Titulos de Credito Na Era Digital
Titulos de Credito Na Era Digital
Titulos de Credito Na Era Digital
JOO BROZOSKI
CAMPINAS
2015
JOO BROZOSKI
PUC-CAMPINAS
2015
ii
Joo Brozoski
Ttulos de Crdito na Era Digital
BANCA EXAMINADORA
iii
A minha querida esposa Maria Terezinha pelo incentivo a buscar o Curso de Direito e seu
estimulo aos estudos, aos meus filhos Mariana e Ivan, pela fora incentivadora e motivadora do
enfrentamento das dificuldades e na alegria das conquistas. Em especial a Deus pelo dom da
vida.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Me. Wagner Jose Penereiro Armani,
Orientador e incentivador sempre atento e aplicado em minha formao profissional, analisando
criteriosamente cada detalhe a ele apresentado.
Prof. Me. Diogo Cressoni Jovetta, pela oportunidade de apresentar o texto desta monografia em
aula contribuindo sobremaneira pela sua finalizao.
vi
RESUMO
A crescente utilizao da tecnologia nos processos de negcio modernos trouxe a
substituio de documentos emitidos em papel por mdias digitais, trazendo impacto sobre
o instituto dos ttulos de crdito que foi conceituado sobre documento com suporte fsico
em papel. O presente estudo tem por objetivo a investigao de publicaes relativas
utilizao de ttulos de crdito atravs de meios digitais. Para tanto foi utilizada a pesquisa
bibliogrfica nos livros dos principais doutrinadores de Direito Empresarial, busca em sites
especializados na movimentao de ttulos de crdito, como instituies financeiras, e
consulta na legislao vigente. Foi possvel observar que os ttulos de crdito com suporte
em meios digitais so bastante utilizados no mercado empresarial, e que a legislao
vigente cobre a maioria dos mesmos, sendo que para alguns bastante abrangente
dedicando artigos sobre a questo do suporte fsico. Verificou-se que pela prtica e com
alguma jurisprudncia j elaborada a aceitao dos ttulos de crdito em meios digitais
conta com a aderncia de doutrinadores e tambm dos usurios. Embora ainda persista
uma certa resistncia na sua utilizao, a mesma se deve a dois fatores bsicos como a
desconfiana de mtodos inovadores e uma falta de procedimentos organizacionais na
guarda e manuteno dos ttulos emitidos atravs dos mecanismos digitais. Com este
levantamento foi possvel concluir que com pequenos ajustes na legislao e a criao de
organismos centralizadores da guarda e responsabilizao pelo seu controle no que tange
a alteraes por pessoas autorizadas e o impedimento de acessos no autorizados.
Palavras chave: Ttulos de Crdito. Princpios. Desmaterializao. Eletrnico. Circulao.
Escritural. Digital. Duplicata. Protesto. Nota Promissria. Informatizao.
vii
ABSTRACT
BROZOSKI, Joo. Financial Credit Instruments in Digital Age. 2015 Capstone Project (Law
Undergraduate) Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, Centro de Cincias
Sociais Aplicadas, Faculdade de Direito Campinas, 2015.
The objective of the present work is to research the use and viability of credit financial
instruments through digital media. By the use of literature provided by leading scholars of
Business Law, search into specialized sites in the handling of securities, as well as financial
institutions sites, and consultation into tribunals sites for jurisprudence. It was found that the
credit instruments supported in digital media are widely used in the corporate market, and
that the current legislation covers most of the requirements for this market, many laws
dedicated to specific instruments are quite comprehensive dedicating articles covering the
principal aspects of physical support. It was found that the practice and some jurisprudence
already developed the acceptance of securities in digital media, opinion shared by most of
scholars. Although still persists some resistance in its use, it is due to two basic factors such
as mistrust of innovative methods and a lack of organizational procedures in the storage
and maintenance of securities issued through the digital mechanisms. Concluding that
some small adjustments in legislation and the creation of central bodies of custody and
accountability for its control with respect to changes by authorized persons and the
prevention of unauthorized access will provide the full acceptance and enhance the use of
financial credit instruments through digital media.
