalvel, colocou-o ao lado dos grandes legisladores
monsticos, sobre cujas frontes o gnio funde seu brilho com os esplendores
da santidade: os Elias, as Teresas, os Bentos, os Domingos, os
SUA F
A f, firme e profunda, jamais se lhe abalou. Era o segredo de seu poder
sobre as almas e os demnios, era a poderosa alavanca com que alava o
mundo e, em certo modo, obrigava Deus a operar milagres. Dizia
freqentemente invejar os mrtires. Anelava como eles selar a f com o
prprio sangue.
As palavras, os atos, a mesma vida, tudo em Paulo da Cruz, repousava na
f, f pura, f simples.
Guiai-vos pela f,
era uma de suas mximas.
Oh! como admiro as almas que andam em pura f e se
abandonam totalmente s mos de Deus...
Efeito de sua f era o viver continuamente com o corao no Cu,
considerando-se peregrino na terra. Exclamou certa vez, em conversa com os
religiosos:
No posso compreender a simples possibilidade de no se
pensar sempre em Deus.
- Tomou a mo de um religioso e prosseguiu:
Esta pele sua, no verdade? Estas mos, estes
nervos, estes braos so seus, no verdade? Sim,
no h duvidar, pois esto unidos ao seu corpo. No
entanto, h alguma coisa mais certa do que isto; o
habitar Deus em seu corao. Isto verdade de f, ao
passo que pertencer-lhe este brao podemos p-lo em
dvida, por ser falvel o sentido do tato...
Ouamo-lo ainda:
perseguies.
Em se tratando da glria de Deus e dos interesses da Congregao, seu
valor, ardor e constncia no conheciam limites. De feito, quantas
fadigas, quantas humilhaes e dissabores no suportou, pelo espao de
47 anos, para o bem do Instituto?!
Se, quando de sua primeira viagem Cidade eterna, perguntassem ao jovem
solitrio, qual o motivo que o fazia percorrer, descalo e to mal
aparelhado de roupa, distncia to longa e ele respondesse:
que tinha em mira fundar uma Congregao de apstolos
que levassem a tocha da f a todos os recantos do
universo,
no o teriam, por ventura, tomado por louco? E se o jovem insistisse,
certamente o interrogariam:
Quais so os vossos protetores em Roma? quais os vossos
companheiros? quais os recursos de que dispondes? vossa
cincia, vosso talento?
No possuo protetor, nem amigo, nem companheiros, nem
dinheiro, nem cincia... Vou a Roma porque Deus assim
mo ordenou; conto unicamente com sua proteo.
Que deduziriam de uma tal resposta? Este jovem ou estava animado de
herica confiana em Deus, ou era presunoso, guiado por quimricas
iluses.
O fato que Paulo, levando de vencida tildas as dificuldades, conseguira
estabelecer a grande obra. Doze retiros de religiosos e o convento das
filhas da Paixo so o atestado de seus sacrifcios e, sobretudo, de sua
ilimitada confiana em Deus! Inmeras vezes, do Santo a expresso,
ele via essa obra sustentada por um fio, e jamais desanimou!
Vereis, exclamava com toda confiana, vereis! Eu sei o
que ser desta Congregao.
Contava unicamente com o poder de Deus, embora insignes personagens,
sacerdotes, bispos, cardeais, Papas, lhe oferecessem seus prstimos, sua
influncia e seu dinheiro.
SUA HUMILDADE
Caridade to extraordinria era fruto de sua profundssima humildade, e
esta tinha origem nas infinitas humilhaes do Redentor.
Um Deus humilhado! um Deus abatido!,
exclamava e, a essa considerao, jamais se saciava das injrias e dos
oprbrios.
Vontade.
Outras vezes, dizia:
Esta boa gente quer fazer meias para suas galinhas. Como
so cegos! Os juzos dos homens so bem diferentes dos de
Deus!.
Fugia dos lugares onde pudesse receber louvores; cuidava que no lhe
trocassem as roupas, repreendendo severamente a quem ousasse faz-lo.
No deixava, nem mesmo aos homens, beijarem-lhe as mos.
No podemos passar em silncio o fato seguinte. Paulo, em companhia de
um seu religioso, regressava de Orbetello ao monte Argentrio. Um
pescador, que apenas o conhecia de fama, saudou-os e lhes disse
Como sois ditosos em ir quele convento onde habita o pe.
Paulo, o grande santo.
