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Vitria - 2002 MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional Coleo Do Avesso ao Direito
MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO. Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional. Educao: Condio de Cidadania. Vitria: CEAF, 2002. v.2. Coleo Do Avesso ao Direito. 1. Direito Educao 2. Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo I. Srie. CDU 34: 354.53
Endereo:
Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional - CEAF Rua Humberto Martins de Paula, n 350 sala 906 Enseada do Su Vitria ES CEP: 29.055-100 Telefax: 3224 4512 / 4513
Email: ceaf@mpes.gov.br
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIA Jos Maria Rodrigues de Oliveira Filho DIRIGENTE DO CENTRO DE ESTUDOS E APERFEIOAMENTO FUNCIONAL Ronald de Souza Procurador de Justia GERNCIA DE ESTUDOS, PESQUISAS E DOCUMENTAO Professora Maria do Carmo Aboudib Varella Serpa COORDENAO E SUPERVISO Ncia Regina Sampaio Promotora de Justia ELABORAO, COORDENAO, REVISO E ASSESSORAMENTO TCNICO-PEDAGGICO Prof. Maria do Carmo Aboudib Varella Serpa Especialista e Mestre em Educao ASSESSORAMENTO JURDICO (Jurisprudncia / seleo e adaptao das peas prticas) Clarissa Lyra Martins (Acadmica de Direito/APOP) Getro Ribeiro de Oliveira (Assessor Jurdico/APOP) Snia Maria Silva de Souza (Assessora Jurdica/APOP) EQUIPE TCNICA/CEAF Maria do Carmo Aboudib Varella Serpa Miriam de Oliveira Ancio Sueli Penha da Silva Leite DIGITAO, DIAGRAMAO, EDITORAO E ARTE FINAL
(Funcionrios e Estagirios do CEAF)
Andr Fermo Monteiro Bastos Ftima Roberta Cosme Lvia Ramos Breciane Paulliany de Sousa
MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional Coleo Do Avesso ao Direito
Subprocurador-Geral de Justia Administrativo Subprocuradora-Geral de Justia Judicial Corregedor-Geral do Ministrio Pblico Gerente-Geral do Ministrio Pblico Promotor de Justia/Chefe de Gabinete do Ministrio Pblico Promotor de Justia/Chefe de Apoio ao Gabinete do Ministrio Pblico Promotora de Justia/Chefe de Secretaria-Geral do Ministrio Pblico Procurador de Justia/ Dirigente do CEAF
Jos Maral de Atade Assi Itajacy Andrade Dornelas Jos Adalberto Dazzi Flodesmidt Riani
SIGLAS MAIS UTILIZADAS NA REA DA EDUCAO ABMP Associao Brasileira de Magistrados e Promotores de Justia da Infncia e da Juventude APOIA Aviso por Infreqencia de Aluno BAE Banco de Aes Educacionais CAE Conselho de Alimentao Escolar CAPs Centros de Apoio Pedaggico para atendimento a deficientes visuais CEE Conselho Estadual de Educao CIER Centros Integrados de Educao Rural CME Conselho Municipal de Educao CNE Conselho Nacional de Educao COFENEN Confederao Nacional de Estabelecimentos de Ensino ECA Estatuto da Criana e do Adolescente EJA Educao de Jovens e Adultos ENC Exame Nacional de Cursos ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio FICAI Ficha de Comunicao de Aluno Infreqente FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio FUNDESCOLA Fundo de Fortalecimento da Escola INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LDBN Lei de Diretrizes e Bases Nacional LDO Lei de Diretrizes Oramentrias LOA Lei Oramentria Anual LRF Lei de Responsabilidade Fiscal MDE Manuteno e Desenvolvimento do Ensino MEC Ministrio da Educao e Cultura MEPES Movimento de Educao Promocional do Esprito Santo PAPED Programa de Apoio Educao a Distncia PCN Parmetros Curriculares Nacionais PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola PDE Plano de Desenvolvimento da Escola PEP Plano Estadual de Educao Profissional PGRM Programa de Garantia de Renda Mnima PLANFOR Plano Nacional de Qualificao do Trabalhador do Ministrio do Trabalho PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar PNLD Programa Nacional do Livro Didtico PNSE Programa Nacional de Sade Escolar PNTE Programa Nacional de Transporte Escolar PPA Plano Plurianual PPP Projeto Poltico Pedaggico PRASEM Programa de Apoio aos Secretrios Municipais de Educao PROEP Programa de Expanso da Educao Profissional PROFORMAO Programa de Formao de Professores Leigos em Exerccio PROINESP Projeto de Informtica na Educao Especial PROINFO Programa Nacional de Informtica na Educao ProLEI Programa de Legislao Educacional Integrada PROVO Exame Nacional de Cursos de Graduao RCL Receita Corrente Lquida SAEB Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica SEB Secretaria de Educao Bsica SEDU Secretaria de Estado da Educao SRE Superintendncia Regional de Ensino UEX Unidades Executoras SEMTEC - Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica SEF - Secretaria de Educao Fundamental SEED - Secretaria de Educao a Distncia
Agradecimentos
O Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, por meio de seu Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional - CEAF, agradece aos Ministrios Pblicos sediados nas Unidades Federadas deste Brasil imenso, e em especial aos dos Estados de Alagoas, da Bahia, de Gois, do Maranho, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, do Par, da Paraba, do Paran, do Piau, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de So Paulo quanto a gentileza do envio de material referente aos procedimentos jurdicos especficos da ao ministerial, por intermdio das respectivas Procuradorias Gerais de Justia e Centros Operacionais, resultantes da prxis cotidiana nessas Unidades Federadas, alm de material adquirido em consultas via internet. Agradecemos igualmente, aos membros do Ministrio Pblico Capixaba, os quais nos enviaram instrumental semelhante. Cumpre ressaltar que o material recebido, aps selecionado e adaptado, integra o Captulo 6 deste documento. Nosso agradecimento se estende da mesma forma, a bibliotecria Lcia Helena Maroto (Biblioteca Central SEDU/ES), pelas orientaes concedidas em questes referentes montagem bibliogrfica do documento, assim como s Equipes do FUNDESCOLA / PRASEM e do Departamento de Acompanhamento do FUNDEF, ambas do MEC, por consentirem a citao de alguns trechos componentes de material formativo e informativo de sua autoria, os quais se encontram identificados no decorrer do documento, informaes estas que indiscutivelmente constituiro apoio valioso no trabalho dos operadores do Direito e parceiros que militam na mesma causa. No poderamos tambm deixar de agradecer a LPJ Publicidade Ltda, com sede na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais que gentilmente cedeu-nos o uso da imagem Justia - Piet, de sua autoria, a qual compe a capa deste documento, assim como ao Dr. Humberto Luchi Nascimento, Coordenador da Controladoria Geral Tcnica (CGT) do Tribunal de Contas do Estado do Esprito Santo, pelas orientaes concedidas com relao ao tema FUNDEF/FUNDAP e pela redao dada a parte 3.4.9 deste documento intitulada Relao FUNDEF/FUNDAP no Estado do Esprito, de sua autoria. O nosso agradecimento se estende ao Sr. Alair Caliari, autor da foto que embeleza a nossa Mensagem, Suellen Alves Berger pela autorizao do uso de sua imagem fotogrfica, assim como Secretaria de Estado da Educao (SEDU), por nos ter cedido a imagem desta aluna que simboliza a nossa Escola Pblica.
Mensagem
O direito-dever da educao, no de carter facultativo, mas de natureza imperativa. De um lado, o indivduo pode exigir que o Estado o eduque, de outro o Estado pode exigir que o indivduo seja educado. Assim como o direito educao corolrio do direito vida, da mesma forma a educao irrenuncivel tanto quanto o a vida. crime tentar suicidar - se. Deixar de educar-se um suicdio moral. E isso porque, sem desenvolver suas potencialidades, o ser humano impede a ecloso de sua vida em toda a plenitude. Sem aprimorar suas virtualidades espirituais, o indivduo sufoca em si o que tem de mais elevado, matando o que tem de humano para subsistir apenas como animal. Continua como ser vivo, conservando o gnero, mas perece como homem, eliminando a diferena especfica.
Prefcio
Um povo, no tendo acesso aos bens culturais, busca sua projeo nos bens de consumo. A aquisio de cultura promove o SER e a aquisio de bens materiais promove o TER. (Margarida Sampaio Moreira) O autor, Pinto Ferreira, na obra Comentrios Constituio Brasileira, cita discursos de quatro pensadores mundiais que vem na educao a base da pirmide para a construo de qualquer sociedade moderna, conforme transcrevemos: o pensador ingls H.G. Wells entendeu a histria moderna como uma corrida entre a educao e a catstrofe. O Presidente Johnson afirmou: A resposta para os nossos problemas nacionais est numa nica palavra, educao. Afirmaram ainda Michael Silva e Bertil Sjoegren: Embora melhoras na educao no possam resolver todos os problemas, a ausncia de um bom sistema educacional inibe o progresso de todas as outras reas. Sabemos que a preparao para o exerccio da cidadania no pode ser atribuda somente escola. Entretanto, sem a educao formal a cidadania no pode ser exercida. Analisando a Histria da Educao no Brasil, verificase que o direito educao, somente, foi reconhecido como um direito pblico subjetivo com o advento da Constituio Federal de 1988, do Estatuto da Criana e do Adolescente e da Lei de Diretrizes e Bases da Educao. Durante, aproximadamente, 350 anos a educao no Brasil foi dirigida apenas para a elite. A maioria da populao era excluda do acesso ao ensino. Conforme constatado no texto A Educao e a Sociedade Democrtica da Professora Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva: Da Proclamao da Repblica (1889), at 1988, a educao brasileira foi seletiva. No havia lugar nem polticas pblicas para todos no sistema educacional. Na dcada de 50, apenas 38% da populao em idade escolar freqentava a escola. Este ndice chega a 67% na dcada de 70 e a 75% na dcada 80, atingindo 84% em 1990. Aps a promulgao e vigncia da Lei n 9.424, o acesso para o ensino fundamental ampliado, aumentando, ainda mais, a parcela da populao no sistema educacional.
Entretanto, o mesmo crescimento no ocorreu quanto educao infantil e o ensino mdio. Comprovando a assertiva acima, temos o levantamento realizado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) que constatou, no Estado do Esprito Santo, a existncia de 3.472 escolas de Ensino Fundamental para apenas 330 escolas de Ensino Mdio. Os dados revelam que 90% dos adolescentes que saem do ensino fundamental no encontram vagas no ensino mdio. A Constituio Federal assegura a todos a educao formal integral, iniciando na creche e pr-escola, sendo vedado ao Municpio e ao Estado interpretar a Lei Federal de forma diversa do estabelecido na Constituio. Dispe o art. 205 da Constituio Federal : A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao estabelece em seu art. 2 : A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. O Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece em seu art. 4 : dever da famlia, da comunidade, da sociedade, em geral, e do Poder Pblico, com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria. A Constituio Federal, em diversos artigos, reconhece a educao como a fonte primeira para a formao da pessoa humana e seu preparo para a cidadania. Pode-se afirmar, com fundamento nos princpios constitucionais, que no existir um estado democrtico de direito, na medida em que a educao no for garantida a todos em todos os nveis. Essa assertiva, vem da convico, de que somente a educao pode permitir ao cidado o pleno exerccio da cidadania e a dignidade de pessoa humana, elementos do estado democrtico de direito. Neste sentido se pronunciou o Professor Paulo Afonso Garrido de Paula, no Manual da Justia pela Educao: a Educao, como direito e bem fundamental da vida, um dos atributos da prpria cidadania, fazendo parte de sua prpria essncia.
Percebe-se pelo texto constitucional e infraconstitucional, que a educao, no obstante estar dividida em duas fases distintas, ou seja, educao bsica e ensino superior, deve ser ofertada em todas as etapas para possibilitar ao indivduo a aquisio do pleno desenvolvimento da pessoa. A supresso pelo Estado da oferta da educao em qualquer das etapas da formao do indivduo, significar para este, a impossibilidade do exerccio pleno da Cidadania. A cidadania plena aquela que permite ao indivduo em qualquer fase da vida o acesso aos direitos sociais, econmicos e culturais. Sabedores de que o direito educao positivado na norma constitucional, no tem sido garantido a todos, o Ministrio Pblico, agente responsvel pela defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis, elaborou o presente trabalho, para os membros do Ministrio Pblico Capixaba que atuam na defesa deste direito. As peas processuais, reproduzidas nesta publicao, foram obtidas no s junto aos membros do Ministrio Pblico Capixaba, como, tambm, junto aos membros do Ministrio Pblico que atuam na defesa do direito educao nos diversos Estados da Federao. Observou-se que um rico material doutrinrio, jurisprudencial e prtico produzido nesta rea, encontrava-se disperso, dificultando, inclusive, a troca de experincias, e enriquecimento das aes propostas. O presente trabalho , portanto, uma coletnea de todo o material pertinente ao assunto, encontrado em diversas fontes, alm do que foi produzido pelo Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional. Trata-se, portanto, de documento importante no s para divulgar o nmero de trabalhos j produzidos na rea, mas, tambm, de um instrumento de fcil acesso, viabilizando a aplicao da legislao afeta a garantia do direito educao.
Apresentao
Grandes so os desafios que o nosso pas dever enfrentar nos prximos anos, no que se refere s desigualdades sociais e econmicas, bastante profundas e marcantes, no cotidiano de nossa sociedade. De verdade, estes desafios, no so s nossos, ou exclusivos da nao brasileira. Estes desafios esto postos para toda a humanidade em especial para os pases em desenvolvimento. As relaes sociais, polticas e econmicas, prprias do mundo moderno e sua complexa teia de fatores e variveis, na qual se encontram intrinsecamente envolvidos, influenciando e sendo influenciados, requerem respostas diferenciadas e inovadoras, para os inmeros problemas emergentes. A integrao econmica e cultural resultante da nova ordem mundial, a velocidade do avano cientfico e tecnolgico, as modificaes no perfil das atividades econmicas e das profisses, impem novos questionamentos e novas respostas, os quais, s podero ser enfrentados, atravs da implantao de polticas e programas eficazes e eficientes. No caso dos pases em desenvolvimento, dentre os quais o Brasil, as dvidas sociais crnicas existentes, acumuladas e agravadas ao longo dos anos, fazem deste um quadro gravssimo, o qual requer imediato compromisso poltico e competncia tcnica, por parte de seus dirigentes, em prol de uma sociedade mais justa e de uma vida mais digna. Nesse contexto, indiscutivelmente, assume papel de extrema e primordial relevncia, a implementao de polticas no s desafiadoras e arrojadas, mas principalmente efetivas e consistentes, no campo da educao. Diante da situao crtica a qual chegamos, torna-se premente a necessidade de se assegurar educao de qualidade, que garanta o acesso ao saber, a adequada insero no mundo do trabalho e, conseqentemente, a cidadania para todos os brasileiros. Uma educao de qualidade significa no s a existncia de vagas para todos, mas o estabelecimento de condies para que estes consigam acess-las. A ampliao das oportunidades educacionais de acesso educao, principalmente educao bsica, necessita vir acompanhada de outras medidas urgentes como, a permanncia com sucesso dos alunos, a regularizao do fluxo escolar pelo combate repetncia e evaso, a elevao dos nveis de qualificao dos profissionais do magistrio, acompanhada de uma poltica justa e equilibrada de remunerao e qualificao dos mesmos, o acesso a nveis cada vez mais
elevados do conhecimento, a superao das estruturas pedaggicas tradicionais, o uso correto dos recursos financeiros, a existncia de material didtico pedaggico de apoio, os quais devero estar integrados a um sistema democrtico de gesto educacional, no qual, a autonomia da escola e a participao da comunidade no acompanhamento das aes efetuadas e na tomada de decises, constituam princpios norteadores, no decorrer de todo o processo de gesto. O Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, conhecedor desta realidade da educao brasileira, de seus avanos e dos desafios que ainda necessitam de ser enfrentados e consciente da importncia de sua funo de agente de mudanas sociais como defensor da Ordem Jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis, por meio de seu Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional e neste, da Gerncia de Estudos, Pesquisas e Educao Continuada coloca a disposio no s dos membros deste parquet, como dos colegas dos Ministrios Pblicos e demais agentes do direito das Unidades Federadas, o volume 2 de sua COLEO DO AVESSO AO DIREITO, intitulado EDUCAO: CONDIO DE CIDADANIA. nossa inteno, incentivar e apoiar aes conjuntas em prol da defesa e garantia de acesso aos direitos educacionais afetos a cada um dos cidados brasileiros, objetivando o cumprimento do artigo 205 da Constituio Federal o qual dispe que, a educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. No dizer de Paulo Afonso Garrido, se a ignorncia a principal arma dos exploradores, a educao o instrumento para a transposio da marginalidade para a cidadania, nica medida do desenvolvimento de um povo. O caminho longo a ser percorrido. Mas o tempo curto quando est em nossas mos, o alcance da cidadania de fato e no s de direito, do povo brasileiro. Educao... Condio de cidadania!
