Coerencia Textual PDF
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REDAO
Coerncia textual
Governo Federal
Ministrio da Educao
Projeto Grfico
Secretaria de Educao a Distncia SEDIS
EQUIPE SEDIS
UFRN
Reviso Tipogrfica
Adriana Rodrigues Gomes
Margareth Pereira Dias
Nouraide Queiroz
Design Instrucional
Janio Gustavo Barbosa
Jeremias Alves de Arajo Silva
Jos Correia Torres Neto
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade
Reviso de Linguagem
Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade
Reviso das Normas da ABNT
Vernica Pinheiro da Silva
Adaptao para o Mdulo Matemtico
Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho
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por
Objetivos
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Redao A03
Para comeo
de conversa...
Faz sentido afirmar que o estabelecimento est aberto todos os dias se h um dia na
semana (precisamente, s teras-feiras) em que ele permanece fechado? No. Isso
configura uma incoerncia textual.
Para no cairmos nesse problema, estudaremos sobre coerncia textual. Os conceitos
de coeso (aula 2) e coerncia textuais podem nos ajudar a desenvolver as capacidades
leitoras e produtoras de textos das quais precisamos para agir como cidados
autnomos, isto , cidados capazes de responder s demandas sociais de leitura e
de escrita.
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Coerncia textual
Exemplo 1
Ao nos depararmos com essa imagem, as primeiras indagaes que nos vm mente
so: isso um texto? Isso faz algum sentido?
A tentativa de estabelecer um sentido para o que lemos representa o nosso esforo
em perceber se h coerncia naquilo que se nos apresenta como um texto. Isso se
justifica por ser a coerncia um princpio de interpretabilidade.
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Exemplo 2
Autobiografia
Meu nome Joo Reinaldo de Lira. Nasci no ano de 1974, tenho 35 anos
e um metro e setenta e cinco de altura. Tenho, porm, os olhos castanhos
e calo 42. J que sou catlico, logo posso ser protestante. Sou gordo,
tenho 108 quilos, a qual um peso alto. Sou tmido, gosto de estudar.
Quanto mais estudo mais gosto. A minha infncia, no entanto, foi super
legal, brinquei muito com os meus amigos. Assim, espero logo alcanar
todos os meus sonhos.
Fonte: Texto produzido por um estudante de Educao de Jovens e Adultos do RN.
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Redao A03
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Fatores de coerncia
Intuitivamente, acionamos diferentes conhecimentos para estabelecer a coerncia
dos textos falados e escritos com que temos contato todos os dias. Nesta aula,
apresentaremos alguns desses conhecimentos para que voc se certifique de como a
busca da coerncia uma luta diria de cada um de ns, para a qual usamos diferentes
recursos.
Conhecimento lingustico
Ao longo de nossas vidas, desenvolvemos uma gramtica internalizada que nos permite
identificar as construes lingusticas possveis em nossa lngua materna. O mesmo
acontece com uma lngua estrangeira que estudamos com afinco durante anos.
Esse conhecimento, inconsciente para a maioria das pessoas, fundamental na ativao
do sentido de um texto, pois no processamento da leitura que vamos reconhecendo
as palavras, agrupando-as e, ao relacion-las com o todo, atribumos ao texto uma
unidade de sentido. Com esse procedimento, ns construmos a coerncia que no texto
esperamos encontrar.
Vejamos como isso ocorre no exemplo a seguir.
Exemplo 3
O computador no a resposta para tudo
Ouvindo-se the majority of people talk about computers nowadays, tem-se
a impresso de que as pessoas que no fazem uso de computador no
conseguem fazer mais nada. A adorao que se tem por esse instrumento
tamanha that a lot of people are buying computers at para enfeitar a
casa. Afinal, it is the type of thing que est na moda e que parece to offer
the answer to all the problems of modern life. Basta ter um computador e a
mgica est feita.
claro que computers are extremely useful. In fact, eu teria much more
difficulty to write this text if I did not have todos os recursos que essas teclas
e essa tela me proporcionam. No entanto, people seem to forget that the
computer only works if there is um ser humano que o controle, fazendo-o agir
de acordo com a vontade humana. O computador no vai resolver nada se
o ser humano no ativ-lo para que realize algum procedimento.
Logo, o computador sozinho no passa de mais uma coisa para atravancar
o espao. In fact, it is an instrument in our hands.
(MOITA-LOPES, 1999, p. 8).
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Com o conhecimento lingustico necessrio, fica fcil atribuir sentido a esse texto, no
verdade?
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H outros textos, porm, que exigem bem mais do que o conhecimento da lngua em que
eles esto escritos. Exigem conhecimento de mundo, um segundo fator de coerncia
que veremos nesta aula.
