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As Cidades e A Inclusão Das Pessoas Com Deficiência - GLENDA ROSE GONÇALVES CHAVES

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106 | Revista Eletrnica de Direito do Centro Universitrio Newton Paiva 2012/1 - n

O
18 - ISSN 1678 8729
AS CIDADES E A INCLUSO DAS PESSOAS COM DEFICINCIA
Cacilda Bellose Sobreira
1
Glenda Rose Gonalves Chaves
2
RESUMO: O presente artigo tem como objeto uma anlise a respeito das cidades e das pessoas com defcincia. Neste sentido, busca-
se demonstrar o nascimento das cidades, a construo do espao urbano e a necessidade de incluso das pessoas que possuem
alguma defcincia. De forma direta, procura-se analisar, como estudo de caso, a cidade de Belo Horizonte, a formao de seu espao
urbano e sua legislao, de modo a realizar uma refexo em torno da incluso.
PALAVRAS-CHAVE: Direito Constitucional; cidades; pessoas com defcincia; direito de igualdade.
REA DE INTERESSE: Direito Constitucional.
1-A EVOLUO DAS CIDADES
medida que o homem evolui, ampliam-se o seu espao e o
seu domnio sobre o meio. Com o domnio das tcnicas, deixa de
ser nmade e coletor e transforma-se em colhetor. Para sobrevi-
ver, rene-se em comunidades, forma sociedades e cidades.
Dessa forma, podemos defnir uma cidade como sendo o lo-
cal onde ocorrem as grandes concentraes de pessoas, de ser-
vios (hospitais, escolas, indstrias, comrcio), sendo tambm, o
local onde se encontram, direta ou indiretamente, os quatro se-
tores da economia. De acordo com Roberto Corra (1995, p.5) a
cidade representa o lugar onde os investimentos de capital so
maiores, seja em atividades localizadas na cidade, seja no prprio
urbano, na produo da cidade. E mais: de ser o principal lugar
dos confitos sociais.
Vrias so as interpretaes no intuito de explicar o surgimen-
to das cidades. Para os evolucionistas, o aparecimento das cida-
des est inscrito no processo evolutivo da prpria humanidade,
sendo um fenmeno quase natural. Os prprios progressos tec-
nolgicos, a escrita e os avanos na organizao social, aliados a
um solo frtil e acesso a gua permitem a vida urbana. J para os
materialistas, o excesso de produo no campo, somado a uma or-
ganizao social que consolidasse uma relao de dominao de
alguns habitantes sobre os outros, assegurando a transferncia
do excedente alimentar do campo para as cidades, permitiu a con-
solidao da prpria cidade, que se constituiria de uma crescente
desigualdade social. Por fm, os culturalistas entendiam que era
o desenvolvimento de certas caractersticas culturais dos grupos
humanos possibilitaria a vida urbana. (OLIVA, 1995).
As primeiras cidades surgiram na Mesopotmia, na plancie
situada entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque). Nas Amricas,
podemos apontar como as primeiras civilizaes urbanas as dos
Maias e dos Astecas. De acordo com Jaime Oliva (1995), todas
estas cidades possuam caractersticas comuns, tais como: eram
dirigidas por governos teocrticos; tinham espaos de trabalho e
moradia para artesos especializados que serviam as elites re-
ligiosas e militares; seus centros eram ocupados pelas elites e
eram centros de inovao e elaborao de novos conhecimentos.
A cidade, independente dos ensejos que lhe permitem sua
concepo, dinmica, modifca sua forma e sua estrutura de
acordo com avanos tecnolgicos, de acordo com progressos ou
retrocessos econmicos. o que verifcamos, por exemplo, com a
decadncia dos grandes imprios, onde eles tiveram que se reor-
ganizar em ncleos menores. J na Idade Mdia, com o sistema
de feudos, a vida econmica era baseada nas relaes entre os
senhores feudais e os servos, alm de se estruturarem em torno
da Igreja, no interior dos feudos, os servos e artesos produziam
tudo para a sua subsistncia. Com a queda do feudalismo temos
um avano da expanso do comrcio de longa distncia, resgatan-
do a importncia das cidades como elos de ligao para as rotas
comerciais.
A Revoluo Industrial, em todas as suas fases, foi o marco
principal para a modernizao das cidades, modifcando, inclusi-
ve, a ocupao do espao e valorizando a prpria cidade para o
comrcio interno e externo. com a intensifcao das indstrias
e a modifcao na produo passou de manufatura para ma-
quinofatura- que grandes contingentes populacionais se desloca-
ram para os centros urbanos, fenmeno chamado de xodo rural.
