Faculdade Objetivo

Direito Noturno 1 e 2 Perodos

Professor (a): Kelly
Aluno (a): Suzanne Vaz Cordeiro

Data: 21/09/2015
Matrcula n: 02290007457

RESENHA CRTICA DO FILME UMA PROVA DE AMOR

INTRODUO

Nesse trabalho, teremos uma resenha crtica sobre o filme Uma prova de amor, dirigido por
Nick Cassavetes, abordando o dilema passado por uma famlia americana, sobre o aspecto social e
jurdico.
Com uma filha leucmica e nenhum familiar compatvel, a famlia Fitzgerald tomam medidas
radicais para ter acesso a um doador compatvel, tendo assim, um beb de proveta, geneticamente
selecionado para ser compatvel com a irm doente. Quando a filha doadora resolve reivindicar
perante a Justia sua emancipao mdica, temos dvidas levantadas com relao ao direito prprio
sobre o corpo, decises, vontades, desejos, sentimentos e possibilidades, com relao vontade do
doador em questo, o direito da me de agir em prol da sobrevivncia de um filho, e o direito da
prpria paciente. Um drama capaz de levantar profundos questionamentos e crticas sobre o direito de
deciso de um pai sobre uma criana.

DO ENREDO DO FILME
Nesse filme, Sara (Cameron Diaz), descobre que sua filha de 3 anos, Kate (Sofia Vassilieva),
tem leucemia, e que o tratamento inclui transplantes de medula ssea. Entretanto, nem ela, nem seu
marido, ou seu filho so compatveis com a menina. Logo o transplante no possvel. O mdico
ento sugere, como alternativa fila de espera de transplantes, que Sara engravide novamente por
meio de inseminao artificial, com os gametas previamente selecionados para que a criana ali
gerada, seja totalmente compatvel com Kate, podendo assim, doar tudo o que fosse necessrio para a
sobrevivncia da paciente.
Assim gerada Anna (Abigail Breslin), que logo aps o nascimento submetida a
procedimentos mdicos necessrios para salvar a vida de sua irm. Ao atingir os 11 anos, Anna entra
com um processo judicirio com a ajuda de Cambpell (Alec Badwin), um advogado renomado. O
objetivo do processo judicial seria a sua emancipao dos pais no que se refere s decises de toda a
qualquer interveno mdica a ser realizada em seu corpo. Aps conhecimento do processo judicial, o

hospital opta por no realizar uma cirurgia de transplante de rins nas irms, necessria sobrevivncia
de Kate, sem que haja a expressa ordem judicial.
Na medida em que o processo avana, a sade de Kate se deteriora rapidamente. Ela comea
ento um processo de anlise dos principais pontos de sua vida, como o breve e profundo romance
com o jovem Taylor, problemas enfrentados pela famlia como o diagnstico tardio do irmo que
sofria DDA, e a rotina atpica da famlia, cuja preocupao central gira em torno da doena de Kate.
Durante o processo judicial, Anna alega no apenas a vontade de ter direito de decidir sobre o
prprio corpo, mas tambm, alega que o procedimento doao do rim pode comprometer sua
capacidade e desenvolvimento futuros. A estratgia de defesa de seu advogado centrada unicamente
no bem estar, integridade fsica e dignidade de Anna. A hiptese levantada por ele de que a Sara, a
me, alienada pela difcil situao familiar, no capaz de considerar os interesses de Anna. J Sara
alega que prevalecem aos interesses da famlia, e que busca manter todos seus integrantes vivos, a
qualquer custo.
Com a deteriorao do estado de sade de Kate, o mdico informa que sua morte inevitvel,
e ocorrer em um perodo de apenas alguns dias ou horas. Enquanto Kate, hospitalizada e com poucos
dias restantes, se v deteriorando fisicamente, o estado emocional de sua famlia se devasta junto dela.
Guardando um segredo juntamente com Anna e seu irmo Jesse (Evan Ellingson), agrega para si,
esperana de que a irm ganhe o processo. Aps um ltimo momento feliz da famlia, em um passeio
praia cercado de desentendimentos, h uma audincia judicial na qual o jri recebe a revelao de que,
por trs de todo o processo, estava o desejo de Kate de no ser mais submetida tratamento e, ento,
morrer.
Nos derradeiros momentos de sua vida, Kate entrega para sua me um lbum de fotografias,
onde tem escrito mensagens positivas, alegres, e lembranas de momentos marcantes para famlia.
Cerimonias fnebres se tornam a rotina da famlia por algum tempo, at que seus membros retomam a
uma rotina relativamente normal. A deciso judicial do processo de Anna sai, tardia, quando deferida
sua emancipao mdica.