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Conhecimento de mundo
tambm ao longo de nossas experincias na vida que acumulamos conhecimentos
especficos que nos ajudam a desfazer ambiguidades e a compreender determinados
textos que a outras pessoas podem parecer obscuros.
De fato, h textos que, mesmo que estejam escritos em nossa lngua materna, s
conseguiremos compreender se tivermos conhecimento de mundo na rea que ele
focaliza.
Exemplo 4
A OAB desagravou o advogado Paulo Bernardes que, ao reclamar do
impedimento a ele imposto de assistir ao interrogatrio do ru, em causa
patrocinada por um seu colega, recebeu do magistrado ordem de priso.
O texto do exemplo 4 est escrito em nossa lngua materna, mas isso no nos garante
sua compreenso. Nesse caso, imprescindvel que tenhamos algum conhecimento
de mundo na rea da linguagem jurdica.
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Exemplo 5
Ao nos aproximarmos da porteira de um stio, vemos um pedao de madeira
no qual est escrita a palavra CACHORRO com letras maisculas e em cor
vermelha.
Apesar de conter uma nica palavra, esse pedao de madeira tem a funo
social de alertar os que passam naquela rea. Sem dvida, a cor vermelha
se presta bem para essa funo e quanto aos elementos lingusticos,
no caso, temos apenas uma palavra, mas que equivale a uma estrutura
sinttica completa. Observemos.
AVISO
CACHORRO
CAVALOS
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Conhecimento partilhado
Nossas experincias pessoais so responsveis pelo tipo de conhecimento que
acumulamos. Isso faz de cada um de ns um ser singular. Voc e eu no compartilhamos
todas as nossas experincias. Nem entre ns dois nem entre todos os que nos rodeiam.
Todavia, tambm temos muito em comum com muitas pessoas, mesmo as que no
conhecemos pessoalmente.
De fato, quanto mais informaes partilhamos, mais possibilidades de reconhecer a
coerncia do enunciado do outro. Mesmo que esse enunciado seja cheio de informaes
implcitas. Vamos ver um exemplo de Koch e Travaglia (1998, p. 16)?
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Exemplo 6
Depois do tango, chegou a vez do fado. Na Arbia
Essas informaes, que no poderiam mesmo fazer parte de uma manchete (dada a
brevidade caracterstica desse gnero), so pressupostas pelo enunciador (no caso, o
jornalista que produziu a manchete) como partilhadas pelo leitor do caderno de esportes.
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Inferncias
Quando lemos ou ouvimos um texto, estabelecemos algumas relaes de sentido
entre o que foi escrito ou falado e os conhecimentos que acionamos no processo de
compreenso. Essas relaes de sentido so chamadas de inferncias, que podem ser
autorizadas (possveis) e no-autorizadas (equivocadas).
Isso ocorre porque todo texto uma espcie de iceberg (KOCH; TRAVAGLIA,
1998). A materialidade que se nos apresenta apenas a ponta do iceberg.
Para alcanarmos uma compreenso mais aprofundada do texto, precisamos fazer
inferncias. Vejamos um exemplo.
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Exemplo 7
O professor de Segurana do Trabalho comprou um X-Terra 2009.
Inferncias:
Das quatro inferncias acima, podemos observar que nem todas so autorizadas.
Apenas as inferncias 1 e 2 parecem adequadas. A no ser que haja outras informaes,
alm do que foi expresso no exemplo 7, no podemos aceitar a 3 e a 4 como possveis.
As inferncias podem ser formadas a partir de pressupostos e de subentendidos. No
primeiro caso, o leitor/ouvinte se ancora em elementos lingusticos (em palavras usadas
no texto) para fazer as correlaes de sentido. No segundo, o contexto mais geral
que faz surgir a inferncia. Vejamos se os exemplos esclarecem mais essa diferena.
Exemplo 8
Pressupostos
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Observe o elemento coesivo apesar de na alternativa a. Ele traz ao perodo uma idia
de oposio entre agir honestamente e ser poltico. Qual , portanto, a pressuposio
que subjaz dessa afirmativa?
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Exemplo 9
Subentendidos
c) As encomendas chegaram?
Os correios esto em greve.
Melhor adiar a inaugurao da loja.
Contexto: duas scias conversando em uma loja ainda no aberta ao
pblico.
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Na alternativa c, no podemos dizer que haja uma relao explcita entre as trs falas,
mas compreendemos a coerncia do dilogo que elas formam. Em outras palavras,
construmos, por meio da situao de comunicao, as pontes necessrias para atribuir
sentido a esse texto.