Consideraes Iniciais
Foi com imensa satisfao e orgulho, que recebemos do Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, por meio de seu Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional - CEAF, a tarefa de criar, implementar e dar continuidade a uma Coleo, prpria deste rgo jurisdicional, que tratando de temas relevantes e atuais no campo do Direito, com enfoques terico-prticos, pudesse subsidiar principalmente o trabalho dos Promotores de Justia em suas respectivas Comarcas, verdadeiros clnicos-gerais, na eterna busca de identificar, tratar e corrigir os erros e desvios que tm comprometido e muitas vezes, impedido o alcance, por parte do povo brasileiro, dos seus direitos mais fundamentais, essenciais e inerentes condio humana, sem os quais, indiscutivelmente, no existe sentido o dom da vida, na medida em que o seu no usufruto implica na ausncia de uma vida digna, dando um tom animalesco ao que, por natureza, deveria ser humano, por no lhe permitir conhecer e agir em direo a construo do ser individual e coletivo. Preocupado por um lado com as necessidades, dificuldades e interesses prementes da sociedade no seu conjunto, sintonizado, por outro com as novas exigncias e entraves da vida contempornea, e ciente do importante papel a ele conferido pelas normas constitucionais em vigor, na defesa dos direitos individuais, coletivos e difusos, o Ministrio Pblico Capixaba, teve o cuidado de direcionar os volumes iniciais de sua Coleo, propositadamente intitulada DO AVESSO AO DIREITO, a temas de amplitude e utilidade social, tais como Sade, Educao, Idoso e Portador de Deficincia, e outros que certamente ho de estar por vir, utilizando uma metodologia de trabalho, que conduza no s correo das injustias existentes mas, principalmente, construo de uma conscincia voltada para a efetiva ao preventiva, no trabalho cotidiano, no s dos operadores de direito, como tambm da imensa legio de parceiros estratgicos, que militam no campo destas reas afins, para os quais dirigimos os nossos agradecimentos e o nosso respeito, e com os quais queremos dar as mos e trabalhar unidos em torno da causa comum, de se construir neste pas o Estado Democrtico de Direito com o qual todos ns sonhamos. Em especial neste volume, EDUCAO: CONDIO DE CIDADANIA, sentimo-nos felizes e recompensados por ter conseguido estabelecer o elo de ligao entre os principais problemas e desafios hoje existentes na rea educacional e as devidas aes, de natureza preventiva e
corretiva, possveis e necessrias, no campo do Direito, tendo em vista o alcance, de fato, da construo de uma nao pautada nos princpios da justia e da igualdade e na formao de um povo educado, consciente e atuante no que se refere a garantia dos direitos conquistados e da necessidade da luta diria em prol daqueles que ainda tero que ser desbravados. Temos certeza ser este o caminho da conquista da cidadania plena. Temos igualmente certeza de que, o incio desta conquista se d na sala de aula da educao bsica. No numa sala de aula qualquer, mas aquela alicerada nos princpios da liberdade e da democracia, do respeito mtuo, da responsabilidade e competncia profissional, da qualidade do servio prestado, do acompanhamento e fiscalizao constantes no s dos rgos governamentais e no governamentais, aos quais a legislao incumbe essa tarefa, mas principalmente da comunidade social, na qual a escola se encontra inserida e a quem a escola serve. A realizao desta obra, representa transformar um velho sonho, de todos ns educadores em realidade, ou seja: estabelecer um elo de ligao entre Educao e Direito proporcionando aos educadores o conhecimento da legislao em vigor, indispensvel ao exerccio competente de sua tarefa no preparo de cidados conscientes de seus direitos e deveres, principalmente no que tange a participao na construo da sociedade que desejamos. Quanto aos operadores do Direito, constitui-se em oportunidade de conhecer, mais profundamente os problemas, conquistas e desafios do cotidiano da organizao da educao brasileira, da clientela atendida e daquela que sonha em um dia ter direito ao acesso e a permanncia na escola com sucesso; dos profissionais em exerccio; da comunidade extra-escolar (pais, conselhos, organizaes governamentais e no governamentais, populao em geral); das polticas, programas, fontes de financiamento e legislao especfica pertinentes rea em questo. A educao de um povo, constitui-se em compromisso poltico de todos: dos que tm a tarefa de efetivamente oferec-la, dos que tm o dever de fazer com que se cumpram os direitos legalmente proclamados nesta rea e daqueles aos quais esta se destina. Sentimo-nos felizes em ter podido colaborar nesta causa to importante e necessria e conclamamos a todos, que se unam a ns, na defesa da garantia desse bem comum to precioso que a conquista da cidadania de um povo, por meio de sua educao! Gostaramos de externar o nosso agradecimento ao Procurador-Geral de Justia do Estado do Esprito Santo, Doutor Jos Maria Rodrigues de Oliveira Filho e Doutora Ncia Regina Sampaio, Promotora de Justia e ex-dirigente deste Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional, idealizadores, gestores e
cmplices deste trabalho, na medida em que nos deram todas as condies necessrias para efetu-lo, alm do incentivo e da crena em sua importncia e em nossa capacidade de lev-lo termo. Finalmente no poderamos deixar de estender os nossos agradecimentos especiais Doutora Ncia Regina Sampaio, Promotora de Justia, mentora e idealizadora desta Coleo, batalhadora incansvel e dinmica da rea voltada s Polticas Pblicas e Sociais, cuja convivncia enquanto dirigente deste centro, representou, para ns, motivo significativo de crescimento profissional e pessoal. Certo estamos de que, a sua ausncia entre ns, razo da participao em Curso de Mestrado na Universidade de Lisboa, representar, sem dvida alguma, quando de seu retorno, maior incentivo e aperfeioamento em trabalhos desta envergadura, neste Ministrio Pblico Capixaba, em especial queles voltados para a garantia da defesa dos direitos igualdade e justia social.
Sumrio
1 INTRODUO............................................................................................................ 2 DA EDUCAO: RETROSPECTIVA HISTRICA, AVANOS E DESAFIOS................................................................................................................ 2.1 ORIGENS E EVOLUO DO DIREITO EDUCACIONAL........................ 2.2 O DIREITO EDUCAO NO BRASIL ......................................................... 2.3 EDUCAO BRASILEIRA: AVANOS E DESAFIOS.................................. 3 EDUCAO BRASILEIRA : PRINCPIOS, ORGANIZAO E ESTRUTURAO.....................................................................................................
3.1 PRINCPIOS E DIRETRIZES NORTEADORAS............................................. 3.2 NVEIS E MODALIDADES DE EDUCAO E ENSINO........................... 3.2.1 Distribuio de responsabilidades educacionais: Unio, Estados e Municpios........................................................................... 3.3 POLTICAS, PROGRAMAS E AES GOVERNAMENTAIS NA REA EDUCACIONAL................................................................................... 3.3.1 Plano Nacional de Educao: consideraes gerais e objetivos propostos.................................................. 3.3.1.1 Do contexto histrico.......................................................................................... 3.3.1.2 Dos objetivos e metas.......................................................................................... 3.3.2 Polticas e programas: caracterizao e coordenao............................... 3.3.2.1 Vinculados ao Gabinete do Ministro de Estado da Educao........................ 3.3.2.2 Vinculados Secretaria de Educao Fundamental (SEF)............................... 3.3.2.3 Vinculados Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica (SEMTEC)....... 3.3.2.4 Vinculados Secretaria de Educao a Distncia (SEED).............................. 3.3.2.5 Vinculados Secretaria de Educao Especial (SEESP).................................. 3.3.2.6 Vinculados ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP)....................................................................... 3.3.2.7 Vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE)........................................................................................... 3.3.3 Plano de carreira e remunerao do magistrio......................................... 3.3.3.1 Desvalorizao do magistrio: contextualizao histrica.............................. 3.3.3.2 Plano de carreira do magistrio: legislao bsica............................................. 3.3.3.3 Regime jurdico do magistrio: opo da administrao pblica................... 3.3.3.4 Questes importantes a serem consideradas na elaborao do Plano de carreira e remunerao do magistrio: determinaes legais......................... 3.3.3.5 A formao para o magistrio e os professores leigos..................................... 3.3.3.6 Dos cargos na carreira do magistrio.................................................................
3.3.3.7 Da jornada de trabalho......................................................................................... 3.3.3.8 Da carreira do magistrio: progresso, incentivos, avaliao de desempenho, direitos e vantagens................................................................ 3.3.3.9 Dos parmetros para a fixao do piso salarial................................................. 3.3.3.10 Aspectos complementares no Plano de Carreira do Magistrio .................. 3.3.3.11 Pagamento de inativos......................................................................................... 3.4 FINANCIAMENTO DA EDUCAO................................................................ 3.4.1 Fundef: pressupostos legais.............................................................................. 3.4.2 Fontes e recursos disponveis: recursos vinculados e subvinculados.. 3.4.3 Fundef: distribuio e redistribuio dos recursos ................................... 3.4.4 Ensino mdio e educao de jovens e adultos (EJA): apoio financeiro da Unio............................................................................................. 3.4.5 Outros recursos disponveis para a educao.............................................. 3.4.6 Acompanhamento e controle social do Fundef.......................................... 3.4.7 Recursos para M.D.E: conseqncias da m aplicao........................... 3.4.8 As despesas com a educao e a sua relao com a LRF, LOA, LDO e PPA............................................................................................................ 3.4.9 Relao Fundef/Fundap no Estado do Esprito Santo........................... 3.4.10 Fundef: legislao especfica............................................................................ 3.4.11 Informaes e contatos sobre as transferncias dos recursos do Fundef..................................................................................... 3.5 GESTO DEMOCRTICA DO ENSINO.......................................................... 3.5.1 Gesto democrtica do ensino: legislao especfica................................ 3.6 MERENDA ESCOLAR............................................................................................. 3.6.1 Merenda escolar: legislao especfica......................................................... 3.7 TRANSPORTE ESCOLAR...................................................................................... 3.7.1 Transporte escolar: legislao especfica..................................................... 3.8 EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS (EJA): formas de atendimento e controvrsias quanto aos exames supletivos............................................................ 3.8.1 Educao de jovens e adultos (EJA): legislao especfica.................... 3.8.2 Exames supletivos: reportagens..................................................................... 4 O MINISTRIO PBLICO, A EDUCAO E AS NOVAS ATRIBUIES................................................................................ 5 MARCOS LEGAIS: MBITOS FEDERAL E ESTADUAL.......................... 5.1 LEGISLAO PRINCIPAL.................................................................................... 5.2 TABELAS COMPLEMENTARES......................................................................... 6 MINISTRIO PBLICO: PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS INVESTIGATRIOS. ASPECTOS TERICOS E PRTICOS.............................................................
6.1.2 Termo de Ajuste de Condutas ............................................................................ 6.1.3 Execuo do ttulo de compromisso ................................................................ 6.1.4 Ao Civil Pblica ................................................................................................ 6.2 ASPECTOS PRTICOS (MODELOS DE PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PELO MINISTRIO PBLICO NA REA DA EDUCAO)............................................................................................................... 6.2.1 Inqurito Civil........................................................................................................... 6.2.1.1 Portaria..................................................................................................................... 6.2.1.2 Parecer...................................................................................................................... 6.2.1.3 Convite para comparecimento.............................................................................. 6.2.1.4 Notificao............................................................................................................... 6.2.1.5 Termo de declarao............................................................................................... 6.2.1.6 Solicitao de certido ou requisio de documentos ...................................... 6.2.1.7 Promoo de arquivamento.................................................................................. 6.2.2 Termo de ajuste de condutas.............................................................................. 6.2.3 Modelos de Ao Civil Pblica .......................................................................... 6.2.3.1 Fundef....................................................................................................................... 6.2.3.2 Merenda escolar ..................................................................................................... 6.2.3.3 Censo escolar ......................................................................................................... 6.2.3.4 Expulso de alunos ................................................................................................ 6.2.3.5 Transporte escolar (A) ........................................................................................... 6.2.3.6 Transporte escolar (B) .......................................................................................... 6.2.3.7 Acesso rede escolar (Ensino Fundamental) .................................................... 6.2.3.8 Acesso rede escolar (Educao Infantil) ......................................................... 6.2.3.9 Plano de carreira e remunerao do magistrio pblico ................................. 6.2.3.10 Chamada escolar .................................................................................................. 6.2.4 Execuo .................................................................................................................. 6.2.4.1 Modelo de petio inicial de Ao Civil Pblica de Execuo por Obrigao de Fazer (Compromisso de ajustamento) extrajudicial ............................................................................................................. 6.2.4.2 Modelo de petio inicial de ao de execuo por quantia certa (Compromisso de ajustamento) - extrajudicial .................................................. 6.2.4.3 Modelo de petio inicial de execuo por ttulo executivo judicial .............. 6.2.4.3.1 Execuo definitiva ......................................................................................... 6.2.4.3.2 Execuo de obrigao de fazer ................................................................... 6.2.5 Interposio de recursos.................................................................................... 6.2.5.1 Modelo de petio de interposio de recurso .................................................. 6.2.5.2 Modelo de razes de recurso................................................................................. 6.2.6 Requisies/ofcios............................................................................................ 6.2.6.1 Acompanhamento de alunos com hiperatividade e altas habilidades............. 6.2.6.2 Orientao ao conselho tutelar para requisitar vagas nas escolas ................... 6.2.6.3 Informaes sobre providncias adotadas para garantir acesso escola pblica prxima sua residncia .......................................................................... 6.2.6.4 Informao sobre fiscalizao de verbas destinadas ao programa
poupana escola....................................................................................................... 6.2.6.5 Solicitao de parecer sobre o ensino de artes nos centros de ensino especial...................................................................................................................... 6.2.6.6 Inspeo no permetro de segurana escolar para verificao de vendas de bebidas alcolicas nas imediaes das escolas............................................... 6.2.7 Recomendaes.................................................................................................... 6.2.8 Jurisprudncias..................................................................................................... .. 7 INFORMAES REFERENTES EDUCAO: CONTATOS E CONSULTAS ........................................................................................................... 8 CONCLUSO .............................................................................................................. 9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................. ANEXOS ............................................................................................................................. ANEXO A - MANUAL DE CONSULTA E ORIENTAO PARA VISITAS E INSPEES EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO................................................................................................ ANEXO B - FICHA FICAI FICHA DE COMUNICAO DE ALUNO INFREQENTE........................................................................ ANEXO C - FICHA APOIA - AVISO POR INFREQNCIA DE ALUNO................................................................................................. ANEXO D - RESOLUO N 154/99 - TRIBUNAL DE CONTAS/ES ........... ANEXO E - RESOLUO N 170/01 - TRIBUNAL DE CONTAS/ES ............ ANEXO F - CONTABILIZAO DOS RECURSOS DESTINADOS AO ENSINO NO MBITO DO ESTADO......................................... ANEXO G - CONTABILIZAO DOS RECURSOS DESTINADOS AO ENSINO NO MBITO DOS MUNICPIOS.............................. ANEXO H - SNTESE DA ALTERAO DA CLASSIFIO FUNCIONAL - PROGRAMTICA, NO QUE SE REFERE EDUCAO, DE ACORDO COM A PORTARIA STN N 42/99........................... ANEXO I - DECRETO ESTADUAL N 7.463-E/99................................................ ANEXO J - DECRETO ESTADUAL N 926-P/99.................................................... ANEXO K - OFCIO CIRCULAR/CA-IJ N 003-MP/ES....................................... ANEXO L - PORTARIA N 291-P/99 PROCURADORIA GERAL DE JUSTIA-MP/ES................................. ANEXO M - RECOMENDAO CGMP/CG N 006/99-MP/ES.......................