Descriptors: Financial. Credit. Bill of Exchange. Promissory Note. Digital. Paperless.
viii
ix
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................... 10
CONCEITO DE TTULOS DE CRDITO ..............................................................12
Histria dos Ttulos de Crdito ..................................................................... 13
Caractersticas e Princpios dos Ttulos de Credito ................................... 14
LEGISLAO CAMBIRIA ................................................................................... 18
Legislao Brasileira .....................................................................................18
Legislao Internacional ............................................................................... 19
PRINCIPAIS TIPOS DE TTULOS DE CRDITO ................................................. 21
Notas Promissrias e Letras de Cmbio .....................................................21
Cheque............................................................................................................ 23
Duplicatas....................................................................................................... 24
Cdula de Crdito Bancrio (CCB) Cdula de Crdito imobilirio (CCI)... 26
Cdula de Produto Rural (CPR) .................................................................... 27
Certificado de Depsito Agropecurio (CDA) / Warrant (WA) ................... 28
Certificado de Direitos Creditrios do Agronegcio (CDCA) .................... 30
Letra de Crdito do Agronegcio (LCA) ......................................................31
Certificado de Recebveis do Agronegcio (CRA) ...................................... 31
A INFORMATIZAO DOS PROCESSOS EMPRESARIAIS ..............................32
Evoluo dos Sistemas de Emisso ............................................................33
Impacto nas Negociaes Cambiais ............................................................34
Segurana nas Transaes .......................................................................... 35
Os Registros Fiscais Informatizados ...........................................................37
TTULOS DE CRDITO ESCRITURAIS ...............................................................38
Caractersticas ...............................................................................................39
Legislao ...................................................................................................... 40
Procedimentos na Emisso .......................................................................... 44
MOVIMENTAO DOS TTULOS DE CRDITO ESCRITURAIS ........................46
Posse e Comprovao .................................................................................. 47
Aval e Endosso ..............................................................................................49
Financiamentos e Securitizao .................................................................. 51
Quitao ......................................................................................................... 52
Protesto .......................................................................................................... 54
SEGURANA ....................................................................................................... 57
Armazenamento .............................................................................................58
Fraude ............................................................................................................. 59
Acesso a Informao .....................................................................................61
CONCLUSO ....................................................................................................... 64
REFERNCIAS ..................................................................................................... 65
10
11
12
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, volume 3 - 4 ed.- So Paulo: Atlas,
2008, pag. 3
13
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. 16. ed. So Paulo:
Saraiva, 2012. pag. 366
3 Ramos, Andr Luiz Santa Cruz Direito empresarial esquematizado So Paulo: Mtodo; Rio de Janeiro:
Forense 2010 pag. 361
2
14
15
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. 16. ed. So Paulo:
Saraiva, 2012. pag. 371
5 Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, volume 3 - 4 ed.- So Paulo: Atlas,
2008, pag. 23
4
16
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. 16. ed. So Paulo:
Saraiva, 2012. pag. 376
6
17
18
LEGISLAO CAMBIRIA
Legislao Brasileira
A Lei Uniforme de Genebra, introduziu um padro internacional aos
ttulos de crdito, no ordenamento jurdico brasileiro foi introduzida quando da
promulgao do DECRETO N 57.663, DE 24 DE JANEIRO DE 1966 ratificando a
conveno aderida pelo governo brasileiro em 26 de agosto de 1942.
Neste decreto encontramos algumas reservas permitidas pela Lei
Uniforme, no introduzindo determinados artigos visando salvaguardar regramento
interno conforme nos ensina Rubens Requio:
Pelo Decreto n 57.663, de 24 de janeiro de
1966, o Governo brasileiro promulgou as
Convenes de Genebra para a adoo de
uma lei uniforme em matria de letras de
cmbio e notas promissrias, com
reservas aos arts. 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10,
13, 15, 16, 17, 19 e 20, do Anexo II.
