A Prova de Fogo
A Prova de Fogo
A Prova de Fogo
Consuelo de Castro
(Texto adaptado)
Personagens:
Jos Freitas
Jlia
Rosa
Frederico
Mrio
Dartagnan
Cebola
Vilma
Lus
Ana
PRIMEIRO ATO A Assemblia
RDIO ESTA ANARQUIA PRECISA ACABAR. A JUVENTUDE EST SENDO
CONTAMINADA POR IDIAS EXTICAS QUE ACABARO CONDUZINDO O
PAS AO COMUNISMO, ESCRAVIDO. O GOVERNO EST TOMANDO SUAS
PROVIDNCIAS. FORAM DESOCUPADAS FORA QUASE TODAS AS
FACULDADES QUE SE ENCONTRAVAM TOMADAS PELOS ESTUDANTES.
APENAS UMA DELAS RESISTE: A DE FILOSOFIA. PEDIMOS... IMPLORAMOS A
ESTES INCONSCIENTES QUE AINDA SE OBSTINAM EM PERMANECER
ENTRINCHEIRADOS NO RECINTO, QUE O ABANDONEM, OU ENTO, ELES
TERO O QUE MERECEM: DENTRO DE TRS DIAS A POLCIA INVADIR
ESTA POCILGA DE AGITADORES.
Z Colegas, peo que se mantenham em calma. Tentem no embananar. Temos
que decidir j o que vamos fazer. Torno a repetir. A polcia nos deu um prazo de
trs dias para evacuar a faculdade. Isto sob pena de repreenso violenta. Ou ns
encerramos a ocupao, ou eles nos massacram.
MRIO Um aparte, colega.
Z A mesa no permite apartes.
DARTAGNAN E quem a mesa pensa que ?
MRIO Isto ditadura do colega Freitas!
Z No permito apartes e acabou. O ultimatum da polcia no inveno minha,
nem sensacionalismo da imprensa. um fato. Silncio.
MRIO - Quero o meu aparte. A mesa no pode...
Z No vou permitir apartes, nem embananaes enquanto no desenvolver
meu raciocnio. Continuando... se permanecermos aqui, colegas, eles nos
massacraro...
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LUS Ento vamos ficar quietinhos, estudando como o governo quer, nos livros
que o governo quer, e vamos aceitar tudo.... a represso, as passeatas, a priso
dos companheiros, a represso s greves operrias... a censura artstica. Tudo.
S porque o Freitas disse que ns no somos vanguarda. T bem?
ANA Se a gente no se mexe primeiro, ningum se mexe. Se no somos
vanguarda, no sei. Mas quem pe fogo na coisa sempre a gente.
JLIA Tambm acho.
Z Ningum vai querer saber de perder sangue, salrio, merda nenhuma, por
causa da nossa linda reforma educacional....
ANA No so eles que tm que botar fogo. J disse. Somos ns que devemos ir
at eles, mostrar que o negcio no pedir coisas ao governo. impor!
Z At a, muito bem. E ficando aqui, para ser massacrada, voc vai conseguir
transmitir ao operrio isto que acabou de dizer? Ele vai se assustar.
JLIA Vamos discutir ns. Deixemos o Freitas com o medo dele. Um
presidente que s serve para emperrar as coisas, depe-se.
Z Continuo reafirmando. A permanncia aqui, depois deste ultimatum,
contraproducente para os nossos objetivos. suicida, irresponsvel e at mesmo
reacionria.
ANA De que objetivos o colega fala?
Z A Reforma educacional. Ou no mais este?
MRIO Freitas: voc perdeu a noo das coisas?
JLIA Como que pode haver uma reforma educacional, ou outra qualquer,
real, dentro do sistema capitalista podre em que vivemos? Z, voc acha
possvel?
Z No acho. A luta pela reforma educacional... deve ser a meta inicial dos
estudantes. Assim como a luta por um aumento de salrio uma luta dos
operrios. Quando se percebe no s que o governo no d o que pedimos, mas
reprime violentamente quem se arroga o direito de pedir... Ento que...
CEBOLA A ento que se deve impor... A ele! A ento que se deve parar de
dialogar com quem quer falar sozinho.
Z O colega Cebolinha ainda no percebeu que s ns aqui, dentro dessa
escola, sabemos que a reforma que pedimos na verdade impraticvel e
preciso imp-la? A maioria dos estudantes no sabe disso.
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JLIA E da? provando pra eles que a reforma um sonho que nunca vai se
realizar, porque vivemos numa ditadura, que voc vai botar ele na rua?
Protestando contra o governo?
Z Exatamente, brilhante colega Jlia! Eu vejo com alegria que a colega ainda
no perdeu a capacidade de raciocinar. exatamente isso! O pequeno-burgus
comea a ver que como dizia o colega Cebolinha se no me engano dentro de
um sistema capitalista podre no pode haver reformas reais.