Essas palavras golpearam terrivelmente a humildade do servo de Deus, que no
momento no soube o que responder. Passados instantes, perguntou:
Quem mesmo esse santo de quem est falando? O padre
Paulo?
Sim, confirmou o pescador, ele grande santo.
Ento o servo de Deus, como para arranc-lo do erro, replicou:
Pois bem, posso assegurar-lhe com toda certeza que ele
no se julga santo.
E continuou o caminho.
O pescador afirmava-o sempre mais alto e, aborrecido pela opinio
contrria do religioso, acrescentou:
Quer o creia, quer no, eu lhe digo que ele santo,
verdadeiro santo, grande santo.
Como difcil em meio de tantas honras e tantos prodgios no
levantar-se o vento da vaidade! A Paulo, porm, por graa
singularssima, jamais o molestou um pensamento de vanglria! Dizia ao
confessor, com encantadora simplicidade
Graas a Deus, o orgulho nunca se me aproximou.
Julgar-me-ia condenado, se me assaltasse um pensamento de
soberba.
Nem sequer podia compreender a possibilidade desses pensamentos.
Comparava-se a um pobre maltrapilho, coberto de lceras dos ps
cabea, e perguntava:
Poder-se-ia vangloriar esse homem, caso o introduzissem
a uma reunio de grandes senhores? Pecador como eu,
orgulhar-se? Deus me fez ler num grande livro: o livro dos
meus pecados. Rezai pela minha pobre alma, para que Deus
tenha compaixo dela.
Nunca se acusou desse pecado.
Por mais que fizessem, jamais conseguiram os religiosos que ele se deixasse
retratar. O pintor Toms Conca conseguiu traar-lhe fielmente as
feies, contemplando-o sentado em uma cadeira de braos, atravs das
fendas da porta. Logo depois, Conca mostrou-lhe a efgie que desenhara.
Paulo examinou-a com ateno e exclamou:
Meu Deus, que cara de rprobo...!
Para consol-lo, disse-lhe Conca:
Pe. Paulo, retratei-o para fazer um ensaio, pois notei
em v. revma. uma fronte pinturesca. Esse retrato
conserva-lo-ei para mim.
Poderamos multiplicar os fatos concernentes sua humildade,
mortificao, amor ao sofrimento e pobreza, mas digamos algo de sua
obedincia e pureza.
SUA OBEDINCIA
J dissemos que, quando jovem, Paulo emitira o voto de obedecer a todos.
que admirvel obedincia em Castellazzo, em Nossa Senhora da Cadeia,
em Nossa Senhora da Cidade e, sobretudo, no hospital de so Galicano!
Mais tarde, como Fundador e Superior Geral da Congregao, o amor,
que engenhoso, soube encontrar mil maneiras de praticar virtude to
agradvel a Deus.
Escravo das Regras e da obedincia, ao primeiro sinal da sineta, corria
aos exerccios da comunidade. Considerava como Superior o diretor
espiritual; nada fazia sem pedir-lhe licena.
Escrevia a uma penitente:
Pedirei licena ao pe. Joo Batista para ir a
Orbetello. Se obtiver permisso, amanh cedo estarei na
igreja de So Francisco; caso contrrio, tenha
pacincia.
Enfermo, obedecia cegamente aos enfermeiros. Igual obedincia prestava
aos snrs. bispos, aos pastores de almas e, especialmente, ao Santo
Padre, o Papa.
PUREZA ANGLICA
Em todo o curso desta vida, temos respirado, como num jardim, o doce
perfume desta alma virginal, branca e pura como o lrio. Desde os mais
tenros anos, tomara por divisa a sentena POTIUS MORI QUAM
FOEDARI, Antes morrer do que pecar.
Conservou a inocncia batismal at o ltimo alento de vida. Discorreu de
sua juventude, acusava-se de ter sido demasiado vivo, s acrescentava que
Deus o preservara dos escolhos em que tantos jovens se perdem.
PRELDIO DA GLRIA
Narremos os portentos assinalados nas palestras espirituais do Santo com a
virgem de Cervteri.
Nesses colquios, o rosto de Paulo inflamava-se como se fora serafim de
amor. Certa vez, arrebatado em xtase, elevou-se dois palmos acima da
cadeira em que estava assentado, saciando-se no manancial da divina luz. O
rosto resplandecia-lhe como o sol. Os braos, tinha-os ora estendidos,
ora cruzados no peito, os joelhos permaneciam unidos. Manteve-se nessa
posio, entre o cu e a terra, pelo espao de uma hora.
quadro que representava Nossa Senhora com o Menino Jesus parte uma voz
articulada, sensvel:
Paulo, Paulo!