Consoante a definio da Conveno de
Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969,
reserva significa uma declarao unilateral,
qualquer que seja sua redao ou
denominao, feita por um Estado ao
assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um
tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de
excluir ou modificar os efeitos jurdicos de
certas disposies do tratado em sua
aplicao a esse Estado (art. 2, n 1, d).
Assim procedeu a Conveno de Genebra,
prevendo no Anexo II as reservas que
podem ser adotadas pelas Altas Partes
Contratantes, a fim de impedir a introduo
em seu direito interno de certas normas
uniformes, tendo em vista a preservao de
suas convenincias e tradies jurdicas.
Considera-se, em consequncia, no
incorporado ao direito interno brasileiro o
preceito da Lei Uniforme atingido pela
reserva
usada
pelo
Governo,
prevalecendo assim, nesse particular, o
correspondente ao Decreto n 2.044, de
1908; no havendo o uso da reserva,
19
AMRICA DO SUL
EUROPA OCIDENTAL
EUROPA ORIENTAL
SIA
Brasil
Alemanha
Polnia
Japo
Colmbia
ustria
Repblica Helnica
Equador
Blgica
Hungria
Dinamarca
Tchecoslovquia
Requio, Rubens Curso de direito comercial, 2 vol. 29. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 233
20
Espanha
Iugoslvia
Finlndia
Turquia
Frana
Dantzig (Polnia)
Itlia
Luxemburgo
Noruega
Holanda
Portugal
Sucia
21
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 183
8
22
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 219
9
23
Cheque
O cheque rene as caractersticas de ser uma ordem de pagamento
vista, devendo ser pago no momento de sua apresentao ao banco sacado, e ao
mesmo tempo um ttulo de crdito podendo ser protestado ou executado em juzo.
Neste sentido leciona Fabio Ulha Coelho:
Cheque ordem de pagamento vista,
emitida contra um banco, em razo de
proviso que o emitente possui junto ao
sacado, proveniente essa de contrato de
depsito bancrio ou de abertura de crdito.
Para parte da doutrina comercialista, tratase de ttulo de crdito imprprio, mais bem
definido como meio de pagamento do que
como
instrumento
de
circulao
creditcia.10
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
10. ed. So Paulo: Saraiva, 2006. Pag. 433
10
24
Duplicatas
A duplicata um ttulo de crdito criado no Brasil e tem sua
regulamentao efetivada pela Lei 5474/68, constitui-se em um instrumento
utilizado em transaes mercantis e de servios para cobrana e gerao de
crdito. Sua origem remonta aos tempos do Brasil Imprio conforme nos ensina
Gladston Mamede:
O artigo 219 do Cdigo Comercial de 1850
obrigava, nas vendas entre comerciantes,
que o vendedor apresentasse ao
comprador, com as mercadorias que
entregava, uma fatura ou conta dos gneros
vendidos; dessa conta assinada ou fatura,
11
Martins, Fran Ttulos de Crdito 14. Ed. Rio de Janeiro Forense 2009 pag. 283
25
Toda duplicata deve corresponder a uma fatura, porm, pode existir mais
de uma duplicata por fatura, o inverso no admitido. Em caso de extravio da
duplicata a lei assegura a emisso da triplicata.
Apesar de ter sua origem baseada na causalidade ocasionada pela
existncia de um negcio de compra e venda mercantil ou prestao de servios,
a partir da emisso a duplicata adquire todas as propriedades dos ttulos de crdito,
abstraindo-se do evento originrio.
