o Cortico
o Cortico
o Cortico
TEORIA
O Cortio (1890), de Alusio Azevedo, a obra
mais bem acabada do Naturalismo brasileiro. Nela, o
autor se atece a sequncia de descries muito
precisas, em que cenas coletivas e tipos
psicologicamente primrios fazem, no conjunto, do
cortio a personagem mais convincente do nosso
romance naturalista.
1 O NATURALISMO
1.1 Breve Histrico
Em meados do sculo XIX, inicia-se na Europa
a disseminao das idias do Socialismo Cientfico,
aps a publicao do Manifesto Comunista de Karl
Marx. Alm disso, a Segunda Revoluo Industrial j
estava acontecendo. No entanto, o desenvolvimento
tecnolgico
no
era
acompanhado
de
um
desenvolvimento social. Isso, juntamente com as vrias
correntes cientficas (Positivismo, Determinismo,
Darwinismo) contribuiram para o pensamento dos
escritores Realistas.
No Brasil, como esperado, essas ideias s
vingam mais tarde, no final do sculo XIX, quando
principia-se o Movimento Abolicionista e o Republicano.
3 A OBRA
3.1 Dados
A obra se trata de um romance naturalista
escrito em 1890. considerado um romance
experimental pelo fato de o ser humano ser uma
experincia, um caso a ser analisado.
3.2 Personagens
As principais bpersonagens do Romance so:
Joo Romo (vendeiro), Bertoleza, Miranda, Dona
Estela, Zulmira, Pombinha, Jernimo, Piedade e Rita
Baiana. Considera-se o prprio cortio como sendo um
organismo vivo e, portanto, o protagonista da histria.
Linguagem simples;
Preocupao com mincias, descritivismo;
Impessoalidade;
Objetivismo cientfico;
Determinismo;
Temas de patologia social;
Despreocupao com a moral;
Literatura engajada;
2 ALUSIO AZEVEDO
3.4 Narrador
Marciana, fica com raiva da filha e comea a perseguila para bater nela. Ela acaba fugindo. Joo Romo
comea a pensar em se tornar algum mais refinado,
em entrar para a sociedade. O dinheiro ele tinha, mas
no o consentira, at ento, gast-lo com coisas do
tipo.
A festa na casa do Miranda continuava. O
pessoal do cortio comea uma roda de samba.
Jernimo se encanta por Rita e Firmo percebendo cada
vez mais a proximidade dos dois desafia o adversrio.
Os dois brigam, mas o desafiante fere Jeromo com uma
navalha. Devido confuso, alguns policiais tentam
invadir o cortio. Joo Romo diz a todos para se
mobilizarem para no deix-los entrar se recusavam
a isso, pois eles sempre depredavam o patrimnio
deles. Criaram barricadas e quando os guardas
tentaram entrar, foram agredidos. Quando estavam
quase sendo expulsos, ouviu-se um grito havia um
incndio no cortio. Todos deixam seus postos para
salvar seus bens. Com isso, a polcia consegue entrar e
se vinga dos amotinados.
XI A Bruxa, por influncia sugestiva da loucura de
Marciana, piorou do juzo e tentou incendiar o cortio.
Ningum descobre o responsvel pelo incndio. Joo
Romo, j calculando os prejuzos, vai polcia
acompanhado de grande parte do pessoal do cortio.
Todos tentam falar ao mesmo tempo e ningum
entende nada querendo acusar os policiais. Por fim,
nada aconteceu.
Pombinha no se sentia bem. O passeio casa
de Lonie no lhe fizera bem. Lonie tentara ter
relaes com ela. Apesar dos esquivos da menina, ela
a cocote insistira. Nesse dia, ela sentia dores uterinas
fortes. Resolve dar um passeio no capinzal e, ao deitarse, delira em um sonho metafrico da borboleta e a
rosa. Por fim, a menstruao vem.
XII Dona Isabel comemora a vinda da menstruao
da filha. Ela d uma festa no cortio para todos. Todo o
cortio fica feliz pela novidade.