No mesmo instante, brilhante como o sol, aparece Maria ss. em forma
natural e humana, trazendo nos braos o divino Filho. Surpreendidos pela
viso celestial e inundados de prazer inefvel, os dois contemplativos se
prostram de joelhos diante da grande Senhora. Dirigindo-se ao santo,
diz-lhe a Rainha do cu
Meu filho, pede-me graas.
Paulo, de cabea inclinada, responde:
A salvao de minha alma!
Podes ficar tranqilo que a graa te concedida,
replica Maria.
Mas Paulo pensava tambm na obra predileta do seu corao, seu amado
Instituto.
Fica tranqilo, diz-lhe a Virgem, que a Congregao
vai indo muito bem e teu agir muito do agrado de Deus.
Fala depois o Menino Jesus e lhe diz coisas inefveis, que a feliz
espectadora no se sente capaz de exprimir; consolou admiravelmente seu
servo e, entre outras coisas, lhe disse
que erva mrtir por suas penas e sofrimentos.
Agora o desejo de Paulo ser acariciado pelos celestes visitantes, os
quais benignamente condescendem e pousam ambos a mo sobre a cabea dos dois
devotos servos.
J outra coisa mais no restava seno desvencilhar-se dos liames do corpo
e entrar naquela eterna bem-aventurana que comeara a prelibar. Paulo
vive desse desejo; a celeste Rainha lhe anuncia que dentro em breve ele se
realizar no prximo outubro, numa quarta-feira.
Antes de findar a viso, desejava Paulo receber a bno de Jesus e de
sua ss. Me. Sentindo-se indigno de a pedir, diz santa filha
espiritual que a pea; mas esta, no menos humilde e confundida que o
santo diretor, respondia que a ele cabia pedi-la. Jesus e sua ss. Me
alegravam-se com essa emulao de humildade, que acabou com o triunfo do
santo, o qual imps dcil filha o dissesse em virtude da santa
obedincia. O pedido foi imediatanente atendido: Me e Filho levantaram a
mo e abenoaram os devotos servos, que ficaram absortos em xtase.
A piedosa virgem, voltando a si, viu somente seu venerado pai, levantado
alguns palmos do cho, com os joelhos dobrados e com semblante
resplandecente de luz. Quanto tempo durou a viso o xtase no o
sabemos; a devota discpula diz que
durou muito empo e no acordou nem voltou ao estado natural
seno pela arde.
Ditosa transfigurao a que o conduziram o sofrimento e o mor, preldio
da suprema transfigurao que se h de operar depois da morte
CAPTULO XXXIX
JUNHO A 18 DE OUTUBRO DE 1775
ndice
LTIMOS DIAS
ANUNCIA TRISTES ACONTECIMENTOS
PARA A IGREJA
ADEUS PATERNO
EPLOGO DE UMA VIDA SANTA
O CU RECEBE MAIS UM SANTO
LGRIMAS DE JBILO
CAPTULO XXXIX
JUNHO A 18 DE OUTUBRO DE 1775
LTIMOS DIAS
Esta narrao final entristece e alegra a um tempo o nosso corao.
De fato, se chegamos ao dia da despedida, chegamos outros sim ao momento da
eterna recompensa.
A vida de Paulo da Cruz agora toda amor sem combate, paz sem temor,
luz sem sombra. Nada mais perturba a doce e perene serenidade de sua alma.
como a aurora daquela glria, daquela felicidade, que no conhece
ocaso.
Elevara-o to alto o amor, a ponto de consumir o vaso de terra; sucumbia
o corpo aos ardores divinos. Os olhares do Santo estavam fixos na Beleza
divina, sobejas vezes prelibada. Eram-lhe necessrios a solido e o
silncio. Na cadeira ou no leito, comprazia-se em estar s e de porta e
janela fechadas, para melhor ouvir a voz suavssima do Criador.
Muitos eram, no entanto, os que desejavam v-lo. Os religiosos, contra
vontade de Paulo, viam-se obrigados a introduzir em sua cela pessoas de
distino, notadamente eclesisticas.
