A Pontuação Não Gramatical de GR - Aira Suzana
A Pontuação Não Gramatical de GR - Aira Suzana
A Pontuação Não Gramatical de GR - Aira Suzana
INSTITUTO DE LETRAS
Rio de Janeiro
2006
2
CDU 869.0(81)-95
Agradecimentos
e, especialmente,
à professora Darcilia, pela orientação
segura e amizade demonstrada ao longo
do trabalho.
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SINOPSE
SUMÁRIO
SINOPSE........................................................................................................................... 3
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................6
7. CONCLUSÕES........................................................................................................153
1. INTRODUÇÃO
Vista por esse prisma, podemos afirmar que a obra de Guimarães Rosa
valoriza a palavra falada por intermédio do trabalho escrito. O texto impresso
seria uma forma de recriação da oralidade; e os sinais de pontuação, índices
orientadores da leitura em voz alta e da produção do sentido, como podemos
observar na seguinte passagem:
sentido, assim como o desenho que fecha o texto de Grande Sertão: Veredas
(1978): (∞). Somente uma teoria abrangente como a de Peirce seria capaz de
Todo o material recolhido pelo autor, e com o qual ele se nutria para
elaborar seus textos - reunido no Instituto de Estudos Brasileiros da
Universidade de São Paulo - confirma a declaração transcrita no parágrafo
anterior: cadernetas com anotações, livros especializados, recortes com fotos e
textos sobre animais, fotos de bois, cavalos, vaqueiros e tropeiros, listas de
palavras, expressões, provérbios, etc. mostram que a originalidade presente na
sua obra resulta de um meticuloso planejamento. O conteúdo da pesquisa
incorporado ao enredo das histórias, à fala dos personagens, à fala do
narrador, faz com que o texto estabeleça um diálogo com todo esse material
recolhido pelo autor. É interessante notar que não há notas de rodapé para
esclarecer o leitor sobre a origem de determinado termo. O conteúdo da
pesquisa é incorporado ao texto, gerando um efeito de realidade.
1
II Seminário Internacional Guimarães Rosa – PUC Minas. 27 a 31 de agosto de 2001.
14
Cremos que a tríade ícone, índice e símbolo, que pode ser extraída de
esquemas diagramáticos, por exemplo, possa representar as estruturas
sintagmáticas do texto rosiano, justificando a sua pontuação e explicitando
seus recursos estilísticos.
Língua
uso. Eles foram buscar o sentido original da palavra ritmo, que designava a
forma, a configuração daquilo que é fluido que se movimenta.
2.3. Conclusão
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O assunto que nos propusemos pesquisar, a pontuação não-gramatical
na obra de Guimarães Rosa, levou-nos a buscar um suporte teórico sobre o
assunto em diversas obras.
Devido ao fato de a obra do escritor manter muitos pontos de contato
com as antigas narrativas orais, pesquisamos o assunto em algumas obras
dedicadas ao assunto.
De acordo com Cagliari (1995: 178), o sistema de pontuação foi
introduzido na língua grega por Aristófanes de Bizâncio por volta de II a.C.,
quando a escrita era ainda contínua. Segundo esse autor, é possível
reconhecer, nos sinais criados, as funções desempenhadas pelo ponto-final,
pelos dois-pontos e pela vírgula. No século VII a. C., no lugar do ponto,
apareceu o espaço em branco e também o uso de letras maiúsculas e
minúsculas. Os sinais de pontuação foram criados para a indicação das pausas
respiratórias na leitura dos textos em voz alta.em voz alta. Segundo Costa
(1994), os escribas, ao fazerem a cópia dos textos, acrescentavam notas
explicativas, como a perfeita pronúncia das palavras, a exata duração das
vogais etc. Essas notas, chamadas pontos, tinham o objetivo de garantir ao
leitor/orador uma perfeita interpretação do texto. Vem daí a origem da palavra
pontuação, designando todos os sinais auxiliares da leitura e da compreensão
de textos que deveriam envolver uma audiência, com o intuito de persuadi-la.