ANEXO N - PROVIMENTO N 009/00 CORREGEDORIA GERAL-MP/ES ......................................................................................... ANEXO O - PARECER - CNE/CEB N 05/97.......................................................... ANEXO P - DECRETO FEDERAL N 2.264/97....................................................... ANEXO Q - PARECER - CNE/CEB N 10/97.......................................................... ANEXO R - PARECER - CNE/CEB N 12/97........................................................... ANEXO S - RESOLUO - CNE/CEB N 03/97.................................................... ANEXO T - PARECER - CNE/CP N 26/97.............................................................. ANEXO U - RESOLUO FNDE N 24/00.............................................................. ANEXO V - MEDIDA PROVISRIA N 2.100-30/01............................................. ANEXO W - LEI FEDERAL N 10.219/01................................................................. ANEXO X - LEI FEDERAL N 5.474/97.................................................................... ANEXO Y FIGURA 1 CONSTITUIO DE 1998 E EMENDA CONSTITUCIONAL 14/96 DISTRIBUIO DE RECURSOS DO FUNDEF..................................................... FIGURA 2 - FUNDEF - ORIGEM DOS RECURSOS.............................................. FIGURA 3 - FUNDEF - PERDAS COM O PERCENTUAL DEMONSTRATIVO DE VARIAO.................................................. FIGURA 4 - FUNDEF - PERDAS COM O PERCENTUAL DEMONSTRATIVO DE VARIAO
Introduo
Todo ser humano nasce com um potencial e tem o direito de desenvolv-lo. Para desenvolver o seu potencial cada pessoa necessita de oportunidades. Aquilo que uma pessoa se torna ao longo da vida depende basicamente de duas coisas: das oportunidades que teve e das escolhas que fez. Cada um de ns, ou seja, aquilo que somos hoje a resultante das oportunidades que tivemos e das escolhas que fizemos ao longo da vida. O direito educao , portanto, o direito de cada criana, de cada adolescente, de cada adulto, de tornar realidade as promessas que trouxe consigo ao vir a este mundo (Konzen, 2000) Apesar da existncia de um elenco de legislaes de mbito nacional e internacional, as quais determinam e asseguram o direito educao, a prxis evidencia uma sociedade marcada por uma cultura na qual inexistem como padro cultural, ou se existem apresentam-se isolados, isentos de uma ao global e efetiva, os comportamentos de acompanhamento, vigilncia, exigncia ou denncia no que tange ao real cumprimento das normas legais. E no entanto, em nenhum outro perodo da humanidade, e principalmente, em nenhuma outra fase da histria de nosso pas, a posse do conhecimento e o domnio da informao, constituram condies essenciais de um povo, na garantia da manuteno de sua independncia e autonomia polticofinanceira e de cada indivduo, particularmente, no que tange no s a sua sobrevivncia como pessoa, mas a sua insero como ser social, integrante de uma sociedade alicerada nos ideais do Estado Democrtico de Direito, na qual, o exerccio da cidadania, deveria constituir-se em conquista de fato, expressa no atendimento aos direitos fundamentais e essenciais ao desenvolvimento humano e na manuteno de sua prpria dignidade. O Brasil acumula ainda srias dvidas, com a sua populao, conseqncia de uma histria passada de desleixo e abandono cujas conseqncias se encontram registradas nas estatsticas oficiais de rgos internacionais e nacionais. Nossa cidadania educacional, no pode ser tomada como exemplo. Infelizmente contamos ainda com milhes de crianas fora da escola ou nesta, porm defasadas em termos de idade-srie, trs a quatro anos, sendo expulsas ou evadindo das salas de aulas, por questes que vo desde as de natureza pedaggica s de natureza econmico-social. Da mesma forma, so milhes de jovens e adultos analfabetos ou semianalfabetos, os quais no tiveram oportunidade de acesso aos bancos escolares na
poca certa ou os abandonaram por necessidade de sobrevivncia ou pelo desestmulo gerado pela repetncia. A Educao Infantil e o Ensino Mdio, apesar de se constiturem pela nova LDBN como etapas componentes da educao bsica, constituem-se ainda em privilgio, na medida em que no lhes assegurada a obrigatoriedade legal imposta ao ensino fundamental, como tambm so rfos de recursos especficos e necessrios a sua real efetivao. So reflexos de uma prtica antiga a qual se arrastou durante anos e anos, de discriminaes e privilgios, impedindo o acesso de negros e brancos pobres aos direitos essenciais de cidado. So reflexos de um pas colnia, o qual durante dcadas no pde usufruir da soberania nacional, e no momento no qual acessou aos bens culturais, s o fez aos filhos das elites, guardando para os filhos dos outros apenas o trabalho e a ignorncia. So reflexos de uma histria de lutas no terreno da elaborao das leis, marcado por avanos e retrocessos, por conquistas e derrotas. Os avanos conseguidos nas Constituies de 1934 e 1988, no Estatuto da Criana e do Adolescente 1990, na LDB 9.394/96, na Lei n 9.424/96 (FUNDEF), ainda no conseguiram redimir os erros e as dvidas de milhares de negros, ndios, caboclos e migrantes os quais, mesmo aps a abolio, a Independncia, a Proclamao da Repblica, a promulgao de uma Constituio democrtica e cidad, e a aprovao de uma legislao educacional, na qual se encontram postos e determinados os conceitos de obrigatoriedade, gratuidade e universalidade ao acesso e permanncia na escola, ao lado do direito pblico subjetivo de exigi-lo do Poder Pblico e do dever do Poder Judicirio de faz-lo cumprir, milhares de brasileiros, os desconhecem ou a estes acessaram de forma incompleta e portanto injusta. Encontram-se longe, portanto, de serem considerados e tratados, como cidados de primeira grandeza. Ciente dos problemas e desafios afetos a educao brasileira, comprometido com o ideal de colaborar para a promoo de mudanas neste sentido que garantam o acesso de todo e qualquer cidado brasileiro ao conhecimento sistematizado e consciente de sua importante funo jurisdicional conferida pela Carta Magna de 88, no que se refere a garantia do cumprimento dos direitos individuais e coletivos, considerados de relevncia pblica, o Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, por meio de seu, Centro de Estudos e Aperfeioamento Funcional e de sua Gerncia de Estudos, Pesquisas e Educao Continuada, lana o volume Educao: Condio de Cidadania, como o segundo volume de sua Coleo intitulada DO AVESSO AO DIREITO. Objetiva-se com esta obra, o acesso aos operadores do direito, informaes e conhecimentos atualizados, na rea da educao, propiciando a vivncia do aperfeioamento permanente, condio sine qua non, nos dias atuais, de engajamento social e sucesso profissional.
Constituem-se componentes tericos principais, a retrospectiva histrica da educao em nosso pas, seus avanos e desafios; os grandes princpios norteadores que a regem, sua organizao e estruturao atual, de acordo com as normas legais vigentes; as polticas pblicas educacionais e os problemas a estas vinculados. Houve preocupao com o destaque para as questes consideradas como as de maior demanda por informao, por parte dos membros do parquet deste Ministrio Pblico Capixaba, as quais, sem dvida alguma, coincidem com tpicos considerados de destaque e algumas vezes polmicas na rea da educao, tais como: Financiamento, Plano Nacional Estadual e Municipais, Plano de Carreira e Remunerao do Magistrio, Recenseamento, Censo e Chamada Escolar, Gesto Democrtica do Ensino, Educao de Jovens e Adultos e os Exames Supletivos, os programas de Merenda e Transporte Escolar, as questes referentes ao acesso, permanncia com sucesso, evaso, repetncia, reprovao e reforo escolar; os deveres e obrigaes dos pais, dos Conselhos e dos Gestores pblicos e a ao fiscalizadora do Poder Judicirio. A parte prtica do documento, traz modelos de peas jurdicas especficas da atuao diria do rgo ministerial, cujo processo de seleo, baseou-se nos assuntos de maior polmica e demanda por parte do Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, como tambm nos dados colhidos em pesquisa efetuada via internet, e nos demais Ministrios Pblicos, em nvel nacional, a respeito da atuao dos mesmos na rea da educao, aos quais prestamos os nossos mais sinceros agradecimentos, pela gentileza e presteza nossa solicitao. Constam igualmente neste volume, em anexo, um Manual de Consulta e Orientao para Visitas e Inspees em Estabelecimentos de Ensino (ANEXO A); modelos de Fichas de Comunicao por Infreqncia do Aluno a Escola (ANEXOS B e C); Legislao e material informativo do Tribunal de Contas do Estado do Esprito Santo sobre o Fundef/Fundap (ANEXOS D, E, F, G, H); Decretos Estaduais sobre o Conselho Estadual para Gerenciamento do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio - FUNDEF, (ANEXOS I, J); Legislao prpria do Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, no que se refere a Orientaes dos Centros Operacionais de Apoio, a Portarias, Recomendaes e Provimentos da Procuradoria-Geral de Justia e da Corregedoria-Geral de Justia (ANEXOS K, L, M, N); Legislao principal em vigor, federal e estadual, desta rea especfica (ANEXOS O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X), alm de Grficos referentes ao FUNDEF, no Estado do Esprito Santo, com enfoque no acompanhamento, controle e mecanismo de distribuio das verbas, origem dos recursos e perdas registradas em nvel estadual e municipal (ANEXO Y, FIGURAS 1, 2, 3 e 4). Acompanha ainda este volume, (Cap. 7), uma listagem de contatos efetuados com os principais rgos que tratam do assunto (e-mails, nmeros telefnicos,
endereos, sites e outros), com o intuito de facilitar o acesso dos leitores a informaes que se fizerem necessrias. Gostaramos de esclarecer que esta obra no se encerra em si prpria, estando sujeita a crticas e sugestes, as quais temos certeza sero de grande valia, na preparao dos prximos volumes de nossa coleo. Enfim, torna-se importante registrar a nossa certeza de que, se avanarmos no atendimento quantitativo, se hoje, mais do que ontem, nossas crianas, nossos jovens e nossos adultos analfabetos esto pisando pela primeira vez, o cho de nossas salas de aula, no significa que possamos descansar e festejar o dever cumprido. De nada adianta o acesso, se no for acompanhado, de um trabalho srio de busca da permanncia escolar com qualidade e sucesso. Do ponto de vista da democratizao da escola, buscar qualidade significa assegurar a todos os alunos aprendizagens significativas, sintonizadas em contedo e processo, com as demandas atuais, e no apenas tempo de escolaridade. A democracia implica eqidade exige qualidade. O saber deve estar sempre entre os bens mais partilhados entre os membros de uma sociedade democrtica. Assim, fundamental promover oportunidades de aprender, desenvolvendo estratgias igualitrias de acesso ao conhecimento, de forma que a escola no se limite a aproveitar somente os que tm, sabem e podem mais; aqueles que, pelo contexto em que vivem, pelos cdigos de que dispem e pelos instrumentos que mais facilmente adquirem, sempre aproveitam melhor as melhores experincias. O processo de construo da igualdade de oportunidades exige uma vigilncia constante para que os excludos da aprendizagem escolar possam ser cada vez mais includos no mundo do letramento, que permite, por sua vez, a construo e a ampliao dos saberes que abrem caminho para uma insero efetiva na vida contempornea. (Pela Justia na Educao. O Direito de Aprender Direito: garantindo a qualidade da educao escolar. pag. 365). De acordo com este mesmo artigo, essas transformaes no campo educacional, to necessrias e imprescindveis, deveriam consistir numa espcie de cruzada na qual todos juntos, profissionais da educao, Poder Pblico e sociedade civil organizada dessem as mos, transformando o sonho em projeto de vida de cada um e de todos ns. Antnio Carlos Gomes da Costa, destaca o papel fundamental que cabe ao Poder Judicirio exercer neste contexto ao afirmar, de acordo com trecho contido nesta mesma obra e pgina acima referenciadas, que: A tarefa a ser desempenhada neste momento pelos magistrados e promotores simples e concreta: trata-se de pr as conquistas do Estado
democrtico de direito para funcionar em favor do direito educao de qualidade para nossas crianas e adolescentes. E o modo de fazer isso no apenas pelas sentenas e aes civis pblicas, mas pelo trabalho urgente e inarredvel de atuar incansavelmente para instalar estas conquistas no espao vivo da conscincia e da sensibilidade desta Nao.
O entendimento da evoluo e surgimento da preocupao com o direito educao, requer uma anlise da trajetria progressiva e classificatria do direito propriamente dito. Na viso de Marshall1, o qual se baseou nas experincias da Inglaterra, os direitos civis datam do sculo XVIII, os polticos do sculo XIX e os sociais do sculo XX, ao passo que Bobbio2 aponta para a existncia de direitos de cunho especfico, voltados para as diferenas tnicas, de gnero, etria, e outras mais. Przeworski3, chama a ateno para a luta travada pela classe operria europia pelos direitos sociais, a partir dos direitos civis e polticos. Dentre os direitos sociais, o direito educao, assumiu destaque prioritrio, enquanto condio da prpria cidadania. O Direito Educacional, representa a conseqncia natural do processo evolutivo da educao na era contempornea, como tambm, constitui o reflexo do desenvolvimento das cincias jurdicas. De acordo com Paulo Nader4 : A rvore jurdica, a cada dia que passa, torna-se mais densa, com o surgimento de novos ramos que, em permanente adequao s transformaes sociais, especializam-se em sub-ramos. Pesquisando-se as origens do Direito Educacional constata-se que estas no advm do Direito Romano, bero do Direito Clssico, pelo contrrio, fazem parte do processo de civilizao e modernidade humana como discorrido anteriormente, aparecendo pela primeira vez, na Constituio Francesa, ao atribuir ao Estado a educao dos menores abandonados, como tambm a criao e organizao de um sistema pblico e gratuito de ensino, o qual pudesse se estender a toda a populao denominada de ensino indispensvel 5. Portanto, o direito
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MARSHALL, Thomas. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 3 PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e social democracia. So Paulo: Cia das Letras, 1989. 4 NADER, Paulo. Introduo ao ensino do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1996. 5 TCITO, Caio. Educao, cultura e tecnologia na Constituio. In A Constituio Brasileira de 1988: Interpretaes. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1988.
educao, como um direito expresso e declarado em lei, recente e remonta ao final do sculo XIX e incio do sculo XX. A Constituio Mexicana de 1917, concede ao Direito Educacional lugar de destaque, ao inclu-lo nos dispositivos constitucionais, de forma mais abrangente. A Constituio Russa decorrente da Revoluo Russa de 1917, traz em seu bojo, as diretrizes educacionais desta nao, da mesma forma que a Constituio Alem de Weimar, surgida nesta mesma poca, prescreve que ambos os ensinos primrio e profissional sejam gratuitos, admite o ensino religioso facultativo e torna livre o ensino, iniciativa privada (arts. 142 a 150). A presena da educao como um direito, na Constituio Alem, resultado dos processos sociais desencadeados pelos segmentos dos trabalhadores, ao constatarem ser este, um meio de participao na vida econmica, social e poltica de seu pas. Seja por razes polticas, seja por razes ligadas ao indivduo, a educao era vista como um canal de acesso aos bens sociais e luta poltica e como tal, um caminho tambm de emancipao do indivduo frente ignorncia. Esse ideal, constituiu-se tambm como bandeira de luta de segmentos liberais e democrticos, tendo em vista as possibilidades de mobilidade social e de integrao na ordem social. No que se refere Constituio Americana, no se verifica nesta quaisquer palavras acerca da educao ou sobre o ensino, no constituindo tal fato, impedimento quanto interferncia do Estado no sistema educacional, atravs da interpretao constante da Suprema Corte do texto do sculo XVIII e suas emendas, tendo sido freqentes os controles constitucionais resultando em aes decisivas, quanto ao direito educao. Ao contrrio da Constituio Magna Americana, as constituies estaduais norte-americanas, dispem de forma clara e precisa sobre educao. Constituem-se como principais fontes de apoio federal educao, a Declarao de Direitos (Bill of Rights), que compe as dez primeiras emendas e a dcima quarta emenda, relacionadas com a problemtica educacional, ao lado da importante clusula sobre o bem-estar geral (general Welfare), constante no s no prembulo como no corpo da Constituio. Valendo-se de interpretaes sobre a clusula do bem-estar, a Suprema Corte tem conseguido exercer os amplos poderes dos quais dispe, sendo o mais importante deles, a construo permanente de uma jurisprudncia prpria, constantemente atualizada, razo pela qual, os Estados Unidos possuem at hoje uma nica Constituio, apesar de acrescida de emendas, mediante necessidades surgidas.