Tambm no pode ser confundida com a letra de cmbio e a nota
promissria, conforme nos mostra Fabio Ulha Coelho:
Da causalidade da duplicata, note-se bem,
no correto concluir qualquer limitao ou
outra caracterstica atinente negociao
do crdito registrado pelo ttulo. A duplicata
mercantil circula como qualquer outro ttulo
de crdito, sujeita ao regime do direito
cambirio. Isso significa, em concreto, que
ela comporta endosso, que o endossante
responde pela solvncia do devedor, que o
executado no pode opor contra terceiros
de boa-f excees pessoais, que as
obrigaes dos avalistas so autnomas
em relao s dos avalizados etc. No
jurdico pretender vinculao entre a
duplicata e a compra e venda mercantil, que
lhe deu ensejo, maior do que a existente
entre a letra de cmbio, a nota promissria
ou o cheque e as respectivas relaes
originrias. Pontes de Miranda (1956,
36:16) e at mesmo Tullio Ascarelli (1946)
se
preocupam,
especialmente,
em
esclarecer a questo: a circulao da
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 306
12
26
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
10. ed. So Paulo: Saraiva, 2006. Pag. 454
13
27
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
10. ed. So Paulo: Saraiva, 2006. Pag. 473
14
28
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 417
15
29
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 412
16
30
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 419
17
31
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 423
18
32
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 458
19
33
20
Laudon, Kenneth Sistemas de informao gerenciais 9 ed So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Pag 10
34
21
35
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 337
24
36
37
Laudon, Kenneth Sistemas de informao gerenciais 9 ed So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Pag
215
25
38
26
39
Caractersticas
A principal caracterstica de um ttulo escritural a inexistncia de um
suporte fsico em papel, toda a tramitao desde a sua emisso at a liquidao
processada atravs de sistemas mecanizados atravs da digitalizao dos dados
que compe as informaes constantes em sua formao.
No tocante s condies negociais cada ttulo mantm suas
caractersticas bsicas em funo de sua qualificao, sendo regidos pela
legislao correspondente.
Outro ponto relevante com relao a ttulos de crdito escriturais o fato
de serem nominativos, isto , o beneficirio declarado na emisso e em todos os
endossos, inexistindo a figura do endosso em branco.
Fbio Ulha Coelho defende a inexistncia de diferenas nos ttulos de
crdito em funo do suporte fsico adotado:
Os ttulos de crdito e os valores
mobilirios podem ter dois tipos de suporte:
o papel e o eletrnico (ou escritural). As
informaes contidas em documento
impresso ou em arquivo eletrnico so as
exigidas
pela
lei
ou
regulamento
27
40
validade,
eficcia
ou
executividade do ttulo ou valor mobilirio
que decorra do suporte adotado. Se o ttulo
ou valor mobilirio vlido, eficaz e
executvel, ser por tudo indiferente o tipo
de suporte adotado, se papel ou meio
eletrnico.28
Legislao
O respaldo legislativo aos ttulos de crdito digitais j se encontram
embutidos no ordenamento jurdico brasileiro, a comear pelo artigo 889 do cdigo
civil de 2002, que em seu pargrafo 3 especifica que pode o ttulo de crdito ser
emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio tcnico equivalente
e que constem da escriturao do emitente.
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 414
28
41
Geral
Lei Uniforme de Genebra e Decreto n
57.663
Lei n 7.357/85
Lei n 5.474/68
Lei n 10.931/04
Lei n 8.929/94
Lei n 11.076/04
42
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 397
29
43
todavia,
so
potencialmente
desconfortveis, principalmente nas fases
de transio, em que os cnones antigos
convivem com novos paradigmas. Ainda
vivemos numa sociedade do papel e, nesta,
a cartularidade dos ttulos de crdito
princpio ainda marcante do Direito
Cambirio. Mas no mais se pode dizer que
o papel, funcionando como base fsica
necessria, da essncia dos ttulos de
crdito e, consequentemente, do Direito
Cambirio, excetuadas as hipteses em
que a lei ainda o exige, a exemplo da letra
de cmbio (Decreto 57.663/66), nota
promissria (Decreto 57.663/66), cheque
