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O Martir Do Golgota

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Introduo

Doze anos havia que o mundo gozava de uma paz


inaltervel, desconhecida desde a morte de Numa Pomplio,
quando Deus, lanando um olhar de compaixo para a terra,
determinou baixar a ela em forma de homem, e de derramar
o seu sangue pelos crimes alheios
Devia anunciar!se a sua vinda com grandes e
assombrosos acontecimentos, e assim sucedeu
"s mpios id#latras do "limpo do $omero, os
adoradores sensuais de %&nus, a prostituta, e de 'erc(rio, o
deus dos ladr)es, os corrompidos cortesos do *apit#lio,
definhavam em languidez nos braos da indol&ncia e do
amor
+
,quela paz inaltervel enchia!os de admirao, e um
dia foram ao templo consultar o orculo de ,polo para
saberem quanto tempo ela duraria
" orculo respondeu!lhes estas palavras- .,t/ que se d&
o caso de uma %irgem dar 0 luz1
2ulgando, segundo a ordem natural, que seria
impossvel que semelhante vaticnio sucedesse, colocaram
esta inscrio na elevada porta- .3emplo da paz eterna1
4ntretanto, a sibila *umeia, a poetisa, inspirada,
predizia a vida de *risto na cidade mpia dos sibaritas
"tvio ,ugusto fez reunir o conselho e a profetisa foi
interrogada " */sar queria saber se nasceria outro homem
mais onipotente que ele 4sperava o imperador a resposta,
quando um crculo de ouro apareceu em torno do sol
No centro, rodeada de vividos raios, via!se uma %irgem
que tinha nos braos um formoso menino
, sibila ento estendeu a mo par ao brilhante astro do
c/u, e exclamou com prof/tica voz-
.! ,quele menino / mais onipotente que tu, adora!o1
De s(bito ouviu!se uma misteriosa voz que bradava-
.4sta / a ara santa do c/u1
+
5ucedia isto em 6oma quando no "riente, na 7abil8nia
moderna, na populosa 5elecucia, apareceu uma estrela que,
fazendo sair os reis magos dos seus palcios, os conduziu
com o fulgor do seu brilho 0 porta de um estbulo de 7el/m
*umpria!se a profecia de 7alao- a estrela de 2ac#
acabava de despontar nos c/us
+
5obre o *apit#lio em 6oma, onde existia em tempo da vinda de *risto o palcio de
"tvio ,ugusto, existe ho9e o convento de 5anta 'aria d+,rca!*oeli, d:onde prov/m a
tradio que narramos
;
Do "riente chegavam alguns id#latras, que
depositavam aos p/s de um bero a primeira pedra do
cristianismo
, voz do an9o despertou nas suas cabanas os pastores, e
estes achavam!se 9unto de um leito aos p/s do qual ia morrer
o mundo pago
<m menino, formoso como o sonho do 9usto, loiro
como as espigas do 4gito, agitava!se sobre um monto de
palha sorrindo com doura= filho de uma %irgem, nasceu em
um pres/pio e estava destinado a redimir o mundo " rec/m!
nascido era o 'essias, que os profetas haviam anunciado
"s terrveis deuses do paganismo, 'olo>, 3ifon,
,briman, curvaram a torva fronte ante o *risto, o Deus!
$omem, o Deus da nobreza e da mansido que, envolto na
t(nica de mendigo, procurava o tug(rio do humilde para
viver com ele e ensinar!lhe estas palavras de conforto- .7em
aventurados os que choram, porque eles sero consolados1
Principiou ento o homem a sentir dentro de si o
g/rmen de uma nova vida, e quando a fadiga o fazia cair
banhado em suor sobre a charr(a, erguia ao c/u os olhos
cheios de lgrimas, e pedia a Deus foras para esperar o dia
da recompensa
" escravo, sacudindo os grilh)es, lanou um olhar em
torno de si e permaneceu com o ouvido atendo, at/ que a sua
fisionomia se foi animando pouco a pouco, e um sorriso
melanc#lico assomou aos seus lbios
Despontava!lhe no corao a esperana= os grilh)es
caiam despedaados aos seus p/s, porque estas palavras
pronunciadas por Deus- .3odos somos irmos1 haviam
chegado aos seus ouvidos
6euniram!se ento os desgraados em volta de 2esus
*risto, que, qual pastor das almas, atravessava a terra para
?
procurar os aflitos, afim de lhes enxugar as lgrimas, e
derramar!lhes no corao angustiado a rica semente da f/
crist
"nde uma criaturas gemia, l estava *risto para a
consolar "nde se lamentava um enfermo, l estava o
'essias para lhe devolver a sa(de
,s suas palavras eram o manancial copioso da caridade
e da consolao, manancial onde a humanidade colocou os
lbios sedentos, onde mitigou a sede abrasadora que lhe
minava o peito, exclamando ao mesmo tempo com
entusiasmo- .*reio em %#s, 5enhor, porque entre os
inumerveis benefcios que a vossa vinda nos trouxe, um h
que eternamente guardaremos no corao- os 4vangelhos,
porque eles so os escolhidos entre os escolhidos, so o po
da alma crist, o divino facho que nos indica o caminho da
gl#ria, a tua santa doutrina enfim1
Na 5amaria, em *andam, na @alil/ia, 7etAnia e
2erusal/m, 2esus apareceu sempre como o an9o do bem sobre
a terra %iu!se rodeado de um povo que sedento de amor, lhe
derramava flores ante os p/s, e que chamando!lhe seu Deus e
seu 6ei, lhe pedia com as lgrimas nos olhos que lhe
ensinasse a nova doutrina
5ua fama, seus feitos, seus milagres, correram de boca
em boca por todos os Ambitos do mundo, at/ que um dia as
palavras .todos somos iguais1 chegaram aos ouvidos dos
pontfices e pretores de 2erusal/m
4stremeceram os tiranos nos seus palcios e, fazendo
girar os sangrentos olhos, procurarem o filho do povo que
ousava intitular!se Deus da humanidade, 6ei dos 9udeus, e
cu9as palavras principiavam a transtornar a ordem das
cousas
B
Por fim acharam!no, interrogaram!no e, ao ouvirem a
santa verdade da sua doutrina, retiraram!se envergonhados,
murmurando estas palavras com enleio- .*om este homem a
ci&ncia / impotente 5er o 'essiasC1
Desde ento nos seus sonhos, nas suas bacanais, nas
suas orgias, viram escritas estas palavras ." que for maior
entre v#s ser vosso servo1
4m seguida calcularam as suas foras e a imensidade
do perigo que os ameaava e rugindo como os habitantes das
selvas africanas, com u:a mo continham as pulsa)es do
corao, devorado pela consci&ncia, enquanto que com a
outra assinavam a morte do 6edentor
, raivosa impot&ncia e o cego orgulho dos tiranos
fizeram com que se levantasse a Deus um cadafalsoD
, trag/dia divina teve o seu termo
*risto subiu ao calvrio, exalou o (ltimo suspiro nos
braos do lenho sagrado= foi dali tirado para o sepulcro, e ao
terceiro dia elevou!se ao c/u em apoteose
,s suas lgrimas cairam como gotas de orvalho sobre o
corao da humanidade= e as suas palavras foram a fonte da
consolao, o seu sangue a semente preciosssima da religio
crist, a cruz o sagrado sinal da redeno, a chave do paraso
$aviam!se cumprido as profecias
"s ap#stolos da f/, os propagadores da nova lei,
espalharam!se pela terra e, mo se importando como o
martrio, comearam a semear a palavra humanidade at/
ento desconhecida no mundo
" *ristianismo cresceu como uma bola de neve "s
circos de 6oma, os tormentos da Endia, no puderam
esmagar!lhe a radiante e formosa cabea
Nero, *8modo, Deocleciano, 'ax&ncio, todos esses
verdugos da humanidade, sacrificaram mais de um milho de
F
cristos= por/m o *ristianismo renasceu das suas cinzas
como a ave f&nix Por toda a parte renasciam novos rebentos
da f/, que estendiam a sua nova e viosa seiva pelo corao
da humanidade
"s filhos dos pagos recebiam a gua do batismo como
man celeste
,s mulheres, com a sagrada instituio do matrim8nio
cristo, tiveram uma posio social e uma famlia= e como se
todos estes benefcios no bastassem para proclamar a
divindade do @alileu, a mpia 2erusal/m, a cidade ingrata dos
fariseus, foi destruda pelas legi)es de %espasianos e 3ito,
sepultando nas suas runas um milho de hebreus, que a
celebrao da Pscoa havia reunido a profecia dos muros da
cidade sacerdotal
" *ristianismo, salvando a sociedade de uma runa
certa, abrigou no seu seio carinhoso os restos da civilizao e
das artes
" plano deste livro abrange todos esses grandes
acontecimentos que o povo de Gsrael presenciou ,ntes de o
principiar, tratamos de estudar as 5agradas escrituras, os
costumes hebreus e as po/ticas tradi)es do "riente 5em
faltar ao dogma, muitas vezes havemos adotado o estilo
po/tico, que no fica mal a um livro desta ndole
, f/ e a religiosa admirao que nos inspira aquele que
exalou o (ltimo suspiro no monte do *alvrio, levou!nos a
escrever uma obra que nos assombrava ao conceb&!la, e que
ho9e, vendo!a terminada, damos 0 luz com respeito e
venerao
Hue a 9ulgue todo aquele que a ler, e longe de ter este
livro como uma obra importante, tenha!o s# como um gro
de areia que colocamos na pirAmide imensa do *ristianismo,
elevada pelas santas palavras do 'rtir do @#lgota
I
LIVRO PRIMEIRO
Hue outra coisa / a 4scritura seno uma *arta do 3odo
Poderoso aos homensC 6ogo!te que todos os dias estudes e
medites as palavras do teu *riador, aprendendo assim a
conhec&!lo, ! J@64@K6G" ',@N",Livro G%, epist?MN
CAPTULO I
O POVO ERRANTE
Oormoso c/u da @alil/ia- desgraadamente os meus
olhos no admiram ainda as po/ticas cambiantes dos teus
crep(sculos
Perfumadas faldas do *armelo- o meu peito ainda no
respirou o balsAmico aroma das tuas vira)es
Orescas margens do 2ordo- os meus lbios profanos
9amais se umedeceram com o claro manancial da tua santa
corrente
*ume sagrado do *alvrio-os meus p/s nunca pisaram
as tuas caleinadas rochas, que um dia se umedeceram com o
sangue do 'essias e com as lgrimas da %irgem
%elutos "livete, cu9os cimos serviram de pedestal do
Nazareno quando as nuvens celestes desceram do paraso
para o tirarem da manso dos homens- a brisa vespertina que
agita as pequenas e aveludadas folhas das tuas oliveiras
nunca bafe9ou a fronte
Gmortal Lbano, ma9estoso fantasma de todos os
tempos, que em teus mudos anais guardas a hist#ria
monumental- 7albe> que os homens desconhecem, que
fertilizas as terras de 7la> com o (mido p# da tua neve, que
P
refrescaste os alvos cabelos do solitrio No/ e presenciaste a
trag/dia divina do @#lgota, soltando um gemido doloroso,
cu9o eco foi perder!se nas profundas brenhas das tuas
quebradas- o balsAmico perfume dos teus cedros, o
resplandecente reflexo das tuas cordilheiras 9amais me
detiveram os passos para te admirar dos pitorescos vales de
Qa>le
4 tu, rainha da Rsia, inacessvel cume do 5abino, que
ocultas a eterna neve das tuas cumiadas no tranquilo azul do
firmamento- os (midos efusivos que o vento da tarde arranca
a tua cabeleira nevada, nunca me umedeceram os vestidos,
nem me cegaram os olhos
2amais tive a dita de te admirar, po/tica e formosa
Palestina "s meus olhos nunca se extasiaram ante a
contemplao dos campos de Qabulon, eternamente cobertos
de violetas
Gnve9o os via9antes ilustres, os peregrinos, cristos que
teen percorrido o dilatado solo, que foi ocupado pelas doze
tribos de Gsrael desde o monte $ermon at/ 0 torrente do
4gito, desde as cordilheiras de @alaad at/ 0s tempestuosas
plagas do mar ocidental
, hist#ria do teu povo tem sido o meu livro querido
desde que a minha lngua principiou a ligar as letras do
alfabeto
'ais aiD Hue / feito dos descendentes de ,brao e
2ac#C " povo de Gsrael, to sbio e valente, essa raa da qual
nasceram os profetas, essas tribos que imortalizaram o nome
dos seus chefes, aonde existemC Hual / o ponto da terra que
ocupamC "nde se acha o seu lar dom/sticoC Hual / a sua
ptriaC
Deus nasceu entre eles, e o sangue do seu Deus que
derramaram pesa!lhes sobre a cabea como uma maldio,
S
impelindo!os pelo mundo quais ligeiras arestas que o
possante sopro do vendaval arrasta sem rumo certo
" arete romano converteu as suas poderosas cidades
em um monto de runas= a espada triunfante dos filhos do
3ibre cortou!lhes as cabeas, e as sombras terrveis de
%espasiano e de 3ito pairam ainda sobre os escombros
sangrentos de 2erusal/m, perturbando o sono e arrancando
lgrimas de luto e de vergonha aos descendentes dos
'acabeus
, hora anunciada pelos profetas soou no incorruptvel
rel#gio do tempo= as guias e os corvos, que se aninhavam
nas escarpadas rochas do Lbano, submissas aos mandados
de Deus, caram ento sobre o solo da cidade maldita
*om os curvos bicos e as garras aduncas despedaaram
sem piedade as entranhas dos deicidas= e os que
sobreviveram a to horrvel catstrofe legaram aos filhos
uma maldio eterna, uma vida errante e miservel, que se
prolongar at/ a consumao dos s/culos
*umpriram!se as profecias- o templo de 5io 9 no
tem os seus soberbos p#rticos= as suas portas de ouro 9 no
se abrem ante os passos do sacerdote hebreu= os
descendentes de 2ac# 9 no vo pressurosos fazer os
sacrifcios ante os altares do invisvel Deus dos seus
antepassados, e as harpas e os salt/rios das filhas de 2ud 9
no entoam doces e po/ticas melodias ao 5anto dos 5antos
'ois/s, o int/rprete de 2eov, o teu sbio legislador, o
teu dogma, 9 no tornar a guiar!te pelo deserto
Debalde esperas, povo maldito, a vinda do 'essiasD 4m
teu seio teve o teu bero- cuspiste!lhe no rosto, derramaste!
lhe o sangue, e a sua maldio esmaga com o seu p&so a
prosperidade de teus filhos No esperes, no= no esperes
que os campos de @abaon se cubram outra vez com os louros
M
de 2osu/ e com os despo9os sangrentos dos cinco reis
comandados por ,donisec
,quela batalha, que durou tr&s dias sem se ocultar o
sol, s# pudeste venc&!la pela vontade de Deus, e Deus
amaldioou a tua raa
Por isso / que a bandeira dos 'acabeus nunca mais
tornar a tremular triunfante pela inimiga 5amaria, nem os
valentes filhos de 'atias volvero a erguer as suas tendas
sobre as altas cumiadas do @arizim
D/bora 9 no far 9ustia 0 sombra das palmeiras de
4fraim, nem o canto de 2ael, a forte mulher, reanimar nos
combates o valor dos filhos de 2ud
4ster, a formosa, nunca mais tornar a salvar o seu
povo do furor dos inimigos= nem 4lias, o raio de Deus, far
chover do c/u para acender a lenha verde do sacrifcio
,s tuas conquistas no se estendero do 'editerrAneo
ao 4ufrates como no tempo de Davi, o ungido do senhor;
nem teus filhos gozaro mais em paz 0 sombra dos salgueiros
as imensas riquezas que o florescente reinado do rei dos
*Anticos lhes proporcionou
5alomo, o amado do enhor! nunca mais enviar os
seus navios a "fir, terra do ouro, nem passear pelas ruas da
cidade santa com o seu carro de bronze de *orinto, no qual
se lia em letras de diamantes- .,mo!te, querida 2erusal/m1
, rainha do 'eio!dia, a bela Nicaulis, 9amais tornar,
atrada pela fama da tua opul&ncia, montada no seu
dromedrio de 4fra, e resplandecente como um mar de ouro,
esmaltado de prata e esmeraldas, a presentear o teu rei com
tr&s elefantes carregados de aromas perfumes, ouro em p# e
pedras preciosas
,s tuas naus nunca mais exploraro o com/rcio do mar
%ermelho, nem das costas orientais da Rfrica, como no
+T
tempo de 2osaf= nem teus filhos acharo no dest&rro outro
Qrobadel, que os guie at/ aos abandonados lares para que
reedifiquem o templo derrocado dos seus antepassados
Povo d:,brao, o teu nome / um opr#brio, a tua ptria
um dest&rroD @rande foi o castigo que Deus lanou sobre a
tua raa por/m o teu crime ainda foi maior, pois derramaste o
seu sangue, quando ele havia escolhido o vosso pas para a
sua morada entre os homens
3apaste os ouvidos 0s suas palavras, e fechaste os olhos
aos seus milagres= e aquelas palavras e aqueles fatos ainda
retumbam, perturbando at/ o teu nome
Deus quis acolher!te debaixo das suas asas, como a
carinhosa galinha aos pintinhos, e tu sacrificaste!o em
recompensa do seu amor inesgotvel
.2erusal/m, 2erusal/mD 4m ti no h de ficar pedra
sobre pedra1 disse 4le, e a sua promessa cumpriu!se
2erusal/m, 2erusal/mD , tua passada gl#ria / um
monto de escombros, sobre os quais ainda ade9a a terrvel
maldio de Deus, repetindo sem descanso- Chora! "hora!
"idade ingrata#
CAPTULO II
$ NO MUN%O
" c/u estava carregado, a noite escura, e frio o
ambiente
" solitrio mocho, qual sentinela noturna, soltava de
vez em quando dos altos ramos das rvores um mon#tono e
prolongado pio, cu9o eco l(gubre se ia perder nas
profundidades dos barrancos
++
" interminvel ranger dos dentes dos famintos chacais
do bosque de 4fraim, despertava do seu ligeiro sono os
ferozes lobos das brenhas da tribo de 'anass/s, os quais
enviavam aos seus terrveis companheiros, nas asas do vento,
noturno, uivos estridentes e prolongados
De tempos a tempos a lua rompia as espessas nuvens
que a encobriam, deixando cair um raio da sua luz prateada
sobre as altas cumiadas dos montes da 5amaria, que
estendem o seu dorso sombrio de leste a oeste, quais
fantasmas negros e encadeados
" monte $ebal, mais escarpado, mais sombrio e
imponente que os seus irmos, erguia!se no meio daquela
cordilheira como um gigante ameaador, amaldioando a
impiedade dos rebeldes samaritanos
" vento norte comeou a sibilar por entre as saras e as
fendas das rochas, e em seguida grandes mont)es de nuvens
repletas de eletricidade estenderam!se rapidamente desde as
plagas do mar ocidental at/ 0s margens pacficas do rio
2ordo
" surdo e longnquo trovo comeava a ribombar pelo
espao anunciando com a sua voz possante aos filhos de
5emer a pr#xima tempestade que ia estalar sobre as tuas
cabeas
, atmosfera ia!se condensando, e do seu (mido seio
comearam a cair grossas gotas de gua sobre a seca terra
dos adoradores do bezerro, e 0 qual os 9udeus chamaram
Terra da ini&uidade
3udo anunciava uma dessas terrveis tempestades, que
com tanta frequ&ncia turvam o c/u da Palestina "s
relAmpagos comearam a suceder!se com rapidez, e o trovo,
percorrendo o espao, fazia redobrar a sua voz potente
+;
5obre o alto cume do monte $ebal, 0 borda de um
profundo precipcio, como o ninho de uma guia, viam!se os
negros e toscos muros de um castelo de mesquinha e t/trica
arquitetura 4sta sombra fortaleza, ali levantava pela atrevida
mo dos cuteus depois da dominao dos assrios, era
habitada por uma quadrilha de malfeitores
" chefe desta quadrilha, mancebo de apenas vinte anos,
valente e temerrio, conhecedor do terreno, e que tinha sido
levado por uma vingana 0 vida aventureira de salteador de
estrada, zombava dos soldados de $erodes, e carregado de
despo9os voltava sempre para o seu covil inexpugnvel, onde
repartia pelos companheiros os roubos que fazia
<m relAmpago iluminou momentaneamente o obscuro
horizonte, e ao claro azulado da sua luz viram!se uns
homens que deslizaram pela escarpada e resvaladia encosta
do monte $ebal, em direo aos barrancos de @arizim
"s viandantes noturnos caminhavam, deixando ap#s si
a fortaleza de $ebal, sem fazerem caso da tempestade que
rugia pelo espao, e sem se importarem com as densas trevas
que os envolviam, nem com o caminho perigoso pelo qual
seguiam com passo acelerado e seguro
<m outro relAmpago iluminou por dois segundos o
espao " seu lvido claro incidiu sobre os misteriosos
caminhantes com t/trica e fantstica luz Pode!se ver ento
que eram oito "s tra9os, misto de romano e hebreu, as fontes
requeimadas pelo sol, as barbas hirsutas e incultas, davam!
lhes um aspecto verdadeiramente feroz
Ga entre eles um mancebo, imberbe por assim dizer-
vestia uma t(nica pardacenta como os nazarenos Na cabea
trazia um turbante alto com bandas de linho, e uma camisola
de l de camelo servia!lhe de manto
+?
*om a mo direita apertava a curta lana de tr&s pontas
dos soldados de */sar, e de sua cinta pendia!lhe o comprido
punhal dos samaritanos 4ra o chefe dos bandidos " valor
temerrio que sempre demonstrara havia!o elevado entre os
companheiros ao posto de capito, apesar dos seus poucos
anos
3inha uma estatura esbelta e fisionomia franca e
en/rgica "s seus olhos pretos, velados por longas e espessas
pestanas, ora despendiam olhares irresistveis, quando a
c#lera lhe devorava o corao, ora doces e compassivos,
quando a quietao se lhe hospedava no peito
Nem uma s# linha se encontrava no seu semblante que
inspirasse o sentimento da repugnAncia Podia!se dizer que
era quase formoso
,o v&!lo caminhar no meio, daqueles foragidos de
olhar torvo e asquerosamente vestidos, dir!se!ia que era antes
um prisioneiro que o chefe de semelhantes homens
" 9ovem capito dos bandidos samaritanos chamavam!
se Dimas, nome que trinta e dois anos depois devia ser
imortalizado no cume de @#lgota pelo 'rtir da *ruz, o
6edentor do homem
Dimas era filho de um honrado ourives de 2erusal/m
Desde os mais tenros anos havia demonstrado um carinho
sem limites para com todas as crianas de menor idade que a
sua, um profundo respeito pelos cabelos brancos, e uma
extrema venerao pelos cadveres *omo bom israelita
cresceu, aprendendo o ofcio paterno, andando sempre
rodeado de rapazes do bairro e com os quais repartia suas
frutas e brinquedos
Huando algum defunto era levado pela rua em que
vivia Dimas, ele acompanhava o f(nebre pr/stito at/ o vale
+B
de 2osaf, oferecendo!se sempre a a9udar os coveiros a
colocar o cadver no sombrio sepulcro
<m dia Dimas ficou #rfo= o filho chorou a repentina e
inesperada morte do bondoso pai, e com os olhos ainda
umedecidos pelo pranto, dirigiu!se 0 casa de um pedreiro
para que este fizesse uma modesta sepultura 0s cinzas do
autor dos seus dias " a9uste foi feito por mil e duzentos
#bolos Jtrinta mil r/is, pouco mais ou menosN Por/m qual
no seria a surpresa de Dimas quando ao chegar em casa,
onde ainda o cadver descansava no leito da morte, viu um
fariseu, um centurio romano e um malsim, a confiscarem a
pequena fortuna do falecido 9oalheiroD
! Hue fazeis em minha casaC U perguntou Dimas com
assombro
! 3omo, com autorizao da lei e do poder romano, o
que teu pai devia, respondeu o velho
! " sopro da morte emudeceu a boca a meu pai, por/m
nosso 9urar elo Deus invisvel de ,brao, de Gsaque e 2ac#,
que ele nunca me disse nada a respeito da dvida que agora
reclamas
! <m fariseu que tem as barbas brancas e que curva a
fronte ante a ara de 5io nunca mente 4stes que me
acompanham so testemunhas do empr/stimo, que fiz a teu
pai e de certo que tudo quanto possui no chega 0s duas
teras partes do que me deve
Dimas, aturdido, com o corao traspassado pela dor e
pela surpresa, no encontrava em si palavras com que
responder 0quele velho, que o lanaria na mis/ria
,s testemunhas afirmaram a verdade das palavras do
fariseu, e o malsim continuou a confiscar tudo que via, sem
se importar com a atitude dolorosa do pobre #rfo
+F
! Pois bem= levem o meu errio, todos os meus
vestidos, a minha cama, se querem= no me oporei a isso
5ou 9ovem e robusto e o trabalho no me atemoriza= por/m
concedam!me ao menos um favor
! OalaD disse o fariseu com lac8nico acento
! 4mpresta!me dois mil #bolos- eu os restituirei logo
! Dois mil #bolosD ests louco, manceboC *omo
poders pagar to enorme quantiaC
! 5e for preciso trabalharei para ti toda a minha vida
! No posso servir!te
! %ende!me como escravo, se queres
! <m fariseu israelita no pode vender um descendente
da sua raa
! Pela santa sinagoga, suplico!te que no me negues o
que te peo
! ,cabamos com istoD 4xclamou o fariseu com
evidentes sinais de mau humor
! Pensa no que fazerD volveu Dimas rangendo os
dentes ao ver a dureza daquele velho
! ,meaar!meC
! <nicamente te aviso
! Desprezo!te
! "lha que esse dinheiro que te peo / para enterrar
meu paiD
! "s pobres no precisam de sepulcros pois h valas
comuns
! 'iservelD bradou Dimas, agarrando nervosamente o
velho fariseu pelo pescoo, tu e meu pai descero ao mesmo
tempo 0 sepultura
,s testemunhas arrancavam o fariseu das mos de
Dimas, no sem custo, e duas horas depois o 9ovem #rfo era
posto em uma escura masmorra da torre ,nt8nia
+I
Dimas tinha nesse tempo dezoito anos, idade em que as
paix)es e os sentimentos no se ocultam nem comprimem
,o ver s# no mundo, encerrado entre quatro (midas e
l8bregas paredes, chorou como criana, porque se lembrava
dos carinhos de sua me e do cadver insepulto do velho
autor dos seus dias
CAPTULO III
A'UTE ( A'UTE
3anto a dor como o prazer tem o seu termo, e ambos se
dissipam quando o corao se enfastia ou endurece
" pobre #rfo acabou por no ter mais lgrimas 3r&s
meses permaneceu, esquecido dos homens em (mida e
sombria priso, sonhando com a anelada hora da xingana
<:a manh, o carcereiro anunciou!lhe 0 liberdade
Dimas correu a sua casa e, por um vizinho soube que o corpo
de seu pai havia ficado por sepultar durante seis dias, e que
por fim os coveiros o haviam lanado a uma vala, onde se
enterravam os cadveres de leprosos
Dimas ouviu a repugnante narrao sem proferir uma
s# palavra Nem uma lgrima lhe assomou aos olhos "
corao estava empedernido= a vingana crescia dentro do
peito como a vermelha papoula no meio de um campo est/ril
e requeimado pelo sol do 4gito
Durante o resto do dia e da noite, andou sem norte nem
rumo pelas ruas de 2erusal/m ,o amanhecer notou que se
achava no bairro da 7ezeta ou a Cidade No)a 5uas estreitas
ruas su9as e tortuosas, pertenciam 0 rica e opulenta
2erusal/m= por/m nem o canto de 5ion, nem os perfumes
+P
dos 9ardins de $erodes, nem o luxo da cidade de Davi,
chegavam at/ eles 4ram habitadas por modestos mercadores
de l, por industriosos armeiros, por gente, enfim, dedicada
ao trabalho e ao com/rcio
Dimas, cansado, sem saber para onde havia de dirigir
os passos, recostou!se a uma porta apenas cerrada
'aquinalmente fixou os olhos nas folhas reluzentes dos
punhais, que pendiam de uma esp/cie de mostrador formado
com fios de cAnhamo
Dimas dese9ou comprar um daqueles punhais e com o
olhar no mostrador, comeou a procurar a arma para executar
a sua vingana
! Huanto custa esta navalhaC perguntou indicando uma
comprida folha de Damasco que pendia de um dos fios
! Dois si*"os de +rata! / uma arma excelente,
respondeu o cuteleiro tirando!a do mostrador
Dimas examinou!a por um momento= mas, lembrando!
se de que no possua um miservel ,-u*o, disse ao
vendedor-
! Hueres fiar!me esta navalhaC Dar!te!ei por ela vinte
onas romanas, e isto antes que a lua nova alumie com os
seus raios o alto minarete da terra de Davi
! 4 quem me responde pela tua palavraC 7em sabes que
nunca te vi
! 6esponde!te a mem#ria de meu falecido pai, a quem
vou vingar com esta arma, e sobre cu9a cabea 9uro entregar!
te, caso no morra na empresa, a quantia que te ofereci, que
/, como sabes, vinte vezes maior que aquela que me pediste
,s palavras de Dimas tinham um cunho de verdade
irrefragvel " cuteleiro compreendeu que se passava no
corao daquele moo o quer que fosse de estranho e, por um
desses impulsos inexplicveis em um 9udeu, fiou!se na
+S
palavra do matutino comprador, pois previa um neg#cio
excelente naquela venda
! 5e me enganares, pior para tiD disse, entregando!lhe a
navalha= se tiveres palavra, ento que 2eov te prote9a e te
salve dos perigos a que a tua vingana te vai expor
! "brigadoD falou o #rfo 'as antes de separar!nos,
devo dizer!te o meu nome, para que conheas o teu devedor
*hamo!me Dimas= algum dia ouvirs falar de mim, pois
estou certo que este nome h de soar bastante pelas doze
tribos
4, sem esperar resposta, caminhou rua adiante,
atravessou a porta das *abras e foi sentar!se 0 sombra de um
robusto sic8moro, de cu9a fruta comeu com apetite, pois
bastantes horas havia que no tomava alimento algum
4m seguida empunhou o cabo da navalha, e vibrou um
forte golpe no tronco da nodosa rvore , folha da arma
enterrou!se umas tr&s polegadas
! "hD 3em boa temperaD disse consigo, nem sequer
dobrou a ponta- bem pode entrar toda a folha de um s# golpe
na garganta ou no corao daquele que atirou com o cadver
de meu pai aos ces da vala dos leprosos
Dois dias depois, 9unto 0 torre de 5ilo/, os soldados de
$erodes encontraram o cadver de um velho 3inha uma
ferida profunda na garganta e outra, exatamente igual no
corao 5obre a fronte qual estava escrito com sangue-
.Dimas vingou o cadver insepulto do seu pai com a morte
deste fariseu e 9ura, pela sua mem#ria, perseguir os
descendentes dele at/ 0 quarta gerao1
Depois deste atentado, o 9ovem #rfo fugiu da cidade
sacerdotal, refugiando!se nos montes de 6ama " cadver
profanado do autor dos seus dias impeliu!o a cometer o
+M
primeiro assassnio , fome obrigou!o a praticar o primeiro
roubou
Dimas arrebatou um cabrito a uns pastores Da em
diante comeou a vaguear como um malfeitor pela mais
fragoso dos bosques De noite abandonava as guaridas
incultas para assistir os indefesos caminhantes= por/m nunca
o infeliz #rfo, que aborrecia o sangue por instinto,
empregou outras armas al/m da ameaa para despo9ar as
vtimas
4ntretanto, a lua nova aproximava!se e Dimas no tinha
pago ainda no cuteleiro as vinte onas romanas que lhe
devia 2urara pag!las pela mem#ria do insepulto cadver de
seu pai, e era necessrio cumprir o 9uramento 'as como, se
no possua sequer u:a miservel moeda de cobreC
Dimas, sentado 0 borda de um estreito barranco,
comeou a meditar sobre a sua sorte no futuro $avia dado o
primeiro passo no caminho do crime 5uas proezas
vandlicas no passavam ainda de miserveis roubos, feitos a
pastores indefesos, com o fim (nico de aplacar a fome %ivia
s#, errante= e meditando em sua consci&ncia, comeou a
compreender o que havia feito
4ra impossvel retroceder e via que era indispensvel
que as suas aventuras fossem em maior escala
! 5alteador por salteador, disse consigo, busquemos
ento o ouro 3anto se arrisca a vida roubando um sest.r"io

+
como um talento
;

hebreu 3anto se perde a honra roubando
uma pomba como um boi
,p#s esta resoluo, Dimas levantou!se, e agitando os
compridos cabelos com um movimento en/rgico de cabea,
lanou um altivo olhar pela solid)es que o cercavam e,
afagando o cabo tosco da navalha, murmurou-
;T
+
moeda de cobre de pouco valor
! Huando se estima pouco a vida, o homem pode chegar
a ser muito 5im, / preciso que eu se9a o rei dos bosques, o
terror de Gsrael
Nesse tempo andava pelos montes da 5amaria uma
quadrilha de bandidos que, 0 sombra das contendas civis que
agitavam as tribos de Gsrael, cometiam com incrvel audcia
toda a casta de crimes Debalde $erodes enviava seus
soldados para os exterminar- os bandidos da 5amaria eram
invisveis, apesar do corao da Palestina ser o teatro da suas
sangrentas expedi)es , audcia dos bandidos samaritanos
no tinha limites ,s ruas de 2erusal/m presenciaram
milhares de vezes cenas de repugnante barbaridade,
praticadas pelo punhal homicida dos ind8mitos habitantes do
monte $ebal
"s mercadores do 4gito, de Damasco, de 3iro, e 5idon,
viam!se frequentemente assaltados ao meio dia nas estradas
mais concorridas
,s devastadoras correrias dos terrveis bandidos,
estenderam!se desde a tribo de 2ud, 0 tribo de ,ser= e no
poucas vezes, atravessando o 2ordo, haviam levado o terror
e o saque at/ aos bosques de 4fraim "s montes de 5amaria,
com as suas profundas cavernas serviam!lhe de ref(gio para
se esquivarem 0s persegui)es dos soldados de $erodes "
sombrio e solitrio castelo, que coroava o topo do monte
$ebal, servia!lhes de quartel de inverno
Dimas era valente- perdendo a esperana de reingressar
na sociedade dos homens honrados, resolveu buscar a dos
ferozes salteadores da 5amaria Por conseguinte, depois de
quatro dias de marcha forada chegou 0 raiz do terrvel
monte Ningu/m se atrevia a tanto naquele tempo "
;+
desespero centuplicava o Animo do filho do ourives
9erossolimitano
Dimas deteve!se a uns trinta passos da solitria
fortaleza , subida era escabrosa e fatigante Desfalecido
pelo cansao, o 9ovem hebreu sentou!se em uma pedra
,chava!se s#- nem o canto das aves, nem a voz humana
interrompiam a solido profunda dos precipcios que o
rodeavam
Dimas parecia o an9o do mal, quando depois da sua
queda se sentou borda do abismo a contemplar por um
instante a horrvel manso, que Deus lhe concedia em castigo
da sua louca soberba
CAPTULO IV
O /AN%I%O
Nem uma s# nuvem maculava o claro e formoso c/u da
Palestina " sol no seu zeni, e banhava com a radiante luz
dos seus raios as escabrosas cordilheiras e as f/rteis plancies
da 5amaria 4, l ao longe, para o levante, estendia!se uma
nuvem pardacenta que, 0 semelhana de uma longa cobra de
gaze, mergulhava a cabea enorme nas azuladas guas do
lago de @enezar/, enquanto a sua enroscada cauda ia
abismar!se nas guas pesadas e malditas do mar 'orto
4sta cinta de flutuante renda, esta manga de p# que
parecia brotar da terra, eras as n/voas do 2ordo que iam
subindo para o c/u em vaporosas e (midas emana)es
Dimas contemplou em sil&ncio o panorama grandioso
que se dilatava ante os seus olhos 5ua vista fixava!se no
sombrio e solitrio castelo, cu9a fechada porta, ameias
desertas e desmoronados muros, lhe davam o aspecto de uma
;;
dessas mans)es malditas, cu9as tradi)es sangrentas
afastavam com terror os tmidos habitantes das aldeias e os
simples e supersticiosos pastores
Dimas, firme no seu prop#sito, depois de certificar!se
de que o punhal permanecia oculto nas dobras da t(nica,
desprendeu do cinto uma larga funda, formada de folhas de
palmeira seca, colocou nela uma pedra de tr&s polegadas de
diAmetro e, fazendo!a girar em torno da cabea, atirou com o
pro9/til para dentro do castelo
4sperou alguns instantes, por/m ningu/m assomou a
cabea pelas frestas dos torr)es
Dimas repetiu por tr&s vezes a mesma manobra,
obtendo sempre o mesmo resultado
! " castelo est solitrio U penso 4 aos seus lbios
assomou um singular sorriso-
! No seria mau que me apoderasse dos tesouros desses
raposos barbados que fazem tremer s# com os seus nomes os
mpios e afeminados romanos, os torpes e covardes
herodianos e, os indefesos mercadores do Nilo, do 4ufrates e
do 2ordo, pensou
Dimas passou vrias vezes a mo pela fronte e, tirando
a comprida navalha, principiou a afiar a ponta do
instrumento com que tinha vingado a morte do pai
! %amos, valor, DimasD , morte / um instante- a vida /
longa e pesada quando se tem fome e se dorme ao relento
Dirigiu!se resolutamente para o castelo, a cu9a porta
bateu tr&s vezes com uma pedra que apanhara no cho
Ningu/m respondeu 4nto, seguro de que o castelo estava
abandonado, examinou com ateno o muro que o cercava e,
achando um pedao derruido pelo qual se podia escalar a
fortaleza mais facilmente, comeou a trepar pela muralha
com o punhal entre os dentes
;?
5e lhe tivesse fraqueado uma das mos, se despegasse
uma pedra, com certeza sua morte seria inevitvel, pois o
corpo, rolando no abismo, ter!se!ia desfeito em
sanguinolentos pedaos de encontro 0s salientes arestas da
rocha
Por fim, depois de incalculveis dificuldades, Dimas
chegou 0 plataforma da muralha com o rosto inundado de
suor e a mos ensangVentadas 4m vo percorreu depois os
estreitos passadios, as desertas habita)es da t/trica
fortaleza- o dese9ado tesouro com que sonhara no lhe foi
possvel encontrar Gndubitavelmente, os bandidos deviam ter
outro lugar onde ocultavam as rapinas Depois de tr&s horas
de minuciosas buscas, Dimas desesperou de o encontrar
! 3udo me indica, disse ele consigo, que esta guarida /
habitada pelos bandidos samaritanos %i ossos frescos de
carneiro pelo cho e archotes resinosos apagados de fresco W
o mesmo- vim por ouro e no o encontro= esperarei que
regressem, e depois eles mo daro De todo 9eito preciso de
um albergue e achei este castelo
,ssim pensando dirigiu!se para uma estAncia que 9
antes tinha visto e que, segundo os seus clculos, devia ser a
cozinha e a sala de 9antar dos bandidos L, comeou
cuidadosamente a revistar todos os escaninhos escuros da
cozinha, e no levou muito tempo a descobrir uma perna de
carneiro suspensa em um gancho de ferro
5eguindo avante nas suas investiga)es, achou algumas
Anforas com gua, diversos odes de vinho e alguns sacos de
milho em vrias concavidades praticadas na parede, e que 0
primeira vista no tinha distinguido por causa da
obscuridade 4ra a despensa dos bandidos, e Dimas tratou de
aproveitar o tempo 6esolvido a esperar os salteadores,
encaminhou!se para o fogo, que se achava, segundo o
;B
costume dos hebreus, no meio da cozinha *om grande
alegria, viu que entre as cinzas brilhavam algumas brasas,
, um canto da lareira havia algumas achas de lenha
seca e archotes resinosos Dimas reanimou o fogo e acendeu
um archote, porque naquele lugar a claridade era pouca
Depois colocou a perna de carneiro 9unto ao fogo e, enquanto
a assava, amassou um po com a farinha amarela do milho e
a gua das Anforas
'eia hora, depois, o moo aventureiro comia
tranquilamente e bebia o delicioso sumo da uva, sentado na
cozinha do castelo ,chava!se nesta plcida ocupao o
ousado Dimas, quando distinguiu um rudo surdo nas
profundidades da terra, mas continuou a interrompida ceia,
encolhendo os ombros com indiferena " rudo aproximava!
se cada vez mais Dir!se!ia que falavam muitos homens,
arrastando ao mesmo tempo pesados fardos por baixo da
terra
De repente ouviu!se um rumor spero e singular no
pavimento como se tivessem corrido um ferrolho ou uma
tranca de ferro umedecido
" #rfo continuou a comer como se nada tivesse
ouvido= s# por precauo pegou no punhal
De repente abateu!se um pedao do pavimento, e
Dimas viu ao seu lado uma abertura de cinco p/s de
diAmetro 4m seguida duas mos apoiaram!se 0 borda
daquela abertura e pouco depois, apareceu o corpo de um
homem, que saltou com ligeireza para dentro da cozinha
5em reparar em Dimas, porque depois de saltar
inclinou o corpo para o buraco, estendeu os braos, aos quais
se agarram outras mos Puxou!as para si com f8ra, e outro
homem saltou da cova 0 cozinha, como se a terra os
;F
vomitasse, quatorze foragidos, de aspecto repugnante, de
su9o e descomposto tra9o
" primeiro efeito que produziu nos bandidos a presena
de um homem que tranquilamente comia na sua impenetrvel
guarida, foi o da surpresas Por/m voltando a sim deram um
rugido e desembainhando os compridos punhais, arro9aram!
se sobre Dimas 4ste p8s!se em p/ de um salto, e
retrocedendo alguns passos com a navalha na mo, bradou
com firmeza-
! %amos, companheirosD "s lobos no devem comer!se
uns aos outros ,l/m disso a ingratido / um defeito
desprezvel Pelo santo altar de 5ionD Preparei a ceia para vos
poupar trabalho, e quereis matar!me em paga do servio que
acabo de vos prestarC
"s bandidos entreolharam!se com assombro
CAPTULO V
%IMA EMPEN0A UA 0ORA PARA PA1AR O EU
PUN0AL
4ntre os salteadores, entre essa gente que arrisca a vida
a todo momento e crava o punhal no peito do pr#ximo com a
mesma indiferena com que esgota um copo de vinho, entre
essa raa de miserveis, que pululam nos presdios e morrem
no cadafalso, nada / to digno de admirao, assombro e at/
respeito, como o valor pessoal
,quele moo imberbe, criana quase, fitava!os com
olhar sereno e sorriso nos lbios 3inha o corao e o esprito
tranquilo ante as afiadas lontas dos punhais que lhe
ameaavam a exist&ncia
;I
5# um homem ousado podia ter assaltado aquela
manso de horror, que eles habitavam, aquele teatro das suas
cenas vandlicas, o espanto dos camponeses samaritanos
4ssas reflex)es perpassaram indubitavelmente pelas
obtusas e selvagens imagina)es dos bandidos e, sem o
poderem explicar, sentiram certa simpatia, certa admirao
para com o atrevido mancebo que desafiava o seu poder, e
que tinha com a sua audcia cativado os cora)es daqueles
homens empedernidos por uma vida de crimes e de sangue
! Ningu/m lhe toqueD 4xclamou um bandido cu9a barba
branca, gesto altivo e luxuoso tra9o diziam claramente que
devia ser o capito
4 dirigindo!se ao 9ovem aventureiro, falou-
! Huem /sC
! <m companheiro vosso= um rapaz que quer encetar o
lucrativo ofcio que professais= que, admirado das vossas
proezas, dese9a que o aperfeioes com o vosso saber nos
segredos da arte
"s bandidos soltaram uma ruidosa gargalhada
! 6idesC ,talhou Dimas imitando a hilaridade dos
facnoras U 4stimo, pois ve9o que 9 principiamos a ser
amigos %ou, portanto, pedir!vos um favor Huereis
emprestar!me vinte onas romanasC
"s bandidos entreolharam!se como querendo dizer-
.no 9 d(vida, o rapaz est doido1 5# o capito no
demonstrou espanto com as palavras de Dimas 5eus olhos,
penetrantes como os da ave de rapina oculta nos matagais,
fitavam!se de um modo tenaz na franca e altiva fisionomia
do mancebo
! *ompreendo o vosso espanto, volveu Dimas, vendo
que ningu/m lhe falava ,ntes de pedir dinheiro devia ter!
nos explicado o motivo que me obriga a solicitar um
;P
empr/stimo, logo pela primeira vez que tenho a honra de
tratar convosco= por/m pelo sombrio 7alaal, a quem todos
pertencemos, suplico que vos senteis, e no me olheis com
olhos espantados
Dimas contou em poucas palavras o que desde a morte
de seu pai havia sucedido em 2erusal/m e seus arredores ,o
terminar a narrao, o velho capito, que at/ ento s#
descerrara os lbios para impedir que a sua gente fizesse mal
ao atrevido h#spede, deu um murro terrvel nos 9oelhos e,
deitando nas mos de Dimas um punhado de moedas de
prata, exclamou com voz sonora-
! 3oma e paga a tua dvida, mancebo, pois / sagrada 5e
fores ingrato, que 7elzebu te envie 0s suas regi)es
asquerosas, e se9as devorado por elas= se, por/m, fores leal,
ento que @ad
;
te eleve sobre os raios da sua roda e te prote9a
o corpo dos golpes do ferro homicida
! "brigado, capito Dimas te mostrar que no
semeaste o beneficio em terra inf/rtil
! " meu nome, rep8s o velho capito, / ,badon
?
5ou
samaritano= no esqueas, pois, o que vou dizer!te- com a
mesma facilidade estenderei a mo para proteger!te como
para exterminar!te
! 2amais o olvidarei ,gora d!me licena para partir=
antes de quatro dias ser a lua cheia, e daqui a 2erusal/m h
tr&s longas 9ornadas
1 Belsebuth ou deus das moscas, adorado pelos filisteus. Chamava-se assim porque estava
sempre coberto de moacas por causa de se achar incessantemente borrifado de sangue.
(Lamy, Aparato Bblico, liv. !!!, Cap. !"
# $dolo da fortuna
% An&o e'terminador
;S
! , paz de Deus se9a contigo durante a viagem, falou
,badon
! 4 acrescentou, dirigindo!se a um dos bandidos-
! <ries
+
, acompanha este rapaz pelo subterrAneo 0
estrada dos romanos
! Devo!lhe vendar!lhe os olhosC Perguntou <ries ao seu
capito
,badon olhou um instante para Dimas- este manteve
aquele olhar com tal nobreza e serenidade, que o capito
respondeu-
! No / necessrio= fio!me na sua palavra= por/m
conduze!o pelo caminho comprido
<ries levantou o alapo e desapareceu por ele,
acompanhado de Dimas ,mbos por espao de meia hora
caminharam por um subterrAneo " caminho era escuro,
atmosfera pesada e salitrosa, refrescando com os seus
vapores as frontes de Dimas e de <ries
! Por 2ac#D exclamou Dimas, se no me ds a mo para
guiar, com certeza vou deixar os miolos em alguma destas
rochas que ameaam cair sobre as nossas cabeas
5egue!me sem receio= o piso / suave, e a abobada / to
alta que @olia e 5aff, se vivessem, poderiam passar sem
inclinar a cabea
4 dizendo isto, o bandido estendeu a ponta do seu
manto a Dimas
" 9ovem aventureiro sentia de vez em quando sobre o
rosto um ar fresco, que lhe indicava que alguns buracos
abertos na rocha permitiam a renovao do ar n:aquele
subterrAneo
5o respiradouros essas correntes de ar que se sentem
de tempos em temposC
;M
! 5o caminhos que vo ter a outras sadas "hD 5e os
soldados de $erodes chegam algum dia a descobrir a nossa
guarida, h de ter bastante trabalho para darem conosco
Dimas compreendeu que tratava com homens prudentes
e entendidos no ofcio, e isto foi um motivo de 9ubilo para
ele Por fim o bandido deteve!se, dizendo-
! *hegamos ,9uda!me a erguer esta pedra
Dimas obedeceu, e pouco depois via os raios da lua,
que brilhavam como fios de prata sobre o extenso vale que se
dilatava aos seus p/s " mancebo olho em torno para
reconhecer o terreno
! No ve9o o castelo, disse
! Oica da parte oposto do monte
*omearam a saltar da rocha em rocha em direo 0
plancie , noite estava clara e tranquila, e o z/firo noturno
apenas tinha fora para gritar as folhas das rvores
+ Oogo do c/u
! 3u, que hs de ser prtico no curso dos astros, sabes a
que horas estamos da noiteC perguntou Dimas
! W cedo= achamo!nos apenas 0 "a-ea de osge*is;
+
antes que chegue a hora do cantar do galo poders encontrar!
te em 7etel
<ma vez ali, caminha sempre para o nascente,
marginando um arroio que te conduzir ao 2ordo, em
seguida torce em direo ao sul at/ encontrares 2eric#= de
2eric# a 2erusal/m ningu/m se perde, pois a estrada romana
conduzir!te! 0 cidade santa Por/m vou dar!te um conselho
,s estradas feitas pelos romanos, que Deus confunda, no
nos conv/m tanto como as veredas intransitveis dos lobos
,credita!me, mas vale caminhar s#, pelos bosques, que
acompanhado pelas estradas do */sar
?T
! "brigado= seguirei teu conselho
! 4nto a paz se9a contigo= 9 chegamos ao lugar em
que / preciso separar!nos 5egue esse atalho que te conduzir
a 7etel , noite est clara e, dormindo n#s, a terra de
5amaria est mais segura que o palcio do Gdomeu
+
,ntes de nos separarmos quero fazer!te uma pergunta
Huando eu voltar, por onde devo introduzir!me no casteloC
! Pela muralha, como fizeste ho9e 5e no estivermos l,
espera
! 4sta bem ,t/ daqui a alguns dias
! Hue 2eov te guie, e que tudo saia 0 medida dos teus
dese9os
! " mesmo te dese9o eu
Dimas tomou o atalho que conduzia a 7etel, e <ries
principiou a subir a encosta do monte em direo 0 sua
guarida
Dimas, enquanto caminhava, dizia a si mesmo,
acariciando as moedas de prata, que to generosamente lhe
havia emprestado o velho capito
! , minha primeira aventura saiu melhor do que
esperava *om este dinheiro poderei honrar a minha palavra
e, se encontrar o cadver de meu pai, dar!lhe!ei uma
sepultura digna dele %amos, aceleremos o passo, pois, como
diz o rifo .quem paga descansa1
CAPTULO VI
O CA%2VERE
Dimas seguiu o conselho de <ries ,travessando os
atalhos mais nvios, chegou 0 torrente do *edron tr&s dias
?+
depois, e entrando na cidade sacerdotal pela porta 9udicial,
dirigiu!se para a baixa 2erusal/m, que era
+ $erodes o grande
onde morava o cuteleiro " confiado artista achava!se
ocupado em afiar a ponta de um punhal, com o peito
inclinado sobre um rebolo, e bem longe por certo de
imaginar que o seu devedor viria interromp&!lo no trabalho a
que se entregava
! , paz de Deus se9a contigo= disse Dimas entrando
! " cuteleiro ergueu a cabea, sem suspender o
movimento do p/ direito que fazia girar o rebolo, e fixou um
olhar indiferente no mancebo
! No me conhecesC falou Dimas
! Parece!me que 9 te vi em alguma parte
! $ quinze dias, aqui, fizeste!me um favor, e venho
pagar!te
! ,hD 4xclamou o vendedor de punhais, recordo!me
! Por sinal que me ofereceste
! %inte onas romanas ,qui as tens, a9untou Dimas
! 3irando da bolsa as moedas foi colocando!as sobre
u:a mesa
" tilintar da prata impressionou agradavelmente os
ouvidos do 9udeu, a 9ulgar pelo sorriso que lhe animou o
rosto
! Por 2ac# e minha meD No esperava que cumprisses a
palavraD
! Oizeste mal em desconfiar
! 3ens razo= no entanto as tuas palavras indicam!me
que fizeste fortuna, o que estimo
! $erdaste de algum parenteC
?;
! No
! 4ncontrarias por fortuna algum tesouro no velho
palcio de 5alomoC
! 3amb/m no , minha fortuna tem uma origem que
no posso revelar= por/m se no se riscar da tua mem#ria o
meu nome, algum dia a sabers *hamo!me Dimas, no o
esqueas @rava bem na mem#ria as cinco letras de que o
meu nome se comp)e
! Deus de 9ustiaD Porventura sers o assassino do
sacerdote Gsaac, d:esse velho avarento e de m condio, que
os c/us confundamC
5im, assassinei!o, porque assim devia faz&!lo- a
navalha que me vendeste foi o instrumento de que me servi
,gradeo!te em nome de meu pai, e em meu nome entrego!
te as vinte onas romanas
Dimas, sem esperar resposta, tomou pela rua adiante,
deixando o cuteleiro absorto e aturdido
" 9ovem aventureiro encaminhou!se para o cemit/rio
dos leprosos onde, segundo lhe tinham dito, haviam os
coveiros enterrado o cadver do pai 6estavam!lhe na bolsa
mais de dois mil #bolos e, firme no seu prop#sito, queria dar
honrosa sepultura ao autor dos seus dias Por/m tudo foi em
vo- tr&s horas de escrupulosas pesquisas empregou naquela
hediondo esterquilnio, e por fim perdeu a esperana de achar
os restos do pai, que talvez houvessem servido de pasto aos
abutres e corvos que esvoaam pela pesada atmosfera desses
lugares to repugnantes
Duas grossas lgrimas assomaram!lhe 0s plpebras e
erguendo os olhos ao c/u, murmurou-
- 'eu pai e senhor, tu foste bom durante a tua vida, e
enquanto vivi ao teu lado fiz sempre por imitar a tua
honradez Porque motivo ao veres a ang(stia de teu
??
filho, no me chamas para que possa dar!te
sepultura digna de tiC
- 3ornou a curvar!se sobre a terra, e com auxlio da
navalha continuou a interrompida e penosa tarefa de remover
aquele monto de ossos e corrompidos cadveres meio
insepultos, que os seus p/s calavam
- Dimas procurava o cadver do seu pai como se
aquela seca e est/ril terra ocultasse um tesouro " amor filial
fez!lhe esquecer que os raios abrasadores do sol lhe caiam
perpendicularmente sobre a cabea ,quele 9ovem moo
valente e formoso, coberto de suor, abstrado no trabalho,
indiferente a tudo, era na verdade um filho modelo
- *ada cabea que assomava 0 flor da terra era uma
esperana= por/m quando os seus olhos, ao buscarem as
fei)es queridas do velho pai, se encontravam com o lvido e
decomposto cadver de um desconhecido Dimas ento,
exalando um doloroso gemido, continuava a tarefa ,quele
gemido doloroso era uma esperana que lhe fugia do
corao, esperana vencida pela realidade de um desengano
- 'orto de fadiga, sem alento, o pobre aventureiro
deixou!se cair 0 sombra de um salgueiro, sem esperana de
poder achar o cadver do seu pai ,li, s# com a sua dor,
assaltou!o uma id/ia terrvel, e um sorriso feroz assomou aos
seus lbios
- ! 5im disse consigo, / isso= esta noite irei ao vale de
2osaf- procurarei o t(mulo opulento do fariseu, desse velho
cruel que infamou o cadver de meu pai= arrancarei a lousa
que o cobre, tirarei o corpo embalsamado desse miservel, e
deixa!lo!ei neste lugar imundo para que sirva de pasto 0s
carnvoras raposas que lhe despedaaro a carne maldita,
enquanto o noturno ono"r,ta*o
3
! pousando as f/rreas garras
?B
na sua impura fronte, batendo as negras asas sobre a sua
insepulta cabea, satisfeito o seu pio horrvel, e preparar
para o festim os dois est8magos, famintos de carne humana
- Dimas, depois de proferir to terrvel ameaa,
meneou a cabea, como se as f(rias com o seu ardente e
impuro hlito *om os lbios entreabertos, os olhos
brilhantes e encovados, o rosto decomposto, o belo
semblante de Dimas tinha o que quer fosse de terrvel e
infernal
- ! 4u era bom, falou, e tu, fariseu, impeliste!me para
a senda do crime <m mar de sangue estende!se aos meus
p/s= minha vida ser infame= minha morte, a cruz e o meu
corpo feito em pedaos talvez se9a exposto nas estradas De
tudo isto tens a culpa, avarento de corao de pedra 'aldito
se9asD 'aldito se9as como a mulher impura at/ 0 d/cima
gerao, a qual eu 9uro exterminar, enquanto o meu brao
tiver fora para empunhar o punhal vingadorD
- 4 Dimas, deixou cair a cabea com abatimento
sobre as mos ,ssim permaneceu por bastante tempo ,
brisa da tarde comeou a gemer por entre os ramos das
rvores, e ele ainda permanecia im#vel
- " z/firo noturno suspirou por entre as plantas do
campo, e Dimas no se movia do lugar onde estava
- , lua banhou com os seus d(bios raios a cilndrica e
alta torre de David, e Dimas continuou na mesma atitude,
mudo e silencioso ,s cegonhas, dos altos mirantes de
2erusal/m, comearam a entoar os seus sentidos cantos, e um
mocho, pousando sobre os ramos da rvore ao p/ da qual se
achava o 9ovem #rfo, soltou ao vento o seu l(gubre e t/trico
pio
?F
- 4nto Dimas ergueu!se e olhou em torno de si,
como se despertasse de um sono profundo " rosto havia
perdido a ferocidade que pouco antes demonstrara " olhar,
triste e (mido ainda pelas lgrimas de fogo que derramara,
era doce e inofensivo
- De repente, um suspiro angustioso e prolongado
escapou!se!lhe do de seu peito
- ! No mil vezes noD 2amais profanarei um
cadver, 9amais deixarei sem proteo as crianas e os
velhos , velhice e a infAncia sero sempre veneradas por
Dimas o bandido Perdoa, meu pai, vinguei!te em um
corpo vivo Deixa!me respeitar a mat/ria inerte que serve
de sustento aos vermes da terra
- Dimas, durante as horas da triste meditao
decorrida 9unto daquela rvore, mantivera uma luta
horrvel entre o dese9o da vingana e os bons e generosos
instintos do seu corao 9uvenil= e o corao sair
vencedor Desistindo dos seus planos, s# um caminho se
abria ante os seus passos- o dos montes de 5amaria
Dirigiu!se, portanto, para eles, chegando quatro dias
depois, ao entardecer, 9unto dos muros da inexpugnvel
fortaleza dos bandidos e entro nela como da primeira vez
- Huando se achou dentro, dirigiu!se para a cozinha, e
achou!a deserta 4stendeu!se no cho e esperou
Dimas tinha dezoito anos e o sono, nesta idade, no
tarda a fazer cerras as plpebras " 9ovem aventureiro
adormeceu com a mesma tranquilidade como se achasse
debaixo do teto hospitaleiro da casa de seu pai, quando o
sono inocente da adolesc&ncia sorria sobre a formosa cabea
4stava a noite bastante adiantada quando o alapo, que
os nossos leitores 9 conhecem, se abriu para dar passagem
?I
aos companheiros de ,badon Desta vez vinham carregados
de despo9os e, nas suas selvagens e ferozes fisionomias,
brilhava o contentamento
*omo na cozinha estava escuro, no repararam em
Dimas " capito mandou acender luz, e pouco depois as
negras paredes coloriram!se dessa claridade avermelhada que
os archotes resinosos expelem Ooi ento que viram Dimas,
que dormia tranquilamente no duro e frio cho da cozinha
*umpriu a palavra, disse ,badon, dirigindo!se aos
seus Parece!me que poderemos tirar proveito deste rapaz
CAPTULO VII
O /ATITMO %E AN1UE
" #rfo de 2erusal/m pertenceu deste aquele dia 0
terrvel quadrilha dos samaritanos 5ua 9uventude, seu valor e
sua boa presena foram para os bandidos poderosos motivos
para que todos o olhassem com certa defer&ncia, que no
escapou 0 perspiccia do 9ovem aventureiro ,l/m disso,
,badon, velho encanecido no crime comeou a trat!lo como
filho 5eu corao empedernido nunca havia amado, e aquele
belo e temerrio moo, que o acaso tinha lanado no seu
caminho, havia!lhe feito sentir essa suave simpatia, esse
aflam desinteressado e puro, que os pais sentem pelos filhos
Dimas, medianamente instrudo, nas 4scrituras
sagradas por um rabino, amigo inseparvel de seu pai, tinha a
vantagem de saber ler e escrever o hebreu com bastante
correo
,lgumas noites, quando os esculcas no traziam
notcias favorveis e era preciso permanecer encerrado na
inexpugnvel guarida, Dimas, que tinha comprado em
?P
5ichem o Pentateuco
+
,

lia!lhes as sagradas narra)es que o
historiador dogmtico, o insigne fil#sofo, o admirvel
te#logo, o inspirado profeta 'ois/s havia escrito para os
descendentes de ,brao
, sublime inspirao do 4terno, que transmitiu ao povo
israelita o seu ilustre caudilho e libertador, entretinha
agradavelmente aquele punhado de homens que o crime
havia expulsado da sociedade, obrigando!os a viver nas
brenhas mais rec8nditas como as carniceiras feras do deserto
,s vezes, quando Dimas, com meigo sentido acento
lhes transmitia as sbias narra)es do legislador do 5inai, os
ferozes bandidos prorrompiam em espontAneas aclama)es, e
a admirao para com o seu 9ovem companheiro chegava
at/ ao entusiasmo
4nto os bandidos aconselhavam Dimas abandonar o
seu nome que nenhuma significao divina tinha entre os
hebreus, e tomar outro que expressasse uma condio celeste
ou honrosa para aquele que o usasse
3odos os sentimentos como um filho, gritava um
bandido- ponham!lhe o nome de Davi
;
, que / o nome que lhe
corresponde No, no, dizia outro 2eov enviou!o para o
meio de n#s, e portanto deve chamar!se 5amuel
?

Dimas ouvia com o sorriso nos lbios as contendas dos


seus companheiros, e acabava por convenc&!los que o nome
posto pelo pai era melhor e o (nico que devia trazer um filho
+
Pentateu"ho, palavra grega que significa cinco volumes e que so- o 14nesis, o E5odo! o
Le)6ti"o! os N7meros e o %euteronomio W o (nico livro que os samaritanos veneram, tendo!o
como divino e como (nico
;
,mado
?
Posto por Deus
?S
,ssim decorreram alguns meses Dimas foi
insensivelmente incutindo naqueles cora)es algumas id/ias
humanas, fazendo!lhes ver que nada podia engrandec&!los
tanto aos olhos dos israelitas como converter as suas
vandlicas empresas em her#icas e temerrias proezas de
soldados independentes
<ma guerra de partido contra $erodes e os romanos era
o que Dimas, a coberto dos montes de 5amaria, queria
compreender= por/m os seus ferozes companheiros no se
decidiam a abandonar facilmente os costumes antigos "
roubo e o crime nutriam!se no seu peito impuro,
contaminando!lhe o sangue, e quando se encanece em uma
profisso, adquirem!se certos hbitos que chegam a
encarnar!se no mesmo ser, formando uma segunda natureza,
que s# abandona o individuo quando exala o (ltimo sopro da
vida
Dimas conheceu que para conseguir seu intento era
preciso deixar correr o tempo e os acontecimentos, ou
rodear!se de nova gente por conseguinte resolveu esperar
melhor ocasio
<ma noite os bandidos souberam pelos seus esculcas
que uma caravana que conduzia a 2erusal/m preciosas
mercadorias de 3iro, havia acampado em um barranco das
cordilheiras de 2ope
,badon tratou de a assaltar, e saiu da inacessvel
guarida, seguido dos seus terrveis companheiros
, noite estava clara e serena= brancas e vaporosas
nuvens como pequenos blocos de neve deslizavam pelo
lmpido horizonte, salpicando o difano azul do c/u com as
suas po/ticas e caprichosas ondula)es ,s vezes a lua, como
as virgens de 5io, lanava os seus d(bios raios atrav/s de
um a/reo e delicado v/u de renda 4ra uma noite formosa e
?M
po/tica, cheia de encanto, de mist/rio e doura, e em que o
c/u sorria e a terra exalava os perfumes do seu seio
<ma noite serena dirige 0 alma o imenso tesouro de
encantos cheios de vol(pia, enquanto a beleza do dia s# nos
fala aos sentidos " sol arranca lgrimas dos olhos e a lua,
suspiros do corao , noite representa a bondade do
*riador, e o dia o poder e a fora de Deus= por isso, enquanto
uma chora lgrimas doces e perfumadas como o rocio, o
outro fortalece e abrasa a terra com os seus raios de fogo
5em as formosas brisas da noite, sem a virao
perfumada do z/firo noturno, o mundo seria um rido
deserto, um paramo inabitvel
"s salteadores deslizaram de rocha em rocha em
direo ao ponto indicado pelos esculcas 5eria meia noite
quando se detiveram no cume de um outeiro
<ri/s, que era o mais conhecedor do terreno, separou!se
dos companheiros para explorar as cercanias do outeiro, pois
segundo os seus clculos, a caravana devia achar!se
acampada por aqueles stios
" bandido, arrastando!se como uma cobra, chegou sem
fazer barulho 0 borda de um barranco e, agarrando!se a uns
arbustos com as suas calosas mos, inclinou!se sobre o
abismo para reconhecer o fundo do solitrio vale, que se
dilatava para al/m do despenhadeiro , noite estava clara, e
a lua deixava ver os ob9etos sem dificuldades <ri/s langou
os olhos pelo vale, e em seguida foi reunir!se aos seus
companheiros
- Hue hC Disse!lhe secamente o capito ao v&!lo
chegar
, caravana, como nos disseram, respondeu <ri/s com
indiferena, acampou efetivamente no vale de 2ope 3odos
BT
dormem, camelos e homens, por/m pareceu!me ver reluzir 0
luz da lua o quer que era semelhante aos capacete romanos
- Gsso talvez se9a apreenso tua, atalhou outro
bandido
- 3enho bons olhos= 9 sabes que me engano poucas
vezes mormente de noite
- Nada tem de singular, tornou a dizer ,badon, que
em alguma cidade dos arredores se tenha reunido
um ou outro soldado 0 caravana
- Huem sabe se os da caravana tero pedido um
5ichem uma escoltaC Gnterveio Dimas
- 4 que devemos fazerC perguntaram diversos
bandidos
- Por Deus vivoD Hue devemos fazerC Descer ao vale
e, se9am romanos ou herodianos, levarmos as suas
cabeas para o nosso capito como trof/u de
vit#ria, exclamou Dimas cheio de ardor
- 3ens razo- desamos 0 plancie, rep8s o velho
capito
Pouco depois caram de improviso sobre o
acampamento, envolvendo!o como em uma rede "s
mercadores, surpreendidos no seu primeiro sono, acordaram
sobressaltados= o pAnico apoderou!se deles e s# pensaram em
fugir, deixando em poder dos terrveis inimigos as cargas e
os camelos Por/m no sucedeu o mesmo aos tr&s soldados
romanos, que ao primeiro grito de alarma saltaram com
presteza sobre os cavalos, e armando as destras com a curta e
terrvel espada que os fizera senhores do mundo, arro9aram!
se com mpeto sobre os bandidos
<m romano, principalmente um romano da Palestina,
no tempo de $erodes, 9ulgar!se!ia desonrado se retrocedesse
B+
diante de seis 9udeus, raa vencida e escrava, que os filhos do
3ibre olhavam com insultante desprezo "s legionrios do
Gdumeu iam para 2erusal/m 3endo encontrado por acaso
aquela caravana, haviam!se unido a ela por esse esprito
socivel, que predominava nos soldados do *apit#lio
"s romanos, soltando um grito de guerra ao qual se
seguiram os nomes de 'arte e 'inerva, brandiram as
terrveis espadas sobre as cabeas dos bandidos= por/m
aqueles israelitas no eram os covardes e fracos filhos da
cidade de 2erusal/m- eram raios da montanha, soldados
ferozes do deserto, cu9o renome terrvel de habitantes do
monte $ebel lhes fazia centuplicar as foras
"s romanos no podiam fazer mais que bater!se at/
morrer, e assim o fizeram Por/m as suas mortes deviam
custar caro aos samaritanos
,badon, o velho capito, ao querer cravar a sua lana
no peito do cavalo de um dos seus inimigos, recebeu um
terrvel golpe no pescoo, pelo qual se esvaiu em sangue,
morrendo pouco depois Dois bandidos mais tiveram a sorte
do seu chefe
Dimas matou pelas suas mos um dos legionrios=
por/m ao mesmo tempo recebeu uma cutilada na cabea que
o fez vacilar, e que indubitavelmente seria secundada, se
<ries no viesse em seu auxlio cravando o punhal nas costas
do romano, que caiu do cavalo
, lua, sempre clara e formosa, alumiou, com os seus
d(bios e po/ticos raios aquele combate, aquela cena do
sangue em que seis homens haviam exalado o (ltimo alento e
seis ficado gravemente feridos
"s bandidos, senhores do campo, dispunham!se a
carregar os camelos com o mais rico da preza e a colocar em
outros os que no podiam pelo seu estado andar o caminho a
B;
p/= por/m Dimas, que apesar do ferido no tinha perdido a
serenidade e o conhecimento deteve!os, dizendo!lhes-
*ompanheiros, antes de partir devemos dar sepultura
aos mortos, com o que honraremos os corpos dos nossos
camaradas, no deixando al/m disso vestgios desta
catstrofe que havemos experimentado, e que sempre poderia
alentar os nossos perseguidores
4sta segunda razo convenceu os bandidos, que
imediatamente se puseram a cavar uma vala Pouco depois,
romanos e samaritanos 9aziam sepultados para sempre
debaixo do pesado manto de terra "s bandidos abandonaram
o lugar do combate, mudos e cabisbaixos
Dimas caminhava ao lado deles sem descerrar os
lbios Pelas suas faces rolaram lgrimas " velho capito
havia!lhe demonstrado um afeito franco e desinteressado,
chamava!lhe filho, e o mancebo chorava pela mem#ria do
segundo pai que acabava de perder
2 o dia ia bem adiantado quando chegaram ao monte
$ebal , poucos passos da entrada subterrAnea os bandidos
detiveram!se
- Hue devemos fazer aos camelosC Perguntou <ri/s
dirigindo!se a Dimas, como se este fosse o chefe da
quadrilha
Descarregai!os e, em seguida, voltai!lhes a cabea
para o lado do mar, dai!lhes a voz de marcha e que vo para
onde quiserem
- No seria melhor vende!los amanh em 7ethelC
disse um dos bandidos
- 2 disse que conv/m desorientar os nossos
perseguidores, e estes animais poderiam descobrir!
nos
B?
- 3ens razo, ! a9untaram vrios salteadores
Descarregados os camelos, foram os animais colocados
como mandara Dimas, e os quadr(pedes largaram a trote
atrav/s do monte, em direo ao oeste
4nto os bandidos fizeram entrar a brao no castelo a
rica preza, que tanto sangue lhes havia custado Naquela
noite Dimas foi proclamado capito e ao tomar o comando
fez 9urar tr&s cousas aos seus subordinados- a primeira, que
amparariam sempre, mesmo com perigo de vida, todas as
crianas de menos de dez anos= a segunda, que respeitariam
em todas as ocasi)es, todos os velhos= a terceira e (ltima, que
nunca deixariam os cadveres insepultos, havendo tempo
para cumprir to santa tarefa
Dimas fez compreender aos companheiros que, 9 que a
sorte os lanara na vida de aventureiros, o que no era muito
honroso, foroso era que a guerra 0 sociedade se fizesse em
condi)es mais suaves= e visto que sua inteno no era
seno enriquecerem, se poderia conseguir sem necessidade
do terror, ao abrigo da sua bandeira do partido que como
bons israelitas, deviam levantar em defesa da ptria aviltada
pelos mpios romanos
,s palavras de Dimas exaltaram os bandidos, chegando
alguns deles a sentir remorsos pelo sangue derramado e pelo
tempo perdido no roubo e no crime 4m seguida, olvidando o
capito morto, beberam 0 sa(de do capito novo at/ carem
ao solo, embriagados
Desde ento a quadrilha de Dimas, apesar de viver
ainda da rapinagem, comeou a ser mais humana, chegando
com o tempo a formar no uma quadrilha de salteadores, mas
um grupo de homens livres, que amantes da lei, da religio e
BB
da independ&ncia, faziam com suas espadas uma guerra
terrvel aos soldados do tirano $erodes
,gora retrocedamos ao captulo segundo deste livro,
quando ao lvido claro do relAmpago vimos deslizar pelos
tortuosos atalhos dos montes da 5amaria oito bandidos de
feroz aspecto, entre os quais caminhava um mancebo armado
com uma lana curto e envolvido em um manto de l de
camelo
" mancebo era Dimas, que havia seis meses
capitaneava os foragidos, alcanando de dia para dia mais
afeto e domnio nos seus cora)es
4xplicado o procedimento do moo bandoleiro,
sigamo!lo, apesar da noite tempestuosa e das escabrosidades
do terreno
CAPTULO VIII
UM 1OLPE %A%O EM 8ALO
! *om que ento, amigo <ries, dizia Dimas a um dos
bandidos que caminhavam a seu lado, com que ento afirmas
que a caravana egpcia, apesar do seu aspecto pobre e
miservel, conduz um tesouroC
! " carregamento / de trigo fecundado pelas guas do
Nilo= por/m nos sacos do cereal esto ocultadas duas
caixinhas construdas em ,lexandria, que encerram um
tesouro <ma vez repleta de ouro em p#= e outra, de pedras
preciosas= ambas so destinadas a */sar 5eus condutores
ignoram que entre o louro gro que transportam se esconde
uma verdadeira fortuna " carregamento vai consignado a
um rico negociante de *esar/ia, em cu9o porto est um navio
romano ancorado, para transport!lo 0 cidade dos c8nsules
BF
! 7oa deve ser a presa para que os meus lobos
montanheses no te amaldioem por lhes teres feito
abandonar o castelo em uma noite como esta 'as, por Deus
vivoD 'uito me admira que to preciosos tesouro no se9a
escoltado por gente armada
! "s negociantes egpcios so desconfiados, odeiam os
romanos e receiam ser roubados por aqueles mesmos a quem
confiam a guarda das suas caravanas mediante um salrio
! No estars enganadoC
! 5# Deus / infalvel No entanto, agouro um &xito feliz
a expedio
! Hue parte ofereceste a quem te revelou o segredoC
! Nada ofereci= foi ele que fez as suas exig&ncias= de
maneira que, se nada lhe dermos, no faltaremos 0 nossa
palavra
! %e9o que /s astuto e prudente
! *apito, tenho quarenta anos, entrei no ofcio de
salteador quando apenas tinhas foras para levantar do cho
uma lana como essa que trazes na mo 4ra criana ainda e
o autor dos meus dias reconheceu que eu era um rapaz
aproveitvel= portanto, serviu!se de mim dando!me a honrosa
e delicada profisso de espio 3omei como um passatempo
aquela ocupao e desempenhei!a com o aflam com que a
infAncia faz as cousas que lhe agradam ,os doze anos era eu
um modelo de ast(cia, sagacidade e penetrao No /
imod/stia Dimas- todos os velhos bandidos da Palestina
tinham!se por modelo, e designavam!se como uma maravilha
da nossa arte No tenho sido capito por dois motivos-
primeiro porque no sou ambicioso, e isto no quer dizer
que tu o se9as= e o segundo, porque sendo simples membro
de uma quadrilha, posso servir melhor os meus
companheiros e levar uma exist&ncia mais independente
BI
*omo sabes, 0s vezes ausento!me por dez ou quinze dias=
durante este tempo percorro as dozes tribos- sou 9udeu entre
os da 2ud/ia, galileu entre os da @alil/ia, e samaritano na
5amaria Huando me conv/m mudo tanto de nome como de
raa <mas vezes sou mercador, outras sacerdote= introduzo!
me nas casas, e como tenho isso que chamam dom de
agradar! fao por ganhar a amizade e simpatia dos donos
delas, descubro os seus segredos, apodero!me dos seus
planos e neg#cios, e quando a minha mem#ria re(ne uma boa
quantidade de conhecimentos, volto ao velho castelo de
$ebal, onde os companheiros me esperam- informo!os
depois de tudo, e eles saem a colher o fruto dos meus
trabalhos, evitando!lhes deste modo que passem a noite em
um barranco, mortos de frio ou ensopados, esperando os
%iandantes, que muitas vezes no trazem mais que um saco
de negra cevada ou um punhado de farinha
! Ws um sbio, <reis, e os nossos companheiros fazem
bem em dar!te duas partes nas prezas
! ,h, meu caro DimasD "s homens so muito ingratos
4stou certo de que, apesar do meu saber, qualquer dia, em
recompensa dos meus cuidados e desvelos, me penduraro de
uma rvore, como fizeram a meu pai que sabia tanto como
eu
! Dimas sorriu!se ao ouvir as palavras do bandido, que
era tido entre os seus camaradas, como o mais astuto da
quadrilha
! ,credita, capito, volveu <ries, o homem foi criado
para no fazer nada= estuda com ateno o seu corpo, e vers
que os seus braos se prestam mais a estirar!se em
preguiosa atitude que a cavar a terra com pesada enxada ,
preguia / natural= o trabalho / violento e impr#prio "
homem, se afadiga e trabalha, / porque cr& que chegar um
BP
dia em que no far nada 3rabalhemos, pois, por algum
tempo, e em seguida a regalada preguia nos reter entre os
seus amantes e carinhosos braos
! <ries terminou dando um boce9o que s# um trovo
espantoso fez acabar
! 3emos m noite, disse um dos bandidos
! Piores foram as do dil(vio, atalhou outro
! 5e a presa for to pesada como a atmosfera, ento
tudo correr bem
! <ries / um preguioso, e visto que nos fez sair do
castelo em noite to ruim, por certo que no foi com o fim de
nos fazer dar um passeio por estes barrancos
! Oalai mais baixo, que chegamos, disse <ries,
aproximando!se dos camaradas Por aqui deve passar a
caravana quando a luz da aurora romper no "riente
4nto o melhor ser emboscar!nos, atalhou um outro
bandido
%amos, rapazes, cada um procure ao abrigo de uma
rocha um ref(gio contra o mau tempo, interveio Dimas em
voz baixa 4mbrulhai!vos nas vossas capas e cuidado com o
sono ,o primeiro grito de alarma, todos ao meu lado
"s bandidos emboscaram!se do melhor modo que
puderam nas salientes rochas de um estreito barranco Dimas
e <ries, desprezando a chuva, colocaram!se, envolvidos nas
mantas, 9unto a uma rvore corpulenta, 0 beira do caminho
por onde a caravana passaria
'eia hora haveria que os bandidos se achavam
acampados no barranco, quando o canto mon#tono do cuco
principiou a ouvir!se <ries ergueu!se como o chacal que
ouve os passos do caador e os latidos do co= que deu com o
rasto
! Hue hC perguntou Dimas sem altear a voz
BS
! Ggnoro= por/m aquele canto nada promete de bom
! Nos nossos livros o cuco no / ave de mau agouro
! Huem canto no / uma ave, mas um homem
! <m homemD exclamou Dimas, empunhando a lana
! Nada receies= / um amigo, um espio que me serve
bem 7reve sairemos das nossa d(vidas
4 <ries imitou de modo admirvel o grasnido
estridente e desagradvel do corvo
Pouco depois um homem, salpicado de lama e
escorrendo gua, apareceu dizendo-
! , paz se9a contigo, amigo <ries
Dimas olhou com assombro para aquele homem que
chegara at/ eles sem fazer o menor rudo
! *ontigo venha, amigo ,do, que notcias trazesC
<ma circunstAncia inesperada tirou!nos a presa "s
condutores da caravana caminham a estas horas em direo a
2eric# entre duas alas de ter"i9rios romanos
! Por Gsaac, explica!te melhor e depressaD 4xclamou
Dimas com impaci&ncia
! No sabeis ainda a nova, rep8s o espio, que agita o
povo de Gsrael, e faz estremecer o tirano $erodes no seu
palcioC
! Nas montanhas de 5amaria s# se ouvem os uivos dos
lobos, redarguiu o 9ovem capito
! Pois bem, na cidade santa conta!se que tr&s mago
caldeus vieram a 2ud em busca do 'essias prometido "
idumeu dese9ando apoderar!se desses estrangeiros, que
chegaram 0 suas terras para alentar as esperanas do povo
9udeu com falsas novas, espalhou seus soldados por todas as
tribos "s via9antes so detidos e interrogados= suas
mercadorias sofrem revista escrupulosa, e esta sorte coube
aos egpcios que esperveis por este barranco, pois a estas
BM
horas caminham para 2eric#, custodiados pelos legionrios
do rei de 2erusal/m
! De modo que o tesouro disse Dimas
! %ai cair em poder de $erodes, atalhou o espio que,
ao saber o seu destino, se apressara a remet&!lo para 6oma
como uma manifestao do respeito, que lhe inspira a cidade
mpia
Dimas encolheu os ombros, e disse com impassvel
entoao-
! , empresa malogrou= / preciso resignarmo!nos a
esperar ocasio melhor No entanto, no deixaria de ser
conveniente continuar na pista da caravana
! 5ou da mesma opinio, disse <ries Huem sabeC
$erodes pode confiscar o trigo e p8!lo 0 venda, e nesse caso
o melhor neg#cio / compr!lo
! 4 podes encarregar!te desse assuntoC
! *om todo o gosto
! Pois ento, parte para 2eric#= esperaremos notcias
tuas no castelo
! , minha bolsa est vazia, capito
! 6ecebe este cinto- cont/m doze minas hebr/ias, que
te bastaro para comprar o carregamento= por/m no olvides
o que pode tomar!se no se deve comprar, segundo os
regulamentos da nossa profisso
4 Dimas, dizendo isto, entregou a <ries um cinto de
couro que a sua farta t(nica ocultava
! Hueres acompanhar!me ,doC perguntou <ries
! 5imD 6espondeu aquele fazendo um gesto de
indiferena
Depois, o 9ovem capito reunindo os companheiros, e
disse!lhes em duas palavras o que se havia passado, e o que
decidira Ningu/m proferiu uma palavra, nem uma queixa=
FT
no entanto, os rostos dos bandidos manifestava!se claramente
o desgosto daquele contratempo
<ries e ,do tomaram o caminho de 2eric#, e os
bandidos dirigiram!se prague9ando para os monte da
5amaria
3inha cessado a chuva= por/m a noite continuava
escura, ouvindo!se de vez em quando a longnqua e
ameaadora voz do trovo
"s bandidos caminhavam taciturnos e cabisbaixos,
demonstrando o seu mau humor no mais pequeno incidente
3inham abandonado uma presa fabulosa, e voltavam
molhados enlameados, sem aumentar os seus cabedais com
um miservel #bolo sequer
2 perto do castelo de $ebal, ao atravessarem um
fragoso barranco, ouviram passos
Dimas f&!los parar e ocultar!se por detrs das saras e
das salientes rochas 4ntretanto, pelo nvio barranco que ia
ter ao lugar em que estavam os bandidos emboscados,
caminhava um venervel ancio, envolvido no pardacento
manto dos galileus 3razia um 9umento pelas r/deas, e sobre
a modesta cavalgadura ia uma mulher 9ovem e um menino de
pouco meses
, criana dormia no regao materno, e estava
cuidadosamente envolvida em uma capa cor de corinto- a
me chorava em sil&ncio, e o ancio orava em voz baixa
" trovo continuava a ribombar por cima das cabeas
dos pobres viandantes De repente o ancio parou, porque ao
dobrar uma curva do barranco viu surgir um homem, que lhe
p8s ao peito as afiadas pontas de uma lana, bradando com
voz torva-
! ,lto ou morresD
F+
" ancio recuou dois passos, a mulher exalou um
grito e, estreitando o filho ao seio, exclamou-
! Deus de 5io, salvai o meu 2esusD
LG%6" 54@<ND"
ETRELA %O MAR
<ma viagem conceber e dar 0 luz um filho, que se
chamar 4mmanuel, isto / , Deus conosco 4ste filho, dado
milagrosamente ao mundo, ser um rebento do tronco de
2os/, uma flor nascida da sua raiz 5er chamado o Deus
forte, o Pai dos s/culos futuros, o Prncipe da paz 5er
levantado como um estandarte 0 vista dos povos= as na)es
viro oferecer!lhes as suas homenagens, e o seu sepulcro
ser glorioso JProfecias de GsaiasN
CAPTULO I
M A R I A
*omea o livro da %irgem , inspirao de Qorrila, o
g&nio de 'urilo, tornam!se pequenos ante a formosura da
'e aflita que chorou no cume do @#lgota a morte de seu
filho , grandeza de 'aria / divina, e por isso no chega a
ela o talento humano
Perdoa, pois, # %irgem, se a minha insufici&ncia se
atreve a narrar a tua hist#ria dolorosa , f/ crist d alento 0s
minhas mesquinhas foras= o teu nome glorioso dar cor 0s
minhas plidas id/ias= em ti confio para levar a cabo a
penosa peregrinao que impus a mim mesmo
F;
Nazar/, a ptria de uma %irgem, o bero de um Deus,
envolta ainda nas (ltimas sombras da noite, dorme tranquila
a um extremo do pitoresco vale de 4sdrelon , vontade
suprema do *riador colocou!a no seio de duas colinas que,
mes carinhosas, a cingem com os seus robustos braos a fim
de a livrarem das tormentas outonais
Nazar/, azulada pomba do "riente, que formaste o teu
ninho 0 sombra de $ermon para te embriagares com o
perfume que te enviam os floridos campos de *ana que
foram em tempo o cobiado 9ardim da tribo israelita de
Qabulon= modesta aucena dos vales, em cu9o clice
depositou Deus a p/rola do "riente, o gro de ouro do
*ristianismo= 2erusal/m, 5/fora e 7eiruth olharam!te com
desprezo porque se 9ulgavam rainhas da Palestina, porque
ignoravam que tu estavas destinada a ser o ninho santo
anunciado nas profecias, a fonte inesgotvel da salvao da
alma, o sol espl&ndido da f/ e da esperana
" rocio celeste cai sobre os teus campos= 2eov salda!
te do seu trono de luz, e os an9os cantam o hino da benvinda,
porque as profecias vo cumprir!se
<ma menina, formosa como a estrela da manh, acaba
de respirar o primeiro sopro da vida e de seu peito virginal
sai um gemido de dor 4 o primeiro de um 4nte que nasce, de
um 4nte que vem ao mundo interceder eternamente por n#s
5eu bero no se cobre com as ricas colchas do 4gito,
nem se atavia com o ouro da P/rsia "s seus vestidos no se
perfumam com a ess&ncia do nardo, nem se acende mirra
nem #leo balsAmico em turbulos de prata, como se faz aos
prncipes hebreus
Pobre e tosco linho lhe cobre os delicados membros=
uma choa a alberga e humildes mulheres do povo rodeiam o
seu bero e recebem o seu primeiro sorriso
F?
No entanto, aquela d/bil criatura nasceu com o destino
de ser 6ainha dos c/us, a me dos an9os, a 4sposa de Deus
"s conquistadores da terra deporo os cetros aos seus p/s, os
reis curvaro ante 4la as altivas frontes, e os aflitos,
implorando a sua proteo iro ador!la de 9oelhos ante os
altares levantados pela f/ crist Porque 4la ser o blsamo
universal das dores humanas, a esperana do nufrago e a
consolao dos tristes
5eu nome glorioso ser invocado nos momentos
angustiosos da vida, porque Deus escolheu!a para gerar em
seu seio o %erbo Divino, que em forma de homem h de
remir com o seu precioso sangue os pecados nefandos da
humanidade Porque 4la ser .um tronco liso e brilhante em
que nunca se encontrar, nem o n# do pecado original, nem
o c#rtex do pecado atual1
+
" seu nome ser para os aflitos .mais doce aos lbios
que um favo de mel, mais aprecivel ao ouvido que um
cAntico suave, mais delicioso ao corao que a alegria mais
pura1
;
Por/m, no adiantemos os sucessos 5igamos as
sagradas tradi)es do "riente, e com elas 0 vista e a f/ na
alma, Deus nos dar foras para levarmos ao fim a difcil
peregrinao que impusemos a n#s mesmos
4m Nazar/, pequena cidade da baixa @alil/ia, vivia
um homem honrado, conhecido pelo nome de 2oaquim, da
tribo da 2ud e da descend&ncia de Davi por Nat 5ua
esposa chamava!se ,na
+
5anto ,mbr#sio
;
5anto ,nt8nio de Pdua
FB
,mbos eram bons e observavam com a f/ no corao
os mandamentos de 2eov= por/m o 5enhor afastava deles os
olhos, e ,na era est/ril depois de vinte anos de casada
2oaquim podia quebrar aqueles infecundos laos,
dando a sua mulher a carta de div#rcio, que a lei dos fariseus
com tanta facilidade concedia
Lei brbara e desumana, em que as esposas se
convertiam em escravas e os maridos em desp#ticos
senhores
,na, pois, vivia triste, porque a esterilidade era olhada
em Gsrael como um opr#brio Por/m 2oaquim amava a
esposa, e vivia resignado entre o trabalho, a orao e a
esmola Pediam a Deus com fervor que lhe concedessem um
herdeiro, para se verem limpos da mancha que sobre eles
pesava= e Deus ouviu as suas s(plicas, porque saiam de dois
cora)es puros ,na sentiu agitar!se nas suas entranhas o
g/rmen de um novo ser, e louca de alegria, participou!o a seu
esposo
Passou um lua e outro lua, e por fim em uma manh
do m&s de 3irsi
+
,na foi me, e 2oaquim apresentou aos
parentes e amigos uma menina, formosa como um an9o, loira
como o ouro em p# dos mercadores do 4gito
Nove dias depois, segundo os costumes 9udaicos,
reuniram!se todos na casa paterna para por/m um nome 0
tenra criana " pai p8s!lhe o mais formoso, o mais sublime
que ainda combinaram as letras do alfabeto, porque ele s#
encerra um poema de ternura inesgotvel
4ste nome era 'irian J'ariaN nome que um lngua
siraca significa o-erana, e na hebr/ia Estre*a do Mar
+
5egundo a opinio de alguns orientalistas a %irgem 'aria nasceu a S de setembro J3ori, primeiro
m&s civil dos 9udeusN do ano P?B de 6oma e ;+ antes de *risto , hora do seu nascimento foi ao
amanhecer, e a dia sbado
FF
4 como dar!lhe outro nome que melhor explicasse a
alta dignidade da %irgem, que havia de gerar em seu seio o
mrtir do *alvrioC
5 7ernardo disse- .'aria / com efeito aquela
formosa e brilhante estrela que brilha sempre sobre o mar
vasto e tempestuoso do mundo1
, mulher hebr/ia purificava!se solenemente no
templo oitenta dias depois do parto, oferecendo no altar
sagrado um cordeirinho branco ou duas rolas, sendo pobre,
ou uma coroa de ouro, sendo rica
,na era pobre, e ofereceu uma rola para o sacrifcio=
por/m grata ao preciosismo dom que 2eov lhe concedera,
empenhou a palavra de consagrar a filha ao servio do
templo, logo que aquela tenra flor soubesse distinguir o bem
do mal
,na criou 'aria ao peito, porque 2ud as mes tinham
a obrigao de amamentar os filhos
+
4stranho a formosa criana desde os seus mais tenros
anos aos brinquedos da infAncia, cresceu entre a meditao e
as tenras carcias de seus pais ,os tr&s anos era olhada com
respeito por todos os humildes habitantes de Nazar/ Nos
seus olhos, azuis como o c/u do "riente, brilhava um reflexo
de luz divina 5eus lbios, nacarados como as p/talas dos
cravos de 2eric#, tinham sempre um sorriso de indefinvel
doura para todos os que se acercavam dela "s abundantes
an/is dos seus louros cabelos caam como chuva de ouro
sobre a modesta t(nica de l azul, que lhe cobria a delicada
carne
4m certas tardes, na pitoresca estao da primavera,
seu pai levava!a a passear pelos floridos 9ardins do vale de
+
4m todos os livros da 4scritura no se encontram seno tr&s amas- a de 6ebeca, a de 'efibos/l e
a de 2os Deve notar!se que 6ebeca, a esposa de Gsaac, era estrangeira= e os outros princpes
FI
4sdrelon , formosa criana, sentada 0 sombra de um
daqueles salgueiros, que tantas vezes abrigaram as caravanas
rabes
+
, comprazia!se em estender a vista pelo claro e
difano c/u da @alil/ia Durante estes momentos de
contemplao celeste, o pai no se atrevia a interromp&!la,
pois, 9ulgava!a inspirada por alguma revelao divina
,o voltar para casa, com as pequeninas mos, brancas
e finas como a flor do terebinto, fazia um ramo de narcisos,
an&monas e aucenas, e durante o caminho deleitava!se em
aspirar o seu delicado perfume 'uitas vezes o pai colhia!lhe
o dourado fruto do sic8moro e do platAno= a formosa criana
guardava!o e, ao chegar 0 povoao oferecia!o 0 me
'aria chegou 0 idade fixada por seu pais para ser
entregue, conforme haviam prometido, ao templo sagrado,
como uma das virgens de Gsrael "s parentes de 2oaquim
dispuseram!se a acompanh!la, pois segundo os costumes
hebreus deviam presenciar a sagrada cerim8nia
, humilde caravana saiu por conseguinte de Nazar/
em direo a 2erusal/m 4stava!se na estao das chuvas "
*ison, seco durante os ardentes meses do estio, arrastava
sobre o seu leito de areia vermelhas e t(rbidas guas "s
viandantes evitaram o perigo que o rio lhes oferecia,
tomando as encostas balsAmicas do monte *armelo e a f/rtil
e arenosa plancie de 5aron, semeada por todas as partes de
laran9eiras, palmeiras e abetos Depois de alguns dias de
viagem, chegaram por fim 0 populosa cidade de 2erusal/m, e
entraram nela pela porta de 4fraim
CAPTULO II
+
, caravana mais numerosa podia abrigar!se em torno dos seus troncos colosais JLamart, %iagem
PalestinaN
FP
A VIR1EM %E ION
,lguns dias depois os pais, seguidos de numerosos
parentes e ataviados com os vestidos de gala, dirigiram!se
para o templo 2oaquim levava nos braos o cordeiro sem
mcula que devia oferecer ao 5enhor , esposa conduzia
'aria, sua filha , menina levava nas suas pequeninas mos,
envolvida em uma toalha de alvo linho, a flor de farina
indispensvel ao sacrifcio
"uamos o que diz o abade "rsini da apresentao de
'aria- .,travessando o ptio exterior, onde qualquer
estrangeiro devia deter os passos sob pena de morte, o
s/qVito aumentou com bom n(mero de empregados do rei,
de fariseus, de doutores e damas ilustres que uma disposio
oculta da Provid&ncia reunira por acaso nos p#rticos de
5alomo , comitiva deteve!se no estrado de mrmore do
chel
+
,li os fariseus estenderam os seus the+h**ins
:
! e
cobriram as frontes orgulhosas com um dos panos do seu
ta*et
?
de l branca e fina, guarnecido de granadas purpurinas
e de cord)es cor de 9acinto "s valentes capites de $erodes
envolveram!se nos seus ricos mantos presos com broches de
ouro, e as filhas de 5ion velaram mais os rostos com os v/us
em res+eito aos an;os do santu9rio<
., divina donzela e a brilhante comitiva transpuseram
a porta de bronze que fechava aos profanos o sagrado
recinto , porta de Nicanor girou sobre os gonzos para
deixar passar a vtima, e ofereceu em perspectiva o tempo de
+
4spao de dez covados entre o ptio dos gentios e das mulheres
;
Te+hi*im, pequeno pedao de pergaminho, sobre o qual os fariseus escreviam com tinta feita de
pr#posito versculos da 4scritura, colocando!o depois no brao direito ou ao meio da testa 4stava
isto muito em voga no tempo de *risto e era um sinal de distino J7ernage, 0ist< dos 'udeus!
livro %GG, cap %GG
?
Ta*et, manto quadrado que os 9udeus levavam para fazerem a orao, e com o qual cobriam o
rosto
FS
Qorobabel com as suas coroas votivas, as suas portas
forradas de folhas de ouro, as suas paredes construdas de
pedras enormes e polidas, nas quais as mos dos s/culos
haviam deixado essa cor de folha seca que distingue os
antigos edifcios do "riente 3udo era grande e venervel na
casa de 2eov, e no entanto, apesar da sua magnific&ncia,
quanto decair do seu esplendor e santidadeD <m no sei que
de defeituoso e incompleto fazia!se sentir at/ nas cerim8nias
mais imponentes "s seus sacerdotes 9 no eram os ungidos
do 5enhor= a ,rca santa havia desaparecido Por/m ia
brilhar um dia glorioso e o "riente comeava a iluminar!se
."s sacerdotes e os levitas, reunidos no (ltimo degrau
do estrado, receberam das mos de 2oaquim a vtima da
+ros+eridade
4stes ministros do Deus vivo no tinha a fronte cingida
de louro e de pio verde, como os sacerdotes dos dolos- uma
esp/cie de mitra arredondada, de um espesso tecido de linho,
uma t(nica comprida, tamb/m de linho, branca e pouco
farta, apertada por um cinto bordado a ouro, compunha o
tra9e sacerdotal que no se usava seno no templo
.Depois de ter deitado sobre o ombro esquerdo as
pontas flutuantes do cinto, um dos e"haneos
+
pegou no
cordeio cu9a cabea virou para o norte, e enterrando!lhe no
pescoo o cutelo sagrado, pronunciou uma breve invocao
ao Deus de 2ac# " sangue, que caa em um vaso de bronze,
ficou reservado para recear os "ornos do altar
;

.Oeito isto, o sacrificador amontou em larga salva de


ouro as entranhas, os rins, o fgado, a cauda e as mais partes
da vtima, que vrios levitas lhe apresentavam
+
5acrificador ordinrio
;
Nos quatros cantos do altar dos holocaustos havia quatro pilares pequenos e ocos, por onde se via
o sangue das vtimas 4ram estes os "ornos do altar em que tanto fala a 5agrada 4scritura J 0ist<
dos 'udeusN
FM
sucessivamente
+
= depois de as ter lavado com cuidado na sala
da fonte, deitou sobre a oferenda incenso e sal= em seguida,
subindo com os p/s descalos a suave escada que ia ter 0
plataforma do altar dos holocaustos, fez liba)es de vinho e
sangue, lanou 0 chama brilhante, a qual nenhum sopro
humano havia acendido
;
um pouco de flor de farinha diluda
em um copo de ouro com azeite do mais puro, e colocou
finalmente a oferenda da paz sobre os ardentes lenhos que
tinham sado do bosque de 5ichem
?
e que os oficiais
superiores do templo haviam examinado com cuidado e
despo9ado das suas cascas
." resto da vtima, exceto o peito e a espdua direita
que pertenciam aos sacrificadores, foi entregue ao esposo de
5ant:,na, que dividiu pelos seus parentes mais pr#ximos,
segundo o costume do seu povo
."s (ltimos sons das trombetas sacerdotais ecoaram ao
longo dos p#rticos= e o sacrifcio ardia ainda sobre o altar de
bronze quando um ministro do templo desceu ao trio das
mulheres para determinar a cerim8nia
.,na, seguida de 2oaquim, levando sua filha nos
braos, com a cabea coberta por um v/u, adiantou!se para o
ministro do ,ltssimo e apresentou!lhe a 9ovem serva do
5enhor, pronunciando comovida estas ternas palavras-
.%enho oferecer!vos o dom que Deus me fez1
" sacrificador hebreu aceitou, em nome do ,n9o, que
fecunda o seio das mes, o dep#sito precioso, que a gratido
+
7esnage afirma que para o simples sacrifcio de um cordeiro empregavam!se dezoito
sacrificadores
;
"s 9udeus no se serviam nem do s8pro da boca, nem de foles para acenderem o fogo do altar=
excitavam a chama derramando #leo sobre os carv)es acesos U =0ist< dos 'udeusN
?
3errit#rio de Nauplus J3urquia asiticaN (nico bosque d:onde se tirava a lenha para os sacrifcios
U JCorres+ond4n"ia do Oriente, tomo G%N
IT
lhe confiava, e abenoou os santos esposos, como $eli
+
, o
pontfice, havia abenoado em outro tempo e em
circunstAncias id&nticas o piedoso 4lcana e sua ditosa esposa
4m seguida estendeu as mos sobre a assembl/ia em que se
inclinava 0 sua beno pontificial
;
, exclamou- Oh Israe*!
&ue o Eterno diri;a! so-re ti a sua *u>! e te ?aa +ros+erar
em todas as "ousas e te "on"eda +a><
.<m cAntico de gozo e de ao de graas,
harmoniosamente acompanhado pelas harpas sacerdotais,
terminou a apresentao da %irgem1
3al foi a cerim8nia que teve lugar no templo de 5ion
nos (ltimos dias de novembro
Qacarias, prncipe dos sacerdotes de ,in e parente de
2oaquim e ,na, foi quem recebeu a meiga %irgem dos braos
de sua me, para depositar ao lado das suas companheiras na
casa de Deus
Desde aquele dia, as piedosas matronas, que eram
responsveis perante os sacerdotes pelo precioso dep#sito
que lhes era confiado, olharam com respeito para a terna
adolescente, cu9a bondade e formosura as sub9ugava " seu
retiro no templo no foi uma clausura monstica "s pais,
que desde o momento da apresentao se domiciliaram em
2erusal/m, visitavam!na com frequ&ncia 3odas as tardes,
quando os raios do sol comeavam a iluminar com a
vermelha luz do crep(sculo as cordilheiras do 3abor, e as
guias, abandonando os seus negros ninhos do Lbano,
pairavam com preguioso v8o sobre os brancos e elevados
+
@ran sacerdote hebraico e descendente de 5anso, que morreu ao saber que os filisteus se haviam
apoderado da ,rca santa, no ano de +++; antes de *risto
;
4nquanto o pontfice dava a beno, o povo era obrigado a tapar dos olhos com as mos, afim de
no v&r a mo do sacerdote, cousa que no era permitida "s 9udeus imaginavam que Deus estava
atrs do sacerdote, e os olhava atrav/s das suas mos estendidas, e no se atreviam a levantar os
olhos para &le, porque ningu/m pode v&r Deus e viver ao mesmo tempo J7esnage, liv %GGN
I+
minaretes de 2erusal/m, 'aria, coberta com pudico v/u das
virgens, e seguida das suas companheiras, entoava com
fervoroso acento 9unto ao altar, as ora)es de 4xtra= e Deus
de 5ion indubitavelmente ouvia a sua doce s(plica, que do p#
da terra se elevava at/ o santurio do paraso, expressa neste
po/tico e santo estilo-
."h DeusD, Hue vosso nome se9a santificado neste
mundo que criastes segundo a vossa vontade- ?a>ei reinar o
)osso reino- que a redeno floresa e que o 'essias aparea
sobre a terra
+

Gsto entoavam ao som das melodiosas harpas as virgens


do templo, e o povo respondia!lhes com fervor, inclinando as
frontes para o cho- .,m/m, am/mD1
4m seguida repetiam os inspirados versculos do belo
salmo dos profetas ,geu e Qacarias-
.O senhor *e)anta os &ue esto "a6dos! e ama os &ue
so ;ustos<
@O senhor +rotege os estrangeirosA E*e +roteger9
tam-.m a ,r? e a )i7)a! e destruir9 o "aminho dos
+e"adores<
@O senhor reinar9 em todos os s."u*osA o teu %eus! ,
ion! reinar9 em todas as geraBesC<
'aria permaneceu no templo de 5alomo at/ aos
quinze anos, sendo modelo de virtude e santidade entre as
suas companheiras
,s horas que os ofcios divinos lhe deixavam livres
empregava!os em bordar, em outros lavores delicados e no
estudo dos livros sagrados , sua habilidade sem par em fiar
o linho, chegou at/ n#s em uma tradio oriental, que
+
4sta orao / a mais antiga de t8das as que os 9udeus conservam= alguns escritores respeitveis
afirmam que estava em uso antes de *risto, e que os ,p#stolos a adotaram com prefer&ncia na
5inagoga
I;
designa com o nome de 8io da Virgem
3
essas rendas finas e
delicadas que parecem desfazer!se ao menor sopro ,os
quinze anos, 'aria era, segundo 5 Dionzio ,reopagita,
contemporAneo da %irgem, e que teve a incomparvel
ventura de ver a casta luz dos seus olhos e ouvir sua voz,
?ormosa at. ao des*um-ramento! e &ue a teria adorado
"omo a um %eus! se no sou-esse &ue ha)ia um s,<
5anto 4pifAnio, no s/culo G%, descreve!a deste modo-
.A sua estatura era mais &ue mediana; a te>! *e)emente
dourada! "omo a da u*amita! +e*o so* da sua +9tria!
tinha o es+*4ndido mati> das es+igas do Egito; seus
"a-e*os eram *ouros! os o*hos )i)os tirando um +ou"o a
"or de a>eitona
:
; tinha as so-ran"e*has +er?eitamente
ar&ueadas e do negro mais ?ormoso; o nari> < de uma
+er?eio not9)e*! era a&ui*ino! os *9-ios rosados! o
sem-*ante ?ormosamente o)a* e as suas mos de*gadas e
"om+ridasC<
Por conseguinte 'aria, segundo o parecer de alguns
sbios correntadores da 4scritura 5agrada, encerrava em si s#
todos os ricos tesouros da beleza, caridade, valor e virtude,
que o grandioso catlogo das mulheres da 7blia poderia
reunir
Na pura e imaculada urna, que encerrava o seu esprito,
haviam!se reunido todas as perfei)es que o 4terno pode
conceder 0 criatura
, me de Deus no se concebe de outro modo ,
importante, a dolorosa, a regeneradora misso a que estava
destinada, desde o momento em o seu seio virginal respirou
na terra dos homens o primeiro sopro da exist&ncia,
+
"s tecel)es franceses da Gdade '/dia, em comemorao de 'aria, levavam nas festividades um
estandarte com uma %irgem e uma legenda que diziaA Nossa enhora! a ri"a<
;
,s azeitonas na Palestina so de um verde azulado
I?
unicamente uma mulher bafe9ada pelo sopro de Deus, a
podia levar a cabo
Por isso Deus, que a encolhera para que o mundo a
invocasse no porvir com o excelso nome de sua 'e, fez
com que 'aria fosse casta como 5uzana, bela e valorosa
com 4ster, a hebr/ia que evitou o extermnio dos seus
compatrcios, prudente como ,bigail, esposa de Davi,
previdente como a profetisa D/bora, que soube governar o
povo israelita e salv!lo da dominao dos cananeus, sofrida
e resinada, enfim, como a me imortal dos 'acabeus
3erminaremos o retrato da %irgem, dizendo que 'aria falava
pouco, que era simples nas suas palavras e modesta no seu
porte= e no gostava de deixar!se ver, apesar de 9ovem e
formosa
,ssim se achavam as cousas, quando no c/u soou a
hora de comearem as lgrimas a embaciar as lmpidas
pupilas da %irgem ,prouve a Deus dar princpio a terrvel
prova a que a destinara Qacarias, gran!sacerdote e parente de
'aria, entrou uma tarde na sua ceia e disse!lhe-
! *obre a cabea com o teu manto, e segue!me
! Para onde, senhorC
! No seu leito de morte est um homem exalando o
(ltimo suspiro da vida 'eo)9 o est9 "hamando +ara a "asa
dos )i)o
3
, e antes de deixar os parentes para sempre quer
abenoar!te
! W meu pai, exclamou 'aria na dor mais cruel
! 5im, / teu pai, respondeu o sacerdote, com acento
religioso 2oaquim morreu, como morrem os 9ustos- rodeado
da famlia, e ouvindo em torno de si as ora)es e os soluos
dos parentes e amigos
+
" sepulcro chama!se entre os 9udeus a .casa dos vivos1, para mostrar que a alma imortal aind
vive depois de se separar da mat/ria U J7esnage, liv %GG, cap XXG%N
IB
'aria fechou!lhe os olhos, e acompanhou com sua me
o cadver 0 (ltima morada, segundo o costume dos hebreus
No entanto, este golpe cruel no veio s#= outro os seguiu,
mais terrvel, se / possvel, que deixou a imaculada 'aria
#rf e inconsolvel " seu corao comeou a ser traspassado
de cru/is feridas, que foram o prel(dio de outras mil que a
esperavam
, morturia lAmpada ainda no se tinha apagado na
habitao da vi(va " grosseiro "ame*ote
3
ainda envolvia as
formas da %irgem, que tinha os pequeninos p/s descalos,
quando um segundo emissrio foi ao templo anunciar!lhe
que tinha a me a expirar , 9ovem, acompanhada por uma
das matronas do templo correu para 9unto do leito de sua
me 4ra noite- 9unto 0 modesta porta da casa de ,na, 'aria
viu um carpideira acocorada, que lanava ao vento gemidos
! 'ulher, perguntou a %irgem, por desgraa morreria a
me da minha almaC
! No, respondeu a carpideira, ainda vive= por/m as
minhas lgrimas anunciam, que a sua a (ltima hora est
pr#xima
" orvalho da manh, ao cair do c/u, encontrou a alma
de ,na, que se elevava ao trono do 5enhor 'aria estava
#rf, e por conseguinte, livre e senhora das suas a)es 4la
por/m escolheu a *asa de Deus como ref(gio ao seus
despedaado corao
5ua dor foi angustiosa, imensa, mas resignada Do
mais ntimo da sua alma virginal soltaram!se preciosas e
abundantes lgrimas, porque o seu corao, fonte de
inesgotvel ternura, 9amais secou Por conseguinte elevando
ao c/u o rosto dolorido e os olhos lacrimosos, exclamava
com doloroso acento, esgotando o calix da amargura-
+
3(nica de luto de l de camelo
IF
D Oh# 'eo)9# 8aaDme a )ossa )ontadeD
'aria acendeu a lAmpada na 5inagoga, testemunha
muda da sua dor, que pedia ora)es para aquele que lhe dera
o ser= e 9e9uou por espao de onze meses todas as semanas no
mesmo dia em que ficara #rf
+
'aria, ainda que pobre, teve
tutores da ordem sacerdotal
Qacarias, esposo de Gsabel e pai de 5 2oo 7atista, o
Precursor de *risto, foi o tutor que 2oaquim escolheu para
sua filha na hora da morte
CAPTULO III
O ANEL %E OURO
'ois/s disse- .Huem no deixar descend&ncia em
Gsrael, ser maldito1
Por conseguinte, a lei obrigava 'aria a tomar esposo
"s pais de 7atista, desse mrtir do capricho de uma
rainha impura, viviam em ,in, pequena povoao situada a
duas l/guas ao sul de 2erusal/m No fazendo caso das
repetidas s(plicas da sua pupila, que se obstinava a passar o
resto dos seus dias no templo de 5ion, convocaram todos os
parentes da linhagem de Davi e da tribo de 2ud
<m descendente de Davi no podia subtrair!se ao 9ugo
do matrim8nio "s profetas haviam anunciado que de um
ramo verde e formoso sairia o 'essias dese9ado, o 5alvador
de Gsrael ,quele que devia colocar o estandarte dos
'acabeus sobre os templos pagos da mpia 6oma= e os
9udeus regozi9avam!se de ver nos seus sonhos de vingana o
assombro e o espanto, com que os escravos do 3ibre leriam
estes rubros caracteres da sua gloriosa bandeira- Eua* de
entre os deuses . seme*hante a ti! F EternoG
+
4ste 9e9um era a abstin&ncia completa de todo e qualquer alimento por espao de ;B horas
II
4stas cousas eram a esperana do povo Gsraelita desde
que os assrios, derrotando!o com suas vencedoras legi)es, o
levaram cativo para as margens do 4ufrates
Gsrael chorou lgrimas de dor na impura 7abil8nia= as
harpas de 2ud perderam as suas doces melodias, e os vasos
sagrados do templo de 5io foram depositados aos p/s do
dolo 7elo, como se 2eov pudesse tributar homenagens aos
deus sangrento dos babil8nios
'aria, pois, era uma esperana para o povo de ,brao
, violeta perfumada de Nazar/, o verde rebento do rei dos
*Anticos, devia unir!se a um homem da sua raa, cu9a
limpeza de sangue fosse to pura, to imaculada, como a que
girava pelas azuladas veias da 4strela do 'ar
5egundo as sagradas tradi)es, vinte e quatro
pretendentes aspiraram 0 mo da %irgem 4ntre eles
encontrava!se 2os/, o carpinteiro de Nazar/, e ,gabuz, o
nobre 9erosolimitano
2os/ era pobre, humilde e ganhava o sustento com o
trabalho das suas mos 3eria quarenta anos,
+
e a sua
veneranda cabea achava!se coberta de cans
,gabuz era 9ovem, rico e formoso , sua linhagem das
mais nobres, e a sua famlia das mais poderosas de 2ud <m
oferecia 0 virgem uma vida de priva)es= o outro uma
exist&ncia de luxo e abundAncia 2os/ dava!lhe o humilde
saio do pobre e o duro po do 9ornaleiro ,gabuz ter!lhe!ia
lanado aos p/s preciosas telas do 4gito, e adornado os seus
braos com ouro e p/rolas da P/rsia
Por/m os sacerdotes desprezaram as riquezas, e
escolheram o pobre carpinteiro de Nazar/ Deus havia!lhes
+
,lguns escritores atribuem a 5 2os/ oitenta anos na /poca do seu casamento= por/m entre os
hebreus, a unio de um velho com uma 9ovem era proibida nos termos mais humilhantes e
vergonhosos= por conseguinte, em virtude de todos os pareceres e tendo em conta a lei, fixmos!lhe
BT anos de idade
IP
recordado o vaticnio de Gsaias que dizia assim- 5air uma
vara da raiz de 2os/, e da sua raiz uma flor preciosa1
Depois de orarem, os pretendentes depositaram 0 noite
vinte e quatro varinhas de amendoeira no templo <ma
tradio antiga, contada por 5 2er8nimo, refere que a seca
vara de 2os/, filho de 2ac# neto de Natan, se encontrou verde
e florida no dia seguinte
,gabuz, desesperado por este prodgio que o c/u lhe
manifestava, fechando!lhe todas as portas 0 esperana,
quebrou resignado a sua vara, e foi encerrar!se em uma gruta
do *armelo com os discpulos de 4lias 5ua dor foi imensa=
por/m a f/, to grande, como a dor, f&!lo cristo, e morreu
com as honras de santidade
"s tutores declararam a 'aria o nome e a classe do
esposo escolhido, e 4la aceitou!o sem proferir uma queixa
"s delicados trabalhos do templo, os perfumes da casa santa,
iam ser trocados em breve pelas rudes e penosas fadigas da
mulher do pobre Por/m 'aria, forte de esprito, confiava em
que o 5enhor lhe daria foras para suportar o pesado encargo
,pesar de destinada a ser esposa de um carpinteiro, contudo
no se 9ulgou aviltada porque todos os israelitas eram
artistas Por mais alta que fosse a gerarquia deles, os pais
tinha obrigao de ensinar um ofcio aos filhos, a no ser,
dizia a lei, &ue &uisessem ?a>er de*es uns sa*teadores Por
outra parte 2os/, ainda que pobre operrio, descendia de
David= e nas outras veias, portanto, girava!lhe sangue dos
reis
"s espos#rios de 2os/ e 'aria celebraram!se com a
po/tica singeleza dos tempos primitivos " noivo, na
presena dos parentes e dos sacerdotes, ofereceu um anel de
ouro liso e de pouco valor 0 futura esposa, dizendo!lhe-
! 5e consentes em ser minha esposa, aceita esta prenda
IS
"s escribas lavraram o contrato com esta lac8nica
f#rmula- .4u 2os/, filho de 2ac#, disse a 'aria, filha de
2oaquim- 5& minha esposa segundo a lei de 'ois/s e de
Gsrael Prometo honrar!te e prover ao teu sustento e ao teu
vesturio, segundo o costume dos maridos hebreus, que oram
as mulheres e as mant/m como conv/m 0 sua dec&ncia Dou
desde 9 a quantia prescrita pela lei de duzentos >u"es
3
! al/m
do vesturio, dos alimentos e de tudo o que te se9a
necessrio, prometo!te a amizade con9ugal, cousa comum a
todos os povos do mundo
Neste lugar assinava o marido e as testemunhas, e em
seguida continuava o contrato .'aria consentiu em ser
esposa de 2os/, e de pr#pria vontade, conforme os seus bens,
a9untou 0 soma anteriormente indicada oitocentos >u"es
;
<
Depois desta cerim8nia deram!se louvores ao Deus de
Gsrael, sendo no fim abenoados os dois esposos por um
sacerdote, que representava o pai de 'aria
Decorreram cinco meses, durante os quais os parentes
dos desposados prepararam a segunda cerim8nia, que era
entre os israelitas a mais importante *hegou por fim o dia
aprazado, que era uma quarta!feira
?
do m&s de 9aneiro
, lua darde9ava seus raios de prata sobre as plcidas
guas do apertado mar da @alil/ia, quando em alegre tropel,
por uma rua estreita de 2erusal/m, se dirigiram para a casa de
'aria muitas donzelas ricamente ataviadas "s archotes que
as calosas mos dos escravos empunhavam, alumiavam os
passos das 9ovens banhando de clara e vermelha luz os
Ambitos escuros da rua "s ricos cintos de ouro, as tiaras da
+
<m zuce teria o valor de +BT reis da nossa moeda
;
Yste segundo dote era maior ou menor segundo a fortuna dos noivos
?
"s 9udeus escolhiam a quarta!feira para o dia do casamento, 9ulgando!o de bom agouro 4ra uma
superstio que se transformra quase em lei
IM
P/rsia, e os diamantes das virgens, despediam 0 luz dos
archotes mil reflexos brilhantes como as estrelas de uma
noite escura <m plio, sustentado por quatro mancebos,
esperava a esposa
, %irgem apresentou!se no limiar da porta ,s harpas e
as flautas dos tocadores lanaram ao vento deliciosas
torrentes de harmonia, e os amigos e parentes agitaram em
sinal de 9ubilo os ramos de palmeira e de murta que levavam
na mo
, comitiva rompeu a marcha em direo ao templo
2os/ ia adiante, rodeado dos seus alegres amigos
, dana e os gritos de alegria comearam, e as
mulheres, derramando ess&ncias sobre os vestidos da esposa,
e flores pela terra que pisava, entoaram com toda as foras
dos pulm)es-
! 7endita se9a a descendente de DaviD
*omo qualificar este imenso prazer, esta entusistica
alegria, que transbordava de todos os cora)es, nas bodas de
duas criaturas to humildes como 2os/ e 'ariaC Deus, sem
d(vida que reservava tristezas para a 'e de 2esus, quis dar!
lhe um dia de triunfo como a seu Oilho, em troca das
dolorosas lgrimas que devia derramar no cume do @#lgota
" plio recebeu os dois esposos debaixo do seu augusto
docel- 'aria levava o rosto coberto com um v/u, e 2os/ ia
envolvido no seu ta*et<
! 4is aqui, disse 2os/ colocando um segundo anel no
dedo m/dio de 'aria, eis aqui o sinal da nossa unio= tu /s
minha mulher, segundo o rito de 'ois/s e de Gsrael
! Lana um dobra da tua capa sobre a tua serva U disse
o sumo sacerdote com voz pausada
! "bedecido sers, respondeu o patriarca desdobrando o
talet, e cobrindo com ele a cabea de 'aria
PT
Depois um parente encheu de vinho uma taa de vidro,
aplicou a ela os lbios e deu!a aos esposos para que
bebessem tamb/m
4nto o sacerdote lanou ao ar um punhado de trigo em
sinal de abundAncia, e tomando a taa da mo dos nubentes,
apresentou!a a um menino de seis anos 4ste quebrou!a com
uma varinha de prata 3inham terminado a cerim8nia
nupcial, e ia comear o festim
4nquanto os convidados se entregavam ao bulioso
encanto da conversao, 2os/ disse em voz baixa a sua
esposa-
! 3u sers como minha me, e hei de respeitar!te como
ao mesmo altar de 2eov
5ete dias duraram as festas= ao oitavo, os esposos
abandonaram 2erusal/m para se dirigirem a Nazar/ ,lguns
parentes acompanharam!nos, segundo o costume, at/ 0
primeira paragem= ali despediram!se deles com as lgrimas
nos olhos e sentimento no corao
CAPTULO IV
O AN'O 1A/RIEL
Nazar/, a flor da @alil/ia, recebeu no seu amante seio
os castos esposos
2esus, a rosa do campo, o lrio do vale, ia ser concebido
nas virginais entranhas da 4strela do 'ar
" Patriarca exercia a sua profisso de carpinteiro em
uma lo9a de do>e +.s de *argura e outros tantos de
"om+rimento! a?astada da "asa de Ana "ousa de setenta
+assos<
P+
5egundo uma antiga tradio do "riente, 2os/ exercia o
seu ofcio em um local separado daquele em que sua esposa
vivia *aritativo em extremo, tinha levantado sobre a porta
da sua casa de tra-a*ho uma esp/cie de coberto, feito de
ramos de palmeira, 0 sombra do qual os cansados via9antes
tinham um banco em que podiam descansar, gua fresca com
que mitigar a sede, saboroso po amassado pela %irgem com
que matar a fome, um teto hospitaleiro que os livrava dos
ardentes raios do sol, e um homem bom e afvel que lhes
oferecia a sua pobreza com o sorriso nos lbios
,li, segundo diz "rsini, o laborioso operrio construa
arados, cangas e carros de lavoura, levantando algumas vezes
as cabanas das aldeias ,li, segundo 5 2ustino mrtir, foi
onde mais tarde o $omem!Deus a9udou seu pai em to
penosos e rudes trabalhos
" brao de 2os/ era forte, e mais de uma vez o santo
operrio derrubou a golpes do seu machado as robustas
rvores do *armelo
4ntretanto 'aria, a esposa imaculada, a terna %irgem
de 5ion, moia com as suas delicadas mos o gro de trigo, e
amassava a farinha em redondas tortas 3odos os dias, com o
rosto coberto por um espesso v/u, e a pesada Anfora
+
dos
Nazarenos sobre a d/bil cabea, tomando o caminho dos
Nopais, se dirigia a uma fonte
;
pouco distante da povoao
3erminados os afazeres da casa, a %irgem tomava o
tosco fuso e o spero linho e, entretida com o trabalho,
esperava a hora em que 2ose devia chegar a casa 4nto,
sobre uma mesa de pinho, branca e polida como a
consci&ncia do artista que a construra, colocava 'aria frutas
+
4normes vasos de barro de altura desmedida, que levavam 0 cabea
;
$o9e / conhecida esta fonte pelo nome de Oonte de 'aria
P;
saborosas e legumes secos, que constituam a frugal comida
dos descendentes de Davi
"s hebreus so s#brios at/ 0 inverossimilhana, pois
em tempo de necessidade basta!lhes uma infuso de gua e
um pedao de po negro para passarem o dia, sem que por
isso se mostrem alquebrados nas horas do trabalho Durante
a frugal refeio, que se verificava 0s seis horas da tarde, o
sol no seu ocaso, enviava!lhes os (ltimos raios atrav/s das
nuvens brilhantes do c/u da Palestina "s rouxin#is nas
vizinhas ramagens soltavam os trinados gor9eios, saudando a
noite= e as melanc#licas rolas do *armelo arrolhavam nos
ramos das rvores, chamando as suas errantes companheiras
para o ninho noturno
,ssim decorreram dois meses " an9o da paz abrigava
debaixo das suas nveas asas a modesta morada dos futuros
pais do 'essias
<m tarde
+
2os/ encaminhou!se para o monte "
crep(sculo vespertino s# derramava sobre o mundo essa
d(bia e vaga claridade que o sol deixa ap#s si , noite estava
pr#xima e 2os/ no voltara ainda do *armelo
'aria esperava!o resignada debaixo de um
caramancho de aucenas e aromticas madressilvas 5eus
olhos azuis dirigiam!se para o horizonte de 2erusal/m,
procurando no dilatado c/u o ponto que, segundo seus
clculos, devia achar!se sobre o templo de 5ion
;
5eus lbios
rosados, como os cravos dos ,lpes, entreabriam!se
silenciosos para darem passagem a palavras sem rudo,
formuladas no ntimo do seu virginal seio 4stas palavras era
a orao da tarde dirigida ao Deus de 2ac#
+
5exta!feira ;F de maro, segundo o padre Drexelius
;
"s povos orientais voltam!se para certo ponto do c/u quando oram, chamando a isto, " >ebla "s
9udeus voltam!se para o templo de 2erusal/m, os maometanos para o de 'eca, os sabeus par ao
meio dia e os magos para o "riente U J"rsiniN
P?
"s entrelaados ramos do caramancho abriram!se para
passagem a um formoso adolescente, de cu9a alva t(nica
saiam torrentes de luz " an9o @abriel, o emissrio da
bondade extrema de Deus, achava!se 9unto de 'aria que,
cheia de temor e sobressalto, ficou como cravada no cho "
an9o iluminou a %irgem com um olhar celestial e disse com
doce e maviosa voz-
D Eu te sa7do! Maria! "heia de graaA o enhor .
"ontigoA Tu .s -endita entre todas as mu*heres<
'aria, com os olhos fitos no cho, no se atrevia a
descerrar os lbios
,ssim como a flor, que ao receber a gota do rocio que o
c/u lhe envia, abre as p/talas e curva o caule, assim a casta
%irgem de Nazar/, enquanto que o seu amantssimo corao
se abria para albergar nele as misteriosas palavras do enviado
do c/u, curvava a fronte, temerosa de o ofender com a vista,
ou talvez receosa, como 'ois/s .de ver o seu Deus e
morrer1
D Nada re"eies! Maria, volveu o an9o com doura,
inclinando a fronte, +ois tens a graa de %eusA Con"e-er9s
e dar9s a *u> um 8i*ho a &uem +or9s o nome de 'esus< E*e
ser9 grande e "hamarDseD9 o ?i*ho do A*t6ssimo< %eus *he
dar9 o trono de seu PaiA reinar9 eternamente so-re a "asa
de 'a", e o seu reino no ter9 ?im<
! *omo h de ser isso se no conheo varoC U disse
'aria singelamente, no sabendo como conciliar o ttulo de
me com o voto de virgem oferecido 9unto do altar do 5io
., virgem no duvida, diz 5 ,gostinho 4la dese9a
instruir!se no modo como deve operar!se o milagre1
D O es+6rito anto des"er9 so-re Ti! a9untou o an9o, e
a )irtude do A*t6ssimo te "o-rir9 "om o seu nome< Eis
PB
+or&ue o 8ruto anto &ue de ti h9 de nas"er ser9
"hamado o ?i*ho de ion<
" mensageiro de 2eov quis deixar uma prova da
verdade das suas palavras 0 %irgem escolhida como a urna
santa, que devia ser por nove meses a depositria do %erbo
Divino= e por conseguinte continuou-
D Isa-e*! tua +rima! "on"e-eu um ?i*ho na sene"tude!
e este . o se5to m4s de gra)ide> da&ue*a &ue era re+utada
est.ri*! +or&ue nada h9 im+oss6)e* a %eus<
'aria, comovida ante os benefcios de Deus, 9ulgando!
se na sua grande mod/stia indigna da escolha com o que o
4terno a honrava, inclinou a fronte com humildade dizendo-
D Eis a&ui a es"ra)a do enhor; "um+raDse em mim o
&ue a sua +a*a)ra ordena<
" an9o desapareceu, e o %erbo Divino fez!se carne para
padecer por n#s o cruento martrio da *ruz 'aria, desde
aquele instante concebeu o pensamento de visitar sua prima,
a quem tanto devia Gsabel era 9 de bastante idade e 'aria,
caritativa em extremo 5er (til aos semelhantes era o seu
maior prazer
,ntes de transpor os umbrais dos ricos parentes da rosa
de Nazar/, diremos duas palavras a respeito do pai de 5 2oo
7atista "uamos o que diz ,taulfo da 5ax8nia, referindo!se
ao texto de 5 Lucas-
.No tempo de $erodes, rei da 2ud/ia, havia um
sacerdote chamado Qacarias, da famlia sacerdotal de ,bia,
uma daquelas que por turno serviam no templo
+
, mulher de
Qacarias, chamada Gsabel, era igualmente da raa de ,ro
,mbos eram tidos como 9ustos aos olhos de Deus, pois
+
5egundo o que estabelecera Davi, os sacerdotes 9udicos estavam dividios em ;B turnos, cada um
dos quais servia no templo uma semana *ada turno estava subdividido em sete partes Qacarias era
dos turnos de ,bia U JPrid $ist dos 2udeusN
PF
aguardavam estritamente todos os preceitos e as leis do
5enhor <m dia, depois de Qacarias entrar no templo para
oferecer o incenso, apareceu!lhe o an9o do 5enhor 0 direita
do altar dos perfumes 3inha o rosto to cheio de ma9estade,
toda a sua pessoa manifestava um ar to divino, que o
sacerdote perturbou!se e todo o seu corpo principiou a
tremer Ooi preciso que o an9o o sossegasse, dizendo!lhe-
Nada receies, Qacarias= minha presena deve servir!te de
alegria e consolao e no de temor= tuas s(plicas chegaram
ao c/u, foram ouvidas de Deus, e para que te convenas sabe
que Gsabel tua mulher, apesar de velha e est/ril, te dar um
filho ao qual chamars 2oo, e que encher de consolao
todas as tribos de Gsarel " seu nascimento ser para muitos
outros motivo de grande contentamento e pressgio certo de
uma futura grandeza 5er grande na presena do 5enhor e
destinado a exercer um cargo sublime 9unto do 'essias que
vir 5er santificado desde o ventre materno e cheio do
4sprito 5anto, e em todo o decurso da sua vida guardar
uma abstin&ncia rigorosa, 9amais beber vinho ou cidra
Pregar com tanto zelo, que converter muitos filhos da sua
raa ao seu Deus e 5enhor 4le preceder a vinda do
6edentor e ir adiante d4le com o esprito e a virtude de
4lias= pregar com to pr#spero sucesso que os filhos
renovaro em seu peito a f/ e piedade dos pais *onverter
os incr/dulos e obrig!los a seguir o caminho da prud&ncia
dos 9ustos, e preparar para quando vier o 5enhor um povo
perfeito, que receber com docilidade os preceitos da sua
nova lei1
,t/ aquiD ,taulfo da 5ax8nia
Qacarias ouviu o an9o com grande alegria, por/m a
d(vida estava no seu corao ,quelas palavras que ecoavam
com suavidade aos seus ouvidos, no eram acreditadas pela
PI
sua alma " c/u concedia!lhe na velhice a graa de um filho-
este filho era o 7atista, o precursor de *risto, e o sacerdote
ditoso sem dar cr/dito 0 revelao divina, exclamou-
! 4u sou velho, minha esposa tamb/m *omo poderei
saber que / verdade o que me dizesC
"s olhos do enviado de 2eov despediram um raio de
luz celestes, que foi ferir a lngua do incr/dulo
! 4u sou @abriel, rep8s o emissrio celeste, um dos
an9os que moram 9unto do trono de Deus, e de quem 4le se
serve para transmitir ordens 4le enviou!me a ti, e 9 que
duvidaste das minhas palavras surdo e mudo sers at/ ao dia
em que cumpra o que vim anunciar!te
Qacarias ficou aterrado, e no pode terminar a semana
do seu ofcio no templo, por causa do castigo que Deus havia
lanado sobre ele 3riste e aflito, abandonou a populosa
2erusal/m, e atravessando uma parte da @alil/ia, da f/rtil
5amaria e duas teras partes das terras de 2ud, depois de
cinco dias de marcha chegou 0 cidade de ,in, onde tinha
uma casa 5ua mulher Gsabel recebeu!o com alegria ,
venturosa me de 2oo queria participar ao esposo, o favor
que Deus lhe havia concedido= por/m o incr/dulo sacerdote
no pode ouvir suas palavras nem responder 0s perguntas
Lgrimas corriam dos seus olhos ,margos suspiros saiam
do seu peito, porque 2eov tinha!o castigado
Gsabel lanou!se nos seus braos dizendo-
! " Deus de 2ac# ouviu as minhas s(plicas 5ou meD
5ou meD 5into nas minhas entranhas o g/rmen de um novo
ser que se agita, e tu no me dizes nadaC
Qacarias debalde tentou falar 4stava mudo
4xalou um suspiro de angustiosa dor, e caiu desfalecido
aos p/s de sua mulher
PP
CAPTULO V
A PAH E'A CONTI1O
'aria guardou no ntimo da alma a revelao que o
an9o lhe fizera Nada disse ao seu esposo porque, modesta
em extremo, temia que transluzisse nas suas palavras um
rasgo de vaidade @uardou, pois, o segredo como um tesouro
precioso que Deus lhe tinha confiado, esperando com santa
resignao que os acontecimentos portentosos, que o c/u lhe
anunciava, a conduzissem ao ponto escolhido pela
superioridade divina No entanto, participou a 2os/ o prazer
que sentia em visitar sua prima Gsabel, e ele, que bom e
ben/volo se desvelava em satisfazer tudo quanto era grato 0
esposa, deu!lhe permisso para empreender a dese9ada
viagem
2os/ era pobre, e no podia abandonar o trabalho= por
conseguinte aproveitando a ocasio em que passavam a ,in,
ptria de Gsabel, uns parentes seus, recomendou!lhes sua
esposa, e 'aria partiu de Nazar/ na estao das rosas 2os/
acompanhou sua esposa at/ 0 distAncia de duas l/guas da
povoao, e depois, com o corao oprimido pela aus&ncia
da %irgem, voltou para casa
Gsabel, a esposa de Qacarias, tinha sido uma segunda
me para a %irgem, desde que ,na e 2oaquim a haviam
deixado #rf "s benefcios recebidos pela criana durante
sua perman&ncia no templo de 5io, iam ser pagos pela
mulher na casa da velha Gsabel
, 9ovem e formosa via9eira, montada n:a modesta
burrinha e rodeada de algumas boas mulheres, que com ela
se dirigiam para as montanhas da 2ud/ia, abandonou em uma
manh a ptria adotiva
PS
, cidade ,in acha!se situada a um extremo da 2ud/ia
" caminho spero e montuoso exp)e a cada passa a vida do
viandante ,lguns escritores afirmam que a %irgem fez a
viagem sozinha- o que parece inverossmil, atendendo ao
nvio e acidentado caminho que tinha de atravessar= e a que
na 5ria, segundo %olneZ e outros vrios conhecedores dos
costumes orientais, ningu/m via9a s#, mas em comitivas ou
caravanas, precauo necessria a um pas aberto aos rabes
como a Palestina
*omo era possvel al/m disso, que 5 2os/, o varo
prudente e reflexivo, tivesse consentido que a terna %irgem
de quinze anos, empreendesse uma viagem de cinco ou seis
dias em um pas sem mais pousadas que os grandes e
desmantelados cobertos, chamados Iara)ansereJ, e onde os
caminhantes se refugiam durante a noite, amontoados como
um rebanho de ovelhasC Nos rodeamos 'aria de amigas e
parentes durante a viagem 0 2ud/ia porque / mais verossmil,
atendendo ao carter da via9eira e aos costumes dos 9udeus
, caravana depois de atravessar as tribos de Gsscar,
'anass/s, 5amaria e 7en9amim saudou as altas torres do
templo de 5io, e os esbeltos minaretes da cidade sacerdotal
que deixou 0 sua esquerda= e chegou felizmente 0s cercanias
de ,in, sem que os ferozes habitantes da )ia sanguin9ria lhe
detivessem o passo
<m dos parentes, que formava parte da comitiva da
%irgem adiantou!se a participar a Gsabel a pr#xima chegada
de 'aria , que devia ser me do 7atista achava!se em uma
arruinada casa de campo, quando recebeu a fausta nova= e
cheia de contentamento correu ao encontro da sua 9ovem
prima
PM
, virgem viu chegar a nobre anci com o semblante
alegre e cheio de felicidade, e inclinando para o cho a
fronte, disse com doura-
D A +a> se;a "ontigo#
3
Gsabel sentiu no seu seio um movimento estranho ,
voz suave e respeitosa de 'aria tinha levantado um eco
melodioso no seu corao " seu semblante reanimou!se
como se ela tivesse retrocedido quarenta anos Hue
misterioso influxo, que santa sensao haviam introduzido
no seu peito as palavras da Nazarena, para que a Gsabel
exclamasse deste modo- ./endita .s tu entre as mu*heres!
e -endito . o ?ruto do teu )entre#
4 vendo que 'aria conservando a sua humilde atitude
no proferia palavras acrescentou-
! D:onde me vem a felicidade para que a 'e do meu
5enhor venha a mimC Logo que a tua voz chegou ao meus
ouvidos, meu filho saltou de alegria nas minhas entranhas=
3u /s ditosa por seres crente, e o que te foi dito por parte do
5enhor assim ser comprido
Gsabel, a imortal esposa de Qacarias, ferida nos olhos da
alma pelo sopro misterioso de 2eov, tinha visto atrav/s do
ignorado futuro o trono de gl#ria, que o 4terno reservava a
sua prima
Por/m ouamos as palavras da %irgem, o cAntico
po/tico e sublime do Novo testamento, o mais inspirado, o
mais harmonioso das 5antas 4scrituras, desse livro que tem
sido e ser eternamente, o inesgotvel manancial da
inspirao crist
'aria respondeu a Gsabel-
., minha alma glorifica ao 5enhor, e o meu esprito se
alegra em Deus meu salvador
+
4sta saudao foi empregado por *risto muitas v&zes, e ho9e / muito comum no "riente
ST
.Porque atendeu 0 humanidade da sua serva, e para o
futuro serei chamada bemaventurada por todas as na)es
., sua miseric#rdia estende!se de gerao em gerao
sobre os que o temem
.'anifestou a fora do seu brao e aniquilou os que se
enchiam de orgulho
.Dep8s os grandes do seu trono, e exaltou os humildes
.4ncheu de bens aos que estavam famintos,
empobreceu os que estavam ricos
.Lembrou!se da sua miseric#rdia, e protegeu Gsrael seu
servo
.5egundo a promessa feita a nosso pai ,brao e 0 sua
descend&ncia para sempre1
" abade "rsino, que com to po/ticas e delicadas cores
descreveu a %isitao de 'aria, diz que a %irgem
permaneceu tr&s meses no pas dos hetenses, e passou essa
longa visita a curta distAncia de ,in, no fundo de um florido
e f/rtil vale em que Qacarias tinha a sua casa de campo
+
.,li, foi, continua o abade "rsini, onde a filha de Davi,
profetisa tamb/m e dotada de um g&nio igual ao do ilustre
chefe da sua famlia, pode contemplar 0 vontade o c/u
estrelado, os bosques misteriosos, o vasto mar cu9as ondas
agitadas ou tranquilas iam quebrar!se sobre as plagas da
5ria
." aspecto dessa natureza to completa nas suas
particularidades, to habilmente harmonizada no seu
con9unto, em que tudo / maravilhoso, desde o tecido da flor e
a asa do inseto at/ esses mundos errantes que brilham nas
trevas da noite, excitaram a profunda admirao da %irgem
para as obras grandiosas do *riador
+
Neste vale possua Qacarias duas casas , entrevista efetuou!se na primeira, que est mais ao
ocidente de 2erusal/m, e o nascimento de 7atista na segunda
S+
.*omo / grande, pensava a Oilha dos Profetas U como /
grande ,quele que d as suas ordens 0 estrela da manh, e
que indica 0 aurora o ponto do c/u em que aparecer= que
sub9uga o trovo e a quem o raio submisso diz ao
apresentar!se- ,qui estou *omo / grandeD 4 a sua
bondade / igual ao seu poderD
.4le / quem coloca no corao do homem a candura, e
d aos animais o instinto 4le / quem olha pelas necessidades
incessantes da criatura, quem d calor sob a areia ao ovo do
avestruz, e vela sobre o -ehemoth
3
quando dorme 0 sombra
dos salgueiros da torrente= 4le / quem prepara ao corvo o
alimento, quando os filhos andam errantes e famintos
grasnando pelas rochas dos despenhadeiros
.4nto, 0 imitao do 5almista, a %irgem 5anta
convidava a natureza inteira a bendizer com 4la o *riador
Nas suas excurs)es atrav/s dos prados comprazia!se na
contemplao das flores, que encontrava ante os seus passos
.Por detrs da elegante casa do Pontfice hebreu
estendia!se um desses 9ardins, chamados +ara6so entre os
persas, e cu9o desenho os cativos de Gsrael haviam tomado do
povo de *iro e de 5emraris *ampeavam nele as mais belas
rvores da Palestina, amenizando os seus atrativos o suave
perfume das laran9eiras e os arroios de cristalina gua, que
serpenteavam por baixo dos ramos pendentes dos chor)es
.,li era onde os ternos cuidados de 'aria fizeram
olvidar a Gsabel os seus temores sobre um sucesso, cu9a
esperana a enchia de gozo, mas que a sua idade avanada
+
,nimal em que fala o livro de 2ob <ns 9ulgam que / o hipop#tamo, outros o rinoceronte= por/m
segundo o Ta*mud dos 9udeus / o touro primitivo, o qual consumia todos os dias a herva de dez
montanhas, que tornavam a cobrir!se de nova vegetao durante a noite para o alimentar Yste
touro, no dia do 9uzo, ser comido pelos fi/is em um banquete presidido pelo 'essias que,
segundo &les, deve vir ainda salv!los
S;
podia tornar funesto *omo devia ser grave e religiosa a
conversao destas santas mulheresD
<m, 9ovem, simples e ignorante do mal, como 4va ao
sair das mos do *riador- a outra, de avanada idade e
enriquecida com uma longa experi&ncia, profundamente
piedosa <ma, trazendo no seu seio, por longo tempo est/ril,
um filho que devia ser +ro?eta e mais &ue +ro?eta, e a outra
a semente bendita do ,ltssimo, o chefe libertador de Gsrael
Nas formosas noites de vero, quando o plido brilho
da lua alumiava a floresta, debaixo de uma copada figueira
ou dos verdes pAntanos de uma ramada
+
colocava!se a
comida da famlia opulenta do mudo Qacarias, composta do
cordeirinho alimentado com a aromtica erva da montanha,
de peixe de 5id8nia, de favos de mel silvestre, de saborosas
tAmaras de 2eric#, que figuravam ento at/ na mesa do */sar,
de damascos da ,rm&nia, de figos de ,lepo e de p&ssegos do
4gito
" vinho das colinas de 4ngahdi, que o mordomo do
prncipe dos sacerdotes guardava em cubos de pedra,
circulava em ricas taas que os criados enchiam com
semblante alegre
'aria, to s#bria no seio da abundAncia como no da
mediania, contentava!se com algumas frutas, um pouco de
po, e um copo de gua da fonte de Na+htoa<
,ssim decorreram tr&s meses, durante os quais 'aria
foi para a idosa Gsabel uma filha terna e solcita
Qacarias, entretanto, mudo e surdo por causa da sua
d(vida ante o enviado de 2eov, esperava com santa
+
"s hebreus gostam muito de comer debaixo das ramadas, 9 pelo calor excessivo naqueles climas,
9 pelo antigo costume dos seus antepassados, que por tantos anos viveram debaixo das suas tendas
durante as suas longas peregrina)es U JOleurZ! Costumes dos israe*itasK
S?
resignao que a bondade do c/u descesse sobre ele,
devolvendo!lhe os preciosos sentidos que lhe tinha tirado
*hegou finalmente o to dese9ado dia, e Gsabel deu 0
luz um formoso e robusto menino @rande foi a admirao e
o assombro dos pacficos habitantes de ,in ao verem aquela
anci, que com o rosto inundado de lgrimas de gozo, lhes
mostrava o filho com que Deus a amerceara
"s parentes reuniram!se, e tratou!se do nome que se
devia p8r ao recem!nascido 3odos optaram pelo de Qacarias=
por/m Gsabel disse aos parentes com firme e segura-
D No! meu ?i*ho ser9 "hamado 'oo
4nto, o velho sacerdote, a quem por sinais os parentes
perguntavam, que nome devia p8r!se definitivamente a seu
filho, pediu uma tabuinha encerada e um ponteiro, e escreveu
estas palavras, com mo firme- @'oo . o seu nomeC<
"s circunstantes entreolharam!se com assombro
Qacarias era surdo!mudo *omo pois, escrevia o
mesmo nome, que sua mulher acabava de pronunciar e que
ele no ouviraC Por/m a expiao da culpa tinha terminado, e
Deus, com o seu infinito poder, devolvia ao sacerdote hebreu
as preciosas faculdades de que o tinha privado por espao de
nove meses Qacarias falava e ouvia como antes da revelao
do ,n9o, e o povo comentava com assombro este milagre
Por fim, chegou a hora em que a %irgem 5anta devia
abandonar a casa dos seus parentes, e depois de abraar e
abenoar o recem!nascido, voltou para Nazar/, acompanhada
por alguns criados de Qacarias
" nascimento do 7atista foi feste9ado como o do filho
de um prncipe hebreu "s habitantes de ,in regozi9aram!se
por espao de alguns meses com as festas, que o sacerdote
fez em celebrao de to fausto acontecimento
SB
,lguns anos depois, os 9udeus, vendo que 2oo era filho
de um sacerdote rico e 2esus de um pobre carpinteiro,
tiveram em mais conta o primeiro que o segundo= pois o filho
de Deus no foi para eles mais que um homem comum, sem
importAncia nem categoria alguma , preponderAncia do
7atista foi imensa 2oo tinha passado a sua vida no deserto,
enquanto que 2esus viveu obscuro em Nazar/ at/ tr&s anos
antes da sua morte
Por/m quem, no sendo um Deus, teria podido levar a
cabo, em to curto tempo, a obra da redeno que salva a
humanidadeC
"s muulmanos, segundo o c/lebre helenista $erbelot
na sua .7iblioteca "riental1, conservam uma grande id/ia de
5 2oo 7atista, a quem chamam [ahia!bem!Qacarias J2oo
filho de QacariasN 5aadi, no seu 1u*iston faz tamb/m
meno do sepulcro do 7atista, venerado no templo de
Damasco= nele fazia as suas ora)es, e refere as de um rei
rabe que foi ali em peregrinao
" *alifa ,bd!el!'ale> quis comprar esta igre9a aos
cristos= por/m tendo estes re9eitado a quantia de quatro mil
dinar Jdobras de ouroN que lhes tinha oferecido, armou a sua
gente e apoderou!se 0 viva fora do templo que dese9ava
possuir
'ais adiante tornaremos a ocupar!nos de 5 2oo
7atista
,gora regressemos a Nazar/, onde nos esperam outros
acontecimentos
CAPTULO VI
O E%ITO %O C(AR
SF
Oormosas donzelas de Nazar/ que abris o postigo das
vossas 9anelas, quando a luz da alvorada vos envia do
"riente os bons dias, v#s no madrugais tanto como a casta
esposa de 2os/ o carpinteiro "lhai L vai elaD 5obre a sua
divina cabea que h de ver!se rodeada de an9os, descansa o
pesado cAntaro das nazarenas 5eus p/s, ligeiros como os da
gazela, aos quais a lua 9 de servir de pedestal, deslizam pela
senda que vai ter 0 fonte
Pelas veias gira!lhe sangue de reis= por/m, o trono dos
seus antepassados desfez!se sob a presso das garras da guia
romana, e a coroa descansa sobre a fronte de um senhor
estrangeiro No entanto, a %irgem no se orgulha da sua
estirpe real- modesta e laboriosa, ocupa!se dos afazeres da
casa 'aria recorda!se das palavras do salmista seu
antepassadoA @A honra da ?i*ha de um +r6n"i+e "onsiste no
interior da sua "asaC<
, %irgem chega 0 fonte= algumas nazarenas, que a
seguem, chegam tamb/m, e trocando a saudao dos
israelitas, dizem!lhe-
! , paz se9a contigo
! , paz se9a convosco, respondeu!lhes 'aria
4, colocando o seu pesado cAntaro sobre a cabea, torna
a encaminhar!se para Nazar/ pelo caminho dos Nopais
4nto as filhas de Nazar/ reunem!se em torno da fonte "
estado da %irgem no escapou aos seus curiosos olhares
<ma delas observa 0s outras que 'aria est grvida=
regozi9am!se e tencionam propagar a nova pela povoao
4ntretanto, 2os/ trabalhava na sua pequena oficina "
nobre e honrado patriarca nada sabe, porque os seus olhos
so cegos 0 malcia, e respeita sua esposa como a uma
virgem de 5io Por/m os dias passam, e o estado de 'aria
faz!se cada vez mais visvel 2os/ no p8de dar cr/dito ao
SI
que os seus olhos v&em- uma tristeza, uma melancolia
inexplicvel apodera!se do seu corao " sono no desce
sobre as suas plpebras, profundos suspiros saem do seu
peito, e a d(vida comea a estender o mortal veneno pela sua
alma simples e reta
<:a manh, com o machado ao ombro, toma caminho
do *armelo ,s profundas rugas da sua fronte acham!se
carregadas de negros pressentimentos *om o corpo fatigado
e a imaginao preocupada, senta!se 0 sombra de um
frondoso salgueiro, esquecendo!se do motivo que ali o
conduz
! 5er verdade o que os meus olhos v&mC disse a si
mesmo 5er possvel que 'aria, a imaculada %irgem, a
esposa casta, a mulher de simples e puro corao, tenha
esquecido os seus deveresC *omo acreditar que tenha
iludido a boa f/ do homem, que como pai carinhoso a
admitiu em sua casa, respeitando os seus votosC *omo
acreditar que 'aria, desonrou os meus cabelos brancosC "hD
No, no= no / possvel semelhante cousa
4nto 2os/, suspendendo o seu solil#quio, derramando
um mar de lgrimas, permaneceu mudo e silencioso por
alguns instantes
D E*a ?oi re"onhe"ida gr9)ida
3
! tornou a murmurar o
patriarca U todo Nazar/ o sabe= os meus parentes 9 vieram
felicitar!me, e as suas palavras de 9ubilo e alegria foram setas
que se me cravaram no corao, porque eles ignoram o casto
lao que nos une Hue hei de fazer, Deus de 5ioC %iverei
debaixo do mesmo teto em que vive u:a mulher ad(lteraC
$ei de cobrir!me de infAmia faltando 0 leiC 3aparei os
ouvidos 0s palavras de 5alomo, que nos disse- A&ue*e &ue
+
"s 4vangelhos
SP
tem "onsigo uma mu*her ad7*tera . um *ou"o! um
insensatoG
*omo devia sofrer aquele santo varo nos momentos de
d(vida que o devoraramD Oaltar 0 lei ou desonrar sua esposa,
eram os dois caminhos que a sua crtica situao lhe
apresentava
A +ai5o dos "i7mes . dura "omo o in?erno! e o
marido no +erdoa! no dia da )ingana< Gsto disse
5alomo
A mu*her ad7*tera de)e morrer, escreveu o grande
legislador dos hebreus no monte 5inai
"s ci(mes eram terrveis entre os israelitas- a hist#ria
apresenta!nos exemplos cruentos , suspeita s# de um crime,
que odiavam, armava a mo do ultra9ado esposo, e o ferro
homicida tornava para a sua bainha manchado com o sangue
da mulher culpada Din, 3amar, 'ariana, e outras muitas,
so os exemplos que a hist#ria nos apresenta " bastardo,
maldito at/ 0 d/cima gerao, via!se privado de todas as
prerrogativas, de todos os direitos concedidos aos hebreus
5eus p/s impuros no podiam entrar nas sinagogas= as
assembl/ias nacionais fechavam!se para eles, e as escolas do
estado negavam!lhes as luzes da ci&ncia
3odas estas id/ias agitavam!se tumultuosas na mente
do patriarca, quando Deus, compadecido da sua ang(stia, lhe
mandou sobre as plpebras o fluido reparador do sono 2os/
fechou os olhos, requeimados pelas lgrimas de fogo que
havia derramado 0 sombra do solitrio salgueiro <ma
nuvem brilhante, cor de opala, desceu ento do c/u e
estendeu!se como uma rede sobre a frondosa rvore 5eus
flutuantes reflexos envolveram!lhe os ramos pendentes <ma
voz doce e misteriosa saiu de entre as prateadas rendas da
nuvem, dizendo-
SS
! .2os/, filho de Davi, no receies ter contigo 'aria tua
esposa, porque o que nela se gerou foi formado pela virtude
do 4sprito 5anto= 4la dar 0 luz um Oilho a quem pors o
nome de 2esus, porque ser o 5alvador do seu povo,
livrando!o dos seus pecados1
" rosto de 2os/, ao despertar de to formoso sonho,
transbordava de felicidade 5uas suspeitas haviam!se
desvanecido como as ligeiras nuvens ante o sopro sutil da
noite 5eu esprito vacilante, fortalecido e forte com as
divinais palavras da misteriosa revelao de 2eov, 9 no o
atormentava " brao, desfalecido e lAnguido poucos
momentos antes, comeou a vibrar golpes de machado sobre
os altivos pinheiros, como se quisesse recobrar com a
atividade as horas perdidas
2os/ adorou os misteriosos decretos do 4terno, e vendo
em Maria! a me do ?uturo Redentor, envergonhou!se das
suspeitas que concebera
Decorreram alguns meses "s ventos do outono
comearam a despe9ar os ramos das rvores das amareladas
folhas, e as n/voas de outubro anunciavam as pr#ximas
neves, quando u:a manh a trombeta de um arauto romano
encheu de curiosidade e desalento os pacficos habitantes de
Nazar/
,ssim, como as espantadas abelhas revoluteiam em
torno da colm/ia, assim os nazarenos se agitavam em redor
dos soldados romanos, ansiosos por saberem qual o motivo,
que 0 indefesa povoao os conduzia, armados do escudo de
guerra e da lana do combate , sua incerteza durou pouco,
porque um centurio, agitando uma bandeira pequena,
indicou ao arauto que podia cumprir sua misso= este levou
aos lbios a comprida trombeta, e depois de tirar do b/lico
SM
instrumento duas prolongadas notas, pronunciou com voz
clara e vibrante estas palavras-
Huirino, @overnador da 5ria por ordem de */sar
,ugusto, imperador de 6oma, conquistador da Rsia, do
4gito, da 5ria, da 2ud/ia, da Oencia- manda e ordena que
todos os hebreus da baixa @alil/ia se vo inscrever por
famlias ou por tribos, passando 0s cidades dos seus maiores,
para que no prazo de tr&s meses o */sar saiba os s(bitos que
tem nos pases conquistados com o poder das suas legi)es
,quele que desobedecer sofrer a multa de seis carneiros,
sendo rico, e sendo pobre ser aoitado com varas Hue a
vontade do senhor do mundo se9a cumprida
, curiosidade dos nazarenos estava satisfeita= por/m, o
edito do 6m+io im+.rio Jassim chamavam os hebreus aos
imp/rio romanoN havia!os deixado tristes e com o corao
comprimido No entanto, era necessrio obedecer Hue
podiam fazer os israelitas seno acatar as ordens do seu
senhorC , monarquia hebr/ia, to altiva, valente, e estimada
no tempo do rei poeta, no era reinado de $erodes mais que
um rebanho de servos, que lambiam a mo que os carregava
de grilh)es
D Nada de -om +ode sair da 1a*i*.ia, haviam dito as
4scrituras
4 os profetas designavam 7el/m de 2ud como o lugar
destinado ao nascimento do 'essias
2os/ disp8s!se a empreender uma viagem para cumprir
com as ordens de */sar 7el/m era a cidade dos seus
maiores "s misteriosos decretos de 2eov conduziam!nos 0
cidade escolhida, sem que ele mesmo o suspeitasse "s
id#latras romanos eram o instrumento de que o 4terno se
servia, para que as profecias se cumprissem
MT
, neve comeava a cair sobre as montanhas da
5amaria, e o solitrio Lbano, envolvido no seu branco
sudrio de inverno, enviava as suas g/lidas brisas desde as
margens do Leontes at/ 0s costas tempestuosas da Oencia
,s encrespadas ondas do 'editerrAneo quebravam!se com
furor sobre as plagas de 3iro, 5idon e 7erito= e as nuvens
senhoras do espao transportavam as tempestades do
inverno desde os confins da 7etAnia, at/ aos desertos a
Gdum/ia 3odavia o rigor da estao no deteve 2os/ na sua
viagem Longa era a distAncia, rido e perigoso o caminho
que tinha de atravessar= por/m era preciso obedecer 0s
ordens do */sar P8s a confiana em Deus, e abandonou
Nazar/ em uma manh fria e chuvosa do m&s de dezembro
4ra o ano PF; de 6oma e B; do imp/rio de "tvio
,ugusto
+
quando o humilde nazareno abandonou a sua
modesta casinha e a tranquila paz do seu lar, para se dirigir
com a sua virginal esposa 0 cidade de David 'aria, como
todas as filhas do "riente, ia montada em uma formosa
9umentinha de branca e fina pele
;
do galhardo animal
pendiam duas cestas de palma com as provis)es da viagem e
uma vasilha de barro para tirar gua das cisternas 2os/
caminhava ao seu lado *om uma das mos conduzia a
9umentinha pelas r/deas, e com a outra apoiava!se a um
nodoso ca9ado
+
, /poca da vinda de *risto no / dogma- / s#mente o seu nascimento , multido de autores que
escreveram sobre este assunto, discrepa de maneira notvel Deixando as vrias opin)es dos
autores, por grande que se9a a sua autoridade, seguiremos o que a Ggre9a diz no seu 'artirol#gico-
.No ano FTMM da criao do mundo, quando no princpio criou Deus o c/u e a terra= desde o dil(vio
;MFP= do nascimento de ,brao ;TSF= de 'ois/s e da fuga do povo de Gsrael do 4gito +F+T= desde
que Davi foi ungido rei +T?;= cumprindo!se as sessenta e cinco semanas, segundo a profecia de
Davi= na "limpada +MB= no ano PF; da fundao de 6oma= no ano B; do imp/rio de "tvio
,ugusto= estando em paz todo o orbe= na sexta idade do mundo= 2esus *risto, Deus 4terno e filho
do 4terno Pai, querendo consagrar o mundo com a sua piedosa vinda, em 7el/m de 2ud nasce da
%irgem feito homem1
;
"s 9umentos da Palestina so de notvel beleza
M+
" dia anunciava chuva= o c/u comeava a cobrir!se de
escurar e espessas nuvens 2os/ tirou dos seus ombros o
manto de pele de cabra e colocou!o sobre as delicadas costas
de sua esposa, afim de a preservar da chuva que comeava a
cair= e confiando em Deus prosseguiram a marcha em
direo 0 cidade sacerdotal *hegou noite, e os santos
caminheiros hospedaram!se em um desmantelado
Iara)anseraJ que nas faldas do monte Naim servia de
ref(gio 0s fatigadas caravanas da @alil/ia e da 5amaria
,li, afastados dos outros viandantes que pernoitavam
ao abrigo do Lara)anseraJ, os pais de 'essias passaram as
horas das trevas sem mais cama que a capa de peles, sem
mais alimento que as duras e delgadas tortas dos nazarenos,
os figos secos e as uvas criadas nas margens do vale de
Qabulon
CAPTULO VII
O /ERMO %O MEIA
E tu! /e*.m "hamada E?rata! tu .s +e&ueno entre as
"idades de 'ud9! +or.m de ti sair9 A&ue*e &ue de)e
reinar em Israe*! e "u;a gerao te)e +rin"6+io desde a
eternidade< N =Mi"heasK
7el/m, p/rola de 2ud, tu, qual fatigada rola da
Palestina, pousas nas cumiadas dos montes para respirar o
perfume dos teus tempos Pelas tuas formosas colinas trepam
os verde9antes pAntanos, que te oferecem o sumo delicioso,
quando o sol do estio amadurece o transparente bago "s
bosques de oliveira e azinheiras tamb/m te oferecem os seus
frutos e a sua sombra durante as abrasadoras horas da
M;
cancula ,s laran9eiras dos teus 9ardins perfumante com a
ess&ncia da sua flor, e as an&monas e os narcisos dos teus
vales enviam!te os seus aromas e esmaltam o teu solo com
delicadas cores
*idade predileta, apreciada 9#ia que Deus contempla
com amor do seu excelso imp/rio- tu foste o bero de um
pastor, que depois de conduzir os seus mansos rebanhos
pelos teus pitorescos vales, levou o estandarte de Gsrael at/ as
margens do 4ufrates 3u sers o bero de um Deus que vem
ao mundo ser o humilde Pastor das almas Davi e 2esus
receberam no teu seio a primeira carcia de suas mes= e o
primeiro sopro da vida estava impregnado do suave aroma
dos teus floridos outeiros
7el/m, terra imortal, cidade santificada, desperta do teu
sono, porque est a amanhecer o dia, e uma multido de
dromedrios trepa pela tua suave encosta
Gnocentes belemitas, assomai 0s 9anelas, porque os
via9antes aproximam!se dos vossos pacficos lares " edito
do */sar f!los deixar as suas casas e encaminhar!se para as
vossas "lhai para as ricas herdeiras da Palestina montadas
nas suas esbeltas e brancas 9umentinhas- os seus mantos de
p(rpura de 3iro flutuam ao vento como as bandeiras de 5io=
os seus v/us de transparente cambraia envolvem!lhes as
cabeas, ocultando aos curiosos olhares o rosto das suas
donas
"s cavalos rabes, esporeados pelos cavaleiros
luxuosamente vestidos, relincham e caracolam, manifestando
assim o fogo do seu sangue e a pureza da raa
3amb/m se v&em liteiras de cedro e marfim com ricas
cortinas de seda de Damasco, conduzidas por homens cu9os
negros e longos roup)es mostram a baixeza da sua classe e a
opul&ncia de senhor que conduzem- e velhos venerveis, com
M?
as pernas cruzadas sobre as gibas dos camelos, e humildes
caminheiros sem mais apoio que o nodoso ca9ado, que as
suas mos comprimem
3odos caminham para 7el/m, porque */sar assim o
ordenou Por/m como poder uma cidade pequena, que
como um ninho de pombas descansa sobre os outeiros da
montanha, conter em seu seio tanta genteC "s belemitas
abrem as portas e oferecem aos forasteiros as suas casas, e a
cidade enche!se de estrangeiros, que correm a inscrever os
nomes no grande livro de */sar Nas suas estreitas ruas
agita!se como um formigueiro a multido que a invadiu ,
cidade sacerdotal, a grande 2erusal/m, no esteve nunca to
concorrida, to animada, nas festas dos ,smos, como 7el/m
no dia ;B de dezembro do ano FTMM da criao do mundo
2os/ e sua esposa, obedientes 0s ordens do imperador
pago, chegaram tamb/m naquela dia, depois de seis
9ornadas penosas, a inscrever os nomes na cidade de Davi "
santo marido da %irgem deteve!se diante de um edifcio de
paredes brancas e portas grandiosas, que se erguia a poucos
passos da cidade ,quela casa tinha!se preparado para
receber os viandantes ricos de Gsrael , imitao das grandes
pousadas da P/rsia, seu dono oferecia aos forasteiros, em
troco de algumas moedas de prata, toda comodidade dese9ada
em semelhantes casos
2os/, coberto de p#, desfalecido pelo cansao deteve!se
a poucos passos de distAncia do branco edifcio, e deixando a
esposa 0 sombra de umas oliveiras, encaminhou!se s# para a
casa branca em procura de um aposento onde pudesse
hospedar!se Pela larga abertura das portas via!se no interior
revolver!se uma grande multido de hebreus, cu9os luxuosos
tra9os mostravam a opul&ncia da sua fortuna
MB
<m velho 9udeu de catadura repugnante, miservel
vesturio e amarelada cor, achava!se sentado em um banco
de pedra a dois passos da porta principal Diante dele via!se
uma tosca e su9a mesa, sobre a qual estava uma pequena arca
de ferro aberta, em cu9o fundo brilhavam algumas moedas de
prata e ouro 5ua mo descarnada apertava um ponteiro, com
o qual ia inscrevendo sobre uma taboazinha encerada o nome
dos seus hospedes
! , paz se9a contigo, bom velho, disse 2os/ saudando o
9udeu
! Hue queresC
! 'inha esposa e eu vimos escrever os nossos nomes no
livro de */sar= somos de Nazar/, e pedimos!te por 2eov que
nos concedas um pedao de teto onde nos alberguemos
! , minha casa est aberta para o via9ante que paga a
hospedagem
! N#s, amigo, somos pobres= no temos um miservel
sest/rcio
! Nada de bom nos vem da @alil/ia, redarguiu o 9udeu
4 voltando grosseiramente as costas a 2os/, p8s!se a
falar afavelmente com um romano, cu9o cinturo de ouro e
brunido capacete apregoavam sua alta categoria militar
2os/, exalando um suspiro, afastou!se daquela porta e
foi 9untar!se a sua esposa
! 4ntremos na cidade, respondeu a %irgem com doura
3alvez l achemos uma alma caritativa que nos hospede
"s dois consortes dirigiram!se para 7el/m Pobres
como os errantes peregrinos que mais tarde deviam percorrer
a Palestina para adorarem o 5anto 5epulcro de *risto, 2os/ e
'aria atravessaram as estreitas ruas de 7el/m, sem
encontrarem uma casa caridosa que lhes abrisse as portas
MF
" sol comeou a ocultar!se e ainda os pobres nazarenos
no tinham um telhado onde pudessem passar a noite, que
ameaava ser fria e chuvosa No entanto, a resignao via!se
pintada nos seus semblantes, e nem uma s# queixa saiu dos
seus lbios durante aquelas longas horas de ang(stia
, casta esposa, a imaculada %irgem, achava!se no
(ltimo m&s de gravidez, e 2os/, ao v&!la sorrir ante a
desgraa e a pobreza que os cercava, sentia despedaar!se o
corao " nobre operrio batia a uma e outra porta,
suplicando com palavras doces que lhe concedesse, para
passar a noite, o canto mais desprezvel da casa
! No cabes aqui, galileu, respondiam!lhe os
inopistaleiros habitantes de 7el/m
4 2os/, tornava a suplicar, e as suas s(plicas eram
desatendidas
3erna %irgem de 5ion, inesgotvel fonte de caridade e
ternura, me purssima e imaculada que levas nas tuas
virginais entranhas o %erbo Divino e que no achaste um
sorriso compassivo, nem mo carinhosa, nem casa
hospitaleira que te recebesse com amor, a 3i que /s toda
afeto e caridadeD 2eov, nos seus misteriosos desgnios, quis
p8r 0 prova a tua inesgotvel paci&ncia, a tua incomparvel
resignao e a tua bondade 2 fatigados de andar, a noite
veio surpreender os santos forasteiros em um extremo da
cidade ,nte os seus tristes olhos estendia!se a solitria
campina de 7el/m 6odeava!os o sil&ncio da morte
, lua com os seus melanc#licos raios alumiava o santo
grupo que im#vel e indeciso, no sabia para onde dirigir!se
" uivo do lobo e o estridente regougar dos chacais
comearam a ouvir!se nas vizinhas espessuras, anunciando a
hora de sarem dos seus covis
MI
"s santos esposos encontravam!se ao sul de 7el/m, e
no muito longe da cidade que lhes tinha negado
hospitalidade, quando um raio clarssimo e brilhante da lua
incidiu do c/u sobre um penedo que se achava a poucos
passos do lugar que ocupavam Pela parte do norte a imensa
fraga apresentava um ponto escuro, 2os/ aproximou!se para
reconhecer o terreno que o rodeava De repente deu um grito
de alegria ,quela mancha escura da pedra era a entrada de
uma caverna bastante espaosa que, estreitando!se para o
interior, servia de curral aos rebanhos dos belemitas e
algumas vezes de asilo aos pastores nas noites de
tempestades< Os dois es+osos deram graas ao ".u +or *hes
ter de+arado a&ue*a asi*o se*)agem; e Maria a+oiandoDse
ao -rao de 'os.! ?oi sentarDse so-re uma +edra nua &ue
?orma)a uma es+."ie de assento estreito e in"Omodo<
Pouco a pouco seus olhos foram acostumando!se 0
obscuridade que os rodeava = e ento viram que no
estavam s#s <m boi manso e tranquilo ruminava
pausadamente os (ltimos restos do seu 9antar
2os/ colocou a 9umentinha 9unto ao boi, em seguida
estendeu o manto de peles aos p/s da %irgem, e sentou!se
sem descerrar os lbios
'aria, a imaculada nazarena, a filha de Davi, a imortal
senhora nossa, deu 0 luz naquele miservel pres/pio, sem
so"orro, o 'essias prometido, o 6ei dos reis, o Oilho de
Deus
, terna me colocou o Divino, recem!nascido sobre a
palha da man9edoura e, a9oelhando aos seus p/s adorou!o
como ao enviado do c/u 2os/ imitou sua esposa
, noite era fria, a caverna, (mida e desabrigada-
acender luz era impossvel= por/m o manso boi e a
MP
inofensiva 9umentinha prestaram o suave e temperado calor
da sua respirao para abrigarem o Divino Gnfante
4ntretanto 'aria, inundada de lgrimas de prazer,
contemplava o terno 'enino, que lhe enviava um sorriso
carinhoso
D Como )os hei de "hamarG exclamou a Oilha dos
patriarcas inclinando!se sobre seu Oilho GmortalC 4u
concebi!vos por obra di)ina# %e)o a+ro5imarDme de V,s
"om o in"enso! ou o?ere"erD)os o meu *eiteG er9s
ne"ess9rio &ue )os +rodiga*i>e os "uidados de me! ou
&ue )os sir)a "omo es"ra)a "om a ?ronte no +,G
3
, lua, desfeita em mil raios de prata, caia sobre to
terno e encantador quadro, esmaltando!o com a sua suave e
formosa luz
Deus tinha nascido- a humanidade ia brotar do seu
bero "s deuses do paganismo resvalavam dos impuros
altares= os sacrificadores de 6oma no achavam o corao
das vtimas
<ma estrela apareceu no "riente- @abriel anunciava
aos pastores o nascimento de *risto
$erodes, o cruel idumeu, estremeceu= e com ele toda
2erusal/m 3odos estes prodgios anunciavam um
acontecimento assombroso, que ia encher de contentamento
o corao da aflita humanidade 4ste acontecimento era que
2esus nascia em um pres/pio, que o *ristianismo brotava do
seio de uma viagem em um pobre curral da cidade de Davi
LG%6" 346*4G6"
O PERE1RINO %O ORIENTE
+
5 7aslio
MS
$ei de v&!lo, mas no agora, hei de olhar para ele, mas
no de perto De 2ac# nascer uma 4strela, e de Gsrael se
levantar uma vara= e ferir os caudilhos de 'oab e destruir
todos os filho de 5eth
4 a Gdum/ia ser propriedade sua- a herana de 5eir
ceder aos seus inimigos, por/m Gsrael proceder com
esforo
De 2a# sair aquele que h de dominar e destruir as
relquias da cidade JLiv dos N(meros cap XG%, %aticinio
de 7alaoN
CAPTULO I
O PATORE
,lgumas choas humildes agrupadas pelo amor na raiz
de um monte indicavam s peregrinas caravanas que aquilo
era uma povoao 4sta povoao chamava!se o povo dos
Pastores
, meia l/gua de distAncia da cidade de Davi, os seus
simples habitantes passavam a modesta exist&ncia
alimentando os rebanhos com a verde erva dos vales, e a sua
esperana de israelita com Ja anunciada vinda do 'essias,
que havia de libert!los do 9ugo estrangeiro
4ra o m&s de dezembro, e o curso das estrelas marcava
meia noite
,grupados em redor de uma fogueira extinta, debaixo
do frgil teto de uma choa, achavam!se alguns pastores
velando pelas suas adormecidas ovelhas " frio era extremo
4ntre os pastores via!se um velho de branca e comprida
barba, e em cu9a venervel cabea brilhavam a honradez e a
MM
virtude dos antigos patriarcas 5entado sobre uma pele de
carneiro, com os cotovelos sobre os 9oelhos e a cabea entre
as mos, achava!se im#vel como L#, na presena do enviado
do 5enhor
! ' profisso / a do pastor, velho 5of, quando se tem
que estar de vela em uma noite como esta
! 3ens razo, mancebo, respondeu o velho sem levantar
a cabea= por/m ,brao foi pastor e era melhor que n#s= e
isso deve consolar!te
! Por/m, esse patriarca criava a l dos seus rebanhos
para seus filhos, enquanto que n#s s# trabalhamos para pagar
o tributo a */sar e alimentar os vcios dos mpios romanos
que, em m hora, invadiram nossa terras
! "s romanos, que 2eov confunda, riem!se dos
sofrimentos dos 9udeus, disse outro pastor intervindo na
conversao
! *omo para eles no somos mais que um bando de
escravos
! ,i dos mpios romanosD ,i dos torpes adoradores do
sombrio 'olo> e da l(brica %&nus, se o 'essias prometido
desce dos c/us a salvar os filhos de Gsrael da escravidoD
4 ao pronunciar estas palavras, nos olhos da ancio na
expresso do seu semblante, via!se algo extraordinrio e
prof/tico
! 'uito tarde, o 'essias, bom velho, atalhou outro
pastor 4, entretanto, o sanguinrio $erodes trata!nos como
ces e ri!se da nossa dor e das nossas esperanas
! 6espeitemos os decretos e desgnios de 2eov
+TT
! 'elhor seria se todos os israelitas corressem a unir!se
com os bandos de homens livres da montanha para
expulsarem os estrangeiros de 2ud
+
! "s assassinos e os salteadores, nunca podem devolver
a liberdade aos filhos de ,brao 5# ao 'essias / permitido
gular!nos na noite escura do nosso infort(nio 4speremos,
pois, a sua vinda
! , paz de Deus se9a convosco, disse uma voz doce e
harmoniosa, a cu9o acento se comoveu o corao do ancio,
que se p8s em p/
! Huem /C 4ntre com 2eov, disse o velho pastor 5e
fores viandante e procuras albergue, entre e toma a minha
pele de carneiro par a tua cama= se tens fome, vem servir!te
do po do pobre e do leite das suas ovelhas
" r/cen vindo entrou na choa 4ra um adolescente de
vinte anos "s seus olhos eram azuis como as violetas de
2eric# 5eu olhar, doce e ben/volo, como o de uma virgem
do tempo de 5ion 5eus cabelos, louros como as espigas do
4gito "s lbios vermelhos como o pequeno fruto do
terebinto , fronte radiante como o c/u da Palestina em um
formoso dia de 9aneiro <ma t(nica alvssima como a
castidade cobria!lhe o corpo em inumerveis dobras No
meio do peito brilhava!lhe uma estrela formosa, cu9os raios
luminosos iluminaram com viva claridade os escuros
recantos da choa
,quela formosa apario encheu de assombro os
pastores
! Huem /sC U perguntou o ancio com espanto
+
4stes bandos de homens livres sobressaltavam bastante a $erodes e aos romanos ,lguns tinham
uma bandeira poltica= outros no eram mais que hordas de assassinos que entravam 0s v&zes em
2erusal/m, cometiam crimes horrveis luz do meio dia e no meio das ruas U JOlavius 2osephusN
+T+
! @abriel me chamo, e venho dar margens do 3igre
guiando tr&s reis magos do "riente que abandonaram a
populosa cidade de 5eleucia para me seguirem
! %ens acaso livrar!nos da opresso dos romanosC U
exclamou o velho pastor com alegria
! %enho anunciar o 'essias prometido, que acaba de
nascer
"s pastores olharam at8nitos com receosa curiosidade
para @abriel
D 1*,ria a %eus nas a*turas e +a> na terra aos
homens# ,9untou o rec/m!chegado
Do seu corpo saiam torrentes de clara e viva luz
*Anticos celestiais ecoaram no espao, repetindo-
D 1*,ria a %eus! +a> aos homens# 1*,ria nos ".us!