Mudaram-se, assim, os prprios hbitos das pessoas. A lida no
campo exigia esforos que as atividades na cidade no exigiam.
A adaptao das pessoas ao novo estilo de vida no se deu
de forma equilibrada. Foram necessrios protestos e movimentos
para que se adequassem as atividades urbanas s suas necessi-
dades. Neste aspecto, muito se alterou at os dias atuais.
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Se analisarmos as condies de trabalho do perodo conheci-
do como Primeira Revoluo industrial, onde a tecnologia empre-
gada era a mquina a vapor, veremos que as pessoas trabalha-
vam em condies insalubres, alm de no existirem leis que os
protegiam. Foi neste perodo que surgiram os primeiros protestos
de operrios.
Na Segunda Revoluo Industrial, houve o implemento da
utilizao do carvo mineral, preponderando a produo de au-
tomveis. Neste perodo, tivemos um maior investimento no setor
logstico para auxiliar a prpria utilizao dos veculos fabricados,
bem como agilizou-se a circulao de pessoas, mercadorias diver-
sas e servios.
3
J na Terceira Revoluo Industrial, fase na qual nos encon-
tramos, prevalece a utilizao de tecnologia de ponta, com o uso
de computadores em todos os setores.
Nas trs fases supra elencadas, podemos verifcar que as ci-
dades so dinmicas e se estruturam de acordo com a evoluo
das sociedades, evoluo esta, atrelada tecnologia. A prpria
forma como o ser humano se apropria da natureza varia de acordo
com a tecnologia a ser empregada, satisfazendo sempre aos seus
anseios e necessidades.
4
Existem vrias classifcaes para as cidades, cujo critrio po-
der ser vinculado origem, histria, importncia econmica
e poltica. Assim, de acordo com a origem, as cidades podem se
classifcar em: cidades naturais, aquelas que se originaram sem
nenhum planejamento anterior, e cidades planejadas, que so
aquelas constitudas a partir de um planejamento/projeto prvio.
Como exemplo de cidades planejadas no Brasil, temos: Teresina,
fundada em 1851; Aracaju, 1858; Belo Horizonte, 1898; Goinia,
1937; Braslia, 1960; e Palmas, 1990.
De acordo com sua funo ou principal atividade econmica,
as cidades se classifcam em: Cidade Industrial (Municpio que
concentra um grande nmero de indstrias, tendo essa como prin-
cipal atividade geradora de receita), Cidade Comercial (o ponto
forte da economia so as transaes comerciais e a prestao
de servios), Cidade Porturia (as atividades so vinculadas ex-
portao e importao e abriga portos em plena rea urbana),
Cidade Turstica (a principal atividade econmica a indstria do
turismo), Cidade Religiosa (atrai fis de diferentes religies), Cida-
de Histrica (possui um grande acervo histrico, principalmente
na arquitetura).
5
Hoje, as cidades consolidam-se pela prpria modernizao do
Estado (muitas capitais so equipadas com tecnologias modernas
de comunicao e de transportes, assim, os fuxos de informao,
de pessoas e de produtos passam pelas mesmas), pelas formas
modernas de produo, pela necessidade de se intensifcar as
relaes mundiais (globalizao da economia), pela revoluo
do consumo, pelo desenvolvimento de tecnologias urbanas (en-
genharia nas construes, transportes, pavimentao, comunica-
o, sistemas de gua e esgotos encanados) e pelo desenvolvi-
mento das tecnologias de comunicao.
A cidade tambm refete diretamente os aspectos sociais e
econmicos dos grupos que nela se inserem. Desta forma, temos
bairros mais nobres e bairros mais pobres, condomnios fechados,
bairros industriais e centro de negcios. nela, pois, que vislum-
bramos o retrato da sociedade.
2 - AS CIDADES E AS PESSOAS COM DEFICINCIA
Toda cidade traa em si o perfl social, econmico e cultural
da sociedade. Conseqentemente, h a necessidade de uma boa
infra-estrutura para que haja uma interligao entre os diversos
setores sociais, interligao esta, que possibilitar a gerao de
renda. Como exemplos, podemos citar a parte logstica, estrutura
de transportes, ruas, asfaltamentos, iluminao, coletas de esgo-
to e lixo, fornecimento de gua encanada, entre outros fatores que
possibilitam uma boa inter-relao no meio.