(Lei 7.357/85) e duplicata (Lei 5.474/68),
neste ltimo caso, apesar dos esforos de
se estabelecer, sem licena legal,
duplicatas escriturais, como se estudar no
Captulo 10 deste livro. No entanto, da
mesma forma que no foi preciso criar uma
nova disciplina, em substituio ao Direito
de Famlia, em face das profundas
alteraes experimentadas ao longo dos
sculos, tambm no ser necessrio um
novo rtulo para o Direito Cambirio, como
tal compreendida a disciplina jurdica que se
ocupa da circulao do crdito, ou seja, das
obrigaes a receber (ou recebveis, como
prefere o mercado de capitais). Legislativa,
doutrinria e jurisprudencialmente, aos
poucos, esto sendo estabelecidas as
novas bases do Direito Cambirio,
adequadas assimilao e tratamento dos
crditos de registro eletrnico. Por ora, essa
evoluo d-se pela ampliao do rol dos
chamados ttulos de crdito imprprios, a
exemplo do certificado de depsito
agropecurio e do warrant agropecurio
que, uma vez emitidos em papel, devem ser
custodiados por uma instituio financeira,
passando, ento, a ter existncia eletrnica,
passando a ser negociados no mercado de
valores, conforme estipulao da Lei
11.076/04. No s. A letra hipotecria
um ttulo de existncia meramente
escritural, com emisso facultativa de
crtula, o que tambm ocorre com cdula
hipotecria e a letra de crdito imobilirio,
por fora do que se encontra estipulado na
Lei 10.931/04. Nesse contexto, no se
poderia deixar de destacar o artigo 889,
3, do Cdigo Civil, ao permitir que o ttulo
seja emitido a partir dos caracteres criados
em computador ou meio tcnico equivalente
44
Procedimentos na Emisso
A emisso dos ttulos de crdito em formato digital devem primar pela
segurana tanto na questo de acessos no autorizados como no registro de
alteraes atravs de logs (registros transacionais e acessos) de alterao e
registro de atividades sobre o registro que possibilitem a rastreabilidade de todas
as modificaes por data e hora e usurios, bem como identificao de locais de
acesso.
Outra preocupao se situa no armazenamento adequado, com registro
em bases de dados seguras e com procedimentos de recuperao bem definidos.
Mamede, Gladston Direito empresarial brasileiro: ttulos de crdito, vol. 3 4 ed. So Paulo: Atlas, 2008.
Pag. 63
30
45
de
negcios,
necessria
devida
escriturao
conforme
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 111
31
46
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 354
32
47
possvel em um ttulo em suporte digital. Mais uma vez nos recorremos a Fabio
Ulha Coelho:
O registro da concesso e circulao do
crdito em meio eletrnico tornou obsoletos
os
preceitos
do direito
cambirio
intrinsecamente ligados condio de
documento dos ttulos de crdito.
Cartularidade, literalidade (em certa
medida), distino entre atos em branco e
em preto representam aspectos da
disciplina cambial desprovidos de sentido,
no ambiente informatizado.33
Posse e Comprovao
Com o documento emitido em suporte de papel a comprovao do
crdito se confunde com a posse, pois normalmente o possuidor do ttulo o seu
beneficirio final, e todos os registros de mudana de posse constam da crtula
original, portanto basta exibir o documento em papel para que se possa averiguar,
em consonncia com o princpio da literalidade quem o devedor e quem o
credor.
Ocorre que como os ttulos escriturais no possuem o suporte fsico,
torna-se diferente o processo de anlise e averiguao para determinao dos
devedores e credores, assim como o procedimento para rastrear a cadeia de
endossos existente sobre o ttulo de crdito.
Sendo a duplicata um ttulo de crdito causal, isto sua existncia nasce
de um negcio jurdico entre as partes a sua veracidade fica atrelada
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 338
33
48
34
49
de
rastreabilidade
segurana
inerentes
aos
sistemas
35
50
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 111
36
51
Financiamentos e Securitizao
Estando um ativo sem liquidez, pode ser usada uma ferramenta
financeira que transforma esses ativos em ttulos mobilirios lquidos que podem
ser negociados, assim por exemplo, uma fatura no liquidada pode ser agrupada
com outros ttulos de crdito constituindo um novo ttulo que pode ser negociado
no mercado, visando buscar investidores que adquiram os mesmos, tornando-se
desta forma em um instrumento de financiamento.
