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Entrevista
Pesquisa
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Pesquisa
Predio do Potencial
de Alergenicidade em
OGMs - estudo de caso
Gene da capa protica de Papaya ringspot virus em mamoeiro transgnico
Alergia, biossegurana de
OGMs e uso de
Bioinformtica na
predio de protenas
alergnicas
Um dos pontos principais para a
garantia de biossegurana de alimentos
geneticamente modificados (OGMs), tambm conhecidos como transgnicos, a
avaliao do potencial de alergenicidade
das protenas codificadas pelos genes
inseridos. Modificaes genticas podem afetar a alergenicidade dos OGMs
de duas formas principais: pela introduo de alrgenos ou pela modificao do
nvel ou da natureza de alrgenos intrnsecos. Os alrgenos podem ser introduzidos pela expresso de protenas transgnicas, uma vez que as protenas tm
sido apontadas como agentes causadores de diversas alergias (alimentar,
esporos, plen, etc.) (Kleter et al., 2002).
O potencial de alergenicidade de
uma protena no um parmetro facilmente previsvel, sendo dependente da
diversidade gentica e da variabilidade
da resposta de IgEs 1 especficas. Dada a
falta de previsibilidade da alergenicidade, faz-se necessrio obter evidncias
que minimizem as dvidas quanto ao
potencial alergnico da protena em
questo, o que feito mediante um
processo de acessar riscos compostos de
diversos passos (European Comission,
2003).
________________________________________
1
A principal barreira imunolgica a protenas estranhas a secreo de molculas IgA, no
interior do intestino, a qual se complexa com as protenas estranhas e bloqueia a sua absoro.
As protenas estranhas que conseguem chegar circulao so recebidas por anticorpos da
classe IgA e IgG, os quais so eliminados do organismo pelo sistema retculo endotelial. Pessoas
normais geram anticorpos da classe IgA, IgM e IgG em minsculas quantidades em reao a
antgenos alimentares. Reaes mediadas por IgE liberam histamina, prostaglandinas e
leucotrienos, produzindo uma reao alrgica tpica imediata, com sintomas que aparecem em
minutos.
Reaes no mediadas por IgE produzem os sintomas em horas ou dias. Reaes no mediadas
por IgE e de mecanismo desconhecido causam um aumento da reatividade a um determinado
alimento sem o envolvimento do sistema imune, as quais chamamos de intolerncia alimentar.
(Theron G. Randolph: An Alternative Approach to Allergies - The New Field of Clinical Unravels
the Environmental Causes of Mental and Physical Ills. Harper & Row, Publishers, New York,1989).
10
Epitopo potencialmente
alergnico na capa
protica do Papaya
ringspot virus (PRSV)
Recentemente,
Kleter
e
Peijnenburg publicaram um trabalho
na revista BMC Structural Biology
(Kleter et al., 2002). Nessa publicao
os autores propem uma metodologia
Tab ela 1 P o pu la es d e mamo eiro s tran sgn ico s tran sferid o s para a E mb rapa Man d io ca e Fru ticu ltu ra.
P o pu lao
Embrapa PTP01
Embrapa PTP02
Embrapa PTP03
Embrapa PTP04
Embrapa PTP05
Embrapa PTP06
Embrapa PTP07
Embrapa PTP08
Embrapa PTP09
Embrapa PTP10
Embrapa PTP17
Gerao
R1
R1
R1
R1
R1
R1
R1
R1
R1
R1
R1
Embrapa PTP18
R2
Embrapa PTP28
R1
Descrio
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM1a
Populao originria de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM1a
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM1g
Populao originria de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM11d
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM11d
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM15b
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM18e
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro TS1j
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro TS7f
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro TS8b
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro TL6b
Populao obtida por autofecundao controlada de planta R1 resultante de
cruzamento entre linhas Ro UM7c e UM1g
Populao originria de autofecundao controlada da linha Ro UM6h
________________________________________
2
Epitopos O epitopo constitudo por um grupo de tomos, que formam configuraes especficas tridimensionais, esterioespecficas de tamanho
limitado (em mdia na ordem de um tri a um hexassacardeo, ou de um tri a um decapeptdeo), na superfcie da molcula imunognica. So as
estruturas que induzem a imunogenicidade de uma molcula (regies ditas imunopotentes) e seus determinantes especficos antignicos (epitopos
ou locais conformacionais ou seqenciais) relacionam-se mais com zonas distintas da molculas. Atualmente, somente algumas moleculas de plantas
so conhecidas como epitopos - que tm afinidade por IgEs. Uma coleo dessas molculas foi organizada na forma de uma base de dados disponvel
no endereco: http://www.csl.gov.uk/allergen/Index.htm.