JLIA Responda Freitas. Primeiro a gente prova pro estudante que a
universidade est falida. Depois enfia na cabea dele que a reforma universitria
inevitvel. Depois que ela tambm impraticvel e depois...
Z Depois o cara percebe que a luta mais ampla, Jlia. No adianta mudar o
ensino, tem que se mudar o sistema inteiro, a sim...
MRIO Pois , muito complicado o seu raciocnio Freitas. S que agora no
hora de discutir reforma. O negcio a gente partir pro pau, pra violncia mesmo.
Esperar o tal esclarecimento das conscincias, empulhao sua.
Z E o que que voc prope ento?
MRIO Que se deixe de lado esse negcio de reforma. Ns j sabemos que
utopia e ponto.
Z Ah ento entendi... Vocs propem que faamos dessa faculdade uma
trincheira... Uma trincheira onde seremos massacrados, os dez. Pena que em
Sierra Maestra tenham sido doze, seno dava certinho. O Fidel fez a revoluo
deles com doze caras diro Cebolinha, Jlia e Mrio, os mais exaltados. Mas eu
respondo... Primeiro que o Fidel no fez com doze, e segundo, nas condies dele
at eu fazia.
DARTAGNAN Vem c, voc est recitando poesia, fazendo metafsica,
bancando o palhao ou o qu?
Z ! isto que eles esto propondo... Que fechemos a faculdade para balano
e coloquemos na porta uma placa com os seguintes dizeres: A universidade est
fechada at o dia da Revoluo Socialista.
FRED E revogam-se as disposies em contrrio.
CEBOLA Colegas! No se deixem levar por esses raciocnios reacionrios,
pacifistas, moscovitas!
JLIA Gente, a histria um parto!
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VILMA Dormi l sim! Alis, aquela sala me d um medo! A gente no podia pelo
menos tirar aquelas fotografias dos catedrticos de l? Parecem umas mmias,
cruz credo!
LUS Vilma, porque voc no tapa a cara dos catedrticos com um cobertor?
VILMA No adianta! A simples presena daquela velharia me d pavor. Cada um
mais velho e enrugado que o outro.
ROSA Um dia voc tambm vai ficar velha e enrugada.
Z Vai ficar?
(Vilma sai)
LUS - E voc Z? Vai dormir na sala de grego? Porque se no for voc, vou eu.
Z Vou sim. Depende com quem. Aquela sala muito triste para um pobre
corao solitrio.
JLIA Quem distribui os postos aqui sou eu.
(Dartagnan chama fora da cena)
DARTAGNAN Pessoal, pessoal!
Z Que foi, hein, Dartagnan? Aconteceu alguma coisa?
DARTAGNAN Vem vindo um carro estranho com dois sujeitos dentro.
JLIA Que carro ?
DARTAGNAN Pera que eu vou ver. Ah! No tem nada no! o pai da Rosa
Prado...
LUS De novo? Esse homem vai ficar rondando a escola todo dia? Qualquer dia
desses leva um morteiro na cuca e no vai nem saber porque.
ROSA o meu pai mesmo, ? Com quem?
DARTAGNAN Com outro velho.
ROSA o pai do Frederico. D um berro a pra ele e diz que nem eu e nem o
Fred estamos aqui.
DARTAGNAN Como mesmo o nome do seu pai?
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ROSA Jarbas.
DARTAGNAN Seu Jarbas! , velho patusco! Seu Jarbas, sua filha no est
aqui! H? No! Nem ela e nem o noivo dela. No sei onde eles foram.
ROSA Ele foi embora?
DARTAGNAN Foi.
JLIA Lus, voc pode ir pro telhado. J sabe o que tem que fazer, n?
LUS Sei. Depois de receber a senha atirar duas molotovs. S usar o revlver
em caso de ataque. isso?
JLIA Certo. Pode subir. Daqui a pouco eu mando outra pessoa pra ficar l.
LUS De preferncia mande a Vilma.
JLIA Vou pensar no seu caso.
LUS Fred, Fred! Olha seu pai passou a procurando voc e sua noiva! O velho
tava uma ona. Ele disse que vai cortar a sua mesada se voc no voltar hoje
mesmo pra casa.
FREDERICO Srio? E por que no me chamaram?
LUS Ele estava muito bravo! Ficamos com medo dele te dar uma surra.
FREDERICO Ah! No me enrola... srio mesmo?
LUS Gozao, bobo. Mas que a sua mesada um dia desses ainda vai pras
picas, ah vai. O meu velho cortou a minha no de hoje.
FREDERICO Ah v amolar outro, seu chato!
(Vilma entra em cena)
VILMA Ai Jlia... aquela sala t muito escura.
JLIA Vilma, volta pra congregao.
VILMA Isto crueldade, Jlia! Eu j no disse que detesto aquela sala?
JLIA Mas algum tem que ficar l, Vilma.
VILMA Eu quero subir pro telhado. Quero ficar com o Lus.
