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Trabalhador coletivo no Livro I de O Capital *

Sergio Lessa Professor do Departamento de Filosofia da Ufal e membro da editoria da revista

Crtica Marxista

Resumo: No Livro I de O Capital, a existncia do proletariado, uma classe distinta dos demais
assalariados pelo lugar especfico que ocupa na estrutura produtiva (transformar a natureza nos meios
de produo e de subsistncia), muitas vezes questionada com base no assim chamado "trabalhador
coletivo". Marx, com o "trabalhador coletivo", dizem, teria fundido, em uma mesma classe (os
"trabalhadores") todos os que so forados a vender sua fora de trabalho. Portanto, todos os
assalariados fariam parte de uma mesma e nica classe. O artigo argumenta esta concepo de
trabalhador coletivo no existe no texto do Livro I e que o resultado das necessidades polticas e
ideolgicas tanto do stalinismo quanto da socialdemocracia.

Abstract: In Book I of Marx's Capital, with the help of the "collective labourer", often is put under
question the existence of the proletariat, a social class distinct from the many wage earners by its
specific social function: to transform nature in the means of production and subsistence. Marx, with the
concept of "collective labourer" would have put under the same and only class (the labourers or
workers) the totality of the wage earners. This article argues that this concept of "collective labourer"
does not exist in Book I and it is the result of the political and ideological necessities both of Stalinism
and Social-democracy.
Palavra-chave: proletariado, trabalhador coletivo, Marx, classes sociais.
Keywords: Proletariat, collective labourer, Marx, social classes

(Publicado na Revista Crtica Marxista, n.32, 2011)Este texto serviu de base para a comunicao sob ttulo
semelhante, no VI Colquio Marx e Engels, CEMARX/Unicamp, 2009. Fazia parte de Trabalho e proletariado no
capitalismo contemporneo (LESSA, 2007). Necessidades editoriais, todavia, obrigaram reduo e a retirada de vrias
passagens. Uma delas a anlise das passagens do livro I em que comparecem as expresses Gesamtarbeit/er/stag que foi
substituida pela curta meno, pgina 172, de uma citao de Marx na qual o Gesamtarbeiter identificado classe
trabalhadora (Arbeiterklasse). Sob a forma de um artigo, est a oportunidade de fornecermos ao leitor interessado o
contedo no publicado. Nossos agradecimentos ao Armando Boito pelas sugestes e correes.

Ao redor da interpretao da expresso "trabalhador coletivo" no volume I de O capital se

constituiu um falsa questo que, para sermos breves, a porta de entrada da maior parte das tradies
polticas que procuram encontrar, em Marx, um argumento de autoridade para revogar o carter
proletrio da sua prpria proposta revolucionria1. De um lado, temos posies que se aproximam da de
David Harvey, quem, em um guia de leitura para O Capital de Marx recm-publicado, afirma que:
A dificuldade deste conceito definir onde comea e termina o trabalhador coletivo. (...)
difcil de se alcanar uma definio exata, no parece haver uma soluo exata daqui a
controvrsia. (HARVEY, 2010, P.237-8)

Opinies prximas a de Harvey ou seja, o trabalhador coletivo seria algo impreciso e obscuro em
O Capital, parecem-me mais generalizadas oralmente do que por escrito e so muito frequentes.
Outros pesquisadores, como Joo Bernardo (1977) e Nagel (1979), para pegar representantes de
tradies inteiramente distintas, contudo, postulam uma interpretao exatamente inversa: o
"trabalhador coletivo" teria um contedo preciso, exato. Expressaria a fuso, em uma mesma classe
social (em geral, a dos "trabalhadores") dos trabalhadores intelectuais com os manuais (e, por vezes,
tambm dos trabalhadores produtivos com os improdutivos). Tais pesquisadores se baseiam
pesadamente (por vezes, exclusivamente) em poucas frases tiradas do contexto do segundo pargrafo
do captulo 14 (ou do equivalente da primeira edio francesa, a traduzida por Roy) de O Capital.
Ainda que ao preo de repetirmos Trabalho e proletariado no capitalismo contemporneo,
devemos relembrar que a tese de que os trabalhadores intelectuais e manuais fariam parte da mesma
classe social liminarmente desautorizada pela letra do texto do volume I de O Capital. Um nico
exemplo de outros possveis:
O que os trabalhadores parciais perdem, concentra-se no capital com que se confrontam. um
produto da diviso manufatureira do trabalho opor-lhes as foras intelectuais do processo
material de produo como propriedade alheia (als fremdes Eigentum) e poder que os domina.
Esse processo de dissociao comea na cooperao simples, em que o capitalista representa em

No cabvel substituir a realidade por um texto, mesmo que seja a obra prima de Marx. O que ser nosso objeto
neste artigo o pensamento de Marx enquanto tal se ele ou no til para a crtica revolucionria do mundo em que
vivemos, uma outra questo. Estamos convencidos (no no sentido da f, mas no sentido da convico profunda que
advm do exame dos impasses que vivemos enquanto humanidade) de que as categorias marxianas so no apenas
imprescindveis, mas tambm suficientes, para pensarmos a essncia do mundo contemporneo. Todavia, este segundo
aspecto no ser tratado neste artigo. O leitor poder encontrar esta discusso na Parte III de Trabalho e proletariado no
capitalismo contemporneo (LESSA, 2007).

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face dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho. O processo
desenvolve- se na manufatura, que mutila o trabalhador, convertendo-o em trabalhador parcial.
Ele se completa na grande indstria, que separa do trabalho a cincia como potncia
autnoma de produo e a fora a servir ao capital. [Nota de Marx: "O homem do saber e o
trabalhador produtivo esto amplamente separados um do outro, e a cincia, em vez de nas mos
do trabalhador aumentar suas prprias foras produtivas para ele mesmo, colocou-se contra ele
em quase toda parte. (...) O conhecimento torna-se um instrumento capaz de ser separado do
trabalho e oposto a ele." (THOMPSON, W. An Inquiry into the Principles of the Distribution of
Wealth. Londres, 1824. p. 274.)] Na manufatura, o enriquecimento do trabalhador coletivo
(Gesamtarbeiter) e, portanto, do capital em fora produtiva social condicionado pelo
empobrecimento do trabalhador em foras produtivas individuais. (MARX, 1983, p.283-4
todos os negritos nas citaes so nossos - SL)

