Jogos de Improviso
Jogos de Improviso
Jogos de Improviso
Tiago Aquino da Costa e Silva1 (LEL), Alipio Rodrigues Pines Junior (GIEL/USP)2, Gisele
Maria Schwartz (LEL), Kao Giro Ferraz Gonalves, Cleber Mena Leo Junior
(GELL/PUCPR)
RESUMO
O presente estudo teve por objetivo analisar a maneira como as crianas se envolvem com a
proposta de vivncias de jogos de improviso, utilizados como estratgia criativa na educao
para o bem estar no mbito do lazer. O estudo, de natureza qualitativa foi desenvolvido por
meio de pesquisas bibliogrfica e de campo e utilizou a tcnica de observao como
instrumento para a coleta de dados. Fez parte do estudo uma amostra intencional composta
por 81 crianas com idade mdia de 7 anos e 10 meses matriculadas no Ensino Fundamental I
do Green Book School, So Paulo, Brasil. As atividades foram desenvolvidas durante 6 aulas
prticas, sendo dois encontros semanais de 50 minutos, em que as crianas atuaram como
jogadores-atores em diversas propostas de improvisaes temticas e com objetos. As
informaes advindas da observao foram anotadas em dirio de campo e foram
posteriormente analisadas por categorias, envolvendo os nveis pessoal, coletivo e artstico de
envolvimento e ao. Os resultados indicam que as crianas demonstraram grande alegria,
bem-estar, motivao e prazer nas atividades de improvisao propostas, apresentando bom
rendimento nos trs nveis de observao durante as vivncias. Os jogos de improviso
apresentaram-se como uma estratgia educacional interessante no caminho de construo e
reconstruo de aes, por intermdio da criatividade, transpondo elementos do bvio e do
comum, que so catalisadores de novos processos psicolgicos, sociolgicos e artsticos.
INTRODUO
1
2
pacoca@professorpacoca.com.br
alipio@esporteescolar.org.br
caractersticas
de
improvisao
ativando
os
elementos
referentes
observadores.
A prtica dos Jogos de Improviso evidencia a importncia do jogador-observador, pois
as aes so intencionalmente dirigidas para o outro. O processo em que se engajam os
sujeitos que jogam, segundo Japiassu (1998), se desenvolve a partir da ao improvisada e os
papis de cada jogador no so estabelecidos desde o incio, mas emergem a partir das
interaes que ocorrem durante o jogo.
A existncia da comunicao muito mais importante do que o mtodo utilizado pelo
orientador para conduzir as atividades, pois extrapola os limites da vivncia e convivncia
entre os jogadores. Quando o jogador-ator realmente sabe que h diversas maneiras de fazer e
dizer algo, as tcnicas aparecero mais facilmente, libertando o aluno para o padro de
comportamento fluente caracterstico do jogo de improviso (SPOLIN, 1999).
Os Jogos de Improviso permitem a explorao e a criao de novas tcnicas teatrais,
resultando no estmulo ao processo criativo, o qual bastante exigido, inclusive no ambiente
escolar, porm, ainda pouco explorado. Sendo assim, todas as iniciativas neste sentido
podero surtir efeitos bastante importantes no processo educativo, merecendo ateno.
Para Spolin (1986), as propostas dos jogos devem ser colocadas para o jogador em
ao respeitando-se as possibilidades de cada indivduo. As atividades, quando so adequadas
e atingem s expectativas de valorizao pessoal e grupal, podem apresentar ressonncias at
mesmo para fora do ambiente em que so propostas, sendo transferidas inclusive para a vida
diria. Quando isto ocorre, efetivamente se percebe o processo educativo.
A conduo destas atividades deve ser bastante criteriosa. A maneira pela qual o
material e os desafios so apresentados ao jogador, especialmente envolvendo os nveis fsico
e no-verbal, exige outra esfera de ao, a qual se encontra, muitas vezes, em oposio a uma
abordagem intelectual e psicolgica. A fiscalizao das atividades se faz necessria como
fator de feedback do jogo construdo para que as cenas posteriores apresentem um
desenvolvimento adequado e atinja a proposta educativa (SPOLIN, 1999).
Para auxiliar os jogadores a alcanarem a soluo focalizada para o problema,
emprega-se a tcnica de instruo, por meio da qual encoraja-se o jogador a conservar a
ateno no Foco e se elimina a orientao autoritria (SPOLIN, 2008a). Ainda conforme
expe Spolin, a instruo dever ser dada pelo orientador do jogo, com o objetivo de fornecer
auto-identidade e servir como guia para quem joga, mantendo viva a alma do jogo e dos
jogadores, permitindo o envolvimento dos mesmos. A instruo do jogo uma das facetas
geradoras do processo dos Jogos Teatrais, guiando as trocas de energias entre os jogadores,
instigando, provocando, estimulando novas aes possveis ao jogo.
materiais: um cone laranja de 30cm de altura, uma bola de handebol e um basto de madeira
de 1m. O orientador, no incio do jogo, ofereceu instrues necessrias para a sua prtica,
durante os dez minutos iniciais.
