Direito Ambiental 2014-1 PDF
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GRADUAÇÃO
2014.1
Sumário
Direito Ambiental
I
Proclama que:
1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o
cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para de-
senvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa
evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, gra-
ças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder
de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes,
tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o
artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direi-
tos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.
2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão
fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômi-
co do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um
dever de todos os governos.
3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar des-
cobrindo, inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, a capacidade do
homem de transformar o que o cerca, utilizada com discernimento, pode
levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e oferecer-lhes a
oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado errônea e imprudente-
mente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a
seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano
causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição
da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio
ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e
graves deficiências, nocivas para a saúde física, mental e social do homem, no
meio ambiente por ele criado, especialmente naquele em que vive e trabalha.
4. Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão
motivados pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo
muito abaixo dos níveis mínimos necessários para uma existência humana
digna, privada de alimentação e vestuário, de habitação e educação, de con-
dições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em desenvolvimen-
to devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo presente suas
prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o meio ambiente.
carece aos governos e aos povos que unam esforços para preservar e melhorar
o meio ambiente humano em benefício do homem e de sua posteridade.
II
PRINCÍPIOS
Princípio 1
Princípio 2
Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e es-
pecialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados
em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou
ordenamento.
Princípio 3
Princípios 4
Princípio 5
Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite o pe-
rigo de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade compartilhe dos
benefícios de sua utilização.
Princípio 6
Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que liberam
calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa neutralizá-
los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar
a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição.
Princípio 7
Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos
mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os recursos vivos
e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de derramamento ou impedir outras
utilizações legítimas do mar.
Princípio 8
Princípio 9
Princípio 10
Princípio 11
Princípio 12
Princípio 13
Princípio 14
Princípio 15
Princípio 16
Princípio 17
Princípio 18
çam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum
da humanidade.
Princípio 19
Princípio 20
Princípio 21
Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de direito in-
ternacional, os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos em apli-
cação de sua própria política ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as atividades
que se levem a cabo, dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o
meio ambiente de outros Estados ou de zonas situadas fora de toda jurisdição nacional.
Princípio 22
Princípio 23
embora válidas para os países mais avançados, possam ser inadequadas e de alto custo
social para países em desenvolvimento.
Princípio 24
Princípio 25
Princípio 26
É’ preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas nucleares e
de todos os demais meios de destruição em massa. Os Estados devem-se esforçar para
chegar logo a um acordo – nos órgãos internacionais pertinentes – sobre a eliminação e
a destruição completa de tais armas.
_______________________________
Princípio 1
Princípio 2
Princípio 3
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam aten-
didas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das ge-
rações presentes e futuras.
Princípio 4
Princípio 5
Princípio 6
Princípio 7
tendo em vista as pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global e
as tecnologias e recursos financeiros que controlam.
Princípio 8
Princípio 9
Princípio 10
Princípio 11
Princípio 12
Princípio 13
Princípio 14
Princípio 15
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser am-
plamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver
ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não
será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental.
Princípio 16
Princípio 17
Princípio 18
sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços serão envidados pela comuni-
dade internacional para ajudar os Estados afetados.
Princípio 19
Princípio 20
Princípio 21
Princípio 22
Os povos indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm
um papel vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento, em virtude de seus
conhecimentos e de suas práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar
adequadamente sua identidade, cultura e interesses, e oferecer condições para sua efeti-
va participação no atingimento do desenvolvimento sustentável.
Princípio 23
Princípio 24
Princípio 25
Princípio 26
Princípio 27
______________________________________
Com base na análise das duas declarações transcritas acima, considere os seguintes
questionamentos:
Estocolmo ‘72
Princípios Norte Sul
- 1 > primeira parte interesse comum
(bem comum), segunda parte proble-
Direito à sadia quali-
- 1 > Primeira parte (bem comum); mas históricos dos países do sul;
dade de vida
- 8 > Interesse do sul que busca se de-
senvolver
- 2 > interesse comum (preserva-
ção);
- 3 > interesse comum contudo
uma preocupação primordial do
- 2 > interesse comum (preservação);
Acesso equitativo aos norte devido a escassez de terra;
- 10 > interesse do sul, versa unicamente
recursos naturais - 4 > interesse do norte ao querer
sobre os países e, desenvolvimento
delimitar a forma de desenvolvi-
mento;
- 5 > Interesse do norte de ter aces-
so aos recursos naturais do sul;
- 14 > interesse do norte ao querer
- 15 > interesse do sul ao determinar o
delimitar a forma de desenvolvi-
Precaução e preven- abandono dos projetos colonialistas;
mento;
ção - 16 > interesse do sul em controlar o
- 16 > Interesse do Norte preocu-
consumo nos países do norte
pação demográfica.
- 22 > interesse comum
Reparação
Princípios CF/ 88
Art. 225, caput: “(...) bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida (...)”;
Direito à sadia qualidade de Art 225, § 1º, V: “controlar a produção, a comercialização e o emprego
vida de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida (...)”
Art 225, § 1º, IV: “exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impactos ambiental (...)”;
Art 225, § 1º, V: “controlar a produção, a comercialização e o emprego de
Precaução e prevenção técnicas, métodos e substâncias que comportem risco (...)”
Art 225, § 1º, VII: “vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica (...)”;
Art 225, §6º (limitação na instalação e localização de usinas nucleares).
Art 225, § 2º: “Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a
recuperar o meio ambiente”;
Reparação Art 225, § 3º: “sanções penais e administrativas, independente da obriga-
ção de reparar os danos causados.”
Art 225, caput: “(...) impondo-se ao poder público (...) o dever de defen-
dê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”;
Art 225, § 1º, I, II, III, IV, V, VI, VII;
Obrigatoriedade de inter- Art 225, § 2º: “solução técnica exigida por órgão público competente, na
venção do Poder Público forma da lei.”;
Art 225, § 4º: “(...), e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem (...)”.
Por nossa parte defendemos a idéia segundo a qual se pode e deve falar em
Direito do Ambiente não só como campo especial onde os instrumentos clássi-
cos de outros ramos do Direito são aplicados, mas também como disciplina jurí-
dica dotada de substantividade própria. Sem com isso pôr de lado as dificuldades
que tal concepção oferece e condicionamentos que sempre terão de introduzir-se
a tal afirmação.1
O direito ambiental rompe com a noção clássica da autonomia do direito pelo cien-
tificismo que lhe foi atribuído pelas teorias da tradição civilística. Trata-se de uma área
com origem em um paradigma social e econômico, típico da sociedade pós-moderna
ou de risco. Dentro dos estritos limites da hermenêutica jurídica, o direito ambiental foi
incluído no rol dos denominados “novos” direitos. Novos para o direito porque inaugu-
ram a fase de quebra da restrita visão da autonomia e independência do próprio direito.
E, sobretudo, porque são direitos que desafiam a capacidade dos juristas de resolverem
os problemas fáticos pela via da construção de teorias a partir de pensamentos, julgados,
textos de lei ou técnicas argumentativas preexistentes.
No estrito campo da ciência jurídica, esses “novos” direitos desafiam os juristas clás-
sicos através de correntes doutrinárias que os definem como direitos de terceira geração.
Estariam enquadrados ou como um subramo do direito civil e, portanto, privado, ou
como um subramo dos direitos constitucional e administrativo, logo, público.
A resistência à autonomia do direito ambiental dentro da ciência jurídica não re-
siste ao processo interpretativo da identificação das suas fontes. Ao contrário de ou-
1.José Joaquim Gomes Canotilho (co-
ordenador), Introdução ao Direito do
Ambiente, Universidade Aberta (1998).
Apesar da aparente complexidade teórica dos conceitos expostos pelo referido dispo-
sitivo legal, alguns elementos distintivos podem ser destacadas para facilitar a compre-
ensão dos conceitos. Primeiramente, é preciso destacar que os três grupos de interesses
e direitos acima descritos fazem parte da categoria, ou melhor, são espécies do gênero
“direitos coletivos em sentido amplo”. Este, portanto, é formado por pelos direitos e
interesses (i) difusos, (ii) coletivos em sentido estrito e (iii) individuais homogêneos.
Dois critérios são utilizados pela doutrina para distinguir os direitos metaindividu-
ais, são eles: (i) objetivo (a análise da divisibilidade ou não do bem tutelado) e (ii) sub-
jetivo (análise da possibilidade de determinação ou não dos titulares do direito e do elo
de ligação entre eles: circunstâncias de fato, relação jurídica-base ou origem comum)4.
Dessa forma, nas lições de Yoshida (pp. 3 e 4), os direitos e interesses metaindividu-
ais se diferenciam da seguinte forma:
Importa ressaltar que, ao contrário dos direitos difusos e coletivos em sentido estrito,
a natureza coletiva dos direitos e interesses individuais homogêneos está muito mais
afeta à forma da legitimidade postulatória do que propriamente da indivisibilidade da
lesão a direito subjetivo.
A relevância prática para o Direito Ambiental da precisa identificação e articulação
dos conceitos e teoria dos direitos metaindividuais é significativa. Segundo Fiorillo5, “a
Lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) representou um grande impulso na
tutela dos direitos metaindividuais e, nesse caminhar legislativo, em 1985, foi editada
a Lei n. 7.347, que, apesar de ser tipicamente instrumental, veio a colocar à disposição
um aparato processual toda vez que houvesse lesão ou ameaça de lesão ao meio ambien-
te, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagís-
tico: a ação civil pública.” (itálico do original).
Foi a Constituição Federal de 1988 que consagrou a metaindividualidade do bem
ambiental, ainda nas palavras de Fiorillo6, “(...) além de autorizar a tutela de direitos in-
dividuais, o que tradicionalmente já era feito, passou a admitir a tutela de direitos cole-
tivos, porque compreendeu a existência de uma terceira espécie de bem: o bem ambiental.
Tal fato pode ser verificado em razão do disposto no art. 225 da Constituição Federal,
que consagrou a existência de um bem que não é público nem, tampouco, particular,
mas sim de uso comum do povo.” (itálico do original).
ATIVIDADES16
Legislação
Jurisprudência
Ementa:
Noções de equidade na utilização dos recursos naturais disponíveis passam a ser cor-
rentes em diversos ordenamentos jurídicos. Esta equidade seria buscada não apenas entre
gerações presentes, mas também – e aqui reside uma grande quebra de paradigma – com
as gerações futuras. Assim, passa-se a adotar a noção de que a utilização dos recursos
naturais no presente somente será aceita em quantidades que não prejudiquem a capaci-
dade de regeneração do recurso, a fim de garantir o direito das gerações vindouras.
Aliás, a própria definição deste princípio – do acesso equitativo aos recursos natu-
rais – já se mostra insuficiente. Isso porque, o bem objeto da tutela ambiental não se
resume aos recursos naturais. Engloba também os bens e serviços ambientais. Diante do
dever constitucional do Poder Público de garantir o equilíbrio do meio, recai dentro da
esfera de gestão dos órgãos com competência para tanto, não apenas a regulamentação
do acesso aos recursos naturais, mas também do acesso em relação aos bens e serviços
ambientais.
A aplicação prática do princípio do acesso equitativo nem sempre é pacífica. Regras
de diferenciação da forma de acesso e de hierarquia para acessar o recurso natural de-
vem ser ponderadas pelo gestor público responsável pela decisão sobre a autorização de
acesso. Faz-se, por isso, necessário diferenciar o acesso em três categorias distintas: 1)
visando impactar o ambiente; 2) visando utilizar os bens, recursos e serviços ambientais;
e 3) visando contemplar a paisagem.
A partir desta categorização, regras de hierarquia que considerem a proximidade de
determinado conglomerado populacional ou comunidade do bem, recurso ou serviço
ambiental que se pretende acessar devem informar a atuação do gestor público. Além
disso, regras que exijam a comprovação de tecnologia para acesso, de necessidade, de
racionalidade e razoabilidade, de proibição de autorização para utilização futura e de
ponderação entre as exigências presentes e o direito de futuras gerações, devem também
fazer parte da rotina da gestão ambiental.
noção de risco sobre a qual está construída a teoria do direito ambiental se espraia para
outros ramos do direito, como o da concorrência, penal, médico, consumidor, entre
outros. Diante da potencialidade de eventual dano e da sua característica de irreparabi-
lidade, a aversão e o controle de determinadas situações de risco assume contornos de
verdadeiro direito material, tutelado, inclusive, pela ordem constitucional.
Portanto, o recurso à precaução, à prevenção e à análise custo-benefício, passa a ser
ferramenta de instrumentalização dos chamados direitos de risco. Na prática, isto quer
dizer que a incerteza sobre determinado resultado, diante da complexidade do bem
tutelado, da potencialidade de eventual dano e da sua característica de irreversibilidade,
demandam do direito uma resposta regulatória a priori, ainda que inexistente a iminên-
cia do dano ou do dano propriamente considerado.