Bruno pede que Pombinha escreva uma carta a
Leocdia. Ele diz que sente falta e pede que ela volte.
Pombinha filosofa sobre como o homem dependente
da mulher e no o contrrio. Com isso, chega
concluso de que no amava seu noivo. Ah! No o
amaria decerto, porque o Costa era como os outros,
passivo e resignado, aceitando a existncia que lhe
impunham as circunstncias, sem ideais prprios, sem
temeridades de revolta, sem atrevimentos de ambio,
sem vcios trgicos, sem capacidade para grandes
crimes; era mais um animal que viera ao mundo para
propagar a espcie.... Chega o dia do casamento e
todos lhe desejam felicidade.
XIII Surge na mesma rua um novo cortio: o Cabeade-Gato. Com medo da concorrncia, Joo Romo
comea a criar um clima de rivalidade dentro do seu
cortio. Logo, as pessoas dos dois cortios se tornam
rivais. ...os habitantes do Cabea-de-Gato tomaram
por alcunha o ttulo do seu cortio, e os de So
Romo, tirando o nome do peixe que a Bertoleza mais
vendia porta da taverna, foram batizados de
Carapicus. Firmo e Porfiro foram morar no Cabea-
4 ANLISE
4.3 A zoomorfizao
No romance, as personagens humanas so
comparadas a animais. O narrador parece ser um
pesquisador (romance experimental) que se utiliza de
suas cobaias para observar seus comportamentos por
meio de suas atitudes e, at mesmo, dos pensamentos.
Alm disso, os seres so descritos de forma bastante
primitiva, como uma raa sujeita aos instintos, como se
fossem, de fato, animais que simplesmente comem,
bebem, acasalam, lutam, brigam por territrio, etc.
4.4.1 Determinismo
4.1 O choque naturalista
Nesta obra, como pode-se observar, Alusio
Azevedo uma fazia anlise fria dos ocorridos, como se
fossem cotidianos. O fato de o casal Miranda e D.
Estela se odiarem e, tambm, de detestarem sua filha
um exemplo disso, como vemos a seguir:
Odiavam-se [Miranda e Estela]. Cada qual sentia pelo
outro um profundo desprezo, que pouco a pouco se foi
transformando em repugnncia completa. (...)Uma bela
noite, porm, o Miranda, que era homem de sangue
esperto e orava ento pelos seus trinta e cinco anos,
sentiu-se em insuportvel estado de lubricidade. Era
tarde j e no havia em casa alguma criada que lhe
pudesse valer. Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo
esta idia com escrupulosa repugnncia. Continuava a
odi-la. Entretanto este mesmo fato de obrigao em
que ele se colocou de no servir-se dela, a
responsabilidade de desprez-la, como que ainda mais
lhe assanhava o desejo da carne, fazendo da esposa
infiel um fruto proibido. Afinal, coisa singular, posto que
moralmente nada diminusse a sua repugnncia pela
perjura, foi ter ao quarto dela.
(O Cortio, Alusio Azevedo, Cap. I)
4.2 O Cortio
4.4.2 Evolucionismo
A ideia de que os mais adaptados sobrevivem
, tambm, bastante difundida na obra. Observa-se, por
exemplo, que Joo Romo, por sua esperteza acaba
por ficar rico e, assim, se d bem na vida, enquanto
Bertoleza, uma pobre escrava sem conhecimento
enganada pelo amante e acaba se matando para no
voltar a ser escrava. Outro episdio que marca isso, o
fato de Rita Baiana ter escolhido ficar com Jernimo em
vez de Firmo, evidenciando certa superioridade do
portugus, europeu, sobre o brasileiro, americano.
Nessas duas situaes (e em outras do livro) como se
a natureza escolhesse os melhores para se darem
bem.
4.4.3 Cientificismo
Em suma, essa doutrina quer dizer que tudo
pode ser explicado pela cincia. De fato, a proposta do
narrador acaba sendo estudar as relaes humanas por
4.4.4 Materialismo
Em suma, essa doutrina quer dizer que tudo
formado por matria e, portanto, tudo se resume a
interaes entre matrias. De fato, isso est presente,
em menor escala, pelo fato de o autor considerar as
personagens como entidades biolgicas se interagindo
devido a reaes qumicas simplesmente.