+a> na terra 9s "riaturas de +ensamento humi*de e de
"orao singe*o<
"s pastores, assombrados e tmidos ante aquele
prodgio, comearam a retroceder
D Nada re"eies! disseD*hes 1a-rie*! +or&ue eu )enho
tra>erD)os uma no)a &ue ser9 +ara todos moti)o de
grande a*egria< 0o;e na "idade de %a)i nas"eu o a*)ador
&ue . Cristo< Eis a&ui o sina* +ara o en"ontrardes; em
+anos deitado em uma man;edoura en"ontrareis um
menino; esse . o Messias<
" desconhecido mancebo dispunha!se a abandonar a
choa, quando o velho pastor, prostando!se!lhes aos p/s,
exclamou-
! ,ntes de abandonar!nos, dize ao menos quem /s
! 5ou @abriel, o an9o emissrio de Deus sobre a terra
" an9o desapareceu, a brilhante claridades dissipou!se,
os cAnticos celestes cessaram 4nto os pobres pastores
olharam uns para os outros com assombro
+T;
! ,braoD ,braoD U exclamou o velho 9ubilosamente
Deus sem d(vida quer que os bons tempos voltem, pois os
an9os descem do c/u a visitar os homens
"s simples pastores, loucos de alegria, pela graa que
Deus lhes concedia, saram da choa= e deixando os rebanhos
sem mais guarda que a silenciosa noite, correram a despertar
amigos e parentes para participar!lhes a venturosa nova "
povo em massa abandonou os seus humildes leitos apesar do
frio e do adiantado da noite, e carregando em uma formosa
9umentinha todos os dons que a sua pobreza tencionava
oferecer ao recem!nascido, encaminhou!se para 7el/m "
velho pastor ia adiante *omo Qorobabel, p8s!se 0 frente dos
seus compatriotas para os conduzir terra dese9ada " arrabil
e os tamboris lanaram ao ar as suas pastoris melodias ,s
9ovens danavam, e os rapazes soltando alegres cantos,
faziam mais curta a distAncia que os separava do *risto
prometido , alegre comitiva chegou por fim a venturosa
cidade que Deus tinha escolhido para ptria nativa do seu
Oilho "s pastores detiveram!se ante as primeiras casas para
tomarem uma deliberao
! "nde est o 'essiasC perguntaram as curiosas
mulheres ao ancio Hueremos ador!lo e depositar a nossa
pobreza aos seus divinos p/s
" velho pastor no sabia que responder 7el/m, apesar
de no ser uma cidade muito populosa, era!o bastante para
no se encontrar de pronto 0 meia noite uma criana rec/m!
nascida <m acontecimento sobre natural veio por/m indicar
o que os pastores procuravam <ma estrela, l do azul escuro
do firmamento, darde9ava um raio de formosa e clara luz
sobre o negro p#rtico de um curral
+T?
"s pastores voltaram a cabea, como levados por um
impulso alheio 0 sua vontade, para o ponto onde incidia o
raio estelar
! W aquiD 4xclamaram todos com alegria e com uma
certeza que admirava a eles mesmos 4ntremos
4 penetraram no curral Deitado em uma man9edoura,
sem mais leito que um monto de palha, achava!se um
menino recem!nascido, formoso como devia ser o Oilho de
Deus, gerado nas virginais entranhas de 'aria ,quele
menino era o prometido 'essias, o $omem!Deus que
baixava 0 terra para morrer mrtir pelos pecados da
humanidade= 2os/ e 'aria, 9unto 0 man9edoura,
contemplavam com afeto aquele sagrado dep#sito que Deus
lhes confiava , entrada dos pastores fez!lhe afastar os olhos
por um momento de seu filho
! 5enhora, disse o mais velho dos pastores, a9oelhando!
se, 3u deves ser uma rainha visto que um an9o do c/u nos
manda adorar teu Oilho= aceita, pois, estas pobres oferendas
que a teus p/s v&m depositar os simples pastores ,
mesquinhez dos nossos dons / suprida pela boa vontade com
que os trazemos ,ssim, pois, 9ulgar!nos!emos ditosos se os
teus divinos lbios, ao depositarem o bei9o maternal no
'essias que dorme na palha, intercederem por n#s com o
enviado de 2eov, com o 5alvador do povo abatido de Gsrael
,o terminar o ancio as suas palavras, vrios pastores
depositaram aos p/s da %irgem as humildes oferendas que
traziam, e uma donzela, colocando!lhe no regao um
cordeirinho, a9untou-
! "hD 'e de DeusD 7ranca, como as neves eternas do
,rar, / a cor deste cordeirinho que trago ao meu 5enhor-
suave como os cabelos de ,bsalo / a l que envolve as suas
delicadas carnes= puro como o sorriso dos teus lbios, doce
+TB
como o olhar dos seus olhos / o seu corao= aceita!o, pois,
5enhora, e com ele o gozo e a alegria de meu pai 5of, a quem
Deus concedeu este imenso favor de prestar este pequeno
tributo ao *risto anunciado pelos profetas, antes de exalar o
(ltimo suspiro
! ,ceito, meus bons amigos, em nome de meu adorado
Oilho, com lgrimas de gratido, os presentes que me trazeis
2eov, que est olhando por v#s e l& nos vossos cora)es, vos
recompensar como mereceis
'aria e 2os/ receberam com carinhoso afeito os dons
dos pastores simples 4nquanto que uns ap#s outros se
a9oelhavam 9unto ao pres/pio, para bei9arem a palha em que
2esus descansava, o arrabil e os tambores faziam ouvir as
suas campestres melodias, as donzelas danavam alegres
ante o 'enino Deus e seus augustos pais, e os rapazes
elevavam louvores ao Deus de 5ion
, lua com os seus raios de prata alumiava aquele
po/tico e singelo quadro, e o 4terno, do seu trono imortal,
abenoava os r(sticos pastores que iam beber a primeira gota
da fecunda gua do *ristianismo ao p/ do pobre bero de seu
Oilho
"s pastores abandonaram o pres/pio depois de terem
adorado 2esus e, loucos de alegria, correram a espalhar a -oa
no)a +or todos os "ontornos de /e*.m<
! " 'essias nasceuD 7radavam com f/ e entusiasmo os
verdadeiros descendentes de ,brao 4st salvo GsraelD
@l#ria a Deus nas alturas
CAPTULO II
O 2RA/E
+TF
, luz do dia flutuava indecisa por entre as sombras da
noite ,s pombas ainda no arrolhavam nos frescos cedros
do Lbano, quando uma caravana rabe que ladeava as faldas
do *armelo, se deteve 0 voz do seu chefe, 9unto 0 fonte do
profeta 4lias "s obedientes camelos dobraram as nodosas
pernas, oferecendo desde modo fcil descida aos seus
senhores ,lguns rabes, envoltos nas brancas t(nicas de l,
apearam!se e, estendendo sobre a erva uns panos de vistosas
cores, sentaram!se cruzando as pernas 9unto a umas oliveiras
"s camelos estenderam o comprido pescoo e aplicaram o
focinho ao fresco manancial que brilhava ante os seus olhos
e comearam a ruminar sossegadamente o penso de favas
secas que lhes tinham colocado em sacos pendentes das suas
cabeas <m dos rabes limpou uma pedra e, colocando
sobre ela alguns punhados de trigo, comeou a tritur!lo com
outra pedra= depois, fazendo uma esp/cie de massa com gua
da fonte e um lquido extrado de uma vasilha de barro, foi
apresentar aos seus mudos companheiros aquele estranho e
frugal almoo *omeram todos daquela massa e, elevando os
olhos para o "riente, murmuravam em voz baixa uma
orao De repente os silenciosos rabes interromperam sua
orao e, afastando os olhos do c/u, procuraram na terra
alguma cousa que sem d(vida promovia sua curiosidade
! "uves, $assafC disse um dos rabes Hue dizes desta
m(sica campestre, misturada com o canto da voz humana,
que chega at/ n#s atrav/s das sombras silenciosas da noite, e
das palmeiras e das rvores da montanhaC
! Digo que morreu algum desses orgulhosos
descendentes de ,brao que sofrem o 9ugo dos romanos, e
que os seus parentes o conduzem ao vale de 2osaf
! " eco que chega at/ n#s no / o gemido triste e
mon#tono das carpideiras= ouve
+TI
! 3ens razo W um canto alegre e os gritos com que o
acompanham so de contentamento
! Parece que as vozes se aproximam de n#s e, nesse
caso
! %amosD ,talhou o outro, encolhendo os ombros "s
9udeus perderam seu antigo valor= fanticos crentes das suas
tradi)es e dos seus profetas, sua vida / uma esperana, e
entretanto nascem e morrem escravos
! Gbraim, sabes onde estamosC Perguntou $assaf ao
interlocutor
! 2unto 0 fonte de 4lias
! Pois bem, 4lias era um raio do Deus dos israelitas, e
eles v&m beber desta gua porque dizem que endurece o
corao e aumenta o valor
! 7em sei que nas grutas do *armelo se refugiam os
terrveis discpulos desse profeta= por/m nunca atacam os
rabes, mas os romanos Nossa frontes, tostadas pelo sol do
4gito e pelo simun do deserto, agradam!lhes menos que os
rostos rosados e os perfumados cabelos desses mercenrios
do idumeu, que na sentina do mundo beberam o leite das
suas prostitutas amas
! *onfia menos no teu valor, atalhou $assaf, e lembra!
te de que esses camelos que esto descansando, e a pesada
carga que levam so a (nica fortuna de nossos filhos
! <ma caravana rabe que, como a nossa, conta
quatorze condutores, no se rouba to facilmente
! ,l nos deixe voltar sos e salvos 0 nossa terra e com
o trigo bem vendido
! 4le te oua, responderam vrios rabes, que at/ ento
no haviam proferido palavra
, gritaria, a algazarra, o canto dos homens e os sons
dos instrumentos, iam aproximando!se cada vez mais da
+TP
fonte, 9unto da qual haviam acampado os rabes ,s sombras
escuras da noite comeavam a dissipar!se <ma linha tbia e
indecisa claridade anunciava os primeiros crep(sculos da
aurora "s rabes puseram!se em p/, ao verem uma sombra
deslizar!se por entre o mato
! Huem vem lC Perguntou $assaf, empunhando o
comprido punhal
! Nada tema o rabe, respondeu uma voz
4 imediatamente apareceu um 9ovem entre os
comerciantes do 4gito
! Hue queresC volveu a perguntar
! Rgua, respondeu laconicamente o rec/m!chegado,
aplicando a boca ao fresco manancial que deslizava entre os
camelos
! Huem /sC tornaram os rabes a perguntar
! <m discpulo de 4lias
4nto $assaf aproximou!se de um dos camelos,
introduziu a mo em uma cesta de palma, e tirando dela um
punhado de p&ssegos secos, disse-
! 3oma "s rabes oferecem!te a amizade ao darem!te o
fruto da sua terra= 9 sabes que quando um filho de ,gar
reparte com um forasteiro a sua frugal comida, / porque a
sua pessoa lhe / sagrada desde aquele instante
! 7em sei, respondeu o 9ovem desconhecido, sentando!
se entre os rabes e comendo sem receio
5eu semblante, ainda que um tanto plido, era formoso,
pois seus grandes e negros olhos tinham uma viveza que
admirava <m saio comprido de l escura cobria!lhe o corpo
e as sandlias de pele de lobo preservavam!lhe os p/s das
espinhosas plantas do monte 4ste mancebo tinha o quer que
era de extraordinrio Poderia ser tomado por um demente-
no entanto seu semblante respirava doura e resignao,
+TS
traos que formavam contraste com a sobriedade das suas
palavras e com o desalinho do seu vesturio
"s rabes contemplaram!no em sil&ncio com esse olhar
frio e investigador dos filhos do deserto " moo estrangeiro
continuava a comer com a mesma indiferena como se
estivesse s# em uma das sombrias cavernas do *armelo
4ntretanto, o longnquo e alegre rudo dos rabes e dos
cantos ia!se aproximando cada vez mais da fonte de 4lias "s
rabes comearam a distinguir por entre as rvores o grupo
dos alegres e madrugadores pastores que para eles se
encaminhava "s mercadores egpcios conheceram desde
logo que aqueles novos h#spedes eram gente de paz ,ltoD
,ltoD @ritaram os pastores agrupando!se em volta dos
camelos
- 5im, altoD ,9untou uma pastora com alegre e
sonora voz 7ebamos da gua santificada pelo profeta
4lias, e continuemos a 9ornada, se os da caravana o
permitirem
! , gua / do c/u Deus derrama!a sobre a terra para
aplacar a sede dos homens 'aldito se9a aquele que a negar
aos seus semelhantesD ,fogado se ve9a por falta de gua
entre as ridas areias do desertoD
" rabe que pronunciou estas palavras apresentou com
gravidade um p(caro de ferro 0 pastora, a qual foi ench&!lo
na fonte, fazendo!o passar depois de mo em mo pelos seus
companheiros
! ,onde vo os pastores to alegres e contentesC
Perguntou um dos rabes da caravana
! %amos, respondeu um velho de branca e venervel
barba, espalhar pelos povos da @alil/ia a fausta nova de que
/ vindo o 'essias anunciado pelos profetas
! 4sts louco, ancioC replicou o rabe sorrindo
+TM
! 4strangeiro, nunca tive o 9uzo to so e os grace9os
no ficam bem aos meus cabelos brancos
! Pelo meu rei ,retas, hebreu, no te compreendo
! " an9o @abriel apareceu!nos na nossa choa 4u o vi,
e estes que me seguem tiveram a mesma dita , luz celeste
de 2eov caiu sobre as nossas cabeas= o canto harmonioso
dos an9os ecoou aos nossos ouvidos= a estrela guiou os
pastores da serra at/ 9unto do bero do seu novo 6ei, que
deve libertar do opr#brio o povo israelita
"s rabes olharam com assombro uns para os outros
,quele velho era um visionrio ou um profetaC " que
acabava de referir era uma verdade, ou uma iluso fingida
pelo dese9o de todo o israelitaC , curiosidade dos rabes no
podia ficar com aquelas d(vidas
! 4sse 'essias, esse 6ei dese9ado, e que dizeis que
acaba de nascer, deve ser filho de um prncipe de 2erusal/m
deve estar de festa
! No, rabe, replicou o velho pastor " rei prometido
teve por bero uma man9edoura e por palcio um curral 5ua
me no / uma princesa poderosa, mas sim 'aria, esposa de
2os/, o carpinteiro de Nazar/
,lguns rabes soltaram uma gargalhada estrepitosa=
outros ficaram meditabundos De repente, o misterioso
discpulo de 4lias p8s!se em p/ e, aproveitando um momento
em que os rabes deliberavam em voz baixa, aproximou!se
do ancio, e pegando em uma das duas mos, disse!lhe-
! ,ncio, pela honra das tuas barbas, pelas cinzas de
teus pais e pela paz de teus filhos, suplico!te que respondas
0s minhas perguntas
! Oala
! %iste o an9o de 2eovC
! *omo te estou vendo
++T
! 4m que lugar teve lugar esse prodgioC
! 4m 7el/m de 2ud
! "brigado, bom velho
4 o misterioso homem, rpido como o gamo perseguido
pela matilha, perdeu!se por entre a espessura das rvores
"s pastores depois de saudarem os rabes seguiram
monte acima amenizando o caminho com os seus cantares e
com o som dos r(sticos instrumentos
! "uviste, GbraimC
! 5im, $assaf, por/m rio!me das ilus)es dos 9udeus, no
h mulher na Palestina que, ao dar 0 luz um menino, no o
9ulgue o 'essias
! Por/m esses pastores dizem que viram e falaram com
o mensageiro de 2eov
! " faminto sonha sempre com os delicados man9ares
dos festins de 7altazar= e os 9udeus sonham com o 'essias,
que os deve libertar do opr#brio que sobre as suas cabeas
lanou o estrangeiro
! , d(vida / indigna de um crente como tu
! Huando ve9o os meus camelos enterrarem!se at/ os
9oelhos nas areias do deserto, digo comigo- ,l / grandeD
Huando o furioso simun envolve com as suas nuvens de areia
e fogo a minha espantada caravana, digo para mim- ,l /
poderoso Huando ouo o canto das aves do paraso, quando
o aroma das flores de um osis me embriaga, digo tamb/m
comigo- ,l / bom e misericordiosoD 4nto pressinto!o,
ve9o!o atrav/s do espesso v/u que me venda os olhos 'as o
filho de uma hebr/ia que nasce em um pres/pio, s# me diz
que nasceu um escravo mais dos romanos e feneceu uma
esperana dos israelitas
+++
"s rabes so muito dados 0 controv/rsia No entanto,
$assaf cruzando os braos, exclamou com acento quase
imperceptvel-
! 4u verei esse menino
Pouco depois o dia dissipou com os seus formosos raios
as (ltimas sombras da noite , caravana dep8s!se a continuar
a interrompida marcha, e os obedientes camelos puseram!se
em p/ 0 voz de seus donos
Deixemos, por/m, os rabes caminhando com os seus
camelos para 2erusal/m e, retrocedendo um pouco, vamos ao
encontro de outros personagens que, como os pastores, eram
conduzidos at/ o 'enino!Deus pela vontade do 4terno
,s trombetas lanam ao vento o toque de partida na
populosa cidade de 5eleucia "s brbaros soldados da
moderna 7abil8nia reunem!se debaixo dos altivos p#rticos
do palcio do seu velho rei Nos seus robustos braos
brilham os braceletes de ouro, e nas suas calosas mos a
pesada lana ou o ligeiro arco Oortes como o leo, ligeiros
como o gamo, os dromedrios esperam deitados no meio da
larga praa do palcio a hora da partida ,s suas chatas
cabeas, a9aezadas com borlas de prata e seda, aspiram com
delcia o ar puro da manh
"s escravos comeam a colocar as tendas, os alfor9es
de vveres e os odres de gua para a viagem sobre os
robustos e gibosos dorsos dos dromedrios
"s strapas com as suas brancas roupagens, os oficiais
com o marcial e guerreiro aspecto, agruparam!se nos
primeiros degraus da escadaria, esperando o seu senhor afim
de o saudarem antes da partida " b/lico som da trombeta
ressoa pela segunda vez ao extremo de uma das largas ruas
++;
que desembocam na praa do palcio 3odos os olhos se
dirigem para aquele ponto
"s seleucianos abrem as 9anelas e perguntam com
assombro o motivo daqueles aprestos militares que lhe
roubam o doce sono da manh "s medrosos pensam na
guerra, temem pelas suas vidas e pelas dos seus parentes, e
olham com receio para o brilhante s/qVito que passa por
diante das suas portas fechadas "s valentes sentem pulsar o
corao ante o brilho das armas
, frente da luxuosa comitiva cavalga sobre um
dromedrio um 9ovem ataviado com os magnficos
ornamentos das ndias 6ico turbante recamado de
esmeraldas lhe envolve a fronte= um penacho verde sa do
centro de uma fivela de brilhantes, descaindo!lhe sobre as
faces= fina / a l do seu encarnado ,lbornoz, rica / a faixa de
seda azul com fran9as de ouro que lhe cinge a cinta= um
comprido punhal de damasco pende!lhe ao lado, e as
chinelas que lhe cobrem os p/s nus, brilham como o mar
quando / ferido pelos raios da lua Negro como a noite / a
cor do seu semblante, que brilha como as p/rolas de 7assor
aos raios do sol 5eus lbios grossos teen a cor de rom 5eus
dentes so brancos como o leite das camelas "s grandes
olhos assemelham!se a duas amoras colocadas em um crculo
de neve= por/m os olhares so tristes e melanc#licos
Porque 7elchior, rei peregrino, cometeu um crime
horrendo, e implora o perdo dos c/us Por isso abandonou a
2ud/ia oriental que / a sua ptria Por isso chegou a 5eleucia
para consultar os sbios a respeito do seu nefando crime W
triste o seu olhar, triste a sua atitude, tristes as suas palavras
5eu sono / desassossegado, porque sempre ouve nele a voz
de uma irm que lhe brada sem cessar-
++?
! 7elchior, restitui!me a honraD 'aldito se9as infame
incestuosoD
Porque 7elchior desonrou sua irm, e esse crime
oprime!lhe o corao, mata sua felicidade e afugenta!lhe o
sono 4 assim como a errante caravana procura no deserto a
fonte dese9ada, o osis apetecido, assim 7elchior percorre a
terra ansioso do perdo
@aspar, o rei mago, o profundo conhecedor da imutvel
ci&ncia dos astros, recebeu!o com os braos abertos, como o
pai carinhoso recebe o filho desgarrado ,s suas palavras de
consolao derramaram a esperana no angustiado corao
do rei peregrino e os compridos cabelos brancos inspiram!lhe
confiana sem limites
! *orre, disse!lhe um dia, apronta a tua gente e os teus
dromedrios para uma viagem que devemos empreender
amanh, e cu9o termo ignoro ainda= aquela estrela fulgente,
que se move por entre as brancas nuvens, deve conduzir!nos
aos p/s do rei de 2ud, do anunciado 'essias ,quela estrela
/ a que 2ac# anunciou pela boca de 7alao
7elchior obedeceu a @aspar, e seguido dos seus negros
escravos entrou antes de nascer o sol na larga praa onde o
rei sbio tinha seu palcio "s soldados de 5eleucia
saudaram a chegada do estrangeiro, que seu senhor recebera
como a um filho Pouco depois apareceram, nos arcos da
praa, @aspar e 7altazar "s escravos fizeram uma como
escada como os seus corpos para os reis subirem at/ aos
acastelados dorsos dos dromedrios 4m seguida, a uma
ordem do mais velho, as trombetas tornaram a tocar os seus
estridentes sons , caravana comeou a mover!se, e por fim
tomou por uma das largas ruas que conduziam 0 porta do
"cidente
++B
"s tr&s reis magos iam adiante, falando amigavelmente
,trs deles caminhava em sil&ncio o luxuoso esquadro
! Para onde iroC Perguntavam os seleucionos
Ningu/m o sabe= e, enquanto cresce a curiosidade, o
veloz passo dos dromedrios afasta!os da cidade, sem que a
multido possa dar uma razo plausvel do que v&
Oinalmente, a comitiva desaparece, e os curiosos olhos no
v&em mais que as nuvens de p# que deixam ap#s si os reis
magos ,s perguntas sucedem!se, os comentrios e os
absurdos correm de boca em boca= por/m a verdade ignora!
se e a curiosidade fica burlada @aspar, 7altazar e 7elchior,
mas que homens de guerra, so homens de ci&ncia Para onde
iro, pois, os sbios reisC "s grupos dispersam!se, o sol
anuncia com os seus raios de fogo a hora do trabalho, e
5eleucia torna a recobrar seu estado normal
4ntretanto, a espl&ndida caravana caminha avante, sem
rumo certo Huando chegaram 0s runas da antiga 7abil8nia,
@aspar deteve o dromedrio e abrangeu com um olhar
doloroso o resto da cidade favorita dos caldeus, que s#
continha escombros em redor da soberba torre de 7elo, e
apresentava runas em volta dos mrmores que em tempo de
pedestal 0 estatua altiva de /resDNemrod ,inda ontem, por
assim dizer, circulavam alegres seiscentos mil habitantes
pelas suas ruas e cem deuses eram adorados nos seus templos
de mrmore e ouro= e 9 ho9e tudo aquilo no / mais que uma
manso de espanto, um monto de entulho, que o furao
espalha com o seu possante sopro, e que s# serve de ref(gio 0
selvagens feras do deserto 5eus frondosos 9ardins, seus
elegantes palcios 9 no existem 5# no meio de tanta
desolao cresce uma rvore cu9o nome / desconhecido aos
viandantes, e a cu9a sombra acampam as caravanas
++F
,li o fil#sofo medida, o poeta canta, o crente ora, e
todos pensam em Deus @aspar, 0 sombra da solitria rvore
das runas, elevou sua orao ao c/u "s soldados imitaram!
no, porque, como ele, 9ulgavam ouvir a voz do profeta Gsaias
quando repetia no meio daquelas solid)es- .4ssa 7abil8nia,
to distinta entre os reinos do mundo e cu9o esplendor tanto
orgulho inspira aos caldeus, ser destruda como 5odoma e
@omorra Nunca mais tornar a ser habitada= nem mesmo os
rabes levantaro ali suas tendas, nem os pastores deixaro
descansar seus rebanhos1
3erminada a orao como uma lembrana tributada aos
senhores daquela rainha do mundo, a comitiva tornou a
empreender a interrompida marcha @aspar, o venervel
ancio, no afastava os olhos do c/u, onde uma estrela, que
os raios do sol no podiam ofuscar, brilhava com estranho
fulgor ,stro misterioso, n(ncio divino que, olvidando as
invariveis leis que regem os globos, ora se suspende nos
caprichosos flocos de uma nuvem nacarada, ora lana os seus
luminosos reflexos pelo lmpido horizonte, que se entende ao
longe como um imenso pedao de gaze *om marcha
irregular dirige!se para o "cidente "s reis caminham ap#s
ela atrados por misteriosa fora
! 5im, no me engano, 7elchior, disse @aspar
estendendo o brao em direo 0 formosa estrela que, como
um pequeno sol, caminhava sempre diante dos tr&s reis,
como se quisesse indicar!lhes o caminho que deviam seguir
No h nenhum astro no globo celeste que marque aquele
rumo= aquela estrela / completamente desconhecida dos
astr#logos caldeus
! 5igamos a sua bela luz, exclamou 7elchior com
9(bilo 4la / a minha esperana, nobre ancio
++I
! No a percamos de vista e ela marcar o termo da
nossa peregrinao, disse por sua vez 7altazar
! ,ssevero!vos, volveu @aspar, que esta / a estrela de
2ac#, anunciada pelo profeta 7alao %alor, amigos, ela ser
para n#s como a coluna luminosa que guiou os israelitas 0s
desertas plagas do mar %ermelho
4 os reis magos seguiram com a f/ no corao e os
olhos no c/u a caprichosa marcha do seu guia radiante
"s dromedrios andam mil estdios JBTl/guas
aproximadamenteN de sol a sol, como afirma ,rist#teles ,
estrela guiadora dos reis magos, colocada sempre 0 mesma
distAncia dos ligeiros quadr(pedes, seguia a sua marcha
su9eitando!se 0 dos seus seguidores Huando a noite estendia
seu manto de sombras sobre a terra, o divino facho,
suspendendo a marcha, indicava aos via9antes que havia
soado a hora do descanso 4nto ao verem a estrela im#vel,
suspensa sobre suas cabeas, os reis ordenavam aos escravos
que levantassem as tendas= depois da frugal ceia,
entregavam!se tranquilos ao sono, que lhes devia reparar as
foras para o dia seguinte Passava a noite, o sol nascia, e a
estrela fulgente tornava a empreender a silenciosa marcha
sempre para "cidente , caravana seguia o farol misterioso
uma e outra 9ornada, sem d(vida porque Deus lhe alentava as
esperanas , estrela, como uma rainha, indicava a hora do
descanso, o momento da partida 4 assim decorriam os dias
e as semanas
.Hual era, pois aquela estrela que nunca tinha
aparecido no meio dos astros, e que depois ningu/m mais a
p8de encontrar no firmamentoC No era isto uma linguagem
magnfica do c/u para cantar a gl#ria de Deus e o parto de
uma %irgemC
++P
" nascimento de 2esus foi grande, tal como devia ser o
de um Deus "s pastores abandonaram os seus rebanhos para
o adorar "s reis do "riente deixaram os r/gios palcios para
empreender uma peregrinao cu9o termo lhes era
desconhecido 5eleucia, a nova 7abil8nia, via!os partir com
assombro Nunca o filho de um conquistador da terra se viu
to honrado como 2esus, o filho de um pobre carpinteiro,
cu9o bero era u:a man9edoura e o leito, um monto de palha
"s filhos dos reis recebem as homenagens por ordem
real 3odos os que se humilham ante o seu bero so
tributrios forados ou escravos que lambem a mo que lhes
for9ou os grilh)es, esperando a hora de poderem despedaar
o mesmo ante que se humilham
, incredulidade de alguns fil#sofos nunca p8de
explicar os assombrosos acontecimentos que rodearam a
vinda do Oilho do $omem
$erodes, rei poderoso e altivo que assassinava os filhos
e a esposa sem que um s# dos seus m(sculos se agitasse,
sabedor do nascimento de 2esus, +ertur-ouDse em si mesmo
e com ele 2erusal/m inteira 4m seguida reuniu os doutores e
sacerdotes para saber o que devia fazer, porque seu esprito
tranquilo via surgir ante o seu poder a vingadora imagem de
um Deus forte, para transformar a ordem das cousas "s
falsos deuses cairiam, rolando, em pedaos, dos altares "s
escravos quebrariam seus grilh)es "s verdugos da terra iam
comparecer perante Deus para darem conta dos seus crimes
2esus, filho de 2os/, vinha recordar 2os, filho de
"cosias, e a lembrana de ,tlia afugentava o sono ao
verdugo da @alil/ia
CAPTULO IV
++S
'ERUAL(M
,ntes de penetrarmos no recinto da cidade santa
volvamos um olhar para o seu passado 4ste captulo deve
ser o itinerrio que nos guie no decurso desta obra
" povo hebreu precisava fundar uma cidade forte, que
fosse a capital onde se assentasse o trono dos seus senhores,
o ref(gio daquelas hostes que desde a sada do 4gito corriam
errantes em busca da terra prometida
,donisec, um dos cinco reis vencidos por 2osu/,
fortifica!se com o seu povo, os 9esubianos, no monte 5ion
Desta fortaleza inexpugnvel desafia e escarnece o ex/rcito
de Davi
! "s coxos e os cegos, lhe brada ,donisec, so os que
mandarei sobre ti 4les bastaro para exterminar!te
Davi, o rei da guerra, o eleito do 5enhor, despreza as
bravatas de 9esubeu= assalta a fortaleza, passa 0 espada a
guarnio, segundo o brbaro costume de ento, e o ex/rcito
vencedor acampa sobre os montes de 5ion, ,cra e '#ria "
rei contempla do cume o seu ex/rcito acampado , lua
ilumina com seus raios de prata aquele quadro sublime Davi
empunha a harpa e eleva a 2eov o canto do triunfo "s doces
sons do instrumento, as vibrantes melodias da voz
privilegiada do rei vo perder!se nas asas da brisa noturna,
entre as florestas de @aboad e nas c8ncavas rochas do
despenhadeiro dos *adveres " dulcssimo eco daquele
canto chegou at/ n#s Diz assim-
."s reis da terra conspiram reunidos contra n#s=
disseram!se em segredo- faremos desaparecer o nome Gsrael
da superfcie da terra= mas o Deus forte preparou o meu
brao para a batalha= persegui os seus inimigos e avancei
sempre at/ que os aniquilei= caram!me por fim debaixo dos
++M
p/s= dispersei!os como o p# ao sopro do vento= submeti
povos que no conhecia= humilharam!se ante a fama do meu
nome= o estrangeiro escondeu!se e tremeu no fundo do seu
retiro1
Davi deixa a harpa e deleita!se na contemplao da
po/tica paisagem que se estende a seus p/s 5eus olhos
fitam!se naquelas tr&s montanhas entrelaadas que t&m
gigantescos fossos criados pela palavra do que faz brotar o
mundo do nada, do que suspendeu o sol no firmamento, do
que marcou limite 0s turbulentas guas do oceano
4nto vendo no "riente o profundo vale de 2osaf
arrastando pelo seu leito as avermelhadas guas do *edron,
ao 'eio!dia o escarpado barranco do @eenon, e ao "cidente
o nome dos *adveres, exclamou com um gozo inexplicvel-
D 'erous"h a* Aim! manso da +a>! tu sers a cidade
forte de Gsrael= eu te engrandecerei a ponto que as na)es
ho de inve9ar!te 4u elevarei pelo Norte, a tua parte mais
fraca, uma trplice muralha onde se despedace a cobia de
teus inimigos
Davi, o rei da guerra, edificou 2erusal/m, 5alomo, o
rei da paz, engrandeceu " 9ovem filho de Davi cingiu a
coroa no ano de ;MPT da criao do mundo " monte do
@abaon viu correr pelas suas resvaladias encostas o sangue
de mil vtimas sacrificadas a 2eov ante o altar de bronze de
'ois/s " senhor apareceu!lhe em sonhos e disse!lhe-
! Pede o que quiseres, meu amado
5alomo, pediu!lhe a sabedoria e Deus concedeu!lhe
tamb/m a beleza, a riqueza e a gl#ria 5alomo sobrepu9ou
os quatros filhos de 'ocol, os primeiros poetas dos tempos
*omp8s tr&s mil parbolas, cinco mil cAnticos e um
gigantesco livro sobre as plantas e animais Desde o cedro
que cresce e perfuma os cumes do Lbano ate o hissope que
+;T
se estende pelas quebraduras dos muros Desde a guia que
desafia o sol com o seu olhar altivo at/ o diminuto peixinho
que se oculta nas espon9osas rochas do oceano
'uitos destes livros perderam!se no decurso dos
s/culos que rolaram sobre eles 'as restam!nos os a*mos e
os CPnti"os dos "Pnti"os, cu9a poesia se avanta9a em
perfume aos lrios de @aalb#, em vio 0s rosas de 5aaron, e
em brilho aos diamantes do @olconda 4stes livros bastam
para imortalizar o seu autor
5alomo chegou a ser o homem mais rico, mais feliz,
mais glorioso do mundo= mas faltavam!lhe artistas
construtores para levar a cabo o pensamento de seu pai-
edificar um templo a 2eov sobre o monte 'ori
$isan, rei de 3iro e 5idon, enviou!lhe os fundidores de
bronze, os arquitetos, os artistas que lhe faltavam Dez mil
homens comearam a devastar do Lbano os aromticos
cedros e sete anos depois o templo estava concludo "s
9#nios precisaram de duzentos e vinte anos para construrem
o templo de Diana em 4feso Deus havia!lhe cumprido a sua
palavra, porque aquela maravilha da arte era
verdadeiramente um milagre , fama levou pela dilatada
terra o nome o rei!poeta ,s naus de 5alomo percorreram os
mares, levando para a sua "idade amada, tudo que havia de
mais grandioso, mais rico, mais surpreendente nos extensos
pases do universo
, rainha de 5ab, a formosa Nicaulis, atrada pela fama
de 5alomo, quis conhec&!lo e deslumbr!lo com a sua
riqueza , soberana do 'eio!dia chegou 0 cidade santa
seguida duma comitiva deslumbrante ,o pisar o pavimento
do palcio de 5alomo, levantou a cauda do vestido coalhado
de pedras preciosas, temendo molhar os pequeninos p/s
cobertos de diamantes e safiras " rei sorriu vendo o receio
+;+
da princesa, pois o que ela 9ulgara que era gua, era cristal
brunido 4nto Nicaulis disse!lhe-
! Ditosos os que alcanam a tua sabedoria, oh, reiD
Ditosos os que te servem , ohD 5enhorD
" reinado de 5alomo durou quarenta anos com uma
paz inaltervel " seu povo foi rico e felix " glorioso
reinado de Davi, seu pai, empanou!o uma mancha- o
adult/rio cometido com 7etsab/a, mulher de <ries, a quem
matou envergonhado da sua infAmia " florescente reinado
de 5alomo foi tamb/m manchado pelos vcios e pelas falsas
religi)es que predominaram , riqueza atraiu a 2erusal/m
multido de mulheres formosas de outros pases, e 5alomo,
adorando!as, acabou por adorar os seus mpios deuses
,s samaritanas fizeram!no prostar!se ante o bezerro de
ouro= mas 2eov, repreendendo a impiedade de 5alomo,
anunciou!lhe que o seu reino iria para 0s mos dum servo
seu
4nto o povo hebreu dividiu!se- 2ud conservou!se
obediente a 6oboo, filho de 5alomo= Gsrael proclamou
2eroboo , decad&ncia do povo escolhido por Deus
comeava a passos agigantados
6oboo, ,bia, ,ssa, 4n9ud, Nadab, 7aasa, 4la, Qamri,
e ,chab, em Gsrael, passaram sobre a terra com as d/beis
arestas que arrastam com seu furor o poderoso sopro do
furao 2osaf foi uma poderosa tr/gua para o povo hebreu
'as breve a inumana ,tlia caiu sobre as tribos como um
aoite do c/u
4m vo 4lias, raio de Deus, procura reunir aquele povo
desgarrado ,s suas palavras e os seus milagres so
desatendidos "s descendentes de ,brao caminham para o
abismo como uma torrente caudalosa
+;;
,trs de 4lias aparecem sucessivamente 2onas, "s/as,
,m#s e Gsaias , vinda do 5alvador / anunciada, por/m os
ouvidos cerram!se para escutarem as prof/ticas palavras
4zequias, rei piedoso e valente, levanta a bandeira de
2ud contra os assrios "s an9os a9udam as suas hostes Deus
volve olhos compassivos para o povo escolhido como no
tempo dos ?ortes de %a)i "s nomes de $achamoni, 7amias,
5ema, 2esboo e Oesdomoni recordam!se e renasce a
esperana 'orto 4zequias por seus dois filhos, o mpio
'anass/s ocupa o trono de seu pai *ovarde, malvado e
sanguinrio, foge ante o ex/rcito assrio, esconde!se entre
umas saras, mas / encontrado e conduzido escravo para
7abil8nia 5ucede!lhe ,mon, to mpio, to miservel como
ele e vinte anos depois Nabucodonosor cai sobre Gsrael
devastando com seu ex/rcito babil8nio Nabuzardan, um dos
prncipes do ex/rcito de Nabuco, incendeia por ordem do seu
senhor o templo de 5ion e a casa real, aos quatrocentos e
vinte e quatro anos, tr&s meses e oito dias da sua fundao
pelo rei dos cantares 4ste dia era sbado 3amb/m num
sbado deviam destru!lo os romanos, como veremos mais
adiante Nabuco levou cativo o povo de Gsrael e roubou os
vasos sagrados do templo de 5ion 2eov quis castigar aquela
sacril/gio, e apagou a luz da razo na mente do feroz
babil8nio Nabucodonosor viveu sete anos como as bestas
imundas
5etenta anos de escravido rolaram sobre o aflito povo
de Gsrael " profeta Daniel consolava a amargura de seu
irmo- por/m as harpas da donzela de 2ud pendiam das
rvores e no tinham melodias para o 5anto dos 5antos
<ma noite, o afeminado 7altazar celebrava um
banquete "s vasos sagrados, iam ser profanados pelos lbios
+;?
das impuras cortess, pelos torpes adoradores do deus 7elo e
pelos servis strapas do rei Nabonido
Na parede do salo onde se celebrava o banquete, mo
misteriosa, ao tentar o primeiro brinde, escreveu estas tr&s
palavras com as letras de fogo- Mane the"e* +hares< "
pAnico aterrou os impuros cortesos, as luzes apagaram!se, a
terra estremeceu debaixo dos seus p/s, e 7altazar,
acovardado, chamou o seu amigo e profeta Daniel para que
lhe decifrasse aquele mist/rio " profeta disse!lhe-
! 4sta noite / a (ltima da tua vida
Dario e *iro, com um ex/rcito de medas e persas,
passavam poucas horas depois 0 espada os habitantes de
7abil8nia *iro foi bom e clemente com o povo 9udaico=
concedeu!lhe a liberdade e permisso para reedificar o
derrudo templo de seus maiores
Qorobatel guiou o seu povo at/ 0 cidade santa, e no ano
seguinte tornaram a lanar!se os alicerces ao novo edifcio
destinado ao 5antos dos 5antos
Duzentos anos viveram os 9udeus su9eitos aos persas
<ma noite chegou at/ 2erusal/m o estrondo da guerra, que
sobressaltou os seus tranquilos moradores
4ra ,lexandre 'agno, filho de Oelipe, rei de
'aced8nia, o grande devastador do universo, que se
aproximava dos seus muros com a sua triunfal bandeira
desfraldada para exterminar o povo hebreu para destruir
2erusal/m como tinha destrudo ,tenas " nome de
2erusal/m estava escrito na tabuinha onde o conquistador
maced8nico apontava as cidades que devia destruir @eados,
gro sacerdote, ouviu os gritos lastimosos de 3iro e 5idon,
viu as vermelhas chamas da incendiada @aza, e escutou o
clangor fatal das trombetas macedonias 4nto correu ao
templo a implorar o favor de Deus e Deus disse!lhe-
+;B
! .5ai ao encontro de ,lexandre= lana flores e palmas
a seus p/s- abre!lhe as portas da cidade santa, e nada temas1
@eados obedeceu e o conquistador embainhou a espada
ameaadora, vendo aquele povo que se prostrava ante ele, e
a9oelhou!se por sua vez aos p/s do sumo sacerdote
Permenion, seu general o repreendeu dizendo!lhe-
! 4 acaso esse sacerdote do templo de 2(piter que
visitaste no osis de ,monC
! 4scuta, lhe disse ,lexandre- quando estava em
'aced8nia pensando na conquista da Rsia, o meu Deus
apareceu!me em sonhos %estia!se como esse ancio=
cercava a sua fronte uma coroa de luz na qual reconheci a
divindade .No temas, me disse, passa sem medo o
4lesponto 4u caminharei 0 frente do teu ex/rcito e te farei
senhor do imp/rio dos persas
Depois de ,lexandre, decorreram cento e sessenta
anos "s seus principais capites haviam repartido entre si os
povo conquistados por ele
,ntoco, da raa dos 4leidas, prop8s!se a total runa do
povo de ,bro ,qui torna a elevar!se at/ 0 epop/ia o povo
de Gsrael
"s filhos do velho 'atatias, os gloriosos 'acabeus,
venceram em valor os fortes de Davi , estes cinco irmos
faltou um $omero que cantasse as suas gloriosas faanhas,
mais dignas de renome que as do imortal ,quiles , sua
bandeira, que ostentava por moto estas quatro letras, ' *
7 G, donde se cr& tomaram o nome de 'acabeus, passeou
triunfante pelas dozes tribos
4is aqui os nomes dos cinco her#is, que nos conservou
a hist#ria- 2oo, chamado Eadis= 5imo, chamado Tasis;
2udas chamado Ma"a-eu= 4leazar, chamado A-don, e
28natas, chamado A?us< Para descrever os her#icos esforos
+;F
destes cinco mrtires da independ&ncia hebr/ia, entre os
quais figurava seu pai 'atatias, velho de cento e quarenta
anos, seria preciso escrever um livro de mil pginas Por fim
sucumbiram 0 fora num/rica, que depois de muitas derrotas
enviou contra eles Dem/trio, o 'aced8nio
2udas 'acabeu tinha enviado embaixadores a 6oma
pedindo a proteo daquele grande povo que comeava a
assombrar o mundo Huando regressaram, tinha 2udas
morrido rodeado dos seus valentes " que tinha destroado
at/ o (ltimo soldado do formidvel ex/rcito de Dem/trio, o
que tinha cravado a cabea e a mo de Nicanor 0 vista de
2erusal/m, o her#i, o imortal filho da Palestina, 9 no
existia Desde ento os romanos comearam a influir nos
destinos de Gsrael, acabando por fazer os 9udeus tributrios
do *apit#lio Pompeu, general romano, assaltou a cidade
santa e colocou $ircano, seu protegido, no reino de Gsrael,
proibindo!lhe que usasse diadema
,s profecias de 2as# iam cumprir!se- a vinda do
5alvador no podia tardar= o cetro de 2ud tinha passado a
mos estrangeiras ,lguns anos depois de um Gdumeu
ocupava o trono de Davi e 5alomo 2erusal/m no tempo de
$erodes, conservava em grande parte o seu antigo esplendor
, muralha de Neemias rodeava!a com seus robustos braos
de pedra, e as suas trezes torres e doze portas ainda podiam
desafiar o enfado dos estrangeiros
Pela face oriental, costeando o vale de 2osaf, e 0 vista
do monte das "liveiras, achavam!se as quatro portas do
8iemo! a do %ale, a %oura e a das 2guas , primeira caa
sobre a fonte do Drago, a segunda conduzia ao povo de
@etsemani, a terceira a 4ngadi e ao mar 'orto, e a quarta ao
2ordo e a 2eric#
+;I
, face meridional das muralhas tinha duas portas- uma
conduzia ao monte 4rego= a outra a 7el/m e 4bron
Dominando o despenhadeiro dos *adveres pela parte do
ocidente, achavam!se as portas dos Pei5es, a porta
'udi"i9ria e a porta 1enat 5aindo pela primeira via!se uma
distAncia de cinquenta passos o caminho que conduzia
indistintamente a 7el/m, 4bron, @aza, 4gito, 4ma(s, 2ope ao
mar , segunda conduzia a 5ilo, @abaon e ao monte
*alvrio tomando 0 direita, e 0 esquerda do sepulcro do
pontfice ,nanias , terceira era uma depend&ncia do palcio
de $erodes= permanecia quase sempre fechadas, mas, atrav/s
da sua magnfica grade de ferro, podiam os curiosos
contemplar os elegantes 9ardins do Gdumeu, com seus
bosques de pinheiros, palmeiras e sic8moros, suas
caprichosas fontes, seus magnficos tanques por onde
passeavam preguiosamente esquadr)es de cisnes, e viam!se
correr bandos de gazelas pelo meio daquelas deliciosas
florestas
Por (ltimo, ao setentrio, achavam!se as portas das tr&s
torres das Mu*heres, a de E?raim e a do Qngu*o< , primeira
desta conduzia a umas planta)es das rvores frutferas mui
freqVentadas naquela /poca pela gente moa nos dias
festivos= a segunda a 5amaria e @alil/ia= a terceira a ,natol e
7ete, deixando 0 esquerda o tanque das *obras e 0 direita o
monte do 4scAndalo
*omo dissemos, as torres eram treze, a saber- a das
8orna*has, a Angu*ar, a de Ananie*, a Torre A*ta, a de
M.a! a Torre 1rande, a de i*oea, a de %a)i, a de Pse?ine,
e as quatro restantes que se chamavam Torres das
Mu*heres
2erusal/m dividia!se em quatro cidades separadas uma
das outras por uma espessssima muralha, para a tornar mais
+;P
inexpugnvel em caso de ataque= mas todas elas se
comunicavam umas com as outras
, "idade de %a)i ou su+erior, encerrava no seu
circuito a montanha de 5ion, o sepulcro de Davi e os palcios
dos reis de 2ud, de ,naz e de *aifaz
, "idade in?erior gloriava!se com o templo, que
ocupava aproximadamente a quarta parte= o palcio de
P8ncio Pilatos= a cidadela ,nt8nia= o Xisto, esp/cie de monte
de onde falavam ao povo os governadores romanos= o monte
,cha= o palcio dos 'acabeus e o teatro fabricado por
$erodes, o @rande, em honra do */sar, sobre o qual
descansava uma guia de ouro, ave que trazia desvelados os
verdadeiros israelitas
, segunda "idade era habitada pelas pessoas de
distino, e nela tinha $erodes o seu palcio e os seus
magnficos 9ardins , (ltima chamava!se a "idade de
/e>eta, onde viviam os negociantes de l, caldeireiros,
adelos e quinquilheiros
3al era 2erusal/m sob o poder de $erodes
,gora entremos no seu glorioso recinto, destinado pela
impiedade de seus filhos a ser at/ 0 consumao dos s/culos
um monto de runas
" seu nome enche o mundo= mas enche!o com a sua
mem#ria, porque no cume dum dos seus montes foi
sacrificado o 5alvador do homem
CAPTULO V
O PERE1RINO
" nascimento de 2esus foi um grito de alarme as
divindades pags 5# Deus podia conseguir to imenso
+;S
triunfo 5# da Deus era dado arrancar do corao do homem
a peonha que o erro nele havia introduzido
'ilton, esse grande poeta, esse sbio ingl&s que tanto
honra a ptria que lhe foi bero, esse grande das suas
primeiras poesias descreveu, com essa admirvel robustez
que possua, os erros do paganismo antes da vinda ao mundo
do 6edentor dos homens
%amos extratar algumas das suas estrofes, servindo!nos
da traduo do abade "rsini Dizem assim-
."s orculos emudecem= nenhuma voz, nenhum
murm(rio sinistro faz ressoar palavras falazes sob as
ab#badas dos templos ,polo, abandonado, com um grito de
desesperao, a colina de Delfos, no pode prognosticar o
futuro Nenhum &xtase noturno, nenhuma inspirao secreta,
saindo duma caverna prof/tica, se faz sentir ao sacerdote de
olhos espantados
.5obre as montanhas solitrias e ao longo dos
murmurantes ribeiros, s# se escutam pranto e lamentos "
g&nio v&!se forado a afastar!se dos vales que habitava no
meio dos plidos choufos1
.,s ninfas, despo9adas das suas grinaldas de flores,
gemem 0 sombra dos espessos matagais "s lares e as larvas
fazer ouvir as suas queixas noturnas na terra consagrada e
sobre os santos tetos ,s urnas e os altares despedem sons
l(gubres e desfalecidos que espantam as flAmides ocupadas
nos seus servios e o mrmore gelado parece cobrir!se de
suor enquanto cada deidade abandona o seu lugar
costumado1
.Peor e 7aal fogem dos opacos templos com o deus
arro9ado da Palestina ,starot, sob o nome de Lua, rainha
me do c/u ao mesmo tempo, 9 no brilha cercada do santo
resplendor das tochas , $amom de Ldia oculta as suas
+;M
pontas, e os filhos de 3iro choram em vo o seu 3amuz
ferido " sombrio 'olo> escapa!se deixando na sombra o
seu dolo reduzido a negros carv)es- em vo o rudo dos
instrumentos e a dana chamam um rei feroz 9unto de um
forno ardente "s deuses do Nilo, da raa dos brutos,
afastam!se tamb/m rapidamente o co de ,n(bio segues Gsis
e "siris
Por fim os reis 'agos, depois de treze dias de viagem,
viram ao longe os altivos minaretes, as galhardas torres e as
fortes muralhas de 2erusal/m
Perto do caminho que seguiam murmurava a clara
corrente de uma fonte e os ilustres via9antes detiveram!se ,
uma voz do chefe do comboio os dromedrios deitaram!se no
cho e os reis apearam!se
4nto quatro escravos africanos estenderam uma rica
alfombra de pano fino recamado de ouro sobre a fresca erva,
e, sentando!se nela dos 'agos, serviram!lhe em delicados
cestinhos de palmas saborosas tAmaras e enroscados mi"h,
frugal almoo dos orientais "utros escravos encarregados
dos dromedrios deram a estes a sua rao de favas secas
De repente e quando mais tranquila se achava a luxuosa
caravana dos reis, @aspar p8s!se em p/ e exclamou com
assombro-
" estrela, a estrela desapareceuD
'elchior e 7altazar levantaram!se, apontando da boca
as frutas que lhe iam levar as mos , estrela tinha
desaparecido entre as flutuantes nuvens que se moviam sobre
a cidade tributria
"s reis viram com dor, a sua radiante e misteriosa guia
os abandonava, e, como o nufrago a quem escapa dentre as
mos a tboa em que 9ulgou ver a sua salvao, soltaram um
grito de dor 'as um deles estendendo o brao para
+?T
2erusal/m, interrompeu a silenciosa meditao dos seus
amigos, dizendo-
! Prossigamos a nossa pobre peregrinao- a estrela
desapareceu= mas no importa- diante de n#s levanta!se uma
grande cidade digna de servir de bero ao 6ei dos 9udeus=
caminhemos para 2erusal/m
! 5im, sim, prossigamos o nosso caminho- a misteriosa
estrela que nos conduziu desde o 3igre ao 2ordo, no pode
ter!nos abandonado, sem um poderoso motivo, exclamou
7altazar
! 4 depois, quem haver na cidade dos pretores que no
saiba onde nasceu o 'essiasC 7asta perguntar!nos ao
primeiro transeunte que encontremos e estou certo de que
nos conduzir ao p/ do bero 6ei a quem buscamos
,cordes os 'agos, tornaram a montar nos ligeiros
dromedrios, e pouco depois entravam em 2erusal/m pela
porta 'udi"i9ria 'as, aiD , cidade no apresentava o
bulioso e alegre quadro que esperavam ,s ruas viam!se
desertas, e as rosas, o mirto e o louro no alcatifavam o seu
duro pavimento ,s harpas dos hebreus no entoavam
alegres melodias= as donzelas de 5ion no elevavam sentidos
cantos a 2eov , mirra e o incenso no se derramavam ante
os altares do templo " #leo no ardia nas caoilas, e as
lAmpadas de ouro no alumiavam os ricos tra9es dos
sacrificadores 2erusal/m muda, quase deserta, recebeu no
seu recinto os peregrinos do "riente ,lgumas mulheres
curiosas, envoltas nos seus leves mantos, assomavam aos
terraos para verem os via9antes
"s reis tristes, desalentados, caminhavam rua adiante
, esperana ia esfriando no seu corao
Pouco a pouco foram!se agrupando em torno da
oriental cavalgata alguns curiosos
+?+
4nto, @aspar, que ia adiante, inclinava!se sobre o
nervudo pescoo do seu dromedrio, e, dirigindo!se aos
curiosos espectadores, dizia!lhes-
! Dizei!me, 9erosolimitanos, v#s sabeis onde se acha o
'essias prometido pelos profetas, o rei dos 9udeus que acaba
de nascerC
4nto a plebe olhava!se com espanto, e, no sabendo
que responder aos via9antes, fazia um movimento de ombros
7altazar por sua vez perguntou aos que tinha mais perto-
! "nde est o 'essias, o rei dos 9udeusC
! 4m 2erusal/m no h outro rei seno $erodes, o
@rande, nosso senhor, lhe respondia um cavaleiro com
grosseiro acento
! N#s vimos uma estrela desconhecida no c/u, replicava
@aspar e essa estrela, no nos resta d(vida, / a que predisse
7alao
! , estrela de 2ac# ainda no nasceu para os israelitas,
lhe replicou um fariseu
! Devem ser loucos, murmurou um soldado romano,
olhando com desd/m os 'agos
! Demos parte ao nosso rei $erodes, tornou um escriba
! 5im, sim, demos!lhe parte, exclamaram vrios
herodianos que se achavam entre a apinhada multido
"s reis, vendo que eram in(teis as suas perguntas, pois
ningu/m lhe indicava a casa do 'essias, torceram por uma
larga rua que conduzia ao antigo palcio de Davi, e
instalaram!se num dos seus arruinados ptios
,quele palcio, em tempo encantadora manso dum rei
sbio e poderoso, no era na /poca do nascimento de *risto
mais que um monto de runas= por/m, os 'agos sabiam
pela tradio hebraica e pelos vaticnios dos profetas que do
+?;
tronco de Davi devia nascer o 'essias libertador do povo de
Gsrael
Perdida a estrela que com tanta insist&ncia vinham
seguindo desde os seus lares, restava!lhes uma esperana
! 3alvez sob o p#rtico do rei Davi, disseram,
encontraremos o 'essias prometido= talvez 9unto daqueles
derrudos torre)es, onde a harpa do rei poeta acompanhava
com melanc#lico gemido os cantares do vencedor de @olias,
achemos algum indcio que nos oriente
4 uma vez ali, mandaram levantar as tendas, e
encerrando!se numa delas puseram!se a deliberar
CAPTULO VI
0ERO%E! O 1RAN%E
No ano ?M?; do mundo e SI antes da vinda de 2esus
*risto, nasceu o sanguinrio $erodes, terrvel plagiador da
inumana ,tlia , sua ptria foi 4scalon, cidade martima da
3urquia ,sitica, na Palestina Negra como a sua alma, fria
como a sua impiedade, tempestuosa como as paix)es que
dominaram o seu corao, foi a noite em que do seio de sua
me nasceu para ser o aoite da @alil/ia, o opr#brio da sua
raa
"s fura)es desencadeados saudaram a sua vinda ao
mundo, fazendo estremecer os edifcios com o seu potente
sopro ,s ondas mugidoras dos mares bramiram como se
legi)es infernais se agitassem no meio das suas guas "s
ventos agitados fizeram tremer com o veloz mpeto da sua
carreira os altos ceiros e as robustas figueiras das cercanias
de 4scalon "s rios sairam do leito, e, transbordando pelos
campos a suas turbulentas e avermelhadas guas encheram
+??
de pavor e mis/ria os infelizes moradores das aldeias ,
natureza inteira soltava um gemido de dolorosa agonia
saudando o futuro tirano
$erodes foi como a torrente transbordada que tudo
derriba ante a sua passagem= como o raio que tudo incendeia
com a sua queda= como a peste que tudo mata com o seu
hlito 4scravo das suas paix)es, imperioso e col/rico,
chegou 0 idade de vinte e cinco anos, trilhando um caminho
de crimes e escAndalos 5eu pai, ,ntipatro, que havia
prestado ao */sar vencedor de Pompeu e senhor de 6oma
servios importantes no cerco de ,lexandria, alcanou do
ditador romano o governo da @alil/ia para seu filho $erodes
, sua idade tocava nos vinte e quatro anos, quando
subiu os primeiros degraus que deviam conduzi!lo ao trono
de 2erusal/m
$erodes era arro9ado e ambicioso "bstculos no
existiam para ele 3inha sonhado uma coroa, e o crime, o
opr#brio e a baixeza no lhe detiveram o passo Para lograr o
seu fim no teria retrocedido, ainda que se houvesse visto
obrigado a passar por cima do cadver de seu pai, de seus
irmos, da sua raa toda
<ma coroa, s# uma coroa ansiava a sua ambio, e,
desprezando os obstculos, seguiu o caminho que podia
conduzi!lo reabilitao dos seus sonhos, com a fronte
erguida 'as a sorte foi!lhe contrria- vencido por ,ntgono,
seu rival, rei de 2ud, viu!se forado a refugiar!se com sua
famlia e riqueza num castelo de Gdum/ia
$erodes sufocava naquela canto da ,rbia P/trea
Huando algumas tardes, dos altos torre)es da sua
inexpugnvel fortaleza, com os braos cruzados sobre o
peito, o olhar torvo, estendia os sanguinrios olhos por
+?B
aquelas solu)es, soltando um rugido do fundo do seu
agitado corao, costumava exclamar com spero acento-
! Gdum/iaD Gdum/iaD 'anso dos chacais, ptria dos
lobos, tu no /s mais que um esqueleto e s# apresentas 0s
minhas famintas fauces ossos para devorar= mas eu preciso
duma terra onde o osso este9a unido 0 carne, para aplacar este
apetite que me consome 2erusal/m U 2erusal/mD 3u / o prato
que ambicioso no festim dos meus sonhos eu serei teu rei e
tu minha escrava= sobre tuas altivas torres ondear o meu
pendo de escarlate e ouro- teus filhos bei9aro o p# que
levanta a fimbria do meu r/gio manto, e as tuas donzelas
cantaro hinos de gl#ria, ante as aras de 5ion, pelo seu
senhor $erodes
Por fim o desterrado de Gdum/ia abandonou uma noite
a sua fortaleza, e, arriscando muito na sua atrevida empresa,
passou ao 4gito para captar a vontade de *le#patra $erodes
tinha calculado bem confiando as suas ambiciosas esperanas
0 rainha do 4gito, to c/lebre pela sua formosura como pelos
seus crimes 5# uma pantera podia compreender os instintos
dum tigre ,s hienas acodem sempre aos gritos dos chacais
$erodes, recomendado por *le#patra e 'arco ,ntonio,
passou sem perder tempo orgulhosa e degradada cidade de
6oma
" senado, ressentido com ,ntgono porque pedira
auxlio aos partos, inimigos ac/rrimos de 6oma, p8s!se da
parte do ambicioso Gdumeu, que chegava 0s portas do
*apit#lio para implorar a sua proteo
" vento da fortuna comeou a soprar em favor dos
dourados sonhos do verdugo de 7el/m
,ntonio apadrinhou as ambiciosas aspira)es de
$erodes, e, acendendo aos rogos da que mais tarde devia
compartir com ele o seu tlamo nupcial e o seu sepulcro,
+?F
ofereceu ao seu recomendado a coroa tributria de 2erusal/m
$erodes, ao aceit!la, converteu!se no primeiro escravo do
*apit#lio " */sar romano era desde ento o seu senhor
'as que lhe importava quando ia sentar!se sobre um trono,
quando a sua fronte ia coroar!se com o verde louro que o
senado entretecia para os seus favoritosC
,tivo em demasia e anelando o momento da sua
elevao ao trono, levantou tropas sem perda de tempo,
9untou com o seu ouro legi)es de mercenrios na cidade do
3ibre, e, acatando as ordens irrevogveis de ,nt8nio, deu o
comando das suas foras a %erutdio, favorito de */sar
Oeitos os aprestos militares e faminto de vingana, saiu com
os seus soldados da corte de 6oma e encaminhou!se em
marcha para 2erusal/m
,ntgeno, avisado por um amigo dos preparativos de
$erodes e do favor que lhe dispensa o */sar, aprestou a sua
gente e disp8s!se a castigar a ousadia dos seus inimigos das
altas muralhas da cidade santa, que mais tarde o 'rtir do
*alvrio devia amaldioar
$erodes atacou com fereza aqueles baluartes de pedra e
ao que se colocavam ante ele como um obstculo, como
uma vala 0 sua ambio
" sangue correu a torrentes 2os/, irmo do sitiante,
exalou o (ltimo suspiro num dos assaltos
Por fim o corteso de *le#patra, o adulador do
*apit#lio, o escravo de */sar, entrou triunfante em
2erusal/m e a guia romana foi colocada sobre o templo de
Qorobabel 'ilhares de habitantes pereceram ao
sanguinolento fio das espadas dos seus partidrios Nem um
s# dos ,ntgonos se livrou do seu furor, sobretudo se tinham
bens que confiscar
6oma pedia ouro e $erodes era escravo de 6oma
+?I
3intas ainda as mos com o sangue da feroz matana,
correu ao templo a unir!se com a bela e 9ovem princesa "s
9erosolimitanos enxugaram por ordem do seu novo senhor as
lgrimas que lhes envermelheciam os olhos, e viram!se
forados a cantar e danar nas festas reais que celebrou o
tirano <m rosto aflito era uma sentena de morte <ma
lgrima derramada custava uma cabea 'aquinador astuto e
receoso, para maior segurana concedeu alta dignidade de
sumo sacerdote a ,rist#bulo seu cunhado, apesar dos seus
poucos anos
,quele moo galhardo e querido dos israelitas, aquele
desgraado filho do cativo de 6oma, havia nascido para
cingir a coroa que usurpara o esposo de sua irm " povo
comeou a mostrar!lhe o amor que por ele sentia, e $erodes,
cioso daquele afeto que ele no soubera inspirar, mandou
afogar seu cunhado num banho em 2eric# e fingindo depois
uma dor hip#crita pela sua morte, soube 9ustificar!se aos
olhos dos fariseus e altos dignitrios de 2erusal/m " senado
de 6oma atendeu nesta ocasio mais aos presentes do
assassino que 0 9ustia que pedia a inoc&ncia sacrificada
Nunca monarca algum na terra derramou tanto sangue
inocente, nem deu cabimento no seu peito a to baixas
paix)es, como $erodes, o Gdumeu, a quem a hist#ria deu o
glorioso cognome de @rande Ooi poderoso, carecendo de
todas as virtudes que honram e engrandecem os monarcas
*ruel e sanguinrio, regozi9ava!se com a dor das suas
vtimas Oez morrer o velho $ircano, av# de sua esposa, o
qual lhe salvara a vida sendo governador da @alil/ia
"s anos e a alta dignidade de $ircano no detiveram o
brao do seu ingrato assassino " crime do pobre ancio no
era outro que o de suspeitar o seu verdugo que tinha
recebido alguns presentes do rei dos rabes
+?P
5ua esposa 'ariana, a princesa mais bela do seu tempo
e que possua um talento nada comum, morreu tamb/m
assassinada por ordem de seu marido, e pouco depois coube
a mesma sorte a ,lexandra, me da desgraada 'ariana
3emeroso de que seu filho Oilipe vingasse sua me,
deu!lhe a morte, sem que a voz da natureza se levantasse
para o deter no fundo do seu corao
" povo, indignado vendo aquele rio de sangue que
fazia correr um brbaro opressor, comeou a agitar!se como
num campo de espigas sacudido por dois ventos encontrados
$erodes, protegido sempre de 6oma, cortou aquelas cabeas
que se erguiam ante os seus passos desafiando o seu poder
<ma coroa de louro, comprada no *apit#lio com o ouro
do rico e a indig&ncia do pobre, manchava a sua fronte cheia
de remorso Porque a sua vida era um remorso contnuo
"s seus sonos eram sempre povoados de fantasmas
aterradores, de vis)es horrveis que, girando em infernal
tropel pelo seu c/rebro, lhe amarguravam sem cessar uma
por uma as sangrentas horas da sua maldita exist&ncia
$erodes no tinha para se opor 0 aberta rebeldia do seu
povo mais que os seus sicrios, os seus cortesos e a seita
baixa, desprezvel e diminuta dos herodianos, que, ao
receberem do seu senhor ouro 0s mos chias, tinham
pretendido elev!lo sobre o altar de 5ion e ador!lo como
deus "s fariseus, potentes e atrevidos, recusavam!lhe o
9uramento de fidelidade "s ind8mitos 4ss&nios seguiam o
exemplo dos fariseus
"s 9ovens entusiastas, os valentes discpulos dos
doutores da lei de 'ois/s, cheios de nobre indignao,
conspiravam desafiando a morte, 0 luz do dia, sonhando
sempre no delicioso momento da vingana, no venturoso
+?S
instante da liberdade Porque em $erodes s# viam um
verdugo, um inimigo cruel e ansiavam extermin!lo
, vida do rei tirano de 2ud era um contnuo
sobressalto " punhal homicida ameaava!o por todas as
partes <m dia correu de boca a falsa notcia da sua morte e o
povo acendeu fogueiras em sinal de regozi9o $erodes
apagou aquelas fogueiras com o sangue dos que tinham tido
o atrevimento de as acender
No mais forte destas disc#rdias civis foi que os reis
'agos chegaram a 2erusal/m perguntando pelo rei de 2ud
que acabava de nascer, pelo 'essias anunciado pelos
profetas, pelo 5alvador do povo de Gsrael
CAPTULO VII
A CARTA %E ROMA
$erodes havia transportado para 2erusal/m o luxo e os
costumes da cidade dos *asares "s artfices gregos, de cu9as
obras tanto gostavam ento os patrcios romanos, viam!se
com frequ&ncia contratados pelo rei tributrio para
aformosearem os sal)es do seu palcio
Oazia!se servir por grande n(mero de escravos etopes,
desses filhos da abrasada Lbia que, fieis como os ces e
imutveis como a bronzeada cor das suas faces, adoram os
seus senhores como os deuses pagos dos seus templos
Para contrastar com estes, tinha outros de raa 5ria, de
rosada c(tis e doce expresso Dava o nome de *ubculo 0
sua cAmara, e o de 1ineo 0 casa destinada a guardar as 9#ias
e a coroa real
Huando, rodeado dos seus mercenrios, se entregava
aos prazeres de 7aco para afogar nos vapores do Oalermo e
+?M
do *hipre os gritos da consci&ncia, comprazia!se em invocar
todos os deuses do "limpo de $omero, sentindo a falta das
livres /a"antes dos bosques de /aia e do delicioso *reta
que lhe serviam em compridos cornos de prata quando
celebravam os seus banquetes embriagadores
Durante a sua perman&ncia em 6oma, os costumes
sibarticos dos libertos tinham!no fascinado e quis transport!
lo para 2erusal/m
6oma era ento a senhora do mundo- os seus patrcios
achavam!se enfastiados de haurir gozos "s seus cortesos
tinham circos, teatros, 9ogos de palestra, onde o engenho
podia ostentar as suas galas diante da formosura= exerccios
de 'arte, onde o valor era aplaudido pela beleza *ontava
nos seus templos mais de cem deuses, aos quais queimava
incenso e circos onde os gladiadores lutavam at/ vencer ou
morrer, alimentando o sanguinrio instinto do povo com to
brbaro espetculo
, vida era ali uma torrente de prazeres, um delrio
embriagador e era um luxo gast!la " seu af reduzia!se a
saciar os apetites do corpo, esquecendo!se da alma ,
mat/ria estava sobre o esprito
, guerra e o amor eram os seus (nicos desvelos, as
suas ocupa)es favoritas= as orgias, o seu paraso terreal= o
luxo, a sua paixo dominante= morrer no campo da batalha
com a espada na mo, a melhor das mortes, o mais apetecido
triunfo, a fortuna mais cobiada= o fastio, o cansao, os
inseparveis companheiros dos seus viciados cora)es
*omo, pois transportar para 2erusal/m essa desordem que
marca sempre a decad&ncia dum imp/rio poderosoC
, cidade santa, serena e tranquila como o mar de
@alil/ia, numa clara noite de estio= a me dos soberbos
descendentes de ,brao e 2ac#, cu9as modestas filhas, depois
+BT
de adorarem o Deus de seus pais com a pura f/ de seus
singelos cora)es, abandonam o sagrado templo, coberto o
pudibundo rosto com o denso v/u, e regressando as suas
casas, punham!se a fiar o linho e a educar os filhos que
tinham criado com o leite dos seus peitos= no podia nunca
ser uma imitao de 6oma, dessa sentina do mundo, a cidade
santa, pudibunda pomba do 2ordo, a modesta 2erusal/m
$erodes nunca conseguiu a metamorfose que se
propunha levar a cabo 4sparta nunca teria tido ,tenas, ainda
que todos os tiranos do mundo lhe houvessem proposto "
@#lgota estava destinado a 2esus *risto= Delfos a ,polo
4ntremos no palcio de $erodes, e, atravessando
alguns sal)es, nos achamos num aposento luxuosamente
adornado Num leito de marfim, estendido sobre fofas
almofadas de pano de gr, acha!se o rei de 2erusal/m
<m mesa triangular de mrmore de Paros, branca como
a neve que coroa eternamente o cume do 5abino, sustenta
uma lAmpada de ouro que tem a forma duma guia com as
asas estendidas <ma luz clara e viva sai do bico do animal,
smbolo de 6oma <ma coroa de louro, colocada sobre um
pequeno coxim, achava!se 9unto 0 lAmpada
$erodes, apoiada a cabea entre as mos como se
quisesse ocultar o semblante, agita!se convulsivamente,
vtima de agudas dores que lhe despedaam as entranhas "
rei veste uma t(nica talar de cor de amaranto, a qual /
apertada na cintura, formando largas pregas por um cinto de
couro com pequenas estrelas de prata
<m barrete preto, bordado a ouro, su9eito nuca como
um solid/u, lhe cobria a parte superior da abundante
cabeleira preta, povoada de speras cs 4ntre os
emaranhados carac#is que lhe iam descansar sobre os
ombros, brilham dois grossos an/is de ouro que lhe pendem
+B+
das orelhas , barba grisalha, as espessas sobrancelhas, os
olhos cavos e brilhantes, a cor excessivamente morena e o
ossudo e enrugado rosto, do!lhe um ar de ferocidade
incrvel 7asta olh!lo para se convencer a gente de que
aquele homem / cruel, de que aquela natureza de ao pode
muito bem presenciar a morte de toda a sua raa sem
estremecer nem mudar a cor do rosto
"s seus p/s, extremamente grandes, calam a saliga
romana semeada de pedras preciosas e bot)es de ouro No
mui longe do seu leito acham!se duas pessoas reclinadas
preguiosamente em ricos divs de seda com fran9a e
bordados de prata 5o um homem e uma mulher , mulher /
5alom/, irm de $erodes- tem quarenta anos e / formosa=
mas as suas fei)es participam da dureza das de seu irmo "
homem / ,leixo, esposo de 5alom/, de rosto doce e olhar
frio, de estatura mediana e extremamente branco
,mbos guardam sil&ncio, como se temessem
interromper a silenciosa imobilidade do monarca
,leixo tem nas mos um rolo de papiro 5alom/, de vez
em quando, levanta!se do seu assento para deitar num
pequeno braseirinho de prata p#s aromticos de ervas do
Lbano, que enchem de grato e penetrante perfume a
habitao Depois tudo torna a ficar em sil&ncio= s# a agitada
respirao do Gdumeu ou gemido de dor que lhe escapa do
peito interrompe de vez em quando aquela quietao
Por fim $erodes levanta!se um pouco sobre os
almofad)es ,quele movimento executado pelo senhor p)e
em p/ os esposos favoritos que lhes assistem
" assassino de $ircano afasta as mos do rosto, e,
separando alguns carac#is de grisalhos cabelos que lhe caem
pelo torvo semblante, lana em torno de si um olhar feroz
,queles parecem os do tigre que busca uma presa para
+B;
devorar " seu rosto viu!se alumiado ento pela brilhante luz
da lAmpada , sua larga e tostada testa / cruzada por
multido de rugas 4m cada uma delas se oculta um crime, se
agita um remorso
"s p8mudos avultados, o nariz curvo, a hirsuta barba e
os pequenos e vidrosos olhos, do!lhe ao semblante uma
expresso de ferocidade que esfriava o sangue de quem tinha
a desgraa de contempl!lo e incorrer no seu desagrado
5essenta anos se sepultam naquela natureza embotada de
crimes , sua velhice / repugnante e asquerosa
6edondas e amareladas manchas lhe salpicam o rosto,
emana)es mortferas da terrvel enfermidade que o
consome- aquelas manchas pareciam os crimes que, cansados
de devorar o corao, subiam ao rosto para que deste modo
fosse to feio o seu semblante como a sua alma
$erodes, depois de ter abarcado com um olhar receoso
e covarde tudo quanto o rodeava, deteve!se na coroa de louro
que se achava sobre a mesa, e depois de a contemplar alguns
segundos, exclamou com voz cavernosa e como se falasse
consigo-
! 'eus filhos querem cingir quanto antes a minha
coroa "s empricos desta cidade ingrata so seus
c(mplices "hD 5e eu amanh viver, se a ci&ncia foi
impotente para comigo, mandarei enforcar nos p#rticos do
meu palcio toda essa caterva de avaros cendedores de sa(de
que deixam o seu rei morrer num canto da sua cAmara
4 depois, dirigindo a palavra a seu cunhado, continuou-
! "uves, ,leixoC ,manh, no te esqueas, quero que
enforques todos os m/dicos, porque a ci&ncia / impotente,
sofro muito, muito= estas dores so terrveis- creio que tenho
um spide no est8mago, outro no corao e outro no c/rebro,
+B?
que me roem sem cessar- de que me serve ser rei sofrendo
tantoC
5alom/, pegando ento num frasco de prata, derramou
algumas gotas numa taa do mesmo metal e foi apresent!la
a seu irmo, dizendo-
! Gsto te sossegar, meu irmo
" enfermo pegou na taa e, depois de lanar um olhar
para o lquido que lhe apresentavam, disse com voz pausada-
! 7em sei que tu no me fars mal, porque me queres e
teu esposo tamb/m- v#s sois a minha (nica famlia= eu dese9o
pagar!vos os vossos servios= veremos
4 bebeu o conte(do da taa num s# trago
! 'as meus filhos, que esto em 6oma continuou,
porque no sacrificam de boa vontade uma galinha preta no
altar de 4ucalpio para que eu recobre a sa(deC
! 3eus filhos, disse ,leixo com gravidade, acercando!se
do leito do enfermo, em vez de anelarem o teu
restabelecimento, acusam!te ante o */sar ,ugusto
! ,cusam!meD 3ornou $erodes, sentando!se na cama= e
de qu&C
4 ,leixo apresentou!lhe o rolo que tinha na mo
$erodes aproximou!se quanto pode 0 luz da lAmpada, e
desenrolando o papiro murmurou-
! %eremos que reclamam meus queridos filhos contra
seu pai
<m sorriso infernal lhe passou pelos lbios ao dizer
estas palavras Depois percorreu com a vista as linhas
escritas, dizendo ao terminar, com acento estranho e cruel-
! ,hD ,cusam!me ante o */sar de sanguinrio e
cruel= dizem que matei sem mais motivo que pelo prazer de
matar sua me 'ariana e sua av# ,lexandra= e, como sou um
+BB
rei tributrio, ,ugusto diz!me que v defender!me em pessoa
perante o senado Grei irei, meus filhos, mas, a de v#sD
Dois raios de fogo brilharam nas pupulas de $erodes ao
dizer estas palavras "s seus dentes produziram um rudo
spero e estranho ao tocarem uns nos outros, impelidos pela
raiva= e as suas encarnadas mos amassaram aquele rolo de
papiro que de 6oma reclamava 9ustia
! 'eu irmo, exclamou 5alom/ com voz doce e
carinhosa, esquece teus filhos e o */sar, pensa s# na tua
sa(de
! 5alom/ tem razo ,leixo no devia ter!me entregue
esta carta
4 $erodes lanou!a longe de si com manifestos sinas
de desprezo
! 4ra do imperador, respondeu, baixando a cabea, seu
cunhado
! 5im, o imperador empuxou!se para escalar o trono
que ocupo= mas eu mandei!lhe montes de ouro em paga 5ou
pois o rei de 2ud e s# eu administro 9ustia na terra que /
minha 5e tenho cometido crimes, razo teria para isso mas
eu irei a 6oma defender!me quando puder Hue posso eu
temer de meus filhos rebeldes Nada 5e ,ugusto
desatender as minhas raz)es e os proteger, ento lutaremos,
e Deus decidir
<m escravo etope, negro como um gota de tinta e
ricamente vestido, apareceu entre as cortinas que cobriam a
porta da estAncia
! %erutdio, o liberto romano, general das legi)es
estrangeiras, diz que tem preciso de falar!te
! %erutdio / meu amigo predileto= mas eu estou
doente- no quero nada, ouvesC Huero descansar, estar s#
+BF
! Gsso lhe disse, senhor= mas obstinou!se em entrar,
dizendo que era de alta importAncia o que tinha que
comunicar!te
! Hue entre pois esse importuno adorador de *ibele,
que nunca depositou uma pomba nos altares da castidade, e
que no tem compaixo do seu doente soberano
$erodes disse estas palavras em tom de mofa, e o
etope saiu para comunicar a ordem do seu senhor Pouco
depois entrava o general romano na cAmara do rei 9udeu= este
estendeu!lhe uma mo, que o liberto bei9o, mas por
cerim8nia que por respeito
" seu ar era marcial, altivo o seu semblante, e rico o
manto, preso por um grosso floro de ouro crave9ado de
diamantes colocado sobre o ombro esquerdo %erutdio
pegou sem cerim8nia num fofo almofado que colocou 9unto
do leito do rei= e sentando!se nele exclamou, fazendo antes
uma cortesia
! 'arte na guerra, ,poio na paz, prote9am o amigo
aliado do */sar, meu senhor
! 4les te ouam, lhe respondeu $erodes= e depois
continuou- Hue importante misso te conduz 0minha
estAnciaC
! 6ei de 2erusal/m, deixa o teu leito, esquece as tuas
doenas, porque na tua cidade acabam de penetrar tr&s reis
'agos seguidos dum brilhante s/quito, que, guiados por uma
estrela, dizem que v&m em busca do 6ei de 2ud, do 'essias
anunciado pelos profetas, que acaba de nascer
$erodes estremeceu, e escorregando do leito ficou em
p/ ao lado de %erutdio
5alom/ e ,leixo aproximaram!se para o sustentarem=
mas ele repeliu!os= e, pegando numa varinha de metal que
tinha escondida debaixo dum coxim da cama, deu duas fortes
+BI
pancadas numa folha de ao, a qual produziu dois sons
agudos e vibrantes que foram perder!se pelos dilatados
Ambitos do palcio Gmediatamente *ingo, seguido duma
multido de escravos, apareceu como por encanto na
habitao do rei
*ingo, o escravo favorito de $erodes, era um africano,
negro como as asas do corvo, forido como um atleta Para
aquele filho do lago de 5hiat, no havia outro adeus, outra lei
nem outra paixo que o seu senhor
" monarca de 2erusal/m amava o seu escravo como um
membro do seu corpo= *ingo era o seu brao ,lguns
inimigos de $erodes intentaram comprar a fidelidade do
feroz africano, que dormia aos p/s do leito do seu senhor,
com a mo posta no cabo do punhal, e o ouvido atento como
um co leal= mas s# tinham comprado a morte, porque *ingo
era incorruptvel como as guas do mar
Huando $erodes o viu aparecer 0 porta da cAmara,
sorriu!se pois sabia que para se chegar a ele era preciso antes
passar por cima do cadver de *ingo " Gdumeu fez!lhe um
sinal indicando!lhe que esperasse " escravo inclinou!se em
sinal de acatamento
! "nde esto esses reis que dizesC perguntou $erodes a
%erutdio
! Levantaram as suas tendas 9unto aos derruidos
p#rticos do palcio de Davi
! *ingo, acende as teias resinosas, re(ne os meus
herodianos e traz!me esses estrangeiros
*ingo saiu seguido dos escravos
! ,leixo, tu re(ne os sumos sacerdotes e escribas da
cidade, esses sbios conhecedores das profecias hebraicas, e
conduze!os a esta sala
+BP
! 3u, meu bravo %erutdio, 9unta as tuas legi)es, e
acampa!as nos p#rticos do meu palcio= e tu, minha querida
irm, minha boa 5alom/, consulta os m/dicos da cidade
acerca da sa(de de teu pobre irmo
3odos partiram para executar as ordens do senhor de
2erusal/m $erodes ficou s#, e depois duma breve pausa,
durante a qual permaneceu im#vel como se estivesse cravado
na alfombra da sua habitao, deu um suspiro, e, deixando!se
cair no fofo leito, murmurou estas palavras-
! Hue 6ei ser esse que acaba de nascerC "h, pobre
d:4le se me cai nas mosD 4 depois, estendendo a mo sobre
a coroa que se achava na mesa de mrmore, continuou- 4sta
coroa / minha, o simples dese9o de possu!la custa a cabea
Pobre d:4le se a olha com cobia, se quer arrancar!ma da
fronteD
CAPTULO VIII
A EMANA %E %ANIEL
<ma hora depois *ingo tornou a entrar na cAmara do
seu senhor
! "nde esto esses estrangeirosC lhe perguntou este
! , luz da aurora os encontrar 0 porta do teu real
palcio respondeu *ingo com um laconismo admirvel
! Hue gente trazemC
! Pouca senhor- basto eu com os escravos da tua casa
para os exterminar, se te apraz
$erodes respirou
! De onde v&mC
! Dois deles da P/rsia ou 5eleucia, e o outro da Endia
orienta segundo me informaram os seus soldados
+BS
! 4nto quer dizer que os patriarcas persas no querem
abandonar as suas tendas durante a noiteC
! " dia no est longeC
$erodes escorregou da cama, e dirigindo!se a uma
9anela, abriu!a para olhar o c/u
! 4st bem, disse- mas aqui no estamos sob os arcos do
seu palcio= no pende a campainha dos su+*i"antes que
anuncia com seu timbre sonoro que um homem pede 9ustia
ao meu senhor ,qui estamos na @alil/ia= eu sou o rei de
2erusal/m e posso castigar a sua desobedi&ncia
$erodes, enquanto dizia isto, passeava, ocultando a sua
agitao, pela cAmara *ingo im#vel como uma rocha dos
,lpes seguia com a vista as evolu)es do seu senhor,
esperando uma ordem para a executar
<ma porta secreta abriu!se deixando um oco nas
preciosas tapearias " seu ranger imperceptvel fez com que
$erodes virasse a cabea com rapidez, porque em todas as
partes via o punhal do assassino *ingo empunhou o cabo do
largo punhal que lhe pendia, e avanou dois passos
,leixo apareceu ento 0 porta
! 4sses homens esperam as tuas ordens, disse,
dirigindo!se ao seu cunhado
Pouco depois $erodes, com a coroa de louro na cabea,
a afetando uma tranquilidade de esprito que no sentia,
achava!se rodeado dos doutores da lei e dos prncipes dos
sacerdotes
,bsortos os nobres ancios ante o seu rei sem poderem
compreender a causa daquela reunio, esperavam silenciosos
e graves ouvir da boca do seu senhor o que eles no podiam
adivinhar
+BM
Depois duma breve pausa, durante o qual $erodes
procurou ler com um olhar escrutador do corao daqueles
ancios, disse com doce acento e o sorriso nos lbios-
! Glustres sbios sagrados sacerdotes que transmitis aos
vossos povos as profecias dos profetas- se vos chamei a tal
hora ao meu palcio, / porque, na 2ud/ia, eu, vosso rei, sou o
primeiro s(dito das sagradas leis de 'ois/s, e, dese9ando
render passagem ao vosso Deus invisvel, quero perguntar!
vos- em &ue *ugar de)e nas"er o MessiasG
"s sbios conhecedores das 5agradas 4scrituras, ainda
que absortos ante a inesperada pergunta, responderam sem
hesitar-
D Em /e*.m de 'ud9<
$erodes perturbou!se em si mesmo, permaneceu alguns
instantes como aturdido e sem saber o que dizer, pois aquelas
profecias que via quase realizadas, desorientavam!no
"s ancios de Gsrael, perceberam o efeito que a sua
resposta causara no tirano de 2erusal/m, e, dese9oso de
sub9ugar o favorito dos romanos, um deles continuou deste
modo-
! $erodes, sabe!o, 9 que segundo dizes /s o primeiro
s(dito da lei de 'ois/s , semana do profeta Daniel acha!se
pr#xima a expirar , aurora feliz que deve iluminar com seus
temperados raios a liberdade dos descendentes das doze
tribos de Gsrael, 9 comea a mostrar o seu refulgente disco
no c/u da Palestina ,s profecias vo cumprir!se, e 2eov
dirige os seus compassivos olhos para a terra de Davi, e faz
nascer a estrela de 2ac# no "riente
, estas palavras prof/ticas pronunciadas pelo mais
velho dos 9uzes, seguiram!se alguns instantes do sepulcral
sil&ncio
+FT
, d(vida e o medo lutavam no corao do monarca,
que, no encontrando palavras com que responder aquele
aug(rio, se encerrava num vergonhoso sil&ncio Por fim,
sacudindo as id/ias que o sub9ugavam, tartamudeou estas
palavras
! ,gradecido, sbios doutores, satisfizestes uma
curiosidade que me preocupava h alguns dias 2eov cumpra
os vossos dese9os= agora podeis retirar!vos
! N#s, responderam os sacerdotes, somos teus s(ditos=
at/ que o 'essias aparea entre os homens, manda e sers
obedecido
4stas palavras podiam tomar!se por uma ameaa=
por/m $erodes, ou no o compreendeu assim, ou,
preocupado com a id/ia do no)o Rei de 'ud9 &ue a"a-a)a
de nas"er, no quis fazer caso daquele insulto que lhe
atiravam ao rosto os seus s(ditos
"s hebreus, saudando respeitosamente, sairam da
cAmara do seu rei $erodes, ficou s#, e pela sua mente
passaram em tropel, tomando forma, as profecias dos
sacerdotes %iu o 'essias, o novo rei de 2ud, levantar
triunfante o seu glorioso estandarte do "riente ao "cidente
6ecordou as inumerveis vtimas sacrificadas no altar da sua
desmedida ambio para consolidar o seu poder, e grossas
gotas de suor comearam a correr!lhe pela rugosa fronte
" sangue ilustre dos 'acabeus tinha ocorrido em rios
durante a monarquia " carro de ferro do despotismo tinha
passeado em triunfo o seu orgulhoso senhor pelos dilatados
confins de 2ud esmagando debaixo do seu peso os
descendentes de ,brao 'ontes de ouro depositados aos p/s
de 6oma para conquistar a sua proteo, tinham cruzado os
mares de 4scalon e @aeta 5eus filhos, sua esposa, seus
amigos e parentes, sacrificados ao fio da sua terrvel acha a
+F+
menor desobedi&ncia= perdia a sua alma, a sua honra e o seu
repouso vendo eternamente nos seus sonhos as
ensangVentadas sombras das suas vtimas, ouvindo sem
cessar por todas as partes a maldio do seu povo, sentindo
no seu corpo a maldio de Deus com os terrveis e
prolongados padecimentos de uma enfermidade mortal- 4
tudo isto para qu&C
<m rei da descend&ncia de Davi acabava de nascer 4
esse 6ei poderoso e vingador ia!se levantar diante dele,
expuls!lo do seu trono como um leproso imundo Gsto
pensava, $erodes medindo a largos passos a sua cAmara "
sanguinrio Gdumeu tinha medo e esse medo foi o seu
verdugo nos (ltimos anos da sua vida
! "hD no serD exclamou com reconcentrado furor,
parando diante da coroa, cu9as folhas brilhavam aos raios da
luz que despedia a lAmpada 3u sers minha e s# minha, at/ a
(ltima horaD 4, se foi preciso para isso sacrificar a raa
israelita, eu armarei as minhas legi)es, as minhas lanas
trcias, os meus valentes germanos- os meus nobres aliados
sairo de 2erusal/m e as trombetas de desolao anunciaro o
seu (ltimo instante 5im eu vos exterminarei como
Nabucodosonor- nem os mortos do vale de 2osaf se ho de
livrar do meu furor= dizem que o mar 'orto se formou sobre
as runas de 5odoma e @omorra com a chuva de enxofre e
fogo que o c/u indignado lanou sobre elas= pois bem, a
arenosa Palestina com o sangue dos seus sonhadores filhos se
converter dentro um pouco em outro mar que denominaro
os vindouros com o nome de mar de sangue
4 $erodes, como se houvesse esgotado as (ltimas
foras do seu esprito enfermo, deixou!se cair desamparado
sobre um almofado, contrado o semblante e tr&mulo o
+F;
corpo Desta abatida situao veio tir!lo o seu escravo
*ingo
! "s estrangeiros esperam, disse com seu habitual
laconismo
! %&m s#C perguntou o Gdumeu, volvendo em torno
de si os receosos olhos
! ,ssim o mandaste , tua ordem / lei para mim,
respondeu o escravo
! 3u /s bom, *ingo amigo 3u amas o teu senhor, e o
teu senhor no h de esquecer na sua (ltima hora, que no
est distante, o que te deve
! , minha vida / tua- diz!me que morra e me vers
expirar sereno aos teus p/s
" rei estendeu uma das mos a *ingo que este bei9ou
com respeito
3alvez o (nico ser que o amava na Palestina
! Hue respondo ao caldeusC 3ornou o escravo, depois
duma breve pausa
$erodes escorregou da cama, foi colocar!se diante de
um espelho, e, pegando numa redoma e numa espon9a,
comeou a tingir o cabelo e a barba, que adquiriram
instantaneamente um brilho e um negro admirvel
! 4sses caldeus poderiam desprezar!me vendo as
minhas cs= porque os velhos so fracos 4 preciso engan!
los, no / verdade, *ingoC
" escravo inclinou!se
Huando o Gdumeu viu terminado o seu adorno, um
sorriso de satisfao lhe assomou aos lbios
! ,gora sou outro homem Hue entrem, mas que
entrem s#s, sem os seus soldados, ouvesC eles s#s
*ingo saiu
+F?
$erodes, procurando serenar o semblante, depois de
cingir a coroa e colocar sobre os ombros um rico e luxuoso
manto romano, foi sentar!se num dos divs, tomando uma
atitude nobre e ma9estosa
Huando os tr&s 'agos apareceram 0 porta da cAmara,
$erodes era outro homem diferente do que acabava de ver!se
s# com a sua consci&ncia
,ntes de lhes falar esteve observando!os com vagar,
como se quisesses ler!lhes nos cora)es
"s 'agos, que com os braos cruzados sobre o peito
tinham saudado o senhor de 2erusal/m, esperavam as suas
ordens 9unto da porta, im#veis e silenciosos *ingo lia nos
olhos de seu amo e foi esconder!se com alguns companheiros
da sua escravido entre as largas pregas das colgaduras da
porta
,li esperava com a mo posta no cabo do punhal uma
ordem de seu amo
$erodes por fim dirigiu!se aos 'agos, dizendo com
pausada e melfluo acento-
! 4ntrai e sentai!vos, ilustres estrangeiros
"s peregrinos da estrela obedeceram ao rei de
'erusa*.m
LG%6" H<,63"
CAMIN0O %O E1ITO
CAPTULO I
O EUATRO REI
+FB
! 5bios do Gr que chegastes 0s minhas terras em busca
dum rei que acaba de nascer, eu vou sa(do, disse $erodes,
depois de contemplar um breve momento os caldeus
"s discpulos de Qoroastro, os gentis adoradores do sol,
inclinaram!se respeitosamente, e @aspar, o mais velho dos
tr&s, e conhecedor da lngua hebraica, disse-
! , esperana de encontrarmos esse rei nos traz das
margens do 3igre 0 tua cidade, que os deuses prote9am= mas
as nossas esperanas desvaneceram!se como um sonho
! No vos compreendo, caldeus, respondeu $erodes
que com melfuas palavras e hbeis giros, queria saber como
tinham chegado aqueles reis 0s suas terras= mas sempre tenho
admirado os sbios da P/rsia Por que, pois, no viestes
hospedar!vos no meu palcio, que / vossoC Por que antes de
me verdes, levantastes ao vossas tendas nos derruidos
p#rticos do rei dos *antaresC
! Deus,o grande Peregrino do c/u, tem a sua tenda no
sol= n#s mortais peregrinos da terra, levantamos as nossas
tendas 9unto ao derruido palcio de Davi, porque desse
tronco h de nascer o 5alvador de Gsrael
! Por ventura aos ilustres babil8nios interessa a sorte
dum povo que no / o seuC
! " que se anuncia aos homens com sinais do c/u,
interessa a humanidade inteira
! ,nunciou!se!vos a v#s desse modoC
! 7alao predisse uma estrela que devia aparecer na
/poca do nascimento dum grande rei, o qual estava destinado
a passar o seu estandarte vencedor do "riente ao "caso
! 'as essa estrela no a vimos em 2ud- os meus sbios
nada me disseram *omo, pois, me explicais uma coisa to
estranhaC *omo, pois, se anuncia o Deus invisvel dos
+FF
hebreus, o verdadeiro 2eov, na terra dos pagos, e no na
dos fi/isC
! Ningu/m pode explicar aos incr/dulos as misteriosas
revela)es do *riador do universo
! , f/ no falta a $erodes
! 4nto cr& que esse formoso astro surgiu no "riente
! Durante a noiteC
! Noite e dia brilhou sobre as cabeas dos nosso
dromedrios, guiando com a sua misteriosa luz os nossos
incertos passos, atrav/s de arenosa Palestina, desde 5eleucia
a 2erusal/m
! 'ostrai!me o ponto do c/u em que se acha essa
estrela= quero v&!la
! W impossvel= o formoso astro abandonou!nos ao
divisarmos os altos minaretes da tua cidade
! 4 que augurais v#s desse desaparecimentoC
! Hue aqui nasceu o rei que buscamos
! 4 para que quereis encontr!lo com tanto empenhoC
! Para depositar aos seus p/s ouro fino, colhido nas
margens de Nnive, a grande, como a prncipe= mirra como a
homem e incenso como a Deus 7ei9ar os seus p/s, render!
lhe vassalagem e ador!lo como merece um ,nunciado dos
c/us
! 5bios caldeus, eu admiro a vossa ci&ncia, respeito a
vossa f/ Nada / to grande para $erodes sobre a terra,
depois de Deus, como um sbio 2 que o destino vos
conduz por fortuna ao meu palcio, perdoai se a minha
ignorAncia vos incomoda pedindo!vos pormenores acerca
dessa estrela que seguintes at/ 2erusal/m
$erodes, hbil poltico, fingiu aquela admirao, aquele
acatamento 0 ci&ncia, porque queria saber dos mesmos
'agos todo o acontecido desde a sua sada de 5eleucia
+FI
5agaz e astuto, procurou que os r/gios estrangeiros no
entendessem o sanguinrio plano que lhe fervia no c/rebro
5abia que os reis da P/rsia a primeira coisa que aprendiam
na sua infAncia era dizer a verdade
, mentira tem!se como um opr#brio, como uma
hedionda n#doa que empana o sangue e o braso dos
cavaleiros *erto $erodes da verdade da narrao que iria
ouvir dos caldeus, prop8s!se tirar de todos os pormenores
armas para o seu plano
@aspar explicou cientificamente a lei invarivel que
rege os globos celestes Oez!lhe compreender tamb/m que o
rumo marcado pela estrela que tinham seguido at/ ali, era
estranho e sobrenatural Disse que nunca nas regi)es celestes
se tinha visto um astro das dimens)es e brilho daquele que os
trazia preocupados
$erodes escutou com profunda ateno as palavras de
@aspar ,mvel e lison9eiro, mais duma vez que se mostrou
pasmado antes as profundas palavras dos reis 4ntretanto, os
'agos nada suspeitavam *omo todos, esse sbios que
ilustram o mundo com as suas luzes, eram bons e ing&nuos, e
os seus cora)es nobres e generosos no davam entrada 0
desconfiana e malcia
" Gdumeu havia!lhes armado um lao, e satisfeita a sua
curiosidade, despediu os reis dum modo *ortez e lison9eiro,
dizendo!lhes-
! Gde informar!vos exatamente desse 'enino, e, quando
o houverdes encontrado, fazei!me saber para que eu tamb/m
v ador!lo e celebrar um banquete de nascimento 0 usana
do vosso pas
"s 'agos saram do palcio de $erodes, encantados do
bondoso carter do rei protegido do *apit#lio Descendo a
escada, @aspar disse aos seus companheiros-
+FP
! 5e o rasto de sangue humano que tinge a terra de
Gsrael no o fizesse um assassino desprezvel, 9ulgaria que
este homem no / o que dizem
,penas os persas tinham abandonado a cAmara do rei
de 2ud, abriu!se uma porta, e, apartando mo invisvel as
colgaduras que a cobriam, assomou por ela uma cabea
coberta de longos e macios cabelos pretos, cu9o risonho e
expansivo semblante contrastava com a torva e taciturna face
do rei tributrio
" novo personagem que assim se introduzia sem se
anunciar no quarto do verdugo de 'ariana, era um menino
de doze a quatorze anos, de altivo e formoso semblante
" tra9e romano que vestia ficava perfeitamente ao seu
talhe esbelto ,pesar dos seus poucos anos, pendia!lhe o arco
do brao, a ade9ava dos ombros e a espada curta da cinta
, toga pretexta guarnecida de p(rpura caia com
ma9estade sobre o corpo do adolescente, deixando adivinhar
debaixo das suas largas pregas e nascente musculatura de
uma atleta , sua fronte era altiva, o seu olhar sereno e
ma9estoso e atrav/s da fina epiderme do seu rosto viam!se as
azuladas veias por onde circulava o seu sangue real
4ste menino chamava!se ,quiab, e era um dos
inumerveis netos de $erodes Na famlia chamava!se o
8a)orito; havia!se educado em 6oma com o esplendor dum
prncipe, 0s expensas de seu av#, que o amava de um modo
indizvel, avivando com este afeto os ci(mes dos seus filhos,
e particularmente de ,rquelau, pai de ,quiab
CAPTULO II
A E U I A /
+FS
$erodes, o @rande teve nove mulheres, vinte filhos e
um n(mero ainda mais considervel de netos
5ucessivamente coube a mesma sorte a 'eltaca,
Palada, "limpada, Oedra, 4lpides, 6oxana, 5alom/, e outras
duas de cu9os nomes no nos recordamos
4stas esposas, expulsas vilmente do palcio do
monarca, choraram nos seus desterros a indiferena do
brbaro Gdumeu, estreitando seus filhos contra os peitos
feridos pelo dardo cruel da infidelidade de seu esposo <m
dia as lgrimas esgotaram!se e o dese9o de vingana brotou
robusto e animoso nos peitos mulheris daquelas ex!rainhas
postergadas
,queles olhos avermelhados pelo pranto, buscaram
cobiosamente uma coroa para seus filhos- viram a de
$erodes, 0 qual todas tinham direito, e ento com as mos,
ainda contradas pela raiva, comearam a afagar o punhal ou
o veneno que devia ving!las e exterminar o tirano
$erodes viu o perigo que o ameaava= teve medo da
sua numerosa famlia= viu cem punhais sobre a cabea
prontos a descarregar o golpe fatal e disse consigo-
.'atemos- os mortos no se vingam1
5em embargo, era preciso buscar um pretexto para
desculpar!se aos olhos de */sar, seu aliado, e de Gsrael, sua
escrava 4ntre as princesas repudiadas, 'ariana era a mais
temvel pelo seu claro talento e deslumbrante beleza
'ariana foi acusada de ter mandado um retrato a
'arco ,ntonio, com que se sup8s em rela)es amorosas, e
foi morta Pouco depois seu filho ,lexandre, o mais querido
do povo hebreu, o mais conveniente para cingir a coroa,
sofreu a mesma sorte de sua me
" sangue derramado comeou a espantar o sono do
verdugo de Gsrael= a desconfiana encarnou!se na sua alma e
+FM
s# se rodeava de escravos fi/is, aos quais o seu medo
enriquecia 3r&s eunucos que nunca se afastavam do lado do
rei, chegaram a ser os seus favoritos- 5il#e, seu copeiro, 6att,
que cuidava da sua comida, e Oerax, da sua cama
, famlia de $erodes viu que aqueles tr&s servidores
formavam um muro impenetrvel ante o corpo do tirano, e
comprou!os *ingo descobriu esta venda na mesma noite que
estava destinada como a (ltima do seu senhor "s eunucos
sofreram o tormento e declararam a conspirao ,lexandre,
filho de 'ariana, era o chefe, e morreu com os seus
c(mplices
'ais tarde, como o leitor ver no decurso deste livro,
caram ao fio do cutelo ensangVentado de $erodes mais seis
filhos " tirano quis afogar o grito incessante da sua
consci&ncia, que lhe recordava a sua crueldade para com seus
filhos, prodigalizando toda esp/cie de cuidados a seus netos
'uitas vezes, na prolongada agonia dos seus (ltimos anos,
fez com que aqueles meninos, que a sua mo deixara #rfos,
rodeassem o seu leito e entretinha!se em dispor os
casamentos daqueles infantes para mais tarde
4ntre os seus netos, o favorito era ,quiab, filho de
,rquelau, a quem destinava a coroa de 2erusal/m
5# seis pessoas rodeavam o rei- 5alom/, sua irm,
,leixo, seu cunhado= *ingo, seu escravo= %ert(dio, general
legionrio= ,rquelau, seu filho, e Ptolomeu, o velho guarda!
selos Depois destes todos os habitantes de Gsrael eram tidos
como inimigos, excetuando os soldados mercenrios e os vis
herodianos
Para $erodes a vida era um sonho de morte " (ltimo
dos s(bditos era mais feliz que o seu senhor
Dados estes esclarecimentos, voltemos a encontrar
,quiab, no momento em que penetrava na cAmara do rei
+IT
! @raas a 'arte que te deixaram s#, querido avozinho,
disse o mancebo entrando precipitadamente na habitao
$erodes voltou a cabea, e, ao ver seu neto, apareceu!
lhe um sorriso nos lbios
! *omo me achasC lhe perguntou com estouvamento o
menino, dando uma viravolta para que o visse melhor
! 4sts mesmo um capito de */sar 'as a que vem
esses aprestos militares em tempo de pazC Por que abandonas
o teu leito antes que o sol sa(de com seus raios ou sepulcros
do vale de 2osafC
! 5e me prometes no ter enfadar comigo, vou dizer!te
4 o 9ovem deteve!se, receoso de que o seu av8 o
repreendesse pelo que ia revelar
! Oala= nada temas, ,quiab= 9 sabes que sou bastante
condescendente contigo
! Pois bem, senhor, *ingo, teu escravo favorito / muito
meu amigo deste que tu o nomeaste meu mestre, e eu te
agradeo, porque Ptolomeu o velho guarda!selos da tua
coroa, no sei o que me ensinava= rabugento e ralhados,
nunca metia uma seta no alvo, nunca p8de desarmar um
escravo, e, sempre que pretendeu montar a tua gua siraca, o
ardente animal o atirou ao cho Diz!me avozinho, quanto
tnheis guerra, Ptolomeu era valenteC
$erodes, o feroz verdugo de 7el/m, era fraco ante
aquele menino, como 5anso aos p/s de Dalila
! Ptolomeu / um servo fiel e probe!te que lhe queiram
mal, respondeu com doura $erodes
! Pois ento deixemos o teu guarda!selos $o9e no
quero que te zangues comigo, e, tornando!te a falar de *ingo,
vendo este homem que eu cravara quatro flechas seguidas no
alvo, exclamou, dando uma patada no cho- .Pela vida de
2(piter "lmpico, meu prncipe, que de todo o corao sinto
+I+
deixar!te agora que com tanta rapidez adiantas no exerccio
das armas1
! .Deixar!meC lhe disse
! ,manh passamos a 2eric#= s# os deuses sabem como
encontrarei o meu discpulo quando regresse a 2erusal/m1
! .Porque no me levas contigoC lhe tornei
! .Prncipe ,quiab, *ingo no / mais que um escravo,
me respondeu- teu av# / meu rei= pede!lhe a sua v&nia, que
eu ficarei muito contente se te vir cavalgar ao meu lado1
5eguindo, pois, os seus conselhos e os meus dese9os, venho
dizer!te- ,v8, eu quero acompanhar!te a 2eric#= no /
verdade que tu tamb/m queres que ,quiab te acompanheC
! W preciso que teu pai ,rquelau o consinta
! ,hD Pois ento de certo no vou 'as tu /s o rei=
aqui todos te prestam obedi&ncia= quem ousar contradizer
uma ordem tuaC
$erodes, que como todos os adulados era fraco ante a
adulao, passando carinhosamente a mo pela cara de seu
neto, disse!lhe-
! Grs
" 9ovem deu um salto, e pendurando!se aos ombros de
seu av8 e cobrindo de bei9os aquelas barbas encanecidas que
faziam tremer os hebreus, exclamou com infantil entusiasmo-
! 3u /s bom= rei e senhor, muito bom para comigo= mas
eu prometo!te ser um rapaz obediente e aplicado
,rquelau, filho de $erodes, entrou naquele momento
na cAmara real 3razia triste o rosto e o olhar inquieto 5eu
filho ,quiab perdeu a alegria 0 vista do pai
! 5enhor, disse ,rquelau com voz agitada, dirigindo!se
a $erodes= desde a torre dos hpicos ao vale de 2osaf, desde
a porta de 4fraim ao tempo de 5ion, levantou!se uma voz de
alarme, produzida pela chegada duns reis estrangeiros que
+I;
v&m em busca do rei de 2ud que acaba de nascer Pai, quem
/ esse 6ei que vem usurpar!nos a coroaC
$erodes, que estremecia a cada palavra que
pronunciava, procurou dominar!se dizendo-
! Nada temas, ,rquelau= os sonhos dos 9udeus devem
inspirar desprezo aos herdeiros de $erodes= e depois,
dirigindo a palavra a seu neto, continuou- ,quiab corre a
dizer ao meu escravo *ingo que dese9o partir imediatamente=
tu me acompanhars
,quiab bei9ou a mo de seu av8 e saiu da cAmara
saltando de alegria Huando ,rquelau e $erodes ficaram s#s,
disse este a seu filho, baixando a voz-
! 3u, meu filho, ficas em 2erusal/m= eu parto para
2eric# para fazer os preparativos duma viagem a 6oma, onde
teus rebeldes irmos me acusam= mas antes de partir escuta
bem o que vou dizer!te e no esqueas que do cumprimento
exato das minhas ordens depende que esta coroa que
descansa sobre a minha fronte passe amanh 0 tua cabea
4sse sbios caldeus que semearam a inquietao na nossa
cidade, tornaro a dar!me notcias desse rei que procuram
4nto te apoderars deles e mos mandars a 2eric# presos
entre dois muros de lanas
! 5ers obedecido, respondeu com prazer ,rquelau, em
cu9a veia ardia o pobre sangue de seu pai 4ntretanto, dorme
tranquilo= tu reinars em @alil/ia ainda que se9a preciso para
isso encher o *edron de sangue humano
$erodes, chegando!se 0 9anela, pela qual comeavam a
entrar os raios de sol nascente, agitou um leno, e
imediatamente ressoou na praa o toque das trombetas
Depois pegando na vara de metal, tornou a tirar da folha de
ao tr&s sons vibrantes 5alom/, ,leixo e %erutdio
apresentaram!se 0 porta
+I?
! 4 os m/dicosC Perguntou $erodes a sua irm
! 4speram na praa e acompanhar!te! a 2eric#
! 'as que te disseramC
! *omo sempre, aconselham!te os banhos temperados
de *ali#re
! "raD "s m/dicos sempre acabam pelo mesmo= quando
se v&m perdidos, entregam o corpo nos braos da natureza
%amos
4 sairam da cAmara %erutdio, o general romano, ia
adiante $erodes, apoiado nos braos de sua irm e de
,leixo, descia atrs, a larga escada do palcio Depois, grave
e carrancudo, seguia o guarda!selos do palcio, Ptolomeu
Huando $erodes chegou ao p#rtico, uma riqussima liteira o
esperava *ingo abriu a portinhola, e p8s um 9oelho para
servir de estribo ao seu senhor ,o seu lado achava!se
,quiab, montado numa galharda /gua de raa siraca <m
grito de )i)a e*Drei ressoou na praa $erodes, depois de
saudar com um sorriso seu neto e com um leno os seus
soldados, disse ao seu escravo *ingo-
! Para 2eric#D
! Para 2eric#, repetiu *ingo ao guarda!seios, o qual
transmitiu a ordem a uma centurio romano
4nto 5alom/ entrou em outra liteira com a sua escrava
favorita ,leixo montou num fogoso cavalo, e foi colocar!se
0 direita da liteira de $erodes Pouco depois o tirano de 2ud
saa pela porta D#ria, rodeado das suas lanas mercenrias, e,
tomando o caminho de 7etAnia, dirigiu!se para as margens
do 2ordo, em procura da sua cidade favorita
Deixemos o Gdumeu prosseguir o seu caminho,
abismado nos seus sanguinrios planos, e tornemos a
encontrar os peregrinos do "riente, os sbios de 5eleucia
+IB
CAPTULO III
A A%ORAMRO %O MA1O
Huando os peregrinos persas saram do palcio de
$erodes, e dia achava!se indeciso nas nuvens do "riente
Gmediatamente mandaram levantar tendas e com a esperana
no corao abandonaram a capital da 2ud/ia, saindo pela
porta de Damasco, enquanto que a cavalgada de $erodes se
encaminhava para 2eric# pela porta D#ria
Duas horas de marcha levaram os caldeus, cruzando
vales e subindo empinados desfiladeiros= 9 o sol, em toda
sua plenitude, lanava sobre a terra da Palestina a vivificante
e clara cruz dos seus raios, quando se detiveram 9unto duma
cisterna Jque ho9e ainda existe, e / conhecida com o nome de
"isterna dos magosN, deixando beber aos seus dromedrios,
das suas frescas e transparentes guas De repente, quando
mais distrados se achavam na z&nite um astro luminoso que
desceu como uma exalao sobre as suas cabeas
"s via9antes, sem se poderem contar, fazem um
movimento de terror, crendo que um raio caa sobre eles para
os exterminar
'as o fogo do c/u no chega 0 terra= ficando suspenso
no espao, a pequena distAncia das suas cabeas, envia!lhes
as cambiantes irradia)es dos seus formosos raios que
esmaltam quanto tocam os seus brilhantes reflexos
! , estrela, a nossa estrelaD 4xclamaram 9ubilosos os
reis, levantando os braos para o c/u com religioso
movimento
! , estrela, a estrelaD 6epetem com louco entusiasmo
os escravos e soldados da caravana
+IF
! Prodgio dos c/usD 'isteriosa revelao dum Deus,
que n#s os discpulos de Qoroastro, no temos adorado,
exclamou @aspar com fervoroso acento= guia!nos at/ ao
bero do teu santo filho e eu bei9arei os seus p/s e adorarei o
seu corpo
4nto a estrela, como se houvesse esperado as palavras
do rei id#latra para empreender a sua marcha, comeou a
deslizar!se pelo espao "s reis seguiram!na Deixando a
terra aos seus dromedrios, fitos os olhos na formosa estrela,
caminharam mais duas horas entre barrancos e precipcios
sem se importarem do perigo que os ameaava a cada passo
Por fim o divino astro deteve!se por cima duma
pequena cidade que descansava no topo duma colina
,quela cidade era 7el/m de 2ud, ptria imortal, bero
santificado do 6edentor do homem
"s reis dispunham!se a entrar em 7el/m, quando a
estrela, como se houvesse desprendido da mo misteriosa
que a segurava no espao, caiu do c/u e foi colocar!se sobre
a desmoronada e arruinada porta dum estbulo "s reis
9ulgavam encontrar num palcio o 'essias= mas ainda que os
assombrou o miservel lugar que a mensageira do c/u
escolhia para deter o seu passo, puseram p/ em terra e,
ordenando aos seus escravos que lhes descalassem as
sandlias, encheram as fontes com o p# do pobre umbral e
entraram no estbulo
" 'enino!Deus achava!se estendido no sue humilde
leito de palha= sua santa 'e, ao seu lado, contemplava com
doce venerao a 9#ia do seu amor " astro dos c/us enviava!
lhe os seus formosos raios, que caiam como um raio de luz
sobre a 'e e o filho
"s reis caminharam at/ o p/ da man9edoura com
profundo respeito @rande era a f/ que os animava quando
+II
dobrando o 9oelho foram bei9ar com respeito os pezinhos
daquele 'enino pobre e abandonado que nascera num
estbulo
"s poderosos reis de 5eleucia e "riente, a cu9a voz
curvavam a cabea os seus leais escravos= os id#latras
babil8nicos, os sbios da P/rsia, rendiam vassalagem ante o
Oilho dum pobre carpinteiro de Nazar/ No era isto um
sonho do 1inastan, mais verossmil, mas estranho que a
fabulosa exist&ncia dessa raa de %i)es e Peris, desses
gigantes que habitavam uma cidade formada de um s#
diamante e que as caprichosas falas do C9u"aso e do mar
C9s+io converteram em torrentes de cambiantes cores e em
mares de brilhante luz s# com o lhe tocarem com sua varinha
misteriosaC
Prostrarem!se ante o Oilho de um pobre operrio tr&s
poderosos reis do "riente, no tempo da )inda de 'esus
Cristo, era to inverossmil, to portentoso, como esgotar o
"ceano 0 fora de braos e converter o deserto de 5aara num
vergel frondoso das margens do 4ufratesD 5# Deus poderia
levar a cabo to portentosa transformao 5# o Oilho de
Deus podia conduzir 9unto do seu bero, com os p/s
descalos e o p# na fronte, @aspar, 'elchior e 7altazar
Postos de 9oelhos ante 2esus, os potentes reis adoraram
o rec/m!nascido como os prncipes do "riente adoravam
ento os seus deuses e soberanos
,briram os ricos cofres que levavam e tiraram para
depositar aos p/s de 'essias, ouro puro de Nnive a granel e
perfumes rabes do Gemem
" sacrifcio do sangue comeou a ser abolido pelos
mesmos pagos que o veneravam , branca novilha, o
inocente cordeirinho no dobravam o humilde colo ante o
cutelo do sacrificador, nem dirigiram o seu doce e doloroso
+IP
olhar na ocasio de expirarem, para o deus que lhes tirava a
vida 2esus, desde o bero, desterrava da 5inagoga o sangue e
as vtimas " Deus do perdo, da caridade, da tolerAncia,
nascia entre os homens para se sacrificar por eles 5# uma
vtima reclamava a humanidade extraviada, para livrar!se da
infalvel perdio= essa vtima desceu dos c/us para salvar o
mundo , civilizao crist, o direito das gentes, a liberdade
do homem, nasceram num estbulo Por inspirao divina,
tr&s reis brbaros puseram a sua pedra fundamental "s
id#latras caldeus deram o primeiro passo sem o poderem
explicar a si mesmos, ao oferecerem como tributo da sua
vassalagem ao Oilho de 'aria, ouro como prncipe da terra,
mirra, como homem e incenso como Deus
'aria contemplava com indefinvel gozo aquela
adorao que os poderosos reis da Rsia tributavam ao seu
formoso Oilho 'e extremosa, derramava doces e
agradveis lgrimas ante aqueles nobres estrangeiros que de
to remotos climas iam bei9ar os pezinhos de seu adorvel
Oilho
2os/ no se achava no estbulo quando teve lugar a
adorao dos reis 'agos *om quanto gozo haveria
contemplado aquela cena terna e assombrosa o casto e
cAndido carpinteiro de Nazar/D 'as o 4terno assim o havia
disposto 5ua prena naquele lugar talvez houvesse semeado
a d(vida no corao dos reis peregrinos
@aspar e os seus companheiros eram homens de ci&ncia
e sabiam o hebreu= e depois de adorarem o 'enino e
oferecerem o seu respeito e valia a sua santa 'e, sairam do
estbulo, caminhando de costas para a porta, e montando nos
seus dromedrios puseram!se em marcha
,ntes da sada dos 'agos, um rabe entrado em anos e
um 9ovem hebreu, confundidos entre os escravos dos
+IS
caldeus, tinham!se introduzido no santo estbulo Durante a
adorao no apartaram a vista da misteriosa estrela, que
suspensa da ab#bada da gruta, lanava seus fulgurantes raios
sobre a man9edoura em que dormia o 'enino!Deus ,penas
os reis sairam da caverna, o rabe encaminhou!se para o leito
de 2esus, e, dobrando um 9oelho e cruzando os braos sobre o
peito com venerao, bei9ou a palha que servia de leito,
murmurando estas palavras em voz baixa-
! 3u /s o 'essias prometido 3u /s o meu Deus, o teu
glorioso nome cravar!se! no meu corao eternamente e no
de meus filhos e nos dos filhos de meus filhos
4 depois saiu do estbulo do mesmo modo que tinham
sado os reis 'agos
" 9ovem hebreu fez o mesmo que o rabe= entrou,
a9oelhou!se e bei9ou a palha do pres/pio Depois saiu da
gruta murmurando estas palavras
! " 'essias nasceu= 2eov apiedou!se por fim dos
descendentes de 2ac#= creio nele e hei de ador!lo enquanto
viver
" rabe encaminhou!se para 2erusal/m abismado nas
suas reflex)es "s hebreus, com a fisionomia resplandecendo
felicidade, dirigiram!se para o 'onte *armelo " rabe era
$assaf, o caravaneiro do 4gito= o hebreu ,gabus, o
pretendente de 'aria, o misterioso personagem da fonte de
4lias
4ntretanto, os reis 'agos, fi/is 0 sua palavra, dirigiram
a cabea dos seus dromedrios para 2eric#, com o fim de
revelarem a $erodes tudo o que lhes havia acontecido Deus,
que l& no cerrado livro do corao humano, viu a f/ singela,
a honradez dos caldeus, e a miservel hipocrisia do tirano de
2ud e quis salvar do perigo que os ameaava os primeiros,
+IM
mandando!lhes um emissrio misterioso que os informou dos
sanguinrios planos do rei de 2erusal/m
4sta revelao foi feita em sonhos, segundo o
4vangelho, e no dia seguinte os dis"6+u*os de Horoastro
deram graas A&ue*e "u;as tenda est9 no so*! e em vez de
tomarem as praias infecundas do *ago Ma*dito, para
encontrarem o 2ordo, fizeram torcer o rumo aos seus
dromedrios para o @rande 'ar, e atravessando as
perfumadas plancies que bei9am com seus frescos lbios o
/emD-uier, dirigiram!se confiando em Deus 0s pitorescas
ribeiras da 5ria Para terminarmos o quadro do reis 'agos,
cu9a importante misso 9unto ao bero de *risto / de tanta
monta para o cristianismo, acabaremos este captulo dando a
conhecer aos nossos leitores algumas informa)es que sobre
o fim dos ilustres peregrinos pudemos adquirir
53om/ ap#stolo passou 0 Endia a pregar o 4vangelho,
e os reis caldeus, que com esta misso percorriam o mundo
havia alguns anos, receberam o batismo das mos do
discpulo de 2esus *risto 'ais tarde, cheios de f/, instruindo
nos santos mist/rios da nova lei os ind8mitos moradores dos
bosques da Endia, @aspar e 7altazar sofreram o martrio,
morrendo 0s mos duma horda de ferozes e descridos
id#latras 'elchior, o mais novo dos tr&s, o que nos
representaram as 4scrituras de "or negra ou es"ura!
livrando!se da morte encaminhou!se para a Endia "riental,
sua ptria, e foi refugiar!se na cidade de *angranor <ma vez
ali, com suas riquezas fundou a cidade *al&ncio, e, com o
corao cheio de f/ crist, erigiu um soberbo templo em
honra e gl#ria da %irgem 'aria e seu glorioso Oilho
Desde ento os cal&ncios consagraram!se ao culto e
piedade de 'aria, aumentando de dia para dia com a
influ&ncia de 'elchior o respeito e venerao para com a
+PT
rainha dos c/us *ulto que de gerao em gerao, e sempre
em aumento, se transmitiu at/ o s/culo atual para que em
tudo se cumprissem as profecias dos livros sagrados, que
dizemA &ue do Oriente ha)ia de nas"er a ?. )erdadeira do
Messias anun"iado +e*os +ro?etas<
CAPTULO IV
A ANCIRO E A PRO8ETIA
, lei de 'ois/s prescrevia 0 mulher hebr/ia a
purificao no templo quarenta dias depois do parto 'aria
para cumprir a lei, abandonou a cidade de Davi e dirigiu!se a
2erusal/m , %irgem, com o 'enino 2esus nos braos e
acompanhada de seu esposo, chegou aos degraus do templo
, Nazarena era pobre, e s# podia oferecer em sacrifcio uma
humilde rosa
, 5anta famlia esperava sob os altos p#rticos da
sinagoga a hora do resgate do seu Primog&nito, quando um
ancio venerando a quem o 4vangelho chama imeo o
homem ;usto, abrindo passagem por entre a gente, chegou
at/ onde estavam os 4sposos, e, depois de se a9oelhar a seus
p/s, tomou o 'enino nos braos, e elevando 0 altura do
rosto, exclamou com indefinvel gozo-
.,gora / que %#s, senhor, deixareis morrer em paz o
vosso servo= pois que os meus olhos viram o 5alvador que
%#s nos destes e a quem destinais para estar exposto 0s vistas
de todos os povos, como a luz das na)es e a gl#ria de
Gsrael1
"s 5antos 4sposos escutaram absortos as palavras
prof/ticas do velho 5imeo, que com os olhos arrasados de
+P+
lgrimas permaneceu esttico contemplando o cAndido
semblante do 'enino!Deus
! "hD 'e feliz prosseguiu a ancio depois duma
pausa= teu Oilho ser o sol resplandecente que espantar as
trevas de Gsrael "b9eto de gl#ria para uns, motivo de
perdio para outros, o seu santo nome ser o alimento do
fraco, o temor do forte= e 3u, que o trouxeste no teu seio,
vers traspassada a tua alma maternal pela acerada ponta de
cem espadas
'aria, cada vez mais admirada das palavras do ancio
olhava!o sem despregar os lbios, como se atrav/s das suas
misteriosas palavras visse o doloroso futuro que os c/us lhe
destinavam
$avia ento em 2erusal/m uma mulher entrada em anos
chamada ,na, a Profetisa 4sta virtuosa vi(va passava a vida
entre a penit&ncia, o 9e9um e a orao= vivia continuamente
no templo e era respeitada pelos 9udeus pelo seu saber, como
uma das suas sacerdotisas, como uma das suas profetisas
,na chegou ao templo na ocasio em que o 'enino
2esus se achava ainda nos braos do ancio , profetisa
det/m o passo diante de 5imeo 5eu rosto demuda!se, seu
corao comove!se e exclama absorta do que sente-
! Hue / isto, Deus invisvelD
4nto os seus olhos fitam!se em 2esus <m grito de
alegria sai da sua boca e, caindo prostrada aos p/s de 'aria,
diz, estendendo os braos-
! 3u /s a 'e do 'essias- deixa que bei9e os p/s do teu
5anto Oilho
"s 9erossolimitanos, que respeitam o saber de ,na,
foram!se agrupando em torno dela, ansiosos de ouvir as
palavras de 9(bilo que a vista daquele 'enino lhe arrancava
+P;
! "hD povo de GsraelD 4xclamou a inspirada mulher
derramando lgrimas de prazer e erguendo os olhos ao c/u
"h, povo de GsraelD %enturosos descendentes de ,brao e
2ac# 2 sobre a venturosa terra de 2ud desceu o Deus forte,
o Deus poderoso que h de levar o vosso glorioso estandarte
por todo o "riente "lhai!\ W este " vaso humano que
contemplam vossos felizes olhos, encerra o 5er imortal e
poderoso de 2eov 5emeai flores e palmas ante os passos de
sua 5anta 'e elevai cAnticos de hosana pela gl#ria do
Oilho Oortes, poderosos escribas, espalhai to faustosa nova
pelos dilatados confins da PalestinaD Oilhos de 2erusal/m,
adornai!vos como na festa dos ,bemos, cantai como na festa
dos 3abernculos, derramai #leos e ess&ncias como nas
bodas dos prncipes= porque ainda tudo isso e quanto faais
em honra da sua anelada vinda, ser pobre e mesquinho para
obsequiar o 'essias 5alvador da sua oprimida raaD
4 ,na, a inspirada profetisa, a virtuosa vi(va, saindo do
templo de 5ion, comeou a correr pelas ruas da cidade
sacerdotal anunciando a vinda do 'essias, o nascimento de
Deus
,s mulheres e os velhos que se achavam nos degraus
do templo, absortos ante as palavras de ,na, apressaram!se a
bei9ar o humilde e grosseiro manto da %irgem 'aria
.No s# Jdiz 5,mbr#sioN os an9os, os profetas e os
pastores apregoam o nascimento do 5alvador do mundo, mas
tamb/m, os 9ustos e os ancios de Gsrael fazem brilhar esta
verdade <m e outro sexo, novos e velhos autorizam esta
crena, confirmada com santos milagres <ma virgem
concebe, uma mulher est/ril pare, Gsabel profetisa, " 'ago
adora, uma vi(va confessa este maravilhoso sucesso e o 9usto
espera!o1
+P?
, hora de apresentar o 'enino na sala dos
primog&nitos soou e 2os/, deixando sua 5anta 4sposa no
trio do templo, entrou na casa de Deus com o seu Oilho nos
braos 'as aD ,li 2esus foi tratado como o (ltimo dos
hebreus " sacerdote que recebeu a oferenda das mos do
pai, nem sequer se dignou dedicar um olhar ao Deus!'enino
" 9udeu avarento e mau sacerdote olhava com desprezo
o pobre dom que o honrado carpinteiro ia oferecer ante o
altar dos holocaustos , sede de ouro endurecia o corao da
maior parte dos rabinos daquela /poca gloriosa e imortal
2esus era pobre e, por conseguinte foi olhado como *i5o do
mundo<
" egosta sacrificador recebeu das mos de 2os/ as
inocentes aves destinadas pelo Levticio, murmurando
palavras grosseiras e intempestivas, 0s quais o glorioso
patriarca cerrou os ouvidos, perguntando a si mesmo porque
pretendia aquele homem humilh!lo to duramente, quando a
poucos passos dali, 0 entrada do templo, seu glorioso Oilho
tinha sido a admirao dos que o rodearam
5egundo 2osefo nas suas Antiguidades 'udai"as, e
7esnage na sua 0ist,ria dos 'udeus, o luxo e a avareza dos
prncipes dos sacerdotes de 2erusal/m era incrvel "s
pontfices enviavam os seus sat/lites pelos campos para
arrebatarem os dzimos- isto reduziu os simples sacerdotes a
viver pobremente, sem outro alimento que figos e nozes, no
obstante, seus lbios no podiam produzir uma queixa,
porque ento os pobres e desatendidos levitas eram acusados
de insubordinao e entregues aos romanos " governador
Oeliz encerrou um dia quarenta num crcere, s# por
comprazer aos prncipes da 5inagoga
"utra baixeza, outra (lcera moral havia encarnado no
corao dos 2udeus, mas repugnante, mais desprezvel se
+PB
quiser que a avareza- a vingana, .,quele que no alimente o
seu #dio e no se vingue, / indigno do ttulo de rabino1
4sta mxima horrvel e cruel praticavam!na com
criminoso escr(pulo
, vinda de *risto ao mundo era uma necessidade,
porque a runa, o caos estavam pr#ximos 2esus foi o
5alvador do homem, o facho divino que veio derramar os
claros raios da sua luz sobre as espessas trevas que
envolviam a sociedade
" imortal 7almes o disse= n#s o repetimos com ele-
.5ombrio quadro, por certo, apresentava a sociedade
em cu9o centro nasceu o *ristianismo *heia de apar&ncia e
ferida no corao com enfermidade moral, oferecia a imagem
da mais asquerosa corrupo, velada com a brilhante
roupagem da ostentao e opul&ncia , moral sem base, os
costumes sem pudor, sem freio as paix)es, as leis sem
sano, a religio sem deus, flutuavam as id/ias 0 merc& das
preocupa)es do fanatismo religioso e das cavila)es
filos#ficas 4ra o homem um fundo mist/rio para si mesmo e
no sabia estimar a sua dignidade, pois que consentia que o
rebaixassem ao nvel dos brutos1
.4nquanto grande parte da esp/cie humana gemia na
mais ab9eta escravido, exaltavam!se com tanta facilidade os
her#is at/ os mais detestveis monstros sobre as aras dos
deuses
- !
." *ristianismo apareceu, e sem procurar alterao
alguma das formas polticas, sem atentar contra governo
algum, sem se ingerir em nada que fosse mundano e terreno,
trouxe aos homens dupla sa(de, chamando!os ao caminho
+PF
duma felicidade eterna, ao passo que ia derramando 0s mos
cheias o (nico preservativo contra a dissoluo social, o
germe duma regenerao lenta e pacfica, mas grande,
imensa, duradoura, 0 prova dos transtornos dos s/culos= e
esse preservativo contra a dissoluo social, esse germe de
inestimvel melhoras, era uma doutrina elevada e pura
derramada sobre todos os homens sem exceo de idade,
sexo, condio, como uma chuva ben/fica que se destaca em
suas torrentes sobre uma campina seca e esgotada1
- !