No s na rea educacional, como nas demais reas, a posio determinada dos magistrados da Suprema Corte, respaldados pelo Sistema do common law, tm estabelecido julgamentos seguros, baseados em julgamentos precedentes, os quais detm a fora de lei. No caso da educao por exemplo, apesar da ausncia desta na Constituio Americana, importantes decises tm sido levadas a efeito, especialmente nos assuntos pertinentes segregao racial, Igreja e Estado, liberdade acadmica, controle sobre a expresso de idias, sobre docentes e discentes, igualdade de oportunidades e educao compulsria. De acordo com Morris6 a garantia dos direitos educacionais encontra forte respaldo, no exerccio dos direitos e garantias individuais (due process of law), representando, para este, uma relao primeira e fundamental entre Direito e Educao. O Direito Educacional, manifesta-se por meio de vrias fontes, que por sua vez, representam as respostas s necessidades sociais. So consideradas fontes de expresso do Direito Educacional: as leis, a jurisprudncia incluindo a administrativa, oriunda do poder normativo dos Conselhos de Educao, usos e costumes jurdicos, doutrina, princpios gerais de direito e a fonte negocial e os contratos. Estudando-se a evoluo do Direito Educacional, na tica da realidade brasileira, constatamos que, a Constituio Federal de 1988, dado o impulso conferido aos direitos nesta rea, intensificou a etapa evolutiva da Legislao do Ensino para o Direito Educacional, admitindo a existncia de uma legislao dispersa e assistemtica, no interior do ordenamento jurdico. Estamos diante no s de um problema terminolgico, mas de uma nova fase no que se refere ao Direito Educacional em nosso pas, na qual se encontram evidenciadas as limitaes da abordagem da educao, na modernidade, apenas levando-se em conta a legislao, a qual no alcana toda a problemtica jurdica. O Direito Educacional tem crescido em nosso pas, tendo em vista o contexto atual com seus problemas e exigncias especficas, ao mesmo tempo em que tem se aperfeioado cada vez mais com as contribuies da doutrina e da jurisprudncia. Acreditamos que, o trato jurdico das questes educacionais caminha na mesma direo dada ao Direito do Trabalho, cujas normas legais correspondentes ao trabalho, tinham denominaes variadas tais como, Legislao Industrial, Legislao Social, Legislao Trabalhista, Legislao do Trabalho, constituindo apenas um conjunto emprico de disposies legais e regulamentares, integrantes dos Cdigos e Leis Civis e Comerciais, despossudos de autonomia em relao aos
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MORRIS, Arval A. The Constitucion and American Education. St. Paul (Mim), West Publishing, 1974. A obra discorre sobre a Constituio Americana e a educao neste pas, com nfase nos controles constitucionais.
demais ramos do Direito, longe portanto de se constiturem em um sistema orgnico, com unidade doutrinria e princpios prprios. Boaventura7 sintetiza esse pensamento ao afirmar a impossibilidade de se tratar das questes educacionais somente dentro dos limites de sua legislao especfica: ...ao contrrio, devem ser tratadas a luz das diretrizes que lastreiam a educao e os princpios que informam todo o ordenamento jurdico. Tanto no caso das relaes de trabalho como nos relacionamentos da educao, a legislao seria apenas um corpo sem alma no dizer de Sussekind, uma coleo de leis esparsas e no um sistema jurdico dotado de unidade doutrinria e precisos objetivos, o que contraria uma inquestionvel realidade. 2.2 O DIREITO EDUCAO NO BRASIL
O histrico da correlao entre educao e legislao no Brasil, nem sempre percorreu caminhos fceis e coerentes. O estudo das diferentes constituies nacionais e legislaes educacionais especficas revela alguns avanos, em especial aqueles contidos nas Constituies de 1934 e mais recentemente na Constituio de 1988, ao lado de retrocessos e contradies, os quais, sem dvida alguma, dificultaram e retardaram a conquista, pelo povo brasileiro, de uma educao mais justa e igualitria. Sendo o Brasil um pas federativo, encontram-se acrescidas ao histrico do direito educacional, as diretrizes emanadas das constituies estaduais e leis orgnicas dos municpios, alm de, em escala maior, as declaraes e pactos internacionais com relao a direitos e garantias de direitos, tais como o Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (1966, ONU), a Declarao dos Direitos Humanos (1948, ONU), a Conveno sobre os Direitos da Criana (1989), a Conferncia Internacional sobre o Trabalho Infantil (1997, Oslo, Noruega), a Declarao acordada na Conferncia Mundial sobre Educao para Todos (1990, Jomtien, Tailndia) a qual originou o Plano Decenal de Educao para Todos, o Encontro Mundial de Cpula pela Criana (1990) e tantos outros. O fato de ter nascido colnia e portanto no dispor de soberania nacional de 1500 at 1822, alm de ter passado por um processo de independncia relativa e incompleta, limitada por determinantes internos e externos, contribuiu, de forma significativa, para o surgimento tardio, dos direitos civis e polticos, os quais,
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BOAVENTURA, Edivaldo M. Um ensaio de Sistematizao do Direito Educacional, In Revista de Informao Legislativa. Braslia: Senado Federal. 1996, julho a setembro, Ano 33, n131, p.46.
mesmo aps proclamados, permaneceram atrelados a uma prtica de discriminao e privilgios, impedindo o acesso da massa do povo brasileiro, (remanescentes do regime escravocrata, negros, ndios, caboclos e migrantes) aos direitos polticos, retardando desta forma o surgimento dos direitos sociais, os quais datam do incio do sculo XX. Dentre estes se encontra o direito educacional, o qual aparece pela primeira vez, na Constituio Imperial de 1824, atravs de um nico artigo sobre a gratuidade da educao escolar, cujo acesso era exclusivo queles considerados cidados. A idia de educao como algo dispensvel, estaria muito atrelada a cultura da oralidade, caracterstica do Brasil colnia. Descoberto e colonizado por uma nao contra-reformista, aqui, no fariam falta o ler e escrever, condio sine qua non para o entendimento da Escritura e o estabelecimento de lutas e discusses, bastando portanto o controle principalmente de ndios e negros, pela palavra e pregao. Somam-se a este, fatores como a condio do pas essencialmente agrrio, a forma de explorao agrria, ao lado da grande extenso territorial, dificultando os contatos e a troca de informaes. Como forma de regular este artigo sobre gratuidade, surge a primeira lei nacional imperial em 1827, discorrendo sobre o ensino das primeiras letras, as quais, s tiveram acesso, as famlias abastadas, utilizando-se os espaos dos seus prprios lares e no o escolar, tendncia esta comum, durante um bom perodo da vida nacional, mesmo com a obrigatoriedade da educao escolar, fixada pela Constituio de 1934 e cujos resqucios se encontram at hoje, na prpria Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9.394/96, quando em seu artigo 24, II, c, admite, no que se refere a educao bsica, a possibilidade do aluno se inscrever em uma srie ou etapa especfica deste nvel de ensino, independentemente da escolarizao anterior, desde que, aps avaliao feita pela escola, esta defina o grau de desenvolvimento e experincia em que o aluno se encontra e que seja regulamentado pelo respectivo sistema de ensino. A descentralizao da educao aparece pela primeira vez no Ato Adicional de 1834, o qual transfere para as provncias (sem recursos e incapazes de gerar sua vida prpria) a obrigao de ensinar as primeiras letras, evidenciando, nitidamente, o pouco caso conferido educao pblica escolar pelo poder dominante, ao contrrio, do ensino superior, preocupao maior do poder central, tendo em vista que este era privilgio das elites, tendncia esta que se repetiria mais tarde na legislao subseqente, consistindo hoje um dos fundamentos das diretrizes educacionais atuais, ao atribuir aos municpios, prioritariamente, a fatia maior da educao bsica (educao infantil e ensino fundamental), ao Estado o Ensino Mdio, e a Unio a responsabilidade maior pelo Ensino Superior. Da mesma forma, a gratuidade do ensino, apesar de ter sido preocupao do perodo imperial, no se constituiu de fato, em garantia para a grande maioria da populao brasileira. A Constituio Republicana de
1891, por exemplo, nada garantia, ao contrrio, repassava s constituies dos Estados a tarefa de conced-la. Percebe-se, nesta poca, uma relao estreita entre direitos civis e direitos polticos na medida em que, o exerccio do voto se encontra atrelado alfabetizao, modificando-se este quadro apenas com a Constituio de 1988, com a extenso facultativa do voto aos analfabetos. A partir de 1981, enquanto uma grande parte dos estados brasileiros assumiu a gratuidade do ensino, um contingente significativo destes repassou para os municpios, pobres em arrecadao de impostos, a tarefa de garant-lo. O resultado deste jogo de empurra, caracterstica que se tornou uma espcie de marca registrada da educao brasileira, o fato de que, o Brasil, j nesta poca, diferenciava-se dos pases vizinhos de lngua espanhola, pelos seus ndices alarmantes de analfabetos e escassez de estabelecimentos de ensino. Encontram-se em plena expanso, neste perodo, os pensamentos defendidos por grupos antagnicos quanto a questo da responsabilidade educacional, a qual, para alguns, mediante a situao de ignorncia que assolava o pas, cabia ao Estado uma interveno mais direta e agressiva, que resultasse em mudanas radicais enquanto o outro grupo, defendia uma interveno mais discreta e maior autonomia estatal, para a tomada de decises. Percebe-se ntido, na Constituio de 1934, desta vez em captulo exclusivo sobre educao e cultura, o pensamento do primeiro grupo favorvel a uma maior interveno estatal sobre o social, objetivando com isso diminuir as desigualdades sociais e evitar possveis conflitos, ao incumbir a Unio, em seu artigo 5, XIV, de traar as diretrizes da educao nacional, alm de enfatizar a educao como direito do cidado, reconhecendo, por exemplo, o direito do acesso do adulto escolarizao e o dever do Estado de prov-lo, alm de tecer referncias ao Plano Nacional de Educao e ao Conselho Nacional de Educao. Cria-se pela primeira vez, uma vinculao constitucional de recursos exclusivos para a Educao, na qual cabia Unio, Estados e Municpios a aplicao, respectivamente de no menos que 10% e 20% dos impostos recolhidos, em educao escolar. As Constituies proclamadas de 1934, 1946 e 1988 mantm e reforam essa vinculao sendo que nas Constituies outorgadas de 1937 e 1967 este item se encontra ausente. A Constituio de 1969, por sua vez, determina-o somente para os municpios. Em mbito estadual as Constituies seguem a mesma tendncia da Constituio de 1934, de atrelar a gratuidade e obrigatoriedade oferta de ensino para os quatro primeiros anos do ensino pblico (primrio), sendo que, em alguns Estados, mesmo com a ausncia deste item na Constituio de 1824, a gratuidade se encontra presente, no texto legal. Em 1967, a Constituio Federal no s mantm como estende a gratuidade de quatro
para oito anos, entretanto recua de forma impressionante, quando retira a vinculao constitucional de recursos, garantida na Constituio anterior, alegando a necessidade de maior flexibilidade oramentria. A ampliao da gratuidade seguida da desvinculao oramentria fomenta o incio de problemas que se tornariam crnicos e que perduram at hoje: a desvalorizao do Magistrio ocasionada pelo rebaixamento de salrios, pelo subemprego e pela abertura das portas da escola, a uma parcela da populao que a esta no tinha acesso antes, sem os devidos preparos necessrios, principalmente em termos de capacitao do corpo docente para receb-la, ao lado da ausncia de ajustes e adaptaes imprescindveis nos programas e currculos escolares. Responsvel agora, por uma populao imensa a ser escolarizada, espalhada por regies distantes e de difcil acesso, integrante de um pas em franco processo de urbanizao e industrializao, o governo no tem outra sada seno rebaixar o salrio dos professores, reduzir concursos e contratar novos profissionais do Magistrio de forma precria e injusta, surgindo desta forma uma nova classe de docentes: os monitores e em seguida os conhecidos professores de designao temporria, os quais, at os dias atuais, em muitos estados constituem o sustentculo do sistema educacional vigente, devido ao expressivo quantitativo que representam, e aos diversos turnos de trabalho que assumem na rede escolar. A abertura poltica e o surgimento de movimentos e grupos sindicais impulsionados pela vontade popular de dar um basta ao autoritarismo vigente, conduz o pas a busca e construo de um Estado Democrtico de Direito, cujos reflexos culminam na elaborao da Constituio de 1988, na qual a educao est posta com destaque, ocupando um captulo da mesma, alm de ser reconhecida como direito pblico subjetivo, atrelando assim de um lado a garantia do cumprimento do direito individual educao e de outro, o acesso da populao aos mecanismos jurdicos existentes, como forma, de fazer com que o Estado cumpra com o seu dever, se necessrio for. A obrigatoriedade mantida para o ensino fundamental, gozando dos mesmos direitos os jovens e adultos os quais a este no tiveram acesso na idade apropriada. A educao considerada bsica (compreendendo at ento o ensino fundamental obrigatrio de 7 a 14 anos) torna-se mais abrangente, incluindo alm do ensino fundamental, a educao infantil, o ensino mdio e a educao de jovens e adultos. Apesar do avano constatado, repete-se, s que de forma diferente, a j conhecida distncia entre os direitos educacionais proclamados e as condies reais de atend-los: todos os trs nveis de ensino, educao infantil, ensino mdio e educao de jovens e adultos, no dispem de uma fonte prpria e clara de financiamento, na medida em que o Fundo de Manuteno do Ensino Fundamental (Fundef), aplica-se somente a este nvel de ensino.