Se locomover em uma cidade, dotada de vias e de trans-
portes, a princpio, parece fcil. Entretanto, se formos analisar
uma pessoa que apresente algum tipo de defcincia (fsico, sen-
sorial, mental) veremos que tal facilidade no se verifca, o que
contrape ao previsto no art.5, XV, da CR/88, que garante o direi-
to de ir, vir e permanecer, em todo o territrio nacional.
De acordo com o Decreto 3.956, de 08/10/2001 (Conveno
Interamericana para Eliminao de Todas as Formas de Discrimi-
nao contra as Pessoas Portadoras de Defcincia), em seu art.
1, defne defcincia como a restrio fsica, mental ou sensorial,
de natureza permanente ou transitria, que limite a capacidade
de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diria, cau-
sada ou agravada pelo ambiente econmico e social.
No mesmo sentido, a recente Conveno sobre os Direitos
da Pessoa com Defcincia, aprovada pelo Decreto Legislativo
186/08, atual Decreto 6949/09, primeiro documento interna-
cional de direitos humanos a ser considerado formalmente com
status de norma constitucional, em face de sua aprovao em
conformidade com o art. 5, 3, dispe que: Pessoas com defci-
ncia so aquelas que tm impedimentos de longo prazo de natu-
reza fsica, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interao
com diversas barreiras, podem obstruir sua participao plena e
efetiva na sociedade em igualdades de condies com as demais
pessoas. (art.1).
Diante disso, a expresso a ser utilizada neste artigo ser
pessoa com defcincia, tendo em vista as conversas informais
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com pessoas com necessidades especiais, que preferem a uti-
lizao do mesmo, e por entender tambm, concatenando com
o princpio da dignidade da pessoa humana e dos direitos ima-
nentes de cada um, ser este o melhor termo, uma vez que quem
possua alguma defcincia capaz de executar diversas tarefas,
tendo, apenas, conforme a defcincia, a habilidade reduzida para
alguma funo.
Interpretando os dados apresentados pelo IBGE
6
, veremos
que, de acordo com o Censo Demogrfco de 2000, existem mais
de 24.000.000 (vinte e quatro milhes) de pessoas que apresen-
tam algum tipo de defcincia no Brasil e, logicamente, a cidade
deve estar preparada para receber estas pessoas, de forma que
possibilite a livre circulao destas, sem oferecer empecilhos para
que as mesmas freqentem lugares e espaos que lhes permita
uma formao para o mercado de trabalho ou at mesmo um livre
acesso ao lazer e cultura, ou seja, as polticas devem permitir a
incluso do defciente em todos os aparatos sociais.
Infelizmente, as pessoas com defcincia encontram discrimi-
nao em todos os setores sociais. Para se modifcar a situao
de discriminao preciso uma ampla educao/conscientizao
que acarrete mudanas de pensamentos e atitudes. Entretanto,
tais modifcaes se do em longo prazo e, para for-las, ne-
cessrio a criao de normas imperativas e de aes afrmativas.
7

Para o combate a discriminao vrios movimentos foram
necessrios. Podemos delimitar os anos 1980 como marco prin-
cipal do incio dos protestos realizados pelas pessoas com defci-
ncia para se inserirem nas atividades sociais de maneira geral.
No incio da dcada de 1980, ocorreram os primeiros movi-
mentos reivindicatrios das pessoas com defcincia, o cerne dos
movimentos era a eliminao das barreiras arquitetnicas, que di-
fcultavam a locomoo e o acesso s pessoas com necessidades
especiais aos diversos locais.
Em meados da dcada referida, o objetivo dos reclames era
pela eliminao das barreiras atitudinais, ou seja, que tivessem
campanhas que mobilizassem as pessoas de maneira geral, para
que modifcassem os pensamentos e atitudes, de forma a eliminar
os preconceitos, dando oportunidades aos desiguais e um trata-
mento de acordo com as suas diferenas.
J no incio dos anos de 1990, as campanhas objetivavam a
eliminao das barreiras de comunicao e de transporte, con-
templando, neste momento, as outras defcincias que no s
as motoras; visava-se a utilizao dos diversos meios e tcnicas
que existem para possibilitar a livre circulao das pessoas com
defcincia. Podemos citar a linguagem em braile, para os de-
fcientes visuais, e a utilizao de placas explicativas, para os
defcientes auditivos.