2os/ terminada a cerim8nia prescrita pela lei, saiu do
templo e, reunindo!se com a sua santa 4sposa, abandonou a
cidade sacerdotal, e, tomando o caminho de @alil/ia, dirigiu!
se a Nazar/
CAPTULO V
O /OEUE 0OPITALEIRO
Ooi curta a perman&ncia dos santos 4sposos na @alil/ia
5imeo tinha vaticinado 0 gloriosa 'e que um punhal lhes
transpassaria o peito= e estava escrito nos c/us que as
palavras do ancio deviam cumprir!se " m&s de fevereiro
achava!se pr#ximo 0 metade da sua carreira, quando uma
noite 2os/ se levantou assustado do seu leito , voz de 2eov
tinha interrompido seu tranquilo sono 4stas misteriosas
palavras tinham chegado aos seus ouvidos- .Levanta!te,
toma o 'enino e sua 'e, foge para o 4gito e permanece ali
at/ que eu te avise para a tua volta, porque $erodes busca o
menino para o matar1
+PI
,inda o eco misterioso da divina revelao soava nos
ouvidos de 2os/, quando precipitadamente chegou 0 porta do
quarto de dormir de sua 4sposa e lhe disse com voz agitada-
! 'aria, desperta e deixa o teu leito, pega em teus
braos o inocente 'enino e prepara!te para fazer uma
viagem longa e penosa
'aria, que se acha 9unto ao bero de seu Oilho, correu a
abrir a porta sobressaltada
! Partir de Nazar/C perguntou a %irgem 4 para ondeC
! Para o 4gito- Deus no!lo ordena= $erodes busca nosso
Oilho para o matar
'aria, correndo para o bero, abraou 2esus, como se
no seu seio se achasse mais seguro do punhal assassino, o
Oilho das suas entranhas " 'enino acordou enviando um
ang/lico sorriso que, como o raio de sol depois da tormenta,
tranquilizou o agitado esprito da %irgem 4 logo, voltando!
se para o Patriarca, que perman&ncia respeitosamente 9unto
da porta, disse-
! 4ntra, 2os/, e no temas- 2esus sorri, e o seu sorriso /
como o arco!ris da tarde que dissipa as carregadas nuvens
! Deus manda!nos executar o que te disse, tornou o
ancio
! Partamos, pois, e do c/u 2eov vele por n#s durante a
viagem, disse 'aria com santa resignao
"s esposos aprontaram o mais necessrio para a
viagem 'as, eram to pobresD , 5anta %irgem meteu num
saco de linho alguns panos e peas de roupa indispensveis,
enquanto que 2os/ tirando da gaveta duma mesa de pinho as
suas parcas economias, as guardou cuidadosamente numa
bolsa de couro
Depois aparelhou a linda 9umentinha branca que os
havia conduzido a 7el/m dois meses antes= colocando sobre
+PP
seu dorso uma cesta com viveres e um odre de gua e
abrindo sem bulha a porta da casa, deixou da ramada o
manhoso animal e foi chamar a esposa , Trindade da terra
saiu de Nazar/ com as lgrimas nos olhos e a dor no corao,
quando os astros da noite se achavam no meio da sua
misteriosa carreia " ,n9o havia!lhe anunciado um grande
perigo, mas no lhes tinha dito a maneira de o vencerem
De Nazar/ ao 4gito mediava uma distAncia de +IT
l/guas 4 depois, como atravessar o deserto com suas ondas
de areia, sem outra cavalgadura que uma modesta
9umentinhaC "s rabes que, como bando de abutres, se
lanavam sobre as caravanas que no podiam resistir!lhes,
no os ameaavam tamb/m com suas compridas lanas e
seus curvos punhais, a eles, pobres, indefesos e abandonados
via9antes, que no podiam apresentar contra o ferro inimigo
seno as suas lgrimas e s(plicasC
2 muito alto o dia,os via9antes, receosos de que a luz
do sol os entregasse aos seus inimigos, esconderam!se num
bosquezinho de palmeiras da tribo de Qabulon, cu9a solitria
e abundante sombra lhes oferecia abrigo durante as horas do
dia " murm(rio dos regatozinhos que nutre o *ison durante
as tempestades do equin#cio, e o suave gemido das brisas
que se agitavam entre as bonitas copas das saborosas
palmeiras, o terno e cadencioso canto dos passarinhos, o
mavioso arrulho da rola silvestre, acompanharam com seus
melodiosos ecos a perman&ncia dos fugitivos naquele vale
hospitaleiro " sorriso do inocente 'enino, o transparente
c/u, a aura embalsamada dos campos, comeavam a
tranquilizar o angustiado corao de 'aria, quando 2os/, que
se achava ocupado nos preparativos da frugal comida, deteve
os braos e ficou im#vel com o ouvido atento
! "uviste, 'ariaC Perguntou a %irgem
+PS
, 9ovem Nazarena escutou um momento 5uas rosadas
faces empalideceram e, instintivamente, apertou seu Oilho ao
corao " 'enino no sorria= as rolas no arrolhavam= os
passarinhos dos bosque suspenderam os doces trinados na
garganta e uma sombria nuvem escureceu o ardente disco do
sol
! "uo, murmurou 'aria, assim como o rudo de armas
e passos de cavalos, no extremo oposto deste vale
! 5im, para a montanha, pelo caminho romano que
conduz 0s ribeiras de 4fa= talvez se9am comerciantes de
Ptolemada ou 3iro que regressam aos seus portos
! 5e fossem herodianosD 4 'aria mal pronunciou
estas slabas, amedrontada 4la mesma de tal pensamento
! 3ranqViliza o esprito= este vale acha!se afastado do
caminho
Depois seguiu!se uma grande pausa "s cavalos iam!se
aproximando 'aria escondeu 2esus entre as flutuantes
pregas do seu manto hebreu e levantou os olhos ao c/u em
adem suplicante 2os/, ao seu lado, estava mudo, triste, e
com o doloroso olhar fixo no ponto do caminho por onde
deviam aparecer os via9eiros que to terrveis receios
derramavam no seu corao
De s(bito, uma voz varonil, ardente e vibrante, chegou
aos seus ouvidos 4sta voz humana era acompanhada por um
canto harmonioso e guerreiro, cu9as notas chegavam claras e
sonoras aos ouvidos dos fugitivos, quebrando!se nas altas
copas das palmeiras
! 5o romanos, murmurou 2os/= ainda que no
compreendo bem as palavras, creio que cantam a cano do
famoso gladiador
'aria no despregou os lbios= s# pensava em seu
Oilho, que apertava carinhosamente ao seio , voz ia!se
+PM
aproximando e pouco depois as brisas do campo levaram at/
aos ouvidos da 5anta Oamlia a cano romana
*essando a voz, as patas dos cavalos ouviam!se a
pequena distAncia "s fugitivos mal respiravam <m
momento depois, os capacetes romanos e as lanas trcias
dos cavaleiros brilhavam
'aria teve medo, e, levantando os doces olhos ao c/u
exclamou com doloroso acento-
! "h, doce palmeira que elevas tua linda copa at/ aos
c/usD 3u que te achas mais pr#xima de 2eov que esta pobre
'e, dize!lhe que no abandone meu inocente Oilho
4nto sucedeu uma coisa extraordinria, sobrenatural- a
rvore inclinou para a terra seus longos e fortes ramos,
cobrindo com sua verde ab#bada a 5anta Oamlia "s
soldados de $erodes passaram 9unto da palmeira protetora
sem verem os que se escondiam entre o espesso crcere de
suas folhas , uns trinta passos daquele lugar, entre o
c/spede h um manancial de gua cristalina e os soldados
pararam e alguns puseram em p/ em terra
! , ordem no nos probe que bebamos gua quando
tivermos sede e acharmos na passagem uma fonte, disse um
dos cavaleiros tirando o capacete e enchendo!o no
manancial
! Por 2(piterD Hue a infamante pena das varas no havia
de deter!me se tivesse sede e achasse um manancial to claro
como esse que serpeia aos p/s do meu cavalo
! Hue opinas tu da nossa mensagem, amigo *aioC disse
um dos soldados depois de beber gua, dando o capacete
cheio a outro que ainda permanecia sobre a sela
! "pino, "tvio amigo, que o tributrio $erodes uivar
como um co raivoso quando nos vir regressar a 2eric# sem
os reis 'agos
+ST
! , terra sem d(vida engoliu esses estrangeiros
! ,legro!me, volto a 4sculpio N#s soldados da invicta
6oma, no viemos 0 Palestina perseguir criancinhas e
encarcerar indefesos peregrinos
! $erodes paga e manda na 2ud/ia, replicou um
herodiano da comitiva
! 6oma protege!o, tornou o romano com imp/rio "
*/sar, meu amo, ser sempre o senhor do "riente
" herodiano mordeu os lbios de raiva e foi ocultar a
sua perturbao no claro manancial da fonte
" centurio deu pouco depois ordem de partir, e
tomaram a bom passo o desigual e quebrado caminho que
conduzia 0s praias de *esar/ia, onde os enviava ,rquelau,
filho de $erodes, para evitar que os reis 'agos embarcassem
naquela costa
, medida que se iam afastando as patadas do cavalos as
cadas folhas da palmeira tornavam a tomar sua posio
natural 4nto p8de ver!se a 5anta Oamlia reclinada sobre o
caloso tronco da rvore protetora, e dormindo com o sono
tranquilo e doce dos 9ustos
Deus, sem d(vida para evitar 0 aflita 'e uma hora de
horrvel e mortal ang(stia ouvindo a pouco passos a
conversao dos perseguidores de seu Oilho, fez com que
descesse sobre eles o fludo misterioso e reparador sono
CAPTULO VI
O /OM LA%RRO
,o acordarem 'aria e 2os/ do doce e vivificante sono
que tinham desfrutado 0 sombra da hospitaleira palma, a lua,
+S+
traspassando com seus prateados raios as apinhadas folhas
da rvore que lhes servia de tenda, banhava com sua luz clara
e tranquila a rosada fronte de 2esus <m sorriso de
indefinvel ternura vagueava no rosto do 5anto 'enino e um
amoroso olhar dirigido 0 'e infundiu na %irgem todo o
valor de que em to penosa viagem precisava o seu esprito
! W isto um sonhoC dizia a %irgem apertando o Oilho ao
corao %ive ainda a vida da minha vidaC Deus de bondadeD
5eus mpios perseguidores no derramaram o seu precioso
sangueC
! 'aria, falou!lhe o esposo os an9os do 5enhor nos
anunciam o perigo e o evitam com seu infinito poder 'as o
tempo / precioso e a noite deve ser amigo at/ que cheguemos
0s ribeiras da 5ria, pois s# alai comearemos a estar seguros
, %irgem, delicada aucena de frgil e quebradia
haste, revestiu!se desse valor que s# possuem as mes
quando dele depende a vida de seus filhos, e abandonando o
bosque hospitaleiro onde tantos receios tinham
experimentado, seguiu o esposo com a resignao duma
mrtir
4m to penosa viagem, quantas amarguras, quantos
dissabores os esperavamD , mol/stia de $erodes, o #dio dos
israelitas aos soldados mercenrios da opulenta 6oma,
tinham exacerbado os Animos e de dia para dia engrossavam
as quadrilhas de malfeitores que infestavam o pas Por toda
parte se cometiam roubos escandalosos, assassnios
horrveis 3ransportar!se duma tribo a outra era correr
iminente perigo "s homens agrupavam!se e armavam!se
para fazerem uma viagem insignificante 'ais at/ caravanas
de pacficos comerciantes, pareciam destacamentos de
soldados= e ainda assim no estavam livres do perigo que os
cercava por toda parte
+S;
'aria e 2os/ chegaram depois de mil inc8modos 0
rebelde e hostil 5amaria Durante as horas do dia
refugiavam!se nas profundas e ignoradas tabernas, e no
poucas vezes tiveram de deixar a passagem livre aos
imundos animais que nelas habitavam e que a 5anta Oamlia
desalo9ava para se acoitar , %irgem sofria tudo com
resignao dos an9os e com o valor dos mrtires= porque
aquela aflita 'e s# tinha um dese9o, s# a alentava uma
esperana- salvar seu filho do furor inimigo Por isso
atravessava 0 noite os espessos bosques e calcinados
barrancos da Palestina " estridente uivar dos lobos era mais
grato aos seus ouvidos que o estrondo das armas e o galope
dos cavalos Por toda a parte sua medrosa imaginao
9ulgava ver um soldado romano que, com feroz sorriso,
estendia os nervudos braos para lhe arrebatar o amado
2esus
4rrantes, fugitivos como criminosos perseguidos pela
lei, atravessaram a @alil/ia e a parte da 5amaria, fugindo das
cidades, evitando o contato da gente, caminhando de noite e
refugindo!se nas profundas cavernas dos montes durante as
horas do dia
Nunca me alguma sofreu to contnuos receios, to
terrveis temores por seu filho, como a 5anta %irgem por
2esus Parecia que o c/u lhes retirava a sua proteo, ou
punha 0 prova sua paci&ncia e sofrimento
*ada passo que dava a 5anta Oamlia para o termo da
sua viagem, achava um perigo, um obstculo e, contudo, de
todos esses contratempos a misteriosa mo da Provid&ncia os
tirava ilesos 'as quanto lhe restava ainda sofrer antes de
chegarem ao 4gitoD
,travessaram as tribos da Palestina e, 9 quase livres
do furor de $erodes se achavam nas praias da 5ria, mas ali
+S?
no os esperam os arenosos desertos do 4gitoC Por ventura
os santos via9antes podero atravessar aquelas imensas
plancies de areia que, qual mar embravecido, sepulta as suas
clidas ondas caravanas inteiras de viandantes logo que o
simun estende pelo deserto o seu poderoso soproC
,queles caminhos semeados de cadveres= aquelas
estradas marcadas pelos esqueletos dos camelos e dos
comerciantes= aquelas terrveis soledades infestadas de
bandidos cem vezes mais selvagens e cru/is que os de
5amaria= onde no se acha nem uma rvore, nem uma gota
de gua, nem um pssaro que cante ao romper da aurora=
onde no se ouve mais que o grasnar do corvo que se lana
sobre o agonizante passageiro, ou o bramido da pantera que
das suas ignoradas cavernas fare9ou o cadver do abrasado
caminhante
*omo podero os pobres Nazarenos atravessar to
dilatado caminho, sem outro auxlio que a sua modesta
cavalgadura, que se enterrar na movedia areia como o
cadver na sua cova para no tornar mais a sair delaC
'as voltemos a 5amaria, onde numa noite spera, fria e
chuvosa caminhavam os 5antos 4sposos e o Divino 2esus por
um profundo e solitrio barranco, quando 5 2os/, que ia
adiante levando a modesta 9umentinha pela arreata, parou
ante uma voz spera e imperativa que gritou da concavidade
duma penha-
! ,lto ou morresD
2os/ parou= 'aria estremeceu, e, temerosa de que
aquele homem tratasse de roubar!lhe o Oilho, procurou
escond&!lo debaixo do seu manto 4ra a primeira vez desde a
sua sada de Nazar/ que tinham visto interrompida sua
misteriosa viagem pela voz dos homens
+SB
,ntes que os modestos via9antes compreendessem o
que lhes acontecia, viram!se rodeados por multido de
homens que foram saindo dentre as matas e as quebradas do
barranco "s punhais achavam!se levantados sobre as suas
cabeas, quando 5 2os/, em tom doce e suplicante, disse-
! Hue mal vos fizeram esta pobre 'e e seu inocente
Oilho para levantardes os vossos punhais contra elesC
! 3ens razo, ancio, disse uma voz varonil= estes
bandidos no tocaro num fio da vossa roupa= 9uraram!no e
estou certo de que nenhum deles faltar ao 9uramento ainda
que os sat/lites do feroz $erodes lhes apontassem uma cruz
levantada no @#lgota
Dimas Jpois era ele o que pronunciara aquelas
tranquilizadoras palavrasN abriu passagem por entre os seus
companheiros, e aproximando!se de 5 2os/, que estava
absorto, sem despregar os lbios, disse!lhe-
! Nada temas, ancio= as cs da tua barba so uma
garantia para a tua pessoa= quanto a essa pobre 'ulher que
aperta o seu tenro infante, receosa de que o ofendam, podes
tranquiliz!la, que nenhum risco corre entre n#s, se algu/m
se atrevesse a ofend&!la, o nosso punhal daria conta dele
'as a noite est fria= toma, oferece!lhe o meu mate*O para
que se cubra
4 Dimas tirou sem afetao o manto de pelo de cabra
que trazia sobre os ombros e deu!o a 2os/
! "hD ,gradecido, agradecido, homem bom e caridoso=
2eov te premei na hora da morte como mereces
4 2os/ derramando lgrimas de reconhecimento cobriu
sua 4sposa e o 'enino com a capa do bandido
! ,gora, bom velho, segue!nos com a tua 4sposa= meu
castelo est perto e deves aceitar a hospedagem que te
+SF
ofereo at/ que cesse a tempestade que ainda ruge sobre as
nossas cabeas
,ceitando o oferecimento do bandido, algumas horas
depois achavam!se instalados na cozinha do castelo, onde
Dimas fez acender uma fogueira para que secassem a roupa
" hospitaleiro facnora tratou seus h#spedes com admirvel
solicitude 5erviu!lhes ceia abundante e pela sua pr#pria mo
fez!lhe dois leitos de peles e mantos para que descansassem
da fadiga da viagem
,o deix!los s#s, pediu licena para bei9ar o menino e
'aria apresentou!lhe 2esus, dizendo!lhe-
! 7ei9a!o, senhor, pois tu o protegeste
Dimas imprimiu um bei9o na fronte do 'essias, e
depois, saindo da habitao com seus companheiros, disse!
lhes-
! No sei o que senti no meu peito ao tocar com os
lbios aquele 'enino= mas parece que me acho como se todo
o meu sangue se houvesse purificado
Pouco depois todos dormiam no castelo= somente as
noturnas gralhas se agitavam nas bordas das muralhas e nas
fendas das rochas
Huando na manh seguinte, Dimas se encaminhou 0
habitao dos h#spedes, a 5anta Oamlia recebeu!o com um
sorriso de agradecimento " bandido mandou preparar uma
abundante refeio, e suplicou a 5anta Oamlia que sasse a
tomar o ar na plataforma do castelo
! " dia est belo, lhes disse= subi comigo para que
vosso Oilho aspire o ar puro da montanha
"s h#spedes seguiram Dimas, admirando!se da
benevol&ncia do bandido Dimas, fascinado ante o olhar de
2esus, no apartava os olhos daquele formoso 'enino
+SI
%endo que nada lhe diziam do motivo daquela viagem
que os obrigava a caminhar durante a noite como gente
perseguida pela lei, no quis pergunt!lo, respeitando o
segredo que no lhe revelavam *hegaram 0 muralha, e
subiram 0 plataforma do castelo Dimas tomou nos braos a
2esus e, aproximando!se das seteiras, mostrou!lhes umas
ovelhas que pastavam 9unto aos fossos do castelo, dizendo!
lhe com afvel e complacente voz-
! ,quelas ovelhas que tranquilamente pastam 0 sombra
dos muros so nossa= e aquele cordeirinho branco como leite
de sua me / teu= eu te dou para te lembrares da hospedagem
que te ofereceu o facnora dos montes de 5amaria
2esus sorriu como se houvesse compreendido aquelas
palavras e suas pequenas e delicadas mos comearam a
afagar a crespa e comprida cabeleira do bandido , terna
%irgem derramava em sil&ncio lgrimas de gratido ao
contemplar aquele homem, envolto nas pesadas redes do
crime, que com tanta benevol&ncia tratava seu Oilho 2os/,
chegando!se a Dimas, disse!lhe com acento suplicante
! 5e /s bom, se no teu corao ainda no se extinguiu o
amor aos desgraados, porque no abandonas esta vida de
sobressaltos e crimes, que pode conduzir!te 0 perdioC
! 7om, ancio, lhe respondeu Dimas, enviando!lhe um
sorriso ben/volo- o caminho do crime / uma ladeira mui
resvaladia e quando o homem d o primeiro passo, / lhe
impossvel deter!se 4u era bom= os homens fizeram!me mau
e rancoroso agora / tarde
, 5anta Oamlia permaneceu no castelo hospitaleiro at/
o p8r do sol Durante sua perman&ncia foram obsequiados
pelo caritativo capito duma maneira delicada Huando 2os/
foi buscar sua modesta cavalgadura, um bandido, por ordem
de Dimas, levou!a pelo freio 0 porta da fortaleza 4nquanto
+SP
2os/ a9udou a subir a %irgem, Dimas pegou o 'enino nos
braos 2esus, como se quisesse despedir!se do homem que
com tanta bondade o tinha recebido em sua casa, lanou os
bracinhos ao redor do pescoo do facnora 4nto Dimas
ouviu uma doce voz e melodiosa, como o som duma harpa
a/rea, ferida pelo z/firo noturno, que lhe dizia ao ouvido-
! 3ua morte ser gloriosa e morrers comigo
Dimas ficou absorto, demudado, como se do fundo dum
sepulcro se houvesse levantado a voz de seu po De quem
era aquele acento misteriosoC Huem tinha pronunciado
aquelas palavrasC " 'enino que tinha nos braos contava
apenas quatro meses
Dimas sentiu que as foras o abandonavam e, receoso
de que aquele 'enino lhe casse dos braos foi deposit!lo
nos de sua 'e, que 9 se achava montada na 9umentinha
'aria recebeu dos braos do bandido com um sorriso de
bondade o precioso 3esouro do seu corao, e depois,
despendindo!se de quantos a rodeavam, deixou o castelo
hospitaleiro Dimas, im#vel, com os lbios fitos nos 5antos
%ia9antes, crendo ainda ouvir as misteriosas palavras,
permaneceu nos muros do velho castelo at/ que os (ltimos
raios do sol se escondessem atrs do alto cume do Lbano
3rinta e dois anos depois, *risto, sobre o *alvrio,
recompensava com estas palavras a caridade hospitaleira do
7om Ladro-
.$o9e, estars comigo no Paraso1
, tradio sobre que baseamos a lenda que precede, diz
assim-
., 5anta Oamlia tinha passado adiante de ,natot, e
caminhava de noite a fim de se subtrair a uma perigosa
vizinhana quando viu desembocar dum escuro, barranco uns
homens armados que lhe impediram a passagem " que
+SS
parecia ser o chefe desta quadrilha de bandidos, adiantou!se
do grupo hostil para reconhecer os via9antes " salteador, que
buscava sangue ou ouro, volveu um olhar de assombro para o
velho sem armas, mui semelhante a um patriarca dos antigos
templos, e para aquela 'ulher coberta com um v/u que
ocultava o Oilhinho entre as pregas do manto 4les so
pobres, disse o bandido para si depois de demorar os olhos
alguns segundos sobre o santo grupo que tinha diante de si= e
via9am de noite como fugitivos
3alvez aquele bandido tivesse um filho no bero, talvez
a atmosfera de doura e miseric#rdia que cercava 2os/ 'aria
influsse sobre aquela alma feroz= porque o terrvel salteador
baixou a ponta da arma, e estendendo a mo amiga a 2os/
ofereceu!lhe hospedagem para a noite na sua fortaleza,
suspensa no Angulo duma rocha, ninho duma ave de rapina
4ste oferecimento, foi aceito com confiana, e o teto do
bandido foi para a 5anta Oamlia, nessa ocasio, hospitaleiro
como a tenda do rabe No dia seguinte, pelo meio dia, a
5anta Oamlia, deixou a morada dos bandoleiros
4sta tradio que segundo cremos, foi primeiro
admitida por 5to ,nselmo, em nada afeta o dogma
apost#lico= por isso lhe demos cabimento neste livro "
reverendo padre Ludolfo de 5ax8nia e o abade "rsini
admitiram!na tamb/m nos seus escritos
CAPTULO VII
A CARAVANA
@aza, cidade martima do "riente, p/rola preciosa dos
filisteus a cu9os p/s se arrastam preguiosas as azuladas
ondas do 'editerrAneo, e em cu9os altos minaretes geme o
+SM
clido sopro do deserto- as caravanas respiram com avidez o
perfume dos teus campos e a fresca brisa das tuas tardes,
antes de se internarem nas imensas solid)es de areia de 4tam
e Oaraam Porque @aza / o (ltimo 9ardim da Palestina e o
primeiro osis do deserto ,s pombas lhe enviam os
lastimosos e doces arrulhos das fendas de suas desmoronadas
torres, onde vivem eternamente "s rouxin#is cantam nas
florestas, as gazelas brancas correm nos montes, e as cabras
de compridas ls pastam nos prados
Huando o rabe, com as pernas cruzadas sobre o
arqueado dorso de seu dromedrio, lana um olhar
investigador pelo horizonte avermelhado e sem fundo=
quando v& a seus p/s estender!se seco, infecundo, maldito,
aquele vasto areal que o espanta= quando a sede cresce e a
esperana de achar um manancial se extingue, ento reanima
com um grito selvagem a sua cavalgadura, fecha os olhos e
sonha com os regatos, com a floresta amena, com os 9ardins
da P/rsia
,trav/s daquelas ondas de fogo e areia que lhe secam
as faces e lhe queimam as pupilas, costuma ver @aza com
suas campanas, com suas palmeiras, com seus frescos
mananciais e seus pacficos habitantes, to hospitaleiros, to
inofensivos, to amigos do forasteiro 4 o rabe ento canta,
arrulha aquele sonho delicioso para infundir alento 0 sua
paciente cavalgadura @aza, ento / para o rabe tanto como
a sua ptria e ama os muros dela com a sua tenda e o seu
cavalo
'as, pelo contrrio, quando a deixa para dirigir!se ao
4ito= quando ao chegar 0s plancies da 5ria volta a cabea
para lhe dizer ao deus de despedida e no v& as suas
palmeiras e os seus minaretes e o clcio ambiente do deserto
bate na sua tostada fronte anunciando!lhe os perigos e
+MT
inc8modos que o esperam, ento um doloroso suspiro lhe sai
dos lbios e talvez uma ldrima se lhe deslize pela bronzeada
face
Porque a cidade de @aza / desde tempo imemorial o
ponto de reunio das caravanas que vo e v&m do 4gito
Pode dizer!se que / a colm/ia dos caravaneiros= todos se
re(nem e levantam as tendas nas suas ribeiras " seu porto /
o bazar de compra e venda= dali se espalham como as abelhas
em busca de flores que libam para nutrirem com suas
ess&ncias o rico favo do seu neg#cio @aza est situada na
encosta dum outeiro, cu9as fraldas se v&m eternamente
acariciada pelas ondas do mar "lhadas de longe, as suas
alvas casas parecem uma manada de ovelhas que se
encaminham a tomar banho *iro, rei da P/rsia, a cercou e
tomou depois de dois meses de ass/dio JFMM antes de 2esus
*ristoN, e desde ento as suas torres derrudas servem de
assento a seus pacficos habitantes quando, nos ardentes
meses de cancula, vo respirar a brisa da tarde 0 sombra das
suas belas palmeiras
, esta cidade, pois, foi que chegou uma manh ao
despontar do dia a 5anta Oamlia "s trabalhos que os
via9antes galileus sofreram durante a 9ornada, foram
incalculveis 5eu ref(gio durante a noite eram os desertos e
imundos silos, as escuras cavernas, os (midos barrancos, os
incultos bosques
, tradio indica uma gruta nas cercanias de 7el/m,
onde a %irgem passou s# um dia inteiro, enquanto seu esposo
entrou, arriscando a vida em 2erusal/m Ggnora!se o que
buscava o patriarca na cidade de $erodes, seu perseguidor=
talvez alguma caravana que no encontrou= talvez vender
alguma 9#ia de sua 4sposa para a9uda das despesas de to
penosa viagem
+M+
2os/ parou 9unto dum sic8moro e, a9udando sua 4sposa
a descer da modesta 9umentinha, a fez sentar ao p/ da rvore
4nto descarregou a 9umentinha de todos os modestos
ob9etos, (nico patrim8nio da Oamlia nazarena, e os foi
colocando ao redor da rvore
Dimas tinha cumprido a palavra, porque um branco
cordeirinho comeava a saltar 9unto de 'aria, a qual, com
doce e maternal solicitude, mostrava a seu Oilho o presente
do bandido
! 'aria, lhe disse 2os/, depois de terminar o trabalho-
Deus quis conduzir!nos sos e salvos 0 porta do deserto=
Deus nos tirar a salvo das terrveis solid)es que vamos
atravessar em breve
2os/, levando o modesto herbvoro pelo freio,
encaminhou!se para a cidade de @aza, que levantava os seus
esboroados muros e uns trezentos passos do lugar em que se
achavam
'aria ficou s# com seu adorado Oilho, sentada 9unto a
um sic8moro De seus olhos azuis cheios de bondade
desprendeu!se uma lgrima, a muda e silenciosa despedida
que a %irgem enviava 0 pacfica cavalgadura que to bons
servios lhe havia prestado durante a viagem e da qual ia
separar!se para sempre, pois seu esposo encaminhava!se a
@aza com teno de vend&!la
, %irgem ficou s# e, depois de enxugar a lgrima que
lhe umedecia as faces, estendeu uma pele sobre o c/spede e
nesta modesta cama deitou o 'enino Depois comeou a
dispor sobre as esteiras de palma algumas frugais provis)es
para que, ao voltar seu esposo, pudesse servir!se do almoo
Distrada com esta ocupao, 'aria no reparou que, a
pouca distAncia da rvore, em cu9as vizinhanas
descansavam havia dez ou doze dromedrios 3amb/m no
+M;
observou que uns homens iam e vinham a fonte pr#xima, e,
enchendo grandes odres daquela gua, os colocavam
cuidadosamente sobre os arqueados dorso das ligeiras
cavalgaduras 4ntre esses homens achava!se um rabe
entrado em anos, que parecia ser o chefe, pois dava ordens
em voz baixa sem se ocupar do mprobo trabalho que fazia
gote9ar o suor na fronte dos companheiros
" ancio passeava com os braos cruzados desde as
tendas at/ umas runas pr#ximas, 9unto das quais brotava o
manancial Num destes passeios, seus olhos fitaram!se no
sic8moro que servia de tenda 0 %irgem " rabe viu 'aria e
estremeceu visivelmente, como se n:4la houvesse
reconhecido alguma pessoa amiga Depois permaneceu um
momento indeciso, mas sem apartar os olhos de 'aria, a
qual to abstrata se achava com seu Oilho, que no reparava
que era ob9eto de exame atento da parte do rabe
Por fim o silencioso observador da %irgem fez um
movimento com a cabea, como o homem que aceita uma
resoluo que o teve indeciso por alguns momentos e
encaminhou!se para a rvore onde se achavam 'aria e 2esus
! 'ulher, a paz se9a contigo, disse
! Rrabe, ela te se9a propcia, respondeu a %irgem
! Perdoa, se com a minha pergunta te pareo indiscreto,
tornou o rabe= mas a 9ulgar pelo teu tra9e pareces!me
galil/ia
! Nazar/ / a minha ptria
! Nasceu teu Oilho tamb/m na flor da @alil/iaC
! 7el/m de 2ud foi o seu bero
! 4nto tu /s 'aria, a venturosa 'e a quem os an9os
de ,brao sa(dam e os reis do "riente rendem vassalagem
! 'eu Oilho foi o que mereceu tanta honra
+M?
! Perdoa se torno a fazer!te uma pergunta- que esperas
neste lugar, to afastado da tua ptriaC Para onde te dirigesC
! 4spero meu esposo %ou ao 4gito
! ,o 4gitoD 4xclamou o rabe com espanto, no ve9o os
camelos nem o guia que deve conduzir!te
! Deus / grande o misericordioso Huem pode ler os
seus desgniosC 5# sei que vou ao 4gito
,s misteriosas palavras de 'aria, a doce e modesta
dignidade do seu acento, comoveram o velho rabe, o qual
respondeu deste modo-
! %enturosa mulher a quem os reis rendem vassalagem,
e que moras num estbulo e te disp)es a entrar nos imensos
areais de 4tam e Oaraam a p/ e sem guia, eu te venero, ainda
que no te compreenda Diz a teu esposo, que $assaf o rabe
parte ho9e para $eli#polis, a cidade do sol, donde se
encaminhar para ,lexandria, e lhe oferece a amizade e os
seus camelos 5e aceitar, ali na minha tenda o espero
$assaf que era o mesmo rabe da fonte de 4lias e de
7el/m, saudou a %irgem e foi reunir!se com seus
companheiros <ma hora depois regressou 2os/ da cidade de
@aza " ancio estava triste 'aria recebeu!o com o sorriso
de bondade eterna
! Hue tens, meu esposo perguntou com doura
! W preciso que faamos a viagem, s#s, sem um guia
que nos indique os desconhecidos caminhos do deserto, sem
um camelo que encurte as imensas distAncias que havemos
de atravessar
! Deus no esquece os bons, respondeu a %irgem com
essa entoao das mulheres virtuosas que tem de transmitir
boa notcia= enquanto procuravas uma caravana que nos
admitisse mediante um punhado de dinheiro, que talvez se9a
o resto da nossa fortuna 2eov enviou!nos um negociante
+MB
caritativo que se oferece a conduzir!nos 0 cidade do sol
"lha, continuou a %irgem, v&s aquele ancio que passeia
com os braos cruzados sobre o peito, diante daquelas
tendasC Pois / o chefe da caravana que est acampada 9unto
0s runas= parte ho9e para heli#polis e ofereceu!se para
conduzir!nos
2os/, com o corao cheio de alegria, foi encontrar!se
com o rabe e este ofereceu!lhe um camelo para sua 4sposa e
seu Oilho sem retribuio alguma
! 2udeu, lhe disse $assaf, no te ofereo se no um
camelo, porque no tenho mais= todos os que v&s acampados
em redor de te so meus, / verdade= mas tenho!os alugados
aos negociantes de @aza que conduzem as suas mercadorias
a $eli#polis, *airo e ,lexandria= muito o sinto, mas tu ters
de caminhar a p/ com os meus criados
! Hue importa, respondeu 2os/ com alegria, se minha
4sposa e seu Oilho caminharem sem cansaoC
" patriarca esquecia!se dos inc8modos que o
esperavam no deserto 'aria e 2esus tinham uma
cavalgadura, e era toda a sua ambio " @alileu colocou
sobre o animal que lhe emprestava o rabe a sua modesta
bagagem, entre a qual se achavam as ferramentas de
carpinteiro, pois no 4gito no se contava com outros recursos
para prover 0s necessidades seno com o que tinha em
Nazar/, isto /, o trabalho
Pouco depois, tudo estava pronto= os comerciante de
@aza reuniram!se com os egpcios e $assaf o rabe mandou
levantar as tendas e empreender a partida
CAPTULO VIII
O %EERTO
+MF
, tradio pouco ou nada diz do longo e perigoso
itinerrio que seguiram os santos via9antes desde Nazar/,
sua ptria nativa, at/ 'atari/, a pitoresca aldeia do 4gito que
escolheram como ptria adotiva durante os seus sete anos de
dest&rro
5e consultarem os eruditos clculos dos cronologistas
da %irgem, achar!se!o diversas opini)es sobre o modo ou
maneira de fazer, a perigosa viagem do Deserto Desde a
costa da 5ria at/ $eli#polis emprega um camelo dez ou
doze dias, e, ainda que nada se9a impossvel para Deus, um
via9ante no poder atravessar as imensas solid)es de areia
do Deserto, a p/, sem empregar um m&s na viagem
5eguindo, pois, a opinio dos sbios escritores que
9ulgam mais verossmil que a 5anta Oamlia se reunisse nas
costas da 5ria com uma caravana para empreender a
perigosa passagem do deserto e atendendo a que esta viagem
devia levar!se cabo pelo m&s de maro e que o equin#cio da
primavera estava pr#ximo, tempo em que o sim um percorre
com seu mortfero sopro as solid)es do deserto, n#s
adotamos este meio por crermos ser o mais verossmil
, caravana abandonou os arrabaldes de @aza, e
algumas horas depois os calorosos cascos dos dromedrios
pisavam os infecundos campos da 5ria ,penas as primeiras
baforadas do clido ambiente do deserto batem no tostado
rosto dos caravaneiros, o rabe suspende a conversao, seu
olhar escurece!se, sua fronte povoa!se de rugas e o seu
adem torna!se grave e meditabundo
4nto, cruzando as pernas sobre o tosco pescoo da
cavalgadura e os braos sobre o peito, fecha os olhos para
no ver aquelas imensas plancies de areia que se estendem
ante seus olhos e cu9a secura faz sede s# de olhar!se, e
+MI
disp)e!se a sonhar desperto com algum f/rtil e pitoresco
osis, com os transparentes e claros arro9os dos 9ardins de
'eca, ou com o doce amor de sua ansiosa famlia que o
espera para recompensar os trabalhos de to longa viagem
com seus carinhosos cuidados
Porque o rabe, como todos os filhos do "riente, /
propenso a sonhar 3eme o deserto como ama os seus
costumes , hist#ria recorda!lhe que as areias de 4tam,
Oaraam e 5aar so famintas sepulturas que recebem
diariamente os desgraados corpos de seus irmos, a quem o
simum envolve com suas impetuosas ondas de ardente p#
, sede que abrasa as entranhas, o simum que sepulta sob
montes de areia que arrasta com seu poderoso mpeto, a
certeira e mortfera flecha dos -r,"o*is, as esfaimadas feras
que espreitam ocultas entre as calcinadas rochas, o sol
abrasador que derrete com o fogo dos seus raios, a peste to
comum no deserto, so os p#
" rabe conhece os perigos a que se exp)e, e aceita!os
com valor peculiar do filho da natureza 5eu corpo / to forte
como fantstica a sua imaginao 5#brios at/ a
inverossimilhana quando as suas modestas provis)es se
exaurem, basta!lhes um punhado de favas secas para
passarem o dia
" dromedrio, esse d#cil e ligeiro transportador do
rabe no deserto, no / menos forte nem menos provado que
se dono *om esse instinto do animal, sabe que nasceu para
sobrelevar um trabalho penoso e mprobo Desconhece a
preguia e numa um gemido de dor sa de seu abrasado peito
Huando suas fortes pernas vacilam sob o p&so da imensa
carga que o oprime, quando sua chata cabea cai desfalecida
para o cho e seus melanc#licos olhos comeam a fechar!se
cavados pela fadiga, ento uma ligeira tremura lhe agita o
+MP
corpo= isto indica a seu dono que a vida da fiel cavalgadura
vai extinguir!se 4nto o rabe exala um suspiro e espera
impassvel alguns segundos " camelo dobra as pernas e o
dono desce e transporta em sil&ncio toda a carga da
cavalgadura para as outras que o seguem Oita a penetrante
vista nos cerrados olhos do seu dromedrio, tira o comprido
punhal que lhe pende 0 cinta, enterra!o no pescoo do nobre
animal, e depois, apartando os olhos daquele sangue, corre a
reunir!se com os seus companheiros e salta ligeiro como o
gamo sobre o dorso de outro camelo Nem volve a cabea
para olh!lo, nem leva a menor d(vida sobre se o nobre
condutor est morto 5abe que seu punhal lhe evitou com a
morte o padecer, porque os chacais e as feras do deserto o
devorariam em vida e o rabe evita ao seu fiel companheiro,
9 que no pode ser de outra maneira, que sinta as raivosas
mordeduras dos implacveis inimigos
<ma hora depois os chacais e as hienas, esses covardes
perseguidores das caravanas que nunca atacam os vivos at/
que o repugnante cheiro dum cadver fira o seu refinado
olfato, lanam!se ao pobre e abandonado quadr(pede e
devoram!no sem piedade " novo dia alumia um esqueleto, e
aqueles ossos espalhados pela areia que os raios do sol
branqueiam, vo!se pouco a pouco convertendo em branca
cinza que marca aos passageiros uma linha cinzenta sobre a
vermelha areia do deserto, indicando o caminho que deve
conduzi!los ao porto dese9ado "s ossos insepultos so as
estradas do deserto, e tamb/m se acham ossos mais pequenos
de diversa forma que pertenceram em outro tempo a seres
humanos
- !
+MS
*hegou a noite e cassaram os ardores do sol abrasador
, lua estendeu seu claro de prata por aquelas impotentes
solid)es e os rabes fizeram alto Levantaram a tenda os
negociantes, depois os condutores descarregaram os camelos
e, prendendo!os em crculo a umas estacas cavadas
profundamente na areia, comearam em sil&ncio a sua
modesta ceia de tAmaras e tortas de trigo assadas nas brasas
, 5anta Oamlia estendeu 9unto duns secos matagais um
pedao de esteira de palma, que era o seu (nico leito 5ua
tenda era o dilatado firmamento recamado de estrelas que
brilhavam sobre as suas cabeas Pobres, desvalidos,
abandonados at/ do (ltimo dos criados da caravana,
achavam!se talvez eivando sua orao da noite ao Deus de
5ion, quando o velho rabe, que se tinha mostrado seu
protetor desde @aza, se aproximou deles com uma caarola
de ferro na mo
! @alil/ia, disse 'aria, o rabe no deserto / s#brio por
necessidade, mas ama as crianas respeita as mes e /
hospitaleiro 3oma, ho9e reparto contigo a minha rao de
leite de camela 3alvez amanh no possa dar!te nem uma
gota d:gua 4 sem esperar resposta o rabe foi reunir!se com
os companheiros
'aria aceitou a fineza do velho egpcio, agradecendo
do fundo da alma tanta generosidade
, %irgem galil/ia no pode cerrar os olhos durante a
noite , pr#xima vizinhana das esfaimadas feras do deserto
oprimia!] 5eus uivos, os interminveis lamentos chegavam
a 4la amedrontando!a pela sorte de seu adorado filho
"s rabes acostumados 0 estridente e mon#tona
harmonia que produzem as fauces das hienas ao bater uma na
outra, dormiam embrulhados em suas capas ao lado dos
camelos, sem receio <m s# homem velava passeando ao
+MM
redor duma grande fogueira, que alimentava de vez em
quando com as secas glestas que, pobres e venenosas,
crescem de espao a espao, para afugentas com as chamas
asa feras da vizinhana
, claridade da fogueira estendia!se por aquela solido,
banhando com sua vermelha luz como uma aurora boreal um
crculo bastante extenso, e a %irgem mais de uma vez 9ulgou
ver os vidrendos olhos dos chacais brilharem na escura
sombra que marcava a (ltima distAncia onde o claro da
fogueira se extinguia
De vez em quando a 'e fugitiva estremecia e apertava
sobressaltada ao peito o Oilho das suas entranhas 4ra que a
areia se movia debaixo do seu corpo, abrindo!se por fim para
dar passagem a um repugnante lagarto ou a uma asquerosa
cobra, r/pteis imundos que tanto abundam no deserto= o olho
perspicaz do rabe tem o instinto de conhecer s# pelo rasto
que deixam, no s# a que famlia pertencem, sendo tamb/m a
idade, o volume, e fora e, o que / ainda mais extraordinrio,
se aqueles vestgios so da v/spera ou de poucas horas
antes
Huantas amarguras, quantos sobressaltos, quantos
inc8modos devia sofrer durante a perigosa e longa viagem a
delicada e terna nazarenaD
Huando, depois de um dia abrasador por aquelas
horrveis solid)es de areia, sobre as quais desaba um c/u de
fogo, aquele palpvel vento do deserto lhe aoitava o
delicado rosto com suas pesadas nuvens de areia a ponto de
lhe fazer rebentar sangue= quando queimados os seus
formosos olhos pelos raios do sol, abrasada a sua boca,
estonteada a sua mente pela sede e pelo calor insofrvel,
9ulgava ver l ao longe um lago claro e transparente como o
da @alil/ia, rodeado de palmeiras e sic8moros, um delicioso
;TT
osis que a brindava com a sombra das suas rvores e as
frescas guas dos seus poderosos inimigos com que lutam as
caravanas que o atravessam, mananciais e, sem apartar a
afanosa vista daquele panorama enganador, seguia as
voluptuosa ondula)es da folhagem, crendo ouvir entre o
c/spede e doce murm(rio do arroiozinho que se deslizava a
seus p/s, e a noite que chegava, a caravana detinha!se, as
tendas levantavam!se, e 0 plida luz da luz sentia a brisa da
noite que a despertava daquele fagueiro sonho 4nto 'aria
soltava um doloroso suspiro e inclinava a cabea sobre o
peito virginal de seu Oilho, como d/bil aucena que se dobra
0 aproximao da chuva, receosa de no poder resistir com
seu delicado cabes aos mananciais que vo despenhar!se das
nuvens que se agitam sobre ela
2os/ ento alentava sua delicada companheira e ambos,
com os olhos fitos no 'enino 2esus, elevavam as suas preces
a 2eov Pobres e humildes via9antes a quem a caridade dum
rabe emprestara um camelo, careciam de tudo no deserto= s#
a f/ os animava para suportarem a viagem
Por isso quando o grito selvagem do egpcio condutor
da caravana exclama, com o prazer inexplicvel do nufrago
que v& aproximar!se frgil tbua que o sustenta, sobre as
espumantes ondas do navio salvador, MoLa*te-# MoLa*te-#
grito que todos repetem com prazer indefinvel, grito ante o
qual os sedentos dromedrios partem a galope rasgado,
abrindo as abrasadas ventas estirando o encurvado pescoo,
ansiosos de p8r os adustos lbios no claro manancial que seu
delicado olfato pressente- ento, homens e animais, amos e
criados arro9avam!se com a desordem irremedivel da
avidez, com a raiva natural do sequioso ante a gua, sobre
aquele charco salvador
;T+
, 5anta Oamlia era a (ltima a aplacar a sede Por fim,
depois de in(meras fadigas, os santos via9antes divisaram ao
longe as plancies de @iz/, de cu9o centro se erguem esses
gigantes de pedra cu9as frontes no puderam desmoronar os
quarenta s/culos que a destruidora mo do tempo tem feito
rolar sobre eles, esses monumentos que o orgulho e a soberba
dos poderosos do 4gito edificaram com o suor e a vida dos
seus vassalos- as pirAmides
, vista dessas moles gigantescas, desses colossos,
dessas hist#rias de granito que apregoam a grandeza de seus
antigos fundadores, as caravanas soltam um grito de alegria,
porque brevemente os calosos p/s dos seus dromedrios
deslizaro sobre os formosos e f/rteis prados esmaltados de
flores, e o perfume embalsamado dos campos lhes far
esquecer o clido e pesado sopro do simum<
4nto o rabe entoa seu mon#tono canto, seu rosto
repele as sombrias cores, seus olhos pretos e penetrantes
buscam o fecundo Nilo, o rio santo que converte com suas
inunda)es o 4gito num belo 9ardim, porque Deus e as
negras areias do Nilo derramam sobre aquela terra
privilegiada todos os dons, todas as riquezas duma vegetao
robusta e poderosa
, 5anta %irgem comeou a sossegar depois de doze
dias de incessantes ang(stias, porque ao longe comeou a
distinguir o c/u do 4gito, c/u sem nuvens, horizonte triste
por onde irradia um sol de fogo como a boca dum forno ,
ptria dos Oara#s, onde os cadveres disputam a mat/ria ao
nada, onde a eternidade se faz palpvel ,s plancies de
@iz/, onde o soberbo *heop levantou o colossal monumento,
palcio da morte dedicado ao seu real cadver, gigante de
granito em que cem mil homens trabalharam por espao de
;T;
vinte anos " 4gito, onde as ad(lteras trazem o seu crime
escrito no rosto, onde o per9uro era castigado com a morte
" 4gito, onde o povo adora seu rei em vida como deus,
e o 9ulga depois de morto como ao (ltimo dos plebeus,
recusando!lhe muitas vezes, conforme suas crenas, at/ as
honras da sepultura= onde nos banquetes se passeava um
cadver de madeira metido num rico ata(de, e mostrando!o
aos alegres convidados lhes dia o dono da casa-
."lhai para este homem, com quem vos parecereis
depois de morto 7ebei, pois, agora e diverti!vos1 " 4gito,
mescla de ilustrao e barbaria onde se acreditava na
imortalidade da alma, e se adorava ao mesmo tempo
multido de deuses com cabea de gato, ventre de crocodilo
e garras de milhafre " 4gito, onde a arte havia chegado ao
mais sublime e a degradao ao mais ab9eto= onde o homem
fiava e se entretinha nas ocupa)es dom/sticas, e a mulher
nos neg#cios de fora= onde .tudo era deus, exceto Deus1, e
onde .o grande estava confundido com o pigmeu1
" perigo tinha terminado 4is $eli#polis, a cidade do
sol, com seus esbeltos obeliscos, seus galhardos minaretes e
as brunidas c(pulas de ao dos seus tempos pagos, de onde
os raios do sol arrancam mares de luz que, em cambiantes
caprichosas, se estendiam sobre a cidade como uma imensa
cabeleira de prata e fogo $eli#polis a cidade favorita de
*le#patra, com suas agulhas sutis de pedra e bronze que se
escondiam entre as risonhas nuvens do seu c/u, com a sua
formosa e caprichosa fundadora ocultava a p(rpura de 3iro
do seu rio, as douradas tranas dos seus cabelos $eli#polis,
onde a f&nix ressuscita coria a depositar os restos de seu pai
sobre o altar do sol $eli#polis, em cu9o centro se ergue o
famoso templo de "n, onde Putifar exercia o sacerd#cio do
sol $eli#polis, p/rola do 4gito, cidade natal de 'ois/s, onde
;T?
o profeta "nias levantara um templo a 2eov, procurando que
a arquitetura egpcia se assemelhasse o possvel 0 *asa 5anta
de 2erusal/m= somente, em sinal de inferioridade, o famoso
candelabro de sete braos, do templo de 5ion, era no 4gito
representado por uma lAmpada de ouro
'aria, a po/tica flor da @alil/ia, estendeu os doces
olhos por aqueles bosques e campos coalhados de violetas
silvestres <ma lgrima do desterrado que recorda, 0 vista
duma cidade populosa a sua humilde aldeia a sua pobre
casinha, os seus amigos da infAncia
, caravana, antes de penetrar na cidade de *le#patra,
deteve!se
,o passar a 5anta Oamlia por baixo dos arcos de
granito da porta principal de $eli#polis, todos os dolos dum
templo pr#ximo caram de rosto por terra, saudando, aos
descerem de seus profanos pedestais, o verdadeiro Deus que
chegava fugitivo a pedir hospitalidade aos id#latras egpcios
"s divinos via9antes s# se detiveram na cidade para
agradecerem ao seu protetor e descarregarem do camelo os
seus modestos haveres
2os/ carregou sobre os ombros as ferramentas do seu
ofcio e tudo o que possua 'aria pegou na roupa e no
'enino e, saindo da populosa $eli#polis, onde a vida era
demasiado cara para a sua pobreza, tomaram o caminho da
pr#xima aldeia de 'atari/, formoso povoado sombreado de
sic8moros, e no qual se encontra a (ltima fonte de gua doce
que h no 4gito
"s fugitivos galileus pararam a duzentos passos do
povo= a ningu/m conheciam, pobre desterrados que iam pedir
hospitalidade entre os id#latras <m frondoso sic8moro lhes
serviu de tenda durante a primeira noite, porque 2os/, como
;TB
chegou ao cair da noite a 'atari/, no quis entrar antes da
manh seguinte num povoado onde ningu/m o conhecia
Pouco depois a 5anta Oamlia habitava humilde choa e
ali, naquele miservel ninho, a virtuosa mulher respirou em
paz longe de $erodes, o inumano perseguidor de seu Oilho
LG%6" H<GN3"
A %E1OLAMRO
CAPTULO I
O 8IL0O %A VETAL
4ntretanto, $erodes esperava impaciente as notcias
que seu filho ,rquelau devia transmitir!lhe dos 'agos
Passavam os dias, e o feroz escalanita rugia como um leo
que fare9a a carne e v& que lhe escapa a presa que sonhou
devorar "s soldados percorriam a Palestina, diariamente se
enviavam novos destacamentos de mercenrios em procura
dos caldeus e de 2esus, Oilho da Nazarena= por/m tudo era
in(til= a terra ocultava!o 0s suas pesquisas= Deus estendia
sobre eles o seu manto protetor e impenetrvel
<ma esperana animava ainda o vingativo corao do
assassino de 'ariana- era que seu filho no lhe havia
noticiado definitivamente a evaso dos caldeus
No momento em que tornamos a encontr!lo, $erodes
achava!se reclinado sobre uns almofad)es de damasco, no
seu camarim de 2eric# 5eu neto ,quiab, de p/, ao seu lado,
entretinha!se olhando um mapa do mundo conhecido dos
antigos 4sta carta geogrfica estava estampada sobre uma
;TF
pele de carneiro primorosamente preparada *om cor
vermelha se viam marcadas as provncias conquistadas pelos
romanos
$erodes que, quando se achava com o neto costumava
esquecer!se at/ da sua doena, com um ponteiro de ouro
entretinha!se em mostrar!lhe os pontos por onde o ex/rcito
romano marchara durante a conquista ,quiab prestava
profunda ateno 0s explica)es do seu av8
! @ostaria muito, exclamou o adolescente, que tu fosses
um rei to poderoso como o nosso aliado "taviano ,ugusto
" Gdumeu sorriu!se " menino inocentemente tinha
afagado um dese9o que $erodes teria realizado at/ 0 custa da
sua honra
! "lha, lhe disse $erodes colocando o ponteiro sobre as
linhas encarnadas, e como se no tivesse ouvido as palavras
do neto, estas pequenas guias marcadas com tinta azul,
indicam os limites do imp/rio romano Pelo Poente o "ceano
,tlAntico, pelo "riente o 4ufrates, pelo Norte o Dan(bio e o
6eno, e pelo 'eio!Dia as cataratas do Nilo, os desertos da
Rfrica e o monte ,tlas Gsto / a Gtlia, que tanto sangue tem
custado aos romanos desde Numa Pomplio at/ ao */sar
,ugusto, nosso poderoso amigo ,qui est a 4spanha, pas
rico e povoado, cu9os filhos ostentaram sempre um valor
her#ico e um amor 0 sua independ&ncia sem exemplo Gsto /
5agunto, cidade grande e populosa, a aliada mais fiel de
6oma <ma manh ,nibal apresentou!se ante os seus muros
com um ex/rcito de +FTTTT cartagineses e intimou!os a
renderem!se 4m plena como se achavam ento, era aquilo
uma infame traio 5agunto era um povo de her#is, e
defendeu!se esperando socorros de 6oma Por fim viram que
lhes era impossvel manterem!se entre aquelas runas, que o
senado no corria a proteg&!los, e, antes de se renderem, os
;TI
saguntinos acenderam uma fogueira imensa no meio de
praa, e lanaram!se a ela homens e mulheres, velhos e
crianas Huando o vencedor ,nibal entrou, 5agunto era um
monto de cinzas formado com ossos dos seus habitantes
,quiab, ao ouvir o ato her#ico dos saguntinos, exclamou
entusiasmado-
! Povo valente, eu te sa(do e venero, o teu nome ficar
gravado na minha mem#ria
! No acabou a o valor dos filhos da 4spanha,
continuou $erodes, mudando o ponteiro de lugar ,qui est
NumAncia que, sitiada pouco depois por 5cipio ,fricano,
teve o mesmo valor que 5agunto "s romanos foram ento
inquos como os cartagineses
$erodes, sempre bom e condescendente com seu neto,
entretinha!se ensinando!lhe deste modo ameno a hist#ria
militar das na)es
! 5eguindo o meu ponteiro continuou $erodes, podes
ver os dilatados reinos que possui 6oma e que pagam tributo
ao nosso amigo ,ugusto Gsto / a Rfrica onde o atroz
'assinissa, 0 frente dos seus pagamentos e apoderando!se da
cidade de Qama ,qui est a 'aced8nia= o desventurado
Perseu, seu (ltimo rei, foi conduzido a 6oma por Paulo
5mlio, seu vencedor, onde morreu de fome entre as negras
paredes dum calabouo Gsto / a @r/cia e isto as Glhas
7ritAnicas 2(lio */sar foi o primeiro que desembarcou sobre
as encrespadas rochas das suas praias, submetendo pouco
depois a @lia, Rsia, 5ria, o Ponto, a 7itnia e o reino
P/rgamo 5eguindo esta linha encontrars o 4gito, onde
'arco ,ntonio, o amigo de */sar, chegou como
conquistador e terminou escravo da rainha *le#patra, que
soube adormec&!lo com os seus encantos 4 isto, finalmente
;TP
/ a nossa formosa 2ud/ia, reino que eu legarei a teu pai e que
tu regers algum dia, como dono e senhor
! 4 diz!me, querido avozinho, exclamou ,quiab num
mpeto de infantil curiosidade, colocando os cotovelos sobre
o mapa e acariciando a spera barba de $erodes- esses reis
de 6oma que so ho9e senhores do mundo foram sempre to
poderososC
! No, meu filho, seus domnios alargaram!se pelas
conquistas , origem de 6oma tem uma hist#ria fabulosa, /
quase um conto
! "hD Pois 9 sabes que eu morro pelos contos e pelas
hist#rias
! "uve!o, pois meu filho, e no esqueas que um rei,
por pequeno que se9a o seu reino, pode com o seu valor
convert&!lo em grande e poderoso
$erodes abandonou a mesa e, estendendo!se no seu
branco leito, fez com que seu neto se sentasse 0 cabeceira
sobre uns almofad)es, e depois continuou desde modo-
! ,boliu reinava na cidade de ,lba, situada no Lab/u,
provncia de Gtlia 5eus f/rteis campos, o c/u azul, sereno e
o mar 'editerrAneo que bei9ava suas formosas praias,
faziam!no uma das mais pitorescas e ricas provncias do
mundo ,boliu tinha usurpado o trono a seu irmo N(mitor,
o qual chorava sua desgraa num calabouo com seus dois
filhos Lasso e 6/a 5ilvia ,m(lio mandou assassinar Lasso,
herdeiro de N(mitor, e encerrou 6/a num templo onde se
adorava a deusa %esta ,s vestais tinham obrigao de
alimentar continuamente o fogo sagrado, e a que o deixava
apagar era condenada a ser enterrada viva ,l/m, disso, as
vestais no podiam casar!se
Por este meio ,m(lio segurava a coroa 'as os deuses
tinham disposto que a formosa 6/a fosse roubada do templo
;TS
por um mancebo valente, que alguns dizem que era o deus
'arte, a quem adoravam em forma de lana os filhos de
,lba , desgraada 6/a caiu segunda vez em poder de seu
tio ,m(lio, e pouco depois deu 0 luz num crcere dois
meninos, aos quais puseram os nomes de 6emo e 68mulo "
rei ordenou a um dos criados de sua confiana que lanasse
ao 3ibre aqueles dois meninos
" criado partiu de noite para cumprir a triste misso
que lhe confiara o amo= por/m, ao chegar 0s margens do rio
que devia servir!lhe de sepulcro, pousou!os sobre o molo
c/spede, ao tempo em que a luz, quebrando o denso v/u de
uma nuvem, deixou cair do c/u sua luz de prata sobre as
inocentes cabeas dos rec/m!nascidos " criado, vendo as
doces fisionomias daqueles meninos, perturbou!se e teve
medo de cometer crime to horrendo 4nto toma!os nos
braos e entranha!se no bosque vizinho, deixando!os sobre
um matagal, e corre ao palcio do seu senhor a dizer!lhe que
as suas ordens estavam cumpridas , Provid&ncias velou
desde aquele instante pelos dois meninos abandonados
<ma loba, que tinha perdido seus filhos, levou!os 0 sua
cova onde os alimentou com seu leite, at/ que um dia foram
achados por uns pastores 6emo e 68mulo cresceram entre
os pastores, ocupando!se em apascentar cabras 'as 68mulo
era violento= pelo motivo mais f(til armava uma pend&ncia
com os guardas de ,m(lio <m dia levaram preso 6emo,
que imediatamente foi encerrado num crcere
68mulo, sedento de vingar seu irmo, e perseguido
pelos soldados do rei, vagueava pelas vizinhanas de ,lba,
quando um acaso fez com que se encontrasse um dia com o
velho Oustulo, que ra o mesmo criado que lhes tinha
poupado a vida, enganando seu senhor Oalaram um com o
outro, e ento, ao saber Oustulo, quem era 68mulo, lhe
;TM
contou sua hist#ria 68mulo rugiu como uma hiena
encerrada, num circulo de fogo e, ardendo em dese9os de
vingana, conseguiu reunir alguns pastores atrevidos como
ele 4ntrando uma noite na cidade assassinou seu tio ,m(lio
e abriu os crceres de seu irmo e de seu av8 N(mitor, que
havia quarenta anos definhava na sua l8brega masmorra
,costumados a uma vida selvagem e livre, afogavam
na cidade e, deixando a coroa a seu velho av8, sairam para o
campo ansiosos de levarem a antiga e independente vida de
caadores <m dia em que os dois irmos no sabiam que
fazer, ocorreu!lhes fundar uma cidade para viverem nela com
seus companheiros 0 sua vontade Procuraram e escolheram
lugar e ambos, com o ardor da 9uventude, comearam a abrir
o fosso que devia marcar o muro do novo povo 4nto lhes
ocorreu uma d(vida- qual dos dois poria o nome= e
convieram em que aquele que visse maior n(mero de abutres
ao voltar a cabea 6emo disse que tinha visto dez= 68mulo
asseverou que tinha visto doze Da surgiu acalorada disputa,
e 68mulo arremessando sobre a cabea de seu irmo um
mao de ferro, deixou!o morto no lugar "s primeiros
alicerces da cidade de 6oma ensoparam!se em sangue
fratricida
Pouco tempo depois 68mulo foi aclamado pelos
companheiros o primeiro rei de 6oma 3inha dezoito anos ,
nova cidade foi asilo de todos os vagabundos e criminosos
dos pases vizinhos Nem uma s# mulher se atreveu a
penetrar naqueles muros, onde viveram os homens s#s at/
que uma estrat/gia de 68mulo deu origem mais tarde ao
rapto das 5abinas
CAPTULO II
;+T
A V/ORA %O ECRAVO
4mbevecidos se achavam na sua relao hist#rica o
velho e o menino, quando u:a mo afastou a pesada
colgaduras que cobria a porta da entrada do camarim de
$erodes, e atrs desta mo apareceu entre as ondeantes
pregas de seda a figura de %erutdio, general romano "
valente mercenrio levava o tra9e de campanha, com suas
imensas botas de couro e seu capacete de bronze 5ua barba e
cabelo achavam!se cobertos de p#, e o manto de l azul
enrugado e meio desprendido do grosso cravo de ouro que o
segurava sobre o ombro 3udo indicava que tinha feito uma
9ornada longa e a cavalo $erodes, ao v&!lo entrar, afastou
suavemente o neto " romano aproximou!se com adem
familiar do leito, e bei9ou a mo que lhe estendia o rei de
2ud
! ,hD Oinalmente dignas!te vir ver este pobre rei
enfermo, meu valente general 3rars novas desses caldeusC
! 5enhor, lhe respondeu %erutdio, os habitantes, a
quem 2(piter confunda, protegidos talvez pelo seu deus 7elo,
conseguiram escapar das nossas pesquisas "s silos do
*armelo, os bosques de 5amaria, o deserto de 2ud, a via
5angrenta e as praias do mar "cidental, foram examinados
escrupulosamente pelos meus valentes soldados 3udo em
vo- foi!lhes impossvel topar o seu rasto
$erodes abrangeu com um olhar o romano Das suas
pardas pupilas desprenderam!se fascas de ira, e, deslizando
do leito, aproximou!se de %erutdio, apoiando!se no ombro
do seu neto que, com a curiosidade peculiar das crianas,
escutava sem compreender as palavras do general, e sentia a
agitao nervosa que a mo de seu av8 lhe comunicava ao
corpo
;++
! 4 meu filho ,rquelau que dizC perguntou o Gdumeu de
modo estranho, que gelou o sangue do neto
! 3eu filho, lhe respondeu o romano, acha!se no teu
palcio de 2erusal/m, entregando!se 0s f(rias do averno
! "hD, a mol/stia torna!me impotenteD 4 $erodes levou
a mo ao peito, rasgando a magnfica t(nica escarlate, como
se um spide o houvesse mordido no corao
! , deusa *eres aparte de mim os seus favores se teu
filho ,rquelau no sente neste momento tanto como tu o
misterioso desaparecimento dos 'agos 4u vi!os arrancar as
barbas de raiva quando os teus herodianos regressaram sem
eles *r&!me, senhor, nada desgosta tanto teu filho como
achar obstculos no cumprimento das ordens que lhe
comunicas
! ,hD os caldeus faltaram 0 sua palavra, murmurou
$erodes com nervoso acento= eu pretendia burl!los e fui
burlado 3anto pior para esse 'enino a quem o povo apelida
o 'essias Por fortuna ainda no se perdeu tudo os reis
fugiram, mas o menino cair em meu poder *ingo ainda
no voltou e *ingo tem olhos de lince e / intencionado e
precavido como os chacais 4le me trar boas notcias
*omo se estas palavras fossem de uma pitonisa, correu!
se um tapete da parede e a escura e feroz figura de *ingo, o
etope, apareceu na cAmara de $erodes
*ingo vestia o pitoresco tra9e dos rabes da Nigrcia-
seu alquicer listado, de vistosas cores, sua t(nica preta com
ramos escarlates, o turbante de linho, davam um ar selvagem
ao negro e reluzente rosto, cu9as pronunciadas fei)es tinha
dureza feroz 5obre o peito passava!lhe um cordo de seda
verde, em cu9o extremo pendia um cabaa pequena
hermeticamente tapada com uma folha de prata "s p/s
descalos salpicados de barro e cobertos em p# , mo
;+;
direita empunhava um grosso bordo de azevinho, 0 cintura
apertava!se um cinturo de pele de camura, do qual pendia
uma pequena cadeirinha de bronze, e desta um punhal largo e
curto que se perdia entre duas profundas pregas do alquicer
*ingo era o executor secreto de $erodes, o espio de
confiana do Gdumeu Huando o rei tinha necessidade de
saber alguma coisa ou de levar a cabo uma vingana,
chamava!o 0 cAmara e, depois de o informar dos seus
dese9os, o fiel escravo deixava o seu tra9e de corte, vestia!se
do modo como descrevemos, e com a bolsa bem repleta de
onas romanas, a p/ ou a cavalo conforme as circunstAncias,
percorria os domnios de seu senhor como um simples
comerciante
5e a vtima designada pelo rei devia morrer sem
escAndalo, ento *ingo arrastava!se como uma cobra at/ o
leito do sentenciado, levantava a folha de prata da cabea, e
depositava!lhe sobre o pescoo uma das vboras que
encerrava o ventre daquela redoma da morte , mordedura
era mortal= *ingo, contudo, permanecia pelas vizinhanas da
casa at/ que seus olhos vissem o cadver da vtima 4nto
regressava ao palcio a participar a seu senhor que estava
servido
$erodes, ao ver o escravo, sorriu!se com ferocidade
indescritvel *ingo permaneceu impassvel Nem um s#
m(sculo do seu rosto se agitou
! %er(tidio, meu amigo, exclamou $erodes, espera!me
na antecAmara, que talvez precise dos teus servios 4 tu,
,quiab, 9 so horas de tomares o banho= vai!te
,quiab bei9ou a mo do av# e saiu %erutdio fez o
mesmo, mas no sem volver antes um olhar de desprezo ao
escravo negro, cu9o favor para com o rei o desgostava
;+?
altamente na sua qualidade de general e de romano $erodes
e *ingo ficaram s#s
! Oala, disse o primeiro
! 's so as novas que te trago, senhor
$erodes soltou um rugido mas indicou com um gesto
ao escravo que continuasse
! "s 9udeus cr&em chegada a hora da sua liberdade= por
todas as partes se fala da vinda do 'essias 4 se excetuarmos
uns pastores de 7el/m e um ou outro hebreu, ningu/m o viu,
todos ignoram onde se acha 2esus / o nome do 'enino e
dizem que / o 6ei de 2ud= nasceu num estbulo de 7el/m
'as devemos ter em conta que h uns seis meses nasceu
outro menino em ,in que goza de tanta ou mais
popularidade entre os israelitas, que 2esus 4ste menino
chama!se 2oo e / filho do sacerdote Qacarias *ontam!se
coisas pasmosas entre a plebe, destes dois 'eninos
! Pois bem, *ingo, emprega tuas vboras nesses dois
'eninos
! Gsso no me foi fcil desta vez 3oda minha ast(cia,
todo o dinheiro despendido para averiguar seu paradeiro foi
in(til- no pude encontr!lo= percorri casa por casa toda a
cidade de 7el/m, e todos os seus habitantes me deram em
resposta, encolhendo os ombros- .No sei de quem me
falas no o conheo1 Huanto a 2oo, filho de Qacarias,
esse foi!me mais fcil saber onde est= e espero as tuas
ordens
! 4nto quer dizer que os belemistas se propuseram
ocult!loC Pois tanto pior para eles 4u tencionava arrancar
uma s# espiga, e eles op)em!se, *ingo, ser preciso segar
todo o campo
" escravo inclinou a cabea em sinal de acatamento,
ainda sem compreender as palavras do amo
;+B
! , hist#ria / o grande livro que deve reger os reis, / a
sabia mestra que os aconselha nas situa)es crticas da sua
vida "s homens adulam o poder por medo ou por ambio=
mas a hist#ria, franca como a verdade, aconselha sem medo e
sem cobia 5eus exemplos devem servir para evitar as
grandes catstrofes que ameaam as cabeas dos monarcas
,m(lio e 68mulo, ,talia e 2#as, v#s sois os meus
conselheiros nesta ocasio ter!vos!ei presentes, o vosso
sangue guardar o meu, e as vossas coroas derribadas
conservaro a minha sobre a fronte
$erodes dizia todas estas palavras para si pr#prio,
dando largos passos pela cAmara
, presena de *ingo no impediu que murmurasse
aquelas reflex)es hist#ricas que mostravam sem disfarce o
fundo da sua alma, porque *ingo era surdo e cego 5ua
lealdade provada em cem ocasi)es tinha!lhe demonstrado
que aquele escravo sem corao teria cravado na garganta o
punhal que lhe pendia do cinto, se seu senhor o houvesse
mandado
Por desgraa, os tiranos que passaram sobre a terra com
a fronte coroada como uma maldio, como um aoite do
c/u, tiveram servos leais, fi/is executores dos seus horrveis
desgnios, que no vacilaram em dar o sangue por eles
Porque a ferocidade, o crime, o assassnio, costumam
ter tamb/m seus admiradores= almas empedernidas, seres
degradados e repugnantes que lambem carinhosamente a
ensanguentada mo do verdugo, e se sorriem com desprezo
ante as lgrimas da inocente vtima que implora a9oelhada a
seus p/s uma clem&ncia que desconhecem *ingo era uma
destas criaturas Pelo seu senhor teria sacrificado seu pai
$erodes estava certo disto= por isso no tinha segredos para
aquele terrvel e mudo agente das suas sentenas particulares
;+F
" senhor e o escravo permaneceram alguns momentos
sem pronunciar uma palavra $erodes combinava talvez
naquele momento o plano de um crime monstruoso que
encheu de assombro as na)es- a degolao dos meninos
belemitas *ingo esperava em sil&ncio as ordens do senhor
<m passeava pela estAncia, agitado com o semblante
decomposto= o outro, cravado na alfombra, im#vel, 9unto ao
rico tapete da porta, parecia uma figura das que adornavam a
parede, que adiantara um passo cansada da sua eterna
imobilidade Desta situao veio tir!lo o ardente e
penetrante som dum clarim, ao qual se seguiu pouco depois
rudo de armas e pisadas de cavalos
$erodes aproximou!se da 9anela que dava para a praa
do palcio, e lanou um olhar= mas antes que tivesse tempo
para fazer uma id/ia do que sucedia no p#rtico do seu palcio
de 2eric#, uma voz que pronunciava o nome de .paiD paiD1
com alguma precipitao, lhe fez voltar a cabea para o
interior da cAmara ,quela voz era a de ,ntpatro, o segundo
dos seus filhos, a quem os nossos leitores vo ver pela
primeira vez, e do qual nos havemos de ocupar no decurso
deste livro
,ntpatro teria vinte anos= era louro, efeminado e de
estatura menos que mediana Nos seus olhos azuis, claros e
rasgados, brilhava alguma coisa sinistra, seu nariz era direito
e bem feito= as sobrancelhas arqueadas e extremamente
povoadas 9untavam!se no extremo inferior da sua ampla
testa, formando uma ponta aguda que caa sobre o nariz 5em
barba ainda, mostrava os lbios rosados e em extremo
delgados= os dentes raros revelavam a falsidade e a ast(cia=
era, enfim, um 9ovem formoso, cu9o semblante teria
inspirado desconfiana a um fisionomista 5eu tra9e usual, e
ao qual mostrava mais predileo, pois de nada serviam as
;+I
repreens)es do pai, era o dos babil8nios, porque gostava de
ostentar os pequenos p/s, brancos como o leite, em cu9os
dedos colocava profuso de an/is preciosos, pois o calado
reduzia!se a uma sola de metal sobre que se punha o p/, o
que, preso por meio deste com uma correia incrustada de
pedras preciosas, deixava descobertos os dedos
<m palet# de caseira branca, adornado de pequenas
borlas de ouro e apertado na cintura por dois cintur)es de
pano de grau, lhe cobria o corpo descendo at/ o peito do p/
4ste palet# sem mangas e aberto pelo sovaco algumas
polegadas deixava completamente descoberto o brao, no
qual ,ntipatro trazia como adorno grossos braceletes de
ouro <m fio de brilhante 0 maneira de diadema lhe prendia
os louros cabelos, e dele caam duas fitas verdes que
flutuavam sobre os ombros Das orelhas pendiam!lhe grossos
aros de ouro que se ocultavam entre os flutuantes carac#is
,ntpatro no trazia arma mas, em compensao seu
tra9e estava perfumado como o duma cortes de 6oma
$erodes odiava ,ntpatro, filho de sua primeira esposa
Doria, a 9erossolimitana, vtima dos seus sanguinrios
instintos " efeminado Prncipe tinha!se educado em 6oma,
onde ainda permaneciam ,rist#bulo e Oilipe, como tributo
da baixa adulao rendido ao */sar ,ugusto ,rquelau era o
seu favorito= ,ntpatro era honrado com a sua benevol&ncia
$erodes tinha tamb/m um filho de que nos ocuparemos
mais adiante
" rei, ao voltar!se a cabea e achar!se com seu filho
,ntpatro ao lado, franziu o sobrolho= mas ele, antes de lhe
dar tempo para que fizesse a pergunta que sem d(vida estava
formando, exclamou com voz melflua-
;+P
! 'eu pai, ,ugusto manda!te de 6oma um emissrio a
quem acompanham vrios soldados pretorianos- queres
receb&!loC
$erodes ficou um momento suspenso= depois
aproximando!se de *ingo, falou!lhe em voz baixa e este
desapareceu pela porta secreta ,ntpatro, para quem no
tinha passado desapercebido o aparte do pai com o negro,
mordeu os lbios, olhando dissimuladamente a porta por
onde acabava de sair o etope
! Hue entre esse enviado de 6oma, disse $erodes
sentando!se nos almofad)es, depois de colocar a coroa de
louro na cabea e o manto de p(rpura sobre os ombros
,ntpatro fez uma saudao acompanhada dum sorriso
e saiu da cAmara do pai
Pouco depois quatro escravos levantavam a pesada e
larga cortina da porta do camarim de $erodes para que
passasse o mensageiro de 6oma
CAPTULO III
A LEI %A %OHE T2/UA
4ra este homem de cinquenta anos 5eu rosto
expressivo e bondoso era apuradamente barbeado
*ruzavam a ampla testa essas rugas to peculiares dos
homens estudiosos a quem, esquecidos dos mentidos
prazeres do mundo, surpreende a primeira c, curvados sobre
os livros " cabelo grisalho caa!lhe sobre os ombros,
mostrando com a sua aspereza ind8mita que o ferro dos
cabeleireiros romanos nunca se tinha introduzido nele para o
domar em caprichosos carac#is, conforme o costume da
/poca
;+S
5eu tra9e era extremamente simples, pois se reduzia 0
t(nica *ati"*9)ias dos senadores, duma cor escura guarnecida
por diante com uma fran9a de p(rpura, e ao coturno preto,
esp/cie de calado que lhe chegava at/ ao meio da perna,
adornado com um * de prata posto na parte superior do p/
<ma bolinha de ouro oca, na qual se via gravado um
corao, lhe pendia do pescoo presa por uma cadeiazinha do
mesmo metal " brao esquerdo ocultava!se debaixo das
pregas da t(nica, que, como as togas, se achava presa ao
ombro direito por uma broche de prata formando multido de
pregas sobre o peito, onde colocava como num bolso o leno
" brao direito, completamente nu, saa pela abertura do
vestido , mo oprimia um livro bastante grosso, em cu9a
capa se lia em grandes caracteres romanos- Lei das %o>es
T9-uas<
! 5a(de ao */sar ,ugusto, exclamou $erodes, vendo
entrar na cAmara o enviado de 6oma
! , paz se9a contigo, rei de 2ud, respondeu o +atrono
pondo a mo sobre a bolinha de ouro que lhe pendia do
pescoo= "taviano me envia, continuou, com esta carta para
ti= e colocando um rolo de papiro, em cu9o extremo pendia
um selo de cera no qual se representava a imagem duma
esfinge, sobre a capa do livro, apresentou!o a $erodes
4ste fez uma rever&ncia, pegou no rolo e comeou a
desdobr!lo pausadamente , segunda carta de "tvio
,ugusto, imperador de 6oma, dizia assim-
.,o rei de 2ud/ia, por nosso favor, $erodes, o
4scalonita, do *apit#lio- sa(de
'eu querido Gdumeu= 6oma tem uma lei conhecida
pelos seus cidados com o nome do Lei das %o>e T9-uas
ou dos %e"4n)iros= se acaso no a conheces envio!te o
patrono 'rio *urcio 5evero= / um sbio que desde 9 te
;+M
aconselha que tomes por defensor na acusao que teus
filhos ,rist#bulo e Oilipe fazem contra ti pela morte de sua
me 'ariana 5e seu cliente, pois, e confia em que os deuses
no te ho de abandonar 6oma concede!te o tempo
necessrio para a viagem, e o imperador teu amigo
aconselha!te que no te demores, porque nenhum acusado,
nem mesmo o */sar, pode esquivar!se a comparecer ante os
magistrados 'rio pode informar!te da lei G% durante a
viagem, para que sossegues 4spera!te teu imperador U
AugustoC<
$erodes terminou a carta, procurando dominar as
desencontradas como)es que lhe agitavam o corao
Por um lado o */sar, o poderoso "tvio, o grande
,ugusto, o senhor do mundo, chamava!lhe &uerido e amigo,
e por outro seus filhos acusavam!no perante os tribunais de
6oma como assassino de sua esposa
! *om que ento meus filhos acusam!se e requerem a
minha presena em 6omaC
4 6oma no pode recusar!lhes o que pedem Patrcios e
libertos, nobres e plebeus, militares e sacerdotes, todos
enfim, quantos nas dilatadas provncias onde estende as asas
e guia romana acatam a autoridade do */sar e dos
magistrados do seu imp/rio, devem acatar a lei escrita nas
tbuas do *apit#lio
! Pois bem, romano, eu acato a lei, e nomeio!te meu
patrono= l&!me a lei quarta dos Dec&nviros
! ,ntes que eu te aceite por meu cliente, / preciso que
conheas os deveres que unem at/ o dia da sua morte o
defensor e o defendido
! Oala, pois
;;T
" romano pousou o livro sobre u:a mesa e, com um
gesto indicou aos escravos que podia retirar!se Huando ficou
s# com $erodes disse!lhe-
! Postas as mos sobre leis que nos regem e a
consci&ncia nos deuses que nos protegem, vais 9urar que,
desde o instante em que tomes por teu patrono, vers em
mim a pessoa dum irmo, que nunca me acusars perante os
tribunais, nem por pretexto algum poders ser testemunha em
coisa quem em meu dano redundar, e que a tua vida estar
sempre pronta a salvar a minha
! 2uro, exclamou $erodes, estendendo a mo sobre o
livro
! 4u 9uro tamb/m, sem viol&ncia de esp/cie alguma,
no te acusar e at/ no ser nunca testemunha contra ti, e
defender!te ainda com risco de minha vida e fortuna, sempre
que precisares de mim 5e algum de n#s faltar ao 9uramento,
o seu corpo ensangVentado sirva de vtima consagrada a
Pluto e aos deuses infernais
'rio *urcio fez uma pausa, durante a qual abriu livro
da lei que deixara na mesa
! 3eus filhos acusam!te, disse o patr8nio com voz
grave, porque dizem que assassinaste tua esposa, sua me=
por/m teus filhos, meu amado cliente, desconhecem que
6oma e as suas leis olham com horror o filho que se rebela
contra a autoridade paterna "uve, pois, a lei quarta dos
Dec&nviros, e depois disp)e!te a seguir!me .3bua quarta
Lei sobre os direitos do pai de famlia1
$erodes ouvia seu patrono com profunda ateno=
quase no respirava= teria dado a metade da coroa para poder
afogar com suas pr#prias mo os rebeldes filhos
! , tbua quarta, lei sobre os direitos do pai de famlia,
continuou o patrono, concede aos pais o direito de vida e
;;+
morte sobre os filhos " pai por esta lei pode condenar seus
filhos 0 priso, a serem aoitados, a que trabalhem nos
labores do campo, e at/ se o merecerem ao suplcio que
9ulgar conveniente " filho no poder adquirir sem o
beneplcito de seu pai nenhuma propriedade nem emprego
p(blico e, se o fizer, olhado o dinheiro que produza como
pec(lio dos escravos
"s filhos no se vero livres do poder dos pais at/ a
morte deste, ainda que cheguem a ter netos ,s filhas casadas
dependem s# de seus esposos
! ,hD pois entoD exclamou $erodes sem se poder
conter
! 3eus filhos so teus apesar da sua acusao
" Gdumeu p8s!se em p/, e, pegando numa varinha de
metal, descarregou uma forte pancada sobre um timbre que
se achava na caixinha de noite que em forma de guia estava
0 cabeceira do leito *ingo apareceu na cAmara
! *onvoca imediatamente meus filhos, meus irmos, o
general das minhas legi)es e Ptolomeu, meu guarda!selos
! Para onde ho de dirigir!se, senhorC perguntou o
escravo, baixando a cabea
! ,qui, lhe respondeu $erodes com laconismo
! Devo advertir!te, senhor, disse o patrono, que em
*esar/ia nos espera um navio, que / o que me conduziu a
esta praa, e que me acompanha um man6+u*o de valites 0s
ordens de Paulo ,tme, o atrevido- o */sar ,ugusto previu
tudo para que os preparativos de viagem no te roubassem o
tempo
! Descansa, partiremos amanh ao despertar do dia
,lguns momentos depois achavam!se reunidos, num
dos espaosos sal)es do palcio de 2eric#, a famlia de
$erodes, o 4scalonita, e algumas dignidades da sua coroa "
;;;
rei exp8s!lhe brevemente o motivo de viagem= deu ordem a
Ptolomeu para que dispusesse tudo, indicando!lhe as pessoas
que deviam acompanh!lo 4ncarregou seu filho ,rquelau do
governo do reino, para cu9o efeito escreveu uma carta que
entregou ao general %erutdio, pois ,rquelau achava!se em
2erusal/m
4ntre os que as ordens de $erodes haviam reunido no
salo, achava!se Paulo ,tme, chefe do man6+u*o que de
6oma tinha escoltado o patrono 'rio Paulo era um desses
filhos da guerra que crescem dentro da couraa em cima do
seu cavalo nos campos de batalha, ainda moo, pois no
contava mais que trinta anos, e de simples soldado tinha
chegado a general legionrio *omo todos os guerreiros
romanos daquela /poca, tinha o olhar altivo e desdenhoso do
conquistador 4ra ambicioso porque a hist#ria lhe recordava
que a guerra tinha elevado muitos soldados 0s primeiras
dignidades do estado 5eu uniforme era a "*Pmide de
viagem, esp/cie de capote de gro, guarnecido de p(rpura
Dum largo cinturo que lhe prendia o vestido pendia!lhe uma
espada espanhola sobre o lado esquerdo " p/ direito calava
um borzeguim de metal, enquanto o esquerdo levava
simplesmente um calado ligeiro guarnecido de cravos,
conhecido com o nome de "a*iga! do qual tomou o nome o
feroz e sanguinrio *algula
Paulo estendeu desdenhosamente o olhar pelos Ambitos
do salo enquanto $erodes dava as ordens para a viagem e,
cruzando os braos ficou em atitude indiferente No extremo
oposto do que Paulo ocupava, o efeminado ,ntpatro,
voltado de costas para o desvo duma 9anela, achava!se com
os cotovelos apoiados no peitoril, escutando com suma
ateno as palavras do pai De repente seus olhos toparam
com a desdenhosa figura de Paulo, e o corado semblante de
;;?
,ntpatro agitou!se 5eu primeiro movimento foi inclinar!se
para diante como o homem que se disp)e a andar= mas logo
se deteve tornando a tomar a atitude indiferente que tinha
Passaram!se alguns minutos, durante os quais o filho do
rei no apartou seu doce olhar do pai Depois, afeando
indiferena intencionada, abandonou a 9anela e p8s!se a
passear pela sala, trocando frases hip#critas sobre a
temeridade de seus irmos com os que encontrava no
caminho, procurando levantar a voz quando se achava perto
de seu pai para que este as ouvisse ,ssim continuou at/
chegar onde estava Paulo, e ento, pondo a mo
familiarmente no ombro do filho do 3ibre, disse!lhe em voz
mui baixa
! 4u 9ulgava!te no campo de 'arte vencendo homens e
conquistando belas
! *orpo de 7acoDDD ,ntpatroD Por 2(piter .5tator1 que
me apraz encontrar!te, 9ulgava!te na cidade santa dos
'acabeus, mas folgo de que te aches na cidade das rosas
Devemos dizer que ,ntpatro, como todos os filhos de
$erodes, se tinham educado em 6oma= rasgo de adulao
servil que o rei tributrio de 2ud rendeu a "taviano
,ugusto, o imperador
Paulo conheceu!o na cidade pretoriana e fizeram!se
amigos ,l/m disso ,tme tinha por duas vezes ido a
2erusal/m cobrar o tributo do */sar= de modo que eram
antigos conhecidos
! 5e Paulo no esqueceu, continuou ,ntpatro baixando
a voz, os nossos antigos costumes sibarticos= se ainda
prefere o *ipre e o Oalermo 0 gua= se lembra daquelas
deliciosas noites que passaremos nas pequenas casinhas de
campo da via Rpia, de cu9o terrao se via o sepulcro dos
5ipi)es= se ainda / amigo de ,ntpatro, esta noite ao comear
;;B
a viglia m/dia me esperar 9unto 0 quarta coluna do p#rtico
do palcio
4 ,ntpatro, sem esperar resposta, separou!se de Paulo,
receoso de que seu pai suspeitasse daquela familiaridade
! 5empre o mesmo, pensou Paulo- fino como uma dama
e forte como um gladiador de */sar quando se trata de beber
e bulhar 'as este rapaz esquece!se de que cheguei ho9e e
devo partir amanh "raD <m soldado no deve recusar
nunca meia d(zia de garrafas de Oalerno, ainda que se lhe
ofeream na hora da morte Grei, irei, que os desaires feitos a
7aco costumam custar caro
$erodes despediu a corte com o pretexto de que
dese9ava descansar ,quiab foi o (ltimo que lhe bei9ou a
mo
! 4nto partes amanh, avozinhoC lhe disse
! 5im, mas a minha demora em 6oma ser breve
! 4 que vais fazer na cidade de */sarC
! %ou fazer com teus tios ,rist#bulo e Oilipe o que
,m(lio fez com 68mulo e 6emo, para que no me suceda o
mesmo que lhe sucedeu a ele
4 $erodes, dando em seu neto uma pancadinha no
ombro, indicou!lhe que se retirasse Oicando s#, encaminhou!
se para o leito murmurando-
! *om meus filhos me servir de exemplo ,m(lio= com
o novo 'essias, com o rei de 2ud, tomarei por modelo
,talia
CAPTULO IV
O NIN0O %UM PRNCIPE
;;F
2eric# dormia 5# o cadenciado murm(rio das guas do
2ordo, ao lamber o verde c/spede das margens com sues
(midos bei9os, interrompia a quietao sepulcral em que se
acha envolta a cidade favorita do Gdumeu , lua tinha
emigrado do c/u, mas em compensao nem uma s# estrela
tinha deixado de assistir aquele conclio noturno, e,
estendendo!se em numerosos esquadr)es pelo escuro e
dilatado horizonte, lanavam seus reflexos sobre a terra
como se pretendessem encontrar nela a rainha da noite, que
no estava no firmamento " ambiente, embalsamado com as
emana)es derramava!se pelos campos gemendo com doce
melancolia entre as copas das rvores e o calix entreaberto
das flores
<m homem envolto numa dessas capas triangulares dos
hebreus saiu do palcio de $erodes e encaminhou!se para os
arcos da praa, contou as colunas, mas com as mos que com
os olhos e, ao chegar 0 quarta parou Persuadido de que se
achava s#, encostou!se 0 coluna tomando a atitude do
homem que vai esperar , princpio o misterioso e noturno
personagem conservou!se im#vel como incrustado na dura
pedra do p#rtico= mas logo enrolou na cabea uma das pontas
da capa em cu9o extremo pendia uma borla, como faziam os
hebreus com o seu ta*et de linho ao entrar no templo, e
comeou a passear debaixo do p#rtico
,ssim decorreu coisa de meia hora, at/ que por fim
outra figura humana apareceu no extremo oposto da praa
4ste mudo passeante noturno ocultava o corpo sob as muitas
pregas duma toga romana de cor escura
! PauloD disse o primeiro ao ver 9unto de si o outro
! ,ntpatroD respondeu o da toga
! 2 pensava que no vinhas
;;I
! 5ou pouco forte no conhecimento das estrelas, e
costumo enganar!me nas horas
! W o mesmo= vamos l
! %amos onde quiseres= mas advirto!te que ao
amanhecer tenho que estar pronto para partir
! ,ntes que termine a viglia matutina teremos
terminado
" filho de $erodes, o efeminado ,ntpatro, enfiou o
brao no de Paulo, o soldado romano, e ambos se
encaminharam pelas tortuosas e estreitas ruas em busca dum
dos bairros mais solitrios e afastados da cidade, onde
pararam diante de uma casinha de modesta apar&ncia
! W aqui, disse ,ntpatro
! 4m boa hora, responde ,tme com indiferena
" filho de $erodes bateu de modo particular na porta,
que se abriu imediatamente
! 7oa noite, 4noe, disse ,ntpatro ao entrar na casa, a
uma 9ovem que, com um lAmpada na mo, alumiava aos dois
amigos
! , paz se9a contigo, senhor, e com quem te
acompanha, respondeu 4noe com a entoao melodiosa das
9udias
Paulo lanou um olhar 0 filha de Gsrael, e depois outro
ao amigo como a perguntar!lhe quem era a moa ,ntpatro
sorriu!se e esse sorriso era uma resposta ao olhar de Paulo
! 4sperai, bons senhores, tornou 4noe= o corredor est
escuro e vos alumiar!vos
, 9udia fechou a porta e passou adiante caminhando
por um estreito corredor "s dois amigos seguiram!na em
sil&ncio e assim andaram cerca de vinte e cinco passos, at/
que toparam com uma parede que lhes cerrava a paisagem ,
filha de Gsrael p8s a mo na parede, e esta abriu!se 9ogo
;;P
! Passai, lhes disse 4noe
Paulo e ,ntpatro atravessaram aquele desvo que dava
passagem para outro aposento 4nto acharam!se num
camarim profusamente alumiado, que contrastava
agradavelmente com a escurido da primeira estAncia 4noe
tinha desaparecido
! "hD pronunciou com profundo assombro Paulo, isto /
maravilhoso- a luz sucede as trevas= a ostentao 0 pobreza
%e9amos o que causava a admirao do soldado
pretoriano 4ra uma habitao pequena, adornada com esse
gosto requintado dos gregos, e que os romanos espalharam
pelo mundo antigo, passeando a sua guia triunfante ,s
paredes forradas de nacarada seda das @lias, brilhavam
como a flor de rom ferida pelos rios do sol poente Huatro
lAmpadas de ouro suspensas do artezoado teto derramavam
as claras ondas das suas chamas, alimentadas com azeite de
'itelete, sobre u:a mesa de al#es com embutidos de margim
, mesa era redonda e de um s# p/ ou manu+udium, como
lhe chamavam os romanos, cu9a forma caprichosa mostrava o
bom gosto do artfice construtor <m leito de forma
triangular se estendia ao redor da mesa, onde os moles
almofad)es de cetim azul convidavam ao descanso e 0
preguia ,lgumas peles de leopardo lanadas pelo cho
serviam de alfombra, e nos quatro Angulos da habitao
ardim quatro braserinhos de prata, embalsamando o ambiente
com o aroma da mirra e do nardo, que, exalado em branca e
caprichosa coluna de transparente fumo se elevava em
espiral para a ab#bada artezoada, desaparecendo, depois de
perfumar a habitao, por uma larga clarab#ia
, mesa estava posta para a ceia= a aus&ncia da toalha
Jpois no se comearam a usar at/ meiados do reinado de
,ugustoN supria a extrema limpeza da madeira, que reluzia
;;S
como o /bano polido %iam!se colocados sobre ela quatro
9arr)es de loua, de duas asas, brancos como o leite, e finos
como o ncar No seu seio os vinhos conservavam!se frescos
e claros como os mananciais do Lbano 4sses 9arros tinham
cada um seu pergaminho quadrado em que se lia a esp/cie de
vinho, o ano da sua colheita e o nome do c8nsul ou ditador
que governava a rep(blica romana quando se colheu a uva
5obre uma imensa torta de farinha de trigo descansava
um cervato louro como ouro, cercado de ervas aromticas e
passarinhos de pequenas dimens)es ,o redor deste prato
seguiam!se outros de vidro que continham doces de conserva
e preciosas frutas <ma Anfora de Ambar cheia de gua e
vinagre Jbebida de que gostavam muitos romanosN se achava
no extremo da mesa, e 9unto aos leitos duas grandes taas de
ouro de larga boca incrustada com caprichosas figurinhas de
relevo, que se tiravam e punham durante a conversao
alegre e animada dos pastores Num extremo da habitao
via!se uma pia de mrmore branco, e por cima desta duas
escpulas de pau de laran9eira, de que pendiam duas toalhas
de finssimo linho
Paulo depois de ter passado revista com os olhos a tudo
quanto o rodeava, fitou!os nos man9ares, e, estendendo os
braos sobre eles, exclamou com entoao c8mica-
! " deus Pan, protetor do gado, prolongue a tua famlia,
inocente cervadinho " alegre 7aco fecunde com o seu calor
divino os regalados campos da Gtlia, onde brota entre verdes
pAmpanos o 5orrento, o Lgrima, o Oalerno, o 'ssico, o
*alvi, o *esabo e o 5ezano 4 tu, buliosa *omus, deusa
dos banquetes e dos festins, derrama sobre ,ntpatro, meu
anfitrio, todos os teus dons, e concede!lhe um est8mago
forte e incansvel como o dos avestruzes, para que nunca
;;M
sinta os horrores da indigesto nas sua gloriosas batalhas
sibarticas
! ,ssim se9aD exclamou o filho de $erodes soltando
uma gargalhada
4nto os dois amigos despo9aram!se das peas de roupa
que podiam incomod!los durante a comida, e, depois de
lavarem as mos na pia de mrmore, enrolaram a toalha no
pescoo e foram recostar!se no leito, ficando!lhe apoiado o
brao esquerdo e levantada a cabea em proporo 0 mesa= e
comearam a comer com os dedos do cervatinho, arrancando
com o indicador e polegar pedaos de carne com assombrosa
facilidade
! 'as 4noeC perguntou Paulo, que at/ ento no tinha
sentido a falta da 9udia Por que no ceia conoscoC
! 4noe, meu amigo, desapareceu como um sonho
fantstico= mas 9uro!te pela deusa *ibela que a tornars a
ouvir como uma realidade encantadora
! "s deuses sabem quanto sinto a sua aus&ncia
! "ra, que te importa a ti essa escravaC
! 5ou romano, e como tal supersticioso, e em todo o
banquete em que o n(mero dos convidados / menor que o
das graas ou maior que os das musas, antes dum ano o
vinho costuma tornar!se sangue
! , tua sa(de, e 0 minha que sou teu amigo, exclamou
,ntpatro, levantando uma taa 0 altura da testa, como se no
quisesse dar ouvidos 0 superstio do companheiro, que o
fizera empalidecer
! ^ sa(de do */sar ,ugusto Pela gl#ria de 6oma e
pela prosperidade dos filhos do 3ibre
"s dois amigos esvaziaram dum s# trago as taas 4
Paulo pegou noutro 9arro para tornar a encher as taas
;?T
5eus olhos fitaram!se no pergaminho que continha o
nome a idade do vinho, e leu cheio de prazer o letreiro-
.5orrento puro, ano I?I da fundao de 6oma 5endo
ditador L(cio *orn/lio 5ila1 U Poder de 7acoD U 3ira!me os
pAntanos da Rfrica, tu que com a tua T9-ua de Pres"rio
inundaste de sangue as ruas de 6oma, roubando o sono dos
patrcios, e foste devorado p&los bichos antes de ser cadver,
levanta!te da tua cova e sa(da um contemporAneo que soube
sobreviver ao teu sangrento reinadoD
,ntpatro bebeu sem falar= indubitavelmente alguma
id/ia preocupava o efeminado filho de $erodes 4 Paulo,
depois desse discurso hist#rico, tomou f8lego e disse com
voz cavernosa e mofadora-
! Pelos sagrados bosques do divino 2(lio, tornou Paulo
aproximando de si um prato de conservas, que a no te ver a
meu lado a no saber que o meu cavalo cordov&s rumina o
seu penso nas cavalarias do palcio de 2eric#, a no estar
plenamente convencido de que o 2ordo se arrasta sobre o
seu leito de areia a poucos passos de n#s, 9ulgaria, ao aspirar
os gratos perfumes, que me embriagam, que me achava no
banho aromtico e fascinante duma patrcia romana
Neste momento o silencioso ,ntpatro, sem que o seu
alegre falador companheiro o observasse, apoiou o dedo
indicador da mo direita sobre uma das molduras do leito, e a
aguda vibrao duma campainha de ao estendeu!se pelo
Ambito da sala
! ,hD disse Paulo, volvendo os olhos em torno de si
4ssa campainha anuncia!me outra nova surpresa= mas
advirto!te, querido anfitrio, que um romano do tempo de
,ugusto no se admira to facilmente quando os fumos do
5orrento e do Oalerno comeam a embriagar!lhe a cabea
;?+
! No trato de surpreender!te, s# quero cumprir a
palavra, respondeu o filho de $erodes- lembras!te que
prometi que tornarias a ouvir 4noe como uma encantadora
realidadeC
! W certo
! Pois bem, escuta e 9ulga
Neste momento comearam a ouvir as doces e
melodiosas notas dum salt/rio 5ua po/tica e sentida
cad&ncia, seus melodiosos acordes estenderam!se com
arroubado acento pelos Ambitos da habitao Paulo
suspendeu o man9ar que ia levar 0 boca 4stava extasiado
,quilo era um sonho, um canto de $omero posto em ao
ante seus olhos, uma poesia de %irglio recitada por um coro
de deuses
" salt/rio suspendeu um instante as suas notas, que
imediatamente tornaram a ouvir!se=mas desta vez
acompanhada duma voz humana= voz de mulher, voz to
melodiosa, to doce, to melanc#lica como o gemido que
arranca o z/firo das harpas a/reas suspensas dos tristes ramos
dum salgueiro do bosque de 4fraim ,quela voz cantou o
seguinte-
Eu sou o rou5ino* do es"uro -os&ues! E ao +9*ido
"*aro de a.reos *umes O +eito meu e5a*a %u*"6ssimos
&uei5umes<
O +intassi*go sou &ue )iu seu ninho 'unto ao do rio
santo a*)o *i"orA Meu "anto . um gemido! Euimera o meu
amor<
;?;
Eu sou a +o-re ro*a &ue do L6-ano Nas "res+as
ro"has se aninhou errante e tenho a a*ma ?erida Por&ue
&uereis &ue "anteG<<<
%ei5ai &ue o +eito meu dos seus amores )i)a
morrendo em so*ido ditosa em so* e sem ro"io; E! no!
+er?umes no +eais S rosa<
" canto e a m(sica cessaram, os ecos do salt/rio e os
gemidos harmoniosos da voz da mulher perderam!se como
os sonhos impalpveis duma alma enamorada, deixando
somente, ap#s si, uma doce recordao vaga, melanc#lica,
indefinida, como o som dum #sculo de despedida enviado
nas asas do z/firo ao ob9eto do nosso amor
CAPTULO V
%OI AM/ICIOO EUE 8AHEM CATELO NO AR
! Huem / essa mulher que canta como uma bacante dos
bosques da 7aia ferida pela flecha do deus cegoC 4xclamou
Paulo num mpeto de entusiasmo
! 4ssa mulher, respondeu!lhe o seu amigo, / 4noe,
minha escrava favorita, a solitria guarda desta casa, ref(gio
nos meus momentos de fastio, consolao da eterna
melancolia que me devora, ninho enfim dum prncipe
desgraado
! 3u, melancoliaD 3u, o bebedor incansvel, digno
rival de 'arco ,ntonio, que encareceu os vinhos do 4gito
nos banquetes de *le#patraD
;??
! " sorriso dos lbios nada tem com as amarguras do
corao " vinho embriaga e adormece as penas
! 3ens razo, bebamos- rubicundo 7aco embeleza o
presente e apaga o passado Oalemos de 4noe= interessa!me a
tua escrava= conta!me a sua hist#ria
! 4noe no tem hist#ria- / uma violeta silvestre nascida
nas margens do Nilo e transplantada para 2ud antes de abrir
seu perfumado boto- comprei!a a uns rabes, e tenho!a nesta
casa, tratando!a como uma irm caridosa, e estou certo de
que essa pobre menina se deixaria matar por poupar!me um
gemido
! 3ua irmC perguntou com grande d(vida Paulo
! 'inha irm, ,tme, minha irmD 2uro!te pela mem#ria
de minha desgraada me que no profanarei essa bela
sensitiva sem lhe dar antes o nome de esposa
4 ,ntpatro, ao invocar a mem#ria de sua me,
estremeceu sensivelmente
! Hue tensC Perguntou ,tme
! Nada, meu amigo= quanto me lembro de minha me,
ve9o sangue diante dos olhos 'as falemos de outra coisa
@ostas de ouroC
Paulo admirou!se desta pergunta= mas deu esta
resposta
! , vida / cara em 6oma, e a paz empobrece o soldado
! Pois bem, eu posso enriquecer!te
! "ferecimento / esse que me admira 5aibamos o que
me custa a fortuna que me ofereces
! 2ura!me antes, que, se no aceitares as minhas
condi)es morrer contigo o segredo dos meus planos
! 2uro!o pela minha espada de soldado
;?B
! ,gora troquemos os punhais e as taas, e escuta pois
deste este momento Paulo ,tme, o ,trevido, ser irmo de
,ntpatro
"s dois desprenderam ao mesmo tempo as adagas de
talim e tocaram!nas= depois, enchendo as taas, ofereceram!
na mutuamente
! " sombrio 'olo>, o terrvel ,riman perturbe os sonos
e envenene o sangue do primeiro que violar a santa aliana
que nos une, exclamou o filho de $erodes esgotando a taa
que lhe havia apresentado o romano
! " sombrio 'olo> o terrvel ,riman perturbe os
sonos e envenene o sangue do primeiro que violar a santa
aliana que nos une, repetiu Paulo, imitando o seu
companheiro
! 7revemente o sol banhar com seus raios matutinos
os altos minaretes da cidade e os Ambito do palcio de 2eric#
4nto as trombetas dos legionrios anunciaro aos
adormecidos habitantes a partir do rei, meu pai 3u, Paulo, 0
frente de teu man6+u*o, deves escolt!lo at/ 6oma 5abes a
que vai meu pai 0 cidade de */sarC
! Por minha f/ que no 'andaram!me escolt!lo e
obedecer!lhe 4sta / a minha senha
! Pois bem, Paulo, meu pai vai a 6oma, porque meus
irmos o acusam perante o senado como assassino da nossa
me= por/m, com essa acusao assinaram sua sentena de
morte
! $erodes no matar nunca seus filhos- / pai
! No o conheces= a morte deles / certa e a minha no
est longe= mas eu no sou dos que se rendem sem lutar e,
uma vez apagada no corao a voz da natureza, a luta ser
terrvel e precisarei de ti, Paulo
;?F
- Oala, respondeu o romano, vendo com desgosto que
aquela ceia, que comeara com to bons auspcios,
ia terminar com uma conspirao
3erminada em 6oma a sua causa, meu pai voltar a
2ud escoltado pelos soldados pretorianos 5e ao pisar as
praias da Palestina, meu pai deixar de existir, a coroa ser
minha e ters vinte talentos hebreus
! 5e eu no fizer parte da comitiva de regresso, no
poderei servir!te
! 5abes de antemo as ordens do */sarC
! No= mas pode combinar!se que regresses a 2ud com
meu pai "s soldados romanos aborrecem a paz- morrer no
campo de batalha / a morte melhor e mais gloriosa para os
filhos do 3ibre 6oma conta um crescido n(mero de
legionrios que, cansados da inao que os enerva, se acham
dispostos a desembainhar a espada 0 voz do primeiro que lhe
oferea um punhado de ouro Deves ser esse homem 5e o
*/sar no te nomear chefe da escolta, podes introduzir!te nas
fileiras, comprando um dos centuri)es, e ocupar o seu lugar=
durante a viagem no te ser difcil subornar alguns
soldados, e, logo que pises a terra de 2ud, no h de faltar!te
um pretexto para que um dos teus enterre a espada no peito
de $erodes 4u, entretanto, em 2erusal/m, reunirei os meus,
e, quando chegares 0s suas muralhas, para ti o ouro, para
mim a coroa
! " teu plano / arriscado- esqueces!te de que o */sar /
o (nico que pode conceder!te a coroa de 2udC
! " */sar compra!se- meu pai assim o fez= posso
tamb/m faz&!lo
! ,rriscas a cabea neste 9ogo
! , morte de $erodes deve ser atribuda ao acaso, ou
motivada pelo seu carter irascvel
;?I
! 'as em 2erusal/m ficam tr&s filhos de $erodes tr&s
irmos teus
! Oaze tu o primeiro e deixa por minha conta o mais
%acilasC
! 5empre desprezei a vida 'as a quantia que me
ofereces fugir!me! das mos como um punhado de fumo-
no conheces a sede insacivel de ouro dos meus
compatriotas- nada lhes basta quando se trata de p8r preo 0s
suas vidas- se eu fosse o chefe encarregado da escolta, o
neg#cio podia ento levar!se a cabo com mais economia
! Oixa tu mesmo a quantia, falou laconicamente o filho
de $erodes
! Dize antes as condi)es ,os homens da minha
t&mpera no basta ouro
! 4nto, explica!te sem rodeios, e no esqueas que
ambos 9uramos segredo no caso de no combinarmos
! 5e a conspirao te der a ti uma coroa, eu, nesse caso,
exi9o para mim o governo de uma das tribos de Gsrael
,ntpatro mordeu os lbios, mas no disse palavra
Paulo continuou com pausada e fria gravidade-
! 3u sers rei, eu o governador Huanto 0 soma que
devo perceber, se aumentar com mais doze talentos, que so
os que devem distribuir!se entre os soldados dos postos da
Palestina, para que coad9uvem no movimento
,ntpatro como se houvesse tomado uma resoluo
repentina, disse sem vacilar-
! ,ceito
! Pois bebamos pelo bom resultado da nossa empresa
4ncheram as duas taas, e Paulo tornou-
! Pela prosperidade do futuro rei de 2erusal/m, e pela
fortuna do pr#ximo governador da @alil/ia
;?P
Depois de esvaziarem as taas, ,ntpatro saltou do leito
e, encaminhando!se para um dos extremos da estAncia, tirou
duma esp/cie de armrio, embutido na parede mui
dissimuladamente, uma bolsa de couro bastante grande, um
tinteiro e dois pedaos de papiro, ob9etos que colocou sobre
a mesa sem despregar os lbios
! Nesta bolsa achars duzentas minas hebraicas 3ens
bastante para as primeiras distribui)es de 6omaC
! *reio que sim= mas
! *ompreendo!te Nestes papiros podemos escrever as
obriga)es= tu ficas com um, eu com outro
,ntpatro estendeu o papiro e molhou a pena no
tinteiro
! %e9o que fazes o contrato com toda a legalidade de
uma advogado= estimo
4les escreveram uma obrigao do que cada um devia
fazer e receber na con9urao que se urdia contra o rei de
cidade santa 3erminada esta operao, cada um guardou
cuidadosamente o pedao de papiro que lhe pertencia
,mbos estavam comprometidos= talvez ambos tivessem
assinado a sua sentena de morte
" resto da ceia foi silencioso "s dois amigos comeram
pouco, mas fizeram frequentes liba)es, talvez para
desvanecer com os vapores do vinho as id/ias que lhes
agrupavam a mente ,ntpatro pensava na coroa que,
segundo a sua ambio, calculava dever!lhe descansar dentro
em pouco na fronte Paulo lembrava!se da frase fatalista dos
romanos do tempo de ,ugusto- .No te sentes em nenhuma
mesa em que os convivas se9am menos que as graas ou mais
que as musas1 " penetrante som duma campainha que se
estendeu pela sala, tirou da sua profunda meditao os dois
amigos
;?S
! Hue significa este somC perguntou Paulo
! Hue 4noe nos avisa de que o luzeiro da manh
apareceu no "riente
! 4nto / preciso que nos separemos
! 5im, dentro em pouco as trombetas convocaro a
comitiva
! 5aamos, pois, e 2(piter nos d& boa sorte na empresa
! ,ssim o espero %alor e confianaD
! 'ais fortemente se arraiga o valor num corao que a
confianaD
! Pois no esqueas de que precisamos ambas as coisas
,pertaram as mos cordialmente, tomaram precau)es
e encaminharam!se para o palcio, mas por diferente
caminho Pouco depois, a porta do camarim de $erodes
abriu!se para dar passagem ao escravo *ingo, o qual se
dirigiu ao leito do seu senhor " Gdumeu no dormia
! 4 ento, *ingoC perguntou $erodes ao seu escravo
! No te havias enganado, senhor- Paulo e teu filho
passaram a noite 9untos
! "ndeC perguntou com indiferena $erodes
! 4m casa de 4no/, sua escrava
! 2 o sabes Desde agora a tua obrigao / ser a sombra
deste romano ambicioso= quanto a meu filho, desprezo!\ Hue
horas soC
! , aurora despontar em breve no "riente
! ,visa Ptolomeu e prepara tudo para partida 3u vens
comigo
*ingo saudou e tornou a sair do camarim por onde
tinha entrado $erodes tornou a deixar!se cair sobre o mole
leito como se ningu/m o houvesse interrompido
CAPTULO VI
;?M
CLE$PATRA E O TRITNVIRO
,ntes de penetrarmos na orgulhosa cidade do *apit#lio
e de percorrermos as ruas de 6oma, dessa rainha do mundo,
desse arsenal da gl#ria e da arte, antes de nos colocarmos
diante da grave figura de "taviano ,ugusto, imperador dos
romanos, os nossos leitores ho de permitir!nos que
volvamos um olhar retrospectivo, desde a morte de 2(lio
*/sar at/ ao nascimento de 2esus *risto
2(lio, *rasso e Pompeu, depois de formarem o
triunvirato, estenderam!se com suas poderosas legi)es pelo
mundo, alargando pelas contnuas conquistas as possess)es
romanas Por/m a sorte comeou a ser contrria ao avarento
*rasso e, nas plancies da 'esopotAmia, foi destroado pelo
rei dos partos, que, sabendo a sede insacivel de ouro que
acossava o feroz romano, fez com que lhe cortassem a
cabea e mandou que lhe deitassem ouro derretido na boca,
dizendo com ironia cruel- .,gora / preciso fart!la deste
metal de que no p8de saciar!se durante a vida1 , Gtlia
recebeu com um grito de dolorosa raiva a notcia da derrota
das legi)es de *rasso " triunvirato estava desfeito- tardou
pouco que */sar e Pompeu se indispusessem 2(lio achava!se
nas @lias, Pompeu em 6oma, e ambos conceberam o
ambicioso plano de governar a s#s a rep(blica
2(lio, levantando suas tendas a marchas foradas,
atravessou os ,lpes e deteve o seu ex/rcito na margem dum
riacho Pompeu, sabedor de que */sar avanava sobre 6oma,
sai ao seu encontro rodeado dos senadores, entre os quais se
achavam *cero e *ato de _tica "s dois ex/rcitos
encontraram!se depois na 'aced8nia, a plancie de Oarslia
3rava!se a pele9a= o sangue romano tinge o largo campo que
;BT
ocupam os combatentes, esquecendo no seu furor que so
irmos */sar vence Pompeu, a quem salva a ligeireza do seu
corcel *hega 0 praia, entra num navio, o vento favorece!o e
chega ao 4gito, onde a rainha *le#patra e seu irmo
Ptolomeu lhe cortam a cabea e a remetem numa caixa ao
vencedor 2(lio, como prova de sua covarde submisso
*/sar, clemente, perdoa aos partidrios do seu inimigo,
mas *ato de _tica, d!se 0 morte por suas pr#prias mos
+ara no so-re)i)er S re+7-*i"a &ue ;u*ga)a +erdida nas
mos de '7*io C.sar 6ecebe */sar o ensangVentado crAnio
de Pompeu, e, no podendo esquecer de seu sogro e amigo,
chorou sobre aquela cabea insepulta, e castigou Ptolomeu
4ntra em 6oma, onde se fez aclamar ditador, como 5ila, por
dez anos Distribui trigo e dinheiro ao povo= d espetculos
de gladiadores= converte o campo de 'arte num lago
imenso, onde os romanos correm /brios de prazer a
presenciar os simulacros navais com que os obcequeia o
vencedor 2(lio
" povo esquece que a rep(blica t&m um senhor, e d a
este o sobrenome de Divino ,dora!o como a um dos seus
deuses, e cr&!se feliz 'as 7ruto e *ssio, amigos de
Pompeu, rudes e leais republicanos, no dormem e afiam o
punhal que deve livrar a ptria do ditador
*/sar / avisado pelos amigos do perigo que o
ameaava %& o seu povo feliz, lembra!se da sua clem&ncia
para com os inimigos, das suas conquistas que tanto
engrandeciam o nome romano, e vive tranquilo 'arco
,ntonio e L/pido conduzem 2(lio a uma galeria do seu
palcio, e estendendo os braos para o firmamento mostram!
no como sina* +re"ursor da*gum gra)e a"onte"imento "
povo agrupa!se nas praas e comenta a seu modo aquele
misterioso sinal do c/u
;B+
Passa a noite, nasce o sol, e */sar, com o seu manto de
p(rpura, sem armas, encaminha!se a p/ para o senado,
rodeado dos amigos 'as, apenas transp)e o p#rtico da
assembl/ia, cem punhais saem dentre as pregas das togas dos
senadores */sar no se perturba= v& o perigo, desafia!o= mas
ao sentir!se ferido, volta a cabea e v& um amigo, o seu
querido 7ruto, e exclama com inexplicvel sentimento-
tam-.m tu! /ruto# 4nto cobre a cabea com o manto e cai
atravessado, sem vida, aos p/s dos seus assassinos
'arco ,nt#nio, rude e valente soldado, amigo de
acampamento do desgraado 2(lio, corre com L/pido ao
lugar da catstrofe 'andam levar o ensangVentado corpo do
ditar para a praa p(blica, e colocam!no sobre um leito de
marfim para que o povo possa ver seu protetor " povo
enfurece!se e os assassinos fogem de 6oma, para morrerem
mais tarde na batalha de Oelipos, nos *ampos da @r/cia
*cero, o sbio orador, acha!se 9 salvo na popa de uma
galera= mas teme o en98o e faz!se conduzir a sua casa de
campo, numa liteira "s soldados de ,nt#nio encontram!no,
cortam!lhe a cabea e colocam!na no senado so-re a
tri-una dos dis"ursos- sarcasmo cruel e sangrento do feroz
,nt#nio, que arrancou lgrimas de dor aos sbios de 6oma e
@r/cia
'arco e L/pido tornaram a 6oma vencedores dos
con9urados 4nto apresenta!se! lhes um moo de apenas
dezoito anos, de carter tmido e pacfico, compleio
delicada, rosto plido e doce, e que coxeava da perna
esquerda 4ra um sobrinho de 2(lio */sar, que o havia
nomeado seu herdeiro "s ferozes soldados olham!no com
desprezo, e admitem!no no triunvirato, que era o segundo de
6oma 'arco ,nt#nio e L/pido admitiram a cooperao
daquele 9ovem enfermio, como um escrnio= mas aquele
;B;
9ovem, delicado como uma violeta, belo como uma sensitiva,
chamava!se "taviano ,ugusto e foi mais tarde o imperador
mais poderoso do mundo
,rmaram!se as legi)es= 'arco e "taviano
encaminharam!se 0 frente delas para a @r/cia, onde *ssio e
7ruto tinham levantado um poderoso ex/rcito %enceram!
nos na batalha de Oelipes L/pido entretanto ficou em 6oma=
"o)arde e +reguioso, inepto para governar aquela poderosa
nao, comete mil torpezas "taviano convence a 'arco de
encaminhar!se ao 4gito, com a metade do seu ex/rcito,
enquanto ele se dirige a 6oma= e 'arco ,ntonio que era
valente mais preguioso e gostava dos prazeres da mesa e
dos gozos de 7aco, aceitou a proposta com a id/ia de
descansar das fadigas do acampamento, pois a conquista das
ribeiras do Nilo era extremamente fcil para aquele caudilho
, rainha *le#patra v& ameaada a sua coroa com a
aproximao dos romanos, e, ao inv/s de fugir ou preparar!se
para o combate embarca numa galera "o-erta de ouro e
+edraria! "u;as )e*as eram de +7r+ura e os remos de
+rata! e sai ao encontro da armada inimiga
*le#patra, molemente reclinada em ricos almofad)es,
na coberta da sua embarcao, debaixo dum riqussimo plio
de brocado e de ouro, aspirava com voluptuosa preguia o
perfume do incenso que ao seu lado queimavam quarenta
formosas mulheres vestidas com todo o luxo e esplendor do
4gito, enquanto doze meninas dis?aradas de amores
agitavam sobre a encantadora cabea de sua soberana
vistosos leques de plumas, purificando o ambiente com suas
ondula)es 'arco ,ntonio, 0 vista daquela encantadora
apario ficou fascinado como se a deusa das espumas lhe
houvesse enviado suas ninfas para o receberem Desde
aquele momento o amor com que o brindaram os braos da
;B?
astuta rainha prendeu!o nas suas rede, e esqueceu!se de
6oma, de sua esposa a "tvio e do seu dever, para pensar em
*le#patra
,ugusto, indignado com o comportamento de ,nt8nio,
ordenou!lhe que castigasse os partos, que comeavam a
tornar!se insolentes= mas ,nt8nio e as suas legi)es, tinham!
se enervado na corte do 4gito, os partos destroaram!nos, e
,nt8nio correu a esconder a vergonha nos braos de
*le#patra "taviano ,ugusto prop8s!se vingar 6oma e sua
irm e dirigiu!se, com um ex/rcito considervel, ao 4gito
,nt8nio, falto de valor para esperar o seu contrrio,
fugiu com a sua c(mplice logo que avistou a frota de
,ugusto, retirando!se para ,lexandria, onde atravessou o
peito com sua espada *le#patra, receosa da vingana de
,ugusto, encerrou!se num sepulcro grande como uma casa,
onde fez conduzir 'arco ,nt8nio, que se achava malferido,
introduzindo!o por uma 9anela, atado com cordas Duas horas
depois ,nt8nio tinha deixado de existir, e "taviano, sem
vencedor, achava!se em presena de *le#patra
! Disp)e!te a seguir!me a 6oma com o manto de
p(rpura sobre os ombros e a coroa na cabea= far!te!ei entrar
pela via 3riunfal diante do meu carro vencedor
, rainha nada disse 5eus olhos, negros como a noite,
lanaram um olhar de #dio e desprezo ao romano Huando se
viu s#, chamou Gras, sua escrava favorita, e disse!lhe,
entregando!lhe um punhado de ouro-
! 3oma, procura o campon&s a quem encomendei o
(ltimo adorno do meu reinado
Do fundo do mar comearam a alar!se as trevas
anunciando a noite aos habitantes de ,lexandria, quando
Gras, envolta num manto, abandonou o grandioso mausol/u
;BB
de *le#patra, e, atravessando algumas ruas, chegou ao
campo e parou porta duma choa ,li havia um homem
! *umpriste as ordens da minha senhoraC disse
! 5im, escrava, lhe respondeu o homem entregando!lhe
um aafate cheio de figos, e cuidadosamente coberto com
pAmpanos e flores
Gras deu ao campon&s uma bolsa de seda cheia de
moedas de ouro, e retirou!se Nos olhos do campon&s brilhou
a alegria e a cobia, e enquanto acariciava com suas calosas
mos a bolsa da rainha, murmurou-
! Para que querer *le#patra as vboras, e porque me
ter dado tanto dinheiro por elasC ,s rainhas t&m caprichos
inexplicveisD
4ntretanto, Gras chegou ao panteo onde a esperava sua
senhora , rainha pegou no aafate e disse 0 escrava-
! %ai!te, quero estar s#
Huando Gras se retirou, *le#patra examinou o aafate
4ntre os figos achava!se um pedao de cana verde,
cuidadosamente fechado com dois tacos de raiz de salgueiro
, rainha agitou a cana que produziu um leve rudo, como se
dentro houvesse algum corpo pesado <m sorriso de prazer
brilhou!lhe no formoso semblante Pousou o aafate sobre os
brancos almofad)es do leito e vestiu!se com o tra9e mais
rico, mais resplandecente P8s a coroa e estendeu!se no leito
4nto tirou um dos tacos de cana e aplicou o vegetal a
seu branco e m#rbido peito <ma vbora estendeu a
esverdeada cabea, agitando com rapidez a venenosa lngua
, rainha soltou um grito " r/ptil agarrara a sua carne
*le#patra fechou os olhos e esperou a morte, talvez
pensando no amante, talvez pensando no assombro que a
presena de seu cadver havia de causar a "taviano, seu
vencedor
;BF
No dia seguinte os soldados de ,ugusto acharam!na
morta com a coroa na cabea e reclinada no leito, como se
dormisse ,ugusto mandou enterrar os corpos de ,nt8nio e
*le#patra no mesmo monumento, e voltou a 6oma, onde, ao
ver!se (nico senhor da rep(blica, tomou o nome de
imperador
,quele 9ovem d/bil e enfermio, de olhar doce e carter
pacfico cu9o coxear ,nt8nio imitava quando os vapores de
Oalerno o transtornavam, reuniu em si todos os poderes,
todas as dignidades da rep(blica ,gripa e 'ecenas, $orcio
e %irglio, foram desde ento seus amigos favoritos
6estabelecida a paz no mundo, querido do seu povo,
admirado dos reis seus tributrios, foi bom e bondoso para
com todos= perdoou aos inimigos e encheu!os de favores= foi,
enfim, um grande rei, um pai do seu povo, um carinhoso e
tolerante aliado das na)es, e um protetor incansvel das
letras e dos domnios que lhe pagavam o tributo
Neste estado se achavam as coisas, quando num
estbulo da cidade de 7el/m de 2ud nasceu o 6edentor do
mundo ,ugusto consultou a 5ibila, e misteriosos sinais
apareceram no c/u No / nosso intento por certo reproduzi!
los aqui, pois que podem consignar!se em outro lugar= mas
6oma est enlaada com Gsrael ,ugusto e 3ib/rio, seu
sucessor, foram imortalizados pela vinda de 2esus *risto
$erodes o @rande, essa sombria figura dos 4vangelhos e
esse aoite de 2ud, vai penetrar na cidade dos pretores,
donde o veremos sair para levar a cabo o crime mais odioso,
mais repugnante que manchou as pginas da hist#ria
,ntes, pois, que o terrvel Gdumeu, atravessando a via
,pa e a antiga muralha de 3(lio "stlio, penetre pela porta
*apena na cidade do *apit#lio, antes que se lance aos p/s do
;BI
imperador ,ugusto no monte */lio, detenhamos o olhar no
palcio de */sar
<m grupo de soldados velhos e encanecidos nas
batalhas passeava no primeiro trio do vestbulo e, na praa
que precedia a fachada do edifcio, via!se uma ou outra
liteira e empregados da casa <m homem, quase ancio,
vestido modestamente com a toga dos patrcios, saiu do
palcio de */sar e saudou com amabilidade, levantando a
aba das largas vestes, os que se achavam na pracinha 3odos
se inclinaram com mostras de respeito
" homem da toga transp8s sozinho o arco do vestbulo,
e encaminhou!se com passo tranquilo para a larga rua que se
estendia diante do monte */lio 5eu rosto tinha uma
expresso de indefinvel bondade= a cabea, coberta de cs,
inclinava!se levemente para o peito, como os ramos duma
rvore carregada de fruto 5ua estatura mediana, seu fsico
delicado e o seu adem humilde, no mostravam nada de
extraordinrio ,tentando!se um pouco, podia ver!se que
aquele ancio coxeava levemente da perna esquerda De vez
em quando algum transeunte parava para o olhar como que a
reconhec&!lo 4nto o homem da toga sorria!se com bondade
confundindo!se entre a multido, e continuava o caminho
procurando evadir!se aos olhares, investigadores que lhe
dirigiam
,ssim cruzou grande parte de 6oma, e, atravessando a
via 5acra= chegou ao monte 4squilino e ao %iminal ,o
entrar neste bairro, retirado da populosa cidade, o rosto do
misterioso transeunte entristeceu!se visivelmente, e parou
lanando um olhar carinhoso sobre uma casa de modesta
apar&ncia, inteiramente fechada
,lgumas rvores de folha amarelada erguiam 0s copas
por detrs dos muros, como os ciprestes num cemit/rio
;BP
abandonado pelos vivos, para enxugar uma lgrima e, depois,
soltando um suspiro, exclamou-
! Pobre %irglioD 3uas flores 9 no perfumam teu
apaixonado acento= as aves no cantam sobre as copas das
tuas rvores, ouvindo teus doces versos "s deuses imortais
arrancaram!te da terra para te levarem para o c/u 4les te
se9am propcios
Depois prosseguiu o caminho em direo a u:a
magnfica casa de campo, cu9os extensos 9ardins se achavam
a pequena distAncia da casa de %irglio Do centro do edifcio
erguia!se uma torre que dominava toda a propriedade e
grande parte dos quatorzes bairros em que 6oma se achava
dividida no tempo de ,ugusto
" homem da toga entrou nos 9ardins e, percorrendo
aquela dilatada rua de rvores, chegou ao vestbulo da casa,
onde sobre um pedestal de pedra r(stica se erguia uma
elegante esttua de mrmore
,quela esttua tinha certa semelhana com o homem da
com o homem da toga, que passou a seu lado ,o transpor o
umbral da porta um escravo, que sentava num tamborete de
madeira, p8s!se em p/ 2unto do escravo via!se um mastim
preso com uma grossa cadeia de ferro e, por cima do cravo
que a segurava 0 parede, lia!se .Cuidado "om o "oC<
" homem que entrava acariciou a cabea do co com
familiaridade= este fechou preguiosamente os olhos,
estendeu o pescoo e levantou a cauda em sinal de carinhoso
reconhecimento 4m seguida entrou em casa, subiu por uma
escada ao andar principal, atravessou vrias salas em que
encontrou diferentes criados que se inclinavam diante dele,
parou a uma porta e, empurrando!a achou!a num quarto onde
havia dois homens <m deles ocupava!se em folhear um
volume= o outro, estendido num leito, parecia enfermo, a
;BS
9ulgar pela palidez das faces Por todas se viam grossos
volumes espalhados at/ pela cama do enfermo Dir!se!ia ser
a habitao o gabinete dum sbio ou dum historiador "
enfermo era 'ecenas= o que folheava o livro, ,gripa= o que
acabava de entrar, "taviano ,ugusto, imperador de 6oma
CAPTULO VII
! 5a(de ao */sar, exclamaram a um tempo 'ecenas e
,gripa
! Para ti a quisera eu, meu querido administrador
! ,hD , minha, poderoso ,ugusto, / u1a menina
malcriada que h algum tempo anda descontente por dentro
do meu ser
4 'ecenas, dizendo estas palavras, procurou sentar!se
no leito */sar tinha!se sentado sem cerim8nia ao lado de
,gripa
! 5abes, querido genro, disse ,ugusto dirigindo!se a
,gripa, que esta manh minha filha 2(lia me repreendeu
pelas horas que te roubou do seu ladoC , pobre 2(lia no
sabe que nos ocupamos em colecionar as obras dos nossos
queridos amigos $orcio e %irglio, para enriquecer com elas
minha biblioteca grega e latina do templo de ,polo
! ,s mulheres so egostas, senhor= nenhuma delas
compreende sacrificar um instante de felicidade pelo p(blico,
disse 'ecenas
! 4 todavia, nada lhes agrada tanto como exigir
sacrifcios dos homens, tornou ,gripa
! Deixando as mulheres tais quais elas so, tenho que
dar!vos uma boa notcia, disse o */sar " nosso mui querido
Piso, prefeito da cidade, conseguiu afinal compilar num
volume as obras da 5bila *(mea, e desde amanh os
;BM
numerosos frequentadores do teatro 'arceio podero l&!las
na minha biblioteca, "tvio
! "s deuses me concedam vida suficiente para ver
terminada a nossa obraD terminou 'ecenas
! Pois ento toca a trabalharD
4 ,ugusto, 'ecenas e ,gripa puseram!se a folhear
volumes que colocavam depois com ordem em uma estante,
formando antes um ndice em longos pedaos de papiro que
se achavam estendidos na mesa
,queles tr&s homens passaram grande parte do dia
nesta ocupao bibliogrfica, enriquecendo com os seus
trabalhos as duas bibliotecas fundadas por ,ugusto "
bondoso imperador desviava de vez em quando os olhos dos
livros para os fitar no plido semblante de 'ecenas Depois,
aquele olhar encontrava!se com o de ,gripa seu genro, e
ambos faziam um imperceptvel movimento contristado
"taviano ,ugusto dizia sempre, quando nomeava seus
quatro amigos $orcio e %irglio, 'ecenas e ,gripa-
! " meu maior desgosto ser sobreviver!lhes
, morte dos seus dois poetas favoritos encheu!o de dor
porque, folheando seus versos +assa)a as horas me*hores
da sua )ida< Huando, algum tempo depois, a morte lhe
arrebatou 'ecenas e ,gripa, que to bons conselhos lhe
haviam dado durante seu longo reinado ,ugusto chorou e
sua desconsolao foi to grande que deixou crescer a barba
e, cortando o trato com os homens, passou os (ltimos anos da
vida a instruir seu sobrinho 3ib/rio nos deveres dum bom rei
4nquanto esses ilustres personagens se ocupavam com
o af e interesse dum antiqurio, em colecionar os volumes
para os transportarem para a biblioteca, $erodes, seguido
dum crescido n(mero de escravos e duma luxuosa comitiva,
;FT
entrava em 6oma pela via 3riunfal e, atravessando o 3ibre
pela fonte 2anculo, dirigia!se ao palcio de */sar ,ugusto
" Gdumeu chegava 0 cidade do *apit#lio chamado pelo
imperador para defender!se da acusao de seus filhos
$erodes montava um cavalo de raa siraca= a sua direita
cavalgava 'rio, seu patrono= 0 esquerda, *ingo, o escravo
negro 5eguiam!no alguns escravos luxuosamente vestidos e
uma liteira recamada de ouro, com as varas de prata Depois
seguia!o Paulo ,tem com seus trezentos cavaleiros romanos,
e em (ltimo lugar uma r/cua de possantes machos, que
conduziam as tendas, a bagagem e alguns presentes que o rei
tributrio trazia da Palestina ao imperador
Huando */sar ,ugusto regressou 0 casa, achou
$erodes e sua comitiva esperando no amplo vestbulo ,
humildade e mod/stia do poderoso "tvio, que caminhava a
p/ e vestia como o (ltimo dos cidados da rep(blica,
contrastava com o luxo insolente e afetado do escalonita, do
rei tributrio de 2ud, do primeiro escravo de 6oma
,ugusto recebeu $erodes com a amabilidade que tinha
por costume e fez com que se hospedasse em sua casa "
baixo adulador Gdumeu, que devia a cora a 'arco ,nt8nio,
esquecendo!se do seu protetor to depressa como ,ugusto se
fez senhor do imp/rio do mundo depois da batalha de Rcio,
implorou e obteve, 0 fora de ouro e baixezas, a proteo do
sobrinho de 2(lio */sar Gmitando ,rist#teles GG, rei de
2erusal/m, que depois de considerveis somas deu uma vida
de ouro a Pompeu, seu vencedor, o escalonita, dese9ando ter
sua parte o senhor do mundo na questo promovida por seus
filhos, e sabendo a insacivel sede de ouro que predominava
entre os romanos no seu tempo, trouxe infinitos presentes
para os 9uzes e uns cachos de p/rolas para o */sar, entre os
quais se achava um de grande valor e dum gosto delicado,
;F+
pois o art6?i"e tinha colocado algumas p/rolas negras e
bronzeadas misturadas com as brancas, imitando dum modo
prodigioso a aproximao da vindima
$erodes, como era astuto, no se esqueceu de
transportar de 2erusal/m dois grandes caix)es de livros
hebraicos para as bibliotecas do */sar, presente que ,ugusto
agradeceu Huando, na seguinte manh $erodes pediu
licena a ,ugusto para apresentar!lhe os presentes, o Gdumeu
entrou na cAmara do seu senhor
! 4ste cacho de p/rolas, ilustre */sar, lhe disse, trouxe!
os de 2ud para que os mandes colocar na vide de ouro de
,rist#bulo, meu antecessor, para que 6oma ve9a que a vide
de 2ud/ia d fruto nas mos do teu servo $erodes
Desde ento, ,ugusto prop8s!se, escudado com a lei
quarta das 3buas, conceder a $erodes todos os direitos que
como pai tinha sobre seus filhos
,visados ,lexandre e ,rist#bulo de que seu pai se
achava em 6oma para defender!se da acusao, prepararam!
se para a defesa 'rio, patrono de $erodes, era um desses
legistas que com o poder da palavra, e o engenho dos seus
escravos para a defesa, fazem do mais desprezvel
delinquente o her#i mais simptico e digno da terra, $erodes
foi defendido com tal maestria, com tanta eloqu&ncia, com
tal l#gica, que o tribunal viu no Gdumeu um homem de honra,
e na sua desgraada 'ariana uma mulher corrompida e
ad(ltera 3eve!se em conta a lei hebraica que manda matar as
esposas que esquecem os deveres e $erodes foi absolvido
depois de vinte dias de debates
" tribunal, por conselho de ,ugusto e querendo que se
respeitasse a lei das Doze 3buas, entregou os filhos ao pai,
para que obrasse com eles como lhe aconselhasse o corao
;F;
4nquanto isto acontecia o manpulo Paulo ,tme no se
descuidava Diariamente concorria ao campo de 'arte em
busca de aventureiros que recrutasse na sua pequena legio
*ingo, escravo de $erodes, fiel ao seu senhor, astuto
como uma cobra, espiava o romano sem que ele o
percebesse, chegando a tal extremo sua ast(cia e fingimento,
que Paulo, crendo na palavra do etope, o 9ulgava um inimigo
irreconcilivel de $erodes e no teve inconveniente em
confiar!lhe todo o plano 4sta confiana perdeu!\ 3udo
estava preparado- a partida marcada pelo */sar, era no
primeiro dia das *olendas de 9unho e Paulo estava nomeado
chefe da escolta que devia levar a 2erusal/m o rei tributrio
Huatro galeras do */sar esperavam no porto martimo
de *ivita!%ecchia para os transportar 0s praias de *esar/ia
3udo estava pronto e, na v/spera da partida ,ugusto com o
seu carter conciliador, quis que $erodes e seus filhos
9antassem com ele, crendo que por este meio se
reconciliariam aquelas desintelig&ncias de famlia
" Gdumeu fingiu durante o banquete uma bondade uma
tolerAncia para com seus filhos, que estava mui longe de
sentir ,o terminar o banquete, solicitou de ,ugusto uma
confer&ncia secreta e ambos passaram a uma sala retirada
Huando $erodes se viu s# com ,ugusto, tirou uma folha de
pergaminho dentre as pregas da t(nica e apresentou!se ao
*/sar
! Hue / istoC perguntou "tvio fitando os olhos no
escrito 'as antes que $erodes lhe respondesse, exclamou
com doloroso acentoD
! ,hD ,inda h no meu imp/rio quem conspire contra
as ordens que ditoD *om que esses revoltosos filhos de
'arte, confiando na minha clem&ncia, conspiram contra os
reis que eu prote9oD 4sta bem, $erodes, est bemD 4u
;F?
agradeo!te a descoberta, que em honra da verdade mais
competia a Piso, prefeito geral da cidade, que a ti, que /s
forasteiro
! " nome de *ingo que aparece nesta lista, deve
excluir!se do castigo, porque *ingo / o meu escravo favorito
Perderia gostoso a vida por obedecer 0s minhas ordens- pois
prevendo eu desde 2eric# que meu filho ,ntpatro e Paulo
estavam de acordo, mandei ao meu escravo espiar o (ltimo
durante a viagem e a sua perman&ncia na cidade do 3ibre
! Nas con9ura)es, amigo $erodes, lhe respondeu
,ugusto, os reis que como eu no gostam de derramar
sangue, dirigem!se ao cabea, para castigar "s reis
sanguinrios so bestas ferozes que os novos deveriam
esmagar como as vboras venenosas
,ugusto conhecia a ferocidade do Gdumeu e acentuou
as (ltimas palavras $erodes baixou covardemente os olhos
para o cho Depois destas palavras, ,ugusto encaminhou!se
para a porta e, levantando o reposteiro chamou um dos seus
leitores, dando!lhe ordens em voz baixa <ma hora depois, o
reposteiro tornou a levantar!se para dar passagem a dois
soldados romanos= um deles era Paulo ,tme= o outro, um
velho que vestia o uniforme de centurio ,ugusto deteve um
momento o olhar no semblante de Paulo, que estremeceu
levemente, e depois disse!lhe, estendendo!lhe o pergaminho
que lhe havia apresentado $erodes
! Pelos deuses do *apit#lio, pela honra de teus pais e
pela gl#ria da guia, que serve de cimeira ao estandarte do
teu manpulo, exi9o!te que me digas se / certo o que diz este
pergaminho
! W certo, */sar
! 5# ,ugusto levanta legi)es em 6oma, exclamou o
imperador com voz ameaadora= ningu/m mais que eu tem
;FB
direito a conceder as coroas tributrias nos meus domnios
3u faltas 0 lei= morre pois, como soldadoD
4 ,ugusto, tirando a espada que pendia do cinturo de
Paulo, disse!lhe com voz en/rgica, apresentando!lhe pelo
punho-
! 3oma
Paulo no esperou que lhe repetissem a ordem- sem
vacilar, sem se deter, compreendendo o que o */sar lhe
queria dizer entregando!lhe sua pr#pria espada, com um
valor digno de melhor sorte, atravessou o peito, caindo
ensangVentado sobre a alfombra do pavimento
! ,ssim devem morrer os traidores que ameaam a
exist&ncia dos reis a quem concedo hospitalidade no meu
palcio, tornou ,ugusto, afastando os olhos do cadver de
Paulo
4 depois, vendo que as duas testemunhas, $erodes e o
centurio, nada diziam ante aquele drama sangrento,
continuou, dirigindo!se ao velho soldado-
! 3u, meu leal ,ntoninho, escoltars o rei a 2erusal/m,
obedecendo suas ordens como as minhas pr#prias Prepara!
te, pois, para te achares amanh, quando a luz da aurora
sa(de 6oma, com tua cent(ria, no embarcadeiro do 3ibre- e ,
voltando!se para $erodes, continuou- podes confiar nele= /
um velho e leal servidor, que pele9ou comigo no 4gito
Pouco depois os litores mandavam enterrar o cadver
de Paulo
LIVRO EUTO
CAPTULO I
;FF
8 A N T A I A
" sol desaparecia atrs das azuladas montanhas que
servem de pedestal ao templo de 2(piter " bosque do divino
2(lio, agitado pelas brisas da tarde, sacode os empoados
loureiros, que perfumam o ambiente com sua aroma ,
violeta abre o calix erguendo!se para o c/u, e o magn#lio das
Endias inclina o seu corpo de margim para a terra ,s
palmeiras e os pinheiros estendem suas sombras para o
"riente em busca da noite "s rouxin#is, ocultos nos
frondosos espinheiros, batem alegres as asinhas e as
tranquilas caudas, esperando que o z/firo noturno lhe roce as
penas para enviarem ao *riador o canto das trevas
"s pastores conduzem seu inocente gado ao aprisco e o
laborat#rio campon&s regressa ao lar, sentado no duro dorso
dos pacientes bois, com o rosto coberto de suor e p# ,s
montanhas de ,lbano, rodeadas de seus filhos, e sentadas
debaixo do tosco coberto das suas choas, entoam alegres o
po/tico canto da noite, prel(dio amoroso que indica o
regresso de seus maridos ,s naus do 3ibre, ancoradas,
enrolam sobre a coberta os toldos de lona que livraram os
tripulantes durante o dia dos raios do sol, e as ligeiras
andorinhas giram alegres em derredor dos galhardos mastros
4 l ao longe, coberta por um c/u de cor pl(mbea envolta
numa densa n/voa, ergue!se 6oma, essa cidade que enche
com o seu nome o universo, e da qual o mundo foi uma
provncia *em templos pagos se erguem altivos no seu
seio- o sol os banha a todos com os seus derradeiros raios ,
paz, a moleza enervou o brao dos seus soldados %&nus
adormeceu o valor dos seus her#is
, via Rpia, esse bazar do amor e da galanteria, esse
ponto de reunio onde o soldado se converte em sibarita,
;FI
onde o epigrama substitui a espada, e o perfume a couraa=
esse passeio favorito da elegante sociedade de 6oma, onde
fervilha a 9uventude, superficial, escrava da moda no tempo
de ,ugusto, / onde vamos deter!nos um momento 5e o
cendor Rpio *ludio *rasso se houvesse levantado do
sepulcro no tempo de ,ugusto, indubitavelmente teria
reconhecido aquele caminho que ele traara quatrocentos
anos antes
2 no era por onde chegavam 0 4uropa as
preciosidades da Rsia e Rfrica= era antes um elegante
arrabalde de 6oma ,s casas de campo tinham!se convertido
em espl&ndidos palcios= os t(mulos em elegantes e colossais
mausol/us " sil&ncio da morte, a ma9estosa frialdade das
urnas funerrias, importavam mui pouco 0 elegante e viciada
9uventude de 6oma
*cero havia dito- .Desde que os homens no so to
singelos, os orculos emudeceramC
6oma, pois, comeava a rir!se at/ dos seus deuses
, via Rpia tinha!se convertido no teatro das suas
aventuras amorosas "s vivos falavam de amor sentados
sobre as cinzas dos mortos " banco de pedra que rodeava o
sepulcro de 5ipio, serviu mais duma vez de cadeira a "vdio
para recitar 0 9uventude a sua Ars amandi ,s patrcias
9untavam!se ao p/ do mausol/u de Rpio, sentando!se sobre
ricos panos de brocado de ouro ,li esperavam os seus
amantes com o voluptuoso olhar na direo do campo de
'arte, e, agitando um leque de penas e aspirando os
perfumes de um frasco de ess&ncia, agaurdavam com a
cabea preguiosamente apoiada no mrmore do sepulcro
"s cavaleiros percorriam a via Rpia desde as cercanias
de ,lbano, at/ 0s muralhas de 6oma e pouco lhes importava
que o precipitado galope dos seus ligeiros cavalos numidas
;FP
perturbasse o pesado sono da morte *upido impelia os
cora)es para %&nus, e o amor, quase sempre egosta,
esquecia tudo menos o gozo, as esperanas, os voluptuosos
sonhos
Naquele pamat#rio da corte de ,ugusto falava!se de
modas, discutiam!se as pomadas e os perfumes que suavizam
e embelecem a c(tis, a largura das t(nicas, o peso dos an/is,
a dimenso dos mantos e os adornos do calado ,li se
travavam acaloradas disputas sobre o corte dos cabelos e o
maior ou menor comprimento da barba
Por toda parte se viam ligeiros eisium com suas caixas
de vime, carros tirados por tr&s mulas a9aezadas com peles de
leopardo e multido de cascav/is de prata Por todo lado,
andavam os redos, trazidos das @lias, com suas quatro
rodas douradas, seus coxins de p(rpura e seus flutuantes
panos de seda arrastando pelo cho, onde, sentadas com a
gravidade duma esttua de pedra, iam as matronas vestidas
com sua estola branca como a neve de ,rar, envoltas em
finssimos mantos escarlates que flutuavam 0 merc& do vento
mostrando os rolios braos cheios de braceletes
,li se viam as patrcias com suas coroas de diamantes,
mostrando ao descer da carruagem os pequeninos p/s nus,
perfumados com a pomada de lentisco e violeta "s escravos
estendiam um pano das @lias 9unto da carruagem, para que
a senhora no tocasse nunca o imundo p# da terra com os
p/s 4nto aquelas lAnguidas sensitivas do 3ibre, aquelas
formosas filhas do amor e da preguia, davam alguns passos
apoiando as mos nos nervudos ombros dos escravos, como
se lhes faltasse alento para caminharem s#s e, sentando!se
num flcido almofado, comeavam a brincar com umas
bolinhas de Ambar, que tinham o duplo privil/gio de
perfumar o ambiente e as mos
;FS
'as no eram s# as mulheres que caminhavam desde
modo= os homens, os descendentes daqueles bravos que
tinham conquistado o mundo, tamb/m buscavam o apoio que
sustentasse as suas cansadas foras No era estranho
encontrar no meio daquela alegre e resplandecente reunio o
impassvel fil#sofo, que envolto no seu velho manto olhava
com desprezo essa vaidade da terra e o suplicante mendigo,
que se deleitava 9unto o repugnante cheiro de seus farrapos
com o aromtico perfume das cortess
'as estes fantasmas que a ci&ncia e a mis/ria faziam
passar diante dos sonolentos olhos das corrompidas cortess,
dissipavam!se depressa ,o mendigo lanavam uma moeda,
ao fil#sofo, um sorriso de desprezo= depois, a nuvem
dissipava!se, o prazer chegava e o deus cego, fazendo!lhes
esquecer a alma, apresentava!lhes em cheio os encantos da
mat/ria
,ssim passava duas horas a elegante sociedade de
6oma, at/ que o sol, escondendo!se completamente atrs das
encostas do "cidente, deixava o imp/rio 0 noite, que estendia
o seu l(gubre manto sobre os t(mulos e os palcios da via
Rpia ,i aquele lugar ficava deserto, 6oma tornava a receber
em seu seio seus alegres filhos "s prazeres no tinham
terminado
, noite tinha tamb/m seus encantos na cidade do 3ibre
"s buf)es da @r/cia, as bailarinas de *abes, os
gladiadores da Rfrica, o c8mico Pilades, o mmico 7tilo, os
tigres, os le)es, os elefantes, os leopardos, chegavam
diariamente 0 ptria de 68mulo para entreterem o #cio dos
afortunados filhos da loba
,ugusto tinha fundido sua baixela, conservando
somente um vaso, herana de seu tio 2(lio */sar, e cento e
cinquenta milh)es de sest/rcios se gastaram em teatros,
;FM
hip#dromos e na via Olamnia ,ugusto quis ver feliz o povo
e o sbio imperador no encontrava obstculo para
conseguir
'as no entremos em 6oma= detenhamo!nos um
momento na via Rpia , lua, clara e radiante, subia serena
por um c/u sem nuvens, banhando com seus raios os t(mulos
e os elegantes palcios da via Rpia, pouco antes to
concorridos <:a mulher, ou melhor, um fantasma em forma
de mulher, caminhava em direo a 6oma 5eu longo cabelo
ruivo caa!lhe sobre os ombros, flutuando 0 merc& do vento
da noite <ma t(nica preta presa na cintura por um cinturo
de ao era seu tra9e 5ua fronte era cercada por uma coroa de
folhas secas , mo direita apoiava!se num bculo de abeto,
e na esquerda podia ver!se uma varinha de metal, em cu9o
extremo figurava a uma esp/cie de vaso formado por cinco
cabecinhas de vboras Ga descala e parecia muito cansada
Parou um momento ,quela mulher, extremamente morena,
tinha uma formosura selvagem "s olhos pretos como a
noite, sombrios como o remorso, agitavam!se nas #rbitas
lanando olhares ameaadores , fronte altiva e ampla, os
lbios grossos e tingidos de um carmim vivssimo, o nariz
perfeitamente delineado e reto, davam aquele semblante
alguma coisa de l(gubre e medonho
Dificilmente teria podido dizer!se a idade daquela
via9eira que, com passo moderado, percorria os t(mulos da
via Rpia a tal hora da noite De vez em quando erguia os
olhos ao c/u, e entreabrindo os lbios, um rugido de ira lhe
saia do peito 'as, breve, com se um poder misterioso lhe
houvesse castigado a soberba, exalava um gemido,
inclinando a fronte para a terra e murmurando estas palavras-
! ,i dos deuses do "limpo de $omeroD ,i dos augures
da cidade do 3ibreD , lagoa 4stgia agita as guas, a esfinge
;IT
de @izet cai do seu pedestal e afunda!se nas areias do
deserto ,i de n#s, que no podemos sentar!nos na trpode do
tempo de DelfosD
Depois desta dolorosa lamentao exalava um suspiro
profundo, extenso, e continuava o caminho, que interrompera
entre lamentos ,ssim chegou a um t(mulo que se erguia
solitrio na borda do caminho, e sentou!se no banco de
pedra, e apoiou a fronte no mrmore do mausol/u
estremeceu ao sentir o contato da fronte da estrangeira= mas
ela, profundamente abismada na sua dolorosa meditao, no
percebeu aquele acontecimento sobrenatural , estrangeira
continuava exalando fundos suspiros, quando uma voz, que
parecia romper do fundo do t(mulo, lhe falou assim-
! Huem vem perturbar com seus gemidos o sepulcral
sil&ncio da morteC
! 4u, disse a estrangeira erguendo!se
! 4 quem /s tuC
! <ma estrangeira que vem do centro do mundo, que
deixou atrs de si o golfo de *orinto, e que caminha em
busca da orgulhosa 6oma %enho de Delfos
! %iste o orculo de ,polo, visitaste o templo da
musasC
! 5im, mas quem /s tu que me diriges a palavra do seio
dum t(muloC
! , lua banha com sua luz clara a lpide morturia do
meu t(mulo l& se sabes
, estrangeira desviou!se alguns passos do mausol/u,
onde pode ver esta inscrio, gravada no mrmore-
VIA'ANTEA
%ET(M O PAO! E AT%A A CINHA
%O CENOR
;I+
VLE TRAMOU O CAMIN0O ON%E
TE AC0A! E 8H! O AEUE%UTO %A
21UA 2PIA< ROMA A1RA%ECI%A
L0E LEVANTOU ETE MAUOL(U<
A%EU< N APLAU%E
! 3u /s Rpio, o censor, o que escreveu a lei das Doze
3buasC
! 5abes se os romanos se regem ainda por elasC
! ,inda esto penduradas nos muros do *apit#lio- teus
contemporAneos as gravaram em doze tbuas de ouro
! 4m que ano nos achamos da fundao de 6omaC
! No ano de PF;
! 4nto h quatrocentos anos que descanso neste
t(mulo U Huem rege a rep(blica romanaC
! 6oma no tem rep(blica
! 4 sofrem!no os patrciosD
! 5im, porque o seu Gmperador "taviano ,ugusto /
senhor do mundo
, voz do t(mulo guardou sil&ncio por um breve
espao= depois continuou deste modo-
! Huem /s tu que tens o poder de agitar as minhas
cinzas, e dar voz ao meu espritoC Pertences 0 famlia dos
deusesC
! 5ou a sibla *(mea
! , sibla *(mea, a sibla de 3arqunio abrindo os
fossos do *apit#lio sobre a rocha 3arpeia, a vender os livros
sibilinosC
! 5ou a mesma
! *omo gozas duma ancianidade to dilatadaC No
cortaram as Parcas o fio da tua vidaC
;I;
! 5im, morri- o velho Huiron conduziu minha alma pela
lagoa 4stgia= visitei a caverna da morte e vi as tr&s parcas-
Laquesis, de cu9os dedos brotam milhares de fios= *loto, que
sustenta eternamente o fuso= e Rtropos, com suas incansveis
tesouras de diamante que cortam sem cessar o fio da vida "
meu caiu tamb/m sob o corte incansvel da sua arma fatal
! *omo, pois, ouo a tua voz, se deixaste de existirC
! ,hD respondeu a sibla exalando doloroso lamento
3&mis ordenou a suas filhas que renovem por breves dias o
fio da minha exist&ncia= pois sou portadora da (ltima misso
do orculo de Delfos, do divino ,polo, que 9 no responde
0s perguntas que lhe fazem "s deuses pagos estremecem e
caem derrotados dos seus pedestais, fugindo
precipitadamente para a caverna de Pluto, onde choraro
eternamente sua impot&ncia " 3it do *ucaso, o ladro
divino, o soberbo Prometeu, rompeu cadeias de diamante e
viu morrer sobre o seu ensangVentado peito o corvo
insacivel 2(piter, rei dos deuses e dos homens, vacila no
seu trono de marfim= o cetro cai!lhe das mos= os raios
queimaram!lhe a fronte= a guia fecha as asas e a Oormosa
4be chora sem consolao, a seus p/s 2uno, sua esposa e
irm a um tempo, no ouve os rogos das rec/m!casadas e
afasta os olhos das mes primparas 'inerva cerrou o livro
da sabedora %esta viu como espanto apagar!se o fogo
sagrado " escudo de Palas quebrou!se em tr&s pedaos
%&nus, filha do amor e da formosura, chora a ingratido de
4ros, seu cupido favorito 6/a viu morrer os le)es do seu
carro e cair as torres da sua coroa , serpente de 5aturno 9
no morde a cauda, nem a foice est nas mos dele Diana
percorre os bosques atribulada, porque as suas flechas so
impotentes contra os gamos 'arte sentiu medo no corao
, formosa cabeleira de ,polo encaneceu numa noite= sua
;I?
sonora lira quebrou, e as nove musas, filhas de 2(piter e
'nemosine, choram amargamente percorrendo os montes
Pi/rio, $/licon e Parnaso
! *essa, cessaD 4xclamou a voz do t(mulo, fantasma
evocado do averno= esprito infernal, que vens turbar com
tuas palavras o tranquilo sono da morte %ai!te, deixa!me
repousar em paz e no te deleites em pintar!me a runa dos
deuses do "limpo
, estrangeira p8s!se em p/ soltou doloroso suspiro, e,
tomando o caminho de 6oma, disse-
! Dorme em paz, Rpio= mas, se a tua alma vagueia
errante pelas regi)es do desconhecido em busca dum perdo
que no podem conceder!te os deuses pagos, dirige!a para
Gsrael, terra prometida onde nasceu o verdadeiro Deus, o
5alvador do mundo, o 'essias anunciado pelos Profetas
! 4 que nome tem esse DeusC
! 2esus se chama= 6edentor do mundo ser
4nto ouviu!se um gemido no seio do t(mulo= a lua
escondeu!se atrs do recortes duma nuvem de Rpio *ludio
*rasso, caiu ao cho feita em pedaos= os mrmores
estremeceram e a sibila *(mea, inclinada a fronte para o
cho, apoiado o corpo no ca9ado que lhe servia de arrimo,
encaminhou!se para 6oma, pronunciando estas palavras-
! ,i dos deuses do "limpo de $omeroD ,i dos augures
da cidade do 3ibreD , lagoa 4stgia agita suas malditas
guas= a esfinge de @izet cai do seu pedestal e afunda!se nas
areias do deserto ,i de n#s, que no poderemos sentir!nos
na trpode do templo de DelfosD Porque o Deus verdadeiro
nasceu em Gsrael= porque o 6edentor dos homens desceu 0
terra para derrotar os deuses pagos
;IB
CAPTULO II
O OR2CULO %E %EL8O
4nquanto a sibila *(mea se encaminhava para 6oma
pela via Rpia, dois cavaleiros percorriam a larga rua de 2uno
em direo ao monte Palatino , 9ulgar pelas manchas de
barro que lhes salpicavam os flutuantes mantos e as ricas
peles de leopardo dos cavalos, a chuva devia t&!los
incomodado pelo caminho
<m dos cavaleiros era moo, teria vinte e quatro anos,
de estatura mediana, e parecia distinto, pelo ar marcial e
desenvolto com que montava 4ra de plido e gracioso rosto,
ainda que no con9unto se lhe notava certa rigidez nas fei)es,
lhe dava um ar sombrio e taciturno , claridade da lua p8de
ver!se que o mancebo levava uma cobra do diAmetro de duas
polegadas enroscada no pescoo, cu9a chata cabea
acariciava de vez em quando com a mo ou com o extremo
inferior da barba, perfeitamente feita
*hamava!se 3ib/rio e era sobrinho de ,ugusto e estava
destinado a ser imperador de 6oma " indivduo que
cavalgava a seu lado parecia um atleta e chamava!se 'acron=
era o escravo favorito do futuro tirano, do que mais tarde,
baldo da humanidade, havia de matar u:a me porque
chorava a morte do filho que lhe mandara degolar e havia de
arrancar os cabelos e soltar gritos de desespero porque
*art(cio se matou no crcere antes que lhe chegasse a nova
da morte do tirano
"s dois cavaleiros chegaram ao p#rtico do palcio de
,ugusto, e apearam "s soldados do */sar rodearam os
forasteiros, estranhando!lhes a franqueza com que se
introduziam no palcio do seu senhor a tal hora da noite
;IF
! HueC 2 me no conheceis, lobos caducosD Disse
3ib/rio imperiosamente 3o depressa se apagou da vossa
mem#ria a fisionomia do sobrinho do vosso senhorC Nesse
caso, aconselho!vos a que depositeis um corao de pomba
aos p/s de 4sculpio para que v#s refresque a mem#ria e vos
abra os olhos
Dizendo isto atirou as r/deas do cavalo ao escravo
'acron
! 5a(de a 3ib/rio, nosso generalD exclamaram alguns
soldados inclinando!se
! @raas se9am dadas a 2(piter imortal, lhes respondeu
3ib/rio
4, tirando a cobra que se lhe enroscava no pescoo, a
entregou ao escravo dizendo, depois de acarici!la
! 'acron, toma a minha favorita guarda!] 'eu ilustre
tio sente, sem razo, repugnAncia para com estes r/pteis
3odos os grandes homens t&m coisas pequenas 2(lio */sar,
nosso parene escondia!se nos subterrAneos do palcio quando
as nuvens troavam sobre 6oma ,ugusto, meu tio,
estremeceu s# 0 vista duma cobra
'acron p8s com impassibilidade a cobra no peito, e,
enquanto 3ib/rio subia as largas escadas do palcio,
encaminhou!se para as cavalarias, seguido dos corc/is
Huando 3ib/rio chegou 0 antecAmara do imperador,
disse laconicamente a um dos litores que viu ao seu
encontro-
! Dize a */sar que 3ib/rio est aqui
! 'eu querido tio tu quiseste que abandonasse a minha
rocha solitria para me estabelecer no teu palcio de 6oma, e
os teus dese9os so ordens para 3ib/rio ,qui me tens, falou
ele
;II
! "s anos comeam a dobrar!me o corpo para a terra,
querido sobrinho, lhe disse ,ugusto Preciso dum brao
9ovem e robusto que diri9a o imp/rio depois da minha morte,
e quero colocar!te na frente a coroa e nos ombros o meu
manto imperial
! 4u sou o teu primeiro escravo, senhor, lhe disse=
manda= mas preferiria a solido da minha rocha de 6odes ao
bulcio de 6oma
! *hamei!te, pois, continuou ,ugusto desatendendo as
palavras de 3ib/rio, porque dese9o instruir!se nos deveres de
um rei clemente e 9usticeiro , paz, meu filho, deve ser o
primeiro cuidado dos reis
3ib/rio tornou a inclinar!se
4stiveram falando por espao duma hora ,ugusto
mandara que o sobrinho se estabelecesse no seu pr#prio
palcio numa cAmara contgua 0 sua Huando o imperador
lhe disse que podia retirar!se, pois que no dia seguinte
continuariam a conversao, 3ib/rio falou-
! 5enhor, antes de nos separarmos quisera interceder
por um desgraado que geme num crcere, na praia do Ponto
4uxino, recordando na sua solido os encantos de 6oma, os
gozos da via Rpia
,ugusto franziu o sobrolho- um olhar de c#lera lhe
passou como raio pelos olhos, sempre bondosos 5ua rugosa
mo travou do brao de seu sobrinho, apertando!o com uma
fora incrvel para os seus anos= um tremor lhe agitou o
corpo, e depois, com uma pausa cruel disse, olhando com
severidade a 3ib/rio
! "vdio Nason, o poeta cnico, o corruptor da
9uventude romana, ainda que dotado por ,polo dum n(mem
fecundo e criador, morrer encerrado nos crceres de
;IP
5armcia= no tornes a interceder em seu favor 6oma e os
seus prazeres no existem para ele
,ugusto despediu 3ib/rio com um gesto " imperador
ficou um momento taciturno, com os braos curvados sobre
o peito e os olhos no cho, como se o nome de "vdio, o
cantor inspirado da Ars amat,ria, de 'edea e do poema A
/ata*ha de A"io, lhe houvesse evocado na mente dolorosas
recorda)es
Desse atitude veio tir!lo um litor anunciando!lhe que
uma mulher estranha e coberta de p#, que dizia vinda de
Delfos, mostrava grande empenho em falar!lhe, apesar do
adiantado da hora
! Hue quer de mim essa estrangeiraC perguntou o */sar
! Diz que vem falar!lhe da parte do orculo de Delfos
,ugusto estremeceu
! Disse!te o nomeC
! 5im, mas todos nos rimos= deve ser uma louca= diz
que se chama a sibila *(mea
! ,bri!lhe as portas, exclamou ,ugusto estremecendo=
deixai passar a enviada do orculo de Delfos
*(mea, apoiada no ca9ado, entrou na cAmara do
imperador "ito litores com suas varas de sarmento na mo
ficaram 9unto da larga cortina da porta, como esperando a
ordem do seu senhor , sibila, com passo grave, fatdico,
misterioso, chegou a colocar!se at/ tr&s c8vados de ,ugusto
! 3u 9 no /s, ,ugusto, lhe disse *(mea, com uma voz
grave que parecia sair do t(mulo, o rei mais poderoso e
grande da terra, porque nasceu o teu 5enhor em 7el/m de
2ud 4is aqui a (ltima revelao de ,polo, antes de
emudecer para sempre, antes de descer ao inferno para uma
eternidade
;IS
, sibila partiu a varinha de ao que levava na mo e as
vboras de metal que lhe adornavam o extremo agitaram!se=
e, tirando um papiro enrolado, p8!lo nas mos de ,ugusto "
*/sar, sobressaltado, agitado desenrolou o papiro e p8s!se a
ler com voz insegura estes tr&s versos, (ltimas palavras do
orculo de Delfos-
Me +uer he-rae! di)os %eus i+se gu-ernans!