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na mesa de um charlato qualquer? Aqui ! Voc quis o filho. Agora quer que eu
tire a criana pra te deixar em paz, por causa da Rosinha Prado.
Z Eu jamais quis ter o filho. Eu no tenho cara de pau de meter uma criana
inocente numa guerra como essa. Eu tenho um papel histrico a cumprir.
JLIA Eu tambm tenho um papel histrico a cumprir. E por isso que eu no
vou arriscar a minha sade por tua causa.
Z - Que que voc vai fazer ento?
JLIA Eu vou ter o filho.
Z O problema seu. Voc livre, maior e vacina.
JLIA - Voc um covarde.
ROSA Jlia, pensa bem. No perigoso. Eu conheo um mdico e dinheiro no
problema. Voc no sabe a loucura que voc est fazendo.
Z - Deixa ela Rosa. Cada louco com a sua mania.
(Julia sai)
MICROFONE (MRIO fora de cena) Colegas, a sopa est pronta. Peo aos
colegas que comam estritamente o necessrio em virtude da escassez de
mantimentos. Obrigado.
Z - Vai jantar Rosinha?
ROSA No estou com fome.
Z Ento vamos pro telhado. Quero conversar muito srio com voc.
ROSA Mas e a Jlia? O Fred? Eles vo se invocar.
(Todos entram; Z e Rosa saem) Msica Batalho do apetite
MRIO - Ei, Presidente. Onde vai nessa pressa?
FRED Rosinha, voc no vai jantar?
CEBOLA Vocs vo pro telhado?
Z Eu e a Rosa vamos dar planto l.
(Jlia fala pro Fred)
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FRED - Foi o Freitas, como eu dizia, que nos explicou a conjuntura poltica do
pas. Eu e a Rosa estvamos por fora.
JLIA De conjuntura em conjuntura ele vai levar a tua noiva pra cama.
ANA E pior, pior de tudo, que na cadeira de grego.
FRED E que tem a famosa cadeira de grego?
LUS No tem janela pra gente fiscalizar a moralidade do movimento. A
moralidade de que o Freitas tanto fala.
FRED - Isso recalque de vocs. Inveja!
(Fred sai)
CEBOLA Dartagnan, voc acha que com toda essa m fama, o Z consegue
chegar a presidncia da UNE?
DARTAGNAN Nunca. A posio oportunista dele j t mais do que manjanda.
Agora, o bom mesmo, o quente... o Cebola! Voc mesmo Cebola, vai ser o
nosso cabea pra presidncia da UNE.
CEBOLA Eu, hein, boi. Estou por aqui com o movimento estudantil. Depois
dessa que partir pra coisas mais srias. Estou de saco cheio da pequenoburguesia.
LUS Grupo. O cara no pode esquecer que o nosso objetivo em ultima anlise
a revoluo, e no reforma educacional.
(Risos)
LUS Vocs riem? Tem nego a que j esqueceu que a ditadura do
proletariado.
VILMA - No querendo bancar a fofoqueira, mas Jlia... esse teu dio pelo Z
ultrapassa as divergncias polticas.
JLIA No entendi.
VILMA - Me parece mais uma certa dor de corno. Voc estava gamada pelo Z,
no estava? No vai dizer que no que todo mundo viu o porre que voc tomou no
dia que ele te deu o fora. E esta histria tua com ele mais antiga do que a
prpria UNE.
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JLIA - E se for cimes mesmo? Voc tem alguma coisa a ver com isso?... Ah
bom. Mas acontece que no . O problema eminentemente poltico.
MRIO Mudando de assunto... Vocs sabiam que na ultima passeata do ano
passado, o Z foi conchavar o delegado e o governador pra ver se eles
seguravam as pontas com a represso. Vocs viram que nada aconteceu com a
gente?
VILMA - Pelo menos um mrito o Freitas tem. Se foi l se humilhar pro delegado,
governador, o diabos... foi pelo bem da gente.
JLIA - O que que te deu pra defender o Freitas desse jeito? E quem te disse
que meu dio por ele cimes, gamao essas merdas?
VILMA Primeiro: o porre que voc tomou todo mundo viu. Chorava de cimes da
Rosinha Prado. Segundo: todo mundo sabe que voc est grvida de trs meses
e que o filho do Freitas. Voc mesmo espalhou. Parece que se orgulha disso.
JLIA - Olha o nvel.
VILMA - Voc no perguntou?
JLIA (mudando de assunto) Bom gente... O importante agora discutirmos...
LUS discutirmos como vamos derrubar o Z da presidncia do Grmio.
Correto?
JLIA Correto. Corretssimo companheiro Lus.
(Todos saem. Rosa e Z entram)
ROSA Que frio.
Z - Quer que eu pegue minha japona.
ROSA No, assim j melhora. Nossa como voc est cansado.
Z Estou sim. Mas agora eu j estou legal. Voc me acalma. Sabe que tem os
olhos mais bonitos que j vi?
ROSA No diga... Esta velha...