Sem a oposio das "foras intelectuais" como "propriedade alheia e poder que /.../ domina" os
operrios, sem que a cincia seja separada do trabalho e a ele oposta como "potncia autnoma de
produo e a fora a servir ao capital", sem que a "cincia" coloque-se "contra o trabalhador" "em quase
toda a parte", no possvel a gnese e o desenvolvimento do trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter).
Por isso, o "o enriquecimento do trabalhador coletivo e, portanto, do capital em fora produtiva social
condicionado pelo empobrecimento do trabalhador em foras produtivas individuais".
De longe, a passagem mais importante do Livro I para o nosso tema, e a que tem sido com maior
frequncia citada o segundo pargrafo do Captulo XIV (para as edies e tradues que seguem a
quarta edio alem) ou os trs primeiros pargrafos do Captulo XVI para as edies que seguem a
traduo para o francs de Roy (como a de Rubel). Na 4a edio alem, lemos:
Na medida em que o processo de trabalho puramente individual, o mesmo trabalhador rene
todas as funes que mais tarde se separam. Na apropriao individual de objetos naturais para
seus fins de vida, ele controla a si mesmo. Mais tarde ele ser controlado. O homem isolado
no pode atuar sobre a Natureza sem a atuao de seus prprios msculos, sob o controle de seu
prprio crebro. Como no sistema natural cabea e mo esto interligados, o processo de
trabalho une o trabalho intelectual com o trabalho manual. Mais tarde separam-se at se
oporem como inimigos. O produto transforma-se, sobretudo, do produto direto do
produtor individual em social, em produto comum de um trabalhador coletivo, isto , de
um pessoal combinado de trabalho, cujos membros se encontram mais perto ou mais longe
da manipulao do objeto de trabalho. Com o carter cooperativo do prprio processo de
trabalho amplia-se (erweiter sich), portanto, necessariamente o conceito de trabalho produtivo e
de seu portador, do trabalhador produtivo. Para trabalhar produtivamente, j no
necessrio, agora, pr pessoalmente a mo na obra; basta ser rgo do trabalhador
coletivo, executando qualquer uma de suas subfunes. A determinao original, acima2,
de trabalho produtivo, derivada da prpria natureza da produo material, permanece

Este "acima" uma referncia ao pargrafo anterior o qual, por sua vez, explicitamente remete ao Captulo V.
Neste o trabalho definido como o intercmbio material com a natureza, "eterna necessidade" da reproduo social.
(MARX, 1983, pp. 149-53)

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sempre verdadeira para o trabalhador coletivo, considerado como totalidade (als
Gesamtheit). Mas ela j no vlida para cada um de seus membros, tomados
isoladamente".(MARX,1985, p.105)

Muito brevemente, a operao terica tpica envolvida na converso de "trabalhador coletivo" em

uma mesma classe que conteria os trabalhadores manuais e intelectuais a seguinte:
1) esquece-se que a frase "O produto transforma-se (...) em produto comum de um trabalhador
coletivo, isto , de um pessoal combinado de trabalho, cujos membros se encontram mais perto ou mais
longe da manipulao do objeto de trabalho" imediatamente precedia pela afirmao da contraposio
"como inimigos" do trabalho intelectual e do manual.
2) esquece-se que a frase "Para trabalhar produtivamente, j no necessrio, agora, pr
pessoalmente a mo na obra; basta ser rgo do trabalhador coletivo, executando qualquer uma de suas
subfunes" imediatamente seguida pela afirmao:
"A determinao original, acima3, de trabalho produtivo, derivada da prpria natureza da
produo material, permanece sempre verdadeira para o trabalhador coletivo, considerado como
totalidade (als Gesamtheit). Mas ela j no vlida para cada um de seus membros, tomados
isoladamente."

Isto feito, a expresso Gesamtarbeiter, traduzida por "trabalhador coletivo", por essa operao se
converte em uma "categoria": uma classe social que substituir o proletariado como a classe
revolucionria por excelncia.
Este segundo pargrafo do Captulo XIV mesmo isolado da totalidade do Livro I no permite
esquecer-se que h uma oposio de classe entre o trabalho intelectual e o manual (que, agora, "ser
controlado" pelo primeiro), que esta oposio antagnica ("inimigos" ou "inimogos mortais", se
preferirmos a verso de Engels) e, ainda, que a totalidade do trabalhador coletivo a que Marx se refere
nesta passagem cumpre a funo social de transformar a natureza o que significa trabalho manual pela
"prpria natureza da produo material"4.

Este "acima" uma referncia ao pargrafo anterior o qual, por sua vez, explicitamente remete ao Captulo V.
Neste, o trabalho definido como o intercmbio material com a natureza, "eterna necessidade" da reproduo social.
(MARX, 1983, pp. 149-53)
4

(...) como o homem precisa de um pulmo para respirar, ele precisa de uma criao da mo humana para
consumir produtivamente foras da natureza. (MARX, 1985, p. 17) O argumento de que na primeira traduo francesa
supervisionada por Marx a de Roy, a oposio "como inimigos" entre o trabalho manual e o intelectual no mencionada

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Marx, com a expresso "mais perto ou mais longe do objeto de trabalho" e com a meno s
"subfunes" do trabalhador coletivo se refere crescente diviso do trabalho imposto pelo capital at
ao ponto em que uma srie de auxiliares e ajudantes (mulheres e crianas, sempre trabalhadores no
especializados) compaream no processo produtivo sem que, com suas mos, transformem a natureza.
So estes os trabalhadores que esto "mais longe" do "objeto de trabalho" e no os trabalhadores
intelectuais. Estes so os "inimigos" de classe daqueles que, enquanto "totalidade", "manipulam" a
natureza.
Estamos argumentando que, em se tratando destes dois pargrafos do Captulo XIV, converter o
trabalhador coletivo em uma classe de todos os assalariados uma interpretao grosseiramente
primria em seu equvoco (desconsiderar as frases que veem imediatamente antes ou depois das frases
to citadas). To grosseiro e to primrio este equvoco, que ele no pode nem deve ser tomado como
um puro erro de interpretao, como problema decorrente das diversas tradues ou, ainda por um
equvoco puramente terico ainda que estes elementos possam se fazer aqui ou ali presentes. Tal
equvoco tm razes fora do texto, no predomnio da socialdemocracia e do stalinismo no movimento
revolucionrio mundial.
Vejamos as outras passagens nas quais Gesamtarbeit/er/stag aparecem no Livro I para podermos
analisar esta questo com mais elementos.

As acepes de Gesamtarbeit, Gesamtarbeiter e Gesamtarbeiterstag

A expresso trabalhador coletivo comparece em quase, mas no em todas5, as tradues do Livro I

de O capital. Sempre que aparece, como traduo de Gesamtarbeiter (ou como parte de expresses
como Gesamtarbeit, ou Gesamtarbeitstag).

no exime os autores que se baseiam apenas nela da desconsierao da outra passagem em que Marx afirma a oposio de
classe entre o trabalho intelectual e manual, que transcrevemos mais acima. (MARX, 1983, p. 282-3)
5

Por exemplo, no comparece na traduo de Roces para a Fondo de Cultura Economico nem na publicada pela
Avante! (Portugal). Para este artigo, utilizamos as seguintes edies de O Capital: para o alemo, Dietz Verlag (MARX,
1975), para o portugus, Abril Cultural (MARX, 1983 e 1985), para o espanhol a edio de Roces (MARX, 1946), para o
francs a traduo de Molitor (MARX, 1946), de Rubel (MARX, 1968) e a de Roy (MARX, 1977 e 1978) e a nica da 4a.
Edio alem, a de Lefebvre (MARX, 1983a). Para a lngua inglesa, a nova traduo de Fowles (MARX, 1990) e a editada