Credere sedem ;u-et! tristem&ue reddire su- ,reum< Aris
ergo *ime ta"itis a-s"edite nostris<
,penas ,ugusto, pronunciara a (ltima palavra dos tr&s
versos do orculo, quando *(mea, estendendo o brao para o
"riente exclamou-
! De Gsrael brota a luz que h de dissipar as trevas ,i
dos cegos id#latras do "limpoD ,i dos deuses pagosD 2esus
mandou!os emudecer, e caem ante o seu glorioso nome dos
soberbos pedestais para baixarem ao infernoD
,ugusto apertava o papiro entre os dedos, tremendo
ante o fatdico eco da sibila @rossas gotas de suor lhe caam
da fronte *(mea continuou-
! 2 cumpri a (ltima misso do orculo= Rtropos, corta
o fio da minha exist&nciaD
, sibila soltou um gemido doloroso, extenso " ca9ado
desprendeu!se!lhe das mos= os olhos fecharam!se!lhe, e caiu
em cheio sobre a alfombra
,ugusto, espantado, saiu da estAncia apertando os
fatdicos versos com mo tr&mula "s litores abalanaram!se
a levantar a sibila= mas, ao por/m as mos sobre o corpo de
*(mea, s# acharam um esqueleto envolto no escuro roupo
que a cobria " pAnico apoderou!se dos servidores do */sar,
e fugiram daquela estAncia 4ntretanto ,ugusto chegava ao
;IM
camarim de $erodes= e o Gdumeu, vendo!o entrar com o
semblante descomposto, sentou!se os almofad)es do leito,
sobressaltado
! Dize!me, lhe disse o imperador sem lhe dar tempo,
sabes alguma coisa desse 6ei poderoso, desse novo Deus de
deuses que os orculos dizem ter nascido em 7el/m de 2udC
$erodes, sossegando da surpresa que aquela visita lhe
causava, explicou a ,ugusto a chegada dos caldeus a
2erusal/m, o rumor do povo hebreu, e as semanas de Daniel
comentadas pelos rabinos " */sar ficou pensativo, e disse-
! 3u, parte amanh= procura!me esse menino, esse 2esus
anunciado pelos profetas, e manda!o a 6oma escoltado como
um 6ei poderoso= quero que entre pela via triunfal no meu
carro de ouro, quero tributar!lhe as honras do triunfo
$erodes prometeu buscar aquele 'enino e cumprir as
ordens do */sar Huando ,ugusto, pouco depois, se deixava
cair no leito, agitado e febricitante, com o papiro que
encerrava os tr&s versos do orculo de Delfos na mo, um
litor, entrou para dizer!lhe que a sibila *(mea tinha morrido
! Pois bem, respondeu ,ugusto, enterrai o cadver nos
fossos da muralha, e no torneis a interromper!me= quero
est s#
! 5enhor, tornou o litor com uma entoao que
mostrava o medo de que se achava possudo, no / um
cadver, / um esqueleto
! Pois enterrai o esqueletoD
"s litores foram executar as ordens do */sar- mas o
esqueleto da sibila *(mea tinha desaparecido
CAPTULO III
UM CORAMRO %E 0IENA
;PT
*omo acontece sempre, 0 noite sucedeu a luz da aurora,
e $erodes abandonou a casa de ,ugusto para empreender a
viagem para 2erusal/m seguido dos escravos, ainda
sobressaltado com as (ltimas palavras do imperador "
idumeu, astuto e precavido, havia solicitado do imperador,
alegando a sua pouca sa(de que o obrigava a permanecer
sentado a maior parte do dia, que a viagem se fizesse por
mar, embarcando no 3ibre " */sar acedeu, e ordenou que as
galeras se achassem no embarcadeiro de 6oma
, acusao de seus filhos ,rist#bulos e ,lexandre, a
con9urao de ,ntpatro e Paulo para o assassinar, tinham!
lhe feito conceber um desses planos ferozes que com tanta
facilidade se arraigavam no seu perverso corao
.'eus filhos, tinha dito consigo, conhecem!me, e
durante a viagem por terra tentaro escapar!se, o que no /
muito difcil= mas por mar / outra coisa, pois ningu/m me
impede que os amarre 0 proa da galera, de onde no podero
mover!se contra minha vontade1
$erodes mandou conduzir seus filhos at/ 0s margens do
3ibre numa liteira custodiada pelo seu fiel escravo e, mandou
embarc!los na mesma galera que devia transport!lo ,s
galeras esperavam a comitiva para celebrar as cerim8nias do
costume antes da partida ,s embarca)es estavam ataviadas
como para uma festa 'ultido de grinaldas de flores e
vistosas bandeiras pendiam do mastro grande, da proa e da
popa ,s tr&s ordens de remeiros, sentados nos bancos com
as ps levantadas tr&s c8vados sobre a amarelada superfcie
do rio, esperavam o sinal do comitre para empreenderem a
partida 5obre o castelo da popa achava!se o comandante, o
piloto e o galinheiro 4ste tinha na mo uma gaiola em que se
;P+
viam alguns pintos, animais indispensveis para se
celebrarem os auspcios
$erodes subiu ao castelo da popa, e principiou a
cerim8nia, sem a qual no podia uma embarcao abandonar
o porto " comitre descarregou uma forte pancada com o
grosso bordo que tinha na mo sobre uma tbua 3odos em
p/ elevaram sua orao aos deuses imortais Depois o
ga*inheiro deitou dois punhados de trigo 9unto da gaiola e
abriu as portas, deixando em liberdade os inofensivos
animais, que se atiraram com avidez ao cobiado gro 4nto
um ancio venervel de branca barba e de estranho e vistoso
tra9e se adiantou at/ colocar!se 9unto da gaiola 4stava
vestido com uma t(nica listada de p(rpura escarlate, presa
por colchetes de ouro <m barrete c8nico de fundo branco
com os signos cabalsticos pretos lhe cobria a venervel
cabea , sua destra empunhava uma varinha curva de metal
4ste ancio era uma augure, esp/cie de sacerdotes
encarregados de profetizar o futuro, por quem os romanos
tinham uma venerao sem limites
Depois duma pequena pausa, durante a qual examinou
com ateno como comiam os pintos, o ancio levantou os
olhos ao c/u com fantica e supersticiosa atitude e, tocando
um dos pintos com o extremo da vara, exclamou alto para
que o ouvissem os tripulantes das tr&s galeras que se
achavam ao redor-
"s pintos comem com avidez o gro cai!lhe dos bicos
espalhando!se pelo cho 7om agouroD 7om agouroD
<m grito de prazer ressoou nas galeras 4nto
sacrificaram algumas vtimas, por felicidade da viagem 5e
algu/m houvesse espirrado durante a cerim8nia 0 esquerda
do comandante, ou alguma andorinha houvesse passado,
;P;
revoando por cima da embarcao, suspender!se!ia viagem
3al era, na /poca, o fanatismo dos romanos
" augure, vendo que a cerim8nia havia terminado sem
interrupo e vendo al/m disso, o c/u limpo e claro, deu
permisso ao chefe para que as galeras sassem do porto
4nto o augure foi transportado a margem numa esp/cie de
canoa, e durante a curta passagem acompanharam!no as
be)es e os brados dos tripulantes Depois o comandante deu
ordem de partir " comit& deixou cair pela segunda vez o
basto sobre a tbua, e as ps dos remeiros, como dirigidas
por uma s# mo, caram a um tempo nas guas do rio
,s galeras, empuxadas pela corrente e pelos remos,
comearam a deslizar sobre as amareladas guas do 3ibre em
direo ao mar 3irreno ,penas desembocavam no mar,
armaram!se as velas, porque o vento era favorvel
$erodes estava deitado em moles almofad)es dum
toldo de tela, que se colocara para livrar o ilustre passageiro
dos raios do ardente sol de 9unho "s dois filhos, vigiados
por *ingo e seus companheiros, achavam!se na proa da
mesma galera ,inda que o tribunal tivesse pronunciado a
sentena em favor do pai, concedendo!lhe todos os brbaros
privil/gios da lei G% $erodes, fingindo seguir os conselhos
de ,ugusto, mostrara!se com seus filhos, durante os (ltimos
dias de perman&ncia em 6oma, de uma amabilidade tal que
*/sar 9ulgou terminadas as quest)es enfadonhas de famlia
Livre da con9urao de Paulo, graas ao incansvel zelo
de *ingo e navegando para a costa, segurou da gente que o
escoltava, apenas a quilha da sua galera rasgou as guas do
'editerrAneo, mandou os escravos para maior segurana
por/m uma cadeia ao pescoo de seus filhos
" comandante da frota e o centurio ,nt8nio olharam
com repugnAncia aquele ato de barbaridade paternal, mas no
;P?
se atreveram a opor!se ,rist#bulo e ,lexandre conheceram
desde aquele momento o desastroso fim que os guardava=
mas, 9ovens e valentes no permitiram a seu pai ver!lhes nos
lbios seno um sorriso de desprezo
, frota chegou sem tropeo, depois de alguns dias de
viagem, 0 costa de Oencia $erodes viu do castelo da popa
da sua galera as altas cordilheiras do Lbano, e mandou que o
piloto atracasse no porto de 7erito, que se via a duas milhas
do mar, nas praias do 'editerrAneo ocidental " piloto
dirigiu a proa das embarca)es para a costa e, um hora
depois os remadores, abandonando os bancos, atracaram os
navios nas estacas e argolas do embarcadouro de 7erito
$erodes falou ao comandante da flotilha que queria
seguir a viagem em liteira e, depois de distribuir uma quantia
considervel pelos tripulantes, desembarcou na praia,
seguido de ,nt8nio com a sua cent(ria 4nto a escolta do
rei tributrio e os habitantes de 7erito, que tinham acudido
atrados pela curiosidade, presenciaram uma cena terrvel,
cruel e inumana $erodes achava!se deitado molemente nos
almofad)es da sua liteira falando com o escravo *ingo,
enquanto desembarcavam os cavalos da cent(ria que deviam
escolt!los at/ 2erusal/m
! *umpre as minhas ordens, *ingo, e aviemo!nos, disse
$erodes ao escravo= tenho dese9o de entrar em 2erusal/m e
ver meu filho ,ntpatro
*ingo afastou!se da liteira e foi reunir!se com os
escravos, que cuidavam das bagagens e dos presos,
esperando as ordens do amo 5em que ningu/m
compreendesse o motivo, seis dos escravos, com maravilhosa
rapidez, cravaram na m#vel areia uns cavaletes de madeira
em forma de forcas, e, antes que os espectadores pudessem
entender algo, aqueles malvados, cegos instrumentos do
;PB
feroz escalonita, lanaram um lao corredio aos pescoos
dos infelizes ,lexandre e ,rist#bulo e arrastando!os com
incrvel ferocidade, os enforcaram 0 vista de todos, sem que
ningu/m se atrevesse a evitar aquele ato de barbaridade
,queles desgraados prncipes lanaram horrveis
maldi)es durante a prolongada agonia da sua morte 'as
seu pai, em cu9o corao no existia nenhum sentimento belo
nem humanitrio, presenciou a execuo com indiferena "
povo e os soldados romanos soltaram um grito de horror
4nto $erodes, estendendo o corpo o mais que p8de pela
portinhola da liteira, exclamou com voz forte e vibrante-
! 6omanosD OenciosD "uvi- esta / a 9ustia que o rei de
2erusal/m manda fazer nas pessoas de seus rebeldes filhosD
Para 2eric#D
Gsto disse $erodes= suas palavras gelaram de espanto os
ing&nuos habitantes de 7erito e os rudes soldados do
*apit#lio Depois correu as cortinas da liteira e deixou!se
cair nos almofad)es , comitiva p8s!se em movimento pela
via 6omana que atravessando a @alil/ia e a 5amaria,
conduzia 0 cidade favorita do Gdumeu
"s dois cadveres, pouco depois balanceavam!se em
sil&ncio sobre as areias da praia "s corvos do Lbano
fare9aram a carne morta e, abandonando suas c8ncavas
rochas, comearam a revoar, soltando estridente grasnidos
sobre as forcas
" pai brindava!os para o festim com os cadveres de
seus filhos= mas os habitantes de 7erito frustraram!lhes as
carnvoras esperanas, dando sepultura ignorada e humilde
0queles dois prncipes desventurados
;PF
$erodes chegou 0 sua cidade favorita Durante o
caminho ,nt8nio e sua cent(ria, aterrados com a cruel
vingana daquele pai brbaro, seguiram tristes a liteira do
seu novo senhor como se fosse o cadver dum general
querido, morto no campo da batalha , ordem que tinham
era de obedecer $erodes ,queles soldados rudes e curtidos
na guerra obedeciam sem replicar, mas com repugnAncia
Huando o Gdumeu chegou a 2eric#, mandou %erutdio
com a sua legio sobre 2erusal/m, a cidade santa
" general romano devia apoderar!se de ,ntpatro e
transport!lo a 2eric# carregado de cadeiras= mas o prncipe
rebelde, sabendo que seu pai lhe frustrara os planos, antes
que os soldados romanos chegassem 0s muralhas de
2erusal/m, 9ulgou!se perdido e saiu da cidade, disfarado,
durante a noite, e, graas 0 velocidade do cavalo, conseguiu
salvar!se do perigo que o ameaava ,lguns c(mplices de
,ntpatro foram levados para os crceres da torre ,nt8nia,
carregados de ferro
Huando o feroz $erodes soube que seu filho se evadira,
teve um acesso de ira terrvel ,quele monstro, esquecendo!
se da dignidade real, rasgou os vestidos e, atacado de
terrveis dores de est8mago, que sofria, revolveu!se pelo
cho, lanando espuma e blasf&mias 'ais que um monarca,
parecia um porco, mais que um homem, assemelhava!se a
uma besta imunda, devorada pelas mordeduras dos insetos
venenosos Huando o escalonita era atacado daqueles acessos
de furor, s# duas pessoas se atreviam a falar!lhe- seu neto
,quiab e o seu escravo *ingo= porque era perigoso trat!lo
naqueles momentos
! ,quiabD ,quiabD @ritou!lhe o feroz Gdumeu, cravando
os espantados e vidrentos olhos no menino, que tremia ao seu
lado 5e algum dia chegares a p8r uma coroa na cabea,
;PI
lembra!te da hist#ria do ,m(lio e 6emo e 68mulo 'ata,
meu filho, mataD Porque os usurpadores sempre usurpam
com o poder a vida aos reis
" menino, que era o enfermeiro do av8, crendo que
aqueles gritos eram filhos das agudas dores que sentia,
tr&mulo e aturdido, pegou num copo, e, esvaziando nele o
conte(do duma garrafa, foi oferec&!lo ao av8, dizendo-
! 7ebe= isto te sossegar
! ,hD exclamou o enfermo= tu tamb/m queres
envenenar!meD
4sta desconfiana fez corar o 9ovem Duas lgrimas se
lhe desprenderam dos olhos, e como resposta aplicou aos
lbios o copo, bebendo metade do conte(do
! 7ebe, avozinho, tornou a dizer!lhe
$erodes, envergonhado, bebeu o resto do lquido, e
depois disse, procurando ameigar a voz
! %ai!te, ,quiab, vai!teD Huero estar s# com *ingo
" menino saiu, depois de bei9ar a testa do velho
4nto $erodes sentou!se, e, cravando os fosf#ricos
olhos em *ingo, disse!lhe, estendendo o brao para a porta-
! , 7el/m, *ingoD , 7el/m, e que no fique nem um
belemitas de dois anos para baixo em todos os seus
contornosD 5ou o rei de 2ud e quero que por minha morte a
coroa passe a meus filhos e aos filhos de meus filhosD
*ingo saiu " Gdumeu, quando se viu s#, murmurou-
! ,ugusto quer que lhe mande 2esus como um rei para
lhe tributar as honras do triunfo querer dar!lhe a minha
coroaC
4 comeou a afagar a coroa que sempre tinha ao lado e
a sorrir!se de modo feroz dizendo-
! No ir a 6oma, no ir a 6oma- os mortos nem
reinam, nem falam, nem se vingam
;PP
CAPTULO IV
CQNTICO %E ALE1RIA
*antal, aves do "riente, das altas copas das rvores que
vos servem de ninho 4stendeu as asas de variadas cores, que
9 o z/firo matinal roa com seus delicados bei9os as vossas
macias plumas 6osas de 2eric#, aromticas ervas do
*armelo, delicadas aucenas de Qabulon, violetas do 2ordo,
estendei sobre a terra o perfume dos vossos clices, porque 9
a delicada aurora derrama sobre v#s o cristalino rocio que
vos sustenta e aformoseia Perfumai o ambiente, alindai a
terra, porque o c/u puro e radiante se sorri sobre v#s, a brisa
murmura melanc#lica entre as verdes ramas das palmeiras de
2erusal/m
Nunca dia to belo, to risonho, estendeu sobre a f/rtil
Palestina os seus radiantes esplendores, a sua po/tica e
formosa melodia "s homens abandonam suas casas com o
primeiro raio de sol que v&m saud!los, e encaminham!se
alegres para os seus campos com o esprito tranquilo e o
semblante risonho Porque um c/u sem nuvem espanta os
pesares= porque o sol quando nasce sem manchas que o
obscurecem, sem nuvens que o ocultem, derrama sobre os
filhos do trabalho um bem estar, uma alegria inexplicvel
, po/tica harmonia da manh que nasce, ao inimitvel
canto das aves que a sa(dam, ao inebriante aroma das flores
que a perfumam, ao delicioso sopro da brisa que geme
acariciando as copas das rvores, 0s nuvens de p(rpura e
prata que precedem o sol, une!se para mais embelezar os
encantos do dia, o alegre canto das mulheres de 7el/m e
6am, que ao som de pastoris instrumentos se dirigem
;PS
prazenteiras e ataviadas par a cidade de Davi, como se
fossem 0 festa dos abemos da cidade santa
"nde se encaminham com os seus mais luxuosos
tra9esC Porque levam todas um tenro infante nos braos que
sorri como a luz da aurora 0s doces carcias e aos alegres
cantares de suas mesC Hue novidade ocorre em 7el/m, que
por toda parte se dirigem para o seu empinado cume as
mulheres de 2ud, cheias de prazerC
<m ancio envolto no largo e raiado alquicer dos
habitantes da praia do 'ar %ermelho seguia o caminho que
conduz 0 infecunda Gdum/ia= v& as mulheres que caminham
para ele em sentido oposto "s cantos, os gritos de alegria, os
risonhos semblantes chamam!lhe a ateno e det&m!lhe o
passo ,poiado no seu grosso bordo de cedro, para na
margem do caminho e espera!as
! 'ulheres de 2ud, lhes diz com tr&mulo acento,onde
correis em alegre companhia to de manh, com vossos
tenros primog&nitos nos braosC
! ,ncio, responde a mais faladora de todas, quem
ignora em 7el/m e seus arredores o regozi9o das mesC
! 4u sou estrangeiro 'inha tenda levanta!se na
,rbia P/trea e ho9e passo pelas tribos de Gsrael como as
aves de emigrao em busca do ninho
! Dirige os teus passos para o templo de 5ion= vem
conosco e te faremos participante da nossa imensa alegria
! No posso= meus filhos e minha esposa esperam!me
nas praias do mar %ermelho *ada sol que morre arranca
uma lgrima a seus olhos aquela lgrima / uma recordao
tributada 0 minha mem#ria 'as contai!me o motivo do
vosso contentamento, para que eu nos ser)es do inverno o
refira a meus filhos quando ao calor da fogueira lhes narre as
aventuras das minhas viagens
;PM
! No podemos deter!nos= em 7el/m nos esperam antes
que termine a viglia matutina- disso depende o futuro de
nossos filhos
! 4nto no vos detenho a paz se9a convosco
! *ontigo v, honrado estrangeiro
" ancio encaminhou!se para os montes da 2ud/ia ,s
mulheres alegres e 9ubilosas comearam a subir as faldas do
monte, em cu9o topo descansa a ptria imortal de Davi, o
santo bero de 2esus
6etrocedamos algumas horas para sabermos a origem
da alegria e contentamento das belemitas
,o cair da tarde do dia antecedente, *ingo, o feroz
escravo de $erodes, chegou com um forte destacamento 0
cidade de 7el/m " b/lico som da trombeta anunciou aos
pacficos belemitas que ia publicar!se algum edito do */sar
ou do seu rei $erodes No se enganavam- um arauto, com
clara e vibrante voz, disse estas palavras que se foram
repetindo como um eco por todos os extremos da cidade-
.4u, $erodes, rei da 2ud/ia, governador geral das doze
tribos de Gsrael, pelo presente edito, mando e ordeno- que
todas as mes de 7el/m e suas cercanias que tiveram filhos
var)es de idade de dois anos para baixo, que se apresentem
com seus filhos nos braos no trio da piscina grande de
7el/m, amanh, durante a viglia matutina para perceberem o
pr&mio que me apraz conceder!lhes pelo precioso dom de
primogenitura que o Deus de 5ion lhes concede para honra
de seus nomes e aumento e gl#ria da sua raa , me que,
desobedecendo este edito, faltar 0 hora e ao lugar citado, ser
castigada com a separao de seu filho *umpra!se minha
real vontade 4u, $erodes1
4stas palavras percorreram a cidade de Davi e suas
cercanias, enchendo de prazer os cora)es das mes, que
;ST
sonharam durante a noite no brilhante futuro que o seu rei
destinava a seus filhos *omo faltar ao chamamento, quando
a pontualidade era premiada e a falta castigada com
separao dos filhosC 'as a, mes infelizes, que,
desconhecendo a inaudita barbaridade do rei, corriam
9ubilosas a p8r seus cAndidos cordeiros sob o machado dos
verdugosD
" lugar destinado para a horrvel matana era um largo
ptio, rodeado de muros *ingo, o encarregado de levar a
efeito as ordens secretas do escalonita, rodeado dos seus
terrveis companheiros, esperava o momento da matana ,s
inocentes mes comearam a entrar no sangrento matadouro
"s meninos sorriam!se nos seus braos, e elas saudavam
com amabilidade os verdugos, mostrando!lhes prazenteiras o
adorado fruto das suas entranhas= e assim foram chegando
uma ap#s outra, at/ que se encheu o loca 4nto *ingo
estendeu um olhar de sangue sobre aquele quadro de
maternal amor, que se agitava em torno de si= 9ulgou chegado
o momento de executar as ordens de seu senhor <:a me se
aproximou para perguntar!lhe quando se lhe distribuiria o
galardo prometido ,quela infeliz levava dois meninos= o
menor dormia= o maior 9 de dois anos, sorria apoiado no seu
brao
! Huando se distribuem os pr&mios, senhorC Perguntou
a me inocente 3enho pressa= os servios de casa me
aguardam
! ,gora mesmo ficars livre e senhora da tua vontade,
respondeu *ingo= e, estendendo o nervudo brao, antes que a
me infeliz desse por isso, apoderou!se do tenro pimpolho, e
arrancando!o do seu brao, arremessou de encontro ao
Angulo do muro
;S+
, me abriu os olhos com espanto e, soltando um grito
horrvel, aterrador, caiu sem sentidos ,quele grito foi o sinal
da matana
"nde achar cores bastante poderosas para a bosque9ar
o quadro dos mrtires belemitas, com a verdade horrvel e
sangrenta, quando s# com trazer 0 mem#ria to
incompreensvel barbaridade, exala um grito de espanto o
corao e uma lgrima de dor brota nos olhosC 5to
,gostinho, com o seu fecundo e poderoso g&nio, sua santa e
elevada inspirao, com os inimitveis rasgos da sua imortal
pena, descreveu o quadro da degolao com uma verdade,
com um sentimento a que / mui difcil aproximar!se
"uamos, pois, por um momento o africano convertido,
o poderoso autor da Con?isso e da Cidade de %eus , sua
narrao, / clara como a luz do dia, sint/tica como a dor,
inspirada como as lgrimas que brotam das almas doloridas
Diz assim-
CAPTULO V
LAMENTO %E %OR
@rande martrioD *ruel espetculoD Desembainha!se o
alfan9e sem haver causa que o desembainhe 4nsanguenta!se
furiosa a inve9a sem que ningu/m lhe oponha resist&ncia, e
recebe a ternura dos golpes que no tinha podido provocar ,
amarga queixa das mes superava o triste gemido dos
degolados cordeirinhos ,rrancava os cabelos a infeliz me
quando os ferozes verdugos lhe arrebatavam dos amorosos
braos a metade da alma
;S;
<:a me vendo desconsolada que, despadaando!lhe a
prenda do seu corao, a deixavam com vida, dizia ao
verdugo-
! .Para que me deixasC 5e h culpa, essa / minha
'inha, no ouvesC 5e no h delito e / s# pelo prazer de
matares, ento 9unta o meu sangue ao de meu filho, e livra!
me deste modo da dor que sinto
."utra, aflita me dizia- , um buscais, e amuitas
destruir= e a esse que buscais nunca encontrareis "utra
infeliz, apertando contra o dolorido corao o corpo
ensangVentado do filho, exclamava levantando os chorosos
olhos para o c/u-
! .%em, 9, 5alvador do mundoD Por mais que te
busquem a ningu/m, temes- ve9a!te o tirano e no tire a vida
a nossos queridos filhos1
,t/ aqui 5to ,gostinho
" sangue inocente tingia a terra , dor de algumas
mes era to intensa, to terrvel, que se sentavam no cho
com os despedaados corpos dos filhos nos braos e
comeavam a embal!los e a cantar!lhes para os
adormecerem ,quelas desgraadas tinha os olhos sem
lgrimas, o sorriso nos lbios, e cantavam, porque tinham
perdido a razo "utras, mais varonis e menos resignadas
com a sua sorte, ao verem maltratados os queridos pedaos
das suas entranhas, arro9avam!se contra os verdugos como as
panteras feridas, e caiam depois duma luta desesperada,
afogadas no seu sangue, sobre o cadver dos filhos
'ais de sessenta belemitas sacrificadas ao furor de
$erodes, 9aziam degolados no largo do ptio da piscina "
quadro era horrvel, espantoso, sem exemplo , hist#ria
recorda!o como assombro
;S?
, cruel matana tinha terminado, e os verdugos
dispunham!se a abandonar aquele imenso bazar de sangue e
dor, quando viram uma mulher que se dirigia para aquele
local com um menino nos braos ,quela infeliz, ignorante
do que a esperava, ia!se aproximando!se para o matadouro
dos inocentes entoando alegres cantares De vez em quando
elevava 0 altura da fronte os delicados pezinhos do infante,
apoiando!os sobre o rosto e bei9ava!os " menino ria!se das
ternuras que ela lhe manifestava *ingo saiu ao encontro
daquela mulher e, sem despregar os lbios estendeu a calosa
mo e agarrou o menino por uma perna , inocente
criaturinha ficou pendente da mo do verdugo com a cabea
para baixo , mo soltou um grito de surpresa= o menino
rompeu em amargo choro
! ,i de ti, miservel escravo, exclamou a mulher com
as fei)es horrivelmente contradas, se tocas num s# cabelo
desse meninoD
! Nada temas, lhe respondeu *ingo sorrindo!se dum
modo feroz= quanto a ele, no me denunciar aos 9uzes de
2erusal/m
! 3reme, infame, tornou a mulher, a quem dois sat/lite
de *ingo tinham segurado- esse menino / o herdeiro da
coroa de 2ud, / filho de rei, e est destinado a ocupar o
trono
,o ouvir estas palavras, no escuro semblante de *ingo,
brilhou uma alegria feroz
! ,hD com que, este menino / o 6ei de 2udC Pois este
mesmo procuramos= o sangue derramado podia muito bem
ter!se evitado= e, fazendo girar o menino como um malinete
sobre a cabea, o despediu pelo ar com toda a sua farsa
5eus companheiros soltaram uma gargalhada horrvel, e
apararam nas mos aquele corpo que o chefe lhes enviara
;SB
pelo ar <m deles separou com a espada a tenra cabea do
inocente corpo, e apresentou!a ao chefe, dobrando um 9oelho
o cho dizendo com incalculvel caninos-
! *ingo, eu te apresento a cabea dum rei- no te
esqueas de me dar o galardo
, infeliz mulher no p8de resistir ao sangrento
espetculo, e caiu de costas, sem sentidos
*ingo atou a cabea do menino numa ponta do manto,
e saiu ,s mes ficaram s#s naquele lugar de horror e sangue
4spantadas, chorosas, sem compreenderem o que lhe
acontecia, permaneceram horas e horas 9unto dos restos
despedaados dos filhos, como se mo poderosa as prendesse
a pesar seu naquele lugar
*hegou a noite, e a lua clara e formosa derramou a
chuva de prata que lhe brota da fronte sobre aquele campo de
sangue Dir!se!ia que o astro luminoso das trevas por
vontade suprema brilhava com mais claridade que nunca,
para que as almas dos belemitas chegassem ao c/u guiados
pelos seus tbios e radiantes resplendores
"s pais regressaram 0 casa, terminadas as quotidianas
fadigas do campo , sua dor, o seu assombro foi grande ao
saberem a horrvel trag/dia acontecida durante a sua
aus&ncia 'as aiD ,queles infelizes e indefesos lavradores,
que outra coisa podiam opor ao furor de $erodes e ao poder
dos romanos, que as suas lgrimasC *horaram sim,
lgrimas de fogo= lamentos de dor inexplicvel se ouviram
em 7el/m e suas cercanias, que chegaram at/ aos sepulcros
dos mortos= e estes uniram as sus lgrimas e lamentos com os
que lhes tinham sobrevivido para presenciar a inexplicvel
cena da degolao dos inocentes
7el/m, ptria de Davi, bero de Deus, foi a me dos
primeiros mrtires do *ristianismo
;SF
" sorriso daqueles an9os, imolados pelo custeio dum rei
sanguinrio, cai ainda ben/fico e fecundo como o rocio
matinal sobre as flores, adoando as amarguras das almas
crists que curvam a fronte ante o lenho santo que semeou a
fecunda semente da liberdade do homem, da caridade e da
mansido
CAPTULO VI
AN1UE NO ROTO
"s verdugos de 7el/m chegaram 0 cidade santa ao cair
da tarde *ingo distribua entre os seus ferozes companheiros
o preo do seu horrvel morticnio, e aqueles miserveis
espalharam!se pela cidade, ansiosos por afogar com os
vapores do vinho o remorso do crime que acabavam de
perpetrar
Naquela noite os habitantes de 2erusal/m, a cu9os
ouvidos tinha chegado a notcia do sangrento drama,
presenciaram cenas de incrvel cinismo "s companheiros de
*ingo percorriam as ruas /brios, fazendo alarde da sua brutal
ferocidade, e disputando entre si o n(mero de vtimas que
imolara a sua cruel espada <m deles mostrava o brao
coberto de feridas aos seus amigos, dizendo-
! 4u cortei vinte cabeas, vede aqui os dentes das mes
"s companheiros soltaram uma feroz gargalhada= mas
no meio daquelas risadas selvagens, incompreensveis,
flutuava uma coisa sombria 4ra o terrvel fantasma do
remorso que cravara as envenenadas setas nos cora)es
daqueles miserveis assassinos
'ais tranquilo que os seus sat/lites, o escravo favorito
encaminhou!se para o palcio de seu senhor *omo sempre,
;SI
penetrou no quarto de dormir de $erodes pela porta secreta
" Gdumeu passeava agitado, quando *ingo entrou na cAmara
<m sorriso feroz lhe apareceu nos lbios
! *ingo
! 4sts obedecido
! 3odosC
! 3odos, respondeu o escravo com o seu acostumado
laconismo
$erodes exalou um suspiro do fundo do corao
! 5e havermos de dar cr/dito a uma das mulheres que
ficaram chorando em 7el/m, tornou *ingo com uma frieza
cruel, o 6ei de 2ud no deve inspirar!te o menor receio- eis
aqui a sua cabea 4 o escravo, desdobrando a ponta do
manto, apresentou a cabea do menino que to cruelmente
arrebatara dos braos da (ltima belemita
$erodes pousou aquele membro insepulto sobre u:a
mesa, e comeou a examin!lo em sil&ncio ,s envidraadas
pupilas do Gdumeu fitavam!se com estranha tenacidade no
lvido semblante daquela cabea ensanguentada De vez em
quando esfregava os olhos, como se algum estorvo lhe
impedisse de examinar 0 sua vontade aquelas fei)es
inanimadas
! W estranho, murmurou, parece que 9 vi esta cara
*ingo nada dizia "rgulhoso por ter desempenhado to
fielmente a terrvel misso de seu senhor, esperava
impassvel a recompensa que, segundo o costume, devia
seguir o servio prestado
$erodes, sempre preocupado com o exame da cabea e
como se uma d(vida o atormentasse, pegou pelos cabelos
ensanguentados o crAnio do menino e aproximou!se da
9anela, como se quisesse, com os (ltimos raios do sol poente,
desvanecer as d(vidas que sentia Neste momento ergue!se o
;SP
pesado reposteiro que cobria a porta, e uma mulher plida,
ensanguentada e com os olhos inchados, apresentou!se na
sala
, mulher soltou um rugido reconhecendo *ingo
$erodes voltou a cabea
! 3u aqui, 6ebecaD perguntou o rei com estranheza
! 5im euD 4xclamou a mulher com um rouco e
nervoso acento 4u que venho entregar ao rei de 2erusal/m
o corpo de seu filho, para que o uma com a cabea que tem
nas mosD
4 6ebeca lanou aos p/s de $erodes o mutilado tronco
dum menino que levava escondido debaixo do manto
! ,hD exclamou o Gdumeu, retrocedendo alguns passos
4nto esta cabeaC
! W a de teu filho, do filho que confiaste aos meus
cuidados, que eu alimentei com o leite do meu peito= teu
filho, que este infame assassinou por ordem tuaD
4 6ebeca estendeu o brao na direo de *ingo
$erodes soltou um grito e deixou cair a cabea, que
rolou pelo cho produzindo um rudo oco e frio Depois
levou as mos ao rosto para ocultar aos olhos o cadver do
(ltimo fruto do seu amor= por/m aquelas mos estavam tintas
com o seu pr#prio sangue, e aquele sangue manchou!lhe o
rosto
" escravo no despregou os lbios= esperava a sua
sentena, e atrav/s da sua negra pele empalideceu 6ebeca,
qual a sombra do remorso, terrvel, ameaadora, permanecia
no meio da sala, sempre com o brao estendido na direo do
etope
! Deixai!meD Deixai!meD gritou o rei com acento
ameaador depois de um momento= mais levai esse corpo
;SS
ensangVentado da minha presena 5ua vista abrasa!me os
olhos e faz!me arder o corao
6ebeca levantou o destroado corpo do menino,
embrulhando!o na saia e depois lanando um olhar
ameaador ao escravo, exclamou em tom prof/tico
! ,i do assassino dos primog&nitos de 2udD 5eu nome
ser maldito pelos s/culos dos s/culos, e na hora da sua
morte, as f(rias do inferno se deleitaro em despedaar!lhe
as entranhas com as lnguas de fogoD
6ebeca saiu da cAmara do rei, apertando contra o peito
o cadver do inocente mrtir *ingo ia tamb/m sair, quando
$erodes exclamou, levantado!se-
! 4spera
! 5enhor, castiga!me= sou digno de tua c#lera 4 *ingo
inclinou a cabea, como se esperasse o golpe que devia
vingar o seu rei
! No temas, *ingo, a fatalidade colocou debaixo do fio
da tua espada o pescoo de meu filho *ulpa / do deus
inimigo da minha raa, e no tua, mas escuta " sangue
derramado ser in(til se no conseguirmos apoderar!nos do
filho de Qacarias e do rebelde ,ntpatro- ao teu zelo confio a
tranquilidade do meu reino *orre, procura, no poupes meio
para que se realizem os meus dese9os 4nquanto viverem
2oo e 2esus, enquanto ,ntpatro gozar liberdade, e coroa
vacila!me na cabea, o poder escapa!me das mos o punhal
dos meus inimigos ameaa!me por toda parte, o meu sono /
intranquilo, a minha vida uma agonia lenta e prolongada que
me consome Porque tu bem sabes, *ingo esta cruel
mol/stia que me devora alenta os meus inimigos Para onde
diri9o os olhos, ve9o!os erguerem!se ameaadores cobiando
o meu cetro e os meus tesouros Por todas as partes levanta
a cabea a con9urao "s fariseus, os ess&nios, cada via mais
;SM
terrveis e provocadores, conspiram at/ no templo de 5io e
nas ruas da cidade santa 4sse dois 'eninos que se livraram
do meu castigo, servem!lhes para concitar os Animos dos
israelitas 'as tu destruras a esperana dos hebreus *orre
corre pois s# em ti confio "s romanos so indolentes e
fazem!se pagar mui caro os servios que me prestam al/m
de que, estes neg#cios deve fazer!se em segredo e deve
preferir!se a noite ao dia- / mais calada
$erodes deteve!se, seus encovados e envidraados
olhos fitaram!se de modo tenaz no impassvel semblante do
escravo, como se quisesse surpreender o efeito de suas
palavras= mas o etope, acostumado a obedecer cegamente,
encaminhou!se para a porta " rei deteve!o, travando!lhe o
brao ,quela familiaridade fez estremecer o escravo
! 5e tu consegues apresentar!me as cabeas de 2oo e
2esus, prometo!te em recompensa um talento hebreu, e
devolvo!te a liberdade
$erodes disse estas palavras vagarosamente e como
deixando!as cair no corao de *ingo
" escravo respondeu com impassibilidade-
! 4ros, escravo de 'arco ,ntonio, imortalizou o seu
nome morrendo aos p/s do seu senhor= a minha (nica
ambio / imortalizar o meu morrendo por ti
$erodes estendeu uma das mos aquele bravo e leal
servidor, que no tinha outra vontade que a do seu amo
*ingo bei9ou aquela mo o que rei estendia, e nos seus
negros e penetrantes olhos, mas suas grosseiras e toscas
fei)es p8de distinguir!se claramente a imensa alegria em
que transbordava o seu corao
! Parte, e no esqueas que te espero
! Nunca descanso quando o meu senhor me encarrega
de alguma coisa
;MT
" escravo saiu do aposento, caminhando de costas at/ 0
porta " rei de 2erusal/m ficou alguns momentos im#vel no
meio da cAmara De repente o semblante tornou!se!lhe lvido
e desfigurado, os olhos escovaram!se!lhe, e todo o corpo se
lhe contraiu dum modo horrvel ,lgumas manchas de cor
purp(rea lhe assomaram ao rosto, e a boca, contrada pela
dor, soltou um prolongado gemido Levou as mos ao
est8mago, e o corpo agitado por uma convulso nervosa, caiu
sobre a fofa almofada, gritando-
! 5ocorro 5ocorroD que morroD
$erodes revolvia!se pelo cho, como um condenado
Pela boca saiam!lhe borbot)es de espuma, e um tremor
convulsivo lhe agitava o corpo Dir!se!ia que o sopro do
inferno lhe queimava as entranhas , famlia correu
precipitadamente e levou!o para o leito "s m/dicos
rodearam!no, prestando!lhe auxlio mas a mol/stia havia se
declarado sem mscara= tinha um cAncer no est8mago, e este
horrvel mal havia de conduzi!lo ao sepulcro brevemente,
depois de o fazer padecer de modo incalculvel
Deus, farto dos crimes do feroz Gdumeu, comeava!o a
castigar, dando!lhe uma agonia longa e dolorosa ,
Provid&ncia / muda, invisvel= mas sua mo poderosa e santa
reparte do c/u os bens e os males com 9ustia irrepreensvel
CAPTULO VII
PRELT%IO %A MORTE
*ingo era homem de clara e rpida imaginao para
conceber e coordenar os golpes de mo que lhe incumbia seu
senhor 7astavam!lhe alguns minutos para formar o plano
;M+
que devia seguir na rdua misso que se lhe confiava
*hegou ao andar baixo do palcio, e, percorrendo um
corredor, entrou na estAncia destinada aos escravos <ma vez
ali, escolheu quatro homens de sua confiana e mandou!lhes
que tirassem das cavalarias cavalos e que deitassem sobre
os ombros o alquicer dos comerciantes rabes, sem
esquecerem o punhal damasceno no cinto
Oeitos os preparativos esperou impassvel que o sol
dobrasse as encostas do "cidente, e ento com o favor das
trevas saiu seguido dos seus sat/lites da cidade santa <ma
vez no campo, informou os companheiros da importante
misso que lhe havia confiado o rei= depois, com esse
sil&ncio que precede os assassnios, encaminharam!se para o
sul de 2erusal/m, em busca da cidade de ,in, ptria do
7atista
*ingo havia calculado o modo de executar seu plano
3inha dito consigo- 2oo / estimado mais pelos israelitas que
2esus- apoderemo!nos primeiro de 2oo Huanto a ,ntpatro,
filho de $erodes tinha esperanas de o achar em 2eric#, em
casa da escrava 4no/
,in dista s# duas l/guas compridas da cidade santa=
mas como o caminho era montanhoso, e a noite escura, os
perseguidores do filho de Gsabel chegaram quase no meio da
noite aos arrabaldes da cidade *ingo ordenou que um dos
seus companheiros ficasse guardando os cavalos num
bosquezinho pr#ximo da cidade, enquanto ele acompanhado
dos tr&s restantes, se dirigia para a casa de Qacarias
" terrvel drama de 7el/m tinha aterrado as mes de
2ud Huando a noite cobriu com suas espessas sombras o
sangrento quadro, quando se acharam com os mutilados
corpos dos filhos nos braos, sentados num dos cantos de
suas casas, quando seus ignorantes esposos regressaram do
;M;
campo, ansiando por suavizar as fadigas dum dia de penoso e
mprobo trabalho, com o sorriso e os bei9os de seus filhos, e
encontraram a incrvel realidade ante os absortos olhos, a
dor, a desesperao, as lgrimas e os gritos de raiva e
vingana foram incalculveis
Naquele mesmo dia, poucas horas antes, mal o sol
raiara, eles tinham abandonado suas casas para se dirigirem
ao campo ., manh era formosa " ambiente perfumado
com ervas aromticas do *armelo, o c/u azul e sereno de
2ud, o sorriso de seus filhos que nos braos de suas esposas
assomaram 0s 9anelas para lhe dizerem o adeus quotidiano,
tudo lhe anuviava um dia de trabalho, mas feliz e alegre
'as aquele c/u sem nuvens, aquela manh risonha
tinha sido substituda por uma noite de dor, dor tanto mais
terrvel, tanto mais inconsolvel, quando estavam mui longe
de esperar
'as aiD ,queles pais desgraados, aqueles infelizes
israelitas acabaram por chorar, como suas esposas, sobre os
ensaguentados cadveres dos filhos Povo sem caudilho,
raa envilecida pelo 9ugo estrangeiro, punhado de servos que
a orgulhosa 6oma encadeava a seus p/s, eram ento os
descendentes de ,brao, Gsaac e 2ac#
,quele povo privilegiado, aquela famlia de her#is
escolhida por Deus para o bero do %erbo Divino, 9 no
contava entre seus filhos um 'ois/s que os ilustrasse, um
4lias que fizesse chover fogo do c/u sobre os inimigos, um
Davi, que os elevasse, um 5alomo que os enriquecesse e um
2osu/ que, fazendo parar o sol na sua carreira, os cobrisse
com os louros do vencedor
5eu (ltimo chefe, o her#ico 2udas, 'acabeu, o famoso
adailde de Gsrael, o caudilho invencvel de 2ud, ao derramar
a (ltima gota de sangue pela independ&ncia de seu povo,
;M?
tinha for9ado as cadeiras 0s doze tribos de Gsrael, e desde
ento a ignominiosa n#doa da escravido se esculpia com
opr#brio nas suas frontes abatidas
,s setenta semanas de 2ac# tinham!se completado "
'estre anunciado pelos Profetas descera dos c/us , raa
humana contava entre os seus filhos o 5alvador do mundo
'as os 9udeus esqueceram os seus Profetas, fecharam os
olhos 0 luz e os ouvidos 0 verdadeira e, escarrando na 5anta
face de *risto, levantaram sobre o @#lgota, um madeira para
o crucificarem
<:a maldio terrvel pesa desde ento sobre a
miservel raa dos descridos 5em ptria e sem lar, sem leis
que os prote9am, sem templos santos que os admitam nos
seus seios para implorarem ante Deus ofendido o perdo de
suas culpas= raa maldita e desprezvel, sua sorte / vaguear
errante pela larga superfcie at/ a consumao dos s/culo
,t/ 0 pacfica e tranquila habitao de Gsrael tinham
chegado os dolorosos lamentos dos belemitas , nobre velha,
temendo pela sorte do filho, comunicou seus temores a uma
das suas criadas, que nascera em sua casa Qacarias achava!
se em 2erusal/m exercendo os ofcios de seu sacerd#cio= mas
Gsabel no recua no seu prop#sito, e, apenas o (ltimo reflexo
do dia desapareceu atrs das montanhas de 2ud, abandonou
o lar, levando nos braos o pequeno 7atista e, seguida de sua
fiel criada, chegou ao *armelo e estabeleceu!se numa das
suas profundas e ignoradas grutas <m punhado de folhas
secas serve de leito 0s duas mulheres e ao santo precursor de
*risto 'as nada as arreda= ali ao menos 9ulgam!se livres do
furor de $erodes
Perguntam por 2oo e a pergunta fica sem resposta,
porque todos ignoram seu paradeiro, ameaam com a morte
;MB
os criados, e estes lanam!se aos p/s dos verdugos
derramando lgrimas
*ingo precisava duma vtima para aplacar a raiva do
seu senhor Pergunta pelo velho sacerdote e diz!se!lhe que se
acha de semana no templo de 2erusal/m
Parte de ,in, chega a 2erusal/m, penetra na cAmara de
$erodes pela porta secreta com o fim de informar da sua
desgraada misso, e det/m!se ante o espetculo que se lhe
apresenta aos olhos
" Gdumeu estendido no leito, soltando blasf&mias
entremeadas de dolorosos gemidos, revolve!se sobre os
almofad)es 4m poucas horas o semblante do enfermo
desfigurou!se espantasomente 5eu corpo exala um cheiro
repugnante 'ultido de (lceras cancerosas lhe marcham a
lvida pelo do rosto <m suor pega9oso, imundo, sulca a
fronte, e seus olhos encovados e embaciados dirigem, olhares
vagos e amortecidos em torno de si 5alom/, sua irm, agita
um leque de penas sobre a cabea do enfermo para refrescar
a atmosfera, enquanto ,leixo, seu cunhado, borrifa de vez
em quando com ess&ncias olorosas a cama e o corpo de
$erodes
Num extremo da sala acham!se sentados quatro ancios
ao redor de uma mesa <ma lAmpada de prata derrama luz
sobre um grosso volume que se acha aberto 4sse ancios so
os m/dicos do rei que deliberam em voz baixa "uamos o
que dizem-
! , mol/stia descobriu!se por fim- / um cAncer no
est8mago- o mal / terrvel, incurvel
! Nunca devem perder!se as esperanas, replicou outro=
o m/dico tem o dever de arrebatar a presa 0 morte
! Nos nossos livros no existe o rem/dio para o cAncer,
tornou o primeiro
;MF
,l/m do 2ordo, tornou o segundo, acham!se os banhos
quentes de *aliroe= suas guias, que vo cair no mar 'orto,
so medicinais e gratas ao paladar- o meu parecer / que o rei
se banhe em *aliroe 5e isto no o salva, ento preparem o
lenol de linho para lhe envolver o corpo, porque a morte /
certa
! ,inda nos falta tentar, disse um outro, os banhos de
azeite aromtico ,s (lceras da pele cerraro, e o cheiro do
corpo desaparecer
! 3udo / in(til, replicou o primeiro= mas o nosso dever
/ aconselhar, e opto pelos banhos de *aliroe
! " rei tem sessenta anos- com esta idade e com esta
mol/stia, o m/dico mais sbio s# pode enganar a morte por
alguns dias= aconselhemos, pois, os banhos de *aliroe
4ste parecer, que foi o dum ancio que no tinha
despregado os lbios at/ ento, foi aprovado pelos
companheiros e, depois de trocarem frases em voz baixa, um
dos m/dicos aproximou!se do leito do enfermo
! Hue opina a ci&ncia, amigo 2oaquim, deste pobre
enfermoC Perguntou $erodes vendo acercar!se o m/dico
favorito
! , ci&ncia opina, senhor, que deves tomar os banhos
de *aliroe
! 'as eu sofro horrivelmenteD W preciso que busqueis
alguma coisa que minore os meus padecimentos 5e no para
que sois m/dicosC Para que vos pago, para que vos tenho em
minha casaC Pedi ouro, mas dai!me sa(de= 9 que estudastes
o rem/dio dos males do corpo, apagai este inferno que me
devora as entranhasD
! , ci&ncia aconselha os banhos
! 'as a ci&ncia responde!me pelos resultadosC
! " futuro est nas mos do Deus invisvel
;MI
! Deixais o meu corpo nos braos do acasoC
! No= a prtica / a nossa mestre, e ela nos aconselha o
que n#s te aconselhamos
! 4nto no v&s, desgraado, que mal posso mover!meC
'eu corpo incha a cada momento, as (lceras alargam a cada
instante, minha carne apodrece *omo queres que me ponha
a caminho, se todos os tormentos do inferno nada sero
comparados com os que vou sofrer durante a 9ornadaC
! <ma liteira conduzida pelos teus escravos pode
transportar!te, sem que sofras com isso mais do que agora
! 4st bem, tornou $erodes, entrego!me nas vossas
mos= fazei de mim o que vos aprouver, mas salvai!me a
vida Porque no quero morrer ainda entendeisC
! 4nto manda que se prepare tudo para o novo sol
! PtolomeuD PtolomeuD exclamou $erodes dirigindo a
palavra ao velho guarda!selos= bem ouves, disp)e tudo- a luz
da aurora no deve ofender!nos em 2erusal/m
,s ordens de $erodes nunca se demoravam= todos
foram saindo da habitao para se prepararem para a 9ornada
De vez em quando $erodes estremecia, e, cobrindo o
rosto com a colcha, murmurava-
!Passai, ensanguentados fantasmas, no quero ver!vos,
no quero no, no, noD
CAPTULO VIII
A PRO8ANAMRO
" rei fico s#, deitado no leito , lAmpada lanava seus
raios melanc#licos sobre a face lvida e contrada do
enfermo " semblante do Gdumeu causava horror ,quele
enfermo, apesar do leito de marfim, das suas colchas do
;MP
4gito e dos almofad)es de damasco, parecia um velho
asqueroso e repugnante " remorso imprime uma n#doa
espantosa no rosto do criminoso
*ingo, que permanecera oculto atrs das pregas duma
cortina, entrou na sala apenas viu que se achava s# o seu
senhor " escravo, andando nas pontas dos p/s para no
fazer barulho, acercou!se do leito do seu senhor
Neste momento $erodes tinha os olhos fechados=
parecia um cadver " escravo contemplou!o alguns
instantes ,quele negro infame, homem cruel e sanguinrio
que imolava com o punhal assassino todas as vtimas que lhe
indicava o amo, parecia comovido ante o leito do senhor
5eus olhos umedeceram!se e um spero e prolongado suspiro
se escapou de seus grossos lbios " escravo adorava ao
senhor 5eu amor sem limites o teria colocado como um deus
no altar de 5ion= porque, para *ingo, o rei $erodes era tudo
no mundo
" enfermo abriu os olhos e viu a negra figura
! ,hD Ws tu, meu leal *ingo, disse com voz desfalecida
No sabesD "s m/dicos desconfiam, a ci&ncia / impotente, e
deixam!me morrer, mas ai delesD " meu (ltimo suspiro ser
a sua sentena de morte
! 5enhor, lhe disse o escravo- se a sa(de, se a vida
pudesse transmitir!se como a riqueza, tua no morrerias,
porque eu te daria a minha vida e sa(de para te salvar
! 7em sei, *ingo, bem sei, tu /s bom e leal= eu no te
hei de esquecer na hora da minha morte
! %ai e no te ocupes de outra coisa= a tua sa(de / para
mim mais que a liberdade e a fortuna
! 3u no /s meu escravo, /s meu amigo, meu
confidente
! 5enhor
;MS
! Huando me vir livre desta horrvel enfermidade, hei
de nomear!te general das legi)es herodianas, hei de dar!te
carta de homem livre, e ters um palcio em 2erusal/m e
outro em 2eric#
! Deixa!me teu escravo 5# ambiciono servir!te, ainda
que esta noite me foi impossvel cumprir as tuas ordens
! No te compreendo
! Gsabel, esposa de Qacarias, fugiu de casa levando
2oo
! Para ondeC perguntou $erodes assentando!se como se
aquela notcia o houvesse curado dos padecimentos
! Ggnoro 'as tenho um meio de descobrir o seu
paradeiro
! Oala
! Qacarias / sacerdote ,cha!se de semana no templo
! Na cidadeC
! 5im, em 2erusal/m
! Hue o pai nos indique o lugar onde se acha escondido
o filho
! 6ecusar!se!- os israelitas so teimosos
! 4nto e *ingo afagou o cabo do seu punhal
! W verdade, *ingo= com esses sonhadores eternos, com
essa raa teimosa e atrevida de ,brao, os reis que ocupam o
trono de 2erusal/m / preciso que 9oguem o todo pelo todo
5# a morte extermina os inimigos irreconciliveis 'ata,
*ingo, mata, se for preciso
,o outro dia os aclamadores de ofcio, os baixos
herodianos que anelavam elevar seu senhor sobre o altar do
santo templo como um deus saudaram $erodes com furiosos
e repetidos vivas, apenas se apresentou na praa para se
dirigir aos banhos de *aliroe
;MM
$erodes no era covarde= mas nos (ltimos dias da sua
vida teve medo a dois fantasmas que se levantaram na sua
febril imaginao a toda a hora 4ra a rebelio, que o cercava
por todas as partes, e os meninos aclamados em voz baixa
pelos israelitas como os pr#ximos libertadores das doze
tribos Gsto tirava!lhe o sono
,ntes de deixar a cidade santa, quis mostrar 0s legi)es
a sua munific&ncia, o seu esplendor para com os leais
servidores do seu trono, distribuindo cinquenta drcmas a
cada soldado e duzentas a cada capito, sem contar muitos
dons que distribua aos seus amigos
5eguro por esta parte da fidelidade das suas legi)es,
porque o ex/rcito ento clamava por seu senhor o que com
mais largueza pagava as aclama)es, saiu da cidade santa
seguido dum brilhante acompanhamento, no qual se achava
parte da sua famlia e os quatro m/dicos da cAmara
*ingo ficou em 2erusal/m " negro devia derramar
sangue inocente e manchar com ele, a casa de Deus " santo
sacerdote Qacarias, pai do 7atista, sbio, preceptor da
%irgem, estava sentenciado 0 morte
"s verdugos no recuaram ante o horroroso e sacrlego
crime *ingo e seus infames companheiros apresentaram!se
no templo de 5ion com o punhal homicida na destras
" velho sacerdote achava!se desempenhando os santos
ofcios do trio interior da casa de 2eov
"s verdugos perguntaram!lhe por seu filho= ele que
ignorava e seu paradeiro, respondeu ingenuamente que
estava em casa de ,in, e que se ali no se achava ele no o
sabia
4sta resposta singela e verdica foi tomada por uma
negativa zombeteira e desprezadora, e o pobre velho caiu aos
p/s dos assassinos, banhando no seu sangue inocente "s
?TT
fi/is fugiram com horror da casa de Deus ante aquela
assassinato sacrlego
, notcia correu com a velocidade da desgraa por
todos os cantos da cidade ,lguns pacficos comerciantes
fecharam as lo9as ,s patrulhas de soldados romanos
passeavam pelas ruas ,lguns mancebos mais atrevidos
mostravam aos soldados, em sinal de ameaa, os punhos
fechados, porque aquele crime manchava a moradia de Deus,
enchia de espanto os medrosos, de #dio e vingana os
valentes filhos da abatida raa de Gsrael
3rinta anos, depois, esta morte sacrlega e in9usta fez
exclamar ao 'rtir do @#lgota estas palavras- .5obre v#s
cair o sangue inocente derramado na terra= desde o do 9usto
,bel, at/ o de Qacarias, a quem tiraste a vida entre o altar e o
templo1
, morte de Qacarias foi o sangrento eplogo com que
terminou a terrvel trag/dia dos mrtires de 7el/m " sangue
do 9usto, manchava os mrmores da casa do 5anto dos
5antos
No estava longe o dia em que o sangue de Deus devia
correr pelas speras ladeiras do @#lgota
LG%6" 5W3G'"
A 21UIA %E OURO
CAPTULO I
A VIA AN1RENTA
$erodes chega a *aliroe, e os banhos daquela guas
medicinais, to c/lebres ento, pioram!lhe a sa(de
?T+
<ma ordem real convoca todos os m/dicos da Palestina
em torno do enfermo , ci&ncia discute, enquanto que o mal
caminha e devora o corpo Por fim adota!se o banho de
azeite aromtico, e os escravos conduzem o senhor, do leito
ao banho= por/m o miservel verdugo de Gsrael apenas /
submergido no suave lquido, perde os sentidos, e os que o
rodeiam, crendo chegada a (ltima hora, soltam
desconsolados gritos
, famlia e os m/dicos acodem- $erodes / quase um
cadver Gmediatamente / envolvido num lenol perfumado e
conduzido para o leito, e ali, 0 fora de desvelos e cuidados,
conseguem reanim!lo e o enfermo, entreabrindo os olhos
vidrados, exala um apagado suspiro 5eus lbios lvidos
agitam!se convulsivamente como se quisessem falar= mas
todos os esforos so in(teis Por fim depois duma hora de
angustiosa e horrvel luta, as palavras que se afogam na
garganta chegam lquidas 0 lngua, e $erodes exclama com
voz desfalecida-
! 3enho fome muita fome Dai!me alguma coisa que
comer, porque morro
5alom/ consultou com um olhar os m/dicos= mas estes
que perderam a esperana de o salvar e que temem
desobedecer 0s ordens de um rei brbaro e cruel que pode
mand!los degolar na sua presena, respondem que se lhe d&
de comer tudo quanto quiser 4nto os escravos assentam o
rei no seu leito e servem!lhe um 9antar espl&ndido $erodes
lana!se aos man9ares Huanto mais come mais sente fome e
pede mais= aquele miservel, castigado pela culta mo de
Deus, inspira d# no (ltimo dos seus escravos Oinalmente,
rendido deixa!se cair na cama, derribando sobre a colcha as
viandas e o vinho
?T;
$erodes estava /brio e, na sua embriaguez, pede em
altos gritos que o transportem para o seu palcio de 2eric#
3odos temem desobedecer!lhe, e as suas ordens, cumprem!se
imediatamente *hega a 2eric#, mas em que estadoD
5ua boca s# se abre para blasfemar ou dizer que tem
fome e sede ,s extremidades incharam!lhe, e a pele tornou!
se!lhe lvida, no pode mover!se sem o auxlio dos escravos
'ont)es de bichos brotam das (lceras que lhe mancham o
rosto 5eu hlito pestfero mostra a podrido de que est
cheio o corpo, e a sua respirao fatigada d um claro indcio
de que o cAncer vai minando interiormente aquela exist&ncia
que com penosas dores se despede do maldito corpo que a
encerra
Proibia!se a entrada no quarto do rei a toda a gente= e os
escravos= crendo que o seu senhor morreu, espalham esta
nova, que corre a 2ud/ia, enchendo de 9(bilo quantos a
ouvem
Deixemos por alguns instantes $erodes sob a
salvaguarda dos m/dicos, e fixemos a nossa ateno num
cavaleiro que a todo galope corre por uma das tortuosas e
pedregosas veredas dos montes de 2ud Gmpossvel /
imaginar!se caminho mais t/trico, mas sombrio, mais
espantoso
Profundos barrancos, rochas escarpadas que ameaam a
vida do via9ante, profundas covas abertas no seio daquelas
ridas montanhas pelos espantosos abalos da terra, eterno e
impenetrvel ref(gio dos bandidos rabes e das selvagens
feras, encontra por todas as partes o intranquilo olhar do
via9ante , natureza no possui teatro mais terrivelmente
disposto para o crime que os barrancos das montanhas de
2ud
?T?
" punhal do assassino deu um nome 0quelas solitrias
veredas- a )ia sangrenta " noturno cavaleiro parece
prtico no caminho que percorre, e o cavalo inspira!lhe
confiana completa, pois as r/deas lhe flutuam ao vento
sobre o robusto e reluzente pescoo De vez em quando o
a/reo v/u duma nuvem rompe!se, e um raio da lua cai do
c/u, banhando com sua doce e prateada luz as escuras
sinuosidades do caminho 4nto o cavaleiro embuca!se no
pano da sua capa, como se temesse ser reconhecido por
aquelas solitrias rvores e agrestes rochas que se erguem
aos lados do caminho
" ardente corcel, alheio 0s como)es que agitam o
corao do dono, que a tais horas da noite cruza to solitrios
caminhos, continua galopando com incansvel e
imperturbvel regularidade
,ssim decorrem duas horas " nobre animal mostra
com seu penoso respirar que comea a sentir!se fatigado "s
ilhais batem!lhe com precipitada viol&ncia, e um suor
espumoso comea a manchar a fina pele do peito De s(bito
o cavaleiro, que lanou em torno de si um olhar escrutador
para reconhecer o lugar em que se achava, pega nas r/deas,
puxa!as com fora para si, e o cavalo det/m o galope=
apoiando!se com fora sobre o quarto traseiro, fica parado
9unto dum espesso arbusto ao p/ do qual nasce uma estreita
senda que conduz a um barranco
Deve ser aqui, murmurou em voz baixa o cavaleiro
Depois p)e p/ em terra, e, passando as r/deas pelo
brao direito, comea a descer em direo ao barranco,
seguido pelo d#cil animal Deste modo andaram cavaleiro e
cavalo mais de quinhentos passos <ma vez ali detiveram!se
" stio no era por certo o mais a prop#sito para se
visitar 0 meia noite ,chava!se no fundo de um precipcio
?TB
'ultido de choupos e espinheiros cresciam entre as
gretadas rochas <m monte em forma de ferradura cerrava a
passagem no extremo do barranco, e as duas paredes laterais
daquela esp/cie de anfiteatro tinha uma elevao prodigiosa
,s palmeiras, as saras e as gestas eriavam as
empinadas fraldas dum espinheiro, ficou im#vel como se lhe
importasse reconhecer o terreno Persuadido depois de
alguns momentos de que era aquele o lugar que buscava,
comeou a trepar pela empinada encosta que se erguia ante
ele, cerrando o barranco "s primeiros cinquenta passos deu!
os sem dificuldade= por/m, logo se viu obrigado a servir!se
das mos para no cair De vez em quando suspendia a
penosa ascenso para tomar f8lego
" suor caa!lhe em fio pela fronte, e algumas gotas de
sangue manchavam as pequenas e branca mos do noturno
cavaleiro- mas nem um suspiro de cansao, nem um grito de
dor se escapava de seus lbios, quando, ao agarrar!se a
alguma rocha, um espinho lhe feria as mos Por to penosa
senda adiantava pouco, porque precipitar!se ou querer vencer
a distAncia com passo ligeiro teria sido despenhar!se
" homem que por tal caminho via9ava e a tais horas da
noite, devia ser um desses homens de corao aos quais no
arredam nunca a fadiga nem o perigo, por grandes que se
levantem 4, num desses curtos intervalos em que a lua,
rompendo as transparentes garas das nuvens, mandava um
dos seus claros e arg&nteos raios sobre as densas sombras da
terra, p8de ver!se que o noturno via9eiro era um 9ovem do
rosto doce e delicado, sem buo, sem dureza no olhar, quase
uma criana, louro e branco como uma donzela do templo de
5ion
Pelo meio do monte se acharia na sua perigosa subida,
quando se deteve, vendo que um arbusto arrancado das
?TF
entreabertas rochas que lhe deram o ser, cedeu ao colocar
sobre ela a mo 6econheceu segunda vez o terreno, e como
se aquilo houvesse sido um sinal, sentou!se numa pedra e
tirando um pequeno tubo de metal, dentre as pregas do
vestido, levou!a 0 boca e p8s!se a tocar uma m(sica hebraica
muito em voga naqueles tempos, sobretudo na popular e
tradicional festa dos asmos
Gmediatamente um rouxinol cantou a poucos passos do
cavaleiro= que se p8s em p/, e, como se o vomitasse a terra,
um homem se levantou dentre as matas
" cavaleiro, ao ver levantar!se uma sombra ao seu lado,
empunhou por precauo a espada que lhe pendia do talim
! , guia tem asas, disse o homem aproximando!se do
cavaleiro
! 4 ,brao venbulos, respondeu este como se fosse
uma senha
! Gsrael quer a sa(de, tornou o homem
! Porque est enfermo, o que a tira, respondeu o
cavaleiro
! ,9uda!me tu, repetiu o homem
! *omea tu, disse o cavaleiro
4nto o homem deu alguns passos, e agachou!se,
agarrando com seus robustos braos uma rocha " cavaleiro
fez o mesmo Pouco depois a boca duma gruta achou!se
aberta antes eles
! 4ntra, disse o homem= s# tu faltas
" cavaleiro entrou sem despregar os lbios naquele
abismo que se lhe abria diante dos p/s= mas a escurido era
to completa, que se deteve sem se atrever a dar um passo
Desta indeciso o tirou uma mo que na escurido lhe travou
do brao e comeou a conduzi!lo naquele negro e intrincado
abismo
?TI
" cavaleiro no pode dissimular um estremecimento
nervoso que lhe produziu o contato daquela mo invisvel
! 3ens medoC perguntou uma voz
! 4stremecer no / ter medo= 9ulgava!me s#, e a tua
mo ao tocar!me o brao fez!me o efeito duma vbora= o leo
agita!se tamb/m quando um formiga lhe toca nas plpebras
! 'ais vale assim, tornou a voz= pensava que te havia
assustado
! @ente dura / a que se alberga neste stio
! , rudeza nada tem que ver com o valor- guia e cala,
que / o teu dever
" homem invisvel cerrou os lbios e continuou a guiar
o cavaleiro 4sta marcha subterrAnea durou
aproximadamente um quarto de hora Por fim pararam, e o
misterioso guia empurrou com o ombro o Angulo duma
rocha, que girou como montada sobre um eixo
! 4ntra, disse ao cavaleiro
4ste entrou numa caverna espaosa alumiada por uma
imensa lAmpada de ferro de tr&s bicos
, picareta dirigida pela mo do homem no tinha
entrado na escavao daquela montanha, se excetuar a porta
girat#ria da entrada ,quele subterrAneo de altas e arqueadas
b#badas alumiadas pelas oscilantes chamas da lAmpada, era
um desse silos, uma dessas cavernas que com tanta
frequ&ncia se encontram nos montes de Gsrael, e que tantas
vezes serviram de ref(gio, durante as contendas civis e
religiosas do povo hebreu, aos bandidos, aos homens livres,
aos ap#stolos da nova lei, e ultimamente aos cruzados e aos
peregrinos cristos
Huando o cavaleiro entrou na espaosa gruta, parou- ao
princpio nada viu- mas pouco a pouco seus olhos,
percorrendo os largos Ambitos onde no chegavam os
?TP
reflexos da luz, puderam distinguir um grupo de homens que,
sentados no cho, conversavam em voz baixa
" via9ante caminhou alguns passos, e ao rudo das suas
pisadas os moradores da gruta voltaram a cabea
! W ele, disse um dos companheiros, e, todos se
puseram em p/
! *audilhos de Gsrael, comeo por pedir!vos perdo pela
minha tardana, disse o cavaleiro saudando com uma ligeira
inclinao de cabea= o homem que como eu / perseguido
pelos ces de $erodes, no disp)e das horas, seno do acaso
! 5abemos, disse um dos homens da caverna, os perigos
que te rodeiam, e desculpamos!te de todo o corao a
tardana de algumas horas
! 4u vo!lo agradeo
! ,ssim possa um dia agradecer!te a ti o povo hebreu
! , sua felicidade ser a minha se chegar a govern!lo
! 5enta!te entre n#s, pois n#s te admitimos como um
irmo que vem derramar o sangue nas aras da liberdade da
ptria
"s nosso leitores tero sem d(vida reconhecido no
noturno cavaleiro ,ntpatro, o fugitivo filho de $erodes "
9ovem prncipe sabia que a sua cabea se achava posta 0
preo por seu pai, e procurava salv!la do perigo que a
ameaava, buscando nas cavernas de 2ud os rebeldes e
encarniados inimigos do seu perseguidor
,ntpatro, pois, tomou assento entre aqueles
misteriosos revolucionrios Digno filho do rei de 2erusal/m,
procurava uma coroa sem lhe importar passar por cima do
corpo de seu pai, contando que o conseguisse, porque
,ntpatro no desmentia a raa de $erodes 3inha o mesmo
sangue, os mesmos instintos, a mesma ferocidade
?TS
CAPTULO II
A CON'URAMRO
Dissemos que eram quatro homens que se achavam na
caverna esperando ,ntpatro, filho de $erodes 3r&s deles
so desconhecidos e passaro pelas pginas deste livro
rpidos como uma exalao= o outro / conhecido, e
acompanhar!nos! at/ ao cume do *alvrio
"s nomes dos desconhecidos so- 5edoc, 2udas e
'atias= so tr&s doutores da Lei, e inimigos irreconciliveis
dos romanos= o outro / o 9ovem bandido de 5amaria, Dimas,
o malfeitor, hospitaleiro da %irgem 5edoc / ass/nio e tem
fama de adivinho entre a gente do povo= mas / apenas um
velho que encaneceu no estudo e na meditao 5eu pai
profetizou a $erodes, quando era menino, que seria rei de
2erusal/m, e como esta profecia se realizou a famlia ficara
como hereditria= todos era adivinhos
2osefo diz!nos que $erodes protegia os ess&nios e a
explicao que disso nos d / to curiosa que merece ser
contada-
.<m ass&nio chamado 'ana/m viu $erodes estudar na
escola com outros meninos da sua idade, e vaticinou!lhe que
chegaria a reinar algum dia sobre os 9udeus= e como o 9ovem
estudante hesitasse em cr&!lo, 'ana/m, dando!lhe uma
pancadinha no ombro, recordou!lhe a sua palavra prof/tica,
traou!lhe os deveres dum grande rei, e ao mesmo tempo
anunciou!lhe que a sua impiedade para com Deus e a sua
in9ustia para com os homens mancharia a prosperidade e
grandeza do seu imp/rio Huando $erodes foi rei, lembrou!
?TM
se da predio do ess&nio, e mandou!o chamar para
perguntar se reinaria pelo menos dez anos- Reinar9s )inte!
trinta, respondeu 'ana/m= e o novo soberano dos 9udeus
despediu o seu profeta com grandes honras, e desde ento
mostrou!se sempre mui favorvel 0 comunidade ess&nia1
5ed#s era filho de 'ana/m, e a fama de seu pai ficara
hereditria nele
2udas e 'atias tinha grande influ&ncia entre os
discpulos, e quanto a Dimas, 9 o sabemos com a gente
contava, e a felicidade e respeito que pelo seu valor lhe tinha
os seus soldados
Gnformamos de quem eram os personagens da caverna,
prossigamos a narrao 5edoc, o ess&nio, o mais velho, foi
quem rompeu o sil&ncio
! 'ancebo, tu que vens da cidade santa, dize!nos que se
passa nelaC
! 2erusal/m chora como sempre, respondeu ,ntpatro=
as filhas de Gsrael quebraram os salt/rios e penduraram as
harpas no tronco das palmeiras
! "s 9erossolimitanos choraro eternamente enquanto a
guia dos mpios estender as asas de ouro sobre a casa de
Deus, disse 'atias
! , guia quebra!se e os mpios exterminam!se, disse
por sua vez Dimas
! No esqueais que o povo e Gsrael teme as legi)es do
*/sar, tornou 5edoc
! 'as tende presente que o rei tributrio se acha nas
(ltimas horas de vida, disse ,ntpatro, que outro rei deve
substitu!lo quanto expire, e que eu sei respeitar a lei de
'ois/s e venerar o templo de 2eov, Deus invisvel e
verdadeiro "s bons tempos de 2osu/, Davi e 5alomo ainda
podem tornar para os descendentes de 2ac#, se um rei 9usto
?+T
empunhar o cetro de 2ud= eu venho oferecer!vos o meu
sangue e os meus parciais para a empresa= dizei, pois, se me
admitis como amigo
! Pensa, mancebo, que se Gsrael desembainhar a espada
ser a primeira vtima, teu pai, lhe disse 5edoc com voz
grave
! 'eu pai deve ter expirado a estas horas= mas no caso
de viver no dia da batalha, por ventura no sacrificou ele
minha me e meus irmosC No me persegue com o intento
de sacrificar!meC Pois ento, cale a voz da natureza e fale o
#dio que busca na luta- olho por olho, dente por dente, como
disse o legislador de Gsrael, o sbio 'ois/s
! Grmos, aceitais a fraternidade deste manceboC
perguntou 5edoc
! Hue 9ure sobre as leis de Gsrael, disse 'atias
! 5im, que 9ure, repetiram Dimas e 2udas
! 5e9a, murmurou o ess&nio= levantando!se,
encaminhou!se a um dos extremos da caverna, de onde
voltou com o volume da Lei da mo
4sse volume no era um livro, mas dois cilindros de
madeira 5edoc sentou!se de novo entre os companheiros, e
'atias desceu a lAmpada de modo que a chama banhasse
com seus raios a fronte do ancio
4nto o ess&nio, pegando os cilindros pelas pequenas
manivelas da parte posterior, levantou!os sobre a cabea e
comeou a fazer girar as rodas de modo que o pergaminho ou
papiro onde estavam escritas as leis de 'ois/s fossem saindo
dum cilindro e, depois de rolar!lhe pela fronte, iam esconder!
se no outro cilindro 4sta operao fez!se com a pausa
suficiente para que 'atias lesse os versculos hebraicos da
lei em voz grave e pousada
?++
! 4stas so, disse 5edoc, as principais leis do hebreus,
que o 5enhor Deus nosso reduziu a dez captulos, e que esto
escritas nas 3buas do profeta 'ois/s $ um captulo para
cada dedo da mo= no os esqueas, revolve!os na mem#ria e
escreve!os nas tbuas do teu peito
'atias comeou a ler as sbias leis espalhadas pelo
sbio legislador do 5inai no V5odo e no Le)6ti"io<
,ntpatro, sem levantar os olhos do cho, murmurava
com imperativo fervor um am/m no fim de cada versculo
5edoc, impassvel, fazia girar o cilindro= e 2udas e Dimas,
im#veis como duas esttuas de pedra, s# agitavam os lbios
para dizerem um assim se9a logo que o eco da (ltima letra
do am.m de ,ntpatro se perdia nas concavidades da
caverna
4sta cerim8nia durou pouco mais de uma hora, e por
fim, o cilindro deixou de girar sob a vista de 5edoc= a leitura
da lei de 'ois/s tinha terminado, e ,ntpatro, pondo uma
das mos sobre o volume que lhe apresentava o velho, e
outra sobre o corao, 9urou no faltar enquanto vivesse
0queles dez captulos ditados por 2eov
4nto os quatro israelitas levantaram!se e, pondo as
mos sobre a cabea do 9ovem prncipe, exclamaram-
! 2 /s nosso irmo a tua carne / a nossa carne, como
a nossa / a tua= e teu sangue nos ser to prezado desde este
dia como o que nos gira pelas veias
! ,pedre9ado se9a eu como os blasfemos, devorado
pelos ces se ve9a o meu corpo como os r/probos, sem luz
fiquem os meus olhos, sem harmonia os meus ouvidos e sem
palavras a minha lngua, se faltar a essas leis do meu Deus,
que vi, ouvi e exaltei, tornou a murmurar ,ntpatro
! ,m/mD tornaram a dizer os quatros companheiros
?+;
Depois, houve uma pausa "s cinco conspiradores
rezaram em voz baixa para que Deus santificasse aquele lao
fraternal que em prol da liberdade e da ptria acabavam de
apertar
! ,gora, disse o ess&nio, cada qual revele a seus irmos
aquilo com que conta para o dia do levantamento= e
dirigindo!se a ,ntpatro disse!lhe- fala tu primeiro que /s o
mais moo
! 4u conto com a minha bolsa bastante repleta de
moedas de ouro= com este dinheiro e a minha qualidade de
prncipe, creio reunir alguns parciais nas margens do 2ordo,
que arrisquem a vida a minha voz pela liberdade do povo
hebreu
! 4u, disse Dimas, estarei onde me designeis com os
meus terrveis companheiros samaritanos, disposto a morrer
0 vossa voz
! Pela minha parte ofereo, disse por sua vez 'atias, os
quarenta discpulos que recebem em 2erusal/m a minha
inspirao @ente moa e atrevida, far o que eu lhe mande
no momento do perigo= o seu Deus e a sua liberdade os
levaro ao combate com a espada na destra, o sorriso nos
lbios e a f/ no corao
! 4u tamb/m, replicou 2udas, ofereo como 'atias os
meus discpulos, e respondo com a cabea pelo seu valor e
patriotismo
! 4u pela minha parte exaltarei os Animos do povo
9erosolimitano, exclamou 5edoc= e quando outra coisa no
possa este pobre velho, derramar at/ 0 sua (ltima gota o seu
sangue pelo seu Deus e pela sua ptria ,gora s# falta marcar
o dia, a hora e o lugar em que se deve dar o grito de
liberdade
?+?
! 3u /s como o mais velho o mais prudente= a ti
compete pois dirigir o movimento, disse Dimas
! Permiti!me que vos diga, meus irmos, tornou
,ntpatro com melflua voz, que a mol/stia de meu pai
poderia auxiliar os nossos planos, e no devemos desprezar
esta ocasio
! Dentro de cinco dias, disse 5edoc, deve celebrar!se
em 2erusal/m a ?esta das sortes 'ultido de israelitas
acudiro de todas as partes para adorarem o seu Deus nos
trios do santo templo Nesse dia como as cerim8nias
hebraicas permitem que de toda parte cheguem forasteiros a
2erusal/m, os soldados romanos e os herodianos dormem
tranquilos fiados na nossa f/ Nesse dia, pois, os nossos
parciais, com a arma escondida entre as pregas dos mantos,
confundidos com a multido que encher as ruas, no / fcil
nem que se9am reconhecidos nem que chamem a ateno dos
mercenrios de $erodes- creio que o dia das sortes ser
conveniente par ao nosso plano
"s quatro responderam afirmativamente com a cabea
! 5e9a o dia das sortes ento 9 que, como a mim, vos
apraz 4scolhamos a hora e a senha para darmos o grito de
rebelio Huando o sumo sacerdote ler no livro de Ester
aquele versculo que diz- .4 assim foi enforcado ,man no
patbulo que tinha preparado para 'ardoqu/u, e cessou a ira
do rei1, ento dos discpulos de 'atias e 2udas faro em
pedaos a guia de ouro que mancha a casa de Deus, e isto
ser o sinal do combate
! Huando cair a guia que pousa sobre o p#rtico do
templo, os meus soldados desembainharo a espada pela
ptria, exclamou Dimas entusiasmado
?+B
! " mesmo prometemos 0 frente dos nossos discpulos
derribar esse padro de ignomnia que rouba o sono aos
9udeus descendentes de 2ac#
! ,gora, o Leo de 2ud afie as garras como em outros
tempos, e o glorioso estandarte dos 'acabeus tremula,
agitado pela aura da liberdade, sobre o abatido povo de
Gsrael
"s cinco conspiradores abandonaram a caverna depois
de fazerem o segundo 9uramento 4ra dia
4nto comearam a descer, no sem custo, pela encosta
daquele escabroso e sombrio monte *hegaram ao fundo do
barranco e detiveram!se ,li deviam separar!se
! Deus se9a convosco, disseram uns aos outros
! , celebrao das sortes se9a to propcia aos 9udeus
de agora, como o foi para os 9udeus no tempo de Ester,
exclamou 5edoc
Depois Dimas, ligeiro como umgamo desapareceu da
vista deles, dirigindo!se 0 5amaria ,ntpatro, montado no
seu fogoso corcel, tomou o caminho de 2eric#= e os tr&s
doutores da lei dirigiram!se com tranquilo passo cidada de
2erusal/m
CAPTULO III
O TEMPLO %E ION
4nquanto o 4terno no concedia morada fixa aos
9udeus para lhe elevarem um templo estvel, as doze tribos
de Gsrael serviram!se dum porttil, durante os seus longos
anos de errante peregrinao
" povo israelita no reconhecia ento outro rei seno
Deus 'ois/s era a provid&ncia que o dirigia, transmitindo!
?+F
lhe as ordens de 2eov Por isso erguiam no meio do seu
acampamento o santo 3abernculos, como a tenda de um rei
4, em torno daquele templo improvisado com telas, peles e
leves tbuas, colocavam nos arraiais dos levitas, e nos seus
quatro extremos plantavam as suas bandeiras, para proteger a
casa de Deus, as valentes tribos de 2ud, 6uben, 4fraim e
Dan
,s oito tribos restantes dormiam tranquilas debaixo das
suas tendas, vendo flutuar os estandartes sobre as suas
cabeas
,quelas telas que agitavam o ar do deserto tinham
esculpidas as insgnias das tribos 2ud ostentava um leo,
smbolo da fereza= 6uben um homem, como rei dos animais=
4fraim, um boi, imagem da fora= e Dam uma guia com
uma serpente enroscada aos p/s, imagem da ast(cia e da
sabedoria
Huando o sbio legislador mandava levantar os arraiais,
os levitas desfaziam o templo com prodigiosa rapidez, pois
cada um tinha a seu cargo um pano ou uma tbua dos que
formavam as paredes
*hegou por fim o venturoso reinado de Davi " 9ovem
monarca conhece que o povo precisa duma cidade forte que
o defenda dos inimigos 5eu olhar de guia fita!se nas
montanhas de 5ion, de ,cra e de '#ria, como se fitava
pouco antes, armado da funda, na colossal figura de @olias, o
gigante filisteu
,s escarpadas rochas do vale de 2osaf atraem!no- fala
0s suas tribos, e oferece o posto de general do ex/rcito ao
primeiro que as escale, 2oab, sobrinho do rei, escala o muro
no meio duma nuvem de flechas, e a espada de Gsrael degola
a populao 9ebusea Davi fica senhor de 2erusal/m= seu
reinado cresce como se a mo invisvel de Deus derramasse
?+I
sobre seus vassalos os seus eternos dons, e o rei pensa em
elevar um templo a 2eov
3udo est pronto- plantas e material= por/m Davi
morre, e seu filho 5alomo tem a gl#ria de p8r em obra o
pensamento do pai
" monte '#ria / escolhido para bero da casa de Deus
e, sete anos depois, o templo de 5ion brilha e refulge aos
raios do sol como um astro *inco s/culos giram em torno
dos seus soberbos muros, que caem convertidos em runas
ante os formidveis soldados de Nabucodonosor "s
babil8nios apoderam!se das riquezas do templo e, lanando
uma cadeia ao pescoo do desgraado rei 2oaquim, cegam!
lhe os olhos e transportam!no cativo com o seu numeroso
povo israelita para a orgulhosa cidade dos strapas, onde o
deus 7elo / adorado
@erencias chora nos seus sentidos e po/ticos cantos a
escravido de sua raa- mas enfim, Qorobabel alcana a
liberdade de seu povo, e torna 0 frente dele a estabelecer!se
na cidade santa 5egundo templo se eleva no monte '#ria no
mesmo lugar que o primeiro "s israelitas acodem
pressurosos a adorar o Deus invisvel ante seus sagrados
altares= mas o tempo, com seu poderoso hbito, desmorona
seus altivos p#rticos, seus soberbos muros
5eis s/culos descarregaram as tempestades, chuvas e
fura)es sobre o gigante de pedra que serve de morada ao
Deus de 5ion, e $erodes o @rande cinge a fronte com a
coroa tributria de 2erusal/m, e torna a reedific!lo tal como
vamos bosque9a!lo aos nossos leitores servindo de descrio
que 2osefo, o historiador 9udeu, nos deixou-
.3inha o templo cem c8vados de largo e cento e vinte
de alto, altura que com o andar do tempo ficou reduzida a
cem c8vados pelo desaprumo dos alicerces 4ra de
?+P
maravilhar a dureza e brancura das pedras do edifcio, no
menos que as suas dimens)es, pois tinham vinte e cinco
c8vados de comprimento, oito de altura e doze de largura
.,s artes tinham desenvolvido todas as suas riquezas
na arquitetura daquele monumento, que parecia o palcio
dum rei e o mais famoso que ainda se viu debaixo do sol
6icos tapetes recamados de flores de p(rpura decoravam os
p#rticos= nas corni9as das colunas pendiam cepas de ouro
com seus pAmpanos, e cachos 3inha o templo dez portas=
quatro ao norte, quatro ao sul, duas ao oriente, e o lado que
olhava ao ocidente estava tapado= todas de duas folhas, cada
uma com trinta c8vados de altura e quinze de largura=
estavam os quic/s chapeados de ouro e prata= uma s# o
estava de cobre de *orinto, mas aquele cobre superava em
valor todos os metais= o frontispcio do monumento,
coalhado de ouro, reluzia como brasa aos raios do sol
nascente
." interior do templo, dividido em duas partes,
assombrava pelo seu rico ornato- sobre a porta do primeiro
recinto sagrado via!se uma vida de ouro, do tamanho de um
homem, com cachos do mesmo metal= um tapete babil8nico
de cinquenta c8vados de altura e dezesseis de largura cobria
as portas, por onde se passava para o segundo recinto= o azul,
a p(rpura, o escarlate e o linho, mesclados naquele tapete,
representavam os quatro elementos- o azul, o ar= a p(rpura, o
mar de onde sai= o escarlate, o fogo= o linho a terra que o
produz ,9udada pela ci&ncia, a arte havia representado
naquele grande v/u o crculo da esfera celeste, menos os
doze signos Passado o seguindo recinto, e na profundidade
do templo, acha!se o anto dos antos
.6odeavam o templo, sustentadas por fortes paredes,
largas e altas galerias <m outeiro, a leste do monumento
?+S
religioso tinha!se convertido em terrado de quatro fachadas,
cu9as enormes pedras estavam unidas entre si com chumbo=
uma triple galeria, que atravessava profundo e dilatado vale
ou precipcio, ligava o templo com o bairro ocidental da
cidade= cento e sessenta e duas colunas da ordem corintia de
vinte p/s de circunfer&ncia cada uma, sustentavam em tr&s
fileiras aquela triple galeria1
4sta obra, que no fazemos mais que indicar
incompletamente, porque ainda conhecendo os stios nos /
impossvel desentranhar a obscuridade da descrio que faz
dela o historiador 9udeu, devia ser uma construo
prodigiosa
.,o norte do templo, a torre dos ,smoneus, reedificada
por $erodes e semelhante ao seu palcio, tomou o nome de
,nt8nia, em mem#ria do benfeitor do rei <ma ab#bada
subterrAnea conduzia da torre ,nt8nia 0 porta oriental da
casa de Deus= nesta fortaleza era que se guardava a vestidura
solene do sumo sacerdote sob os dois selos do pontfice e do
tesoureiro
.No dia da dedicao do templo, $erodes, seu
restaurador, oferecia pela sua parte trezentos bois em
sacrifcio <ma guia colocada sobre a porta principal do
santurio perturbava a piedosa, alegria dos israelitas,
forados a devorar como um ultra9e aquele sinal profano1
*om o maior gosto ofereceramos a iconografia do
templo de 2erusal/m para que os nossos leitores pudessem
fazer uma id/ia mais aproximada do grandioso templo
imortal, que recebeu no seu seio o Oilho de Deus= mas a
ndole do nosso livro no nos permite deter!nos nos
pequenos pormenores descritivos, pelo que desistimos,
contentando!nos com o ligeiro bosque9o que fizemos
?+M
CAPTULO IV
A 8ETA %A ORTE
" sol estendia sobre a cidade santa os puros raios da
sua fronte numa manh do m&s de ,dar, m&s que conservava
nos anis de Gsrael um recordao de dor e outra de prazer=
m&s em que nos dias P e S se 9e9ua pela morte do seu mestre
'ois/s, e a +B e +F se celebra a festa chamada Porim ou das
ortes, em mem#ria de ter alcanado a bela 4ster do rei
,ssuero que revogasse a sentena de morte que contra os
9udeus de todas as +artes havia assinado, por conselho do
seu favorito ,man
" favorito tinha deitado sortes para ver o dia que devia
comear a terrvel matana= mas, felizmente para o povo
hebreu, a formosa rainha consegue salv!lo do cutelo
homicida e perder o iniciador de to terrvel pensamento
<m povo imenso circulava pelas ruas ,s casas eram
insuficientes para albergar a multido de forasteiros que
acudira para ouvir da boca do sumo sacerdote os belos
versculos do livro de 4ster, sua salvadora, que deviam ler!se
no santo templo ,pinhadas massas de homens, mulheres e
crianas se encaminhavam para a "idade in?erior, ansiosa
por encontrar um lugar c8modo nos grandes trios das
na)es, porque nesses dias de solenidade religiosa nem a
todos era permitido penetrar no trio dos israelitas
" p#rtico oriental ou de 5alomo parecia um imenso
formigueiro que engolia aquela apinhada corrente de gente
que pela porta 5usan se introduzia nos trios, para se deter
diante da segunda porta chamada *orintia, diante da qual se
levantavam duas terrveis colunas, cu9as latinas e gregas
?;T
inscri)es proibiam, sob pena de morte, penetrar no templo
aos gentios e imundos ,ndando um pouco mais, a multido
teria encontrado a porta superior, e atrs desta o trio dos
sacerdotes- mas naquele recinto era vedado ao povo penetrar
, alegria era geral e brilhava em todos os rostos , gente foi!
se colocando o melhor que p8de e revestindo!se dessa
paci&ncia buliosa do povo nas festividades que nada lhe
custavam, e esperava o aparecimento do sumo sacerdote
4ntretanto, no estava ociosa a multido, pois os
homens inscreviam com pedaos de carvo ou gesso sobre os
bancos, e sobre as pedras que levavam de prop#sito, um
nome-este nome era o de ,man= e as mulheres e crianas
comearam a agitar sobre as cabeas pequenos maos de pau
e martelos de ferro
*hegou por fim a hora em que o sumo sacerdote devia
comear a cerim8nia 4ra este um ancio de respeitvel e
nobre semblante, alta e ma9estosa figura e vestia uma t(nica
talar cor de 9acinto, guarnecida no extremo inferior de
sessenta e duas campanhas de ouro e outras tantas granadas
que produziam sonido vibrante e harmonioso, ao menor
movimento do sacerdote
<m pano de trinta centmetros, bordado de toral
branco, lhe cobria o peito, em cu9o centro brilhavam de um
modo deslumbrante doze pedras preciosas com os nomes dos
doze filhos de 2ac# 4ste rico peitoral era preso na cintura
por duas fitas que marcavam o talhe e nos ombros por dois
roset)es de ouro, onde tamb/m se viam incrustados os nomes
dos filhos de 2ac#, de modo seguinte- no dia direita, os seis
mais velhos e no da esquerda, os seis mais moos
3erminava este tra9e ma9estoso uma esp/cie de tiara ou
barrete com uma lAmina de ouro cheia de inscri)es
?;+
hebraicas, presa por uma fita de cor azulada Nos p/s nada
levava, ia descalo
" sacerdote abenoou o povo, e abrindo um volumoso
livro que tinha na mo, disp8e!se a ler em voz alta ,
multido guardou tal sil&ncio que, se um estrangeiro
houvesse passado naquele momento pelas vizinhanas do
templo, o teria 9ulgado desabitado " sacerdote, com voz
grave e pausada, falou desta maneira ao povo-
! "uvi, ouvi, ouvi, o livro de 4ster, filha de ,bigail,
sobrinha de 'ardoqueu, da tribo de 7en9amim, mulher de
,ssuero, rei da P/rsia
,qui fez uma pausa e leu os dois primeiros captulos do
livro, no meio de religioso sil&ncio
4nquanto a po/tica e interessante narrao do livro de
4ster s# se reduzia 0 desobedi&ncia da rainha %asti, esposa
de ,ssuero, ao decreto para que as mulheres obedecessem a
seus maridos, e 0 descrio da formosa 9udia que arrebatou
de amor o corao do monarca persa, ningu/m se moveu do
lugar= mas, ao chegar ao final do captulo terceiro, quando o
favorito ,man, indignado de 'ardoqueu no curvar a cabea
como um escravo, concebe um plano de aconselhar ao seu
senhor que extermine a raa 9udaica, e o rei se9a o decreto=
quando, depois de deitar sortes sobre o dia da matana fica
consignado o dia tre>e do m4s duod."imo, "hamado Adar,
e o sacerdote leu com as lgrimas nos olhos o versculo +F,
que diz- ."s correios que foram enviados apressaram!se a
cumprir a ordem do rei, e logo se afixou em 5usan, corte de
,ssuero, o edito na ocasio em que o rei e ,man celebravam
um banquete, e todos os 9udeus que havia na cidade estavam
chorando1= ento o sacerdote suspendeu a leitura, e todo o
povo rompeu num lamento que durou alguns minutos ,s
mulheres rasgavam os vestidos, os homens arrancavam os
?;;
cabelos, os rapazes agitavam em som de ameaa os martelos
e os maos Desde ento, cada vez que dos lbios do leitor
sacerdote saa o nome de ,man, os assistentes
descarregavam furiosas pancadas com os martelos sobre o
mesmo nome que pouco antes tinham inscrito com carvo e
gesso, exclamando todos-
! 5umido se9a o teu nome- o nome do malvado se9a
destrudo
, dor dos 9udeus mudou!se em estrondosas alegria
quando o sacerdote leu o versculo +T do captulo %GGG que
diz- .4 assim foi enforcado ,man no patbulo que tinha
preparado para 'ardoqueu, e cessou a ira do rei1
3ocava seu termo a leitura do livro de 4ster quando um
acontecimento veio perturbar a solenidade religiosa da ?esta
das sortes
! ,baixo os dolos dos mpiosD exclamaram vrias
vozes que figuravam sair da parte superior dos p#rticos do
templo
! " leo de 2ud quer ser livre, responderam outras
vozes que saram da multido que enchia o trio das na)es
Neste momento, a guia de ouro que $erodes colocara
como uma baixa adulao a 6oma sobre a entrada oriental do
templo caiu, rolando em pedaos aos golpes de alguns 9ovens
hebreus que, armados de martelo, tinham subido ao alto
p#rtico <m clamor universal se seguiu a este rasgo da
audcia 4ste grito tinha vrias entoa)es- umas de alegria,
outras de assombro, as mais, de espanto ,s mulheres, as
crianas e os velhos fugiram com medo para suas casas "s
soldados de ,ntpatro, os bandidos de Dimas e os discpulos
de 5edoc, 'atias e 2udas, agruparam!se nos trios, e as
espadas ocultas brilharam aos raios do sol Por outra parte a
curiosidade tinha formado seus grupos de espectadores que
?;?
esperavam o resultado daquele motim, indecisos ainda em
tomar parte nele
, notcia, como acontece sempre em semelhantes
casos, correu com rapidez por todos os Ambitos da cidade
Por fim deteve!se no Palcio de $erodes, e foi pousar nos
ouvidos de seu filho ,rquelau e do seu general %erutdio ,
trombeta das legi)es reuniu os soldados do 3ibre %erutdio e
,rquelau desembainharam as espadas e, montando a cavalo,
encaminharam!se para o lugar onde o motim comeava a
levantar a cabea, com inteno de fazerem pagar caro o
atrevimento
,penas os soldados de $erodes apareceram diante do
templo, os sediciosos agruparam!se em redor de seus chefes
"s gritos tinham cessado= mas comeara o perigo "s
valentes israelitas abarcaram com um olhar aquela legio
coberto de ao que se aproximava deles *ompreenderam o
perigo que os ameaava, pois os soldados legionrios do
Gdumeu eram o quntuplo das suas foras
"s inimigos podiam!lhes apresentar os largos escudos
de couro ante a ponta dos punhais e eles s# apresentavam os
peitos cobertos com a simples t(nica, muro humano onde
iam cravar!se para sarem ensanguentadas at/ ao punho as
cortadoras espadas dos romanos
Dimas compreendeu que aquele batalho de aguerridos
soldados que avanava para eles com o seu aspecto marcial e
ameaador podia esfriar o valor dos companheiros " sangue
excita os combatentes= o estrondo das armas, os gritos dos
que lutam no combate, reanimam o valor, e Dimas conhecia
tudo isso e receoso de que os seus parciais retrocedessem
ante o perigo, tirando o comprido punhal com a mo
esquerda, arremessou com toda fora a azagaia, a qual foi
cravar!se no peito de um centurio que caminhava adiante
?;B
dos soldados do *apit#lio " *enturio soltou um grito e
caiu, banhado em sangue, do seu cavalo ,quele grito foi o
sinal do combate
"s israelitas detiveram a primeira investida dos
romanos= de ambas as partes se faziam esforos de valor-
Gsrael defendia 0 casa do seu Deus= 6oma lutava por vencer
os profanadores da sua guia triunfadora " sangue corria
com abundAncia pelos trios
,quela luta era o (ltimo esforo de um povo que
combate pela sua liberdade= a (ltima tentativa do escravo
desfalecido para arrancar a pesada cadeia que o su9eita ao
desp#tico 9ugo de seu tirano opressor , luta, era
desesperada, raivosa, sem quartel " ferido no tinha quer
esperar clem&ncia do vencedor, porque era in(til
Por fim os israelitas foram cedendo ante a fora
num/rica dos romanos ,lguns combatentes, vendo a
superioridade dos inimigos, comearam a buscar a salvao
na fuga ,ntpatro foi um dos primeiros a abandonar
vergonhosamente o campo de batalha ,quele prncipe
efeminado e sedicioso perdia pela sua falta de valor uma
coroa e arriscava a vida, que o medo lhe fez olhar naquele
instante com mais afeio do que devia
<m hora de luta encarniada bastou aos soldados de
$erodes para provarem aos sediciosos israelitas que o seu
plano malograra 'ais de cem homens se revolviam pelo
cho, manchados com o sangue que lhes manava das feridas
Huando o homem se persuade de que / impotente
contra o perigo que o ameaa, o valor apaga!se e a id/ia da
salvao individual toma grandes propor)es no Animo ,
Dimas bastou um olhar para compreender que tudo se tinha
perdido, e, tirando uma trompa de caa que lhe pendia da
cinta, aplicou!a aos lbios ,quele som reuniu em torno dele
?;F
como por encanto todos os soldados da sua companhia que
restavam com vida
! 3udo se perdeu, disse com raivoso acento Para
5amaria, para 5amariaD 5iga!me quem puder= e, derribando
com o terrvel punhal quantos se achavam na passagem saiu
do templo seguido dos seus companheiros e abandonou a
cidade
Pouco depois tudo tinha terminado
"s habitantes de 2erusal/m chegavam!se com medo 0s
9anelas para verem passar uma legio de herodianos que
conduziam entre duas fileiras de lanas, 5edoc, 2udas e
'atias, e quarenta dos seus valentes discpulos 4stes
mrtires da liberdade caminhavam carregados de cadeias,
com o tra9e em desordem, o rosto decomposto e manchados
com o sangue dos seus vencedores
,rquelau e %erutdio caminhavam 0 frente da coluna,
iam a 2eric# apresentar ao terrvel $erodes os prisioneiros de
guerra, aqueles infelizes de quem Deus era a sua (nica
esperana= mas essa esperana / a (ltima do crente= por isso
cai como um blsamo santo sobre o corao dos
desgraados
CAPTULO V
A CLEMVNCIA %E 0ERO%E
No dia seguinte, quando o rei enfermo sou que os
revoltosos de 2erusal/m carregados de cadeias no hip#dromo
de 2eric# esperavam as suas ordens, mandou que o vestissem
e o transportassem numa liteira a onde estavam os
prisioneiros
?;I
$erodes, cruel por natureza, sanguinrio por prazer,
quis cerva!se na dor daquele punhado de israelitas 5edoc,
'atias e 2udas alentavam o desfalecido esprito dos seus
discpulos que, moos e cheios de vida, comeavam a
empalidecer ante a morte que lhes pairava sobre as cabeas
, chegada de $erodes causou desagradvel impresso
nos prisioneiros " s/quito real deteve!se a poucos passos do
grupo dos rebeldes e *ingo descerrou as vermelhas cortinas
de seda de 3iro que fechavam a liteira, para que o seu senhor
estendesse a cabea
! 5o aquelesC perguntou o rei do escravo, de um modo
desprezadorC
! No ve9o meu filho
! 4vadiu!seD 5abes que essa palavra me incomodaC
%e9o com dor que te tornas desastrado nos neg#cios
importantes
! Huando a pea se perde, o podengo no desespera
enquanto no perdeu o rasto
! De modo que tu tens o rastoC
! ,inda mais, senhor= espero topar com o 9avali dentro
em pouco, esta noite
! Pois se tal for a tua fortuna, encerra!o bem e avisa!me
logo 'as no esqueas de que n#s, os velhos, temos alguma
coisa de criana, e nos agastamos quando no cumprem o
que nos prometem
*ingo saudou e $erodes dirigiu o olhar para o grupo
dos prisioneiros
! GngratosD exclamou depois duma pausa, com uma
entoao sentida e bondosa como a que costumam empregar
os pais para repreender algumas inconveni&ncias do filho a
quem mais querem GngratosD 4is a paga que recebo, em
troca dos benefcios que derramo 0s mos cheias sobre eles
?;P
4u reedifiquei o seu templo, eu abro os meus celeiros quando
a fome os cerva ameaadora e cruel, eu sacrifico com a f/ do
crente ante o altar do Deus invisvel dos seus maiores, eu
tenho esgotado os meus tesouros para pensionar os seus
poetas, levantar teatros, circos e cidades, engrandecendo com
o auxlio da arte a terra de Gsrael= e eles, filho desnaturados,
rebelam!se contra seu pai enfermo, com uma ingratido
incrvel , minha mo benfeitora, sempre estendida para
semear o bem, esperava uma lgrima de agradecimento e um
bei9o de afeto e como vboras cru/is v&m cravar o seu
venenoso ferro, empeonhando os (ltimos dias da minha
vida Deus o querD
$erodes soltou um suspiro "s prisioneiros, ante aquela
doce e paternal reconveno do seu senhor, sentiram!se to
comovidos que, agrupando!se em derredor da liteira, se
lanaram aos p/s do rei, pedindo o perdo das suas culpas
5edoc, que no tinha inclinado a orgulhosa fronte ante
$erodes, admirado da estranha clem&ncia daquele tirano,
dirigiu!lhe a palavra dessa maneira-
! 4u sou 5edoc, filho de 'ana/m, o adivinho, e
agradeo!te em nome destes moos que se prostram a teus
p/s admirados da tua real clem&ncia
! ,hD exclamou o Gdumeu fitando o penetrante olhar
naquele velho Por ventura possuis tu o mesmo dom de teu
paiC Ws, como ele, desses inspirados que vaticinam o futuro e
l&em no misterioso livro do porvirC
! ,ssim o cr& o povo, respondeu o ess&nio
5edoc deu alguns passos e tornou a deter!se
5eu olhar de guia abrangeu com tenacidade o
cadav/rico rosto de $erodes, fez uma leve pausa como se
decifrasse um enigma e depois, estendendo a mo, disse com
voz prof/tica-
?;S
! , pgina da tua vida apresenta!se muito escura no
porvir= as letras esto apagadas, mas observo um sinal que
me diz que antes que a lua nova aparea em todo o seu
esplendor sobre as tranquilas guas de 3iberades, exalars o
(ltimo sopro da tua vida
$erodes guardou sil&ncio Dir!se!ia que a profecia de
5edoc tinha lhe aniquilado a lngua 3eve medo daquele que,
precursor da morte, se erguia ante ela para lhe apontar a
cova " pai tinha!lhe profetizado uma coroa= o filho, o
sepulcro
" Gdumeu lanou um punhado de moedas de prata
sobre aqueles infelizes que tremiam a seus p/s e deu ordem
que o conduzissem ao seu palcio ,o sair do circo, o rei
agitou o leno em sinal de perdo "s conspiradores soltaram
um grito de alegria= mas aquela clem&ncia de $erodes era
um cruel sarcasmo, uma sangrenta burla
" infame Gdumeu mostrava!lhes o c/u s# pelo prazer de
os abismar no inferno= oferecia!lhes uma esperana para lhes
tornar mais amargo o desengano Porque nos sanguinrios
clculos do verdugo de 'ariana 9amais entrara o perdoar os
rebeldes israelitas Por isso, esquecendo os seus
padecimentos, preocupado com uma id/ia de sangue, to
frequente nele, chegou ao palcio e chamou o guarda!selos,
dizendo-
! "uve, Ptolomeu- que pena te parece que devia impor!
se a esses rebeldesC
! , clem&ncia / a maior virtude dos reis, lhe respondeu
o velho servidor
! 5im, ouviu!o dizer, a clem&ncia / uma grande coisa=
mas com o carter dos hebreus, a clem&ncia / um
inconveniente
?;M
! 5alomo disse que a benevol&ncia / como o rocio,
tornou Ptolomeu
$erodes dirigiu!lhe um olhar terrvel, que fez tremer o
guarda!selos
! 5alomo, disse com entoao fria o cruel $erodes, era
um sbio, e pensava como costuma pensar essa famlia de
loucos pacficos que divagam pelas ruas, e que o vulgo
denomina com a palavra de sbios= mas eu no tenho talento-
mais que um homem de letras, sou de armas= e o meu dever /
castigar a rebelio que levanta a cabea para perturbar a paz
dos seus s(ditos
! 3u /s o nosso senhor, tua vontade / lei- manda e sers
obedecido
Ptolomeu disse estas palavras com todo o medo que
poderia diz&!las um corteso que v& em risco a sua vida
! Huantos so os sediciososC perguntou $erodes depois
duma pausa
! *erca de oitenta
! Pois olha, escolhe quarenta, os que mais te
incomodem, e f!los morrer assedeados no hip#dromo,
quanto aos tr&s chefes da expedio, o mais prudente /
queim!los vivos e espalhar depois as cinzas , m semente
conv/m exterminar pela raiz
Ptolomeu dispunha!se a abandonar o quarto do rei,
receoso de que terrvel sentena o alcanasse quando
$erodes o deteve-
! ,hD esquecia!me "s outros podes deixar livres para
que apregoem a clem&ncia de $erodes %ai e dize aos meus
escravos que me sirvam a ceia
" guarda!selos saiu da cAmara real, e meia hora depois
o rei ceava tranquilamente com seu filho ,rquelau, seu neto
,quiab e o seu general %erutdio
??T
,s ordens de $erodes foram cumpridas no dia seguinte
"s primeiros alvores do crep(sculo oriental caram sobre o
circo de 2eric#, banhando as altas colunas do real edifcio
levantado com o ouro de $erodes para entreter a plebe com
os ferozes espetculos que tanto entusiasmavam o povo do
3ibre
" inocente canto das aves 9untou!se com os dolorosos
gemidos dos quarenta discpulos, que por espao de duas
horas serviram de alvo aos atiradores herodianos 5edoc,
'atias e 2udas foram queimados na presena dos
companheiros " feroz idumeu tinha lavado com um mar de
sangue o insulto que os israelita haviam feito a 6oma
Pouco depois, quando o morticnio de 7erito, 7el/m e
2eric# chegou a saber!se no *apit#lio, quando o clemente
*/sar soube que $erodes, depois de assassinar seus filhos,
degolava os primog&nitos da cidade de Davi, o ilustre
vencedor de *le#patra, o prudente imperador dos romanos,
exclamou com indignao estas palavras que a hist#ria
consignou como um padro de infAmia que mancha as
pginas do tempestuoso reinado de $erodes
! 4sse miservel com coroa / um infame sem corao
Va*e mais ser +or"o &ue ?i*ho de 0erodes<
Deixemos o rei ceando na sua cAmara, rodeado dos
filhos e do general, e sigamos *ingo que caminha favorecido
pela escurido da noite por uma das ruas desertas de 2eric#
" escravo vai s# e envolto num manto cinzento, que
enrola 0 maneira de alquicer na sua enorme e spera cabea
, cinquenta passos, e seguindo o mesmo caminho,
destacavam!se quatro vultos entre as sombras da rua 3odos
caminhavam sem fazer bulha, como as cobras que deslizam
pelas margens do rio para surpreender os ninhos das cercetas
??+
" escravo para diante duma porta de mesquinha
apar&ncia, e apalpa com as mos as tbuas como procurar
fechadura 4nto, com um instrumento comear a force9ar,
mas sem que o mais leve rudo, interrompa a silenciosa
tranquilidade da noite , porta cede e fica aberta diante do
etope
,s quatro sombras re(nem!se com o negro, e este diz
em voz baixa-
! 4ntremos
"s punhais brilham nas mos dos misteriosos
companheiros de *ingo, e imediatamente desaparecem todos
no estreito e escuro corredor que comunica com o interior da
casa
*ingo det/m!se e, aplicando os lbios no ouvido de um
dos companheiros, murmura uma frase que s# aquele a quem
/ dirigida pode ouvir
4sse deteve, tornou a desandar o andado, e,
embuando!se no manto, foi sentar!se de c#coras sobre o
tosco degrau da porta
"s outros quatro seguiram avante, caminhando pelo
escuro corredor com as mos estendidas como se temessem
topar nas paredes que os rodeavam
,onde iamC %amos v&!lo
LG%6" "G3,%"
A A1ONIA
CAPTULO I
A %UPLA CA%EIA
??;
6etrocedemos algumas horas
3omemos o fio da nossa narrao desde o momento em
que o prncipe ,ntpatro, vendo perdida sua causa
abandonou o templo, buscando na fuga a salvao da vida
ameaada to de perto pela vencedora espada dos romanos
<m homem, surdo ao pr#ximo estrondo dos combates,
insensvel ao grito de dor dos moribundos, achava!se sentado
9unto ao umbral duma porta de miservel apar&ncia, numa
das vielas do novo bairro de 7eceta 5egurava com a destra
as r/deas de um fogoso corcel impaciente ao seu lado ,
bronzeada cor das suas faces, o largo alquicer de variegadas
cores com que encobria o corpo e o receoso e est(pido olhar
de seus pequenos e fundos olhos, diziam claramente que
aquele homem era um desses seres degredados que a ,rbia
arro9ou do seu seio e que arrastam toda a vida a pesada
cadeia da escravido sem o sentirem, nem compreenderem o
afrontoso 9ugo que, como uma maldio do c/u, pesa sobre
eles, de pais a filhos, s/culos e s/culos
" 9ovem prncipe, coberto de sangue e suor, entrou
precipitadamente na indicada rua e, aproximando!se ao
homem do cavalo arrancou!lhe as r/deas da mo, e ligeiro
como um lince saltou sobre o robusto dorso do inquieto
animal dizendo ao mesmo tempo que deitava algumas
moedas de prata no cho-
! 4scravo, /s livre, celebra a tua alegria e a minha
desdita com esses ciclos que semeio a teus p/s 4, enterrando
o acicate nos ilhais do corcel, partiu a galope rasgado
" escravo deitou!se de bruos no cho e comeou a
apanhar as moedas com avidez ,quilo era uma fortuna para
ele= nunca seus olhos tinham visto tanto dinheiro 9unto e
aquele dinheiro era seu 3anta emoo transtornava!o e nem
???
reparou em dois cavaleiros que penetraram na rua e que
passaram diante dele
! 4hD gritou um dos cavaleiros desviando o cavalo para
no o atropelar
! 4hD bom homem, tornou a gritar o mesmo= quem /
aquele cavaleiro que desemperra a ruaC
! Ggnoro, mas deve ser pelo menos filho de um rei,
respondeu o rabe
! W meu irmo, disse um dos cavaleiros, dirigindo!se ao
outro
! " mesmo creio, respondeu o primeiro
! 4nto, *ingo, 9 sabes o teu dever
! Nunca o esqueo, meu prncipe
! 'erc(rio empreste ao teu corcel suas asas
! ,ssim o espero
4nto ,rquelau, pois era ele, fez voltar o corcel em
direo ao templo e *ingo, o escravo favorito de $erodes,
partiu em seguimento de ,ntpatro
" rabe ficou s# no meio da rua olhando com
espantados olhos em torno de si
! 7elzebu vos guie, exclamou um hebreu encostando!se
ao muro para no derribado
! 4sto loucos, murmurou outro
! Dize antes que fogem da refrega, falou por sua vez um
rapazote
! "ra, quem no conhece na cidade o efeminado filho e
o sombrio escravo de $erodesC
, conversao tornou!se geral mas em voz baixa, e os
cavaleiros perderam!se no espao
<ma hora de carreia desesperada 0 merc& dos cavalos
levavam os dois cavaleiros, sem que por isso houvesse
podido evitar a terrvel perseguio de que era ob9eto, nem o
??B
outro encurtar a distAncia que o separava do que com tanto
empenho perseguia
*ingo conheceu que o galope dos cavalos era to igual,
que nada adiantaria, pois s# no caso em que seu inimigo
desse um tropeo poderia conseguir alcan!lo
4nto recorreu a um meio usado entre os filhos do
deserto= reduzia!se a aliviar o seu corcel da carga in(til e
estender!se o cavaleiro sobre o pescoo do animal, para que
seu corpo, ao cortar o ar na carreira, no entorpecesse o
passo
*ingo, resolvido a levar a cabo a sua estrat/gia,
agarrou!se com fora, 0s crinas do cavalo, e, com risco de
cair, conseguiu tirar!lhe a sela e a manta e mais arreios,
deixando dentro em pouco o cansado animal em p&lo
4nto deitou!se sobre o pescoo do animal, e este
relinchou 7reve ,ntpatro percebeu que o seu perseguidor
ganhava terreno, e 9ulgando impossvel salvar!se e no tendo
bastante valor para se virar contra ele, ocorreu!lhe a id/ia de
se deixar cair do cavalo e esconder!se num dos espessos
matagais que por toda parte o rodeavam
Oirme na sua resoluo, reconheceu o terreno com um
olhar, e vendo que um cotovelo que formava o barranco que
seguia era o mais conveniente para que a sua manobra no
fosse descoberta, foi escorregando para o quarto traseiro do
animal, e deixou!se cair ficando direito no cho
4sta manobra foi executada com tanta rapidez, que
*ingo no p8de v&!lo por causa do quebrado do terreno
,ntpatro teve cuidado de picar a ancar do cavalo com
a adaga que tinha na mo ao cair, de modo que o corcel, livre
do peso do dono e ferido pelo ferro, redobrou o veloz galope
" prncipe escondeu!se no mato, e pouco depois viu,
oculto entre as ramas, passar como uma sombra fantstica a
??F
negra e sombria figura de *ingo, estendida sobre o cavalo
Passou!se um quarto de hora, e as pisadas dos cavalos
perderam!se ao longe
*ingo, sempre estendido sobre o pescoo do corcel,
esperava impaciente o instante em que os cavalos se
9untassem para apoderar!se do inimigo
,ntpatro comeou a respirar quando o eco das pisadas
se perdeu ao longe 'ais tranquilo sobre o perigo que to de
perto o ameaava, comeou a ocupar!se do presente Negro e
borrascoso era o que o cercava, e mais terrvel ainda o porvir
que a sua esquentada mente divisava ao longe
Na terrvel noite do seu infort(nio s# aparecia uma
estrela que do c/u tempestuoso da sua desgraa lhe enviava
os suaves e tranquilos raios da sua luz pura e formosa
,quela estrela era 4no/, 0 escrava favorita
Huando cansada a mente, desfalecido o esprito,
,ntpatro sentia que o seu ser lAnguida devorado pelo fastio,
voava para o lado de 4no/ em busca duma vida que iam
consumindo as disc#rdias da sua famlia 4nto o amor de
4no/ em busca era o misterioso amuleto que o reanimava
,mar e ser amado compreender a balbuciante
linguagem dos #sculos, decifrar as expressivas frases sem
rudo dos olhares, sentir os doces efeitos de um suspiro
embalsamado com o aroma do corao que no!lo envia, ter
um seio amigo onde reclinar a fronte carregada com os
negros pensamentos que agrupa o infort(nio, ter enfim um
ninho de amor onde possa esquecer!se a perfdia dos
homens, o bulcio do mundo, que maior ventura, para que
mais felicidade sobre a terra enquanto no chega a hora da
eterna recompensaC
Por isso ,ntpatro, que ao esconder!se entre o mato do
barranco se 9ulgou o homem mais desgraado do universo,
??I
comeou a tranquilizar o seu tempestuoso esprito, porque a
lembrana de 4no/ lhe desceu sobre a fronte como um
blsamo consolador, como uma harmonia celeste Pensou no
seu amor e 9ulgou!se menos desgraado
<m pensamento lhe assaltou a mente, e disse para si-
! 4no/ ama!me- corramos para o seu lado, a sua casa
ser o meu porto de salvao, as suas lgrimas a ben/fica
consolao que ambicionam as minhas dores= os seus doces e
enamorados cantos tornaro ao meu esprito a paz de que
tanto precisa, porque o amo / o rem/dio universal das penas
da alma
3omada esta resoluo, saiu do seu esconderi9o= e,
como nenhum rudo se percebia em torno dele, depois de se
orientar quanto ao lugar que ocupava e ao caminho que devia
seguir para 2eric#, p8s!se a andar, servindo!lhe de guia o
preguioso 2ordo que a pouca distAncia dali se arrastava
sobre o seu leito de areia
,lgumas horas depois, 9 de noite, o prncipe, fugitivo
bateu 0 porta da escrava, e esta abriu!a rapidamente
4no/ era, como 9 dissemos, uma menina de dezoito
anos, to formosa, to cheia de vida como pode ser uma
donzela nascida nas margens do rio santo ,mava seu senhor
como acontece 0s escravas egpcias, que se enamoram dos
que as compram, isto /, com um respeito que tem muitos
pontos de contato com a adorao
! 5# um sentimento agitava o doce e terno corao
daquela menina- o amor 5# um nome sabia balbuciar a sua
encantadora boca- ,ntpatro
*ostumava lembrar!se da ptria= mas um olhar do seu
senhor, tinha o poder de fazer!lhe esquecer tudo
Huanto a seus pais, mal os tinha conhecido ,ntpatro
entrou em casa de 4no/, e esta pegando!lhe na mo de pois
??P
de a bei9ar, conduziu!o ao seu camarim favorito 5# ali a
formosa egpcia p8de reparar no deplorvel estado do
amante 6oto, ensanguentado, com o cabelo em desordem, a
face comovida e plida, os olhos encovados e envidraados,
aquele formoso moo tinha envelhecido dez anos num s# dia
4no/ deu um grito ao v&!lo daquele modo, e lanou!se!
lhe nos braos ,ntpatro pagou aquela afetuosa recepo
com um bei9o e um sorriso e antes que a escrava lhe dirigisse
a palavra, disse!lhe-
! Huerida 4no/, tenho uma fome horrvel- h mais de
vinte horas que no como, e contra o meu costume vi!me
forado a correr a p/ uma distAncia considervel "hD os
meus delicados p/s derrame uma prova da sua fortaleza= mas
com essa prova dilacerante, olha
4 ,ntpatro, que se tinha deixado cair sobre um coxim
indiciou os p/s a 4no/
! 4sta a9oelhou!se e respeitosamente os bei9ou
! "hD disse!lhe o prncipe levantando!a com carinho,
deixa agora os meus p/s e ocupa!te do meu est8mago, minha
querida
4no/ saiu da cAmara enxugando as lgrimas , pobre
menina no tinha despregado os lbios " seu amor no tinha
encontrado palavras bastante expressivas para mostrar!se
com toda a beleza do seu sentimento, e recorreu 0 muda
eloqu&ncia das lgrimas e dos olhares, patrim8nio exclusivo
das almas sensveis, dos cora)es amantes
,ntpatro viu sair a escrava, e acompanhou!a com um
olhar doce e carinhoso
! Pobre menina, disse consigo, s# os deuses lares
poderiam revelar!te o teu futuro, quando os escravos de meu
pai me lancem ao pescoo a cadeia opressora que preparamD
<m suspiro seguiu estas palavras
??S
Depois, apartando com a pequena no os desordenados
cabelos que lhe caiam pela testa, recostou!se no leito e,
apoiando os cotovelos nos almofad)es, deixou cair a cabea
entre as mos, ficando naquela posio por alguns
momentos
CAPTULO II
ON%E E PROVA EUE NRO ( %I8CIL
A%ORMECER NO /RAMO %UM AN'O E
ACOR%AR NO %UM %EMWNIO
4no/ tornou a entrar no camarim, conduzindo uma
bande9a com *arne e duas garrafas de vinho
,ntpatro no levantou a cabea- um inferno lhe
refervia no c/rebro, um mundo de id/ias o preocupava= e
quando um homem se acha num desses perodos crticos da
vida, nada sente, nada v&, seno o que o preocupa e aturde
naqueles instantes
, tmida donzela no se atrevia a interromper o
sil&ncio, a imobilidade do seu senhor 4m vo se afanava por
descobrir a origem daquela profunda dor 'ulher enamorada,
participava das dores do amante sem as compreender, sofri
com ele= mas, receosa de o molestar, sofria em sil&ncio
4nto passou!lhe uma id/ia pela mente 5eus (midos e
formosos olhos fitaram!se numa pequena e leve harpa que
pendia dum prego 5eus mos apoderaram!se daquele
instrumento, e depressa uma doce melodia que chega ao
corao do 9ovem prncipe lhe faz a voltar a cabea
! ,hD ests ai, 4no/C
! 4spero as tuas ordens, senhor
??M
! *anta, pois, minha bela- a tua doce voz faz!me bem
5ou to desgraadoD
! 3u no /s minha serva, /s minha doce amiga= podes
cantar o que te agrade= s# devo advertir!te que sou um
prncipe mui desgraado a quem a morte persegue mui de
perto
4no/, estremeceu ,ntpatro comeou a comer
distraidamente, e 4no/, depois de procurar uma cano
anloga 0s circunstAncias, atreveu!se a dizer-
! 5enhor, na hist#ria do teu povo acha!se um rei
chamado 4zequias que, pr#ximo 0 morte, salvou a vida pela
f/ que lhe inspirava o Deus dos seus maiores " profeta
Gsaias lhe anunciou mais quinze anos de vida, quando ele s#
esperava viver um instante , voz do profeta, o rel#gio solar
de ,caz retrocedeu seis graus e o sol subiu de novo ao
horizonte da parte do "riente Hueres que preludie o canto de
agradecimento que elevou ao seu Deus o rei 4zequiasC
! "uamos o canto do rei
4no/ comeou um acompanhamento que tinha um
doura, uma variao indefvel e, pouco depois, a sua voz
argentina comeou a cantar a po/tica prosa de Gsaias desta
maneira-
.No meio dos meus dias, entrarei pelas portas do
sepulcro- ve9o!me privado do resto dos meus anos 2 no
verei o senhor meu Deus na terra dos que vivem No verei
mais homem algum, nem os que morarem em doce paz
3ira!se!me o viver, vai!se dobrar a minha vida como a
tenda dum pastor- quando a estava ainda urdindo, ento 4le
ma cortou= de manh 0 noite acabars comigo, # Deus meu
4sperava viver at/ ao amanhecer- o 5enhor como um
leo forte havia quebrado os meus ossos= mas pela manh
dizia- antes de anoitecer acabars, # 5enhor, a minha vida
?BT
4stava eu como um filhinho de andorinha= gemia como
as pombas= debilitaram!se!me os olhos de olhar sempre para
o alto do c/u , minha situao, 5enhor, / mui violenta=
toma a teu cargo a minha defesa
'as que / que digoC *omo me tomar 4le sob o seu
patrocnio, quando 4le mesmo foi o que fez istoC 6epousarei,
# Deus meu, diante de 3i com a amargura da minha alma
todos os anos da minha vida
K 5enhorD 5e isto / viver e em tais apuros se acha a
vida da minha alma, castiga!me, rogo!te, e castiga!me, e
vivifica!me
%ede como se mudou em paz a minha amarssima
aflio= e 3u, #, 5enhor, livraste da perdio a minha alma,
lanaste para trs das costas todos os meus pecados
Porque no ho de cantar as tuas gl#rias todos os que
esto no sepulcro, nem ho de entoar os teus louvores os que
esto em poder da morte, nem aqueles que descem 0 cova
esperavam ver o cumprimento das 3uas verdicas promessa
"s vivos, 5enhor, os vivos so os que 3e ho de
tributar louvores, como eu fao neste dia= o pai anunciar a
seus filhos a 3ua fidelidade nas promessas
*essou o canto- ,ntpatro, ainda preocupado como se
escutasse o doce eco da voz de 4no/, ficou alguns momentos
sem despregar os lbios
,s palavras do rei moribundo tinham!lhe chegado at/
ao fundo do corao, e este pulsava de modo estranho para
ele
Por fim, deslizando do leito e pegando num leque de
penas, comeou a abanar!se e a passear distrado pela sala
De s(bito os olhos do senhor encontraram!se com os da
escrava, e ento o senhor foi sentar!se aos p/s da formosa
?B+
egpcia, que lhe apresentou o regao para que reclinasse a
cabea
,ntpatro aceitou o oferecimento enviando um sorriso a
4no/, e depois disse!lhe-
! Oizeste bem em recordar!me a prece do rei 4zequias
Desde este momento prometo!te ocupar!me um pouco mais
de Deus e um pouco menos dos homens
! 'eu prncipe- de 2eov emana todo o bom e
consolador= dos homens todo o aziago e penoso Deus / a
fonte do bem que vivifica o foco de luz que ilumina= pensa
n:4le e sers feliz, ama!o e ters ventura sobre o p# da terra
! %e9o, querida 4no/, que a tua alma / to bela como o
rosto 7endito se9a o instante em que os meus olhos te viram
pela primeira vez 7endito se9a o dia em que formamos este
pequeno ninho onde tu, branca pomba do Nilo, me fazes
esquecer com teus doces arrulhos de amor as terrveis
tempestades que agitam minha vida
! , felicidade / a filha predileta do amor ,s ternas
avezinhas so felizes porque amam= fazem suas tendas nos
flutuantes ramos das rvores, donde erguem seu canto
matinal para o Deus que fecunda o gro que as sustenta
*omo nada ambicionam, seus sonos so tranquilos, os cantos
so alegres= quando a noite se aproxima, enquanto a mo d
calor com o corpo aos frgeis ovozinhos, o pai enamorado
corre a pousar as delicadas plantas sobre o industrioso ninho,
e depois de acariciar com o bico as suaves penas com que a
natureza adornou a cabea da amada companheira,
adormecem, olhando!se mutuamente com amor <m raio de
sol, uma gota de orvalho, algumas sementes espalhadas sobre
a terra do paraso que escolheram para amar!se, / tudo que
ambicionam para o dia seguinte= e Deus eterno velador do
criado, nunca deixa sem realizar as esperanas das aves,
?B;
porque esperam tudo d:4le, e s# n:4le confiam Por que,
pois, no imita o homem as aves para ser ditosoC
! Porque o homem, 4no/, pertence a uma raa maldita e
ambiciosa que olha o amor como um passatempo ameno da
vida e a ambio, como o grande todo das suas aspira)es
Porque o homem luta e devora!se para engrandecer!se com
os despo9os das duas vtimas, e o seu faminto orgulho nunca
se farta ainda que re(na montes de ouro e a vaidade nunca se
contenta, ainda que ve9a curvar!se!lhe o corpo sob o peso das
dignidades 'as eu te 9uro, minha 4no/, regenerar!me 3uas
palavras levantaram um eco dulcssimo no meu corao
4ssas preciosas lgrimas que se desprendem dos teus negros
olhos apagaro com seu (mido orvalho a mem#ria do que
fui " teu amor e s# o teu amor ser de ho9e em diante a
minha maior fortuna, meu constante pensamento Hue vale
uma coroa de ouro quando queima a fronte que oprime,
comparada com a que as tuas formosas mos podem tecer!
me de rosas embalsamadas com o perfume dos teus bei9os e
com o aroma dos teus suspirosD "hD reconheo que fui um
insensatoD @ozem embora meus irmos da herana maldita
de meu feroz pai 4levem!se sobre o sangrento trono de
2erusal/m os da minha raa Hue me importaC , minha
ptria ser desde ho9e a que tu escolheres, a minha fortuna o
teu amor, o meu palcio uma tenda onde nos recolhamos
ambos, a minha ambio a tua felicidade, o meu tesouro o
teu corao, os teus bei9os e os teus formosos cantos
! ,ntpatro, ,ntpatro, murmurou a escrava acariciando
a loura cabeleira do seu amanate com as pequenas mos= a
tua felicidade comea se o teu corao sente o que acaba de
exprimir a tua lngua Porque o amor / o paraso antecipado
dos mortais
?B?
" prncipe hebreu selou com um bei9o as palavras da
sua amada
4no/, cheia de felicidade com o risonho porvir que lhe
proporcionava o amor, apoderou!se do leque de penas de
,ntpatro, e comeou a aban!lo como se quisesse afugentar
da mente do seu amado, o resto de sombrios pensamentos
que o agitavam
! ,manh, continuou o prncipe, quando fortalecido o
meu corpo com o descanso, chegar a noite que / a protetora
dos desgraados, reuniremos a nossa pequena fortuna e
partiremos para o 4gito *omo os rabes do Gemen,
levantaremos a nossa tenda nasa f/rteis margens do rio santo
3u, minha formosa 4no/, te ataviars como as desposadas de
Gsrael, para que eu te contemple eternamente com amor e
beba a minha felicidade nos teus olhares , cor de 9acinto, de
que tanto gosto, ser o teu calado Na tua esbelta cintura
colocarei com as minhas mos o branco cinto de linho, e um
manto finssimo de branca l cobrir tuas delicadas formas
4u adornarei de 9#ias a tua nevada fronte, e as tuas orelhas
com ricos brincos de coral ,s tuas delicadas mos
amassaro tortas de flor de farinha como as princesas de
Davi= eu a teus p/s te adorarei como a rainha da formosura e
do amor Porque te amo, 4no/, mas dum modo desconhecido
para mim at/ este momento Porque tu /s uma necessidade
da minha vida, um segundo ser do meu corpo, a metade desta
minha misteriosa alma que se agita no meu ser
, voz de ,ntpatro ia!se enfraquecendo pouco a pouco
,lgumas frases entrecortas seguiram as palavras de
amor, e depois um bei9o, um nome e um suspiro se
escaparam dos lbios do prncipe Depois ficou dormindo
nos braos da escrava ,quela natureza delicada no p8de
resistir por mais tempo, e pagou o seu tributo ao sono
?BB
4no/ continuou abanando com o leque a formosa
cabea do amante " amor da contemplao brilhou com
todo o seu fogo nas negras pupilas da egpcia
, formosa estrangeira no se atrevia a mover!se para
no acordar o seu senhor
,ssim decorreu uma hora
,ntpatro, embriagado de amor tinha feito promessas
que estava longe de cumprir, porque era ambicioso 4no/
nada lhe tinha perguntado- conhecia o amante e esperava
com a resignao da mulher enamorada que o tempo e as
suas carcias lhe fizessem desistir das suas temerrias
empresas
" prncipe tinha adormecido nos seus braos, e o sono
ia revelar!lhe com a sua rude franqueza o que o amor no se
tinha atrevido a comunicar!lhe desperto
! Oilho de reis, balbuciava em sonhos ,ntpatro, o teu
lugar / um trono a vida / nada quando se arrisca por uma
coroa role o meu crAnio insepulto se os an/is de ouro do
diadema de meu pai no marcaram com o seu contato a pele
da minha fronte <m trono um povo a9oelhado a meus p/s,
e cem legi)es que curvem a cabea e desembainhem a
espada 0 minha voz isso ambiciono 'as a desgraa
acaricia!me com suas descarnadas mos, e a fortuna vira!me
as costas eno9ada 'aldito 'aldito se9a o matador de
minha me o seu podre sangue circula pelas minhas veias e
queima!me o corao mas ahD a morte sorri sobre a sua
cabea est plido como um cadver estende os longos e
amarelados braos sobre a coroa e retira!os com horror,
porque encontrou outras mos que acariciavam as suas folhas
de louro so as mos de seu filho, de meu irmo
,rquelau mas eu tenho ainda escondido entre as pregas da
t(nica um punhal cu9a ponta est envenenada com a peonha
?BF
que me vendeu um rabe e esse punhal se sepultar na
garganta de meu irmo, e a sua coroa ser minha eu serei
rei "hD que belo ser ser reiD
,ntpatro soltou uma gargalhada, e 4no/ comeou a
chorar em sil&ncio= duas horas decorreram= 4no/ ainda
chorava, e o seu amante adormecido nos seus braos, preso
dum pesadelo horrvel, continuava a revelar!lhe todos os
segredos ambiciosos do seu corao
, pobre menina estava to preocupada, e absorta na dor
do amante, que no percebeu uma porta abrir!se atrs dela, e
um homem entrar no camarim andando em ponta de p/s
sobre a mole alfombra para no fazer bulha
,quele homem era um negro de feroz semblante <m
sorriso de prazer horrvel separou seus grossos lbios,
deixando ver duas muralhas de marfim 5ua destra oprimia
um longo punhal e a esquerda, uns cord)es de seda
,trs do negro apareceu outro homem, e atrs deste
outro, e atrs outro 4ram quatro= o negro ia adiante, e
chegou at/ onde estava a escrava
,ntpatro dormia com a formosa cabea reclinada no
seio da sua amada, e esta chorava em sil&ncio e agitava o
leque de penada refrescando a ardente fronte do seu senhor
De repente 4no/ soltou um grito terrvel, mas afogado,
porque uma mo rude e calosa caiu brutalmente sobre a sua
nacarada boca
,ntpatro abriu preguiosamente os olhos, e no seu
semblante plantou!se com as cores mais vivas o assombro e
o terror
! ,hD formoso prncipe, disse *ingo com insultante
entoao- por fim consegui p8r!me em contato com a tua
bela pessoa
! 'iservelD exclamou ,ntpatro cheio de ira
?BI
! No tens de que enfadar!te, meu amo, respondeu o
negro colocando a ponta do punhal sobre o corao de
,ntpatro, fazendo sinal aos seus para que o atassem com os
cord)es
! *ovardes, porque no me matais dum s# golpeC
3ornou o 9ovem, force9ando por desembaraar!se dos
perseguidores
! Porque isso / incumb&ncia do meu senhor, teu pai
,ntpatro, a quem os seus inimigos tinham atado e
posto em p/, dirigiu um terrvel olhar 0 escrava 4no/,
chorando ao seu lado, aturdida com o que estava vendo
! 4 quanto te valeu, miservel escrava, lhe disse com
tom de desprezo, entregar a minha pessoa aos meus
inimigosC 6esponde
! 4u sou inocente, ,ntpatro, esses homens foraram a
minha porta, eu nada sabia
! 'entesD 'entesD
4no/ quis lanar!se aos p/s do amante=mas o irritado
mancebo repeliu!a dizendo-
! 'aldita se9a a mulher que esquece os 9uramentos e
p)e preo 0 liberdade do amante
4no/ deu um grito e caiu desamparada aos p/s de
,ntpatro 4ste apartou a vista com desprezo daquela mulher
que ele 9ulgava culpada e, voltando!se para *ingo, disse-
! 3ira!me quanto antes desta casa
! *onduzi!o aonde sabeis, disse o negro aos seus
"s tr&s homens saram levando atado o peso " negro
ficou um momento no camarim= p8s!se a contemplar o
desmaiado corpo de 4no/
! W formosa como uma virgem do templo de 5ion,
esbelta como uma gara do mar de 3iberiades Pobre menina,
perdeu o seu protetor 7em posso s&!lo, desde agora
?BP
4 dizendo isto, tomou nos braos 4no/, como se fosse
uma criana, e saiu pelo estreito corredor, atrs dos
companheiros
CAPTULO III
A MAMA E O MENINO
Decorreram alguns meses desde os (ltimos
acontecimentos
, mol/stia de $erodes agravava!se " ilustre enfermo
apenas conta alguns intervalos de sossego, durante os quais
se ocupa em formular seu testamento e dar ordens
exc&ntricas que tem sobressalto a famlia e os poucos
cortesos que o rodeiam
*om assombro dos rabinos e altos dignitrios de
2erusal/m e 2eric#, o idumeu, cu9a origem pleb/ia o
atormenta, mandou queimar os livros hebraicos em que
consigna a cronologia dos prncipes de Gsrael
! Por este meio, diz a posteridade ignorar que a minha
raa no era to ilustre como a de Davi
Na ocasio em que tornamos a apresent!lo em cena,
acha!se como de costume deitado na cama Ptolomeu,
sentado 9unto duma mesa, escreve nuns grandes pedaos de
papiro as ordens que lhe dita o senhor
! L&!me o (ltimo testamento, lhe diz com voz apagada
Ptolomeu leu o que segue com voz grave-
! .Distribuo o meu reino, porque assim / minha
vontade, da maneira seguinte- Deixo por sucessor no reino e
coroa de 2erusal/m meu filho ,ntpatro
! Nono / isso, gritou o enfermo, estendendo a mo
?BS
! 5enhor, atreveu a dizer o guarda!selos, h tr&s dias tu
mesmo me ditaste o que acabo de ler
! No te digo o contrrio= mas agora mudei de parecer
Pega na pena e escreve de novo= quero testamentar de outra
forma Nomeio por meu sucessor meu filho ,rquelau, o qual
/ minha vontade e dese9o que cin9a a coroa depois da minha
morte
Ptolomeu escreveu, encolhendo os ombros e fazendo
um gesto de desgosto, mui dissimulado, receoso de que seu
senhor o descobrisse
! , meu filho ,ntpatro, continuou $erodes, nomeio
tetrarca da @alil/ia e da P/trea , Oelipe dou a 3raconitide,a
@aulonita e a 7etAnia, que elevo 0 dignidade de tetrarquia= a
5alom/, minha irm, dou a 2mmia, ,zote e Oasaclide, com
cinquenta mil moedas de dinheiro constante
Ptolomeu, quando acabou de escrever a (ltima frase,
disse, levantando a cabea-
! *ontante
,qui uma pausa, durante a qual o guarda!selos
permaneceu im#vel com a pena suspensa sobre o papiro,
esperando que seu senhor ditasse
! ,gora continua a copiar as doa)es que fao aos meus
amigos e 0 imperatriz dos romanos, como est no testamento
antecedente, pois no quero alterar essa parte
" secretrio escreveu e, terminando, foi apresent!lo a
$erodes Leu o rei com sossego o testamento Depois selou!o
e tornou a entreg!lo a Ptolomeu, o qual, enrolando!o, o
introduziu!o num canudo de prata que colocou num armrio
de marfim, na alcova do enfermo
" guarda!selos ficou im#vel, ao terminar, esperando
novas ordens
?BM
! ,gora, Ptolomeu, pega na pena e escreve o que vou
ditar!te= / um pensamento novo que surpreender os
israelitas
No macerado semblante de $erodes brilhou um sorriso
de selvagem alegria 5eus pequenos e encovados olhos
in9etaram!se de sangue e disse desta maneira-
! 4u, rei de 2erusal/m e de todo o territ#rio que
compreendem as doze tribos de Gsrael, desde as fronteiras do
Lbano 0s desertas praias da Gdum/ia, desde as ribeiras do
mar ocidental 0s rochas do monte @alaad, mando e ordeno
que no prazo de quinze dias, desde aquele em que se afixe e
publique este edito, todos os primog&nitos dos meus estados
que descendam de famlias ilustres e nobres corram ao
hip#dromo de 2eric# onde dese9o transmitir!lhes minha
(ltima vontade para o bem do povo hebreu e descanso do
meu esprito, que desfalece oprimido pelos males do corpo
"s que desobedecerem 0 minha ordem, sero considerados
r/us de lesa!ma9estade, e o rigor da lei cair sobre eles
*umpra!se o meu edito U 4u $erodes, rei de 2erusal/m
Dado no meu palcio de 2eric# aos sete dias do m&s de 5abat
e ano trinta e seis da minha coroao no senado de 6oma
! 4st pronto, senhor, disse o guarda!selos
! ,gora encarrega!te da publicao desse edito $o9e
mesmo podem estender!se os arautos pelo meu reino
Ptolomeu saudou e saiu da cAmara do rei, no sem levar
no peito alguma curiosidade sobre aquela medida extrema
que acabava de ditar!lhe o seu senhor
! Hue canto to sublime teria escrito o meu amigo
%irglio se existisseD exclamou $erodes quando se viu s# ,
posteridade poder admirar o meu sublime pensamento nas
graves pginas da hist#ria Por/m um poema t&!lo!ia
imortalizado mais 'inha morte 9amais se apagar da
?FT
mem#ria dos israelitas e quem sabe, talvez que inventem
alguma festa para celebrar o aniversrio Hue surpresa vai
causar!lhes a realizao desta id/iaD 5im, eles choraro a
minha morte, ah, ah, a morte do seu rei, de seu querido
idumeu como me chamam, ah, ah, ah
$erodes comeou uma risada convulsiva que um forte
acesso de tosse deixou por terminar Huis pedir socorro= mas
a voz apagou!se!lhe na garganta, produzindo um ronco
estranho, como a (ltima blasf&mia de um condenado a quem
a morte fecha a boca antes de a terminar
4nto cravou as unhas na rica colcha do 4gito que lhe
cobria o leito, e com o rosto lvido e os olhos chame9antes
como um hidr#fobo, comeou a deslizar da cama, fazendo
inauditos esforos *aiu, no sem trabalho, sobre a alfombra
e continuou a difcil caminhada arrastando!se pelo cho em
direo 0 porta
Neste momento o menino ,quiab apareceu 0 porta da
cAmara do rei 3razia o 9ovem prncipe um cestinho de
palma cheio de maas ,o ver o av8 naquele estado soltou
um grito, e o cestinho escapou!se!lhes das mos, rolando
pelo cho as mas
! ,v8, meu av8, exclamou ,quiab correndo, com os
braos abertos, para onde estava $erodes
" rei, lanando sanguinosa espuma pela boca, estendeu
o descarnado brao em direo a u:a mesa onde se viam
algumas redomas de vidro " menino, compreendendo,
deitou parte do lvidos lbios do enfermo 4ste bebeu com
avidez e logo grossas gotas de suor comearam a deslizar!lhe
pela fronte
! ,hD exclamou o enfermo depois da horrvel luta
3odos me abandonam, todos me esquecemD 2ulgava sufocar,
?F+
9ulguei que tinham soado a ultima hora da minha vida
,quiab, tu me salvaste
4ntretanto o menino, com grande esforo p8de colocar
o rei no leito
! 4u no te abandono nunca, meu av8= e uma prova
disso / que te trazia este cestinho de maas, porque sei que /
a tua fruta favorita 5o muito boas, eu provei uma "hD
Huando eu for rei, recompensarei os lavradores dos campos
de Damasco, que to boas mas fazem produzir 0s suas
rvores
, verbosidade do terno adolescente encantava o velho
monarca
! 7em sei, meu filho, que me amas, lhe disse
acariciando a sedosa cabeleira do menino, e olhando!o de
modo estranho 3u /s para mim como o raio do sol que
aquece o entumecido corpo dos velhos num dia de inverno=
teu sorriso aplaca as dores do meu corpo= tua voz afugenta os
t/tricos pensamentos que se me agrupam na mente= porque
eu sofro muito meu filho 3enho sonhos horrveis, que se me
erguem na mente como somras malditas, como espetros
evocados dos sepulcros e sobretudo muita fome= mas uma
fome devoradora, insacivel, cruel, que no me deixa um s#
instante, que nunca se aplaca, que 9amais cessa
" menino calava, porque as palavras do av8 lhe
causavam medo= e, depois, olhava!o com olhos to
espantados, to fosf#ricos, e a sua voz to rouca, to
estranha, que o pobre adolescente no se atrevia a respirar
! "lha, ,quiab, continuou o enfermo atraindo!o para si-
tenho um tesouro grande, muito grande, sepultado no fundo
dum barrao que ningu/m conhece seno eu, porque os
quatro escravos que me a9udaram a enterr!lo cortei!lhes a
cabea para que no revelassem o segredo- porque os mortos
?F;
no falam, meu filho, tem!no presente para quando fores
rei Pois bem, esse tesouro / teu todo para ti, porque com
muito ouro os reis consolidam a coroa sobre a fronte 4u te
direi onde o achars, mas / preciso que cuides muito de mim
e espies teu pai e teus tios, e todos os que me rodeiam,
porque querem envenenar!me
$erodes olhou em torno de si com receio ,quiab
estava plido e tremia ,s pernas quase se recusavam a
sustent!lo, porque o horrvel cheiro que se desprendia do
corpo do enfermo lhe ia transtornando a cabea Percebera o
rei a agitao do neto, e um sorriso espantoso lhe passou
pelos lbios
! 3ens medoC perguntou= e por que tens medoC
! 4u no tenho medo, respondeu o menino com voz
apagada= mas as tuas palavras fazem!me mal
! ,hD ,s minhas palavras fazem!te mal, tu vinhas
trazer!me um cestinho de mas criadas nos campos de
Damasco e essas mas essas mas U 4 $erodes parou
um momento e olhou seu neto como se quisesse ler no fundo
da alma U ,panha as mas e tr!las aqui em cima da cama=
quero v&!las, toc!las e com&!las, porque tenho muita fome
ah d!me uma faca, anda, traze as mas e a faca
,quiab apanhou as mas, p8!las em cima da cama, e
depois, pegando ma faca de prata da mesa onde se achavam
os medicamentos, foi entreg!la a $erodes
! <ma, duas, tr&s, quatro, cinco, seis seis mas, disse
$erodes contando!as e olhando 0s furtadelas o neto= que
bonitas so, coradas como a flor do terebinto, finas como a
seda da 5riaD No / verdade que so muito lindasC
! 'uito, avozinho, respondeu o menino mais tranquilo
e quase reposto do medo
?F?