Quanto gratuidade, esta se encontra presente em todo o ensino pblico, em qualquer dos seus nveis desde a educao infantil at o ensino superior, fato este, que no altera muito, uma outra tendncia conhecida e antiga da legislao educacional: a dificuldade por parte da grande maioria de nossos jovens e da populao brasileira de modo geral, de atingimento das etapas superiores, porm gratuitas do ensino. Sem dvida alguma, coube ao Ensino Mdio ser contemplado com uma das mudanas mais significativas da nova LDB, passando a ter carter geral e funo formativa, cuja oferta constitui-se em responsabilidade prioritria do Estado. Voltado muitas vezes para objetivos bem diferentes, seja enquanto etapa preparatria para o acesso ao ensino superior, seja como em perodo de formao profissionalizante, ou buscando representar a juno de ambos, numa tentativa de mascarar a funo propedutica de preparo dos filhos das classes abastadas para a universidade, o ensino mdio, atravs da LDB 9.394/96 mantm a possibilidade do jovem escolher seguir um desses caminhos, entretanto, mesmo prevendo a possibilidade de integrao entre ambos, o decreto n 2.208/97 prescreve a articulao (e no a integrao) do nvel tcnico da educao profissional ao ensino mdio, de modo concomitante ou seqencial ao ensino mdio geral. De acordo com Cury8, o problema que aqui se pe mais fundo do que o da integrao ou articulao. Essa ltima questo pode ser resolvida administrativamente, j que a durao agora exigida para a obteno de uma habilitao, em muitas reas profissionais, menor do que a durao sob a Lei n 5.692/71. O problema maior que doravante os estados se responsabilizam pelo ensino mdio, geral e formativo. Logo o ensino mdio, tem um responsvel explcito e, de alguma forma, h recursos identificados ainda que abaixo da necessidade. A separao entre ensino mdio e profissional, proibida a integrao, deixou o ensino profissional sem um sujeito responsvel claramente definido. Sob a Lei n 5.692/71, bem ou mal, os poderes pblicos eram os responsveis. E mais, se esse sujeito fosse o poder pblico, dado o princpio da gratuidade, ele deveria se responsabilizar por essas modalidades de ensino. Ter sido uma exonerao do Estado, numa rea onde ele sempre foi presente, ainda que sob formas equivocadas? Prosseguindo em seus comentrios a respeito das questes polmicas que sempre estiveram presentes, quando se trata deste nvel de ensino, o referido autor, atravs da correlao histrica entre o passado e o presente complementa que: (...) integrado ou articulado, o ensino profissionalizante j foi considerado algo no cabvel para as elites. Seria prprio para as massas a serem conduzidas pelas elites. o que est posto na Constituio outorgada de 1937. Ela formalizava uma duplicidade de redes e de destinatrios em
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CURY, Carlos Roberto Jamil et alli. Medo liberdade e compromisso democrtico. So Paulo: Editora do Brasil, 1997.
que uma conduzia ao ensino superior e a outra a postos de trabalho. A quebra dessa duplicidade entre ensino mdio e ensino profissional, j proposta no famoso Manifesto dos Pioneiros de 1932, consolidou-se com a Lei de Diretrizes e Bases 4.024/61 por meio da equivalncia entre ambas as modalidades, inclusive para efeito de prosseguimento de estudos. Produto de uma longa batalha, a equivalncia foi uma vitria formalizada em lei. Os defensores da dignidade e igualdade do ensino profissional, ao menos na lei, superaram a velha e preconceituosa discriminao contra essa modalidade de educao. Por outro lado, uma viso equivocada da funo profissionalizante do ensino mdio conduziria Lei n 5.692/71, que tornou a profissionalizao universal e compulsria no ento denominado ensino de 2 Grau. Em 1982, uma correo de rumo: a Lei n 7.044 d um carter opcional para a profissionalizao. 9 Concluindo o seu pensamento a respeito da antiga polmica que envolve ambas as vertentes do ensino mdio (profissionalizante e no-profissionalizante) luz do decreto n 2.208/97 que trata da educao profissional, acrescenta que: Sob o decreto n 2.208/97, o ensino mdio torna-se condio de possibilidade para todos os que quiserem se habilitar em nvel mdio em uma rea profissional. O ensino mdio, co-requisito da profissionalizao e pr-requisito da educao profissional no , em si mesmo, um retrocesso. Retrocesso o ensino mdio ainda continuar restrito; no ser, afinal, obrigatrio; e o que deveria ser titular da educao profissional, nvel tcnico, ficar no banco de reservas.10 Inmeras outras questes postas na nova LDB, dotadas de igual importncia que aquelas at ento discorridas tais como o direito de acesso e permanncia, a educao de jovens e adultos, a relao pblico-privado na educao, a laicidade do ensino, a autonomia e gesto escolar, a organizao da educao nacional e as diferentes formas de atendimento, a descentralizao e municipalizao do ensino, a formao e valorizao dos profissionais do Magistrio, o financiamento da educao e o papel dos rgos de fiscalizao e acompanhamento, o direito diferena no que se refere s etnias, ao gnero, idade e portadores de necessidades especiais, trazem em seu bojo avanos e possibilidades de novas experincias, tendo em vista o carter flexvel implcito na nova LDB. Algumas delas encontram-se comentadas em partes posteriores deste documento. O essencial que a educao no deixe de ser reconhecida como um servio pblico, e que a educao bsica se torne, de fato, um direito pblico subjetivo.
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2.3
A educao brasileira, na dcada de 90, apresenta avanos na rea educacional, justificados pela ao governamental no campo das polticas pblicas, voltadas principalmente para a melhoria das condies de oferta e acesso ao ensino pblico, ao lado da implementao de um novo corpo legal comprometido com a defesa e garantia dos direitos humanos. Constituram-se, sem dvida alguma, marcos decisivos na busca de novos caminhos e implementao de novas aes, os encontros e pactos internacionais acerca da situao mundial de atendimento a criana e ao jovem, tendo como destaque a Conferncia Mundial de Educao para Todos, realizada em Jomtien, Tailndia, em 1990, cujo foco principal recaiu sobre a necessidade de uma educao universal de qualidade, especialmente, nos pases pobres e em desenvolvimento, com nfase nas seguintes metas: Ampliao dos cuidados criana e promoo do seu desenvolvimento; Acesso universal escola at o ano 2000, e concluso da educao primria; Aprimoramento das realizaes no campo da aprendizagem; Reduo de 1990 a 2000, em 50% das taxas de analfabetismo de adultos, com nfase na alfabetizao de mulheres; Ampliao da educao bsica e da qualificao para jovens e adultos; Aprimoramento da difuso dos conhecimentos, procedimentos e atitudes.11 Como resultado, assim como os demais pases participantes, o Brasil produziu e implementou o documento Plano Decenal de Educao para Todos, o qual originou os planos estaduais e municipais, descentralizando e disseminando desta forma, as metas acima propostas e influenciando as polticas pblicas para a dcada de 90, assim como, para o perodo atual, atravs do Plano Nacional de Educao (PNE), aprovado e em execuo a partir de 2001. Os resultados dos dez primeiros anos aps a Conferncia de Jomtien, esto descritos em relatrio12 especfico, o qual traz os avanos conseguidos e os desafios a serem vencidos.
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UNICEF. Situao Mundial da Infncia 1999. Educao. Braslia: UNICEF, 1999. p.15. O EFA-9 Relatrio brasileiro destaca avanos na educao, bem como os documentos denominados Informa Nacional Brasil EFA 2000 Educao para todos Avaliao do
Dentre os avanos destacam-se: o reordenamento legal e institucional; o crescimento das taxas de escolarizao; a reduo dos ndices de analfabetismo; a rpida expanso dos ensinos mdio e superior; a elaborao de diretrizes e parmetros curriculares; a ascenso educacional das mulheres; o fortalecimento do Terceiro Setor; a implantao de um moderno sistema de informaes.
Entende-se por reordenamento legal e institucional da educao, a Constituio Federal/88, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB 9.394/96, a Emenda Constitucional n 14, a criao do FUNDEF - (Lei n 9.424/96) e o ECA - Estatuto da Criana e do Adolescente - (Lei n 8.069/90). O crescimento das taxas de escolarizao, de acordo com dados do MEC/INEP, reflete-se principalmente no atendimento da populao em idade de escolarizao obrigatria (7 a 14 anos), atingindo o percentual de 96,2%. Entretanto h de se considerar que o Censo Escolar levado a efeito anualmente a fim de viabilizar os recursos do FUNDEF aos Estados e Municpios, inclui somente os alunos matriculados nas escolas pblicas, e que a Chamada Escolar, que deveria ocorrer, anualmente, como exerccio rotineiro da escola como o a matrcula, (nica forma do poder pblico saber quantos de verdade se encontram fora da escola, garantindo-lhes o direito subjetivo educao conforme prescrito na legislao vigente), raramente ou nunca ocorre da forma correta e ideal como deveria. Existem alguns exemplos de Chamada Escolar que efetivamente tm todas as caractersticas de um verdadeiro Censo, tais como tempo suficiente, recursos necessrios, estratgias de mobilizao de massa populacional, envolvimento real de toda a comunidade inserida, garantia de vagas prximas s residncias, etc. Entretanto, em nosso pas, estes casos so raros. O que se percebe so atos pblicos, semana dedicada ao tema, recortes na mdia, mais com a inteno de propaganda poltica, os quais no tm a capacidade de envolvimento e comprometimento do contexto no qual se encontram inseridos os mais necessitados e que, por razes como esta, nunca
Ano 2000 e Desempenho do Sistema Educacional Brasileiro: 1994 1999, esto disponveis no site do INEP: www.inep.gov.br/noticias/news
conseguem ter assento nos bancos escolares. No podemos tambm deixar de considerar que de acordo com as estatsticas governamentais, os 4% da populao de 7 a 14 anos que ainda esto fora da escola, equivalem a um milho de crianas aproximadamente! Observando-se os ndices de crescimento da matrcula, verifica-se que, em todos os nveis de ensino, este crescimento foi positivo, com exceo da educao infantil, que apresenta nvel elevado apenas na rede privada, o qual foi apenas de 3%! Dentre os fatores possveis explicativos, encontra-se sem dvida, a ausncia de uma fonte especfica de financiamento, somada ao fato de que, mesmo os parcos recursos de que ainda dispe, em alguns Estados e Municpios, tm sido utilizados no ensino fundamental, como forma de suprir necessidades emergentes, apesar de ambos fazerem parte da educao bsica. Alcanar avanos na regularizao do fluxo escolar implica em reviso da poltica de financiamento da educao infantil, sendo que, o mesmo se aplica educao de jovens e adultos (EJA), cujos ndices de analfabetismo ainda so bastante significativos principalmente se comparados aos pases em situao equivalente ao Brasil. Em se tratando dos demais nveis de ensino, o crescimento de matrcula foi positivo registrando-se um aumento maior na rede pblica, com exceo do ensino superior, cujo crescimento maior ocorreu na rede particular. No ensino fundamental, registrou-se crescimento maior na rede pblica, motivo, gerado pela existncia de um financiamento prprio (FUNDEF), registrando-se o mesmo no Ensino Mdio (cujo crescimento foi menor, mas significativo), reflexo da poltica de universalizao do ensino fundamental, cujos egressos comeam a exigir acesso a um novo patamar de estudos. Entretanto a taxa de escolarizao lquida de 15 a 17 anos ainda apresenta-se muito baixa, dando a perceber que, para a maioria de nossa populao, o ensino fundamental representa ainda a terminalidade possvel de estudos. Percebe-se uma reduo no ndice de analfabetismo em todas as faixas etrias, com incremento maior entre os mais jovens, reflexo da poltica de atendimento prioritrio faixa de 7 a 14 anos, aps a qual constatam-se poucos ganhos obtidos, configurando uma tendncia histrica, reflexo de polticas que vm sendo adotadas neste nvel de ensino desde o Brasil colnia. Importante se faz esclarecer, a terminologia analfabeto funcional amplamente utilizada na produo literria da rea educacional, a qual se aplica aos segmentos da populao com menos de quatro anos de escolaridade. Observa-se tambm nesta ltima dcada, uma certa reduo dos ndices de reprovao, evaso, abandono e distoro idade-srie. A reprovao est presente, em todas as sries do ensino fundamental, sendo sua presena mais expressiva na 1 e 5 sries respectivamente, explicvel pelo fato de marcarem o incio de etapas
especficas do ensino fundamental, e no caso, desta ltima, a entrada para muitos de nossos adolescentes no mercado de trabalho. H que se preocupar com as taxas de abandono, pois, temporrio ou no, este representa o reflexo de problemas sociais gravssimos como os movimentos migratrios das famlias de baixo poder aquisitivo, os perodos de plantio e colheita, a distncia do local de moradia do aluno escola na zona rural, agravada muitas vezes, pela ausncia de oferta ou oferta precria do meio de transporte, o trabalho infantil e outros, lembrando-se, em tempo, da existncia na LDB 9.394/96, art. 5, da recomendao quanto a participao dos pais e da escola na garantia da freqncia escolar, competncia tambm do poder pblico (Estado, Municpio e Unio) em articulao com as famlias. Conclui-se que, a preocupao atual nesta rea, deve ir alm da garantia de acesso, tendo como enfoque central a efetivao de medidas mais eficientes que assegurem a freqncia escolar regular. Dentre essas medidas, o Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo, atravs de seu Centro de Atendimento Infncia e Juventude (CAIJ) tem recomendado aos membros deste MP, a utilizao da FICHA DE ACOMPANHAMENTO DO ALUNO INFREQENTE (FICAI), num trabalho de parceria com a escola. O Promotor de Justia, poder tambm, utilizar o AVISO POR INFREQNCIA DE ALUNO (APOIA). Ambos se encontram neste volume, constituindo os ANEXOS B e C desta obra. De igual forma que o ensino fundamental, observam-se avanos no tocante a diminuio das mesmas taxas (reprovao, abandono evaso) no ensino mdio, apesar de ainda lutarmos com problemas crnicos que consistem em verdadeiros entraves os quais no permitem avanos mais significativos neste sentido, como por exemplo, a evaso registrada nos cursos noturnos, razo principal da dupla jornada estudo/trabalho. Da mesma forma, torna-se importante abrir espao neste trecho, para o registro da antiga questo relacionada distoro idade-srie, a qual, em ambos os nveis apresenta redues, apesar das taxas ainda permanecerem elevadas. Justifica-se desta forma, no s o empreendimento cada vez maior em aes que exterminam de vez este problema, como tambm, a necessidade de avaliao contnua dos novos programas e projetos voltados para a correo deste desvio, dentre estes os de acelerao da aprendizagem, a fim de que possam ser pontuados os ganhos obtidos e perdas ainda existentes, em direo a uma maior eficcia e eficincia, mediante principalmente os custos significativos que representam estes programas para o poder pblico. Algumas redes tm adotado aes mais rpidas e menos onerosas tais como a intensificao dos processos de recuperao final, inclusive com chances de recuperao em perodo de frias, a adoo da promoo automtica, a organizao do ensino em ciclos nas sries iniciais e outras as quais tm sido motivo de registros e alertas por partes de educadores, na medida em que, em sua maioria, no so acompanhadas de
critrios imprescindveis ao sucesso tais como, o preparo devido do corpo docente, refletindo em mudana efetiva na qualidade do ensino ministrado, tendo como produto uma promoo a qual, no corresponde, o alcance de um nvel mais elevado de aprendizagem. Os testes do SAEB Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica13, efetuados pelo INEP, indicam que ainda baixo o nvel de proficincia dos estudantes brasileiros, em relao ao nvel esperado para cada srie, principalmente nos contedos curriculares de Lngua Portuguesa, Matemtica e Cincias, nos ensinos fundamental e mdio. Os dados do SAEB tm tambm comprovado constataes de estudos da rea educacional, os quais demonstram que, quanto maior a distoro idade/srie dos alunos, pior o seu desempenho. Da mesma forma, os dados do SAEB tm apontado a grande heterogeneidade existente entre as classes sociais, comparando-se as mdias alcanadas pelos alunos dentro do mesmo Estado. Descobriu-se por exemplo que, os alunos das capitais saem-se melhor em termos de resultados obtidos, se comparados aos estudantes do interior; os alunos das escolas privadas em relao aos da rede pblica e aqueles cujos pais dispem de melhor nvel de escolaridade, daqueles cujos pais no os tem. Conclui-se portanto que apesar dos avanos alcanados na educao brasileira, estes no tem sido acompanhados de uma elevao do nvel de conhecimentos e habilidades cognitivas dos estudantes. Avanamos em quantidade porm carecemos de um ensino de melhor qualidade. A organizao e resultados de avaliaes de educacionais e a disponibilizao destes dados, nos sobremodo, a busca de novos rumos e a tomada polticas educacionais, as quais, tm como reflexo, apontadas. um sistema de informaes ltimos anos, tm auxiliado de decises em termos de as melhorias anteriormente
O Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB) e a Avaliao de Concluintes do Ensino Mdio Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), ambos efetuados pelo INEP, so aplicados nos ensinos fundamental e mdio respectivamente, em algumas sries e disciplinas especficas, no em sua totalidade. O SAEB uma das primeiras iniciativas no sentido de estabelecer parmetros nacionais de avaliao da educao bsica, iniciando-se em 1990/91 e repetindo-se de dois em dois anos.