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Todavia, Gesamtarbeit, Gesamtarbeiter ou Gesamtarbeitstag nem sempre so traduzidos por
trabalhador coletivo (ou derivados). No raramente so traduzidos por "trabalhador global", "trabalho
social total", "jornada total de trabalho", "trabalho total", "tempo de trabalho social total", "jornada
global", "trabalhador global", etc.6 E os tradutores, Marx e Engels inclusive, foram forados a tradues
distintas porque o contedo da expresso Gesamtarbeit (e seus derivados) no a mesma nas diferentes
passagens. Portanto, os vrios contedos que recebe esta mesma expresso em alemo comparecem nas
tradues sob expresses diversificadas. Este fato pode sugerir uma diversidade de "categorias" que no
corresponde ao original.
No Livro I de O capital, Gesamtarbeit, Gesamtarbeiter ou Gesamtarbeitstag comparecem em dois
contextos:
1) Em alguns momentos, so a consubstanciao da profundamente alienada diviso social do
trabalho que amadureceu com a Revoluo Industrial (MARX, 1983, pp. 260-1, 269, 272-3, 273,275-6,
276, 282-3; MARX,1985, p. 30-1, 71). Assim, por exemplo,
"Embora muitos executem simultnea e conjuntamente o mesmo ou algo semelhante, o trabalho
individual de cada um pode ainda assim representar, como parte do trabalho global
(Gesamtarbeiter), diferentes fases do prprio processo de trabalho, as quais o objeto de trabalho
percorre mais rapidamente em virtude da cooperao. Assim, por exemplo, quando pedreiros
formam uma fila de mos para levar tijolos do p ao alto do andaime, cada um deles faz o
mesmo, mas no obstante as operaes individuais formam partes contnuas de uma operao
global, fases especficas, que cada tijolo tem de percorrer no processo de trabalho, e pelas quais,
digamos, as 24 mos do trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter) o transportam mais
rapidamente do que as 2 mos de cada trabalhador individual que subisse e descesse o
andaime." (MARX,1983, p.260 em todas as citaes, os negritos so sempre nossos - SL)

Ou, ento,
Descendo agora aos pormenores, desde logo claro que um trabalhador, o qual executa a sua
vida inteira uma nica operao simples, transforma todo o seu corpo em rgo automtico
unilateral dessa operao e portanto necessita para ela menos tempo que o artfice, que executa
alternadamente toda uma srie de operaes. O trabalhador coletivo combinado (kombinierte
Gesamtarbeiter), que constitui o mecanismo vivo da manufatura, compe-se porm apenas de
tais trabalhadores parciais unilaterais.(MARX, 1983, p.269)

por Engels (MARX, 1979). Ao final do artigo est uma tabela com as passagens na edio alem e nestas tradues em que
comparecem Gesamtarbeit/er/stag..
6

Sobre as dificuldades da traduo de Gesamt, LESSA, 2007, p.149 nota 8.

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A maquinaria especfica do perodo manufatureiro permanece o prprio trabalhador coletivo,
combinao de muitos trabalhadores parciais (vielen teilarbeiten kombinierte
Gesamtarbeiter). As diferentes operaes que so executadas alternadamente pelo produtor de
uma mercadoria e que se entrelaam no conjunto de seu processo de trabalho apresentam-lhe
exigncias diferentes. Numa ele tem de desenvolver mais fora, em outra mais habilidade, numa
terceira mais ateno mental etc., e o mesmo indivduo no possui essas qualidades no mesmo
grau. Depois da separao, autonomizao e isolamento das diferentes operaes, os
trabalhadores so separados, classificados e agrupados segundo suas qualidades dominantes. Se
suas peculiaridades naturais formam a base sobre a qual se monta a diviso do trabalho, a
manufatura desenvolve, uma vez introduzida, foras de trabalho que por natureza s so aptas
para funes especficas unilaterais. O trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter) possui agora
todas as propriedades produtivas no mesmo grau de virtuosidade e ao mesmo tempo as despende
da maneira mais econmica, empregando todos os seus rgos, individualizadas em
trabalhadores ou grupos de trabalhadores determinados, exclusivamente para suas funes
especficas. A unilateralidade e mesmo imperfeio do trabalhador parcial tornam-se sua
perfeio como membro do trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter) O hbito de exercer uma
funo unilateral transforma-o em seu rgo natural e de atuao segura, enquanto a conexo do
mecanismo global o obriga a operar com regularidade de um componente de mquina.
(MARX,1983, p.275-6)

2) Outras vezes (MARX, 1983, pp. 71,73, 96, 190, 249, 250, 258; Marx, 1985, pp. 118,130 ) tais
expresses se referem totalidade da fora de trabalho assalariado, ao conjunto total dos assalariados e,
neste caso, so traduzidas por "trabalho social total", "trabalho total", "tempo de trabalho social total",
"trabalhador coletivo ou classe trabalhadora", "jornada de trabalho total", "jornada de trabalho social
mdia", "jornada global" e "jornada de trabalho global". Por exemplo, ao final do Captulo I, discutindo
o fetichismo da mercadoria, Marx afirma que:
Objetos de uso se tornam mercadorias apenas por serem produtos de trabalho privados,
exercidos independentemente um dos outros. O complexo desses trabalhos privados forma o
trabalho social total. (gesellschaftliche Gesamtarbeit) (...) Em outras palavras, os trabalhos
privados s atuam, de fato, como membros do trabalho social total (gesellschaftlichen
Gesamtarbeit) por meio das relaes que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e, por
meio dos mesmos, entre os produtores. (MARX,1983, p.71).

Ou, mais frente:

Como quer que seja, claro que a jornada total de trabalho de um nmero relativamente grande
de trabalhadores simultaneamente empregados, dividido pelo nmero de trabalhadores, em si e
para si uma jornada de trabalho social mdia (Gesamtarbeitstag). Suponhamos que a jornada
de um trabalhador individual seja de 12 horas. Assim, uma jornada de trabalho de 12
trabalhadores simultaneamente ocupados constitui ento uma jornada global
(Gesamtarbeitstag) de 144 horas, e embora o trabalho de cada um dessa dzia se desvie mais ou
menos do trabalho social mdio, o indivduo podendo por isso precisar de mais ou menos tempo
para a mesma operao, a jornada de trabalho de cada indivduo, como 1/12 da jornada global
(Gesamtarbeitstag) de 144 horas, possui a qualidade social mdia. Mas, para o capitalista que
emprega 1 dzia, existe a jornada de trabalho como jornada de trabalho global

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(Gesamtarbeitstag) da dzia. A jornada de trabalho de cada indivduo existe como parte
alquota da jornada de trabalho global (Gesamtarbeitstag), independentemente do fato dos 12
colaborarem entre si ou que toda a conexo entre seus trabalhos consista apenas em trabalharem
para o mesmo capitalista. Se, ao contrrio, dos 12 trabalhadores forem empregados 2 de cada
vez por um pequeno mestre, ser uma casualidade que cada mestre produza a mesma massa de
valor e portanto realize a taxa geral de mais-valia. (MARX, 1983, p.258)