! Pois olha, tu vais comer tr&s, ouvesC tr&s= eu, as
outras
! 'as eu 9 no tenho vontade de mais, trouxe!as para
ti 5o to bonitas que ao v&!las neste cestinho disse comigo=
vou pegar nelas e lev!las ao avozinho, e ele me agradecer
$erodes ficou um momento estudando as palavras do
neto e depois disse-
! Pois bem, comamo!las ambos, eu quero!o, ouvesC
! 4nto obedeo= e o menino pegou numa ma e
comeou a com&!la
*erto $erodes de que seu neto no tratava de
envenen!lo, comeou a corta outra e comeu!a com a avidez
que tinha por costume, e depois, outra ,o chegar 0 terceira,
os dentes cerraram!se!lhe, e uma forte dor de est8mago lhe
fez soltar um grito aflitivo
"s receios tornaram a atorment!lo, e obrigou o menino
a comer a ma que ele acabava de morder
,quiab obedeceu Persuadido o rei de que as fortes
dores que sentia no eram filhas seno de sua horrvel
mol/stia, comeou a revolver!se no leito como um demente
num acesso de furor
! 5im sim, exclamou agitando a faca em redor de si=
este mal que me devora / insofrvel= far!me! padecer
demasiado e dum modo cruel alguns dias, talvez alguns
meses, depois matar!me!, porque no h esperana para
mim 3enho fome, e apenas levo o alimento 0 boca parece
que um punhal me rasga as entranhas Devora!me a sede, a
gua cai!me no est8mago como chumbo derretido a vida /
uma carga penosa , vida / um mal quando no produz um
bem pois ento para que a queroD 4ia, valor e acabemos
com ela 4 dizendo isto fez meno de enterrar no peito a
faca que tinha na mo
?FB
,quiab soltou um grito e precipitou!se sobre seu av8
4nto comeou uma luta desesperada, $erodes
procurava desprender!se dos braos do neto para cravar o
punhal no corao, e o generoso adolescente, pendurado no
pescoo do av8, impossibilitava!lhe o levar a cabo aquele
suicdio
! 5ocorro, socorroD gritava ,quiab " rei quer matar!seD
@uardas escravos meu pai, aquiD
! *ala!te, loucoD , vida estorva!me, cansa!me, lhe
repetia o rei lanando espuma pela boca *ala!te, no v&s que
eu quero acabar duma vez esta agonia lenta e dolorosaC
$erodes, ainda que enfraquecido pela mol/stia, era
mais forte que o neto= assim, / que tinha, apesar dos esforos
do menino, podido desvi!lo do peito e ferir!se, ainda qual
levemente, e algumas gotas de sangue mancharam o leito
real
5alom/, ,leixo e Ptolomeu correram 0 cAmara de
$erodes seguidos por escravos e soldados
" bondoso ,quiab, repelido pelo av8 a alguns passos
da cama 9 no podia impedir o crime= mas felizmente
,leixo lanou!se sobre o rei, e, arrebatando!lhe o punhal das
mos salvou!lhe a vida
$erodes, vendo frustrada a tentativa, cego de raiva,
caiu sem sentidos sobre o leito
! 5ai v#s, exclamou a irm do rei dirigindo!se aos
escravos e soldados= mas chamai imediatamente os m/dicos,
porque o rei creio que morreu
"s escravos sairam sem voltar as costas
4nto ,quiab informou seus tios do que tinha
acontecido, e todos cercaram a cama procurando auxiliar o
enfermo
?FF
Naquela noite espalhou!se por 2eric# a notcia de que o
rei, cansado dos seus padecimentos, pusera termo 0 vida
cravando um punhal no corao 4sta nova voou por toda
parte com a rapidez do costume
" prncipe ,ntpatro, que gemia num calabouo desde
a noite em que o terrvel *ingo e arrancou dos braos da
escrava, ouviu atrav/s da grossa porta da priso vrias vozes
que falavam com calor
,plicou o ouvido 0 fechadura e ouviu estas palavras
pronunciadas atrav/s da parede, que o privava da liberdade
! ,lguma coisa importante sucede na cidade quando se
refora esta torre com mais vinte praas
! ,ssim o creio- visto que o rei $erodes acaba de p8r
termo a seus dias cravando um punhal no corao
! ,hD
! 4u creio, amigo *ocels, que aquele velho leproso fez
bem em matar!se= quando o homem no pode beber nem
amar, a vida / um estorvo
! 3ens razo, $erclio, eu peo aos deuses imortais de
6oma que, como primeiro sintoma da velhice, me enviem o
(ltimo suspiro da minha vida
! ,hD esquecia!me dizer!te que a sentinela que esta
noite dormir no seu posto, tem pena de morte ,s rondas
sero mais frequentes- 9 o sabes
! , vista disso, d!lhes um pouco de cuidado o preso da
torre alta
! 5ciuD *ocles o soldado romano recebe o seu soldo
e obecede
! 3ens razo, $erclio, o tempo dir por quem devem
desembainhar!se as nossas espadas
?FI
! 4m 6oma, a morte dum imperador / sempre uma
fortuna para as suas legi)es, porque o novo rei espalha s
mos cheias o ouro entre os soldados
! N#s podamos estabelecer tamb/m esse costume na
2ud/ia- no so tr&s os herdeirosC
! 5im, mas
" prncipe tornou a lanar!se sobre o monto de palha
que lhe servia de leito Pouco depois, a pesada porta girou e
um homem entrou no calabouo, fechando a porta atrs de si
Levava uma lanterna numa das mos e na outra, uma cesta
de palma
4ra *ingo, o negro, que aproximando!se do miservel
leito do desgraado prncipe, pousou ambas as coisas no
cho, dizendo com voz pausada
! 7oas noites, meu prncipe
CAPTULO IV
O LIVRO %E '$
,ntpatro assentou!se sobre a palha e disse com
naturalidade
! ,hD /s tu, *ingoC ,legro!me de ver!te= esta solido
cansa!me Hue queresD 5ou um homem efeminado a quem
desde pequeno acostumaram a viver com alguma
comodidade e neste calabouo no tenho muitas, por certo
! " homem deve acostumar!se a tudo, senhor
! 5im, / verdade, mas eu no posso= prefiro uma
punhalada no corao, como a que meu pai deu em si ho9e, a
dormir numa cama dura e comer alimentos maus
! ,hD como sabesC
?FP
! "uvi!o atrav/s da porta, que um soldado o contava a
outro 'eu pai fez o que eu faria se tivesse um punhal
! 'atar!te!ias, senhorC
! 4 porque noC , morte / um instante, e nunca a
temi mas os sofrimentos fsicos horrorizam!me %e9o com
desgosto que os deuses imortais me voltam as costas, me
abandonam 4u no tenho o mau gosto de crer no Deus
invisvel dos rabinos da cidade santa= o livro de 2# causava!
me um sono horroroso quando minha me mo lia sendo
menino, para me inclinar 0 paci&ncia *alcula, pois, querido
*ingo, o aborrecimento deste desgraado prncipe, que passa
s# entre estas quatro paredes vinte e tr&s das vinte e quatro
horas do dia
! " rei, meu senhor, / 9usto castigando as tuas
rebeldias
! Por 2(piter, que nem tu mesmo cr&s o que dizesD
$erodes 9usto, o matador da virtuosa 'ariana, o assassino de
meus irmos, o verdugo de 7el/m, 2ustoD "ra, *ingo, tu
ests mangando ,inda que seu filho ,ntpatro fosse to
manso como um cordeirinho, seu pai ter!se!ia desfeito dele-
estava escrito
! 3u exageras
! 5er como dizes mas ocorre!me fazer!te uma
pergunta Ws ambiciosoC
! Huem no /C respondeu o escravo encolhendo os
ombros
! 3ens ocasio de enriquecer, se te apraz
! 'ove!me a curiosidade as tuas palavras
! %ou ser claro contigo "s inimigos devem atacar!se
de frente
! 4u sou um inimigoC
?FS
! ,o menos o tens sido at/ agora 'as no te acuso
Huando o escravo cumpre o meu dever, / to honrado como
o seu senhor 3u podes erguer a fronte sem vergonha
! %oltemos 0 fortuna
! Pois ganha a tens, se me servires nesta ocasio
! Hue devo fazerC
! ,brir!me a porta do meu crcere
! Gsso / ser traidor
! 'eu pai morreu
! ,ssim o dizem os propagadores de novas na cidade,
mas e *ingo ficou pensativo, como o homem que duvida
ao tomar uma resoluo
,ntpatro 9ulgou ver alguma esperana na indeciso do
escravo
! , tua mo pode transportar!me das trevas 0 luz, da
morte 0 vida= o favor, como compreendes, / grande Pede
sem medo
! 4u sou homem que gosto de meditar as coisas= peo!te
um dia para me decidir
! <m dia / um s/culo nesta ocasio
! *ompreendo a tua impaci&ncia a abato doze horas
! 'eu irmo ,rquelau ser ento rei de 2erusal/m, e a
tua generosa proteo me seria in(til
! "raD Doze horas passam!se num momento
4sse momento / a morte da minha esperana, porque a
primeira vtima de ,rquelau ao subir ao trono serei eu
! Dorme, meu prncipe, dorme sossegado, enquanto eu
medito as tuas propostas 4 *ingo encaminhou!se para a
porta
! *ompreendo que no queres enriquecer nem ser meu
amigo, deixo entregue aos deuses o meu futuro= mas se te
palpita no peito um corao, se compreendeste alguma vez o
?FM
amor, essa paixo que / a nossa vida e a nossa morte, essa
misteriosa ess&ncia que ningu/m sabe o que /, mas que ao
espalhar!se pela nossa alma nos enche de dor e de prazer= se
amaste, enfim, *ingo, responde pelo teu amor, que / de
4no/C
! 4no/ e quem / 4no/C
! 3u no a conhecesC exclamou ,ntipatro deixando
cair slaba por slaba, com pausa, dos lbios, e estudando o
efeito que faziam suas palavras no escravo
! W a primeira vez que me chega esse nome aos
ouvidos 4 *ingo deu outro passo em direo da porta
! 4spera, escravo, exclamou o prncipe com voz
imperiosa 5e o teu brbaro senhor te manda cravar!me o
punhal na garganta, aqui a tens, no te demores fere e
cumpre o teu dever= mas antes de me dares a morte, arranca
com uma palavra esta d(vida que, como uma cobra, se me
enroscou no corao Dize!me se a escrava em cu9os braos
me surpreendeste, foi tua c(mplice
! 4u no a conhecia nem a conheo= os meus soldados
espiaram!te, descobriram a tua guarida, e eu surpreende!te=
esta / a hist#ria
! De modo que 4no/
! 4no/ / to inocente como tu 2 o sabes
,ntpatro deu um grito de alegria e deixou!se cair sobre
o monto de palha, exclamando-
! ,gradecido, escravo, agradecido, agora, se no aceitas
as minhas condi)es, dize a meu feroz que, ao comear o seu
reinado, deve sacrificar, como / costume, vtimas ante os
altares- que no se esquea de que eu devo ser a primeira
*ingo saiu do crcere, e, pouco depois, da torre ,o
chegar 0 rua apagou a lanterna e encaminhou!se para o
?IT
palcio " escravo deteve!se 9unto da porta do camarim de
$erodes e aplicou o ouvido
" rei no estava s#- ouviam!se as vozes de vrias
pessoas que conversavam " escravo levantou o extremo da
larga cortina que cobria a porta e observou o que se passava
no interior da cAmara real
" idumeu estendido no leito, olhava com olhos
espantados um ancio venervel, que lia um grosso volume,
sentado 0 cabeceira da cama 5alom/, sua irm, e ,leixo,
seu cunhado, de p/ 9unto ao leito, tinham os olhos fitos no
real enfermo ,quiab, sentado aos p/s do velho, entretinha!se
a desfiar a grossa, fran9a da colcha do 4gito, que cobria a
cama
! 6abino, exclamou $erodes com voz enfraquecida- os
m/dicos abandonam meu corpo, mas recomendam meu
esprito aos sbios 3u o /s= recebe!o, pois, sob o teu amparo,
e os deuses imortais te premeiem
! 5# 2eov, o deus invisvel de ,brao e 2ac#, pode
proteger os filhos de Gsrael, respondeu o velho "s deuses
pagos do "limpo, os dolos de barro e vil metal, fabricados
pela mo do homem, no podem atrair o bem e o mal sobre a
raa humana
! "hD bom velho, l& o teu livro, se / que com a sua
leitura podes tranquilizar as minhas pernas, e deixa os deuses
e as crenas religiosas de lado
" velho rabino abriu o livro, e leu deste modo com
entoao afetada e fanhosa-
! .Livro de 2# *aptulo primeiro $avia na terra de $us
um varo que se chamava 2#, e era de corao so e reto-
temia a Deus e fugia de tudo o que pudesse ter a menor
sombra de mal 3inha sete filhos e tr&s filhas, e os seus bens
?I+
consistiam em sete mil ovelhas, tr&s mil camelos, quinhentas
9untas de bois, quinhentos
! 4la, acaba, rabino, exclamou $erodes= basta dizer que
o meu compatriota 2#, era rico mas no tanto como eu
! 'ois/s no escreveu este livro santo, respondeu o
9udeu sem se perturbar, para que tu o talhasses por onde se te
antolhasse
'ois/s escreveu esse livro para os desgraados- eu
respeito o grande legislador, mas quero que comeces pelo
captulo terceiro, quando 2# amaldioa, o dia do seu
nascimento ouves, rabinoC 4u sou o rei, eu to mando
, fronte do velho cobriu!se duma cor incendiada= mas
um olhar suplicante de 5alom/ bastou para que o severo
9udeu encolhesse os ombros e comeasse a virar folhas com a
mesma tranquilidade que se no tivesse havido a precedente
disputa
! .Livro de 2# *aptulo terceiro, tornou com a mesma
entoao 4 passados os sete dias, abriu 2# a boca e
amaldioou o dia do seu nascimento 4 falou desta maneira-
Perea o dia em que nasci, e a noite em que de mim se disse-
Ooi concebido um homem sobre a terraD *onverta!se em
trevas aquela diaD No o tenha Deus em conta l do alto,
nem de luz se9a alumiadoD
$erodes, torva a face e preso o corpo dum tremor
convulsivo, escutava em sil&ncio a leitura desse grande
poema do deserto, desse grito de dor sublime, imutvel
5uas descarnadas mos esfregavam a rica colcha e
horrveis gestos, descompunham o seu cadav/rico semblante
" rabino, inspirado com a leitura do livro santo, que
tantas vezes tinha feito ouvir na 5inagoga, ia insensivelmente
levantando a voz at/ tomar um timbre grave e ma9estoso, que
fazia estremecer o corao do enfermo
?I;
" velho leitor conheceu que ao rei chegavam os efeitos
da sua leitura, e quis aproveitar as boas disposi)es do
monarca Para o no fatigar, 9ulgou conveniente, pois era seu
ofcio ler os livros santos aos enfermos, e sabia!os de cor, ir
saltando captulos e ler!lhes s# os versculos que mais em
harmonia estivessem com as circunstAncias agravantes do
enfermo
,ssim / que, sem que o percebesse $erodes, pulou
algumas folhas e tornou a ler no versculo % do captulo %GG,
que diz assim-
.Oerve a minha carne em bichos= asquerosas crostas
cobrem todo o meu corpo= a minha pele seca v&!se toda
encolhida e enrugada 5e concebo alguma esperana de achar
descanso, quando de noite me recolho a repousar,
consolando!me com gemidos, e buscando alvio aos meus
males com lgrimas e suspiros, ento cheio de sobressalto
me ve9o acometido de espanto com as imagens e sonhos que
me perturbam a alma
4u no tenho esperana de viver= compadece!te 5enhor,
de mim, e cesse 9 o castigo No / muito o que te peo, pois
que / to pouco o que me resta viver
Hue / o homem para que merea que 3u ponhas nele o
teu corao, e o olhes como alguma coisa grandeC
! 7astaD 7asta velho miservelD exclamou $erodes,
estendendo os punhos ameaadores para o rabino, que se
levantou do seu coxim todo assustado, vendo o rei daquele
modo 3u profetizas!me a morte e comprazes!te na minha
agoniaD Pois bem responde, 9 que tanto sabes e que tanta
f/ tens nos teus livros- quantos dias te restam a ti de vidaC
" rabino ficou plido como um agonizante $erodes,
com os olhos fitos no aturdido velho, ria!se de maneira cruel
?I?
5alom/, ,leixo e ,quiab tremiam, conhecendo que o
pobre leitor ia receber uma sentena de morte dos lbios do
rei
De repente, reanimou!se a fisionomia do rabino, e,
a9oelhando!se 9unto da cama de $erodes, disse com voz
severa e clara-
! 'ui poucos, senhor, porque te ofendi segundo parece,
e a minha vida est pendente dos teus lbios= a minha estrela
pode eclipsar!se quando 0 tua rale vontade se anto9e
$erodes humanizou a dura expresso do semblante, e,
deixando!se cair sobre os almofad)es, disse com tom de
desprezo
! %ai!te eu perd8o!te, mas leva esse livro que de nada
serviu aos meus males
" rabino saiu 5alom/ e ,leixo aproximaram!se do
enfermo= que lhes disse-
! Gde!vos todos, quero estar s# com as minhas dores
para nada preciso de v#s, de nada me servis
3odos sairam- $erodes ficou s#
*ingo,que tudo tinha ouvido, oculto atrs da cortina
decidiu!se a entrar na cAmara desobedecendo 0 ordem do seu
senhor *hegou!se ao leito e esteve contemplando alguns
segundos o enfermo
Pelas toscas faces do escravo rolaram duas lgrimas
Porque aquele homem feroz, aquele verdugo que matava sem
tremer a um sinal do seu rei, amava o seu senhor como a um
filho querido, e teria dado at/ a (ltima gota do seu sangue,
para devolver!lhe a sa(de
$erodes abriu os olhos e viu ao seu lado o escravo
favorito No rosto do enfermo brilhou um raio de alegria e
estendeu uma das mos, que o escravo cobriu de bei9os <ma
lgrima ficou na mo do rei, e este disse!lhe-
?IB
! *horas, *ingoC
! 5im pela primeira vez na minha vida, porque tu
morres senhor
CAPTULO V
ON%E E PROVA EUE O AMOR
%OMETICA A 8ERA
! Ws um servidor leal, *ingo, e quisera antes de exalar o
(ltimo sopro de vida recompensar os teus servios Dize!me,
que ambicionasC Hue queresC Pede, estou pronto a satisfazer
os teus dese9os
! 5# anelo servir!te at/ que morras, e depois partirei
para a Rfrica, pois quisera morrer sob aquele sol que me viu
nascer
! Pouco ambicionais
! "s filhos da Lbia so s#brios, senhor= o seu cavalo,
as suas armas, a sua tenda e uma mulher que alegre com os
seus cantares, as ardentes sestas do estio, / tudo o que
ambicionam, tudo o que anelam
! ,manh recebers uma quantia de ouro, em
recompensa dos teus servios
! ,gradecido, senhor= mas no me trazia 0 tua cAmara o
af da riqueza, venho da torre e vi teu filho ,ntpatro
! ,hD 4 que diz o presoC 6esigna!se com a sua sorteC
! , estreiteza do calabouo afoga!o= a liberdade / a
rainha do seu pensamento, a mais bela imagem dos seus
sonhos
! Nunca, enquanto eu viver
! , notcia da tua morte espalhou!se pela cidade, e,
traspassando as grossas paredes do seu crcere, chegou!lhe
?IF
aos ouvidos 3eu filho ofereceu!me meio reino se lhe abrir as
portas do crcere
! 4 tuC perguntou $erodes, assentando!se
! 4u corri os ferrolhos da porta, guardei a chave, e
venho consultar!te sobre o que devo fazerC
" rei ficou um momento pensativo ,s rugas da fronte
afundaram!se!lhe, e uma sombra e feroz expresso lhe
passou pelo semblante
! ,ntpatro tem rosto de mulher e corao de ao W um
desses ambiciosos que nunca cedem, uma dessas vboras que
/ necessrio esmagar para que no os empeonhe 4nquanto
ele viver, nem eu nem seu irmo ,rquelau teremos
tranquilidade no nosso reino *ingo, matars esta noite meu
filho Lance a hist#ria desse novo e horrvel crime, executado
0 hora da minha morte, sobre mim, nada me importa= sua
morte / uma necessidade= mas procura que morra sem
escAndalo, e que o seu corpo se9a sepultado no velho castelo
de $ircanion
! Hue morte se lhe deve darC perguntou o escravo,
como se tratasse da coisa mais natural do mundo
! Nada de sangue= emprega as tuas vboras= dizem que
esses animais peonhentos, apenas nascem, devoram suas
mes e se devorariam uns aos outros se no fosse cegos
,ntpatro / uma vbora- solta pois as tuas vboras sobre eles
! Oar!se! como dese9as Dize!me o dia e a hora
! 4sta noite ,manh uma lousa de pedra deve cobrir
seu corpo eternamente Parte, e no te esqueas de que / a
(ltima ordem que recebes do teu senhor, porque a minha vida
se apaga= a ruim mat/ria decomp)e!se por instantes, e o
esprito no tardar a evaporar!se deste vaso quebrado e
fugitivo
! Parto, pois, a obedecer!te
?II
" escravo saiu da cAmara do seu senhor, e encaminhou!
se para sua humilde habitao, situada no (ltimo andar do
palcio de $erodes 5ubiu preocupado a estreita e alta escada
e, parando diante duma porta, tirou a chave e abriu!a,
fechando cuidadosamente depois de entrar
Nada tinha de luxuosa a habitao do negro <ma
lAmpada de ferro espalhava sua t&nue claridade pelas
pardacentas e desmanteladas paredes <ma mulher saiu ao
seu encontro ,quele mulher era 4no/ *ingo passou por
9unto dela como se no a houvesse visto, e, soltando um
doloroso suspiro foi sentar!se sobre um velho e roto coxim,
que se via no meio do pavimento
$ouve um momento de pausa , egpcia contemplava o
africano, e este im#vel como uma esttua da dor, com a
cabea escondida entre as mos, nada lhe dizia
! Hue tens, escravoC lhe perguntou 4no/
, doce voz da egpcia fez!lhe levantar a cabea
*ingo fitou os negros olhos da 9ovem- daqueles olhos
desprendiam!se algumas lgrimas
! Por que chorasC tornou a perguntar!lhe
! Porque tenho um inferno no corao porque te amo
e a tu aborreces!me porque te vi
! 4nquanto o meu senhor gemer num crcere, a minha
lngua s# saber abaldioar!te= rompe as suas cadeiras e este
#dio que encerra por ti o meu peito, se extinguir
! "ntem tencionava comprazer!te, ho9e /!me
impossvel
! 4nto o prncipe morreuC
! " prncipe vive mas a sua morte acaricia com os
descarnados dedos os louros cabelos da sua formosa cabea
! 3u 9uraste!me salv!lo- costumam em Rfrica faltar 0
sua palavra os homens da tua raaC
?IP
! Nunca, escrava= na 4ti#pia o 9uramento / sagrado
"lha, 4no/, continuou *ingo, procurando adoar o mais
possvel o seu acento L na Lbia, no extremo oriental do
deserto de 5aara, acha!se a regio de Nigrcia, cu9as altas
cordilheiras, alfombradas de ervas aromticas, prendem com
seus robustos braos o pacfico lago de 3chad "s filhos
daquelas ribeiras tem a cor da cara, negra como a noite, o
corao ardente como o sol do seu c/u, altivo como as
palmeiras dos seus osis, bravo como os le)es dos seus
areais, e livre como o vento que are9a os seus aduares ,mam
e aborrecem a ponto de matarem ou morrerem pelas pessoas
que lhe comovem o peito, porque a sua (nica paixo / o
amor e o #dio= nos seus abrasados campos criam!se
peonhentas ervas e vboras de mortal picadura para os seus
inimigos= nos seus 9ardins, tAmaras, pltanos e #leo
aromtico para os que amam Huando a lua espelha a sua
cabeleira de prata sobre as tranquilas guas do seu lago,
estendem na macia pele de leopardo 0 porta da sua tenda,
fazem assentar!se nela a mulher que adoram, e deitados a
seus p/s recitam!lhe os cantos de amor dos seus poetas mais
populares "h, 4no/ 4no/D ,s noites nas margens do
3chad so tranquilas como o sono das virgens, formosas
como o paraso onde moram as huris da Rfrica, claras como
os mananciais do Lbano W aquela a minha ptria= o primeiro
sol que me feriu a pupila arrancando!lhe uma lgrima / o que
ali brilha 4u tenho ouro suficiente para ser o mais rico, o
mais poderoso dos povoadores do lago " meu brao / forte
como um cedro= o meu corao bate com um vigor que no
desmaia= o meu amor por ti cresce e aumenta- ama!me, e
sers a rainha de 3chad e eu, teu escravo- ve9a eu nos teus
divinos olhos um s# reflexo de amor, e bei9arei o p# que
levantarem teus pequenos p/s
?IS
*ingo, com olhar suplicante, as mos 9untas e preso o
corpo dum tremor convulsivo, lanou!se aos p/s da egpcia
! 4scravo, exclamou 4n#e com indignao,
retrocedendo alguns passos, as mulheres da minha raa
nunca se unem com os homens da tua , sua lei o probe
! 'edita bem murmurou o negro, afogando um rugid-
eu tenho respeitado o teu corpo vivendo debaixo do mesmo
teto, um ao lado do outro- sendo tu formosa e 9ovem e
amando!te eu, no me tenho atrevido a ofender!te nem com
um olhar- mas o teu desprezo pode exacerbar!me 5ou mais
forte que tu e ests em meu poder Pensa!o bem, 4no/,
pensa!o bemD
! 4u era feliz, respondeu a egpcia sem se comover com
a ameaa do negro, tu, como o an9o do mal, envolto nas
sombras da noite introduziste!te na minha morada e
roubaste!me a felicidade Depois, vendo!me s# e desvalida,
apoderaste!te de mim e encerraste!me nesta manso maldita
4u sou a pomba, tu /s o gavio= podes despedaar!me, por/m
no esperes que a minha garganta harmonize arrulhos de
amor para ti ,s mulheres como eu amam uma s# vez na
vida No o esqueas a viol&ncia redobrar o desprezo que
me inspiras ,gora faze o que melhor te agrade
! Pela (ltima vez, exclamou o negro, contendo a raiva,
queres partilhar comigo a minha fortunaC Hueres vir para a
Rfrica e ser minha esposaC
! Nada quero sem ,ntpatro
*ingo abarcou com um olhar aquela tenra 9ovem que
com tanto valor se defendia, e murmurou em voz baixa-
! 3u o queres se9a
4ncaminhou!se para um dos extremos da habitao, e,
abrindo um pequeno armrio, tirou dele uma cabaa fechada
hermeticamente por uma tampa de prata
?IM
! ,s vborasD exclamou 4no/ com horror= qual / o teu
intentoC
! Lembra!te das minhas palavras Nos meus areais
criam!se peonhentas ervas e vboras de mortal picadura para
os inimigos= frescos osis, saborosas tAmaras e delicados
perfumes para os amigos
4 o negro, dizendo isto, saiu precipitadamente do
quarto, deixando absorta e agitada a infeliz egpcia
4no/, um tanto reposta depois de um momento, correu
0 porta que estava fechada 4nto, deixando!se cair sobre o
velho coxim, cobriu o rosto com as mos e comeou a
chorar
" feroz sorriso de *ingo, as palavras ameaadoras que
tinha pronunciado e sobretudo aquelas vboras que por
espao de alguns dias tinha visto alimentar com cuidado,
tudo lhe fazia temer alguma catstrofe
,quele homem feroz tinha!se enamorado para desgraa
dela- tinha ci(mes " seu amante achava!se sob a guarda
dele, e tudo devia temer!se
! 5e mata ,ntpatro, disse a egpcia como se falasse
consigo, eu saberei ving!lo
,quela resoluo pareceu tranquiliz!la Depois
esperou uma hora, e duas, e tr&s, e *ingo no vinha
Nasceu o dia, caiu o sol sobre os ferros da sua 9anela, e
o escravo no tornava , ansiedade de 4no/ era terrvel <m
mundo de id/ias fervia no c/rebro daquela menina
enamorada 5ua febril imaginao apresentava!lhe o amante
morto, e o feroz negro contemplando!lhe o cadver com
sorriso satAnico
LG%6" N"N"
?PT
A V/ORA
CAPTULO I
UM ON0O %E AMOR
Deixemos por alguns instantes a egpcia, e sigamos o
africano, a quem a desesperao dos ci(mes e o hidr#pico
dese9o de vingana que lhe devorava o corao, prestavam
asas para chegar quando antes 0 priso do desventurado
prncipe
*ingo podia matar o rival impunemente, satisfazer uma
vingana sem que a consci&ncia, esse 9uiz terrvel e secreto
dos homens, viesse mais tarde roubar!lhe o sono e
amargurar!lhe a exist&ncia, porque $erodes, o sangrento
monarca de Gsrael, colocava a garganta de seu filho sob o
punhal do escravo ,ssim / que uma alegria selvagem, um
prazer feroz, inexplicvel, reanimava o #dio do africano
Nunca com maior prazer, com maior af tinha corrido a
executar uma ordem 5alvar o prncipe, poupar!lhe a vida,
conceder!lhe a liberdade, teria sido faltar ao dever para um
escravo to servil, to fiel como *ingo " desgraado destino
do prncipe estava nas suas mos, e ,ntpatro no tinha outro
futuro que a morte
.'ata meu filho, e enterra!o sem pompa nem
cerim8nia alguma no velho castelo de $arcanion1 4stas
eram as palavras do idumeu, e *ingo corria a cumpri!las ,
esp/cie de morte no fazia ao caso, de uma vbora, tudo era
morrer " resultado daquela misso terrvel era um cadver
*ingo chegou diante da pesada porta do crcere e
deteve!se Pela primeira vez na sua vida sentiu que o corao
?P+
lhe batia de um modo estranho e novo para ele ,quele crime
era do rei ou seuC 5em o explicar fez a si pr#prio esta
pergunta
5ua consci&ncia erguia!se dentro do seu ser pela vez
primeira na vida 5ua voz estranha e poderosa agitou!o,
como o primeiro sopro de uma tempestade agita enxrcias de
um navio, arrancando!lhe um gemido inexplicvel
! "raD disse consigo querendo tranquilizar!se, o rei
mandou, eu obedeo- entremos
Descerrou os pesados ferrolhos= e entrou no calabouo
,ntpatro, no monto de palha que lhe servia de leito,
dormia profundamente , bela e efeminada cabea do
prncipe tinha uma desordem encantadora " negro parou
para o contemplar a dois passos da cama "s dourados
cabelos caam!lhe em grossos cachos pela branca e fina
garganta como a cabeleira duma mulher <m sorriso cheio de
amor voluptuoso, resvalava da boca do 9ovem adormecido e
seus nacarados lbios agitavam!se como se bei9assem um
ob9eto adorado
*ingo 9ulgou adivinhar os sonhos do prncipe, e levou a
mo ao corao
,ntpatro dormia e ia revelar a *ingo os pensamentos
mais rec8nditos do seu corao "uamos o que sonhava-
! "lha 4no/, dizia numa voz balbuciante como se o
amor lhe agitasse o corao- eu 9ulguei!te culpada que
queres o homem 0 quem aoita sem cessar com suas
speras refregas o vento do infort(nio, pensa mal, desconfia
de tudo, e torna!se receoso e taciturno que louco fui,
pensando que tu, meu amor, podias ter!me vendido aos meus
inimigosD Huando essa id/ia bastarda me passava pela mente,
eu esquecia que poucos dias antes me tinhas 9urado amor
eterno pela mem#ria de teus pais 4nto no compreendia,
?P;
como agora que sei que /s inocente que uma menina como tu
no pode vender o homem que lhe entregou o corao sem
ser mais p/rfida que Dalila, mais infame que 3amar, mais
criminosa que ,tlia 'as esse agravo que te fiz, eu te 9uro
que saberei recompens!lo porque, ouve e no o digas a
ningu/m, 4no/, guarda este segredo, porque estou rodeado
de inimigos 'eu pai morreu, e um escravo a quem ofereci
muito ouvo, vir esta noite abrir as portas do meu crcere e
dar!me a liberdade e amanh, quando a luz da aurora
brilhar sobre os ferros da estreita 9anela do meu crcere, a
essa hora em que o rocio cessa de cair sobre as flores, e as
violetas abrem os seus clices para darem o aroma do seu
seio ao z/firo oriental, eu serei livre, correrei a buscar!te, e
apertar!te ao corao Hue vale um reino comparado com o
teu amorD Desde agora s# sers a minha ambio , minha
coroa ser o teu amor eterno= o meu reino o teu peito
enamorado= os meus vassalos, os meus s(ditos, os teus
ardentes bei9os
*ingo levou a mo ao corao
" prncipe soltou um suspiro voluptuoso Depois
parecia escutar uma resposta, pois agitava a cabea e sorria
com um prazer, com um gozo indefinvel *ingo, cravado no
duro pavimento do crcere, com os olhos in9etados de
sangue, o semblante descomposto e o corpo tr&mulo,
contemplava o adormecido prncipe, lanando!lhe um sorriso
feroz, sanguinrio e, enquanto com a mo apertava o peito
devorado pelos ci(mes, com a outra agitava a pequena
cabaa das vboras, com o fim sem d(vida de assanhar com
aquela prolongada sacudida os venenosos r/pteis que se
mexiam no seio daquele vegetal
,ntpatro continuou depois duma breve pausa-
?P?
! "hD nunca nuncaD 'eu amor / uma fonte
inesgotvel que me brota no corao, que no se exaurir
nunca, ! ser a minha (ltima palavra ao adormecer, 0 noite
,mo!te U a (ltima coisa que pronunciar a minha lngua- na
ocasio de morrer, ser tamb/m U amo!te, amo!te, minha
4no/
*ingo resolveu aplicar aos lbios do prncipe a abertura
da maldita 9aula das vboras
" prncipe agitou os lbios como se quisesse dar um
bei9o, murmurando- ,mo!te, amo!te, minha 4no/D
Neste momento sairam da cabaa tr&s ou quatro
cabecinhas de vboras, agitando as venenosas lnguas com
um rapidez incrvel
,ntpatro estremeceu e os seus lbios tr&mulos
continuavam a agitar!se sem perceber que as vboras
enterravam neles uma e outra vez as peonhentas setas de
suas mortais lnguas
" escravo estava horrvel naquele momento " mais
leve descuido, a mais pequena picadura daquelas vboras que
ele aplicava 0 boca do prncipe, espalhava uma peonha
mortal pelo sangue, 0 qual se seguia uma morte rpida e
desesperada
*onheceu que no podia gozar mais sem grave risco,
porque as vboras, ainda que cegas, t&m um ouvido to fino,
uma elasticidade to prodigiosa, que matam com a picada um
cavalo no mais rpido da carreira, colocando!se pelo eco das
pisadas no lugar por onde tocou com a ponta deste as cabeas
das r/pteis, os quais imediatamente se retiraram,
escondendo!se no fundo da 9aula 4nto fechou com a tampa
e pendurou a cabaa na cintura Passaram alguns momentos
sem que ,ntpatro despertasse= mas aquele curto espao
agitou!se, mostrando o seu mal estar, sobre o (mido leito
?PB
, fronte foi tingindo primeiro duma cor lvida= depois,
de pronto enegreceu dum modo horrvel, e por fim uma cor
amarelada, com manchas escarlates, lhe foi pintando o rosto
4nto deu um doloroso suspiro e abriu os olhos
%iu *ingo e quis levantar!se= mas no pode mover!se-
fez segundo esforo, mas como o primeiro foi em vo
! Por 2(piter, tornou o prncipe, creio que ainda estou
dormindo- escravo, honra a tua mo apertando a minha e
a9uda!me a p8r!me em p/
*ingo no se moveu nem estendeu a mo que lhe pedia
o filho do seu rei 5abia que era in(til, porque a mote se
assenhoreava daquele corpo
! Hue, no me ouvesD exclamou o prncipe com
espanto= ou / que teus ouvidos se tornaram to entorpecidos
como os meus membros
! 3u no podes mover!te mais desse leito de palha,
disse o negro comprazendo!se com a pr#xima agonia do seu
rival
! Hue no posso mover!meD exclamou ,ntpatro= vou
desmentir as tuas palavras, escravo insolente e No pode
acabar a frase- um grito estranho, terrvel, agudo lhe saiu do
peito como se um prego ardendo se lhe houvesse cravado no
c/rebro= o rosto desfigurou!se de modo horrvel= todos os
seus membros tomaram uma elasticidade monstruosa, e
abrindo espantosamente os olhos que se tinham encovado
nas #rbitas, expirou depois de se revolver pelo cho alguns
momentos, preso de uma convulso horrvel
*ingo, com a frieza do homem endurecido no crime,
p8s uma das mos, no corao do cadver e disse-
! 'eu prncipe, tu 9 no podes realizar os teus belos
sonhos de amor= quem sabe se *ingo, o escravo, realizar os
seusC
?PF
Depois encolheu os ombros, e volvendo um olhar de
triunfo para o cadver, saiu do crcere
,lgumas horas depois o povo corria pelas estreitas ruas
de 2eric#, aglomerando!se em uma rua para ver passar um
s/quito f(nebre ,diante ia *ingo montando num soberbo
alazo- levava o airoso tra9e dos escravos etopes do rei= atrs
dele caminhavam quatro homens vestidos de preto, cu9os
amplos roup)es lhes chegavam at/ aos p/s *onduziam uma
esp/cie de liteira descoberta em que descansava o cadver do
prncipe ,ntpatro
Oechavam a marcha f(nebre doze soldados romanos
,s mulheres 9udias, segundo costume, rompiam em
lamentos ao verem passar o cadver
4stes lamentos chegaram at/ 0 habitao de 4no/, a
egpcia, e a curiosidade levou!a at/ 0 9anela 6econheceu o
cadver do seu amante, soltou um grito e caiu desmaiada no
duro pavimento do quarto
" s/quito saiu da cidade, chegou ao castelo de
$ircanion, e o corpo do malogrado prncipe, segundo a
ordem de $erodes, foi enterrado modestamente num dos seus
subterrAneos
" rei continuava enfermo- era quase um cadver= mas
ao ver seu escravo favorito, levantou!se nos braos e disse!
lhe-
! 4 meu filhoC
! 2 no existe, senhor
! ,gradecido, leal escravo
*ingo saudou
! 3oma, esperava!te, e por isso mandei Ptolomeu trazer!
me esta quantia de ouro
4 $erodes estendeu ao seu escravo um pesado saco
repleto de moedas
?PI
! 5enhor murmurou *ingo bei9ando a mo que o
enriquecia
! ,gora /s livre, tornou o rei
! Nunca, enquanto viveres
$erodes indicou!lhe que podia retirar!se, e o escravo
obedeceu
" feroz idumeu, ficando s#, volveu um olhar de prazer
para a coroa que tinha na mesa do quarto= depois adormeceu
com o sorriso nos lbios
No seguinte dia, quanto os cortesos entraram, a saber
da sua sa(de, disse!lhes com tranquilidade inexplicvel-
! 4sta noite dormi muito bem= havia muito tempo que
no gozava um sono to doce, to tranquilo= creio que estou
melhor
Oelizmente, aquele pai feroz, aquele rei inumano
enganava!se- aquele repouso era o repouso da morte, o
sossego do sepulcro que chegava para a sua maldita
exist&ncia
CAPTULO II
A A1ONIA %UM VER%U1O
"s prncipes e os nobres de Gsrael reuniram!se em
2eric#, obedecendo ao edito do seu terrvel senhor, e
Ptolomeu, que era o encarregado de os receber, ia!os
conduzindo ao hip#dromo, donde lhes era proibida a sada
at/ nova ordem de $erodes
"s hebreus, a quem a barbaridade de seu rei trazia
atemorizados, perguntavam!se em voz baixa a causa daquela
reunio= mas era um segredo que ningu/m sabia
?PP
,ssim decorreram quatro dias mortais " valor dos
'acabeus tinha!se extinguido no corao dos filhos de
Gsrael 5ofreram o afrontoso 9ugo que sobre eles pesava, com
as lgrimas nos olhos, e o vergonhoso sil&ncio do medo nos
lbios 'ais de dez mil 9udeus se tinham reunido em poucos
dias no hip#dromo 4m outro tempo, cento e sessenta anos
antes, bastaram oitocentos campe)es ao terrvel 2udas
'acabeu, para combater com 7achides e ,lcino, que
marchavam contra 2erusal/m 0 frente de vinte mil soldados
" caminho de @algado, os campos de 'asselot,
presenciaram o fabuloso arro9o do filho de 'atias "
hip#dromo de 2eric# foi testemunha do afrontoso medo dos
descendentes daqueles her#is que venceram os seleucades
, 2udas faltou um $omero para ser o her#i mais grandioso,
mais fabuloso do mundo Huanto aos prncipes de Gsrael, sua
covardia era tanta, que bastava uma ordem de $erodes para
os fazer tremer 'ais tarde a maldio de Deus devia
espalh!los pelo universo como uma raa maldita
Deixemos por alguns instantes os nobres de Gsrael
chorando sua sorte, e entremos pela (ltima vez na cAmara do
rei tributrio
Huatro eram as pessoas que cercavam o leito do
moribundo- 5alom/, sua irm= ,leixo, seu cunhado= ,quiab,
seu neto e ,rquelau, seu filho "s m/dicos despedidos num
momento de furor pelo real enfermo, esperavam na cAmara
pr#xima talvez a sua sentena de morte @ritos de desespero,
espantosas blasf&mias, ameaas terrveis lhe rebentaram da
contrada e repugnante boca
! No, quero morrer, no queroD exclamava,
revolvendo!se no leito de p(rpura, como um possesso, e
lanando olhares espantosos em redor de si como se quisesse
com eles absorver a vida dos que o rodeavam 4u sou o rei, o
?PS
senhor, o dono de GsraelD , vossa sa(de / minha, preciso
dela, ouviuC dai eu mando que vos crucifiquem no mais alto
da torre ,nt8nia, para que os vossos corpos se9am pasto das
vorazes aves de rapina
! 5ossega, meu irmo, lhe dizia 5alom/, limpando o
suor que inundava a fronte do monarca , ci&ncia ainda no
perdeu a esperana de te salvar- confia, espera
! *onfiar, quando a impot&ncia dos m/dicos se mostrou
clara como a luz do diaD 4sperar, quando os frios dentes da
morte fizeram presa nas minhas entranhas e as esto
arrancando do seu lugarD
$erodes fez um violento esforo para levantar!se e, no
podendo conseguir seu intento, deixou!se cair no leito "
sil&ncio de morte que reinava na cAmara real, s# era
interrompido pelo respirar rouco e fatigado do enfermo
,leixo indicou a sua esposa que fizesse beber ao rei do
lquido que continha uma taa de ouro e esta, depois de
repetidas e carinhosas s(plicas, conseguiu que o enfermo
obedecesse
! "bedeo!te, minha irm, disse o rei depois de ter
bebido= mas tudo / in(til- sei que morro= a minha vida foge
por instantes deste frgil vaso em que se encerra " meu
(nico sentimento ante a morte certa que me acaricia, a minha
horrvel desesperao ao abandonar a vida, no / a minha
morte= / o gosto, o prazer, o grito de alegria com que ser
saudada pelo povo hebreu 'as eu sou o rei No / verdade
que sou o rei, e que nas doze tribos ningu/m se atrever a
desobedecer!meC
! Huem pode duvidar disso, senhorD lhe respondeu a
irm 4nquanto viveres, no teu reino no haver outra lei que
a tua vontade
?PM
! 4 depois de morto se acataro as tuas (ltimas
disposi)es, disse por sua vez ,leixo
! No / verdade que simC
4 $erodes tomou sua irm pelo brao e aproximou!se
do leito como para estudar no seu olhar o que acabava de
dizer
5alom/ empalideceu, porque o mau cheiro que lanava
o corpo do rei era insuportvel Dissimuladamente cobriu o
rosto com um leno embebido em ess&ncia, fingindo limpar
as lgrimas
! Pois que ainda se cumprem as minhas ordens,
continuou com fatigada voz $erodes, aproximai!vos todos= e
tu, ,leixo, escreve neste pedao de papiro selado com o meu
anel, porque vou ditar!me a minha (ltima vontade
! Dita, senhor, 9 te escuto
! Huerido ,leixo, o que vou ditar!te / o pensamento
mais feliz que a minha real cabea tem tido durante os seus
trinta e nove anos de reinado- tu vers, tu vers 5#focles
teria escrito uma grande trag/dia se lhe houvesse ocorrido- tu
vers, tu vers 4 $erodes soltou uma gargalhada horrvel
que fez estremecer os que a ouviram
! 4screve, continuou $erodes- .W minha vontade que o
povo de Gsrael, que me aborreceu em vida, me chore depois
de morto- e como isto parece algum tanto impossvel,
atendendo ao #dio que me tem, apesar dos benefcios que de
mim tem recebido, mando que morram degolados no
hip#dromo de 2eric# os treze mil 9udeus que ali se acham
reunidos, to depressa como eu expire, para que as suas
famlias, chorando sua morte, chorem ao mesmo tempo a
minha1
,leixo escrevia sem respirar= mas a mo tremia!lhe e a
cor do rosto tinha desaparecido
?ST
! Hue vos parece o meu recursoC
! 5enhor murmurou 5alom/
! 7asta, irm, basta= conheo a tua inteno, mas 9
sabes que sou inflexvel= quero que se cumpra a minha
vontade, entendeisC 4 ai do que incorrer no meu desagradoD
,i do que desobedecer as minhas ordensD
! 5er obedecido, senhor, disse ,rquelau com
severidade
! ,gradecido, meu filho= essa obedi&ncia anuncia!me
em ti, que /s o meu sucessor, um reinado digno do meu
,leixo apresentou o papiro, e o rei assinou e selou com
a mo convulsa, exclamando-
! W o meu presente de morte o povo de Gsrael ver que
na (ltima hora da minha vida lhe dediquei o meu derradeiro
pensamento
,leixo enrolou o pergaminho e entregou!o a ,rquelau,
dizendo-
! 3oma, senhor= quando fores rei cumpre a vontade de
teu pai
! ,gora faamos a (ltima experi&ncia desse $erodes,
pois que os m/dicos no acham o rem/dio para este mal que
me devora, colocai!me numa liteira e conduzi!me rodeado
dos meus escravos 0 praa p(blica
! Gsso / impossvel, meu irmoD , tua mol/stia pode
piorar
! "ra, eu sou um cadver que fala e sente ainda por
acaso
! W que no compreendemos que bem possa fazer!te
medida to estranhaD
! ,hD no o compreendeisC Pois eu vo!lo direi "s
caldeus tem fama de sbios, no / verdadeC
?S+
! 5im meu irmo, de toda parte do mundo correm os
homens de saber 0 moderna 5el&ucia a admirar esses sbios,
conhecedores do globo celeste que com tanta preciso
marcam o misterioso rumo das estrelas= mas
! Pois olha, irm os caldeus no tem m/dicos- quando
um deles se acha gravemente enfermo e a sua famlia perde a
esperana, colocam!no numa liteira fechada por vidros e
conduzem!no 0 praa p(blica, e todos os que passam tem
obrigao, sob penas mui severas, de se aproximar do
enfermo e de se informar da esp/cie de mal que sofre, e
ento, se h algum que se achou no mesmo caso, indica aos
seus parentes o m/todo que seguiu para recobrar a sa(de
! Gsso / um absurdo, murmurou ,leixo
! 5er o que quiseres= mas advirto!te que em nenhuma
parte do mundo chegam a maior velhice os homens que nas
margens do 4ufrates, na terra de <r e na ,rbia Oeliz-
porque ali curam!se pela experi&ncia e caridade, e no pela
ci&ncia e interesse
! Perdoa, senhor, se no te obedecemos nesta ocasio,
atreveu!se a dizer ,rquelau= seria uma imprud&ncia
$erodes, acostumado a ser obedecido durante o seu
reinado at/ nas coisas mais absurdas, olhou seu filho com
assombro, e depois exclamou-
! Huem se op)e aqui a minha vontadeC
! 4u, disse com energia seu filho, sem baixar os olhos
4u porque creio que / um dever de filho e s(bdito leal,
desobedecer!teD
! 3u, tuD exclamou de modo feroz- e, dirigindo!se a seu
cunhado continuou- Leva esse borrachoD
,rquelau, que mais tarde mostrou que no tinha to
negra a alma e to sanguinrio o corao como seu pai,
?S;
cruzou os braos, e com serenidade impr#pria da situao
disse-
! "s insultos convertem!se em louvores quando se
tributam a um homem que cumpre o seu dever- ,leixo no
me por as mos na roupa, porque ,leixo sabe que no deve
obedecer!te
$erodes passou as mos pelos olhos Depois cobriu a
cabea com a colcha e comeou a maldizer que o cobria, e
saltou da cama repente atirou longe de si a roupa que o
cobria, e saltou da cama ao cho= mas estava fraco e no
pode ter!se em p/, caindo depois de cambalear um segundo
sobre a macia alfombra
3odos correram a levant!lo mas ele repeliu!os com um
ademane de c#lera 5eu rosto estava mais horrvel que nunca=
suas palavras eram um rudo rouco e ininteligvel= tremia
como se o frio interior lhe gelasse o sangue, e, um copioso
suor lhe corria por todo o corpo 5alom/ correu para a
estAncia pr#xima em busca dos m/dicos- mas, quando estes
chegaram, o auxlio da ci&ncia era in(til $erodes, o idumeu,
o aoite de Gsrael, o verdugo dos hebreus, tinha finalmente
morrido
5ua agonia foi terrvel como um castigo de Deus- pode
dizer!se que durou dois anos 5eu corpo foi devorado pelos
vermes Nos (ltimos momentos da vida, acossado pelos
remorsos e pelas agudas dores do mal que o devorava, fazia
com que os seus inumerveis netos lhe rodeassem o leito de
morte, comprazendo!se em arran9ar casamentos daqueles
pimpolhos reais, a quem o seu punhal sanguinrio deixara
#rfos
" idumeu solicitava as carcias daquele punhado de
crianas como se delas dependesse sua felicidade eterna- mas
o rosto ulcerado e f/tido do enfermo repugnava as crianas
?S?
que mostravam sua repulso com a franqueza peculiar dessa
idade em que tudo se diz porque se ignora o valor das
palavras Deus quis negar!lhe at/ o carinho daqueles an9os
, sua morte foi um grito de alegria para Gsrael 5# um
ente chorou a morte daquele tirano *ingo, seu escravo ,
famlia no derramou uma lgrima, no exalou um suspiro de
dor
" enterro de $erodes foi faustoso , tradio s#
recordava um que lhe parecesse- o de 5alomo
,rquelau mostrou grande esmero nas honras funerrias
a seu pai P8s o cadver num leito de ouro bordado de
p/rolas e pedras preciosas= o estrado era guarnecido de
p(rpura= o corpo vestido de brocado de ouro, tinha uma
coroa na cabea e um cetro real na mo direita= ao redor da
cama estavam os filhos e parentes- depois iam adiante todos
os da sua guarda, um esquadro de gente trcia, de alemes e
franceses, todos armados e em ordem de guerra, todos os
outros soldados seguiam os seus capites depois mui
convenientemente= quinhentos escravos e libertos levavam
perfumes= e assim foi levado o corpo, caminho de duzentos
estdios ao castelo de $erodion, onde foi sepultado conforme
as suas ordens
4, cousa estranha, $erodes, o velho lobo de Gsrael, o
corao malvado que nunca se fartava de derramar sangue, o
feroz verdugo dos hebreus, amava as artes com delrio
Durante o seu desgraado reinado, levantou o ruidoso
templo de Qorobabel= edificou as cidades de 5ebasto e
*esar/ia em honra de "taviano ,ugusto= reparou os
monumentos de ,tenas, reedificou em 6odes o templod e
,polo Ptio= construiu palcios em ,scalon, banhos p(blicos
em 3rpoli, Damasco e Ptolemaida= cercou de muros a cidade
de 7blio, e fez bolsas, aulas, templos e praas em 3iro,
?SB
7erito, e 5id8nia= deu pr&mios nos 9ogos olmpicos e
pensionou em 6oma= fez teatros, aquedutos e belas lagoas
Gsto lhe valeu o cognome de @rande 5eus crimes
disputaram!lhe este glorioso apodo, recordando as c/lebres
palavras de */sar ,ugusto quando soube a terrvel vingana
de 7erito- .'ais vale ser porco que filho de $erodes1
CAPTULO III
O REI MORREU# VIVA O REID
$erodes morreu ao amanhecer, e 0s doze horas daquele
mesmo dia, ,rquelau seu filho, seguido dos chefes
legionrios e, de todas as dignidades da corte de seu pai,
apresentou!se no hip#dromo
, guarda pretoriana sabia o r/gio acontecimento, e
tinha pronunciado em voz baixa o grito de U " rei morreuD U
e esperava o seu novo senhor para o aclamar e receber a paga
da sua submisso
"s infelizes 9udeus tremeram ante o s/quito real= os
soldados romanos, empunhando as armas, formaram para
saudar a sua fidelidade Ptolomeu desenrolou com sossego
um longo pergaminho, e indicando com um gesto que
guardassem sil&ncio, leu em voz grave o testamento do
defunto rei, no qual se nomeava seu filho ,rquelau, herdeiro
da coroa= mas exprimindo que isto seria depois que o */sar
"taviano ,ugusto, seu protetor o confirmasse
Lida a (ltima vontade de $erodes, ressoou por todo o
anfiteatro o grito de U %iva o rei ,rquelauD " 9ovem monarca
saudou com amabilidade a multido " gozo, o prazer,
saltavam!lhe aos borbot)es pelo semblante 4ra rei pela
vontade de seu pai, e esta vontade confirmava!a a espontAnea
?SF
aprovao dos seus soldados 6estava em verdade um
obstculo por vencer- que o */sar confirmasse o testamento=
por/m ,rquelau sabia de sobe9o que o ouro que Gsrael havia
tempo que abrandava o corao dos senhores de 6oma
4ntretanto os soldados legionrios 9uraram!lhe
fidelidade como a seu pai, e ,rquelau, que seis anos mais
tarde devia cair do trono pela crueldade, quis uma vez na sua
vida mostrar!se clemente para conquistar por este meio o
apreo dos israelitas 'andou seu tio ler a (ltima sentena de
seu pai, e o temor, o assombro estendeu!se por entre os
pobres presos "s desgraados rasgavam os vestidos com
desesperao "utros caiam chorando aos p/s de ,rquelau,
pedindo!lhe com gritos de medo a vida que seu pai com to
incrvel desumanidade mandava tirar
,rquelau, no meio daquela desordem, daquela
confuso, daqueles lamentos interminveis, agitou o
pergaminho no ar e mandou que guardassem sil&ncio
*alou!se a aterrada multido, e ele falou deste modo-
! Nobres de GsraelD Glustres primog&nitos de 2ud, nada
temaisD " meu reinado, se / que ao */sar nosso senhor lhe
apraz que eu vos governe, no comear com um crime to
horrvel, com um assassnio to espantoso 4u quero o vosso
amor, e no o vosso #dio= quero as vossas b&nos, e no as
vossas ameaas= meu pai sentenciou!vos 0 morte, eu salvo!os
a vida 5ois livresD Podeis abandonar o hip#dromo quando
vos aprouverD
4 dizendo isto, rasgou o pergaminho e fez voar pelo ar
os pedaos 5eria impossvel descrever o entusiasmo
daqueles infelizes
*aminhar para a morte, e encontrar!se com a vida, /
uma alegria que no tem palavras com que descrever!se
?SI
,rquelau foi levado em triunfo ao palcio e seu reinado
teve um comeo que bem depressa desmentiu o pobre e
perverso sangue que lhe corria pelas veias
$erodes, o @rande, foi conduzido ao sepulcro com um
luxo, uma ostentao to desusada naqueles /pocas, que os
israelitas costumavam dizer- .Huem comesse como o rei
,ssuero e fosse enterrado como o rei $erodesD1
,ssuero deu banquetes que duraram cem dias
,rquelau fez festas pela mem#ria de seu pai, em toda Gsrael,
e o n(mero das carpideiras que acompanhavam o cadver
subia a cinco mil= mas naqueles lamentos, aquelas lgrimas
compradas com o ouro das suas vtimas, no subiram ao c/u
"s primeiros cuidados do novo rei, ao tomar as r/deas
do poder, foram mandar emissrios a 6oma, carregados de
presentes, para inclinar o */sar em seu favor, e procurar o
tesouro que, segundo a voz p(blica, o idumeu havia
enterrado
"s embaixadores foram mais felizes que os boxadores
de ouro "tvio ,ugusto reconheceu ,rquelau como rei da
2ud/ia= mas o tesouro no pode encontrar!se
<m rei pobre acha!se mais exposto a ser restronado que
um rei rico
,rquelau tinha comprado o ex/rcito legionrio 0 fora
de ouro , bolsa dos soldados do 3ibre estava repleta= a do
rei, vazia= era pois indispensvel recorrer aos impostos Gsrael
sentiu o primeiro golpe real que caia atroador sobre as suas
arcas
@emeu e pagou " primeiro decreto do seu novo rei
custava!lhe ouro= o segundo ia custar!lhe sangue
CAPTULO IV
8O1O ENTRE CINHA
?SP
*ingo tinha terminado sua misso em Gsrael ao p/ do
t(mulo de $erodes
Livre e rico, pensou na ptria " seu leal servilismo, o
seu carter en/rgico e selvagem, o favor de que tinha gozado
durante doze anos ao lado do idumeu, tinham!lhe criado
inimigos na 2ud/ia
,rquelau, o 9ovem rei, odiava!o= assim / que, quando
lhe pediu licena para abandonar a terra de 2ac#, o 9ovem
monarca, encolhendo os ombros, respondeu!lhe com
desprezo-
! %ai!te quanto te aprouver= para nada preciso de ti
" negro mordeu os lbios, curvou a cabea e saiu da
cAmara real sem murmurar, aquele desprezo queimava!lhe o
corao 3eria dado toda a fortuna para arrancar a lngua
aquele mancebo que o ofendia
Desde aquele dia, pensou na ptria, no ardente sol da
Rfrica, nas selvagens caadas do deserto, na tenda do rabe,
nas tranquilas noite de 3chad e na bela liberdade dos filhos
da Lbia
6esolvido a no servir de instrumento a nenhum tirano
ansiando lanar!se nos braos da voluptuosa preguia to
encarnada no sangue dos filhos da Rfrica, comeou a fazer
preparativos de viagem
3udo estava pronto oito dias depois Dois fornidos
dromedrios esperavam nunca casa dos arrabaldes de 2eric#
o momento da partida
, viagem era longa, mas *ingo no esqueceu nada= a
tenda, os odres para a gua, as caixas para as provis)es, as
macias peles para a noite, os matelots, para os aguaceiros, e
os ces guardadores do sono
?SS
4, no entanto, no partia, porque uma coisa o
preocupava a ponto de roubar!lhe o sono- 4no/
, formosa egpcia viva com ele, na casinha do
arrabalde, d#cil, submissa, obediente= mais que um ser vivo,
parecia um aut8mato desde a morte de ,ntpatro Nunca
despregava os lbios 5ua eterna melancolia, sua
imobilidade, seu retraimento, desconcertavam o negro que
no se atrevia a molest!la nem com a sua conversao 4la
no ignorava que o amante tinha sido assassinado por *ingo
e, contudo seus lbios no pronunciaram uma queixa
*horar, permanecer horas e horas acocorada num canto do
aposento com as mos cruzadas sobre os 9oelhos e os olhos
pregados no cho era a sua vida
Oalto de resoluo ante a dor e recolhimento de 4no/,
*ingo no se atrevia a empreender a viagem Partir sem ela
era de todo o ponto impossvel, porque a amava com delrio=
e deix!la na 2ud/ia era deixar a metade de sua vida, todas as
suas ilus)es, todos os seus belos sonhos de felicidade
4sperar uma recompensa para o amor que lhe devorava o
peito, era quase impossvel *ingo comeava a sentir um
vcuo no c/rebro 6eceiou endoidecer, e uma noite,
resolvido a arriscar o todo pelo todo, sentando!se ao lado da
escrava, falou!lhe deste modo-
! 5abes 4no/, que vou deixar a terra de GsraelC
! Oazes bem, se no tem encantos para ti
! , ave do deserto quer liberdade= e tu, 4no/, que
queresC
! 4uC nada 5obra!me tudo porque me falta ele
! 'uito o amavas
! 4ra a minha vida
! " tempo e a distAncia dizem que so grandes
rem/dios para as doenas do amor
?SM
! " amor que vive na alma, morre no sepulcro e torna a
renascer no paraso
! Hue faria eu para consolar as tuas penasC
! *horar comigo
! ,s lgrimas afrontam os homens
! 'as embelezam a mulher
! 5e tu me amasses, 4no/D U *ingo deixou cair esta
frase a medo
, egpcia levantou os formosos olhos do cho, e
fitando!os com indefinvel melancolia no negro, exclamou,
depois de exalar um doloroso suspiro
! ,mar!teD Pode!se amar duas vezes na vidaC No h
mais que um amor- o primeiro, como no h mais que uma
exist&ncia, a que recebemos ao nascer
! "s poetas da minha terra escrevem muitas hist#rias
em verso ponderando a excel&ncia do segundo amor
! Pobres homensD " que eles 9ulgavam amor era
vaidade- o que 9ulgavam segundo, era o primeiro
! 'as o homem que conseguiu apoderar!se do teu
corao 9 no existe
! 4 que importaC Por ventura, ainda que a terra o cubra
com a sua capa impenetrvel, ainda que o sepulcro encerre as
suas cinzas para as guardar no profundo sil&ncio da morte,
ainda que eu no o ve9a com os olhos do corpo, deixo de o
ver sempre com os olhos da almaC " amor da realidade no
existe, mas o amor das recorda)es ergue!se maior, mais
belo no meu corao, na minha mem#ria
4 4no/ 9untou as mos e ergueu os olhos ao c/u como
se atrav/s do teto da habitao visse nos c/us a imagem
querida do prncipe de Gsrael
?MT
! 3u aborreces!me, 4no/, murmurou *ingo, e esse #dio,
esse desprezo que te inspiro mais reanima o fogo de amor
que o teu doce olhar me acendeu no peito
! ,borrece!teD "h, pobre de mimD " #dio no me cabe
no corao, porque todo ele est cheio de amor
4no/ mentiu= e se o negro no estivesse to aturdido,
teria visto passar pelos olhos da egpcia alguma coisa
extraordinria
! Pois bem- se no me aborreces, se te inspira
compaixo o eterno sofrimento que a tua frieza me causa,
exclamou *ingo com o entusiasmo do nufrago que v& 9unto
de si uma esperana de salvao, esta mesma noite partirs
comigo para a Rfrica
! Grei onde me mandes, respondeu com doura 4no/= a
tua vontade / a minha 3u respeitas a minha dor, eu devo
obedecer!te
*ingo p8s!se em p/= passou as mos pelos olhos como
se duvidasse do que ouvia, e depois, estendendo uma da
mos a 4no/, disse!lhe com o tom medroso de uma criana a
quem seu pai repreende-
! 5e fosses to boa que me deixasses apertar a tua mo
em sinal de amizade, de simpatia
4no/ apertou a mo do negro com a sua, e este
imprimiu nela um respeitoso bei9o 4no/ estremeceu, como
se um boto de foto a houvesse queimado= mas o negro era
to feliz, que nada observou
! 5e queres, 4no/, partiremos quando o luzeiro
matutino erga a sua formosa luz por cima dos cumes de 2ud
3udo est preparado 4u no me atrevia a empreender a
viagem receoso de ofender!te, porque a tua vontade / a
minha lei que quererD ,mo!te como um louco 4m Rfrica
serei teu escravo= a minha fortuna ser tua 3u sers a
?M+
senhora, eu serei o servo ,gradar!te, satisfazer os teus
dese9os ser o meu (nico af "s deuses, propcios a minha
paixo, faam com que um dia brotem dos teus rosados
lbios palavras de amor para mim
*ingo esperava impaciente uma resposta, porque a
condescend&ncia, a bondosa resignao da egpcia lhe
deixava entrever uma esperana
! Partiremos a essa hora, se / que assim te apraz,
respondeu sem levantar os olhos do cho
! 3u no podes imaginar o bem que me fazem as tuas
palavras- partir para a minha ptria e partir levando!te ao
meu lado, para que mais venturaD "h, que boa /sD No se
porque me diz o corao que hei de ser muito feliz
4no/ exalou um suspiro *ingo, louco de alegria
comeou a reunir tudo o que 9ulgava indispensvel para a
viagem
, egpcia olhava de vez em quando para o negro= mas
os seus olhos fitavam!se as vezes com tenacidade na cabaa
que lhe pendia do citno- dir!se!ia que com seu olhar queria
aprouver as pequenas vboras que se agitavam no seio
daquele vegetal
! "lha, 4no/, vou deixar!te s# alguns instantes= preciso
de encher os odres de gua e carregar os dromedrios- logo
volto= procura achar!te pronta para a partida
*ingo saiu entoando uma cano do seu pas 4no/
permaneceu im#vel no mesmo lugar, somente, erguendo os
olhos ao c/u, exclamou depois de soltar um doloroso suspiro
! "hD Huanto tardas, momento dese9adoD ,ntpatro,
,ntpatroD *onfiaD " meu valor no desmaia, a minha
mem#ria est fresca como no dia da tua morte
?M;
Depois voltou 0 sua habitual posio- triste, im#vel,
chorosa, como a esttua da amargura, com os olhos no cho e
as mos cruzadas sobre os 9oelhos
CAPTULO V
O CANTO %O CINE
,lgumas horas depois, *ingo e 4no/ abandonaram a
cidade de 2eric#
" negro etope, armado duma lana trcia e dum curto
sabre de Damasco 0 cinta, com o seu tra9e rabe e o
semblante risonho, montava um poderoso cavalo, presente de
seu defunto senhor , seu lado, embuada num manto
ralado, 4no/ cavalgava encastelada num dromedrio, e atrs
deste um camelo de carga levava sobre o robusto dorso os
petrechos de viagem, a tenda e a fortuna de *ingo
*aminhavam ao lado do negro dando saltos e ladridos
de alegria tr&s ces enormes de raa caldeia, que to
importante papel desempenhavam nas batalhas
,penas sairam da cidade, tomaram a via 6oma que,
atravessando a 5amaria da @alil/ia, conduz os via9antes do
interior 0s ribeiras do mar "cidental, onde *ingo esperava
achar alguma navio de transporte que o levasse para a costa
da Rfrica
! Hue manh to bela, 4no/D dizia *ingo 3udo sorri
em torno de n#s= s# tu conservas essa eterna melancolia que
me desespera No podes compeender o que eu faria para
ver!te alegre e felizD
*ingo calou!se, porque 4no/ respondeu as suas
palavras com um suspiro
?M?
! %&s aquelas nuvenzinhas cor de opala que assomam
pelo "rienteC tornou a dizer o negro Pois na minha terra,
quando meus irmos de disp)em a elevar a sua orao
matinal e vem a sada do sol procedida por aquelas
nuvenzinhas, tem!no por bom agouro, e as caravanas prontas
para atravessar o deserto empreendem sua penosa viagem
com a alegria no rosto, a esperana no corao e os cantares
nos lbios *anta, sim, 4no/, ri, deita, fora a tristeza, porque
os deuses imortais nos asseguram uma feliz viagem
! 5im, tens razo, *ingo, devo cantar Huando era
menina levantava!me com a alva e 9untava os meus tristes
trinados com os dos pssaros que andavam na margem do rio
santo %ou ver se me lembro duma cano da minha
infAncia
! , tua voz encantadora ressoa no espao, levantando
um eco dulcssimo no meu corao *anta, 4no/, canta 4u
te escuto
$ouve um momento de sil&ncio, durante o qual a
egpcia parecia recordar os versos do canto da sua infAncia
Por fim, precedido dum prolongado lamento, canto o
seguinte romance com uma entoao triste como o gemido
dum cisne moribundo-
Aonde )ais! F meu %arioG
Edna! 9 guerra me )ou!
Pois ;9 o e5.r"ito +ersa
Em nossas terras entrou<
No )9s! no me dei5es;
PeoDte +e*o nosso amor!
Pe*as "in>as de minha me!
Pe*o nosso %eus +rotetor<
?MB
Nos +*ainos de 1i>.
'9 suas tendas *e)antou
Um e5.r"ito estrangeiro
Eue a nossa hora man"hou<
Nada temas! Edna! minha<
Eu )o*tarei<<< E +or&ue no!
e '7+iter me +resta am+aro
E Miner)a +roteoG
Edna "hoa! %ario +arte;
A triste dos o*hos +rantos so*ta! Por&ue +assam dias
a+,s dias
E o seu amado no )o*ta<
%esde ento a don>e*a
Em )o +ro"ura o amante#
Triste tem o seu o*har
Triste o seu sem-*ante#
Triste . o e"o da sua )o>!
Eue +e*os -os&ues de Ni"ot
Re+etindo )aiA D %ario# %ario#
Por&ue me dei5aste to s,G
Oh# Vo*ta )o*ta<<< )o*ta
PeoDte +e*o nosso amor!
Pe*as "in>as de minha me!
Pe*o nosso %eus +rotetor<
*alou!se a egpcia 5ua voz perdeu!se ao longe como
gemido do z/firo entre os espessos ramos dos salgueiros
Duas lgrimas lhe escorregaram pelas ternas faces 5ua
formosa cabea caiu sobre o peito, dobrada como a pura
sensitiva aos ardentes raios do sol do meio dia
?MF
"s dois ces que saltavam ao redor do seu
camelo,apenas se extinguiu o triste som da voz de 4no/,
soltaram um prolongado e f(nebre uivo, que foi perder!se,
fatidicamente entre as concavidades dos barrancos
*ingo era rabe e, portanto supersticioso , cano de
4no/, o uivo dos ces, f&!lo estremecer, e sentiu que o
sangue das veias se lhe gelava 4nto, no achando palavras
na lngua, quis desimpressionar!se do fatdico estupor que o
tnha sobre!encolhido e, cravando o acicate nos ilhais do
corcel, partiu a galope, fazendo na sua carreia mil evolu)es
que mostravam que era um cavaleiro consumado "s
camelos imitaram o galope do cavalo, os ces saltaram em
redor dos camelos= todos corriam apressados sem despregar
os lbios, preocupados, tristes, meditabundos , cano de
4no/ tinha produzido efeito melanc#lico
, aurora daquela viagem tinha!se apresentado risonha,
tranquila 'as aquelas nuvenzinhas cor de opala tinham!se
transformado em pardas nuvens de cor feia e achumbada
Huando o sol saiu, no pode lanar sobre a terra os seus raios
vivificadores, porque estava nublado
4ntretanto *ingo, corria e corria, mais para se aturdir
que por correr, e atrs dele os camelos, levantando as
cabeas, aspirando o ar e mostrando os dentes= e os enormes
ces, ora adiante, ora atrs da pequena caravana, galopavam
tamb/m, dando saltos e ladridos
De repente rasgaram!se as nuvens e um raio cruzou o
ar, deixando ap#s de si uma serpente de fogo
" cavalo de *ingo encabritou "s dromedrios
lanaram um sopro medroso, augurando a pr#xima
tempestade <m trovo surdo e longnquo rolou nas nuvens,
e algumas densas e grossas gotas caram sobre a terra
?MI
" negro conteve o cavalo e parou "s camelos fizeram
o mesmo "s ces deitaram!se no cho com a lngua dilatada,
a respirao fatigada e os ilhais batendo
! Dentro em pouco a gua cair sobre n#s a torrentes,
4no/= / preciso p8r p/ em terra e levantar a tenda, disse
*ingo
! *omo quiseres= respondeu a egpcia com indiferena
" negro p8s p/ em terra, prendeu o cavalo ao tronco
duma rvore e, aproximando!se do dromedrio de 4no/,
tocou!lhe com a lana nos nodosos 9oelhos, e o d#cil animal
deitou!se para que a egpcia descesse
*om rapidez assombrosa, o negro levantou a tenda,
colocando!a 9unto 0 fralda dum outerinho, resguardada do
levante, que trazia sobre eles a tempestade
Depois estendeu uma das peles e disse 0 escrava-
! 4ntra- a lona da tenda tem uma preparao que repele
a gua Debaixo do seu teto achar!te!s to abrigada da
chuva como no palcio dum rei
Depois prendeu os camelos 9unto do cavalo e mandou
aos ces que no se movessem- e os ces, acostumados a
vigiar o sino da caravana, foram deitar!se a vinte passos da
rvore que servia de ref(gio aos herbvoros, como se a hora
da sua atalaia houvesse chegado
*ingo entrou na tenda onde 9 se achava 4no/, e fechou
atrs de si a porta de lona com as fortes correias de pele de
touro
Parecia que as nuvens s# esperavam que o negro
terminasse a tarefa para descarregarem sobre a terra as
ferventes cataratas que encerravam nos seus flutuantes bo9os
Poucos minutos bastaram para que o dia, que se
apresentava belo, claro, cheio de poesia e de luz, se
?MP
convertesse num dia de horrvel tempestade, de furiosos
ventos, de mares de gua
No "riente estas mudanas de tempo so mui comuns
"s dromedrios e o cavalo chegaram!se ao tronco da
rvore que lhes servia de tenda, para se livrarem da gua que
o c/u derramava sobre eles "s ces no se mexeram do
lugar que lhes tinha indicado seu dono
CAPTULO VI
%E/AIUO %UMA TEN%A
*ingo contemplou!a alguns instantes mais, fazendo um
movimento de ombros como o homem que se decide a
revestir!se de paci&ncia, sentou!se tamb/m, ainda que um
pouco desviado da companheira de viagem
! , tormenta durar pouco, disse quase falando consigo
mesmo 'as corremos muito, e algum descanso no ser
mau para os camelos e para o cavalo 5e ests cansada,
passaremos parte da noite nesta tenda
! 4u s# tenho direito a obedecer, respondeu 4no/
! Ws muito cruel
! , condescend&ncia / crueldade na tua terra, africanoC
! No= mas a indiferena despedaa os cora)es
ardentes e apaixonados como o que sinto bater no peito
! 4 que me importa a mim que o teu corao se
despedace quando o meu est feito cinzas desde o instante
em que o meu senhor desceu ao sepulcroC
*ingo abriu os olhos desmedidamente, p8s!se em p/, e
cruzando os braos sobre o agitado peito, exclamou com ira
reconcentrada-
?MS
! 5abes que as tuas palavras podem converter a mansa
ovelha em lobo ferozC
! Gsso / uma ameaaC
! W uma advert&ncia que pode servir!te muito
! " rei poeta, o pai de ,bsalo, o dos longos cabelos,
disse- .,s repreens)es suaves quebram a ira- as palavras
duras excitam o furor1 No esqueas estas palavras do sbio
5alomo
! "hD Hue mais humildade queres no homem que te
amaC disse o negro 9untando as mos com adem suplicante
! Hue mais resignao esperas da mulher que te
aborreceC respondeu a egpcia lanando!lhe um olhar altivo
que fez estremecer o negro
! 4no/, 4no/, lembra!te que estamos s#s= que sou o
mais forte, e que a te o poderoso estrondo da tempestade /
em meu favor, porque apaga a voz humana
4no/ encolheu os ombros e fechou os olhos inclinando
a cabea sobre um almofado e murmurando-
! "raD 3u no me fars mal= sei!\ deixa!me dormir=
incomoda!me a conversao= estou cansada
*ingo, desorientado ante aquela 9ovem, soltou um
rugido e deixou!se cair num dos extremos da tenda,
escondendo a cabea entre as mos, sem d(vida para no a
ver
4ntretanto, 4no/, triste como sempre, tranquila como
nunca, continuava reclinada sobre o seu coxim com os olhos
fechados
Para um homem como *ingo, uma mulher como 4no/
era a desesperao " feroz negro, vendo!se sempre vencido,
derrotado por aquela fraca menina, estava fora de si ,s
id/ias sucediam!se em tropel naquela imaginao inculta,
selvagem
?MM
3o depressa pensava em obrig!la a obedecer pelo
poder da fora, como lhe ocorria cair!lhe aos p/s e chorar
com ela a morte do venturoso prncipe que ainda depois de
morto reinava no seu corao $ tempestades no c/rebro
que devastam e deixam sinais no ser humano como a
passagem do furao num campo de espigas
*ingo, apesar do minguado espao da tenda, passeou,
ou para melhor dizer= deu voltas como a hiena em redor dum
cadver desenterrado
! " vinho / bom conselheiro nos casos graves da vida,
tornou= e depois os seus vapores consolam e fazem esquecer!
nos as penas- bebamos, pois
Dirigiu!se a um dos extremos da tenda, desatou um
odre e deitou uma poro de vinho numa Anfora de barro
Depois tomou um punhado de tAmaras da caixa de
provis)es e uma pedao de torta, e foi sentar!se 9unto da
porta onde tinha posto a pele e um coxim <ma vez sentado,
bebeu um grande trago de vinho e olhou para 4no/
! Hueres tAmarasC disse estendendo!lhe a mo cheia
daqueles frutos
, egpcia no respondeu
! 3ers adormecidoC
,o fazer a si pr#prio esta pergunta, a 9ulgar pelo brilho
dos seus olhos e pela expresso de prazer que lhe assomou ao
semblante, algum pensamento horrvel lhe tinha passado pela
mente= mas imediatamente fez um gesto de indiferena com
os lbios e tornou a beber com avidez, murmurando-
! "raD " tempo / um grande rem/dio para a mol/stia de
que em pedao 6espeitemos o luto do amor e bebamos
Depois destas reflex)es, um tanto mais tranquilo, *ingo
procurou uma posio mais c8moda e continuou fazendo
BTT
repetidas liba)es "s vapores do vinho comearam a
produzir efeito= mas *ingo bebia e 4no/ fingia dormir
De repente os ces comearam a ladrar de modo
desesperado *ingo, com uma voz rouca e presa dos
borrachos murmurou-
! Hue / isso 'olochC Hue h, 3ifonC $ algum curioso
pelas vizinhanas, leais sentinelasC 'ordei, despedaai, mas
no me quebreis a cabea com os vossos desagradveis
gritos
"s ces continuavam com mais fora os seus ladridos
! %e9amos o que h, tornou o negro 4 no sem alguma
dificuldade, p8s!se em p/ e, pegando na lana, saiu da tenda
4no/ abriu os olhos ao ver!se s#= p8s!se em p/,
percorreu a tenda com precipitao, procurando alguma coisa
que no encontrava e depois, tornando a colocar!se na
mesma posio, disse, fechando os olhos-
! 4spera, espera, meu amor, que eu no durmo nunca
*ingo, apoiado na lana, percorreu as vizinhanas da
tenda= mas no encontrou nada
, tempestade havia!se dissipado= os raios do sol da
tarde ainda brilhavam
Para o norte destacavam!se ao longe as t/tricas
montanhosa de 5amaria como um esquadro de gigantescos
fantasmas , tempestade ainda pairava sobre os altos cumes,
encaminhando a sua terrvel c#lera para s costas ocidentais
*ingo tornou a entrar na tenda, cambaleando, e deixou!
se cair sobre a pele ,lguns momentos depois dormia
profundamente
5ua respirao forte e pausada mostrava a qualidade do
sono que a produzia *ingo dormia o sono pesado e profundo
do borracho
BT+
, egpcia abriu os formosos olhos <m raio de sol,
entrando pela porta da tenda, banhava a negra e selvagem
cara do escravo
! *ingo, *ingoD disse 4no/ em voz baixa
" negro permaneceu na mesma posio
4nto a 9ovem levantou!se e, aproximando!se ao
dormente, tornou a repetir o mesmo nome= mas desta vez
com voz mais forte e aplicando os lbios ao ouvido do
adormecido
" negro estremeceu, por/m seus lbios permaneceram
cerrados
! Dorme, disse consigo 4no/, dorme profundamente
*ingo tinha deixado as armas ao alcance da mo, e
4no/ pegou um punhal
Depois, pondo!se de 9oelhos ao lado do negro, com
uma das mos agarrou a pequena cabaa que continha as
vboras, e com a outra em que tinha o punhal, cortou o
cordo de seda que a prendia ao cint
5enhora daquela arma terrvel, p8s!se em pe, dizendo-
! "lho por olho, dente por dente ,gora /s meu,
africano feroz , tua morte / certa como a de ,ntpatro, a
quem vou vingar ,manh, 7elzebu, o asqueroso deus das
moscas, mandar as suas repugnantes legi)es para que
saboreei a podre substAncia da tua carne envenenada
6pida como uma pantera saltou por cima do corpo do
negro, e colocando!se 0 porta da tenda, destapou a cabaa, e
deitou todas as vboras no peito de *ingo
"s venenosos r/pteis comearam a estender!se,
agitando a lngua, por todo o corpo= duas delas se enroscaram
no pescoo do negro e lhe cravaram os ferr)es na carne=
outra foi picar!lhe nos lbios= outra nos olhos
BT;
*om a alegria feroz da leoa que acaba de despedaar a
hiena que lhe surpreende na cova dos cachorros, eno/ se
afastou da tenda, e desprendendo os dromedrios e o cavalo
do tronco da rvore, montou no seu e deu o grito de partida
"s d#ceis camelos tomaram com passo grave a
primeira senda que se abria ante eles " cavalo seguiu os
camelos saltando e relinchando "s ces, com o olhar
fosf#rico, procuravam seu amor e, no o vendo,
encaminharam!se para a tenda com esse instinto leal to
pr#prio da raa canina
,o chegarem 0 porta encontraram o corpo do negro que
se revolvia pelo cho, lutando por sacudir o seu pesado sono
do vinho
"s ces estenderam o pescoo, e dilataram os narizes
cheirando o corpo do amo= mas de repente sacudiram as
orelhas e retrocederam alguns passos, soltando um lastimoso
uivo
3inham visto as vboras= o seu imperceptvel silvo
horrorizava!os " leo foge da vbora= todos os animais da
criao, inda os mais ferozes, as temem e evitam o seu
encontro, cedendo o campo porque a sua picadura / a morte,
e eles o sabem por um secreto instinto
CAPTULO VII
MELO%IA 8TNE/RE
"s uivos dos ces e as terrveis picadas das vboras
acabaram de despertar o negro, que fazendo um violento
esforo para sacudir o pesado e horrvel sono que o
sub9ugava, se p8s em p/ e olhou em torno de si com os olhos
espantados
BT?
! 4no/C perguntou a si mesmo "nde estarsC 4 levou
ambas as mos ao rosto para esfregar os olhos, receoso de
no ver bem que o tinha na frente
4nto encontrou entre os dedos um corpo estranho que
sentiu frio, e atirou de si com repugnAncia, soltando um grito
horrvel, desesperado, atroador, que foi seguido de outro, no
menos espantoso, que soltaram os ces, pois uma das vboras
tinha ido cair sobre a cabea dum deles, que
instantaneamente se sentira ferido pelo mortal ferro
!,s vborasD ,s vborasD exclamou desesperadamente
correndo para fora da tenda "nde est 4no/C 'iservel
mulherD 4u preciso afogar!te entre os braos antes que o
veneno que me corre pelo sangue me esfrie o corao
4 *ingo correu louco, desalentado para a rvore onde
tinha deixado o cavalo
4 os ces seguiram!no ladrando funebremente
4 4no/, a uns cem passos da tenda, montada no seu
camelo, encaminhava!se para os vizinhos bosques de
5amaria, cantando com melanc#lica voz o romance de 4dna
e Dario
*ingo levantou a cabea, viu 4no/, soltou um grito de
alegria, correu 0 tenda, passou por cima das vboras,
empunhou a comprida e pesada lana, tornou a sair ao campo
e arremessou!se no encalo da egpcia
4sta, sem deixar o pat/tico canto, meteu a cavalgadura
a trote " negro viu!a afastar!se de si, como uma viso
fantstica
, raiva, a desesperao, cresceram!lhe no peito vendo
que aquela mulher que o tinha burlado se escapava, 0 sua
vingana 'ais que um figura humana, parecia um espectro
infernal lanado 0 carreira
BTB
, espuma brotava!lhe da contrada boca "s olhos
encovados e reluzentes tinham uma imobilidade espantosa
,s pernas, fracas pelo vinho e tr&mulas pelo veneno que lhe
empeonhava o sangue, mal podiam sust&!lo
*aia, mas tornava a levantar!se pela sua poderosa fora
de vontade, e a cada queda soltava blasf&mias a que os ces
faziam coro com os uivos
4 4no/ corria adiante, e *ingo corria atrs, e ladravam
os ces dum modo horrvel, saltando em torno do amo
! 4spera, espera, 4no/D gritava com infernal entoao
4u preciso antes de morrer atirar!te ao rosto a minha lngua
empeonhada 4spera, esperaD 4 tu, 5tis, deusa terrvel da
morte, datem!lhe o passo com teu envenenado hlito
'as 4no/, sempre a igual distAncia como se tivesse o
maravilhoso poder de medir o terreno que a separava do seu
perseguidor, cantava com impassibilidade
! 'aldita se9asD 'aldita a que te trouxe nas entranhas,
maldito o fruto do teu ventre se um dia conceberes, at/ a
quarta geraoD exclamou *ingo soltando um rugido
4 que exalava o (ltimo sopro da vida, e arro9ando com
f(ria sobrenatural a pesada lana que tinha na mo, caiu
desamparado e rolou por uma ladeira, despedaando o rosto
ao cair com os pedregulhos que 9uncavam o terreno
, lana passou silvando por cima da cabea de 4no/,
mas a egpcia no se moveu= viu cair *ingo= cessou o canto e
deteve a cavalgadura, e erguendo os olhos ao c/u com
dolorosa atitude, murmurou em voz baixa-
! 'eu amor, 9 ests vingado
Depois, querendo certificar!se mais, dirigiu a cabea do
dromedrio para o lugar onde tinha cado o negro, e
chegando a dois passos do ensanguentado corpo, deteve!se
de novo
BTF
" etope estava horrivelmente desfigurado 3inha
morrido= mas ainda tinha os olhos abertos e agitavam!se!lhe
as plpebras com espantosa precipitao "s tr&s ces
lambiam!lhe as mos e o rosto, uivando sempre
! 5im, 9 no existe, murmurou 4no/= sua morte foi
horrvel, espantosa " meu pobre ,ntpatro devia ter sofrido
muito pois morreu do mesmo modo que este miservel
escravo "hD quando penso que tu, meu prncipe, senhor do
meu corao, morreste sem que os meus lbios cerrassem
tuas formosas plpebras, abandonado dos homens e talvez
dos deuses imortais, creio que a minha vingana foi
pequenaD
4no/ deteve!se um momento Depois apartou os olhos
do cadver e elevou!os ao c/u, exclamando-
! Deus do "limpo, cerrai o vosso formoso paraso ao
esprito deste malvadoD Lares protetores da minha famlia,
guiai pela senda da vida, esta donzela abandonadaD
4no/ fez passar o camelo por cima do corpo inanimado
de *ingo e continuou seu caminho 0 merc& da cavalgadura
, esta seguiram o camelo e carga e o cavalo "s ces,
mais leais, ficaram 9unto do cadver
Depois, nada- sombras, sil&ncio, solidoD porque
4no/ 9 no cantava, e os ces morreram sobre o cadver do
dono, envenenados como ele pelas mortais vboras
CAPTULO VIII
UM CAVAL0EIRO EUE ROU/A EM %EPOVOA%O
Deixemos os mortos e sigamos 4no/, que h tr&s horas
caminha sem rumo
BTI
5e a vista e o passo do dromedrio no fossem, uma
mais perspicaz, e o outro mais seguro que o do homem,
indispensavelmente o modesto e valente herbvoro que
conduzia a egpcia teria cado em alguns dos profundos
precipcios que marginavam o caminho que 0 sua vontade
seguia= mas isto acontece poucas vezes <m rabe dorme
sobre o acastelado dorso do seu camelo com a mesma
tranquilidade que 0 sombra duma palmeira ou sob o pavilho
da sua tenda
4no/, abismada em suas reflex)es deixara o prudente
animal caminhar a seu bel prazer, porque lhe era indiferente
qualquer ponto da terra
*aminhava, pois, ao acaso, sem pensar no que faria no
dia seguinte- na sua imaginao s# existia o ontem, isto /-
,ntpatro e o seu amor
2ovem e enamorada, s# no mundo, tinha cometido um
crime para vingar o seu amante 5ua imaginao entusiasta,
ardente, 9ulgava um dever o que acabara de executar No
matar *ingo, teria sido para ela uma covardia mais que
isso, uma ingratido, uma falta de amor
4stava pois, tranquila= no tinha remorso= no a
amedrontava o que pudesse sobreviver!lhe, porque no
pensava, como dissemos no futuro " presente e o passado,
isto / o seu amor sentido e o seu amor chorado, era tudo o
que lhe ocupava a imaginao 3inha dezoito anos 5# havia
amado o prncipe ,ntpatro, de quem era escrava, escravido
que mais de uma vez tinha abenoado, afagando os louros e
sedosos cabelos do amante
,bismada na recordao do seu amor, caminhava 4no/
0 merc& da cavalgadura, quanda esta deteve o passo ao voltar
de um barranco, e levantou bruscamente a cabea 4ste
movimento inesperado fez perder o equilbrio 0 9ovem, e
BTP
indubitavelmente teria cado ao cho se mo vigorosa no
houvesse obrigado o camelo a abaixar o arqueado pescoo,
com o que tornou a ficar sentada to aprumada e segura
como antes
4no/ viu 0 claridade da lua um homem moo e belo
parado diante da cabea do seu dromedrio
*om a mo esquerda segurava o camelo, travando!lhe o
freio de cAnhamo , direita empunhava uma azagaia curta de
tr&s puas " vesturio era uma esp/cie de capa curta e um
turbante com bandas que caiam sobre os ombros , barba era
pouca e mui rala, sem d(vida por causa da 9uventude
Nada tinha de temvel aquela apario 0 meia noite e
num barranco solitrio
! 7oas noites, 4no/, disse o estranho com amabilidade
e com voz doce e melflua como a dum corteso da rainha
*le#patra
! *onheces!meC perguntou a egpcia com assombro
! 5im, pois 9 que sei o teu nome
! 4 quem /sC
! 5ou um cavaleiro que rouba em stio despovoado
! <m ladroC
! 4sse / o qualificativo que se d nas cidades aos
homens que tem o meu ofcio= mas no me ofendo com isso
'erc(rio foi ladro e ho9e / um deus dos pagos= / bem
verdade que a tais crentes no fica mal um deus to
desonrado
! 3u /s 9udeu, pois que falas com desprezo dos deuses
do "limpo
! 5# Deus / Deus, 4no/ 3u /s egpcia e l na vossa
terra levantam!se pedestais e sacrifica!se a essas divindades
pags fabricadas pela mo do homem= por/m eu sou hebreu e
BTS
s# venero o Deus invisvel de ,brao e 2ac#, porque este
Deus / o (nico 4le s# / verdadeiro
! 4 qual / o teu intento, ao impedir!me a passagemC
%ens pelo ouro que presumes conduzem os meus camelosC
! %enho servir!te de guia, por ser teu amigo, teu irmo
! 'as eu no te conheo *omo sabias tu que eu
passaria por este lugar, quando, desde que o sol se escondeu,
caminho 0 merc& do meu cameloC
! *ompreendo o teu espanto, e vou satisfazer a tua
curiosidade enquanto no chega a minha gente " lugar em
que te achas / 5amaria 4ste barranco conduz a 5iqu/n= / um
atalho muito conhecido pelos camelos e dromedrios das
caravanas 5uas rochas calcinadas pelos raios do sol e pelo
casco das cavalgaduras, tem sido feridas mais duma vez
pelas pisadas da que te conduz ,gora, informada do terreno
que pisa o teu dromedrio, continuo a minha relao, pois
dese9o satisfazer o espanto que leio no teu semblante,
formoso como o duma virgem de 5ion, sobretudo neste
momento em que a lua reflete sobre a tua fronte
4sta galanteria fez corar 4no/, sem que ela
compreendesse o motivo " misterioso personagem
continuou
! 5ou, pois, como te disse, um bandido, capito de uma
quadrilha de bandoleiros que infesta este pas 3enho espi)es
em toda parte onde o com/rcio se explora, e no sai caravana
de uma cidade de 2ud sem que eu o saiba $ alguns dias os
meus agentes trouxeram!me a nova de que o escravo favorito
do defunto rei $erodes, a quem Deus 2ac# confunda, fazia os
preparativos para empreender uma viagem para as costas de
3iro, com o fim de embarcar naquelas guas para a Rfrica,
sua ptria 5em ser eu um sbio da @r/cia, calculei que
*ingo, o escravo no abandonaria a corte, sendo pobre, como
BTM
um @alileu da montanha, sem outro patrim8nio que o seu
mate*o de p&lo e o seu surro de pele de cabra 4u achava!
me em 2eric#= sabia que todos os nomes de Gsrael se
encontravam no hip#dromo= confiava que nos seus cora)es
no se teria extinguido de todo a recordao da sua passada
gl#ria e o amor 0 sua independ&ncia, e queria contribuir para
a salvao da minha ptria= mas enganei!me= os descendentes
de 'atatias 9 no sero mais que escravos covardes e
efeminados 'as isto no satisfaz a tua curiosidade= desculpa
se divaguei ,chava!me, pois, como te disse, em 2eric#, e
soube quando *ingo saiu da cidade montado no seu cavalo e
levando dois dromedrios de carga, num dos quais ias tu
4nto corri a um bosquezinho pr#ximo, onde quatro homens
de minha confiana me esperavam, e seguimo!vos a longa
distAncia Depois sobreveio a tempestade= levantou *ingo a
sua tenda, e ambos vos abrigastes nela= fcil nos teria sido
ento assaltar!vos mas eu prefiro a noite ao dia para executar
essa tarefa *omo com a chuva e com a terra (mida os ces
t&m mais faro, fare9aram o nosso rasto e ladraram " escravo,
inquietado pelos ladridos, saiu para reconhecer o terreno=
mas nada viu e tornou a encerrar!se na tenda 4u conheci que
os ces eram um inconveniente para vos surpreender e
mandei um dos meus que lhes deitasse uma perna de
carneiro= porque o co farto rastreia menos 4nquanto os ces
comiam, deslizei!me por entre os arbustos e fui p8r!me atrs
da vossa tenda Do meu esconderi9o ouvia a vossa
conversao 4nto sobre que teu eras 4no/, a escrava
favorita do malogrado prncipe ,ntpatro= e como eu queria
muito a este moo, propus!me salvar!te do furor do etope
Depois vi que ele bebia e que tu no te mexias fingindo
dormir Por fim os vapores do vinho venceram *ingo e ento
tu
B+T
" bandido deteve!se e, depois de uma pausa durante a
qual 4no/ nada disse, continuou-
! 3u ento vingaste teu amante= eu montei num cavalo,
partir a galope e vim colocar!me neste barranco onde te
conduziu o dromedrio 4is porque sei o teu nome e porque
me achas no meio do teu caminho como uma apario= mas
no temais= eu sei respeitar a mulher e ai do que tocasse num
s# fio de tua roupaD Dimas, o bandido, saberia castigar o seu
atrevimento
! No sei porque tuas palavras me inspiram confiana=
sou teu prisioneira *onduze!me aonde te aprouver
! No, /s minha amiga ,s mulheres, as crianas e os
velhos tem um asilo no meu castelo Nada tema 5ers livre
no dia em que queiras e conduzida por mim ou pelos meus
companheiros ao lugar que tu nos indiques ,ntpatro bateu!
se ao meu lado contra os mpios 4u saberei respeitar a sua
mem#ria na tua pessoa
! ,gradeo!te em seu nome, generoso bandido
! *umpro um dever ,gora segue o passo do meu
cavalo, que a distAncia que temos que percorrer / longa
Dimas foi para seu cavalo- montou e, aproximando!se
de 4no/, disse!lhe-
! %amos
<ma hora antes de amanhecer chegaram ao castelo de
$ebal, 4no/ entrou sem medo na t/trica fortaleza
,penas passaram a porta, alguns bandidos se
aproximaram para a a9udar apear
! 'eus amigos, lhes disse Dimas com doura,
apresento!vos minha irm 3ratai!a como merece
LG%6" DW*G'"
B++
O %ETERRA%O
CAPTULO I
A R E U E L A U
Nesse tempo as na)es conquistadas pelos filhos do
3ibre no eram mais que provncias romanas su9eitas ao
capricho e 0 vontade dos *asares " mundo era uma
numerosa famlia de escravos que curvavam a cabea com
medroso adem entre um s# senhor- o */sar romano 4stas
provncias eram governadas por tributrios r/gulos que
lambiam vergonhosamente a mo que os humilhava
'orto $erodes, o @rande, "taviano ,ugusto dirigiu
seus reais olhares para a 2ud/ia e 0 sua onmida vontade
pareceu conveniente que aquele reino desgraado e
envilecido se dividisse em quatro tetrarquias tributrias a
6oma Nomeou ,rquelau tetrarca da 2ud/ia, isto /, alguma
coisa mais que tetrarca e um pouco menos que rei= a
,bissnia, e a @alil/ia, deu!as a $erodes ,ntipas, e a Oelipe
concedeu a Gtur/ia e a 3raconitide
Oicaram os tr&s irmos contentes, parecia, com a
imperial distribuio, e ,rquelau, o mias favorecido pelo
*/sar, crendo!se senhor da sua vontade, comeou a mostrar
sem rebuos seus instintos ferozes e sanguinrios
"s dist(rbios civis seguiram!se como era natural 0s
tropelias reais
2oazar, sumo pontfice dos hebreus, foi substitudo pelo
ouro de 4leazar, seu irmo, e pouco depois as dobras de
2osu/ decidiram ,rquelau a conferir!lhe a alta dignidade de
que privara 2oazar , lei da 2ud/ia foi escarnecida pela
ambio do tetrarca, por/m o sanguinrio sucessor de
B+;
$erodes cortou a cabea dos alvorossadores, e o terror selou
os lbios dos descontentes
, avareza, aos abusos arbitrrios de ,rquelau, faltava
um escAndalo que decidisse os israelitas a tomar vingana
daquele podre pimpolho do Gdumeu, que se apresentava mais
cruel, mais vingativo que seu pai
,rquelau tinha uma esposa *hamava!se 'ariana "
povo amava a soberana porque era bondosa com os aflitos e
mais de uma vez tinha conseguido desviar o ferro homicida
da tr&mula garganta da vtima 'ariana era formosa,
prudente, e amava o povo
<m dia ,rquelau viu *l/fira, vi(va de seu irmo
,lexandre e de 2uba, rei de 'auritAnia *egou!o sua
formosura e, desatendendo os santos vnculos que o uniam a
'ariana, repudiou!a barbaramente e casou!se com *l/fira
4sta infAmia arrancou um grito de indignao ao povo
de 2ud $erodes tinha repudiado sua primeira esposa e
assassinou a segunda " filho no estava muito longe de
imitar o pai "s nobres de Gsrael, ainda que amedrontados,
reuniram!se num dos profundos silos do *armelo
5ublevar o reino era empresa v, atendendo ao
acovardado esprito que se apoderara dos descendentes de
2ac# "utra tentativa nas ruas de 2erusal/m s# custaria
sangue, e ,rquelau estaria, no seu direito, derramando!o pela
tranquilidade do seu reino
4nto um ancio levantou a voz e disse 0 assembl/ia-
! " raio de 4lias no se acha entre n#s- o valor de 2udas
'acabeu apagou!se no corao dos filhos de Gsrael " Deus
invisvel abandona!nos porque o templo de 5ion / profanado
e a lei de 'ois/s calcada como um feto imundo Nada
espereis do nosso povo que treme amedrontado sob as pregas
da sua rota capa, roendo o osso podre que lhes atira aos p/s
B+?
esse rei avarento que nos governa e empobrece 5# um
homem pode salvar!nos, porque esse homem / poderoso
como David, sbio e clemente como 5alomo- esse homem /
o */sar "taviano ,ugusto, o senhor do mundo ,rquelau, o
verdugo de 2ud, / rei por praga sua 6ecordai as palavras do
Gmperador, quando lhe concedeu a etnarquia- ! .*oncedo!te
o governo da 2ud/ia e ,bissnia, mas com a condio de que
hs de ser clemente e bondoso com os teus s(ditos Pai e no
verdugo dos 9udeus, quero ver!te 5e assim no obrares, a
minha amizade se trocar em 9ustia e a minha c#lera
imperial cair sobre tua cabea1 U Gsto disse o */sar Gsto
mandou que se noticiasse ao oprimido povo de Gsrael
Grmos, s# o */sar ,ugusto pode livrar!nos do verdugo que
esvazia as nossas arcas, escarnece as nossas leis, profana os
nossos templos e derrama o nosso sangue
4ste discurso foi recebido com um grito de entusiasmo
e o venervel ancio foi convidado pelos companheiros para
indicar o que se devia fazer
4nto decidiu!se que partisse com muito segredo uma
comisso para 6oma, para informar o */sar da sua
desgraada sorte
Huando os secretos embaixadores do aflito povo de
Gsrael chegaram 0 cidade de 3ibre, ,ugusto recebeu!os com
a bondade pr#pria do seu carter " imperador respondeu,
quando o velho rabino terminou a sua dolorosa relao
! ,s tuas lgrimas e as tuas cs so para mim uma
garantia, ancio- o oprimido povo de Gsrael encontrar em
mim um protetor Descansai, pois nada aborreo tanto como
os tiranos, nada me inspira mais repugnAncia que os
verdugos coroados- as vboras esmagam!se
B+B
"s 9udeus lanaram!se aos p/s de ,ugusto, derramando
um mar de lgrimas aos p/s daquele rei magnAnimo e
generoso
,ugusto, depois de os consolar, disse!lhes dirigindo!se
ao mais velho-
! "uvi dizer que na vossa terra nasceu o 'essias,
anunciado pelos profetas
! ,ssim se assevera em todo Gsrael, senhor, lhe
respondeu o rabino
! %iste!o, ancioC
! 3ive a felicidade de bei9ar os seus divinos p/s no
templo de 5ion
! 4m que tribo de Gsrael vive esse Deus homemC
! , perseguio de $erodes obrigou!o a emigrar para o
4gito, e no voltou 0 ptria- durante sua penosa viagem os
an9os de ,brao guiaram sua cavalgadura= os deuses pagos
do *airo, de ,lexandria e de $erm#polis caram quebrados
em pedaos dos seus pedestais= as rvores abaixaram suas
frondosas ramas para lhe servirem de tenda, e as fontes
brotaram das secas rocas de 'atari/
! , $erodes dei o encargo de procurar esse 'enino,
disse ,ugusto
! 4 $erodes degolou todos os da sua idade, na santa
cidade de 7el/m
" */sar, depois de saber algumas particularidades da
infAncia de 2esus, despediu os embaixadores, dizendo!lhes-
! 5e algum dia encontrardes esse Deus, homem ou
menino, e eu no houver morrido, dizei!lhe que o senhor de
6oma quer ador!lo ,gora, parti tranquilos= no esquecerei
o que vos prometi
,lgumas semanas depois, mandou um emissrio e fez
comparecer o feroz ,rquelau ante o senado de 6oma "
B+F
clamor dum povo p8de mais que a soberba dum rei
,rquelau foi destitudo da sua dignidade, seus bens foram
confiscados e o */sar mandou!o desterrado para %iena do
Delfinhado, doze anos depois do nascimento de 2esus *risto-
a 2ud/ia foi desde ento provncia imperial
'as era preciso que um homem a governasse em nome
de 6oma, e *ap8nio foi escolhido por "taviano ,ugusto
" novo governador quis explorar depressa demais o
filo que abrira ante a sua cobia, e aquele abuso de
confiana atraiu!lhe o desagrado de */sar *ap8nio caiu do
poder e foi substitu!lo 'arco ,mbibio, que, falto de sa(de,
pediu a aposentadoria e deixou o basto a P8ncio Pilatos,
c/lebre mais tarde pela sentena e morte de 2esus *risto
$erodes, o @rande, para que no se cumprisse a
profecia de 2ac#, de que o salvador de Gsrael viria quando o
trono de 2ud estivesse ocupado por estrangeiro, mandou
queimar os livros geneal#gicos dos reis de 2ud para que
pudesse 9ustificar!se que ele no era oriundo daquela nao
Por/m a sua empresa foi v e o brbaro atentado, infrutfero
, profecia tinha!se cumprido
, 2ud/ia no era mais que uma provncia de 6oma
quando nasceu o 5alvador do mundo no miservel estbulo
de 7el/m
" */sar mandou recensear os 9udeus porque eram seus
s(ditos, e 2os/ e 'aria foram conduzidos por ordem dum
estrangeiro 0 cidade predestinada pelos profetas para servir
de bero ao ungido do 5enhor, ao 'essias prometido
CAPTULO II
O ANTO EMI1RA%O
B+I
,travessemos o deserto e passando, sem nos determos
pelas plancies de @iz/, se ergueu a pirAmide de *hops,
entremos no 4gito povoado
6odeemos os soberbos muros e as altivas portas da
cidade do sol No detenhamos o olhar nas altas agulhas de
5emramis, nem aos brunidos minaretes de $erm#polis, a
bela
,s c(spides dos seus templos pagos brilham como um
mar de prata quando o sol os fere com seus raios= mas que
nos importa a n#s o estrondo das cidades nem os soberbos
edifcios da ptria dos fara#s, da terra dos LogidasC
No extremo oriental do povoado, e um pouco separada
do pequeno grupo de casinhas que forma, v&!se uma humilde
cabana com teto de palha , poucos passos da porta estende
os seus ramos um robusto sic8moro, como se quisesse
abrigar com seus frondosos ramos aquele miservel ninho
que se coloca 0 sua protetora sombra
<:a mulher moa e formosa, de olhar doce e sereno, de
fronte casta, de cabelos louros e humilde adem, est sentada
9unto do tronco desta rvore <ma t(nica de l de cere9a,
apertada na esbelta cintura por um cordo, e um pequeno
turbante de linho branco, so as peas de que se comp)e o
seu modesto tra9e 5uas mos brancas e pequeninas agitam
com assombrosa rapidez uns pauzinhos que pendem de fios
extremamente finos
4sta 'ulher ocupa!se a fazer rendas da Palestina, com
tanto af procuradas para cobrir os rostos das virgens de
Gsrael De ez em quando desvia os olhos do trabalho que a
preocupa, e dirige um olhar doce e carinhoso para o pequeno
povoado de 'atari/, det&m!no um segundo como se
esperasse alguma coisa, e depois, soltando um suspiro,
B+P
prossegue a interrompida tarefa 2 a luz do dia, vencida
pelas sombras da noite, se acha pr#xima a desaparecer, e
ainda a formosa 9ovem continua a trabalhar
, solitria 9ovem torna a dirigir os formosos olhos para
'atari/ <m sorriso de amorosa bondade lhe resvala pelos
lbios
! ,hD exclama com apaixonado acento= l v&m
4, esbelta como a 9ovem palmeira do G&men, ma9estosa,
como a rainha 4ster, p)e!se em p/
<m 'enino de seis a sete anos, corado como uma rosa
dos ,l/s, formoso como o sorriso da aurora, e um ancio
venervel como os cumes do 5abino, vem pela vereda que
conduz 0 rvore da cabana " velho leva um pesado machado
ao ombro, e o tenro infante, um feixinho de lenha pendente
das espduas
, 2ovem do sic8moro sai ao seu encontro, 9untam!se os
tr&s, e saldam!se com amorosa cordialidade 4nto a mulher
toma nos braos o tenro adolescente e leva!o at/ 0 porta da
cabana= o ancio que os segue levanta os olhos ao c/u, e no
seu bondoso semblante pintam!se as doces como)es que
agitam o seu belo corao
,quele tenro e formo Gnfante veste simplesmente uma
t(nica de l de cor escura 5eus longos cabelos castanhos
caem!lhe com ma9estade sobre os ombros, e o olhar de suas
pupilas azuis resplandece como a luz do dia
<ma pobre mesinha de pinho que reluz como prata
brunida, pela extrema limpeza da sua madeira, acha!se
preparada no meio do limitado espao da cabana
Orugal / a ceia- mas a paz e o amor moram debaixo
daquele modesto teto, e do graas quotidianamente ao Deus
invisvel de ,brao com lbios fervorosos pela sua eterna
B+S
bondade " ancio abenoa, com patriarcal acento, a comida,
e todos se preparam para a ceia
! Huanto trabalha5, 2os/ exclama a 'ulher pondo um
prato de verduras cozidas diante do ancio
! 7endigamos a Deus, 'aria, que assim o disp8s,
responde 2os/= mais me condoo deste tenro infante
! Nunca o cansao me entorpece os membros 5ou to
feliz vivendo no seio da vossa pobrezaD 'inha fortuna / o
vosso amor, disse por sua vez o menino
4 a sua voz tem um eco dulcssimo que chega at/ ao
mais rec8ndito da alma, causando um bem indefinvel
! Oilho do meu corao, exclamou 'aria depositando
um amoroso bei9o na fronte do 'enino= o po do dest&rro /
amargo como a folha do loureiro, negro como as asas do
corvo, duro como as pedras angulares do templo de 5ion 4
3u, alma da minha alma, ser do meu ser, dep#sito sagrado
que 2eov me concede para mitigar as minhas penas, 3u, o
formoso 'enino, que tens a ma9estade dos reis de Gsrael na
fronte, o sorriso dos ,n9os de ,brao na boca, e o reflexo do
Deus invisvel de 'ois/s no olhar, sofres e padeces os rudes
embates da nossa pobreza, sem que uma queixa ou um
suspiro saia dos teus lbios
! 'e, respondeu o 'enino com admirvel gravidade,
Deus, meu pai, assim o escreveu ,catemos sua vontade-
esperemos a hora designada
! "hD meu 2esusD ,s tuas palavras ressoam como as
harpas de 5ion no fundo da minha alma= eu te venero, eu te
bendigo, porque 3u /s o blsamo universal das minhas dores
, 5anta Oamlia p8s fim 0 sua modesta ceia e, dirigindo
os chorosos olhos para 2erusal/m, entoaram o cAntico de
graas e ora)es da noite
B+M
Depois, 2os/ fechou a porta= a %irgem foi buscar o
descanso na sua pequena habitao= 2esus estendeu no seu
quarto o leito de esteiras, e o Patriarca descansou sobre o
pobre monto de palha que lhe servia de cama
CAPTULO III
ON%E APARECE EM CENA UM R(U %E MORTE
Passou uma hora, e duas, e tr&s 4 a noite ia muita alta,
e todos dormiam o sono dos 9ustos, na cabana
<ma nuvem branca e brilhante como a espuma dos
mares desceu do c/u e um mancebo louro como as espigas
que fecundam o rio santo saiu dentre as nuvens
7ranco era o seu vestido <ma estrela brilhava!lhe no
meio da fronte <m raio de luz divina lhe saa dos olhos
azuis
, celeste viso chegou com passo mesurado 0 cabana e
deteve!se 5ua passagem tinha deixado ap#s si um rasto
brilhante e luminoso como a quilha dum navio sobre a
superfcie dum mar tranquilo
! 4u sou @abriel, emissrio predileto do 5enhor, disse o
an9o com celestial acento,que chegou 0 tua porta, ` 2os/, para
dizer!te- .Levanta!te, 2os/, e toma o 'enino e sua 'e, e vai
para a terra de Gsrael, porque so mortos os que queriam
matar o 'enino1
@abriel cessou de falar, inclinou a formosa cabea
sobre o peito, e permaneceu nessa atitude alguns minutos
B;T
Depois envolveu!o a nuvem entre as suas pregas e,
abandonando a manso dos homens, elevou!se
ma9estosamente ao c/u, repetindo-
! .Levanta!te, 2os/, toma o 'enino e sua 'e, e vai
para a terra de Gsrael1
Levantou!se 2os/, e participou a 'aria a revelao do
an9o @abriel
No dia seguinte os humildes desterrados abandonaram
o povo hospitaleiro de 'atari/
,o chegarem ao deserto, a fronte de 2os/ escureceu!se
e os olhos de 'aria cobriram!se de lgrimas 2esus pelo
contrrio- um sorriso resplandecente lhe assomou aos lbios
*aminhava a p/ 9unto do nobre ancio que lhe servia de pai
3r&s dias depois chegaram, ao cair do sol, 0 torrente do
4gito
5# lhe faltava atravessar a est/ril Gdum/ia para se
acharem na formosa terra de 2ud 7uscando ref(gio onde
passar a noite, viram uma caverna a poucos passos do lugar
que ocupavam
2esus entrou adiante e um misterioso raio de luz,
iluminou aquelas escuras e socavadas rochas
,li, sem outros leitos que os pobres vestidos,
encostadas as cabeas nas duras pedras, dormitaram com o
corao alegre, pois em breve iam ver as altas torres da
cidade santa
^ meia noite, dois homens se apresentaram 0 porta da
caverna <m deles vinha do 4gito= o outro das terras de 2ud
! DimasD disse o que chegou primeiro
! @estasD falou o segundo
4 ambos entraram na caverna
! Hueres que acendamos luzC perguntou Dimas a
@estas
B;+
! Para qu&C Pode!se falar perfeitamente sem ela, e n#s
somos aves noturnas destinados a viver na escurido
! 3ens razo 'as sentemo!nos= estou cansado
"s dois homens sentaram!se no cho
"s santos %iageiros continuavam a dormir sem darem
pela companhia
! " teu emissrio, disse Dimas depois duma pequena
pausa, disse!me que querias transportar!te a 5amaria com a
tua gente
! W verdade " deserto est pouco concorrido, e os
meus soldados, que cobiam o despo9o e anelam a orgia
depois do combate, aborrecem!se de esperar os dias de sol a
sol emboscados nas escalvadas rochas e venenosos arbustos
de 4tam e Param ,ssim, pois, querem que os leve para um
pas mais abundante *omo tu /s o chefe dos montes de
5amaria, quis saber se nos darias hospitalidade ou, para
melhor dizer, se queres que a tua guarida se9a nosso ref(gio e
repartamos os despo9os como bons camaradas
! Nunca recusei hospitalidade aos homens que batem 0
minha porta ,qui est a minha mo
! Podes vir quando quiseres= minha gente no pegar
em armas contra a tua gente
Neste momento ouviu!se um profundo suspiro que saa
do extremo da caverna
@estas leu a mo ao cinto para encontrar o punhal, e
disse, baixando a voz-
! ,qui est gente
! 3amb/m me parece, respondeu Dimas
! 4spera, acenderei luz
@estas tirou uma corda enxofrada que trazia enrolada
na cinta e, saindo da caverna, procurou duas pederneiras
Depois esfregou com viol&ncia as duas pedras e o extremo da
B;;
corda, at/ que se inflamou, despedindo uma chama
amarelada e um cheiro acre e desagradvel
,rmado desde archote entrou na caverna, e ambos
comearam a revist!la
Dimas foi o primeiro que viu o %ia9antes adormecidos,
e estremeceu como se os reconhecesse
! 4is aqui um despo9o que no esperava, disse @estas= e
fez adem de dirigir!se 0 %irgem
Dimas travou!lhe do brao e deteve!o, dizendo!lhe-
! "uve, @estas, ao ver esta pobre gente senti o corao
dar saltos
! Pois bem, que / que queresC disse @estas
! 4u no deixo perder a ocasio, assim como no a
deixaro perder os romanos, quando me apanhem
! 6ogo!te pelo que mais ama na terra que respeites seu
sono
! " que eu mais amo na terra / o dinheiro
! Pois bem, no lhe toques e eu dou!te vinte dracmas de
prata
! W pouco, respondeu @estas com cobia
! ,9unto a essa soma este cinturo de couro e este
punhal de Damasco
@estas examinou os ob9etos
Dimas, vendo que ele vacilava, continuou
! 5e recusas o que te proponho, ento est entendido
que te disputarei a presa
4sta razo decidiu @estas a aceitar
Neste momento ouviu!se uma voz do fundo da caverna,
que dizia-
! Dimas, @estas, v#s morrereis comigo= um 0 minha
direita, e outro a minha esquerda
"s bandidos sairam atemorizados da caverna
B;?
Dimas dirigiu!se para a Gdum/ia murmurando em voz
baixa-
! W 2esus, Oilho de 'aria- reconheci!\
Huanto a @estas, dizia para si-
! 4ste Dimas no sabe fazer contrato= para no depenar
uma famlia de mendigos deu!me vinte dracmas e o seu
punhal *reio que a vantagem est da minha parte, se viver
ao seu lado
,lguns dias depois a 5anta Oamlia chegou .a Nazar/
para que cumprisse o que tinham dito os profetas- que ser
chamado Nazareno1
*om quanta alegria, com quanto regozi9o viram os
desterrados do vizinho monte as modestas chamin/s da sua
aldeia, os tranquilos prados onde correu a sua infAncia, a
fonte onde apagavam a sede nos ardentes dias do veroD
, 5anta Oamlia chegou a Nazar/ depois de mil perigos
e sobressaltos , viagem era longa, por/m o Deus invisvel
guiou os seus passos no deserto
" regozi9o dos parentes foi indescritvel 2os/ achou
sua mod/stia casinha, e estabeleceu!se com alegria
incalculvel 'aria bendisse a Deus, e 2esus, levantando os
olhos ao c/u, deu graas ao 4terno, remediado dos
desgraados
CAPTULO IV
A 8ETA %O 2HIMO
Oilhos de Gsrael, povoadores das doze tribos
descendentes de ,brao e 2ac#, disponde!vos a abandonar os
vossos lares= escolhei no vosso rebanho o cordeirinho sem
B;B
mancha, so de carnes, branco de pele e tenro de um ano=
vesti!vos com vossas t(nicas mais novas= envolvei!vos nos
vossos mantos mais finos, e enrolai no pescoo o curto ta*et
de linho cor de 9acintoD
6ecordai as palavras do 5enhor, que vos disse por
'ois/s-
." cordeiro h de ser sem defeito, macho, e dum ano
6eservai!o at/ ao dia quatorze deste m&s, em cu9a tarde o
imolar toda a congregao dos filhos de Gsrael 4 tomaro
do seu sangue e rociaro com este as duas ombreiras e a
padieira da casa em que o comerem 4 as carnes, as comero
aquela noite, assadas ao fogo, e pes zimos com ervas
amargas
.Nada dele comereis cru, nem cozido em gua, mas
somente assado ao fogo= a cabea, com as pernas e as
assaduras No ficar nada dele para a manh seguinte= se
sobrar alguma coisa a queimareis no fogo 4 o comereis
deste modo- tereis cingido os rins e metido o calado nos
p/s, e um ca9ado na mo, e comereis depressa por ser a
Pscoa do 5enhor
.Porque eu passarei aquela noite pela terra do 4gito, e
ferirei todo o primog&nito da dita terra sem poupar homem
ou besta, e dos deuses do 4gito tomarei vingana, 4u o
5enhor " sangue vos servir de sinal na casa onde estiver,
pois 4u verei o sangue e passarei de largo sem que vos toque
a praga exterminadora, quando eu ferir a terra do 4gito1
%inde, chegai em boa hora, pastores de 7etAnia e de
'anass/s, rebeldes samaritanos, marinheiros fencios,
lavradores de Qabulon e 2ud, montanheses do Lbano e da
@alil/ia 2erusal/m vou espera adornada com os atavios
duma desposada, e suas altivas portas esto abertas para vos
receberem
B;F
'as no vos esqueais de trazer convosco as primcias
da colheita, porque a vossa mo deve depositar no templo de
5ion a espiga verde de cevada para que o sacerdote lhe
sacuda os gros e os toste ao fogo, e os triture depois com
uma pedra para que a sua farinha misturada com incenso e
azeite se9a oferecida em sacrifcio sobre o santo altar Por
espao de sete dias comereis o po sem fermento, e o que
assim no fizer, maldito ser por Deus, e morto a mo
armada h de v&!lo a famlia
Para que se cumpram os preceitos da lei, revistai os
cantos de vossa casa, no se9a que os ratos ha9am escondido
algum bocado de po fermentado e a maldio de 2eov caia
sobre v#s
2erusal/mD 2erusal/mD *idade eterna, 'atrona augustaD
2erusal/m, 2erusal/mD Perola da Palestina, cobiado floro
do "riente entoa o canto de $osana, adorna os teus soberbos
muros de bandeiras, enfeita com palmas e mirto os ameiados
torre)es da chata porta de Damasco, de 4fraim e de D/bora,
porque os povoadores das dozes tribos vem para ti em
alegres caravanas
Pelas escabrosas veredas do 5ul, chegam os
montanheses de 2ud e 5ion com suas t(nicas roxas e suas
mantas azuis como o c/u Do Leste descem os moradores de
@ad e 6ubens, e as fmbrias das suas achumbadas vestiduras
acham!se ensopadas nas guas do 2ordo
No norte baixam os povoadores do Lbano e Qa>le,
recolhendo na passagem os habitantes das tribos de ,sser e
Neftali e Qabulon, e ao atravessarem a hostil 5amaria,
recebem com paci&ncia os insultos e o escrnio dos filhos de
5em, dos mpios adoradores do bezerro, da famlia que
vegeta na casa maldita da impiedade
B;I
"s pobres galileus, com suas t(nicas pardas e brancos
turbantes, caminham fatigados em busca do 5anto dos
5antos
, lei, com tanta exatido praticada, proibir!lhe a
mistura nas grandes festividades Por isso as mulheres
caminham adiante, num grupo, e os homens atrs, a uma
distAncia de quinhentos passos 'as detenhamos um
momento o olhar para contemplarmos o modesto grupo das
nazarenas
%ede!aD , vai a %irgem 'e, a 4strela do 'ar, a Olor
da @alil/ia, a que em breve ser fonte de ternura imaculada
5eu olhar / doce e amoroso como o da fazela= sua
fronte, clara e radiante como o disco da lua= seu sorriso
bondoso, como a caridade crist 3odos a rodeiam com amor=
sua pobreza / muita= mas o seu corao, inesgotvel fonte de
bondade, perene manancial de virtudes, a exalta e eleva sobre
os seus, e / amada e querida como a filha dum prncipe
desterrado que semeia o bem a mos cheiras entre os
hospitaleiros moradores que lhe abriram as portas para a
receberem
2unto da 5anta %irgem, e com saborosa prtica
entretidas, caminham 2oana, esposa de *hus= 5alom/,
mulher de Qebedeu, e outra que mais tarde devia consignar!
se nos 4vangelhos, com o nome de ,ltera 'aria
,trs deste grupo de mulheres que o sangue do
*rucificado imortalizou, v&m os galileus 2os/, o humilde
carpinteiro de Nazar/, vai entre eles 2esus caminhava ao
lado do pai, rodeado de alguns 9ovens da sua idade, entre os
quais se achavam os filhos de Qebedeu, 3iago, impetuoso
como a torrente do 4gito durante as esta)es equinoxiais, e
2oo, formoso e inofensivo como o cordeiro de Gsaias
B;P
"s pescadores de 7etsaida, apelidados mais tarde por
2esus .filhos do trovo1, caminhavam tamb/m a seu lado, e
os filhos de ,lfeu, 2udas, 5imeo, 2os/ e 2oaquim, seguiam
os galileus, olhando com desprezo o Oilho do carpinteiro, a
quem deviam adorar e proclamar como seu Deus
3iago, ensoberbecido com sua posio e seus estudos,
com o seu semblante frio, ser ar melanc#lico, o rosto plido e
a longa cabeleira, castanha, sempre que 2esus lhe dirigia a
palavra, no se dignando responder, enviava!lhe um sorriso
desdenhoso
3iago ignorava que mais tarde chegaria a ser 7ispo de
2erusal/m pelas doutrinas daquele 2ovem que caminhava ao
seu lado e que ele olhava com indiferena
4 2esusC 2esus, como tudo possua, nada afetava,
porque s# se finge o que se no tem
5ua conversao era adequada aos seus curtos anos, e
seus 9ovens parentes, segundo a carne os quais mais tarde
devia fazer ap#stolos da f/, escutavam!no com assombro
crescente, sem perceberem o magn/tico poder das duas
palavras
6udes pescadores, a quem a luz do seu Divino 'estre,
esclarecendo!lhes o c/rebro, outorgou a eloqu&ncia sublime e
santa que devia conduzi!los ao martrio para selarem com o
sangue a doutrina do 6edentor, caminhavam para 2erusal/m
ignorantes ainda do imortal futuro que lhes preparava aquele
adolescente que viam a seu lado
Por fim chegaram 0 cidade santa depois de quatro dias
de viagem , famlia de 2os/ instalou!se nos p#rticos do
templo, onde comeram, segundo a lei, o cordeiro sem
mancha, o po sem fermento e as ervas amargas 3erminados
os sete dias que prescrevia a lei, os galileus abandonaram a
cidade e encaminharam!se para Nazar/
B;S
7astante entrada noite, detiveram!se as mulheres que
iam adiante, na casa desmantelada que devia servir!lhe de
albergue durante a noite
'aria volveu um olhar para o alegre grupo de galileus
que se aproximava , rosada cor das frescas faces da %irgem
comeou a desaparecer 2os/ tinha chegado, e 2esus no
estava com ele
! 4 meu filhoC perguntou
! No saiu contigo da cidadeC falou, estremecendo por
sua vez, o santo Patriarca
'aria estendeu os olhos em torno e, no vendo 2esus
soltou um grito doloroso 4ra o grito da me que 9ulga
perdido seu filho no meio dum caminho deserto, no principio
duma noite sem lua, num pas onde as feras assaltam com
viol&ncia o indefeso caminhante
CAPTULO V
O MENINO PER%I%O
, desolao da 'e ao ter certeza de que seu Oilho se
tinha perdido foi imensa 4m vo a consolavam os parentes,
fazendo!lhe promessas de percorrerem a cidade em sua
procura <m mar de lgrimas lhe brotava dos formosos
olhos, e aquelas lgrimas se esgotavam, porque sua alma
pura, imaculada, comeava a ser o perene manancial das
dores
,ntes que a luz da aurora destacasse os ob9etos
confundidos pelas sombras da noite, 'aria acompanhada de
alguns de sua famlia, se encaminha para 2erusal/m com o
semblante descomposto pelo pranto, o corao despedaado
pela pena e dor
B;M
,quele caminho foi a primeira rua da sua amargura
Hual rola enamorada que busca seus filhinhos de ramo em
ramo, assim 'aria andava e desandava o caminho
perguntando a todas as mulheres que via pelo seu Oilho
amado
,s palavras do salmista, pronunciadas pela sua boca,
tinham um sentimento e amargura indefinveis
! $aveis, por ventura, visto ,quele a quem to deveras
adora a minha almaC lhes diz com olhos arrasados de
lgrimas e as mos 9untas com dolorosa atitude= mes que
tendes filhos, buscai pelo Deus de vossos maiores
,bsortos, compadecidos da profunda dor da 9ovem
galil/ia, os caminhantes suspendem seus alegres cantares,
det&m o passo, sentem!se enternecidos e perguntam!lhe
como 5alomo-
! Hue tem o teu ,mado sobre os outros amados, # tu, a
mais formosa entre todas as mulheresC Hue h no teu
Huerido sobre os outros queridos, para que assim nos rogues
que o busquemosC
! "h, filhas de 2erusal/mD 5e soub/sseis quem / o
,mado da minha alma, quem / o 7em que choro perdido,
no estranhareis que assim vos rogasse para que me
a9udsseis a busc!lo
'aria chegou alterada a 2erusal/m= percorreu as ruas=
bateu com tr&mula mo 0s portas dos seus parentes e
amigos=mas ali seu Oilho adorado no aparecia
5eus parentes, ao abrirem!lhe as cerradas portas de suas
casas, a receberam com o sorriso nos lbios dizendo!lhe com
fraternal doura
! "hD Ditosos somos, 'aria, pois regressais ao nosso
lar com graa e formosura
B?T
! No me chameis Noemi, lhes diz, chamai!me Mara,
porque o 3odo Poderoso me encheu de amargura $ tr&s
dias era feliz e ditosa- meu Oilho sorria ao meu lado= o calor
dos seus olhares chegava ao meu corao dando!lhe vida= e
ho9e choro meu Oilho perdido, e busco!o e corro, e em vo
me canso meu Oilho no aparece, 2esus no se encontra
4nquanto a 'e dolorosa procurava o Oilho perdido
com as Ansias da agonia no corao, as lgrimas nos divinos
olhos e a desconsolao pintada no purssimo semblante,
2esus tinha!se instalado nos p#rticos da 5inagoga, que mais
tarde deviam servir!lhe de tribuna para pregar a sua nova lei,
e os doutores e fariseus escutavam absortos as suas divinas
palavras e os seus maravilhosos conceitos
,queles ancios, mudos, absortos, vencidos,
impotentes ante aquele tenro adolescentes que se havia
apresentado ante eles com a humildade do pobre e o modesto
tra9e dos galileus da montanha-
! Huem / este 'eninoC perguntavam em voz baixa 4m
que sinagoga aprendeu o que sabeC Hue rabino, que doutor
da lei lhe ensinou essas perguntas a que n#s no sabemos
responder, e 0s quais eles mesmo d uma soluo to clara,
to profunda, to irrecusvelC Hue move a sua lngua com
to prodigiosa fecundidadeC Daniel seria vencido pela sua
palavra, e 5alomo quebraria a sua pena escutando!\
2esus parava nos seus discursos de quando em quando
4nto ningu/m se atrevia a interromp&!lo= mas todos o
observavam com interesse, e curiosidade crescentes
5eus longos cabelos cor de bronze antigo, partidos ao
meio da sua larga e luminosa testa, lhe caam em grossos e
graciosos carac#is, sobre os ombros Nos seus azuis e
melanc#licos olhos brilha uma fasca de luz divina, que
aprofundava, ao deter!se, as mais rec8nditas dobras da alma
B?+
"s doutores, vendo!o chegar aos degraus da 5inagoga,
imaginaram ver Davi no momento em que 5aul o viu ir
pequenino e sereno receber a uno santa 'as naqueles
olhos, naquela fronte, naquela adem, havia alguma coisa
mais que a sagrada inspirao que aformoseou as fei)es do
rei poeta, porque 2esus encerrava no seu o 4sprito
incomparvel de Deus
3anta ma9estade, tanta formosura, tanto saber num
'enino, encheu de pasmo e admirao os sbios doutores do
templo "s ancios, receosos duma nova derrota, no se
atreveram a dirigir!lhe a palavra quando 'aria, seguida de
2os/ seu esposo, chegou aos degraus da 5inagoga
, aflita 'e soltou um grito de 9(bilo ao ver seu filho=
mas toda a alegria do seu corao se converteu em surpresa
vendo!o sentado entre os doutores da lei, a 4le, um 'enino
de doze anos
4ra aquele o 'enino que ela procuravaC Nunca sua
'e, o tinha ouvido falar daquele modoD 4ra 2esus, sim,
2esus, seu Oilho, sua alma
! Oilho, porque obraste assim conoscoC "lha como teu
pai e eu te procuramos
! Porque me procurveisC No sabeis que nas coisas do
meu Pai me conv/m cuidarC respondeu 2esus
2esus queria dizer!lhe, com estas palavras- 3udo deve
abandonar!se por Deus
5ua me o compreendeu e, unindo!se de novo 0
Oamlia, saram da cidade e encaminharam!se para Nazar/
Pelo caminho, aquela 'e amorosa lhe perguntou
! "nde comeste e dormiste estes tr&s dias, Oilho
,dorado, faltando!te o cuidado de 3ua 'eC
B?;
! Deus no esquece os pobres, e a hospitalidade tem as
portas abertas para todo o desvalido que se chegue a elas
com a f/ na alma
2esus tinha mendigado o sustento pelas ruas de
2erusal/m
4ra o primeiro assomo da mansido que ia pregar em
breve da pobreza que ia defender dentro em pouco
*hegaram a Nazar/, onde 2esus *risto cresceu em
sabedoria, caridade e graas, esperando a hora da sua
dolorosa peregrinao sobre a terra do homem
CAPTULO VI
O 8UNERAI %E AU1UTO
Dois imperadores imortalizou o 'rtir de @#lgota- com
o seu nascimento, "taviano ,ugusto= com a sua morte,
3ib/rio *ludio Nero
5endo estes dois prncipes de alguma importAncia na
narrao deste livro, deixemos as pacficas e sombrias
ribeiras do 2ordo e nos transportemos por alguns momentos
a 6oma
, cena que vamos bosque9ar ocorria no monte */lio,
no palcio de ,ugusto, tr&s anos depois que 2esus
surpreendera com suas perguntas os doutores de 2erusal/m
"taviano ,ugusto achava!se gravemente enfermo
Deitado sobre os moles almofad)es do seu leito de
p(rpura, plido como um cadver que se disp)e a
empreender o caminho do sepulcro, o */sar ocupava!se em
regular os seus neg#cios e escrevia as (ltimas disposi)es
com mo tr&mula e cansada
B??
"s m/dicos no encontravam enfermidade a combater
, ci&ncia via a morte na dolorosa melancolia, na grave
expresso, no plido semblante do imperador= mas no
podendo combat&!la afastava!se daquele leito, confusa e
humilhada, confessando a sua importAncia
" mal de ,ugusto estava no esprito Debilitado pela
avanada idade, recebeu o golpe mortal que o levou ao
sepulcro, quando soube a catstrofe irreparvel de %aro e
suas legi)es
,ugusto, como todos os conquistadores da terra,
sonhava sempre com o canto do mundo que no lhe
pertencia, ainda que este fosse o mais pobre, o menos
produtivo do globo terrestre
5eu poder era intenso " mundo ento conhecido pode
dizer!se que pagava tributo 0 guia romana= por/m os seus
olhares dirigiram!se a contemplar com a cobia dos
usurpadores um trato de terra, selvagem e escabrosa que lhe
tinha escapado
,quele pas chamava!se a @ermAnia, povo separado da
@lia pelo caudaloso 6eno " */sar, pensando sempre no
que possua, enviou suas legi)es sob o comando do general
%aro, homem de limitado talento e de desmedida avareza
<m moo chamado ,rmnio, duma das famlias mais
nobres e poderosas da @ermAnia, de grande valor e da
habilidade rara para a guerra, dese9ando sacudir o 9ugo dos
romanos e farto da crueldade e avareza do general
estrangeiro, fingiu!se seu amigo,e prometendo!lhe descobrir
o lugar onde tinham as riquezas ocultas, conseguiu conduzi!
lo com uma parte considervel das suas legi)es a um dos
bosques de que ento estava coberto aquele pas
,rmnio tinha reunido naquele lugar algumas tribos
cmbrias, que s# esperavam o sinal para se lanarem contra
B?B
os romanos, como lobos famintos *hegou a noite, e a
horrvel matana dos estrangeiros com ela
%aro, ante to inesperada derrota, vendo!se perdido,
como 7ruto, na batalha de Oelipe, atravessou o peito com a
espada para no cair nas mos dos inimigos ,rmnio,
orgulhoso do seu triunfo, levantou uma tribuna no meio do
sangrento campo de batalha= dali, depois de arengar aos
soldados, mandou que fossem degolados todos os
prisioneiros, negando!lhes at/ sepultura
3r&s legi)es imensas de soldados veteranos pereceram
naquela bosque 5# puderam salvar!se alguns, que levaram a
infausta nova 0s margens do 3ibre
,ugusto, sabedor da catstrofe, vestiu!se de luto,
deixou crescer a barba e o cabelo em sinal de desconsolao,
e comeou a sentir!se doente ^s vezes passava horas com os
olhos no cho, braos cados e atitude dolorosa, repetindo
sem cessar- Varo! Varo! restituiDme as minhas *egiBes<
, consternao foi grande em 6oma ao saber!se a
notcia *riam ver os germanos passando o 6eno e dirigindo!
se para a Gtlia a marchas foradas Por/m ,rmnio
contentou!se com a sua vit#ria e com sacudir o 9ugo
estrangeiro
2 dissemos que o */sar morreu de paixo No
momento em que o apresentamos achava!se sentado no leito,
escrevendo as (ltimas disposi)es
No seu semblante bondoso, nos grandes e doces olhos,
ainda maiores pela magreza da face e pelo crculo azulado
que os cercava, via!se a ma9estade daquele republicano que
cingira a fronte, com a coroa imperial 2unto do leito via!se
um homem de larga fronte, nariz aquilino, lbios delgados e
extremamente 9untos e olhar torvo e receoso 4sse ovem era
B?F
um tirano- chamava!se 3ib/rio, e estava destinado a governar
o mundo
7astava deter!se a gente um momento ante aquela
fronte altiva, para compreender a ast(cia, a reconcentrao e
a inve9a que encerrava no corao aquele homem
"taviano, casado, duas vezes, no tinha filhos var)es e,
dese9ando que o imp/rio ficasse em poder da sua famlia,
fitou os olhos em 3ib/rio, filho de Lvia, sua segunda
mulher, e casou!o com 2(lia, sua filha e vi(va do seu amigo
,gripa
3ib/rio, taciturno e desconfiado, 9amais teve amigos e
nunca acreditou nos favores do sogro= vivia retirado no seu
castelo, suspenso sobre as rochas na praia, donde sonhava
com seu imp/rio, cometendo atos de barbaridades na
vizinhana para entreter, segundo dizia, o a-orre"imento
&ue o mata)a<
! 3ib/rio, disse!lhe ,ugusto deixando a pena e
olhando!o com bondade= mandei!te chamar porque me sinto
morrer, e pensei em ti para que me sucedas no poder
3ib/rio sentiu o corao bater de modo violento= mas o
rosto no mudou ,baixou a cabea em sinal de acatamento
! Desde este momento, continuou ,ugusto, adoto!te
como filho " povo e o senado cumpriro minha (ltima
vontade, escrita nestes pergaminhos 5ers o imperador de
6oma, o senhor do mundo 5e conseguires fazer a felicidade
de teus s(ditos, os deuses imortais velaro pela tua real
pessoa e pelos teus vastos domnios= e no esqueas nunca
meu filho, que / mais pre9udicial a um rei ser mau e
sanguinrio que ser clemente e 9usticeiro 5& pai do teu povo=
repele de ti o ofcio do verdugo, que envilece e desonra
! 3ua vida, que os deuses conservem por longos anos
para o bem do teu povo, ser um exemplo quando a pesada
B?I
carga que me confias caa sobre os meus ombros 4u serei
digno de ti- 9uro!o pelo nome de meu pai
! 4scuta, 3ib/rio- eu adoto!te como filho= por/m tu, por
tua vez, quero que adotes tamb/m @ermAnico, neto de
"tvia, minha irm, e esposo de ,gripina, filha do meu
maior amigo W um moo leal e valente que, dirigido por ti,
ser um grande general 2ura!me pelos deuses lares que sers
o protetor, o pai desse moo, e morrerei contente
! 4u o 9uro
! @uarda o meu testamento e prepara os meus funerais,
porque o novo sol alumiar meu cadver
3ib/rio bei9ou a mo do */sar deixando nela uma
lgrima- primeira e (ltima que derramou durante a sua vida
"taviano ,ugusto no se tinha enganado- duas horas depois
expirava
3ib/rio esteve contemplando o cadver um instante
Depois aplicou os lbios 0 boca do defunto imperador
! , alma dos moribundos est nos lbios, exclamou
3ib/rio dirigindo!se aos que o rodeavam- eu recebi a de
,ugusto U 4 depois, tirando!lhe um anel e pondo!o no dedo
m/dio, exclamou com voz grave e dolorosa
! "taviano ,ugusto, imperador romano, morreu
! 'orreu, 'orreuD repetiram os presentes caindo de
9oelhos e apoiando a cabea no leito do cadver
Decorreu uma hora, durante a qual reinou o maior
sil&ncio na habitao 3ib/rio levantou!se e chegando os
lbios ao ouvido do cadver, disse com voz vibrante-
! "taviano ,ugusto, levanta!te do teu leito morturio
3ornou a decorrer outra hora, e 3ib/rio tornou a repetir-
! "taviano ,ugusto, levanta!te do teu leito morturio
" mesmo sil&ncio reinou na sala= e decorrida outra
hora, 3ib/rio pela terceira vez repetiu-
B?P
! "taviano ,ugusto, levanta!te do teu leito morturio
Decorreram alguns segundos, e o novo imperador disse,
dirigindo!se aos que o rodeavam
! *hamei!o e no me responde- / morto o */sar
,presentai ao senado o seu testamento U 4 entregou a um
dos senadores os pergaminhos que o nomeavam herdeiro
<m liberto, apresentou a 3ib/rio, numa pequena
bande9a de ouro, um triente, pequena moeda do valor de seis
maravedis 3ib/rio pegou!a e p8!la na entreaberta boca do
cadver, para que com ela pagasse a passagem a *arente,
barqueiro dos infernos
" corpo de */sar, foi entregue aos escravos
embalsamadores, que o lavaram com gua quente e o
perfumaram, e os encarregados do templo de %&nus, Lecitina
apresentaram aos parentes do imperador uma riqussima
mortalha de p(rpura e ouro
" ramo de ciprestes se pendurou sobre a porta da casa
morturia, e o cadver de "taviano foi posto num leito de
marfim no vestbulo da casa, com os p/s fora do leito, para
denotar que estava pronto a empreender a (ltima viagem
Oeito isto, as carpideiras comearam a chorar e a
arrancar os cabelos, lanando de vez em quando flores e
folhas de louro sobre o corpo do seu imperador
*/sar esteve oito dias exposto ,lguns 9ovens da
nobreza, vestidos de branco em sinal de luto, de p/ e graves,
ao lado do f/retro, enxotavam as importunas moscas que
pousavam no rosto do seu senhor
"s funerais foram espl&ndidos, suntuosos
6ompia a marcha multido de coros de flautas e
trombetas= seguiam!nos as carpideiras= iam, em seguida, os
c8micos e buf)es, um dos quais arremedava quanto podia o
defunto, executando com seus companheiros de faa alguma
B?S
cena anloga 0 vida do que 9 no existia Depois seguiam os
libertos, e 3ib/rio, por vaidade, tinha dado liberdade a todos
os escravos do */sar para que o n(mero fosse excessivo ,os
libertos seguiam!se as imagens do defunto e de seus
antepassados, presas a umas varas compridas e postas em
quadros, com o vestido que traziam em vida
Depois o cadver do */sar, estendido no leito e
coroado, e com os despo9os das suas conquistas, era levado
por oito senadores
Oechavam a marcha f(nebre algumas "ent7rias de
tropa escolhida, com as bandeiras baixo e dando pancadas
com as armas do som duma marcha, em sinal de
desconsolao
" s/quito f(nebre chegou ao 8,rum, e pousou!se o
cadver sob a tribuna dos Discursos <m magistrado, parente
do defunto, saiu 0 rostra e ali pronunciou o panegrico de
,ugusto e uma orao f(nebre " orador terminou, e o
cadver foi conduzido, para ser queimado fora da cidade, no
lugar marcado pela lei
,s andas com o cadver foram colocadas sobre a pira, e
os parentes pegaram fogo 0 lenha seca, virando a cabea para
outra parte, para mostrarem sua repugnAncia
" povo orou com fervor +ara &ue os )entos
?a)ore"essem o +rogresso das "hamas, enquanto os
parentes lanavam perfumes sobre o fogo, e vestidos, armas
e ob9etos de valor que o defunto tinha apreciado em vida= as
tropas desfilaram tr&s vezes ao redor da pira, com as
bandeiras para baixo e dando pancadas com as armas Depois
apagaram o fogo com vinho, recolheram as cinzas e
encerraram!nas numa urna de ouro, e soltando uma guia,
exclamaram todos
! Leva para o c/u a alma do */sarD
B?M
,ugusto havia construdo em vida o seu sepulcro, no
campo 'rcio, entre a via Olamnia e o 3ibre ,quele
sepulcro, levantado no meio de bosquezinho, era uma obra
de arte "s baixos!relevos representavam em mrmore a
hist#ria de ,ugusto
5obre a polida lousa que cobria as cinzas do */sar, lia!
se este epitfio-
%O
D4DG*,D" ,"5 D4<545 ',N45
,H<G 2,Q
"3,%G,N" ,<@<53"
G'P46,D"6 D4 6"',
4 54N$"6 D" '<ND"
"s romanos, em ,ugusto tinham perdido um imperador
sbio, um general valente
3ib/rio, hip#crita e receoso, antes de se aclamar
imperador, comprou alguns senadores e, certo dos seus
votos, recusou o imp/rio= por/m eles lanaram!lhes aos p/s
pedindo!hle com as lgrimas nos olhos que no os
abandonasse
5ubiu ao trono, envolveu!se na p(rpura +or um rasgo
de -ondade Ss s7+*i"as do senado, e para render um tributo
de admirao e respeito a "taviano, quis que o honrassem
como a um deus e lhe erigiu em 6oma um soberbo templo,
proclamando!se sacerdote da nova divindade com outros
cavaleiros e senadores
5enhor do imp/rio e mandando a seu capricho aquele
grande povo conquistador do mundo, mudou o seu anto9o os
governadores das provncias romanas e os generais das
BBT
legi)es que acampavam nas dilatadas fronteiras, para
segurana do estado
4nto soube por um dos seus espi)es, que um
adolescente chamado 2esus de Nazar/ tinha confundido os
doutores de 2erusal/m e que se murmurava na Palestina que
aquele 9ovem descendente de Davi era o 'essias, anunciado
pelos profetas 2ulgou ameaada a conquista de Gsrael, pois
no tinha esquecido o furor de $erodes contra um 'enino
@alileu, nem os vaticnios da sibila *um/ia e os portentosos
acontecimentos que, pela /poca do nascimento de 2esus,
tinham sucedido em 6oma e no 4gito
<m homem desconfiado e avarento como 3ib/rio no
podia deixar em d(vida um acontecimento to importante
4screveu a %al/rio @ratos governador da @alil/ia, uma carta,
dizendo!lhe- .%al/rio= dize!me o que souberes de um 9ovem
de Nazar/ chamado 2esus, pois interessa a 6oma saber desse
9ovem a verdade e o que se pode temer d:4le1
%al/rio respondeu-
., 3ib/rio ,ugusto, imperador de 6oma, o seu s(dito
%al/rio @ratos
2esus no deve inspirar!te receio W filho dum pobre
carpinteiro que passa os dias fabricando arados e tetos de
cabanas "s 9udeus sonham com o seu 'essias h tr&s mil
anos 5uas esperanas duram tanto tempo como a sua
escravido Nem 6oma nem o grande 3ib/rio devem temer
nada do Oilho dum artista que no tem duas gearas de terra
de seu, e a quem os parentes olham com indiferena 4u te
afiano, 3ib/rio= 2esus / um cordeirinho inofensivo que crece
debaixo do teto de colmo duma humilde cabana, e que
deixar de existir no dia em que te aprouver
3ib/rio, tranquilo, esqueceu bem depressa 2esus "
soberbo imperador ignorava que aquele 'enino era Deus
BB+
que baixava 0 terra a destruir os seus dolos e a regenerar o
homem com o seu sangue
Dois anos depois, sucedeu a @rato, no governo da
Palestina, P8ncio Pilatos, nome que a sentena contra o
'rtir do @#lgota imortalizou
CAPTULO VII
A 0ORA ANUNCIA%A
"s anos rolavam um ap#s outro pelo declive
interminvel do tempo Nazar/ dormia 0 sombra das
palmeiras como uma ave de arribao que descansa das
fadigas de penosa viagem
2esus crescia na modesta cabana de seus pais,
esperando a hora da peregrinao 'aria era feliz vendo o
Oilho, tranquilo e bondoso, sob o humilde teto da sua
morada 2esus, que durante o dia se ocupava nos rudes
trabalhos de seu pai, 2esus, que era dotado duma dignidade
r/gia, duma alma elevada e reflexiva, durante a noite de p/
no terrao da casa buscava o descanso contemplando longas
horas as altas montanhas, os dilatados bosques de *ana ."
que vinha mudar as crenas no mundo, nada tinha que
aprender dos homens, disse "rsini, e no podia ser mais que
sua pr#pria obra= era uma vara vigorosa, respirando o ar livre
por todos os poros, e no recebendo outra umidade que a do
rocio do c/u1
'aria nunca interrompeu as longas medita)es de seu
Oilho 5eu sil&ncio, sua resignao, eram sublimes rasgos
daquele corao amante e dolorido 5abia que seu Oilho,
durante as horas de soledade e recolhimento, falava com
BB;
Deus= que um abismo se abria debaixo dos seus p/s, e que a
redeno do homem ameaava a preciosa vida de seu 2esus
amado
,lgumas vezes, cansada de o esperar corria em sua
procura, faminta de contemplar o formoso semblante 4nto
a fronte de 2esus, que era cruzada por uma profunda ruga, em
cu9o seio descansava a id/ia santa de redeno, reanimava!se
0 vista de sua 'e, e um sorriso de bondade lhe assomava
aos lbios
" Oilho de Deus seguia em sil&ncio sua 'e, com a
mod/stia, com a humildade de que tantas vezes mostras deu,
percorrendo a terra dos homens
5 7ernardo no admira menos a dignidade da %irgem,
que a humildade de 2esus
.4ste Deus, diz a quem esto submetidos os an9os, a
quem obedecem os principados e potestades, est su9eito a
'aria ,dmirai o que mais quiserdes destas duas coisas- ou a
assombrosa humildade do Oilho, ou a eminente dignidade da
'e, quanto a mim, uma e outra me assombram, e so a
meus olhos grandes portentos Hue um Deus obedea a uma
mulher, / uma humildade sem exemplo- que uma mulher
mande a um Deus, / um grau de gl#ria que no tem igual1
2esus, desde a manifestao no templo de 2erusal/m,
at/ aos trinta anos da sua idade, em que abandonou Nazar/,
viveu oculto e obscuro na pobre oficina de seu pai,
trabalhando pelo seu mesmo ofcio e esperando a hora do seu
evangelho
*risto correspondeu ao excessivo amor de sua 'e
com uma ternura sem limites
'aria, sempre zelosa do seu amor e profunda
conhecedora dos livros sagrados do seu tempo, instrua seu
Oilho nas leis inquebrantveis de seus maiores
BB?