DO PONTO DE
BRASILEIRO

VISTA QUANDO

APLICADO

ORDENAMENTO

JURDICO

Ao analisar os possveis problemas jurdicos aplicveis a caso descrito pelo filme so

levantadas inmeras hipteses de responsabilizao civil e criminal, de alguns personagens
apresentados no filme.
DOS DIREITOS E DEVERES DE SARA (ME): De acordo com Art. 3 do Cdigo Civil,
ambas Kate (paciente) e Anna (doadora) so menores de 16 anos e, portanto, absolutamente incapazes.
Como representantes legais, poderiam os pais obrig-las a se submeterem cirurgia de transplante de
rgos? De forma alguma! Aos absolutamente incapazes vedada a pratica de atos da vida civil, tais
como vender imveis, contrair dvidas por emprstimos, casar-se, etc. Todavia, o caso relatado no
filme no se classifica com um ato da vida civil. Alm disso, tutelado ao menor o direito de
manifestar sua vontade quando se trata de seu corpo, de sua sade e de sua dignidade, conforme Art.
15, 16, 17 e 18 do Estatuto da Criana e do Adolescente. Logo, podemos concluir que Sara no tem o

direito, no exerccio de suas funes parentais, de obrigar que suas filhas se submetam a cirurgia de
transplante.
DOS DIREITOS E DEVERES DE ANNA (DOADORA): Conforme previsto no Art. 5 do
Cdigo Civil brasileiro, no h possibilidade de sentena judicial que emancipe Anna, mesmo que
medicamente, de seus pais, visto que a criana conta com seus 11 anos e, portanto, no tem seus 16
anos completos. Entretanto, o mesmo ordenamento jurdico prev, no Art. 15, que Ningum pode ser
constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento mdico ou a interveno cirrgica. Desta
forma, no h, para Anna, nenhum dever jurdico de evitar a morte da irm, pois, em um Estado de
Direito Democrtico, que preserva a dignidade, a liberdade e a autonomia das pessoas, ningum tem o
dever de submeter-se a um procedimento mdico contra a sua vontade, nem mesmo se esse
procedimento for necessrio para salvar a vida de outrem.
Teria Anna ainda se omitido de prestar socorro irm, contribuindo para a assim para morte
prematura de Kate? Ao incio do processo, Anna contava 11 anos de idade, e logo seria inimputvel, de
acordo com o nosso sistema legal e constitucional, que estabelece a inimputabilidade penal at os 18
anos. Portanto, seria impossvel falar em responsabilidade penal de Anna. Mesmo que Anna fosse
maior de idade, ainda sim seria inadmissvel responsabiliz-la criminalmente pela morte de sua irm,
porque a situao abordada no filme no se enquadra na tipificao de crime de omisso de socorro:
Art. 135 - Deixar de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, criana
abandonada ou extraviada, ou pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou no pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pblica Cdigo penal brasileiro.
No caso abordado no filme, fica claro que h perigo direto Anna, uma vez que h risco
inerente a qualquer procedimento cirrgico. Logo, no h tipificao para crime de omisso de
socorro. Alm disso, conforme prev o Art. 13 do cdigo penal, necessria relao direta entre a
causa (omisso de Anna) e o resultado (morte de Kate), que no pode ser provada uma vez que no
podemos afirmar com certeza que Kate sobreviveria caso Anna no tivesse se omitido, e o transplante
tivesse sido realizado. No h, ento, que se falar em relao direta de caso e efeito.
DAS RESPONSABILIDADES DA EQUIPE MDICA: Ortotansia, ou eutansia passiva, a
omisso de uma indicao teraputica para determinado caso. Tambm pode ser definida como a
omisso de toda interveno que possa prolongar a vida de forma artificial, quando a interveno
acarretar sofrimento ao paciente sem que haja qualquer perspectiva de recuperao de seu estado de
sade.
Com a edio da Resoluo 1.805/2006, pelo Conselho Federal de Medicina, autorizando a
ortotansia, houve ao do Ministrio Pblico Federal do Distrito Federal requerendo a suspenso da
resoluo, pois a conduta estaria em desacordo com o Cdigo Penal. Houve concesso de medida
liminar, suspendendo a Resoluo, sob o argumento de que a ortotansia no encontraria amparo na
legislao. Por fim, em dezembro de 2010, nova deciso judicial derrubou a liminar suspensiva e a
Resoluo voltou a ser aplicada. Nesse perodo de suspenso, o CFM editou seu novo Cdigo de tica
Mdica com nova previso de interrupo do tratamento e projeto de lei que regulamenta a ortotansia
ganhou velocidade no Congresso Nacional.
Na prtica, comum pode-se extrair que a ortotansia no pode configurar qualquer tipo
penal. A finalidade do mdico que interrompe tratamento ineficaz reduzir o sofrimento do doente
sem chances de cura. Na ortotansia, o mdico busca evitar a distansia, ou seja, para no manter
procedimentos mdicos desnecessrios e inteis, que somente causam mais dor e mais sofrimento

famlia e ao paciente terminal de uma doena incurvel, desliga os aparelhos que esto mantendo vivo,
artificialmente, e, assim, deixa-o morrer naturalmente. E isso no pode ser tipificado como
homicdio. Assim, como Anna no pode ser responsabilizada pela morte de Kate, to pouco a equipe
mdica poder sofrer qualquer sano penal.
DOS DIREITOS DE KATE (PACIENTE): indiscutvel a inviolabilidade do direito vida
tutelado no Art. 5 da Constituio Federal, logo no h o que se discutir sobre o direito de Kate
receber tratamento mdico e ter acesso a todo e qualquer procedimento mdico que lhe possa salvar a
vida. Entretanto, h a hiptese de que o paciente recuse o tratamento mdico, seja por medo dos
possveis riscos envolvidos, ou seja pelo temor de sofrer as consequncias da distansia. De acordo
com Art. 15 do cdigo civil, Kate no pode ser constrangida a submeter-se a tratamento mdico ou
interveno cirrgica.