Z Voc parece uma menina assustada. Voc linda. Linda mesmo. Eu estou
apaixonado por voc. Ridculo, no?
ROSA Ridculo por que? Amor amor em qualquer lugar. At no meio de uma
guerra como esta.
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Z Voc no entende nada de nada. Voc uma menina romntica que acredita
nos bons sentimentos. Nunca viu maldade ou sujeira em nada. Mas isso que eu
gosto em voc... Esta burrice... essa alegre inconscincia.
ROSA Eu tenho cimes de voc com a Jlia. Ela parece tua dona. Nunca vi.
Z Eu estou apaixonado por voc, j disse.
ROSA No podemos continuar com isso. Voc j sabe que no vai dar certo. Eu
venho de uma famlia que nunca ia te aceitar com essas idias que voc tem e
essa vida que voc leva.
Z - Manda merda a famlia e pronto. Eu mandei a minha merda faz um
monto de tempo.
ROSA E a gente ia viver de que? De brisa? Ou voc toparia trabalhar pra
sustentar uma famlia.
Z No entendi esse negcio de casamento no, Rosinha.
ROSA Um dia a gente ia ter que casar, no ia?
Z Casar? Eu no, Rosinha. O casamento uma instituio falida. Eu sou pela
revoluo total na maneira de ser e agir.
ROSA Eu sei, voc vive me dizendo isso. Mas eu no posso continuar
namorando com voc sendo noiva do Frederico. Ou isso tambm ser pequenoburguesa?
Z Larga dele e pronto. Pra que esse negcio de aliana, casamento?
ROSA - Z... voc sabe que um po?! Meu lder querido, meu guerrilheiro
querido. Me d um beijo?
Z No. Seu eu te der um beijo pra valer. Faz um ms que a gente est nesse
chove no molha. Se comear pra acabar, entende? O telhado no l muito
romntico. Se voc quiser a gente pega a sala 19, uma sute presidencial. E l no
prdio da psicologia, quer? Voc vai ter largar esse negocio reacionrio de ser
virgem. Que preconceito ridculo.
ROSA As coisas no so to fceis assim.
Z Muito mais fceis do que voc
imagina. Quer ou no?
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sem a menor considerao. Voc envenenou a massa contra mim, Por uma
vingana pessoal.
JLIA - Ningum consegue convencer uma massa de mil criaturas a votar contra a
vontade.
MRIO - Ora Z, at Napoleo caiu um dia... larga de ser demagogo.
ROSA - Vocs no vem que o Z ta arrasado? Parem de pisar em cima dele!
VILMA - Depor o cara, v l.. Mas esta pichao barata... J demais.
FRED- Respeitem o sofrimento dele.
Z - Eu no preciso de carpideiras. Isto poltica, no enterro nem novela de
televiso.
ANA - Tem razo o Freitas. Rei morto, rei posto.
Z - Hoje fiquei tanto tempo fora... porque tinha um encontro com uns caras
importantes... uns caras que esto por dentro da jogada poltica... em geral.
JLIA - Foi conchavar. Ta. Foi conchavar. No falei? Aposto que foi falar com
algum generalzinho progressista por a, pra deixar a juventude protestar
vontade.
Z - V a merda! Porra-louca... Cretina! No fui conchavar ningum... Ouviu bem?
MRIO - No baixem o nvel... Afinal, Freitas, que raio de reunio foi essa que
voc ficou tanto tempo?
DARTAGNAN - Coisa de burocrata! Eles precisam fazer quatrocentas reunies pra
decidir at se soltam um peido.
MRIO- Olha o nvel.
Z- Se interessa saber... a reunio foi com uns caras que tem clareza do que esta
acontecendo no pas. So pessoas que no ficam enfurnadas numa trincheira
idealista, brincando de cowboy com a polcia.
JLIA - E quem eram essas Conscincias iluminadas? O que esses caras
disseram? Chegaram concluso de que existe represso? Imperialismo?
Exrcito?
Z - Fica quieta! Escutem todos. Vocs sabem que esto explodindo greves
operrias em todo o pas?
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FRED - Faz um ms que voc est plantada aqui; contra o teu pai, contra a
polcia, contra um milho de coisas. Entendeu agora?
ROSA - Voc esta distorcendo tudo. No nada disto.
FRED - O Z foi deposto. Foi chato, foi cruel, mas aconteceu. Ele mesmo nos
explicou. O problema no o individuo, mas a idia, Rosa. Mas a gente ficou aqui
e j temos idias que no pertencem ao Freitas, ou Jlia apenas. Pertencem a
ns dois. nossa conscincia. A tudo o que vimos e no esquecemos nunca mais.
ROSA - Puxa! Que discurso! Voc est entusiasmado mesmo com o herosmo
deles. Mas isso passa.
FRED - Ns vamos passeata e acabou-se o papo.
ROSA - O que que eu, Rosa Prado, filha do dono da fbrica de latas Vitria.