4.4.5 Positivismo
Esta doutrina no est muito presente na obra.
Em suma, ela acredita em uma evoluo da sociedade
por meio do desenvolvimento da cincia. Cr-se,
portanto, que a cincia o caminho certo para o
desenvolvimento da humanidade.
EXERCCIOS PROPOSTOS
Nvel I
4.6 Personagens-tipo
As personagens da obra, de forma geral,
representam uma classe social. No possuem
profundidade psicolgica (diferente do realismo) e
simplesmente agem segundo seus instintos (suas
atitudes no so surpreendentes personagens
planas). Afinal, as personagens no so to
importantes; o importante o conjunto o cortio.
Nvel II
5. (ITA) Leia as proposies acerca de O Cortio.
I.
Constantemente,
as
personagens
sofrem
zoomorfizao,
isto
,
a
animalizao
do
comportamento humano, respeitando os preceitos da
literatura naturalista.
II. A viso patolgica do comportamento sexual
trabalhada por meio do rebaixamento das relaes, do
adultrio, do lesbianismo, da prostituio etc.
III. O meio adquire enorme importncia no enredo, uma
vez que determina o comportamento de todas as
personagens, anulando o livre-arbtrio.
IV. O estilo de Alusio Azevedo, dentro de O Cortio,
confirma o que se percebe tambm no conjunto de sua
obra: o talento para retratar agrupamentos humanos.
Est(o) correta(s):
a) todas.
b) apenas I.
c) apenas I e II.
d) apenas I, II e III.
e) apenas III e IV.
Nvel III
14. (Unicamp 2010) Leia o seguinte comentrio a
respeito de O Cortio, de Alusio Azevedo:
Com efeito, o que h n' O Cortio so formas primitivas
de amealhamento*, a partir de muito pouco ou quase
nada, exigindo uma espcie de rigoroso ascetismo
inicial e a aceitao de modalidades diretas e brutais de
explorao, incluindo o furto (...) como forma de ganho
e a transformao da mulher escrava em companheiramquina. (...) Alusio foi, salvo erro meu, o primeiro dos
nossos romancistas a descrever minuciosamente o
mecanismo de formao da riqueza individual. (...) N' O
Cortio [o dinheiro] se torna implicitamente objeto
central da narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando ao
ritmo da sua acumulao, tomada pela primeira vez no
Brasil como eixo da composio ficcional.
(Antonio Candido, De cortio a cortio. In: O discurso e a cidade. So
Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 129-3.)
10
GABARITO
Texto 2
Lonie, com as suas roupas exageradas e barulhentas
de cocote francesa, levantava rumor quando l ia e
punha expresses de assombro em todas as caras. O
seu vestido de seda cor de ao, enfeitado de
encarnado sangue de boi, curto, petulante, mostrando
uns sapatinhos moda com um salto de quatro dedos
de altura; as suas lavas de vinte botes que lhe
chegavam at aos sovacos; a sua sombrinha vermelha,
sumida numa nuvem de rendas cor-de-rosa e com
grande cabo cheio de arabescos extravagantes; o seu
pantafaudo chapu de imensas abas forradas de
velado escarlate, com um pssaro inteiro grudado
copa; as suas jias caprichosas, cintilantes de pedras
finas; os seus lbios pintados de carmim; suas
plpebras tingidas de violeta; o seu cabelo
artificialmente louro; tudo isto contrastava tanto com as
vestimentas, os costumes e as maneiras daquela pobre
gente, que de todos os lados surgiam olhos curiosos a
espreit-la pela porta da casinha de Alexandre;
11
1. d
2. d
3. c
4. Discursiva
5. a
6. d
7. d
8. e
9. a
10. e
11. d
12. Discursiva
13. Discursiva
14. Discursiva
15. d
16. Discursiva
17. Discursiva