Em tais passagens, Gesamtarbeit/er/stag correspondem a caractersticas (determinaes

ontolgicas) do trabalho abstrato em geral e, portanto, se referem ao que h de comum ao trabalho de
todos os assalariados, sejam eles trabalhadores manuais ou intelectuais, produtivos ou improdutivos.
isso que possibilita a Marx afirmar que
O capitalista afirma seu direito como comprador, quando procura prolongar o mais possvel a
jornada de trabalho e transformar onde for possvel uma jornada de trabalho em duas. Por outro
lado, a natureza especfica da mercadoria vendida implica um limite de seu consumo pelo
comprador, e o trabalhador afirma seu direito como vendedor quando quer limitar a jornada de
trabalho a determinada grandeza normal. Ocorre aqui, portanto, uma antinomia, direito contra
direito, ambos apoiados na lei do intercmbio de mercadorias. Entre direitos iguais decide a
fora. E assim a regulamentao da jornada de trabalho apresenta-se na histria da produo
capitalista como uma luta ao redor dos limites da jornada de trabalho uma luta entre o
capitalista coletivo (Gesamtkapitalisten), isto , a classe dos capitalistas (Klasse der

Kapitalisten), e o trabalhador coletivo (Gesamtarbeiter), ou a classe trabalhadora

(Arbeiterklasse). (MARX, 1983, p.190)
Marx, nestas passagens, explora a contradio entre todos os assalariados e todos os capitalistas ao
redor dos "limites da jornada de trabalho". Trata-se daquilo que Lenin chamaria, depois, de luta
econmica e que no coloca em causa a explorao do homem pelo homem. Em nada alteraria se o
trabalhador coletivo fosse aqui substitudo por "trabalhador global", por "conjunto total dos
trabalhadores" e, ainda, "pela totalidade dos assalariados". Lefebvre, por exemplo, na traduo francesa
da 4a. Edio alem optou por "trabalhador global" (MARX, 1983a, p.263).
Uma anlise de todas as passagens em que as expresses Gesamtarbeit, Gesamtarbeiter,
Gesamtarbeiterstag comparecem no Livro I de O Capital traria ainda mais elementos para demonstrar
como possuem distintas acepes: como a totalidade dos assalariados, como o conjunto, o quantum da
totalidade da fora de trabalho e ainda como o conjunto de trabalhadores manuais que cooperam em um
mesmo processo de transformao da natureza em meios de produo e de subsistncia (como o
exemplo, acima, dos tijolos transportados pelos pedreiros ou, ainda a totalidade composta por apenas
dois trabalhadores (MARX, 1985, p.31-2)). Na primeira acepo, as expresses esto principalmente
presentes nos captulos que discutem as determinaes mais gerais do assalariamento e das alienaes a

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ele associadas; na segunda acepo tendem a comparecer nos captulos em que Marx discute as
peculiaridades da diviso do trabalho no modo de produo capitalista.
No texto de Marx, portanto, Gesamtarbeit e seus derivados so empregados para expressar
universalidades distintas do conjunto formado por dois trabalhadores totalidade dos assalariados.
Nem algo confuso, nem preciso fazer uma enorme ginstica mental para conferir a ela o contedo
unvoco que no possui. Se tivermos claro que trabalhador coletivo e trabalhador global, ou ainda, o
conjunto de trabalhadores so termos intercambiveis praticamente em todos os casos; que a adoo de
uma ou outra alternativa decorre em larga medida das preferncias do tradutor e que expressam
diversas universalidades de trabalhadores, a depender do objeto especfico sob a anlise de Marx boa
parte seno a maior parte das polmicas perdem a razo de ser. Do ponto de vista estritamente
exegtico, nos parece uma falsa questo, a contraposio entre interpretaes que afirmam a confuso
destas categoriais a outras interpretaes que afirmam seu contedo unvoco (a reunio em uma mesma
classe de todos os assalariados).
Se, do ponto de vista do texto de Marx enquanto tal, a soluo de uma questo que se fez
aparentemente to complexa , como aqui estamos sugerindo, bem mais simples do que a prpria
questo, por que o debate acerca destas passagens tomou tal dimenso? Por que tais interpretaes,
claramente parciais do texto de Marx, tenderam a predominar? Por que esta falsa questo assumiu tal
dimenso?

Os fundamentos histricos do problema

Como sempre ocorre com as questes tericas decisivas, tambm esta que envolve Gesamtarbeit
sofre fortes influncias histricas. O pano de fundo de sua gnese a hegemonia no movimento
revolucionrio internacional da social-democracia e do stalinismo.
As ltimas dcadas se caracterizam fundamentalmente pela convergncia de duas poderosas
tendncias histricas. Por um lado, desde 1970 o sistema do capital entrou em sua crise estrutural. Sua
incapacidade de conviver com a abundncia vai se intensificando na mesma proporo em que o
aumento incessante da produo nas novas condies da crise gera uma superproduo permanente que
no mais pode ser superada nem mesmo pelas crises cclicas: a crise deixou de ser um fenmeno

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intermitente. Correspondentemente, todas as contradies sociais, sem exceo, se intensificam em
escala planetria.7
A crise estrutural, at agora, tem coincidido com o mais longo e o mais intenso perodo histrico
sem revolues, isto , sem rupturas que abram a transio para o socialismo e o comunismo. Desde
1830, os ciclos de revoluo e contrarrevoluo se sucederam em perodos bem menos prolongados do
que os atuais 60 anos desde a Revoluo Chinesa. As ltimas crises revolucionrias na Europa foram a
Guerra Civil Espanhola (1936-9) e o levante grego do ps-guerra, massacrado pelas tropas inglesas
com a aquiescncia da URSS. As revolues que vieram a seguir (Cuba, Arglia, as ex-colnias
portuguesas e o Zimbabue em meados de 1970, seguidos pelos sandinistas e pela "Revoluo" Iraniana,
isto , a derrubada do ditador Reza Pahlevi e sua substituio pelo aiatol Khomeini e, j na virada do
sculo 21, a crise e o levante da populao na Argentina, etc.), esto muito longe de crises
revolucionrias no sentido preciso do termo, isto , de abrirem o processo de transio para o
socialismo e o comunismo.8
As primeiras dcadas da crise estrutural, bem mais fcil se perceber post festum, pegaram a
classe operria em particular, e os trabalhadores em geral, em uma situao politicamente difcil. Por
um lado, o neoliberalismo significa a derrota histrica da estratgia institucional-eleitoral
socialdemocrata baseada na concepo segundo a qual o "capitalismo de face humana" seria a
democracia burguesa levada s ltimas consequncias. Por outro lado, nos anos de 1989-92, a outra
vertente mais importante do movimento operrio, a stalinista, tambm conheceu uma derrota histrica.
Na dcada de 1920, os bolcheviques, premidos pelas circunstncias histricas, concentraram o poder do
Estado em suas mos, impondo um rigoroso centralismo poltico e convertendo os sindicatos em
correntes de transmisso do Estado para controle dos trabalhadores. Avaliavam que a partir do poder
poltico controlar-se-ia o renascimento inevitvel (com o isolamento da revoluo a um s e muito
atrasado pas) das relaes de produes capitalistas. Tal estratgia, repetimos, tambm foi derrotada.

Istvn Mszros, em Para alm do capital, realizou a primeira investigao de flego acerca da totalidade da crise
do sistema do capital aps 1970 (totalidade composta pelos pases capitalistas e pelas sociedades ps-revolucionrias, das
quais a sovitica a paradigmtica). Nesta anlise argumenta as diferenas histricas ontolgicas entre as crises
anteriores e a atual crise estrutural em que estamos imersos. No podemos, aqui, nos determos sobre tais argumentos, mas
imprescindvel que lavremos nossa dvida para com este pensador.
8

Uma viso oposta pode ser encontrada em Arcary, 2004.