Tenho a ver com o imperialismo americano?
FRED - Voc vai comigo.
ROSA - No tenho nada a ver com essa mania de guerrilheiro que te deu de
repente.
FRED - Como diz o Freitas- o dever te todo revolucionrio fazer a revoluo.
ROSA - No foi o Freitas que disse isto, seu tonto. Foi o Guevara...
FRED - Tanto faz. Est dito. Vamos embora.
ROSA - Ento vamos de uma vez. Droga! Voc vai ver o cano que ns vamos
entrar!
(Rosa e Fred saem. Entram Jlia e Z.)
Z - Eu no vou mudar de posio. Mas eu vou passeata.
JLIA Ai Z...
Z - Chega de falar nisso. Eu vim aqui pra avisar o pessoal que a cidade est toda
policiada. Cad todo mundo que estava aqui?
JLIA - Foram pro ptio. Voc queria falar com quem? A sua namorada foi embora
com o noivo dela.
Z - Voc viu eles indo embora?
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JLIA Grave pra mim tambm. Eu estou com medo de fazer o aborto.
Z Voc no tinha resolvido ter a criana? Mas voc complicada mesmo,
heim?
JLIA Z, a gente tem uma luta pela frente. A gente podia fazer tudo junto. No
era isso que voc dizia?
Z guas passadas. Mas o que voc tem na cabea? Diz que vai ter um filho,
de repente muda de oito a oitenta. Voc est precisando de um psicanalista.
(Os dois descem da escada)
JLIA Z... eu estou numa confuso... se voc imaginasse... Eu tento te
esquecer... eu tento, mas eu no consigo. Por mais que eu faa fora, no consigo
te tirar da cabea, sabe? E mesmo aqui, onde eu tenho um papel a cumprir... no
sei... s vezes me d um aperto aqui dentro, uma angstia... fico com vontade de
chorar tanto... horrvel, Z! Eu te amo!
Z Jlia... Jlia, pra com essa choradeira, por favor. Acabou, acabou.
JLIA Z...
Z Alm do mais, eu te entendo sim. Fossa por fossa, a minha est bem durinha
de agentar. A Rosa me deixou meio baratinado, tambm.
JLIA Ela foi embora, Z. A gente podia... pelo menos tentar de novo...
Z Quer que eu te d um beijo e fique por isso mesmo, que nem filme
americano?
JLIA E se eu no tivesse feito o que fiz, voc...
Z Ia dar na mesma. E eu j no sentia mais nada por voc. E depois, voc
mentia pra mim, que estava tomando a plula e no estava. Resultadoengravidou. E aposto que nunca me perdoou por eu ter... tirado a tua virgindade.
JLIA No! Isso no! Eu estava consciente dos meus atos quando fui pra cama
com voc. E eu j resolvi... eu vou ter o filho.
Z Vou avisando. No me responsabilizo por nada. Depois no quero choradeira
por cima de mim.
JLIA A Belinha at me marcou um aborto hoje, s 10 horas da noite. Eu estava
decidida a tirar, mas na ltima hora me deu um medo, um desespero to grande...
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Z- Voc vai ver. Eles esto cagando montes pra fama que vo ter. Esto com
tudo na mo. Poder, armas e apoio externo tambm.
DARTAGNAN- Eles sabem que o movimento estudantil que nem merda. Quanto
mais mexe mais fede.
Z- E vo deixar feder. O poder est com eles.
JLIA- Vamos resistir! Vamos resistir e pronto!
(Toca o telefone)
JLIA- Al? Quem? Latas Vitria? Que isso?
ROSA- Me d aqui. a secretria do meu pai.
(Rosa pega o telefone)
CEBOLINHA- Electra comeou assim!
ROSA- Al... pai! Que que o senhor quer de novo? Eu sei... eu ouvi. Aqui tem
rdio. Como? Ah... papai... faa o favor de no fazer drama. Eu j estou nervosa.
DARTAGNAN- Est na hora pessoal. Muita calma. Quinze pras seis.
VILMA- L fora esto todos em grupos de dez.
LUS- Ento vamos sair todos juntos!
CEBOLINHA- Chi! Cad o amonaco?
MRIO- Se aqueles carniceiros resolverem explodir bomba de gs, quero ver
como que a gente se arranjar sem o amonaco!
ROSA- O senhor no manda em mim...
JLIA- Vamos embora pessoal, dez pras seis.
FRED- Desliga, Rosa, depois voc fala com seu Jarbas.
ANA- Ningum achou o amonaco?
MRIO- Nem as rolhas. Quero ver, a gente j tem pouca coisa pra se defender e
ainda desaparece tudo!
VILMA- E os cachorros? Aqueles cachorres outra vez? Ser que...
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ROSA - Fred no sei que raio de mania te deu. No sei que herosmo besta, Fred,
voc gr fino eu gr-fina, no fomos educados para sofrer, fomos criados na
piscina do clube e na igreja, nos estamos aqui de sapos. Entende. De sapos!