.4la lhe fala de Deus Jdiz o padre 4biuef no seu livro
das 1rande>as da VirgemK como se fala 0s crianas= fala!
lhe de amar e adorar a Deus- diz!lhe que / seu Deus e seu
pai, e suas palavras lhe entram aos poucos na alma pelos
sentidos, que se abrem e desenvolvem diariamente 4 quando
4le comea a ser um tanto mais robusto 4la lhe canta e lhe
faz aprender os hinos que a piedade da lei tinha destinado
nos louvores de Deus "h, santa e feliz escola em que 'aria
ensina e 2esus aprende1D
Ga 2esus completar vinte e nove anos quando o an9o da
morte estendeu as impalpveis asas sobre a modesta choa, e
2os/, o patriarca de Nazar/, fechou os olhos 0 vida
, dor de 'aria e a de seu santo filho foi grande, porque
2os/ o homem 9usto, era adorado por quantos tiveram a
fortuna de o conhecer " pobre carpinteiro e descendente de
Davi, foi conduzido humildemente 0 (ltima morada, levando
0 testa do seu simples enterro o Oilho de Deus com as
lgrimas nos olhos e o choroso olhar no cho
<m ano depois, 2esus como o bordo do via9ante, a
t(nica parda dos galileus sobre os ombros, a fronte serena
como o mar da @alil/ia, saiu de Nazar/ e encaminhou!se
com passo grave e mesurado para as margens do 2ordo
, hora amada 9 tinha soado nos c/us, e Deus havia!lhe
dito- Parte, prega a tua nova lei, e morre pelo homem= e 2esus
dando um doloroso abrao em sua 'e, que banhada em
lgrimas o detinha temerosa de perd&!lo, havia abandonado a
paz do lar, o carinho de sua amorosa 'e, para receber os
insultos do homem e as dores da cruz
Nas margens do 2ordo, a pequena distAncia de 2eric#,
vivia um homem chamado 7atista " poder de sua palavra
conduzia 0s margens do rio santo multido de israelitas, que
se afastavam do seu lado depois de receberem as guas
BBB
batismais sobre as cabeas, espalhando pelas tribos a fama
daquele homem que tinha crescido nas desertas cavernas do
*armelo e cu9a eloqu&ncia se avanta9ava 0 dos profetas
2esus quis receber o batismo antes de comear a
dolorosa peregrinao ,quele *ordeiro sem mcula
dese9ava a limpeza do corpo como o (ltimo dos hebreus
<:a manh abandonou o humilde lar antes que a luz da
aurora enviasse o orvalho aos campos de Qabulon
'aria viu!o partir, sentiu que o corao se lhe
despedaava e, ao v&!lo de longe entranhar!se nas est/reis
montanhas de 2eric#, cobriu a casta cabea com o v/u e ficou
im#vel, como a esttua da dor, sobre o terrao da sua casa
" *ristianismo erguia!se duma humilde cabana de
Nazar/ Pobre, solitrio, sem outro apoio que o seu bordo,
seguia seu caminho com os olhos no cho e o pensamento
em Deus
Huem seno o 4terno podia levar a cabo a grande obra,
a assombrosa revoluo de id/ias que se efetuou no mundo
no breve espao de tr&s anosC
" *ristianismo flutuava nas amorosas pupilas do
solitrio %ia9ante, na santa palavra do pobre @alileu,
.manancial obscuro, gota de gua desconhecida, em que dois
passarinhos no teriam podido apagar a sede- que um raio de
sol teria podido secar, e que ho9e, semelhante ao grande
oceano dos espritos, tem enchido todos os abismos da
sabedora humana, e banhado com suas guas inesgotveis o
passado, o presente e o futuro1
LG%6" <NDW*G'"
O AN'O %A TREVA
BBF
CAPTULO I
AO AMAN0ECER
,manhecia a aurora ,s n/voas da noite comeavam a
dissipar!se, pressentindo a aproximao do sol " mar de
@enezar/ tranquilo como o sono duma virgem, acariciava
com suas suaves ondula)es as agrestes ribeiras que o
prendem " difano c/u da @alil/ia sorria sem uma nuvem
sobre os f/rteis campos de *afarnaum e @odara
,s pombas dos bosques de 2abes batiam as robustas
asas arrulhando entre os espessos ramos das rvores
" vento da manh agitava docemente os altos penachos
das palmeiras de 7etsaida, e os pescadores do lago,
carregados com as redes, abandonavam as humildes cabanas,
dirigindo!se com preguioso passo em busca das suas barcas
,s aves, essas eternas, incansveis madrugadores do
bosque e do espao, esses cantores sonoros da natureza,
enviavam seus mil harmoniosos ecos, suas infinitas
modula)es ao sol que ia nascer
Na margem do lago erguia!se ma9estosa uma cidade
moderna, rec/m!construda, cidade dedicada por $erodes
,ntpas a 3ib/rio, chamada 3iberiades
3inha fortes muralhas de granito, palcios de mrmore,
9ardins preciosos, um circo para entreter o #cio dos soldados
mercenrios, e vinte torres cilndricas para defender!se das
invas)es estrangeiras
" verdugo de 7el/m tinha dedicado a ,ugusto a cidade
e torres em prova de vassalagem 5eu filho ,ntpas seguiu a
BBI
mesma marcha para captar as simpatias do senhor de 6oma,
seu aliado
" sol rompeu por fim 5eus brilhantes raios banharam
com a formosa luz os altos minaretes da cidade nova e a
tranquila superfcie do mar da @alil/ia
,s sentinelas que passeavam pela muralha com
sonolento passo, assomaram para verem sair por uma das
portas que dava para o mar uns homens que, a 9ulgar pelos
longos roup)es negros 0 usana de 6oma, deviam ser
escravos
"ito destes homens conduziam uma riqussima liteira
de cedro com embutidos de nacar e prata
,s cortinas, de pele duma cor forte, simetricamente
fechadas por an/ias de prata, pelos quais passava uma
varinha de metal, e o balano grave e pesado da liteira,
mostravam que dentro devia via9ar alguma pessoa
*omo guardando as portinholas da liteira, caminhavam
dois homens luxuosamente vestidos com longos roup)es e
turbantes de linho 0 moda hebraica ,trs da liteira seguiam
doze escravos que conduziam pesadas caixas de madeira
pregadas com redondos e grossos cravos de bronze
Oinalmente via!se sair um peloto de soldados com
apetrechos de guerra 4ram soldados romanos
Huando a comitiva chegou 0 margem do lago, parou-
um dos hebreus levantou um extremo da cortina e trocou
alguma palavra com o personagem que via9ava na liteira
Depois, dirigindo!se aos escravos, disse com voz de mando-
! Para os barcosD
"s escravos deixando a liteira no cho, e pegando uma
das caixas, levaram!na at/ 0 margem do lago, onde se viam
barcas guardadas por alguns soldados 3iraram da caixa
BBP
finssimos panos de 3iro e tr&s almofad)es de seda com
riqussimas fran9as de ouro
*om rapidez incrvel, levantaram na popa duma
daquelas barcas uma esp/cie de dossel, dentro do qual
colocaram os tr&s almofad)es, uma alcatifa da P/rsia e
quatro perfumadores de prata
4nto o homem que tinha recebido e dado ordens
entrou na tenda, encheu os perfumadores de mira e pegou!
lhes fogo 7reve um perfume fino, delicioso, se estendeu
dentro daquela tenda improvisada
! ,os remosD tornou o homem do turbante
Doze homens se assentaram nos bancos do lado e
empunharam os remos, com as ps levantadas um c8vado da
superfcie da gua
! *onduzi v#s o tetrarca, disse o homem aos oito
escravos que estavam livres
4stes obedeceram e momentos ap#s uma das
portinholas da liteira achava!se perfeitamente unida 0 popa
da barca
" mesmo que tinha dirigido toda esta manobra, abriu a
cortina da liteira e disse-
! 4sts servido
4nto abriu!se a portinhola, e um homem de trinta e
seis a quarenta anos de idade, barba preta, olhar de guia e
p8mulos salientes, saltou da liteira ao barco %estia
simplesmente uma longa t(nica de pano verde com uma
fran9a de seda carmezim em volta da fmbria Levava um
barrete chato na cabea por baixo do qual saam longos e
abundantes cabelos pretos 4ntre o cabelo podiam distinguir!
se as grossas argolas que trazia nas orelhas
4ste homem chamava!se $erodes ,ntpas, e era
tetrarca da @alil/ia, filho de $erodes, o @rande
BBS
*hama!lo!emos, desde agora, ,ntpas 3o depressa se
viu ele sob o rico tendal que os escravos lhe tinham
preparado, voltou!se para a liteira e disse-
! %em, 6ute= mas no te esqueas o salt/rio- a m(sica
me deleita
<ma 9ovem formosa, cu9o rosto, extremamente moreno,
resplandecia de modo notvel, assomou a cabea pela
portinhola da liteira 4stava completamente envolvida num
finssimo manto de casemira que, subindo at/ a cabea, se
enrolava, afina, no pescoo " extremo do manto era uma
boria de seda azul que caa sobre o peito Debaixo daquela
imensidade de pregas adivinhavam!se as formas de uma
esttua grega
6ute saltou tamb/m para o barco Ga descala, como as
mulheres cald/ias, mas nos dedos dos p/s brilhavam
multido de an/is
"s braceletes que lhe apertavam os torneados braos
eram de ouro, formando simplesmente uma argola, onde
podia ver!ser um 0 e um T feitos com esmeraldas Levava
na mo direito um salt/rio extremamente pequeno e, na
esquerda, um bordozinho de prata que formava um gancho
no extremo
,ntpas e 6ute, sua escrava favorita, que apenas
contava dezoito anos, entraram para baixo da tenda, e
sentaram!se nos almofad)es
Huando o tetrarca desapareceu atrs do flutuante
pavilho da tenda, os doze escravos impeliram a barca para a
gua
" homem encarregado das manobras disse
laconicamente
! 6emai para 7etsaida
BBM
"s doze remos caram a um tempo sobre as guas do
lago, tornando!se a levantar imediatamente
, barca rasgou o seio do tranquilo lago com a delgada
quilha <ma chuva de gotas caiu dos remos obre a serena
superfcie da gua
Depois, suave, rpida como a gara marinha que
persegue o inocente peixinho, partiu a barca em direo ao
nordeste do lago, deixando na retaguarda a moderna cidade
de 3iberades
" resto da comitiva embarcou imediatamente nas duas
barcas que se achavam ancoradas, e seguiu a brilhante esteira
que deixava ap#s de si a embarcao do seu senhor
CAPTULO II
UM CONVVNIO IN8AME
Huando o sol se achava no meio da sua carreia, os
remeiros de ,ntpas alaram as ps " barco parou
,queles infelizes escravos estavam mortos de cansao
e cobertos de suor 5eis horas remaram sem descansar, mas
por fim a proa do seu barco tocara as dese9adas praias de
7etsaida
Gmediatamente, esquecendo o cansao, se lanaram
gua, e, em breve, a liteira se aproximou 0 popa da frgil
embarcao, para que ,ntpas e sua escrava subissem
3odos saltaram em terra, excetuando seis homens que
ficaram a guardar as barcas , comitiva, levando a liteira do
seu senhor aos ombros, atravessou as ruas de 7etsaida "s
moradores assomavam 0s estreitas 9anelas cheios de
curiosidade ,ntpas que tinha nas veias o podre sangue de
seu pai, no concedeu nem uma hora de descanso aos seus
BFT
escravos "s infelizes viram!se obrigados a comer a rao de
torta de milho e de figos secos, andando ,ssim atravessaram
o espesso bosque de 2abes
4ntretanto, o tetrarca de @alil/ia, preguiosamente
reclinado sobre os moles almofad)es, quase dormindo,
deleitava!se ouvindo a doce voz da escrava e o harmonioso
som do salt/rio
, escrava terminou uma estrofe e ia pousar o salt/rio
no regao
! Pelos manes de tua me, pelo tempo de 7elo, a quem
adoras, te rogo, 6ute querida, que tornes a repetir essa
estrofe
6ute, pegou no salt/rio e cantou a estrofe seguinte,
acompanhada duma melodia doce, sentida como o lamento
duma me que chora sobre a sepultura de seu filho-
Por&ue! senhor! te em+enhas meu "anto em
+ro*ongarG
A gara +risioneira no "anta &ua* so6a
Cantar *9 +e*o es+ao so-re o dormente mar;
eu "anto entre "adeias . "anto de agonia#
,hD 7em se v&, exclamou o tetrarca, que os poetas da
5el&ucia embalaram teu bero= tu /s poetisa, fazes versos
como 5afo, aspiras talvez que te chamem a musa und/cima,
como os habitantes de Lesbos chamaram a 5afo a d/cima
musa Pobre menina, no te dese9o a sorte que teve a herona
do promont#rio de Leucades 5e encontrarem algum Oaon
que te despreze, no te deites ao mar
6ute s# disse-
! *anto mais, senhorC
BF+
! No- podes deixar o salt/rio e dormir= eu vou fazer o
mesmo
4 o tetrarca cobriu a cabea com o extremo do manto
escarlate
6ute exalou um suspiro, e cobrindo o rosto com o seu
albornoz de casemira, encenou a cabea sobre o almofado
Depois, o senhor e a escrava guardaram sil&ncio
Naquele mesmo dia a comitiva do tetrarca, ao cair do
sol, entrava na cidade de @aulon, resid&ncia de Oilipe, seu
irmo, tetrarca da Gtur/ia
$erodes ,ntpas foi recebido por seu irmo Oilipe e por
sua esposa $er#dias, sua sobrinha, com grande regozi9o
,ntpas ia a 6oma oferecer a nova cidade de 3iberades
ao imperador
$er#dias, to formosa como infame, tinha uma filha
que apenas contava quatorze anos de idade, com a beleza
fascinante de sua me
,ntpas encheu!a de carcias e presentes e convidou a
uma entrevista sua me, a quem amava em segredo havia
algum tempo
Oilipe, seu irmo, era bom e confiado
Huando, depois do fetim toda a gente se retirou a
descansar das fadigas do dia, Oilipe acompanhou seu irmo 0
estAncia que lhe tinha destinado
Nunca ,ntpas tinha mostrada mais afeto, mais
defer&ncia a Oilipe, que naqueles breves instantes que
permaneceram s#s falando das suas tetrarquias Oez
promessas que encheram de prazer o corao do irmo
! Huando sais para 6omaC perguntou Oilipe
! ,manh, ao despontar da aurora
! Desconfia de 3ib/rio, meu irmo- a serpente favorita
que trazia sempre enroscada no pescoo foi devorada pelas
BF;
formigas 3raslio, seu astr#logo vaticinou!lhe que aquilo
queria dizer que ele seria morto pela multido 4ste agouro
f&!lo arisco e receoso 4ncerrado na fortaleza de *aprera, no
v& seno inimigos em todos os que se lhe aproximam- o
medo da morte faz!lhe cometer crimes
! Nada temo respondeu ,ntpas= 3ib/rio / meu amigo=
eu sou o seu mais fiel aliado
Depois despediram!se
,ntpas ficou s#, e comeou a passear pela habitao
De vez em quando chegava!se a uma 9anela e
perman&ncia contemplando o escuro horizonte recamado de
estrelas
,ssim transcorreram duas horas " tetrarca comeava a
impacientar!se Por fim ouviram!se leves passos no corredor
que conduzia 0 habitao do ilustre h#spede ,ntpas
chegou!se 0 porta e, aplicando o ouvido, escutou um
momento .W ela1, disse consigo, 4 abriu a porta
$er#dias entrou na habitao, e ambos foram sentar!se
num c8modo div
, criminosa esposa de Oilipe tinha uma formosura
resplandecente, lbios vermelhos como a flor da rom, olhos
negros como uma noite de tempestade, e o nariz aquilino
como o de *le#patra, as sobrancelhas povoadas e terminando
em arco sobre a texto, a tez morena m#rbida, o colo redondo
e perfeitamente unido aos ombros, a fronte larga e
provocadora= tudo dizia que a c#lera daquela mulher devia
ser terrvel
! *umpri a minha palavra, disse $er#diades ao amante
! 3eu irmo dorme- nada receia
! 3anto melhor- o que ignora no sofre
! 5im, mas amanh o saber
BF?
! Hue me importa se te tiver na @alil/ia, no meu
palcio, rodeada dos meus soldadosC 4u sou mais forte- no
ir buscar!te, assevero!te 5e me declarar guerra, tanto pior
para ele *onquistarei as suas cidades e me pagar tributo
Nada deve importar!te meu irmo
! 3ens razo Oalemos %ais a 6omaC
! ,manh
! 3o cedoD
! 3enho preciso de ver 3ib/rio, meu aliado
! Huando tencionas regressar 0s tuas tribosC
! Ggnoro
! 4nto nada podemos convencionar
! Por que noC 4u procurarei mandar!te emissrios que
te indiquem o dia em que deves achar!te na ribeira de
*afarnaum e, uma vez ali, nada temas, estarei ao teu lado
! 4u s# temo uma coisa- que tu no me ames
! Pode um homem sem amar faltar assim ao dever mais
sagradoC No /s tu minha sobrinha e mulher de meu irmo
h tempoC
! 3odavia, tua esposa
! 'inha esposaD "raD Huem faz caso dissoC 6epudiei!
a, remeti!a carregada de presentes a seu pai ,rets, rei da
,rbia Huem sabe se esse velho brbaro me enviar as suas
legi)esC 'as antes que atravessem o deserto de 'analem,
Pilatos, meu aliado, lhe cortar o passo
$er#diadese deu um grito de alegria 5eus negros olhos
brilharam de modo inexplicvel Dir!se!ia que suas pupilas
deitavam fascas
! ,hD exclamou 2 no deve temer nada de tua esposaC
,gora sim, creio que me amas
! Oizestes mal em duvidar
BFB
! 4u amo ou odeio= via uma mulher moa ao teu lado, e
amava!te= os ci(mes so filhos do amor
$er#dias pegou numa das mos de ,ntpas, e olhando!
o com firmeza como a ler!lhe no corao, perguntou-
! ,mas!me, no / verdadeC " teu corao / meu, como
o meu / teu 4m breve serei tua esposa, e este amor no ser
segredo para ningu/m
! ,ssim o espero
! Dize!me a verdade Hue fars ento de 6ute, tua
escravaC
! 5er tua escrava e fars dela o que te aprouver
! Por que a trazes contigoC
! 6ute / para mim uma mulher, / u:a musa, um cisne
que canta para me adormecer e embevecer os meus sonhos=
quando os doces acordes do seu salt/rio e as vibrantes notas
de sua garganta me chegam aos ouvidos, penso em ti, (nica
mulher que amo, e ento o amor das recorda)es bate as asas
sobre a minha fronte, e sou feliz
$er#dias guardou sil&ncio como se duvidasse= mas o
olhar sereno de ,ntpas pareceu tranquiliz!la
! %ou pedir!te uma coisa D!me 6ute, tua escrava
,ntpas no vacilou em responder-
! W tua
$er#dias bei9ou a mo que apertava as suas
,quela mulher infame, aquela ad(ltera coroada,
ambicionava um trono maior, mais espl&ndido que o que lhe
tinha cabido em sorte ,s tribos de @ad e 6uben eram mais
ricas que as de 'anass/ e 7etAnia " bosque de 4fraim
parecia!lhe mais grandioso que o de 2abes, a tetrarquia de
Gtur/ia, onde reinava seu esposo era um deserto areal
comparada com a rica e frutfera Pereia, onde reinava seu
amante
BFF
Depois, ,ntpas era rico, imensamente rico= edificava
cidades tinha a soldo soldados mercenrios, e era amigo de
3ib/rio, o maior imperador do mundo
$er#dias no vacilou ,o separar!se do amante tinha
celebrado com ele um contrato infame , ad(ltera 9urou
abandonar o esposo to depressa como o emissrio de
,ntpas fosse dizer!lhe-
! Partamos- o meu senhor te espera
Duas luas depois, a essa hora em que os pescadores de
*afarnaum retiram as suas redes do mar, um barco com uma
s# vela latina e seis remadores chegou 0s ribeiras Duas
mulheres, completamente ocultas nos compridos e largos
mantos 9udaicos saltaram do barco 0 praia <m homem
vestido 0 romana saltou depois delas, levando um cofrezinho
debaixo do brao
Deram algumas moedas aos remadores e, com passo
receoso chegaram a uma casinha de modesta apar&ncia,
situada a um tiro de pedra da cidade
Daquela casa saram oito escravos com uma liteira ,s
duas mulheres entraram na liteira " homem que as
acompanhava montou um soberbo cavalo que tamb/m
tiraram da casa
Depois todos se puseram em movimento em direo a
3iberades
De vez em quando uma cabea infantil, rosada como as
folhas de uma papoula silvestre, assomava a uma das
9anelinhas da liteira
" caminho que seguia a silenciosa comitiva era spero
e tortuoso ,o voltar de um cotovelo viram um homem de p/
sobre uma rocha 4ra moco- teria trinta anos 3razia o cabelo
apartado ao meio da fronte, como os galileus= ia descalo, e
BFI
vestia uma t(nica parda sem costura, e um manto 9udaico cor
de corinto
5eu rosto era formoso e o olhar de seus olhos azuis,
doce como o duma moa moribunda 3inha a barba repartida
em forma de forquilha
, fronte, que irradiava como o mar ferido pelos raios
da lua, era pura como o perfume duma violeta ,trav/s
daquela fronte parecia adivinhar!se alguma coisa que fazia
estremecer a alma e subira orao aos lbios ,pesar da
humildade do tra9e havia naquele silencioso caminhante
alguma coisa da ma9estade dos reis e da grandeza de Deus
Oirme sobre a rocha que lhe servia de base, com as duas
mos apoiadas num bordo contemplava com melanc#licos
olhos o f/rtil vale de Qabulon que se estendia a seus p/s
, po/tica luz crepuscular da tarde banhava com suas
suaves cores o formoso panorama que o tinha embebido
,s pisadas do cavalo que precedia a liteira, ressoando
sobre as duras pedras, fizeram!lhe voltar a cabea
,o fitar o olhar na liteira, um raio de luz divina
apareceu nos seus grandes e formosos olhos ,s mulheres
assomaram a cabea para o verem melhor "s olhos do
homem da penha encontraram!se com os olhares das
inc#gnitas via9eiras
" rosto duma delas cobriu!se subitamente de rubor, e
escondeu a cabea envergonhada atrs da cortina da liteira
"s lbios do homem da t(nica agitaram!se como a murmurar
algum orao
, mulher, que tinha corado, 9ulgou perceber uma voz
doce que dizia-
! Desanda o andado, torna para tua casa, recorda a tua
lei que diz- 5er morta a pedradas a mulher ad(ltera
, via9eira tremeu
BFP
! Hue tens, minha meC perguntou!lhe a 9ovem, que
sem d(vida observava a agitao de sua me
! %iste aquele homemC 5eus olhos resplandecem como
o 4fod do sumo sacerdote= o seu olhar penetra docemente at/
o fundo da alma como uma repreenso carinhosa que
9ulgamos 9usta= na sua fronte pareceu!me encontrar a
ma9estade de Davi e a intelig&ncia de 5alomo Huem ser
este homemC Hue far im#vel sobre aquela pedraC
! Hue nos importa a n#s, minha me, esse pobre
viandanteC exclamou a 9ovem com alegre acento
, me inclinou a cabea sobre o peito como se alguma
id/ia a preocupasse 3alvez pensasse no crime, na infAmia
que acabava de cometer, porque aquelas duas via9eiras,
outras no eram seno $er#dias e sua filha, que iam reunir!se
com ,ntpas, tetrarca da @alil/ia
CAPTULO III
O /ATITA
Nas margens do 2ordo, no longe das montanhas de
@elbo/, e como que a cinco milhas de 2eric#, sobre as
mesmas ribeiras do rio santo, ergueu!se uma cidade pequena
que o cristianismo imortalizou, pertence 0 tribo de 6uben, e
chama!se 7etabara
,li corriam todas as tribos de Gsrael a ouvir a inspirada
palavra dum homem que tinha passado a vida no deserto,
comendo mel silvestre e gafanhotos *hamava!se 2oo e no
trazia outro vestido que um curto saio de pele de camelo
atado na cintura 5ua fronte, tostada pelo sol e pelo vento dos
BFS
fura)es, era larga e despe9ada como a de 4lias= nos olhos
pretos brilhava um raio de luz divina
5ua voz, quando repreendia, era poderosa como o
bramido da tempestade= quando os conselhos brotavam da
sua boca, eram doces como o arrulho da rola
2oo, sendo muito criana, foi salvo do furor de
$erodes por sua me Gsabel
*onta a tradio que, quando a me do 7atista soube a
terrvel matana de 7el/m, fugiu com seu filho nos braos
Perseguida por vrios soldados, corria por spera montanha,
como a amedrontada cora De repente observou que o
caminho se cerrava ante os seus passos
,chava!se num profundo barranco= rochas inacessveis
adiante= atrs, os infames perseguidores 9 com o cutelo
levantado sobre sua cabea
! Deus de ,brao e de 2ac#D exclamou Gsabel com voz
espantada 3u me disseste por teus an9os que o fruto do meu
ventre era o precursor de 'essias 5e o deixar morrer, o que
me disseram os teus emissrios era falso
4nto abriu!se uma rocha em cu9o fundo resplandecia
uma grande claridade, e uma voz lhe disse-
! 4ntra
Gsabel entrou- a rocha tornou a fechar!se- os soldados
arremessaram!se sobre aquele muro que lhe cerrava a
passagem, roubando!lhe a presa, descarregando inutilmente
as cintilantes espadas sobre a dura pedra e fugiram
espantados 2oo 7atista, o precursor de *risto havia!se
salvado como o Oilho de 'aria, do furor dos seus
perseguidores
" deserto foi desde ento sua morada ,s feras
respeitaram o corpo daquele que, fugindo dos homens, se
BFM
refugiava entre elas, do que mais tarde havia de lanar sobre
a cabea do Oilho de Deus as guas do batismo
" nome de 2oo e o maravilhoso poder das duas
palavras estenderam!se por todos os Ambitos da Palestina ,
nova que o 7atista pregava tinha duas bases, profundas,
humanitrias- a esmola, e o desinteresse
5entado numa rocha, 0 sombra duma rvore, aquele
homem de apenas trinta anos, sereno como um c/u sem
nuvens, ma9estoso como os cedros do Lbano, cu9a
consci&ncia reta como o tronco duma palmeira de 7etAnia,
rodeado duma multido que, sedenta das suas palavras,
corria a ouvir a sua voz, dizia!lhe com um acento que
penetrava o mais rec8ndito dos cora)es-
! 6aa de vborasD Huem vos ensinou a fugir da ira que
ainda no chegouC Oazei dignos frutos de penit&ncia, e no
digais- 3emos por pai ,brao Porque vos digo que Deus
pode fazer destas pedras filhos de ,brao , machada est
colocada 9unto 0 raiz das rvores, pois toda a rvore que no
der fruto ser cortada e deitada ao fogo
4, abrangendo com olhar compassivo a enorme
multido que o ouvia, dizia!lhe com acento ma9estoso-
! " que tem dois vestidos, d& um ao que no o tem- e o
que tem para comer faa o mesmo com o faminto
<ns soldados que tinham parado para ouvir a palavra
daquele homem, comovidos pela sua voz que levantava ecos
dulcssimos no corao, perguntaram!lhe tamb/m-
! 4 n#s, que faremosC
! No maltrateis ningu/m, no calunieis e contentai!vos
com o vosso soldo
*hegaram uns publicanos para que os batizasse e
sentando!se entre a turba com sorriso zombeteiro e acento
provocador, lhe perguntaram-
BIT
! 'estre, que devemos fazer n#sC
" 7atista deteve o olhar no rosto daqueles homens
,quele olhar cheio de luz divina penetrou nos cora)es dos
publicanos que percorriam as tribos cobrando o tributo
romano, e baixaram a cabea como se no pudesse resistir ao
brilho daqueles olhos que os repreendiam
2oo soltou um doloroso suspiro, e disse!lhes-
! No exi9as mais do que se vos mandou exigir
! No /s tu o 'essiasC
! No /s o *ristoC
! No /s tu o salvador de GsraelC lhe perguntava o povo
em redor
2oo respondia a estas perguntas
! 4u, em verdade, batizo!vos em gua= mas vir outro
mais forte que eu, e de quem no sou digno de desatar uma
correia das sandlias 4le vos batizara com o 4sprito 5anto e
o fogo " crivo est na sua mo, e limpar a sua eira e
guardar o trigo em seu celeiro, e a palha a queimar com
fogo que nunca se apagar
<m dia em que 2oo se achava no meio dos discpulos
e rodeado de imensa multido que corria a ouvir suas
palavras, viu vir pela margem do 2ordo, seguindo a corrente
um homem, moo como ele, e a quem no se lembrava de ter
visto entre o seu audit#rio ,quele homem levava o cabelo
repartido ao meio da testa como os filhos da @alil/ia, ia
descalo e vestia uma pobre t(nica de l No seu rosto
formoso brilhava uma mansido suprema e uma doura
infinita *aminhava com passo tranquilo e com a radiosa
fronte inclinada para o cho
Ningu/m o conhecia
BI+
" precursor olhou o @alil/u= e depois curvando a
cabea sobre o peito, como se o deslumbrasse alguma luz
celeste exclamou com acento comovido
! 3u /s o 'essias
2esus, pois era este o homem que exaltava com a sua
presena o esprito de 2oo, disse por sua vez com um acento
dulcssimo e curvando a fronte com humildade-
! 2oo, que as guas do batismo caiam sobre a minha
cabea
! 4u devo ser batizado por 3i, e 3u vens a mimC
exclamou o precursor com grande admirao dos ouvintes
! ,ssim nos conv/m cumprir toda a 2ustia, tornou
2esus
2oo obedece 0s s(plicas do @alileu, e derramou sobre
a sua santa cabea as guas do batismo
Nesse momento sublime uma claridade difana
apareceu no espao <m raio de luz pura e bela, como tudo o
que brota do c/u, caiu sobre a humilde cabea de 2esus, e sua
fronte cobriu!se dum resplendor celeste
" 4sprito 5anto, em forma de pomba, desceu dos c/us
e pousou na cabea do que mais tarde devia morrer na *ruz
4nto uma voz do c/u chegou 0 terra dizendo-
D Este . meu 8i*ho amado! em &ue +us toda a minha
"om+*a"4n"ia<
2esus considerou a sua misso santificada, e chamou!se
desde ento *risto, isto /, ungido, consagrado
Depois deste movimento sublime, o Nazareno, com
passo tranquilo, abandonou a vizinhana de 7etabara e,
guiado pelo 4sprito 5anto, encaminhou!se para o deserto,
onde devia 9e9uar quarenta dias antes de empreender sua
penosa peregrinao, e onde o an9o que anda nas trevas devia
BI;
humilhar ante as humildes palavras do @alileu o orgulhosa e
maldita fronte
CAPTULO IV
A PALAVRA %E UM 'UTO
"s doutores de 2eric#, os fariseus de 2erusal/m,
professavam um #dio profundo ao 7atista " epteto de
feiticeiro, possesso do esprito mau, 9untavam!se com as
diatribes que lhe dirigiam at/ nas mesmas sinagogas
6ecusavam!se a receber as guas do batismo e
aconselhavam diariamente a Pilatos, governador de
2erusal/m, e ao tetrarca da @alil/ia, que se apoderassem
daquele homem que fomentava a sedio do povo
! 5e no quereis prend&!lo, diziam, ponde!lhe uma
mordaa
<m receio deteve ento ,ntpas- o povo, que amava
2oo como um profeta= o povo que corria a escutar as suas
inspiradas palavras e que lhe dava o nome de 'essias,
salvador de Gsrael, suplicando!lhe que lhe concedesse o
batismo
2oo soube com indignao a infame libertinagem da
ad(ltera $er#dias
Oilipe tinha querido recobrar sua criminosa esposa=
por/m ,ntpas, seu irmo, colocou as suas lanas
mercenrias na torrente de 2oboc, e os soldados de Oilipe,
menos em n(mero e em valor, no se atreveram a passar os
(ltimos limites do deserto de 'anaim
BI?
Oilipe devorou em sil&ncio o agravo= Gsrael soltou um
grito de indignao " receio emudecia todas as lnguas
porque Gsrael era ento um rebanho de escravos
2oo, criado no deserto, livre como o vento que levanta
as penas da guia no espao, busca os criminosos que
esqueciam o seu crime nos braos do prazer
2oo soube por um dos seus discpulos que o tetrarca e
sua infame esposa se achavam com toda 0 corte na moderna
cidade de Libada na margem oriental do 2ordo, a pequena
distAncia do castelo de 'acheronte
,s festas solenes da dedicao daquela cidade tinham
reunido dentro dos seus recentes muros grande n(mero de
curiosos
2oo, seguido dos seus discpulos, entrou na Libada,
onde o prazer assentava os seus arraias, onde a alegria
ocupava todos os cora)es 5eu aspecto grave, meditabundo,
silencioso, augurava algum acontecimento importante
2oo chegou 0 larga praa onde ,ntpas tinha o seu
palcio , curiosidade reunia naquele lugar uma multido
imensa " tra9e estranho do precursor, seus longos cabelos
estendidos em desordem sobre os ombros e costas, a
ma9estosa atitude daquele venervel cabea e o brilho
ameaador dos olhos, transmitiam um medo inexplicvel 0
multido que o rodeava
Por fim ressoou nos p#rticos do palcio o marcial som
duma trombeta ,quela voz de metal anunciava que o
tetrarca ia sair com a sua corte, como tinha por costume
todas as tardes
2oo ergueu a cabea como o leo que ouve no deserto
o grito selvagem do camelo 5eus olhos fitaram!se na porta
do ptio
BIB
7reve se viu sair uma luxuosa cavalhada ,diante via!
se o tetrarca montado num cavalo branco de raa siraca- a
seu lado cavalgava, numa /gua espanhola sua nova esposa
$er#dias ,trs seguiam alguns centuri)es romanos e vrios
dignitrios da tetrarquia
2oo sereno como um her#i de 4sparta ante o perigo,
grave como o remorso, adiantou!se alguns passos direito a
,ntpas
! Hue ir fazerC perguntavam em voz baixa as pessoas
2oo continuava sem se deter
! 4scuta, ,ntpas, exclamou o 7atista com voz firme e
grave, e tu tamb/m, mulher de Oilipe- no . *6"ito reteres a
es+osa de teu irmo ,i dos que abriguem debaixo do seu
teto a mulher ad(ltera 'alditos sero pelo Deus invisvel de
Gsrael 3orna $er#dias para Gtur/ia= o leito de teu esposo
ainda est quente- ele te espera= abre os ouvidos 0 minha voz
que ensina o dever 'aldita se9a e morta a pedradas a
ad(lteraD
"s olhos de $er#dias despediram raios de c#lera *om
que prazer teria pulverizado aos p/s do seu cavalo o homem
que se levantava ante ela como um remorsoD
,ntpas, plido, abatido, s# pode articular estas
palavras-
! ,fastaD
2oo afastou!se e a comitiva, triste e assombrada,
continuou o seu caminho
,s festas, perturbadas pela (ltima cena, terminaram
naquele mesmo dia
Desde ento $er#dias uniu!se com os doutores e os
fariseus para perder o 7atista ,ntpas resistiu o princpio,
recusando!se a satisfazer os dese9os de vingana que ardeu
no corao da esposa= por/m cedeu enfim, e 2oo foi
BIF
arrebatadado do seio dos seus discpulos e conduzido aos
calabouos do castelo de 'acheronte
" crime de sedio era o delito de que o acusavam= mas
atrs deste pretexto via!se o #dio de $er#dias e a inve9a dos
fariseus
"s discpulos de 2oo alcanaram de ,ntpas uma
graa- que se lhes permitisse entrar no crcere de seu mestre
CAPTULO V
A TENTAMRO
2esus depois do batismo, retirou!se para os montes da
2ud/ia, onde permaneceu quarenta dias
<ma noite que, com a fronte encostada a uma penha
dava graas ao Pai celestial que lhe havia dado foras para
resistir as necessidades do corpo, estremeceu a terra debaixo
de seus p/s
" Nazareno ergueu a fronte <m homem se achava
9unto dele, contemplando!o, com os braos cruzados sobre o
peito, ostentava uma profunda cicatriz na fronte 5eus olhos
azuis, extremamente claros, tinham alguma coisa sinistra e,
no fundo das pupilas, brilhava!lhe a pavorosa luz do raio
5eus longos cabelos, agitados pelo vento do deserto,
despediam um resplendor fosf#rico 4ra formoso, por/m na
sua formosura havia uma coisa de infernal "s lbios
sorriam!se, mas no seu ntimo pintava!se a desesperao e a
ira
5ua estatura era meio c8vado mais elevada que a do
homem mais alto 5eu vesturio era simplesmente um saio
preto atado na cintura por uma correia= estava descalo e,
BII
quando movia os p/s, deixava ap#s de si um vestgio azulado
que apagava imediatamente
2esus estremeceu levemente quando seus olhos se
fitaram no misterioso personagem que parecia ter sado da
terra
! Oilho do homem, conheces!meC disse o misterioso
personagem
! 5im= tu eras o arcan9o mais formoso do c/u= o
resplendor do sol brilhava!te na fronte, o sorriso do
crep(sculo oriental nos lbios= mas um dia rebelas!te contra
Deus, e o seu sopro vingador arremessou!te das alturas do
c/u aos abismos malditos da terra
! 5ou o rei do ,verno, o senhor do mundo, tornou
Lusbel levantando a maldita fronte
! 5im, tu .s o &ue anda nas tre)as
! 4sse nome me do as escrituras
! 3amb/m te chamas pais dos mpios=mas o teu orgulho
/ insensato 5# ao nome de meu Pai a tua cabea se curva e o
teu corpo se arrasta
! Pois bem, se /s Oilho de Deus, dize a estas pedras que
se convertem em po
! 4st escrito, disse 2esus, que no vive o homem s# de
po- mas sim da palavra de Deus
! Deita!te daqui a baixo
" arcan9o levou pelos ares a 2esus e, colocando!o na
ameia mais alta do templo de 2erusal/m, disse!lhe-
2esus respondeu!lhe-
! 4st escrito, no tentars o 5enhor, teu Deus
2esus e Lusbel, arrebatadas por um turbilho de vento,
correram pelo espao fora com a rapidez do furao Por fim
pararam no cume de uma montanha altssima que formava
tr&s cabeas, o grupo de $imalaia
BIP
! Debaixo das nossas plantas, disse o arcan9o, temos o
monte mais alto do universo 5abes o seu nomeC
! 5im, chama!se Daaalagiri, respondeu 2esus com uma
voz to doce, que contrastava com o rouco acento do an9o da
trevas
! %ais ver passar aos teus p/s todos os reinos da terra
4nto ouviu!se um estremecimento profundo
, montanha maldita, como se houvesse convertido em
eixo da terra, fazia girar, com rapidez incrvel, o mundo
Lusbel, agitava de vez em quando os ruivos cabelos,
que despediam fascas de luz sinistra
2esus olhava com olhos compassivos o an9o tentador
! "lha, lhe disse por fim Lusbel, o panorama que gira
debaixo dos teus p/s 4ssa imensidade de terra que se
encaminha para n#s, to depressa est/ril como feraz, cruzada
por todas as partes de rios e lagos, / a Rsia ,diante est a
terra da Promisso Deus prometeu!a a ,brao e a escolheu
para teu bero No sentes a olorosa fragrAncia dos cedros do
LbanoC "lha os altos cumes do 5abino, cobertos
eternamente de neve- v&s um fantasma gigantesco com os
braos cruzados sobre o peitoC W 5em, filho de No/, o tronco
de onde saem esses quinhentos milh)es de habitantes que
povoam um milho de l/guas quadradas de terra ,diante
vem a Palestina, como lhe chamam os romanos ou terra de
*anaan, como lhe chamam os fundadores %&s aquele lago
que encerram umas colinas, @enezar/C %&s aquela
monstruosa serpente que se arrasta sobre o seu leito de areia=
/ o 2ordoD 5eguindo a corrente podes ver o 'ar 'orto,
sepulcro m#vel que encerra no seio a depravao dos filhos
de @omorra, 5odoma e ,dama 3ua raa conquistou aquela
regio aos 9ebuseus- a presa foi repartida em doze tribos- em
vo a voz do profeta lhes recordava o dever, ensinando!lhes
BIS
as palavras da sua lei= em vo 4lias levantava a voz no
*armelo= as terras conquistadas pelas guerras tingiram!se mil
vezes com sangue inocente= @elbo/ est manchada com o
sangue de 5aul= o @#lgota manchar!se! com o teu "lha
bem aquele monto de casas, templos e palcios que se vo
aproximando %&s aquele pequeno povoado agrupado num
extremo do pitoresco vale de QabulonC W Nazar/ teu ponto
de partida= 0 sua direita, e olhando para o Norte, est
*afarnaum, de cu9as ribeiras sairo os teus discpulos mais
queridos 5eguindo a corrente de 2ordo para o 5ul, est
2eric#, destruda por 2osu/, e mais adiante, encravada no
centro da tribo de 7en9amim, acha!se 2erusal/m, que te
coroar a fronte de espinhos, te escarrar no rosto e te ver
morrer
Lusbel deteve!se " sil&ncio do Nazareno irritava!\
5acudindo a longa cabeleira ficou um momento com os
braos cruzados e o gesto altivo
4ntretanto foram passando rios, montes e cidades, e
chegou a ,rm&nia quase encerrada pelo Ponto!4uxino e mar
*spio, cortado pelas cordilheiras do *ucaso, de cu9o cume
tinha desaparecido Prometeu, o ladro divino
"s rios *irco, ,ranes, 3igre e 4ufrates estendiam sua
fecundantes correntes por toda parte
" arcan9o contemplava 2esus em sil&ncio, e entretanto o
mundo continuava girando em redor da fralda do
Daaalairigi, e passou a 'esopotAmia, essa grande plancie
encerrada entre o 3igre e o 4ufrates, com a cidade de ,ran,
onde viveram ,brao e 2ac#= *unaxa, onde *iro, o moo, foi
derrotado por seu irmo ,rtaxeres= a ,ssria, com a sua
espl&ndida Ninive, fundada por Nino= a ,rbela em cu9os
plainos ,lexandre venceu a Dario
BIM
"lha agora, tornou Lusbel, aquilo / 7abil8nia, onde os
homens adoravam cem deuses= aquela torre / a de 7abel=
onde se ergue como um gigante no meio das runas " meu
alento inspirou aos babil8nicos aquela obra colossal, triste
mem#ria da soberba do homem
, terra de 'edos com seu clima temperado seus ares
puros e sua eterna primavera, passa tamb/m perfumando o
ambiente
" divino @alileu ouvia outra vez a voz do arcan9o, que
dizia-
! ,parece a Endia= esse triAngulo de terra cu9a vegetao
poderosa no tem igual no mundo 5uas canas so rvores,
suas rvores, bosques, seus rios encerram ferozes caimes,
crocodilhos carnvores Pelas suas selvas se arrastam
monstruosas cobras de vinte c8vados "s gigantescos
elefantes percorrem suas plancies "s leopardos, as panteras
e os le)es albergam!se nos seus incultos barrancos , terra
d duas colheitas por ano, e o tortuoso @anges dizima os
habitante com sua p(tridas emana)es Para onde dirigires os
olhos vers a grandeza, e vida e a morte , Endia, av# do
g&nero humano, sem o seu tifo e o seu c#lera invadiria o
mundo %&s aquele fantasma que caminha adiante daquela
extenso quadrada de terra seca no centro, verde nos
extremos- Pois / *am ,quela terra chama!se Rfrica= sob o
seu sol abrasador respira uma raa de homens negros como a
noite, bravos como os leopardos de seus desertos *hega o
4gito= mais de trinta milh)es de homens esto su9eitos ao
capricho da natureza " Nilo / a sua vida, a sua fortuna, o
seu celeiro 5e o meu hlito secasse os ignorados mananciais
de onde brota aquele rio, em breve 4lefantina, ,lexandria,
$orm#polis, o *airo e outras vinte mil cidades seriam um
monto de runas= os seus f/rteis campos, os seus formosos
BPT
9ardins, um deserto seco e est/ril " 4gito passou por sua vez
com suas pirAmides, seus obeliscos, seus desertos, seus
verg/is e seu Nilo fecundante
"utro fantasma apareceu no espao arrastando seu
longo sudrio pela terra e, com o olhar fito num ponto
longnquo que resplandecia como o mar banhado pela lua
4ra 2afet 5eguiu!o a 4uropa- a Gtlia foi estendendo o belo
panorama do seu solo compreendido entre o ,dritico e o
mar 3irreno= 'anta com seu lago resplandecente= Npoles
com o seu radiante golfo= Pomp/ia, vtima do %es(vio=
*ures, ptria de Numa Pomplio= 6oma, senhora do mundo,
rainha da arte, recostada sobre o 3ibre= *audion, a das
foras caudinas= @rotona, a dos homens esforados, e cem
mais que passaram coroadas de gl#ria resplandecente e de
formosura, impregnadas de perfumes, ante o dolorido olha de
2esus
" arcan9o, com o brao estendido, fazia girar o mundo
Por fim passou a 4uropa, antiga, apresentando aos
olhos divinos de 2esus a @lia, a @ermAnia, a Pan#nia, com o
seu Dan(bio, a 5armcia e as Glhas 7ritAnicas
" mundo antigo tinha girado ao redor do $imalaia
'as o arcan9o permanecia ainda com o brao
estendido, e outra vez se ouviu sua voz, atroando o espao
! "lha, lhe disse, v&s aquela imensidade de gua que
caminha para n#sC Pois esse mar chamar!se! o vasto
"ceano <m homem atrevido atravessar essas imensas
solid)es de gua "s sbios lhe daro o apodo de louco= mas
o louco dar um mundo novo ao mundo velho
4 a ,m/rica passa tamb/m com seus bosques
impenetrveis, seus rios que parecem mares, suas ma9estosa
cataratas, suas f/rteis plancies, seu *himborazo, seu Nigara
BP+
e seu 'ississipi, suas cordilheiras, seus ,ndes, e sua
poderosa vegetao
! 4ssa terra ignorada tem as entranhas de ouro= / rica
at/ o inverossmil= um aventureiro conduzir 0s suas praias
milh)es de homens impelidos pela cobia, tornou Lusbel
Pois bem, tudo o que viste me pertence- / teu se a9oelhado
aos meus p/s me adorares
2esus levantou os olhos ao c/u Depois abrangeu com
um olhar compassivo o arcan9o tentador, e, com voz doce e
melodiosa falou-
!No tentars o 5enhor, teu Deus ,dorars o 5enhor
teu Deus, e s# a 4le servirs
4nto estremeceram as entranhas do monte <m grito
espantoso atroou o espao, abriu!se a terra, e o arcan9o
tentador caiu com estrondo nos seus profundos abismos,
soltando uma blasf&mia horrvel
2esus a9oelhou!se Duas lgrimas lhe deslizaram dos
olhos= erguia ao c/u compassivo o olhar 5ua doce voz
tamb/m ergueu!se 0 mansido de seu eterno Pai, dizendo-
! Perdoa ao soberbo Da us fronte imaculada brotava a
purssima luz da manh, e o orgulho submergiu nas
profundidades do abismo Perdoa ao soberbo
*essou a santa voz
, aurora estendeu suas nacaradas cores e as aves
comearam o seu canto de boa vinda
2esus continuava orando Huando o primeiro raio do sol
dissipou as trevas achava!se de 9oelhos sobre um alto pico
dos montes de 2ud
LG%6" D<"*W*G'"
BP;
O PATOR %A ALMA
CAPTULO I
A NOVA LEI
*hateaubriand disse- .2esus *risto apareceu no meio
dos homens cheio de graa, verdade e doura, porque veio a
ser o mais desgraado de todos os mortais 5uas palavras
comovem= todos os seus prodgios f!los em favor dos
miserveis, dos desgraados aflitos1
2esus, depois do deserto, encaminhou!se para a
@alil/ia 5ua santa misso vai comear
$umilde pastor de almas, busca por toda a parte a
ovelha desgarrada para a reconduzir ao redil Para encarnar
os seus preceitos no corao dos desgraados, escolhe o
ap#logo ou a parbola , natureza / o grande livro que se
abre diante os olhos do povo
Para onde quer que diri9a os passos, uma multido
sedenta de ouvir a autoridade da sua palavra, ansiosa de
escutar a doura da sua voz e de sentir a consoladora luz do
seu olhar, o rodeia com amor e lhe chama seu 'estre, seu
Deus
Nos lbios do santo Peregrino nunca se esgotam as
palavras de consolao 5ua eloqu&ncia apost#lica busca os
similes nos ob9etos que o cervam, para que aquelas naturezas
simples o compreendam
,presenta o menino como modelo de inoc&ncia= a
vi(va pobre que deposita dinheiro na urna das esmolas, como
exemplo de caridade %endo as flores dum prado, exorta o
povo a que confie na Provid&ncia, que mant/m as plantas e
BP?
alimenta as tenras avezinhas 4m presena dos frutos
sazonados dum campo, ensina a 9ulgar o homem pelas suas
obras
Na primavera assenta!se sobre uma colina e instrui a
multido que o rodeia, comparando os ob9etos que se
estendem ante os seus olhos
'as no adiantemos a marcha dos sucessos
2esus, depois do deserto tornou a Nazar/, sua ptria
4ra o dia de sbado, e encaminhou!se para a sinagoga "s
sacerdotes deram!lhe o livro de Gsaias
2esus leu onde diz-
." esprito de Deus est sobre mim Para dar boas
novas me enviaram= para curar a todos os que cr&em de
corao
Para anunciar aos cativos redeno e aos cegos vista
Para p8r em liberdada os oprimidos= para publicar o ano
favorvel do 5enhor e o dia do galardo1
2esus enrolou o livro, e devolvendo!o ao sacerdote
assentou!se no meio da multido que o rodeava
Por um momento contemplando com amor aquele
povo, no meio do qual tinha crescido Por toda parte
encontrava rostos conhecidos= mas tamb/m por toda parte
observara olhares carregados, como se o repreendessem por
achar!se naquele lugar
"s murm(rios de desgosto comearam a ouvir!se em
redor do humilde Nazareno Por fim um profundo e doloroso
suspiro saiu dos divinos lbios do futuro 'rtir= e falou desta
maneira
! $o9e cumpriu!se a 4scritura , profecia de Gsaas que
ressoou aos vossos ouvidos, ser cumprida
, dulcssima voz de 2esus penetrou em todos os
cora)es
BPB
" Oilho de 'aria continuou a falar!lhes, e a fora
misteriosa das suas palavras maravilhava!os
! No / este o filho de 2os/, o carpinteiroC
perguntavam
! 5e /, como diz, o 'essias, porque no faz entre n#s o
que contam que fez em outras partesC tornou outro
! Dizem que cura os cegos
! 4 os possessos
! Hue o poder da sua palavra levanta os paralticos do
seu leito
! Nas bodas de *ana converteu a gua em vinho,
exclamava outro
! 5e fosse certo tudo que dizem, fa!lo!ia na sua ptria
! *omo h de ser um profeta o filho de um carpinteiroC
! *hama!se o *risto
! Nada bom sair da @alil/ia, disseram as 4scrituras
No / ele @alileuC
2esus escutava com infinita bondade todos estes
comentrios
Por fim falou desta maneira, e 0 sua voz extinguiram!se
os murm(rios-
! .4m verdade vos digo que nenhum profeta / aceito na
sua ptria 'uitas vi(vas havia em Gsrael no tempo de 4lias,
quando se fechou o c/u por tr&s anos e seis meses, quando
houve uma grande fome por toda a terra 'as a nenhuma
delas foi enviado 4lias seno 0 vi(va 5arepta, filha de
5ed8nia 'uitos leprosos havia em Gsrael no tempo de
4liseu, o profeta- mas nenhum deles foi limpo seno
Naaman, da 5ria1
"s nazarenos, indignados ante a verdade destes
exemplos que 2esus arrancava da hist#ria para repreender a
sua incredulidade, comearam a amea!lo , doura de
BPF
*risto irritava!os, chegando por fim no seu cego furor a
expuls!lo da 5inagoga
2esus foi arrastado pela multido ao cume de um monte
,lgumas mos mpias empurraram!no para o precipitarem no
abismo Por/m 4le, sereno ante o perigo, humilde ante o
insulto, tranquilo ante a ameaa, abarcava com um
dulcssimo olhar aquela turba louca, rogando em sil&ncio a
seu santo Pai por ela
" poder da sua mansido humilhou os soberbos *risto
passou pelo meio deles e= com passo firme, comeou a
descer pela encosta do abismo, por um lugar por onde
homem alguma se tinha atrevido a baixar
,lguns dias depois chegou a um ponto situado no
extremo setentrional do lago de @enezar/ ao povoado de
*afarnaum, isto /, da consolao ,li sara um
endemoninhado, e cura das febres a sogra de 5imo
" povo atropela!se para ver o divino 'estre
3odas as tardes, 0 hora em que os (ltimos raios do sol
poente se estendem sobre o tranquilo mar de 3iberades,
2esus, sentado numa rocha, rodeado duma multido sequiosa
das suas palavras, que penetravam em todos os cora)es,
chama a si os aflitos, os desgraados
"hD Huantas recorda)es da sua doce e infinita
bondade conservam as santas ribeiras daquele lago escolhido
por DeusD ,li acudiam os enfermos que saravam s# pelo
poder da palavra do 6edentor ,li foi onde disse ao
paraltico- .Levanta!te, pega no teu leito, e vai para tua
casa1 4 o paraltico levantou!se e pegou no leito, dando
graas ao Deus cu9a bondade infinita acabava de reanimar a
sua inerte mat/ria
,li tamb/m foi onde uma tarde mandou lanar as redes
a 5imo Pedro, e as redes saram das guas repletas de peixes
BPI
a ponto de se romperem as malhas 4 dois barcos se
encheram quase at/ se afundarem nas guas
4nto 5imo Pedro, absorto ante o prodgio que tinha 0
vista, lembrando!se de que na noite antecedente havia
lanado inutilmente as redes ao lago, caiu aos p/s daquele
$omem maravilhoso, e pondo a fronte no p#, exclamou com
medroso acento-
! 5enhor, perdoa os meus pecadosD
2esus ento estendeu a mo protetora sobre aquela
cabea que se humilhava, e disse-
! Nada temas *hamas!te 5imo, chamar!te!s Pedro, e
daqui em diante sers pescador de homens
, fama e os milagres de 2esus, estenderam!se com
prodigiosa rapidez pelas doze tribos
4ntretanto o ungido do 5enhor recrutava nas ribeiras de
@enezar/ os seus ap#stolos, os modernos propagadores da
sua nova lei 6udes pescadores haviam de comover o mundo
com o poder da palavra, sempre inspirada pelo divino
'estre , Pedro segue ,ndr/, seu irmo 'ais adiante os
filhos de Qebedeu v&m passar 2esus, na ocasio em que se
ocupavam a consertas as redes 2esus chama!os, e 3iago e
2oo abandonam seu pai para seguirem o $omem cu9as
palavras arrebata, cu9o olhar seduz
Pouco depois, seguido sempre por toda parte da
multido, 2esus det/m os passos no cume de um monte
,li escolhe os seus ap#stolos- Pedro, ,ndr/, 2oo,
3iago, Oilipe, 'ateus, 3iago de ,lfeu, 5imo, chamado
zelador, e 2udas Gscariotes, que mais tarde devia vender o seu
'estre
4stes foram os homens venturosos escolhidos pelo
5alvador do mundo $omens imortais que, com a palavra
BPP
regeneradora nos lbios, percorreram mais tarde a terra em
busca do martrio
2esus os conduziu a um plano 5entou!se sobre a terra
do campo e, abrangendo com olhar bondoso os soldados da
sua nova lei, comeou a falar!lhe deste modo-
CAPTULO II
A /EM AVENTURANMA
7em!aventurados os pobres, porque deles / o reino dos
c/us
7em!aventurados os que agora tendes fome, porque
sereis fartos
7em!aventurados os que agora chorais, porque rires
7em!aventurados sereis quando os homens vos
aborrecerem e apartarem!se de v#s e vos ultra9arem
2esus inclinava de vez em quando a radiosa fronte para
o cho 'as em breve tornava a ouvir!se a sua dulcssima
voz que dizia-
, de v#s os que estais fartos, porque tereis fomeD
, de v#s os que agora rides, porque chorareis e
gemereisD
'as digo!vos a v#s que me ouvir- ,mai os vossos
inimigos, fazei bem aos que vos querem mal
7endizei os que vos maldizem e orai pelos que vos
caluniam
,o que vos ferir numa face, apresenta!lhe tamb/m a
outra e ao que vos tirar a capa, no lhe impeais levar
tamb/m a t(nica
Da a todos os que pedirem= e ao que tomar o que /
vosso no lhe torneis a pedir
BPS
" que quiserdes que faam convosco os homens, isso
mesmo fareis v#s com eles
5e amardes os que vos amam, que merecimento tereisC
5e fizerdes bem, aos que vos fazem bem, que
merecimento tereisC
5e emprestardes 0queles de quem esperais receber, que
merecimento tereisC "s pecadores tamb/m fazem isto
,mai, pois, os vossos inimigos, fazei bem, da
emprestado sem esperar por isso nada, e o vosso galardo
ser grande e sereis filhos do ,ltssimo, porque 4le / bom
at/ para os ingratos e maus
5ede, pois, misericordiosos como vosso Pai /
misericordioso
No 9ulgueis e no sereis 9ulgados, no condeneis e no
sereis condenados, perdoai e sereis perdoados
Da e dar!se!vos! medida boa e apertada= porque com
a mesma medida com que medirdes, se vos tornar a medir
Por que como podereis dizer- deixa!me, irmo, tirar!te
o argueiro do teu olho, no vendo tu a trave que h no teuC
$ip#crita, tira primeiro a trave do teu olho, e depois vers
para tirar o argueiro do olho de teu irmo1
5ublime doutrina, digna somente de um Deus que
desceu do paraso para derramar o seu sangue pelo homem e
fazer da raa humana uma famlia
3odos filhos de Deus, todos irmos= eis a uma frase
que encerra por si s# um poema de indefinvel ternura, de
inesgotvel amor
2esus depois de instruir os seus discpulos, entrou na
cidade de *afarnaum, onde curou o criado do centurio
romano
BPM
*risto, incansvel no desempenho da sua sublime
misso, procurava com terna solicitude os desgraados para
chorar com eles
, vi(va de Naim v& levantar!se o cadver de seu
adorado filho , mo de 2esus havia tocado o f/retro, e a sua
voz tinha dito- .Levanta!te1
! Deus visita o seu povo, exclamou a multido absorta
ante to grande milagre
! <m grande Profeta se levantou entre n#s, exclamaram
os discpulos em voz baixa
, fama deste milagre correu at/ os confins da 2ud/ia
2oo 7atista ouviu no seu crcere o assombroso
acontecimento que preocupava o Animo dos israelitas e
mandou dois dos seus discpulos em busca do 'essias
! Ws tu o que h de vir, ou esperamos outroC lhe
perguntaram
! Dizei a 2oo o que ouvistes e vistes- que os cegos
v&m, os coxos andam, os leprosos so limpos, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia!se o
4vangelho
<m dia 2esus encaminhava!se para a @alil/ia, e era
preciso atravessar a hostil 5amaria "s raios abrasadores do
sol caam perpendicularmente sobre a terra
2esus sentiu!se fatigado
, cidade de *eguem distava coisa de um quarto de
hora do lugar em que o Nazareno se achava 4ra esta herdade
que 2ac# tinha dado a 2os/, comprada aos filhos de $emer
por cem cordeiros
2unto desta herdade havia um poo de gua viva,onde
as mulheres de 5iqu/m iam buscar gua 2esus ficou 9unto
daquele manancial "s discpulos dirigiram!se 0 cidade em
busca de mantimentos
BST
2esus ficou s# <m pensamento profundo germinava
naquela fronte divina 5eus grandes olhos azuis, fitos na
profunda abertura do poo, pareciam ler na transparente e
clara superfcie do manancial algum mist/rio
De s(bito estremeceu 5ua nobre cabea levantou!se
como a copa da galharda palmeira depois do (ltimo sopro do
furao %olveu um olhar ce9io de perdo e bondade para
5iqu/m, donde caminhava em direo 0 fonte uma mulher
com uma Anfora de barro 0 cabea e uma comprida corda
enrolada na esbelta cintura e no brao esquerdo
4ra uma formosa moa- teria vinte e quatro anos 5eus
olhos resplandeciam= seus lbios grossos e nacarados
respiravam sensualidade e paixo
,s faces, morenas como as da 5unamita e m#rbidas
como as de ,bigail, ostentavam sa(de= descobriram que
aquela mulher encerrava um corao faminto de prazeres
Longas tranas de negros cabelos lhe caam sobre os
redondos ombros da t(nica de l cor de amaranto
,quela mulher chamava!se 5ar "s 4vangelhos s# a
consignam com o nome de sua ptria *hamava!se a
5amaritana
5ara, chegando ao poo pouso o cAntaro, dirigindo um
olhar desdenhoso para aquele homem silencioso que a
contemplava com olhos compassivos 5eu tra9e e seu
penteado mostram claramente a sua raa
4ra um @alileu, gente que os samaritanos olhavam com
profundo desprezo 5ara encheu a Anfora, e 2esus disse!lhe
com doce acento-
! D!me de beber
5ara, a formosa 5amaritana, perguntou com admirao-
! *omoD 3u um 9udeu, pedes gua a uma mulher de
5amariaD Huando teve o teu povo trato com o meuC
BS+
! 5e soubesses, respondeu 2esus com doura, quem / o
que te diz .d!me de beber1, tu lhe pedirias e ele te daria
gua viva
, mulher samaritana volveu um olhar em torno de si
como procurando um ob9eto, e, no o encontrando, fez esta
pergunta com riso mofador-
! No tens com que tir!lo e o poo / fundo "nde est
essa gua que me oferecesC Ws tu, por ventura, maior que
nosso pai 2ac#, que nos deu este pooC
! 3odo aquele que bebe a gua deste poo, replicou
2esus, tornar a ter sede- mas o que beber da gua que eu lhe
der, 9amais ter sede
, mulher, escutando absorta aquelas palavras, e quase
sub9ugada ante a ma9estade de 2esus exclamou-
! 5enhor, d!me dessa gua, e assim evitarei vir todos
os dias a este manancial, tornando para 5iqu/m fatigada com
o peso do cAntaro
" 5alvador quis mostrar 0quele mulher que 4le era
mais que homem
! %ai, lhe disse, chama teu marido, e vem com ele
! No tenho marido, respondeu 5ara, baixando o rosto
para o cho, envergonhada ante o olhar purssimo de 2esus
que lhe recordava a sua vida passada
! 7em disseste, tornou o Nazareno= no tens marido=
porque cinco tiveste, e o que agora vive contigo no / teu
esposo
, 5amaritana levantou os olhos, confusa, para olhar
aquele homem que parecia saber sua hist#ria silenciosa
! 5enhor, ve9o que /s profeta, lhe disse 4u sei que vem
o 'essias que se chamar *risto e, quando vier, nos
declarar todas as coisas
BS;
2esus, que lia no corao daquela pecadora um
vivssimo dese9o de conhecer a verdade, disse!lhe
simplesmente estas palavras-
! 4u sou o 'essias, que falo contigo
5ara caiu aos p/s do 6edentor como se a luz de seus
divinos olhos a houvesse deslumbrado ,fogados soluos lhe
saam do peito, e um mar de lgrimas lhe corria pelas
morenas e frescas faces
! 'ulher, continuou 2esus, no est longe o dia em que
um s# Deus ser adorado em toda a redondeza da terra, dum
modo perfeito "s sacrifcios dos samaritanos e dos 9udeus
sero abolidos , f/ da nova lei se derramar por toda parte
como a ben/fica chuva sobre os campos para os fecundar "
Deus verdadeiro no se achar su9eito ao lugar que escolham
os homens 4star por toda parte- a errante caravana, ao
atravessar as secas areias do deserto, o encontrar, se o
buscar " pobre nufrago, no meio dos irritados mares, e
encontrar, se n:4le confiar " enfermo prostrado no leito da
dor, o perdido caminhante, o aflito, o faminto, o deserdado,
todos enfim, os que vivem sobre a terra, o encontraro se o
invocarem com f/= porque 4le / o verdadeiro Deus e est em
todas parte= no ar tbio que mexe o melanc#lico penacho da
palmeira, no clix duma flor, na fonte que sussurra ao p/ das
colinas, no canto misterioso das aves, nos radiantes raios do
sol que iluminam e vivificam Porque / esprito, e / mister
que o adorem em esprito e verdade
,inda permanecia aos p/s de 2esus a 5amaritana,
escutando as palavras do divino 'estre, como se fosse o eco
harmonioso de uma m(sica celeste, quando chegaram os
discpulos que tinham ido a 5iqu/m comprar vveres
BS?
, presena de uma mulher naquele lugar admirou!os
mais ningu/m se atreveu a dizer ao 'estre- &ue +erguntou
ou &ue di> e*a
5ara, ao ver!se rodeada dos ap#stolos, abandonando o
cAntaro, foi precipitadamente 0 cidade participar o venturoso
encontro que tivera na herdade de 2ac#
! %inde, clamava 5ara a todos os que encontrava pelo
caminho %inde ver um homem que revelou tudo o que tenho
feito, na minha vida- ser acaso o *risto
4nquanto esta mulher alvoroava os habitantes de
5iqu/m que, cheios de curiosidade se encaminhavam para a
fonte de 2ac#, os ,p#stolos, apresentando ao seu 'estre as
provis)es, lhe pediam que comesse, mas 2esus re9eitava a
comida, dizendo-
! 4u tenho para comer um man9ar que v#s no sabeis
5# um murmurou em voz baixa-
! 3er!lhe!ia trazido comida aquela mulherC
LG%6" DW*G'" 346*4G6"
CAPTULO III
A AMARITANA
I
,lguns dias depois, a mulher de 5iqu/m, 0 quem havia
falado 2esus no poo de 2ac#, estava sentada em sua casa e
chorava , voz poderosa e triste, severa e ao mesmo tempo
consoladora que lhe havia dito- ."hD 5e conhecesses o dom
BSB
de DeusD1 ,quela voz ressoava!lhe incessantemente nos
ouvidos, e retraa!lhe o corao dos longos extravios
5onhos de inoc&ncia desvanecida, secretos
arrependimentos, no confessados ainda a ela mesma, lhe
perturbavam o esprito 6epassava na imaginao os seus
dias que se tinham deslizado entre a febril embriaguez das
paix)es, e o rubor corava!lhe por um momento a face, que
logo empalidecia de novo com a amargura das recorda)es
4 aquele pobre corao, por tanto tempo cheio dos
sentimentos tumultuosa da terra, volvia!se apesar seu, para o
que tanto amava, porque a graa o tinha surpreendido no
meio duma afeio mais profunda e ardente que quantas at/
ento o tinham agitado= e o seu corao palpitava ainda sob o
peso dos novos pensamentos que lhe germinavam no peito,
9unto dos que no a tinham de todo abandonado, e a sua alma
gemia na turbao e na ang(stia
GG
! 5afan no vir, dizia consigo no meio da inquietao
do esprito= ele foi vender seu gado e a herana para se
estabelecer para sempre ao meu lado 4u exigi!lhe esta prova
de amor Hueria eu que tudo deixasse por mim, como eu teria
deixado por ele todos os bens da terra mas como renunciar
aos do c/u, agora que brilharam a meus olhosD 4 agora, que
vai ele pensar, achando!me to outra do que me deixouC
'as, prosseguia, e crescia a palidez do seu rosto e o seu
seio se levantava mais agitado, quem pode prever se voltarC
<m ano de constAncia talvez o tenha cansado Por outra
parte, uma esposa 9ovem e bela, ornada sem d(vida, aiD de
BSF
toda a sua inoc&ncia, o aguarda ao lado de seu pai Huem
sabeC 3alvez no volte mais 'elhor seria isto que termos
que separar!nos para no nos vermos mais "h, meu DeusD
'ui fraca sou aindaD *ustar!me! a vidaD
GGG
,ssim falava 5ara, a bela samaritana, conhecida at/
ento em 5iqu/m por seus infort(nios e pelo atrativo das
suas graas, 0s quais poucos homens sabiam permanecer
insensveis 'as ho9e o formoso semblante est escurecido
pelas lgrimas, e 5ara v&!se abismada em amargas
recorda)es 9untas com previs)es ainda mais amargas
! ,hD 5e ele houvesse escutado, como eu, a voz de
*risto, sua alma se teria certamente comovido como a minha,
e ambos 9untos seguiramos o 5alvador, para escutarmos
sempre as palavras que fazem levantar os mortos dos seus
sepulcros e os pecadores do abismo dos seus pecados 'as
querer!me! acreditar, a mim, pobre mulher, sem ci&ncia
nem autoridadeC "h meu DeusD 4u no espero seno a %#sD
G%
,o cair daquele dia, depois duma lua de aus&ncia,
apareceu 5afan, 0 porta da casa de 5ara, e abriu!a sem
dificuldade ,o entrar na habitao baixa em que morava a
9ovem, deixou a al9ava e o bordo de viagem, e, dirigindo!se
BSI
a ela, disse!lhe com um tom que manifestava uma forte
comoo
! 5ara, 9 me tens de volta ao teu lado Disse adeus,
como tu quiseste, a meu pai, a minha pobre me, a meus
irmos, ao teto que me viu nascer, 0 que me estava destinada
para esposa 6ompi todos os laos que podiam afastar!me de
ti %em, 5araD Oaa!me o teu amor esquecer tudo quanto
deixei por tiD
5ara permanecia tr&mula, longe dele, e no caminhava
,s sombras comeavam a subir pelo horizonte- um
derradeiro raio de sol ao morrer atravessou as grades da
9anela, iluminando os negros cabelos de 5ara e dourando!os
com um brilhante reflexo 'as seu rosto estava na escurido
,proximou!se 5afan e olhou!a- estava inundado de lgrimas
! Hue sucedeuC tornou um tanto bruscamente o 9ovem
Donde vem to estranha recepoC No, tu no me recebias
assim Ooi talvez demasiado longa a minha aus&ncia para a
constAncia dum corao de mulherC Oala, ao menos
<m suspiro de 5ara foi toda a resposta 4stas palavras
do amante fizeram!lhe conhecer toda a profundidade da sua
ab9eo, pois podia cr&!la capaz de o esquecer to depressa
5afan examinava!a com olhos de suspeita *ontinuou,
pois, e a sua voz tr&mula na cavidade do robusto peito-
! Dize!me, obrei mal em deixar tudo pelo teu amorC
"hD 5e assim o pudesse crer di!lo, di!lo, 5araD 3o
depressa vais vingar meus pais e a minha 9ovem prometida
do inesperado abandono em que os acabo de deixarC 'eu
pai, a quem Deus abenoe e console, meu pai, o sbio ancio,
9 me disse que tu os vingarias um dia a todos= mas eu, na
minha cegueira e no meu amor insensato, no quis cr&!lo 4
tu /s a que to depressa deves convencer!meC ! 4 olhava
BSP
5ara, e os seus olhos exprimiam uma desconfiana mista de
c#lera e de dor
! 5afanD exclamou ela 4u amo!te sempreD "hD sim,
sempre o bastante para morrer por ti se tiveres necessidade
da minha vida
! 4ntoD disse 5afan
! Durante a tua aus&ncia passaram!se aqui, nestes
lugares, algumas coisas das quais eu teria querido que
fosses testemunha, 5afan, e estas coisas me deram a conhecer
que outros pensamentos, mui diferentes dos da terra, devem
encher o esprito das criaturas de Deus
5afan em p/, com os braos cruzados e contrados,
olhava aquela mulher comovida e palpitante e, no sabendo
ler no fundo da sua alma que casta de agita)es a
perturbavam, num terrvel acesso de furor exclamou-
! ,h, corao de mulher, mais inconstante que as ondas
movedias do marD Hue extravio de pensamentos, que
vertigem se apoderou de mim para dar cr/dito 0s tuas
palavrasC "h, desditaD 5ou um insensatoD
! 5afan, querido 5afan, no me amaldioes, exclamou
ela pondo!se de 9oelhos diante dele e bei9ando!lhe as mos
com imensa dor No me oprimas, no me mates com esse
menos prezo que leio nos teus olhos No, no creias, no
mudou o meu corao- / teu, amo!te a ti unicamente, e nunca
o possuir outro 'as escuta- brilhou a minha vista uma nova
e s(bita luz que me fez ver a minha pequenez e mis/ria
*ompreendi, senti mist/rios desconhecidos, cu9a sublimidade
me aterrou <ma voz me falou K, 5afan, se tu tamb/m
conhecesses o dom de DeusD
! Hue queres dizer!meC 4ssas palavras so para mim
incompreensveis
BSS
%
5afan tinha!se deixado surpreender por carinhosas
palavras e uma mulher bela e apaixonada 3inha!se
entregado sem defesa 0s suas sedutoras graas 5ub9ugado
pelos seus encantos, nada lhe havia custado a resoluo de
romper por ela todos os vnculos que unem os homens entre
si 3udo tinha rompido bruscamente e sem pensar, a fim de
seguir sem peias as suas inclina)es
Huando fazemos um sacrifcio das nossas mais
queridas e inocentes afei)es para as pormos aos p/s de um
dolo que cremos nos aparta deles, sentimos o maior
tormento que pode devorar a alma do homem 5afan viu
naquele momento sua velha me chorando e dizendo!lhe o
(ltimo adeus= seu pai, enfermo e oprimido de pesares, e seus
irmos, fi/is aos antigos costumes, seguirem!no com severo
olhar, ao dizer!lhe o (ltimo adeus 3ornava a ver tamb/m a
sua prometida esposa, a bela e encantadora Glida, que
escondia as lgrimas sua partida
5em o saber, trouxera a 5iqu/m um corao irresoluto
com imagens de uma pura felicidade e recorda)es e
remorsos que queria esquecer nos fogos de uma paixo
ardente ,iD 5ara viu num s# olhar tudo o que se passava no
corao de 5afan, pois sentia!se duplamente iluminada pelo
amor e pela dor
%G
! K, 5afanD exclamou chorando com amargura Porque
no te opuseste, quando, louca, eu, te exigia to grandes
BSM
sacrifciosC 4u queria pagar com uma vida inteira de amor,
com uma exist&ncia toda consagrada a ti, pois eu amo!te
como nunca, como 9amais amei
! 5e tu me amasses
! "h, meu Deus, sim, eu amo!teD 'as, continuou
baixando os olhos cheios de lgrimas, o *risto, o 5alvador
desceu 0 5iqu/m= fez!nos ouvir a sua palavra divina, e a sua
voz comoveu!me a alma at/ ao mais profundo dela
5afan sorriu!se de modo estranho
! 2 no me acreditas, tornou 5ara, oprimida por um
grande peso Perdi o direito de persuadir!te No o teria tido
seno para tua perdioC ,hD Porque no te achavas aquiC
Por que me deixasteC 3erias visto e sentido como n#s o
poder irresistvel que exerce 4le falou e todos emudeceram
para escut!lo *urou aqueles que sofriam, e o seu lmpido
olhar penetrava at/ o fundo da consci&ncia e perturbava!a
como um raio do sol perturba a gua, 0 qual a um tempo
aquece e ilumina-
! 'as, disse 5afan bruscamente, onde nos levar este
discursoC
! Pois bem, replicou 5ara com voz segura- reconhecei a
minha culpa e dela me arrependi
! *om quemC exclamou 5afan em tom de profundo
desprezo
Duas lgrimas saltaram dos olhos de 5ara a este insulto
inesperado
! 3u no me acreditasD ,hD bem o mereci " terrvel
castigo dum procedimento insensato / o no poder inspirar
confiana Hue direi eu agora, se no ds o mnimo cr/dito 0s
minhas palavrasC %amos procurar 4liezer- as suas simples
palavras talvez te convenam= mas ia!lo que chega
%GG
BMT
*om efeito, um ancio inclinado sob o peso dos anos
chegava dos campos 4ra 4liezer, tio de 5ara e pai dos 9ovens
que sucessivamente tinha morrido depois de a terem tomado
por esposa 4liezer era um ancio entendido, singelo nas suas
palavras, e cu9as a)es tinham sido boas diante de Deus
5uas cs eram por todos respeitadas, porque a experi&ncia
consumada / a coroa dos velhos e a sua gl#ria consiste no
temor de Deus
! 5afan, meu filho, bem!vindo se9aD disse ao mancebo
estendendo!lhe a rugosa mo
Levantou!se este com respeito 0 velhice 'as no
respondeu 4ste afetuoso acolhimento no deixou de o
surpreender, e causou!lhe certa sensao no corao= porque
4liezer, sabendo que um filho de Gsrael no podia ser esposo
duma samaritana, tinha vituperado fortemente as sua rela)es
com a sobrinha $ bondades que fazem pressentir a
desgraa
!Posso o teu regresso restituir a paz a 5araD continuou o
velho- oito dias h que no sabe seno chorar, e os seus olhos
convertem!se em rios de lgrimas
4 sem d(vida conhecers a causa de to profundo
pesarC disse em amargo tom o 9ovem hebreu
! ,hD , causa, disse 4liezer sentando!se 9unto de 5ara,
a causa desta pena / e ser a alegria de muitos- um homem
apareceu entre n#s, e a sua boca ensinava a sabedoria ,
graa divina e a fora fluam dos seus lbios, como cai o
orgulho da manh sobre a terra 4le derramou a luz sobre
quantos o escutaram com reto e sincero corao , 5ara
devemos a sua vinda 7endita se9a ela para sempreD
,crescentou lanando sobre a bela 5amaritana um olhar
ben/volo e paternal 7em sabes, continuou que eu e ela
sofremos 9untos muitos pesares, e eu a acusava alguma vez
BM+
de ter esquecido muito depressa seus esposos por um novo
amor 'as se sofri muito por ela, por ela tamb/m me veio a
consolao 7endita se9aD Por ela, 5afan, se levantou de
repente diante de mim a esperana de outra vida no sepulcro
2 se dissiparam os meus temores e se aclararam as trevas
que me enchiam de horror- a velhice, meu filho, 9 no / para
mim aquele mal d/bil e pesado que conduz 0 morte W o
spero e duro da verdade, mas iluminado por um raio do
futuro, que conduz a uma vida imperecedora "h, minha
filhaD 7endita se9ais para sempreD
%GGG
5afan olhava 4liezer, que, perdido nos seus
pensamentos, parecia penetrado para com 5ara de um
inefvel reconhecimento " 9ovem hebreu no compreendia
as suas palavras 4liezer prosseguiu
! 3ero passado pouco mais de oito dias 'inha filha
tinha sado da cidade 0 sexta hora do dia, para ir, segundo ela
me contou, tirar gua da fonte de 2ac# <m homem estava
sentado 9unto do poo Parecia fatigado, e descansava 0
sombra das palmeiras= no seu modo de vestir fcil era
reconhecer a sua nao, era um @alileu= seu ar era plcido e
ma9estoso= e s# com ver a sua nobre serenidade, vinham
vivos dese9os de a9oelhar a seus p/s Gsto foi o que 5ara nos
disse ter sentido, e depois o experimentei eu mesmo Huando
minha filha se aproximou da fonte, o estrangeiro pediu!lhe
com acento cheio de doura que lhe desse de beber
,dmiranda 5ara pela confiana que lhe manifestava, pois, 9
sabeis que o #dio divide as nossas duas na)es, respondeu!
me- .5enhor, tu /s 9udeu, como me pedes de beber, a mim
BM;
que sou samaritanaC "s 9udeus no tem com/rcio com os
samaritanos
4nto 4le respondeu, e esta resposta comoveu
profundamente o corao de minha filha- .5e tu conhecesses
o dom de Deus, e se soubesses quem / que te diz- d!me de
beber, tu mesma talvez lho houvesses pedido, e ele te daria
gua viva1
! Hue quer isso dizerC interrompeu 5afan 3inha, pois,
esse homem, sendo via9ante, um vaso bastante grande para
tirar gua do poo de 2ac#C 4 duma profundidade
considervel
! Gsso mesmo / o que lhe fiz notar, disse por seu turno
5ara, e respondi!lhe com surpresa- .5enhor, se no tens nada
com que tirar gua, e o poo / to profundo, donde terias
tirado gua vivaC Ws tu maior que nosso pai 2ac#, que nos
deu este poo, de cu9a gua bebeu ele mesmo e tamb/m seus
filhos e seus rebanhosC1 'as ele me respondeu- .Hualquer
que beba desta gua ter ainda sede, mas o que beber da que
eu lhe der se converter para ele num manancial que brotar
dele at/ 0 vida eterna
4 5ara ficou pensativa, como se aquela voz e aquelas
palavras ainda lhe ressoassem nos ouvidos
" ancio baixando a voz e dirigindo a palavra a 5afan,
que permanecia im#vel com aquela narrao, disse-
! 5ara sentia!se perturbada no seu interior, e lhe disse
com uma esp/cie de movimento involuntria-
.5enhor, d!me dessa gua para que eu no tenha mais
sede, nem ha9a de vir aqui mais para a tirar1 4 o estrangeiro
lhe disse ento- .%ai chama teu esposo, e volta aqui
5ara, permanecia absorta em profundas reflex)es,
seguia com atento ouvido cada uma das palavras de 4liezer,
e exclamou de repente-
BM?
! 5im, 5afan, o 5enhor me disse que te chamasse, e
ainda que deva custar!me 0 felicidade e o gozo da minha
vida, eu te chamarei com todas as vozes do meu corao, at/
ao dia em que me respondas- ,qui me tens
4 5ara escondeu o rosto entre as mos= as lgrimas
corriam!lhe atrav/s dos formosos dedos
! Ooi!me preciso dizer!lhe a verdade, e confiei!lhe com
vergonha e rubor, prosseguiu .4u no tenho esposo1, lhe
disse, e 4le me respondeu .*om razo dizes que no tens
esposo1= e a voz do que assim me falava era uma voz cheia
de harmonia compassiva 4 eu exclamei como perdida-
.5enhor, eu bem ve9o que tu /s um profeta1 4 fiquei
aniquilada diante d:4le 4stava abismada de pasmo pelas
revela)es que acabava de fazer!me acerca da minha vida
passada, e dos laos que nos uniam, 5afan 3odavia, esforcei!
me para recobrar os sentidos, a fim de no perder as suas
palavras, e ainda o ouvi dizer- .Deus / esprito e vida, e /
preciso que os que o adoram o faam em esprito e verdade1
5afan olhou para o ancio, como para pedir!lhe uma
explicao das elevadas doutrinas que ele no compreendia=
mas 4liezer parecia perder!se abismado nos seus
pensamentos= seus olhos levantados para o c/u indicavam de
que natureza eram as suas reflex)es 5ara continuou-
! 4u atrevi!me a dizer!lhe, balbuciando- .5ei que breve
deve vir o *risto ou o 'essias Huando tiver vindo,
anunciar todas as coisas1 'as, 5afan, 4le me respondeu e o
meu corao estremece ao pens!lo e a minha boca mal ousa
repeti!lo- .5ou eu mesmo 4u, que te estou falando1
5afan e o ancio olharam!se= sentiram gelar!se!lhe o
sangue
! , estas palavras fugi como espantada, e ao mesmo
tempo arrobada de alegria Deixei ali o meu cAntaro, e vim
BMB
aqui correndo e arque9ando e dizendo a quantos encontrava
pelo caminho- .%inde ver um $omem que me disse tudo o
que tenho feito W o *risto, o 'essias1
! 4 que fizeram os que chamavasC disse 5afan Deram
cr/ditos to facilmente 0s tuas palavrasC
5ara no respondeu- foi 4liezer o que disse-
! @rande n(mero de habitantes de 5iqu/m, e eu com
eles, samos pressurosos da cidade, e fomos ao seu encontro
4le estava ainda sobre a montanha, rodeado dos seus
discpulos ,o v&!lo detivemo!nos a alguma distAncia, sem
nos atrevermos a passar avante " sol banhava!o com a sua
luz, por/m 4le parecia brilhar com raios interiores, mais
fulgurantes que todos os resplendores do c/u= os nossos
olhos ficaram deslumbrados com a sua presena De longe o
ouvimos conversar com os seus discpulos 4les lhe pediam
que tomasse o alimento que lhe tinham levado= por/m 4le
respondia!lhes com imponente gravidade- .No dizeis v#s-
dentro de quatro meses vir a ceifaC ,gora vos digo 4u-
Levantai!vos e olhai os campos que 9 branqueiam e esto
para segar!se " que segar receber o seu salrio, e colher
frutos para a vida eterna, para que to contente fique o que
semeia, como o que lhe colhe as messes1
! Hue queria dizer com isso exclamou 5afan, e de que
ceifa queria falarC No compreendo essas figuras
! Nas nossas almas / que semeia as suas palavras, e
para o c/u sem d(vida que quer colher o fruto, respondeu o
velho samaritano ,hD se aqui estivesse, 5afanD "s que o
ouviram creram n:4le, porque o poder e a persuaso
manavam dos seus lbios com abundAncia
! Permaneceu muito tempo em 5iqu/mC
! Dois dias esteve entre n#s Durante este tempo a sua
palavra divina germinou nas nossas almas, e a metade do
BMF
povo cr& n:4le 4 no pelo que nos disse 5ara, seno porque
o vimos n#s mesmos, e sabemos que / o 5alvador do mundo
! 5afanD " 5enhor disse!me que te chamasse "hD no
te faas surdo 0 sua voz
! , sua voz no chegou aos meus ouvidos, respondeu o
mancebo, e o que me dizem um velho cr/dulo e uma mulher
que facilmente se impressiona, no pode comover!me ,l/m
disso, acrescentou como procurando fortalecer!se na sua
incredulidade, o *risto prometido aos verdadeiros filhos de
Gsrael como teria conversado por tanto tempo com
samaritanos, cu9o culto / para n#s abominvelC tornou 5afan
! 4squecia!me de dizer!te ainda, tal / a minha
perturbao, que para sair das d(vidas que fizeste nascer no
meu esprito respeito ao nosso culto e 0 nossa crena, disse
com timidez ao 5enhor- .Nossos pais adoram sobre esta
montanha em que nos achamos, e os da tua nao nos dizem
que em 2erusal/m / que se deve adorar1 4 4le respondeu!
me- .*r&!me, mulher- breve h de vir o tempo em que v#s
no adorareis a Deus nem nesta montanha nem em
2erusal/m- v#s adorais o que no conheceis= mas s#
adoramos o que conhecemos, porque a salvao vem dos
9udeus1
! Disse issoC 'urmurou 5afan, em cu9o peito os
desvarios da mocidade tinha enfraquecido, mas no de todo
extinguido a f/ de seus pais= 4le disse a verdade- a salvao
do mundo deve sair do meio do povo escolhido de Deus
! 3amb/m nos disse, prosseguiu 4liezer- .No 9ulgueis
que 4u tenha vindo para abolir a lei e os profetas No vim
para os abolir, seno para os cumprir1 4 mandou deixar tudo
para o seguir= mandou viver segundo os pensamentos
elevados do esprito, e no segundo os dese9os insensatos da
terra= manda a doura e o perdo das ofensas= quer o
BMI
desapego das riquezas, e diz- .Da ao que vos pede, e no
vireis o rosto ao que quer pedir!vos emprestando No peais
os vossos bens ao que vo!los tirou Perdoai e sereis
perdoados Oinalmente, o que quiserdes que faam os
homens por v#s, fazei!o tamb/m por eles1 4sta / a lei que
prega
! "h, lei de amor e de mansido infinitaD exclamou o
ancio num rapto de piedosa gratido "xal no tardes a
reinar no mundo e a derramar por toda parte tuas benignas
influ&nciasD
GX
5afan escutava com grande pasmo Por momentos o seu
esprito parecia interessar!se nestas coisas to novas para ele,
mas por momentos tamb/m meneava a cabea e se
entrincheirava na sua incredulidade
! 3amb/m nos disse o 5alvador, continuou 4liezer-
.5abers que se disse- ,mars o teu pr#ximo, aborrecers o
teu inimigo- eu por/m digo!vos- amai os vossos inimigos-
fazei bem aos que vos aborrecem- abenoai os que vos
maldizem- rogai pelos que vos perseguem e por aqueles que
vos caluniam
5afan fez um gesto de comoo profunda 4liezer
reparou no seu movimento, e continuou
! " 5alvador acrescentava com uma mansido que se
comunicava 0 alma, levando a ela a sua doura e paz= .%osso
Pai celestial no faz nascer o sol para o bons e para os mausC
4 no faz cair a sua chuva sobre os 9ustos e os pecadoresC
! No acabava de cair a sua palavra divina sobre uma
pecadora indigna de ouvi!laC exclamou 5ara K tu 5afan, #,
tu, nascido em 2erusal/m, filho da promessaD No te deixars
BMP
levar pelo chamamento do 'essias quando n#s,
amaldioados pelo teu povo, repelidos pela lei, nos
levantamos da nossa ab9eo para o seguirmosC
X
'as 5afan permanecia inquieto e indeciso 4 de
repente, para fazer vacilar as resolu)es da 9ovem
samaritana, disse-
! 5ara, no dia em que me resolva submeter!me a essa
nova lei de que acabas de falar!me, ou ainda to somente
seguir a lei severa dos meus pensamentos, / preciso que
renuncie ao teu amor, que volte a meu pai, e que lhe diga-
D!me agora a esposa que me tinhas prometido
! 7em o sei, disse 5ara, e as lgrimas lhe cobriram o
rosto= ali bem sei que tero de romper!se os nossos laos
'as a ti ao menos, teu pai, tua me, tua famlia te acolher
com gosto 3u achars a felicidade numa unio pura e santa,
acrescentou redobrando as lgrimas e soluos "s males no
sero se no para mim, que ficarei s# e aflita 'as eu confio
em que no me faltar valor, e como o 5enhor v& a minha
mis/ria, ter compaixo da sua pobre serva, e abreviar a
durao das suas penas em paga da sua submisso
! No 5ara, exclamou 5afan, voltando com toda a
ternura para aquela mulher a quem amava, e cu9as lgrimas
testificavam o amor que lhe tinha= no, no, cr&!me, deixa
esses pensamentos demasiado elevados para o teu esprito e
severos em demasia para a minha 9uventude 4nxuga as
lgrimas 4squeamos tudo, o tempo que foge, e os que
podem vituperar!nos, e a n#s mesmosD , vida / curta e /
preciso empreg!la segundo o nosso corao e dese9o ,deus
BMS
por ho9e= faze com que amanh o teu rosto resplandea como
a nova aurora, e o 9(bilo renascer em nosso peito como
renasce cada manh em toda a superfcie da terra
4 5afan afastou!se para romper uma conversao que o
feria no fundo da alma e lhe deixava o corao descontente a
despeito de si mesmo= porque a verdade nunca se mostra de
todo em vo, e a sua vida perturba ao menos aqueles a quem
no esclarece inteiramente 4liezer, ao v&!lo partir, seguiu!o
com a vista e disse a 5ara-
! %alor, minha filhaD , felicidade, se / que h na terra,
consiste mais no cumprimento dos deveres que na satisfao
dos dese9os
'as a velhice ter!se! esquecido tanto do passado, que
9 nem sequer saiba o que a 9uventude chama felicidade,
quando ela pode tamb/m muitas vezes enganar!se neste
pontoC " dever / inflexvel como ele mesmo= / de ferro, e
rompe e despedaa o corao como a morte Oora /
aprender a cumpri!lo em todo o seu rigor, mas sem esperar
que se nos converta em prazer ,ssim o sentiu 5ara, e
chorava copiosamente Diante de 5afan tinha contido a dor=
mas agora a 9ovem desfazia!se em soluos
! "remos, exclamou que Deus d indubitavelmente 0
sua criatura a fora necessria para o cumprimento dos
sacrifcios que lhe imp)eD Peamos!lhe a sua graa que d
fora= por mim s#, bastante o conheo, no posso fazer mais
que gemer
XG
" 9ovem hebreu regressara a 5iqu/m descontente,
voltado o pensamento, sem o advertir, para o que deixara,
pronto a desprezar a mulher por quem abandonara o seu pas
BMM
e todos os seus, disposto a acus!la pela mnima suspeita,
para desculpar talvez a si mesmo as suas recorda)es
'as a sua vista, a sua beleza, a sua dor, o dese9o que
manifestara de romper os frgeis laos que os uniam, tudo
reanimava o seu amor 4le amava!a perdidamente= e depois,
quando entregava a alma a este amor, a doutrina severa, mas
to sublime e elevada d:,quele a quem chamam o 'essias=
os remorsos daquela a quem amava, remorsos poderosos para
combater a sua ternura= as palavras e 4liezer= aquela voz
secreta que fala no fundo do corao e sempre protesta
dentro de n#s contra as paix)es desordenadas, tudo se
mancomunava para introduzir!lhe a perturbao no esprito,
e a sua alma flutuava num oceano de d(vidas e incertezas
"h, meu DeusD 5# em %#s se encontra o repousoD
XGG
Dois dias se passaram durante os quais 5afan e 5ara
no se tornaram a ver 5afan anda errando pelo campo= to
depressa procura 5ara nos lugares onde muitas vezes a
encontrava, nas plancies ou debaixo das palmeiras da fonte
de 2ac# como se entranha na sombra do monte atrav/s das
speras veredas= conversando consigo mesmo acerca das
palavras que escutou da boca do ancio e de sua filha, mas
depois, cansado do esforo do seu esprito confuso, busca de
novo aquela por cu9o amor deixaria ainda outra vez o que 9
tinha deixado, e que parecia fugir obstinadamente dele
5ara, entretanto, constantemente pede, ,quele de quem
vem todo o dom perfeito, que ilumine e faa descer sobre ela
a sua fora e socorro Depois de ter derramado abundantes
lgrimas, depois de ter deposto as suas humildes s(plicas aos
p/s do 4terno, levanta!te a 9ovem u:a manh, chama um
FTT
criado fiel, faz!lhe tomar sandlias, um nodoso bordo, fala!
lhe longo tempo em segredo, e f!lo partir antes da aurora,
dizendo!lhe-
! %&, 'icas, informa!te com exatido, e vem dizer!me
em que lugar poderemos encontr!lo
Depois de o mensageiro ter partido, p)e!se de 9oelhos, e
ora ainda longo espao Levanta!se, e sai ao encontro do
9ovem hebreu
XGGG
! 5afan, Deus nos separa, lhe diz com voz que pretende
conservar firme e treme apesar de seus esforos 'inha vida
foi sempre desgraada- cinco irmos quiseram um ap#s outro
unir a sua sorte com a minha, seguindo o costume de se unir
o irmo com a vi(va de seu irmo para lhe dar sucessores
3odos cinco pereceram de morte imprevista e violenta- um,
pelo fogo do c/u, outro nas guas, os outros na (ltima
guerra <m filho, doce esperana da minha vida, que
Oanuel, (ltimo de meus esposo, me deixara morreu!me
tamb/m nos braos 4 quem o acreditarC 3antas dores
ainda no me cansaram a alma= e quando 4liezer, a quem os
mesmos 9udeus chamaram o bom samaritano, te conduziu 0
nossa habitao coberto de feridas que te haviam feito uns
ladr)es nos desfiladeiros das nossas montanhas, a minha
alma voou inteira para ti Depois de longa solicitude e
cuidados, quando pudeste ver!me tive a fraqueza de
comunicar!te a minha ternura, e apesar do quanto desgosta
aos teus patrcios uma mulher de 5amaria, tive a arte ou
felicidade de fazer!me amar por ti 4 amo!te tantoD
Deteve!se, porque o pranto a sufocava
FT+
! Pois bem, pois bemD exclamou 5afan 5e / uma falta o
amar!se, esta nos / comumD No posso arrepender!me de
haver!te amado
! Pois eu arrependo!me, disse 5ara atrav/s do pranto
! ,rrependes!teD disse 5afan 4nto tu 9 no me amasC
! ,rrependo!me, e amo!te, 5afan 5e tu conhecesses o
dom de DeusD
! 'as qual / esse dom de Deus que vem despedaar os
cora)esC
! W am!lo sobretudo e com todo o amor W esperar o
seu reino e guardar a sua lei W, finalmente, 5afan, chorar
pelas faltas duma vida culpada, e arrancar o corao se for
necessrio, para no cometer outra culpa
5afan olhou 5ara com olhos inquietos e disse-
! 4u no creio no teu arrependimento nem nas tuas
fingidas dores Ws ainda demasiado moa para pensares na
penit&ncia e a tua alma demasiado ardente para re9eitar o
amor " que eu creio /, outro soube agradar!te e que queres
abandonar!me Podes faz&!lo, 5ara, porque no te une
comigo vnculo algum ,s leis do teu pas e ainda mais as do
meu, que condenam o teu culto, se oporiam a uma unio
legtima entre n#s 'as antes de seguires as tuas novas
inclina)es,quero que ao menos saibas bem o que fazes, e
qual ser a minha sorte 4scuta!meD 'eu pai e minha me,
depois de terem empregado todos os seus in(teis esforos
para vencerem a minha resoluo de deixar tudo por ti,
desterraram!me da sua venervel presena Diante de mim
repartiram os seus bens entre meus irmos, e deserdaram!me
W se no pronunciaram contra a minha cabea a maldio dos
filhos rebeldes, foi porque Glida, a esposa que eles me
tinham escolhido, se lanou entre mim e eles, e lhes pediu o
meu perdo
FT;
! 5afanD exclamou sara Por mim arrostavas tantos
infort(niosD "hD Deus tenha compaixo de n#sD
! , tua lembrana tinha!me armado contra tudo quanto
se opunha ao nosso amor 4u era forte- tinha um valor que
tocava em fereza, e para vir para aqui, para viver ao teu lado
abandonei amigos, pais e ptria 4 quando chego com o
corao dilacerado por todas as dores, que encontro no meu
regressoC 5ara, 5ara, eu vim com todo o fogo da minha
9uventude, e ardendo em esperanas Hue fizeste da minha
vidaC Hue fizeste do futuro que me brilhava h pouco diante
dos olhosC 3udo pereceu, tudo se submergiu, tudo devoraram
os teus caprichos= e agora abandonas!me ,i de mimD
! "hD No fales assimD 'eu DeusD 'eu DeusD Hue
no possa dar!te eu a minha vida, o meu sangue, para
indenizar!te de tantas penas, de tantos sacrifcios de que sou
causaD Pois eu amo!te mais que a vida, mais que a luz dos
olhos 'as, ahD no posso amar!te mais que a Deus poderoso
e bom que te chama, que nos quer a um e a outro ao seu lado,
e que por alguns instantes de dores sofridas na terra, nos
promete uma eternidade passada no meio de gozos infinitos
dos quais apenas pode dar!nos uma d/bil id/ia a imensidade
das nossas penas 5afan, 5afan, tu foste forte diante dos teus
pais pelo amor da tua pobre 5ara K amado da minha almaD
4u sou forte contra ti pelo amor que te consagro Porque
quero que a tua alma, to forte e to bela, conhea e adore o
Deus de todo o amor, de todo o poder e de toda a beleza
! 5ara, os teus lbios so eloquentes, exclamou 5afan,
olhando!a com certo pasmo de 9(bilo= mas no demasiado
belos para ensinarem outra cousa que o amor 4scuta!me= /
nosso o porvir= algum dia, entre os gelos da velhice, nos
lembraremos dessas palavras= mas ho9e, se / verdade que
ainda me amas, se / verdade que nenhum outro amor veio
FT?
desterrar!me de teu corao, no pensemos seno na
felicidade de viver um para o outro
! Deus nos separa, disse 5ara afastando!se suavemente
! No, no, 5ara, se tu me amas, no te deixarei mais
! "h, meu DeusD exclamou 5ara levantando ao c/u os
olhos rasos de lgrimas No era bastante o ter de espedaar
s# o meu corao / tamb/m foroso dilacerar o seuD
Perdo, meu Deus, ou fazei!me mais forteD
4 5ara, escapando a 5afan, fugiu aflita para ir chorar
longe daquele cu9a presena e cu9as palavras podiam ser
demais poderosas contra as sua novas resolu)es
X%
4ntretanto voltou o criado
! 2esus tomou o caminho da @alil/ia, disse a 5ara ,
sua passagem / assinalada por prodgios que espalham o
pasmo e a admirao entre o povo
! Louvado se9a o 5enhor, e 4le te recompense pela tua
dilig&ncia e zelo, disse 5ara= mas a palidez espalhou!se pelo
seu rosto Ooi com 4liezer ter com 5afan, de quem fugia
desde a sua (ltima entrevista
! 5afan, disse ao 9ovem hebreu, antes de renovar
penosas discuss)es, venho pedir!te uma graa, esperando que
no te negars 0s minhas s(plicas Desamos todos tr&s 0
@alil/ia, at/ encontrarmos o 5alvador
5afan pareceu surpreendido, e no respondeu
! 4le te chamou, 5afan, continuou o 9ovem com valor= e
as suas palavras perderam o seu poder passando pelos lbios
duma infeliz pecadora como eu- a sua voz que vence todos os
cora)es, no deixar de comover e mudar o teu, quando te
soar aos ouvidos Partamos, pois
FTB
5afan parecia indeciso No obstante, disse-
! *onsinto em ir, se me prometes que no me
despedirs do teu lado, quando estivermos de volta
5ara vacilou, e no deu resposta, porque temia o efeito
das suas palavras 4liezer foi o que disse-
! Partamos em todo caso, meus filhos, e na volta se far
conforme a vontade d:,quele que tem na mo todos os
cora)es
Pensou que ao menos, durante a viagem, no podia
fugir dele a bela samaritana, e consentiu na partida
X%G
No dia seguinte, ao despontar da aurora, partiram
ambos acompanhados do velho 4liezer, que dese9ava ouvir
mais uma vez a palavra do 5alvador
'icas guiava o carro, em cada aldeia e em cada
povoado encontravam pessoas reunidas, conversando
pasmadas acerca das maravilhas que presenciaram com seus
pr#prios olhos Diziam-
! <m grande Profeta se levantou entre n#s, e coisas
novas e maravilhosas se preparam para n#s e para nossos
filhos 4speremos a luz do mundo que se eleva em Gsrael
! Huem o acreditarC 4ste homem to santo, cu9os
preceitos so a mesma sabedoria, deteve!se a conversar com
pecadores, e com mulheres cu9a vida no / a mais pura Hue
pensar d:4le
4 5ara baixava o v/u sobre o rosto, chorava, e dizia
consigo- "hD 5e 4le no falasse aos pecadores, se no fizesse
brilhar a sua bondade nas trevas do esprito do culpado, que
FTF
seria de mim ho9eC De mim, pobre pecadora, indigna de
levantar para 4le os olhosD
X%GG
"s via9antes continuavam o caminho- 4liezer e 5ara
dando graas a Deus pelas suas miseric#rdias e 5afan
escutando a todos e cada um em sil&ncio, iam imersos num
abismo de reflex)es cu9a profundidade s# teria podido sondar
o que fez o corao do homem
No terceiro dia chegaram a um pequeno povoado da
@alil/ia que o 5alvador tinha deixado na v/spera= a multido
estava apinhada ainda nas ruas, comovida, e referindo com
um misto de admirao, terror e amor os seus milagres e a
sua divina bondade
3inha curado o filho dum centurio que estava para
morrer 3inha tamb/m curado a sogra de 5imo, um dos seus
discpulos, e outros muitos enfermos ou tolhidos, que se
mostravam ao povo como provas vivas dum poder sobre
humano 4ste se livrara das suas doenas, aquele dos seus
pecados 3odos cantavam com 9(bilo os louvores de Deus-
uns por terem recobrado a sa(de do corpo d/bil, outros por
terem alcanado aquela paz que vem de Deus e com cu9a
doura no h coisa que se9a comparvel
Gnterrogava 5ara quantos encontrava e o que deles
ouvia lhe enchia a alma de imenso respeito
X%GGG
FTI
! 5afan, dizia ela, no sentes uma tremura dentro de teu
serC No sei o que me sucede= mas parece que o mesmo ar se
comove, que a natureza toda se acha enternecida pela
presena do 5enhor Parece!me que 2esus deixou o seu
suavssimo perfume na atmosfera que nos rodeia- o ar ondula
de amor em torno de n#s, e faz!me vibrar no seio todas as
cordas do corao
5afan no respondeu e seu semblante ia!se tornando
mais sombrio ante aquele transporte de 5ara, que fazia
transluzir os mesmos pensamentos 4liezer sentado entre os
dois num espesso feixe de palha, disse ao 9ovem-
! 'eu filho, como no sentiria o que sente 5ara, to
viva sempre nas como)es, quando os seus ossos 9 velhos
estremeceram desde que vi ,quele cu9a vinda transformou a
face do mundoC
5afan esteve calado tenazmente, at/ exclamar-
! 'as um ancio sbio e experiente como tu, como
pode cegar!te a ponto de crer que um homem obscuro e
pobre, sado de pais obscuros e pobres como ele, pode ser o
5alvador prometido de GsraelC No sabes que o 'essias
prometido desde o princpio a nossos pas h de ser um
prncipe forte e poderosoC 4squeceste!oC 4ste domar os
inimigos do seu povo, levanta!lo! de sua ab9eo e mim far
brilhar com nova gl#ria a nao escolhida "nde est, pois, a
coroaC "nde est o cetro de to indomvel conquistadorC
"nde esto seus guerreiros, seus carros, seus corc/is, seus
inumerveis ex/rcitosC Huantas batalhas tem dadoC Hue
inimigos tem vencido para que n#s proclamemos assim a sua
vit#riaC
! %erdade / que o seu poder no / aquele que no nosso
orgulho tnhamos esperado loucamente, disse 4liezer Na
minha cegueira esperava eu, como tu, um homem poderoso e
FTP
forte pela espada, e a sua fora no est na espada W
clemente, doce, prescreve a paz como um belo preceito, e s#
a sua vista espalha e inspira ,s suas mos esto desarmadas,
5afan, convenho nisso- 4le / s# e sem dominao aparente,
e, no obstante, 0 sua voz obedecem os ventos, as
tempestades, a pr#pria morte Hue conquistador exerceu
ainda tal poder, e que pensas que possa ser um homem a
quem os ventos e o mar esto su9eitosC
5afan estremeceu= contudo, replicou com certa
aspereza-
! ,inda que obrasse todas essas maravilhas e muitas
outras mais, que nos importa a n#sC 4 que alegria e que
prazer podem causar!nos essas coisasC
! 7em se v&, meu filho, que a 9uventude e as suas
paix)es ardentes e tumultuosas sufocam em ti graves
pensamentos 'as se contasses como eu noventa invernos, e
tivesses visto, desaparecer uma ap#s outra todas as tuas
afei)es, se conhecesses bem toda a inconstAncia da coisas
da vida, se sobretudo visses aberta diante de ti a sepultura
que o tempo te tivesse cavado lentamente, ah, meu filhoD
meu filhoD como bendirias o que vem dizer!te com uma
autoridade sustentada por inumerveis milagres, que vai
comear para ti uma vida nova al/m do sepulcroD
! ,h, meu paiD falou 5ara- esta vida nova que
aformoseia a tua esperana, enche tamb/m de celestial
claridade a minha Porque, eu, que vivi entregue a todas as
paix)es, eu, que senti despedaado o corao pelas
procelosas tempestades da alma, que lhe direi quando chegue
para mim essa vida que nos oferece na eternidade e me faz
tremerC
! 4spera, disse o ancio, o arrependimento absolve No
nos disse o 5enhor que h mais alegria no c/u pela volta dum
FTS
pecador convertido, que por cem 9ustos que perseveraram na
9ustiaC
'as 5ara sentia o corao cheio de agita)es e sustos
XGX
Depois de alguns dias de caminho, os via9antes, saindo
duma estreita garganta de montanhas, acharam!se ao lado do
lago @enezar/ Detiveram!se, possudos de misteriosa
admirao, 0 vista daqueles lugares, escolhidos na eternidade
para serem inundados pela palavra divina
" dia 9 declinava, e os penhascos pelos quais
acabavam de descer pro9etavam sua sombra pela plancie que
se estende at/ 0 praia ,s ondas tranquilas refletiam o azul
purssimo do c/u, e pareciam deter os seus murm(rios para
no perturbarem a deliciosa paz daqueles lugares
XX
4liezer quis descer 0 plancie e aproximar!se do lago
'as a multido estava agrupada, e o carro no p8de passar
muito adiante
4 a voz, uma voz que bendiz, que penetra no fundo do
corao de cada um, fazia!se ouvir, e as almas estavam
irresistivelmente comovidas como a natureza "hD Huem
ouviu alguma vez elevar!se aquela voz no seu corao e p8de
resistir!lheC 4la doma os mais rebeldes 5afan 9 no falava,
9 nada via= escutava 5im, escutava, e o seu peito respirava
com custo- sentia!se oprimido %endo que o carro, apesar de
FTM
todo o esforo de 'icas, no podia andar mais, saltou dele e
disse ao ancio e a 5ara-
! 4sperai!me aqui= quero chegar at/ 4le, e depois
voltarei
! %ai, 5afanD No voltars " que ouve as palavras de
Deus e recolhe!as no corao, no volta= vai, corre e nunca
retrocedas
! %ai, vai, disse 5ara, e compreendo o teu corao o que
escutarem teus ouvidos
XXG
" carro acomodou!se 0 sombra da montanha, e a voz
chegava at/ os via9antes
! 'eu pai, escutemos, disse 5ara= faamos com que as
suas palavras nutram o nosso esprito como o man que
alimentava em outro tempo os israelitas no deserto
! 4scutemos, disse o ancio, e possam as suas divinas
li)es germinar em n#s at/ 0 vista eterna
XXGG
4 ambos diziam-
! " que fizemos n#s para merecer ter nascido neste
tempo e ouvir estas palavras divinas, n#s, os prevaricadores
da lei de DeusC
4 a voz dizia- .4u vim para os pecadores e no para
aqueles que no tem necessidade de penit&ncia %im para
salvar 9udeus e gentios1
4 cada um dos pensamentos recebia assim sua resposta,
como se o 5alvador no houvesse falado seno com eles 5ua
F+T
alma alimentava!se e engrandecia!se 4 permanecia em muda
admirao e adorao, louvando o 4terno com imenso amor
e infinito reconhecimento 4 os c/us e todas as criaturas,
elevando as vozes que falam quando tudo caia, diziam no
meio de um arroubamento divino- @l#ria a DeusD @l#ria a
Deus na terra, e no mais alto dos c/usD 4ntretanto o sol tinha
desaparecido por trs das montanhas , voz de *risto tinha
cessado= a multido feliz tinha!se dispersado, levando
consigo as palavras de salvao que deviam estender!se por
todo o universo 5afan no aparecia Hue ser feito deleC ,s
horas passam, a noite caminha, e no o traz aos que o
aguardam "h, 5afan, 5afanD
XXGGG
" 9ovem hebreu ficou s# na praia, sentado numa pedra
, lua ilumina!lhe a fronte inquieta , gua do lago, h pouco
to pacfica comea a agitar!se e vem banhar!lhe os p/s com
surdos gemidos , copa das rvores da ribeira dobra!se ao
impulso de um vento borrascoso 'as nem o sussurro do
vento na folhagem, nem o das ondas, nem o surdo mugido
das guas que se encrespam, ao longe, nada lhe chega aos
ouvidos 5ua alma 9 no est nele, toda ela se acha n:,quele
a quem acaba de ouvir ,s palavras que lhe ressoam sempre
no interior, levantam e acalentam por sua vez todas as
tormentas do corao
3inha 9 decorrido metade da noite , tempestade
crescia= 4liezer e 5ara inquietos pela sua longa aus&ncia,
desceram do carro e foram em sua procura, divagando longo
espao sem o encontrarem Oinalmente descobrem!no, com a
cabea escondida entre as mos, e perdido num abismo de
F++
id/ias e de sentimentos tumultuosos, e vrias vezes o
chamaram sem poder conseguir que os ouvisse
Huando os viu 9unto de si, levantou!se, foi para eles, e
lanando!se aos seus p/s, exclamouD
! Perdo, 5araD perdoa!me o ter arrastado a tua
9uventude at/ ao abismo em que ambos camos Perdoa ainda
mais o ter!te resistido miseravelmente, quando vinhas
chamar!me 0s altas verdades que tarde conheci 3ua alma,
mais terna e melhor que a minha, compreendeu mais
depressa os mist/rios de amor e mansido admirveis que
cont&m as doutrinas do 5alvador 7endita se9as tu, 5ara, tu, a
quem 9 no me atrevo a chamar amada, bendita se9as tu por
teres vindo chamar!me e conduzir!me 0 luzD 5empre viver a
tua mem#ria no meu coraoD Porque /s o an9o da minha
salvaoD 3u me guiaste, a pesar meu, para o princpio e fim
de toda a criatura 7endita se9asD ,deus, 5araD <m dia
tornaremos a ver!nos nas moradas eternas= mas ho9e deixo!te
para colocar!me sob a autoridade d:,quele que me chama
4le diz que se deixe tudo para o seguir= continuou o 9ovem, e
eu deixarei tudo e lhe direi- .,qui me tens- pequei contra ti=
9 sou digno de ser chamado teu filho, trata!me por/m, como
o (ltimo de teus servos1
! 4 o 5enhor te abenoar, disse 4liezer, e o seu
corao de Pai se alegrar, .porque seu filho morreu e
ressuscitou, estava perdido e encontrou!se1
5ara chorava com dois prantos- nela se 9untavam a
tristeza e o prazer mas o prazer superava a dor
! 4u no verei meu pai, nem minha me, nem minha
esposaD falou 5afan " 5alvador diz que tudo se h de deixar
para o seguir Deixando!te a ti, deixarei tudo No eras tu
para mim mais que tudoC
F+;
5ara, 9untando as mos, prorrompeu num transporte
involuntrio
! "h, Deus poderosoD %#s tiveste compaixo da minha
fraquezaD @raas sem fim %os se9am dadasD Na %ossa
miseric#rdia ainda poupastes a minha penaD Pois s# a %#s o
cederia euD , %#s s#D ,deus, 5afan, amado da minha alma,
adeus
XXG%
4 dos dois separaram!se apontando para o c/u, (nico
que d foras para deixar tudo na terra para tornar a
encontr!lo nele
4 os ecos das soledades, comovidos, ainda pelo divino
hosana, repetiram mil vezes harmoniosos- @l#ria a DeusD
@l#ria a Deus sobre a terra e no mais alto dos c/usD
CAPTULO IV
PAU 0UIC %OMUI
2esus entretanto continuava sua divina peregrinao
5uas palavras eram a luz que dissipava as trevas , fama dos
seus milagres saa!lhe ao encontro por toda parte %elhos,
mulheres, moos e crianas corriam a encontr!lo sequiosos
de ouvir a sua nova lei, e a infinita miseric#rdia do futuro
'rtir caa sobre os desgraados como o orvalho matutino
sobre os campos
,s praias do mar de 3iberades, as ruas de *afarnaum,
os pitorescos vales de Qabulon, a florida tribo de ,sser, e a
fiel @alil/ia foram as prediletas do seu corao ,s costas da
Oencia, 3iro, 5idon e outras infinitas cidades presenciaram
F+?
com assombro os milagres do Divino 'estre, e ouviram a
santa doutrina do 'essias prometido pelos profetas
! *orramos, diziam os leprosos, pois, se os seus divinos
olhos nos banharem com a luz, ficaremos limpos
! %ede, por ali passa, diziam os paralticos= se
conseguirmos alcan!lo, se tivermos a felicidade de bei9ar o
extremo da sua santa t(nica, os nossos membros tornaro a
adquirir a perdida fora
4 sofrendo mil fadigas, arrastando!se pelo cho,
chegavam aonde estava o pastor das almas e diziam!lhe-
! 2esusD 'estreD 3u /s o 'essias, sara os nossos
corpos
4 a f/ lhes devolvia a sa(de
! ,visai!nos quando estiver perto, diziam os cegos aos
que os acompanhavam, para que caiamos de 9oelhos aos seus
divinos p/sD
4 os cegos lanavam!se aos p/s de 2esus e lhe pediam
com f/ que dissipasse as trevas em que viviam envoltos 4
2esus, sempre compassivo, sempre amigo dos deserdados,
colocava a ponta do dedo sobre as cerradas plpebras, e as
plpebras se abriam, e a luz tornava 0s mortas pupilas
! 5enhor, Oilho de Davi, lhe dizia a cananeia
caminhando sempre atrs do Divino 'estre, tem piedade de
minha filha
4 2esus, querendo experimentar a f/ daquela pecadora
descendente dos id#latras gregos, encerrava!se num piedoso
sil&ncio, e continuava o seu caminho sem despregar os lbios
sem voltar a cabea
'as a cananeia, sempre incansvel, seguia as pisadas
do Nazareno, repetindo-
! 5enhor, Oilho de Davi, verdade / que a minha raa
pertence 0s na)es condenadas= verdade / que os meus
F+B
maiores so id#latras e desprezam o verdadeiro Deus que /
teu Pai= verdade / que a religio que professamos / grosseira
e mpia mas 3u, 5enhor, ters piedade desta pobre 'e,
porque tu /s um manancial inesgotvel de bondade e de
mansido= porque dos teus santssimos lbios brota
eternamente a palavra perdo, porque tu desceste 0 terra,
'/dico divino, para curar os enfermos do esprito= porque os
cezinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus
amos= salva minha filha, 5enhor pois 3u podes
2esus, compadecido de tanta constAncia, de tanta f/,
deteve o passo, e abrangendo com um olhar cheio de doura
aquela humilde pecadora, disse!lhe-
! 'ulher, grande / a tua f/= faa!se como dese9as
4 a piedosa cananeia no duvidou= e ao chegar a casa a
sua amada filha saiu a receb&!la, porque se achava curada da
sua mol/stia
! 5enhor, salva!nos, que perecemosD lhe bradam mais
tarde os seus discpulos, vendo!o docemente adormecido
numa barca, enquanto os ventos desencadeados silvavam e o
mar embravecido ameaava submergir a frgil embarcao
nos abismos
4nto 2esus repreende a sua pouca f/- ergue os radiosos
olhos para o c/u, e manda aos ventos e 0s guas que se
acalmem " sol apareceu no c/u- as guas aplacam!se, e
alegria e a tranquilidade tornam a albergar!se em todos os
cora)es
! Huem / 4ste a quem os ventos e o mar obedecemC
exclamam
'ais tarde, caminha milagrosamente sobre a superfcie
das guas, e estende mo protetora a Pedro, seu discpulo,
repreendendo a sua pouca f/, para o salvar 4ntretanto, tendo
chegado a hora de instruir os seus ap#stolos, uma tarde que
F+F
se achava na esplanada dum monte situado entre *afarnaum
e 7etsaida, sentou!se 2esus numa pedra "s seus doze
discpulos, sempre sedentos de escutar a divina palavra,
sentaram!se tamb/m em redor d:4le
4nto 2esus comeou a falar!lhes deste modo-
.No possuais ouro, nem prata, nem dinheiro nas
vossas faixas No leveis nada para o caminho, nem bordo,
nem alfor9es, nem po, nem tenhais duas t(nicas 4 em
qualquer casa em que entreis, saudai!a dizendo- Pa> huie
domui Ja paz se9a nesta casaN 4 se aquele casa foi digna da
paz evang/lica, a paz vir sobre ela= e se no for digna, a paz
voltar para v#s e fugir dela
4 todo o que no vos receber e no ouvir as vossas
palavras ao sairdes da casa ou da cidade, sacudi o p# de
vossos p/s
No esqueais que eu vos envio como ovelhas ao meio
dos lobos 5ede, pois, prudente como serpentes, e simples
como pombas No temais os que matam o corpo, temei o
que pode lanar a alma no inferno
4 todo o que der de beber a um daqueles pequeninos
to somente um copo de gua, em verdade vos digo que no
perder o galardo1
'ais tarde, 2esus executou o milagre dos pes e dos
peixes Depois apresentou um menino como modelo,
dizendo-
Deixai aos meninos que venham para 'im, porque
deles / o reino dos c/us
Gmediatamente brotaram de seus divinos lbios estes
mandamentos-
No matars, no cometers adult/rio, no mentirs,
no dar falso testemunho $onra teu pai e tua me, e ama o
teu pr#ximo como a ti mesmo1
F+I
4nquanto a sublime doutrina de *risto levantava ecos
dulcssimos no corao dos israelitas, 2esus dizia aos seus
discpulos-
! No toques a trombeta para fazeres emola como
fazem os fariseus em 2erusal/m " que fizer a mo direita
no deve sab&!lo a esquerda= e se um olho vos escandalizar,
tirai!\ "rai com a porta fechada dizendo deste modo-
Pai nosso, que ests nos c/us= santificado se9a o teu
nome
%enha a n#s o teu reino- se9a feita a tua vontade assim
na terra , como no c/u
" po nosso de cada dia d!nos ho9e, senhor
4 perdoa!nos as nossas dvidas, assim como n#s
pecadores aos nossos devedores
4 no deixeis cair em tentao= mas livra!nos do mal
,m/m
4nquanto as suas belas parbolas enchiam de 9(bilo os
desgraados, inundando de f/ as almas dos modernos filiados
na nova lei, em 2erusal/m, na cidade ingrata, reuniam!se os
doutores do 5in/drio, cegos de raiva, para combinarem a
maneira de perder aquele trans?ormador das "oisas
esta-e*e"idas +e*a *ei! e &ue se atre)ia a "hamarDse o
Messias +rometido! o rei dos ;udeus<
4ntre esses fariseus achava!se Nicodemos, que poucos
dias antes tinha procurado 2esus durante a noite, e 2esus o
tinha instrudo " supremo conselho atroava as altas
ab#badas do 5in/drio, pedindo uma pronta vingana contra o
transformador p(blico <m dos fariseus agitava na mo um
pedao de pergaminho dizendo-
! "uvi, ouvi, sbios doutores, o que 2esus diz aos
sacerdotes e fariseus de 2erusal/m
F+P
4, desenrolando o pergaminho, p8s!se a ler com voz
estent#rea-
.6aa de vboras, ai de v#s os fariseus, que limpais o
exterior do prato e do copo, enquanto o vosso interior est
cheio de imundcie e de maldadeD N/sciosD " que fez o que
est fora, no fez tamb/m o que est dentroC
'as ai de v#s, fariseus, que dizimais a erva boa e
traficais com a 9ustia e com a lei de DeusD
,i de v#s, fariseus, que gostais dos primeiros assentos
nas sinagogas e vos comprazeis em ser saudados na praaD
,i de v#s que sois como os sepulcros cobertos de erva
que no o parecem, e os homens anda por cimaD
,i de v#s, doutores da lei, que carregais os vossos
pr#ximos com cargas que no podem levar, e v#s nem sequer
com um de vossos dedos tocais as cargasD
,i de v#s, que edificais sepulcros aos profetas que
vossos pais mataram, dando a entender que consentis nas
obras de vossos paisD Porque eles os mataram e v#s os
enterrais
,i de v#s, doutores da lei, que vos levantastes com a
chave da ci&nciaD , vossa inve9a e o vosso orgulho vos
tornam indignos de entrar aonde proibistes aos outros que
entrassem
Hual de v#s pode a9untar 0 sua estatura um c8vadoC
Hual de v#s pode tornar branco um de seus cabelosC1
,o terminar o rabino a leitura do pergaminho,
levantou!se um murm(rio de indignao na assembl/ia
! 5bio conselho exclamou *aifs com irritada voz 4
havemos de consentir que um embarcador percorra as nossas
tribos chamando!se Oilho de Deus e afrontando!nos
publicamente a toda a horaC
F+S
! No, no, prenda!seD *astigue!seD U exclamaram
vrias vozes
! Diz que ele / a perfeita salvao e que ressuscitar ao
terceiro dia
! W um blasfemoD
! W preciso procurar esse homem
! Huem sabe onde se achaC
! "ntem entrou na cidade "s 9erosolimitanos
presenciaram a audcia desse @alileu que se apelida Oilho de
Deus ,rmado dum ltego expulsou dos degraus do templo
os vendedores, dizendo- .No faais da casa de 'eus Pai
uma caverna de ladr)es1
! 5bios doutores ,t/ quando a9untou ,ns, havemos
de tolerar que um miservel se apelide o 5alvador do
homemC Prendei!o, e terminemos to enfadonha questo "s
seus absurdos humilham a dignidade do nosso tribunal "nde
aprendeu esse homemC Huem foi o seu mestreC *omo se
concebe que os velhos renasamC No o esqueais, doutores-
2esus / um transformador p(blico, um falso profeta que
busca entre a plebe mais ab9eta um nome e uma posio que
no pode dar!lhe o bero 5eno vede a gente que a rodeia-
leprosos, mendigos, miserveis, enfim No o esqueais,
doutores, as 4scrituras o disseram- .Nada bom sair da
@alil/ia, e 2esus / filho de Nazar/
4stas palavras de ,ns que era o inimigo mais terrvel
de *risto, decidiram o conselho, e disp8s!se que alguns
rabinos sassem em busca de 2esus para o prenderem "s
fariseus designados abandonaram o sin/drio, dese9ando
agradar a ,ns 4nto um homem entrado em anos levantou!
se e fez adem de que queria falar ,quele homem pertencia
0 seita dos fariseus- chamava!se Nicodemos 4is aqui o que
disse com voz firme e adem severo-
F+M
! 5bios doutores, para 9ulgar esse $omem / preciso
ouvi!lo= ouvi a 2esus, e as suas palavras vos comovero 4u
procurei!o durante a noite= discuti com 4le por espao de
muitas horas , sua fronte resplandece como a de 'ois/s= a
sua palavra persuade como a de 4lias Ggnoro onde aprendeu
o que sabe= mas eu, que encaneci no estudo da lei, vi!me
obrigado a curvar a cabea e a confessar!me vencido ante
esse Nazareno, filho de um pobre artista 5e no / o 'essias,
ento ser preciso confessar, ainda que vos pese, que / o
sbio mais profundo da terra, o homem maior do universo
4u creio!o 4nviado de 2eov Porque nos seus olhos mora a
bondade de Deus, na sua fronte resplandece a divindade
sublime do 5anto dos 5antos
" conselho escutou com profundo assombro as
palavras de Nicodemos " espanto dos doutores foi grande
vendo a defesa que de 2esus fazia um dos seus, reputado
entre eles por um sbio Nicodemos, vendo que ningu/m lhe
respondia, continuou-
! 5bios rabinos, por ventura a nossa lei 9ulga um
homem sem o ter ouvido, primeiro e sem se informar do que
fezC
4nto ,ns, indignado, cego pela ira, levantou!se do
seu assento, e estendendo o punho fechado para Nicodemos,
disse!lhe com voz atroadora-
! Ws tu tamb/m @alileuC 4squadrinha as 4scrituras e
entende que da @alil/ia nunca se levantou profeta algum
Nicodemos ergueu a fronte, olhando ao mesmo tempo
com dolorosa compaixo a c#lera de ,ns, que acabava de
lhe atirar ao rosto um insulto em vez de uma resposta
*hamar @alileu a um fariseu era o maior agravo que se lhe
podia fazer
Nicodemos, apesar disso, no se comoveu
F;T
! ,ns, lhe disse, acabas de atirar!me ao rosto uma
grosseira ignomnia= mas perdo!te e rogo!te que estudes as
nossas 4scrituras, para que aprendas, se no sabes, que
Naum e 2osias so reconhecidos na nossa lei como profetas e
nasceram na @alil/ia
,ns empalideceu de raiva
Nicodemos acabava de dar!lhe um dura lio
Oelizmente para ,ns as palavras do defensor de 2esus,
que tinham produzido profunda sensao no conselho,
esqueceram!se= porque naquele momento entraram no
sin/drio os fariseus que tinham ido prender *risto
! Prendeste!oC perguntaram alguns doutores
! No, rabinos, responderam os emissrios Nem n#s
nem os soldados que nos acompanhavam nos atrevemos a
tocar num s# fio das suas vestes= ouvimo!lo falar, e nenhum
homem fala como 4le fala ,s suas palavras fazem
estremecer o corao
! 5er o 'essiasC murmuravam alguns em voz baixa
4ntretanto 2esus continuava pregando no templo, e um
dos discpulos disse!lhe-
! 'estre, foge, pois bem se v& que tratam de prender!te
2esus respondia!lhe com a sua dulcssima voz, com a
sua mansido infinita-
! No temais , minha hora no chegou
4 continuou tranquilo a instruir todos quanto se
aproximavam d:4le ansiosos por escutar as suas divinas
palavras
LIVRO %(CIMO EUARTO
O CATELO %E M21%ALO
F;+
CAPTULO I
A P(ROLA %A /ETQNIA
5ir era um pobre 9udeu respeitado em todo o Gsrael pelo
seu ilustre nascimento e pela retido do seu corao 5ua
mulher, 4ucria, era tida entre as filhas de ,brao como o
modelo mais perfeito da esposa
5ir e 4ucria tiveram tr&s filhos- um varo e duas
meninas *hamava!se o primog&nito Lzaro *hamavam!se
suas irms 'arta e 'aria 5ir era rico Possua um castelo,
antigo resid&ncia de seus maiores em @alil/ia, perto do lago
de @enezar/ 4ste castelo, nomeado com o nome do seu
fundador, chamava!se o castelo de 'gdalo
4ucria tinha levado em dote a seu mairod 5ir um horto
riqussimo pela abundAncia das suas palmeiras, situado em
7etAnia Jcasa das AmarasN, na mesma fralda do monte das
"liveiras , felicidade sorria sobre este casal 5em uma dor
que empanasse o sol venturoso da felicidade con9ugal, 5ir e
4ucria viram chegar o seu primog&nito 0 idade viril
Huando nas formosas esta)es vernais os dois esposos se
sentavam 0 sombra das suas palmeiras rodeados de seus
filhos, os habitantes de 7etAnia exclamavam ao passar-
! ,li est a honra de GsraelD Hue famlia to venturosaD
5em embargo, a venervel fronte do velho 5ir
enrugava!se mais de uma vez, e no fundo daquelas rugas
vagueavam sinistros pensamentos 4nto costumava pensar-
! Deus de ,brao e de 2ac#D Dou!te graas porque
permitiste a este pobre velho que ve9a as barbas no rosto do
seu primog&nito 'as rogo!te de todo o corao que cortes o
F;;
fio da minha exist&ncia, antes que minha rebelde filha
manche a honradez da minha fronte
, filha que assim o preocupava nos momentos de
soledade chamava!se 'aria, 9ovem de dezoito anos e
formosa como um crep(sculo do m&s de maio 4ra a mais
9ovem dos tr&s irmos, e aquela a quem o velho 5ir mostrava
mais prefer&ncia apesar do seu carter estouvado e exigente
W verdade que 'aria tocava harpa e salt/rio e cantava como
um 5erafim 3inha um cabelo to formoso, que quando
desatava as tranas loiras deixando!as flutuar sobre os
ombros, o extremo de seus preciosos cabelos tocava!lhe os
delicados p/s
4m Gsrael davam!lhe o nome de +.ro*a da /etPnia "s
mais ricos primog&nitos de 2erusal/m solicitavam sua mo
, esperana de possuir a formosa filha de 5ir conduzia!os
diariamente da *idade 5anta, 0 pitoresca 7etAnia, montados
nos seus soberbos corc/is da 5ria, ricamente a9aezados
! 4scolhe, exclamava seu pai, entre todos esses
pretendentes o que mais te agrade
! 5ou muito moa, dizia ela
'as, os seus sorrisos, os seus olhares, repartiam!se por
igual entre os solcitos mancebos , esperana animava com
seu tbio calor vinte cora)es a um tempo 4m vo Lzaro, o
prudente, e 'arta, a laboriosa, admoestavam sua irm mais
nova "s rogos dos irmos era desatendidos como as s(plicas
dos pais
4stando assim as coisas, a morte bateu as implacveis
asas sobre a morada de 5ir, e a virtuosa 4ucria soltou nos
braos de seus filhos e de seu esposo o (ltimo suspiro Desde
ento o velho 5ir, com a veneranda barba pousada no seio, os
dolorosos olhos fitos no cho, passava horas cismando 4m
vo Lzaro e 'arta procuravam dissipar a eterna melancolia
F;?
do pai <ma tarde, 5ir fez sinal aos filhos para que se
sentassem a seu lado, de pois disse!lhes-
! 'eus filhos- sinto o frio da morte circular!me pelas
veias vou morrer *onheo!os, e dou graas ao 5anto dos
5antos pois a vida era para mim uma carga enfadonha
desde que a minha adorada 4ucria me abandonou ,mai!
vos como bons irmos que sois, e no vos esqueceis de
honrar as cinzas de vossos pais
" velho 5ir parou " cansao da morte afogava!lhe as
palavras no peito " estertor da agonia era cada vez mais
rouco e cansado Lzaro, com um dos criados, conduziu o
velho 5ir para o leito "s filhos rodeavam!no derramando
copiosas lgrimas " velho deteve os olhos em sua filha
'aria
! 'aria, lhe disse com uma fadiga que ia em aumento,
em breve de meus lbios sem calor fugir o (ltimo sopro de
vida "uve este pobre velho que te fala da borda do sepulcro,
e no esqueas as suas palavras , mod/stia, a virtude e a
honradez, quando se entrelaam so a coroa de mais preo
com que se pode ornar!se 0 fronte duma donzela Lzaro, teu
irmo mais velho, ser desde a minha morte teu pai
obedece!lhe s& humilde para com ele, imita tua irmo
'arta= eu serei feliz na eternidade
Depois, o ancio de 7etAnia deixou cair a cabea sobre
os travesseiros= mal estendeu asa descarnadas mos como
para abenoar seus filhos, e expirou
CAPTULO II
O 'AR%IM %O AMOR
F;B
Lzaro e 'arta tinham carter retrado e modesto
@ostavam mais do pacfico retiro do lar, do que do bulioso
estrondo das festas Gsto irritava a estouvada 'aria, que,
sempre se achava pronta para as divers)es e prazeres
Lzaro repreendia sua irm com doura= por/m 'aria,
cerrando os ouvidos aos conselhos, passava a maior parte do
dia 0 9anela ostentando a sua formosa cabea carregada de
perfume e de p/rolas
4stes g&nios to diametralmente opostos caminhavam
para uma luta que no se fez esperar 3odas as noites Lzaro
encontrava, ao recolher!se, noturnos amantes que rondavam
sua casa ,s pend&ncias sucediam!se com frequ&ncia 4m
7etAnia, comeou a murmurar!se da irm de Lzaro
<m dia um homem caiu ferido debaixo da 9anela da
formosa loura No povo levantou!se um grito de indignao
'urmuravam em voz baixa o nome do morto e do matador
" primeiro pertencia a uma famlia de 2erusal/m " segundo
era um centurio romano, favorito do governador Pilatos
Lzaro, com o semblante severo do homem honrado,
chamou sua irm e disse!lhe-
! 'aria, isto no pode continuar assim= no posso
tolerar que se manche o nome sem n#doa de meu pai 3ens
muitos pretendentes= escolhe um esposo
! No vendo a minha liberdade 5e os homens se matam
porque cobiam a minha formosura, no / culpa minha= a
minha honra est limpa como a luz do sol 'as se no te
agrada o meu proceder, amanh podemos separar!nos "
castelo de 'gdalo ser 0 minha resid&ncia, pois me
pertence 3u e 'arta podeis ficar em 7etAnia, 9 que tanto
vos enfada o meu procedimento
! Pensa bem, 'aria, tornou Lzaro= /s moa,
separando!te de n#s, corres para tua perdio
F;F
! 5# se perde quem quer= a vossa mod/stia, o vosso
retraimento, enfastiam!me como vos enfastia o meu g&nio
alegre e comunicativo= / melhor a separao
Nada puderam as s(plicas de Lzaro e os rogos de
'arta 'aria acompanhada de alguns criados e duma velha
que lhe tinha servido de ama, partiu de 7etAnia e foi
estabelecer!se na antiga fortaleza de 'gdalo, situada na
@alil/ia, perto do lago de @enezar/, onde foi conhecida com
o nome de 'aria 'adalena Desde esse momento 'aria
9ulgou!se livre e absoluta senhora da sua vontade "s olhares
severos de seu irmo, os conselhos incessantes da laboriosa
'aria, 9 a no molestavam 5eu corao ardente prop8s!se
fazer do velho castelo de 'gdalo um paraso 4scolheu para
criadas as quatro donzelas mais formosas de *afarnaum
'aria tinha no peito um corao faminto de como)es
5ua alma impressionvel, sua imaginao ardente e vol(vel
como a mariposa, nunca achavam um homem como tinha
sonhado "s seus olhares cheios de amor repartiam
diariamente entre os seus adoradores mentidas esperanas
que alentavam a f/ e o entusiasmo dos pretendentes 3odos
os 9ovens que rendiam culto ao prazer, 0 m(sica, 0 preguia,
tinha francas as portas do castelo de 'gdala Diariamente
se danava 0 sombra das densas ramadas do 9ardim, e a
formosa 'adalena, rodeada das suas donzelas enlouquecia
os adoradores fazendo!lhes ouvir os dons privilegiados da
sua voz e as dulcssimas notas do seu salt/rio
4ra impossvel resistir aos encantos que a natureza
tinha entornado sobre a formosa castelo de 'gdalo 3inha a
ma9estade e beleza da %&nus= seus olhos lmpidos e azuis
como o c/u da Oencia, nacarados, um pouco entreabertos,
pareciam ouvir eternamente um #sculo aos seus amantes No
seu redondo rosto destacava!se uma covinha que parecia
F;I
feita pelo dedo voluptuoso de ,d8nis 5eu corpo tinha a
ma9estade de D/bora e as formas acabadas de 'edeia , arte
grega s# teria dese9ado uma coisa em 'adalena- transformar
a carne em mrmore da Gtlia
3odas as tardes 'adalena descia ao 9ardim ,s suas
donzelas estendiam um riqussimo tapete da P/rsia 9unto
dum corpulento sic8moro, ao redor do qual colocavam
quatro braseiros de ouro, e a mirra, e o incenso perfumavam
com suas tbias emana)es o ambiente 'adalena sentava!se
debaixo daquele verde docel, com cabea languidamente
apoiada nos moles coxins de seda das @lias com fran9as de
ouro, e o harmonioso salt/rio sobre os 9oelhos
4nto uma das suas criadas abria a porta do 9ardim e
comeava a "orte do amor 'adalena repartia por igual os
seus ardentes olhares e os amorosos sorrisos ao ver!se
rodeada dos amigos ntimos, os quais, com as mais delicadas
s(plicas e as frases mais polidas, instalavam com ela para
que lhes fizesse ouvir os encantos da voz= e ento cantava
alguma cano, enlouquecendo o audit#rio com a doura da
sua voz e a ardente expresso do seu semblante
,s flores e os hosanas choviam sobre aquela 9ovem,
rainha da formosura e do amor 'adalena ento resplandecia
de felicidade- parecia a rainha 5ara no meio da sua corte
Huando mostrava achar!se fatigada, mandava 0s
donzelas que danassem ao redor da rvore, e finalmente,
seguida da sua corte, transportava!se a um lugar do 9ardim
dedicado aos 9ogos de pela
"s romanos tinham!se saturado nos costumes gregos,
levando!os depois pelo mundo conquistado pelas suas
legi)es , 9uventude alegre da Palestina, os efeminados
descendentes dos fortes de Gsrael, os que transigiam com o
im+.rio 6m+io, adotaram as divers)es e as modas dos
F;P
romanos, zombando das ameaas que os rabinos ou doutores
da lei lhes faziam das sinagogas
'adalena era, na /poca que vamos descrevendo, mais
que uma modesta filha de Gsrael, uma patrcia romana Nos
seus 9ardins tinha mandado construir o s+hoeristerium dos
romanos, onde 9ogava, antes de tomar o banho, com os
amigos a triagona*, 9ogo de pela que os 9ogadores formavam
em triAngulo, e, atirando a pela uns aos outros perdia o que a
deixava cair , falta cometida por uma das 9ovens, era
satisfeita permitindo que o venturoso moo que tivera a
fortuna de lhe fazer perder, lhe bei9asse a mo
'adalena, seguida da sua corte, depois da m(sica e a
dana, encaminhava!se para o s+hoeristerium ,li, ansiosos
os pretendentes por ganhar o pr&mio estabelecido pela
formosa 'adalena, serviam!se de todos os recursos
imaginveis para lhe fazerem perder o 9ogo e bei9arem aquela
linda e macia mo to cobiada
'adalena, gil como um cora, flexvel como uma
serpente, com os penetrantes olhos fitos no mancebo que se
dispunha a enviar!lhe a pela ou o volante, defendia a
cobiada presa, rindo!se como uma doida quando o acaso a
punha em risco de perder 4nto o cansao acendia as
formosas cores da rosa dos ,lpes aquelas faces, e o seu
semblante, recobrando que era preciso, como da luz do sol
desviar dele os olhos
'adalena empregava a arte de agradar com mestria ^s
vezes ao ver ir para ela o volante, escondia as mos atrs das
costas, deixando!o cair sem oposio alguma 4nto ouvia!se
um grito de inve9a, e o afortunado mancebo chegava!se a
'adalena para receber o galardo
, formosa castel estendia a mo, e, enquanto o feliz
moo imprimia os lbios, costumava dizer!lhe em voz baixa-
F;S
! No ganhaste= mas bei9a!me, que / o mesmo
" sol escondia!se, e, com grande sentimento da
reunio, 'adalena despedia!se dos amigos e, atrs do (ltimo
convidado, fechava!se a porta do 9ardim " castelo de
'gdalo, muito silencioso, rodeado de rvores seculares,
ficava s# quando a noite estendia as suas sombras pelo
"riente 4nto fechavam!se todas as portas, e alguns criados
velavam da alta atalia, porque esta fortaleza distava cerca de
uma hora de *afarnaum 5em embarao, estas sentinelas
tinham uma ordem da senhora, como se ver mais adiante
CAPTULO III
O 8IL0O %O TROVRO
'adalena, ficando s#, encaminhava!se para a sala do
banho, seguida da sua donzela favorita, rindo!se como uma
doida da esperana dos amantes ,o sair do banho
perfumava o cabelo com ess&ncia de rosmaninho, e vestindo!
se com luxo deslumbrante dirigia!se a um pequeno camarim,
onde resplandecia o luxo dos gregos Naquele camarim havia
uma pequena mesa de mrmore com a ceia servida <ma
lAmpada egpcia, em forma de esfinge, alumiava a habitao
*8modos divs de seda azul rodeavam as paredes <m leito
de marfim coberto com um "ono+eo Jcortinado de sedaN
servia de sobrec/u aos moles almofad)es de seda cor de
rom
4ste camarim tinha uma 9anela que dava para o campo
, lua penetrava por ela, ao mesmo tempo que os perfumes
inebriantes que exalavam os braseiros saiam ao seu encontro
'adalena, voluptuosamente reclinada na sua mole cama,
F;M
com os olhos fitos nas molduras do teto, parecia esperar
alguma coisa
,ssim decorreram duas horas- a donzela, im#vel 9unto
da 9anela= 'adalena, recostada no leito Por fim ouviu!se
9unto de 9anela rudo de passos que se detinham= depois no
alto do castelo uma voz, que disse-
! @uardai as flechasD
4stas palavras foram repetidas por tr&s vezes, mas por
uma vez diferente que se ia perdendo no espao 'adalena
sentou!se, e um sorriso de indefinvel prazer lhe assomou aos
formosos lbios , donzela, caminhando um passo para a sua
senhora, parecia esperar 'adalena, fez!lhe um sinal com a
mo e foi sentar!se no div, perto da 9anela
Pouco depois ouvia!se no meio do campo o som
melodioso duma lira que tocava u:a m(sica ,quelas notas,
que, no meio do sil&ncio da noite, subiam 0 9anela de
'adalena impregnadas com o perfume religioso dos campos,
tinham uma melancolia que enchia de doce harmonia o
aposento, levantando um eco amoroso no fundo da alma
'adalena fechou os formosos olhos como se quisesse
recolher melhor aquelas harmoniosas notas, e murmurou em
voz baixa estas palavras-
! ,hD 7oanergesD 3u tocas lira como 3erpandro e
4np/docles= mas eu tenho o fogo de *le#patra nos olhos e a
seduo de 7etsab/ nos lbios
,penas 'adalena disse estas palavras, a lira cessou
por um momento, e uma voz fresca e varonil cantou lindas
estrofes
,penas se extinguiu o (ltimo acento do noturno canto
no espao 'adalena fez sinal 0 donzela e, esta tirando dum
pequeno armrio, feito no pedestal duma esttua de ,donis,
uma escada de seda, prendeu!a fortemente 0 9anela, e deixou!
F?T
a cair depois, para a parte de fora Depois olhou para sua
ama
! %ai!te, lhe disse 'adalena
, donzela obedeceu <m momento depois entrava um
homem pela 9anela 3eria vinte anos 4ra formoso, ainda que
de fei)es um pouco efeminadas
%estia uma t(nica curta at/ o 9oelho duma fazenda de l
escura, atada na cinta por um cinturo de couro, de que
pendiam dois ob9etos- ao lado esquerdo um largo punhal de
Damasco= e ao lado direito uma flauta pequena, de metal, de
tr&s buracos Huando saltou pela 9anela, tinha a cabea
descoberta, e na mo um barrete de pele de raposa que
terminava em ponta Pelas pernas enrolavam!se!lhe umas
correias de pele de cabrito, e seus p/s calavam umas
sandlias bastante toscas Pendente das espaldas, como se
fosse al9ava dum caador ndio, levava uma pequena lira
perfeitamente colocada dentro duma saca de tela
4ste homem, a quem chamaremos desde agora
7oanerges Jfilho do 3rovoN, era um desses cantores
ambulantes que se alugam para os banquetes e enterros, cu9as
melodias tocadas tanto serviam para o prazer como para a
dor
Huando 7oanerges saltou pela 9anela, depois de
recolher a escada que lhe tinha servido para subir at/ ao
aposento, foi a9oelhar!se aos p/s de 'adalena e esta,
estendendo!lhe a mo, deixou que o noturno cantor
imprimisse nela um bei9o
! 7oas noites, meu querido 7oanerges, boas noites, meu
querido mestre, lhe disse a senhora de 'gdalo com
dulcssimo acento No era necessrio que houvesse cantado
a (ltima estrofe ameaando!me com a morte para que eu te
abrisse a minha 9anela " Deus de 2ac# no permitia que eu
F?+
se9a nunca a causa da morte do melhor tocador de lira das
doze tribos, do meu bom mestre, a quem o divino ,polo
colocaria sem vacilar, se o ouvisse, o sistro com a cigarra na
mo e o rouxinol na cabea
7oanerges que se tinha sentado aos p/s de 'adalena,
inclinou a cabea em sinal de agradecimento pelas lison9eiras
frases que lhe tributava, e bei9ou pela segunda vez a mo da
castel, que ainda conservava entre as suas
! ,gradeo!te, formosa senhora minha, disse o cantor
com voz doce com as notas da sua lira= e peo!te perdo por
ter demorado esta noite a minha chegada
! "hD 4sta noite fizeste vibrar a corda da tua lira como
nunca
! 2ulguei encontrar!te aborrecida
! 4 talvez por isso entoaste o sombrio canto do ?i*ho do
Tro)o, que tanta celebridade adquiriu na @alil/ia
! 4sse canto / a minha hist#ria- o que se sente exprime
com dobrada paixo
! %#s, os poetas, sabeis regular perfeitamente as
palavras para que produzam efeito
! , ceia espera!nos, disse 'adalena, levantando!se
7oanerges levantou!se tamb/m
4nto o cantor e a castel foram sentar!se nos ricos
divs que rodeavam a mesa ao uso hebraico , ceia era
frugal *onsistia em dois assados, doces de conservas e
frutas secas Durante a ceia apenas proferiram uma ou outra
palavra 7oanerges comeu pouco, ocupava!se mais em servir
a senhora de 'gdalo
4sta mulher, que tinha alcanado dos filhos de Gsrael o
epteto de Pecadora= aquela #rf desenvolta, que rendia culto
0 formosura e que desprezava os clamores do vulgo, nunca
tinha concedido aos seus adoradores outra coisa que olhares
F?;
de amor e promessas ilus#rias que 9amais se realizavam
*omprazia!se em atormentar os amantes 3inha o corpo
virgem e a alma corrompida
5eu corao, sedento de como)es, sentia um vcuo
que o amor dos homens no podia encher ,quela alma
ardente, insacivel, estava destinada pelo 5upremo 5er que
rege os destinos da criatura a amar mais tarde, com o
entusiasmo e a f/ dos mrtires, o $omem!Deus, que descia 0
terra para salvar com o seu sangue o g&nero humano
! 7oanerges, disse 'adalena, a estrela matutina no
tardar muito a aparecer no "riente W tarde- o sono vence!
me= cumpre com o patuado- recebe a recompensa prometida
e vai!te
4nto 'adalena fechou os olhos e disp8s!se a dormir
7oanerges esprendeu a flauta de metal que pendia do cinto, e
comeou a tocar uma melodia doce e sentida como o arrulho
da rola namorada 4nquanto o noturno cantor tocava, a
donzela tinha os olhos fitos no rosto de 'adalena Por fim
levantou a mo, indicando ao m(sico que cessasse, e disse!
lhe em voz mui baixa-
! Dorme
4nto 7oanerges chegou!se ao leito, levantou com
cuidado o extremo do flutuante cortinado, e depositou um
manso #sculo na fronte nacarada da formosa senhora de
'gdalo "s lbios do cantor enamorado tinham passado
pela fronte de 'adalena ligeiramente, como a asa de uma
andorinha sobre a tensa superfcie dum lago
! 3oma e vai!te, tornou a donzela, dando uma moeda de
ouro ao cantor
7oanerges re9eitou aquela esmola com alvio adem,
dizendo-
F??
! @uarda para ti esse ouro, como sempre= mas no digas
0 tua senhora que eu o tenho recusado desde o primeiro dia
7oanerges encaminhou!se para a 9anela e saltou por ela
, criada recolheu a escada e tornou a met&!la na pequena
coluna que servia de base 0 esttua de ,donis Depois foi
sentar!se sobre uns coxins do leito da sua senhora
CAPTULO IV
/ARRA/2
Naquela mesma noite e 0 mesma hora em que
7oanerges pulsava a sua lira ao p/ da 9anela de 'adalena,
num estreito barranco das vizinhanas de *afarnaum achava!
se um homem de aspecto feroz e miservel catadura
fortemente atado com correias ao tronco duma palmeira
7lasf&mias horrveis, maldi)es mpias, ameaas espantosas
cima da imunda boca daquele homem, que fazia esforos
inauditos para quebrar as ligaduras que o prendiam 0 rvore
"ito homens de rosto crestado pelo sol, barbas hirsutas,
cercavam a palmeira acompanhando com alegres
gargalhadas os desaforados gritos do miservel preso
, 9ulgar pelos seus vesturios e por algumas azagias e
flechas espalhadas pelo cho, e pelas compridas e largas
facas que lhes pendiam dos cintos, aqueles homens eram um
desses bandos de malfeitores que infestavam as doze tribos
na /poca que nos ocupa
! *anta, 7arrabs, cantaD 3ua voz / alguma coisa
parecida com a do onocr#talo quando desenterra os
cadveres, disse um daqueles bandidos, dirigindo!se ao
homem que estava amarrado 0 rvore
F?B
! *ovardesD *ovardesD *lamou 7arrabs, deitando pela
boca espuma de raiva 5oltai!me e vereis, tornou 7arrabs
! "hD 5e te soltassemos deitarias a correr, para escapar
0 9usta vingana dos nosso valentes capites Dimas e
@esta=mas no tenhas cuidado, no te soltaremos ainda que
nos lances ao rosto a tua imunda saliva
! No me soltais porque me tendes medo
"s bandidos soltaram em coro uma gargalhada
! 5# as mulheres e crianas, disse uma voz varonil
podem temer!te, miservel assassino
"s bandidos voltaram!se precipitadamente, exclamando
com respeito-
! " *apitoD
! Hue fez esseC perguntou o homem que tinha
aparecido to improvisadamente entre os bandidos,
indicando 7arrabs
" que fez esta pergunta era um homem de cinquenta
anos, de barba branca e rosto venervel
*hamava!se Dimas, e em nada se teria conhecido 0
infamante profisso que exercia
! 2 sabes, capito, disse um dos bandidos indicando
7arrabs, que este descobriu a nossa guarida aos soldados de
Pilatos, o governador GnfameD Por um punhado de ouro faz!
nos perder a nossa querida fortaleza de $ebalD 3u, capito,
depois da terrvel refrega daquela noite em que o nosso bom
companheiro <ries perdeu a vida e tu recebeste uma cutilada
no ombro, recomendaste!nos que apanhssemos este traidor=
@estas recomendou!nos o mesmo= e ho9e caiu!nos felizmente
nas mos- surpreendemo!lo numa caverna da vizinhana do
lago= acabava de assassinar vilmente um pobre velho que se
recusava a entregar!lhe umas quarenta moedas de prata, fruto
da sua colheita Huando n#s entramos na caverna, o pobre
F?F
velho revolvia!se num lado de sangue= como se nada
houvesse feito, sentado numa pedra, se entretinha em contar
o dinheiro sem fazer caso dos lamentos do velho, o qual nos
disse antes de morrer que 7arrabs o tinha ferido N#s ento
apoderamo!nos dele, e como nos tinha dado ponto de reunio
neste barranco, apresentamos para que faas o que melhor te
aprouver deste miservel
Dimas, que tinha escutado a narrao do bandido com
os braos cruzados sobre o peito e os olhos fitos em
7arrabs, que tremia de medo, disse secamente
! ,s vboras esmagam!se para que no envenenem a
carne s com suas mordeduras Degolai!\
" bandido que tinha falado tirou o largo punhal da
bainha e disse aproximando!se da rvore-
! %ou fazer a honra a esse lobo de o degolar- sinto!o
pelo meu punhal, que nunca se ver, ainda que o afie, limpo
de tal n#doa
! Dimas, /s um covarde, exclamou 7arrabs= se me
achasse s# contigo nos montes de 2ud, me deixarias a
passagem franca e tirarias o turbante para me saudar
4 dizendo isso cuspiu no rosto do capito " olhar
bondoso de Dimas despediu um raio de luz sinistra 5eu rosto
tingiu!se de cor de sangue, e, tirando rapidamente o punhal
da bainha, exclamou com voz de trovo-
! 5oltai esse homemD 5oltai!oD
4, como visse que ningu/m lhe obedecia, correu para
7arrabs, e cortando as ligaduras que o tinham preso 0
rvore, tornou a exclamar- ! 2 /s livreD Livre como eu dai
um punhal Defende!te, porque vou matar!te
Dimas levantou a fronte com altivez, e com o olhar de
leo irritado esperou o adversrio 7arrabs, ainda que solto,
F?I
no se mexia do lugar "s olhos e o gesto de Dimas,
aterravam!no
! Defende!te, miservel, repetiu o capito= ! e para
excitar o valor do seu adversrio deu!lhe uma terrvel
bofetada, que ressoou no sil&ncio da noite
7arrabs caiu ao cho como se houvesse recebido um
golpe de maa na cabea Pela asquerosa boca saa!lhe uma
torrente de sangue
! "hD exclamou cobrindo a cara com as mos= de que te
serve correr sempre atrs desse falso profeta que se levantou
em Gsrael com o nome de 2esusC *omo te mostras to
admirador da sua nova leiC Porque aprendes as suas
parbolas de cor, e os seus mandamentos, se no os
praticaisC .Perdoai aos vosso inimigos= dizia uma tarde em
que o ouvi nas vizinhanas de Naim= .socorrei os desvalidos,
protegei os fracos . Gsto dizia, e tu o escutavas im#vel
como a torre de Davi= e contudo, humilhas!me porque tens
mais fora do que eu, porque ests entre os teus, que te
vingaro se te matar= covarde, covarde, covardeD
4 7arrabs batia com a cabea no cho Dimas
embainhou o punhal 5eu semblante serenou subitamente ,s
palavras daquele homem ressoaram!lhe no fundo do corao
"s olhos tornaram a adquirir o doce e compassivo olhar do
costume, e com uma voz suave como a dum mrtir que olha
para a morte sem a temer, e a chama, disse lanando uma
bolsa cheia de moedas aos p/s de 7arrabs-
! Ws livre, vai!te- perdo!te a vida e o insulto
! LivreD exclamou 7arrabs apanhando as moedas e
levantando!se de um salto, ligeiro como um gato mont&s
! 5im, livre
! 4 posso retirar!meC
F?P
! Para onde quiseres Gnvocaste o nome do 'essias, do
5alvador de Gsrael, do 'estre divino- eu, em seu nome,
perdo!te %ai!teD
7arrabs olhou em redor com assombro e tartamudeou
com medroso acento-
! Hueres escarnecer de mimC Dizes!me vai!te, e quando
me for, me arro9ars a azagaia pelas costas
! %ai!te, miservel- eu desprezo!te= as minhas armas
no se mancharo com o teu impuro sangue
"s bandidos que cercavam Dimas exalaram um
murm(rio de desaprovao
7arrabs apoderou!se da bolsa que Dimas lhe tinha
lanado aos p/s, e deitou a correr ,lguns bandidos fizeram
meno de o seguir= por/m, Dimas gritou!lhes com voz
imperiosa-
! Ningu/m se movaD Deixai!oD
4ntretanto 7arrabs, com rapidez incrvel, tinha trepado
pela empinada ladeira do barranco Depois desapareceu
Dimas reuniu em torno de si os seus bandidos
! "uvi!me, lhes disse- eu vou separar!me de v#s por
alguns dias @estas, meu amigo, dirigir entretanto as vossas
empresas 4spera!vos no asilo da gua nos montes de 2ud-
bem sabeis, no extremo da via 5angrenta Gde, pois reunir!
vos com ele
4 o prudente capito, sem esperar resposta, pegou na
azagaia que tinha posto no cho pouco antes, e encaminhou!
se para o lago da @alil/ia, que se achava ao norte do
barranco
CAPTULO V
O PRIMEIRO CANTO %O CINE %A 1ALIL(IA
F?S
"s nossos leitores lembrar!se!o do captulo que com a
epgrafe de <m "a)a*eiro &ue rou-a em des+o)oado,
deixamos consignado num dos livros precedentes Dimas ao
apresentar 4no/ aos seus companheiros, dissera!lhes-
" c/lebre bandido dos montes de 5amaria cumprira a
palavra 0 escrava favorita do desgraado prncipe ,ntpatro
Desde ento 4no/ foi a irm de Dimas, e os seus
companheiros respeitaram!na
,lguns meses depois, numa noite de tempestade, em
que o trovo e o relAmpago cruzavam ameaadores pelos
ares, 4no/, no velho e desmantelado castelo de $ebal, deu 0
luz um menino, formoso como o primeiro sorriso da aurora
, egpcia confiou ao generoso bandido que aquele menino
era filho do prncipe ,ntpatro, e Dimas 9urou ser seu
protetor enquanto vivesse "s bandidos puseram ao tenro
pimpolho o nome de 7oanerges, porque nascera numa noite
de trov)es e relAmpagos
5eis anos permaneceu 4no/ na fortaleza Dimas
respeitou sempre aquele sensitiva enamorada da mem#ria
dum morto "s bandoleiros respeitavam a dor de 4no/, e
amavam com toda a fora de seus rudes cora)es o menino
7oanerges
4no/ tocava citara, lira e salt/rio, de modo admirvel
5ua voz era clara como a estrela que precede o dia, doce
como o favo das abelhas, apaixonada como o arrulho da rola
"s bandidos chegavam a ponto de chorar ouvindo os seus
cantares 'as 4no/, a quem chamavam pelo respeito que ises
inspirava, 5ara, era boa e condescendente com aqueles
desgraados 4la preparava sua frugal comida e amassava
diariamente as suas tortas de farinha *urava suas feridas e
F?M
passava a noite de vela 0 cabeceira dos seus leitos de folhas
secas <m dia Dimas disse!lhes-
! 4no/, no podes permanecer mais conosco sem
correres grave risco No dia em que os soldados do tirano de
2erusal/m descubram a nossa guarida, sers crucificada 4
sendo inocente, como /s, dos crimes que cometemos, no
quero expor!te
4no/ encolheu os ombros mostrando que tudo lhe era
indiferente Dimas lembrou!lhe ento que tinha um filho, e
4no/, abraando 7oanerges, respondeu-
! 3ens razo, meu irmo= para onde hei de irC
! 4sta noite partiremos= comprei!te uma modesta
casinha perto de *afarnaum, na margem do lago da @alil/ia
,quele pas / tranquilo e ali no correis perigo nem tu nem
teu filho 4u irei ver!vos sempre que as minhas ocupa)es o
permitam 7em sabes que nunca hei de abandonar!te
4no/ bei9ou a mo daquele homem generoso, que o
acaso lhe tinha deparado e alguns dias depois achava!se
estabelecida na sua nova habitao de *afarnaum, 4no/, na
solido do seu retiro, ocupou!se s# na educao de seu
amado filho , natureza tinha dotado 7oanerges de um
corao de fogo e de uma intelig&ncia clara 5ua me p8s um
dia a lira na mo do menino e ele chegou a ser um grande
m(sico
Deus tinha!lhe dado a inspirao dos poetas
7oanerges, aos quatorze anos, tocava lira e cantava com a
mesma doura que uma virgem do templo de 5ion <ma
noite 4no/ chorava com os olhos fitos nos ti)es do lar 4ra
o aniversrio natalcio de 7oanerges
,quela pobre enamorada talvez pensasse no seu infeliz
amante
FBT
7oanerges tinha a lira na mo e p8s!se a tocar uma
melodia to triste como o corao de sua me 4no/ levantou
a cabea No conhecia aquele canto- mas no disse nada
5em saber como, 7oanerges p8s!se a cantar-
Eternamente nos teus o*hos o +ranto )e;o! senhora<
%i>eDme! me &uerida! +or&ue "horaisG
e a "ausa das tuas m9goas . o ?i*ho &ue te
Ento! re"e-e a minha )ida! e no "hores mais#
! Huem te ensinou essa canoC perguntou 4no/
enternecida
! ,s tuas lgrimas
! Ws ento poetaC tornou a perguntar com certo orgulho
aquela me
! Ggnoro- senti o que cantei
! "h, Deus te abenoeD 4 4no/ abraou ternamente o
filho cobrindo!lhe o rosto de bei9os e lgrimas
7oanerges, como os rouxin#is da espessura, como as
cotovias no espao, cantava sem saber a razo disso, porque,
como as aves, recebia dos dons de sua inspirao do c/u
Dimas, pela sua parte, ensinou aquele menino, a quem amava
como filho
, fama levou o nome do Oilho do 3rovo pelas doze
tribos, 7oanerges comeou a fazer excurs)es com a lira 0s
costas pelas cercanias de *afarnaum , tribo de Qabulon foi
o seu primeiro teatro "s que o ouviam exclamavam com
espanto-
! *anta como um cisne
"s israelitas, propensos a p8r apelidos, chamaram!lhe
em breve o Cisne da 1a*i*.ia 7oanerges cantava sempre
! , minha amada morreu lhe dizia um
FB+
4 7oanerges cantava 0 dor
! 'inha esposa deu!me um primog&nito, lhe dizia
outro
4 o cisne da @alil/ia, cantava ao prazer
<ma noite muito escura, 7oanerges ia por um tortuoso
caminho em direo a *afarnaum De repente um homem,
como se nascesse da terra, levantou!se ante ele ,quele
homem p8s!lhe a afiada ponta dum punhal ao peito e gritou!
lhe em voz de mando-
! ,ltoD
! 4hD Devagar, bom homem, respondeu 7oanerges sem
se perturbar= tira!me a tua arma do peito Hue lucrais com
matar o Oilho do 3rovo, o *isne da @alil/iaC
! 7oanergesD exclamou o homem retirando o punhal
! *onheces!meC
! ,lgumas vezes te acalentei sobre os 9oelhos
! ,hD 4nto pertences aos bravos que capitaneia o
generoso bandido da 5amaria 5abes onde se achaC
! 5egue!me
" bandido conduziu 7oanerges a uma gruta ,o redor
duma fogueira achavam!se dez ou doze bandidos 3olos
voltaram a cabea, e ao reconhecerem o 9ovem trovador
soltaram um grito de alegria Dimas saiu ao seu encontro e
deu!lhe um abrao
! Hue / isso 7oanergesC 4st por desgraa tua me
enfermaC 5ucedeu alguma coisa em tua casaC
! Oelizmente acha!se boa
! 4ntoC tornou Dimas como estranhando encontr!lo
naquele lugar 0quelas horas
! %enho das bodas que se celebraram esta manh numa
aldeia das margens do lago, e a noite surprendeu no caminho
FB;
! 4nto ficars conosco= daqui a tua casa h tr&s horas,
e a noite est escura
7oanerges ficou com os bandidos Depois da ceia
pediram!lhe que lhes fizesse ouvir a doura da sua voz e a
harmoniosa da sua lira " trovador perguntou!lhe que
queriam que cantasse <m dos bandidos disse-
! *anta!nos alguma coisa do nosso ofcio, que
possamos aprender e cantar nos momentos de perigo= uma
cano que reanime o nosso valor, com as que Davi dirigia
aos seus guerreiros
7oanerges meditou um momento Depois improvisou!
lhes um canto guerreiro que se tornou popular em Gsrael
7oanerges era um poeta que percorria a terra conquistada por
Davi com a lira na mo ,ssim chegou 0 idade das paix)es
<m dia apresentou!se um homem 0 porta da sua cabana
! Ws tu o cisne da @alil/iaC lhe disse
! ,ssim costumam chamar!me os aduladores,
respondeu o poeta
! Pois uma senhora dese9a ouvir!te ho9e d um
banquete aos seus amigos= queres virC Pagar!se!te! bem W
a estrela de 'gdalo, a p/rola de 7etAnia
! ,hD exclamou o poeta= dizem que / muito formosa
5ua fronte tem a brancura do lrio, seus olhos o azul do
c/u, seus cabelos o brilho do ouro= seus lbios so dois
terebintos unidos pela mo duma deusa, respondeu o
emissrio
! Ws poetaC lhe perguntou 7oanerges
! No, sou pintor= retratei esta p/rola de 7etAnia,
porque precisava dum modelo para $elena e ela deu!me o
encargo de procurar
! 4nto espera que d& um adeus 0 minha me e
partiremos
FB?