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As duas vertentes estavam equivocadas no fundamental. Como o trabalho que funda o ser social-, o trabalho proletrio que funda a sociedade capitalista faz com que a "face humana" do capital
apregoada pela socialdemocracia seja mera fantasia. Tambm no possibilita um "Estado proletrio"
fundado na explorao do trabalho proletrio apenas o capital pode expropriar o trabalho proletrio9.
Mais cedo ou mais tarde, as duas iluses tinham que prestar contas histria: o Estado de Bem-Estar
Social se converteu, sem soluo de continuidade, no Estado neoliberal. Os partidos que foram seus
principais artfices e defensores, aps um curto perodo de aclimatao, como bons serviais do capital
que sempre foram, cumpriram a segunda rodada de implementao da "nova ordem mundial" (Ronald
Reagan). E o "Estado proletrio" das iluses soviticas se converteu, por dentro, como uma borboleta
que se metamorfosearia em lagarta, em um Estado capitalista tpico cuja peculiaridade a funo
importante na acumulao do capital que ainda cumpre a velha burocracia russa, agora tambm
organizada em mfias.
Os social-democratas queriam democratizar a democracia por meio de reformas parciais que,
levadas ao limite, diziam, conduziriam "face humana" do capitalismo e, deste, ao socialismo. Nada,
portanto, da destruio do Estado; antes, a tomada do poder "por dentro" do Estado. A socialdemocracia se especializa em negociar por dentro das instituies burguesas e sua atuao poltica se
pauta pelos limites da ordem.
Os stalinistas queriam a sobrevivncia do Estado sovitico. Para tanto era preciso, no front interno,
convencer seus operrios de que no eram explorados pela burocracia (dos locais de trabalho, do
Partido e sindicatos e do Estado). Trabalhadores e burocratas seriam igualmente revolucionrios, pois
todos eram igualmente assalariados do Estado proletrio. Todos os assalariados e todos eram
assalariados pertenceriam mesma classe social. E, no front externo, era preciso articular um modo
de convivncia com as potncias capitalistas10 -- o que se traduzia em conter as lutas dos trabalhadores
e operrios nos limites aceitveis convivncia pacfica, negociada, com as suas burguesias nacionais.

Para sermos mais do que breves, porque a propriedade privada que pode ser produzida pelo trabalho proletrio
apenas e to somente o capital.
10

A atuao do PC francs em 1936, quando ajuda a controlar a enorme onda grevista, j sinal do predomnio
dessa poltica. A anlise histrica dessa evoluo poltica exposta em detalhes por Claudin, em seu importantssimo A crise
do movimento comunista (Claudin, 1970). Tambm, Brou, 2007 e Miliband, 1969: 102-6. As iluses nessa convivncia e o
peso que tiveram naquela quadra histrica pode tambm ser avaliado pela adeso entusiasta a esta proposta por pensadores
como G. Lukcs e I.Deustscher (1960). Por muito do movimento comunista alinhado com a URSS, as loas pblicas da

12
Convivncia negociada, e no mais confronto, passa a ser a ordem geral. A estratgia do
movimento operrio sob controle dos PCs ou dos social-democratas a colaborao de classe. A
abolio da propriedade privada est fora da ordem do dia.
A histria tem l sua ironia. As experincias histricas que, a se acreditar no que diziam de si
prprias, seriam as superaes do projeto revolucionrio de Marx (o "socialismo democrtico" e o
"socialismo real") revelaram-se nada mais que mediaes para a generalizao da crise estrutural do
capital a todo o planeta.
Graas tambm aos ganhos econmicos, principalmente da aristocracia operria nos pases
ocidentais11 e melhoria das condies de vida do povo sovitico, as ideologias socialdemocrata e
estalinista lanaram slidas bases. Com a consequncia trgica de que, com ao a crise estrutural se
iniciar os trabalhadores soviticos e dos pases capitalistas, aos bilhes, estavam equivocadamente
convencidos de que, de fato, a negociao com os representantes do capital e no a luta contra a
propriedade privada era o caminho da revoluo (e esta se limitaria conquista de melhores
condies de venda de suas foras de trabalho).
Foi assim que, tanto nas organizaes socialdemocratas quanto stalinistas, com o tempo foi se
afirmando a mesma necessidade terica e ideolgica: tornar o socialismo compatvel com a
expropriao do trabalho proletrio. Ainda que por vias e por mediaes ideolgicas distintas, as duas
ordens do capital, a sovitica e a ocidental, compartilhavam da mesma necessidade ideolgica de
fundo: desarmar ideolgica e politicamente os proletrios convencendo-os de que o socialismo se
realiza pelas melhorias, promovidas pelo Estado, nas condies de venda da fora de trabalho. Seja pela
via do Estado de Bem Estar, seja pela via do Estado Sovitico. Agora, o socialismo passa a ser o
capitalismo de "face humana" da Sucia ou o stalinismo do "socialismo real". O socialismo se
degenerou naquilo que convinha ordem sovitica

e aos socialdemocratas: tornou inteiramente

distinto da como diziam "utopia" de Marx e Engels que propunham o fim do Estado e do mercado,
das classes sociais, da famlia monogmica e da propriedade privada.
este "esprito do tempo" que alimentou a falsa polmica acerca do trabalhador coletivo. A todos
interessava argumentar que, em Marx, todos os assalariados eram igualmente portadores do projeto

superao da luta de classes e sua substituio pela fora do exemplo na transio do capitalismo ao socialismo so
patticas.
11

Ver a descrio das condies de vida dos metalrgicos alemes no ps-guerra em KUCZYNSKI, 1969.

13
revolucionrio. neste "esprito do tempo" em que frutificaram as teses acerca do fim do proletariado.
Elas partem de uma constatao verdadeira (a ausncia, j por dcadas, da classe operria como
antagonista do capital) e deduzem algo inteiramente falso: que o desenvolvimento tecnolgico e/ou a
alterao no padro de consumo teriam eliminado o trabalho manual e, com ele, o proletariado.
(LESSA, 2007, p.252 e ss.). De uma constatao que no explicam (o proletariado hoje no comparece
na vida cotidiana como classe revolucionria) rapidamente concluem pela necessidade de um "novo
sujeito histrico" e de uma "nova revoluo".
E neste ambiente ideolgico em que a expresso Gesamtarbeit (e derivados) passa a ser
interpretada ou como algo confuso ou como um significado nico e fixo: a fuso em uma mesma
classe, a dos "trabalhadores", do trabalho manual e do intelectual e, por vezes, tambm do trabalho
produtivo e o improdutivo.
Tanto em uma linha de interpretao, quanto na outra, nem sempre pelas mesmas mediaes
tericas, verdade a distino entre proletariado e trabalhadores assalariados eludida por essa
operao. O que tambm significa que eludida a distino entre o trabalho que realiza o intercmbio
material com a natureza e o trabalho assalariado (a fora de trabalho convertida em mercadoria, fora
de trabalho esta que pode ou no transformar a natureza nos meios de produo ou de subsistncia). A
peculiaridade ontolgica do trabalho, que o faz fundante do ser social, cancelada por esse processo de
identificao de todo assalariamento ao trabalho ou, se quiserem dizer o mesmo com outras palavras,
pela identificao do trabalho ao trabalho abstrato. Sabemos, depois de Marx, que a relao entre o
trabalho e o trabalho abstrato no de identidade, mas uma relao de alienao. Nesta esfera,
nenhuma identidade possvel. O trabalho a "condio natural eterna" da vida humana, o trabalho
abstrato uma peculiaridade da sociedade capitalista (a desconsiderar sua formas antediluvianas).
Nas tradues de O Capital, ao longo do sculo 20, esse novo contedo que vai sendo imputado s
expresses Gesamtarbeit e Gesamtarbeiter cobra seu preo. Os casos mais conhecidos so o da
traduo de Wenceslau Roces para o espanhol (Fondo de Cultura Econmico) e o da edio portuguesa
da Editora Avante!12 Elas possuem erros comprometedores -- e, no que diz respeito ao nosso tema,
equivocadamente traduzem Arbeiter por "obrero" e "operrio", respectivamente. Isto sugere