Rubens Requio aborda o financiamento via securitizao da seguinte
forma:
O legislador, por proposta do Poder
Executivo brasileiro, interessado em
reordenar o sistema de financiamento
ligado indstria imobiliria, e visando a
obter novas fontes de captao de recursos
para esse importante setor da economia,
editou a Lei n 9.514, de 20 de novembro de
1997, que organizou um sistema cujo
objetivo promover o financiamento
imobilirio em geral, segundo condies
compatveis com as da formao dos
fundos respectivos. Podero operar em tal
sistema os bancos comerciais, de
investimentos, bancos com carteira de
crdito imobilirio, sociedades de crdito
imobilirio, associaes de poupana e
emprstimo, companhias hipotecrias,
caixas econmicas; e a critrio do Conselho
Monetrio Nacional, outras entidades,
podendo empregar recursos captados no
mercado financeiro e de valores mobilirios.
A lei autoriza a criao de companhias
securitizadoras de crditos imobilirios, na
qualidade de instituies financeiras e sob a
forma de sociedades por aes, cujo objeto
ser aquisio dos crditos imobilirios, sua
securitizao e emisso e colocao no
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 407
37
52
Quitao
A quitao entendida como o pagamento parcial ou total do ttulo de
crdito consiste no registro no prprio ttulo, isto na crtula, em se tratando de
documento com suporte em papel ou na destruio da mesma, encerrando com o
fim de existncia da crtula a obrigao constante do ttulo.
Quando se trata de ttulo escritural, com suporte digital, outras medidas
precisam ser adotadas para que seja configurada a quitao do ttulo parcialmente
ou na plenitude.
A duplicatas escriturais, transferidas para as instituies financeiras,
atravs do desconto ou cobrana, originam a emisso de um boleto bancrio o qual
entregue ou transferido eletronicamente para o devedor.
Em posse do boleto cabe ao devedor, at o vencimento, quitar o dbito
em qualquer instituio, ou quando o aviso de cobrana advm de meio eletrnico,
proceder a quitao pelo mesmo meio de comunicao autorizando a instituio ao
dbito em conta corrente. A autenticao do pagamento no boleto, que possui a
identificao da duplicata correspondente d a esta a devida quitao, da mesma
Requio, Rubens Curso de direito comercial, 2 volume / Rubens Requio 29. ed. rev. e atual. por
Rubens Edmundo Requio So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 252
38
53
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 365
39
54
Com a crescente utilizao do ttulos de crdito escriturais, colocandonos em uma fase de transio entre a documentao escrita e a digital, onde
devemos buscar nova conceituao, conforme nos ensina Rubens Requio:
Bem assim, no art. 320, quando autoriza
que a quitao seja processada em
instrumento separado ao ttulo, admitindose, portanto, o registro eletrnico para
processar a quitao parcial. No art. 902,
1, o Cdigo Civil permite que o devedor
proceda a pagamento parcial do ttulo de
crdito no vencimento, passando-se recibo
em documento separado, lanando-se a
quitao parcial no prprio ttulo. Esta
tcnica pode ser perfeitamente utilizada no
ttulo eletrnico, lanando-se a quitao
parcial no prprio registro digital original do
ttulo. utilizada no exemplo j dado da
letra de crdito do agronegcio lanada sob
forma escritural cuja circulao se dar pelo
registro no meio eletrnico dos atos de
transferncia do ttulo. Eventual quitao
parcial deste ttulo se dar pelo registro do
pagamento no registro eletrnico original.40
Protesto
O protesto dos ttulos de crdito a maneira de assegurar a existncia
do direito e suas consequncias, foi regulamentado pela Lei 9.429/97, que em seu
artigo 1 define: Art. 1 Protesto o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplncia e o descumprimento de obrigao originada em ttulos e outros
documentos de dvida.
Trata-se, via de regra, de instrumento de utilizao facultativa, no
entanto existem excees previstas na Lei Uniforme de Genebra, que exige o
prvio protesto para que se efetue a execuo do ttulo de crdito.
De maneira geral pode ser considerado facultativo para contra o
aceitante e seu avalista e mandatrio contra o sacador, endossante e seus
avalistas.