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3.1
A finalidade deste texto consiste em clarificar para os membros do Ministrio Pblico, de forma sinttica, os aspectos principais que constituem a nova estrutura e funcionamento da educao brasileira, facilitando o entendimento do contexto educacional atual, e possibilitando aos Promotores e Procuradores de Justia, uma atuao mais eficaz neste sentido. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional em vigor (Lei Federal n 9.394/96) reconhece, em seu Ttulo I, a abrangncia no s do termo educao, bem como dos espaos nos quais esta pode e deve se processar, reconhecendo, entretanto a educao escolar como aquela desenvolvida, principalmente, atravs do ensino em instituies apropriadas, estreitamente relacionadas com o mundo do trabalho e com a prtica social, ou seja, com a famlia e os diversos movimentos e organizaes de sociedade, conferindo ao ensino uma caracterstica terico-prtica. Em seu Ttulo II, a LDB dispe sobre os seus fins e princpios subjacentes, os quais constituem os mesmos dispostos na Constituio Federal, acrescidos de dois princpios que dizem respeito aos cidados que no tiveram acesso escola, na idade prpria, ou seja, a valorizao da experincia extraescolar e a vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as prticas sociais (art. 3, XI). Chama a ateno, neste caso, para a necessidade de integrao entre as instituies de ensino e as organizaes do mundo do trabalho no s em termos de aberturas curriculares e organizacionais, como tambm abertura de natureza pedaggica, no que se refere avaliao de aprendizagem, atravs do aproveitamento de conhecimentos e experincias adquiridas, mediante regulamentos propostos pelo sistema de ensino.
Da mesma forma, ainda de acordo com o art. 3, constituem princpios legais, sob os quais a educao nacional, dever estar alicerada, todos eles convergindo para a garantia de uma escola de qualidade:
I igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola; II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III pluralismo de idias e de concepes pedaggicas; IV respeito liberdade e apreo tolerncia; V coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino; VI gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais; VII valorizao do profissional da educao escolar; VIII gesto democrtica do ensino pblico.
A valorizao do Magistrio constitui-se em importante princpio constitucional e legal, conferindo-lhe a LDB todo o Ttulo VI, o qual versa no s sobre os profissionais da educao que atuam em sala de aula (docentes), mas igualmente a todos os demais que oferecem suporte pedaggico direto, nas atividades de direo ou administrao escolar, planejamento, inspeo, superviso e orientao educacional (CNE/CEB, Resoluo n 03/97, art. 2). Selecionamos abaixo alguns destaques das exigncias legalmente estabelecidas nesta matria, retirados da obra Pela Justia na Educao do FUNDESCOLA/MEC/2002, s pgs. 340 e 341, a qual fazem parte do Movimento pela Justia na Educao, uma iniciativa do MEC e ABMP em conjunto com outros parceiros estratgicos, a fim de auxiliar aos operadores da Justia, na fundamentao de suas atuaes nesta matria: A partir da regulamentao do FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (Lei n 9.424/96, art. 9), os Estados, Distrito Federal e Municpios devem dispor de novo Plano de Carreira e Remunerao do Magistrio, de acordo com diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional de Educao (CNE/CEB, Resoluo n 03/97). Ressalva-se, no entanto, que est em efeito uma liminar em ao direta de inscontitucionalidade, suspendendo a vigncia de dispositivos que estabeleciam os prazos para essa exigncia, mas conservando a exigibilidade desses planos. A formao inicial ou titulao prevista para todos os docentes da educao bsica a de nvel superior, em curso de licenciatura de graduao plena. O nvel mdio, na modalidade normal, ou seja, o antigo curso de magistrio em segundo grau, admitido para a docncia na educao infantil e nas quatro primeiras sries do
ensino fundamental, apenas at 2007 (LDB, art. 62 e 87, 4). No entanto, esta matria em que h divergentes interpretaes, fundadas nos interesses e avaliaes da possibilidade de atender a esses dispositivos, em distintas regies do pas, bem como em eventuais lapsos de redao do texto legal [Dutra, Abreu, Martins e Balzano, 2000, p. 53 e 54]. Os professores denominados leigos, ou seja, todo e qualquer docente que no possua titulao que o habilite especificamente para o nvel, atividade ou disciplina que esteja exercendo, devem integrar quadros de pessoal em extino na carreira do magistrio, pelo prazo de 5 anos (Lei n 9.424/96, art. 9). At o final do ano 2001, permitida a aplicao de parte dos recursos pblicos do FUNDEF previstos para remunerao dos profissionais da educao na habilitao de professores leigos (Lei n 9.429/96, art. 7, pargrafo nico). A educao continuada deve ser garantida nos estatutos e planos de carreira do magistrio pblico, inclusive com afastamento peridico remunerado (LDB, art. 67, II). O ingresso na carreira do magistrio pblico far-se- exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos (LDB, art. 67, I), a realizar-se, pelo menos, de 4 em 4 anos (CNE/CEB Resoluo n 03/97, art. 3, 2). A remunerao tem por base piso salarial profissional e progresso funcional que considere a titulao ou habilitao e a avaliao do desempenho (LDB, art. 67, III e IV). As atividades docentes de estudo, planejamento e avaliao, de acordo com a proposta pedaggica da escola, devem ter perodo reservado (horas-atividade), includo na carga de trabalho (LDB, art. 67, V e CNE/CEB, Resoluo n 03/97, art. 6, IV). O exerccio de quaisquer funes de magistrio que no a de docncia, como administrao, superviso ou orientao educacional, exige experincia docente mnima de 2 anos, adquirida em qualquer nvel ou sistema de ensino pblico ou privado (CNE/CEB, Resoluo. n 03/97). Os benefcios funcionais do magistrio, no que se refere a licenas e faltas, so apenas os previstos na Constituio Federal, tendo em vista coibirem-se afastamentos da escola e das atividades docentes. As despesas decorrentes da remunerao de profissionais da carreira do magistrio, legalmente cedidos a outras funes fora do sistema de ensino, devem ser realizadas sem nus para o sistema de origem (CNE/CEB, Resoluo. n 03/97). As prerrogativas de condies de trabalho, incentivos de progresso funcional por qualificao de trabalho docente e vantagens de remunerao so regulamentadas complementarmente na j citada Resoluo n 03/97, artigo 6.
No que se refere ao princpio da gesto democrtica do ensino, encontra-se evidente na LDB, a exigncia da participao e autonomia como diretrizes norteadoras da gesto democrtica do ensino, tendo como determinaes principais: A participao dos profissionais da educao na elaborao da proposta pedaggica da escola; A participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (LDB, art. 14, I e II); A progressiva autonomia pedaggica, administrativa e de gesto financeira das unidades escolares pblicas de educao bsica (LDB, art.15); A participao dos alunos e seu pais na gesto educacional, garantindo o acompanhamento e interveno nas definies sobre a proposta e a conduo pedaggica e na avaliao da aprendizagem, bem como, a organizao e participao dos alunos em entidades estudantis (ECA/ Lei n 8.069/90, art. 53); A regulamentao por parte dos sistemas de ensino, do princpio da gesto democrtica no nvel da educao bsica, estabelecendo desta forma, a necessidade e importncia de criao e atuao dos Conselhos em mbito Nacional, Estadual e Municipal de Educao, em cuja composio devero estar representados os diferentes segmentos educacionais e sociais. Alm do ordenamento legal da educao e de proteo criana e ao adolescente, os operadores da justia, podero utilizar na sua ao fiscalizadora, os instrumentos de ordenamento institucional dos rgos e estabelecimentos de ensino. A leitura e anlise do mesmo, permitir que se extraia a concluso de que este princpio legal est ou no presente nas aes de planejamento, como tambm no efetivo exerccio da prxis pedaggica. So eles: Os decretos e instrues dos Poderes Executivos, os Planos Estaduais e Municipais de Educao; Os regimentos e as resolues e pareceres dos conselhos normativos dos sistemas; Os regimentos, planos, propostas pedaggicas, calendrios das escolas; Os oramentos pblicos, os planos de aplicao de recursos dos sistemas e seus rgos e das escolas, os balanos e os balancetes;
As atas, relatrios e avaliaes dos sistemas e das unidades escolares e de seus rgos, como o Conselho de Escola; As estatsticas e outros registros da vida escolar e do rendimento dos alunos.
A Gesto Democrtica do Ensino ocupa uma parte deste Captulo 3, mais adiante, tendo sido dado destaque a mesma, devido importncia do conhecimento e fiscalizao, por parte do Ministrio Pblico, dos rgos de acompanhamento, controle e gesto da educao pblica.
3.2
A educao escolar, de acordo com a nova LDB, confirmada pela Carta Magna de 88, mantm algumas questes de ordem estrutural e organizacionais, dispostas na anterior Lei n 5.692/71, introduzindo mudanas no que se refere, principalmente a conduo das polticas pblicas nesta rea. De forma sinttica encontram-se abaixo dispostos os alicerces bsicos, estruturadores do sistema educacional brasileiro. A educao escolar se encontra representada por dois grandes nveis a Educao Bsica e a Superior compondo-se, a primeira, de trs etapas: Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio. Integram igualmente a organizao da educao nacional, as modalidades de ensino a seguir: Educao de Jovens e Adultos, Educao Distncia e Tecnologias Educacionais, Educao Tecnolgica e Formao Profissional, Educao Especial, Educao Indgena. O reconhecimento da educao infantil, inclusive a creche, como etapa da educao bsica, representa um dos grandes avanos da nova lei, apesar deste avano vir acompanhado da no existncia de recursos especficos para que seja, efetivamente oferecida. Compreendendo a faixa etria de 0 a 6 anos (LDB art. 29), a educao infantil, apesar de constituir-se em obrigao do poder pblico, no que se refere garantia do atendimento em creches e pr-escolas, no se constitui em etapa de escolarizao obrigatria. De acordo com a legislao vigente, expirou em dezembro de 1999, o prazo dado para a integrao ao respectivo sistema de ensino, das creches e pr-escolas existentes ou criadas aps a nova LDB. A etapa de escolarizao obrigatria (LDB, arts. 6 e 32) compreende o ensino fundamental de 7 a 14 anos, com a durao mnima de 8
anos, cabendo aos pais e responsveis o dever de efetuar a matrcula (LDB, art. 6; ECA, arts 2, 55 e 129); A oferta universal e gratuita de ensino fundamental assegurada a todos aqueles que a este no tiveram acesso na idade prpria (CF, art. 208, I; LDB, art. 4, I); facultado o ingresso ao ensino fundamental, das crianas com 6 anos completos (LDB, art. 87, 3, I); Dever o ensino fundamental ser presencial, sendo permitida a utilizao do ensino distncia apenas a ttulo de complementao ou em situaes especiais (LDB, art. 34, 4); O Ensino Mdio, compreendendo pelo menos trs anos de estudo, consiste em etapa conclusiva da educao bsica, objetivando por tanto a consolidao e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, assim como ao prosseguimento dos estudos. Apresenta como basilares principais o relacionamento da teoria com a prtica no mbito das disciplinas, aliado preparao bsica para o trabalho e para o exerccio da cidadania. Os dados de oferta e atendimento nos nveis de Ensino Fundamental e Mdio revelam insuficincias crnicas da realidade brasileira, tendo como resultado a matrcula de apenas 25% dos jovens de 15 a 17 anos no ensino mdio e um percentual de mais de 50% dos alunos atrasados em sua escolaridade, agravados pela grande evaso registrada no turno noturno. No que se refere ao tempo reservado ao ensino, determina a LDB n 9.394/96, para ambos os nveis acima referenciados, o quantitativo de 200 dias letivos e 800 horas de trabalho escolar, especficando para o ensino fundamental, o mnimo de 4 horas de trabalho pedaggico e a progressiva ampliao para o horrio de tempo integral. O Parecer n 05/97 do CNE/CEB, discorre sobre questes afetas qualidade do ensino tais como a reduo da hora de ensino-aprendizagem a 50 minutos ou menos como usualmente era feito, ou a contagem do tempo de recreio como perodo de trabalho escolar. H que se atentar para os direitos dos jovens e adultos os quais no tiveram acesso educao na idade certa, cujas garantias, tanto no texto constitucional como na nova Lei de Diretrizes e Bases, se assemelham as mesmas propostas para a idade de 7 a 14 anos, cuja oferta considerada no s gratuita, como obrigatria. (CF, art. 208 e LDB, art. 38). H que se preocupar tambm com a possibilidade de acesso educao profissional dos alunos matriculados ou egressos do ensino fundamental, mdio e superior e aos trabalhadores em geral, os quais, diante
da reforma do ensino mdio, desmembrando-o em educao de cunho geral, e educao profissionalizante, dispem agora de chances e facilidades de acesso ao mundo do trabalho, por meio da flexibilizao dos currculos e da diversificao dos cursos (LDB, arts. 36, 39 a 42 e decreto n 2.208, de 17 de abril de 1997, que os regulamenta). O Ensino Mdio, de acordo com a LDBN, considerado etapa final da educao bsica, com durao mnima de trs anos, cabendo ao Estado o seu oferecimento com prioridade estando prevista a sua progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade (art. 4, II; arts. 10 e 35). Da mesma forma que a Educao Infantil, apesar de compor a educao considerada bsica, no conta com uma fonte de recurso disponvel. Dentre as finalidades do Ensino Mdio, destacam-se o aprofundamento de conhecimento obtidos no ensino fundamental; a preparao para o mundo do trabalho e para a contnua adaptao as novas condies por este requisitadas; a compreenso dos fundamentos cientfico-tecnolgicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prtica; a habilitao para o prosseguimento de estudos (LDB art. 35). Atendida a formao geral do aluno, o Ensino Mdio poder prepar-lo para o exerccio de profisses tcnicas, sendo que a preparao geral para o trabalho e facultativamente, a habilitao profissional, podero ser desenvolvidas nos prprios estabelecimentos de Ensino Mdio ou em cooperao com instituies especializadas em educao profissional (LDB art. 36). Constituindo-se como parte da Educao Bsica, o Ensino Mdio representa hoje uma das grandes aspiraes de milhares de jovens brasileiros acrescida da necessidade, por parte do poder pblico de atend-lo, tendo em vista, as constantes mudanas e as novas exigncias do mercado de trabalho. Alm disso, o aumento da oferta em nvel do Ensino Fundamental, resultante dos investimentos empregados, acompanhado conseqentemente de um maior volume de alunos com esta etapa de ensino concluda, resultou na procura, cada vez mais crescente, por matrculas no Ensino Mdio, acrescida de outros fatores como o retorno escola dos jovens e adultos, mediante as novas exigncias do mundo globalizado em relao ao desempenho profissional, ao lado da evaso de alunos da rede privada para a rede pblica, ocasionada por questes de ordem econmica. Entretanto a grande demanda registrada no tem sido acompanhada de uma oferta equivalente. De acordo com dados do Censo Escolar 2000, o mnimo de matrculas no Ensino Mdio, no Brasil, neste ano, cresceu 5,4%, resultado bem abaixo do percentual de 11,5% de expanso, registrado em 1999, perfazendo um total,
aproximado de 7,5 milhes de alunos no pas. No que se refere ao Estado do Esprito Santo, os dados apontam para um crescimento de apenas 2,4% de 1999 para 2000, menor portanto da metade da mdia nacional. O MEC justifica esses nmeros, partindo do pressuposto de que o quantitativo de jovens e adultos matriculados no programa de educao de jovens e adultos para o ensino mdio, no foi adicionado, pelas Secretarias Estaduais de Educao aos alunos do ensino mdio regular, j que, aqueles com idade acima de 18 anos, foram transferidos para o ensino supletivo. De acordo com este mesmo Censo Escolar 2000, no que se refere a distribuio de matrcula por dependncia administrativa, a rede estadual respondia, neste ano, por 81% do nmero total de alunos, seguida da rede particular com 16%, da rede federal com 2% e da rede municipal com apenas 1%. A expanso nacional ocorreu com exclusividade nas redes pblicas estaduais, (7,9%), fato este j esperado, diante do prescrito na LDB com relao a atuao do Estado, de forma prioritria, neste nvel de ensino, ao contrrio da rede particular, a qual registrou uma queda de 4,2%. No Esprito Santo, a rede estadual registrou uma expanso das matrculas de 6,44%, seguida de uma reduo de 66,87% na rede municipal e de 4,65% na rede particular. Entretanto de nada adianta o crescimento da procura e da oferta de vagas para o Ensino Mdio, se no for acompanhado de idnticos resultados positivos, no que se refere a permanncia e sucesso escolar do alunado. De 173.968 alunos matriculados em nossa rede de ensino em 2000, 137.844 permaneceram at o final do ano letivo, apresentando um percentual de 5,14% de reprovao e 15,04% de abandono, perfazendo uma perda em torno de 20,18%. Dados recentes revelam que, na 1 srie, apenas 60% dos alunos so promovidos. Sabe-se tambm que, a realidade do turno noturno, em termos de evaso, ainda na metade do ano letivo, bastante preocupante, razo da grande afluncia de alunos trabalhadores. De acordo com estudos do MEC/INEP, 50,3% apresentam defasagem idade-srie, ou seja, encontram-se atrasados em relao a idade correta prevista para cursar o Ensino Mdio, sendo 56,5% da rede pblica e 17,6% da rede privada. A realidade de atendimento educacional a este nvel de ensino em nosso Estado, na zona rural, revela-se como de extrema excluso; de 167.222 matrculas efetuadas, 164.307 correspondem a zona urbana e somente 2.915 pertencem a zona rural. A carga horria do Ensino Mdio compreende um total de 2.400 horas, distribudas igualmente ao longo de trs anos, e de, no mnimo, 200 dias letivos anuais. Admite-se no noturno, o oferecimento do Ensino Mdio em quatro anos, com 600 horas por ano e ao longo de 200 dias letivos anuais, no mnimo.
