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MacArthur - ClaudiaSilva

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O DESENVOLVIMENTO LEXICAL INICIAL DOS 8 AOS 16 MESES DE IDADE:

UM
ESTUDO
A
PARTIR
DO
INVENTRIO
MACARTHUR
DE
DESENVOLVIMENTO COMUNICATIVO
Claudia Tereza S. da Silva1

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados da
dissertao de mestrado desenvolvida por esta pesquisadora, que teve
como tema o desenvolvimento lexical inicial (DLI) de crianas entre 8 e 16
meses de idade adquirindo o portugus brasileiro. Para tanto, tal estudo
adotou como instrumento de coleta o protocolo Palavras e Gestos do
Inventrio MacArthur de Desenvolvimento Comunicativo e a metodologia
de coleta adotada por seus elaboradores. O estudo, envolvendo 27
crianas soteropolitanas na faixa etria em questo, permitiu-nos chegar
s seguintes concluses: existe uma asssimetria entre a quantidade de
itens lexicais comprendidos e a quantidade de itens produzidos; no nvel
da compreenso, o grupo dos Nomes Comuns predomina em todas as
faixas etrias, seguido do grupo dos Predicados; na produo, as
categorias Sons de Coisas e de Aninais, Pessoas, Objetos e Lugares
fora da casa e Jogos e Rotinas dominam at o primeiro ano de vida,
sendo que, a partir da, outras categorias semnticas como Comidas e
Bebidas, Palavras de Ao, Partes do Corpo, Animais e Utenslios da
Casa comeam a aparecer em maior nmero. Em linhas gerais, as
informaes oriundas desta coleta corroboram estudos j realizados, em
outras lnguas, a respeito dessa fase inicial de aquisio.
Palavras-chave: Aquisio
Primeiras Palavras

de

Linguagem,

Desenvolvimento

Lexical,

APRESENTAO
Verificar os padres de compreenso e de produo de crianas to
novas de 8 a 16 meses de idade no tarefa das mais fceis. Essa
dificuldade no diz respeito apenas a uma dificuldade de interao.
Embora uma palavra seja considerada adquirida quando a criana capaz
Claudia Tereza S. da Silva, Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras.
Doutoranda (CNPq)
1

de apontar, de segurar, de trazer, de oferecer ou de executar qualquer


ao com o objeto solicitado, assim como olhar ou voltar-se para ele mais
uma vez, o real entendimento de uma palavra, i.e., saber se a criana
compreende a palavra bola da mesma forma que os adultos a
compreendem uma incgnita. Essa tarefa exige a anlise de diversos
fatores, como, por exemplo, o contexto de compreenso e de uso, j que
a literatura atesta casos de palavras que s so compreendidas e/ou
produzidas

em um nico e determinado contexto; ou palavras que so

utilizadas para uma srie de outros elementos parecidos como, por


exemplo, a produo da palavra bola para se referir a outros objetos
redondos ou circulares. Um outro fator a anlise do meio sociolingstico
da criana e de suas relaes interativas, visto que a entrada lingstica, e
mais especificamente, a quantidade de entrada lingstica diretamente
dirigida na relao adulto-criana fundamental para a aquisio de novas
palavras.
Esse tema, os padres de compreenso e produo lexical de
crianas to novas, um assunto relativamente explorado pela literatura.
Contudo, no Brasil, poucos estudos foram desenvolvidos sobre este tema
ao longo de quase quatro dcadas de investigaes na rea de Aquisio
de Linguagem. Embora o surgimento das primeiras palavras seja um
evento que vem sendo reportado e descrito por pais cientistas, de
diversas partes do mundo, h pouco mais de um sculo (cf. CLARK, 1979;
PINKER, 2002), e embora alguns estudos tenham sido desenvolvidos com
o intutito de investigar aspectos como a maneira como cada uma dessas
palavras utilizada nos primeiros anos de vida; ou o modo como se
processa a construo do signo lingstico e de que forma as crianas
trabalham com os significados deste; ou ento a relao existente entre
habilidades cognitivas e a aquisio de determinados vocbulos; entre
muitos outros aspectos, a grande maioria dos trabalhos publicados e
divulgados

referente

crianas

adquirindo

lngua

inglesa.