A Lei n. 9.492/97, em seu art. 8 prev a utilizao do mecanismo de
protesto por indicao, segundo o qual quando ocorrer o inadimplemento da
Requio, Rubens Curso de direito comercial, 2 volume / Rubens Requio 29. ed. rev. e atual. por
Rubens Edmundo Requio So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 174
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Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1 : direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 398
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SEGURANA
O assunto segurana tema recorrente no mbito dos ttulos de crdito,
as mais diversas formas de utilizao ilcita podem ser utilizadas por pessoas mal
intencionadas para adquirir vantagens negociais.
No domnio dos ttulos assentadas em papel temos diversos tipos de
fraudes tais como falsificaes de assinaturas, adulterao de valores, emisso de
ttulos sem lastro quer seja negocial para ttulos causais quer seja sem a devida
garantia para outros ttulos.
Portanto no se pode dizer que um documento emitido e circulado com
suporte em papel seja totalmente seguro. O mercado desenvolve mecanismos
como aferio de assinaturas com certificao notarial, ou validao de outros
documentos associados ao ttulo que possam ser averiguados durante a transao
e ou depois em investigaes periciais.
Em um ambiente digital a segurana s alteraes, excluses e
inseres de documentos, primeira vista parece ser uma tarefa muito fcil, dada
a larga divulgao das ferramentas computacionais e ao crescente avano dos
meios de comunicao que possibilitam acessos das mais variadas formas a base
de dados.
Porm a mesma tecnologia usada para facilitar o acesso e manuteno
dos registros pode perfeitamente ser utilizada para controlar os mesmos mitigando
as possibilidades de fraudes ou erros que possam destruir dados e informaes
crticas, atravs de polticas e procedimentos como afirma Laudon:
Todas as empresas, grandes ou pequenas,
precisam de uma poltica de informao. Os
dados de sua organizao so um recurso
importante, por isso voc no vai querer que
os outros faam o que quiserem com eles.
necessrio estabelecer regras sobre
como os dados sero organizados e
armazenados, e quem ter permisso para
v-los ou alter-los.
Uma poltica de informao especifica as
regras para compartilhar, disseminar,
adquirir, padronizar, classificar e inventariar
a informao. A poltica de informao
elabora procedimentos e responsabilidades
especficas, determinando quais usurios e
58
Laudon, Kenneth Sistemas de informao gerenciais 9 ed. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Pg.
162
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Fraude
Podem ocorrer fraudes em ambientes digitais das mais variadas formas,
e dependendo das facilidades e falta de controles de segurana podem assumir
consequncias desastrosas, no caso dos ttulos de crdito armazenados em
suporte digital a mesma facilidade que inspira a sua difuso pode conter os
elementos facilitadores a fraudes.
A duplicao de registro, a facilidade de alterao de dados apagando
ou inserindo novos dados, bem como a emisso de ttulos falsos, e o acesso a base
de dados por pessoas no autorizadas podem ser alguns dos mecanismos usadas
para fraudar ttulos de crdito armazenados em meios digitais.
Como o fato de que o acesso tecnologia ainda recente e no
dominado por uma grande parcela das pessoas tambm contribui ou para facilitar
Laudon, Kenneth Sistemas de informao gerenciais 9 ed. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Pg.
241
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AO
DECLARATRIA DE INEXIGIBILIDADE
DE TTULO DE CRDITO CUMULADA
COM INDENIZATRIA POR DANOS
MORAIS DUPLICATA SENTENA DE
PROCEDNCIA. 1- ENDOSSO MANDATO
Legitimidade passiva reconhecida - Culpa
constatada no exerccio do mandato - No
verificao
da
higidez
do
ttulo
encaminhado a protesto. 2- DANOS
MORAIS Duplicatas sem aceite e carentes
de causa subjacente Encaminhamento a
protesto Dever de indenizar configurado
Verba indenizatria reduzida para R$
10.000,00. SENTENA REFORMADA
RECURSO DA R PROVIDO EM PARTE,
DESPROVIDOS OS DEMAIS.44
44
61
Acesso a Informao
Outro ponto sensvel na utilizao dos ttulos de crdito em meios digitais
est concentrada no acesso e disponibilidade das informaes.