Na prática, isso quer dizer maior intervenção seja do Estado, seja dos mecanismos
privados de minimização de risco e administração de incertezas. Como instrumento
decisório, esta premissa teórica se traduz em uma regra de reconhecimento do risco e
regulação da incerteza para se evitar a concretização de eventual externalidade negativa
irreparável ou de difícil reparação. A precaução autoriza, assim, maior presença e con-
trole da atividade empreendedora antes mesmo da ocorrência de um dano.
As vantagens de uma maior intervenção são tão desafiadoras quanto o estudo das
conseqüências socioeconomicas para os casos de excesso de precaução. Como o para-
digma ambiental impõe restrições a diversas atividades econômicas que, por sua vez, são
essenciais para a promoção de políticas sociais inclusivas e abrangentes, a percepção do
risco e do grau de disposição para assumi-los de cada sociedade é bastante distinto e,
dependendo de maior ou menor aversão a situações de incerteza, pode significar maior
ou menor desenvolvimento e maior ou menor degradação ambiental. Como num in-
vestimento financeiro, quanto maior o risco assumido, maior tende ser a realização do
lucro. Quanto mais conservadora for a opção, mais seguro será a operação, mas menor
também será o resultado final.
O grau de aceitação dos riscos em matéria ambiental no Brasil está juridicamente re-
fletido e vinculado às disposições que constam do artigo 225, da Constituição Federal,
ao disposto na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/1981) e nos diversos
diplomas legais que lidam setorialmente obedecendo uma divisão por microbem, ser-
viço ou recurso ambiental. A instrumentalização do grau aceitável de risco é feito por
meio de resoluções e normativas dos órgãos que compõem o Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA). Finalmente, o controle do grau de risco juridicamente permi-
tido e socialmente desejável é função atribuída ao Poder Judiciário.
Diante do que se expôs, é possível caracterizar a precaução e prevenção de acordo
com o grau de incerteza sobre o dano e/ou a extensão do dano no caso concreto.
O princípio da precaução orienta a intervenção do Poder Publico diante de evidên-
cias concretas de ocorrência de um dano “x” (ou da extensão do dano “x”) como fruto
de uma ação ou omissão “y”. Porém, a certeza quanto ao dano “x” (ou quanto à extensão
do dano “x”) não existe, não passando de mera suspeita. Em outras palavras, adotando-
se uma ação ou deixando-se de adotar uma ação “y”, há um indício de ocorrência de
um dano “x”, mas não a certeza quanto a sua ocorrência e/ou extensão. A precaução
sugere, então, medidas racionais que incluem a imposição de restrições temporárias e o
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO
ATIVIDADES
Legislação
Leitura Indicada
Paulo Affonso Leme Machado, Direito Ambiental Brasileiro, 16ª Edição, Editora Ma-
lheiros (2008), pp. 57-72 e 74-108.18
Doutrina
• em serem um padrão que permite aferir a validade das leis, tornando inconstitucio-
nais ou ilegais as disposições legais ou regulamentares ou os atos administrativos que
os contrariem;
• no seu potencial como auxiliares da interpretação de outras normas jurídicas e,
finalmente, na sua capacidade de integração de lacunas19.
Jurisprudência
TRF 1ª Região, AC 2000.01.00.014661-1-DF (Apelantes: União Federal e Mon- 18. O autor descreve em detalhes
santo do Brasil Ltda., Apelados: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor [IDEC] cada um dos principais princípios for-
madores do direito ambiental.
e Associação Civil Greenpeace), 8/ago./2000. 19. Uma lacuna é a não previsão de
um caso na lei e a integração da lacuna
consiste na criação da disciplina jurídica
para aquele caso concreto.
Ementa:
Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cul-
tural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência.
Em relação à Ação Civil Pública, a CF/88 em seu art. 129, inc. III, atribui como
função institucional do Ministério Público “promover o inquérito civil e a ação civil
pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos.”
Acontece, porém, que conforme relatado em tópico anterior, o art. 225, caput, da
CF/88 impôs à coletividade o dever de preservação e defesa do meio ambiente. Não
apareceu no texto constitucional, contudo, instrumento jurídico específico que legiti-
masse a sociedade civil organizada como instrumento auxiliar do dever imposto pela
própria Constituição, estando prevista apenas na Lei 7.347/85 (da Ação Civil Pública)
a legitimação das associações civis para a propositura da ação civil pública. O texto
constitucional apenas reitera a importância da participação da sociedade, pela utili-
zação do termo “coletividade”, no dever de defesa e preservação do meio ambiente.
Antes mesmo da Constituição Federal de 1988 e da própria Lei da Ação Civil Públi-
ca (Lei n. 7.347/85), a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81) já havia
atribuído ao Ministério Público a legitimidade para atuar em defesa do meio ambiente.
Constou da parte final do § 1º, do artigo 14, da Lei n. 6.938/81, que “[o] Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil
e criminal por danos causados ao meio ambiente.” O artigo 5º, da Lei n. 7.347/85 realçou
a legitimidade do Ministério Público e das associações para a propositura da ação civil
pública e, com inciso acrescentado pela Lei n. 11.448/2007, atribui também legitimi-
dade à Defensoria Pública.
Importante notar que a legitimidade, tanto do cidadão–quanto das instituições lis-
tadas pela Lei da Ação Civil Pública, para a defesa dos direitos e interesses difusos de
proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma peculiaridade única do
direito ambiental brasileiro. Segundo a natureza do interesse e do direito protegido,
dispensa-se a necessidade de comprovação de dano ao indivíduo, em razão da natureza
difusa do direito constitucionalmente protegido. É graças à legitimidade garantida pela
Constituição Federal de 1988 e pela Lei da Ação Civil Pública que uma associação
no Estado do Rio de Janeiro contestou, com sucesso, tradições culturais no Estado de
Santa Catarina que submetiam animais à crueldade (APANDE – Associação Amigos
de Petrópolis Patrimônio Proteção aos Animais e Defesa da Ecologia v. Estado de Santa
Catarina, STF – Rec. Extraordinário n. 153.531-8, DJ 13/mar./1998).
O art. 225, § 4º, da Cf/88 optou por diferenciar alguns biomas, conferindo-lhes
especial importância e definindo-os como sendo patrimônio nacional:
Sobre a proteção da Mata Atlântica, Zona Costeira e Serra do Mar – esses dois últi-
mos pertencentes ao bioma que leva o nome do primeiro – a necessidade de se atentar
para os atributos ecológicos da região fez com o legislador infraconstitucional, depois
de mais de uma década de atraso, aprovasse a lei que levou o n. 11.428/2006 e que dis-
ciplinou os critérios de utilização e proteção da vegetação do Bioma Mata Atlântica. O
referido diploma legal, criando restrições sobre áreas dentro do Bioma Mata Atlântica,
está em perfeita sintonia com a noção de patrimônio nacional inserida pelo artigo 225,
§ 4º, da CF/88.
Também merecem menção alguns outros temas reservados ao capítulo ambiental 20. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito
Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Iu-
na Constituição Federal de 1988. Primeiro, o cuidado do legislador constituinte com a ris, 2008, pp. 551.
ATIVIDADES
visa apurar eventuais riscos ao meio ambiente. Sustenta que não há evidências cientí-
ficas concretas que sugiram qualquer impacto adverso. Sustenta ainda que, se autori-
zados a comercializar produto geneticamente modificado, não pode haver indicação
específica no rótulo do produto indicando ser transgênico. Por outro lado, a utilização
de pesticidas necessários para maximização da produção é comprovadamente lesiva ao
meio ambiente.
Legislação
1. Constituição Federal, Artigos 5º, XXIII, 170, III e IV, 129, III e 225;
2. Lei n. 11.428/2006;
3. Lei n. 9.605/1998;
4. Lei n. 9.795/1999.
Leitura Indicada
Doutrina
tiva, o meio ambiente deixa de ser considerado um bem jurídico per accidens e é elevado à
categoria de bem jurídico per se, isto é, com autonomia em relação a outros bens protegidos
pela ordem jurídica, como é o caso da saúde humana.
(Édis Milaré, Direito do Ambiente, 4ª Edição, Editora Revista dos Tribunais [2005],
p. 180).
Jurisprudência
Ementa:
A Constituição Federal de 1988 cria uma federação com três níveis de governo:
federal, estadual e municipal, todos autônomos, nos termos do art. 18.
Dentro desse modelo, aparentemente descentralizador, a Carta Magna estabelece
um complexo sistema de repartição de competência em matéria legislativa, executiva
e jurisdicional. O presente capítulo trabalha com os desafios impostos pela divisão de
competência sobre meio ambiente no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, ou
seja, a competência concorrente (legislativa); e a competência comum (de gestão).
Especificamente em relação à competência legislativa em matéria de meio ambiente, o
artigo 24 da Constituição Federal prevê ser tal prerrogativa concorrente entre União Fede-
ral, Estados e Distrito Federal. Esta é a constatação que se extrai da leitura do caput e do
inciso VI do referido dispositivo. De acordo com o mesmo artigo 24, em seus §§ 1º a 4º,
a competência concorrente deve observar alguns critérios. O primeiro deles limita o papel
da União Federal à edição de normas gerais. Seriam “normas gerais”, apesar da falta de pre-
visão conceitual constitucional a respeito, aquelas de abrangência nacional e/ou regional.23
Por sua vez, o § 2º do art. 24 da CF/88 estabelece que os Estados e o Distrito Fe-
deral – em razão do disposto no § 1º, estão restritos a suplementar as normas gerais
editadas pela União. Para efeito do juízo de aplicação da suplementariedade, segundo
entendimento do STF em alguns casos sobre a matéria, tem-se sustentado ser possível
que dispositivos legais dos Estados e do Distrito Federal se mostrem mais restritivos do
que o comando normativo geral emanado da União. Nesse sentido, “suplementar” seria
“tornar mais restrito”, embora a complexidade da questão exija soluções caso a caso.24
Apenas quando inexistente norma federal, os demais integrantes da federação esta- 22. O texto abaixo foi extraído de
artigo de co-autoria do autor elaborado
riam autorizados a legislar de forma plena sobre meio ambiente. Esta é a exegese do § como parte do projeto de pesquisa de
3º, do mesmo artigo 24, da CF/88. O exercício dessa competência concorrente plena Governança Ambiental, realizado pelo
Programa em Direito e Meio Ambien-
estaria condicionado, por certo, ao teste de adequação quando da ocorrência de norma te e Centro de Pesquisa em Direito e
Economia, ambos da Escola de Direito
federal superveniente. Quando for esse o caso, os dispositivos legais promulgados no da Fundação Getulio Vargas no Rio de
âmbito da competência concorrente plena ficam suspensos enquanto estiver vigente a Janeiro (FGV DIREITO RIO).
23. MACHADO, Paulo Affonso Leme.
norma federal emanada no âmbito da competência do § 1º, do artigo 24, da CF/88. Direito Ambiental Brasileiro. São
Por força da interpretação conjunta do artigo 30, incisos I e II, combinado com os Paulo, SP: Editora Malheiros, 2008,
p.86.
artigos 18 e o próprio 24, todos da CF/88, a extensão da competência legislativa con- 24. Ver, nesse sentido, a decisão
corrente aos Estados e ao Distrito Federal em matéria ambiental é também extensiva proferida pelo STF na ADI 3.338-7 de
31/08/2005, em que o Tribunal susten-
aos municípios. Por força da expressa atribuição de competência aos municípios de tou ser constitucional a Lei 3.460/2004
do Distrito Federal, que criou o Pro-
questões envolvendo interesse local, compete a esses entes da federação suplementar as grama de Inspeção e Manutenção de
normas federais e estaduais no que couber (art. 30, incs. I e II, da CF/88). Veículos em Uso no Distrito Federal,
entendendo serem os Estados da fe-
As questões ambientais, quando restritas às fronteiras de um município, atraem a deração competentes para disciplinar o
tema. A questão, no entanto, mostra-se
competência do legislativo local para regular as atividades descritas pelos incisos es- controvertida. Por outro lado, na ADI
pecíficos do artigo 24, da CF/88. Portanto, a racionalidade que atribui e normatiza a 2.396-9 de 26/09/2001, por exemplo,
o STF declarou inconstitucional lei
competência concorrente legislativa dos Estados e do Distrito Federal é extensiva, ainda do Estado do Mato Grosso do Sul que
vedava a fabricação, ingresso, comer-
que implicitamente, por força do disposto no artigo 30, incs. I e II, da CF/88, também cialização e estocagem de amianto ou
aos municípios. de produtos à base de amianto, pois já
existia lei federal sobre a matéria, que
Se na esfera da competência legislativa concorrente há critérios mínimos para dis- regulava as condições gerais para a
produção e comercialização de amianto
ciplinar a atuação dos entes dos diferentes níveis da federação, ainda que insuficien- (9.055/1995).
Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo
único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas de-
correntes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisa-
gens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição
em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora;
e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta 27. Este tema já foi objeto de várias
decisões do Supremo Tribunal Federal
e eu sanciono a seguinte Lei Complementar: no que tange, por exemplo, à discus-
são sobre qual a Justiça competente
(federal ou estadual) para conhecer e
julgar determinados crimes ambien-
tais. Ver, dentre outros, RE 349.184, j.
em 03.12.2002.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1o Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do
caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decor-
rentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais
notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas
formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.
Art. 2o Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
I – licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou poten-
cialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental;
II – atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo
originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Comple-
mentar;
III – atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempe-
nho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente
federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.
Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Fe-
deral e dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei
Complementar:
I – proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II – garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do
meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e
a redução das desigualdades sociais e regionais;
III – harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de
atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir
uma atuação administrativa eficiente;
IV – garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as
peculiaridades regionais e locais.
CAPÍTULO II
DOS INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO
Art. 4o Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes instrumen-
tos de cooperação institucional:
I – consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;
II – convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com
órgãos e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
III – Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bi-
partite do Distrito Federal;
IV – fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V – delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos
previstos nesta Lei Complementar;
CAPÍTULO III
DAS AÇÕES DE COOPERAÇÃO
o
Art. 6 As ações de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão ser desenvolvidas de modo a atingir os objetivos previstos no art.
3o e a garantir o desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas as
políticas governamentais.
Art. 7o São ações administrativas da União:
I – formular, executar e fazer cumprir, em âmbito nacional, a Política Nacional do
Meio Ambiente;
II – exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições;
III – promover ações relacionadas à Política Nacional do Meio Ambiente nos âmbi-
tos nacional e internacional;
IV – promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da adminis-
tração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relaciona-
dos à proteção e à gestão ambiental;
V – articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio à Política Nacio-
nal do Meio Ambiente;
DILMA ROUSSEFF
Francisco Gaetani
ATIVIDADES
I – ao longo dos rios ou de qualquer curso de água desde o seu nível mais alto em
faixa marginal cuja largura mínima seja:
a) de cinco metros para os cursos de água inferiores a cinco metros de lar-
gura;
b) de dez metros para os cursos de água que tenham de cinco até dez me-
tros de largura;
c) de dez metros acrescidos de 50% (cinquenta por cento) da medida exis-
tente a dez metros, para cursos de água que tenham largura superior a
dez metros.
II – a planície de inundação de lagoa ou laguna;
III – as dunas e os campos de dunas;
IV – a área de banhado, bem como a faixa de um metro a partir da área de banhado.
Compare o texto da lei Estadual acima transcrito com o disposto na Lei Ordinária
Federal 4.771/1965:
Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as flores-
tas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais
alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:
1. de trinta metros para os cursos d’água de menos de dez metros de
largura;
2. de cinquenta metros para os cursos d’água que tenham de dez me-
tros e cinquenta metros de largura;
3. de duzentos metros para os cursos d’água que tenham de cinquenta
a duzentos metros de largura;
4. de duzentos metros para os cursos d’água que tenham de duzentos a
seiscentos metros de largura;
5. de quinhentos metros para os cursos d’água que tenham largura su-
perior a seiscentos metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais e artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”,
qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de cin-
quenta metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declive superior a 45%, equivalente
a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;
f ) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadores de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do
relevo, em faixa nunca inferior a cem metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a mil e oitocentos metros, qualquer que seja a ve-
getação.
Com base em qual dos dispositivos acima transcritos deve a IPC exercer as suas
atividades? Por quê?
A atividade XXX produz uma substância cujos efeitos passaram a ser questionados
no mundo científico. Novos estudos apontam a relação da sua inalação com casos de
câncer em pessoas idosas. No entanto, grande divergência científica cerca a questão,
essencialmente diante da sua utilização por mais de 40 anos e dos poucos casos relacio-
nados diretamente à causa, apesar dos dados indicarem um crescente aumento.
A proibição de tal atividade produziria um grande impacto econômico, tendo em
vista que o mercado internacional depende de tal atividade para a produção de XXX e
o principal fornecedor é o Brasil.
À época da instalação de tais fábricas no Brasil, na década de 60, não havia previsão
do licenciamento ambiental e de realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental.
O Congresso Nacional, ao tomar conhecimento da divergência científica e, preocu-
pado com o bem-estar da coletividade, edita uma Lei Federal que proíbe o desenvolvi-
mento de tal atividade no âmbito do território nacional, de forma progressiva, para não
afetar a economia nacional.
O partido político YY, que não concordava com a edição do mencionado instru-
mento legislativo, ajuíza ação direta de inconstitucionalidade perante o STF, sob os
argumentos de que a Lei padece de vício de inconstitucionalidade material, já que fere
a livre iniciativa – fundamento da República Federativa do Brasil, além de colocar em
risco a economia nacional. Argumenta-se, ainda, que a incerteza científica constitui
fundamento relevante para o Estado não intervir no livre exercício profissional, sob
pena de se colocar restrições e limitações infundadas aos direitos individuais.
Com base nos princípios constitucionais, analise a presente questão.
O cidadão José da Silva adquiriu uma fazenda, em meados da década de 90, situada
em uma região montanhosa, possuindo uma casa, na qual passa os fins de semana com
a família, e uma plantação de café nos topos dos morros.
Ocorre que, diante da escassez de água que vem se verificando na região, o órgão res-
ponsável pela política florestal iniciou uma forte fiscalização, autuando os responsáveis
por infrações administrativas, bem como notificando os proprietários rurais a reflorestar
as vegetações situadas em áreas de preservação permanente e reserva legal, nos termos do
Código Florestal de 1965. José foi notificado a reflorestar justamente a área da fazenda
que vem utilizando para a plantação de café.
Inconformado com tal ato, José pretende não se responsabilizar pelo replantio da
área com base nos seguintes argumentos: (i) seu direito de propriedade, consagrado pela
Constituição Federal, está sendo ferido, já que não pode usá-la conforme lhe convém;
e (ii) não existe a sua obrigatoriedade de reflorestar, já que ele, ao menos, não foi o res-
ponsável pelo desmatamento.
Analise os princípios que estão em questão, ponderando-os.
Legislação
1. Constituição Federal, Artigos 1º, 18, 22, 23, 24, 25, 30, 170 e 182.
Leitura Indicada
(Sidney Guerra & Sérgio Guerra,29 Direito de Direito Ambiental, Editora Fórum
[2009], pp. 161-180).
Doutrina
Jurisprudência
Ementa
Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei n.º 2.210/01, do Estado do Mato Grosso 29. Os autores explicam de forma
bastante clara como operam as dife-
do Sul. Ofensa aos arts. 22, I e XII; 25, § 1º, 170, caput, II e IV, 18 e 5º, caput, II e rentes competências nas três esferas de
LIV. Inexistência. Afronta à competência legislativa concorrente da União para editar poder na estrutura federativa brasileira
em matéria de legislação e gestão am-
normas gerais referentes à produção e consumo, à proteção do meio ambiente e con- biental.
Diante da complexidade do bem ambiental e dos meios para efetivação da sua de-
fesa e proteção, surge a necessidade de criação e desenvolvimento de diretrizes e ações
coordenadas para instrumentalizar o objetivo maior perseguido. Durante os debates
sobre os termos da Declaração de Estocolmo em 1972, instaurou-se um sério conflito
de interesses entre países em desenvolvimento e os desenvolvidos acerca do direito ao
desenvolvimento econômico.
Visando mitigar este conflito sem, contudo, ferir os direitos até então internacio-
nalmente reconhecidos, como a soberania e o próprio direito das nações ao desenvolvi-
mento econômico, a comunidade internacional passou a trabalhar a noção de desenvol-
vimento sustentável. Nesta esteira, a Declaração do Rio de 1992 consolidou o conceito
de gestão ambiental como instrumento indispensável ao cumprimento de objetivos
preservacionistas e de defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, mas man-
tendo preservada a compatibilização destes objetivos com o direito ao desenvolvimento
econômico e social. Portanto, a Declaração de Estocolmo constitui-se como um marco
do direito ambiental ao conceber a necessidade de gestão qualificada, preservando os
aspectos econômicos, sociais e ambientais.
Dentro deste contexto, assume especial relevância a organização e o mapeamento
institucional, bem como a elaboração de um atualizado quadro legal e regulatório que
pudesse recepcionar e se adequar aos preceitos internacionalmente reconhecidos. A le-
gislação brasileira, impulsionada pelo movimento ambientalista da década de 70, inova
na adoção de uma política nacional e quadro institucional sistematizado para efetivar a
finalidade máxima de defesa e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A lei 6.938/1981 foi a responsável pela estruturação da Política e do Sistema Na-
cional do Meio Ambiente (PNMA e SISNAMA). O art. 6º do referido diploma legal é
responsável pela concepção, montagem e distribuição de competências entre os órgãos
integrantes dos SISNAMA.
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
ATIVIDADES
Legislação
1. Lei 6.938/1981;
2. Lei 7.735/1989;
3. Lei 7.797/1989;
4. Decreto 99.274/90;
5. Decreto 964/1993;
6. Decreto 1.696/1995;
7. Lei 10.650/2003;
8. Lei 10.683/2003.
Leitura Indicada
Édis Milaré,33 Direito do Ambiente, 5ª Edição, Editora Revista dos Tribunais (2007),
pp. 285-298 / 307-321;
Jurisprudência
Ementa
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESASSO-
REAMENTO DO RIO ITAJAÍ-AÇU. LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DO
IBAMA. INTERESSE NACIONAL.
1. Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação
e para os Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.
2. O confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito am-
biental deve receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de
33. O autor apresenta os principais
preservar a qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger conceitos, objetivos e instrumentos da
PNMA e diferencia os diferentes órgãos
patrimônio pertencente às presentes e futuras gerações. que compõem o SISNAMA.
3. Não merece relevo a discussão sobre ser o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A
conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências
históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece fron-
teiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. A preocupação que motiva a
presente causa não é unicamente o rio, mas, principalmente, o mar territorial afetado.
O impacto será considerável sobre o ecossistema marinho, o qual receberá milhões de
toneladas de detritos.
4. Está diretamente afetada pelas obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu toda a zona
costeira e o mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de
prévios EIA/RIMA. A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva.
Somente o estudo e o acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos
ambientais públicos e privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado
pelas dragagens no rio, pelo depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes
marítimas, sobre a orla litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o
homem que vive e depende do rio, do mar e do mangue nessa região.
5. Recursos especiais improvidos.
ZONEAMENTO AMBIENTAL
O atual debate acerca dos biocombustíveis como vilões da agricultura voltada para
a produção de alimentos, ou como incentivo à monocultura, realça a importância do
correto planejamento do território que será destinado à indústria, agricultura, preserva-
ção ambiental e/ou mista. Portanto, o zoneamento ambiental constitui-se como outro
instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, previsto pelo art. 9º, inc. II, da
Lei 6.938/81.
O zoneamento ecológico-econômico assume relevância fundamental e primária nos
processos de gestão ambiental. É ele o instrumento que identifica as potencialidades
e fraquezas físicas, químicas, biológicas e socioeconômicas de determinado território.
Depois de definido, serve como definidor de escolhas e usos que orientam a estipulação
de padrões de qualidade ambiental.
O zoneamento ecológico-econômico ocorre nas três esferas da Federação, em dife-
rentes escalas. Está intimamente vinculado à ideia de planejamento da atividade eco- 34. ANTUNES, p. 185.
ATIVIDADES
Legislação
1. Constituição Federal, artigos 21, 25, 43, 91, 165, 182, 186 e 225;
2. Lei n. 6.938/81;
3. Decreto 4.297/02;
4. Lei n.6.766/79;
5. Lei n. 6.803/80;
6. Lei n. 7.661/88;
7. Lei n. 8.171/91.
Leitura Indicada
Édis Milaré,42 Direito do Ambiente, 5ª Edição, Editora Revista dos Tribunais (2007),
pp. 324-340;
Paulo de Bessa Antunes,43 11ª Edição, Direito Ambiental, Editora Lumen Juris, (2008),
pp. 181-199;
Doutrina
Jurisprudência
42. O autor apresenta os principais
conceitos, objetivos e instrumentos da
STJ Ação Rescisória 756 – PR (1998/0025286-0) (Autor: Estado do Paraná, Réus: PNMA e diferencia os diferentes órgãos
que compõem o SISNAMA.
Município de Guaratuba, F Bertoldi Empreendimentos Imobiliários Ltda e Arrimo 43. O autor discorre sobre a estipula-
Empreendimentos Imobiliários Ltda). ção de padrões de qualidade ambiental
e os detalha por área: ar, água, solo e
ruído.
Ementa:
Para que o princípio da participação possa ser efetivado é fundamental que três
outros princípios ambientais sejam respeitados e promovidos: publicidade, informação
e educação. O direito à informação ambiental está previsto nos arts. 6º, § 3º, e 10 da
Política Nacional do Meio Ambiente, além de ser corolário do direito à informação,
previsto nos artigos 220 e 221 da CF/88.