As informações obtidas nessas duas obras aproximam a obra de
Guimarães Rosa os textos antigos, pois se vê, em muitas passagens das
narrativas, que a pontuação tem a intenção de indicar as pausas impostas pela
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leitura em voz alta, como podemos ver: “ (...) usamos de ũas distinções de
pausas e silêncio, assim para o que ouve entender e conceber o que se diz
como o que fala tomar espírito e vigor para pronunciar (...)” (Leão, 1983:
178). Said Ali ainda faz recomendação sobre a duração de sinais como a
vírgula e o ponto-e-vírgula, em sua obra (p.231). Rocha Lima (1982) faz a
distinção entre a oralidade e a escrita, referindo-se ao ritmo da escrita e à sua
marcação por meio de sinais gráficos, como podemos ver na introdução do
capítulo de pontuação: “As pausas rítmicas, — assinaladas na pronúncia por
entonações características e na escrita por sinais especiais — (...)” (p.422). O
autor divide em três grupos os sinais de pontuação, considerando os fatores
fonológicos, os sintáticos e os enunciativos da língua.
Vejamos:
37
Laufer (in Chacon, 1998) acredita que essa dificuldade deva-se ao fato
de o emprego da pontuação estar centrado no enunciado e não na enunciação.
as relações sintáticas.
Um texto verbal ou não-verbal, não é formado de uma seqüência
aleatória de signos, mas a partir das associações por similaridade, que
constituem os paradigmas (eixos paradigmáticos) de seleção de qualquer
sistema de signos. São também responsáveis pela textualidade as associações
por contigüidade, que formam os sintagmas, eixos sintagmáticos ou
combinatórios.
Em relação à dimensão semântica, uma das descobertas fundamentais
de Peirce é a de que o significado de um signo é sempre outro signo; logo, o
significado é um processo significante que se desenvolve por relações
triádicas, e o interpretante representa o resultado provisório do processo
contínuo da busca do significado. Conforme observa Pignatari (1987), a
função metalingüística, com sua conseqüente operação de saturação do
código, é uma função do interpretante. Assim como a primeira tricotomia, do
signo, se refere ao nível sintático de um signo, a segunda tricotomia, da
relação do signo com o objeto, se refere ao nível semântico.
Se, como vimos, o nível sintático é um primeiro, o nível semântico é
um segundo, conseqüentemente, o nível pragmático da língua se refere à
relação do signo com o interpretante, um terceiro.
A dimensão pragmática da língua estuda a relação entre signo e seu
intérprete mais do que outras dimensões. A pragmática diz respeito ao efeito
que o signo tem sobre os intérpretes em situações de comunicação. Para
Peirce, depois de receber uma seqüência de signos, a maneira como agimos é
alterada de modo permanente ou transitório. Conforme lembra Eco (1979),
essa nova atitude é o interpretante final. Nesse momento, a semiose ilimitada
se detém, na medida que o intercâmbio dos signos produziu modificações da
experiência.
São privilegiadas, no nível pragmático, as circunstâncias de
enunciação, as relações com o co-texto, as pressuposições postas em ação
pelo intérprete e as inferências postas para que se realize a interpretação de
um texto.
As tríades vistas são aquelas capazes de dar uma visão geral da teoria
43
O texto de Guimarães Rosa, com seu estilo peculiar que rompe com
todos os esquemas convencionais de escritura, pede um suporte teórico que
ofereça múltiplas possibilidades de análise, desvinculado de esquemas
desgastados, capazes de tornar o sentido do texto sujeito ao encaminhamento
dado pelo pesquisador. Numa pesquisa que examinou figuras que dividem o
espaço textual com signos verbais, não houve outro caminho, senão o da
semiótica. A análise dos sinais de pontuação feita a partir da teoria semiótica
de extração peirceana possibilita uma investigação objetiva, cuja
comprovação se dá no próprio texto.