O primeiro objeto utilizado foi o cone. As primeiras 12 crianas a improvisarem foram
alunos do 4. e 5 anos, sendo os alunos mais velhos do grupo, os quais se mostravam mais
extrovertidos e bem comunicativos. Foram criadas 38 pequenas cenas com o cone, com a
participao de 21 crianas. Exemplos de cenas improvisadas: um sorvete, um pente para
cabelo, uma raquete de tnis, entre outros.
De acordo com Koudela (2011), a espontaneidade equivale liberdade de uma ao e
estabelecimento de contato com o ambiente. A espontaneidade um momento de liberdade
pessoal quando se est frente a frente com a realidade e se explora e age em conformidade
com ela. Nessa realidade, as mnimas partes funcionam como um todo orgnico. o
momento de descoberta, de experincia, de expresso criativa (SPOLIN, 1999).
J no jogo com o segundo objeto, a bola de handebol, participaram mais alunos. A
liberao para a criao individual sem a preocupao com resultados estticos, deu a
motivao participao dos demais alunos. Foi percebida maior interao do jogador que
atua com os jogadores-observadores, criando uma confiana e segurana na cena improvisada.
Foram criadas 48 pequenas cenas com a participao de 45 crianas. Exemplos de cenas
improvisadas: um beb, um anel gigante, um espelho, um caroo de uva, um monstro branco,
entre outros. Os jogadores-observadores assumem papel importante na formao da
criatividade e postura do jogador que atua, pois, com a experimentao, a desinibio e a
inquietao desaparecem quando o jogador-ator no v os mesmos como juzes, mas sim,
como pessoas compartilhando experincias (SPOLIN, 1999) e sendo parte efetiva do jogo.
Com o objeto basto, propiciou-se o desafio de novas pequenas cenas, sem a repetio
das j improvisadas. Foram criadas 53 cenas com a participao de 42 crianas. Exemplos de
cenas improvisadas: uma espada, uma lmpada, um lpis, uma cola basto, entre outros.
Foi percebido que a improvisao transmite segurana, satisfao, prazer e bem-estar,
tanto aos jogadores que atuam, quanto aos que observam. A transformao do bvio ao
mundo do Improviso permite a liberdade de atuao em novos horizontes, antes inatingveis.
Isto reitera a possibilidade de sucesso no que tange aceitao das estratgias envolvendo os
jogos de improviso no mbito da educao.
Para Spolin (1999) a essncia da improvisao a transformao. Quando o aprendiz
sabe que h muitas maneiras de fazer e dizer a mesma coisa, as tcnicas teatrais aparecero
livremente. por intermdio da conscincia direta e dinmica de uma experincia de atuao
que a experimentao e a transformao aparecem e surgem, libertando o aluno para o padro
de comportamento fluente na ao.
Na ao transformadora no Jogo de Improviso a liberdade pessoal exercida e a
pessoa como um todo, nos mbitos fsico, intelectual e intuitivamente despertada. Isso causa
estimulao o suficiente para que o aprendiz transcenda a si mesmo (SPOLIN, 1999).
No segundo jogo, intitulado Acrescentar uma parte, estabeleceu-se a criao de 4
grupos de 20 alunos de diferentes idades, escolhidos de forma aleatria. Foi dado um tema
para cada grupo (Tema um: Na praia, dado ao grupo I; Tema dois: No parque de diverses,
dado ao grupo II; Tema trs: No cu, dado ao grupo III e Tema quatro: Na sala de aula, dado
ao grupo IV) e, a partir da, os jogadores deveriam criar uma histria improvisada durante 10
minutos.
Em todos os grupos, o jogo de improviso foi iniciado pelos alunos do 4 e 5 ano. Cada
jogador precisava continuar a histria, sempre acrescentando alguma parte a ela, podendo
envolver novos personagens, ambientes ou acontecimentos. Durante a prtica dos Jogos, todas
as crianas dos grupos se relacionaram como jogadores-atores e observadores. A
pode gerar ressonncias para alm dos muros da escola e alterar valores e atitudes, o que
refora a importncia destas vivncias.
O Jogo de Improviso desperta o intuitivo, produzindo uma transformao intrnseca,
no apenas no jogador como tambm no professor / educador / recreador. Sendo assim,
tornam-se importantes novos olhares sobre o papel do Jogo de Improviso no mbito da
educao para o bem-estar.
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