O princípio da informação é diretamente associado ao princípio da publicidade, na
medida em que é através deste que o primeiro pode ser materializado. Segundo José dos
Santos Carvalho Filho44:
das práticas do Poder Público. Tendo em vista que a conjugação dos princípios supra-
mencionados é uma das formas através da qual a sociedade pode exercer seu direito de
participação nas questões ambientais, é fundamental que os mesmos sejam efetivamen-
te verificados na prática.
A educação ambiental está prevista no art. 225, § 1º, inc. VI da Constituição Federal
e foi regulamentada pela Lei 9.795/99, a qual instituiu a Política Nacional de Educação
Ambiental. Segundo o art. 1º da referida lei, entende-se por educação ambiental:
Para que o princípio da participação possa ser efetivado é fundamental que a pu-
blicidade e a educação sejam componentes obrigatórios tanto do processo preparatório
dos mecanismos de consulta, como de um constante processo de aprimoramento e
conhecimento dos indivíduos sobre os problemas e riscos ambientais resultantes da
atividade antrópica.
A publicidade é garantida também pela política nacional do meio ambiente, especi-
ficamente, nos artigos 6º, § 3º e 10, § 1º (Lei n. 6.938/81). A publicidade é mecanismo
de materialização do princípio da informação e indispensável, portanto, à participação
qualificada nos processos de consulta, monitoramento e controle das atividades do Po-
der Público.45
A educação ambiental, por sua vez, como instrumento de política do ambiente, deve
ser perseguido de forma contínua para ampliar o conhecimento da população em geral
sobre os problemas e riscos ambientais e da necessidade de controle e ação de mitigação
dos seus efeitos. Por vezes, a educação ambiental impõe mudanças nas ações rotineiras
de cada indivíduo. Como as mudanças geralmente envolvem custos, a capacitação em 45. Ver José dos Santos Carvalho Fi-
lho, Manual de Direito Administrativo,
matéria ambiental é imprescindível para garantir à sociedade uma visão holística para 17. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
2007. p. 21. (“[O]s atos da Administra-
além dos benefícios econômicos e sociais reais, concretos e mensuráveis. ção devem merecer a mais ampla divul-
Na política nacional do meio ambiente, embora não elencada expressamente como gação possível entre os administrados,
e isso porque constitui fundamento do
instrumento no rol do artigo 9º, da Lei n. 6.938/81, a implementação da educação é princípio propiciar-lhes a possibilidade
de controlar a legitimidade da conduta
corolária necessária do sucesso dos mecanismos de participação e informação e, portan- dos agentes administrativos. Só com
to, seu efeito é de típica ferramenta de política ambiental. A importância da educação a transparência dessa conduta é que
poderão os indivíduos aquilatar a le-
ambiental é reconhecida pela Constituição Federal, especificamente no artigo 225, § galidade ou não dos atos e o grau de
eficiência de que se revestem.”).
1º, inciso VI. A sua regulamentação foi feita por meio da Lei n. 9.795/99, responsável
46. Ver Gene Rowe & Lynn J. Frewer,
pela instituição da Política Nacional de Educação Ambiental. Evaluating Public-Participation Exer-
cises: A Research Agenda, 29 SCI.,
A publicidade e a educação ambiental compõem o referencial teórico e prático das Tech., & Hum. Values 512, 518 (2004),
decisões sob incerteza, pois são instrumentos auxiliares na redução da assimetria de disponível em http://www.jstor.org/
stable/1557965 (“Assessing the ‘quality
informação. Como os resultados de um política ambiental nem sempre são previsíveis, of ideas’ generated might involve value
judgments being applied to those ide-
a publicidade e a educação são garantias essencias da informação sobre os custos sociais as, while focusing on the development
e econômicos inerentes às políticas públicas ambientais e a provável, mas incerta, cau- of ‘group consensus’ might, arguably,
detract from the diversity of opinions
salidade entre os resultados possíveis e os potenciais benefícios prometidos.46 Em outras that may have value in their own right,
or at least should be made public as
palavras, como toda política ambiental implica em um custo social e econômico, a part of a transparent process.”).
Legislação
1. Convenção de Aarhus;
2. Constituição Federal, artigos 5, XXXIII, 225;
3. Lei 6.938/81;
4. Lei 9.051/95;
5. Lei 10.650/03;
6. Lei 9.795/99.
Leitura Indicada
Paulo de Bessa Antunes, Direito Ambiental, 11ª edição, Editora Lumen Juris, (2008),
243-250;50
Paulo Affonso Leme Machado,51 Direito Ambiental Brasileiro, 16ª Edição, Editora Ma-
lheiros, (2008), 184-201;
Jurisprudência
Ementa
legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”. Assim
sendo, tratando-se o Parque Estadual Igarapés do Juruena de área de peculiar interesse
do Estado do Mato Grosso, não prevalece disposição de lei federal, qual seja, a regra do
art. 22, § 2°, da Lei n. 9.985/2000, que exige a realização de prévia consulta pública. À
norma de caráter geral compete precipuamente traçar diretrizes para todas as unidades
da federação, sendo-lhe, no entanto, vedado invadir o campo das peculiaridades regio-
nais ou estaduais, tampouco dispor sobre assunto de interesse exclusivamente local, sob
pena de incorrer em flagrante inconstitucionalidade.
5. O ato governamental (Decreto n. 5.438/2002) satisfaz rigorosamente todas as
exigências estabelecidas pela legislação estadual, mormente as presentes nos arts. 263
Constituição Estadual do Mato Grosso e 6°, incisos V e VII, do Código Ambiental (Lei
Complementar n. 38/1995), motivo por que não subsiste direito líquido e certo a ser
amparado pelo presente writ.
6. Recurso ordinário não-provido.
De acordo com o art. 11 da Res. 237/97, os custos relativos aos estudos necessários
ao processo de licenciamento ambiental correrão por conta do empreendedor. Quer
dizer que o próprio empreendedor pode realizar os estudos, o que não deixa de ser uma
inovação em relação à Res. 1/86 que vedava a vinculação da equipe responsável pelos
estudos ambientais ao empreendedor.
A imparcialidade dos estudos fica por conta das responsabilizações administrativas,
civis e penais, pelas informações contidas no estudo de impacto ambiental, conforme
prevê o art. 11, § único da Res. 237/97:
Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos am-
bientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma ati-
vidade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença
requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental,
relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano
de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.
se a atividade estiver listada, mas o órgão ambiental entender que não há potencial para
causar significativo impacto ambiental, em tese – segundo dispõe o parágrafo único
do artigo 3º, da Resolução CONAMA n. 237/97, poder-se-ia dispensar a exigência do
EIA/RIMA. Dispõe o referido dispositivo que “[o] órgão ambiental competente, verifi-
cando que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa
degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo pro-
cesso de licenciamento.” Entretanto, esse entendimento não é pacífico e, por vezes, por
provocação do Ministério Público, o Poder Judiciário determina a realização de EIA/
RIMA quando dispensado pelo órgão ambiental competente.
Por ser a mais complexa espécie de avaliação ambiental, o EIA/RIMA é custoso e,
frequentemente, responsável por significativo aumento no valor total do empreendi-
mento. Por isso, a exigência desse tipo de avaliação para projetos de pequeno ou médio
impacto não se mostra eficiente. Logo, outras espécies de avaliação de impacto ambien-
tal podem e devem ser utilizadas para os casos de obras ou atividades que não tenham
potencial de causar significativo impacto ambiental. São outros exemplos de avaliações
ambientais: relatório de controle ambiental; projeto de controle ambiental, programa
de recuperação de áreas degradadas, estudo de viabilidade ambiental, relatório de ava-
liação ambiental, estudo ambiental simplificado, estudo de sísmica, relatório ambiental
simplificado e avaliação ambiental estratégica.
A diferença entre o estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e o relatório de im-
pacto ao meio ambiente (RIMA), está na natureza das informações. O EIA é complexo,
elaborado por equipe técnica, científica e multidisciplinar especializada. Utiliza termos
pouco conhecidos para a maioria da população. Não é acessível ao leigo. Por isso, de-
manda de relatório simplificado, com termos acessíveis e que comuniquem eficazmente
as informações técnicas e científicas contidas no seu todo. Esse relatório é o RIMA. Do-
cumento de comunicação das informações do EIA com a sociedade em geral, garantido
a qualificação da participação popular no acompanhamento e controle dos processos de
licenciamento ambiental.
O procedimento para convocação e estruturação de audiência pública para discus-
são do EIA/RIMA é regulamentado pela Resolução CONAMA n. 9/87. De acordo
com o artigo 2º da referida resolução, “[s]empre que julgar necessário, ou quando for
solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por cinquenta ou mais cidadãos,
o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de audiência pública.” O intuito da
audiência pública regulada pela Resolução CONAMA n. 9/87 é “...expor aos inte-
ressados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e
recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.” (artigo 1º). Quando requisi-
tada, a “audiência pública deverá ocorrer em local acessível aos interessados.” (artigo 2º,
§ 4º). Para os casos complexos e dependendo da localização geográfica, “poderá haver
mais de uma audiência pública sobre o mesmo projeto de respectivo Relatório de Impacto
Ambiental – RIMA.” (artigo 2º, § 5º).
ATIVIDADES
Legislação
Leitura Indicada
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
PP. 354-403.
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Limen Júris,
2008, PP. 253-306.
Doutrina
Jurisprudência
Ementa
A Resolução prevê ainda que os custos do órgão ambiental correm por conta do em-
preendedor. Esses custos podem alcançar elevadas somas. Para ampliar a transparência
dos custos de análise do licenciamento, deverão as despesas ser estabelecidas por dispo-
sitivo legal e facultando ao empreendedor o acesso às planilhas de custos.
Para análise do pedido de licença, instituiu a Resolução prazo máximo de seis meses,
ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA e/ou audiência pública. Nesses casos, o
prazo será de doze meses.
Os esclarecimentos necessários devem ser prestados pelo empreendedor em prazo
máximo de quatro meses. Os prazos podem ser flexibilizados, desde que haja concor-
dância do órgão ambiental e do empreendedor.
A não observância dos prazos acarreta em:
Art. 16–O não cumprimento dos prazos estipulados nos artigos 14 e 15,
respectivamente, sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha com-
Os prazos das licenças ambientais são estipulados pelo art. 18, da Res. 237/97:
I–O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o esta-
belecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relati-
vos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.
II–O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo,
o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade,
não podendo ser superior a 6 (seis) anos.
III–O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os
planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máxi-
mo, 10 (dez) anos.
As regras para prorrogação dos prazos para cada licença e o rito para renovação vêm
expresso pelos §§ 1º a 4º, do art. 18 da Res. 237/97.
Pelo princípio da autonomia dos entes Federados, os Estados, Municípios e Distrito
Federal não estão adstritos aos prazos estabelecidos pela retro citada Res. 237/97.
De acordo com o art. 19 da Res. 237/97, o órgão ambiental competente tem poderes
para suspender ou cancelar as licenças ambientais. Este ato é vinculado às hipóteses de:
ATIVIDADES
Legislação
1. Lei 6.938/1981;
2. Decreto 99.274/1990;
3. Resoluções CONAMA 001/1986, 23/94 e 237/1997.
Doutrina
Sidney Guerra & Sérgio Guerra,54 Curso de Direito Ambiental, Editora Fórum (2009),
pp. 243-270.
Jurisprudência
Ementa
1. Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação
e para os Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.
2. O confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito am-
biental deve receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de
preservar a qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger
patrimônio pertencente às presentes e futuras gerações.
3. Não merece relevo a discussão sobre ser o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A
conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências
históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece fron-
teiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. A preocupação que motiva a
presente causa não é unicamente o rio, mas, principalmente, o mar territorial afetado.
O impacto será considerável sobre o ecossistema marinho, o qual receberá milhões de
toneladas de detritos.
4. Está diretamente afetada pelas obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu toda a zona
costeira e o mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de
prévios EIA/RIMA. A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva.
Somente o estudo e o acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos
ambientais públicos e privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado
pelas dragagens no rio, pelo depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes
marítimas, sobre a orla litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o
homem que vive e depende do rio, do mar e do mangue nessa região.
5. Recursos especiais improvidos.
dora noutro local, distante ou não da sua origem, pouco ou muito tempo depois de ter
acontecido.
Aliado às complexidades relacionadas à delimitação do dano e que, portanto, se
apresentam como obstáculos à eficaz regulação ambiental, em muitos casos a natu-
reza difusa dos prejuízos causados pela emissão de determinado poluente dificulta o
rastreamento da fonte emissora para efeitos de caracterização do nexo de causalidade,
imprescindível à aplicação do regime constitucional de responsabilização. Pior ainda,
uma determinada substância pode apenas se tornar uma ameaça ao ambiente natural,
ou à saúde da população, quando em contato e reagindo com outras substâncias emiti-
das por outros agentes, ou mesmo com aquelas encontradas naturalmente no ambiente.