a) Mecê não pode falar que eu matei onça, pode não. Eu,
posso. (“Meu tio o Iauaretê”, p.827)
b) Sêo Tomé se soberbava, lavava com sabão o corpo,
pedia roupas de esmola. Eu, bebia. (“Antiperipléia”, p. 13)
c) Que vem vindo rondando aí, rodando feito pé-d’água,
de temporal e raios: os querubins já estão com as brasas
bentas, amontoadas em seus trapes cavalos! Tu, treme... (“
O recado do morro”,p.39)
d) Oi, mecê ouviu? Essa, é miado. Pode escutar. (“Meu
tio o Iauaretê”, p.843)
e) Eu tornei a me lembrar daqueles pássaros. O
marrequim, a garrixa-do-brejo, frangos d’água, gaivotas. O
manuelzinho-da-croa! Diadorim, comigo. (Grande
Sertão:Veredas, p.218)
estruturação da oração que se refere a esse ser está de acordo com o modelo
tradicional. A quebra da simetria já se evidencia na grafia do substantivo
diabo, com letra minúscula, em oposição a Deus, com a inicial maiúscula. A
vírgula orienta a mente interpretadora para o deslocamento dos termos da
segunda oração, destacando o habitante das trevas e sua característica.
Portanto, a forma da segunda oração, que transgride o modelo estabelecido, é
adequada ao seu sentido.
a) A filha, ele só tinha aquela. (“Sorôco, sua mãe, sua filha”, p.13)
b) Diadorim, eu gostava dele? (Grande Sertão: Veredas, p. 352)
c) Eu, eu ia por meu constante palpite. (Grande
Sertão:Veredas,.p.386)
d) Café, tem não. Hum, preto bebia café, gostava. (“Meu tio o
Iauaretê”, p. 826)
5.1.1. Conclusão
—Eu cá nunca enjeito, seu doutor. Mas, lhe conto: o ruim foi
depois: ninguém não queria fazer negócio comigo...Perdi a
freguesia...E, eles, era ingratidão, porque eu nunca tinha feito
velhacaria nenhuma com pessoa nenhuma do arraial. Não
carrego rabo de palha...Mas, que-o-quê! (“Corpo fechado”, p.
277)
Advirto: desse Felpudo: tão bom como tão não, na mioleira.
(“—Tarantão, meu patrão...”, p.143)
Tomo nota: está soprando do sudoeste; mas, mal vale: daqui a
um nadinha, mudará, sem explicar a razão. (“A volta do marido
pródigo”, p.251)
Mire veja: aquela moça, meretiz, por lindo nome Nhorinhá,
filha de Ana Duzuza: um dia eu recebi dela uma carta: carta
simples, pedindo notícias e dando lembranças, escrita, acho
que, por outra alheia mão. (Grande Sertão: Veredas, p.78)
O emprego seguido dos dois-pontos pode ser visto como índices de
momentos de importância seguidos, na narrativa. Essa forma de pontuação
segmenta, no enunciado, chamando a atenção do leitor/ ouvinte para o
elemento sobre o qual se comentará mais adiante.
Nesse caso, o autor tem como seu aliado o leitor, que vai fazer as
operações mentais, relacionando os dois-pontos seguidos com o travessão
duplo.
. O ritmo que se forma com a colocação dos dois-pontos faz com que o
leitor recupere a intenção comunicativa do autor de dar destaque aos termos
que se seguem ao sinal de pontuação.
Vejamos:
5.2.1. Conclusão
Vejamos:
— Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de
homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no
quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso
faço, gosto; desde mal em minha mocidade. [...] (p. 9)
O travessão indica que a narrativa tem a forma de diálogo entre o ex-
jagunço Riobaldo e um desconhecido, a quem confessa todo o seu passado e
81
Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale enterrar
minhocas? De como me vi, sutil assim, por tantas cargas
d’água. No engano sem desengano: o de aprender prático o
desfeitio da vida. (p.177)
Procedimento semelhante o autor tem em “— Tarantão, meu patrão...”
(In: Primeiras estórias), em que o título do texto é marcado pelo signo
indiciador de um diálogo
Outros contos são escritos sob forma de conversa, no entanto, esse tipo
de apresentação é visto apenas nessas quatro obras.
Vejamos:
interlocutor e de ter tempo para elaborar a frase, já que seu vocabulário era precário.