O amvel ancio, longe de agastar-se, acolhia-os com afabilidade. O
objeto de suas conversas era sempre a Paixo de N. Senhor. Incitava a
todos, prelados ou cardeais, a alimentar-se da Paixo do Redentor,
presenteando-os com algum pequeno crucifixo.
Os alunos da Propaganda, atrados por seus admirveis conselhos,
visitavam-no freqentemente. Paulo folgava em dirigir a palavra queles
jovens, esperanas da Igreja, futuros apstolos dos gentios.
ADEUS PATERNO
Quando ao servo de Deus faltaram as foras para celebrar o santo
Sacrifcio, um sacerdote de voz clara e forte celebrava-o num quarto
contguo sua cela, administrando-lhe diariamente a sagrada Comunho.
Na festa do ss. Sacramento, 15 de junho, por supremo esforo de amor,
celebrou pela ltima vez.
A comear desse dia, o Santo no experimentou mais melhoras. A morte
aproximava-se a passos agigantados.
No dia dos santos Joo e Paulo, 26 de junho, teve prolongados
desmaios.
Seu estmago com dificuldade suportava apenas algum gole de caldo. Dizia
com infantil ingenuidade:
Parece-me ter pedras no estmago.
Os mdicos ordenaram-lhe po dissolvido em gua; foi esse o seu alimento
pelo espao de quase um ms, tempo que lhe restava de vida. Tomava-o em
pequena quantidade, cada vinte e quatro horas.
Os sofrimentos no lhe alteravam a serenidade do esprito nem a paz do
corao. Repetia por vezes:
No desejo viver nem morrer, mas somente cumprir a as.
Vontade de Deus.
Aos religiosos que lhe compadeciam as dores, dizia:
Pode dizer-se que Paulo estava em contnua agonia. Todavia, oito dias
depois, com admirao geral, conseguiu escrever de prprio punho uma carta
virgem de Cervteri. Dava-lhe alguns conselhos e dizia que a esperava
no Cu, para onde iria da a dois dias. Rosa Calabresi depe:
Estvamos j bem adiantados no ms de outubro de
1775, quando recebi uma carta do Ven. Servo de
Deus..., a ltima que recebi. Estava escrita toda de sua
mo. Os pensamentos davam a conhecer uma mente clara e uma
alma virtuosa. A escrita, porm, indicava a fraqueza das
foras, pois as letras no estavam traadas como de costume
e as linhas comeavam no alto e iam terminar quase na metade
da pgina. Dava-me diversas recomendaes..., a
ltima bno... (dizendo que) dentro de dois dias
teria morrido..., conclua que tornaramos a nos ver no
cu.
No dia de so Lucas (18 de outubro), de quem era devotadssimo,
recusou a poo de po dissolvido em gua, desejando comungar em jejum.
Foi sua ltima Comunho. De ora em diante s vive para o Cu. Quer
deixar a terra num sculo de amor.
Pediu no permitissem entrar na cela pessoa estranha, pois os derradeiros
instantes de vida deveriam pertencer exclusivamente a N. Senhor e aos seus
filhos.
Apesar da proibio, os religiosos abriram exceo ao bispo de Scala e
Ravello, a um religioso Camaldulense do Convento de So Gregrio e a um
senhor de Ravena.
O Santo, sempre bondoso, acolheu-os, presenteando-os com pequeno
Crucifixo, exortando-os, por sinais a meditarem perenemente a sagrada
Paixo de Nosso Senhor.
Enternecidos at as lgrimas, exclamaram ao retirar-se:
Ah! na verdade v-se a santidade estampada em seu
rosto! Oh! como so ditosos, estes padres, pois tm por
pai a um santo! Sim, Paulo grande santo!.
Pouco antes do meio dia, chega d. Struzzieri. Desce do carro e corre
cela do amado pai, toma-lhe a mo e cobre-a de beijos. O moribundo
reanima-se ao rever o querido filho. Sorri, descobre a cabea em sinal de
respeito ao Prelado e deseja tambm beijar-lhe a mo, mas o snr. bispo
retira-a imediatamente.
Aps afetuosas palavras, disse Paulo ao enfermeiro
Diga ao pe. Reitor que trate bem ao snr. bispo e aos
seus domsticos, fazendo-os servir pelos religiosos.
Cumprira a palavra, esperando o snr. bispo. Agora, ciente de que lhe
chegara a ltima hora, pediu ao enfermeiro o ajudasse a mudar de posio,
para poder fitar as imagens de Jesus Crucificado e da Me das Dores.
Nessa posio permaneceu at a morte.