As informaes fornecidas, colocam como questo central a necessidade premente no s da expanso das oportunidades de acesso ao Ensino Mdio, numa perspectiva de enfrentamento dos desafios do sculo XXI, mas principalmente da oferta de uma escola de qualidade, que garanta a permanncia e a concluso dos estudos iniciados, a observncia do princpio da eqidade na distribuio das vagas, estejam os alunos na cidade ou no campo, a garantia de um currculo contextualizado e interdisciplinar, adequado s demandas e expectativas da comunidade de acordo com as Diretrizes Curriculares para o Ensino Mdio e a progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade, de acordo com o que estabelece a LDBN, na medida em que, esta mesma lei, trata o Ensino Mdio, como etapa terminal da Educao Bsica. Confirmam tambm os dados, a necessidade de uma poltica emergente em relao a habilitao dos docentes em exerccio neste nvel de ensino, especialmente nas reas das Cincias, Matemtica e suas tecnologias. A Lei n 9.394/96, estabelece em seu art. 82 quanto a possibilidade dos sistemas de ensino definirem as normas para a realizao dos estgios dos alunos regularmente matriculados no Ensino Mdio ou Superior em sua jurisdio. De acordo com as concepes atuais norteadoras do Ensino Mdio, a teoria e a prtica devem caminhar juntas, desde o incio do curso, razo porque o Estgio dever iniciar j na 1 srie. O Estgio Curricular se encontra respaldado, em nvel federal, na seguinte legislao principal: Lei n 6.494/77; Decreto n 87.497/82 - regulamenta a lei anterior; Lei n 8.069/90 Estatuto da Criana e do Adolescente/ECA (arts. 3, 6, 62, 63, 67 e 69); LDB n 9.394/96 art. 82; Parecer n 15/98 CEB/CNE institui as Diretrizes Nacionais para o Ensino Mdio; Parecer n 16/99 CNE sobre Educao Profissional; Notificao recomendatria n 771/02 da Procuradoria-Geral do Ministrio Pblico do Trabalho.
Em nosso Estado, a Portaria n 064-R, de 05 de julho de 2002, publicada no D.O. de 08 de julho de 2002, estabelece normas que disciplinam o Estgio Curricular de Estudante do Ensino Mdio,
Educao Profissional de nvel mdio, Superior e Escolas de Educao Especial. No que se refere a Educao Profissional, com a promulgao da LDB n 9.394/96 (arts. 39 e 42), complementada a seguir pelo Decreto n 2.208 de 17 de abril de 1997, esta se desvincula da formao bsica, podendo ser oferecida concomitantemente ao Ensino Mdio ou de forma seqencial. Objetivando o contnuo desenvolvimento de aptides para a vida produtiva, tm direito ao acesso Educao Profissional, os alunos matriculados ou egressos do ensino fundamental, mdio e superior, assim como o trabalhador em geral, jovem ou adulto. Est estruturada em trs nveis: Nvel tecnolgico o qual requer o ensino mdio completo, tendo carga horria mnima de 800 horas e mxima de 1.200 horas. Nvel tcnico pode ser feito de forma paralela ou concomitante ao ensino mdio, apresentando carga horria mnima de 800 horas e mxima de 1.200 horas. Nvel bsico, tambm denominado livre ou de qualificao de natureza no formal, admite qualquer escolaridade, na medida em que objetiva a contnua formao de mo de obra qualificada. O currculo poder estar agrupado ou em mdulos, permitindo ao trabalhador o retorno escola para a complementao dos mdulos, assim como a certificao no que se refere a qualificao profissional alcanada. A carga horria varivel e depender do tipo de curso a ser oferecido.
Dados referentes ao Estado do Esprito Santo evidenciam um contigente expansivo de trabalhadores, jovens e adultos, necessitando de qualificao e requalificao profissionais para insero no mercado de trabalho. O Estudo efetuado pela Equipe de Educao Profissional da SEDU, em 1999, intitulado Cenrio de Mercado para subsidiar a elaborao do Plano de Educao Profissional/PEP, para o Estado do Esprito Santo, indica que, no que se refere ao treinamento operacional dos jovens e adultos em atuao no mercado de trabalho, apenas 26% tiveram essa oportunidade, em detrimento de 74%, os quais no costumam faz-lo. De acordo com a pesquisa, deste grupo, 30% completaram o Ensino Fundamental, 5% tm o Nvel Mdio, enquanto 65% deste contingente dispem apenas do Ensino Fundamental incompleto.
Levantamento a respeito da situao da oferta da Educao Profissional em nosso Estado, evidencia que esta tem sido efetuada por 9 (nove) Sistemas de Educao Profissional: Escolas Tcnicas Federais, Instituies Estaduais, Municipais e Particulares, o Plano Nacional de Qualificao do Trabalhador do Ministrio do Trabalho (PLANFOR) e as instituies que integram o Sistema S: Senai, Senac, Senar e Senat, os quais atuam isoladamente, tendo como resultado, em alguns destes sistemas, cursos repetitivos, ultrapassados, com currculos defasados, no habilitando os seus concludentes, as reais exigncias do mundo do trabalho. At o ano de 2000, o poder pblico oferecia cursos tcnicos e auxiliares, prescritos na LDB n 5.692/71 regulamentados pelo Parecer n 45/72 do CFE e demais dispositivos legais decorrentes, voltados em sua maioria para o comrcio, em detrimento das demais reas, desconsiderando a diversidade de ofertas e a adequao curricular s condies do mercado. Por meio do Programa de Expanso da Educao Profissional (PROEP), do MEC, a Secretaria Estadual de Educao do Estado do Esprito Santo, atravs do Convnio n 120/97, realizou o estudo diagnstico Cenrio de Mercado, ao qual nos referimos anteriormente, constatando como motivo principal da defasagem desses cursos, a velocidade das mudanas na economia e no trabalho em nosso Estado, razo porque optou-se por uma adequao curricular, no sentido de substituir os antigos currculos de educao profissional por currculos mais atualizados e sintonizados com as novas tendncias econmicas do Estado, sem entretanto deixar de oferecer apoio ao setor de servios tradicionais. Este e outros estudos subsidiaram a elaborao do Projeto de Educao Profissional (PEP), do Esprito Santo, atravs do qual foi estipulado o convnio 008/2000 assinado junto ao MEC, no sentido de viabilizar o cumprimento das metas estabelecidas na implantao do projeto, com investimentos, a fundo perdido, de R$ 389.110,00 (trezentos e oitenta e nove mil, cento e dez reais), possibilitando a instalao do rgo Gestor da Educao Profissional do Esprito Santo. O PEP financiado pelo Governo Federal, atravs do Programa de Expanso e Melhoria da Educao Profissional/PROEP, cujos recursos, na ordem de R$ 30.000.000,00 (trinta milhes de reais), vem sendo repassados ao Governo Estadual, a fundo perdido, para a implementao integral do Programa de Reformulao da Educao Profissional. CENTROS DE REFERNCIA DE EDUCAO PROFISSIONAL
A previso do PEP/ES a de que, at 2003, sejam criados 7 (sete) Centros de Referncia de Educao Profissional, em municpios localizados nas regies Sul, Noroeste e Metropolitana. Alm dos cursos tcnicos, h previso do oferecimento de cursos de qualificao profissional de acordo com a demanda, ao lado da expanso da oferta, por meio da educao distncia. Centros de Referncia previstos: Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Vila Velha rea: Turismo e Hospitalidade e Imagem Pessoal; Cursos: Servios de Turismo; Servios de Hospitalidade; Embelezamento Pessoal. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Colatina rea: Sade; Cursos: Enfermagem; Vigilncia Sanitria; Radiologia. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Serra reas: Comrcio Exterior, Transporte e Qumica; Cursos: Comrcio Exterior; Petrleo e Gs Natural; Transporte Rodovirio. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Cariacica reas: Gesto, Construo Civil, Transporte, Meio Ambiente; Cursos: Gesto Empresarial Moderna; Construo Civil; Transporte Rodovirio; Meio Ambiente. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Pima rea: Recursos Pesqueiros; Cursos: Pesca; Agricultura. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Linhares reas: Comrcio, Gesto e Agropecuria. Cursos: Comrcio Exterior;
Gesto Empresarial Moderna; Fruticultura; Irrigao. Centro de Referncia de Educao Profissional Unidade Cachoeiro de Itapemirim reas: Sade, Minerao, Comrcio, Gesto, Meio Ambiente, Construo Civil; Cursos: Radiologia; Enfermagem; Vigilncia Sanitria; Agente de Sade; Explorao e Acabamento de Rochas Ornamentais; Comrcio Exterior; Comercializao de Rochas Ornamentais; Controle Ambiental; Gesto Empresarial Moderna: Recursos Humanos; Construo e Edificaes.
Os Centros de Referncia de Cachoeiro de Itapemirim, Vila Velha e Pima, sero implementados atravs da adequao dos prdios j existentes, prevendo-se para os demais (Serra, Colatina, Cariacica e Linhares) a construo de novas unidades escolares. De acordo com informaes coletadas, at o presente momento, no foram registradas adequaes, nem expanses em qualquer dos municpios, apesar dos antigos cursos profissionalizantes terem sido desativados, em funo desta nova sistemtica de trabalho. No que tange a Educao Especial, disposta na Constituio como dever do Estado, (art. 208, III) e definida como uma modalidade escolar, iniciase na educao infantil, sendo preferencialmente oferecida na rede de ensino regular, aos alunos portadores de necessidades especiais, podendo a instituio escolar, de acordo com a LDB, art. 58, contar com servios de apoio especializado. A nova poltica de educao inclusiva portanto, no delimita idade nem locais prioritrios a assistncia a esta parcela da populao. Dispe, de acordo com as colocaes acima, o seu incio bem cedo, ainda no sistema de creches, no determinando limite de idade para o trmino de seu atendimento. Desta forma, crianas, jovens e adultos, portadores de necessidades educacionais especiais, tm o direito de serem atendidos preferencialmente (e no s exclusivamente) nas instituies pblicas de ensino, como tambm estas,
devem estar adaptadas e qualificadas para prestar esse atendimento, com a devida seriedade e competncia requeridas por esta problemtica. Atualmente, em nvel nacional, como tambm, em nvel estadual, a tendncia neste caso, tem sido a de prestao desses servios, atravs de Centros especializados, estratgicamente localizados, para o atendimento as unidades escolares existentes nas proximidades, tendo em vista a racionalizao de recursos e a montagem de uma estrutura de apoio, de melhor qualidade. O Promotor de Justia dever estar atento para algumas dificuldades advindas desta nova estratgia de trabalho com os portadores de necessidades especiais, tais como: a no existncia de transporte escolar gratuito e suficiente, que garantam a locomoo dos alunos e dos adultos que necessitam acompanh-los; a distncia entre as unidades escolares e estes Centros; as dificuldades de atendimento de fato dessas crianas, jovens e adultos de uma forma sistemtica e regular. Tem-se igualmente constatado que, o processo de atendimento passa por diversas fases, cujo desenrolar tem sido lento e marcado por uma burocracia cansativa, ineficaz e ineficiente, fases estas que compreendem, no mnimo, a detectao inicial do (a) professor (a) do problema no aluno; a comunicao do fato e requisio de assistncia Secretaria Estadual ou Municipal de Educao; o conhecimento e agendamento de visita Escola, por parte da Equipe especializada; a determinao do incio do tratamento e localizao do Centro apropriado e enfim, a garantia de sua efetiva continuidade.
H que o Promotor de Justia atentar tambm, para o fato de que com as novas tendncias da educao especial inclusiva, dentre as quais se encontra a extino das chamadas classes especiais e a incluso dos alunos portadores de deficincia com os demais, em salas de aula comuns, esta estratgia tem sido efetuada em algumas unidades escolares, sem o necessrio preparo do professor regente e sem a indispensvel aquisio de materiais e instrumental de trabalho especfico e necessrio ao apoio tcnicopedaggico s atividades pertinentes, na prpria sala de aula.