Z - Quer calar a boca. Largue o Fred em paz, a porta esta aberta. Se quiser sair
s sair.
ROSA - No vou sem ele. Ele meu noivo. No vou deix-lo aqui sozinho com
este bando de alucinados, e pior nas tuas mo...
Z - Estou preocupado com outra coisa...
ROSA - Com a Jlia, suponho.
Z - com ela mesma. Ela saiu comigo da passeata, depois fomos tomar uma
coca-cola juntos num bar. Ela pegou um txi, disse que tinha hora marca no
mdico... s dez horas... No sei se ela fez ou no fez o aborto. Se correu tudo
bem. Pode ser que tenha pegado ela quando ela saiu do bar tinha milico bea
no lugar. Por isso estou preocupado.
FRED - Z... Se a Jlia fez o aborto, se isso que te preocupa tanto... Posso te
garantir que isso no tem galho. Olha, eu conheo mil casos... No tem o menor
perigo este negcio de aborto.
Z - Voc entende disso?
FRED - mais ou menos... Eu sei que no tem problema.
Z - ela estava de trs meses e l vai pedrada. Isto no complica?
FRED No... Acho que no. Aborto hoje em dia como parto normal... At mais
simples.
Z - como parto normal?Ento di pra burro.
ROSA - Claro que di.
Z Doer... Deve estar doendo tanta coisa em tanta gente agora. O p do cara
baleado. O estmago do cara que ningum sabe se o Lus ou no.
FRED - E a conscincia de muita gente.
Z - A conscincia do Cebola deve estar doendo estas alturas.
(Cebola e Dartagnan entram)
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ROSA Chega de recordao! Ns temos mais o que fazer que ficar lembrando
isso. Eu...
Z Fica comigo...Fica comigo, estou dizendo!
ROSA Voc esqueceu a Jlia, no foi? Voc me esquece tambm. No assim
a tua dialtica?
Z . A dialtica me ajuda. Voc uma burguesinha cretina. Ainda bem que
assim. Eu no ia suportar por muito tempo uma mulher to frgil. Um bibelozinho
apavorado e egosta como voc!
ROSA E eu no ia suportar um homem sem profisso definida. Sem casa, sem
nada. Um...ex-lder estudantil, cujo futuro viver s custas de um partido poltico
qualquer, ou ento, de emprstimos caridosos desta burguesia que voc tanto
odeia. Eu vou me casar. No sou mais virgem. Mas o Frederico vai compreender,
eu sei que vai. Ele tem que compreender. E vou esquecer esta tragdia que vi
hoje, Freitas.
Z Bem, sobe...vai l buscar teu noivo. Eu tenho nojo de voc.
(Rosa sai. O telefone toca)
Z Al? 51-4725. Z Freitas. O senhor discuta com ela esse problema. Leu no
jornal? . A imprensa burguesa me fez famoso. J disse que o senhor deve falar
com ela e discutir com ela. Um dia esta tua fbrica vai ser do po-vo! Do povo!
Rosa... Seu pai...
(Rosa entra)
ROSA Al...O Freitas assim mesmo. No tem educao. Eu sei. Eu quero sair
daqui, mas o FREDERICO quem no quer. No grita! Fred!!! (Fred entra) Papai
falou que quer falar com voc.
FRED Seu Jarbas...se ela quiser, que v. Vou ficar. Chame um mdico, ento
seu Jarbas. No posso fazer nada pelo senhor... Enfarte no assim, seu Jarbas.
Calma...E quem rompe ou no o nosso noivado somos ns dois.
ROSA Que foi que ele disse?
FRED Ah...o negcio do eterno enfarte. Disse que dona Vernica j mandou um
mdico. Que sua casa est um inferno...por sua causa.
ROSA Eu quero sair daqui! Eu quero ir embora daqui!
(Mrio, Dartagnan e Cebola entram)
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Z No diga! Que menino mais esclarecido! E da que imperialismo norteamericano? Neste caso vocs deveriam estragar o pas todo, porque tudo aqui
deles.
MRIO Aos poucos...Z, aos poucos. Calma... as coisas se resolvem aos
poucos. Hoje um caminho de coca-cola, amanh a coca-cola inteira...
Z - ...Depois de amanh vocs dinamitam o prdio do Pentgono e finalmente a
Casa Branca. este o plano?
MRIO Mais ou menos. Voc no achou um exemplo histrico?
Z Um exemplo histrico.
MRIO Histrico. Insisto. Histrico no. Histrico. Um exemplo de coragem e
ousadia!
Z Da porralouquice da mais cretina.
MRIO S os porraloucas fazem a histria!
Z Eles atrapalham! Os porraloucas s atrapalham! Vamos virar lenda. Lenda e
piada.
MRIO Cuba, por exemplo, t a. Uma porralouquice histrica. Que deu certo.