7oanerges foi ao castelo de 'gdalo Durante o
banquete, amenizou o prazer da mesa com a doce harmonia
da lira e o terno encanto da sua voz 3odos os seus versos
eram dirigidos 0 senhora de 'gdalo " m(sico!poeta
embevecido ante a deslumbrante formosura de 'adalena
,o terminar o festim, 'adalena fez com que 7oanerges
a acompanhasse at/ o gabinete que os nossos leitores 9
conhecem, e disse!lhe-
! Na verdade /s um cisne= nunca ouvi nada que se te
avanta9e 4stou satisfeita, e dou!te os agradecimentos pelos
versos que me dedicaste- pede o que quiseres e concedo!to
7oanerges respondeu com toda a veem&ncia do seu
corao impressionvel-
! Huero o teu amorD
! Pedes muito, mancebo, respondeu, sorrindo!se,
'adalena, que no desgostara da altivez do m(sico
! Hue / preciso para o alcanarC
! 'erec&!lo
! Gndica!me o modo, e por difcil que se9a eu o
conseguirei Huando um homem como eu dese9a alguma
coisa, no lhe importa 9ogar a vida para ganh!la
'adalena sentiu por aquele 9ovem altivo, alguma coisa
desconhecida at/ ento ao seu corao, e disse!lhe-
! "uve, pois, o que quero 3odas as noites, quando os
galos anunciem nos seus cantos a meia noite, achars uma
escada pendurada 0 minha 9anela- subirs por ela
! ,hD exclamou o poeta, crendo que 'adalena ia
recompensar o seu amor
! 4spera, tornou 'adalena ,inda no terminei *om as
vibra)es da tua lira recrears os meus ouvidos durante a
ceia Depois acalentars o meu sono
! 4 que recompensa receberei pelo prazer de ver!teC
FBB
! Huando dormir permito!te que me deposites um
#sculo na fronte, e depois a minha criada te entregar uma
moeda
! 6e9eito a moeda= admito o #sculo, respondeu
precipitadamente o cantor
! Huero que admitas ambas as coisas Huero
experimentar se me amas, se tens suficiente valor para fazer
todas as noites o mesmo
! Gsso / um tormento
! 5# por esse preo poderei talvez amar!te amanh
,ceitasC
! Poderei falar!te do meu amorC
! 5# quando improvises, ao som da tua lira
! ,ceito
! 4nto vai!te, e at/ amanh
7oanerges havia tr&s meses, que, sem faltar uma noite,
ia ao castelo de 'gdalo 3oda as noites depositava um
respeitoso #sculo na fronte de 'adalena 4sperava a
recompensa da sua constante paixo= por/m 'adalena no
amava ningu/m
4no/, com essa delicada sagacidade das mes,
conheceu que seu filho no era feliz ,o ver o seu desalento
quis reanim!lo, e ento lhe contou a hist#ria de seu pai
7oanerges soube que lhe corria pelas veias sangue real
4xplicados estes antecedentes, tornemos a encontrar
Dimas " bandido, quando depois de conceder a liberdade ao
miservel 7arrabs, se encaminhou para o povo de
*afarnaum, resid&ncia de 4no/, a egpcia Gsto sucedeu na
mesma noite em que 7oanerges cantou a 'adalena a cano
da 8ormosa Pe"adora
CAPTULO VI
FBF
LUH NA ALMA<
Dimas parou enfim diante duma casa de pobre
apar&ncia situada na margem do Lago de @enezar/, e a mui
pequena distAncia da cidade de *afarnaum, e deu com o coto
da azagaia tr&s pancadas compassadas na frgil madeira da
porta
! Huem bate a estas horasC disse uma voz de mulher no
interior da casa
! " que dese9a entrar, respondeu Dimas de fora
Gsto sem d(vida era uma senha convencionada, pois
imediatamente se abriu a porta Dimas entrou, e sentando!se
num banco disse
! 7oas noites, 4no/
! 7em!vindo se9as, Dimas
! 4 teu filhoC perguntou o bandido
! 'eu filho no volta 0 casa sem que no c/u assome a
estrela matutina
! "nde passa as noitesC
! Ggnoro
! ,ma talvezC
! Gsso presumo
! Devia procurar averigu!lo
! " amor verdadeiro / pouco comunicativo= re9eita a
liberdade e escolhe um crcere onde no penetram os raios
do sol, a alma
! " que ele ama mais no mundo / sua me
! " filho tem um amor imenso que mata o amor da
me= / o que sente pela mulher que o fascina " 'estre
Divino, o 'essias que percorre a terra de Gsrael, disse- .Pela
esposa deixars teus pais
FBI
! W verdade, murmurou Dimas ficando dolorosamente
com os olhos fitos no cho, como se aquela citao que
acabava de pronunciar a egpcia lhe houvesse recordado
algum pensamento doloroso
$ouve um momento de sil&ncio 4no/ pensava em seu
filho= Dimas, em 2esus Por fim a me de 7oanerges disse
com a sua voz doce e apaixonada-
! Hue tens irmoC " teu olhar / triste como o gemido
dum moribundo
! 3enho, 4no/ que ouvi pela terceira vez a palavra do
'estre de @alil/ia
! 4stiveste em 7etAniaC
! De l venho
! 4st ali 2esusC
! %i!o 0 porta da cada de Lzaro, sentado 0 sombra
duma palmeira 'ultido de gente o rodeava= todos os
desgraados das vizinhanas que buscavam a consolao
dos seus males no poder divino da palavra desse $omem
extraordinrio, que traz escrita na fronte a ma9estade de
Deus, que tem a luz dos c/us nos olhos e a sabedoria dos
profetas nos lbios ,o redor de si tinha crianas- umas
sentadas sobre os 9oelhos, outras ao seu lado= sua mo
acariciava como um pai amoroso aquelas cabecinhas 4stava
falando <m sil&ncio sepulcral reinava em redor dele Nem o
z/firo se agitava entre os ramos altivos da palmeira, nem as
aves cantavam Parecia que a natureza havia calado os seus
mil rudos para o ouvir "s meninos olhavam!no sem
compreender Detive os passos para o escutar tamb/m 2esus
fitou os formosos olhos na minha pessoa, e enviou!me um
sorriso cheio de bondade 5enti aquele sorriso penetrar!me
no fundo da alma, e uma voz terna, amorosa, que me dizia-
.Dimas, afasta!te do caminho que segues= no entesoures
FBP
para ti na terra onde tudo consome a traa= entesoura no c/u,
onde nem os homens roubam, nem a traa consome1 <m
estremecimento estranho me agitou o corpo= a luz dos olhos
escureceu!me= senti um rudo espantoso nas fontes e baixei
os olhos envergonhado
Dimas deteve!se Pela fronte corriam!lhe grossas gotas
de suor= o corpo tremia, e a voz ia!se apagando pouco a
pouco
! 4sse homem / Deus, disse pausadamente 4no/
! 5im, minha irm, Deus, que baixou 0 terra dos
homens para se salvar " que escuta uma s# vez a santa
bondade da sua doutrina, no duvida= a f/ brota no seu
corao 2esus leu no meu , pois pela segunda vez me
ressoou a sua voz nos ouvidos, dizendo- .Dimas, ve9o a tua
f/= a tua morte ser gloriosa= exalars ao meu lado o (ltimo
suspiro, e comigo entrars na manso de meu Pai1
! Hue queria dizer!te com issoC perguntou 4no/
! Ggnoro 'as h mais de trinta anos, eu era muito
moo, quando uma noite dei hospitalidade no meu castelo a
uns pobres via9antes que levavam um 'enino de tr&s meses-
aquele 'enino chamava!se 2esus, e apesar da tenra idade, ao
despedir!me d:4le ao dar!lhe um bei9o na fronte, que
resplandecia como a porta do templo de 5ion, disse!me ao
ouvido- %imas! tu morrer9s "omigo< 2 ouviste, 4no/, falar
um menino de tr&s meses
! "hD NuncaD
! Pois aquele menino falou, e / ho9e um homem que se
chama 4manuel JDeus, conoscoN
! Dimas, desde que 2esus percorre as tribos, os cegos
v&m,os coxos andam, os mortos ressuscitam, murmurou com
voz prof/tica 4no/
FBS
! 5im, Deus est entre n#s 4u sinto uma voz secreta
que grita no fundo do meu ser .Det/m o passo, afasta os
olhos da terra, e olha para o c/u 3enho remorsos, 4no/ ,
vida que por espao de trinta e quatro anos levei, pesa!me
sobre o corao, e decidi desviar!me do caminho do crime-
abdiquei todo o sinistro poder que se achava nas minhas
mo, nas de @estas
! ,hD ,gradecida, meu irmo, no sabes o prazer que
me causam as tuas palavras= temia ver!te nas mos dos
soldados de Pilatos
! Desde amanh seguirei os passos de 2esus 4le
perdoar as minhas culpas, que so muitas, e me far bom
em paga da f/ que sinto no corao
Dimas e 4no/ ficaram silenciosos ,queles dois
cora)es rasgados pelo amor e outro pelos remorsos,
esperavam tudo do Pastor de almas que percorria a terra dos
homens em busca do martrio
CAPTULO VII
O 8ETIM %E MAC0ERONTE
%ede!o, ali est- / 'acheronte, gigante de granito que
das fronteiras da 2ud/ia ameaa eternamente os rabes
rapaces que habitam as solitrias praias do mar 'orto , lua,
derrama os puros raios da sua fronte sobre seus altos muros e
denegridas torres
Hue sucede em 'acheronteC ,quela fortaleza erguida
ali pela mo poderosa dos senhores de Gsrael para deter as
invas)es do faminto rabe= aquele escudo de guerra onde
tantas vezes se espedaou a flecha do filho do deserto= aquele
monto de rochas inexpugnveis cu9a entranhas o avarento
FBM
,ntpas sepultava os seus tesouros, converteu!se na manso
do prazer, da preguia, da voluptuosidade, do amorC Porque
em vez do grito de guerra se escutam os doces acordes da
m(sica, o apaixonado canto dos trovadores de GsraelC
Porque o m&s de 4lo chegou ao meio da sua carreira, e
$erodes ,ntpas reuniu no seu inexpugnvel castelo de
'acheronte, os mais valentes oficiais das suas legi)es, os
mais nobres herdeiros da @alil/ia para celebrar um
espl&ndido festim por seu aniversrio natalcio
No festim de 'acheronte as mulheres ostentavam
diademas de p/rolas 0 moda da P/rsia, redesenha de
esmeraldas, coroas de ouro, e algumas, no impudico e mal
coberto colo, mostravam gargantilhas de diamantes para
chamarem para aquele ponto os l(bricos olhares dos
mancebos , maior parte daquelas bacantes da Palestina que
esqueceram a voz prof/tica de @erencias, tem as cabeas dos
dedos tingidas da cor purpurina da rosa silvestre, e as
sobrancelhas e liras, as maviosas flautas e as penetrantes
ctaras, enchem com suas mgicas harmonias os Ambitos do
amplo salo de 'acheronte
'ais de cinquenta convidados de ambos os sexos se
acham em volta da espl&ndida mesa a que preside a impudica
$er#dias "s vinhos da Gtlia comeam a embriagar a cabea
dos sibaritas de Gsrael
"s olhares provocadores das mulheres fascinam os
ardentes c/rebros dos 9ovens convidados
! 7rindo, exclama um centurio romano quase
embriagado, pelas lgrimas do rei ,reias e pela
desconsolao de sua filha
4ste mpio brinde foi seguido de uma hosana de
entusiasmo ,s lgrimas da mulher de ,ntpas, to vilmente
repudiada, faziam rir a corte do miservel tetrarca da
FFT
@alil/ia $er#dias agradeceu com um olhar ao romano
aquele brinde ,quela miservel ad(ltera estava preocupada
durante o banquete <m pensamento horrvel lhe fervia no
c/rebro 5# esperava uma ocasio oportuna para o realizar
Neste momento abriu!se a porta $er#dias soltou um
grito de prazer 3odos dirigiram os olhos para a porta
! "hD exclamou ,ntpas fascinado= / 5alom/ minha
adorada filha adotiva= que formosa estD Parece uma ninfa
surgindo dentre as espumas do mar ,diante, minha filha,
adiante s# um an9o faltava nesta festa deliciosa para que o
festim tivesse alguma coisa de celestial
5alom/, a filha de $er#dias, caminhou alguns passos, e
ao chegar ao lugar que ocupava ,ntpas apresentou!lhe a
fronte para que o bei9asse ,quela menina contava apenas
quinze anos= sua formosura era provocadora, fascinante,
longos carac#is negros e lustrosos lhe caam sobre os
ombros= o seu corpo, apenas coberto at/ 0 cintura por um v/u
de finssima faze de rom, deixava ver o rolios braos e
nascentes seios aos cobiosos olhares dos convidados 3razia
uma saia branca que lhe chegava at/ ao tornozelo, e outra
saia de seda azul por cima, um pouco mais curta 6icos
braceletes lhe brilhavam nos braos, e um primoroso
diadema de diamantes lhe rodeava a cabea "s brincos que
lhe adornavam as pequenas e rosadas orelhas eram
simplesmente dois fios de p/rolas Nas pequeninas mos
agitava uma pandeireta com cascav/is de ouro
Depois de receber o bei9o de seu pai adotivo, olhou
5alom/ para sua me "s olhos de $er#diase resplandeciam
de prazer 5ua filha estava radiante de formosura 5ua
presena no salo tinha eclipsado o brilho 0s mais formosas
,quela 9ovem era, mais que uma realidade, um sonho
FF+
fantstico ,ntpas, embelezado na contemplao da sua
afilhada, tinha fiado com a taa na mo
$er#dias, fez sinal a 5alom/, e a 9ovem p8s!se a tocar
pandeireta e a danar diante do tetrarca da @alil/ia 5eria
impossvel descrever os adems desonestos, a impudica
desenvoltura daquela 9ovem que, amestrada por sua ad(ltera
me, arrastava aos p/s daquela corte corrompida, o mais
precioso o mais caro para uma 9ovem- o pudor da
adolesc&ncia
"s aplausos, o entusiasmo aturdia com seus impuros
gritos aquela menina corrompida 5alom/ danava, sem
tr/gua e sem mostrar fadiga " suor corria!lhe pela fronte
corada pelo cansao Por fim caiu quase desfalecida nos
braos de ,ntpas 4ste apertou!a ao corao, /brio de
prazer Naquele momento de entusiasmo, e quando dava 0
9ovem na afogueada face o bei9o de agradecimento, disse!lhe
com infinita alegria-
! Oormosa e incomparvel 5alom/D 3ua cintura /
flexvel como a tenra palma que cresce nas margens de um
lago, quando a agita o z/firo da manh= teus olhos tem o
brilho irresistvel do diamante ferido pelos raios do sol "s
g&nios da graa e do amor no podem formar outra mais bela
que tu Pede, minha filha, pede o que quiseres que eu te
prometo debaixo da palavra de honra que concedo, ainda que
me pedisses metade do reino
5alom/ procurou sua me $er#diase abraou sua filha
com um entusiasmo que nunca sentira
! 2 ouviste, exclamou 5alom/, o que me disse teu
esposo, meu senhorC Hue te parece que lhe pea, minha
meC
Pede!lhe a cabea do 7atista
FF;
, 9ovem correu para ,ntpas ,lguns cortesos o
rodeavam, elogiando a graa irresistvel de 5alom/ ,o
verem!na chegar abriram passagem , filha da infame
ad(ltera, a9oelhou!se aos p/s do tetrarca
! %enho, senhor, lhe disse, reclamar o oferecimento que
h pouco me fizeste Peo, senhor, a cabea de 2oo 7atista,
sobre um prato
4stas palavras produziram um efeito mgico "s
miserveis cortesos de ,ntpas, aplaudiram com entusiasmo
o criminoso capricho de 5alom/ " tetrarca tinha dado a
palavra, mas vacilava
! 3enho a tua palavra, senhor, que / sagrada, tornou a
desenvolta 9ovem
! W verdade, disse um corteso, adulador desprezvel da
ad(ltera $er#dias= tu, senhor, disseste!lhe que pedisse o que
quisesse, e essa 9ovem desinteressada, quase her#ica, pede a
cabea desse transformador da ordem p(blica, desse
andra9oso, que fazendo crer que era inspirado pelo 5anto dos
5antos, embarcava as tribos pondo em grave risco a
tranquilidade da @alil/ia
, maior parte dos cortesos apoiaram as palavras do
seu companheiro, ,ntpas, ainda que com alguma
repugnAncia, chamou um oficial do castelo, e disse!lhe-
! Desce ao calabouo de 2oo e manda a uma salo que
lhe corte a cabea P)e sua cabea num prato e depois
entrega!a a esta menina
4nto, barbaridade inaudita, $er#dias faz um sinal aos
m(sicos e empunhando uma taa, convidou os convivas a um
brinde, dizendo-
! Pela graa da danarina, pelos encantos irresistveis
de 5alom/, minha filha
FF?
3odos esgotaram a taa, exceto ,ntpas, em cu9o rosto
se pintava o remorso " festim continuou com a mesma
alegria, com a mesmo entusiasmo Hue importava para
aqueles infames e a vida dum homem, como 2oo 7atistaC
4ntretanto, num t/trico e (mido calabouo, onde no
penetrava a luz do dia, um homem ainda moo gemia entre
as grossas cadeias que o prendiam a um banco de pedra
,quele homem chamava!se 2oo 7atista= era o 5anto
Precursor de *risto Na noite do festim que bosque9amos,
dormia com o sono tranquilo do 9usto, sobe as duras pedras
que lhe serviam de leito ,os seus ouvidos no chegava o
bquico estrondo do banquete, celebrado na parte alta do
castelo $avia sete meses que esperava em vo, dia ap#s dia,
ver quebradas as suas cadeias Dois pensamentos lhe
preocupavam a imaginao- os milagres do 'essias, cu9a
fama tinha chegado at/ o seu crcere, e ver a luz do sol
Huando os algozes entraram no crcere, 2oo dormia
tranquilamente " rudo das armas, o clamor dos archotes
acordou!\ " oficial encarregado de to horrvel sentena
estava plido 2oo dirigiu!lhe um olhar cheio de compaixo
! %ens, lhe disse, anunciar!me a hora da minha
liberdadeC
! %enho, disse baixando os olhos para o cho, anunciar!
te a hora da tua morte
2oo no se inquietou <m sorriso cheio de santa
resignao lhe assomou os lbios
! Oaze, pois o que te mandam, disse sem levantar a voz
5# sinto morrer sem bei9ar os divinos p/s de *risto, que
percorre a @alil/ia pregando a nova lei 'as dize 0 tua ama e
ao ad(ltero ,ntpas, que pelas terras de Gsrael vai o que h de
vingar a minha morte= que eu deploro, no (ltimo instante
desta vida passageira, que eles me tiram, o fim que lhes est
FFB
reservado ,ntpas, $er#dias e 5alom/ sua filha morrero em
terra estrangeira, abandonados de Deus e dos homens ,gora
fere, verdugo, fere sem receio, que eu te perd8o
CAPTULO VIII
O ON0O %E UM AAINO
Huando terminou o festim, o oficial encarregado da
terrvel sentena, apresentou a 5alom/ a cabea de 2oo num
prato, dizendo!lhe-
! 3oma formosa 9ovem, o pr&mio que cobias pelas tuas
graas
! ,qui tens, minha me, o que me pediste
$er#dias tirou o pano e p8s!se a contemplar a lvida
cabea do 7atista Depois tirou um alfinete de ouro do
cabelo, e entreteve!se em picar aquela lngua que lhe tinha
chamado ad(ltera , mulher de 'arco ,ntonio tina feito o
mesmo 0 lngua de *cero Parace incrvel tanto rancor, tanta
ferocidade, no corao de uma mulher
4ntretanto, ,ntpas tinha!se deitado 4m vo procurava
o covarde assassino de 'acheronte conciliar o sono 'il
sombras ensanguentadas lhe passavam pela mente " oficial
tinha!lhes dito as (ltimas palavras de 2oo, e a serenidade
com que tinha visto brilhar a arma homicida sobre o pescoo
,ntpas, o assassino, conseguiu por fim adormecer
'as aiD ento se apresentou ante os olhos da sua febricitante
imaginao o horrvel futuro que o esperava %iu em sonhos
um poderoso ex/rcito que, atravessando as altas cordilheiras
do monte $ermon, parava na plancie de ,ubanitide
,queles soldados, de rosto tostado pelo sol do deserto,
vestiam brancos alquiceres que flutuavam 0 merc& do vento
FFF
4m suas calosas mos brilhavam os curtos alfanges e as
leves lanas 5eus cavalos corriam com a rapidez do vento
,quele ex/rcito era comandado por um ancio de nobre
semblante e barba branca 3inha um estandarte negro na mo
esquerda, e um pesada acha de armas na direita <m
capacete de ferro, ao redor do qual brilhavam as folhas duma
coroa de ouro, lhe cobria a cabea " cavalo que montava
obedecia 0 voz ,s r/deas eram in(teis " estandarte tinha
um letreiro "s cerrados olhos de ,ntpas leram aquele
letreiro que dizia- .,retas, rei da ,rbia, vingar sua filha1
@rossas gotas de suor caam da fronte do adormecido
tetrarca da @alil/ia, porque aquele nome era o do rei cu9a
filha acabava de repudiar para se unir com a mulher de seu
irmo, com a vingativa $er#dias " ex/rcito rabe, que se
encaminhava a vingar a filha do seu senhor, deteve!se nos
campos de 7etAnia e a cerca duma hora da cidade de @aulon
,ntpas viu outro ex/rcito que saa da cidade ,diante
daquele ex/rcito, montado num cavalo negro como a dor e
impaciente como a ira, via!se um homem vestido com tra9es
dos senhores hebreus ,quele homem chamava!se Oilipe= era
o esposo escarnecido de $er#dias, o irmo de ,ntpas Oilipe
e ,retas falaram com calor por longo espao debaixo duma
tenda " miservel verdugo de 2oo viu como aqueles dois
caudilhos apertaram a mo um ao outro, e ouviu este
9uramento- .@uerra de extermnio a $erodes ,ntpasD1
Depois os dois ex/rcitos, o rabe adiante e o de Oilipe
atrs, encaminharam!se para o 2ordo em som de guerra ,o
chegarem 0 margem oposta do *orazin vadearam o rio, e,
como o simun, se estenderam devastando tudo pelas
pacficas tribos de Neftali at/ Qabulon
,ntpas ouvia o lamento dos seus s(ditos, cu9as
gargantas eram segadas pelo alfan9e do invasor 4stas
FFI
maldi)es lhe chegaram aos ouvidos- 'aldita se9a a mulher
ad(lteraD Deus castigue os galileus porque permitem que os
governe um rei covarde e vicioso 'aldito se9a ,ntpas,
maldita se9a $er#dias, maldita se9a 5alom/D
4ntretanto, ,retas e Oilipe conquistando cidades e
talando campos, chegaram a 3iberades ,ntpas, teve medo
e fugiu com sua esposa e sua infame afilhada De noite
rodeado dum punhado de mercenrios romanos, expostos a
cair cem vezes cada dia em poder dos invasores, chegaram 0
torre de 5tralon , fora de ouro, a lancha de um pescador,
correndo mil riscos, os transportou a 3iro 4sta viagem
custou!lhes muitas noites, temiam navegar de dia $er#dias
enfermava= por/m, dum mal estranho, desconhecido ,ntpas
via de dia em dia apagar!se a beleza daqueles olhos que lhe
tinham feito cometer uma infAmia
5alom/, encerrada na sua for, amaldioava aquele
monarca desterrado Por fim chegaram a 6oma
,ntpas tinha uma esperana- 3ib/rio, mas aiD 3ib/rio
tinha deixado o cetro de 6oma "utro reinava em seu lugar
*hamava!se *algula Devia o imp/rio a um oficial chamado
'achon, que, audaz e temerrio, tinha afogado o seu senhor
3ib/rio debaixo de um monto de almofadas sentando!se
sobre elas dizendo com burlesca entoao- Eis a&ui um
tirano &ue morre +or ?a*ta de ar! e no dei5a)a res+irar
ningu.m no im+.rio<
Huando ,ntpas soube que reinava *algula, teve
medo, porque *algula era um louco que erguia templos 0s
suas amantes, que semeava com p# de ouro as areias do circo
onde os gladiadores se despedaavam para entreter o seu
#cio, que fazia puxar os carros os senadores, e que s# em
dezoito horas fez matar no hip#dromo quinhentos ursos e
trezentas panteras e le)es 'as *algula, de insensato, de
FFP
louco, transformou!se depois da sua grave enfermidade no
mostro desprezvel, assassino mais soez
" seu primeiro crime foi monstruoso Potsio, vendo
enfermo o imperador, ofereceu a sua vida aos deuses se
salvassem o 9ovem *algula= e *algula, crueldade incrvel,
mandou, vendo!se restabelecido, que cumprisse a promessa
Potsio foi passeado pelas ruas de 6oma coroada a fronte de
louro, e depois arremessado da 6ocha 3arpeia
*algula, louco sanguinrio, covarde assassino, a quem
fazia tremer a id/ia da morte, tinha o capricho de se
apresentar em p(blico com a barba de ouro imitando os
falsos deuses da antiguidade Porque *algula, extravagante e
mentecapto, mandou construir uma cavalaria de mrmore
branco para o seu cavalo, cobriu!o com p(rpura real, adornou
seu pescoo com fios de p/rolas, servia!lhe cevada em pratos
de ouro, fazia!lhe beber vinho na sua pr#pria taa, nomeou!
lhe cavalheiro para seu servio, e finalmente elevou!o 0
categoria de consul Porque *algula comprava todo o gro
das colheitas para que o povo morresse de fome, e exclamava
de vez em quando- Ai# e o +o)o romano no ti)esse mais
&ue uma "a-ea e +udesse "ortarDse dum s, go*+e#<<<
,ntpas, no seu horrvel sonho, via todas estas coisas
que ainda pertenciam ao domnio do futuro
" covarde fugitivo da @alil/ia apresentou!se temeroso
ao tirano de 6oma, e o tirano disse!lhe-
! " dest&rro e a mis/ria so a morte mais dolorosa que
pode dar!se a um rei 3u a9udaste a conspirao de 5a9an, rei
dos partos, contra 3ib/rio Pois bem, teu irmo ,gripa / teu
delator= eu dou!lhe as tuas riquezas e o teu reino, e desterro!
te com tua famlia para um canto de 4spanha
,ntpas via tudo isto com a verdade aterradora dum
pesadelo 5alom/ abandonou aqueles pobres desterrados que
FFS
tinham fome e que viviam numa miservel aldeia da 5erra
'orena $er#dias foi atacada da lepra, e contagiou seu
esposo 4ste mal isolou!o da gente "s dois chegaram a
odiar!se= por fim a morte p8s termo a to miservel vida
'as o sonho de ,ntpas era pertinaz como a desgraa
Depois de mortos, viu como os seus corpos foram pasto das
aves de rapina %iu 5alom/ cair num rio gelado e ficar com a
cabea foram e o corpo submergido no fundo 5alom/ fazia
esforos horrveis para sair daquela situao desesperada=
por/m o cortante fio de gelo foi pouco a pouco segando a
garganta ,ntpas viu a formosa cabea da sua afilhada rolar
por sobre a gelada superfcie do rio, e o corpo afundar!se nas
profundidades da gua , cabea tinha os olhos abertos, e a
lngua falava e dizia-
! 'aldita, maldita se9a a que me trouxe nas entranhasD
4la me disse- .Pede a cabea de 2oo1, e 2oo era um
escolhido do Deus verdadeiro 'aldita, maldita se9a a mulher
rancorosa, pois por ela morro degoladaD 'e, tu querias a
cabea do 7atista= pois bem- toma tamb/m a minha
4 ,ntpas viu rolar aquela cabea insepulta, que se
chegou a ele dando!lhe um bei9o 4nto acordou " suor
inundava!lhe o corpo " medo fazia!lhe estremecer as
carnes , luz do dia que penetrava por uma 9anela do castelo
comeou a seren!lo
! ,hD exclamou Hue sonho to horrvel se fosse certoD
,quele sonho devia cumprir!se alguns anos depois da
morte do Nazareno
CAPTULO IU
A APARIMRO
FFM
3ranscorreram alguns dias 'adalena acabava de
abandonar o leito Durante a noite, a formosa donzela de
'gdalo tinha tido um sonho fatigante Dese9ando respirar o
ar puro dos campos encaminhou!se para a 9anela " sol
banhava com seus raios as rvores do 9ardim
'adalena, com os braos apoiados no peitoril da 9anela,
respirava o perfumado ambiente do seu 9ardim, deixando
vaguear pelo espao o indeciso olhar 'adalena parecia
deleitar!se ouvindo os suaves trinados das aves, aspirando o
aroma das flores que subia at/ a sua 9anela, e contemplando o
formoso panorama que se estendia ante seus olhos De s(bito
seu olhar parou num grupo de homens que por uma estreita
vereda caminhava para o castelo
,trs daqueles homens viam!se caminhar algumas
mulheres que levavam crianas pela mo " grupo de
caminhantes chamou a ateno de 'adalena 5eus olhos
fitaram!se nos dois que abriam a marcha <m era moo- teria
trinta e dois anos, e era formoso= mais uma formosura que
fascinava " outro, algum tanto mais entrado em anos, tinha
a barba branca
*onversavam em voz baixa " moo parecia fazer
compreender ao velho alguma coisa que este no entendia "
velho escutava com respeito o moo ,quilo parecia estranho
a 'adalena, porque em Gsrael as cs tinham em tudo a
prefer&ncia "s dois via9antes detiveram!se a poucos passos
do castelo, 0 sombra dum corpulento terebinto
'adalena pode ver melhor aqueles homens que tinham
chamado sua ateno Nunca os cobiosos olhares daquela
mulher tinham visto em ser to perfeitamente belo " fitar de
seus olhos azuis era irresistvel , ma9estade de sua nobre
fronte tinha alguma coisa que no pertencia 0 terra , barba,
FIT
de cor castanha e separada em forma de forquilha no
extremo, era finssima como a sede de Damasco
'adalena, im#vel, absorta contemplava aquele homem
sem poder compreender o que sentia
,ssim decorreram alguns segundos "s caminhantes
foram!se reunindo em redor do terebinto= por/m ficavam
respeitosamente afastados alguns passos do moo da barba
Por fim este fez um gesto para falar, e encostou o corpo ao
tronco da rvore 3odos se assentaram no cho, para o
escutarem
" sil&ncio era profundo 'adalena 9ulgou ver alguma
coisa que resplandecia em torno daquele homem ,inda que
a 9anela estava bastante afastada do lugar que ocupava o
terebinto, 'adalena ouviu a voz do misterioso orador , voz
levantou!lhe um eco no fundo da alma 4stremeceu!lhe o
corao dum modo estranho, tremeu!lhe o corpo apesar seu
" homem dizia assim-
.No h coisa encoberta que no se descubra com o
tempo, nem coisa escondida que no se saiba
,s coisas que disseste nas trevas, sero ditas 0 luz do
dia
'ais / a alma que a comida, e o corpo mais que o
vestido
Hual de v#s, por muito que o pense, pode a9untar a sua
estrutura um c8vadoC
Pois se no podeis o que / menos, porque andais
afanosos pelas outras coisasC
%ede como crescem os lrios, que nem trabalham nem
fiam= pois diga!vos que nem 5alomo em toda a sua gl#ria,
se vestiu como um deles
No andeis, pois, afanosos pelo que haveis de comer e
beber
FI+
7uscai primeiramente o reino de Deus e a sua 9ustia, e
todas essas coisas vos sero acrescentadas
%endei o que possuis, e da esmola Oazei bolsas que
no envelheam, entesourai nos c/us, onde o ladro no
chega nem r#i a traa Porque onde est o vosso tesouro, est
inteiro o vosso corao
Huando fordes convidado para bodas, no vos sentes no
primeiro lugar, no se9a que ali ha9a outro convidado mais
honrado que v#s
No convideis os ricos quando deres um banquete,
porque esses o podem retribuir= convidai os pobres, os
paralticos, os cegos e os coxos
4 sereis bem!aventurado, porque no tem como que
corresponder!vos, mas sereis galardoado na ressurreio dos
9ustos1
,quele $omem continuou a falar por espao de uma
hora, enquanto descansavam os que o seguiam ,s suas
palavras, sempre cheias de bondade, de mansido, de ternura,
comoviam de um modo maravilhoso o corao de 'adalena
Por fim p8s!se em p/, e levantando a cabea, fitou os olhos
cheios de pureza em 'adalena , pecadora de 'gdalo no
p8de resistir aquele olhar 4nto lhe pareceu perceber uma
voz que lhe dizia-
.3oma a cruz, e segue!me, mulher pecadora 4u desci 0
terra para salvar o enfermo do corpo e alma1
'adalena viu como aquele $omem abandonava a
ben/fica sombra do terebinto, seguido dos seus
companheiros Parecia!lhe eu um perfume delicioso lhe
penetrava no corao No se atrevia a mover!se do vo da
9anela
" homem tinha desaparecido e 'adalena escutava
ainda as suas palavras, e via!o com todo o resplendor da sua
FI;
beleza sobrenatural, em p/, im#vel, 9unto da rvore Por fim
p8de arrancar!se daquele lugar, e, ao voltar a cabea viu um
homem que, a poucos passos dela, no meio do seu camarim,
a contemplava com doloroso gesto 'adalena soltou um
grito retrocedendo at/ topar com a parede da 9anela, porque
aquele $omem era o mesmo que acabava de desaparecer
pelo caminho de *afarnaum
! No temas, 'adalena, lhe disse com uma voz cheia de
doura e mansido
! Ws tu uma sombra ou um realidadeC perguntou com
medroso acento 'adalena
! 5ou 2esus de Nazar/, que vem dizer!te- "velha
desgarrada, torna o teu aprisco 3eu irmo Lzaro e tua
irm marta esperam!te com os braos abertos em 7etAnia
Deus perdoa as tuas culpas, porque desceu 0 terra a salvar os
pecadores
'adalena cobriu o rosto com as mos, como se o
resplendor que despedia a fronte de 2esus a cegasse Huando
descobriu o rosto, *risto tinha desaparecido
Naquela noite 7oanerges foi como de costume, ao p/
da 9anela da Pecadora de 'gdalo= mas a 9anela permaneceu
fechada 4m vo o Oilho do 3rovo arrancou da sua lira as
mais doces notas- 'adalena no ouviu o cantor , luz da
aurora surpreendeu o m(sico 9unto dos muros de 'gdalo
" 9ovem amante deixou!se cair desfalecido sobre o brando
c/spede do campo, e chorou
! 'adalena, pensava, zombou deste amor que me
abrasa o peito
2 mui entrado o dia, viu sair do castelo duas mulheres
,mbas levavam o rosto coberto com o v/u das virgens de
Gsrael e encaminharam!se a p/ para *afarnaum 7oanerges
9ulgou reconhec&!las= mas, duvidando, permaneceu um
FI?
momento indeciso Huando andaram um bom pedao, saiu
do esconderi9o e seguiu!as
,s mulheres chegaram a *afarnaum Pararam diante
duma casa de modesta apar&ncia em que se notava bastante
animao %iam!se entrar e sair algumas pessoas ,s duas
mulheres que tinham sado do castelo de 'gdalo
perguntaram a um velho que se achava sentado 0 porta-
! Dize, bom velho, no / esta a casa de 5imo, o
fariseuC
! W, respondeu o velho
! W certo que 2esus 9anta ho9e nesta casaC
! W certo o que dizes
! ,gradecida, nobre ancio, e perdoa se te fao terceira
pergunta 4st dentro o *ristoC
! 4st
4nto uma das mulheres tirou o v/u que lhe cobria o
rosto e entregou!o 0 companheira
7oanerges, que as tinha seguido e as observava oculto
entre a multido, reconheceu!a- era 'adalena , que ia 0
casa de 5imo, o fariseu, a donzela de 'gdaloC Por que
perguntava com tanto af pelo 9ovem profeta chamado
*ristoC Porque no lhe tinha aberto a 9anela na noite
precedenteC
7oanerges sentiu ferver!lhe no c/rebro um inferno de
id/ias "s ci(mes erguiam!se terrveis, ameaadores, naquela
mente inflamada pelo amor 4ntretanto, 'adalena, com os
formosos cabelos soltos pelas costas, e na mo uma taa de
ouro cheia de precioso ungVento, penetrou em casa de
5imo
2esus, os seus discpulos, e algumas pessoas distintas da
cidade, achavam!se ao redor de uma mesa , comida tocava
o seu termo
FIB
, entrada da mulher pecadora, to desvanta9osamente
conhecida na @alil/ia, produziu um murm(rio de indignao
*omo se atrevia a penetrar naquela casa, modelo de
honradez, a 9ovem que presidia aos escAndalos de 'gdaloC
'adalena, afligida pelo remorso da sua vida passada,
pouco serena ante o desprezo dos convidados, a9oelhou!se
aos p/s de 2esus
*risto no voltou a cabea para a olhar *ontinuava em
voz baixa conversando com o seu parente 2oo, e com o seu
discpulo Pedro Nem as con9ecturas dos convidados nem as
lgrimas da Pecadora o distraiam
'adalena, entretanto, derramava o precisioso unguento
sobre os p/s do 'essias, enxugando!os depois com amorosa
e terna solicitude com seus macios e finos cabelos 4nto um
dos convivas no p8de conter!se e disse ao que estava ao seu
lado, em voz baixa-
! 5e esse $omem fosse profeta, bem saberia quem / e
qual / a mulher que lhe toca, porque / pecadora
4nto 2esus levantou os amorosos olhos para os fitar
em 5imo, seu hospedeiro, que era o que tinha falado, e lhe
disse-
! 5imo, quero dizer!te uma coisa <m credor tinha
dois devedores- um devia!lhe quinhentos dinheiros e o outro
cinquenta= mas como no tivessem com que pagar!lhe,
perdoou!lhe a ambos Hual dos dois deve am!lo maisC
5imo meditou um momento, e depois disse-
! Penso, 'estre, que aquele a quem mais lhe perdoou
! 6etamente 9ulgaste, respondeu 2esus
! 4 voltando!se para a mulher, disse a 5imo-
! %&s esta mulher 4ntrei em tua casa- no me deste
gua para os p/s= mas esta com as suas lgrimas banhou!me
os p/s e os enxugou com seus cabelos
FIF
! No me deste o #sculo= mas esta, desde que entrou
no tem cessado de bei9ar!me os p/s
No me ungiste a cabea com #leo- mas esta com
unguento me ungiu os p/s
Pelo que te digo- que perdoados lhe so seus muitos
pecados, porque amou muito 'as aquele a quem menos se
perdoa menos ama
4 disse a ela-
! Perdoados te so os teus pecados
,lguns convivas murmuravam em voz baixa-
! Huem / este que perdoa os pecadosC
2esus, sem os escutar, disse 0 mulher
! , tua f/ salvou!te= vai!te em paz
'adalena saiu por fim, lanando as ricas e preciosas
galas aos pobres que estavam sentados 9unto 0 porta
esperando a sada de 2esus Depois, no meio do assombro
que produziu o seu procedimento, encaminhou!se para o seu
castelo 4nto 7oanerges a tornou a seguir Huando 9ulgou
que ningu/m podia ouvi!los, apertou o passo, e, colocando!se
diante de 'adalena, disse!lhe-
! Det/m!te, 'ariaD
'adalena e sua criada detiveram!se 7oanerges estava
plido com um convalescente
! 4sta noite, continuou, permaneci debaixo da tua
9anela " sol ao nascer surpreendeu as lgrimas dos meus
olhos- porque chorei senhora 2 te arrependes da promessa
que fizesteC
7oanerges, respondeu 'adalena baixando os olhos-
entre n#s terminou tudo Deus desceu 0 terra para ensinar!
nos, a n#s pecadores, os gozos da vida eterna 3oma tu, meu
amigo, a cruz como eu, e segue!o, porque ele / a fonte da
vida luz
FII
7oanerges sentiu alguma coisa desconhecida no fundo
da alma 5eus lbios cerraram!se
'adalena continuou o caminho
7oanerges no teve valor para a deter= mas aiD aquele
moo, todo amor, todo entusiasmo, era um cadver 4nto
quis correr atrs daquela mulher que aformoseara os seus
sonhos 'adalena tinha desaparecido ,pagou!se!lhe a luz
dos olhos, e exclamando com a dor duma alma despedaada-
.'inha meD1 caiu no cho sem sentidos
<ma hora depois, um homem montado num cavalo
parou 9unto do corpo exAnime do Oilho do 3rovo Gnclinou o
corpo para o cho para reconhecer se era um morto Depois
apeou!se
! Pelos cornos do altar de 5ionD 4xclamou o cavaleiro
W o *isne da @alil/iaD
P8s a mo sobre o corao de 7oanerges
! ,inda bate, tornou 4ste rapaz percorre as tribos ao
som da sua lira W um entusiasta das musas Oaamos um a
boa obra- o que no / muito entre as muitas ms que me
pesam sobre a consci&ncia
@etas, era ele, colocou o corpo de 7oanerges na garupa
do seu cavalo e, montando depois encaminhou!se para
*afarnaum, onde vivia a me de 7oanerges
CAPTULO U
'adalena fechou desde aquele dia as portas do seu
castelo "s seus alegres visitadores fizeram mil con9ecturas
sobre aquele mudana inesperada
FIP
Pouco tempo depois o antigo castelo de 'gdalo tinha
mudado de dono " novo proprietrio era um rico cavaleiro
de *afarnaum que enriquecera com as cobranas dos pobres
contribuintes da @alil/ia
'adalena distribuiu todos os seus bens pelos
necessitados *om a consci&ncia mais tranquila,
encaminhou!se para 7etAnia em busca de seus irmos, para
lhe pedir perdo pelas suas passadas culpas
4ntretanto, dois discpulos de 2oo chegaram 0s
margens do lago de @enezar/, com a infausta notcia da
morte de seu mestre 2esus, com alguns dos seus discpulos,
embarcou numa pequena barca, atravessando o lago da
@alil/ia= encaminhou!se para o deserto de 7etsaida, onde
permaneceu alguns dias
'adalena chegou a 7etAnia e, ao achar!se perto da
porta daquela honrada casa que a vira nascer, caiu de 9oelhos
bei9ando humildemente o p# da terra
'arta, a laboriosa, viu uma mulher que soluava com a
fronte colado no cho 'arta chamou Lzaro, e disse!lhe-
! %em, meu irmo= 9unto da nossa porta 9az uma mulher
prostrada= deve estar doente, socorramo!la
"s irmos sairam, seu contentamento e seu pasmo
foram imensos ao reconhecerem 'adalena
! Ws tuD exclamaram cobrindo!a de ternas carcias
! 5im, eu sou 'adalena, a 9ovem alegre e estouvada
que ap#s os prazeres mentidos e vos do mundo abandonou
um dia este tranquilo lar= 'adalena, que chora eternamente
arrependida as suas culpas= 'adalena, que vos pede perdo
de 9oelhos e que vem servir!nos Porque lhe ressoou na alma
a voz de Deus, e vendeu as suas terras para dar aos pobres,
despiu as galas que a enlouqueciam, e s# anela tesouros no
FIS
c/u, como lhe disse o 'essias que derrama a luz e a f/ pelas
terras de Gsrael
Lzaro, apertou ao peito sua irm vendo! to
arrependida 'arta chorava de alegria
'adalena foi desde aquele dia a admirao de 7etAnia
5ua humildade no tinha exemplo ,ssim decorreu um m&s
2esus apareceu uma manh em 7etAnia, seguido dos seus
discpulos e, como sempre, foi pedir hospitalidade a Lzaro
, laboriosa 'arta preparava tudo com a limpeza e prontido
que lhe eram proverbiais= porque, como mais velha, fazia as
honras da casa 'adalena, sentada a seus p/s, ouvia!o com
doce arroubamento "s olhos da pecadora arrependida
contemplavam o divino rosto do futuro 'rtir 'arta, numa
das vezes que foi na cozinha 0 mesa, repreendeu a irm
docemente, e dirigindo a palavra de 2esus, lhe disse-
! 5enhor, no v&s que a minha irm me deixar servir
s#C Diz!lhe, te rogo, que venha a9udar!me
2esus levantou a cabea, e enviando um sorriso cheio de
bondade a 'arta, disse!lhe-
! 'arta, 'arta, muito te apressas e conturbas com o
cuidado de muitas coisas *ontudo, uma s# coisa h que se9a
necessria 'aria escolheu por certo a melhor parte, que no
lhe ser tirada
'arta, ainda que no compreendia mui claramente as
palavras do 'estre divino, no tornou a ocupar!se de sua
irm Naquela mesma tarde partir 2esus para a @alil/ia Ga
despedir!se de sua me
4ntretanto, 'adalena empregava as horas em fazer
obras de caridade, em chorar as suas culpas passadas e
esperar tudo d:,quele que lhe dissera- .3oma a cruz e segue!
me1
FIM
<m tarde, achava!se 'adalena a9oelhada 9unto do
sepulcro de seu pai, cu9os conselhos tinha desatendido em
outro tempo 5eus olhos, cheios de dolorosas lgrimas, o seu
rosto macerado pela penit&ncia, tinham sofrido mudana
assombrosa Dificilmente a teriam reconhecido os seus
antigos adoradores
'adalena chorava com a fronte apoiada no frio
mrmore do sepulcro <m homem que entrara furtivamente
no 9ardim chegou at/ onde estava a pecadora arrependida e
parou 4ra 7oanerges 5eu formoso semblante tamb/m tinha
sofrido pasmosa metamorfose Plido, macerado, com os
olhos encovados e o olhar melancolicamente distrado, como
o homem a quem preocupa uma id/ia fixa, 9 no era o
9ovem em cu9a fronte resplandecia a altivez, em cu9as pupilas
brilhava a luz misteriosa do g&nio Por espao de uma hora
permaneceu contemplando 'adalena Por fim disse!lhe deste
modo-
! 'aria, eis aqui outra vez
'adalena levantou a cabea , presena do seu antigo
adorador no a comoveu, porque para aquela alma to
solenemente contrita s# existia um pensamento- a vida eterna
prometida pelo divino 'estre
! %ai!te, 7oanerges, lhe disse- o passado deve ser um
sonho para ti como o / para mim " porvir / todo o meu af
Deus tocou!me a alma com sua clemente mo %ai!te
! Nunca, senhora, respondeu o cantor 4nquanto me
restar um sopro de vida, hei de amar!te= o teu amor / para
mim como o ar que respiro, como o po que me alimente
Podes no amar!me= podes, se assim te apraz, aborrecer!me
Para que eu te ame no preciso do teu amor
FPT
'adalena levantou!se e encaminhou!se para casa com
passo tranquilo 7oanerges, 9untando as mos com gesto
suplicante, disse!lhe-
! ,mo!te, 'adalena, amo!te como nunca, e o teu
desd/m vai!me esgotando a vida- sinto!me morrer= tem pena
de mim
! .3oma a cruz e segue!me1, disse o 5alvador de Gsrael
5egue!o tu tamb/m 7oanerges= despreza esta vida passageira
pela que 4le nos prometeu na eternidade
'aria entrou em casa 7oanerges, inclinando a cabea
sobre o brao, chorou como uma criana
Huando o sol comeava a esconder!se atrs das
montanhas do ocidente, enxugou as lgrimas e abandonou os
9ardins de 'adalena
CAPTULO UI
A %EPE%I%A
3r&s anos havia que 2esus tinha abandonado Nazar/
para espalhar pela terra de Gsrael a frutfera semente da sua
divina palavra
'aria achava!se separada de seu filho 3erna, amorosa
'e, que chorava em sil&ncio a triste soledade do seu
coraoD Na dor, Deus tinha!lhe concedido tr&s amigas que
nunca a abandonavam *hamavam!se estas 'aria *leofas,
me de 2oaquim e de 5imo= 'aria 5alom/, me dos filhos
de Qebedeu= e 5usana, esposa do mordomo do tetrarca da
@alil/ia
FP+
'uitas vezes a aflita 'e do 6edentor do mundo
costumava dizer 0s solcitas amigas-
! *orramos, irms= meu filho acha!se em @alil/ia
*orramos a ouvir, confundidas entre a absorta multido, as
divinas palavras de meu filho
4 ento, aquela 'e escolhida por Deus para trazer nas
suas entranhas o fruto bendito da 6edeno, velado o rosto
sob o espesso v/u das filhas de Gsrael, e oculto o corpo atrs
da gente que rodeava seu filho, escutava embelezada o que
mais tarde devia morrer no *alvrio transpassando!lhe o
corao de amargura
4ntretanto, a hora marcada por Deus aproximava!se
2esus chegou 0s vizinhanas de *afarnaum, de regresso da
sua (ltima viagem Numa vereda que conduzia 0 cidade,
encontrou sua 'e, acompanhada das tr&s inseparveis
amigas que nunca a abandonavam , me lanou!se
chorando aos p/s de seu filho 2esus levantou!a com doura
"s discpulos e as mulheres separaram!se do terno grupo,
que se tinha refugiado 0 sombra duma rvore
4nto, entre aquela amorosa 'e e aquele Oilho que
caminhavam para o martrio, passou!se uma cena, um idlio
mavioso, cu9as doces palavras se perfumaram com a
purssima ess&ncia das rosas de Qabulon-
! 5a(de e paz, minha 'e, lhe disse 2esus
! Disseram!me, Oilho e 5enhor, que te diriges 0 cidade
que mata os profetas, 0 mpia 2erusal/m, respondeu 'aria
! Deus meu Pai, o ordena- a hora aproxima!se, devo
cumprir as 5uas ordens , minha morte est decretada nos
c/us, donde desci de boa vontade para morrer pelo homem
" meu sangue levar em breve a culpa cometida " meu
sangue ser a semente que h de dar amanh o fruto 0
humanidade
FP;
! Leva!me contigo, faz com que o meu peito exale o
(ltimo suspiro com o teu
! 3u, minha 'e, hs de sobreviver!me mas no temas-
ser por breves instantes No cume do @#lgota, pomba
solitria e dolorida, acalentars com teus dolorosos gemidos
a amargura da minha morte 3odos me deixaro= tu s#,
a9oelhada ao / do lenho, confundirs as tuas lgrimas com o
meu sangue Porque tu, humilde violeta de Nazar/, nasceste
para sofrer agudssimas dores na terra do homem, e perfumar
no c/u a dolorosa agonia da raa humana Porque tu, rosa
purssima do vale de Qabulon, palmeira solitria de 7etsada,
prestars eternamente a tua ben/fica sombra aos
desgraados Porque tu, arca selada onde se encerra a infinita
clem&ncia de Deus, sers o farol do perdido navegante, a luz
reanimadora que guia o passo do cansado peregrino= o teu
nome glorioso ser invocado nos momentos de amargura, e a
tua pureza resplandecer eternamente com os raios
luminosos do sol
'aria chorava em sil&ncio, sem se atrever a
interromper seu santo Oilho
! No chores, mulher, lhe tornou 2esus, que breve nos
tornaremos a reunir na morada eterna 2 o disse- a nossa
separao ser curta, porque eu sou a tua ess&ncia e tu o meu
alento= porque a minha vida est depositada na tua mesma
vida No livro imortal est este mist/rio que talvez no o
compreendas
! ,h, 5enhorD exclamou a 'e dolorosa 6evoga a tua
sentena= compadece!te da minha dor e amargura= lembra!te
que sendo 'enino te alimentei com o suco dos meus peitos=
que abrigado no meu seio te levei para o 4gito= que o meu
maior prazer nas horas de agonia era bei9ar!te a fronte,
branca como os cumes do 5abino, pura como a gota do
FP?
orvalho que se esconde no perfumado clix dos lrios do
vale 4nto na tua boca rosada como as rosas de 2eric#,
vagueava um sorriso que era todo o meu encanto, toda a
minha felicidade 5e tu partes, se me deixas, que vai ser desta
pobre 'e abandonadaC
! *essa, 'e e 5enhora= do sacro c/u desci a morrer
pelo bem da humanidade= as tuas entranhas foram a taa
perfumada que recebeu o %erbo Divino No rogues mais=
minha hora aproxima!se , cruz me espera
2esus, acompanhado de alguns discpulos, tomou o
caminho do 2ordo 5ua 'e e as tr&s 'arias o seguiram a
uma distAncia respeitosa ,s bondosas mulheres
consolavam em vo, durante o caminho, a 'e aflita
No dia seguinte 2esus achava!se rodeado, como sempre
do imenso audit#rio que ouvia as suas palavras, quando se
apresentou um homem coberto de p# e com as sandlias do
via9ante nos p/s e o ca9ado do caminhante na mo %inha de
7etAnia
! 5enhor, lhe disse o caminhante, Lzaro, meu amo,
est doente= 'aria e 'adalena enviam!se para que te diga
que s# 3u podes devolver!lhe a sa(de
2esus respondeu ao emissrio=
! 4ssa doena no / para morrer, seno para gl#ria de
Deus, e para que se9a glorificado o Oilho de Deus por ela
! %inde, pois, lhe dizia o mensageiro
Por/m 2esus, que amava muito a famlia de Lzaro,
ficou quatro dias naquele lugar Durante este tempo, instruiu
os seus discpulos, dizendo!lhes-
! " Oilho do homem ser entregue nas mos dos
homens, e o faro morrer, e depois de morto, ressuscitar ao
terceiro dia
FPB
"s discpulos, no o compreenderam, guardaram
profundo sil&ncio 2esus pegou um menino e disse!lhes-
! Hualquer que recebe um destes meninos em meu
nome, a 'im recebe 4 todo aquele que escandalizar um
destes pequeninos que cr&em em 'im, mas valeria que lhe
atasse ao pescoo uma pedra de moinho, e o deitassem ao
mar
5e a tua mo te escandaliza, corta!] 'as vale entrar
maneta na outra vida, que ter duas mos e ir para o inferno,
para o fogo que nunca pode apagar!se
5e o teu p/ te escandaliza, corta!o fora
5e o teu olho te escandaliza, tira!o fora
"s discpulos ouviam!no absortos e assombrados
2esus continuou-
! .Oilhos- quo difcil coisa / entrar no reino de Deus
confiando nas riquezasD
'ais fcil coisa / passar um camelo pelo fundo duma
agulha, que entrar um rico no reino dos c/us
! .Huem poder salvar!seC1 lhe perguntavam em voz
baixa os ap#stolos
! .Para Deus todas as coisas so possveis1
CAPTULO UII
L2HARO! VEM A MIM#
, multido se agrupava 0 porta duma casa de 7etAnia,
ansiosa por ver o cadver dum homem 9usto e honrado, que
acabava de morrer Nunca um mendigo implorara uma
FPF
esmola diante daquela porta, sem que u:a mo o socorresse
" sequioso encontrava a gua com que matasse a sede
devoradora= o faminto, o po dese9ado 4 Deus!$omem, o
'estre divino que percorria as terras de Gsrael, muitas vezes
se hospedava sob o teto daquela casa caritativa " povo de
7etAnia adorava!\ 'as Lzaro tinha morrido, e o povo
chorava
, gente, pois, esperava 9unto da porta para ver passar o
cadver do benfeitor do povo, do amigo do 'essias= pois
naquela hora devia ser enterrado no mesmo 9ardim de sua
casa, no sepulcro de pedra construdo pelos seus maiores No
interior da casa ouvia prolongado lamento das carpideiras de
ofcio, e o melodioso e triste prel(dio das flautas f(nebres
<m dos parentes de Lzaro, cu9a barba branca e austero
semblante lhe dava direito para dirigir a cerim8nia f(nebre,
levantou!se enxugou as lgrimas, e disse 0s pessoas que
rodeavam o cadver-
! *onduzamos ao sepulcro os restos de Lzaro
3odos se levantaram Huatro mancebos pegaram pelos
quatros cantos da cama que sustentava o corpo de Lzaro, e
levantaram!na 4nto a comitiva saiu da casa "s m(sicos
iam adiante, depois as carpideiras, logo o cadver, e por fim
os parentes e amigos ,quela comitiva aumentou
consideravelmente ao transpor a porta " enterro penetrou no
9ardim , lousa do sepulcro estava tirada Huando o s/quito
f(nebre chegou 9unto da porta do sepulcro, um dos da
comitiva entrou nele e examinou o primeiro e segundo
vestbulo Depois saudou e disse-
! Lzaro pode entrar na "asa dos )i)os
Lzaro foi colocado no sepulcro
Huando a pesada lousa cobriu a abertura ocultando o
corpo de Lzaro, redobraram os lamentos
FPI
! 5e 2esus houvesse estado conosco, se houvesse vindo
ao nosso chamamento, Lzaro no teria morridoD dizia
'arta, chorando copiosamente
Decorreram quatro dias Durante este tempo, como
7etAnia s# distava um quinze estdios de 2erusal/m, muitos
amigos do defunto corriam a consolar as aflitas #rfs <:a
manh disse!lhes um destes solcitos amigos
! 2esus abandonou a 2ud/ia e vem para esta terra %#s,
que tanto o amais, pedi!lhe que faa um milagre " 'estre
foi grande amigo de Lzaro e o nome de Lzaro tem uma
significao na 4scritura, que deve alentar a vossa esperana
,penas acabara o 9erossolimitano de pronunciar as
precedentes palavras, quando as duas irms viram entrar pela
porta de casa um homem que dizia-
! 6aboan viu!o- 2os/f curou!se da surdez- corramos que
9 chega a n#s 4st nos hortos vizinhos falando com os seus
discpulos
! 2esus vem a 7etnia, irm, disse 'adalena
! 4u sairei em sua procura= fica tu a cuidar da casa
'arta pegou no manto e saiu em busca de *risto ,
gente que encontrava na passagem, indicou!lhe o caminho
que seguia o 'estre No tardou muito a v&!lo *omo
sempre, caminhava com ma9estoso e ao mesmo tempo
humilde passo, rodeado de crianas e mulheres Huando
'arta o viu, correu ao seu encontro e, caindo a9oelhada a
seus p/s, disse!lhe-
! 5enhor, se tivesse estado aqui, meu irmo no teria
morridoD
! 6essuscitar teu irmoD lhe disse 2esus
! 7em sei, tornou 'arta, que ressuscitar na
ressurreio do (ltimo dia
FPP
! 4u sou a ressurreio e a vida, replicou 2esus com
acento doce e tranquilo " que cr& em 'im, ainda que tenha
morrido viver, e todo aquele que vive e cr& em 'im nunca
morrer *r&s istoC
! "hD disse com ardente f/ 'arta 4u sempre cri que 3u
/s o *risto, o Oilho de Deus, vivo, que vieste a este mundo
2esus continuou em direo 0 aldeia de 7etAnia 'arta
seguia!\ Huando chegaram 0 porta do horto onde estava
enterrado Lzaro *risto, vendo 'aria 'adalena a9oelhada
9unto das pedras do sepulcro de seu irmo e chorando
amargamente, sentiu o Animo aflito
,lgumas mulheres e parentes choravam tamb/m 9unto
do sepulcro de Lzaro 2esus, vendo tanto dor pela perda do
homem honrado e 9usto e lembrando!se de quer, em outro
tempo, fora aquela casa o seu asilo seguro, quis fazer o maior
milagre que presenciaram os homens= e aproximando!se do
sepulcro, disse, dirigindo!se aos que o rodeavam-
! "nde o pusestesC
! %em, 5enhor, e o vers, lhe responderam
4 2esus chorou
Disseram ento os 9udeusC U %ede como o amava
! Pois 4ste que abriu os olhos do que nasceu cego, no
poderia fazer com que este no morresseC falou outro
! 3irai a lousaD disse 2esus aproximando!se da gruta que
encerrava o corpo de Lzaro
! 5enhor, exclamou 'arta, sem compreender o grande
milagre que 2esus ia operar aos olhos de quantos o
rodeavam= 5enhor vede que cheira mal, porque / morto h
quatro dias
! No te disse que, se cresses, verias a gl#ria de DeusC
tornou 2esus 3irai, pois, a lousa 4 2esus, erguendo os olhos
ao c/u falou- ! Pai, graas te dou porque me ouviste 4u bem
FPS
sabia que sempre me ouves 'as pelo povo que est em
torno o disse, para que creiam que 3u me enviaste
4nto 2esus, adiantou!se, e estendendo a mo em
direo 0 gruta, disse com tom prof/tico-
! Lzaro, vem para fora
4nto sucedeu uma coisa sobrenatural , porta do
sepulcro caiu ao cho sem que ningu/m lhe tocasse "s que
se achavam presentes retrocederam alguns passos, porque
viram sair o cadver envolto no seu lenol e faixas
morturias, coberto o rosto com o sudrio branco
*omo se levantara aquele corpo do cho, sendo um
defunto e tendo os braos e aos p/s presos pelas tiras de
panoC Ningu/m o podia explicar= mas o que no duvidavam
era que 2esus dissera- .Lzaro, vem para fora1= e Lzaro,
abandonou o sepulcro, obedeceu 0 voz do 5alvador
! Desatai!o e deixai!o ir, disse 2esus
Lzaro havia recuperado a vida
'ilagre portentoso, inolvidvel "s 9udeus cortaram as
ligaduras de Lzaro 4nquanto todos rodeavam o que pouco
antes fora um cadver, enquanto as mulheres tocavam com
assombro o corpo daquele homem que fora por quatro dias
um defunto, 2esus desapareceu, seguido, como sempre, dos
seus discpulos
De todas as partes sacudiram, ansiosos de conhecer o
homem a quem o 'essias dispensara um favor to grande
4ste fato maravilhoso chegou aos ouvidos dos fariseus, que
tremiam nos seus palcios ante aquele profeta que
transformava a ordem das coisas, e que ameaava destruir
seu poder *aifs, sumo pontfice aquele ano, disse no
sin/drio-
! 2esus / um transformador p(blico- ser preciso que a
sua obra termine no cume do @#lgota
FPM
No dia seguinte as tr&s 'arias e 5usana, a mulher do
mordomo do tetrarca, chegaram a 7etAnia 'arta, Lzaro e
'adalena deram!lhe hospitalidade em sua casa 'aria
perguntou por seu Oilho
! Partiu para 2erusal/m, onde faz amanh a sua entrada
, 'e amorosa respondeu-
! 4u tamb/m, sem que ele me ve9a, quero presenciar
seu triunfo
! Desde este momento, 'e e 5enhora, exclamou
'adalena, a nossa misso / no o abandonar, porque os
perigos o cercam
! Partiremos amanh
5im, partiremos
'aria, 'e de Deus, 'aria *l/ofas, 'aria 5alom/,
'aria 'adalena e 5usana, apenas o alvor do novo sol
banhou as altas palmeiras de 7etnia, encaminharam!se para
2erusal/m, onde tantas lgrimas deviam derramar, onde
tantas dores deviam sofrer
LIVRO %(CIMO EUINTO
O CAMIN0O %A 8LWRE
CAPTULO I
A 1RUTA %E 'EREMIA
" m&s de ,dar tocava sem fim , noite estava escura, o
c/u nebuloso " vento frio e (mido silvava nas fendas das
rochas e nos entrelaados ramos dos espinheiros 5eriam
onze horas da noite, quando alguns soldados sairam do
FST
palcio do governador Pilatos e= chegaram 0 porta de 4fraim,
onde o .quem vem l1C duma sentinela os deteve
! ,bre!nos a porta, disse um dos soldados levantando a
voz= trazemos uma ordem de Pilatos
Pouco depois a porta ficava franca, e a partida, que se
compunha de dez homens armados de lanas e espadas saiu
seguindo um homem desarmado que vestia uma t(nica de l
0 moda dos hebreus " homem, que parecia um guia, tomou
caminho a 4fraim e, apesar do escuro da noite, seu passo
seguro e rpido mostrava a prtica que tinha <m dos
soldados disse ao que tinha ao lado, em lngua germAnica
! 2 sabes de que nos encarregou o centurio a respeito
deste homemD
! Nada temas, lhe respondeu= a minha lana, se fugir,
lhe buscar o corao pelas costas= se defender, pelo peito
Depois caminharam, sem dizer mais palavras, coisa de
um quarto de hora, o 9udeu adiante, os soldados atrs
" guia parou
! Hue sucedeC lhe perguntaram os soldados em lngua
hebraica
! Nada, respondeu o guia
! 4nto porque parasC
! Porque devemos torcer 0 esquerda " monte est 0
esquerda do caminho de 4fraim
! Pois vamos pela esquerda, tornou o soldado
! W que a noite est to escura, que no ve9o o atalho
que conduz 0 gruta
" guia tomou resolutamente pela esquerda e todos se
calaram e o seguiram ,lguns momentos depois, tornou a
parar
! *reio que me enganeiD
FS+
! Pelo */sar, meu senhor, que se antes de meia hora
no nos conduzes 0 gruta de 2eremias, esta noite / a (ltima
da tua vida, 7arrabs, exclamou o soldado
4 dirigindo!se a um companheiro, a9untou-
! ,ta!lhe uma corda ao pescoo e faze com que apresse
o passo picando!lhe o costado com a ponta da lana
"s soldados ataram uma corda ao pescoo de 7arrabs
! ,gora, anda, acrescentou o soldado que parecia ser o
chefe da partida
Poucos momentos depois entravam numa gruta
! ,qui, ao menos, no se sente o ar frio da noite
,cendei um archote e examinai todos os cantos desta maldita
cova, onde to amargamente se lamentou em outro tempo o
profeta 2eremias
, gruta compunha!se de tr&s corpos ,s paredes
gretadas tinham profundas cavidades, suficientemente largas
para que um homem se escondesse nelas sem ser visto
! *olocai!vos na gruta do melhor modo possvel e o
mais pr#ximo da entrada, para que no escapem= eu estarei
com este r/ptil, no segundo vestbulo ,i do que adormecerD
4 sobretudo, chegando a hora, cuidado de no matar
ningu/m= / melhor que o espetculo se d& no @#lgota W
preciso divertir a plebe de vez em quandoD
4nquanto os soldados de Pilatos esperavam
emboscados o momento de se lanarem sobre a presa,
explicaremos nos sucintamente alguma coisa que o leitor no
sabe
Na noite em que @estas, o bandido encontrou
7oanerges desmaiado no caminho ia 9ustamente a *afarnaum
0 casa de 4no/, onde lhe tinham dito que se achava Dimas,
seu companheiro @estas depositou nos braos da aflita me,
7oanerges, que recobrou em breve os sentidos= 4no/ 0
FS;
cabeceira da cama de seu filho, lhe prodigalizava toda a
esp/cie de carcias
! Disse!me a nossa gente que deixas o ofcio, querido
Dimas, falou @estas
! Disseram!te a verdade, amigo @estas
! Oazes mal 6emorde!te a consci&nciaC 3u no /s
rico
! Para que quero eu o dinheiroC 5e o tivesse reparti!lo
entre os pobres, como aconselha o divino 'estre
! ,flige!me a tua obstinao
! 4 a mim a tua cegueira
! No insisto mais, mas vou pedir!te um favor No dia P
do m&s de ,dar, dia em que todos os israelitas celebram o
rigoroso 9e9um pela morte de 'ois/s, 0 meia noite, devo
reunir!me com toda a gente no barranco de @arizim, em
5amaria= eu prometi!lhes que tu acudirias 0 reunio para
dispores as correrias do m&s de Nisan, pois desde o dia +,
que / o 9e9um pela morte dos filhos de ,aro, at/ o dia +F em
que se celebra em 2erusal/m a festa da Pscoa, todos os
habitantes das tribos se p)em em movimento, como sabes,
dese9osos de cumprir a lei , nossa companhia deve dividir!
se em tr&s pelot)es- um ocupar o monte da 2ud/ia= outro as
ribeiras do 2ordo, percorrendo desde 2eric# a 3iberades, e o
terceiro, que / o mais exposto, deve percorrer as vizinhanas
da cidade, to depressa deve achar!se no vale de @ebn!
$inon, como nas escarpadas veredas do caminho de 4mais,
percorrendo a torrente do *edron, ao longo do vale de
2osaf 4ste / o meu pensamento e espero que a presa ser
espl&ndida- mas alguns recusam!se= a desordem comea a
tomar incremento, e eu rogo!te que vs 0 reunio para alentar
o seu valor, que decai desde que nos abandonaste
FS?
Dimas resistiu= por fim, cedendo aos rogos de @estas,
prometeu!lhes que iria 0 reunio
No dia P do m&s de ,dar, a essa hora em que o sol
esconde atrs das encostas do "cidente os (ltimos raios, um
homem caminhava com receoso passo por uma barranca do
monte @arizim 3inha um aspecto feroz ,s barbas e cabelo
seram vermelhos e spero como a sedosa 9uba do leo ,
testa deprimida, os beios grossos, o nariz achatado e os
olhos extremamente pequenos davam!lhe um aspecto de
ferocidade selvagem " seu vesturio asqueroso, coberto de
lama e sangue, no tinha feito nem cor Levava um largo
punhal na mo direita, e um cabrito recem!degolado agarrado
pelos p/s e lanado sobre o ombro
,quele miservel, era 7arrabs= acabava de ferir um
pastor para roubar algumas moedas de cobre e um cabrito
7arrabs corria, para fugir
Huando chegou ao extremo do barranco, procurou entre
as matas a entrada duma cova e introduziu!se nela ,quele
lugar ignorado que habitavam de vez em quando as feras e os
bandidos de 5amaria, pareceu tranquilizar o agitado esprito
de 7arrabs , caverna era imensamente grande No
primeiro vestbulo desembocavam cinco galerias abertas pela
mo da natureza, na mesma rocha 7arrabs introduziu!se
numa delas, perdendo!se dentro em pouco entre as sombras
Depois decorreram algumas horas, e quatro bandidos,
entraram na cova, e acenderam uma fogueira Pouco depois
apresentaram!se outros quatro, e depois at/ dezesseis
Oinalmente Dimas e @estas entraram na caverna 3odos se
sentaram ao redor da fogueira
! Hueridos companheiros, disse @estas, os meus rogos
no conseguiram nada- Dimas est resolvido a abandonar!
nos
FSB
$ouve um momento de sil&ncio
! , profisso do bandoleiro / para gente moa, disse
Dimas, interessado com a dolorosa atitude de seus antigos
camaradas Huando as cs assomam 0 barba, o homem
precisa descansar e pensar em Deus
! 3u /s forte e moo, disse @estas
! 3enho cinquenta e cinco anos= mas no / a idade que
me oprime= / a consci&ncia , palavra de Deus ressoa!me no
fundo da alma= no insistas, /!me impossvel seguir!vos
"s bandidos no se atreveram a refut!las
! *umpra!se a tua vontade, murmurou @estas
! ,ssim se9a, disseram quase em coro os outros
! ,gora, por minha vez, tenho que pedir!vos um favor,
disse Dimas-
! Oala, escutamos!te, respondeu @estas
! 2esus de Nazar/ ir este ano 0 cidade santa celebrar a
Pscoa, acrescentou Dimas= / provvel que os doutores de
2erusal/m, que querem perd&!lo, procurem apoderar!se da
sua santa Pessoa, e neste caso eu tornaria a empunhar a
azagaia para defender o 5alvador de Gsrael= 9ura!me tu, amigo
@estas, que no dia +B do m&s de Nisan, 0 meia noite em
ponto, estars na gruta de 2eremias disposto a receber e
cumprir as ordens que eu te transmitirC
! L estarei sem falta, respondeu @estas com voz firme
! Hue Deus conserve tua mem#ria
! No temas que esquea, se vier, a palavra que agora te
dou pelas cinzas dum pai
Dimas levantou!se e disse-
! ,gora, permiti que me retire
4 Dimas saiu da caverna @estas, vendo!se s# com os
companheiros, informou!os do plano que deviam seguir 5e
os bandidos no estivessem to preocupados,
FSF
indubitavelmente teriam visto dois olhos que brilhavam na
escurido 4ram os de 7arrabs, que tinha ouvido tudo
,lguns dias depois, um destacamento de soldados
germanos dos que serviam Pilatos, apanhava um assassino
que se chamava 7arrabs 4ste nome era pronunciado com
repugnAncia em Gsrael, feroz e imundo "s mesmos bandidos
o repeliam do seu seio, porque o seu punhal mais de uma vez
se assanhara contra as d/beis crianas, contra as indefesas
mulheres, contra os pobres velhos Gndubitavelmente a cruz
era o futuro que esperava aquele infame
7arrabs foi encerrado num crcere subterrAneo da
torre ,nt8nia <m dia queixando!se ao carcereiro da raa de
favas cozidas que lhe davam por (nico alimento, fez!lhe a
seguinte proposta-
! 3enho muita fomeD Huando era livre, comia um
cabrito todas as manhs, ainda que fosse cru , morte /
prefervel 0 fome 5e dobras a rao at/ o dia em que o 9uiz
romano me mande crucificar, comprometo!me a entregar!vos
os dois bandidos mais temveis da Palestina- Dimas e @estas
" carcereiro participou o oferecimento a Pilatos ,ceita
a proposta, saram de 2erusal/m guiados por 7arrabs, foram
emboscar!se na intrincada gruta de 2eremias e esconderam!se
depois de apagarem o archote, esperando o instante de se
lanarem sobre a presa " sil&ncio era sepulcral Nem o
vento da noite gemia entre os espinhos, nem o mocho piava
sobre os secos ramos das rvores ,ssim decorreu uma hora
! DimasD ouviu!se uma voz
! @estasD respondeu o que esperava
! 4stamos ambos s#sC
@estas deu um salto e desembainhou o punhal Dimas
no se moveu do lugar
FSI
! W in(til, disse a mesma voz que os tinha
sobressaltado, que trateis de defender!vos= olhai em redor de
v#s
@estas e Dimas viram!se cercados de soldados
7arrabs saiu duma das galerias com o capito romano que
trazia um archote aceso na mo @estas e Dimas entregaram!
se
! %endeste!me DimasC perguntou @estas
Dimas respondeu a esta pergunta com um olhar
desdenhoso
! No foi ele, fui eu, disse 7arrabs soltando um
gargalhada W to grato ir ao @#lgota, acompanhado de
antigos amigosD
"s soldados ataram fortemente os tr&s bandidos, e
sairam
! No se perdeu a noite, querido Nacor, disse um
soldado ao companheiro
! No, por certo= tendo estes tr&s morcegos nos crceres
da torre ,nt8nia, a Palestina poder dormir sossegada
! "raD " pssaro engaiolado pode fugir= mas o pssaro
morto 9 no voa
! 3ens razo, a cruz / o melhor crcere do mundo
Depois entraram em 2erusal/m, e os presos foram
depositados, carregados de ferros, nas (midas masmorras da
torre ,nt8nia
CAPTULO II
O %IA 3X %E NIAN
*idade santa, a muito amada de 5alomo, por motivo
da celebrao da Pscoa, apresentava aspecto surpreendente
FSP
, muralha de Neemias encerrava entre os seus braos de
tosca pedra um aumento de mais de duzentas mil pessoas
2erusal/m, manancial das crenas israelitas, abrigava
em seu seio todos os filhos de ,brao, que acudiam guiados
pela f/ dos seus maiores a cumprir os preceitos da lei
" cordeiro pascal esperava a hora do sacrifcio
"s sacrificadores, armados do cutelo matador, olhavam
com indiferena a paciente vtima
"s sacerdotes, ataviados com suas resplandecentes e
sagradas vestiduras, sacudiam as verdes espigas no degrau do
templo de 5ion
De toda parte vinham mercadores ambulantes, cu9a
ind(stria n8made segue a multido, prestando animao com
suas destemperadas vozes 0s romarias e festas populares
3odas as casas estavam repletas de forasteiros
,s tendas levantadas no mercado das 'adeiras
apresentavam aspecto pitoresco
Durante os tr&s dias da primeira e mais popular festa
dos hebreus, reinava na cidade sacerdotal uma liberdade sem
limites ,s portas da cidade permaneciam abertas e a
multido entrava e saa livremente sem que os soldados do
9uiz romano cruzassem as lanas sobre o peito dos
transeuntes
%iam, pois, por toda parte, robustos dromedrios
conduzindo sobre os encurvados dorsos os seus nobres
donos= pacientes asnos seguiam com tardo passo os inquietos
corc/is= homens, mulheres e crianas que, em fervente
enxame, se agitavam dum para outro recinto da cidade,
buscando onde se hospedassem 2erusal/m, contemplada de
lugar eminente, parecia um imenso formigueiro, remexido
pela cauda duma serpente 'as que importavam os
inc8modos da peregrinao aos filhos de 2ac#C " importante,
FSS
o necessrio, o preciso para eles era celebrarem a liberdade
da sua raa, era santificarem o memorvel dia em que os
descendentes de ,brao foram visitados pelos an9os do
5enhor para sacudirem o 9ugo do Oara#
Neste estado se achava 2erusal/m na noite de +? de
Nisan, quando dois homens envolvidos em compridos
mantos penetraram pela porta das Rguias que era a mais
pr#xima do monte das "liveiras "s dois homens
caminhavam com passo receoso, escondendo parte do rosto
com os panos do manto <m era moo= teria ao muito trinta e
quatro anos de idade , t(nica, cor de corinto carregada, e o
manto pardo, caiam!lhe com certa elegAncia sobre o bem
formado corpo " rosto era formoso, a cor do cabelo louro
claro, e a barba muito pouco visvel "s olhos dum azul
purssimo, respiravam bondade Nos seus lbios via!se
sempre um sorriso carinhoso 4ste homem chamava!se 2oo,
filho de Qebedeu " outro, que caminhava ao seu lado era
mais velho- teria cinquenta anos 5ua barba, grisalha e
spera, o nariz aquilino, o olhar altivo e as fei)es
pronunciadas, davam!lhe um ar de audcia aventureira que
muitas vezes se tornaram sombria " tra9e era igual ao do
companheiro- chamava!se Pedro, e era filho de 2onas
Huando os dois noturnos e silenciosos 9udeus passaram
a porta das Rguias e se acharam na cidade de Davi, torceram
0 direita, e atravessando parte do arrabalde de "fel,
internaram!se na cidade at/ chegarem ao palcio de *aifs,
donde diretamente chegaram 0 piscina grande de 5ion
Durante esta caminhada, os silenciosos via9antes
dirigiram olhares perscrutadores por toda parte, como se
procurassem alguma coisa Huando chegaram 0 piscina
grande pararam
! Grmo, disse Pedro a 2oo, v&s ali o que procuramosC
FSM
! 5im, agora p)e o cAntaro sobre a cabea
! 5igamos, pois, esse homem
! 5im, e cumpramos o que nos ordenou o 'estre
4sta conversao era a respeito de um homem cu9o
tra9e dizia bem claramente que era alguma criado de casa
abastada " homem, depois de encher o cAntaro na piscina,
encaminhou!se para uma rua situada entre o palcio de
*aifs e o lugar onde debaixo da quadr(pla tenda fora
depositada a arca 0 volta do deserto Pedro e 2oo seguiram o
homem do cAntaro= mas depressa este, conhecendo a
espionagem de que era ob9eto, parou, e encarando os
discpulos de 2esus, disse-
! Porque seguis os meus passosC
! Prossegue teu caminho, irmo, e no temas= o que
pode mandou que sigamos os teus passos, disse 2oo
, doura daquela voz dissipou os receios do homem do
cAntaro *aminharam e o homem do cAntaro parou diante de
uma casa de antiga construo
! 4sta / morada de meu amo, disse o criado
! 4ntra, pois, e dize!lhe que aqui o esperam dois
homens, tornou 2oo
" criado obedeceu, e os dois discpulos de 2esus
encostaram!se aos muros do vestbulo, dispostos a esperar
4m breve se apresentou um homem de aspecto venervel que
trazia a t(nica branca dos ess&nios <m criado o precedia
com um archote aceso na mo
! Diz o meu servo que procurais o dono desta casa
! 5im, irmo, responderam ao mesmo tempo os dois
ap#stolos
! 5ou eu, pois= que me quereisC
! 5omos dois discpulos de 2esus da @alil/ia, continuou
2oo, que nos disse- .Gde 0 cidade e encontrareis um homem
FMT
que leva um cAntaro de gua= segui!o at/ 0 casa onde entrar,
e dizei ao pai da famlia da casa- ." 'estre te diz- "nde est
o aposento em que tenho de comer a Pscoa com os meus
discpulosC 4 ele vos mostrar uma grande sala adornada=
prepara!a ali1 N#s, seguimos as ordens do 5alvador,
entramos h pouco na cidade santa, vimos teu criado,
seguimo!lo, e aqui nos tens
! Na minha casa de 7etAnia passou a (ltima Pscoa o
*risto 2 no vos lembrais de mimC
! 5im, disse Pedro, reconheci!te- tu /s $eli, cunhado de
Qacarias e de $ebron W esta a tua casaC
! No, / a casa de Nicodemos, o Oariseu, e de 2os/ de
,rimat/ia 4u alugueia!a para que 2esus celebre a ceia
convosco 5egui!me e vos mostrarei o aposento destinado 0
ceia pascal
$eli tomou o archote das mos do servo e entrou,
seguido de 2oo e Pedro, em sua casa
2oo e Pedro subiram ao andar principal da moderna
casa construda sobre as runas do antigo circo dos fortes de
Gsrael <m pigmeu se tinha levantado sobre a ossada dum
gigante , sala destinada ao cenculo estava dividida em tr&s
partes por umas cortinas imensas de pano de 3iro e ricos
tapetes da P/rsia 4stas reparti)es estavam profusamente
iluminadas com lAmpadas e serpentinas de bronze ,s
paredes estavam pintadas de branco desde a altura dum
homem at/ ao teto e a parte inferior coberta de tapetes
'ultido de tornos, 0 maneira de ganchos, rodeavam estes
tapetes ,li / que os convidados deviam pendurar a roupa
Na pea do centro via!se uma mesa imensamente comprida,
cercada de leitos primorosamente trabalhados Nesta mesa
havia treze talheres
! 5er aqui, disse laconicamente $eli
FM+
"s dois discpulos inclinaram!se e, como nada mais
tinham de fazer, pediram licena para se retirarem e
participar o que tinham visto ao seu 'estre
! Gde, lhe disse o hospedeiro, e saudai o 'estre em meu
nome dizendo!lhe que o espero
"s dois emissrios do 6edentor sairam daquela casa
pela porta das Rguias e encaminharam!se para 7etfag/, onde
os esperava o divino 'estre
CAPTULO III
0OANA NA ALTURA
2esus, no caminho de 2eric# a 7etAnia, tinha parado
alguns instantes para que descansasse a gente que o seguia
! %amos a 2erusal/m, disse aos seus discpulos, e sero
cumpridas todas as coisas que escreveram os profetas do
Oilho do $omem, que ser escarnecido, aoitado e cuspido
4 depois de o aoitarem lhe tiraro a vida e ressuscitar ao
terceiro dia
"s ap#stolos, em cu9os cora)es vivia rica e poderosa a
f/, guardavam sil&ncio sobre alguma coisa que no
compreendiam Huando 2esus chegou 0 aldeia sacerdotal de
7etfag/, mandou dois dos seus discpulos a 2erusal/m 4stes
eram 2oo e Pedro, os que deviam seguir o homem do
cAntaro, como deixamos explicado no captulo precedente
2esus, com os ap#stolos, passou a noite de +? em Nisan na
aldeia No dia seguinte, quando os raios do sol comearam a
estender!se sobre as copas das oliveiras de @etsemani, *risto
disse aos discpulos-
FM;
! Gde ao lugar que est em frente de v#s e achareis um
9umentinho preso, no qual no montou ainda homem algum=
desprendei!o e trazei!\
"s discpulos trouxeram o 9umentinho= puseram os
mantos sobre o paciente lombo do animal, e 2esus
montou,dizendo-
! ,gora vamos a 2erusal/m
3odos se puseram a caminho
4ntretanto, a notcia de que o 'essias salvador de
Gsrael se aproximava da cidade, correu com rapidez <ma
multido imensa se agrupava, para o ver passar, na
embocadura da estrada de 7etAnia "s homens levavam
palmas nas mos= as mulheres espalhavam flores para
alfombrar o caminho que em breve devia ser santificado pelo
*risto Por toda parte se ouviam brados de hosana,
exclama)es de entusiasmo, cAnticos de alegria
4 os homens, as crianas e os velhos repetiam com
entusiasmo- .7endito o 6ei que vem em nome do 5enhorD
$osana, hosana, Paz no c/u e gl#ria nas alturasD1
*inco mulheres colocadas numa pequena emin&ncia
dirigiam, ansiosas, os olhares para o lugar por onde devia vir
o filho de Davi <ma daquelas mulheres levava um largo
manto azul que a cobria No seu formoso semblante brilhava
a felicidade, o gozo, a alegria 4ra ela a 'e amorosa do
'estre divino *onfundida com a multido, rodeada das suas
leais companheiras, que nunca a abandonaram, queria
deleitar!se com o triunfo d:,quele que trouxera nas
entranhas Oelicidade passageira, gozo momentAneo, que
devia tornar!se breve em dolorosa amarguraD
5eus olhos puros e radiantes como a t&nue luz da
aurora, iam em breve converter!se em mananciais
inesgotveis de pranto
FM?
De vez em quando via!se entre a alegre multido um ou
outro homem de rosto carrancudo, de olhar ameaador- era
um fariseu, um inimigo irreconcilivel d:,quele que baixara
0 terra a tirar!lhe o manto da asquerosa hipocrisia, e que lhes
chamavam raa de )6-oras 4ntre o entusiasmo geral, s# os
romanos se mostravam indiferentes 5oldados mercenrios,
s# adoravam 3ib/rio, que lhes pagava Para estas planta
ex#ticas, na Palestina, tudo era indiferente, exceto o ouro e a
guerra
, guia romana tinha feito presa da cidade santa 5uas
robustas asas estendiam!se sobre o templo de 5ion, e eles
deixavam dormir as espadas nas bainhas e o escudo num
prego 0 cabeceira da cama, confiando em que a vtima no se
escaparia , romaria maior, a festa religiosa mais popular de
Gsrael, era!lhes indiferente
'ais ai daqueles desgraados descendentes de ,brao
se houvessem soltado um grito de #dio, ou uma ameaa
contra o senhor de 6oma, porque ento aqueles indiferentes
filhos da guerra teriam desembainhado as espadas e as
cabeas 9udaicas teriam cado como as espigas sob a foice do
segadorD
! %&de!oD L vem, dizia um homem aos que o
rodeavam 4u era cego de nascimento- 2esus p8s!me o dedo
sobre as cerradas plpebras e, imediatamente, vi a luz
querida do sol 7endito se9a o 5enhor, que vem a n#sD
! 4u estava entrevando havia dez anos numa cama,
a9untou outro- .Deixa o leito e levanta!te1, disse= e levantei!
me, e me vi bom, forte, e gil como me vedes 7endito se9as
2esusD 4le / o 'essias verdadeiro, o Oilho prometido de
,donai
! 4i!lo ali 'eu 2esusD exclamou 'aria, estendendo um
brao em direo ao caminho de 7etAnia
FMB
" povo comeou a mover!se 3odos queriam v&!lo
passar 3odos dese9avam tocar!lhe as vestes, porque davam
sa(de ao corpo 3odos ansiavam ouvir!lhe as suas palavras,
porque eram a fonte da consolao, o fecundo manancial da
f/
2esus aproximou!se dos muros da cidade santa
humildemente montado num 9umento, rodeado dos
discpulos e dum povo faminto do amor e consolao
4 as pessoas gritavam- .$osanaD $osana ao filho de
DaviD 7endito o que vem em nome do 5enhorD1
4 todos se comoviam ao v&!lo, e diziam- .Huem /
esteC1
4 alguns respondiam- .4ste / 2esus, o Profeta de
Nazar/ da @alil/ia1
! Hue fez esse homem para que todos o adoremC
perguntava um soldado de Pilatos a uma mulher
! , sua voz aplaca as tempestades, os seus p/s
caminham sobre a superfcie das guas sem que o seu corpo
se afunde, e quando a sua palavra diz aos mortos- levantai!
vos1 os mortos levantam!se e vivem como tu e como eu
" soldado punha!se ento na ponta dos p/s para o ver
passar e, sem poder da razo disso, exclamava com os
outros-
! $osana nas alturasD 7endito o que vem nome do
5enhorD
No meio do contentamento, do entusiasmo geral, os
fariseus e os doutores da lei que tinham acudido impelidos
pela curiosidade a ver 2esus, murmuravam-
! Desconfiemos desse @alileu que faz milagres que
ningu/m pode fazer
FMF
! Devemos prend&!lo antes que Gsrael se levante e
venham os romanos e nos destruam como uma manada de
ovelhas, disse outro
'as ningu/m se atrevia a p8r a mo no 9ovem 'estre
2esus, cu9a humildade era infinita, cu9a mansido era
inesgotvel, dirigia em redor de si olhares de doura e
sorrisos de amor divino Huando chegou 9unto aos soberbos
muros da cidade decida, deteve o passo da modesta
cavalgadura
" povo apinhou!se em redor dele e guardou profundo
sil&ncio, porque *risto tinha mostrado com seu olhar que ia
falar e as suas palavras eram um tesouro inaprecivel para o
povo de 2ac#
" cho estava semeado de flores, palmas e mirto "
sil&ncio foi tal que at/ as aves que saltavam de ramo em
ramo suspenderam os seus trinados "s raios claros e
brilhantes do sol caam como chuva de ouro sobre a formosa
cabea de 2esus ,o olh!lo, estremeciam todos, porque
notavam no ;o)em Mestre alguma coisa da divindade de
'eo)9<
2esus chorava com a radiosa fronte inclinada sobre o
peito Depois dum momento de doloroso sil&ncio, ergueu os
olhos, e disse dirigindo!se 0 cidade, com uma voz que
chegou at/ os (ltimos, com a mesma vibrao, com a mesma
clareza que aos primeiros-
! 2erusal/m, 2erusal/mD , minha alma estremece de
dor, contemplando os teus soberbos muros "h, cidade
ingrata, a quem tanto tenho amado e distinguidoD Eu &uis
re"o*her teus ?i*hos "omo a ga*inha o ?a> aos seus
+intainhos, e tu pretendes dar!me a morte " teu louco
orgulho, a tua v soberba h de perder!te, pobre povo da
2ud/ia 5ers serva= a guia imperial estende o seu v8o pelo
FMI
orbe= suas robustas garras rasgaro o pudibundo v/u das tuas
virgens, e a coroa de louro dos teus senhores se manchar
como o lodo da terra $ostes estrangeiras percorrero as doze
tribos de Gsrael= as tuas altivas torres cairo ao choque das
armas= o ar trar a peste no seu seio= tuas mulheres sero
violadas- +or&ue )iro dias "ontra ti em &ue os teus
inimigos te "er"aro "om trin"heiras! e te +oro "ego! e te
a+ertaro +or toda +arte! e de derri-aro em terra! e no
dei5aro em ti +edra so-re +edra<
*essou a voz angustiosa de 2esus
Doloroso pranto corria dos olhos dos ouvintes
, comitiva continuou a interrompida marcha e as
palmas tornaram a agitar!se, e as flores tornaram a cair ao
p/s do 'essias, e os coros das virgens ressoaram no espao,
repetindo ao som dos salt/rios e das harpas-
%e ?*ores e +a*mas o so*o ;un&uemos<
Teamos "oroas de mirto e *aure*! Eue ho;e a-re o
".u suas +ortas Ao %eus de Israe*<
CAPTULO IV
PWNCIO PILATO
4nquanto 2esus caminhava em triunfo para o templo de
5alomo, na cidade de 7eceta, o tetrarca de @alil/ia, o
infame ,ntpas, acossado pelos remorsos, 9ulgava que 2esus
era o 7atista que to infamemente mandara degolar em
'acheronte $erodes tremeu no seu palcio, porque o
clamor entusistico da entrada de 2esus em 2erusal/m lhe
chegava aos ouvidos
FMP
$erodes, que por uma questo de famlia estava de mal
com Pilatos, governador romano, no se atreveu a enviar um
dos seus cortesos ao 9uiz estrangeiro para que castigasse a
insol&ncia daquele transformador da ordem p(blica que tinha
alvoroado 2erusal/m
Deixamos, pois, o assassino de 2oo lutando com todo
o medo e com os remorsos, e entremos no palcio do
governador romano Naquele bairro erguia!se a inexpugnvel
cidadela ,nt8nia, que $erodes, o @rande, reedificou em
honra do tri(nviro 'arco ,nt8nio, e cu9o nome tinham
respeitado os seus sucessores ,ugusto e 3ib/rio
,os p/s deste gigante de granito e de mrmore,
encostado ao flanco setentrional, achava!se um palcio,
palcio que era quase uma povoao pelas suas imensas
edifica)es, habitado na /poca de 2esus *risto pelos 9uiz
romano
5eiscentos soldados viviam entre a cidadela ,nt8nia e o
palcio " espanhol P8ncio Pilatos havia seis anos que
daquelas ogivais 9anelas, daquelas robustas torres, vigiava o
sono dos descendentes dos 'acabeus 3ib/rio tinha posto
toda a sua confiana naquele soldado mercenrio Pilatos era
homem de ao, valente at/ 0 temeridade 5eu sono era leve
como a Rguia 5abia que o povo de 2erusal/m o odiava e
estava sempre pronto para repelir qualquer insurreio
'ais duma vez a espada dos aventureiros do 3ibre,
durante o governo de Poncio, tinha derramado o sangue
israelita pelas ruas de 2erusal/m Na hist#ria do seu governo
achavam!se tr&s grandes charcos de sangue que 3ib/rio
aplaudiu do solitrio ninho de *apreia, para onde se tinha
retirado
" primeiro, foi em um dia em que o povo de 2erusal/m
viu entrar pelas portas de Damasco uma legio estrangeira
FMS
que levava nos estandartes a efgie de 3ib/rio " povo
sublevou!se, porque aquilo era contrrio 0 lei 4sta
sublevao fez desembainhar a espada a P8ncio, e as mes e
as esposas de 2erusal/m choraram amargamente " segundo,
foi quando extraiu violentamente do tesouro sagrado todo o
dinheiro para fazer um aqueduto P8ncio ouviu da sua guarda
bramir o povo e, armando!se da espada, saiu a impor!lhe
sil&ncio " terceiro motivo foi o mais in9usto de todos- o
sangue correu em abundAncia pelas vizinhanas do templo de
5ion "s israelitas no queriam reconhecer outro senhor que
,donai, e recusaram!se a brindar em honra de 3ib/rio
P8ncio castigou pela terceira vez os rebeldes
Desde ento, o sono do governador era desassossegado
5empre se achava disposto a sufocar o grito de liberdade que
to pronto est a pronunciar um povo escravo
4ste homem, cu9a energia o tirano de 6oma admirava,
cu9o valor e firmeza o (ltimo dos soldados conhecia, pouco
depois da entrada de 2esus em 2erusal/m devia cobrir seu
nome de opr#brio com um rasgo de fraqueza inqualificvel
4le ainda no tinha completado os quarenta anos " seu
adem era altivo e marcial quando o capacete lhe oprimia a
fronte e a couraa o peito= mas quando deixava os apresos de
guerra, quando perfumava o cabelo e se vestia com t(nica
*ati"*9)ia, ento o soldado desaparecia sob a forma dum
corteso de 6oma
3ib/rio amava este servidor, que se unira em casamento
com uma parente um tanto remota, bela, rica e nobre, por
cu9a influ&ncia o senhor do 3ibre lhe concedera o governo da
2ud/ia 4sta romana chamava!se *ludia Procia
Pilatos, que, velava sempre, viu duma seteira da
cidadela ,nt8nia que o povo corria e se apinhava pelo
caminho do monte das "liveiras *omo a cidade estava
FMM
infestada de forasteiros e, al/m disso, dizia!se que um
homem, um sedicioso, percorria as tribos pregando mximas
estranhas P8ncio comeou a recear e, chamando um
centurio, disse!lhe-
! Olvio, indubitavelmente ocorre alguma coisa
estranha na cidade 5abes o hebraico com um rabino de
2eric#= disfara!te em 9udeu e vai ver o que h
,lgumas horas depois, P8ncio viu entrar no seu
camarim o espio Olvio, plido e demudado
! 5enhor, um $omem a quem no chegaram em
prodgios todos os deuses do "limpo de $omero
Pilatos soltou uma gargalhada
! No te ririas se, como eu, o houveras visto= se, como
eu o houveras ouvido
! Huem /, pois, esse homem a quem ds as condi)es
de DeusC perguntou P8ncio
! 2esus de Nazar/D disse Olvio baixando os olhos
! ,h, o @alileu, o que cura as enfermidades, o que d
vida aos mortos, vista aos cegos e agilidade aos paralticosD
Por 4sculpio, que / prodigioso tudo o que d:4le se conta, e
a no ser fbula, merecia que os seus compatriotas o
colocassem sobre os cornos do altarD 'as fala, Olvio, fala-
d!me conta do que viste
Olvio falou desta maneira-
! 5enhor- Gndubitavelmente esse $omem pertence 0
famlia dos deuses 5uas palavras penetram at/ ao fundo das
almas 7asta que com a mo toque a cabea de um enfermo,
para que o mal desaparea 4u vi!o abrir a porta do templo
com uma s# palavra, e com outra secar uma figueira "s
sbios do sin/drio, os doutores de 2erusal/m, saem!lhe ao
encontro, fazendo mil perguntas, que ele desfaz com uma s#
palavra 3anto que os seu saber os humilha e dese9am perd&!
ITT
lo Huando chegou ao templo, as escadas estavam cheias
desses vendedores de vtimas 2esus, com um aoite na mo,
expulsou!os dali, dizendo- .No faais da casa de meu Pai
uma caverna de ladr)es1 4u temi que os mercadores
castigassem o seu atrevimento, porque pagam aos sacerdotes
um aluguel por aqueles degraus, mas todos os obedeceram
sem descerrar os lbios
! <m homem contra tantosD exclamou Pilatos
! 5im, um $omem cu9o olhar / irresistvel, cu9a fronte
brilha como a aurora, e cu9a ma9estade tem algo que faz
estremecer,
P8ncio meditava Olvio continuou-
De p/ sobre os degraus, disse coisas extraordinrias
<ns homens lhe apresentaram uma mulher chamada em
adult/rio, que, segundo a lei de 'ois/s, devia morrer 0
pedradas Disseram!lhe- .3u, que sabes tanto, que opinas que
faamos a esta criminosaC1 4nto 2esus guardou sil&ncio e
p8s!se a escrever com a ponta do dedo indicador alguns
caracteres na areia Ningu/m se atreveu a interromp&!lo= por
fim, levantando a ma9estosa cabea, e abrangendo com um
olhar cheio de ternura aquela infeliz que chorava disse, com
uma voz que uma vez ouvida no pode esquecer!se- .,quele
de v#s que este9a sem pecado que atire a primeira pedra1 4u
vi aqueles homens fugirem envergonhados como se fossem
criminosos, como se as palavras de 2esus lhes houvessem
recordado que eles tamb/m tinham culpas e crimes que
ocultar " 'essias levantou a ad(ltera e disse!lhe- .'ulher,
onde esto os que queriam matar!teC Ningu/m te condenouC
Nem eu tamb/mD %ai e no peques mais1
! 4sse $omem sabe mais que os doutores do sin/drioC
disse Pilatos
IT+
! *omo os fariseus o perseguem por toda a parte para o
prenderem, vendo que o povo gritava em redor de *risto-
.%iva 2esus de Nazar/, rei da 2ud/iaD se aproximaram
dizendo!lhe- .3u, que sabes tanto, diz!nos se / 9usto pagar
tributos ao */sar1
P8ncio, ante esta pergunta, levantou os olhos 3inham
dito- .%iva 2esus, rei da 2ud/ia1, e tinham ao seu arbtrio o
tributo romano
Olvio continuou-
! 4u aproximei!me mais para ouvir melhor a resposta
de 2esus que, dirigindo um olhar desdenhoso aos fariseus,
lhes disse- .Porque me tentaisC MostraiDme uYa moeda
,presentaram!lhe uma, e 2esus colocando!a na palma da
mo, tornou a dizer .Hue efgie, tem elaC ., do */sar1, lhe
disseram Pois bem, replicou 2esus, da6 a C.sar o &ue . de
C.sar e a %eus o &ue . de %eusC<
! 4sse homem / indubitavelmente o aoite dos fariseus,
disse P8ncio, desses hip#critas especuladores do fanatismo
hebreu *ontinua, Olvio, continua, pois ve9o que 2esus no /
inimigo de 3ib/rio
5enhor, disse Olvio, o @alileu falou, disse muitas
parbolas e todas causaram profunda sensao= e depois,
seguido dos seus discpulos e de uma multido imensa, saiu
da cidade pela porta D#ria
! 4 onde iaC
! 5egundo ouvi, ao horto das "liveiras
Pilatos despediu Olvio e, mais tranquilo, foi reunir!se
com sua esposa *ludia, que passeava pelos 9ardins do
palcio
CAPTULO V
IT;
PRO8ECIA
Naquela mesma tarde, 2esus, sentado numa rocha no
monte das "liveiras, dirigia um olhar doloroso 0 2erusal/m
"s ap#stolos, sentados tamb/m em redor de seu 9ovem
'estre, comentavam em voz baixa as divinas parbolas do
futuro 'rtir Ningu/m se atrevia a interromper aquela
dolorosa meditao " clamor longnquo da cidade chegava a
eles nas asas do vento "s raios de sol caam como um par de
ouro sobre os altos muros e a douradas portas do templo de
5ion Duas lgrimas, que brilhavam como duas p/rolas de
7assor feridas pelos raios da lua, desprendiam!se dos
divinos olhos do Nazareno
2esus levantou a radiosa fronte, e exalando um doloroso
suspiro, estendeu a mo para a cidade, dizendo como
prof/tico acento-
! %&s aqueles grandes edifcios, aquelas torres altivas
que desafiam as nuvensC Pois de tudo isso no ficar pedra
sobre pedra que no se9a derribada
"s discpulos ento perguntaram!lhe com certo temor
4 quando suceder issoC Hue sinal haver quando todas
essas coisas comecem a cumprir!seC
! 3ende cuidado que ningu/m vos engane disse 2esus,
porque muitos viro em meu nome, dizendo- 5ou eu Porque
se levantar gente contra gente, e reino contra reino, e haver
terremotos pelos lugares, e fome Gsto ser o princpio das
dores 'as guardai!vos v#s mesmos, porque vos entregaro
nos conselhos, e sereis aoitados nas sinagogas, e
comparecereis ante os governadores e reis para que deis
testemunho da minha doutrina 4 em todas estas coisas
IT?
conv/m que se9a pregado o 4vangelho a toda a gente 4,
quando vos levarem para vos entregar, no premediteis o que
haveis de dizer, dizei o que vos for dado naquela hora,
porque no sois v#s os que falais, seno o 4sprito 5anto
4nto o irmo entregar o irmo 0 morte, o pai, o filho= os
filhos se levantaro contra os pais e os mataro 4 sereis
aborrecidos de todos, pelo mesno nome 'as o que
perseverar at/ o fim, esse ser salvo 4 quando virdes a
abominao da desolao e os ex/rcitos romanos entrarem
no templo para destrurem, profanando a casa de Deus, ento
os que estiverem na 2ud/ia fugiro para os montes, e o que
estiver no campo, no volte atrs para tomar o seus vestido
2esus fez uma pequena pausa, e continuou exalando
segundo suspiro-
! 'as ai das grvidas e das que criem naqueles diasD
6ogai, pois, que no se9am estas coisas no inverno, porque
sero dias de espanto e tribulao, como nunca foram desde
que Deus fez as criaturas at/ agora Porque se levantaro
falsos profetas e daro sinas para enganar 4stais de
sobreaviso 4is que tudo isto vo!lo disse de antemo Porque
naqueles dias de tribulao se escurecer o sol, e a lua no
dar esplendor, e cairo as estrelas do c/u, e vir o Oilho do
$omem nas nuvens com grande poder e gl#ria, e enviar os
seus an9os e 9untar as suas legi)es dos quatros ventos desde
um cabo da terra at/ outro cabo do c/u 4m verdade vos digo
que no passar esta gerao sem que tudo isto se cumpra
4stai de sobreaviso= velai e orai, porque no sabeis quando
ser esse tempo No se9a que quando vier de repente, vos
ache dormindo
2esus guardou sil&ncio " pranto corria dos seus olhos
"s ap#stolos, ante aquela terrvel profecia, estavam absortos
ITB
" Nazareno, que no desviava o doloroso olhar de
2erusal/m, tornou pela terceira vez a falar, e disse-
! Dias de luto, de pranto, de dor, te esperam, cidade
ingrataD " sangue de teus filhos regar teus f/rteis campos
5obre as tuas runas se amontoaro os milhares os cadveres
insepultos "s abutres e os corvos viro em imensos
esquadr)es pousar sobre as tuas desmoronadas torres 5eus
curvos bicos, suas afiadas garras despedaaro sem piedade
as entranhas dos deicidas, e os que sobrevivero a to
espantosa catstrofe, como d/beis gros de mostarda
espalhados pelo poderoso sopro do furao, se dispersaro
pelo universo errante e perseguidos, para nunca se unirem
Nem os filhos dos filhos de seus filhos, deixaro de ser
errantes e peregrinos, sobre cu9as frontes pesar a maldio
de Deus pelos s/culos dos s/culos
"s ap#stolos tremeram pela sorte que estava reservada
aos seus descendentes 5# um rosto se vi sereno, imutvel= s#
numa fisionomia se notava a d(vida 2udas no crendo nas
palavras do seu 'estre, procurava ocultar um sorriso que
pugnava por lhe assomar aos lbios , ambio de 2udas no
tinha limites , caridade de 2esus fazia!lhe mal 6ecebedor
das esmolas 6ecebedor das esmolas que os piedosos
israelitas faziam aos pobres soldados de 2esus *risto,
obedecia sempre com repugnAncia s ordens do 'estre
quando se tratava de dar alguma das moedas que, como
tesoureiro dos ap#stolos, descansavam no fundo da sua bolsa
de peles de lebre
2udas conhecia to bem como 3iago os livros
hebraicos " seu talento era claro, a sua palavra fluente
*ol/rico e irascvel, seu rancoroso corao irritava!se pela
menor contradio 6eceava de tudo, e a d(vida, que tinha
ITF
lanado profundas razes na sua alma, f&!lo incr/dulo e
sarcstico
CAPTULO VI
O 1RAN%E IN(%RIO
5eriam oito horas da noite 'ultido de sacerdotes,
escribas e rabinos conversavam com bastante agitao no
grande sin/drio situado no templo de 5ion, entre o trio dos
sacerdotes e o trio dos Gsraelitas 4ste temvel tribunal dos
hebreus, este memorvel *is"hathagasith Jconclave de
pedraN tinha ao redor uma bela varanda de bronze, e a forma
de semi!crculo, e estava colocada de modo tal que parte
pertencia ao trio dos sacerdotes e a outra ao trio dos
israelitas " presidente supremo do sin/drio, chamado
$anasci Jprincipal ou primeiroN sentava!se no centro do
semi!crculo para que pudessem v&!lo e ouvi!lo todos sem
inc8modo 5entava!se a sua direita um ancio chamado ,b
Jpadre do sin/drioN e 0 sua esquerda outro denominado
$acan JsbioN
5egundo o 3almud dos 9udeus, os 9ulgamentos civis de
pouca monta eram feitos por tr&s 9uzes= e os criminosos em
que se tratava da pena capital estas sentenas era a porta da
cidade "s 9uzes sentavam!se no cho, e os litigantes
estavam de p/, ao redor " povo podia ouvir e apreciar a
retido dos 9uzes, aprovando ou desaprovando as sentenas
pronunciadas pelos +a*etohs Jexecutores da sentenaN
" tribunal maior ou o grande sin/drio era o que 9ulgava
as desordens das tribos, a audcia dos falsos profetas e tudo o
que dizia respeito a quest)es religiosas 4ste tribunal achava!
se ao templo " n(mero dos 9uzes era de sessenta e um
ITI
Na noite de que nos ocupamos, isto /, naquela mesma
em que 2esus celebrava a *eia eucarstica em casa de $eli,
achavam!se reunidos no sin/drio todos os prncipes dos
sacerdotes, excetuando Nicodemos e 2os/ de ,rimat/ia, os
quais no tinha sido convocados por terem defendido o
Nazareno poucos dias antes
*aifs presidia aquela noite ao supremo tribunal ,ns,
seu genro, receoso de que alguns ancios quisessem deferir a
causa para depois de terminada a festa dos ,smos, porque
segundo a lei no *hes era *6"ito tirar a )ida a ningu.m no
dia ?esti)o da P9s"oa! nem e5er"e o ;u6>o das a*mas, tinha
comprado alguns membros cu9os nomes a hist#ria nos
conservou 5o os seguintes- 5umus, Datam, @amabel, Levi,
Neftali, ,lexandre, 5iro, 6oboam e ,mer
4stes nove sacerdotes, que eram os mais furiosos do
sin/drio unidos a *aifs e ,ns que, al/m de serem os
presidentes, odiavam de morte a 2esus, achavam!se dispostos
a saltar por cima da lei, que reinava no sin/drio era grande
,s curas milagrosas que 2esus tinha feito ao povo traziam!
nos inquietos 4ra indispensvel acabar com aquele homem
audaz que ameaava derrotar o seu poder 'as comoC "
Profeta @alileu podia com uma s# palavra insurgir as tribos
5eu partido era imenso e os sacerdotes temiam que a espada
dos romanos interviesse, como de outras vezes, nos seus
neg#cios %iam seu poder ameaado e meditavam a morte do
Nazareno
Naquele momento de confuso e d(vida em que todos
falavam e o medo e o temor no os deixavam entender!se,
apresentou!se no sin/drio um executor das sentenas e disse-
Glustre senado, no trio das Na)es espera um homem a
vossa licena para entrar= diz que se chama 2udas e que /
ITP
discpulo do falso Profeta que transtorna a paz da cidade
santa
"s sacerdotes olharam uns para os outros perguntando!
se que queria aquele homem, discpulo de 2esus ,ns, o
mais resolvido de todos, e inimigo encarniado de *risto,
sem esperar que os seus companheiros decidisse, exclamou-
! *onduz esse homem at/ aqui
Pouco depois, 2udas Gscariotes achava!se no grande
sin/drio diante dos terrveis e rancorosos inimigos do 'estre
Divino 3odos os olhares se fitaram no rec/m!chegado 2udas
volveu em torno de si os olhos, mostrando uma agitao
espantosa
Dir!se!ia que aquele homem tinha corrido muito= sua
respirao era cansada= agitava os lbios como se a lngua se
lhe pegasse ao paladar 3odos os seus movimentos
mostravam medo, cansao, desgosto "s sacerdotes
contemplaram!no uns instantes, ignorando se era amigo ou
inimigo Por fim ,ns rompeu o sil&ncio, perguntando-
! Discpulo de 2esus, que te traz ao sin/drioC
2udas levantou a fronte com orgulho como se as
palavras de ,ns o tivessem ferido-
! *hamo!me 2udas- nunca tive medo, entendeisC 'as
soube que vos achveis reunidos para tratar de um neg#cio
que vos importa muito, e pensei- %amos l "s 9uzes querem
prend&!lo e no se atrevem= pois bem, eu atrevo!me, se me
pagarem bem 5e quereis prender 2esus, eu vo!lo entregarei
! 4 que segurana nos oferecesC disse ,ns, que viu
naquele homem o que em vo buscara durante o dia
! 3u /s seu discpulo e todos os seus discpulos se
deixariam crucificar por 4le
ITS
! 3odos, menos eu= por isso venho dizer!te- Hue me ds
e entrego!teC " que te prova que em vez discpulo, sou seu
inimigo
,ns falou em voz baixa com os sacerdotes
! 4st feito o contrato, falou depois
! Huando me dareis o dinheiroC
! Huando nos entregares 2esus
! 4sta noite, antes da viglia m/dia %irei aqui dizer o
lugar onde podereis encontr!lo
! *umpre tua parte e n#s cumpriremos a nossa= mas ai
de ti se nos vendeD falou ,ns
2udas ia sair do sin/drio quando *aifs o deteve
dizendo-
! 4spera
! Hue queresC replicou o Gscariotes com receoso acento
! " tribunal no pode permanecer aberto tantas horas-
sabes tu onde vive meu sogro ,nsC
! %ive no baixo 2erusal/m, no monte ,cra, respondeu
2udas= de tua casa 0 de $eli apenas h duzentos passos
! Pois bem, ali te esperamos
2ud saiu do sin/drio, e atravessando a esplanada do
baixo 2erusal/m, subiu ao monte ,cra, e parou diante duma
casa grande antiga Dois homens passeavam diante da porta
! W esta a casa do pontfice ,nsC perguntou
! 5im, respondeu um dos homens
2udas continuou o caminho e, chegando ao mais alto da
cidade de 5ion, entrou numa casa, a casa que Nicodemos e
2os/ de ,rimat/ia haviam alugado a $eli 4ra o santo
cenculo onde 2esus se achava reunido com os seus
discpulos
ITM
4ntretanto os sacerdotes fizeram o 9uramento de um
9e9um foroso se 2esus de Nazar/ casse nas suas mos e
fosse crucificado
CAPTULO VII
A TLTIMA CEIA
2esus e os discpulos achavam!se reunidos no salo que
lhes prepara $eli " cordeiro pascal fumegava em cima da
mesa " Nazareno indicou que podia comear o sacrifcio
"s ap#stolos deitaram!se nos leitos que rodeavam a
mesa da parte exterior= pela interior serviam os criados a
ceia 2esus ocupou o leito do centro 2oo, o discpulo
favorito, o ap#stolo de doce sorriso, de olhos azuis,
eloquente palavra e corao generoso, sentou!se 0 direita ,o
lado de 2oo sentaram!se 3iago 'aior, filho de Qebedeu e
irmo de 2oo= 3iago 'enor, primo de 2esus por parte de sua
'e= 7artolomeu= 3om/, o incr/dulo, que no creu nas
chapas de 2esus sem as tocar
Pouco depois devia sentar!se, 9unto de 3om/, 2udas o
traidor, o filho da aldeia de Gscariote
Da parte oposta, sentaram!se 9unto de 2esus- Pedro,
,ndr/, 2udas Lebbe, o discpulo mais fiel= depois 5imo,
'ateus, e finalmente Oelipe, que no esperava nada de bom
de Nazar/
Na mesa s# havia tr&s pratos " do centro cotinha o
cordeiro pascal , direita estava um prato de ervas amargas,
0 esquerda outro de ervas doces
$eli tinha comeado a trinchar o cordeiro, pois servia 0
mesa em honra dos seus h#spedes, quando 2udas, inquieto
I+T
como homem a quem persegue de perto o remorso, entrou no
cenculo 2esus dirigiu um olhar cheio de doura ao discpulo
que acabava de vend&!lo e 2udas, sem se atrever a olhar o
'estre Divino, foi assentar!se a um extremo da mesa ao lado
de 3om/, o incr/dulo
2esus tocou com os lbios o vinho que lhe acabava de
deitar $eli, e depois disse a orao que lhes tinha ensinado
no monte, e que comea assim- Pai nosso &ue est9s nos
".us Depois comeou a santa ceia " futuro 'rtir estava
triste De vez em quando o seu doloroso olhar fitava!se com
amorosa ternura naquele punhado de seres que tanto deviam
padecer por 4le
2udas no desviava os olhos do prato, receoso de se
encontrar com o olhar do 'estre
Por fim, 2esus exalou um doloroso suspiro, e rompeu o
sil&ncio, dizendo-
! 4m verdade vos digo, que um de v#s me h de
entregar
"s discpulos olharam!se uns aos outros com olhar
cheio de profunda tristeza, de mudas perguntas que se
dirigem ,queles cora)es puros no podiam compreender
tal maldade %ender *ristoD %ender seu 'estreD 4ra
impossvelD 2oo disse-
! 'estre, serei por desgraa eu esse miservel que tu
dizesC
! 5ou eu acasoC perguntou com energia Pedro
! 4u por ventura
! ,caso cabe a mim essa desgraaC
! 5erei eu esse infameC
3odos, indignados, lhe dirigiam a mesma pergunta
2udas, abismado na sua vergonha, comia e calava 2esus
continuou-
I++
! " que mete comigo a mo no prato, esse / que me
entregar
,o dizer 2esus estas palavras achavam!se no prato as
mos de 2udas Gscariotes *risto contemplou um momento a
perturbao do traidor e o assombro dos outros e disse com a
sua bondade nunca desmentida-
! " filho do homem h de ser entregue, como est
escrito= mas ai daquele por quem for entregueD 'ais lhe
valera no ter nascidoD
3odos os olhos se fitaram em 2udas, o (nico que no
tinha dirigido a pergunta a 2esus " Gscariotes conheceu que
era preciso dizer alguma coisa-
! 5ou eu, por ventura, 'estreC
" Nazareno deteve um momento o doce olhar na
carregada e ameaadora fronte do discpulo 4m seus olhos
meigos e amorosos apareceu uma lgrima, e com uma voz
que ressoou at/ o mais rec8ndito das almas dos discpulos,
disse simplesmente-
! 3u o disseste, 2udas
4 2esus entregou ao traidor um pedao de po, smbolo
da reconciliao 2udas pegou maquinalmente no po que lhe
oferecia o 'estre 5eus olhos, in9etados de sangue, a boca
meio aberta pela comoo, a testa enrugada, mostravam a
horrvel luta que estava sustentando o seu esprito Percorreu
com olhar est(pido os semblantes dos companheiros 3odas
as fisionomias respiravam uma severidade acusadora
2udas no p8de suportar aqueles 9uzes silenciosos,
mais terrveis Desceu do leito, possudo duma vertigem
*olocou!se no meio do cenculo, deitou com fora ao cho o
po que ainda tinha na mo, e saiu precipitadamente da sala
$ouve um momento de pausa ,quela cena tinha
comovido os discpulos 2esus, tranquilo e esquecendo o
I+;
perigo, partiu o po, e distribuindo!o entre os discpulos,
disse-
! 3omei e comei, este / o meu corpo
"s discpulos comeram em sil&ncio
Depois 2esus tomou o clice, aplicou!lhe os lbios e
entregou!o aos discpulos, dizendo-
! 7ebei todos, porque este / o meu sangue, que ser
derramado para bem de muitos e remisso de pecados
"s discpulos beberam Depois entoaram o hino do
profeta, que comea assim-
! Levanta!teD Levanta!teD 5acode o p#- senta!te,
2erusal/m= desata as ataduras do teu colo, escrava filha de
5ion Debalde fostes vendidos, e sem prata sereis resgatados
Huo formosos so sobre os montes os p/s do que anuncia a
paz- do que diz a 5ion- reinar o teu DeusD
,legrai!vos e cantai, desertos de 2erusal/m- porque o
5enhor consolou o seu povo "lhai que o meu servo ser
exaltado ante ti e sublimado sobremaneira
Huem crer o que nos oua contarC
4 subir como uma verg8ntea que brota duma terra
est/ril, e no saber bom parecer nele , sem formosura= v&!
lo!emos e no nos dignaremos olh!lo, to desfigurado e
sero grandes os tormentos que padecer por n#s
4m verdade 4le tomar sobre si todas as nossas
enfermidades, Jos nossos pecadosN e carregar com as nossa
dores- por nossa causa se ver coberto de chagas= ser
afligido pelos nossos crimes, e morrer no meio de cru/is
sofrimentos, sem despregar os lbios, como o cordeiro que
conduzem ao sacrifcio, e sobre os seus ombros carregar o
peso das nossas iniquidades1
Huando terminaram o hino do profeta, 2esus fez
segunda libao, oferecendo depois o clice aos seus
I+?
discpulos 2esus ento desceu do leito e, tirando o manto que
lhe embaraava os braos, encaminhou!se com passo
tranquilo para o extremo da sala onde se via uma toalha, duas
Anforas de cobre e uma bacia do mesmo metal Dois criados
de $eli entregaram a toalha a 2esus, que a cingiu 0 cintura
" Nazareno aproximou!se de Pedro e disse!lhe-
! ,mado Pedro, vou lavar!te os p/s
! 3u vais!me lavar os p/sC exclamou Pedro
Pedro opunha!se ,quela humildade do seu 'estre no
estava ao alcance da sua intelig&ncia 2esus, com a mansido
nunca desmentida, disse!lhe estas palavras-
! Huando o 4sprito 5anto inundar de luz a tua
intelig&ncia, sabers porque fao estas coisas e outras muitas
que agora ignoras " que no me obedecer ser excludo do
n(mero das minhas ovelhas
2esus lavou um por um os p/s dos seus discpulos
Depois deixando a toalha e pondo o manto pardo sobre os
ombros, tornou a sentar!se no leito e disse!lhes deste modo-
! 'eus amados, o que fiz convosco, deveis v#s fazer
com vossos irmos para ganhardes o reino dos c/us 4m
verdade vos digo, o servo no / maior que o senhor, nem o
enviado / maior que o que o enviou= se isto fizerdes, se
compreenderdes a necessidade que tem o homem de
humilhar!se ante o seu semelhante por pequeno que se9a,
bem!aventurados sereis se o fizerdes
Ningu/m se atreveu a interromper o divino orador
2esus combinou-
! 'eus filhos, ainda permanecerei algumas horas, entre
v#s= mas depois me procurareis e no me encontrareis=
porque onde 4u vou, no podeis v#s ir <m mandamento
novo vou dar, no o esqueais nunca- AmaiD)os uns aos
outros assim "omo Eu )os amei< No afasteis de vossos
I+B
cora)es a caridade, que nisso vos conhecerei por meus
discpulos Nunca deis entrada em vossos peitos 0 avareza=
tratai os homens como vossos irmos, que o so 5e 0 noite
ao retirardes!vos 0s vossas casas achardes um dinheiro nos
bolsos, levantai!vos, sai de casa sem temerdes nem a chuva,
nem o vento, nem o frio, procurai o necessitado, dae, e
depois entregai!vos ao sono, doce e benfaze9o do que semeia
o bem na terra
2esus deteve!se Gnclinou a radiosa fronte para o peito e
um suspiro se lhe escapou dos lbios
Pedro cu9o carter nobre e impetuoso no estava
conforme com a separao que acabava de anunciar!lhe o
'estre, aproveitando aquela breve pausa, acrescentou-
! 5enhor, disseste que onde 3u vais no poderemos
seguir!te= porque no te posso seguir euC , minha alma e
vida so tuas disp)e delas=no creias que me arreda o perigo
Hue maior alegria que morrer por tiC
2esus contemplou com amoroso olhar a Pedro, e disse!
lhe com um sorriso cheio de ternura
! Dars a alma por 'imC 4m verdade, em verdade te
digo que no cantar o galo esta noite sem que me tenhas
negado tr&s vezes
Pedro ouviu aquelas palavras com um assombro
imenso *omo era possvel que ele negasse tr&s vezes a
2esus, seu 'estre, seu muito amando 5enhorC ,quela d(vida
atormentava!o a um ponto indizvel
2esus continuou-
D A +a> )os dei5o! a minha +a> )os dou< No se
+ertur-e o )osso "orao nem se a"o)arde< 3odos v#s,
meus amados discpulos, padecereis esta noite por 'im,
+or&ue est9 es"ritoA 8erirei o +astor e se dis+ersaro as
I+F
o)e*has do re-anho , minha morte est pr#xima Mas
de+ois &ue ressus"ite irei adiante de ),s S 1a*i*.ia<
, tristeza dos discpulos era imensa
2esus, pai amoroso, via aproximar!se o instante terrvel
da separao, e as lgrimas lhe vinham aos olhos Por fim fez
um esforo e levantando!se do leito, disse com voz firme aos
discpulos-
! %amos, a hora aproxima!se
5airam do cenculo 2esus ia adiante= os discpulos
atrs , noite estava escura ,o transpor o umbral da casa de
Nicodemos, o Nazareno ouviu um gemido %oltando a
cabea viu duas mulheres a9oelhadas aos dois lados da porta
! 'eD 'adalenaD disse Hue fazeis aquiC
! Hueramos ver!te sair, Oilho amadoD exclamou a 5anta
%irgem com doloroso acento 2esus deu a sua 'e um bei9o
4ra o (ltimo que devia dar!lhe na terra, onde ia padecer o
doloroso *alvrio da morte
'adalena bei9ou em sil&ncio o extremo do manto do
'estre Divino
2esus e 'aria permaneceram um momento abraados
"s dolorosos soluos daquela 'e sem igual entristeciam os
silenciosos ap#stolos
Pouco depois, $eli dava hospitalidade em sua casa
0quelas duas mulheres cu9a amargura era sem igual
LG%6" DW*G'" 54X3"
O CAMIN0O %E AN1UE
CAPTULO I
I+I
A TRV 1OTA %E AN1UE
2esus e seus discpulos saram de 2erusal/m pela porta
D#ria e, passando a torrente do *edron, tomaram a estreita
vereda que conduz ao monte das "liveiras
5eriam dez horas da noite " vento soprava frio,
impetuoso, como um rouco lamento da natureza quebrando!
se nas rochas do vale dos *edros "s mochos entoavam seu
t/trico canto do sepulcro dos Profetas , lua, triste e plida
como nunca, comeava a elevar a fronte por trs do monte
4rego 4spessas nuvens percorriam o ar anunciando uma
pr#xima tempestade
" doloroso sil&ncio de 2esus, que caminhava adiante
com a fronte inclinada para o cho, e a tristeza da noite,
oprimiam o aflito esprito dos ap#stolos
3inham caminhado uns mil passos al/m da torrente do
*edron, quando 2esus parou diante duma quinta chamada
@etsemani ,quela quinta, cu9o terreno f/rtil 5 2er8nimo
designa com o nome de Va**is +inguissima, estava recostada
na fralda oriental do monte das "liveiras 4nto 2esus disse
a 5imo, 7artolomeu, 3adeu, Oelipe, 3om/, ,ndr/, 'ateus e
3iago 'enor-
! Oicai neste cerrado- 4u vou ora ali U 4 estendeu o
brao na direo do monte %elai e orai a fim de no cairdes
em tentao= e v#s, Pedro, 3iago 'enor e 2oo, segui!me
2esus, seguido dos seus discpulos favoritos, entrou por
uma abertura que havia no muro da terra que cercava o
9ardim Depois caminharam coisa de uns sessenta passos
<m raio da lua caiu sobre a fronte de 2esus Pedro fez
observar aos amigos a palidez do 'estre " @alileu falou-
!%#s, que me tendes seguido por toda a parte, s# v#s
podeis ver a minha fraqueza sem duvidar 4sperai!me aqui=
I+P
estas oliveiras, as mais velhas do monte, vos serviro esta
noite de tenda
! Pois que, deixas!nos, 5enhorC perguntaram os
discpulos
2esus estendeu o brao na direo duma gruta, cu9a
entrada se achava meio escondida pelas saras
! 4u vou ali, lhe disse
4 caminhando alguns passos entrou na gruta com o
corao oprimido <ma vez dentro, prostrou!se por terra, e
colando a fronte no p# comeou a orar
<ma tradio, antiga como o mundo, refere que os pais
do g&nero humano, quando foram expulsos do Paraso, se
refugiaram naquela gruta
'ais tarde, segundo outra tradio, ,do e 4va, os
desterrados do Paraso, foram gozar, o eterno sono da morte
sobre o solitrio cume do monte @#lgota, onde segundo se
cr& esto enterrados naquela gruta
2esus orava com a fronte colada no p#, quando ressoou
nos Ambitos da gruta o som duma trombeta ,s ab#badas
estremeceram, a terra tremeu, porque aquele som tinha o
poderoso acento do trovo, o eco espantoso do furao
desencadeado , sua voz os mortos devem um dia agitar!se
nos seus sepulcros " seu acento poderoso encher o
universo, e a terra, abrindo largas bocas, lanar do seu seio
milh)es de esqueletos Porque a trombeta que aterrou 2esus
na gruta ser a que deve evocar os mortos no dia do 9uzo
final
Huando o eco da trombeta se perdeu nos escuros
Ambitos da gruta, ouviu!se uma poderosa voz, que dizia-
! Oilho dos homensD 4scutai a voz do que tem a chave
da eternidade- ouvi a palavra d:,quele que refreia a f(ria dos
mares e torna em brando z/firo o sopro devastador do
I+S
furao 4scutai o acento do que d luz ao sol, fruto aos
campos, aroma as flores= ouvi a palavra do 5er infinito que
empresta chamas ao inferno e poder 0 morte- e se existe
debaixo da azul imensidade uma criatura que queira morrer
pelo g&nero humano, se d um homem que se atreva a
suportar a morte mais dolorosa que ainda sofreu ser algum
desde o 9usto ,bel at/ o presente, se h uma criatura que
queira aparecer ante a presena de Deus, que responda- "
4terno a espera
! 5enhor, exclamou 2esus, o meu corpo acha!se pronto
para o sacrifcio- perea eu, rasguem!me os homens a carne
em pedaos, se a minha dolorosa morte h de salvar o g&nero
humano
4nto um raio de luz esplendida desceu dos c/us
,quela luz banhou com seus divinos raios o corpo de 2esus,
que permanecia orando com o rosto colado no cho Depois
tornou a unir!se a ab#bada, e as trevas reinaram pela segunda
vez na gruta
,quele raio de luz celestial encheu de valor o corao
de 2esus P8s!se em p/ e disse em voz sossegada-
! *umpra!se o que de cima emana- estou pronto
4nto abriu!se a terra e apareceu na gruta o arcan9o
tentador 3razia o vesturio brancos dos ess&nios, e o sorriso
ir8nico dos r/probos lhe brilhava nos lbios
! 4is!me aqui, disse o arcan9o= pela segunda vez venho
oferecer!te a minha proteo= a tua hora aproxima!se 4sts
resolvido a morrer para salvar as iniquidades do g&nero
humanoC
! 5im, respondeu tranquilamente 2esus= o meu sangue
lavar o pecado da humanidade 'inha cruz ser a chave da
redeno
I+M
" arcan9o exalou um rugido de ira , impassibilidade
do Nazareno irritava!\
! 4scuta, disse, a sangrenta hist#ria dessa raa que
queres salvar com o teu sangue inocente Depois do aleivoso
assassnio de *aim, passemos sem nos deter por um imenso
mar de sangue que cobrem as gigantescas asas do divino
universal " castigo de Deus estava pr#ximo "s raios da
c#lera divina ainda se viam na terra quando nasceu um
Nemrod que foi o maior ladro que desde o princpio pisara a
terra dos homens= porque Nemrod, privando a todos da
liberdade, se erigiu senhor pela fora e se fez adorar como
Deus, sendo um miservel assassino 5eguindo a hist#ria do
povo escolhido por Deus, encontramos o incesto das filhas
de Lo, a raiva de 4sa( a seu irmo 2ac#, a atroz perfdia de
5imeo e Levi, a infame venda do casto 2os/ " rudo das
cadeias, os lamentos de dor, nunca cessam ,donibec/ corta
os p/s e as mos a cinquenta senhores, e ata!os debaixo da
sua mesa, dizendo que aqueles lamentos o a9udavam a fazer a
digesto ,bimelec, para cingir a coroa, degola sessenta
irmos, e o persa ,rtaxerxes %GGG, pelo mesmo motivo,
assassina oitenta e cinco entre irmos e parentes Dalila,
vende seu esposo 5anso $eli perde Gsrael pela sua torpeza
5aul / devorado pela inve9a ,talia degola os primog&nitos
de 2ud ,man / incestuoso, ,bsalo traidor e ,donias,
fratricida 5alomo, seu pai, chora amargamente nos (ltimos
anos da vida a perfdia de seus filhos ,trs do rei poeta,
seguem!se em Gsrael dezenove tigres com a fronte coroada- a
terra tinge!se com o sangue das vtimas " povo empobrece
com a cobia dos seus tiranos, e a virtude foge envergonhada
da nao escolhida Depois segue!se ,rist#bulo, que matou 0
fome sua me= $ircano, que quis usurpar a coroa a seu pai, e
a guerra civil devasta a 2ud/ia " estandarte vencedor de
I;T
Pomp/u percorre as tribos, saqueando os indefesos
descendentes de 2ac#, e, por (ltimo, $erodes, o @rande, cai
sobre Gsrael como um aoite 5eu terrvel cutelo nada
respeita- corre o sangue at/ no seu pr#prio palcio e o de
suas mulheres e seus filhos mistura!se com o dos inocentes
belemitas e o do seu oprimido povo " mesmo templo de
5io mancha!se com o do 9usto Qacarias *om o teu, # 2esusD
se ensopar em breve o cume do @#lgota 4 por essa raa de
incestuosos, de fraticidas, de verdugos e assassinos vais
sacrificar!teC
Lusbel soltou uma terrvel gargalhada, que fez
estremecer as ab#badas da gruta
Na fronte de 2esus brotou uma gota de suor
,quela gota suava sangue 4rguendo os olhos cheios de
doce resignao ao c/u, murmurou esta frase-
! 'eu Deus, cumpra!se a tua vontadeD
Lusbel interrompeu sua gargalhada e exalou um grito
de dor , mansido de *risto despedaava!lhe o corao
3omou alento, como o que se prepara para lutar, e disse-
! Pois que, para convencer!te, no te bastam os crimes
c/lebres que tem perpetrado essa raa maldita que queres
salvar, escuta= Deus concede!me s# tr&s horas para p8r!te
prova, breve espao por certo Para te recordar as infAmias
do homem, seriam necessrios mil dias com suas noites= mas
aproveitarei o tempo 2 ouviste a hist#ria criminosa do povo
predileto do 5enhor ,gora irei revelando a ventura de outros
pases *ambises, cego pela ambio, sepultou um imenso
ex/rcito nos desertos, areais da Rfrica, ,rtabano assassina
Xerxes e acusa Dario, que morre degolado por seu irmo
,rtaxerxes 5iatira, mulher cruel manda matar sua sogra
Persatas , concubina ,spsia, revela a seu senhor
,rtaxerxes GG,que um de seus filhos a requestra, e aquele pai
I;+
cruel executa uma horrvel matana, de tr&s filhos legtimos e
cento e doze bastardos , este brbaro sucedeu o assassino
de ,rtaxerxes GGG, que extinguiu a sua numerosa famlia
Huinto *(rcio assassina vinte e seis irmos " punhal
embota!se na mo do seu eunuco 7ogoas= mas o tirano grita!
lhe- 'ata, mataD ,lgum tempo depois o veneno de 7ogoas
vinga as vtimas de *(rcio " eunuco, afeioado 0 morte
experimentara segunda vez o veneno no seu novo senhor=
mas / descoberto e obrigado a esgotar a taa e morre
Depois, lhe corta o fio da exist&ncia 5e diriges os olhos para
a moderna rep(blica de 6oma, que acharsC 5angue, como
em toda parte 68mulo mata seu irmo 6emo Numa
Pomplio, sendo um farsante faz!se adorar pelo seu povo
3(lio $ostlio, mais que homem, / um lobo carniceiro que
alarga as fronteiras da Gtlia 3arquinio Prisco a9unta doze
povos 0 rep(blica e morre 0s mos de seus filhos 3(lia,
esposa de 3arqunio, o soberbo, obriga seu marido a matar a
me, e depois esmaga o cadver debaixo das douras rodas de
seu carro Rpio *ludio enamora!se brutalmente da casta
%irgnia, e no podendo conseguir uma carcia, manda!a
degolar numa praa na presena de seu pai 'rio e 5ila,
com suas tbuas de proscrio, derramam tanto sangue do
mais querido de seus amigos pelas ruas de 6oma, que o
3ibre transborda, e ,ugusto, 'arco ,ntonio e L/pido
sacrificam os seus partidrios, mas reinam 9untos e devoram!
se mais tarde= e 3ib/rio , o senhor de 6oma, manda crucificar
as mes s# pelo crime de terem chorado a morte de seus
filhos 'as o prazo vai terminar- no posso deter!me a relatar
os crimes de Nero, de *algula, de *omo e outros assassinos
ilustres que existiro amanh= nem os de "restes que mata
sua me, nem os de 'edeia, que assassina seus filhos, nem
os de 3iest, que os come Nada quero dizer!te de ,ntemo,
I;;
que edificou uma pirAmide com os crAnios dos estrangeiros
que passavam pelas sua terras= nem de 'anass/s que
mandou serrar pelo meio o profeta que h cerca de nove
s/culos profetizou a dolorosa morte que te espera
Lusbel parou 2esus tornou a dizer-
! 5enhor, faa!se como dese9as
<m grito atroador saiu da imunda boca do dem8nio
tentador, que disse-
! 4 no desprezas essa raaC
! No 'orrerei por ela, respondeu 2esus
Naquele momento segunda gota de sangue rebentou da
divina fronte de 2esus
! 2erusal/mD 2erusal/mD Prepara!te para presenciar a
mote do 2usto 5ua dor ser imensa, sua agonia, dolorosa, sua
morte, cruel= mas o seu sangue purificar o g&nero humano
e v#s, cu9a f/ inquebrantvel, ap#stolos de 2esus, vos leva
ap#s os passos do divino 'estre, preparai!vos para o futuro
martrio que vos espera %#s sereis a semente crist que se
estender pelo campo do universo= mas a vossa morte ser
terrvel cruel, horrorosa
Depois ressoou um pavoroso trovo " arcan9o tinha
desaparecido 2esus caiu de 9oelhos e p8s!se a orar 3erceira
gota de sangue lhe tingiu a fronte , ab#bada da gruta tornou
a abrir!se , luz do c/u banhou segunda vez o corpo do
'rtir, e os an9os entoaram este canto
! , tua dor sublime, o teu sangue inocente, dar a paz
ao universo @l#ria a 2esus sobre a terraD @l#ria ao senhor
nos c/usD
CAPTULO II
I;?
O TREVO %A 'U%EIA
2esus continuava orando com a fronte colada no p#
Deus ouvia as s(plicas, todas em favor da humanidade 5eus
rogos foram atendidos, e o sangue que oferecia pelo pecado
alheio admitido
Huando 2esus se levantou, uma das gotas de sangue que
lhe tingiam a pura fronte, caiu no clix duma pequena e
modesta flor que se achava a seus p/s Ga sair da gruta, pois a
hora da sua priso se aproximava, e queria antes despedir!se
dos seus tr&s discpulos favoritos, quando ouviu uma voz
imperceptvel, que lhe dizia-
! 5enhor, inclina os teus divinos olhos para a terra e
olha!me= teus castos lbios, no h muito, tocaram!me as
inodoras folhas= o precioso sangue da tua fronte caiu no meu
clice sem perfume 4u sou a planta mais humilde e modesta
de Gsrael Ningu/m me olha, ningu/m me colhe com amor,
porque no tenho virtude alguma= mas 3u podes fazer!me
imortal concedendo 0 minha famlia uma gota de sangue em
cada uma de suas pequenas e brancas folhas, e um pouco de
perfume de tuas divinas palavras na semente que me
fecunda 5enhor, no te vs sem conceder!me o que te peoD
2esus inclinou os olhos para o cho
,quela voz nascia do clice duma flor
*ompadecido o Nazareno ante a s(plica daquela d/bil
planta, disse!lhe-
! 2 que presenciaste a minha amargura, 9 que Deus te
concede por um momento o dom da palavra, o meu sangue
esmaltar desde esta noite as tuas brancas folhas, e a essas
tr&s manchas a9untarei a coroa de espinhos que hei de cingir
amanh na cidade, e o delicado perfume dos lrios do vale do
7abulon
I;B
! 5enhor, 5enhor, bendito se9asD tornou a tenra
florzinha
Desde ento cresce nos campos uma flor silvestre, que
ostenta em suas brancas folhas tr&s manchas de sangue que
entrelaam uma coroa de espinhos
4sta flor chama!se tre)o da 'ud.ia<
2esus saiu da gruta e encaminhou!se para as velhas
oliveiras onde tinha deixado os discpulos Dormiam
profundamente *risto esteve!os contemplando em breve
espao e estremeceu 3inha escutado o rudo de armas pelo
caminho de *edron, e a luz dos archotes resplandecia na
escurido da noite %inham prend&!lo 5ua hora aproximava!
se Gnclinou!se para o cho e, pegando por um brao a 2oo,
sacudiu!o brandamente, dizendo-
! Pedro, 3iago, 2oo, levantai!vos, porque esto perto
os que v&m por 'im
"s ap#stolos levantaram!se Naquele momento o
resplendor dos archotes banhou a modesta parede do horto
de @etsemani "s ap#stolos viam caminhar aquelas luzes,
ouviam o rudo das armas e as pisadas que se aproximavam,
e olhavam 2esus como perguntando!lhe que era aquilo
2esus sorriu!se de um modo doloroso, e disse!lhes-
! 4stai alerta, porque se aproximam os que ho de
prender!me
5eria uma hora da noite
! "s que vo prender!teC disse Pedro com assombro
"hD Gsso no suceder- tenho a espada pendente do cinto= na
gran9a de @etsemani temos oito amigos decididos e n#s tr&s,
onze- quem se atrever a tocar!teC ,i dos que te ponham a
mo sobre o ombroD
I;F
! Pedro, exclamou 2esus, tudo o que vai acontecer!me,
est escrito l em cima W vontade de 'eu Pai 3u no fars
nada
! 5aiamos ao encontro dos que v&m prender!me
2esus caminhava adiante, triste, mas sereno 5aa ao
encontro dos seus inimigos, como para lhes evitar trabalho
Huando estava perto da parede, voltou a cabea e chamou
2oo, que se colocou ao seu lado
2esus p8s amorosamente uma das mos sobre o ombro
do discpulo favorito e disse!lhe-
! Huando me achar em poder dos meus inimigos,
dirigir!te!s 0 porta Dourada ,li est minha 'e com as
santas mulheres que a acompanham 4u tenho!te sempre
querido como a um irmo= minha 'e, como a um filho=
depois da minha morte, toma!a por 'e, que 4la te tomar
por filho , ti a recomendo, porque so muitas as dores que
lhe resta sofrer
2oo deixou cair a cabea dolorosamente sobre o peito
do seu 'estre ,bundantes lgrimas lhe rebentavam dos
olhos, azuis como o c/u Depois continuaram o caminho-
2esus, adiante= os tr&s discpulos, mudos, comovidos, atrs
Huando chegaram a uns vinte passos de @etsemani, 2esus viu
2udas, que caminhava adiante da multido Parou e exalou
um suspiro, dizendo-
! 4is o que me vendeu
Gnclinou a fronte para o cho e esperou
3iago, aproveitando o momento, correu a acordar os
companheiros Pedro, com a espada escondida debaixo do
manto, olhar ameaador e fronte alta, colocou!se ao lado do
'estre disposto a tudo 2oo chorava em sil&ncio recordando
as (ltimas palavras de 2esus
I;I
CAPTULO III
OU EU#
6etrocedamos algumas horas 3omemos a narrao
desde o momento em que 2udas, deitando ao cho o po que
2esus lhe havia entregado, saiu desesperadamente do
cenculo arrancando os cabelos e gritando-
! 5ou um miservelD
*omo dissemos, a casa de $eli distava uns duzentos
passos do palcio de ,ns, onde se tinham reunido os 9uzes
para esperarem o traidor No vestbulo achavam!se alguns
soldados mercenrios aquecendo!se ao redor de um largo
braseiro, porque a noite estava fria ,queles filhos da guerra
maldiziam em voz baixa o medo e receio do sumo sacerdote,
que os tinha em vela= mas a disciplina obrigava!os a
permanecer naquele posto, esperando ordens
Depois do vestbulo achava!se uma ante!sala quadrada
onde estavam os criados do sin/drio e os sacerdotes
comentando tamb/m em voz baixa, o acontecimento da
noite, que assim os tinha velando e sem esperana de
dormirem Passando esta ante!sala, achava!se um comprido
corredor alumiado com archotes resinosos, colocados numas
braadeiras de ferro nas paredes Depois, levantado uma pesa
cortina de pano de 3iro, entrava!se no salo de cerim8nias do
pontfice ,ns
4ste salo, coberto de tapetes e sem outros m#veis que
uns divs de seda amarela e u:a mesa sobre que se viam
pedaos de papiro e apresto de escrever, uma bolsa de couro,
parecendo cheia de prata, estava pobremente alumiada por
duas lAmpadas de bronze ,quela opaca claridade no
I;P
deixava ver bem os rostos miserveis que deviam conduzir,
cegos de ira, ao cume do @#lgota, 2esus de Nazar/
2udas chegou ao vestbulo da casa de ,ns, agitado e
tr&mulo como o homem que vai cometer uma ao infame "
soldado que passeava por diante da porta com a lana no
brao, ao ver aquele homem de m catadura, cruzou a lana
diante dele, proibindo!lhe a entrada
! 4speram!me, disse 2udas Por que me det/nsC
! 6omano, deixa!o passar, disse um dos criados do
pontfice- esse homem / o que o entrega
! 4spera!me um instante, disse o soldado= e entrou no
salo onde os sacerdotes se achavam reunidos em n(mero de
mais de quarenta
, tardana do discpulo traidor, tinha!os impacientes
4ra tal o dese9o de verem *risto no @#lgota, que cada
minuto que passava era para eles um tormento Huando
entrou o arauto e disse- .2udas espera1, ouviu!se uma
exclamao de gozo
! O!lo entrar, disse ,ns= e foi sentar!se com tr&s
fariseus 9unto da 'esa
Pouco depois, levantou!se a cortina e 2ud entrou no
salo
! %ens, pois, entregar!nos o teu 'estreC lhe perguntou
,ns
! 4st claroD , que havia de virC 4st perto desta casa=
apenas o separam uns duzentos passos de v#s, mui
sossegado, em casa de $eli, celebrando a Pscoa
! 4 toleramos, sbios sacerdotes, exclamou cheio de ira
,ns, que esse @alileu celebre a Pscoa em quinta!feiraC
! "raD disse 2udas em tom de desprezo No tendes
tolerado que cure os enfermos ao sbadoC Hue vos admira
poisC ,s vossas leis, os vossos costumes, olha!os com
I;S
desprezo 4le segue um caminho novo que a v#s no
conv/m, e tratais de desfazer!vos d:4le= creio!o 9usto e por
isso venho unir!me convosco
! 4xplica, pois, o teu plano- os soldados que pediste
esperam!te, disse um ancio
! No h pressa= este neg#cio deve levar!se com
cuidado, pois do contrrio podia servos fatal
! *r&s tu que 2esus e os seus discpulos se defenderoC
! 2esus no / homem de guerra, / de paz 4le mesmo
apresentar as mos para que as ateis Huanto aos seus
discpulos, excetuando Pedro, os outros bastante faro em
chorar a sorte do 'estre
! 4nto que esperamosC perguntou um sacerdote
! Hue 2esus saia de 2erusal/m, disse 2udas , cidade
est cheia de forasteiros= muitos deles, e particularmente os
da tribo de Qabulon, os moradores das praias do mar da
@alil/ia, conhecem!no e querem!lhe como a um profeta <m
grito de 2esus armaria mil braos para o defenderem
,creditai!me- neste neg#cio no conv/m precipitar!nos
! 'as se sai de 2erusal/m escapa!se das nossas mos,
exclamou ,ns
! 4u sei onde dorme esta noite, e ali o pilharemo
desprevenido
! ,quele a quem eu der um bei9o / 2esus
,ns tornou a perguntar-
! , que horas tencionas sair com os soldados
! Huando a noite se achar no meio da sua carreira
Preciso de vinte homensC
! N#s tamb/m te acompanharemos, disseram alguns
ancios
,ns chamou um criado e disse!lhe em voz baixa-
I;M
!'alco, tu /s um servidor= irs com 2udas prender
2esus 5e 2udas nos trair, apodera!te dele
! 3endes!me perguntando muitas coisas, e nada me
dizeis da paga 3ornais atrs com o prometidoC
,ns no respondeu= mas pegando na bolsa de couro
que estava em cima da mesa, deitou!a aos p/s de 2udas
dizendo-
! ,i tens a recompensa prometida
2udas pegou na bolsa, e contou com vagar o dinheiro
que continha
2udas saiu para o vestbulo acompanhado de 'alco, e
pegando num banco aproximou!se do braseiro onde estavam
os soldados
! Deixai!me aquecer, meus amigos, disse!lhes, porque
estou frio como o gelo
<m romano levantou!se do assento, e travando do
brao de 2udas, disse!lhe com spero tom-
! No profanes o honroso nome da amizade, miservel
9udeu- um traidor como tu no deve sentar!se ao lado dos
soldados de 3ib/rio
4, empurrando!o bruscamente, repeliu!o do lugar que
ocupava
" mau ap#stolo levantou!se, por fim, do banco e,
dirigindo!se a 'alco, disse!lhe-
! 2 so horas %amos
'alco entrou no salo e disse a ,ns o que 2udas lhe
recomendara
! ,tai!o e parti, disse o pontfice
! N#s o acompanharemos, acrescentaram alguns
ancios, que talvez ignorassem que iam desonrar suas cs
naquela noite
I?T
, comitiva percorreu em sil&ncio as desertas ruas de
2erusal/m= saiu pela porta D#ria em busca do caminho do
*edron e da gran9a de @etsemani
! %e9a o homem a quem buscamos, disse 2udas
! 'as ali ve9o dois homens- qual deles /C
! ,quele a quem eu der um bei9o na face
2esus aproximava!se dos soldados com passo ma9estoso
e adem sereno 2udas adiantou!se alguns passos " claro
dos archotes alumiava os semblantes dos infames opressores
de 2esus ,queles rostos tinham alguma coisa de infernal "s
ancios que iam na comitiva cobriram o rosto com o extremo
do manto, como envergonhados da ao que iam cometer e
que lhes desonrava as cs 2esus parou " ap#stolo traidor
chegou at/ onde estava o 'estre, e disse!lhe com acento
carinhoso-
D %eus te guarde! Mestre<
D Amigo! a &ue )iesteG lhe perguntou 2esus
2udas lanou os braos em volta do pescoo de 2esus e
imprimiu um bei9o carinhoso na face d:,quele a quem
acabava de vender to miseravelmente
2esus, vendo o tropel que se aproximava, perguntou
com carinhosa voz-
D A &uem -us"aisG
'alco e alguns ancios responderam!lhe-
D A 'esus Na>areno<
D ou Eu, disse com ma9estade *risto, adiantando!se
um passo
"s soldados retrocederam e em alguns foi tal o
aturdimento que caram ao cho
2esus estendeu o brao na direo dos soldados e,
imediatamente, todos se puseram em p/
" Nazareno perguntou segunda vez-
I?+
D A &uem -us"aisC
D A 'esus Na>areno, disseram algumas vozes com
temor
D %isseD)os &ue sou Eu< e me -us"ais a Mim! dei5ai
esses 4 indicou com um gesto os ap#stolos, que
contemplavam com temor aquela cena
Neste momento, 'alco, com os cord/is na mo
esquerda, aproximou!se de 2esus e p8s!lhe a mo direita
sobre o ombro Pedro no p8de suportar o atrevimento
daquele miservel que ousava p8r a mo no 'estre e, tirando
a espada, descarregou uma terrvel cutilada em 'alco, que o
fez cair ao cho de costas dando um grito doloroso " arro9o
de Pedro produziu um momento de pAnico entre os
perseguidores de 2esus ,lguns soldados apelaram para a
fuga, temendo, sem d(vida, que os outros discpulos
tomassem parte na refrega " senturio romano
desembainhou a espada, e disse com toda a fora dos
pulm)es
! 5ois soldados de 3ib/rio, e fugis diante de um
homemD *ovardesD ,i do que no cumpra o seu deverD ,
pena das baquetas lhes cair nas costasD
4sta ameaa deteve os fugitivos, que se agruparam ao
redor do senturio 4ntretanto, 2esus tinha dito a Pedro-
D Mete a es+ada na -ainha# O "9*i5 &ue me deu meu
Pai! no tenho de o -e-erG
Depois, inclinou!se para o cho, p8s a mo na ferida de
'alco, e curou!\
'alco tivera a orelha arrancada, e achava!se bom,
como se nada lhe houvesse sucedido " miservel, em vez de
agradecer o milagre que nele acabara de operar 2esus, atirou!
se como uma hiena a 4le e comeou a at!lo
4nquanto o atacavam disse!lhes com doura-
I?;
D Como a um *adro sa6stes +ara +renderDme! "om
es+adas e +aus! e &uando esta)a "on)os"o ensinando no
tem+*o! no me +rend6eis<<< Mas . +re"iso &ue se "um+ra
a Es"ritura<
"s discpulos tinha desaparecido, exceto Pedro e 2oo,
que, escondidos atrs de uma rvore, observaram,
transpassados de dor, os insultos que prodigalizavam ao
'estre
, comitiva saiu de @etsemani ,o passar a torrente
*edron, 'alco empurrou brutalmente 2esus para que saltasse
o regato " Nazareno caiu de 9oelhos sobre uma durssima
pedra <m doloroso gemido lhe saiu do peito- um trovo
prolongado, ressoou no espao "s verdugos agruparam!se
com temor <m dos criados lanou ao cho o archote que
levava na mo e deitou a correr, possudo de pAnico 'alco
puxou com fora a corda= mas coisa estranhaD 2esus em vez
de cair de costas, p8s!se em p/ " seu formoso semblante,
pelo qual comeava a correr o suor que em breve devia ser
to copioso, respirava uma doura, uma mansido infinita
"s ancios, os soldados e os criados de ,ns, que desde
a sada de @etsemani no tinham cessado de dirigir!lhes
palavras grosseiras e insultos miserveis redobraram seus
horrveis gritos ao entrar na cidade
'rio *(rcio, o senturio romano, disse em voz baixa a
um dos soldados que se achava ao seu lado-
! *reio que o preso vale, pelo menos, tanto, 4le s#,
como todos os hip#critas rezadores da sinagoga que
especulam com o fanatismo do povo Pilatos, no devia
empregar seus soldados nestas intrigas sacerdotais
, comitiva tornou a entrar em 2erusal/m e, tornando a
fralda do monte D#ria, chegou 9unto da esplanada do cerro
de ,cra, e parou 0 porta da casa de ,ns
I??