De acordo com reportagem veiculada no jornal A GAZETA, na coluna Grande Vitria, em 19/09/2002, o Estado do Esprito Santo apresenta um dos maiores ndices do pas de pessoas com algum tipo de deficincia, inseridas na rede regular de ensino. Enquanto que em 1998, 59% dos municpios brasileiros, no ofereciam educao especial, 83% dos capixabas com necessidades especiais estavam na escola, segundo dados apresentados no VI Seminrio de Educao Inclusiva, iniciado neste mesmo dia da reportagem, na Universidade Federal do Esprito Santo.
Entretanto, se por um lado os dados quantitativos refletem nmeros favorveis, por outro lado, evidncias da realidade apontam para o fato de que, a rede de ensino ainda no est preparada para lidar com os deficientes, no que se refere qualidade deste atendimento. Depoimentos de pais de crianas e jovens portadores de necessidades especiais ressaltam como principais deficincias, na rede de ensino, a no integrao de seus filhos com os demais colegas, tendo como principal fator a
dificuldade e o despreparo dos professores para faz-lo; a ausncia de condies materiais e humanas necessrias para receber esses alunos; a escassez de capacitaes e atualizaes continuadas, ao lado da carga horria insuficiente, quando da oferta dos mesmos. Isto acontece porque, em muitos Municpios, as Secretarias de Educao tem optado em continuar com a estratgia anterior de atendimento nas prprias escolas, utilizando, para o trabalho complementar especializado, as denominadas salas de recursos separadas das salas normais de aula. Entretanto, mesmo optando pela criao de Centros Especializados para a prestao desses servios comunidade, em alguns Estados e Municpios, estes se encontram tambm desfalcados de aparelhagem prpria e suficiente, ao lado da escassez e no qualificao dos recursos humanos responsveis por estes.
EDUCAO NA ZONA RURAL A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n 9.394/96, em seu artigo 1 afirma que a educao abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivncia humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizaes da sociedade civil e nas manifestaes culturais. Kolling em sua obra, Por uma educao bsica do campo, reafirma a colocao acima quando diz ser a escolarizao um direito social fundamental a ser garantido para todo o nosso povo, seja do campo ou da cidade. Esses direitos se encontram contemplados na LDBN, ao responsabilizar os diversos sistemas de ensino pela oferta da educao escolar, o respeito as diferenas regionais atrelado a uma poltica educacional de igualdade e incluso, com destaque para os seus artigos 23, 26 e 28, nos quais se encontra definida a necessidade de adequao da educao da zona rural s peculiaridades da vida do campo; s especificidades regionais; s necessidades e interesses do alunado (currculos, metodologias e outros); do calendrio escolar s fases do ciclo agrcola e s condies climticas; do ensino natureza do trabalho na zona rural enfim, a necessidade de adequao da poltica educacional voltada para crianas, jovens e adultos moradores do campo, s caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. No se encontram, entretanto, explcitos na LDB, os princpios e bases da nova poltica educacional rural. O Conselho Regional de Educao, por meio de sua Cmara de Educao Bsica, elaborou o Parecer n 36/2001, de 04 de dezembro de 2001, o qual prope medidas de adequao especficas das unidades escolares, sediadas na zona rural, propondo as Diretrizes Operacionais
para a Educao Bsica nas Escolas do campo, de acordo com o disposto no art. 28 da Lei n 9.394/96. Segue a mesma linha de pensamento, a Comisso de Polticas Educacionais para a Zona Rural do Estado do Esprito Santo, criada pelo Decreto n 6.576 E, de outubro de 1995, e regulamentada pelo Decreto n 068 R, de abril de 2000, acrescidos das Portarias nos 694 S, de junho de 2000, e 056 R, de outubro de 2000, cuja razo principal de existncia est voltada para a formulao de objetivos norteadores que subsidiaram as polticas pblicas, propostas pela Secretaria de Estado da Educao, para esta rea de atendimento, alm de elaborar as Propostas PolticoPedaggicas para a Educao do Campo Um Projeto em Construo/2002, documento este, que contm as diretrizes norteadoras que devero conduzir a Poltica de Educao do Campo do Esprito Santo. Discorre sobre a problemtica atual da educao do campo, pontuando como questes cruciais a envolvidas a situao do professor e dos alunos, a participao da comunidade na escola, a ao didtico-pedaggica, as instalaes fsicas e a poltica educacional rural, especificados da seguinte forma: Situao do professor: professor leigo, de formao urbana, com problemas de moradia e transporte; clientelismo poltico na convocao dos docentes; baixos salrios. A falta de professores habilitados e efetivados, a constante rotatividade dos professores existentes e as dificuldades na implementao da formao inicial e continuada de professores so problemas que se apresentam educao no campo. Situao dos alunos: aluno-trabalhador rural; distncia entre escola/casa/trabalho; heterogeneidade de idade e grau de conhecimento; populao pobre e com acesso precrio a informaes. Participao da comunidade: distanciamento dos pais, embora tenham a escolaridade como valor scio-moral. Ao didtico-pedaggica: currculo inadequado, baseado no trabalho urbano-industrial; estruturao didtica deficiente; salas multiseriadas; conflitos entre perodo escolar e o plantio/colheita; falta de material e orientao pedaggica. Instalaes fsicas: precrias e muitas vezes sem condies para o trabalho pedaggico. Poltica educacional rural: superficial e deficiente, devido falta de recursos financeiros, humanos e materiais. H que se preocupar igualmente com a permanncia dos jovens na zona rural, atravs da oferta de um Ensino Mdio e de uma educao profissional
diversificada e contextualizada, no que se refere s novas tendncias e necessidades do setor agrcola, alm da oferta progressiva do Ensino Superior, os quais devero caminhar atreladas a projetos auto sustentveis do ponto de vista econmico, ambiental e scio-cultural. O Estado do Esprito Santo, dispe de experincias educacionais voltadas para a educao do homem do campo, apoiadas em parcerias com entidades e associaes do meio rural, cuja filosofia de trabalho encontra-se sedimentada no trabalho conjunto escola-famlia-comunidade. Neste grupo destacam-se as Escolas Famlias do Movimento de Educao Promocional do Esprito Santo MEPES, as Escolas Municipais Autnomas, os Centros Integrados de Educao Rural CIER, as Escolas Comunitrias dos Municpios de Jaguar, as Escolas de Assentamento do Movimento dos Sem Terras MST, as Escolas Agrotcnicas Federais. Concluindo, o documento elaborado por esta Comisso, apresenta uma srie de propostas de trabalho voltadas para a melhoria dos servios educacionais direcionados a este segmento de populao, alm de sugerir um elenco de polticas pblicas necessrias viabilizao de uma educao de qualidade, sintonizada com os anseios e necessidades da vida no campo. Optamos por transcrev-las na ntegra, permitindo aos operadores de direito no s o seu conhecimento, como tambm a possibilidade de atualizao no que se refere a este tema, em nosso Estado. Propostas relacionadas educao rural: Regulamentao do valor-aluno-ano do FUNDEF que atenda s especificidades do meio rural; Planejamento da rede oficial de ensino para a avaliao e definio de alternativas de nucleao e/ou manuteno de escolas multiseriadas, baseado em estudos na rea pedaggica e interesses e necessidades da comunidade; Estabelecimento de padres bsicos para a escola do campo que considerem a rede fsica e sua organizao didtico-pedaggica; Estudo de uma poltica de transporte escolar, quando for o caso, que garanta o acesso seguro do aluno escola. Polticas Pblicas pertinentes e necessrias: Garantia da universalizao do acesso da populao do campo Educao Bsica e Educao Profissional de nvel tcnico; Estabelecimento de programas ou iniciativas continuadas de alfabetizao de jovens e adultos;
Incluso da educao especial na proposta de educao do campo; Articulao de um sistema de cooperao entre a Unio, os Estados e os Municpios, objetivando o gerenciamento, a organizao e a superviso dos programas e projetos destinados a escola do campo; Estabelecimento de parcerias visando ao desenvolvimento de experincias de escolarizao bsica e de educao profissional, que direcionem as atividades curriculares e pedaggicas a um projeto de desenvolvimento sustentvel.
EDUCAO INDGENA Desde os tempos do Brasil Colnia, a educao dos povos indgenas nunca foi objeto de atuao ou preocupao por parte dos colonizadores. Alm de serem considerados brbaros por estes, o fato da nao brasileira ter sido colonizada por uma potncia contra reformista, o ler e escrever no era considerado assunto necessrio, na medida em que a oralidade ser suficiente para o controle dos mesmos pela doutrinao ou pela catequese. Na medida em que as comunidades indgenas tm acesso a escola, esta, de acordo com registros histricos, marcada por interesses integracionistas, os quais conduzem os ndios a viverem como excludos, mediante os usos e costumes de uma sociedade capitalista, competitiva e individualista. Apesar da tendncia atual no que tange ao respeito natureza, finalidade e especificidades prprias de uma escola indgena, constante na legislao afim, como nos Planos e Propostas de rgos governamentais e no-governamentais, em algumas aldeias, a escola serviu e ainda serve, como instrumento de manuteno da ideologia historicamente vigente de dominao e submisso dos povos indgenas, de divulgao e manuteno de uma viso distorcida e folclorizada do ndio, como tambm do reforo concepo de que os verdadeiros usos, costumes e valores culturais so aqueles utilizados e difundidos pela sociedade ocidental. No caso brasileiro, de acordo com material produzido pela SEDU, denominado Diagnstico Educao Indgena./Julho de 2002, com a transferncia das responsabilidades em Educao da FUNAI para o MEC, criou-se uma situao de acefalia no processo de gerenciamento global da assistncia educacional aos povos na distribuio das responsabilidades entre vrias esferas administrativas, dificultando a implementao de uma poltica nacional que possa contemplar um enfoque intercultural e bilnge.
Diante da educao permanente dos povos indgenas, a escola da sociedade nacional pode ter um papel complementar na transmisso de conhecimentos novos, desde que no se torne uma arma ideolgica de domesticao e excluso. Em nvel nacional, a Constituio Federal assegura aos ndios o direito de manuteno e transmisso de sua cultura e modus vivendi, quando no art. 231, do Captulo VIII reconhece aos ndios sua organizao social, costumes, lnguas, crenas e tradies, e os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo Unio demarc-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens, afirmaes estas corroboradas na Constituio Estadual, no seu art. 205, do Captulo V, ao afirmar que o Estado respeitar e far respeitar os direitos, os bens materiais, as crenas, tradies e garantias conferidas aos ndios na Constituio Federal.
Prescreve ainda, no 2 deste mesmo artigo, a garantia de assistncia tcnica e incentivos por parte do Estado, que proporcionem aos ndios de seu territrio meios de sobrevivncia e preservao fsica e cultural, desde que solicitados por suas comunidades e organizaes.
A Lei n 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases, em seu Ttulo VIII, Das Disposies Gerais, determina em seus artigos 78 e 79, que o Sistema de Ensino da Unio, atravs do trabalho de parceria com as agncias federais envolvidas com a questo indgena, desenvolvam programas integrados de ensino e pesquisa, voltados para a oferta de educao escolar bilnge e intercultural aos povos indgenas, os quais estejam voltados para a recuperao de suas memrias histricas; a reafirmao de suas identidades tnicas; a valorizao de suas lnguas e cincias, alm da garantia do acesso s informaes, conhecimentos tcnicos e cientficos da sociedade nacional e demais sociedades indgenas e noindgenas. Prev o apoio tcnico e financeiro da Unio, aos sistemas de ensino na oferta desta educao intercultural s comunidades indgenas, garantindo a estas, em seu artigo 79, a participao e aprovao dos programas planejados, os quais devero estar includos no Plano Nacional de Educao, contemplando os seguintes objetivos: I. Fortalecer as prticas scio-culturais e a lngua materna de cada comunidade indgena; II. Manter programas de formao de pessoal especializado, destinado educao escolar nas comunidades indgenas; III.Desenvolver currculos e programas especficos, neles incluindo os contedos culturais correspondentes s respectivas comunidades; IV. Elaborar e publicar sistematicamente material didtico especfico e diferenciado.
No Estado do Esprito Santo, o 1 Seminrio de Educao Indgena, realizado em 1995, no Municpio de Aracruz, estabeleceu os rumos a serem tomados na rea educacional. De acordo com as concluses chegadas, somente a formao diferenciada para os educadores ndios, possibilitaria uma educao voltada para o resgate dos valores e da cultura indgena. O documento Diagnstico da Educao Indgena - Julho de 2002, de autoria da Comisso responsvel pela elaborao do Plano Estadual de Educao 2001-2010, registra que, atravs do Subncleo de Educao, foi realizado nas prprias aldeias, o Curso de Formao de Educadores ndios Tupiniquim e Guarani (1996-1999), cujo objetivo foi habilitar os ndios nvel de 1 a 4 srie, para serem professores das escolas das aldeias. A perspectiva a de que a educao nas aldeias seja assumida totalmente pelos prprios ndios, com um currculo diferenciado que contemple a especificidade cultural de cada povo. Ressalta ainda que constitui-se em objetivo da SEDU, a continuidade da formao diferenciada para os educadores ndios a nvel superior, para que os alunos ndios concluam o Ensino Fundamental e Mdio na prpria aldeia. O referido documento, apresenta uma Sntese das Deficincias no atendimento da Educao Indgena em nosso Estado, apontando como causas principais: A histrica ausncia de polticas educacionais para esta populao especfica; A ausncia da cultura indgena no currculo escolar e do uso de materiais especficos aos grupos tnicos; A conduo da educao indgena por instituio no especfica da educao; Ausncia de professores com formao necessria para o magistrio intercultural e bilnge; Indefinio quanto ao rgo gerenciador da Educao Indgena; Insuficincia de dados e informaes sobre a populao indgena; Infra-estrutura precria. Insuficincia de prdios escolares prprios para o atendimento a toda a populao escolarizvel ou escolas indgenas que oferecem as sries iniciais do Ensino Fundamental funcionando: em prdios precrios ou em espaos cedidos precrios; Falta de legalizao das escolas indgenas.
As causas acima descritas, apresentam como conseqncia os seguintes efeitos: O dficit de atendimento populao indgena demandatria da Educao Bsica; Ausncia de oferta de 5 a 8 srie do Ensino Fundamental nas aldeias; A perda das tradies da lngua e crenas ancestrais;
A manuteno de uma viso distorcida e folclrica do ndio; A crescente pauperizao das comunidades indgenas.
A populao indgena do Estado do Esprito Santo, conta com Organizaes locais, as quais atuam como instncias de planejamento e tomada de decises, referentes as necessidades e anseios deste povo, tais como as Comunidades, a Comisso Tupiniquim e Guarani, a Associao Indgena Tupiniquim e Guarani / AITG e o NISI-ES, rgo articulador de parceiros com a funo de formular, assessorar, executar e avaliar aes de sade, educao e agricultura nas aldeias. Funciona uma Comisso Geral e trs Subncleos, um para cada temtica. So membros do NISI-ES: rgos governamentais: FUNAI (Fundao Nacional do ndio), FUNASA (Fundao Nacional de Sade), Governo do Estado do Esprito Santo, Prefeitura Municipal de Aracruz. rgos no-governamentais: Pastoral Indigenista, IDEA (Instituto para o desenvolvimento e Educao de Adultos), CINI (Conselho Indigenista Missionrio) Iniciativa privada: Aracruz Celulose S/A Caciques e Lideranas indgenas Tupiniquim e Guarani (50% do total de participantes).
3.2.1 Distribuio de responsabilidades educacionais: Unio, Estados e Municpios As competncias e responsabilidades do poder pblico e de cada um de seus entes federados, encontram-se claramente determinados na Carta Constitucional e no novo ordenamento legal.