Aqui podemos bifurcar em dois novos temas, acessar as informaes
onde armazenadas e a possibilidade de registro das modificaes circulares
provenientes dos negcios realizados com ttulos de crdito.
O acesso informao em um meio digital requer que o usurio seja
autorizado e possua os mecanismos de comunicao necessrios para estabelecer
a ligao com o ambiente onde os ttulos esto armazenados, afim de que possa
realizar transaes negociais.
J a possibilidade de modificao dos dados armazenados alm de
requerer a capacidade de acesso por autorizao e acessibilidade, tambm requer
mecanismos adequados para assegurar a segurana necessria como por
Coelho, Fbio Ulha Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fbio Ulha Coelho.
16. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 399
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exemplo certificao digital, assim definida pelo ICP-Brasil, rgo responsvel pela
administrao do sistema:
Na prtica, o certificado digital ICP-Brasil
funciona como uma identidade virtual que
permite a identificao segura e inequvoca
do autor de uma mensagem ou transao
feita em meios eletrnicos, como a web.
Esse documento eletrnico gerado e
assinado por uma terceira parte confivel,
ou seja, uma Autoridade Certificadora (AC)
que, seguindo regras estabelecidas pelo
Comit Gestor da ICP-Brasil, associa uma
entidade (pessoa, processo, servidor) a um
par
de
chaves
criptogrficas.
Os
certificados contm os dados de seu titular
conforme detalhado na Poltica de
Segurana
de
cada
Autoridade
Certificadora.46
46
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47
Requio, Rubens Curso de direito comercial, 2 volume 29. ed. So Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 295
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CONCLUSO
Importante papel desempenham os ttulos de crdito no mundo
empresarial e negocial, pelas suas diversas modalidades propiciam a realizao de
negcios que seriam impossibilitados sem a sua utilizao ficando na dependncia
de instrumentos no to seguros e geis na transferncia de riquezas e na garantia
creditcia.
Portanto, entendemos que, o instituto dos ttulos de crdito, dada a sua
ampla aceitao, e prtica comercial no pode ser menosprezado por uma simples
questo relativa ao seu suporte fsico.
J vimos que muitos doutrinadores abraam a ideia de que o suporte
digital de um ttulo de crdito no retira as suas caractersticas nem se contrape
aos seus princpios bsicos, como a cartularidade, a literalidade e a autonomia,
tambm defendida, pelos mesmos, a ideia de que a legislao brasileira contm
dispositivos que permitem o tratamento de ttulos de crdito usando mdias digitais.
O que conclumos existir, a ausncia de uma melhor estruturao na
guarda e no registro da circularidade dos ttulos de crdito assentados em uma
mdia digital, pois alguns mecanismos ainda ficam abertos a eventuais fraudes que
necessitariam de percias extremamente qualificadas para sua elucidao.
Instituies, como a citada CETIP, que j responsvel pelo repositrio
de alguns ttulos emitidos em meios digitais, principalmente os relativos ao
agronegcio, necessitam abranger os demais ttulos definindo procedimentos
adequados a cada um, possibilitando aos participantes da cadeia negocial, o
acesso e verificao da situao em que se encontram os ttulos.
Com procedimentos que permitam a rastreabilidade em ambientes
altamente seguros atravs de acesso controlado e registrado, a posio de cada
ttulo poderia ser verificada e por meio de mecanismos de autenticao ser
modificada, registrando em tempo real e com total transparncia a situao de um
determinado ttulo de crdito, assegurando a sua circularidade e garantindo ao
possuidor a segurana negocial.
Acreditamos que estas providncias, associadas a ajustes legislativos,
proveria aos ttulos de crdito digitais as propaladas caractersticas da crtula
assentada em papel, com as vantagens advindas do emprego da tecnologia.
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REFERNCIAS
Comentado [S3]: Ajustar as referncias bibliogrficas conforme
ABNT.