bREVE INTRODUÇÃO TEORIA MARXISTA DAS CLASSES - LISANDRO
bREVE INTRODUÇÃO TEORIA MARXISTA DAS CLASSES - LISANDRO
bREVE INTRODUÇÃO TEORIA MARXISTA DAS CLASSES - LISANDRO
ESTADO
Lisandro Braga
Cientista político e sociólogo, professor de Teoria Política/UFMS e militante do Movimento
Autogestionário/MovAut.
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Para isso utilizaremos de diversas citações das obras de tais autores (Marx e Engels).
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Para constatar a existência de diversas classes sociais na obra de Karl Marx Cf. (MARX, 1985; MARX, 2007;
MARX, 1997; MARX, 2008; MARX & ENGELS, 1998; MARX & ENGELS, 1984; VIANA, 2012).
para evitar possíveis erros de entendimento, ainda uma palavra. Não pinto, de modo
algum, as figuras do capitalista e do proprietário fundiário com cores róseas. Mas aqui só se trata
de pessoas à medida que são personificações de categorias econômicas, portadoras de
determinadas relações de classe e interesses. Menos do que qualquer outro, o meu ponto de
vista, que enfoca o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo
histórico-natural, pode tornar o indivíduo responsável por relações das quais ele é, socialmente,
uma criatura, por mais que ele queira colocar-se subjetivamente acima delas (1985, p. 13).
Aqui, conforme já nos alerta Maia (2011) em sua obra As classes sociais em O
capital, é possível apreendermos algumas questões importantíssimas, quais sejam: toda
pessoa/indivíduo anuncia determinadas categorias econômicas, expressam relações de
classe específicas logo, portam determinados interesses. E mais, tal pessoa se encontra
envolvida em relações de classe, quer queira quer não, sendo condicionada socialmente
pelas mesmas, quer tenha ou não consciência disso, e não pode ser compreendida fora
da totalidade dessas relações sociais. Buscaremos, a partir dessas constatações,
apreender algumas das classes sociais apresentadas em O capital (1985).
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Nossa compreensão do que vem a serem as classes fundamentais de um modo de produção (feudal,
capitalista etc.) se fundamenta na definição segundo a qual “as classes sociais fundamentais são aquelas
que são constituídas pelo modo de produção dominante, tal como Marx deixou claro em várias passagens.
Outras classes sociais são aquelas ligadas às demais relações de produção ou às relações de produção
anteriores. Estes casos manifestam determinada divisão social do trabalho, na qual as atividades produtivas
e de apropriação estão presentes e distinguem as classes sociais. Porém, isto não esgota a divisão social do
trabalho. Esta se estende para outras relações sociais, promovendo atividades específicas voltadas para a
A mercadoria possui valor de uso e valor de troca. Como valor de uso ela se
caracteriza por ter utilidade, por servir para determinadas finalidades e como valor de
troca ela equivale a produto destinado a ser comercializado no mercado, trocado por
reprodução das relações de produção. Sendo assim, as demais classes são derivadas das relações de
produção e se incluem no que Marx denominou “superestrutura”, tal como o Estado, as formas
“ideológicas”, etc. formando as classes sociais improdutivas. Marx desenvolve isso de forma mais profunda
no caso do capitalismo, mas faz algumas breves referências a outros modos de produção onde existiriam
tais classes. No caso do capitalismo, as referências são mais abundantes. Porém, resta saber o que
determina a existência dessas classes, já que não formam uma única classe social. Isto vai depender de sua
relação com o modo de produção dominante” (VIANA 2012, p. 67-68).
o trabalho que é medido dessa maneira, isto é, pelo tempo, aparece não
como o trabalho de diferentes sujeitos, mas, ao contrário, os indivíduos
diversos que trabalham aparecem como meros órgãos do trabalho. Ou
seja, o trabalho, tal como se apresenta em valores de troca, poderia
expressar-se como trabalho humano geral. Essa abstração do trabalho
humano geral existe no trabalho médio, que qualquer indivíduo médio de
uma sociedade pode executar; um gasto produtivo determinado de
músculos, nervos, cérebro etc. É trabalho simples, ao qual qualquer
indivíduo médio pode ser adestrado, e que deve executar de uma ou de
outra forma. O caráter desse trabalho médio é, ele próprio, diferente em
diferentes países e épocas culturais, contudo aparece como dado em
uma determinada sociedade (MARX, 1982, p. 33).
Dessa maneira, no capitalismo todas as mercadorias possuem em comum o fato
de conterem em seu valor acréscimo de mais-valor materializado e que pode ser medido
pelo tempo de trabalho despendido na sua produção. No entanto, tal acréscimo de valor
não é perceptível na aparência da mercadoria, mas sim na sua essência que consiste em
ser expressão de trabalho social e que só se realiza e se revela na relação social entre
mercadorias. O valor de uma mercadoria consequentemente é determinado pela
Por ser marcado necessariamente pela exploração do trabalho e por conta das
contradições derivadas da própria acumulação (concentração/centralização de capital,
concorrência entre capitais, ampliação do trabalho morto em detrimento do trabalho
vivo, tendência decrescente da taxa de lucro, maior disputa em torno do tempo de
trabalho entre burguesia e proletariado etc.)4 é que a produção capitalista é marcada pela
luta de classes entre suas classes fundamentais. Das necessidades derivadas de todo esse
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Para uma melhor compreensão da dinâmica da produção capitalista de mercadorias, suas tendências e
contra tendências, contradições, possibilidades etc. conferir a totalidade da obra O capital de Karl Marx.
A burocracia, por exemplo, é uma classe social que surge com o capitalismo, mas
que no primeiro regime de acumulação (o regime de acumulação extensivo) ela ainda se
apresentava de forma incipiente, numericamente reduzida e com papel político pouco
influente. Em algumas passagens da obra O 18 Brumário (1997) já é possível notar que
Marx estava atento a isso e percebia a expansão da burocracia estatal francesa, “esse
poder executivo, com sua imensa organização burocrática e militar, com sua engenhosa
máquina do estado, abrangendo amplas camadas com um exército de funcionários
totalizando meio milhão” (1997, p. 125. Itálicos meus). No entanto, essa percepção ainda
se apresentava de forma incipiente como não poderia deixar de ser. Todavia, analisando a
história do capitalismo a partir da sucessão dos regimes de acumulação5 nota-se um
avanço numérico dessa classe social, o surgimento de suas frações de classe (burocracia
partidária, sindical etc.), da sua força política, assim como de suas ideologias (VIANA,
2012).
5
Sobre a história do capitalismo como uma sucessão de regimes de acumulação Cf. (VIANA, 2009).
O capítulo intitulado Para uma teoria das formas de regularização das relações
sociais, presente na obra A consciência da história – ensaios sobre o materialismo histórico
dialético (2007), de Nildo Viana, apresenta uma discussão importantíssima sobre toda
essa problemática e que ilustra de forma suficiente “a construção do texto de Marx” e a
presença das “relações existentes entre” “infraestrutura” e “super-estrutura”:
Referências