Em meados dos anos 1990, surgiu a ideia do Desenho Uni-
versal, ou seja, a implantao de estruturas que atendam as ca-
ractersticas de todas as pessoas, que tenham ou no defcin-
cia.
8
No fnal de 90, a campanha foi pela acessibilidade de todos
os portadores a tudo o que o cerca na sociedade e ao prprio De-
senho Universal, garantindo-lhes a insero ampla na sociedade.
Em 2000, as aes das campanhas eram direcionadas para
fatos concretos, com a eliminao de obstculos e a garantia efe-
tiva de direito de ingresso, permanncia e usufruto de todos os
bens e servios sociais.
Podemos observar que as campanhas e movimentos contem-
plaram todos os principais problemas enfrentados pelos defcien-
tes, desde o combate a barreiras arquitetnicas, at o combate a
barreiras atitudinais.
Porm, ao analisarmos a realidade de muitas cidades brasi-
leiras, podemos, at os dias atuais, ainda ver falhas na concretiza-
o de direitos essenciais, muitos deles consagrados na Constitui-
o da Repblica de 1988 e em diversas leis e decretos. Citemos
abaixo, como exemplo, o caso de Belo Horizonte/MG.
3 -A CIDADE DE BELO HORIZONTE E
AS PESSOAS COM DEFICINCIA: INCLUSO?
Ao salientarmos as caractersticas da cidade de Belo Horizon-
te (cidade planejada), temos que, de acordo com estimativas de
2009, sua populao de 2.452. 617 habitantes.
9

A cidade de Belo Horizonte tem rea de unidade territorial de
331 Km, com um dos maiores PIB-Produto Interno Bruto do Bra-
sil, fcando em quinto lugar entre os Municpios brasileiros, segun-
do dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografa e Estatstica.
10

Alm disso, Belo Horizonte tem uma srie de legislaes para
atender os interesses locais do Municpio, conforme prescreve o
art. 30, I, da CR/88, dentro da estrutura exigida por uma cidade
grande, sendo que podemos destacar, como objeto deste estudo,
a Lei 7.166, de 27 de agosto de 1996, que estabelece as normas
e condies para o parcelamento, ocupao e uso do solo urbano
no Municpio de Belo Horizonte.
Segundo a presente Lei, o territrio do Municpio dividi-
do em zonas, conforme prescreve o art. 4, e estas so diferen-
ciadas de acordo com os potenciais de adensamento, alm das
demandas de preservao e proteo ambiental (art. 5). Desta
forma, temos:
Art. 5 - As zonas, diferenciadas segundo os po-
tenciais de adensamento e as demandas de pre-
servao e proteo ambiental, histrica, cultural,
arqueolgica ou paisagstica, so as seguintes:
I - Zona de Preservao Ambiental - ZPAM -;
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II - Zona de Proteo - ZP -;
III - Zona de Adensamento Restrito - ZAR -;
IV - Zona de Adensamento Preferencial - ZAP -;
V - Zona Central - ZC -;
VI - Zona Adensada - ZA -;
VII - Zona de Especial Interesse Social - ZEIS -;
VIII - Zona de Grandes Equipamentos - ZE.
No art. 21, temos a porcentagem dos loteamentos que
devem ser destinadas aos equipamentos urbanos. Vemos que a
lei enfatiza os deslocamentos e livre circulao das pessoas:
Art. 21 - Nos loteamentos, obrigatria a
transferncia ao Municpio de, no mnimo,
35% (trinta e cinco por cento) da gleba, para
instalao de equipamentos urbanos e co-
munitrios, sistema de circulao e espaos
livres de uso pblico.
1 - Equipamentos urbanos so os equipamentos
pblicos destinados a abastecimento de gua, ser-
vio de esgotos, energia eltrica, coleta de guas
pluviais, rede telefnica e gs canalizado.
2 - Equipamentos comunitrios so os equipa-
mentos pblicos destinados a educao, sade,
cultura, lazer, segurana e similares.
3 - Sistema de circulao so as vias necess-
rias ao trfego de veculos e pedestres.
4 - Espaos livres de uso pblico so as reas
verdes, as praas e os similares. (destaque nosso).