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Fatores de contextualizao
Na produo escrita, em geral, h uma necessidade maior de explicitao das
informaes, tendo em vista que os interlocutores no esto um diante do outro
para pedir esclarecimentos. Assim, determinados elementos contextualizadores so
imprescindveis na escrita, embora possam ser dispensveis na fala. Vejamos.
Exemplo 10
Amigo Pedro,
Hoje, o dia aqui est chuvoso. Nem vai dar para ir quela praia que fica na
cidade ao lado, perto da casa do seu amigo.
Amanh, porm, mesmo chovendo, visitarei a casa de campo da prima do
nosso vizinho de condomnio. Ele me deu o endereo dela. Fica a uns 300
quilmetros daqui. Pretendo fazer uma surpresa. Voc acha que ela vai se
aborrecer?
Um abrao.
Joo.
Obs.
Voc est se lembrando de seu compromisso comigo, n? Prometeu que,
na minha volta, iria me pegar no aeroporto. V mesmo, porque j no tenho
dinheiro para txi. Nem nibus.
O pior de tudo que Joo corre um grande risco de ter de voltar para casa a p, porque
no explicitou o dia e a hora em que estar de volta sua cidade. Se for uma cidade
grande com mais de um aeroporto, isso tambm um srio problema.
Imagine, por exemplo, que a distncia entre o aeroporto de Guarulhos e o aeroporto
de Congonhas (ambos em So Paulo) representa mais de uma hora em um trajeto de
carro e se no houver congestionamento. Pobre Joo! Voltar a p para casa depois de
umas frias, sabe-se l onde, vai ser cansativo.
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Leituras complementares
PLATO, Francisco; FIORIN, Jos Luiz. Para entender o texto: leitura e redao. So
Paulo: tica, 1991.
Alm de uma exposio didtica muito envolvente, esse livro oferece exemplos
comentados de textos verbais e no-verbais dos mais diferentes gneros e exerccios
bem interessantes. Para aprimorar seus conhecimentos sobre coerncia textual,
sugerimos que voc leia as lies 27 e 29.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Portugus ensino a distncia PEAD.
Disponvel em: <http://acd.ufrj.br/~pead/>. Acesso em: 22 jan. 2009.
Trata-se de uma iniciativa de um grupo de pesquisadores e professores de Lngua
Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse site, voc vai encontrar
uma maior fundamentao terica sobre a coerncia e os tipos de coerncia, vrios
exemplos e alguns exerccios.
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Certa vez, uma famlia inglesa foi passar as frias na cidade de Munique,
na Alemanha. No decorrer de um passeio, as pessoas da famlia viram uma
casa de campo que lhes pareceu boa para passar as prximas frias de
vero. Foram, ento, falar com o proprietrio da casa, que era um senhor de
idade, alemo e evanglico, mais precisamente o pastor de uma das igrejas
da regio. Combinados o perodo e o valor do aluguel, a famlia inglesa ficou
de voltar no vero seguinte.
De volta Inglaterra, a famlia conversou muito animadamente acerca da
casa, dos cmodos do imvel e de como seriam boas as prximas frias.
De repente, a me lembrou-se de no ter visto o W.C. da casa. Onde seria
o W.C. daquela casa? Nenhum dos componentes da famlia sabia.
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Aps a leitura das duas cartas, podemos afirmar que houve coerncia entre
a pergunta da senhora Linda e a resposta do Pastor Hanz? De fato, parece
ter havido um engano da parte do pastor em relao ao significado de uma
palavra. Qual?
Faz sentido a atribuio de sentido que o pastor fez abreviatura mencionada
na carta da senhora Linda? Retorne ao trecho anterior carta do pastor
para verificar essa informao. Em que ele se ancorou para atribuir sentido
a W.C.?
Supondo a necessidade de escrever outra carta para o pastor, redija, no
espao abaixo, uma verso dessa carta em portugus. Procure explicitar
melhor a informao que a famlia deseja obter. Lembre-se de que seu
texto deve ter coerncia inclusive na linguagem respeitosa com que se
deve escrever, principalmente se o seu interlocutor um senhor de idade,
religioso e com o qual a famlia inglesa no tem familiaridade alguma.
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Referncias
KLEIMAN, Angela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes,
1989.
KOCK, Ingedore Villaa; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual. 8. ed. So
Paulo: Contexto, 1998.
KOCK, Ingedore Villaa; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto.
So Paulo: Contexto, 2006.
MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros e compreenso.
So Paulo: Parbola Editorial, 2008.
MOITA-LOPES, L. P. Read, read, read. So Paulo: tica, 1999.
PLATO, Francisco; FIORIN, Jos Luiz. Para entender o texto: leitura e redao. So
Paulo: tica, 1991.
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