Trata-se de mais um elemento desafiador para a regulação ambiental pré e pós-dano.
Legislação
Lei n. 6.938/81;
Lei n. 9.605/98.
Doutrina
Leite, José Rubens Morato. Direito ambiental na sociedade de risco. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2004. P. 123-124.
Leitura Indicada
Leite, José Rubens Morato. Direito ambiental na sociedade de risco. 2ª ed. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2004. P. 123-132.
Guerra, Sidney e Guerra, Sérgio. Curso de direito ambiental. Belo Horizonte: Fórum,
2009. P. 19-37.
Jurisprudência
DIREITO AMBIENTAL
emite poluentes em conformidade com a sua licença ambiental, não poderá ser penalizada
administrativa e penalmente caso o órgão licenciador venha a constatar, em seguida, que o
efeito sinérgico do conjunto das atividades industriais desenvolvidas em determinada região
está causando dano ambiental, não obstante a observância dos padrões legais estabelecidos
em norma técnico-jurídica”.
No exemplo acima apresentado, o empreendedor apesar de não ter praticado qual-
quer conduta ilegal, poderá sofrer responsabilidade civil, já que danos ambientais foram
produzidos. Ainda nesta situação, o Estado também poderá ser responsabilizado solida-
riamente, em razão do seu dever constitucional de gestor do bem ambiental, instituído
pelo artigo 225, caput, da CF/88.
O artigo 72 da Lei 9.605/1998 estabelece as sanções legais a serem aplicadas em caso
de verificação de infração administrativa, são elas: advertência; multa simples; multa
diária; apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; des-
truição ou inutilização do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra;
suspensão parcial ou total de atividade; e restritiva de direitos. No que diz respeito à
competência para definir infrações administrativas e suas penalidades, o artigo 24 da
CF/88 atribui competência concorrente à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios (em razão do disposto no artigo 30, inciso II, da CF). Cabe destacar, toda-
via, que em relação à definição dos crimes ambientais e suas respectivas penas, somente
a União poderá legislar, já que possui competência privativa em matéria penal. Já em
relação à gestão do meio ambiente, o art. 23 da CF/88, atribui competência adminis-
trativa comum aos Entes Federativos para a proteção do meio ambiente e combate da
poluição em qualquer de suas formas.
Considerando a divisão de competências, além das infrações administrativas elen-
cadas pelos artigos 70 a 76 da Lei 9.605/1998, também devem ser observadas aquelas
constantes das leis estaduais, municipais e distritais relativas à proteção ambiental. De
toda sorte, a imposição de multa pelo Estado, Distrito Federal ou Municipal, exclui a
aplicação de multa federal.
No tocante à reincidência, esta pode ser genérica (infração de outra natureza) ou es-
pecífica (mesma natureza). O prazo legal estipulado pela reincidência é o de 3 (três) anos,
ou seja, a infração genérica ou específica deve ser consumada dentro do referido prazo.
ATIVIDADES
Legislação
1. Lei n. 9.605/1998
2. Decreto n. 6.514/2008
Doutrina
Leitura Indicada
Milaré, Edis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5ª ed. Ref., atu-
al. E ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. P. 820-850.
Jurisprudência
Recorrente: Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás vs. Recorrido: Estado do Rio de Ja-
neiro, Recurso Especial n. 467.212-RJ (2002/0106671-6), 1ª Turma, STJ, Julgamento
28/Out./2003, DJ 15/Dez./2003.
Ementa
ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. SANÇÃO ADMINISTRATIVA.
IMPOSIÇÃO DE MULTA. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. DERRA-
MAMENTO DE ÓLEO DE EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA CONTRATADA
PELA PETROBRÁS. COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS DE PROTE-
ÇÃO AO MEIO AMBIENTE PARA IMPOR SANÇÕES. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. LEGITIMIDADE DA EXAÇÃO.
1. “(...)O meio ambiente, ecologicamente equilibrado, é direito de todos, protegido
pela própria Constituição Federal, cujo art. 225 o considera “bem de uso comum do
provo e essencial à sadia qualidade de vida”. (...) Além das medidas protetivas e preser-
vativas previstas no § 1º, incs. I-VII do art. 225 da Constituição Federal, em seu § 3º ela
trata da responsabilidade penal, administrativa e civil dos causadores de dano ao meio
ambiente, ao dispor: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Neste ponto a Consti-
tuição recepcionou o já citado art. 14, § 1º da Lei n. 6.938/81, que estabeleceu respon-
sabilidade objetiva para os causadores de dano ao meio ambiente, nos seguintes termos:
“sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.” “[grifos nossos] (Sergio Cava-
lieri Filho, in “Programa de Responsabilidade Civil”)
2. As penalidades da Lei n.° 6.938/81 incidem sem prejuízo de outras previstas na
legislação federal, estadual ou municipal (art. 14, caput) e somente podem ser aplicadas
por órgão federal de proteção ao meio ambiente quando omissa a autoridade estadual
ou municipal (art. 14, § 2°). A ratio do dispositivo está em que a ofensa ao meio am-
biente pode ser bifronte atingindo as diversas unidades da federação
3. À Capitania dos Portos, consoante o disposto no § 4°, do art. 14, da Lei n.°
6.938/81, então vigente à época do evento, competia aplicar outras penalidades, pre-
vistas na Lei n.° 5.357/67, às embarcações estrangeiras ou nacionais que ocasionassem
derramamento de óleo em águas brasileiras.
4. A competência da Capitania dos Portos não exclui, mas complementa, a legitimi-
dade fiscalizatória e sancionadora dos órgãos estaduais de proteção ao meio ambiente.
5. Para fins da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art 3º, qualifica-se como po-
luidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.
6.Sob essa ótica, o fretador de embarcação que causa dano objetivo ao meio ambien-
te é responsável pelo mesmo, sem prejuízo de preservar o seu direito regressivo e em
demanda infensa à administração, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo evento.
7. O poluidor (responsável direto ou indireto), por seu turno, com base na mesma
legislação, art. 14 – “sem obstar a aplicação das penalidades administrativas” é obrigado,
“independentemente da existência de culpa”, a indenizar ou reparar os danos causados
ao meio ambiente e a terceiros, “afetados por sua atividade”.
8. Merecem tratamento diverso os danos ambientais provocados por embarcação
de bandeira estrangeira contratada por empresa nacional cuja atividade, ainda que de
forma indireta, seja a causadora do derramamento de óleo, daqueles danos perpetrados
por navio estrangeiro a serviço de empresa estrangeira, quando então resta irretorquível
a aplicação do art. 2°, do Decreto n.° 83.540/79.
9.De toda sorte, em ambos os casos há garantia de regresso, porquanto, mesmo na
responsabilidade objetiva, o imputado, após suportar o impacto indenizatório não está
inibido de regredir contra o culpado.
10. In casu, discute-se tão-somente a aplicação da multa, vedada a incursão na ques-
tão da responsabilidade fática por força da Súmula 07/STJ.
11. Recurso especial improvido.
A responsabilização penal tem como objetivo precípuo tutelar o bem jurídico meio
ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina o artigo 225, caput, da
Constituição Federal. Tal conceito abrange o meio ambiente natural, artificial e cultural.
Os crimes ambientais e suas respectivas sanções são fixados pela Lei n. 9.605/98.
No entanto, cabe ressaltar que ainda vigoram outros tipos de natureza penal previs-
tos no Código Penal, na Lei de Contravenções Penais, no Código Florestal, na Lei n.
6.453/1977 e na Lei n. 7.643/1987.
Tendo em vista a complexidade e multidisciplinaridade das questões ambientais,
muitas vezes os tipos penais ambientais são orientados pela técnica legislativa conhecida
como norma penal em branco, sendo necessário, portanto, para sua aplicação a inter-
pretação conjunta de algumas leis, inclusive administrativas, já que o dispositivo penal
específico mostra-se incompleto, requerendo complementação. Nesse sentido, afirma
Édis Milaré62 “(...) o comportamento proibido vem enunciado de forma vaga, cha-
mando por complementação ou integração através de outros dispositivos legais ou atos
normativos extravagantes. Nem poderia ser diferente em matéria, como a em discussão,
regulada predominantemente por normas e instituições de Direito Administrativo.”
O crime ambiental pode ser praticado a título doloso ou culposo. O primeiro ocorre
quando o agente deseja o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Já o crime culposo
é verificado nas hipóteses em que o agente produz o resultado danoso em razão de sua
conduta imprudente, negligente ou imperita. De acordo com a Lei 9.605/1998, podem
ser apresentados como exemplo de tipos penais culposos aqueles previstos nos artigos.
38, 40, 41, 49, 54, 56, 62, 67, 68 e 69-A da referida legislação.
Considerando que a tutela do meio ambiente deve ter como objetivo prevenir da-
nos, ao invés de repará-los, dada a irreparabilidade do bem jurídico protegido – meio
ambiente ecologicamente equilibrado – o direito penal ambiental faz uso de crimes de
perigo, principalmente abstratos, para atingir tal objetivo.
Nos crimes de perigo abstrato não é necessária a comprovação concreta do perigo
para o bem ambiental, já que compreendem condutas classificadas como de grande ris-
co ambiental. Pode ser citado como exemplo desta espécie de crime a conduta descrito
no art. 55 da Lei 9.605/98:
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente
autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Como pode ser observado a partir da redação do referido artigo, a conduta de pes-
quisar, lavrar ou extrair recursos minerais sem a competente autorização ou em desa-
cordo com esta, configura crime ambiental passível de pena de detenção. Neste caso, o
legislador presume a grande probabilidade de que a realização das mencionadas ativi-
dades possa provocar danos ao meio ambiente. Cabe destacar que o dano pode não ter
sido verificado, mas a elevada probabilidade de que tais condutas produzam prejuízos
irreparáveis ao bem jurídico protegido faz com que o legislador tipifique como crime 62. LEUZINGER, Márcia Dieguez, Res-
ponsabilidade Civil do Estado por danos
o risco de produção do dano. Parte da doutrina defende que a utilização dos crimes de ao meio ambiente. Revista de Direito
Ambiental, São Paulo: Revista dos Tri-
perigo é uma eficiente forma de efetivar os princípios da prevenção e precaução. bunais, ano 12, n. 45, p. 188, 2007.
Outro ponto importante a ser destacado diz respeito ao sujeito ativo dos crimes am-
bientais. Podem figurar no polo ativo das condutas tipificadas como crimes ambientais
qualquer pessoa, física ou jurídica. A inclusão da responsabilização das pessoas jurídicas
foi importante inovação trazida pela Lei 9.605/1998, na medida em que os crimes am-
bientais são predominantemente cometidos por grandes empresas.
“Inovação importante, firmada com base no art. 225, § 3º, da CF/88, foi a respon-
sabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais (at. 3º da Lei 9.605/98),
nos casos em que a infração for cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. A res-
ponsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras
ou partícipes do mesmo fato.”64
O artigo 3º da Lei em comento estabelece: “as pessoas jurídicas serão responsabiliza-
das administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que
a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. Determina ainda, em seu
parágrafo único que “a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas
físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato”.
Como visto, o legislador brasileiro superou o entendimento de que somente pessoas
físicas poderiam ser sujeitos ativos de crimes e a responsabilização penal da pessoa ju-
rídica vem sendo aplicada pelos Tribunais. Vale destacar importante precedente da 5ª
turma do Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Recurso Especial 564.960/SC, cujo
relator Ministro Gilson Dipp, que assim se posicionou ao determinar o recebimento de
denúncia em face de empresa acusada de poluir o leito de um rio: “não obstante alguns
obstáculos a serem superados, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é um preceito
constitucional, posteriormente estabelecido, de forma evidente, na Lei ambiental, de modo
que não pode ser ignorado. Dificuldades teóricas para sua implementação existem, mas não
podem configurar obstáculos para sua aplicabilidade prática na medida em que o Direito é
um ciência dinâmica, cujas adaptações serão realizadas com o fim de dar sustentação à opção 63.CRUZ, Ana Paula Fernandes Nogueira
política do legislador. Desta forma, a denúncia oferecida contra a pessoa jurídica de direito da, Crimes de Perigo e Riscos ao Am-
biente. Revista de Direito Ambiental,
privado deve ser acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no pólo passivo da relação São Paulo: Revista dos Tribunais, ano
11, n. 42, p. 12, 2006.
processual-penal”.
64. Esta e a próxima questão foram
Outra peculiaridade trazida pela Lei n. 9.605/1998 é a expressa previsão da des- extraídas da seguinte obra: Antônio F.
G. Beltrão, Manual de Direito Ambien-
consideração da personalidade da pessoa jurídica. Também conhecida como disregard tal, Editora Método, 2008, p. 263.
ATIVIDADES
da CF.
67. Ivette Senise Ferreira. Tutela penal
do patrimônio cultural. São Paulo: RT,
1995, p. 68.