12

Outras obras de Marx e Engels, editadas pela Avante Editorial que temos tido a oportunidade de examinar (A
questo judaica, a parte I de A ideologia alem e os Manuscritos de 1844) so de excelente qualidade e fidelidade ao texto
original. uma pena que o mesmo no tenha se dado com O Capital.

14
inconsistncias em Marx, como por exemplo a presena de "obreros" ou "operrios" nos modos de
produo pr-capitalistas13. Toda uma gerao de brasileiros que se apoiou na traduo de Roces
acabou por crer nas teses que pululam desde as dcadas de 1950-6014, segundo as quais a concepo das
classes sociais em O Capital, principalmente a categoria proletariado, seria inconsistente. Apenas com
base nas tradues da Fundo de Cultura Economico e da Avante Editorial, sem o confronto com o
original, surpreendente seria o contrrio.

Por que Marx utilizou as expresses Gesamtarbeit/er/stag com contedos to diversos?

Como argumentamos em outro texto (LESSA, 2007, em especial na Parte II), para Marx, tal como
o trabalho primitivo funda o modo de produo primitivo, o trabalho escravo funda o modo de
produo escravista, o trabalho do servo funda o feudalismo e, por fim o proletariado funda o modo de
produo capitalista. Isto apenas outra forma de dizer que o trabalho, o intercmbio material com a
natureza (MARX, 1983, pp. 149-50), o fundamento ontolgico do ser social. Diferente das formas
pr-capitalistas de produo nas quais o trabalho assalariado raramente penetrou no intercmbio com a
natureza, no capitalismo desenvolvido o assalariamento se generalizou e no h mais, neste particular,
diferenas entre o proletariado que cumpre a funo fundante e os outros assalariados que cumprem
outras e variadas funes. A universalizao do capital requereu e possibilitou tambm a generalizao
do assalariamento. Agora, todos os assalariados so explorados pela burguesia porque, quanto menor o
montante da riqueza for convertida em salrios, maior a lucratividade do sistema do capital. H,
portanto, um conflito generalizado pela sociedade burguesa ao redor do valor dos salrios: uma luta
cujo mximo limite histrico a converso de todos em proprietrios privados isto , uma luta a qual,
mesmo que levada ao seu limite mximo imaginvel, no capaz de superar a propriedade privada,
apenas distribu-la menos desigualmente. este o solo social do desenvolvimento e maturao das
teses socialdemocratas.

13

A melhor avaliao que conhecemos das diversas tradues do Livro I com crticas severas traduo de Roces,
a "Advertencia del traductor" da edio da Siglo XXI, a cargo de Pedro Scaron. Esta tambm, tanto quanto sabemos, a
nica edio que, seguindo a 4a. edio alem, faz uma comparao com as trs edies anteriores. Infelizmente tivemos
acesso a esta traduo depois que a pesquisa j estava concluda.
14

Por exemplo, Gurvitch (s/d).

15
Ainda que isto no seja falso, est longe de ser toda a realidade. Pois o trabalho que converte a
natureza em meios de produo e de subsistncia gera um produto que subsiste ao prprio ato de sua
produo, de tal modo que ao final do processo de trabalho, a riqueza total da sociedade (Marx diria o
"capital social total") foi acrescida pelo tempo de trabalho plasmado nos meios de produo e
subsistncia que saram das mos do proletrio. O mesmo no ocorre com a produo de qualquer outro
assalariado: seja professor no Estado, seja engenheiro de uma empresa privada, seja um comercirio ou
bancrio. Em todos estes casos, o que produzem consumido no prprio ato da produo, de tal modo
que ao final do processo de trabalho no h nenhuma nova riqueza permanece apenas aquela que j
sido produzida anteriormente pelo proletariado.
Por isso o trabalho proletrio fundante do modo de produo capitalista: no h qualquer riqueza
na sociedade que no tenha sua origem com todas as mediaes --

no trabalho manual que

transforma a natureza em meios de produo e de subsistncia15. O que, para sermos mais do que breve,
significa que todos os assalariados no proletrios vivem da riqueza produzida pelo proletariado. E isto,
sendo se possvel ainda mais breve, no cancela, apenas insere em seu contexto, a contradio entre o
conjunto dos assalariados e a burguesia ao redor do valor dos salrios.
Uma outra diferenciao entre os assalariados torna a relao destes com a burguesia muito mais
complexa do que no passado pr-capitalista: o fato de o capital ser uma forma de propriedade privada
que tambm pode se valorizar pela concentrao da riqueza que j existe sob a forma de dinheiro em
posse das pessoas, faz com que os capitalistas possam se enriquecer tambm pela explorao de
trabalhadores que no so proletrios. A burguesia logo se deu conta que uma parte do salrios no lhe
d lucros, so parte dos custos de seu negcio. Outros salrios, ao contrrio, do lucros. Quanto menos
contadores e vigilantes e quanto mais sapateiros, por exemplo, um capitalista puder contratar, maior
ser a lucratividade. Marx, fazendo a crtica da economia poltica, precisou do que se tratava: o trabalho
produtivo de mais-valia se distingue daquele que no produz mais-valia. O trabalho produtivo e o
improdutivo so, portanto, em Marx, variaes do trabalho assalariado, do trabalho abstrato.

15

Proletrios so os assalariados que convertem a natureza em meios de produo e de subsistncia, produzindo o

"contedo material da riqueza social" (MARX, 1983, p.46) e, portanto, que no apenas valorizam mas, tambm, produzem o
capital. "Por proletrio s se deve entender economicamente o assalariado que produz e valoriza o capital..." (MARX, 1985,
p. 188 n.70).