Mas, os outros, perto de mim, por que era que não me davam
louvor, com as palavras: — Gostei de ver Tatarana! Assim é
que é assim!—? (Grande Sertão:Veredas, p.211)
—“Dito, que Pai disse: o ano em que chove sucedido é ano
formoso...—?” (“Campo Geral”, p. 476)
A pontuação tem um papel de importância fundamental nesses
excertos. Vemos, no primeiro trecho, hipoteticamente, duas falas no
enunciado do narrador: a sua e a dos companheiros. A indicação desse
amontoado de frases está no último travessão, encerrando a outra fala. O
primeiro travessão introduz o discurso dos outros. O ponto-de-interrogação
fecha toda a frase. O sinal de pontuação, dessa forma, roteiriza para o leitor as
vozes presentes no excerto.
procedimento faz com que se acentue o jogo sonoro formado pela aliteração
dos fonemas (/ /, / /), pelas rimas em / / e pela rima com o fonema nasal
/ /. Podemos perceber que a segmentação promovida pelo segundo travessão
corresponde ao desligamento pretendido pelo narrador. Na leitura oral do
texto e no ritmo da narrativa, os travessões determinam um contorno
entonacional que compreendem o desenvolvimento do raciocínio que precede
a ação, culminando com um desfecho inusitado. O travessão mostra a
possibilidade de ruptura com uma ideologia supostamente inquestionável.
No conto “Meu tio o Iauaretê” (in Estas estórias, 1995), o travessão tem
um papel fundamental, de substituir partes da narrativa.
Vejamos:
5.3.1. Conclusão
nos olhos, antes de expor o riso daquela boca; como ele falava
meu nome com um agrado sincero; como ele segurava a rédea
e o rifle, naquelas mãos tão finas, brancamente. (Grande
Sertão: Veredas, p. 240)
e) Já sabia que das moitas de beira de estrada trafegavam para a
roupa da gente umas bolas de centenas de carrapatinhos, de
dispersão rápida, picadas milmalditas e difícil catação; que a
fruta mal madura da cagaiteira, comida com sol quente, tonteia
como cachaça; que não valia a pena pedir e nem querer tomar
beijos a primas; que uma cilha bem apertada poupa dissabor na
caminhada; que parar à sombra da aroeirinha é ficar com o
corpo empipocado de coceira vermelha; que, quando um cavalo
começa a parecer mais comprido, é que o arreio está saindo
para trás, com o respectivo cavaleiro; e, assim, longe outras
coisas. (“Minha gente”, p.173)
g) Eu sendo água, me bebeu; eu sendo capim, me pisou; e me
ressoprou, eu sendo cinza. Ah, não! Então, eu estava ali, em
chão, em a-cú acôo de acuado?! (Grande Sertão: Veredas, p.
253)
Podemos observar nesses excertos que os períodos são mais ou menos
longos, divididos em partes menores pelo ponto-e-vírgula. As partes marcadas
pelo sinal de pontuação têm a mesma estrutura, o que confere simetria ao
texto e, conseqüentemente, um ritmo encadeado. Celso Cunha (1985) lembra
que a divisão pelo ponto-e-vírgula se assemelha à cesura interna de um verso
longo. Como podemos observar, esses trechos têm nítidas semelhanças com o
estilo oratório.
Vejamos:
5.4.1. Conclusão
separação Lugar sertão se divulga: é onde Grande 240 índice evocação de informa-
de partes os pastos carecem de fechos; Sertão: imagens ções
em um onde um pode torar dez, quinze Veredas formadoras encaminha
período já léguas, sem topar com casa de da idéia de doras do
marcado morador; e onde morador vive amplidão do conceito de
pela seu cristo-jesus, arredado do sertão sertão
vírgula arrocho da autoridade.
substituto E ela avermelhou as faces; mas Grande 345 índice interrupção surpresa
do veio;reparei que tinha as mãos Sertão: da narrativa diante da
travessão aperfeiçoadas bonitas, mãos Veredas para a cena
duplo para tecer minha rede. expressão do narrada
narrador
O ponto que fecha esses parágrafos indica uma ação contrária que se
impõe, sem a possibilidade de contestação. Com isso, as verdades e certezas
postas nos parágrafos anteriores são relativizadas por essas “frases-
parágrafos”.