Pouco depois, sentindo calafrios, disse ao enfermeiro
Chame o pe. Joo Maria porque minha morte est
prxima.
Respondeu-lhe este que no via perigo iminente de morte, tanto mais que o
mdico, horas antes, o achara melhor.
Chamem, chamem o pe. Joo Maria para auxiliar-me,
insiste o Santo.
Estavam os religiosos no coro cantando vsperas. O irmo, no julgando
iminente o desenlace, sentou-se junto ao leito do servo de Deus e
perguntou-lhe:
Meu padre, por ventura no aceita de boa vontade a morte
para cumprir a SS. Vontade de Deus?
Respondeu o moribundo com voz forte
Sim, morro de muito boa mente para cumprir a SS.
Vontade de Deus.
Coragem, pois, acrescentou o enfermeiro; confie em N.
Senhor.
Estendeu Paulo os braos s queridas imagens e disse com admirvel
ternura
Ali esto minhas esperanas, na Paixo de Jesus e nas
Dores de minha Me Maria....
LGRIMAS DE JBILO
Os religiosos, quais rfos, agruparam-se, chorando, ao redor do santo
corpo. Beijavam aquelas mos que tanto os abenoaram, poisavam as cabeas
naquele peito, que ardeu de amor a Deus N. Senhor, esperando alcanar
por esse contato sagrado a plenitude do esprito que deve animar aos filhos
da Paixo.
De repente, por um desses sentimentos instintivos ou divinos, fenmeno que
se d unicamente na morte dos santos, a dor cede lugar alegria, as
lgrimas doce e celestial consolao.
Ser, por ventura, um raio secreto da felicidade dos bem-aventurados,
que baixa do Cu s almas, reverberando-se no mortal sepulcro?
CAPTULO XL
ndice
APARECE GLORIOSO
PRECIOSO LEGADO PARA O PAPA
HOMENAGEM DO POVO ROMANO
PRIMEIRAS VOZES DO CU
SEPULCRO GLORIOSO
ASCENSO LUMINOSA
OS MILAGRES PARA A BEATIFICAO
PROCESSO DE CANONIZAO
A SUPREMA APOTEOSE
DECLARAO
CAPTULO XL
APARECE GLORIOSO
Numerosos prodgios anunciaram terra que o cu contava mais um santo.
Aquele que gravara no corao as chagas de Jesus Crucificado devia
revestir-se dos traos de Jesus glorioso.
Depois de sua morte, apareceu Nosso Senhor s santas mulheres e aos
apstolos. Paulo tambm apareceu a algumas almas santas.
No instante em que o nosso santo deixava o mundo para entrar na eternidade,
sua penitente Rosa Calabresi rezava, em Cervteri, retirada em seu
quarto. Eis que de repente o aposento se ilumina com extraordinria luz, no
meio da qual, elevada no ar, v uma pessoa revestida de paramentos
sacerdotais e to resplandescente que no podia fit-la.
Por trs vezes a viso a chama pelo nome:
Rosa!
Mas a jovem, temendo se tratasse de alguma iluso diablica, no
respondia. Ento ouviu distintamente estas palavras:
Eu sou o pe. Paulo. Vim trazer-te a notcia de que
PRIMEIRAS VOZES DO CU
O entusiasmo cresceu com os portentosos milagres operados naquele dia do
corpo sagrado, inocente vtima imolada no Calvrio, templo agradvel a
Deus, irradiava maravilhosa virtude. Revestiu-se o rosto de celestial
formosura, como se Paulo estivesse em xtase.
Desprendiam-se-lhe das faces uns como raios de luz, elevando as almas para
Deus. No se cansavam de contempl-lo, exclamando:
Como belo! Como belo! Que pena sepult-lo to
depressa!.
Um piedoso sacerdote, ao beijar-lhe a mo, percebendo suave e misterioso
perfume, perguntou ao irmo enfermeiro se o haviam embalsamado ou ungido com
aromas.
Depois de muitas horas o corpo ainda se conservava flexvel. Do rosto
deslizava-lhe suor, que os presentes enxugavam com lenos de linho, para
conservar quais preciosas relquias.
Uma senhorita, por nome Gertrudes Marini, que um tumor maligno no rosto
mantinha de cama havia trs meses, foi levada pelos pais baslica dos
Santos Joo e Paulo. Empregando grande esforo, conseguiu chegar junto
ao corpo do servo de Deus. Apenas tocou-o, ficou radicalmente curada,
embora j estivesse desenganada pelos mdicos.