Legislação
1. Lei n. 9.605/98;
Doutrina
Leitura Indicada
Jurisprudência
ATIVIDADES
Uma empresa “X” contratou a empresa “Y” para realizar escavações no leito do Rio
Corvina, serviço que acarretou danos ao meio ambiente, especialmente a morte de mi-
lhares de peixes. A Y foi contratada pela X para realizar escavações no leito do rio Cor-
vina, o que acabou acarretando agitação de material químico depositado no fundo do
rio, com mortandade de peixes. Esse fato motivou o Município de Corvina a promover
Ação Civil Pública visando o ressarcimento dos danos pela X. Na ação, o Município de
Corvina pretende que a contratante seja condenada a restaurar o rio, com a reposição
dos peixes em substituição àqueles vitimados pelo acidente ecológico. Como advogado
da X, esboce uma estratégia de defesa.
Legislação
Doutrina
Leitura indicada
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008, pp. 234-242 e 201-215.
BELTRÃO, Antônio F. G. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2008, pp.
242-261.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes Canotilho (coordenador). Introdução ao Direito
do Ambiente. Universidade Aberta, 1998, pp. 29-33 e 139-134.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 3ª Edição.
São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 321-337.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª Edição. São Paulo:
Malheiros, 2008, pp. 341-368 e 696-731.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 5ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
pp. 809-957.
Jurisprudência
dade não tenha sido especificado em lei, o juiz analisará, caso a caso, ou o Poder Público
fará a classificação dessas atividades. “É a responsabilidade pelo risco da atividade.” Na
conceituação do risco aplicam-se os princípios da precaução, da prevenção e da repa-
ração. Repara-se por força do Direito Positivo e, também, por um princípio de Direito
Natural, pois não é justo prejudicar nem os outros e nem a si mesmo. Facilita-se a
obtenção da prova da responsabilidade, sem se exigir a intenção, a imprudência e a ne-
gligência para serem protegidos bens de alto interesse de todos e cuja lesão ou destruição
terá conseqüências não só para a geração presente, como para a geração futura. Nenhum
dos poderes da República, ninguém, está autorizado, moral e constitucionalmente, a
concordar ou a praticar uma transação que acarrete a perda de chance de vida e de saúde
das gerações (...)” in Direito Ambiental Brasileiro, Malheiros Editores, 12ª ed., 2004, p.
326-327.
4. A Constituição Federal consagra em seu art. 186 que a função social da proprie-
dade rural é cumprida quando atende, seguindo critérios e graus de exigência estabele-
cidos em lei, a requisitos certos, entre os quais o da “utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente”.
5. É cediço em sede doutrinária que se reconhece ao órgão julgador da primazia da
suscitação do incidente de uniformização discricionariedade no exame da necessidade
do incidente porquanto, por vezes suscitado com intuito protelatório.
6. Sobre o thema leciona José Carlos Barbosa Moreira, in Comentários ao Código
de Processo Civil, Vol. V, Forense, litteris: “No exercício da função jurisdicional, têm os
órgãos judiciais de aplicar aos casos concretos as regras de direito. Cumpre-lhes, para
tanto, interpretar essas regras, isto é, determinar o seu sentido e alcance. Assim se fixam
as teses jurídicas, a cuja luz hão de apreciar-se as hipóteses variadíssimas que a vida ofe-
rece à consideração dos julgadores.(...)
Nesses limites, e somente neles, é que se põe o problema da uniformização da ju-
risprudência. Não se trata, nem seria concebível que se tratasse, de impor aos órgãos
judicantes uma camisa-de-força, que lhes tolhesse o movimento em direção a novas
maneiras de entender as regras jurídicas, sempre que anteriormente adotada já não cor-
responda às necessidades cambiantes do convívio social. Trata-se, pura e simplesmente,
de evitar, na medida do possível, que a sorte dos litigantes e afinal a própria unidade do
sistema jurídico vigente fiquem na dependência exclusiva da distribuição do feito ou do
recurso a este ou àquele órgão (...)” p. 04-05.
7. Deveras, a severidade do incidente é tema interditado ao STJ, ante o óbice erigido
pela Súmula 07.
8. O pedido de uniformização de jurisprudência revela caráter eminentemente
preventivo e, consoante cediço, não vincula o órgão julgador, ao qual a iniciativa do
incidente é mera faculdade, consoante a ratio essendi do art. 476 do CPC. Preceden-
tes do STJ: AgRg nos EREsp 620276/RS, Relator Ministro Jorge Scartezzini, DJ de
01.08.2006; EDcl nos EDcl no RMS 20101/ES, Relator Ministro Castro Meira, DJ de
30.05.2006 e EDcl no AgRg nos EDcl no CC 34001/ES, Relator Ministro Francisco
Falcão, DJ de 29.11.2004.
9. Sob esse ângulo, cumpre destacar, o mencionado incidente não ostenta natureza
recursal, razão pela qual não se admite a sua promíscua utilização com nítida feição
recursal, especialmente porque o instituto sub examine não é servil à apreciação do caso
concreto, ao revés, revela meio hábil à discussão de teses jurídicas antagônicas, objeti-
vando a pacificação da jurisprudência interna de determinado Tribunal.
10. Recurso especial desprovido.
Conforme relatado nos módulos anteriores, o bem ambiental é complexo, pois que é
composto por diversos elementos bióticos e abióticos. São elementos bióticos o conjun-
to de todos os seres e organismos vivos naturalmente presentes em um mesmo ambiente
e que são mutuamente interdependentes e sustentados. Abióticos são os elementos físi-
cos e químicos não vivos e que compõem o ambiente, como a água, rochas e minerais,
por exemplo.77 O conjunto e a interação dos elementos bióticos e abióticos forma o
meio ambiente natural, objeto de estudo da ecologia78 e hodiernamente da própria
tutela jurídica ambiental.79 Se por um lado o direito ambiental apresenta princípios
formadores e específicos, peculiaridades em relação à forma de responsabilização de
eventual dano em face da própria complexidade do bem a que se propõe tutelar, por
outro, a especificidade dos elementos que compõem o meio ambiente atrai a necessida-
de da divisão da macro tutela em disciplinas específicas para efeitos didáticos e melhor
adequação à realidade fática. Esta necessidade impõe o desenvolvimento de uma intrin-
cada rede normativa nas três esferas da federação, diante da competência concorrente
prevista pela Constituição Federal para a tutela do meio ambiente.
O ordenamento jurídico ao diferenciar o tratamento dispensado ao bem ambien-
tal conforme a sua natureza, consegue proporcionar maior eficácia no cumprimento
dos objetivos propostos em cada tipo de legislação. Por outro lado, o tratamento legal
dispensado a um determinado bem ambiental deve sempre considerar o conjunto dos
demais que compõe a totalidade do meio ambiente. Isto porque, fora do campo me-
ramente legislativo ou didático, no campo da natureza e da ecologia, a intervenção na
flora quase sempre refletirá na fauna, assim como a intervenção no ar pode refletir na
água, por exemplo, e assim sucessivamente. Em razão da impossibilidade do isolamento
prático do conjunto de bens ambientais, a tutela específica deve sempre ser aplicada e
interpretada à luz dos princípios constitucionais e preceitos legislativos federais gerais.
Assim, os principais objetivos deste módulo são:
ÁREAS PROTEGIDAS
O Código Florestal de 1965 (Lei n. 4.771/65) foi revogado pela Lei n. 12.651/12,
com as alterações da Lei n. 12.727/12. A nova lei florestal, em seu art. 2º, estabelece
que as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa
são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, prevendo ainda que a sua
proteção servirá como limitadora dos direitos de propriedade, conforme as disposições
da legislação em geral e especialmente da própria lei florestal.
Assim, a lei prevê proteção, fundamentalmente, para dois tipos de áreas: (i) Áreas de
Preservação Permanente (APP) e (ii) Reserva Florestal Legal.
As áreas de Preservação Permanente (APP) são territórios protegidos de acordo com
os artigo 4º e seguintes do Código Florestal, cobertos ou não por vegetação nativa, com
objetivo de preservar as florestas de forma indireta, na medida em que o objetivo de pro-
teção é de um bem, recurso ou serviço ambiental alheio à própria área protegida (e.g.:
rio, montanha, dunas, etc). A APP tem função primordial de garantia de preservação
e conservação de recursos ambientais acessórios e serviços ambientais que dependem
da sua existência. Assim, são exemplos das funções da APP: garantir a qualidade e a
quantidade dos recursos hídricos; os atributos da paisagem; a estabilidade ecológica dos
diferentes ecossistemas; a preservação da biodiversidade; o fluxo gênico de fauna e flora,
o solo, entre outras. E, de forma indireta, a APP desenvolve papel de preservação da
vegetação existente dentro dos limites de proteção definidos pelo Código Florestal. Essa
interpretação decorre da previsão do art. 3º,, inciso II da Lei Florestal, que assim dispõe:
Existem dois tipos de APP’s: (i) áreas de preservação permanente por imposição
legal, previstas pelo artigo 4º do Código Florestal; e (ii) área de preservação permanente
por ato do poder público, cujas hipóteses estão previstas no artigo 6º da referida legis-
lação. Cabe destacar que a primeira espécie de APP (por imposição legal) exige apenas
a ocorrência do atributo natural para receber proteção legal. Ou seja, a existência de
um rio, de uma montanha ou de uma duna são suficientes para atrair a proteção da
legislação florestal, independentemente de ato declaratório do Poder Público. Já a se-
gunda forma de APP, depende de ato do Poder Público para que seja declarada como
área protegida. Importante ressaltar que a hipótese do artigo 6º do Código Florestal
não consiste em faculdade do Poder Público, ou seja, identificada área que constitua
alguma das hipóteses previstas no artigo, o Poder Público tem o dever de declará-las
como dignas de proteção. Essa constatação apresenta reflexos práticos importantes. Por
exemplo: na concepção de projetos imobiliários sobre áreas que podem estar sujeitas à
declaração de preservação permanente pelo Poder Público, devem contemplar o risco de
impugnação judicial de eventual licença ambiental concedida para o empreendimento
sobre área sujeita às hipóteses do art. 6º, do Código Florestal.
Importante assunto a ser explorado diz respeito à supressão das florestas de preser-
vação permanente. De acordo com o artigo 8º, caput do Código Florestal, a supressão
de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em
caso de atividades de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto am-
biental previstas na referida lei.80 A Constituição Federal também traz requisitos a
serem observados na supressão da vegetação dessa área. Segundo o artigo 225, § 1°,
inciso III, da CF/88:
§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus com-
ponentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atri-
butos que justifiquem sua proteção;
Diante dos dispositivos constitucionais e legais citados é possível afirmar que a su-
pressão de vegetação de áreas de preservação permanente somente poderá ser autorizada
se os seguintes requisitos forem cumpridos:
1. Lei autorizativa – requisito constitucional (art. 225, § 1°, inciso III, primeira
parte);
2. A supressão não pode comprometer a integridade dos atributos que justifi-
80.Art. 8o A intervenção ou a supressão
quem a criação da área protegida – requisito constitucional (art. 225, § 1°, de vegetação nativa em Área de Preser-
vação Permanente somente ocorrerá
inciso III, segunda parte); nas hipóteses de utilidade pública, de
3. A supressão deve ser de utilidade pública, (artigo 3º, VIII, do Código Flo- interesse social ou de baixo impacto
ambiental previstas nesta Lei.
restal) de interesse social (artigo 3º, IX, do Código Florestal) ou de baixo § 1o A supressão de vegetação nativa
protetora de nascentes, dunas e restin-
impacto ambiental (artigo 3º, X, do Código Florestal) – requisito legal (ar- gas somente poderá ser autorizada em
tigo 4º do Código Florestal); caso de utilidade pública.
§ 2o A intervenção ou a supressão de
vegetação nativa em Área de Preser-
vação Permanente de que tratam os
Vale destacar que o primeiro requisito elencado, qual seja, lei autorizativa para a incisos VI e VII do caput do art. 4o po-
alteração ou supressão de vegetação da área de preservação permanente consiste na pró- derá ser autorizada, excepcionalmente,
em locais onde a função ecológica do
pria Lei Florestal, que em seu artigo 8º, caput, traz requisitos a serem observados para as manguezal esteja comprometida, para
execução de obras habitacionais e de
hipóteses de intervenção e supressão já previstas neste diploma legal. urbanização, inseridas em projetos de
Embora tratando do Código Florestal de 1965, dois importantes tratadistas do di- regularização fundiária de interesse
social, em áreas urbanas consolida-
reito ambiental manifestaram entendimento similar, ao defenderem que a lei que cria das ocupadas por população de baixa
renda.
a APP é o instrumento legal que cumpre com o requisito constitucional do art. 225, § § 3o É dispensada a autorização do ór-
1°, inciso III, ao prever o procedimento de supressão da vegetação de APP. Édis Milaré gão ambiental competente para a exe-
cução, em caráter de urgência, de ati-
e Paulo de Bessa Antunes defendem tal posicionamento: “Tal como alvitrou Paulo de vidades de segurança nacional e obras
de interesse da defesa civil destinadas à
Bessa Antunes, parece-nos que ‘a lei autorizativa para uma eventual alteração ou supres- prevenção e mitigação de acidentes em
são das florestas de preservação estabelecidas pelo art. 3º é o próprio Código Florestal. E, áreas urbanas.