16
No terceiro pargrafo do Captulo XIV, o exemplo de Marx de um trabalhador produtivo que no
realiza o intercmbio material com a natureza o professor da escola privada. A mercadoria que ele
produz (horas-aula) vendida aos pais dos alunos por um valor maior do que o salrio dos professores.
A explorao deste trabalhador, portanto, mediada pela mais-valia. Contudo, o que os pais dos alunos
pagam ao dono da escola idntico soma do valor dos salrios, com os custos da escolas e com a
mais-valia expropriado pelo burgus. O capital social total no se acresceu de um tomo sequer; em
outras palavras, esta mais-valia produzida pelo professor requer que a riqueza produzida pelo
proletariado j tenha se esparramado pela sociedade (o que no quer dizer que tenha sido distribudo
equitativamente).
Uma vez mais fazendo curta uma longa histria e, novamente remetendo o leitor interessado ao
nosso texto j mencionado o trabalho produtivo no determinante das classes sociais. Ele est
presente em funes muito distintas (transformar a natureza ou prestar servios, como o professor) na
reproduo da sociedade e, tambm , pois, aqui, no h identidade do capital. Tanto o proletrio
quanto o professor na escola privada so produtivos de mais-valia; contudo, apenas o primeiro produz o
"contedo material da riqueza social" (MARX, 1983 p. 46).
Nesta medida e sentido, enquanto assalariados os proletrios compartilhariam com os demais
vendedores da fora de trabalho todas as mazelas peculiares ao trabalho abstrato menos uma: a
nica classe que no se reproduz pela explorao de qualquer outra. Os assalariados no proletrios, por
sua vez, compartilhariam com a burguesia o fato de se reproduzirem socialmente parasitando o
proletariado. Por isso, entre o proletariado e a burguesia temos uma contradio antagnica envolvendo
o prprio assalariamento. O que, j mencionamos, no cancela o fato de que, ao lado deste
antagonismo, entre a burguesia e os assalariados no proletrios se desdobra uma contradio centrada
ao redor da diviso da riqueza expropriada do proletariado ao redor dos "limites da jornada de
trabalho". O proletariado , para Marx, o sujeito revolucionrio por excelncia por ser a nica classe
que no tem por fundamento a explorao de nenhuma outra16
aqui que o terreno pantanoso vai ser constitudo: na polmica, os que desejam postular que, para
Marx, todos os assalariados seriam igualmente revolucionrios, "esquecem-se" das passagens em que a

16

O que no quer dizer que o proletariado possa ser vitorioso em sua revoluo sem que conquiste para ela setores
muito significativos dos assalariados no proletrios, mas no temos espao aqui para discorrer sobre este aspecto do
problema.

17
oposio como "inimigos" de classe do trabalho manual ao trabalho intelectual afirmada e reafirmada;
consideram apenas as passagens em que Gesamtarbeit/er/stag expressam a totalidade dos assalariados.
E, na medida em que as interpretaes no raramente desconsideram o original alemo, so alvos mais
fceis de um certo esprito do tempo que foi se constituindo ao longo do sculo 20: ser proletrio e ser
assalariado vo se aproximando at serem sinnimos como se a luta ao redor dos "limites da jornada
de trabalho" e a luta pelo fim da explorao do homem pelo homem pudessem ser equivalentes.
Todas as variantes destas duas linhas de interpretao (a que afirma a impreciso e a outra que
afirma a preciso de trabalhador coletivo) so muito problemticas. Todas elas, sempre, precisam
selecionar algumas e desconsiderar outras passagens do Livro I; no do conta de integrar em uma
interpretao coerente a totalidade das passagens em que Marx trata do trabalhador coletivo. Outras
vezes conferem, a passagens escolhidas dos vrios manuscritos de Marx, a mesma importncia que
atribuem ao seu texto acabado, gerando graves problemas de interpretao17. E, todas elas, precisam se
basear em uma ou outra traduo desconsiderando o original alemo.
Tanto quanto consigo entender, essa variao no contedo das expresses Gesamtarbeit,
Gesamtarbeiter, Gesamtarbeiterstag no era problemtica para Marx porque, para ele, seria
inconcebvel fundir ou imbricar em uma mesma classe social todos os assalariados. Foi a evoluo do
stalinismo e da social-democracia que gerou uma forte necessidade ideolgica de cancelar a
peculiaridade de classe do proletariado fundindo, ou imbricando, o trabalhador manual ao intelectual.
Nada, todavia, no texto de Marx, indica ser o "trabalhador coletivo" a expresso da dissoluo do
proletariado entre os assalariados. A, portanto, to frequente recorrncia ao argumento de autoridade
segundo o qual Marx teria concebido o "trabalhador coletivo" como superador da distino entre o
proletariado e os demais assalariados ou como uma categoria confusa que torna imprecisa as
determinaes de classe do proletariado no passa de um equvoco com um endereo ideolgico
preciso: retirar da proposta marxiana da revoluo comunista o seu sujeito, o proletariado. Com todas
as consequncias, por demais conhecidas.

Bibliografia

17

Cf. "Prefcio" in LESSA, 2007.

18
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19
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(I:250)
#
9

esamta

Col
lective

C
ollecti

jour
ne

Jour

de ne

Jour
ne

Jorna

Une

Jo

de da total de journe de rnada

rbeitsta working ve

travail

totale/

travail

trabalho/jo

travail

total

g(s) -

worki

social/

journe

globale/

rnada

social/no

de

5 vezes day/coll

ng

journe

de

journe

global/jorn tem

no

ective

day/co collectif/j

travail

de

ada

mesmo

working llectiv

ourne

social

travail

global/jorn journe

da
total/j

a trabajo

segunda/

pargra -

collectif/(

moyen/j

globale/

ada

fo

worki

861)

ourne

journe

trabalho

total/jou

de

global/jorn collective

total

working day/co

rne

travail

ada

de

-day/the

totale/

globale/

trabalho

trabajo

working e

journe

journe

global

/jorna

-day is worki

totale/

de

(I:258)

da

that

(211)

travail

total

day/coll

(341-2) ective

ng

llectiv

of ng

de coollectiv

/jorna

e/ journe ornada

de (II: 16-17)

the

day/th

globale/

de los

whole

journe

12

dozen/c

worki

de

obrero

25
ollectiv

ng day

travail

is that

globale(

emple

365)

ados/j

working of the
-day

/ whole

(323)

ornada

dozen/

total

collect

(260)

ive
worki
ng day
(4401)
#

esamta
10

Col
lective

Trav
Collec

Tra

Tra

Traba

Force

T
rabajo

ail

vail

vail

lhador

commune

rbeiters labour/2 tive

colletif/

total/

global//

global/

travailleu

ouvrier

travaille

trabalhado

collectif / vo/una

total/ouv ur

collectif/

rier

global/jo trabalhado

trabalhado a
r

der 4 hands labour

kombi

of

nierte

row

the /24
of hands

r coletivo/ no

travail colecti

tem jornad

Arbeite men/col

of the travailleu

colletif

urne de r

r oder lective

row of r

ou

travail

combinado combinad

collectif/

l'ouvrier

combin

o, apenas de

(865)

total

e/

trabalhado

trabajo

Gesam

working men/c

tarbeite -day
r/

nada

ve

(tomo II: travaille

travailleur

de 144

gemein in

worki

26-7)

ur

coletivo/tr

collectif

horas/

samer

commo

ng

combin

abalhador

(II:19-20)

el

Arbeit

n (327)

day(4

44-5)

travaille

(346)

lsbour

/ ollecti

combi

ou coletivo
(I:260-1)

obrero
combi

ur global

nado o

(368)

el
trajado
r

26
collect
ivo
(263)
#
11

Col

ombini

lective

erte
Gesam

C
ollecti

Trav

l'ou

Tra

Traba

Le

El

ailleur

vrier

vailleur

lhador

mcanism

labourer ve

collectif

collectif

global

coletivo

(339)