Milagre, milagre?,
exclamaram as testemunhas do prodgio. O brado repetido por todos aumentou
sobremaneira o entusiasmo geral. Irmo Bartolomeu, o feliz enfermeiro do
Santo, aps referir o fato, conclui ao certo que apenas tocou no Servo
de Deus, no mesmo instante ficou boa e voltou para casa s e livre, com
admirao e pasmo de todos os que a tinham, visto enferma. Eu o sei porque
fui com o Pe. Postulador casa da referida jovem, a qual, na presena
de diversas testemunhas, atestou com juramento a narrao por mim feita
acima e deu f publicamente disto.
SEPULCRO GLORIOSO
Deus glorificou esse sepulcro, centro de atrao para as almas e manancial
de inmeros prodgios.
Contnuos eram as romarias provenientes de toda parte. E Nosso Senhor
recompensava a f dos peregrinos.
Entre os numerosos milagres operados por Deus junto ao sepulcro de seu
servo, narraremos apenas os seguintes.
Teresa Leoni, de Uriolo, estava prestes a expirar, pondo outrossim em
perigo o fruto que trazia no seio. O esposo, Constantino Gori, escreveu
ao pe. Paulo, ento enfermo na residncia do Santo Crucifixo.
Ps-se o bem-aventurado em orao. Momentos depois respondia ao esposo
aflito:
Confiana, a me e a filha que dar luz superaro
todos os perigos.
Com efeito, Teresa deu felizmente luz uma criana que em memria do
beneficio recebeu, o nome de Paula.
Ao chegar ao uso da razo, diziam-lhe os pais que ela deveria
santificar-se, pois tivera por pai e protetor a um Santo.
Logo depois da morte do servo de Deus, Paula, estando com anos de
idade, foi atacada de sarampo. O mal afetou-lhe especialmente os olhos,
transformados em carne viva. Durante seis meses a pequena esteve
completamente cega. Todos os remdios foram inteis. Causavam-lhe
alivio a efgie de Paulo sobre os olhos ou o seu solidu na cabea.
Numa segunda-feira, entrando a me no quarto, disse-lhe Paula
Mame, eu vi o pe. Paulo.
Viste a sua imagem,
respondeu a me.
No, vi a ele em pessoa, disse-me que na prxima
quinta-feira abrirei os olhos.
Vamos, explica-te,
replicou a tremer a pobre me, no acreditando no que ouvira.
O pe. Paulo perguntou-me: Paulinha, conheces-me? Sim, respondi. - Quem sou eu? - Sois meu pai. -Desejo
curar-te: na quinta-feira abrirs os olhos. No o digas
ASCENSO LUMINOSA
Enfim, foram tantos os milagres a atestarem a santidade de Paulo, que se
julgou dever comear os processos ordinrios de beatificao.
Pio VI, em setembro de 1784, dava ao servo de Deus o titulo de
VENERVEL.
No ms de maio de 1792, novo decreto permitiu prosseguir-se a causa de
beatificao. Tudo corria celeremente, quando aos 20 de fevereiro de
1798, dia para sempre lamentvel, foi o augusto Pontfice violentamente
arrebatado de seu palcio para no mais voltar.
Pio VII, logo aps seu retorno triunfal a Roma, empenhou. se para o
bom xito desta causa, proclamando, em 18 de fevereiro de 1821, a
HEROICIDADE DAS VIRTUDES DO V. PADRE PAULO DA
CRUZ.
PROCESSO DE CANONIZAO
Deus continuava, entretanto, a patentear a santidade de eu servo com novos
prodgios.
Reabriram-se, pois, os processos para a canonizao.
Vejamos os dois milagres apresentados Sagrada Congregao dos Ritos
para a sua canonizao.
Rosa de Alena, distinta senhorita de Campo di Mele, diocese de Gaeta,
tinha um cirro no lado esquerdo do peito.
Rosa Rollo, por modstia, no se decidia a manifest-lo, quando a
violncia das dores a obrigou a recorrer ao mdico, j era demasiado
A SUPREMA APOTEOSE
Desde as vsperas, noite, a voz do canho do forte do Santo Anjo
repercutia no Tibre, nos vales e nas montanhas que circundam a Cidade
eterna.
As casas adornadas, o alegre repicar dos sinos, a cpula de So Pedro
toda iluminada, esse ar de festa a invadir toda Roma, anunciavam a secular
solenidade do dia seguinte.