Vejamos estas passagens do conto “Soroco, sua mãe, sua filha” (in
Primeiras estórias, 1978), em que o ponto desempenha um importante papel
para a formação de sentido do texto.
estado de tristeza pela difícil tarefa de conduzir mãe e filha até a locomotiva
que as levará definitivamente para o hospício.
Vejamos:
Isso, para ele era fritada de meio ovo. O que porém bem. (—
“Uai, eu?”, p.177)
127
Pois, por exemplo: o dia deu-se. Foi sendo que. (idem, p.178)
E eu mesmo entender não queria. Acho que. (Grande Sertão:
Veredas, p. 114)
Depois, enxeriu que eu falasse discurso também. Tive de.
(Grande Sertão:Veredas, p. 104)
Mecê é homem bonito, tão rico. Nhem? Nhor não. Às vez. Aperceio.
Quage nunca. Sei fazer, eu faço: faço de caju, de fruta do mato, do
milho. Mas não é bom, não. Tem esse fogo bom bonito, não. Dá
muito trabalho. Tenho dela hoje não. Tenho nenhum. Mecê não
gosta. É cachaça suja, de pobre...(“Meu tio o Iauaretê”, p. 825)
Vemos, no excerto, a predominância do ponto. Esse signo transporta o
leitor/ouvinte para a situação de enunciação. O ponto é empregado
estrategicamente para indicar as pausas, com curva descendente, na língua
oral. O sinal de pontuação indica também que o personagem, na incapacidade
de formular uma frase mais elaborada, apela para enunciados curtos,
sintéticos. Os silêncios provocados pelo ponto podem sugerir, ainda, a
intenção do onceiro de ganhar tempo para conquistar a confiança de seu
interlocutor.
5.5.1.Conclusão
O quadro que se segue faz um resumo dos valores que o ponto pode
adquirir nos enunciados
SÍGNICO
demarcação Mas. Desenredo 39 índice criação de visão crítica
de parágrafos Deu-se a entrada expectativa do narrador
dos demônios.
Dedicou-se a
endireitar-se.
Mais.
Ponto-final Tinha medo até Uma 557 índice quebra da dois planos
do céu. Morreu estória de expectativa na textuais
amor construção do
personagem
ponto-final — Nonada. Grande 9/460 índice sugestão de participação
Sertão: pensamento difusos do leitor na
Travessia.
Veredas composição
e incompletos
da obra
ponto-final No Urubuququá. Cra-de- 73 índice oposição Fazenda delimitação
Bronze Urubuquaquá e de dois planos
No
Gerais espaciais
Urubuquaquá,
não.
ponto- final Ia haver festa. Uma 543 índice roteiro do foco da descrição
estória de narrativa espacial
(...)Na Samarra.
amor
ponto- final E eu tinha medo. Grande 26 índice Frases nominais participação
Medo. medo em sertão: que induzem o do leitor na
alma. Veredas leitor a identificar construção do
os contrastes. sentido
ponto-final O que porém - Uai, eu? 177 índice frases truncadas mostrar a fala
bem. típica
sertaneja
Foi sendo que.
ponto-final A varanda Minha 185 índice frases telegráficas participação
grande.
gente do leitor
Chegamos.
Apear
Esse outro, na narrativa rosiana, vem a ser também o seu leitor. Este
tem acesso às narrativas na forma de texto escrito e precisa recuperar a força
da voz nessa matéria escrita, caso contrário, terá dificuldade de compreensão.
De acordo com Machado e Pereira (2001, p.77), “essa espécie de tradução da
vocalidade para a letra, da fala do contador para o texto escrito, denota o
trabalho que o autor empreendeu artesanalmente, com o cuidado de não
perder o calor da voz na frieza do papel”. É necessária também a tradução no
sentido inverso, que recupera o sentido sonoro, na pronúncia, mesmo que seja
mental, dessa voz presente no texto.