Praticamente inexistem estudos e listas desse tipo em portugus,


principalmente tendo como foco crianas to novas. A necessidade de

estudos nesta rea se torna cada vez mais imediata, j que existe o
interesse em se investigar, atravs do cruzamento de dados de diversas
lnguas,

as

empreendido

semelhanas

por

de

falantes

diferenas
lnguas

no

processo

estruturalmente

aquisicional
distintas

investigao esta que tem contribudo para o estudo da existncia e da


natureza

de

princpios

operacionais

bsicos

de

desenvolvimento

lingstico.
Esse fator, aliado necessidade e urgncia da adaptao para o
portugus brasileiro de um instrumento, o Inventrio MacArthur de
Desenvolvimento Comunicativo: Protocolo Palavras e Gestos, desenhado
para obter informaes a respeito do curso do desenvolvimento lexical
inicial para ser utilizado, no apenas em pesquisas mas tambm como um
instrumento para fins de tratamento clnico, foram, e ainda so, os
propulsores da minha pesquisa. Desta forma, reunir, na medida do
possvel, informaes a respeito do curso do desenvolvimento lexical
inicial em lngua portuguesa, fornecendo, ainda que sem um carter
normativo, um perfil desse desenvolvimento no processo de aquisio do
portugus brasileiro, constituiu e ainda constitui o grande foco de
interesse desta pesquisa.
Assim, para a composio do corpus do trabalho desenvolvido
durante o mestrado, o protocolo Palavras e Gestos dos Inventrios
MacArthur

de

Desenvolvimento

Comunicativo

foi

adotado

como

instrumento de pesquisa. Tais inventrios, ou CDIs, j adaptados e


normatizados

para

diversos

idiomas,

foram

desenvolvidos

aps

aproximadamente 15 anos de pesquisa por estudiosos interessados em


desenvolver um instrumento que fosse capaz de fornecer informaes
sobre o curso do desenvolvimento lingstico, desde os primeiros sinais
gestuais no-verbais at a expanso do vocabulrio inicial e o incio da
gramtica, sendo, a princpio, elaborado para fins de pesquisa e
posteriormente utilizado para fins clnicos (FENSON et al., 1993).

METODOLOGIA DO CDIi
Os CDIs adotam como metodologia de coleta o relato parental,
pois os elaboradores acreditam haver uma srie de vantagens nas
informaes provenientes deste tipo de metodologia (cf. FENSON et al.,
1993).

No

entanto,

essa

duramente

criticada.

Para

alguns

pesquisadores, no muito provvel que o CDI possa fornecer uma boa


avaliao de compreenso inicial tendo em vista (a) a dificuldade de
determinar, a partir de uma nica observao, se a criana realmente
compreende uma palavra. Como resultado, pode haver uma tendncia dos
pais a superestimar a compreenso, particularmente no primeiro ano de
vida; (b) o fato de o relato dos pais, segundo alguns pesquisadores,
mesmo

quando

complementado

por

entrevista,

no

providenciar

informao detalhada sobre o contexto preciso no qual a palavra


compreendida e utilizada, dificultando a categorizao das palavras.
Alm disso, os CDIs possuem uma srie de limitaes, como
reconhece os prprios elaboradores (cf. BATES; DALE; THAL, 1997).
Diversas so as informaes a respeito do DLI que no so possveis de
serem investigadas a partir, unicamente, dos dados provenientes do
protocolo: informaes sobre o desenvolvimento fonolgico e sobre
freqncia de uso de determinado tipo de palavra; no permitem a
distino entre imitao e fala espontnea, nem a especificao da
extenso dos contextos nos quais as palavras so usadas (uso flexvel,
presas ao contexto ou frases memorizadas), partindo do pressuposto de
que todas as palavras so referenciais; no permitem, tambm, verificar
casos de super e subextenses, nem verificar a incidncia de palavras que
so produzidas sem serem compreendidas.
Uma vez relatadas todas essas deficincias, quais seriam as
vantagens de adaptar os Inventrios para o portugus brasileiro? Em
primeiro lugar, a grande maioria dos instrumentos desenvolvidos para
triagem da linguagem no aborda este perodo inicial, sendo elaborados
para a investigao de crianas a partir dos 2 anos de idade. Segundo

Gallassi (2002), os que foram elaborados para este perodo inicial


apresentam alguns inconvenientes: alguns abordam apenas a linguagem
expressiva, outros exigem pessoas muito treinadas para a administrao e
compilao dos dados, e muitos no so considerados confiveis e vlidos.
De todos esses instrumentos, o Inventrio MacArthur de Desenvolvimento
Comunicativo o que parece apresentar melhores condies para se obter
uma amostra representativa da linguagem infantil nesta etapa inicial e
para ser utilizado na avaliao clnica. Em segundo lugar, uma vez tendo
em mos os padres de desenvolvimento lexical de crianas adquirindo o
portugus, para cada faixa etria, traados a partir de um estudo mais
amplo de normatizao, o instrumento servir como uma ferramenta para
situar, por exemplo, em qual estgio se encontra um paciente que acabou
de ter um implante auditivo efetuado (cf. a pesquisa desenvolvida por
PADOVANI, 2003), ou, num outro caso, uma criana ou mesmo um
adolescente, com sndrome de down, fornecendo subsdios para o
posterior tratamento e/ou acompanhamento. Alm desse propsito clnico,
a lista de freqncia das primeiras palavras poder ser utilizada para fins
educacionais, podendo servir como base ou como suporte para outros
projetos, bem como para a construo de material de pesquisa, materiais
didticos e testes de lngua.
METODOLOGIA E CORPUS
Foram, ao todo, 27 crianas entre 8 e 16 meses (um ano e quatro
meses), trs em cada faixa etria, dos dois sexos, residentes em Salvador
BA, sem nenhum tipo de comprometimento central ou perifrico. Para a
composio do corpus, um outro fator foi levado em considerao: o nvel
de escolaridade dos pais. Desta forma, ao menos um dos pais deveria ter
ou o nvel mdio completo (2 grau) ou o nvel superior (completo ou
no). Na maior parte, os protocolos, 20 ao todo (74,1%), foram
respondidos pelas mes.

RESULTADOS
No que se refere ao desenvolvimento lexical, em linhas gerais, as
informaes oriundas desta coleta corroboram estudos j realizados a
respeito dessa fase inicial de aquisio. Contudo, tendo em vista as
limitaes desse instrumento enquanto ferramenta utilizada para traar
um perfil de desenvolvimento lingstico, alm das limitaes decorrentes
da sua metodologia de coleta, o tratamento dos dados dele provenientes
merece bastante cautela. Desta forma, as consideraes que aqui so
apresentadas no devem ser tomadas como normas e/ou padres de
desenvolvimento lexical durante o processo de aquisio do portugus
brasileiro, e, sim, como resultado de um esboo de um perfil, traado a
partir de estudo preliminar que, apesar de uma quantidade razovel de
sujeitos se comparado com alguns estudos que tomam como referncia
o desenvolvimento de uma nica criana , necessita, devido, em muito,
ao instrumento e metodologia de coleta adotados, de um estudo mais
amplo para que se possa fornecer, de forma mais confivel, informaes
normativas.
Existe uma assimetria entre a quantidade de itens lexicais
compreendidos

quantidade

de

itens

produzidos

(corroborando

informaes provenientes dos estudos desenvolvidos por BENEDICT,


1979; BARRET, 1993, 1986; BATES et al., 1997; HARRIS et al., 1995). De
um modo geral, os dados da dissertao mostraram que, a partir dos 8
meses de idade, as crianas j compreendem o prprio nome, deixam de
fazer o que esto fazendo quando ouvem um no e procuram pelos pais
quando ouve algum cham-los, corroborando informaes a respeito
desta fase inicial de aquisio. A imitao das coisas que escutam inicia-se
por volta dos 10 meses de idade, no sendo atestada como regular (s
vezes) e comeam a nomear as coisas que vem ao passear pela casa por
volta de 1 ano de idade, tendo sido atestado em alguns sujeitos e noutros
no.

A anlise das informaes provenientes da segunda parte, que tem


como foco as aes e os gestos comunicativos, mostra que no h, em
linhas gerais, uma seqncia ordenada para o incio de brincadeiras, i.e.,
so poucas as atividades que sero atestadas em todos os sujeitos de
uma

determinada

fase

que

continuaro

pelas

fases

seguintes,

evidenciando a existncia de diferenas individuais, quer no nvel


lingstico, quer no nvel cognitivo.
No que diz respeito ao lxico, as informaes podem ser resumidas
da forma especificada a seguir:
Na compreenso, a categoria lexical mais freqente em todas as
faixas etrias da amostra foi a dos Nomes Comuns, seguida pela
categoria dos Predicados. Entretanto a anlise das categorias semnticas
mostra que as Palavras de Ao so as mais freqentes, seguidas das
categorias Utenslios da Casa, Comidas e Bebidas e Mveis e
Aposentos (Cf. Grfico 1). A mdia de compreenso aos 8 meses de,
aproximadamente, 66 palavras e a mdia aos 16 de, aproximadamente,
190 (Cf. Grfico 2).
Quanto produo, crianas de 8 meses j esto, segundo os pais,
produzindo fala significativa. Neste nvel, a categoria lexical mais
freqente foi a dos Nomes Comuns seguida das categorias excludas,
intituladas Outras. A anlise das categorias semnticas, isoladamente,
mostra que a categoria Pessoas a mais freqente, seguida das
categorias Comidas e Bebidas, Sons de Coisas e de Animais e das
Palavras de Ao (Cf. Grfico 1). A mdia de produo aos 8 meses de
2 palavras aumentando para, aproximadamente, 76 aos 16 meses (Cf.
Grfico 2).
Embora este instrumento no fornea informaes a respeito das
relaes interativas da criana com os adultos que fazem parte do seu diaa-dia, os itens mais atestados como freqentes, tanto na compreenso
quanto na produo, parecem ser realmente aqueles aos quais elas so
mais expostas, fazendo parte das suas rotinas dirias. Alm disso, tais
itens, recorrentes na fase inicial do desenvolvimento lexical em crianas

adquirindo o portugus brasileiro, so semelhantes aos itens de crianas


adquirindo

ingls,

confirmando

especulaes

de

estudiosos

que

acreditam que nesta fase inicial as crianas adquirem, basicamente, as


mesmas palavras (cf. CLARK, 1979; PINKER, 2000). Assim, suco,
biscoito, po, olho, nariz, boca, chapu, sapato, fralda,
carro, caminho, cachorro, gato, bola, boneca, copo, colher,
escova, chave, luz, d, mame, papai, beb, cima, fora,
abre, no, oi, tchau, comumente registradas em dirios parentais a
respeito de crianas adquirindo a lngua inglesa (CLARK, 1979; PINKER,
2002), tambm o foram neste estudo, com algumas poucas excluses e
acrscimos.

locativos
quantificadores
pronomes
perguntas
tempo
qualidades e
ao
pessoas
jogos e rotinas
objetos fora
utenslios da casa
mveis
corpo
comidas
roupas
brinquedos
veculos
animais
sons

P
C

100

200

300

400

500

600

700

Grfico 1 Dados finais das categorias semnticas na compreenso e na produo

Compreenso x Produo
300

243

250

212

200
157

150
100
50
0

66
2
0;8

80
8
0;9

190
170

79
6

20

12

0;10 0;11

1;0
c

22

1;01 1;02

190
76

41
1;03 1;04

Grfico 2 Dados da compreenso e da produo das9 faixas etrias (mdia)

800

Os

dados

parecem

tambm

confirmar

assertiva

de

que

determinados tipos de palavras s so adquiridos durante ou aps


determinados estgios sensrio-motores propostos por Piaget (Cf. BATES,
1979; GOPNIK; MELTZOFF, 1986; BARRET, 1997), mais especificamente
os estgios 5 e 6 embora seja de fundamental importncia uma anlise
mais aprofundada das habilidades cognitivas de cada uma das crianas. A
grande parte desses estudos centram-se na categoria, aqui intitulada, de
Palavras de Ao. Desta forma, palavras como cair, colocar, jogar,
levar, puxar, trazer, que se referem a movimentos visveis de objetos
e a movimentos de objetos em que pelo menos parte no visvel, s
parecem ganhar destaque, na compreenso, aps os 12 meses de idade,
apesar de aparecerem esporadicamente nas faixas antecedentes.
Quanto produo, os dados tambm parecem confirmar a
hiptese de que as primeiras palavras estejam ligadas ao incio do
comportamento meio-fins, i.e., o ingresso no estgio 5, sustentando a
suposio de que muitos desses primeiros usos tenham uma funo
diretiva.
Interessante verificar como a produo de itens outros que no
aqueles que parecem estar relacionados com as necessidades e/ou
interesses imediatos da criana aparecem, com maior freqncia, apenas
aps os 12 ou 13 meses de idade, como o caso de palavras das
categorias Animais, Brinquedos, Roupas, Partes do Corpo, Mveis e
Aposentos, Objetos e Lugares fora de Casa, Palavras de Ao,
Qualidades e Atributos, Perguntas, Quantificadores e Locativos,
coincidindo com o incio da atividade de nomeao de objetos, de forma
espontnea, ao passear pela casa, por exemplo. Entretanto vale a pena
recordar o fato de no se ter informaes a respeito da natureza dessas
primeiras palavras, i.e., se so usadas de forma presa ao contexto ou de
forma referencial.
Os dados no mostram a existncia de diferenas significativas nos
dados, com relao varivel classe scio-escolar dos pais embora a
quantidade de crianas seja pequena e tal fator necessite de uma

10

investigao e de uma anlise mais aprofundada. De uma maneira geral,


os achados so basicamente os mesmos, tanto com relao aos estudos
relativos a crianas adquirindo outras lnguas, quanto em relao s
prprias crianas deste corpus. A diferena parece incidir no que diz
respeito quantidade de palavras compreendidas e produzidas e
velocidade de aquisio. Assim, apesar de haver um certo padro, uma
certa rota no processo de aquisio, a variao existente dentro desse
padro enorme. Um instrumento como o CDI parece aumentar ainda
mais essa variao, j que no prov diversas informaes, como a to
necessria anlise do contexto (quer de compreenso, quer de uso). A
falta dessa informao, aliada dificuldade de entendimento, por parte
dos pais independentemente da classe scio-escolar que pertencem
do que se entender por primeiras palavras, acarreta, na maior parte dos
casos, uma superestimao da capacidade lingstica do seu filho. Este
fato traz como conseqncia altos percentuais, principalmente no que se
refere produo, como os atestados para os 8 e 9 meses de idade.
Parece realmente existir uma dificuldade no entendimento do
objetivo da pesquisa. Esta dificuldade torna-se mais evidente em
categorias como Palavras de Ao, na qual muitas vezes os pais
confundem compreender a palavra com executar a ao. Desta forma,
freqentes eram as necessidades de explicar que no o executar a ao,
mas o compreender da palavra. Alm disso, muitas categorias como
Pronomes, Palavras de Tempo, Qualidades e Atributos, Locativos e
Quantificadores j eram logo descartadas pelos pais antes da leitura de
todos os itens, evidenciando um certo desconforto com a demora da
aplicao.
Embora os dados provenientes do estudo normativo americano
sejam similares aos estudos de dirios e/ou longitudinais realizados com
uma amostra menor, os dados obtidos com protocolo so considerados
elevados em comparao com os dados de muitos outros estudos,
principalmente os de dirio e os longitudinais. Porm, os CDIs enquanto
instrumento para avaliao clnica, vm-se apresentando, ao longo de

11

anos, como um isntrumento realmente eficaz e prtico, alm de ter um


custo menor do que os outros instrumentos disponveis no mercado.
Observe-se, contudo, que, no caso de um uso para tratamento e/ou
avaliao clnica, as informaes dos pacientes no so limitadas s
informaes provenientes apenas deste instrumento, sendo, em grande
parte dos casos, utilizados como um dentre outros mtodos avaliativos.
As limitaes realmente existem, contudo a necessidade de um
estudo normativo se faz presente, no apenas para a normatizao do
instrumento, que parece possuir um grande valor e uma grande utilidade
na rea clnica, como tambm devido a uma necessidade de informaes
a respeito de padres, ainda que bastante limitados qualitativamente,
durante o processo de desenvolvimento lexical inicial na aquisio do
portugus brasileiro, a fim de se confrontarem dados provenientes de
diversas lnguas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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progress in cognitive development research. New York: Springer Verlag,
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12

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PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem.
Traduo: Claudia Berliner. So Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 333-378.
NOTA

Para uma maior explanao a respeito do protocolo Palavras e Gestos, cf. SILVA, Claudia T. S.
Desenvolvimento Lexical Inicial dos 8 aos 16 meses de idade a partir do Inventrio MacArthur
de Desenvolvimento Comunicativo Protocolo Palavras e Gestos. Dissertao de Mestrado
(Letras e Lingstica). Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, 2003.
i

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