Aos primeiros albores da aurora, imensa multido se comprimia na baslica
e na praa de So Pedro.
Contemplemos os quadros que representam o bem-aventurado.
Na fachada da igreja aparece Paulo pregando Jesus Crucificado; sob o
prtico, seu glorioso sepulcro circundado de fiis e enfermos a vener-lo e
a pedir-lhe sade; no interior da baslica, esquerda, nos arcos
prximos CONFISSO, os dois milagres aprovados para a
canonizao: a cura sbita do cncer e a multiplicao do trigo; no
centro, ao lado da ctedra de Pedro, num mesmo quadro, esto Paulo da
Cruz e Leonardo de Porto Maurcio elevando-se para o Cu; no
estandarte, que ser levado em procisso, Nosso Senhor desprende a destra
da Cruz e abraa o nosso Santo que, em xtase, sacia-se no manancial do
sagrado Corao. Este quadro cpia do que foi doado ao Santo
Padre.
A baslica est adornada de tapearias, festes e grinaldas, dispostas
com arte, predicado do povo romano.
Mais de quinze mil crios dardejam raios de luz; infinidade de lampadrios
formam, nos arcos e nos quatro ngulos da cpula, brilhantes revrberos em
deslumbrantes ondulaes. No centro da vasta nave, um lampadrio maior,
desprendendo mil raios, ostenta as ARMAS de So Pedro.
Aps longa espera, l pelas sete e meia, ressoam piedosos cnticos,
anncio da procisso que sai do Vaticano.
Aparece a Cruz porta da baslica. Geral a emoo. Que
espetculo inaudito!...
Eis os ungidos do Senhor; eis todos esses Pontfices convocados de todos
os recantos da terra, por um simples sinal de Pedro: a Europa, a sia,
a frica, a Amrica e a Ocenia, todo o universo catlico l se
encontra...
Em meio do numeroso e augusto cortejo, aparece Aquele a quem todos anseiam
Afinal, logo que a grande Vtima tudo sancionou e consagrou com seu
Sangue, o Pontfice, abrindo os braos e o corao multido
prostrada, lanou-lhe a bno apostlica, retirando-se em seguida.
Por esse triunfo secular dos Prncipes dos Apstolos Pedro e Paulo,
acabava a Igreja de unir mais e mais as almas ao centro divino da unidade;
acabava outrossim de provar sua perptua e virginal fecundidade, coroando
com o diadema dos santos aos hericos mrtires de Gorcum, da Polnia e
da Espanha, s virgens puras de Pibrac e de Npoles, aos grandes
apstolos Leonardo de Porto Maurcio e PAULO DA CRUZ. Em
virtude do decreto da sagrada Congregao dos Ritos de 14 de janeiro de
1869, Pio IX estendeu e tornou obrigatria a toda a Igreja a festa, com
oficio e missa, de so Paulo da Cruz, fixando-a no dia 28 de abril.
Paulo, pai amado, frui agora da viso de Jesus a quem tanto
amastes, mas lembrai-vos de que nesta terra vivem ainda almas Intimamente
unidas convosco pelos laos do mais estreito parentesco espiritual. So
vossos filhos e filhas, espalhados pelo mundo inteiro... E' a santa
Igreja, cujo augusto Chefe continua sempre a dispensar-nos o mesmo
carinho...
Obtende para a Igreja apstolos zelosos, paz para as naes nestes
tempestuosos dias que atravessamos e, se forem necessrias lutas
sangrentas, fortifiquem-nos os nimos e alentem- nos nos desfalecimentos os
vossos luminosos exemplos.
Pai, pedi para vossos filhos e filhas a graa de caminharem sempre pelas
sendas traadas por vossas virtudes, pelo vosso zelo, pelo vosso amor a
Jesus Crucificado e Virgem das Dores, para poderem um dia, formando
coroa em torno de vs, cantar eternamente as glrias da Cruz, nico
manancial de santificao.
DECLARAO
Em obedincia s leis cannicas, o autor, o revisor e o tradutor desta
obra declaram no pretenderem dar aos fatos aqui narrados, salvo o que j
foi sancionado pela S Apostlica, outra autoridade que a humana.
Declaram outrossim submeterem-se com toda docilidade, eles e a presente
obra, ao juzo infalvel da santa Igreja Catlica, em cujo amoroso
regao querem viver e morrer.