(879)

(Tome

combin

combinado de

II:233)

(381)

worke

tarbeite

r (359)

(458)

obrero

vivant total
la (274)

que manufactu

constitui o re,
mecanism

le

travailleur

o vivo da collectif

#
12

Th

Le

manufatur

(tomo II-

a, (I:269)

30)

Le

Le

etailarb e

ollecti

travailleu

L'ouvrie

travaille

trabalhado

eiten

collecti

ve

ur

r coletivo, collectif

colecti

kombi

ve

worke

collectif,

collectif,

global,

formado

vo,

nierte

labourer r

(885)

compos constitu pela

forma

Gesam

(344)

de

do or

(464)

tous par

travailleur

El

(II:35)

la combinaa

tarbeite

les

combina

r (365)

ouvriers

ison des trabalhado

de dtail travaille
(tome

urs

II:241)

dtail

de

obrero

la
combi

res

nacin

de detalhistas

de

(I:272)

obrero

(387)

detalli
stas
(279)

#
13

Soc

Trav

L'o

Tra

Traba

Le

esellsc

ial

ociety'

ailleur

uvrier

vailleur

lhador

travailler

brero

haftlic

collecti

collectif

collectif

social

coletivo

collectif

collect

27
hen

ve

colecti (886)

Gesam

labourer ve

social

global

social

(tome II: (389)

tarbeite (346)

woker

rs

(465)

(II:35)

ivo

(273)

total

243)

(281)

(366)
#

Vi

elen
14

Th
e

T
he

Trav
ailleur

l'ou

Le

lhador

illeur

mismo

collectif

ur

coletivo,

collectif/

obrero

form par lui-

globale

combina

ouvriers

colecti

lui-

iten

ve

iver

kombi

labourer worke

la

mme,

nierte

, formed r,

combinas

compos mme,

Gesam

by

ion

d'un de

d out grand

r/

ation of of the nombre

Gesam

tarbeite number

de parcellaire vo

muitos

/ rpoduc

constitu trabalhado

Travailleu

beaucou

par

r collectif la

combina

la res
parciais

/ /

combi

d'ouvriers d'ouvrier sion d'un trabalhado

nation

parcelaire s

Travailleu

to

ee

combi
nacin

grand

r coletivo/ r collectif de

parcellai

nombre

trabalhado

res/

de

r coletivo

ouvrier

travaille

(I:275-6)

obrero

collectif/

collectif

urs

labourer dual

travailleu

(tome II: partiels/

specia

r collectif 247)

travaille

es/orer

collecti

lized

(890)

ur

ve

worke

global/tr

colecti

labourer rs/

availleur

vo/obr

(348-9)

collect

global/

ero

ivee

(392)

colecti

r/

of detail of

Gesam

labourer numbe travailler

tarbeite s/collect r
rs 369- ive
70

El

travaille

collect collectif,

tarbeite combin

Trava

vrier

teilarbe collecti

the forme

Traba

a s/

of u

indivi

(II: 39)

mucho

s
parcial

worke

vo

rs/coll

(283)

ective

28
worke
r
(4689)
#

esamta
15

Col
lective

L'o

trav

Traba

ailleur

uvrier

ailleur

rbeiters labourer ve

collectif

collectif

global/(3 coletivo

(370)

(890-1)

(tome II: 93)

(349)

ollecti

Trav

worke
r

lhador

(276)

Trava

illeur

brero

collectif

coletiv

(II:40)

248)

(284)

(469)
#

esamta
16

Col
lective

L'o

Tra

Traba

Trava

ailleur

uvrier

vailleur

lhador

illeur

brero

rbeiters labourer ve

collectif

collectif

global

coletivo

collectif

colecti

(383)

(905)

(tomo II (407)

(I:284)

(II:50)

vo

(361)

ollecti

Trav

worke
r

265)

(294)

(483)
#

17

Tot

Trav

esamta

al

otal

ail

rbeit

labour

labour

(947)

der

of

zwei

men

Tra

Tra

total vail total vail

two (531)

Trava

trabalho

il total de rabajo

(tomo

global

III:60)

des deux dois

ouvriers

ouvriers

trabalhado

(II:90)

(457)

res (II:31-

Arbeite (407)

global

r (429-

de deux

total
(335)

2)

30)
#
18

di

in

T
he

La

the

Zusam

composi compo on

menset

tion of sition

zung

the

La

compositi composi
de tion

travailleu

La
composi

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louvrier

of the r collectif collectiv

La

composi

de o

quelle

compositi

do on

personel, trabalhado

de icion

travailleur

r coletivo collectif

ompos

del
obrero

29
des

collecti

collect ou

Gesem

ve

ive

personnel

tarbeite labourer labour

rs oder ,

du e ou dyu repose

change

kombi

of

nierten

persons

in

(981)

combin
(

the other

do ou

trabalho

del

de travail person

ur global combinado combin

tomo ou sur la (II:71)

III :137)

ds total o

le pessoal de personnel

de travail l ouvirer travaille

a er or, combin

der

personne sur

ou

(II:141)

al
obrero

combina

combi

ission du

nado

Arbeits working the

travail

(385)

person

in

combi

(518)

als

combin

ned

(485)

ation

worki

(461)

ng

words,

person
nel
(590)
#
19

Th

Trav

L'o

Le

Traba

le

El

ombini

he

ailleur

uvrier

travaiell

lhador

travailleur

obrero

erte

collecti

combi

collectif

collectif

uer

coletivo

collectif

total

Gesam

ve

ned

ou

le ou

le collectf

tarbeite labourer collect corps de corps de combin

r oder ,
gesells

or ive

social

labour

chaftlic body of (544)

he

combinado ou

Le combi

ou

de nado,

corpo corps

travail

travail

, le corps social

social

social

social de trabalho

social

cuerpo

(952)

(tomo

travail

(II:102)

social

III: 75)

(470)

labour

de travail

(II:40)

el

del

Arbeits (419)

trabajo

krper

(347)

(442)
2
0

esamta

Col
lective

C
ollecti

rbeiters labourer ve

Trav

Ouv

Tra

Traba

Trava

ailleur

rier

vailleur

lhador

illeur

brero

collectif

collectif

global

coletivo

productif

colecti

30
(531)

(508)

labour

(__)

( __)

(570)

(II:105)

(183)

vo(42

er

5)

(643)
#
21

esamta

Th

e whole hole

tem

rbeitsta working worki

g (549)

No

Jour

La

no ne total journe

Rubel

Jorna
da

No

de h

de

de

trabalho

em rnada

Roy

total

-day

ng day

travail

travail

total

de

(526)

(663)

(220)

globale

(II:118)

trabajo

(589)
#
22

esamta

Jo

Th

e whole he

rbeitsta working whole

No
tem
Rubel

Le

(440)

forc

Jorna

No

no valeur

de da total de h

de

la travail

trabalho(II

em rnada
total

gs

worki

force de fonction

(562)

day(539

ng day

travail

nant

trabajo

(680)

fonction

pendant

(453)

nant 12 12 heurs
heurs
(239)

(603)

: 130)

Roy

Jo

de