[...] Mau não sou. Cobra? — ele disse? Nem cobra serepente
malina não é. Nasci devagar. Sou é muito cauteloso. (Grande
Sertão:Veredas, p. 138)
A leitura do texto rosiano deve ser feita em voz alta para que as
inflexões da fala sejam recuperadas, e sua compreensão seja facilitada, como
vemos neste exemplo:
136
5.6.1. Conclusão
dupla Mas, e depois? seu São 235 índice quadro estado de tensão
interroga- moço?! Marcos mental da do personagem
ção situação de
indagação
pergunta O senhor sabe?: Grande 135 índice sugestão da destaque à
retórica não acerto no Sertão: voz do interpelação ao
contar, porque Veredas narrador interlocutor
estou remexendo o
vivido longe
alto,[...]
discurso Pediu:se podia vir Nenhum, 50 índice tornar viva fala do
indireto à garupa, em vez nenhuma mais personagem
livre de ir no arção? próxima a
cena narrada
substitui- E ele, ele mesmo, Grande 409 índice formação da indagação
ção de não era que era o Sertão: indagação
uma realce meu— ? — Veredas pelo
palavra eu carecendo de contexto
derrubar a
dobradura dele
narrador constrói o objeto de sua fala. Isso faz com que o leitor recupere o
contexto em que se desenvolve a fala do personagem.
Pai soubesse que ele tinha conversado com Tio Terez? Aí,
mortes! —? Rezava. (“Campo geral”, p.505)
5.7.1. Conclusão
Vemos que o signo indicial representado pelas reticências tem duplo valor
semiótico. Ao mesmo tempo em que remete leitor ao quadro imagético do silêncio
ritmado, leva o leitor a experimentar a grande tensão presente no episódio.
5.8.1.Conclusão
5.9.1. Conclusão
Cremos que esse seja o sinal menos empregado pelo autor, pelo fato de
ele se referir mais especificamente à leitura silenciosa.
150
A hora se fazia pelo deve & haver dos astros, não a aliás e
talvez.
O símbolo que aparece no trecho, chamado ampersand é bastante
encontrado em textos da Idade Média, com valor da conjunção e, que se
conserva até hoje.
153
7. CONCLUSÕES
O estudo da pontuação na obra de Guimarães Rosa vem mostrar a
importância desse item na obra do autor. Na realidade, a pontuação é parte da
significação de seu texto.
Os sinais de pontuação, na obra rosiana, adquirem papel semiótico,
não só no aspecto visual como também no aspecto lingüístico. Eles são dados
importantes para a organização textual, já que muitas vezes preenchem vazios
deixados pela ausência de conectivos ou mesmo de termos essenciais da
oração. A pontuação, desse modo, pode conduzir o leitor a identificar um
possível sentido do texto, ou auxiliá-lo a desenredar a trama textual repleta de
armadilhas. O emprego dos sinais de pontuação possibilita também despertar
no leitor múltiplas associações de idéias, que, a princípio, podem não passar
de sugestões, situação prevista pelo autor, pois, para ele, “O livro pode valer
pelo muito que nele não deveu caber.” (“Aletria e hermenêutica” p. 12)
A análise dos sinais de pontuação na obra de Guimarães Rosa nos
conduz à idéia de que seus textos são próprios para serem lidos em voz alta,
pois há passagens que exigem a leitura oral para serem entendidos, ou mesmo
para serem mais bem percebidas as astúcias da escrita do autor. Além do
mais, há, na obra uma série de orientações de leitura oral, como segmentação
por hífen, detalhes em negrito e indicações de leitura no interior de
parênteses, o que nos leva a supor que o autor via a possibilidade de
encenação de seus textos.
A pontuação empregada pelo escritor segue dois critérios: 1) segue a
tradição gramatical; 2) obedece razões principalmente de natureza estilística,
expressiva e com fundamentos semióticos.
154
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. (1996) Para uma Teoria da Língua Escrita. São Paulo: Editora
Ática.
ISER Wolfgang. (1996). O Ato de leitura- Uma teoria do efeito de ler. vol. I,
Ri de Janeiro: Editora 34.
______. (2002) Língua nacional, falar sertanejo, estilo rosiano. In: Scripta,
Belo Horizonte: PUC Minas.
159
MATOS e SILVA, Rosa Virgínia .(1993) O que nos diz sobre a sintaxe a
pontuação de manuscritos medievais portugueses. Boletim da Associação
Brasileira de Lingüística.
RESUMO
ABSTRACT
BANCA EXAMINADORA: