A Palavra Arquitetônica - Renato Leão Rego
A Palavra Arquitetônica - Renato Leão Rego
A Palavra Arquitetônica - Renato Leão Rego
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Renato Leão
R e g o
(ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO)
A palavra
arquitetônica
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1999, by Editora Arte & Ciência
Coordenação Editorial
Henrique Villibor Flory
Editor e Projeto Gráfico
Aroldo José Abreu Pinto
Diretora Administrativa
Luciana Wolff Zimermann Abreu
Editoração Eletrônica
Marcela Cristina de Souza
Capa
Jefferson Cortinove
Revisão
Letizia Zini Antunes
ISBN 85-86127-88-4
1. Arquitetura Ensaios Críticos. 2. Arquitetura contemporânea.
3. Arquitetura Moderna 4.Crítica de Arquitetura I. Rego, Renato Leão.
CDD - 720.1
- 724.9
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A arquitetura a caminho
Convenho que para se aprender arquitetura se faz necessário
conhecê-la e experimentá-la no corpo e no espírito, se tal divisão
houver. E é necessário apreendê-la, mediata ou imediatamente, em
toda sua amplitude e nos seus diversos paradigmas. A arquitetura
experimentada estará pois aberta à análise, como qualquer outro
aspecto da experiência, e esta análise não deixará de passar funda-
mentalmente pela descomposição da arquitetura em elementos que
a configuram, uma operação presente em qualquer ato de criação e
essencial à compreensão da obra. Associamos, desse modo, ao pro-
cesso cognoscitivo dos meios específicos do labor arquitetônico a
questão do juízo, do julgamento, que, em parceria com a narrativa
historiográfica da arquitetura ao longo da vida do homem, atribui
valores à obra arquitetônica ao considerar, naquela referida análise,
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1
ARGAN, G. C. Arte e crítica de arte. 2.ed. Lisboa: Estampa, p.128.
2
SEGUÍ DE LA RIVA, J. Theoretical considerations concerning
architectural design and its basic teaching. Madrid: ETSAM, não publicado.
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Percursos
A efetiva validade do pensamento exposto alinha-se com a
abrangência pedagógica do olhar crítico lançado por Lionello Venturi
ao considerar, na régua da sua crítica, fatores que participam da
gênese da obra pelo fomento e constituição do imaginário do artis-
ta, alargando então o universo da crítica da ‘pura visualidade’,
segundo a qual o valor da obra era atributo só do seu dado visual
puro.
Venturi4, fazendo confluir história e crítica da arte, credita à
tarefa de historiador um juízo de valor, e a exerceu servindo-se
dos documentos existentes, do pensamento do artista e de seus
contemporâneos, artistas ou não. A crítica de Venturi tomava en-
tão um sentido de abertura rumo a fatores culturais, sociais e his-
tóricos, em geral excluídos do âmbito puramente estético, como
ocorre com os esquemas ou constantes formais da teoria de
Wölfflin, que reduzem o estudo dos fenômenos artísticos à des-
crição de suas características diferenciais. Haveria então uma dis-
3
Idem, ibidem.
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VENTURI, L. História da crítica de arte. Lisboa: Edições 70, s.d.
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Ibidem, p.28-34.
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TAFURI, M. Teorias e história da arquitetura. 2.ed. Lisboa: Presença,
1988. p. 135.
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A caminho da arquitetura
Reconhecido o golpe contra a ‘estética cartesiana’ desferi-
do em tempos pós-modernos, vemos que aquelas características
formais, de cunho abstrato-geométrico e teor anti-naturalista e anti-
histórico, fomentadas por uma racionalidade supra-individual, abs-
trata e universal, deixam de prevalecer sobre os aspectos sensí-
veis, emocionais e individuais da experiência artística que vêm re-
tratando a socialidade heterogênea, mais complexa, movediça, que
se sobrepôs à demarcação da modernidade.
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GLUSBERG, J. Para uma crítica de arquitetura. São Paulo: Projeto, 1986.
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Cf. GREGOTTI, V. Território da arquitetura. 2ed. São Paulo: Perspecti-
va, 1994.
14
ARANTES, O. Arquitetura no presente, uma questão de história. In:
rquitetura, cidade e natureza. Org.:IABDN. São Paulo: Empresa das artes, 1993
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MAFFESOLI, M. No fundo das aparências. Petrópolis: Vozes, 1996.
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Alvar Aalto
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AS BELAS-ARTES
1
. Publicado em Fleig, K. (editor). Alvar AAlto, Obras 1963-1970. Barcelo-
na: GG, s.d.
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Alvar Aalto
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A RESPONSABILIDADE DO ARQUITETO
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. 1957. Publicado em Fleig, K. (editor). Alvar A Alto, Obras 1963-1970.
Barcelona: GG, s.d.
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Le Corbusier
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O ESPÍRITO NOVO EM ARQUITETURA
Senhoras e senhores,
Queria, nesta noite, tentar mostrar que a arquitetura da épo-
ca moderna tem abandonado suas vacilações, que possui a técnica
sã e poderosa capaz de sustentar uma estética, já formulada, por
outra parte, por prescrições profundas; técnica absolutamente nova,
pura e homogênea; estética que é o extrato de uma época total-
mente renovada e que, depois de muitas guinadas e caminhos opos-
tos, tem conseguido alcançar, no mais fundo de nós mesmos, as
bases essenciais de nossa sensibilidade, as bases puramente hu-
manas da emoção.
E talvez será então que tomaremos consciência de que esta
nova arquitetura, assim condicionada, é passível de grandeza e
capaz de acrescentar um novo elo na linha das tradições que funda
no passado.
Vou começar fazendo desfilar diante de seus olhos uma série
de fatos.
1. Surgem objetos novos, assombrosos, temerários, anima-
dos de grandeza, comovendo-nos, perturbando nossos cos-
tumes.
2. Reina a precisão. A economia manda. Invencivelmente so-
mos atraídos a um novo eixo. Começou outra época.Na at-
mosfera pura do cálculo voltamos a encontrar certo espírito
de clareza que animou o passado imortal. No entanto, a pre-
guiça domina nossos atos e nossos pensamentos: pesadumes,
recordações, desconfiança, timidez, medo,inércia.
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. Conferencia na Sorbonne em 12 de junho de 1924.
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mas tal como pode criá-la o estado de espírito a que nos terão
conduzido o maquinismo e suas inevitáveis conseqüências; um
estado de espírito de época requer de nós concentração, violência
contra nós mesmos. É este espírito de ordem geométrica, mate-
mática, que será o dono dos destinos arquitetônicos. Da mesma
forma que a pintura, por meio de muitas guinadas, se dirige a tais
destinos, do mesmo modo a arquitetura, que se pauta pela exce-
lência das relações, será o lugar da geometria pura.
A este respeito, o urbanismo, que é a coisa eminente sem a
qual a arquitetura não tem sentido, que é a única razão de ser de
uma arquitetura de época, o urbanismo que bate à porta com pan-
cadas fortes, sacudindo todas as torpezas pela potência e rapidez
com que se impõe o acontecimento moderno, o urbanismo, digo,
vai nos proporcionar, sobre traçados geométricos, cidades novas,
que poderão estar tão bem intra-muros como extra-muros. O ur-
banismo se dedicará à grande cidade e não irá construir novas
cidades em países novos e desconhecidos: está feito para ser apli-
cado ao estado atual das cidades atuais. Chegaremos a traçados
novos das cidades: quer se trate de Paris, Londres, Moscou ou
Roma, estas capitais deverão transformar-se totalmente sobre seu
próprio meio, por mais esforço que custe, por radical que deva ser
o transtorno. E aqui também, repito, o único guia possível será o
espírito de geometria.
(Aplausos.)
Terminarei esta conferência oferecendo aos seus olhos foto-
grafias destinadas a objetivar as idéias que acabo de expressar.
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Louis Kahn
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FORMA E DESENHO
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. Artigo publicado na Revista “Architectural Desing” em abril de 1961.
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“10.140 m2.”
“É mais ou menos o que precisamos.”
Este foi o começo do programa das áreas. Mas disse mais
alguma coisa que se converteu na Chave de toda a ambientação
espacial: que a pesquisa médica não é um produto exclusivo da
medicina ou das ciências físicas, mas também das pessoas em
geral. Quis dizer que qualquer pessoa versada em humanas, ciên-
cias ou artes, pode contribuir para conformar este ambiente men-
tal de investigação capaz de conduzir às grandes descobertas cien-
tíficas.
Livre das restrições de um programa ditatorial, foi uma gran-
de experiência participar no projeto de um programa de desenvol-
vimento de espaços, sem precedentes. Isto só foi possível porque
o diretor era um homem com um senso único do entorno como
fonte de inspiração, e podia sentir a vontade de ser e sua apreensão
na forma dos espaços que eu sugeria.
O que no princípio foi só a necessidade de laboratórios e
seus serviços incluiu depois jardins enclausurados, escritórios co-
locados sobre galerias e espaços para reuniões e descanso, entre-
laçados com outros espaços sem nome para maior expansão do
ambiente geral.
Os laboratórios podem caracterizar-se como uma arquitetura
de ar depurado e áreas adaptáveis. A mesa de mogno e o tapete
correspondem à arquitetura dos Escritórios.
Meu edifício para Pesquisas Médicas da Universidade da
Pennsylvânia incorpora a concepção de que os laboratórios cientí-
ficos são essencialmente escritórios e que deve existir uma sepa-
ração entre o ar que se respira e o ar viciado que se deve eliminar.
As plantas comuns de laboratórios colocam as áreas de trabalho
de um lado do corredor público e as escadas, elevadores, quartos
para animais, dutos e outros serviços, do outro lado do mesmo
corredor. Este corredor é, ao mesmo tempo, o veículo de escape
do ar nocivo e de abastecimento de ar respirável. A única diferença
entre o espaço de trabalho de um homem e de outro é o número
colocado nas suas portas.
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Adolf Loos
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SOBRE UM POBRE HOMEM RICO
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. Artigo publicado no “Neues Wiener Tagblatt” em 26 de abril de 1900.
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Adolf Loos
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O PRINCÍPIO DO REVESTIMENTO
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eram imitações, não fazia falta nenhuma lei contra eles. Mas acre-
dito que chegou a hora de estabelecê-la.
Tal lei diz assim: a possibilidade de que o material revestido
se confunda com o revestimento deve ser excluída em todos os
casos. Para casos particulares, esta frase teria que dizer: pode-se
pintar a madeira com qualquer cor, menos com uma – cor de
madeira. Para uma cidade como Viena, cujo conselho de exposi-
ções decidiu pintar todo o madeiramento do seu pavilhão ‘como
mogno’, no qual a imitação é o único motivo de decoração da
madeira, esta frase é muito atrevida. Parece que aqui há pessoas
que acham isso elegante. Já que os bonde, os trens e em geral toda
construção de vagões provêm da Inglaterra, eles são os únicos
objetos de madeira que estampam cores puras. Eu me atrevo a
dizer que qualquer veículo – sobretudo os da linha elétrica – me
agrada mais com cores puras que, seguindo os padrões de beleza
daqui, fossem pintados como mogno.
Mas, em nosso povo cochila, ainda que funda e enterrada, a
verdadeira noção do elegante. De outro modo, na companhia de
bondes, a primeira e a segunda classes não estariam pintadas de
verde, já que a terceira é cor de madeira.
Certa vez provei a um colega, de um modo drástico, esta
noção inconsciente. Em um edifício, no primeiro andar, havia dois
apartamentos. Ao inquilino de um deles ocorreu pintar, por sua
conta, a esquadria das janelas, que originalmente eram marrom, de
branco. Então fizemos uma aposta de que levaríamos um certo
número de pessoas diante do edifício e, sem chamar a atenção
deles para a diferença das janelas, perguntaríamos em qual dos
apartamentos lhes parecia morar o João e em qual morava o Con-
de Fulano de Tal, ambos inquilinos hipotéticos. Todos apontaram
a janela pintada de madeira como casa do João. Desde então meu
colega só as pinta de branco.
A imitação da madeira é naturalmente uma invenção do nosso
século. Na idade média pintavam a madeira, em geral, de vermelho
gritante, e no Renascimento, de azul, no Barroco e no Rococó,
branco por dentro e verde por fora. Nossos camponeses, ainda
lúcidos, a pintam com cores puras. Quando estamos no campo
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. Artigo publicado no anuario Schwarzwald’Schen Schulanstalten” , 1913
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Mies van der Rohe
SOBRE O SIGNIFICADO E A
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TAREFA DA CRÍTICA
N
ão receiem que eu vá contribuir à longa sucessão de
reprovações e ataques. Juízos equivocados não são esperados no
curso natural dos fatos?
A crítica é assim tão fácil? A verdadeira crítica não é tão rara
quanto a verdadeira arte? Gostaria, contudo, de chamar sua aten-
ção para os pré-requisitos básicos de qualquer crítica, pois acredi-
to que sem tal esclarecimento não poderá haver crítica verdadeira,
e se pedirá da crítica aquilo que ela não está apta a responder.
A crítica é o exame de um feito com relação a seu significado
e valor. Para tanto é necessário posicionar-se em relação ao objeto
a ser examinado, ter contato com ele. Isto não é fácil. As obras de
arte têm uma vida própria. Não são acessíveis a todos. Para que se
expressem, deve-se abordá-las em seus próprios termos. Esta é a
obrigação do crítico.
Outra obrigação da crítica diz respeito à graduação de valo-
res. Aí a crítica encontra sua escala de medida. A verdadeira críti-
ca está, no fim, a serviço do valor.
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. Publicado em Das Kunstblatt” , 14, no 6, 1930.
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A ARTE DE CONSTRUIR E O
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ESPÍRITO DA ÉPOCA
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. Publicado em Der Quer Schunitt”, 4, no 1, 1924
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OS NOVOS TEMPOS
1
. Publicado em Die Form” , 5, no 15, 1930
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1
. Publicado em Innendekoration”, 39, no 6, 1928
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Frank Lloyd Wright
ARQUITETURA E NATUREZA
1
.Discurso `a Association of Federal Architects”, 1938.
2
. Publicado na Revista The Architectural Records”, maio, 1914.
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3
.Publicado em Wrigth, F. Ll. An Organic Architeture: The Architeture of
Democracy. Londres: London Humphries & Co. , 1939.
4
. Publicado em Wright, F. Ll. Ausgfuhrte Bauten und entwurrfe. Berlim:
Wasmuth, 1910.
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. Publicado em Wright, F. Ll. Ausgfuhrte Bauten und entwurrfe. Berlim:
Wasmuth, 1910.
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A DESTRUIÇÃO DA CAIXA
1
. Publicado em The Junior Chapter of American Institut of Architects”,
1952.
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