E, no captulo IX, das Disposies Transitrias, temos:
Art. 10 - Enquanto inexistir legislao especfca
sobre o assunto, nos edifcios pblicos devem ser
reservadas vagas de estacionamento de veculos
para uso de defcientes fsicos, prximas ao acesso
edifcao, com largura mnima de 3,50 m (trs
metros e cinqenta centmetros), na seguinte pro-
poro em relao ao nmero mnimo de vagas
exigido:
I - at 100 (cem) vagas, 1 (uma) por 25 (vinte e
cinco) ou frao;
II - de 101 (cento e uma) a 300 (trezentas) vagas,
4 (quatro) pelas 100 (cem) primeiras, acrescidas
de 1 (uma) para cada 50 (cinqenta) excedentes;
III - acima de 300 (trezentas) vagas, 8 (oito) pelas
300 (trezentas) primeiras, acrescidas de 1 (uma)
para cada 100 (cem) excedentes.
Como podemos perceber, a cidade de Belo Horizonte,
em sua Lei de Uso e Ocupao do Solo, prev a acessibilidade
para a livre locomoo das pessoas. Entretanto, nada dispe em
relao pessoa com defcincia. Como exemplo, podemos citar
a necessidade de rebaixamento de caladas para cadeirantes, si-
nais sonoros para defcientes visuais, placas informativas para os
surdos, telefones adaptados para mudos, informativos em braile,
principalmente em pontos de nibus, entre outros recursos que
auxiliariam a incluso de uma pessoa com defcincia.
Caberia ao Municpio legislar sobre a incluso das pes-
soas com necessidades especiais, de maneira mais detalhada
e especifca, uma vez que o mesmo deve atender aos interesses
locais, conforme art.30, da Constituio da Repblica de 1988. Ao
contrrio do previsto constitucionalmente, a Lei belorizontina pre-
ocupa-se com ocupao do espao urbano sem necessariamente
incluir todos que fazem parte desse mesmo espao, gerando uma
marginalizao social, onde o seguimento das pessoas com defci-
ncia possui difculdades para atuar no espao.
A interao do homem com o meio, que se d desde os
primrdios da humanidade, s efcaz quando o mesmo se utiliza
de suas prprias tcnicas para apropriao dos recursos naturais,
de forma a melhorar a sua sobrevivncia neste mesmo meio. Uma
vez que esta interao tolhida, cerceia-se este direito inerente.
A este respeito, torna-se preocupao da Conveno
sobre os Direitos da Pessoa com Defcincia, Decreto 6.949/09,
a denominada mobilidade pessoal. Dentre uma srie de direitos
fundamentais garantidos s pessoas com defcincia, a presente
Conveno aponta, no art. 20, a respeito da mobilidade pessoal,
dirigindo ao Estado Parte a necessidade de adoo de medidas a
garantir a livre circulao e a independncia dessas pessoas no
seu quotidiano, especialmente nas cidades, de modo implemen-
tao de tecnologias e do uso de dispositivos e ajudas tcnicas
que venham possibilitar uma vida independente e com melhor
qualidade a estes indivduos.
Alm disso, a presente Conveno dispe no seu art. 19 a
respeito de desenvolvimento de vida independente por parte da
pessoa com defcincia e da necessidade de sua incluso na co-
munidade. Para isso, torna-se necessrio que o Estado assegure
acesso aos servios da comunidade, em igualdade de oportuni-
dades, e servios de apoio, com atendimento em domiclio ou
em instituies residenciais ou a outros servios comunitrios
de apoio.
Entendemos, diante destas previses legais, que a le-
gislao municipal deva se direcionar no sentido de possibilitar
a incluso deste grupo, de forma a, at mesmo, atender o pre-
visto constitucionalmente: livre circulao, mobilidade pessoal,
incluso na comunidade, acesso sade, educao, lazer, dentre
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outros, de forma a atender aos desiguais na medida de suas desi-
gualdades.
11
Afnal, o Municpio o ente mais prximo do cidado
e capaz de melhor organizao e difuso destes direitos de manei-
ra local.
Especialmente no que tange ao Municpio de Belo Horizonte,
percebemos a necessidade de uma poltica pblica mais efetiva,
no sentido de se promover a verdadeira incluso de todos os
cidados, a fm de que eles possam usufruir melhor do espao
pblico e poder ter para com sua cidade o verdadeiro sentimento
de pertencimento.
REFERNCIAS
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<http://revistadiscenteppghis.files.wordpress.com/2009/05/adriana-
-tourinho-a-infuencia-das-reformas-urbanas-parisienses-no-rio-de-janeiro-
-dos-anos-20.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011.