Z Se o Fidel te visse falando isso...te botava no paredo. Ou ento, te
misturava l com os bichas, e te punha de escanteio da sociedade. Cuba no a
mesma coisa que a Faculdade de Filosofia. um negcio muito srio.
MRIO No confunda Cuba com a Faculdade de Filosofia, Freud com a
Cassandra Rios...
Z - Voc devia trabalhar na televiso. No programa do Chacrinha. Tem senso de
humor. S que agora j est enchendo o saco. Pessoal...S uma pergunta. Vocs
esto sabendo que no vai ser uma luta igual, no esto?
DARTAGNAN Como assim?
Z - Vocs esto sabendo que a polcia vai acabar com isto aqui. Que no
h...possibilidade de a gente vencer a batalha.
DARTAGNAN Encerra, Z. No adianta. Ningum arreda o p daqui. Daqui no
saio e daqui ningum me tira.
MRIO Ainda bem que todo mundo melhorou de humor!
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Z Ela tambm quis. Voc devia dar uma surra nela tambm...
ROSA Fred...Fred...olha pra mim...Vamos embora. Eu te explico tudo l em
casa.
FRED Sai da minha frente.
ROSA Frederico. Pra quem voc ia telefonar, Frederico?
FRED Por uma questo de honra eu ia ligar pro teu pai, pra avisar o nosso
rompimento. Mas nem isso eu vou fazer. Faa voc mesma. Eu quero que voc se
dane!
(Fred sai)
ROSA Perdi meu noivo...Se eu pudesse, seu eu pudesse. Eu te matava. (Rosa
liga pra casa) Al...mame...O qu? Nooooooo!
Z O que foi? Fala! Que foi?
ROSA Meu pai...meu pai...
Z Que que ele tem?
ROSA Meu pai teve um enfarte. Meu pai vai morrer! Meu pai! Algum tem um
carro a pra me emprestar? Meu pai vai morrer. Perdo, papai!!!
Z ROSA, voc no pode sair neste estado!
(Rosa sai. Mrio, Dratagnan, Vilma e Cebola entram)
MRIO Que berreiro foi este?
Z Tragdias burguesas. A Rosa perdeu o pai e o noivo.
DARTAGNAN O pai da Rosa morreu, ento? Coitada.
Z Sofreu um enfarte. E o Fred atirou a aliana no cho.
DARTAGNAN Voc tambm tinha que falar alguma coisa!
VILMA- Ento por isso que voc est mal, Z? Voc est mal. Est passando
mal. Parece que de repente a energia acabou. Eu tambm me sinto velha.
Cansada. Toda hora eu penso no Lus. Tenho quase certeza que ...o cara baleado
foi ele. No consigo saber se o que sinto dor, dio ou vontade de achar uma
sada. Eu j no sei se continuar aqui pra fazer uns cadveres a mais a melhor
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coisa. No sei. Eu fico. Fico,sim. Estou sem foras pra arredar o p. Vai ver eu
quero mesmo que a polcia me acabe de uma vez.
Z O suicdio reacionrio, Vilma.
VILMA No tome os outros por mim. Eu sei que a minha atitude covarde. Sei
que estou aqui porque quero morrer. Sei que e suicdio, sim. Os outros talvez no.
Eles acreditam piamente que correta a atitude de ficar at o fim. O meu
problema o desespero. S isso. No me leve a mal.
Z Gente! Ouam de uma vez! Nosso movimento importante demais pra
acabar num suicdio coletivo.
CEBOLA Agora tarde. Ns decidimos ficar e vamos ficar. Ns estamos dando
um exemplo a todos os que ainda no conheciam a violncia. Estamos provando a
violncia. Se a histria do movimento estudantil precisa de bucha de canho,
estamos a, ensangentados.
Z Idiotas.
DARAGNAN No somos idiotas, Z.
Z Idiotas.
DARTAGNAN Escuta, Z...
Z Bucha de canho! Morrer annimo, sozinho e feito bicho. Merda!
MRIO No vai haver morte aqui dentro. Vai haver priso, isso sim. E vamos
resistir, pra que todos saibam que resistimos.
Z Menos dez. Menos dez criaturas conscientes, numa luta que deveria ser de
muito, muito, muito mais.
(Ana entra)
ANA Gente. Ateno. Eu tenho notcias... Sa de l agora. Desde as oito, que foi
quando me pegaram, que esto me interrogando. Consegui bancar o dbil mental.
Me fiz de cururu, eles perguntaram uns troos, e me deixaram sair. Soltaram
cinqenta. Os outros cem vo ficar presos at segundas determinaes. A polcia
vem vindo pra c. A inteno deles no matar, nem nada, mas se houver
resistncia eles atiram. Tm ordens. Ordens de encanar todos vocs.
ANA - Tenho a lista aqui.
VILMA E o Lus? E o Lus?
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ANA - A lista est com os nomes dos soltos e feridos. Foi um custo conseguir
isto...