CAPTULO IV
O MIL0A8RE E A POM/A
*aifs desempenhava no ano da morte de 2esus as
fun)es de sumo sacerdote de 2erusal/m= mas por defer&ncia
com seu sogro ,ns, cu9a idade era muito adiantada,
conveio!se em que to depressa 2esus casse nas mos dos
seus perseguidores, fosse conduzido 0 casa deste (ltimo
, comitiva que conduziu o Nazareno desde a gran9a de
@etsemani, to depressa chegou diante do trio da casa de
,ns, comeou a soltar gritos de entusiasmo e alaridos de
prazer
"s gritos de U .,bram caminhoD W 2esus, o falso
profeta, o embaraador, o feiticeiroD1 U e outros mil insultos
que os criados do sogro do pontfice prodigalizavam ao
Nazareno 0 porta da rua, cessaram de repente apenas um dos
criados de ,ns se apresentou e disse que o seu senhor
esperava o r/u 2esus penetrou no salo " cruel 'alco
empurrava!o bruscamente, dando!lhe punhadas nas costas
3odos os 9uzes fitaram o rancoroso olhar no manso
*ordeiro que tinham diante " rosto de 2esus estava
demudado, seu manto feito em farrapos, e a barba ensopada
de sangue ,ns, vendo o futuro 'rtir, sentiu transbordar!
lhe o #dio no corao
! 4 /s 3u 2esus de Nazar/C lhe disse descarregando uma
terrvel punhada sobre a mesa 3u, um miservel mendigoD
3anta audcia num homemD 2uzes- eis o que se chama o
'essias, o que se institua rei da 2ud/ia, o que se atreve a
ameaar!nos com a runa do templo, o que nos chama raa de
vborasD 4 /s 3u o que queres fazer o que ningu/m tem
I?B
feitoC *om que autoridade dizes tudo issoC 6esponde, fala,
hip#crita @alileu
2esus, que tinha fortemente atados os braos atrs das
costas, levantou com humildade a cabea, e disse-
D Por &ue me +erguntais a mimG Perguntai aos &ue
ou)iram o &ue Eu *hes disse e ensinei; e*es -em sa-em o
&ue Eu disse<
,penas 2esus acabou de falar o miservel 'alco, que se
achava ao seu lado, levantou a mo e deu!lhe uma terrvel
bofetada 2esus caiu no cho
2esus levantou!se 5ua face tinha impressa, como uma
vermelha papoula, o guante do covarde verdugo Duas
lgrimas se lhe desprenderam dos olhos, e olhando o seu
esbofeteador dum modo cu9a bondade e compaixo nunca
poderia exprimir bastante nem o pincel do pintor, nem a pena
do poeta, disse-
D e ?a*ei ma*! mostraDme em &ueG e se ?a*ei -em!
di>eDme +or&ue me -ates<
,quele miservel, que faltava ao respeito que se deve
0s leis e aos 9uzes, aquele verdugo que to iniquamente
tratava 2esus, no foi admoestado por nenhum homem do
tribunal Parece incrvel que o #dio cegue os homens a tal
pontoD "s sacerdotes buscavam 2esus para o 9ulgar
4ncontraram!no e a lei via!se caleada " (ltimo dos
criminosos que gemiam nas (midas masmorras da cidadela
,nt8nia, teria encontrado um defensor, teria sido amparado
pela lei
" #dio dos homens amesquinha!os, 0s vezes, at/ ao
crime, e leva!os quase sempre 0 loucura
I?F
, humildade de 2esus irritou de tal modo ,ns, que,
levantando!se do seu assento e esquecendo a compostura que
lhe impunha o cargo que desempenhava, comeou a gritar-
! Levai!o 0 casa de *aifsD ,li est reunido o tribunal e
o esperam as testemunhas que o acusamD No quero ver na
minha presena esse miservel
! %amos, falso Profeta, exclamou 'alco, cuidado com
a lngua na presena do pontfice, se no queres que a minha
mo te afague pela segunda vez a face
4nto um soldado p8s uma cana nas mos de 2esus,
passando!a barbaramente pelos cord/is que lhe prendiam os
pulsos
! 2 tens cetro, disse 'alco soltando uma brutal
gargalhada= vamos ao pontfice para que te ponha a coroa
4 tirou 2esus do salo quase a rastos
Oerocidade incrvel U 2esus, o manso cordeiro caiu
sobre a dura lage e, ao levantar!se o seu formoso semblante
achava!se coberto de sangue
,quele sangue e aquela cana irris#ria que promoveu a
hilaridade dos verdugos, deviam ser mais tarde a semente da
redeno, o cetro do mundo
4ntretanto em casa de *aifs, possudos de uma
mesquinha paixo de vingana, achavam!se reunidos
multido de ancios, escribas, sacerdotes e fariseus
Nicodemos achou!se tamb/m naquela assembl/ia 'udo,
num extremo da sala, esperava o Nazareno, do qual se
nomeara em segredo, defensor De vez em quando os olhos
de *aifs encontravam!se com a impassvel figura de
Nicodemos , presena do amigo de 2esus no salo
desconcertava o pontfice, que se valera de subterf(gios
indignos da sua dignidade para o prender ,li estavam
tamb/m testemunhas falsas
I?I
" Nazareno era esperado com impaci&ncia " #dio
cegava a razo dos 9uzes , lei ia calcar!se 9ulgando o que
cuidavam um transtornado da ordem p(blica
Pedro, que temendo o furor dos soldados, se escondera
atrs dumas rvores no momento da priso, to depressa
desapareceu a comitiva levando o 'estre, cobrou Animo "
valor tornou a reanimar!lhe o corao e, embuando!se no
manto encaminhou!se para 2erusal/m, resolvido a saber o
que acontecera ,o atravessar a torrente do *edron, topou
com um homem que reconheceu por um discpulo de 2esus
! Huem /sC lhe disse
! 5ou 2oo, discpulo de 2esus, lhe respondeu o homem
com admirvel serenidade, atendendo 0s crticas
circunstanciais por que passavam
! 5igamos o 'estre, tornou Pedro
! , pobre 'e e a arrependida 'adalena, que acabo de
deixar no vale de 2osaf, pediram!me o mesmo
! 4nto vamos
"s dois ap#stolos entraram em 2erusal/m 4m breve os
gritos dos verdugos lhe fizeram encontrar a comitiva
,lgumas 9anelas comeavam a abrir!se " povo perguntava a
causa daquele alvoroo
2esus tinha muitos amigos no arrabalde de "fel
Ningu/m, contudo, se atreveu a defend&!lo
6oto o vestido, o rosto ensanguentado, plido pela dor
e pelo cansao, caminhava quase desfalecido entre os seus
verdugos Huem podia reconhec&!lo naquele estadoC 4ra
aquele $omem que, pouco antes, rodeado de gloriosa
admirao, tinha entrado pisando flores na cidade santaC
2oo e Pedro choravam em sil&ncio sob as pregas dos
mantos, vendo!o passar
Por fim, 2esus chegou 0 casa do pontfice *aifs
I?P
"s dois discpulos entraram tamb/m confundidos entre
a multido De um extremo da sala podiam ver, ouvir tudo
sem inspirar suspeitas Depois todos os olhares tinham um
ponto onde se reconcentrassem- o humilde 'rtir
*aifs, vendo entrar 2esus, exalou um grito de
satisfao 4ra o tigre ao ver a indefesa presa, a hiena em
presena da ferida ona, o lobo ante o manso cordeiro
Naquele momento Nicodemos procurou no salo talvez
um amigo que se pusesse com ele da parte de 2esus 2os/ de
,rimat/ia, que acabava de entrar, ainda no tinha sido
convocado, levantou o extremo da capa fazendo!lhe ao
mesmo tempo um sinal de intelig&ncia ,queles dois homens
tinham!se compreendido No sem muito esforo procuraram
reunir!se
, multido que rodeava a casa do pontfice era imensa
Ga!se 9ulgar um Profeta, um Deus- isto era curioso
*aifs cravou os negros olhos em 2esus " sumo
sacerdote, que teria uns quarenta anos de idade, e cu9as
fei)es extremamente pronunciadas tinham alguma coisa de
feroz, vestia uma t(nica branca, e um largo manto cor de
absinto, cu9as fran9as de ouro lhe corriam pelos ombros
5obre o peito brilhava!se o e?od do sacerdote, e na cabea
descansava!lhe a tiara do pontfice 4ra o terceiro poder de
2erusal/m- governador depois de Pilatos, tetrarca depois de
$erodes
! ,proximai!me esse embalador, disse com voz de
trovo
'alco obrigou 2esus a caminhar at/ o pontfice
2esus em p/ diante do tirano, plido, desfalecido, tinha
o olhar docemente fito num ponto da sala, onde estavam os
seus dois discpulos favoritos, Pedro e 2oo
I?S
*aifs chamou as testemunhas ,lguns homens
apresentaram!se diante do tribunal Nicodemos, ao ver
aqueles homens, no pode dominar a indignao que lhe
inspiravam e, adiantando!se um passo, disse-
! *aifs, no d&s cr/dito a esses homensD Pensa que
2esus, em vez de ser um falso Profeta, pode ser um 4nviado
do nosso Deus, um escolhido do 5anto dos 5antos
! Nada bom sair da @alil/ia, disseram as escrituras, e
2esus / @alileu, exclamou *aifs
! 5im, mas 2esus nasce< em 7el/m, e a 4scritura diz-
! .5air um Profeta da raa de Davi e da cidade de
Davi1
! Ws tu o defensor desse $omemC perguntou o
pontfice
! 5ou fariseu, respeito a lei 5e 2esus / culpado, medi!o
com a mesma medida que aos outros homens , lei deve ser
reta como a torre de Davi, firme como as rochas do 5inai
*aifs, col/rico, p8s!se em p/ segunda vez e dirigiu!se
0s testemunhas depois de enviar um olhar de desprezo a
Nicodemos
! Oalai v#s, lhe disse Hue sabeis desse embaladorC
! N#s, disseram vrias testemunhas, ou)imoD*o di>erA
Eu destruirei o tem+*o ?eito S mo! e em tr4s dias
edi?i"arei outro no ?eito a mo<
D No res+ondes a*guma "oisa ao &ue atestam "ontra
tiG
2esus abrangeu com um olhar de compaixo as
testemunhas, e guardou sil&ncio
! Hue fale, que se defendaD gritavam alguns
2esus guardava sil&ncio "s murm(rios cresceram
*aifs gritou com acento ameaador-
D (s tu o Cristo! o 8i*ho de %eus -enditoC
I?M
D Eu sou! respondeu humildemente 2esus= e )ereis o
8i*ho do 0omem sentado S direita do +oder de %eus e )ir
"om as nu)ens do ".u<
*omo se as palavras do dulcssimo 2esus houvessem
sido um insulto lanado ao pontfice, este comeou a dar
gritos rasgando as vestes e arrancando as barbas
! 7lasfemouD 7lasfemouD bradava *aifs, levantando
as mos e fazendo gestos indignos do honroso cargo que
desempenhava Para &ue +re"isamos! ;9 de testemunhasG
,gora ouvistes a blasf&mia= que vos pareceC
! W r/u de morteD W r/u de morteD gritavam vrios
ancios
! , cruzD , cruz para o blasfemoD repetiam os fariseus
4nto houve um momento horrvel 3odos gritavam, todos os
rostos estavam alterados *aifs dirigiu!se aos sacerdotes= o
povo uivava pedindo uma vtima Ningu/m se entendia
Nicodemos cobriu a cabea com o manto, para no ver
os ferozes rostos dos 9uzes, para no ouvir as terrveis
blasf&mias dos seus companheiros 2os/ de ,rimat/ia imitou
o amigo, e ambos sairam do salo precipitadamente,
murmurando-
! Ou9amos deste lugar onde a lei empunha o punhal do
assassino, onde os 9uzes tem o aspecto dos verdugos
2oo tamb/m abandonou sobressaltado a sala
,o passar 9unto a Pedro, disse!lhe-
! 2esus est perdido= corro a consolar sua 'e
Pedro, absorto, aterrado com o que acabava de
presenciar, foi esconder!se entre a multido, receoso que o
reconhecessem
4ntretanto a raiva, o frenesi tinha!se apoderado dos que
rodeavam 2esus <ns escarravam!lhe no rosto, outros
aoitavam!no com varas e os soldados descarregavam!lhe
IBT
terrveis bofetadas sobre a divina face 2esus entregue 0 plebe
soldadescas, foi na casa do pontfice ob9eto da mais
sangrenta mofa
! Oaz um milagre, falso ProfetaD lhe dizia um
! ,divinha como se chama o que te d esta bofetada,
sbioD repetia outro
,s gargalhadas, os gritos, os uivos atroavam aquelas
malditas ab#badas Nunca o homem mais desprevzel da
terra se vira to cruelmente escarnecido pelos seus 9uzos "
(ltimo dos criminosos tem sempre um amigo que o respeite=
a lei= e algu/m que se compadea dele 2esus o 6edentor do
homem, o purssimo lrio de Nazar/, o 5alvador de Gsrael,
achou!se s# com sua dor nas mos dos seus ferozes
verdugos Pedro, aturdido, medroso, e sem compreender o
que via, procurou abandonar a sala e foi refugiar!se no trio
da casa do pontfice, onde alguns criados se aqueciam ao
redor de uma fogueira "cupou um assento ao lado daquela
gente que comentava com alegre alvoroo o acontecimento
! "hD " ilustre pontfice *aifs estar contente com os
seus servos, dizia um criado ,o abandonar o salo, disse!
lhes- o*dados! eu )os entrego este Rei; trataiDo "omo
mere"e< 4 os soldados postaram!se bem
! W costume romano, e que chegou a Gsrael, disse outro,
que as legi)es celebrem com regozi9o a subida dum
imperador
! 4stou certo, ob9etou um terceiro, que a esses imbecis
no ocorre coroar o novo 6eiD
! 4nganas!te, Nacor= 'alco teve uma boa id/ia
*oroaram!no de espinhos
4sta frase terminou com uma gargalhada 4nto
aproximou!se u:a mulher que exercia o mister de porteiro
IB+
3eria trinta anos= era alta, morena e de adems desenvoltos
Levava uma roa na mo esquerda e um fuso na direita
! 'uito madrugas ho9e, 6ebeca, lhe disse um dos que a
rodeavam
! 7oaD Deitou!se algu/m nesta casa esta noiteC
respondeu a mulher 4 fitando os penetrantes olhos na
im#vel e atemorizada figura de Pedro, continuou, pondo a
mo no ombro do ap#stolo, e desviando um pouco o manto
para lhe ver melhor a cara-
! No estavas tu com 2esus NazarenoC
3odos os olhares se fitaram nele Pedro estremeceu=
mas era preciso dar uma respostas e respondeu perturbado-
D Mu*her; nem o "onheo! nem sei o &ue di>es<
Pedro, no se 9ulgando seguro naquele lugar levantou!
se e saiu do trio ,o transpor o umbral parou 4nto ouviu o
penetrante canto dum galo , mulher seguiu Pedro e tornou a
dizer aos que estavam 0 porta-
! 4sse homem / dos de 2esus
! Porque me perseguesC respondeu Pedro No te disse
9 que o no conheoC
,lguns homens o cercaram= mas no meio dos insultos
que comeavam a levantar!se, ouviu Pedro segunda vez o
canto prof/tico do galo <m dos presentes disse,
aproximando!se do ap#stolo-
! Por que negas que o conhecesC 6ebeca tem razo- tu
/s @alileu como ele, e vimos!te no templo, ouvindo suas
patranhas
Pedro 9ulgou!se perdido 5ua razo ofuscou!se e o
medo p8s!lhe na lngua palavras e 9uramentos que mais tarde
deviam causar!lhe dolorosas lgrimas de arrependimento
IB;
! No o conheo, disse- o Deus de nossos maiores no
d& ouvidos 0s minhas s(plicas, se tendo tido contato com
esse @alileu de quem falais
4ste 9uramento pareceu tranquilizar os que o rodeavam
Pedro abandonou aquele lugar= mas, apenas teria caminhado
doze passos, quando o galo cantou pela terceira vez 4nto
lembrou!se das prof/ticas palavras do 'estre e amargo e
doloroso pranto lhe correu dos olhos
" dia comeava a despontar Pedro escondeu!se no vo
duma porta "s servos do pontfice, que tinham posto a 2esus
uma coroa de na-La cu9os agudos espinhos se lhe cravavam
dolorosamente na fronte, e um velho tapete sobre os ombros
para imitar a p(rpura dos imperadores, cansados de executar
a sangrenta zombaria, dispunham!se a arrastar o preso 0 casa
de Pilatos, procurador romano, que devia assinar a sentena,
como (nico 9uiz que tinha direito de vida e morte sobre os
r/us <m centurio deteve a comitiva, dizendo-
! ,inda / muito cedo para incomodar Pilatos= esperai
que o sol possa iluminar o rosto do 6/u, e do 9uiz "s
fariseus tem medo de o sentenciar de noite
4nto 2esus foi encerrado num quarto que recebia a luz
por um grande <ma teia de abeto alumiava aquela
habitao ,o seu vermelho e oscilante claro, podiam ver!se
2esus e os soldados que o guardavam ,lguns curiosos iam
contempl!lo atrav/s dos ferros da grade, aonde lhe
prodigalizavam toda a casta de insultos
CAPTULO V
O UICI%A
IB?
2oo havia!se reunido com a %irgem e 'adalena a
poucos passos da casa do pontfice *aifs , 'e de 2esus e
a dolorosa castel de 'gdala tinham passado parte da noite
sentadas no madeiro, 0 porta dum carpinteiro ,li esperavam,
com o corao traspassado de dor e os olhos cheios de
lgrimas, que 2oo lhes participasse o resultado da sentena
! Hue / de meu OilhoC exclamou 'aria com doloroso
acento
2oo no p8de responder , profunda amargura do
discpulo foi para aquela 'e uma revelao terrvel
Decorreu um breve momento sem que ningu/m se atrevesse
a interromper aquelas lgrimas, aqueles soluos No meio
daquele sil&ncio ouviu a %irgem numa casa pr#xima, que
permanecia fechada, o estridente som duma serra que cortava
madeira, e a pancada seca dos martelos que batiam pregos
,quelas pancadas retumbavam de modo doloroso no corao
de 'aria Pouco depois viram dirigir!se um homem para
aquele lugar, parar diante da casa e bater
! Huem /C disse de dentro uma voz varonil
! ,bre, 2ac#= sou eu, 'alco, servo do sumo pontfice,
respondeu o de fora
" rudo cessou, e um homem com um lampio na mo
abriu a porta
! , paz se9a contigo, honrado carpinteiro, disse 'alco
'eu senhor manda perguntar!te como vo os trabalhos
! ,s cruzes de Dimas e de @estas esto se acabando= ai
asa tens- s# falta p8r!lhe o apoio para os p/s
! W que venho encomendar!te outro trabalho, tornou
'alco Precisamos de outra cruz para outro r/u, um falso
profeta
! ,hD Pois ento ser preciso que nos esmeremos
Disse!te de que madeira a quer o tribunalC
IBB
! Da mais pesada, da mais vil e desprezvel que se
conhea na 2ud/ia
! 4nto fa!la!emos de carrasco ou de enzinha= esta / a
rvore que mais abunda em Gsrael ,gora falta o tamanho
! Para que o povo ve9a melhor o r/u, fa!la!eis de p/s
mais alta que a dos dois bandidos
! 4nto ter quinze p/s de comprimento e o cruzeiro
oito, no te pareceC
! P)e, ento, mos 0 obra
! 3r&s horas bastam!me para a terminar
, poucos passos da casa, havia um grupo de gente que
rodeava um homem 4ste gritava com toda a fora dos
pulm)es, dizendo-
! 5im 5im eu sou Pedro, antes 5imoD sou @alileu,
discpulo de 2esus, verdadeiro ProfetaD 5ou um dos seus
ap#stolos= rasgai!me as vestes, despedaai!me as carnesD Hue
vos det/mC 5e h pouco, por um covarde escr(pulo, pude
negar o meu 'estre agora arrependo!me, reconheo!o,
admiro!o e adoro!\
! 4ste homem est louco, disse um soldado
4 o povo foi deixando s# a Pedro, em cu9os olhos
ainda no tinham secada as lgrimas 'aria, 2oo e
'adalena reuniram!se com Pedro, e este conduziu!os pelo
estreito corredor da casa do pontfice, em cu9o extremo se
achava 2esus encerrado , 'e dolorosa viu seu Oilho
atrav/s dos var)es duma 9anela 'al o conheceu= tal o tinham
posto os seus brbaros verdugos *aifs tinha mando deixar
livre a entrada para a plebe ver e insultar 0 sua vontade o
Nazareno 'aria chegou aflita e sua presena naquele lugar,
fez emudecer os curiosos , %irgem caiu de 9oelhos 9unto 0
grade, exclamando de modo indefinvel-
! Oilho da minha almaD
IBF
, dois passos da grade via!se um grupo cu9a dor era
imensa, 'adalena, 2oo e Pedro choravam, dirigindo atrav/s
da grade olhares dolorosos para 2esus
! 4u no tenho deixado de ver!te, minha 'e, desde o
momento da nossa separao, disse o 'rtir= bendita sers
entre as mulheres como bendito ser o fruto do teu ventre,
que ho9e / ob9eto de zombaria e escrnio
Naquela dolorosa cena as lgrimas substituram as
palavras= dor profunda, imensa, indescritvel= cruel amargura
a que a pena do homem no dar nunca o elevado sentimento
de que foi digna
4ntretanto, no trio da casa do pontfice, um homem
cu9o olhar tosco e receoso inspirava desconfiana,
perguntava aos soldados com preocupada e intranquila voz-
! W certo que 2esus foi sentenciado 0 morteC
! 3o certo como n#s estarmos aqui esperando que
amanhea para o levarmos 0 casa do 9uiz romano, responde
um soldado
! 4 no amaldioou ningu/mC No disse que um traidor
o venderaC
! 2esus suportou tudo com uma humildade
incompreensvel e pediu a Deus o perdo dos seus inimigos e
9uzes
2udas, pois este era o homem que fazia as precedentes
perguntas, afogando um doloroso gemido, saiu do trio e
encaminhou!se , ocultando!se na sombra, para a cidade de
Davi , medida que se ia afastando da casa do pontfice, seu
passo era mais precipitado, sua respirao mais cansada
Huando chegou 0 rpida ladeira da porta de 5ion, quase
corria
, bolsa que pendia do cinto do ap#stolo traidor, fazia
soar no fundo as trinta moedas de prata Huanto mais corria,
IBI
mais l(gubre e ameaador era o argentino som do dinheiro,
que levantava um eco doloroso no corao do miservel
2udas reconheceu naquele grupo de ancios alguns dos
9uzes do sin/drio, e parou <m horrvel sorriso apareceu em
seus lbios 5eus olhos brilhavam de modo sinistro @rossas
gotas de suor lhe saam da fronte e o cabelo e a barba
eriavam!se!lhe por momentos
! %ede o que o vendeuD disse um dos ancios
! 5im, eu fui o infame, o miservel, o traidor= este
dinheiro queima!me as mos= tomai!o, tomai!o, para nada o
quero
2udas estendeu a bolsa aos ancios, mas eles
retrocederam mostrando repugnAncia
! 4sse dinheiro / teu, disse um= tu o ganhaste, n#s no
podemos aceit!lo
! Pois bem, eu ofereo!o como uma ddiva ao templo,
tornou o 9udeu
! 4sta ddiva mancharia a dignidade do 5anto dos
5antos
! ,ceitai, miserveisD gritou 2udas Hue maior mancha
para o Deus invisvel de Gsrael que as vossas ora)esC
4 dizendo isto, atirou com as moedas aos p/s dos
sacerdotes e, descendo as escadas do templo, dirigiu!se
desesperadamente para a porta Dourada
2udas correu muito, por fim parou a poucos passos da
fonte de 5ion, situada entre a porta dos Peixes e a porta
@rande ,li, 0 borda dum precipcio, crescia um sic8moro
cu9os robustos ramos se inclinavam para o abismo- um destes
ramos parecia um pau duma fora 2udas fitou nele os
espantados olhos, e sorriu!se de modo horrvel, como sorri o
suicida em presena da morte, com o sorriso de 5atans
IBP
! , vida, disse com cavernosa, / um gemido
interminvel, quando se tem, como eu, um inferno no
corao 4la, pois, valor, lancemos fora uma carga to
penosa
2udas desatou uma corda que levava ao cinto, atou um
extremo ao ramo do sic8moro, e fez no outro extremo um
lao corredio Depois p8s uma pedra em cima de outra
debaixo da rvore 5ubiu, com uma impassibilidade digna de
melhor causa acima daquelas pedras com muito cuidado para
que no cassem 'eteu a garganta no lao corredio e
empurrou a pedra com o p/, soltando uma horrvel blasf&mia,
cu9o eco aterrado foi perder!se nas concavidades do abismo
Depois o corpo de 2udas, horrivelmente desfigurado,
bamboleou sobre o abismo 4ra um cadver
No dia seguinte quatro homens cortaram a corda, e o
corpo de 2udas caiu no barranco Desceram a levant!lo, e
levaram!no para uma das vertentes do monte do 'au
*onselho, onde os sacerdotes tinham comprado um pedao
de campo com o dinheiro de 2udas para o enterrarem ,quele
campo chamou!se desde ento 0ad ed adom, preo do
sangue " sic8moro que servira de fora ao mau ap#stolo,
permaneceu em pe, suspenso sobre o abismo, por espao de
mil e quatrocentos anos Durante essa longa idade, nem um
caminhante, nem um pastor, nem um rabe, se sentaram 0
sombra daquela rvore maldita
CAPTULO VI
A 8AMLIA %E /ELID/ET0
IBS
, pequena distAncia da Porta dos 2uzes, na rua que
mais tarde o mundo cristo devia denominar 6ua da
,margura, via!se uma casa de modesta apar&ncia, sobre cu9a
porta comeavam a estender!se os delicados braos duma
parreia cu9as verdes folhas formavam um frondoso tendal
Debaixo desta ab#bada verde9ante, via!se o local dum poo e
um banco de pedra
5eram tr&s horas da madrugada Na estreita habitao
achava!se uma mulher sentada 0 cabeceira duma cama, onde
9azia enferma uma velha 2unto via!se um bero, onde dormia
um menino que apenas teria doze meses de idade
, 9ulgar pelo escudo, couraa, espada, capacete e lana
que pendiam de uns pregos da parede, aquela habitao devia
ser de um soldado 4 com efeito, 5amuel 7eli!7eth era o seu
dono= a velha enferma, sua me= o menino no bero, sua
filho , mulher que se achava 9unto da cama, era uma pobre
vizinha cu9o corao caritativo est sempre disposto a fazer
bem aos semelhantes *hamava!se 5erfia, e em breve o seu
nome devia imortalizar!se na via dolorosa do Nazareno
7eli!7eth era 9udeu ,penas o buo lhe apontava no
rosto quando sentou praa numa legio romana
5oldado mercenrio, tinha percorrido grande parte do
mundo sob a guia triunfante do 3ibre 5em f/, sem crenas
religiosas, o seu Deus era a guerra, os seus amigos a lana e
o capacete 5erviu "taviano ,ugusto nos (ltimos anos do
seu reinado, depois 3ib/rio 6ia!se dos deuses do "limpio e
do 5anto dos 5antos 3inha fora do atleta e foi elevado 0
dignidade de centurio 7eli!7eth comandou por espao de
alguns anos cem homens e, no ex/rcito adquiriu a reputao
de valente Por fim, em 2erusal/m, pediu licena ao 9uiz
Pilatos e contraiu casamento com uma 9ovem 9erosolimitana
IBM
7eli!7eth 9untou suas economias de soldado como o
dote de sua mulher, e dedicou!se ao com/rcio de cereais 5ua
nova profisso aborrecia!o por/m, amava entranhavelmente
sua 9ovem esposa, e suportava o aborrecimento dirigindo de
vez em quando algum olhar aos seus aprestos militares, que,
cobertos de p# e mofo, permaneciam pendurados na parede
da casa 7eli!7eth teria quarenta anos= era alto, fornido, e de
fei)es pronunciadas, ainda que bastante regulares 3inha
fama de questionador e irascvel entre os amigos, os quais
lhe puseram o opodo de 7eli!7eth em ateno 0 sua vida
errante e inquieta 5em embarao, 5amuel havia recolhido
em casa sua velha me, que 9azia numa cama sofrendo uma
paralisia geral que a tinha privado da fala e do ouvido
,quela pobre velha, surda e muda, nem sequer podia
agradecer os sacrifcios que por ela fazia seu filho
Huis a sorte que 5amuel perdesse a querida esposa e
ficasse com um menino de dez meses, de modo que o
soldado se achou s# com sua me seu filho 4nto uma
vizinha, a caritativa 5erfia, amiga da defunta esposa de
5amuel, ofereceu!lhe os seus servios
Na noite de que nos ocupamos, tinha 5amuel sado de
casa dese9oso de saber o motivo das vozes e do barulho que
interrompia o sono dos habitantes de 2erusal/m Gnformado
de tudo, regressou 0 casa quando 2esus foi preso, por ordem
de *aifs
! Hue sucede na cidade, 5amuelC perguntou 5erfia
! Hue 2esus Nazareno, o embalador, o charlato, foi
preso pelos sacerdotes, respondeu 5amuel
5erfia estremeceu e, levantando!se do assento que
ocupava, disse de um modo significativo-
! Gsso no / possvel, se no esto loucos os sacerdotes
5amuel soltou uma gargalhada
IFT
! No te rias, 5amuel= esse homem / um Profeta= e tua
mulher no teria morrido se lhe houvesse pedido com f/ a
sa(de
! "lha, 5erfia, respondeu 5amuel, eu era quase uma
criana quando, abandonando o ofcio de sapateiro, tomei as
armas nas legi)es romanas e sa de Gsrael 5abes o que me
induziu a essa resoluoC No foi outra coisa que o
fanatismo dos meus compatriotas No h 9udeu que no
sonhe com o 'essias anunciado pelos profetas Pobre gente,
sofrem o 9ugo romano, esperando o man do c/uD
5amuel soltou segunda gargalhada, e continuou-
! ,manh teremos um grande dia- o cume do @#lgota
ser concorrido 4u gosto muito desses espetculos= mais que
das fun)es do hip#dromo ora vers ora vers, amiga
5erfia, como nos divertiremos com esse feiticeiro que se
apelida filho de Deus
! "s fariseus no se atrevero a crucificar um homem
que no faz mal a ningu/m
! "ra, se eu tivesse to certa a imortalidade como a
morte de 2esus, viveria tanto tempo como o sol 2ulgas tu que
pode um homem como eu crer nos deuses do "limpo ou no
'essias de GsraelC Gsso fica para v#s, pobres fanticos 4u vi
2esus esbofeteado, escarrado, escarnecido, coberto o rosto de
sangue, feita em pedaos a roupa= 'alco p8s!lhe a mo na
cara- porque no fez um milagre na presena de todosC ,
ocasio era propcia- podia ter confundido os 9uzes e no o
fez= embaucadorD "hD Huando amanhecer ser conduzido ao
9uiz romano Digo!te que vamos ter um dia divertido- eu no
perderei nada Oelizmente, para ir ao *alvrio deve passar
por esta casa 'as, deixando esse mago embaucador, como
est minha meC
! Dorme
IF+
! 4 meu filhoC
! Dorme tamb/m
! 5im, sim, a velha tem o sono pesado, prel(dio da
morte, e o menino o sono da infAncia= s# eu vivo No /
verdade 5erfia, que a minha sorte / bem aziagaC 4sse
sil&ncio que me rodeia / horrvel 5e ao menos minha pobre
me no tivesse perdido o uso da palavraD
5amuel aproximou!se da cama de sua me e do bero
de seu filho 5erfia retirou!se
5amuel sentou!se 9unto do bero do filho e esteve!o
contemplando por alguns momentos
CAPTULO VII
CL2U%IA PROCLA
6etrocedamos " sol acabava de nascer 5eus raios
saiam como uma chuva de ouro sobre os mrmores brunidos
da cidade ,nt8nia e da cilndrica torre de Davi
P8ncio Pilatos passeava pelo camarim Nisto abriu!se
uma porta e apareceu u:a mulher moa e formosa
! ,hD disse o governador Ws tu *ludiaC , que devo a
felicidade de ter ver cedoC 'as ests agitada plidaD Hue
tensC
! 3ive um sonho horrvel espantosoD disse *ludia
! 6epele os teus receios, *ludia, respondeu P8ncio
sorrindo!se 4u bem sei que esta triste cidade de 2erusal/m
no / muito do teu agrado- mas que queresC " teu parente
3ib/rio diz que precisa que um homem como eu o represente
em Gsrael, e / mister resignarmo!nos a viver neste dest&rro
at/ o dia em que tenha piedade de n#s, que espero se9a
IF;
breve 4nquanto no chega esse momento, vive tranquila,
teu esposo e as suas legi)es velam por ti e, al/m disso, os
9udeus conhecem que so impotentes ante a espada triunfante
dos filhos do 3ibre
! No / isso, P8ncio, exclamou *ludia que, apesar das
palavras de seu marido, no recuperava a tranquilidade "
que neste momento me sobressalta, o que me aflige, no /
uma insurreio- / um sacril/gio, um deicdio, uma coisa
horrvel, espantosa, que vo cometer os sacerdotes, e que no
quero que sanciones com a tua aprovao
! 'inha *ludia, estranho as tuas palavras- rogo!te,
pois,que te expliques
! *onheces 2esus NazarenoC
! ,hD simD 4sse @alileu que percorre as tribos curando
enfermos= esse homem extraordinrio que prega uma lei
nova= o que diz que os homens so irmos= que o (ltimo ser
o primeiro no reino de seu Pai, e no sei quantas coisas mais,
cu9a significao no compreendo 'as que tem que ver esse
$omem com o teu sobressaltoC
! Pois 2esus foi preso esta noite pelos teus soldadosD
Nunca homem algum se viu to cruelmente maltratado
Desde quando escarram os filhos do 3ibre no rosto e
arrancam as barbas dos seus indefesos prisioneirosC
Pilatos olhou com assombro sua esposa 4le ignorava o
que ouvia
! *omo sabes issoC lhe perguntou 5aste da cidadelaC
! No, 9 te disse que tive um sonho horrvel
! No creio nos sonhos, querida *ludia
! Pois eu vi uma horda de homens ferozes que, armados
de lanas e paus, saiam pela porta das Rguias 0 meia noite
4ntre esses homens iam soldados teus, e ancios e sacerdotes
do conselho *hegaram ao horto das "liveiras ,li estava
IF?
2esus orando como de costume ,o verem!no, arremessaram!
se sobre 4le como lobos famintos 2esus com a sua imutvel
mansido, deixou atar as mos atrs das costas Depois
conduziram!no 0 cidade, 0 casa do pontfice Pelo caminho as
sangrentas zombarias, os cru/is golpes prodigalizaram!se
com criminoso luxo 2esus sofria tudo, dizendo com
dulcssima voz PerdoaD*hes! meu +aiA no sa-em o &ue
?a>em< P8ncio, P8ncio, em 2erusal/m, vai cometer!se um
crime espantoso " sangue do inocente @alileu cair sobre o
teu nome, manchando!o eternamente 3u /s 9uiz romano, s#
tu tens direito de vida ou de morte sobre os 9udeus 4u venho
rogar!te que no se9as c(mplice de to nefando crime
! 6epele vos temores, lhe respondeu Pilatos um tanto
preocupado 2uro!te que eu defenderei 2esus, caso ele no
tenha conspirado contra 3ib/rio, meu senhor
! No esqueas que tenho a tua palavra
! *onfia- a sentena de 2esus, se no for inimigo do
imp/rio, no se assinar
Pilatos tirou do dedo um grosso anel em cu9a prenda se
achava gravada a cabea de 3ib/rio, e entregou!o 0 esposa
! 4sts contenteC disse!lhe
! "h, sim, estou contente, porque vou evitar!te uma
infAmia
,penas P8ncio Pilatos acabava de dizer estas palavras,
quando *aio Rpio, centurio da guarda pretoriana, entrou no
gabinete *aio Rpio era espanhol, como Pilatos, e ambos
filhos de 3aragona " governador tinha em *aio um amigo
leal e um s(dito fiel
! 5enhor, os sacerdotes trazem!te um r/u para que o
9ulgues, disse *aio
Neste momento, chegaram ao gabinete do governador
as confusas vozes do povo, que da praa pedia 9ustia
IFB
! *aio, bradou P8ncio, abre todas as portas do palcio=
que entrem essas hienas
*aio correu a executar as ordens do seu senhor *ludia
saiu da cAmara= mas antes recordou ao esposo que lhe dera a
palavra de respeitar a vida de 2esus Poucos momentos
depois, tornou a aparecer *aio Rpio "s gritos continuavam
com dobrada f(ria
! 5enhor, disse *aio, os 9uzes do sin/drio, os
sacerdotes e os fariseus, recusam!se a entrar no palcio,
porque no querem manchar a consci&ncia entrando no dia
de Pscoa em casa de um homem que adora os deuses do
"limpo
! 'iserveis hip#critasD exclamou Pilatos 6aa
desprezvel e vil, que toca as trombetas para dar um
miservel dinheiro de cobre ao mendigo, e rouba em sil&ncio
um talento hebreu
W como neste momento os gritos de . U 2ustiaD 5aia o
governadorD ,parea P8ncio Pilatos1 U lhe chegavam com
mais fora aos ouvidos, continuou-
! 4st bem 2 que eles no querem vir a mim, irei eu a
eles *aio, forma a minha guarda pretoriana nas escadas do
palcio, coloca o meu trono porttil debaixo do primeiro
p#rtico, e p)e dois porta!estandartes ao p/ dos degraus %ou
ver o que querem de mim esses ces danados
*aio obedeceu " povo abrandou um tanto os seus
ferozes clamores em vista do aparato guerreiro que o 9uiz
romano ostentava Rpio colocou dois porta!estandartes no
primeiro degrau do palcio ,queles soldados, graves,
ameaadores, com a pele de leopardo sobre as espaldas, a
brunida couraa e o estandarte com a guia imperial
inspiravam!lhe respeito
IFF
Dentro em breve correu a notcia de que o 9uiz romano
ia apresentar!se
2esus, entretanto, achava!se no meio da praa, sofrendo
os insultos e golpes da plebe
Por fim apareceu Pilatos , presena do governador
reanimou os instintos sanguinrios e ferozes da plebe P8ncio
Pilatos estendeu em direo 0 praa um pequeno basto de
ouro que levava na mo, indicando que queria falar <m
sil&ncio profundo se estendeu pela praa " governador
abrangeu com um olhar de desprezo aquela multido e
depois, dirigindo outro de compaixo ao r/u, disse-
! 2ustiaD , cruz para 2esus NazarenoD exclamaram mil
vozes a um tempo
Pilatos estendeu segunda vez o basto, e disse-
! De que delito acusais esse homemC
4ntre os sacerdotes houve um momento de vacilao,
buscando como devia expor ante o 9uiz romano os crimes
imaginrios do Nazareno Por fim escolheram um homem
que se prestou a to degradante comisso 3inha voz
ostens#ria e estatura elevada 4sse homem, que caminhou at/
chegar 9unto dos estandartes, chamava!se 7eli!7eth
CAPTULO VIII
%E PILATO PARA 0ERO%E
5amuel 7eli!7eth agarrou brutalmente pelo ombro
direito a 2esus e conduziu!o quase a rastos at/ 9unto dos
degraus onde estavam os estandartes
Depois, dando!lhe uma terrvel punhada nas costas,
disse-
IFI
! 2uiz romano, o povo pede 9ustia, e espera!a de ti,
porque s# tu tens direito de vida e morte sobre os s(ditos do
ilustre imperador 3ib/rio 4ste homem / filho do carpinteiro
2os/ e 'aria= todos o conhecem perfeitamente Diz, sem
embargo, que / 6ei de 2ud, Oilho de Deus e no sei quantos
sacril/gios que no / decoroso recordar $ tr&s anos que
percorre as tribos embalando as pessoas simples= no respeita
a lei de nossos maiores, e cura ao sbado as doenas do
pr#ximo Gsto, como v&s merece a morte, e isso espera de ti o
povo que enche a praa
7eli!7eth tornou a assentar segunda punhada no peito
de 2esus " povo aplaudiu!\ " miservel 9udeu fez uma
cortesia, agradecendo
! 5e 2esus no cometeu mais crimes que os que acabas
de relatar, disse Pilatos, eu, que represento 6oma, no lhe
acho culpa suficiente para o castigar
! W um malfeitor, um conspirador, um blasfemo, gritou
*aifs, aproximando!se dos degraus 5e no fosse um
criminoso no to haveramos trazido
! 5e esse $omem pecou contra a vossa lei, tornou
Pilatos, 9ulgai!o v#s Hue tem que ver 6oma com as vossas
quest)es religiosasC 3olera!vos o vosso templo, permite!vos
que rezeis nas vossas sinagogas e nada mais 2ulgai!o v#s
! , pena de morte, bem o sabes, Pilatos, que o
reservaste a v#s, disse *aifs, como direito de conquista= n#s
no podemos sentenciar 2esus, e o seu crime merece a morte
! Pois bem, acusai!o de crimes que meream a cruz-
estou pronto a ouvir!vos= mas em tudo o que me dissestes
nada achei digno de morte
! Pilatos, no que te dissemos tens motivos para
sentenciar 2esus= lembra!te que 3ib/rio declarou r/u de
IFP
morte em cruz afrontosa todo feiticeiro, e este homem cu9a
endemoninhados e faz outros mil sortil/gios
, Pilatos, que era homem 9usto e reto, ainda que um
pouco tmido e poltico, comeava a desagradar o nome de
3ib/rio naquele neg#cio= e, dese9ando acabar depressa,
mandou um litor, que fizesse subir 2esus ao Pret#rio
,o ver o Nazareno, Pilatos contemplou alguns
segundos a sua mansido No divino olhar de 2esus havia tal
bondade, que o 9uiz no pode deixar de murmurar em voz
baixa-
! 4ste $omem no pode ser criminoso- tem no rosto a
beleza da alma
Depois perguntou!lhe com acento carinhoso-
D (s tu o Rei dos 'udeusG
2esus respondeu, fitando os formosos olhos nos de
P8ncio-
D %i>es isso +or ti mesmo ou disseramDte outros de
MimC
Pilatos meditou, porque a voz de 2esus lhe tinha
produzido na alma uma doce sensao e disse-
D ou eu a"aso ;udeuG A tua nao e os +ont6?i"es te
+useram nas minhas mos< Por que dese9am a tua morte
com tal empenhoC
D O meu reino no . deste mundo, disse 2esus= no
devo, pois, inspirar receio ao teu senhor e deste mundo
?osse! os meus ministros +e*e;ariam +ara &ue no ?osse
entregue aos ;udeus<
D (s tu ReiC disse Pilatos
D Tu di>es &ue o sou, respondeu 2esus= Eu +ara isso
nas"i, mas venho reinar nos cora)es dos 9ustos, transmitir!
lhes a luz divina da graa e da verdade- todo a&ue*e &ue
ama a )erdade! es"uta a minha )o><
IFS
! 'as que verdade / essa de que me falasC
2esus no respondeu 4nto Pilatos, disse ao povo,
levantando a voz-
D Nenhum de*ito a"ho neste homem<
, opinio de Pilatos irritou os fariseus, que comearam
de novo a soltar maldi)es
! 'editas o que dizes, exclamou *aifs, crendo que a
vtima lhe escapava das mos 2esus na @alil/ia praticou toda
a casta de sacril/gios
! W @alileu 2esusC perguntava Pilatos
! 5im, de Nazar/
! Pois ento levai!o a $erodes, tetrarca da @alil/ia, que
se acha no seu palcio de 2erusal/m por causa das festas da
Pscoa= que 9ulgue ele, dizer!lhe da minha parte No /
decoroso que eu me intrometa nos crimes dos seus s(ditos
4 depois entrou no seu palcio 5ua esposa, esperava!o
na ante!cAmara
! 4sts contente comigoC lhe perguntou P8ncio
! P8ncio, creio que foste fraco nesta ocasio- devias ter
arrebatado 2esus das mos dos seus verdugos
4ntretanto 2esus era conduzido ao palcio de $erodes,
que se achava na cidade de 7eceta, a pequena distAncia do de
Pilatos " que com mais encarniamento maltratava 2esus era
7eli!7eth, que gritava como um energ(meno ao seu lado,
dando!lhe desapiedados golpes
! 'ago feiticeiro, faz um milagre, concedendo!me a
mim a imortalidade, e a minha me, que / muda, o uso da
palavraD
2esus voltou uma vez a cabea, 9unto do palcio de
$erodes, e dirigindo!se a 7eli!7eth, disse-
D O ?i*ho do homem )aiDse<<< mas tu es+erar9s &ue
)o*te
IFM
7eli!7eth soltou uma gargalhada
, comitiva continuou a caminhada, parando em frente
ao palcio de $erodes ,quele rei verdugo, monarca
assassino, receoso e cruel, tinha edificado seu palcio!
fortaleza com um luxo, e magnific&ncia incrveis
" palcio era construdo de mrmore em cores "s
muros tinham uma altura de trinta c8vados= e, como se
aquela muralha no a fosse bastante para a segunda do
assassino de 7el/m, tr&s torres, as mais altas que ento se
conheciam no universo, protegiam o palcio 'ais que um
palcio, era um povoado 5eus imensos 9ardins, seus amplos
sal)es, admiravam os via9antes $erodes ,ntpas, o matador
do 7atista, achava!se neste palcio quando um dos seus
servos foi dizer!lhe que Pilatos, o 9uiz romano, lhe enviara
2esus Nazareno para que o 9ulgasse como a sua reta 9ustia
tivesse por conveniente $erodes tinha vivos dese9os de
conhecer 2esus, cu9a fama lhe chegara aos ouvidos Dirigiu!
se 0 sala das audi&ncias mandando que introduzissem o 6/u
e os acusadores 0 sua presena
Huando 2esus entrou na sala, achava!se $erodes
sentado no trono " @alileu que durante a noite precedente e
parte da manh no tinha levantado os olhos do cho, sem
abandonar nem um momento sua admirvel mansido, to
depressa se viu diante do assassino de 2oo 7atista, fitou nele
o olhar $erodes suportou aquele olhar por um momento, e
depois disse-
! No podeis imaginar, respeitveis sacerdotes, quanto
vos agradeo o apresentar!me este $omem $ tempo que a
fama dos seus milagres me ressoa nos ouvidos, e dese9o
vivamente ver com meus olhos um desses prodgios que traz
alvoroados os habitantes de Qabulon ,proxima!te Profeta,
e no temas= e, pois que os prodgios esto em tuas mos,
IIT
mostra!me as tuas habilidades *onfunde a minha pouca f/
%amos, faze um milagre
2esus dirigindo um olhar de compaixo ao tetrarca,
guardou sil&ncio
! Ws mudoC tornou $erodes Por que no falasC Por que
no me confundesC *hega!te a essa 9anela de onde se v& a
cilndrica torre de Davi, e dize!lhe que te sa(de 4squeces
que sou o tetraca de @alil/ia, exclamou $erodes cheio de ira,
e que o teu sil&ncio pode custar!te caroC
" Nazareno sorriu!se docemente
! 'iservel, disse o tetrarca, desprezas as minhas
ameaasD 4sts loucoD Oaze um prodgio ou, do contrrio, o
rigor da minha ira te cair sobre a cabea
" 'rtir permaneceu impassvel e mudo com os olhos
fitos no rosto do tetrarca
! Oao mal em irritar!me contigo, disse $erodes 5em
d(vida, ilustre 6ei, 9ulgas!me inferior 0 tua pessoa e
desprezas!me W 9usto= mas devo advertir!te que eu no me
acho disposto a perdoar!te e aclamar!te meu 5enhor, mas at/
prometo adotar!te como Deus, se lograres ressuscitar teu
nobre av8 Davi Oaze esse milagre e caio de 9oelhos aos teus
p/s
2esus nada respondeu 4nto *aifs, o mais
encarniado inimigo de 2esus, que o seguira at/ ao palcio de
$erodes, adiantou!se alguns passos e colocando!se 9unto do
6/u, exclamou-
! Glustre tetrarca, este $omem / um embaucador=
ofereces!lhe uma coroa por um milagre, e no o faz
! "raD Para que precisa 2esus da coroaC No a tem de
espinhos na cabeaC Hue falta lhe faz o cetroC No o tem de
cana nas mosC 5# lhe resta a t(nica branca dos reis do
teatro Pois, da a 2esus Nazareno a t(nica, e levai!o a Pilatos
II+
para que lhe penha sobre os ombros o manto de p(rpura dos
imperadores
Depois, descendo do trono, abandonou a sala da 9ustia,
mandando que levassem dali aquele $omem
CAPTULO IU
%E 0ERO%E A PILATO
Pilatos 9 se 9ulgava livre do grave compromisso de
sentenciar 2esus,quando ouviu na praa altas vozes *hegou!
se a uma 9anela e, com desgosto e assombro, viu que lhe
levavam segunda vez 2esus *aio Rpio entrou para dizer!lhe
que um criado de $erodes dese9ava falar!lhe
! " tetrarca envia!te 2esus, respondeu *aio
! Porque no o sentenciaC
! 5em d(vida no lhe acha crime para isso
! Hue entre esse $omem
Pouco depois o criado de $erodes achava!se em
presena do governador
! 'eu amo envia!me, disse o criado, para dizer!te que
te agradece o teres!lhe enviado 2esus Nazareno, e que desde
este momento te roga d&s ao esquecimento todo o passado, e
o reconheas como um amigo e um s(dito fiel e leal do
,ugusto 3ib/rio
! Dize a teu amo que pode contar desde agora com a
minha amizade, e que fico muito honrado se me conta no
n(mero dos amigos 'as, por que torna a remeter!me 2esusC
Por que no o 9ulga, sendo @alileuC
! Porque meu amo cr& que esse $omem, mais que
criminoso / um louco
II;
! PilatosD 5aia o @overnadorD 5entencie o @alileuD ,
cruz para o NazarenoD U gritava a alvorotada multido da
praa desaforadamente
P8ncio estremeceu ,queles gritos levantaram!lhe um
eco doloroso na consci&ncia 2 o dissemos- Pilatos era fraco,
e a sua fraqueza ia manchar!lhe para sempre o nome ,
hist#ria do 9uiz romano ia escurecer!se com uma n#doa
indel/vel
! "hD 4ssas hienas acabaro por devorar o indefeso
*ordeiro que lhes caiu nas mosD exclamou Pilatos= e,
dizendo isto, encaminhou!se para o terrao do palcio ou
ponte do Xisto, de onde falava ao povo
! Gsraelitas, lhes bradou, que quereis de mimC
! , morte, o @#lgota, a cruz para este $omem, gritou a
multido com raivoso acento
! ,presentaste!me esse $omem, como pervertedor do
povo, e eis que interrogando!o eu diante de v#s no achei
n:4le culpa alguma daquelas que lhe imputais= remeti!vos
para $erodes, e tamb/m o tetrarca no o 9ulga criminoso 5e
nada se provou que merea a morte, por que o quereis matarC
,ssim, solta!lo!ei depois de o ter aoitado
Pilatos sentou!se 9unto de uma mesa que tinha mandado
levar para o terrao, e escreveu esta sentena em lngua
latina-
.Despi, atai e aoitai com varas a 2esus de Nazar/ por
sedicioso e menosprezador da lei de 'ois/s, acusado pelos
sacerdotes e prncipes da nao U Litor, vai e entrega as
varas1
4sta sentena foi uma infAmia 5e 2esus, era inocente,
como acabava de decidir Pilatos, porque o sentenciava a um
castigo to afrontosoC 4m vo mais tarde lava as mos para
II?
se limpar do afrontoso baldo que ia cair sobre o seu nome,
desprezado pelas gera)es vindouras
" litor pegou no criminoso papiro que levava a
sentena de 2esus e correu a buscar os verdugos e o 6/u
Pilatos retirou!se do terrao, afrontado de sim mesmo
3emia encontrar *ludia, sua esposa
LG%6" DW*G'" 5W3G'"
O 1$L1OTA
CAPTULO I
A COLUNA %A A8RONTA
" Litor desceu os degraus do palcio com a afrontosa
sentena na mo, seguido de seis sal)es, cu9o rosto
amarelado, miservel catadura e magro corpo, revelavam a
origem egpcia= homens degradados na repugnante profisso
de tormentadores p(blicos
,penas o litor lhes aponteou 2esus, lanaram!se sobre
4le e conduziram!no quase a rastos para baixo dos p#rticos
onde se achavam as "o*unas dos u*tra;es<
3eriam estas escassamente cinco p/s de altura, e uns
grossos an/is de ferro para atar os braos do r/u, de modo
que as costas apresentassem toda a largura para que os
golpes no fosse infrutuosos
" sentenciado devia receber quarenta aoites com
varasa de aveleira formando feixes Destes quarenta aoites,
perdoava!se um para que no se descontasse em pre9uzo do
paciente %ergonhosa clem&ncia que horroriza e indigna o
mundo ilustradoD
IIB
4stes trinta e nove golpes davam!se= treze nas costas,
treze no ombro direito e treze no esquerdo
"s sai)es amarraram terrivelmente 2esus na coluna,
rasgando!lhe a veste pelas costas at/ mostras as carnes
Naquele doloroso momento o semblante de 2esus
respirava mansido infinita= seus olhos contemplavam com
dulcssima expresso os verdugos
" litor fez um sinal com a mo, e o verdugos
comearam sua afrontosa e terrvel tarefa
! , cruzD " @#lgota para 2esusD *rucificai!oD
*rucificai!oD
Pilatos, aturdido com aquela gritaria infernal, mandou
um arauto que tocasse o clarim de sil&ncio
3o depressa as ardentes notas do b/lico instrumento se
estenderam pelas Ambitos da praa, o povo calou!se 3odas
as gargantas emudeceram " sil&ncio foi universal
Naquele momento horrvel s# se escutava o assobio das
varinhas espinhosas ao carem sobre as ensanguentadas
costas de 2esus, e os dolorosos gemidos do divino 'rtir,
murmurando-
! Perdoai!lhes, meu Pai- no sabem o que fazemD
2esus, entregue ao furor dos soldados romanos e dos
ferozes verdugos, sofreu o que nenhum homem 9amais
sofreu ,queles id#latras a9oelharam!se diante d:4le para o
venerarem por escrnio, como 6ei Huando o desataram da
coluna 2esus caiu desfalecido aos p/s dos verdugos
! Deus te salve, 6ei da 2ud/iaD exclamava um,
aoitando o rosto de 2esus com as duras e ensanguentadas
correias que ainda conservava na mo
! @lorioso 'essiasD exclamava outro, escarrando na
divina face do Nazareno Oaze um milagreD 4nriquece!meD
pois boa falta me faz
IIF
@uardava 2esus profundo sil&ncio ante to atrozes
insultos
"s costumes, as leis, tinham sido violadas, e, sem
embargo, ainda se cevavam de um modo cruel na indefesa
%tima que se acha a seus p/s
4sta fraqueza produziu um grito de 9(bilo enre os
verdugos
CAPTULO II
@ECCE 0OMOC
2esus 9azia no cho, cercado dos seus verdugos que lhe
escarravam no rosto e maltratavam o corpo, quando de
pronto se levantou sobre os 9oelhos e logo se p8s em p/
*omo os gritos da multido redobrassem ao inv/s de
diminuirem mandou Pilatos que cobrissem os ombros do
6/u, com um manto de p(rpura e o conduzissem 0 sua
presena
" 9uiz romano pensava por este meio irris#rio aplacar o
furor do povo
Pilatos mandou que 2esus, amparado por dois soldados,
fosse levado 0 varanda do seu palcio, para que o povo o
visse com o manto de p(rpura, coroa de espinhos e cana na
mo
! %&de!o, israelitasD @ritou Pilatos .E""e 0omo1D
7astante castigado est pelos seus crimes Hue vos importa
que este $omem viva depois da afronta que acaba de
receberC
! ,o @#lgotaD ,o @#lgotaD *rucificai!oD *rucificai!
oD clamava o povo
III
*aifs, cu9o rancoroso corao temia que 2esus se
livrasse da morte, subiu at/ o (ltimo degrau do palcio, e
gritou com voz desaforada
! Pilatos, o teu dever / respeitar a nossa lei e castigar os
inimigos do */sar 2esus chamou!me filho de Deus- merece,
pois, a morte, pela nossa lei " segundo delito de 2esus / o
crime de rebelio contra 3ib/rio, e merece morte na cruz
*rucificai!o tu, que / a quem compete
" nome de */sar fez estremecer Pilatos 3ib/rio era
cruel, e castigava os crimes de rebelio tentados contra a sua
pessoa, de um modo terrvel P8ncio comeou a temer que
aqueles furiosos sacerdotes o envolvessem em alguma
cal(nia de fatais consequ&ncias para ele Oez aproximar!se
2esus, e disse!lhe-
! Defende!te 7em ouves o que de ti dizem
2esus guardou sil&ncio Neste instante, um criado de
*ludia acercou!se de Pilatos e disse!lhe-
! 5enhor, tua esposa me manda dizer!te que no
esqueas a tua promessa= que respeites a vida do Nazareno,
porque / um homem 9usto
P8ncio Pilatos chegou a desorientar!se
Oez um (ltimo esforo para o salvar 4ntre os hebreus
havia o costume de dar liberdade nos dias de Pscoa a um
criminoso
, poucos passos do palcio do 9uiz romano achava!se o
crcere e numa das masmorras, carregado de cadeias, 9azia
um criminoso, um ladro, um assassino, cu9o s# nome
assustava a gente honrada Devia morrer na cruz passadas as
festas, e chamava!se 7arrabs
Pilatos chegou segunda vez 0 varanda e indicou que ia
falar " povo calou!se
IIP
! 2udeus, lhes disse- Gnterroguei pela terceira vez 2esus,
e a minha consci&ncia diz!me que / inocente e no merece a
morte 4ntre v#s existe o costume de conceder a liberdade a
um criminoso nestes dias Huereis que se solte 2esusC
! Oaz morrer 2esusD 5olta!nos 7arrabsD exclamaram os
sacerdotes
Pilatos tornou a retirar!se da varanda ,pesar da sua
fraqueza de carter, repugnava!lhe matar 2esus Oez o (ltimo
esforo- interrogou novamente o 6/u= mas o 6/u continuava
encerrado no seu sublime sil&ncio
! Porque no me respondesC lhe disse Pilatos No
sabes que na minha mo est a tua morte ou a tua vidaC
2esus, que no se tinha defendido, ao ouvir as palavras
do 9uiz romano, dirigiu!lhe um olhar, e disse com pausado
acento-
! Nenhum poder terias sobre mim, se no te fosse dado
do ,lto
,s palavras, o acento, o olhar de 2esus, tudo naquele
$omem tinha uma ma9estade to sublime, que Pilatos sentiu
uma coisa extraordinria dentro do seu ser
2esus naquele momento, parecia!lhe um Deus
5uas mos, assinando a sentena de morte d:4le,
manchavam!se para uma eternidade 5eu corao, pouco
antes indeciso e fraco, resistiu!se de valor, e tornou a chegar
0 varanda, resolvido a salvar o ,cusado
4sta resoluo irritou de um modo horrvel os
sacerdotes e a plebe *aifs, que formava 0 frente daquelas
feras, falou-
! Pilatos, lembra!te que esqueces os teus deveres 2esus
proclamou!se 6ei dos 2udeus, usurpando uma dignidade que
pertence a 3ib/rio, teu senhor e nosso, por direito de
conquista 4sse homem que defendes / inimigo do */sar
IIS
5endo seu defensor, tornas!te seu c(mplice 5alvando!lhe a
vida, atentas contra a gl#ria do augusto imperador de 6oma
,i de ti, PilatosD ,i de ti, se o teu procedimento neste dia
chega aos ouvidos do senhor do mundo, do imortal 3ib/rioD
Pilatos tremeu, ouvindo as palavras do Pontfice Oraco
e covarde, rendeu!se ante as ameaas daquele sacerdote
perigoso, e cometeu a infAmia de dizer com tr&mula voz-
! Pois bem, 9 que o quereis, se9a- eis aqui o vosso 6ei,
a quem quereis matarD
4nto o povo gritou-
! " nosso rei / o */sar 3ib/rio= a ele s# rendemos
acatamento 2esus / um inimigo de Deus e do imperador
Pilatos tremia ouvindo pronunciar o nome de 3ib/rio,
mas repetiu pela (ltima vez-
! Hue o sangue do 9usto caia sobre a consci&ncia do
assassino
! *aia o seu sangue sobre a gerao presente e sobre os
filhos dos nossos filhos, disse *aifs
Pilatos desceu ao ptio onde estava o tribunal chamado
pelos hebreus 1a--atha, e pediu uma bacia de gua
Pouco depois, apresentaram!se dois criados com a bacia
e a toalha 3raziam tamb/m a Pilatos o anel que sua esposa
*ludia lhe devolvia, com estas palavras-
.P8ncio, Deus te perdoe o sacril/gio que vais cometer
Devolvo!te o teu selo e a tua palavra1
Pilatos pegou no anel maquinalmente, e mandou ao
criado que lhe deitasse gua nas mos
Depois que as lavou, voltou!se para os fariseus e
sacerdotes, e disse!lhes-
! 3omo o c/u por testemunha de que sou inocente na
morte desse 2ustoD , c#lera celeste caia sobre os seus
verdugos
IIM
! ,m/mD replicaram os sacerdotes
Depois, P8ncio Pilatos sentou!se numa cadeira 9unto da
mesa= 2esus de p/ ao seu lado- os soldados rodeando o
mrtir, e os ferozes sacerdotes e o povo em frente
4ra sexta!feira, e seriam aproximadamente dez horas da
manh " 9uiz romano escreveu com mo tr&mula
.N#s, P8ncio Pilatos, governador de toda a provncia da
2ud/ia pelo sacro imp/rio romano= estando no nosso tribunal
e sala de audi&ncia= ouvidas as acusa)es criminais dos
sacerdotes, escribas e fariseus, a comoo e clamor do povo
contra 2esus de Nazar/= concordando todos e dizendo como
alborotou e comoveu toda a cidade e povo, ensinando
doutrinas novas contra a lei de 'ois/s= fazendo!se autor
duma nova lei= pretendendo levantar!se 6ei, e como tal
sendo tido o atrevimento de entrar triunfante com ramos e
palmas na cidade= e por ser menosprezado a 9ustia e
autoridade do imperador 3ib/rio, proibindo aos vassalos lhe
pagassem tributo= mas o que causa ainda maior escAndalo /
que se gloriou e disse muitas e diferentes vezes que era
Oilho de Deus, sendo $omem de baixa condio, filho de um
pobre artista, e de uma 'ulher chamada 'aria
Portanto, tendo considerado muito bem, e examinando
a verdade das sobreditas acusa)es, achando!se gravssimos
os seus delitos, 9ulgamos que deve ser condenado e
sentenciado, como de fato o sentenciamos a ser conduzido
pelas ruas castumadas da cidade de 2erusal/m com uma
cadeia e corda ao pescoo, levando 4le mesmo a cruz,
acompanhado de dois ladr)es, para maior afronta, at/ 0
montanha do *alvrio, e ali se9a crucificado na sua cruz
"s dois ladr)es esto igualmente pendentes das suas
cruzes um 0 direita e outro 0 esquerda, residindo no meio
como 6ei, para que se9a exemplo e escarmento de todos os
IPT
malfeitores, e em voz alta pelo pregoeiro,para que chegue ao
conhecimento de todos e ningu/m possa alegar ignorAncia
alguma U POn"io Pi*atosC<
" 9uiz romano entregou o escrito aos sacerdotes
dizendo-
! 3omai, cumpra!se como dese9ais
Depois entrou no palcio
CAPTULO III
A RUA %A AMAR1URA
2unto da cidadela ,nt8nia achava!se o crcere <ma
mulher acocorada no umbral da porta chorava amargamente,
com a cabea escondida nas pregas do manto
,o seu lado, de p/, triste, im#vel, achava!se um moo
com uma citara pendente do ombro 4ra 4no/ e o moo era
7oanerges, seu filho, que esperavam para ver o seu protetor,
o bandido Dimas
<m litor seguido de quatro soldados parou diante da
porta do crcere 4no/ levantou a cabea <m carcereiro saiu
ao encontro do litor e este apresentou!lhe um papiro, que
dizia-
." carcereiro entregar ao litor os dois bandidos Dimas
e @estas1
! ,hD *om que finalmente os crucificam, disse o
carcereiro, dando voltas ao molho de chaves que lhe pendia
da cinta
! Huando o sol se achar no meio da carreira, sero
cravados no cume do @#lgota
IP+
! 'ais digno dessa sorte era 7arrabs que DimasD
tornou o carcereiro
! " povo assim o quer
! 'orre tamb/m com eles o NazarenoC
! 5im, entre dois ladr)es, segundo diz a sentena
4no/, que escutara absorta o precedente dilogo, vendo
que os soldados se dispunham a entrar no crcere, p8s!se em
p/, e, adiantando!se para o litor, deteve!o, dizendo!lhe-
! Pois que, vo crucificar DimasC " homem melhor de
GsraelC
4 como 4no/ colhera maquinalmente com a mo
nervosa o manto do litor, este disse aos soldados
! ,fastai esta mulher
4no/, repelida pelos soldados, caiu nos braos de seu
filho
Pouco depois, Dimas e @estas saiam do crcere
conduzidos pelos soldados
7oanerges, cobriu o rosto de sua me com o corpo, para
que no o visse
Dimas saudou 7oanerges enviando!lhe um olhar de
despedida
Huando os r/us chegaram 0 praa, a multido saudou!
os com um grito de prazer No meio da praa as afrontosas
cruzes esperavam os r/us Doze verdugos, soldados das
fileiras romanas, rodeavam os instrumentos do patbulo "
povo, para no se manchar com seu contato, deixava um
espao entre eles e os sai)es
*omo ces danados, como carniceiras hienas,
lanaram!se sobre 2esus, e, arrancando!lhe o manto de
p(rpura que pouco antes lhe tinham posto sobre os ombros,
vestiram!no com o antigo tra9e para que fosse reconhecido de
todos
IP;
3rinta soldados, capitaneados por *aio Rpio,
esperavam 9unto aos degraus da cidadela ,nt8nia o momento
da partida 4ra a guarda de honra que devia acompanhar
2esus ao @#lgota
"s quatro brucianos, os miserveis desertores que,
depois de abandonarem as fileiras dos romanos, exerciam em
castigo a degradante profisso de verdugos, fizeram o sinal
de que o 6/u estava vestido e pronto 4nto ouviu!se uma
trombeta, e depois uma voz que disse-
! *umpra!se a sentena
4sta era a voz de Longuinhos, que devia romper a
marcha adiante de quatro soldados a cavalo "s calabreses,
mais compassivos, puseram as cruzes sobre os ombros dos
bandidos Dimas e @estas, sustentanto!as pelos extremos para
que no fosse a carga to pesada 'as os brucianos,
miserveis desalmados, colocaram o pesado lenho sobre o
ombro direito de 2esus, dizendo-
! 2 que /s Oilho de Deus, leva s# a carga e faze um
milagre, para que te no se9a pesada
2esus estava d/bil, plido, desfalecido 'al podia ter!se
em p/ ,o receber sobre os amantssimos ombros o pesado e
afrontoso lenho, seu corpo dobrou!se como a frgil cana
impelida pelo ri9o sopro do furao
"s verdugos riram!se daquela fraqueza " povo, vendo
o 'rtir pronto a encetar o caminho do suplcio, agitou!se
como um imenso formigueiro, soltando gritos de prazer
, comitiva seguiu o caminho do *alvrio, ao l(gubre
som das trombetas Longuinhos, seguido de quatro soldados
a cavalo, ia adiante, afastando a gente com a lana 5eguia!se
um pregoeiro e dois trombeteiros
" primeiro devia ler a sentena em todas as bocas de
rua do trAnsito
IP?
*aminhavam depois os soldados a p/, apetrechados
com os arreios de guerra, capacetes, escudos, coraas e
espadas
,trs destes soldados iam Dimas e @estas com a cruz
0s costas, e rodeados dos auxiliares dos verdugos, que lhes
sustentavam o pesado extremo do lenho Logo seguia,
deixando espao, um 9ovem luxuosamente vestido romana,
levando uma guia de ouro bordada no peito Levava na mo
um basto comprido, no extremo do qual via!se uma a
tabuinha de cedro com este letreiro em samaritano, grego e
latim-
.245<5 D4 N,Q,6W, 64G D"5 2<D4<51
,trs deste 9ovem ia 2esus, rodeado de verdugos, com
uma corda atada 0 garganta
<m menino, formoso como as alvoradas de maio, louro
como as espigas de agosto, risonho como o canto da cotovia,
caminhava confundido entre os verdugos Levava sobre os
d/beis ombros uma cesta com pregos, martelos e tenazes e ia
cantando alegremente
2esus dirigia seus compassivos olhos para aquele
inocente pimpolho carregado com os cru/is instrumento da
sua morte
" Nazareno com a mo direita procurava diminuir o
peso enorme do afrontoso lenho, e com a esquerda levantava
a comprida t(nica para no tropear nas duras e desiguais
pedras das ruas
2esus no tinha comido nem bebido desde a ceia do dia
precedente ,l/m disso, seu sangue tinha corrido com
abundAncia- a sede e a febre devoravam!no- por/m seu Pai
IPB
dos c/us lhe emprestou foras para suportar to fatigante
peregrinao
"s passos que distam desde o palcio de Pilatos ao
monte @#lgota, um milho de vezes tem sido contados com
religioso escr(pulo pelos peregrinos cristos, que, cheios de
f/, tem acudido a 2erusal/m de todos os pases do mundo, a
orar sobre o monte *alvrio, ,quele que sofreu pela raa
humana- so mil trezentos e vinte e nove passos, ou tr&s mil
trezentos e tr&s p/s
, plebe, instada pelos fariseus e sacerdotes, seguia
2esus, uivando, escarrando da sua cruel agonia
,os oitenta passos tropeou 2esus numa pedra,
faltaram!lhe as farsas e caiu , multido soltou um grito de
alegria , divina fronte do @alileu tinha batido no duro
pavimento da rua
"s sai)es puxaram as cordas para o levantarem= os
soldados deram!lhe durssimos golpes com as hastes das
lanas para refazerem suas desfalecidas foras
2esus levantou!se fitando os formosos e doces olhos no
c/u
5eus divinos lbios murmuraram uma frase que
ningu/m pode compreender e, ao redor da sua purssima
fronte apareceu uma aur/ola de resplandecente luz
! 5audai o 6ei dos 2udeusD exclamou um No vedes
como se levanta para olhar o povo, para agradecer ao
numeroso acompanhamento que o segue ao *alvrioC
! Dize!nos, falso Profeta, exclamou outro, enterrando!
lhe a coroa de espinhos como o coto da lana, porque com a
queda se lhe desviara um pouco da fronte= dize!nos quando
cair o templo= quando viro as tuas legi)es de an9os
defender!te Por 2(piter, que deve ser uma grande batalha a
que se der entoD Pele9ar com os homens / vulgar- mas com
IPF
os an9os, isso 9 muda de figura 5# peo aos deuses do
"limpo que me concedam essa gl#riaD
4sta horrvel gargalhada foi repetida pela multido
2esus continuou o doloroso caminho repetindo em voz baixa-
D PerdoaiD*hes! meu PaiA no sa-em o &ue ?a>em
4ntretanto a %irgem 'aria dissera a 2oo
! *orramos ao *alvrioD Huero ver meu filhoD
,s santas mulheres e o discpulo favorito de 2esus
foram 9untos 'aria colocou!se na %ia 5acra, num ponto por
onde ia passar o Oilho
,li caiu de 9oelhos 'adalena, 'aria *l/ofas, 'aria
5alom/ e 2oo rodearam!na 4ra em vo querer consolar
aquele corao dilacerado
, gritaria, o barulho ia!se aproximando
2esus tinha caminhado mais sessenta passos desde a
primeira queda, quando encontrou sua 'e, que fazendo um
esforo sobrenatural, se lanou aos p/s de seu Oilho
,lguns soldados pretenderam repeli!la com as lanas
, %irgem sofreu aqueles duros golpes sem apartar os
chorosos olhos da triste imagem do seu 2esus amado
4nto passou!se uma coisa horrvel <m miservel
verdugo, um daqueles brucianos escolhidos pelas suas
infAmias para sacrificadores, pegou num punhado de pregos
da cesta que levava o rapaz, e, atirando!os ao rosto de 'aria,
dissera!lhe-
! 3oma, @alil/ia- ai tens o presente de morte que te faz
teu filho, o Profeta de Nazar/
2esus quis correr em socorro de sua 'e 'as aiD os p/s
enredaram!se!lhe na t(nica, e segunda vez caiu ao cho,
batendo com a divina fronte nas duras pedras da rua
! Oilho da minha almaD exclamou a %irgem, com um
desses gritos que s# podem sair do corao de u:a me
IPI
2esus, sereno, plido e vacilante, dirigiu um doloroso
olhar a sua me, e levantando!se disse!lhe com voz
dulcssima-
! 5alve, Olor de amarguraD 5alva, 4strela purssima da
manhaD 5alve, minha 'eD
'as antes que os lbios da 'e depositassem um bei9o
na dolorida fronte do Oilho, os ferozes verdugos afastaram!na
bruscamente 'aria caiu desfalecida nos braos de
'adalena 2oo cobriu com seu manto o corpo daquela
'rtir
, enamorada donzela de 'gdalo, dirigiu um olhar
cheio de amor e amargura para 2esus, e a comitiva continuou
a interrompida marcha
, multido rugia em derredor do 'rtir, dando gritos
de U %iva 7arrabsD 'orra o @alileuD U 4 2esus, o
mansssimo *ordeiro, o ,migo dos aflitos, o 6edentor dos
homens, caminhava oprimido sob o peso do afrontoso lenho,
repetindo-
! .2erusal/mD 2erusal/mD Huantas vezes quis congregar
os teus filhos como a galinha congrega os pintainhos debaixo
das asas, e no quisesteD1
2esus teria caminhado a metade da dolorosa estrada,
quando parou pela terceira vez, falto de alento ,s pernas
fraque9avam!lhe
,lguns pobres do arrabalde de "fel e algumas mulheres
a quem a bondade e os milagres de 2esus tinham curado as
doenas, choravam amargamente seguindo os passos do
'rtir
2esus levantou maquinalmente a formosa e dolorida
cabea , poucos passos do lugar em que se achava, viu!se
uma casa, sobre cu9a porta estendia os seus verdes ramos
IPP
uma formosa parreira ,li havia um poo e, em cima do
bocal, um cAntaro cheio de fresca e transparente gua
2unto do poo, posto em p/ sobre um banco de pedra,
via!se um homem de elevada estatura e fei)es pronunciadas
4ra 5amuel 7eli!7eth
! $osana ao que vem em nome do Deus invisvel de
Gsrael morrer pelo homemD exclamou 7eli!7eth em tom de
mofa ,hD ,hD ,hD " @#lgota vai ficar honrado com o teu
suplcio *horai, hip#critas 9erossolimitanosD *horai pelo
'ago, pelo falso Profeta, pelo 4mbaucadorD
4 aquele miservel ria!se como um condenado
! 5amuel, disse 2esus, tenho sedeD D!me dessa guaD
5amuel, permite!me por caridade que descanse um momento
0 sombra dessa parreira No posso com a fadiga- deixa que
descanse alguns instantes no banco da tua hortaD
! ,nda, feiticeiro maldito= teu contato murcharia os
verdes pAmpanos da minha parreira
! 5amuel, repetiu 2esus, ainda podes salvar!teD ,9uda!
me a levar a cruz at/ o @#lgota
! ,hD ahD exclamou 5amuel No /s Oilho de Deus Pois
ento, porque no chamas os an9osC ,nda, embaucador=
anda, feiticeiro= e empurrou brutalmente 2esus, que caiu pela
terceira vez a porta daquele miservel sem caridade, nem
corao, nem clem&ncia
2esus levantou!se lentamente *olocou o pesado lenho
sobre o ombro, olhou de um modo compassivo 5amuel e
disse-
! 3u o disseste "fereci!te o paraso de meu Pai, e
disseste!me anda! quis dar!te a gua que aplaca a sede
eterna, e disseste!me anda, pedi!te um assento para te dar
um trono na manso dos c/us, e disseste!me anda Pois bem,
5amuel 7eli!7eth, Eu *ogo des"ansarei; mas tu andar9s
IPS
sem "essar at. &ue Eu )o*te< "s s/culos futuros te chamaro
o 'udeu Errante= e teu passo no se deter nunca= sers
imortal, mas a imortalidade ser o teu maior castigo Prepara
as tuas sandlias= prepara o teu bordo de viagem GnfelizD
Disseste!me anda= pois tu andars at/ 0 consumao dos
s/culos ,nda, anda, 5amuel 7eli!7eth= maldito como a tua
ptria, vaguears pelo universo at/ o dia do 9uzo final
5amuel passou as mos pelos olhos como se visse
alguma coisa sobrenatural <ma aur/ola de luz que apareceu
ao redor da fronte do Nazareno havia!o cegado ,s pernas
fraque9aram, e viu!se obrigado a sentar!se no paiol da porta,
para no cair
Neste instante u:a mulher saiu da casa da frente com
um leno na mo 4ra 5erfia ,proximou!se do divino
@alileu, cu9o rosto se achava banhado de suor e sangue, e
a9oelhou!se diante d:4le dizendo-
! 5enhor, meu 2esus, permite que esta humilde pecadora
limpe o teu divino rosto com este leno tecido pelas suas
mos
5erfia limpou o suor que inundava o rosto de 2esus
! Deus te pague, mulher caritativa, disse 2esus %&
agora o que te deixo no leno
5erfia soltou um grito de alegria ,lgumas mulheres a
cercaram No leno tinha ficado impresso por tr&s partes o
rosto do 'rtir *ada um dos crudelssimos espinhos da sua
coroa despedia um raio de luz 5erfia estava absorta
! 5erfia, deixa o teu nome e toma o de VerOni"a, pois
nas tuas mos deixo a minha )erdadeira imagem
CAPTULO IV
A CRUH
IPM
,o mesmo tempo que o *enturio Longuinhos saia
pela porta 2udiciria precedendo a comitiva de 2esus, um
homem chamado 5imo, natural de *irene, na Lbia, e
israelita de religio, entrava com seus dois filhos ,lexandre e
6ufo
5imo vinha do campo e encostou!se para no ser
atropelado Depois entrou na cidade *aio Rpio, que durante
o doloroso caminho no desviava os olhos de 2esus, vendo!o
desfalecer por instantes, dirigiu!se a um dos soldados, e
disse!lhe-
! "bservaiD 2esus no pode com o enorme peso do
lenho 7om homem, disse olhando para 5imo, a9udai!o
antes que morraD
5imo recusou!se= mas *aio, pegando num feixe que o
*irene levava 0s costas, disse!lhe-
! "bedece ao */sar
" Nazareno enviou!lhe um olhar compassivo
*ontinuou a caminhada e passaram a porta 2udiciria, por
onde tantos r/us tinham sado para morrer no @#lgota
Passaram a porta do %ale dos *adveres, e deixando 0
esquerda o sepulcro dos Profetas, p8s 2esus a sua divina
planta na pedregosa vereda que conduz ao monte das
*aveiras
,i, caiu pela quarta vez desmaiado 5imo deixou a
cruz e correu a levantar o Nazareno
<m grupo de mulheres que esperava o 9ovem 'estre
para o ver passar, vendo em to doloroso estado o que seis
dias antes entrara coberto de flores e de b&nos por um
caminho de rosas e de plantas, p8s!se a chorar
2esus ergueu a fronte, abatida pela dor, manchada pelo
sangue, e disse!lhes-
IST
! .Oilhas de 2erusal/m, no choreis por mimD chorai por
v#s e por vossos filhos= porque viro em breve dias em que
diro- 7em aventurados as est/reis e os ventres que no
conceberam e os peitos que no amamentaramD1
<ma senda estreita e tortuosa, semeada de grossas e
duras pedras, conduzia ao cume do @#lgota, desde o lugar
em que as chorosas mulheres se a9oelharam aos p/s de 2esus
4ste caminho teria setenta passos
2esus gastou cerca de um quarto de hora para subi!lo
2 perto do cume, caiu pela quinta vez
"s verdugos, como se achavam pr#ximo do lugar do
s(plice, descarregaram!no do peso da cruz
, comitiva rodeou o cume do *alvrio, e os sai)es
prepararam!se para exercer seu ignominioso ofcio
*aio Rpio despediu 5imo, agradecendo!lhe= mas
5imo pareceu no ter ouvido a ordem do romano, e
permanecia cravado 9unto ao corpo desfalecido de 2esus
5imo afastou!se alguns passos 4m seus olhos
apareceu uma lgrima
,lguns passos acima do lugar em que 2esus se despediu
do homem venturoso de *irene, achava!se a pequena e
pedregosa esplanada do @#lgota, onde o *ordeiro de Deus
devia ser sacrificado entre dois ladr)es
"s brucianos estenderam a cruz no cho= os calabreses
comearam a abrir os buracos
@estas maldizia sua morte= Dimas, com os olhos fitos
no Nazareno, mirava!\
Huando os quatro sai)es tiveram os cravos, os martelos
e a cordas preparadas 9unto da cruz dirigiram!se a *risto, e
pegando!lhe asperamente de um brao, arrastaram!no at/ o
lugar onde devia ser crucificado
IS+
3erminadas estas opera)es que o povo contemplava
com criminoso interesse, os verdugos comearam a despir
2esus, rasgando a roupa, que se pegara 0 carne por causa das
feridas que cobriam o corpo do 'rtir Huando chegaram 0
t(nica incons(til que a 5anta %irgem tecera por suas pr#prias
mos, e que, segundo a tradio, foi a (nica que trouxe 2esus
por espao de trinta anos, pois crescia com o corpo, um dos
verdugos disse aos seus companheiros
! *reio que no devemos rasgar esta t(nica 5eria
conveniente que a tirssemos inteira, porque a poderamos
vender a algum dos fanticos que cr&em que este homem / o
'essias
! Dizes bem, esfolemo!lo, pois tem na pegado ao corpo
,s feridas de 2esus eram tantas, que a dor que sofreu
durante aquela operao foi crudelssima 4nto 2esus,
ensanguentado, desfalecido, dirigiu em torno de si os
doloridos olhos, buscando um olhar de compaixo e s#
encontrou as horrveis gargalhadas dos ferozes verdugos e os
miserveis mote9os da plebe
De repente ouve um grito atrs de si= volve a cabea= v&
uma mulher que sobe precipitadamente ao cume do @#lgota
seguida de duas mulheres e de um homem= reconhece!a= /
sua me, / 'aria, / a %irgem dolorosa, que arrancando o
casto v/u que cobre a sua virginal cabea, corre a cobrir com
ele o nu e dilacerado corpo de seu Oilho, ab!lo nos rins,
bei9a depois a plida fronte do Oilho das suas entranhas sem
que os sai)es se oponham, porque a dor daquela 'e era
imensa, incomparvel
"s verdugos colocaram 2esus sobre o afrontoso
madeiro
Gam preg!lo 'aria soltou um grito sem exemplo
vendo os cravos e o martelo nas mos do verdugo *risto,
IS;
estendido sobre a cruz, enviou um sorriso de amor a sua
'e 2oo e 'adalena arrancavam daquele lugar a 'aria,
conduzindo!a a um gruta que se achava a poucos passos
De repente ouviu!se um rudo seco, dilacerante 4ra o
cravo que, penetrando a carne, pregava a mo direita de
2esus no vergonhoso madeiro Huatro vezes caiu com fora
sobre o duro cravo o terrvel malho e seu som, seco,
aterrador, chegava ao corao de 'aria ferindo!o como a
ponta de um punhal
" sangue saltava ao rosto do verdugo 2esus agitou!se
dolorosamente sobre o madeiro
, mo esquerda foi, por fim, pregada "s cravos
tinham nove polegadas , eram triangulares e a cabea
redonda , ponta ensanguentada saiu pelo outro lado da cruz
Oaltavam os p/s, e colocaram!nos sobre o ponto de
apoio um por cima do outro Dois cravos esperavam a carne
para a penetrarem
Dez marteladas terminaram o horrvel martrio 2esus
ficou pregado, e foi levantado 0 )ista das naBes 4nto
ressoou um grito de entusiasmo ao redor do @#lgota
Pilatos tinha mandado p8r uma tabuinha na parte mais
alta da cruz com este letreiro-
245<5 N,Q,64N", 64G D"5 2<D4<5
*aifs, que tinha presenciado tudo rodeado dos seus
amigos e fariseus, apenas leu o letreiro aproximou!se de *aio
Rpio e disse!lhe com voz descomposta-
! 3ira aquela tbua, onde diz que aquele *ondenado /
nosso 6ei, e p)e- 'esus de Na>ar.! &ue se di> Rei dos
'udeus<
IS?
*aio enviou um olhar desdenhoso ao pontfice, que se
dirigiu a Pilatos
D O es"rito! es"rito 5a de minha casa, e no espereis
que se mude nem uma s# letra, disse Pilatos
4ntretanto, 2esus exclamava com moribundo acento-
PerdoaiD*hes! meu Pai! no sa-em o &ue ?a>em<
,lguns homens do mais soez da plebe, que se tinham
reunido com os verdugos, escarneciam desapiedadamente do
Oilho de Davi
! .4hD 3u que destr#is o templo de Deus, lhe disse um e
em tr&s dias o reedificas, salva!te a 3i mesmo 5e /s Oilho de
Deus, desce da cruzD
4 aqueles miserveis riam!se e zombavam
! %ede que Profeta, que salva a todos e no pode salvar!
se a 4le mesmoD
! No /s 6ei de GsraelC grita outro Pois desce da cruz e
crerei em 3i
" bandido @estas, pregado na cruz 0 esquerda do
@alileu, voltou a cabea para olh!lo, e disse!lhe com
desprezo-
! 5e 3u /s *risto, salva!te a 3i mesmo e a n#s
! @estas, exclamou Dimas com dolorosa e triste voz,
no blasfemes, no duvides do poder de Deus 6egozi9a!te da
gl#ria que te cabe por morreres ao lado do 'essias
verdadeiro N#s, na verdade aqui estamos sofrendo a sorte
afrontosa da cruz com 9ustia, pois pagamos a pena que
merecem os nossos crimes 'as 2esus nunca fez mal a
ningu/m
4 voltando a cabea para o Nazareno, Dimas
continuou-
! 5enhor, lembra!te de mim quando fores ao teu reino
*risto dirigiu!lhe um doce olhar e disse!lhe-
ISB
! 4m verdade te digo, que ho9e estars comigo no
Paraso
4ntretanto, ao p/ da cruz tinha surgido uma disputa
"s miserveis brucianos, os cru/is verdugos que
haviam despo9ado 2esus das vestiduras, tinham tirado uns
dados e estavam 9ogando a t(nica incons(til do Nazareno
CAPTULO V
TU%O ET2 CONUMA%O
'aria, a Olor de pureza, a virgem imaculada, no p8de
permanecer muito tempo na gruta para onde a tinham
conduzido os amigos Huis tornar a ver seu Oilho
"s rogos de 2oo, as s(plicas de 'adalena, foram vos
5aiu, por fim, e pouco depois caa a9oelhada aos p/s de
2esus, e abraava!se ao cruel madeiro, com a alma dilacerada
de dor e de ang(stia
4ntretanto o sol escurecia, sem que uma s# nuvem
atravessasse o firmamemto , terra ia tomando uma cor
plida, triste, como o doloroso semblante do 'rtir ,s aves
buscavam precipitadamente ref(gio nas frondosas rvores do
vale do *edros ,s trevas da noite lutavam por usurpar o
cetro ao pai do dia 2esus, vendo que sua hora se aproximava,
deixou cair para sua 'e um doloroso olhar
5eus olhos, cheios de doce e amorosa expresso
encontraram!se com os olhares angustiosos dos tr&s (nicos
seres que o tinham acompanhado at/ o cume do @#lgota- sua
'e, 'aria 'adalena e 2oo, seu discpulo favorito
" angustioso olhar da %irgem parecia pedir!lhe farsas
para suportar to brbara agonia
ISF
2esus estremeceu e disse, dirigindo!se a sua me-
! 'ulher, ai tens teu filho= e com um movimento de
cabea indicou!lhe 2oo
! 2oo, ai tens tua meD
2esus ergueu os olhos ao c/u, como se buscasse seu Pai
no plido e triste horizonte que se estendia sobre sua cabea
ensanguentada e, exalando um doloroso grito, disse-
D E*i# E*i# Lamma a-a"thaniG
4 os verdugos, ao escutarem estas palavras,
exclamaram em tom de mofa-
! *hamas 4lias para que venha livrar!teC 'as dize!lhe
que no se detenha no caminho
'aria abraada ao afrontoso madeiro, no afastava os
doloridos olhos do angustioso rosto de seu Oilho
2esus agitou a cabea com agonia e, neste momento,
um relAmpago azulado atravessou os dilatados Ambitos do
espao
*em mil espectadores levantaram os olhos para o c/u
depois de passarem as mos por eles
No havia nuvens= mas o sol ostentava a palidez dos
cadveres e os muros da cidade, e as cristas dos montes, e os
seios dos barrancos tingiam!se de um resplendor estranho,
que gelava o sangue nas veias e oprimia o esprito
*essou o trovo, como se a natureza suspendesse seu
enfado, e 2esus, abrindo a boca, exclamou com moribunda
voz-
D Tenho sede
Longuinhos, que se achava pr#ximo de 2esus, embebeu
uma espon9a em mirra e vinagre, bebida horrvel que davam
aos condenados para lhes entontecer o c/rebro e minorar as
dores, e chegou!a brutalmente a divina boca de 2esus
ISI
" Nazareno voltou o rosto para o "cidente, exalando
um doloroso suspiro "s elementos responderam com sua
poderosa voz a este gemido do 6edentor
, terra tornou!se de cor achumbada e no c/u
apareceram algumas estrelas Prolongados e longnquos
trov)es se sucederam com rapidez, e o raio cruzava em todas
as dire)es " temor, o assombro, a admirao comeou a
espalhar!se entre os espectadores
Longuinhos, que se achava perto da cruz, a custo podia
segurar o cavalo que, espantado e receoso, trabalhava para
despedir!se da sela o cavaleiro
2esus tornou com moribundo acento-
D Tudo est9 "onsumado
"s trov)es redobraram- a escurido entendeu!se pelo
espao= a pavorosa luz do raio dilatou!se pelo /ter
Por fim soou na eterna manso do 5er 5upremo a hora
em que o $omem!Deus devia morrer pela raa humana "
*ordeiro sem mcula ia morrer, e soltando um gemido
emudeceu a natureza 5eus lbios abriram pela (ltima vez e
estas palavras pronunciadas em voz baixa, mas que chegaram
aos ouvidos dos enfermos que se achavam em 2erusal/m,
saram da sua boca-
D Meu Pai! nas tuas mos entrego o meu es+6rito#
2esus inclinou a cabea e, exalando um suspiro, soltou
o (ltimo alento
Naquele momento o estridoroso trovo retumba em mil
partes ao mesmo tempo= o vale de 2osaf ilumina!se com a
azulada luz do raio= os sepulcros dos profetas quebram!se em
pedaos= as sepulturas abrem!se, os mortos saem das covas
" templo de 5ion inclina!se como para saudar o (ltimo
suspiro do 6edentor, e o v/u do 5anto dos 5antos rasga!se
com espantoso estrondo
ISP
, noite substituiu o dia= as estrelas, o sol
"s soldados que rodeavam o 'rtir retrocederam,
proclamando a sua divindade ,s mulheres e os velhos
ergueram as mos ao c/u, aterrados ante o universal estrondo
que lhes anunciava com a poderosa voz da natureza que
acabavam de presenciar um deicdio <ma terrvel escurido
reina por toda parte
"s vivos v&m os cadveres pelas ruas e os plidos
esqueletos inclinam!se para saudar os parentes
No meio desta desolao geral, dois homens
permaneciam no cume do @#lgota com a fronte erguida e o
olhar provocador
,mbos fitaram os altivos olhos no corpo sem alento de
2esus <m chamava!se Longuinhos e outro 5amuel 7eli!
7eth
7eli!7ethD NazarenoD No me respondesC W o mesmo-
escuta as minhas palavras 4u rio!me da voz da tempestade e
desprezo essa raa covarde que foge espantada quando vibra
o raio sobre as suas cabeas= a minha nunca se inclina 5e /s
homem vencer!te!ei, estou certo= se /s Deus, advirto!te de
que me acho pronto para a luta= disseste que eu seria imortal=
pois bem= s# os deuses so imortais= eu sou deus, comece a
luta
5amuel abandonou o @#lgota soltando terrvel
gargalhada
Longuinhos descarregou uma terrvel lanada no lado
direito de 2esus , acerada ponta abriu uma larga ferida no
peito do Nazareno Por aquela ferida rebentou uma fonte de
sangue e gua, que correu como um arroio pela lana de
Longuinhos, umedecendo!lhe as mos
Longuinhos sentiu ao tocar aquele sangue alguma coisa
estranha 'aquinalmente a lana caiu!lhe das mos, e
ISS
esfregou os olhos " sangue de 2esus tocou!lhe as plpebras
e Longuinhos viu com espanto que tinha recobrado a vista
4nto soltou um grito, e descendo do cavalo, exclamou-
! 'ilagreD 'ilagreD 2esus, Deus meu, eu creio na tua
infinita provid&nciaD
4, caindo aos p/s de 2esus, adorou!\
CAPTULO VI
CAIO 2PIO
"s trezentos mil espectadores da trag/dia divina, to
depressa a terra lhes tremeu sob os p/s e o sol ocultou a
brilhante fronte como envergonhado do crime que acabava
de cometer!se, dispersaram!se
,tropelando!se uns aos outros entraram na cidade e,
escondendo!se nos mais escuros cantos de suas casas,
repetiam com covarde acento-
!4ra verdade que 4ste era Oilho de Deus e matamo!lo
"s covardes 9erossolimitanos fechavam as portas e
9anelas, porque alguns mortos que tinham sado dos
sepulcros corriam pelas ruas, graves, silenciosos como os
t(mulos que tinham encerrado os seus corpos
4ntretanto ao redor da cruz, onde ainda permanecia
pregado 2esus, agrupava!se com amor um grupo doloroso de
onde devia brotar brevemente a fecundante fonte do
*ristianismo
Daquele punhado de israelitas reunido no cume do
*alvrio, ia nascer o perfume imortal e salvador que h
dezenove s/culos fortalece com sua ess&ncia o grande
esprito da humanidade
ISM
'aria, a 'e dolorosa, era o precioso vaso que reunia
as flores abatidas do 4vangelho
'adalena, 'aria 5alom/, 2oo, Pedro e outros
discpulos choravam amargamente ao p/ da cruz, quando
viram subir pelas desertas fraldas do @#lgota, 2os/ de
,rimat/ia e Nicodemos, seguidos de quatro criados
"s dois amigos de *risto tinham alcanado do 9uiz
romano licena para darem sepultura ao corpo do 'rtir=
eram responsveis para com Pilatos pelo cadver de 2esus
2os/ de ,rimat/ia levava finssimo lenol de linho e
Nicodemos cem libras de mirra e alo/s para ungir e
embalsamar o corpo de *risto, segundo o costume dos
9udeus
2os/ fechou o sepulcro com uma enorme pedra e, como
tudo estava terminado, regressaram a 2erusal/m, onde os
"hama)a a "e*e-rao da P9s"oa<
, noite estendeu suas sombras sobre a cidade santa ,
muralha de Naim encerrava em seus braos de pedra cerca de
um milho de almas "s filhos de @alil/ia, os habitantes da
praia do mar de 3iberades, pregoavam em voz alta pelas
ruas da cidade maldita, que os fariseus e os escribas, com o
horrvel crime que acabavam de perpetrar, indubitavelmente
chamariam a c#lera de Deus sobre o povo de Gsrael "
descontentamento espalhava!se por todas as partes
"s fariseus temeram que os partidrios do @alileu
roubassem o corpo do *rucificado, fazendo depois crvel a
ressurreio que profetizara e os fizeram reunir no sin/drio
" conclio acordou que era preciso que Pilatos lhes
desse certo n(mero de soldados para guardarem o sepulcro,
que eles temiam fosse violado pelos amigos de 2esus
Gmediatamente foram escolhidos doze soldados e um
*enturio para guardarem o cadver de 2esus
IMT
2 se dispunham a abandonar o "on"*a)e de +edra
quando *aio Rpio se apresentou 0s portas da assembl/ia
! 'iserveisD lhes disse *aio Rpio 4m vo procurais
op8r!vos a vontade de Deus, cu9o filho crucificastes no
@#lgota, porque tudo o que 4le vos prometeu se cumprir ,
sua maldio, que retumba no espao e cu9o eco sentis na
consci&ncia, vos espalhar pelo orbe como um punhado de
areia ao poderoso sopro do furao 'alditos sero os filhos
de vossos filhos, porque v#s matastes o profeta verdadeiro
"s filhos do evangelho povoaro em breve as dilatadas
regi)es do mundo "s soldados abandonaro a lana e
empunharo a cruz "s lavradores deixaro o arado e
empunharo a cruz "s deus pagos cairo feitos pedaos nos
templos, e este santurio, que tendes manchado, ser
convertido em p#, como disse 2esus, antes que acabe a
presente gerao 'alditosD 'alditosD 'alditos sereisD
*aio Rpio saiu do templo sem que ningu/m se
opusesse 5uas palavras tinham sobressaltado os sacerdotes e
os fariseus
Naquele momento, no interior do 5anto dos 5antos,
cu9o v/u se tinha rasgado, 9ustamente 0 mesma hora em que
2esus soltou o (ltimo suspiro, ouviram!se vozes que nunca se
p8de saber quem pronunciou, as quais diziam- Partamos
deste *ugar
*aifs fez esforo para reanimar os companheiros
Logo partiram alguns sacerdotes seguidos dos soldados,
chegaram ao 9ardim de 2os/ de ,rimat/ia e levantaram a
pedra do sepulcro ,li estava o cadver de 2esus
4m presena dos sacerdotes tornou a colocar!se a
enorme pedra, e pelas suas pr#prias mos foram seladas as
9untas
IM+
Huatro soldados com a lana no brao se colocaram 0
porta do sepulcro
"s sacerdotes sairam do 9ardim, e 9 no campo, *aifs
disse aos que o cercavam-
! ,gora estou tranquilo 5e / Deus, que quebre a lousa
do sepulcro e ressuscite, o que / difcil que suceda
CAPTULO VII
O MORTO 8ALAM
5amuel 7eli!7eth, depois de apostrofar 2esus na
agonia, desceu do @#lgota e comeou a caminhar sem saber
para onde, como impelido pela aterradora voz da
consci&ncia , escurido era completa= o temor dos
habitantes de 2erusal/m to grande, que a gente se atropelava
pelas ruas
5amuel parecia insensvel ao espanto geral 5eguia seu
caminho com a fronte inclinada e como se a maldio de
Deus lhe pesasse sobre a cabea
5em o perceber, atravessou grande parte da cidade de
7eceta e, torneando as fraldas do monte '#ria, achou!se nas
portas das Rguas Parou fatigado no vale dos *adveres, que
conduz ao sepulcro de ,bsalo
,li limpou o suor que lhe inundava a fronte e, erguendo
a cabea, retrocedeu dois passos, aterrado
"s profetas achavam!se sentados sobre os seus
sepulcros com os descarnados braos na direo do @#lgota
,queles esqueletos envoltos nos brancos sudrios, que se
levantavam das sepulturas para chorarem a morte de Deus,
aterravam 5amuel, que os olhava com olhos espantados
IM;
" trovo, rugia!lhe sobre a cabea= a terra tremia!lhe
debaixo dos p/s 4nto, ao resplendor dum relAmpago, p8de
ver que os esqueletos se puseram em p/ que dos seus olhos
sem luz corriam lgrimas de sangue *aiu de 9oelhos, e
estendendo as mos em direo aos mortos, murmurou com
voz aterradora-
! PerdoD PerdoD
"s profetas responderam!lhe com a voz espantosa dos
sepulcros-
D AndaD
Gmediatamente, em toda extenso do vale de 2osaf, se
escutou um gemido, cu9o eco repetiu de modo f(nebre-
D Anda! anda! anda#
5amuel p8s!se em p/ possudo de um pAnico horrvel
4nto viu umas letras de fogo esculpidas sobre as
pedras do sepulcro, que diziam- A-sa*o<
! PiedadeD exclamou 5amuel 9untando as mos
" esqueleto de ,bsalo estendeu o brao em direo ao
@#lgota e disse-
D Anda#
"s mortos do vale de 2osaf tornaram a repetir por tr&s
vezes-
D Anda! anda! anda#
5amuel com o cabelo eriado, olhos encovados, a testa
coberta de suor, comeou a caminhar como impelido por
mo misteriosa
, terra parecia escapar!lhe debaixo dos p/s e parou
como para tomar um f8lego= mas apenas tinha detido o
passo, a pedra dum sepulcro que se achava ao lado caiu em
pedaos e o cadver do profeta Qacarias saiu do t(mulo,
repetindo-
D Anda#
IM?
4 outra vez, os mortos tornaram a repetir dos seus
sepulcros-
D Anda! anda! andaD
5amuel continuou seu caminho, caindo fatigado depois
de meia hora de caminhada 9unto duma rvore ,li, s# com
sua dor, com a cabea entre as mos, permaneceu longo
tempo
" remorso devorava!lhe o corao e quis novamente
implorar a clem&ncia divina- mas apenas os lbios abrasados
pela febre pronunciavam a palavra +erdo ouviu uma voz
que lhe repetia sobre a cabea-
D Anda! ma*dito "omo eu! anda! anda#
4rgueu os olhos para ver quem era o que o perseguia e
ameaava em to desertos lugares, e viu 0 luz de um
relAmpago o corpo de um homem enforcado que se agitava
sobre o precipcio
,quele cadver era o de 2udas
5amuel abandonou aterrado o lugar, encaminhou!se
para a cidade e entrou pela porta 4stercolria= atravessou do
mesmo modo o arrabalde de "fel, a esplanada do templo,
passou sem se deter parte da cidade de 7eceta e chegou por
fim, 0 sua casa
4nto viu com horror que um esqueleto se achava
sentado no poial da sua porta Oitou os olhos espantados
naquele espectro dos t(multos, soltou um grito, e disse com
medroso acento-
! 5ara, 5araD 'inha esposa, tu tamb/m deixas o
sepulcro para amaldioar!meC
" espectro respondeu com doloroso acento-
! 5amuel, Deus permite!me que abandone por um
instante o sepulcro e que venha despedir!me de ti e dizer!te-
IMB
Anda! ma*dito de %eus! anda at. a "onsumao dos
s."u*os#
, viso desapareceu
5amuel desfalecido, entrou em casa e foi refugiar!se
9unto ao bero do filho, que apenas contava doze meses
,li ao menos 9ulgava!se seguro dos mortos Oitou os
aterrados olhos no formoso menino que dormia no bero=
mas, naquele momento, o menino levantou!se, e pondo!se
em p/, estendeu a mozinha em direo ao @#lgota, e disse
com voz doce e sonora, que devem ter os an9os-
D amue* /e*iD/eth! anda! anda! anda#
5amuel retrocedeu at/ tocar com a cama da sua velha
me= que, muda, paraltica, havia muitos anos, p8s!se em p/,
e disse com claro acento-
D Anda! anda! anda! ma*dito de %eus#
5amuel no p8de resistir a tanta comoo e caiu
desamparado no cho Naquele momento ouviu!se uma
pancada na porta da rua, logo outra, depois outra
4stas tr&s pancadas pausadas, sem que ele pudesse
compreender a causa, reanimaram subitamente, o esprito
aterrado do 9udeu P8s!se em p/ e perguntou-
! Huem /C
<ma voz que no tinha nada da terra, respondeu-
! " que Deus envia ,bre
! 4ntra, se queres, respondeu 5amuel, que parecia ter
recobrado a passada energia
, porta abriu!se <m 9ovem que quando muito teria
dezesseis anos de idade, branco como o leite, louro como o
ouro, formoso como as rosas de 5aron e vestido com um
t(nica resplandecente, entrou em casa de 5amuel Levava um
bordo de viagem na mo, e do corpo irradiava uma aur/ola
de luz
IMF
! Huem /sC perguntou 7eli!7eth
! 5ou @abriel, o enviado do 5enhor, o mensageiro do
Paraso, que venho entregar!te o bordo do via9ante e dizer!te
que a tua hora chegou- Anda#
! 4nto era DeusC exclamou dum modo indescritvel
5amuel 4nto era DeusC 4 recusei!lhe a gua que me pediaD
,h, maldito, maldito, maldito, se9a o meu nomeD
" arcan9o repetiu-
! 5amuel, a hora chegou Anda#
! Por caridade, permite que d& um bei9o na fronte desse
pobre menino que se acha no bero
D AndaD 6epetiu @abriel
! Deixa que d& a minha me o #sculo de despedida
D Anda! anda# tornou o enviado de Deus
! 4stou cansado= deixa que respire um quarto de hora=
corri muito desde que 2esus soltou o (ltimo suspiro
D Anda# Anda# Anda# repetiu o ,rcan9o= mas de um
modo to en/rgico, que 5amuel baixou a fronte, pegou no
bordo que lhe apresentava, atou as sandlias e exalando um
doloroso suspiro, saiu de casa para nunca parar, para
caminhar eternamente
2ac# 7esnage, autor protestante, na sua 0ist,ria dos
'udeus, conta tr&s 9udeus errantes= o primeiro chamou!se
amer, e foi amaldioado por Deus por ter fundido o bezerro
de ouro no tempo de 'ois/s, o segundo, com o nome de
Cata?*io que foi porteiro de Pilatos= e o (ltimo chamado
Assuero, sapateiro de ofcio, que tinha a lo9a na rua que
depois de chamou via Dolorosa, recusando a 2esus um pouco
de gua quando caminhava para o *alvrio
Oei9#, no tomo segundo das suas *artas eruditas,
falando extensamente sobre o 9udeu errante, diz que no de
++;M apareceu o 9udeu errante na Gnglaterra, em +FBP em
IMI
$amburgo, em +FPF em 'adrid, em +ITM em %iena, em
+I+T, em +I+; em ,stran, em +IB? em Paris, em +IMB em
'oscou, e finalmente indica!se nos fins do s/culo X%GG em
Londres pela segunda vez, como assegura uma carta da
duquesa $ort&ncia de 'azzarino, irmo do c/lebre cardeal
do mesmo sobrenome
,crescenta Oei9#, que um homem astuto e sagaz,
instrudo na hist#ria em oito ou nove lnguas, que vida mais
agradvel podia escolher que a de se fingir 9udeu, o errante,
chamando a ateno dos prncipes e pessoas poderosas, ou
que estranho seria que depois o imitassem outros
embusteirosC
4m todo o caso, se a tradio / uma fbula, como deve
crer!se, / preciso convir que em nada pode representar com
tanta exatido o disperso povo de Gsrael, que nunca p8de
reunir!se, como esse homem, amaldioado por Deus em
cu9os ouvidos ressoa claramente o anda! anda! anda# da
tradio
N#s demos!lhe uma forma fantstica, porque em anda
afeta o dogma, assim como nos servimos dum nome que
ningu/m cita, em vista dos diferentes pareceres que desde o
c/lebre historiador 'atias de Paris Jo primeiro que deu 0 luz
a tradio do 9udeu errante no ano de +;MMN at/ n#s se tem
adotado
CAPTULO VIII
TRV %IA %EPOI
IMP
Huatro soldados da sinagoga, encostados as suas lanas
guardavam o sepulcro de pedra que encerrava o divino corpo
do 5alvador
,queles mercenrios de 6oma, emprestados por Pilatos
aos sacerdotes israelitas riam!se muito do receio dos fariseus
Oormando um grupo a uns doze passos do sepulcro achavam!
se mais oito homens " dia no estava longe " avermelhado
resplendor de duas teias alumia a enorme pedra do sepulcro
! Para isto viemos n#sC dizia um dos soldados,
dirigindo a palavra aos companheiros
! 5# os 9udeus so capazes de p8r sentinelas ao redor
dum cadver OanticosD respondeu outro
! Oelizmente, disse o primeiro, o prazo desta guarda
enfadonha terminar brevemente
! 5im, depressa se completaro os tr&s dias que teme a
sinagoga
Huando surgir o sol, que no est longe
! 5abes, disse um que at/ ento no tinha despregado os
lbios, que seria coisa surpreendente que se realizasse o
medo desses velhos rabinosC
! *om certezaD %er voar um homem pelos aresD
"s soldados romperam numa gargalhada= mas ao
mesmo tempo ouviu!se um doloroso gemido no centro da
terra
! "uvisteC disse um deles
! 5im, a terra tremeu debaixo dos nossos p/s
4nto houve um breve sil&ncio= mas depressa os
soldados, envergonhados do seu medo, tornaram a rir
! 7onito fora que os filhos da guerra, os adalides de
3ib/rio, se pusessem a chorar de medo como covardes
mulheresD exclamou o *enturio da fora
IMS
, aurora comeava naquele momento a estender suas
r#seas cores pelo espao ,pesar das gargalhadas e da
chacota da soldadesca, desde que tinham sentido o estranho
estremecimento da terra no tornaram a despregar os lbios,
notando!se em todos os semblantes certa expresso de
desgosto
5ubitamente, fez!se escuro
,ntes que os soldados pudessem compreender aquele
acontecimento inesperado, tornou a gemer e estremecer o
centro da terra ,quele eco subterrAneo, pavoroso, parecia
aproximar!se da superfcie com incrvel rapidez e, como a
mar/, crescia, reforando sua aterradora voz De repente
saltou a pedra que cobria o sepulcro em mil pedaos e uma
chama espl&ndida brotou do seio do t(mulo
,lguns soldados caram aterrados ao cho= outros
apelaram para a fuga, encaminhando!se para 2erusal/m ,
profecia acabava de cumprir!se *risto ressuscitava dentre os
mortos ao terceiro dia ,bandonava o t(mulo para tornar a
aparecer sobre a terra dos vivos " t(mulo que encerrava o
seu divino corpo achou!se vazio <m an9o apareceu sentado
na borda do sepulcro "s seus olhos brilhavam como os
serenos raios do sol 5eus vestido, branco como as nuvens de
,rar, resplandecia como a fronte da lua numa noite serena
,s quatro sentinelas que tinham cado meio mortas,
levantaram!se retrocedendo com assombro na presena do
an9o
4ste estendeu o celeste brao em direo a 2erusal/m e
disse, com dulcssima voz
! Gde a 2erusal/m e contai o que vistes
"s soldados obedeceram " an9o ficou s# na gruta ,o
mesmo tempo umas mulheres saam de 2erusal/m
IMM
! *orramos, dizia uma delas, e derramemos sobre o seu
purssimo corpo estes preciosos aromas $o9e completa!se o
terceiro dia, e os soldados da sinagoga podero deixar!nos
v&!lo, 9 que est morto *orramos, seus discpulos e sua
amorosa 'e tamb/m no faltaro
, que assim falara era a enamorada donzela de
'gdalo
*hegaram ao sepulcro 'adalena entrou s#, primeiro
" dia ainda estava indeciso 0s portas do "riente
,proximou!se do sepulcro, e vendo a pedra levantada do seu
lugar, no retrocedeu= mas introduzindo a formosa cabea na
gruta, soltou um grito-
! Levaram o 5enhorD
4nto correu a participar a triste notcia aos seus
amigos, Pedro e 2oo encaminhavam!se para aquele lugar
'adalena saiu!lhes ao encontro, dizendo-
Levaram 2esus= que faremos agoraC
"s ap#stolos, cheios de assombro penetraram na gruta
" sepulcro estava vazio 'adalena tinha dito a verdade
Pedro examinou atentamente o sudrio que se achava
colocado num extremo do sepulcro, e disse, dirigindo!se a
2oo-
! "bserva bem que o corpo do nosso 'estre no foi
roubado com precipitao= porque nesse caso no se teriam
entretido em desatar as tiras de pano *risto ressuscitou dos
mortos, como disse
! *orramos a participar to faustosa nova a nossos
irmos, disse 2oo
'adalena caiu de 9oelhos 9unto do sepulcro 5eu amor
imenso precisava de verter um mar de lgrimas sobre aquela
pedra abandonada- mas ao fitarem!se os formosos olhos no
PTT
fundo do sepulcro, viram dois mancebos vestidos de branco,
cu9os corpos despediam um perfume inebriante
<m deles estava sentado no mesmo lugar em que tr&s
dias antes tinham posto a cabea de 2esus " outro achava!se
no lugar onde estavam os feridos p/s de *risto
! 'ulher, porque choras to amargamenteC lhe
perguntou o mancebo, sentado 0 cabeceira
'adalena, contemplando com sobressalto aquele
formoso mancebo, respondeu!lhe-
! *horo porque tiraram o meu 5enhor e no sei onde o
puseram
,penas pronunciara estas palavras 'adalena sentiu
atrs de si um rudo que lhe fez voltar a cabea, e viu um
homem que lhe pareceu o hortelo do 9ardim onde se achava
! 'ulher, a quem procurasC lhe disse o homem
'adalena sem levantar os 9oelhos do cho, 9untou as
mos com gesto suplicante e disse-
! 5e tu o tiraste, dize!me onde o puseste, e eu o levarei
'adalena observou no olhar daquele homem alguma
coisa de sobrenatural que lhe sobressaltava o esprito 2esus,
pois este era o que se achava 9unto da arrependida pecadora,
compadecendo da sua dor, pronunciou com a voz que to
docemente ressoava nos ouvidos da desgraada durante a
pregao do evangelho-
! 'ariaD
'adalena conheceu 2esus 5oltou um grito, e lanando!
se!lhe aos p/s exclamou com apaixonado acento-
! 'estreD
2esus recuou, dizendo-
! No me toques= ainda no subi a meu Pai= mas vai a
meus irmos e dize!lhes o que viste
PT+
3inha aparecido a 'adalena primeiro que aos
,p#stolos, mas depois que a sua 'e, a quem dedicou a sua
primeira visita ao ressuscitar 4ntrevista venturosa foi esta
para aquela 'e aflita= cena doce, felicidade imensa, com a
qual recompensou o 6edentor do mundo a incrvel amargura
que sofrera a Olor de Nazar/, a 4strela do mar 'adalena
voltou pressurosa a 2erusal/m 4ncontrou os dois ap#stolos
que poucos momentos antes tinham observado detidamente o
vazio sepulcro e, com gozo indefinvel que lhe transbordava
na alma, lhes diz-
! *risto ressuscitou, eu o vi, como vos ve9o a v#s "uvi
a doce voz que me comoveu o corao, enchendo!o de
alegria e de gozo
Pedro e 2oo creram o que 'adalena lhes disse= mas ao
participarem!no a seus irmos, a d(vida achou cabida em
alguns deles
Naquela mesma tarde, dois discpulos de *risto
caminhavam tristes e meditabundos de 2erusal/m para a
aldeia de 4maus, que dista duas l/guas da cidade santa
Oalavam com doloroso acento dos tristes acontecimentos
daqueles dias
, morte de 2esus, seu 9ovem 'estre, era o motivo da
conversao
! 5im, Lucas, dizia um deles, 2esus Nazareno era um
$omem sem igual, um grande Profeta
! ,migo *l/ofas, respondeu Lucas, *risto foi poderoso
conosco, e amado de todo o povo "s fariseus cometeram um
crime horrvel
Neste momento, apareceu!lhes um desconhecido, que
disse-
! , paz se9a convosco- de que falais, irmosC
PT;
*ontaram!lhe os acontecimentos que o povo
9erossolimitano presenciara tr&s dias antes, e que umas
mulheres tinham trazido a surpreendente notcia a 2erusal/m
de que 2esus ressuscitara dentre os mortos
" via9ante misterioso notou a d(vida na palavra dos
ap#stolos e, como 9 se achassem perto da aldeia, disse!lhes-
! %e9o que a d(vida se alberga no vosso corao- fazeis
mal *rede tudo o que vos disserem do 'essias que pregou
convosco o 4vangelho
Pouco depois chegaram a 4maus e os ap#stolos
convidaram o via9ante para comer com eles
" via9ente aceitou 'as to depressa se sentou 0 mesa,
pegando num po sem fermento, partiu dele dois pedaos, e
dando um a Lucas e outro a *l/ofas, disse!lhes-
! 3omai o meu corpo
"s ap#stolos estremeceram e creram reconhecer o
'estre= mas o estranho desapareceu 4ra efetivamente
*risto, o 'rtir do @#lgota
CAPTULO IU
A ACENMRO
*risto, depois da sua ressurreio apareceu primeiro a
sua me= logo, a 'adalena, depois 0s piedosas mulheres
'aria, mulher de *l/ofas, 2oana, mulher de *husa,
intendente que foi de $erodes= 5alom/, me de 2oo e 3iago,
e a outras que o seguiam no tempo da pregao
No mesmo dia da triunfante ressurreio, os ap#stolos,
excetuando 3om/, achavam!se reunidos no cenculo e Pedro
referia com ardente f/ o assombroso acontecimento da
ressurreio de *risto
PT?
" sol acabava de esconder os (ltimos raios do
"cidente, e duas lAmpadas de bronze alumiavam a habitao
3odas as portas estavam fechadas, pois o receio de serem
surpreendidos pelos soldados da sinagoga no era estranho
nos ap#stolos
, d(vida tinha cabimento na alma de alguns daqueles
futuros mrtires= 9 comeavam as r/plicas entre eles, quando
*risto apareceu no meio do cenculo sem que nenhuma porta
se abrisse para lhe dar passagem " assombro dos ap#stolos
foi grande
! , paz se9a convosco, disse com aquela voz que
penetrava at/ o mais fundo dos cora)es= sou 4u, no temais
"s assombrados discpulos mal podiam dar cr/dito ao
que viam Pedro, reposto do seu assombro, e crendo!se o
mais pecador por o ter negado tr&s vezes, caiu aos p/s do
*risto, e 9untando as mos com gesto suplicante, exclamou-
! Ws 3u, 'estreD Ws 3u o *ristoD Ws 3u o 'essiasD ,h,
5enhorD
! 5ou 4u, lhes disse Deus= e depois estendeu a mo
sobre os ap#stolos, encheu!os da sua divina ess&ncia e disse!
lhes-
! 6ecebei o 4sprito 5anto- aqueles a quem perdoardes
os pecados, perdoados lhe so- e aqueles a quem o retiverdes,
retidos lhes so
Depois disto desapareceu do mesmo modo que
aparecera, sem se saber por onde
"ito dias depois achavam!se os ap#stolos reunidos no
mesmo lugar e com a porta fechada "s escribas e os
sacerdotes tinham comprado 0 fora de ouro o sil&ncio dos
soldados guardadores do sepulcro, para que o assombroso
acontecimento da ressurreio no se divulgasse
PTB
"s ap#stolos eram acusados como ladr)es do corpo de
cristo No sin/drio meditava!se a maneira de os prender, e
aquele punhado de ovelhas agrupava!se durante a noite para
tratar da pregao do evangelho
! Para que 3om/ creia, meus irmos, / preciso que o
ve9a e que o toque
4nto apareceu *risto, entre eles e, como da primeira
vez, disse!lhes com doura-
! , paz se9a convosco
2esus, com passo tranquilo e olhar sereno, foi!se
aproximando de 3om/, que o olhava com olhos espantados
Huando chegou mui perto dele, disse!lhe-
! ,proxima!te do teu 'estre, mete aqui o dedo,
examina esta chaga, sonda depois a do lado, e no se9ais por
mais tempo incr/dulo, mas fiel
3om/, que tinha escutado as palavras de 2esus e visto
as feridas que o 'estre lhe mostrava, caiu confundido a seus
p/s, exclamando com doloroso acento-
! Perdo, pela minha d(vida, 5enhor e Deus meu- o
martrio no poder com seu doloroso tormento apagar a luz
vivssima da minha f/
! Porque me viste, 3om/, creste, lhe disse 2esus= bem!
aventurados os que no viram e creram
2esus, tornou a desaparecer do cenrio Por espao de
quarenta dias percorreu a @alil/ia, mostrando!se a muita
gente " lago de 3iberades presenciou depois da
ressurreio os novos milagres de *risto
"s ap#stolos que, receosos do furor dos sacerdotes, se
tinham retirado a *afarnaum, 9ulgando!se ali mais seguros,
tornaram a ver o 'estre divino um dia em que pescavam nas
suas barcas, mandando!lhes 4le que regressassem a
PTF
2erusal/m sem receio dos fariseus, pois no havia de faltar!
lhes o socorro do ,lto
"s ap#stolos, fieis ao que lhes tinha mandado o 'estre,
chegaram a 2erusal/m, e prepararam uma comida em casa de
2os/ de ,rimat/ia, no santo cenculo "nze se achavam
sentados 0 mesa quando 2esus tornou pela quarta vez a
aparecer Durante a ceia instruiu!os no que deviam fazer
! Gde por todo o mundo, e pregai o 4vangelho a toda a
criaturaD 4nsinai a toda gente, batizando!os em nome do Pai,
do Oilho e do 4sprito 5anto 4nsinai!lhes que guardem todas
as coisas que eu vos mandei guardar, praticar e cumprir, para
serdes eternamente felizes= e estai certos que 4u
permanecerei em vossa companhia at/ 0 consumao dos
s/culos
3erminada a comida, 2esus levantou!se e disse aos
discpulos-
! 5egui!meD *hegou a hora de abandonar a terra o que
desceu do c/u
*risto saiu do cenculo 5ua 'e, as piedosas mulheres
que nunca a abandonavam e mais de cento e vinte discpulos,
reuniram!se aos ap#stolos 3odos seguiam 2esus, que se
encaminhou com tranquilo passo para o povoado de 7etAnia
,o chegar ao cume do monte das "liveiras, o Nazareno
parou
3odos os que o seguiam fizeram o mesmo 2esus dirigiu
um olhar amoroso, primeiro a sua 'e, que se achava quase
ao seu lado= depois aqueles fi/is que deviam pregoar em
breve a milagrosa ascenso= e, por (ltimo, ao grandioso
panorama que o rodeava, pois do cume do monte distinguia o
sombrio mar 'orto, o claro do 2ordo, e as gigantescas
palmeiras do vale do 2eric# Depois, inclinando a divina
fonte sobre o peito, ficou pensativo
PTI
3odos os rodeavam sem se atreverem a interromp&!lo
De s(bito, o corpo de 2esus encheu!se dum resplendor
vivssimo Da sua divina fronte brotaram raios da luz <ma
harmonia dulcssima se ouviu no espao, e uma nuvem
nacarada foi descendo do c/u at/ tocar com sua transparente
fimbria os cabelos de 2esus
, voz dos an9os cantavam o hino da gl#ria= o hosana
dos c/us ressoou aos ouvidos dos ap#stolos, que caram
a9oelhados aos p/s do seu 'estre
4nto 2esus estendeu os braos sobre aquelas cabeas
inflamadas pela semente fecundante do 4vangelho e
abenoou os futuros mrtires do *ristianismo Depois foi!se
elevando suavemente em presena dos discpulos, que o
olhavam com infinito gozo
Por muito tempo viram 2esus, rodeado de an9os, elevar!
se ao c/u Huando o corpo do divino 'estre, do Deus!
%erdade, desapareceu, quando 2esus, abandonando a terra
penetrou pelas portas do Paraso para sentar!se direita de
Deus Pai, os ap#stolos ficaram estticos, absortos, im#veis,
com os olhos fitos no c/u, como se o assombroso
acontecimento que acabavam de presenciar lhes houvesse
roubado a faculdade vital de toda criatura Dir!se!ia que o
seu esttico arroubamento os convertera em esttuas
Dois formosos mancebos, completamente vestidos de
branco e que tinham uma palma na mo direita e uma
pequena cruz na esquerda, apareceram no meio dos
ap#stolos
<m deles disse!lhe com a voz dos an9os-
! %ar)es de @alil/ia, que fazeis neste lugar olhando
para o c/uC "s desgraados vos esperam Gde, pois, percorrei
o mundo, contai o que vistes, porque o vosso 5alvador, meu
PTP
Deus, que acaba de subir ao c/u na vossa presena, voltar
algum dia a cumprir o que vos prometeu
"s an9os desapareceram
4nto os ap#stolos, como fortalecidos com as
misteriosas palavras, agruparam!se como para transmitirem a
f/ dos seus cora)es
,quelas flores do evangelho preparavam!se para
perfumar o mundo com o aroma das palavras do 'rtir
,queles soldados de 2esus *risto, anelando semear a
frutfera e ben/fica semente do *ristianismo, estenderam as
mos sobre o lugar onde pouco antes se tinham firmado os
p/s do 'estre, e 9uraram percorrer o universo pregando o
4vangelho, e morrer pela f/ do *risto
4 cumpriram o 9uramento
CAPTULO U
O EPULCRO %A ROA
,lguns anos depois uma pequena e veloz barca fendia
com a deigada proa as guas transparentes e azuladas do mar
Gcrio
Duas mulheres, formosas como aquele mar que se
estendia ante os seus olhos, e um homem, cu9a doce
fisionomia expressava a bondade do corao, achavam!se
sentados no banquinho de popa do barco, contemplando as
costas pitorescas da ,sia 'enor, semeadas de pltanos e
aucenas
"s tr&s via9antes vestiam o tra9e 9udaico, pobres
desterrados que buscavam em solo estranho a paz de
exist&ncia , barca chegou 0 praia, e os via9antes saltaram
PTS
sobre a finssima alfombra de areia que separa a cidade de
4feso do mar
! Huo belo / este soloD Huo brilhante o firmamentoD
Huo claro o mar que o acariciaD exclamou o homem,
embevecido na contemplao da paisagem
! 2oo, meu filho, disse uma das mulheres= lembra!me o
formoso solo da @alil/ia, o transparente lago de 3iberades, o
pitoresco 9ardim de Qabulon
! W verdade, murmurou em voz baixa o homem
! Pobres desterradosD tornou a mulher
, 55 %irgem, 'aria 'adalena e 2oo, o discpulo
favorito de 2esus, pois estes eram os via9antes, entraram na
cidade de 4feso
" #dio insacivel dos fariseus a 2esus tinha!os feito
emigrar, dispersando os ap#stolos da f/ pelo mundo
, misteriosa Olor do 4vangelho, a 'e do 'rtir do
@#lgota, sem mais parentes sobre a terra que 2oo U seu filho
adotivo, e 'adalena, sua inseparvel amiga, viu passar um,
outro e outro sono, em pas estrangeiro, sentada 0 sombra
duma daquelas frondosas rvores que aformoseiam as
vizinhanas de 4feso, e com os dolorosos olhos no mar
Gcrio, como procurando no seu longnquo horizonte as
palmeiras da @alil/ia, c/u da sua ptria
Durante aqueles momentos de doce contemplao,
enquanto 'aria e 'adalena vagueavam por esse mundo
encantador dos sentidos que tanto embevece a amargura do
desterrado, 2oo, o modesto pescador de 7etsaida, o amoroso
discpulo de *risto, ocupava!se em escrever um livro cu9a
maravilhosa ci&ncia, cu9a poesia inesgotvel devia ser
imortal
<ma nova desgraa fez rebentar de novo as lgrimas
dos olhos da %irgem 'adalena, a doce amiga, a enamorada
PTM
de 2esus, deixou de existir , %irgem e 2oo companharam
aqueles restos queridos 0 (ltima morada e, desde ento, a
soledade do seu dest&rro foi mais dolorosa, mais sombria ,
virginal ,ucena de Nazar/ comeou a pensar novamente na
Ptria
Pressentia o fundo do corao que seu Oilho ia enfim
cham!la 0 manso eterna <ma noite que 2oo escrevia ao
lado do seu leito, disse!lhe com voz carinhosa-
! 2oo, meu filho, pressinto que a minha vida se acha
pr#xima a extinguir!se, e antes quero visitar o templo de
2erusal/m
2oo, que no tinha outra vontade seno a de sua 'e
adotiva, preparou tudo para a viagem, e poucos dias depois
embarcaram no porto de 'ileto, numa galera que ia dirigir a
proa para a 4uropa, fazendo escala em 5idon , 5anta
%irgem, durante a viagem de regresso 0 ptria, contemplava
com indefinvel gozo as costas pitorescas que passavam ante
seus olhos aproximando!se da cidade querida Por fim a
galera chegou a 5idon "s remeiros levantavam cansados as
ps das guas, e a 5anta 'e pisa enfim a terra dese9ada
Huando os via9antes chegaram a 2erusal/m,
hospedaram!se na cidade de 5ion numa modesta casa
levantada perto do arruinado palcio de Davi
4m breve souberam que 3iago era 7ispo de 2erusal/m,
e que quase todos os ap#stolos tinham regressado 0 cidade
santa, depois de terem semeado em outros pases com
proveitoso fruto as sublimes palavras do 4vangelho 2oo
correu a participar a chegada da 'e de 2esus aos ap#stolos e
em breve a modesta Olor de @alil/ia se viu rodeada daqueles
santos var)es, cu9o amor a 4le e a seu Oilho era inesgotvel
'aria, cansada da viagem recebeu os fieis recostada num
leito de pobre apar&ncia
P+T
5eus bondosos olhos encheram!se de lgrimas na
presena dos santos var)es, que com to carinhosa solicitude
a rodeavam Pedro, o ap#stolo ancio, o homem da f/, disse!
lhe, pegando!lhe na mo-
! 'aria, nossa 'e, no te separars nunca mais do
nosso ladoD
! PedroD murmurou a %irgem com desfalecido acento
, minha hora aproxima!se, e meu Oilho espera!me- logo
cerrarei os olhos 0 vida terrestre
,lgumas horas depois, quando a noite estendia pelo
firmamento as sombras, quando os d/beis clar)es de uma
lAmpada banhavam com sua vacilante luz a habitao que
ocupavam os ap#stolos, 'aria deu um suspiro e,
pronunciando o doce nome de seu Oilho, fitou os
moribundos olhos no bispo de 2erusal/m, dizendo-
! Por que me olhas assim, 3iagoC
3iago, afogando a profunda dor que lhe devorava o
peito, respondeu-
! ,h, nossa 'eD Porque vendo o teu divino rosto, creio
ver o imortal 'estre, o meu bom 2esus
'aria sorriu!se e disse-
! Huanto dese9o v&!loD
Depois, exalando um gemido, elevou a sua alma 0
regio do Paraso , %irgem deixara de existir= mas a
formosura do seu rosto era tamanha, as rosas de suas faces
to puras, que os ap#stolos ficaram estticos contemplando!]
Huando os ap#stolos se convenceram de que a 'e de
seu 'estre havia morrido, acenderam a lAmpada funerria,
derramaram sobre o seu santo corpo preciosos aromas,
velando durante a noite o precioso cadver <m aroma
inebriante perfumava a estAncia, e os cAnticos dos santos
enchiam de harmonia o espao
P++
No dia seguinte, o corpo embalsamado da %irgem foi
colocado sobre um leito de flores, e coberto com um v/u
f(nebre tecido pelas donzelas de 5ion
"s ap#stolos conduziram!no aos ombros ao horto de
@etsemani, onde lhe estava destinada a sua derradeira
manso sobre a terra
,s piedosas mulheres de 2erusal/m tinham coberto de
rosas o sepulcro destinado a 'aria "s filhos do 4vangelho
depositaram no fundo do sepulcro o corpo da 'e do seu
'estre 3r&s dias permaneceram velando aqueles restos
queridos, que uma lousa cobria para sempre
<m homem fraco, plido, coberto de p# com a barba
quase branca e com todos os sintomas dum ente que sofreu
muito, chegou ao horto de @etsemani no dia terceiro ao cair
da noite "s ap#stolos fitaram os olhos naquele homem, que
parara fatigado 9unto do sepulcro de 'aria
! Huem morreuC Hue fazeis v#s aquiC perguntou o
viandante
,quela voz fez palpitar todos os cora)es, e os
discpulos pronunciaram ao mesmo tempo um nome- 3om/D
! 5im, sou eu, meus irmos, lhes disse, que venho
novamente reunir!me convosco 3o desfigurado me achais
que no me conhecestes seno quando vos falei 'as
respondei!me- a quem guardais nesse sepulcroC
! , 'aria de Nazar/, a Olor mstica do 4vangelho, a
'e do 6edentor do 'undo, disse Pedro com voz pausada e
grave
3om/ aproximou!se do sepulcro, e dirigindo!se a
3iago, que se achava 9unto da pedra, disse!lhe-
! Deixa, meu irmo, que ve9a pela (ltima vez o divino
rosto da 4strela do 'ar, da Olor da ,margura
4nto dos discpulos levantaram a pedra
P+;
3odos os olhares se dirigiram para o fundo do sepulcro
" cadver da %irgem tinha desaparecido
, concavidade do t(mulo estava cheia de flores, cu9o
delicioso aroma se espalhou embalsamando o corpo
, %irgem 'e tinha!se elevado ao c/u em corpo e
alma como seu divino Oilho
E P L O 1 O
NEM PE%RA O/RE PE%RA
Huarenta anos depois que o $omem!Deus exalou no
cume do *alvrio o seu derradeiro alento, 2erusal/m era um
monto de runas
, profecia do Lrio de Nazar/ havia!se cumprido
"s descendentes de ,brao e de 2ac#, quais d/beis
arestas que esparge com o seu sopro o poderoso furao,
haviam!se espalhado pelo universo, chorando a sua vergonha
e a sua dor
4ra uma manh do m&s de Nisan, desse m&s venturoso
em que os filhos de Gsrael abandonavam as tribos para
celebrarem a festa do cordeiro pascal na mui amada cidade
de 5alomo, na mui querida 2erusal/m
,s harpas de 5ion, 9 no ressoavam no 5anto dos
5antos, nem as alegres donzelas de @alil/ia levantavam as
tendas ao redor das muralhas de Nain
" vale dos *edros era um solitrio pramo semeado de
cadveres e runas, e os corvos e as guias do Lbano,
abandonando as quebradas rochas, pairavam sobre a cidade
maldita, depois de devorarem as entranhas dos deicidas
<m homem, ou antes um velho, curvado sob o peso dos
anos, branca a barba, branco o cabelo, triste e melanc#lica a
P+?
face, como se o grito da consci&ncia lhe levantasse ecos
dolorosos no fundo da ,lma, encostado ao bordo do
via9ante, ladeava a pedregosa falda do monte dos *adveres
at/ encontrar uma estreita vereda que conduzia ao crime
Huando p8s o p/ na vereda parou, buscou com afanoso olhar
um ponto da terra, talvez recorda)es, e crendo encontr!lo,
caiu de 9oelhos bei9ando com venerao as empoadas pedras
" misterioso viandante bei9ava com fervoroso ardor a terra
que quarenta anos antes, santificara com a sua terceira queda
o 'rtir @alileu
,li, naquele mesmo lugar, a venturosa mo de 5imo
*ireneu a9udara a *risto a levar o pesado madeiro
! 5im, sim, foi aqui, murmurou o via9ante com apagada
voz, foi aqui onde disse- .'ulheres de 2erusal/m, no
choreis por mim, chorai por v#s e por vossos filhos1= e as
mulheres choraram= e a profecia cumpriu!se= e as mes
depois de devorarem seus filhos enlouquecidas pela fome,
inve9aram as est/reis= e o templo, reduzido a p#, 9 no abre
suas portas como em outro tempo ante os passos do
sacerdote hebreu- porque 4le amaldioou a cidade, e a cidade
maldita / um monto de runas cu9a grandeza esparge o
vento do deserto "hD 5enhor Deus de bondade e
miseric#rdia, 6ei dos reis, eterna Oonte de clem&ncia, volve
os olhos para mim= condoi!te da minha agonia, e faze com
que a morte introduza o seu sopro exterminador nas minhas
veias
" via9ante exalou um doloroso gemido, p8s!se em p/ e
tomando a tortuosa senda, chegou ao cume do monte dos
*adveres ,li tornou a a9oelhar!se, e seus lbios bei9aram o
buraco onde em outro tempo esteve cravada a cruz de *risto
*om o rosto colado 0s duras pedras, o corpo inclinado, orava
P+B
em sil&ncio o misterioso ancio, insensvel a tudo, menos 0
sua dor
5eu abatimento impediu que visse outro homem que
vinha pelo mesmo caminho de 4ma(s em direo ao
@#lgota 3eria uns sessenta anos 3razia o tra9e dos
peregrinos cristos, e pendia!lhe do ombro uma pequena
citara 7rancos e brilhantes carac#is de cabelos lhe caam
sobre os ombros e costas, e barba longa e branqussima como
a neve lhe descansava sobre o peito " peregrino, sem
estranhar que outro homem estivesse orando no cume
santificado com o sangue do 'rtir, a9oelhou!se e orou
tamb/m
Depois da muda orao, aquelas duas cabeas
venerveis ergueram as maceradas frontes para o c/u Nos
olhos do peregrino da citara refleia!se a esperana- no olhar
do ancio do bordo, a dor
Depois desta cena muda, sentaram!se ambos sobre as
pedras
" ancio da citara dirigiu um olhar ao ancio do bordo
e disse!lhe-
! , paz se9a contigo
! *ontigo venha, irmo, respondeu o velho
! Ws 9udeuC
! Nasci em 2erusal/m
! Ws cristoC
! Pregando a f/ de *risto percorro o mundo, porque s#
assim espero o perdo das minhas culpas Ws tu cristoC
! 5im, e, como tu, percorro h trinta anos as tribos,
cantando ao som da minha citara, as belezas do 4vangelho
! 2erusal/m no existe, exclamou o ancio do bordo,
estendendo o brao com doloroso gesto para as runas
P+F
! Nem pedra sobre pedra resta da cidade santa- 2esus
havia!o profetizado
! 4stiveste dentro dos seus muros durante o stioC , dor
dos seus filhos seria imensa
! @rande foi, meu irmo, tornou o velho da citara ,
celebrao da Pscoa, continuou, havia reunido dentro dos
muros da cidade sacerdotal mais de um milho e trinta mil
almas "s filhos de 2ac# preparavam o po sem fermento e as
ervas amargas, os inocentes cordeiros balavam nos ptios do
templo , alegria e o contentamento enchiam todos os
cora)es 4u percorria, pobre viandante, as buliosas ruas da
cidade cantando as gl#rias do 5alvador, e a gente repelia!me,
dizendo- .Longe daquia cristo- a tua voz incomada!nos1
5em embargo, eu cantava sem fazer caso do seu desprezo
*hegou a noite e fui refugiar!me 0 sombra dum sic8moro no
%ale dos *edros= mas no pude dormir, porque um rudo
estranho como o da tempestade que se aproxima no meio
dum bosque me chegava aos ouvidos No dia seguinte,
quando 2erusal/m despertou, um grito de terror, de
assombro, de espanto rompeu de todas as gargantas
Numeroso ex/rcito cercara as muralhas de Naim, e as
mquinas de guerra dos romanos comeavam a romper em
pedaos os fortes muros "s israelitas aprestavam!se para a
defesa, defendendo palmo a palmo os lares= mas ao mesmo
tempo, dividido dentro da cidade em tr&s bandos, quando o
inimigo suspendia os ataques, pele9avam eles entre si,
esquecendo o perigo que os ameaava e a necessidade que
tinham de conservar o sangue que derramavam
" ancio da citara parou " via9ante que o escutava
com religioso sil&ncio, articulou em voz baixa-
! Pobre povo de Gsrael, maldito, maldito ests como euD
" narrador continuou-
P+I
! %espasiano era o general dos soldados do 3ibre "
seu valor batia inutilmente de encontro aos fortes muros
levantados por Davi e o tempo decorria sem que a guia
triunfante dos filhos da loba tremulasse sobre o monte santo
de 5ion 4nto 6oma teve necessidade de um imperador, e
chamou %espasiano, cu9a espada tanta gl#ria tinha
conquistado 3ito, seu filho, continuou o cerco da cidade
Diariamente sacrificava os prisioneiros 9udeus 0 vista dos
sitiados, alguns era reenviados 0 cidade com as mos
cortadas , peste, estendeu sobre 2erusal/m seu hlito
mortal, chegando a ponto de as mes comerem seus filhos "
templo caiu convertido em p# e, quando a cidade no foi mas
que um monto de runas, quando um milho de cadveres
insepultos 9uncavam o solo maldito, quando os corvos
pairavam sobre a cidade mpia 3ito entrou, triunfante em
2erusal/m e o povo 9udeu pobre, fraco, humilhado,
dispersou!se pelo mundo sem ptria, sem lar, sem religio,
sem lei
" ancio da citara guardou sil&ncio e duas lgrimas se
lhe desprenderam das plpebras
! 4u estava ento em 6oma, disse por sua vez o outro
ancio , entrada triunfante de 3ito foi espl&ndida 3rezentos
escravos 9udeus luxuosamente vestidos puxavam!lhe o carro=
mil donzelas de Gsrael cantavam hinos de gl#ria em torno do
vencedor 6oma, louca de contentamento, semeou de flores o
caminho do seu her#i ,s feras do hip#dromo fartaram!se de
carne hebraica para entreterem o #cio da plebe ,s areias do
circo tingiram!se com o sangue dos filhos dos deicidas, como
oito anos antes se tinha tingido com os dos mrtires do
4vangelho
! %iste morrer os confessoresC perguntou o ancio da
citara
P+P
! 5im, tive a desgraa de apreciar o atroz martrio dos
filhos do 4vangelho Nero, monstro incompreensvel, que
construira palcios ao seu macaco favorito e mandou abrir as
entranhas de sua me, para ver o lugar que tinha ocupado
antes de nascer, tocou fogo numa noite 0 cidade de 6oma 4u
vi!lhe a tela incendiria na mo "bservei!lhe nos delgados
lbios o sorriso de infernal prazer , cidade ardeu, e este
crime foi atribudo aos cristos, que no tinham cometido
outro delito que moderar os seus costumes e no assistir aos
ferozes espetculos do circo , matana foi horrvel "s
dolorosos gemidos das vtimas enlouqueciam de prazer o
feroz assassino, que percorreu disfarado em condutor de
carro o lugar do martrio, atropelando gente Nos seus
pr#prios 9ardins foram queimados cristos untados de pez e
postos ao redor duma mesa para que alumiassem em lugar de
brand)es o banquete que celebrou o monstro Nero Pedro,
tamb/m foi crucificado como seu 'estre mas, por humildade
pediu aos verdugos que pusessem a cabea para baixo e os
p/s para cima- morreu com o valor incompreensvel dos
mrtires
" ancio parou, para tomar f8lego, e ento o peregrino
falou por sua vez-
! "s primeiros ap#stolos da nova lei do Nazareno todos
t&m selado a f/ com o martrio 4u vi tamb/m 3iago 'aior
quando regressou da sua expedio 0 4spanha, onde com
tanto proveito pregara o 4vangelho " miservel $erodes,
,gripa, a pedido dos hip#critas sacerdotes da sinagoga,
como ao 7atista, lhe mandou cortar a cabea
! Depois de 'ateus converter na 4ti#pia, tornou o
ancio, um sem n(mero de virgens 0 religio crist, os
ci(mes do rei brbaro decretaram sua morte, expirou com o
glorioso nome do seu 'estre, percorrendo a ,rbia, 3om/
P+S
quis derribar o falsos dolos, e morreu tamb/m 0s mos dos
sacerdotes
! ,hD No /s tu s# quem teve a desventura de
presenciar o desgraado fim dessa flores do 4vangelho, disse
o peregrino 4u vi tamb/m os ferozes escribas arro9arem do
alto do templo 3iago 'enor, primeiro 7ispo de 2erusal/m ,
altura era imensa- fechei os olhos aterrado para o no ver, e,
ao abri!los, vi com assombro que 3iago levantava os braos
ao c/u dando graas a Deus 4stava vivo, quase so 'as
naquele momento, um miservel 9udeu lhes esmagou a
cabea com um malho de ferreiro
! ,iD exclamou o ancio 3u s# presenciaste o fim de
dois desses mrtires 4u vi morrer nove Na ,lbAnia, cidade
da ,rm&nia, vi matar 7artolomeu, horroroso espetculo que
me gelou o sangue nas mos e que fazia rir seus ferozes
verdugos Depois achava!me numa cidade da @r/cia, que
ergue os muros na praia do mar 2#nico " que corria e corria
com af= eu, impelido tamb/m pelo povo cheguei numa larga
praa, no meio da qual vi um homem atado aos p/s e atados
a uma cruz de forma estranha " povo dizia- ,ndr/, o
cristo, um g&nio= vede, vede que cruz que inventou par que
lhe sirva de suplcio 4 o verdugos queimavam com brbara
complac&ncia o corpo do ap#stolo "hD Dois dias com suas
noites durou aquele brbaro tormento, at/ que enfim a morte
p8s termo a tanta dor 4u sai ento da cidade impelido
sempre pela voz aterradora que 9 cinquenta anos me ressoa
no fundo da alma ,ndei muito, dia e noite sem cessar, e
cheguei 0 regio da Orgia na Rsia 'enor 'as apenas
penetrei numa cidade, vi um homem coberto de sangue, com
os dolorosos olhos no c/u e as mos cruzadas sobre o peito=
parecia confundamente embevecido numa orao, e outros
homens desapiedados que arremessavam enormes pedras
P+M
sobre ele 4ra Oilipe, o ap#stolo de 2esus $orrorizado,
abandonei aquela terra, e depois de andar muito cheguei 0
P/rsia, e na cidade de 5auster, 5imo e 3adeu, que nunca se
tinham separado, morriam tamb/m apedre9ados, com as
palavras do 4vangelho nos lbios Da P/rsia dirigi!me a
6oma ,li o feroz e covarde Domiciano soube que um
homem chamado 2oo, 9udeu de nao, pregava o 4vangelho,
mandou!o deitar numa caldeira de azeite a ferver ,quele
homem sorria e saiu ileso daquela horrvel prova " verdugo,
envergonhado, mas no convencido daquele milagre,
desterrou o ap#stolo para a ilha de Patinon 4ste mrtir
chamava!se 2oo em outro tempo
" peregrino que tinha escutado com assombro a cr8nica
do ancio, olhava!o cheio de curiosidade ,quele homem
tinha alguma coisa sobrenatural , um tempo inspirava
respeito e lstima De repente, o ancio sentado e com
cabea pendida para o peito, ergueu!se com se uma vbora
houvesse mordido no corao P8s!se em p/ e, empunhando
o bordo, levantou os olhos ao c/u com dolorosa expresso
5eus lbios agitaram!se como que propunha uma s(plica em
voz baixa Pouco a pouco seu melancolico semblante foi!se
reanimando e por fim exalando um suspiro disse, frisando os
olhos do peregrino
! Grmo, a misteriosa voz do an9o, manda!me prosseguir
meu interrompido caminho %amos separar!nos para sempre,
mas antes dize!me o teu nome, para que este momento de
tr/gua que Deus me concedeu no cume do *alvrio, nunca se
apague da minha mente
" peregrino preocupado com a palavra do ancio, disse
com voz insegura-
! 4m outro tempo, quando eu era moo, quando apenas
a barba me apontava no rosto, chamava!me 7oanerges ou
P;T
*isne da @alil/ia mas quando perdi a esperana do meu
corao, quando minha querida me soltou, poucos dias
depois da morte de 2esus, o (ltimo suspiro nos meus braos
fiz!me cristo Pedro lanou!me sobre a cabea as guas do
batismo, e comecei a percorrer as tribos pregando a f/ de
*risto ao som da minha citara= ho9e chama!me o *antor do
4vangelho
! No aparte Deus de ti a sua santa miseric#rdia, disse
o ancio d
dispondo!se a abandonar o @#lgota
- 4spera , tornou o peregrino, antes de nos separar!
nos dize!me por tua vez, porque nunca se det&m as
tuas plantas intranquilas
- 4u sou 5amuel 7eli!7eth, o maldito de Deus, o
homem mortal destinado a vaguear eternamente e
ouvindo sem cessar como agora, nos ouvidos a
aterradora voz do an9o que me repete
continuamente- ! anda, anda, andaD U at/ a
consumao dos s/culos "s s/culos futuros me
conhecer com o nome de 2udeu 4rrante
" peregrino ficou aterrado porque aquelas palavras
foram pronunciadas com um voz espantosa
" ancio empreendeu a interminvel 9ornada, e
descendo do cume do *alvrio sem entrar na cidade passou
ao longe da muralha, deixando 0 esquerda o 'onte ,cra, o
sepulcro de 2esus, a torre Epica e o palcio de Davi
Huando se achou no caminho de 7el/m dirigiu os
passos para os desertos areais da Gdum/ia
" peregrino, reposto um tanto do assombro que aquele
homem maldito lhe causara, desprendeu a citara do ombro, e
levantando os olhos ao c/u, como se dela esperasse a
inspirao, entou um hino de louvor ao 'rtir do *alvrio
P;+
OG'
P;;

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