(Endnotes)
1 Advogada. Professora de Geografa do estado de Minas Gerais. Ba-
charel em Geografa pela UFJF.
2 Professora titular de Direito Constitucional do Centro Universitrio
Newton Paiva. Coordenadora e professora do Curso de Especializa-
o em Direito Pblico da PUC Minas Virtual. Mestre em Direito pela
PUC Minas e Mestre em Estudos Literrios pela UFMG. Advogada e
licenciada em Letras pela UFMG.
3 Este momento histrico coincide com o denominado constituciona-
lismo clssico ou liberal, marcado pela formalizao dos direitos indi-
viduais e da separao dos poderes. Do ponto de vista social, h forte
explorao da mo de obra de trabalhadores, inclusive crianas, o que
leva o desenvolvimento urbano e, em contrapartida, ao questionamen-
to a respeito do prprio Estado liberal. Neste sentido: Manoel Jorge
e Silva Neto (2008) e Boaventura de Sousa Santos (2005). Sobre o
movimento constitucional vide tambm Luis Roberto Barroso (2011).
4 Neste percurso, no podemos deixar de citar uma importante reforma
urbana ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no incio do sculo XX, que
demonstra a dinmica mutacional das cidades. Maiores detalhes em: AZE-
VEDO, Andr Nunes. A reforma Pereira Passos: uma tentativa de integra-
o urbana. Revista Rio de Janeiro, n. 10, maio-ago, 2003. Disponvel em:
http://www.forumrio.uerj.br/documentos/revista_10/10-AndreAzevedo.
pdf . Acesso em 20/04/2011. Reforma esta inspirada na parisiense,
conforme nos ensina: TOURINHO, Adriana de Oliveira. A infuncia das
reformas urbanas parisienses no Rio de Janeiro dos anos 20. Anais das
Jornadas de 2007. Programa de Ps-Graduao em Histria Social da
UFRJ. Disponvel em:
http://revistadiscenteppghis.fles.wordpress.com/2009/05/adriana-tou-
rinho-a-infuencia-das-reformas-urbanas-parisienses-no-rio-de-janeiro-dos-
-anos-20.pdf Acesso em 20/04/2011.
5 Para ilustrar, podemos citar como exemplo de Cidade Industrial o
Municpio de Contagem/MG; de Cidade Porturia, Santos/So Paulo,
principal porto do Brasil e um dos principais da Amrica Latina; como
Cidades Tursticas citemos Rio de Janeiro/RJ e Salvador/BA; como Ci-
dade Religiosa, podemos citar Aparecida/SP, onde fca o santurio de
Nossa Senhora Aparecida; e como Cidade Histrica, Ouro Preto/MG.
6 IBGE. Censo Demogrfco de 2000. Disponvel em: http://www.ibge.
gov.br. Acesso em: 01/09/2010.
7 Sobre direito diferena e aes afrmativas: CRUZ, Alvaro Ricardo
de Souza. Direito diferena. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
Revista Eletrnica de Direito do Centro Universitrio Newton Paiva 2012/1 - n
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8 Na defnio legal, conforme a Conveno sobre os Direitos da Pes-
soa com Defcincia, art. 2: Desenho universal signifca a concep-
o de produtos, ambientes, programas e servios a serem usados,
na maior medida possvel, por todas as pessoas, sem necessidade de
adaptao ou projeto especfco. O desenho universal no excluir as
ajudas tcnicas para grupos especfcos de pessoas com defcincia,
quando necessrias.
9 IBGE disponvel em : http://www.ibge.gov.br Acesso em 01/09/2010.
10 IBGE disponvel em : http://www.ibge.gov.br. Acesso em 01/08/2011.
11A Conveno sobre os Direitos da Pessoa com Defcincia, Decreto
6949/09, dispe a acessibilidade das pessoas com defcincia, e da
conseqente necessidade do Estado tomar medidas a proporcionar
esta acessibilidade. De forma expressa, verifcamos a natureza des-
sas medidas no art. 9: Essas medidas, que incluiro a identifcao e
a eliminao de obstculos e barreiras acessibilidade, sero aplica-
das, entre outros, a: a) Edifcios, rodovias, meios de transporte e outras
instalaes internas e externas, inclusive escolas, residncias, instala-
es mdicas e local de trabalho; b) Informaes, comunicaes e ou-
tros servios, inclusive servios eletrnicos e servios de emergncia.

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