§ 4o Não haverá, em qualquer hipótese,
portanto, não há necessidade de uma lei específica que autorize uma supressão de uma direito à regularização de futuras inter-
venções ou supressões de vegetação
floresta de preservação permanente por ato do Poder Executivo. (...) Diferente é a situa- nativa, além das previstas nesta Lei.
ção das áreas de preservação permanente estabelecidas pelo art. 2º do Código Florestal,
que somente poderão ser alteradas por lei formal, em razão da hierarquia legislativa’”.
Quanto ao segundo requisito, importa mencionar que o instrumento responsável
por avaliar se a alteração ou supressão da vegetação de área de preservação permanente
vai comprometer ou não os atributos que justifiquem a sua criação é o estudo de im-
pacto ambiental.
Outro ponto a justificar a recepção das hipóteses de supressão de APP pelo art. 8º
da Lei Florestal residiria na natureza de preservação e conservação dessas áreas apenas
de forma indireta. A racionalidade da política conservacionista no caso das APPs e da
Reserva Legal seria diferenciada das áreas protegidas pela Lei n. 9.985/2000, que dispõe
sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Esse diploma sistema-
tiza áreas de proteção com função primordial de conservação e preservação dos recursos,
bens e serviços ambientais existentes ou que ocorrem dentro dos limites da unidade
de conservação. Essa diferença seria suficiente para fazer com que as áreas protegidas
pelo artigo 225, § 1º, inc. III, da CF/88, se limitassem àquelas constantes do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação. Édis Milaré81 se refere a esse fator distintivo
classificando as áreas protegidas do Código Florestal como lato sensu e as do SNUC
como áreas protegidas stricto sensu.
No tocante às reservas legais, são áreas localizadas dentro de uma propriedade ou posse
rural, fundamentais ao uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais, à con-
servação e reabilitação dos processos ecológicos, ao abrigo e proteção da fauna silvestre e
flora nativa e à conservação da biodiversidade, conforme determina o art. 3º, inciso III da
Lei Florestal. Trata-se de uma forma de restrição à exploração econômica da propriedade,
tendo em vista a preservação de interesses ecológicos. Assim dispõe o referido dispositivo:
“Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, de-
limitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação
81. MILARÉ, Édis. Direito do ambien-
dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o te: doutrina, jurisprudência, glossário.
5ª ed. ref., atual. e ampl. São Paulo:
abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.” Editora dos Tribunais, 2007. P. 651.
Neste tipo de unidade de conservação somente são permitidas alterações dos ecos-
sistemas no caso de: medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;
manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; coleta de compo-
nentes dos ecossistemas com finalidades científicas; e pesquisas científicas cujo im-
pacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou
pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente
a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de um mil e
quinhentos hectares.
área deverá ser desapropriada. A visitação pública está sujeita às condições e restrições
estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão res-
ponsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento.
Esta unidade de conservação é uma área natural com populações animais de espé-
cies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos
técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. A
Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, assim, as áreas particulares incluídas
em seus limites devem ser desapropriadas.
A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da
unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua ad-
ministração. O exercício da caça amadorística ou profissional, no entanto, é proibido.
A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao
disposto nas leis sobre fauna e regulamentos.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpe-
tuidade, objetivando conservar a diversidade biológica. O referido gravame constará de
termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência
de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imó-
Legislação
Doutrina
estamos de que sem florestas não haverá água, não haverá fertilidade do solo; a fauna depen-
de da floresta, e nós – seres humanos – sem florestas não viveremos. As florestas fazem parte
de ecossistemas, onde os elementos são interdependentes e integrados.
[MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª ed., rev., atual.
e amp. São Paulo: Malheiros, 2008. P.736-737.]
Leitura Indicada
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª ed., rev., atual. e
amp. São Paulo: Malheiros, 2008. P.736-756 e 811-827.
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5ª ed. ref.,
atual. e ampl. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2007. P. 690-706 e 652-689.
Jurisprudência
Ementa
Ementa
Ementa
GLOSSARIO
Por fim, alguns pontos negativos merecem ser ressaltados. O primeiro deles, a Políti-
ca Nacional de Biodiversidade é um emaranhado confuso de regras e procedimentos de
pouca e difícil implementação prática. Não contou com o devido planejamento e não
aponta como será feita a necessária integração com as demais políticas setoriais. Nesse
sentido, trata-se muito mais de uma carta de aspirações do que de conteúdo prático e
efetivo que deve instruir políticas ambientais setoriais. Não deixa também de ser pouco
usual o fato de uma política ambiental setorial ser instituída por decreto. Divergentes
interesses no Congresso Nacional, associados à falta de um sentimento de urgência que
decorre do próprio desconhecimento de muitos parlamentares sobre a temática am-
biental faz com que as políticas ambientais setoriais fiquem sendo debatidas por anos,
ou em alguns casos, por décadas, antes de serem transformadas em lei. A proteção da
Mata Atlântica (Lei n. 11.428/2006) e a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei n.
12.305/2010) são alguns exemplos.
ATIVIDADES
Legislação
Leitura Indicada
Paulo de Bessa Antunes, Direito Ambiental, 11ª Edição, Editora Lumen Juris, (2008),
pp. 389-428;
Édis Milaré, Direito do Ambiente, 5ª edição, Editora Revista dos Tribunais, (2007),
pp. 547-569.
Jurisprudência
Ementa
Também cabe à União, segundo o artigo 21, incisos XII, alíneas b, d e f, da Consti-
tuição Federal, explorar diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água, em articulação com os Estados onde se localizam os potenciais hidroenergéticos;
os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras
nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; os portos marítimos,
fluviais e lacustres.
Outras importantes funções atribuídas à União em matéria de água dizem respeito
à instituição do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definição de
critérios de outorga de direitos de seu uso e a execução dos serviços de polícia marítima,
aeroportuária e de fronteira, previstos, respectivamente, no artigo 21, incisos XIX e
XXII, da Constituição.
As águas estaduais constituem bens públicos, cujo domínio pertence aos próprios
Estados, cabendo a estes a gestão e autotutela administrativa do bem em questão, o que
muitas vezes é feito mediante lei. Constituem bens dos Estados “as águas superficiais
Visando implementar os objetivos fixados pelo supracitado artigo 2º, a PNRH dis-
pôs sobre os instrumentos específicos de gestão dos recursos hídricos. São eles:
Tema importante a ser destacado em matéria de água diz respeito ao controle de sua
quantidade e qualidade. O primeiro é feito através de concessões e autorizações para
derivação de água. Compete ao titular do domínio da água, ou seja, União, Estados ou
Distrito Federal, outorgar autorização administrativa, com exceção de aproveitamento
de potenciais de energia hidráulica.
No tocante ao controle da qualidade da água, o CONAMA classificou as águas do
território brasileiro de acordo com sua qualidade, utilizando como referência seu uso
predominante. Assim, as águas doces (salinidade igual ou inferior a 0,5%) foram divi-
didas em cinco classes: I – classe especial; II – Classe 1; III – Classe 2; IV – Classe 3; V
– Classe 4. As águas salinas (salinidade igual ou superior a 30 %) em quatro: I – Classe
especial; II – Classe 1; III – Classe II; e IV – Classe 3. Finalmente, as salobras (salinida-
de superior a 0,5 % e inferior a 30 %) foram classificadas em quatro: I – Classe especial;
II – Classe 1; III – Classe 2; e IV – Classe 3.
Cabe à União, através do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) proce-
der ao enquadramento das águas federais nas classes e quanto às estaduais compete aos
próprios Estados, por meio do órgão estadual competente, sempre ouvindo as entidades
públicas ou privadas interessadas.
Outro instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos que merece destaque
é a cobrança pelo uso de recursos hídricos. No Brasil, as águas públicas constituem bens
inalienáveis, sendo apenas outorgado o direito ao seu uso. Vale destacar que a cobrança
feita no saneamento básico, geralmente, corresponde à remuneração pelo serviço de
fornecimento, aí incluídos os custos com o transporte, distribuição, entre outros, não
sendo cobrado o valor econômico do recurso água. A cobrança pelo consumo da água
baseia-se no princípio do usuário-pagador e constitui mecanismo fundamental para a
alocação eficiente dos recursos hídricos.
A estrutura de gestão da Política Nacional de foi instituída pelo Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), com os seguintes objetivos, estabele-
cidos pelos incisos do artigo 32, da Lei n. 9.433/1997:
ATIVIDADES
Legislação
1. Constituição Federal, Artigos 20, III, V e VI, 26, I, 21, XIX, 22, IV;
2. Decreto 24.643/1934 (Código de Águas);
3. Decreto-lei 852/1938;
4. Código Florestal, Lei 4.771/65, Artigo 2º, a, b e c;
5. Decreto-lei 221/1967 (Código de Pesca);
6. Lei 9.433/1997 (Política Nacional de Recursos Hídricos e Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos);
7. Resolução CONAMA 357/2005;
Doutrina
Leitura Indicada
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 5ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
pp. 463-499.
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008, pp. 699-735.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª Edição. São Paulo:
Malheiros, 2008, pp. 441-529.
POMPEU, Cid Tomanik. Direito de Águas no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2006, pp. 35 e 39.
Jurisprudência
Ementa
Juntamente com a água, o ar é outro elemento natural vital para o ser humano. A
sua contaminação causa efeitos nocivos imediatos e impactos significativos na saúde dos
seres humanos e no equilíbrio ambiental. Sua utilização se dá pela forma de “despejo”
de substâncias químicas poluentes. Porém, sua capacidade de absorção é limitada e a sua
contaminação ocorre de forma acelerada.
Em alguns centros metropolitanos, a poluição atmosférica chega a ser literalmente
visível. Não é incomum a população dos grandes centros urbanos ao redor do mundo
utilizarem máscaras para circular nas ruas durante períodos de alta poluição do ar. Além
dos prejuízos diretos à saúde da população, a qualidade do ar está intimamente ligada
ao sadio funcionamento de outros sistemas ecológicos. Porém, a difícil tarefa de estabe-
lecimento de relações de causa e efeito, bem assim, interesses econômicos na utilização
deste precioso recurso, são fatores que contribuem para as imperfeições legislativas e
executivas no combate à poluição atmosférica.
Édis Milaré caracterizou a poluição do ar da seguinte forma:
“A poluição do ar resulta da alteração das características físicas, químicas ou bioló-
gicas normais da atmosfera, de forma a causar danos ao ser humano, à fauna, à flora
e aos materiais. Chega a restringir o pleno uso e gozo da propriedade, além de afetar
negativamente o bem-estar da população.”
Trata-se de uma caracterização que decorre dos conceitos legais de meio ambiente,
degradação, poluição e poluidor previstos na Lei n. 6.938/81. O problema maior em
relação à regulação preventiva eficiente do ar reside no alto custo do monitoramento e
do controle. A deficiência de gestão torna ainda mais complexa a responsabilização por
prejuízos ambientais e à saúde da população como decorrência da poluição do ar.
Nas áreas urbanas, em zonas industriais, o controle pode ser feito diretamente pelo
órgão ambiental estadual a partir de relatórios produzidos diretamente pelas fontes de
poluição e pelo monitoramento contínuo em áreas críticas de poluição. Outra fonte
problemática para o controle das autoridades ambientais nos grandes centros urbanos
é a poluição difusa dos veículos automotores. Nas áreas rurais, o procedimento é mais
complexo, pois que as fontes de poluição não são concentradas como nas áreas urbanas
industriais. Logo, o monitoramento e o controle ficam mais difíceis.
Em qualquer caso, medidas de controle da poluição do ar deve estar alinhadas com
a estipulação de padrões de qualidade específicos. Ao se estipular, por resolução, um
determinado padrão de emissão de poluentes para uma determinada bacia aérea, o ór-
gão ambiental competente pelo licenciamento ambiental deve prestar especial atenção
às pretensões de emissões nos EIA/RIMAs e, com base nos princípios da sadia quali-
dade de vida, poluidor e usuário-pagador, e, fundamentalmente, no acesso equitativo
aos recursos naturais, pautar a definição dos limites que devem constar nas respectivas
licenças.
Assim, diante de uma situação hipotética em que o padrão de qualidade do ar para
uma determinada região é de “10 x” partes por milhão (ppm) de uma substância “y”,
o órgão ambiental deve estar atento para as peculiaridades do caso. Continuando com
este exemplo, uma indústria, ao pedir uma licença ambiental, apresenta um EIA/RIMA,
ATIVIDADES
2. Dióxido de Enxofre
a. concentração média aritmética anual de 80 (oitenta) microgramas por
metro cúbico de ar;
b. concentração média de 24 (vinte e quatros) horas, de 365 (trezentos e
sessenta cinco) microgramas por metro cúblico de ar, que não deve ser
excedida mais de uma vez por ano.