Z Voc sabe da Jlia? Fala, Ana. Fala, tudo o que voc sabe...
ANA A Jlia... estava l. Eu vi ela.
Z E da?Ela estava bem? Torturaram ela?
ANA - Torturaram sim. No sei o que fizeram com ela. Sei que foi torturada. No
sei se arrancaram as unhas dela, se deram choque eltrico, se espancaram...sei
que foi torturada. E abortou. Teve uma violenta hemorragia. Quando eu sa de l
ela estava passando muito mal. Custei a conseguir informao sobre ela na
enfermaria. Ela perdeu sangue bea. Por isso eles disseram que ela no
escapa. Mas quando eu sa de l ela no tinha morrido ainda. No fiquei sabendo
de mais nada.
Z E espancaram...trituraram ... como se ela fosse um porco. Ela vai morrer,
sim. Vai morrer, na mo daqueles aougueiros. Vai morrer ensangentada como
uma vaca no matadouro. Fizeram o aborto por ela. Pois sabiam que ela queria ter
o filho. Nem perguntaram se queria ou no! No respeitaram a vontade dela,
porque...no existe vontade. Existe violncia, s isso. Carniceiros.
ANA Vilma...O cara baleado...Foi confirmado...foi o Lus.
VILMA E ele morreu? Ana, ele morreu?
(Ana abraa Vilma. Vilma corre em direo escrivaninha e pega um
revlver)
VILMA Vamos ficar. Vamos ficar aqui, todos ns. Eles vo se esbaldar. Vo se
empanturrar...Vo vomitar de tanto sangue. Somos seis agora. Seis animais pro
matadouro deles. Todo mundo vai ficar aqui. Atiremos neles. Atiremos neles e eles
atiraro em ns. Claro, no? No, Freitas? Todossabero que seis jovens de vinte
a vinte trs anos foram almoados como porcos. Quem sair daqui leva bala,
ouviram TODOS? Agora quem manda aqui sou eu. Ns vamos vingar o Lus e a
Jlia. Ningum sai daqui. Vamos resistir. Resistir.
CEBOLA (Olhando pela janela) Agora so eles. Trs brucutus! Trs brucutus!
Dez carros da policia e a cavalaria. Tudo o que havia na passeata. Meu Deus!
Z - Vamos nos preparar e ver o que eles vo dizer. Se for o caso todo mundo se
entrega sem se mexer.
DARTAGNAN Eles vm vindo pra c, j esto na esquina.
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ANA Z, voc tinha razo. Vamos nos entregar ou morreremos todos. Algum
tem que segurar ela, Z. Algum tem que segurar a Vilma. Ela vai fazer uma
besteira. Ela vai atirar!
MRIO No se atira merda nenhuma aqui, ouviram bem?
VILMA - Cada um no seu posto. Quando eles chegarem de vez, atirar. Atiras as
bombas, os explosivos, e metralhar um por um! Sem medo e sem remorso. Como
eles fizeram com o Lus, a Jlia e todos ns! Exatamente na mesma moeda!
Z No enlouquea, Vilma!
VILMA Z, voc sabe melhor do que eu. Mataram o Lus e devem ter matado a
tua Jlia. Ns precisamos atirar neles, Z. um testemunho. O povo saber que
existe a violncia. Que ela no iluso, conversa fiada, poesia. Em todos os
cantos, a violncia, Z... E em ns. Ela no podia deixar de existir em ns.
Atiremos neles. O massacre vem de todos os lados.
Z O suicdio reacionrio, Vilma!
VILMA Eu preciso resistir. Eu preciso matar todos eles.
VOZ EM OFF ESTUDANTES, SAIAM SEM RESISTNCIA! TEMOS ORDENS
PARA ATIRAR AO MENOS SINAL DE PROVOCAO POR PARTE DE VOCS!
EVACUEM A ESCOLA PACIFICAMENTE E NADA LHES ACONTECER...
VILMA Fascistas! Carniceiros! Ns no nos entregaremos!
VOZ SAIAM EM FILA COM AS MOS PARA O ALTO! SAIAM PACIFICAMENTE
COM AS MOS PARA O ALTO! SE HOUVER RESISTNCIA, HAVER MORTOS!
(Mrio, Ana, Dartagnan e Cebola comeam a sair com as mos na cabea)
VILMA Companheiros! Voltem, companheiros! Isso no suicdio, no! um ato
histrico! O sangue precisa ser visto seno ningum saber que estamos sendo
massacrados!
Z Ns vamos sair tambm. No atirem!
VILMA Ns vamos ficar! Vamos ficar!
VOZ - JOS FREITAS! VOC E ESTA MOA QUE EST COM VOC!
ENTREGUEM-SE SEM RESITNCIA! AO MENOR SINAL DE VIOLNCIA,
TEMOS ORDENS PARA MATAR... ISTO UMA ADVERTNCIA!
Z Ns vamos nos entregar. Estamos saindo, estamos saindo.
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FIM
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