3. Fumaça
a. concentração média aritmética anual de 60 (sessenta) microgramas por
metro cúblco de ar;
b. concentração média de 24 (vinte e quatro) horas, de 100 (cem) micro-
gramas por metro cúblico de ar, que não deve ser excedida mais de uma
vez por ano.
Legislação
1. Constituição Federal, artigos 23, IV, 24, VI, 30, II, 225, caput;
2. Resoluções CONAMA 18/86; 005/1989; 003/1990; 008/1990 e 382/2006;
3. Lei 9.284/96;
4. Art. 27 da Lei 4.771/65;
5. Art. 54 da Lei 9.605/98.
6. Lei n. 12.187/2009;
7. Decreto n. 7.390/2010;
8. Lei n. 12.114/2009;
9. Decreto n. 7.343/2010.
Doutrina
Leitura Indicada
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 5ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
pp. 204-214.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª Edição. São Paulo:
Malheiros, 2008, pp. 534-561.
Jurisprudência
Ementa
ções legais, tais como os conceitos de gestão integrada de resíduos sólidos, e o próprio reito Ambiental Brasileiro. 20ª Edição.
São Paulo: Malheiros, 2012, p. 638.
conceito de resíduos sólidos. De acordo com o art. 3º, incisos XI da referida lei, gestão 89. Idem. p. 639.
integrada de resíduos sólidos é o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para
os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cul-
tural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”.
Para a mencionada lei, resíduos sólidos podem ser classificados como “material, subs-
tância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja des-
tinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para
isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.
A Lei também classificou os resíduos sólidos de acordo com a sua origem (resíduos
domiciliares, de limpeza urbana, urbanos, resíduos de estabelecimentos comerciais e
prestadores de serviços, resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, resíduos
industriais, de saúde, da construção civil, agrossilvopastoris, resíduos de serviços de
transportes e de mineração) e periculosidade (resíduos perigosos e resíduos não perigo-
sos), conforme pode ser observado no artigo 13 da Lei.
No campo da responsabilidade pelos danos causados pelos geradores e Poder Públi-
co em matéria de resíduos sólidos, a PNRS consolidou algumas das previsões gerais da
responsabilidade civil ambiental e inovou na inserção de novos elementos específicos à
matéria. Dentre estes vale destacar a logística reversa e a responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos.
Para viabilizar a efetiva gestão dos resíduos sólidos é fundamental a fixação de responsabi-
lização pelos danos provocados em virtude da falta de disposição ambientalmente adequada
dos dejetos. Dessa forma, a PNRS determina que o poder público, o setor empresarial e a
coletividade são responsáveis pela efetividade das ações que busquem cumprir as disposições
da Política Nacional de Resíduos Sólidos. É o que dispõe o artigo 25, da Lei n. 12.305/2010,
que assim dispõe: “O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efe-
tividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos
e das diretrizes e demais determinações estabelecidas nesta Lei e em seu regulamento.”
Visando garantir a recuperação das áreas impactadas por resíduos sólidos, na maté-
ria de responsabilidade, a PNRS introduziu em seu artigo 30 e seguintes o conceito de
“responsabilidade compartilhada”. Pela definição do artigo 3º, inciso XVI, quer dizer
“o conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpe-
za urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e
rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade
ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei.” Vale destacar
que a responsabilidade em cadeia não impossibilita a individualização de cada ação ou
omissão, seja de pessoa física ou jurídica de direito público ou privado90.
O principal objetivo da fixação de uma responsabilização tão abrangente (envolven-
do diversos agentes econômicos da cadeia produtiva) é proporcionar a redução de resí-
duos sólidos e seus respectivos danos ao meio ambiente, através do reaproveitamento de
resíduos, da diminuição de desperdício de materiais, incentivos a utilização de insumos
menos agressivos ao meio ambiente, dentre outras ações.
90. Idem. p. 645.
Tendo em vista tal objetivo, a Política conferiu aos fabricantes, importadores, distri-
buidores e comerciantes diversas responsabilidades associadas à fabricação/colocação no
mercado, divulgação de informações e destinação final do produto após o uso pelo consu-
midor. Podem ser citados como exemplos as obrigações de: investir no desenvolvimento,
fabricação e colocação no mercado de produtos que possam ser reutilizados, reciclados, ou
que tenham destinação ambientalmente adequada, após o uso pelo consumidor; fabricar
produtos que gerem a menor quantidade de resíduos; divulgar informações sobre formas
de prevenir a produção de resíduos, como reciclá-los; recolher os produtos e seus respec-
tivos resíduos, após a utilização do consumidor, e proceder à destinação ambientalmente
correta, caso o produto seja objeto do sistema de logística reversa, entre outras.
Além do setor privado ter obrigações em razão da responsabilidade compartilhada, o
poder público também as possui. Assim, cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos
reutilizáveis e recicláveis provenientes dos serviços públicos, criar sistema de coleta se-
letiva, estabelecer parceiras com os agentes econômicos e sociais para efetivar o retorno
dos resíduos ao ciclo produtivo, dentre outras.
Outro importante instrumento para viabilizar a redução da quantidade de resíduos só-
lidos previsto na PNRS é o sistema de logística reversa. Trata-se de um conjunto de ações
objetivando a efetiva coleta e restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial para que
tais dejetos possam ser reaproveitados ou ter destinação final ambientalmente adequada.
Importa ressaltar que a logística reversa deve ser realizada por determinados fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, independentemente do serviço público de lim-
peza urbana, que explorem: (i) agrotóxicos; (ii) pilhas e baterias; (iii) pneus; (iv) óleos lubri-
ficantes; (v) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; (vi) pro-
dutos eletroeletrônicos. Tal previsão encontra-se no art. 33, da Lei 12.305/10 e no que diz
respeito aos quatro primeiros produtos não há necessidade de regulamento próprio, acordo
setorial ou termo de compromisso, a obrigação da logística reversa decorre diretamente da
PNRS. No tocante aos dois últimos produtos, o art. 56 da Lei 12.305/10 determina a im-
plementação progressiva do sistema de logística reversa, conforme cronograma estabelecido
em regulamento. “Assim, temos dois tipos de implementação da logística reversa: implementação
imediata (art. 33, I a IV) e implementação progressiva (art. 56 c/c art. 33, V e VI)”91.
A Política estabelece ainda que para implementar e operacionalizar a logística rever-
sa, os obrigados legais poderão comprar produtos ou embalagens usados, criar postos
de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis, firmar parcerias com cooperativas de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, dentre outras medidas.
Pela natureza normativa da logística reversa, extrai-se a preocupação estampada
na PNRS de aplicar o princípio do poluidor-pagador (previsto no art. 6º, II, da lei
12.305/2010 e no art. 4º, VII, da Lei 6.938/81).
Sobre a competência de gestão, de acordo com o artigo 10 da Lei em comento, cabe
ao Distrito Federal e aos Municípios promover a gestão integrada dos resíduos sólidos
produzidos nos seus territórios. Vale destacar que esta competência não impede o con-
trole e a fiscalização realizado pelos órgãos federais e estaduais do SISNAMA, do SNVS
e do Suasa. O regime de competências da PNRS se coaduna com o disposto no artigo
23, da Constituição Federal de 1988. 91. Idem. p. 648.
2. O artigo 30 da PNRS institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de comentários à Lei 12.305/2010. Rio de
Janeiro: Forense, 2012, pp. 45 e 46.
vida dos produtos e inclui os consumidores na categoria dos abrangidos por 96. Idem. p. 47.
essa figura. O que isso quer dizer? Como é possível responsabilizar os con-
sumidores? Até que ponto a inclusão dos consumidores na responsabilidade
compartilhada está relacionada com a expressa referência na PNRS à Política
Nacional de Educação Ambiental?
3. O artigo 54 da Lei n. 12.305/10, estipula um prazo para adequação dos
lixões no Brasil. Assim dispões o referido dispositivo: “A disposição final am-
bientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1º do art. 9º,
deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta
Lei.” Qual é a punição para o caso de descumprimento desse prazo? Como
ele pode ser observado na prática?
4. Muito se fala nos aspectos socioeconômicos da PNRS. Você consegue iden-
tificar na lei dispositivos expressos que manifestem a preocupação com ques-
tões sociais e econômicas?
5. O que é logística reserva e como deve acontecer a sua aplicação prática?
6. Quais são as principais diferenças nos critérios de gestão resíduos sólidos e
dos resíduos perigosos?
7. O Capítulo V, da Lei da PNRS, trata dos instrumentos econômicos. O que
são esses instrumentos e como eles devem ser utilizados na prática?
8. Com base no Decreto n. 7.404/2011 e no SISNAMA, explique qual é a
estrutura institucional disponível para implementar a PNRS.
9. Quais são os deveres específicos dos consumidores elencados pela PNRS e
Decreto n. 7.404/2011?
10. O que são Acordos Setoriais e quem é competente para firmá-los?
11. O que é o Termo de Compromisso e qual é a sua função?
LEGISLAÇÃO:
DOUTRINA
A Lei 12.305/2010, prevê onze incisos no art. 6º, onde estão inseridos diversos princí-
pios, mais do que o próprio número de incisos.
São apresentados seis princípios já tradicionais do Direito Ambiental: princípio da pre-
venção, princípio da precaução, princípio do poluidor-pagador, princípio do desenvolvimen-
to sustentável, princípio do direito à informação e princípio do controle social.
É inserido como inovação o princípio protetor-recebedor. Os termos que compõem o prin-
cípio mostram, no sentido somente literal, que quem protege, merece receber. É um princípio
que vai demandar maior aprofundamento, pois se de um lado não se pode exigir que só uma
parte da população proteja gratuitamente o meio ambiente, em favor de todos, também, não
se pode ir para outro extremo, e afirmar-se que quem não for pago, não é obrigado a proteger.
LEITURA INDICADA
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 19ª Edição. São Paulo:
Malheiros, 2011, pp. 597-631.
GUERRA, Sidney. Resíduos sólidos: comentários à Lei 12.305/2010. Rio de Janeiro:
Forense, 2012.
JURISPRUDÊNCIA
(...)
art. 2o, 3o, V, 51, 52 e 55 do mesmo Regulamento (fls. 12). Em 24-4-1996 o agente da
CETESB constatou que o armazenamento das embalagens estava de acordo com o es-
tabelecido na Norma NB-1183 da ABNT (armazenamento de resíduos sólidos perigo-
sos), dando por cumprida a exigência posta no auto de infração (fls. 118, verso e 153).
O recurso administrativo para afastamento da multa (fls. 14/17) foi rejeitado (fls. 144).
3. A embargante pretende produzir perícia e prova oral para esclarecer os argumen-
tos discutidos nos autos; mas não se faz perícia para prova de fato transitório ocorrido
anos antes, nem se vê utilidade na prova testemunhai, pois, como se verá a seguir, a
transitoriedade da conduta não ilide a autuação. O indeferimento de provas inúteis,
desnecessárias ou protelatórias tem esteio no art. 130 do CPC; não houve cerceamento
de defesa nem violação ao art. 5o, LIV e LV da CF.
O agente ambiental constatou o depósito irregular no solo de produto tóxico em
5-5-1995 e 26-9-1995; não se tem como transitório fato que perdura por diversos
meses, mesmo depois da vistoria e da advertência feita pela CETESB por armazena-
mento irregular das embalagens, com exigência de cumprimento â Norma NB-1183 da
ABNT, não lhe sendo permitido descumpri-la ainda que por curto período. Como bem
exposto pelo engenheiro da CETESB, “trata-se de disposição inadequada de resíduos
sólidos classe I [perigosos – resíduos que, em função de suas propriedades físico-quími-
cas e infectocontagiosas, podem apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente],
que não pode ser minimizada em termos de importância como pretende a infratora”
(fls. 144), não havendo como acolher a afirmação da embargante de enquadramento
ao art. 55 do DE n° 8.468/76, o qual tolera a acumulação temporária de resíduos de
qualquer natureza desde que não ofereça risco de poluição ambiental.
As fotos que instruem a inicial dos embargos (fls. 34/43) não estão datadas e de
qualquer modo não invalidam o auto de infração, que possui presunção de veracidade
e legalidade. A autuação fica mantida.
O voto é pelo desprovimento do recurso da embargante.
RÔMULO SAMPAIO
Doutor e Mestre (LL.M) em Direito Ambiental pela Pace University School of
Law, Nova York, EUA. Mestre em Direito Econômico e Social pela PUC-PR. Coor-
denador do Centro de Direito e Meio Ambiente e Professor Pesquisador da FGV
DIREITO RIO. Professor Visitante da Pace University School of Law, Nova York,
EUA e da Georgia State University College of Law, Atlanta, EUA.
FICHA TÉCNICA