11
Anexo I
rvore de Deciso FAO
Figura 2. Estrutura secundria das protenas capsdicas dos isolados brasileiro (BR) e
havaiano (HA5-1) de Papaya ringspot vrus (PRSV) utilizados como doadores de gene
cp para a produo dos mamoeiros transgnicos do Brasil e dos EUA, respectivamente.
Avaliando a presena do
epitopo EKQKEK na capa
protica dos isolados
brasileiros de PRSV, e nos
mamoeiros transgnicos
produzidos pela Embrapa
Figura 4. Grfico de antigenicidade gerado pelo mtodo Hopp e Woods (1981) da seqncia
das protenas capsdicas codificadas pelos genes cp de Papaya ringspot vrus presente nos
mamoeiros transgnicos brasileiros e havaianos. O quadro superior mostra a antigenicidade
da protena do isolado PRSV BR (Souza Jr., 1999), e o quadro inferior mostra a antigenicidade
da protena do isolado PRSV HA 5-1 (Acesso gi593497 no http://www.ncbi.nlm.nih.gov).
13
Anexo II
O que alergia alimentar?
Nosso corpo se protege de infeces atravs do sistema imunolgico. Ns produzimos molculas, chamadas
anticorpos, que reconhecem o agente causador da infeco. Existem diferentes tipos de anticorpos: aqueles que
esto envolvidos em reaes alrgicas chamam-se IgE. Ns sabemos que as molculas de IgE so normalmente
produzidas em resposta a infeces causadas por parasitas, como o agente causador da malria, por exemplo. Ainda
no conhecemos a causa, mas algumas pessoas produzem IgE para outros agentes no parasitas, como o poln e
alguns alimentos. Nessas reaes de reconhecimento so deflagrados os sintomas de alergia, como febre, tontura,
dores de cabea e outros.
As molculas de IgE agem como etiquetas que se aderem s molculas advindas do alimento ou do plen,
chamadas alrgenos. Quando algum tem uma alergia alimentar e ingere o alrgeno, as IgEs atacam as molculas
invasoras e disparam as reaes em cascata as quais caracterizam o processo alrgico. Um dos efeitos comuns
das IgEs associadas s clulas basfilas a liberao de grnulos de histamina, que, por sua vez, causam as reaes
inflamatrias que so percebidas pelos sintomas alrgicos.
Alergia ou Intolerncia?
A tolerncia imunolgica definida como a incapacidade especfica adquirida, total ou parcial, por um
indivduo que desenvolve uma resposta imune humoral
normal ou a mediao celular a um antgeno ou a diversos
epitopos de um certo antgeno contra o qual ele normalmente no desenvolveria. Um indivduo dito tolerante
possui a capacidade de responder a outros antgenos
administrados ao mesmo tempo que o primeiro, que
pode ou no bloquear seu potencial de resposta imune.
Em outras palavras, a tolerncia imunologica tambm
especfica a um antgeno.
Uma outra coleo de sintomas so relatados em
pessoas que so sensibilizadas por alimentos, como
dores de cabea, dores musculares e nas juntas e fadiga.
Esse conjunto comumente conhecido como intolerncia alimentar. Ainda assim, conhece-se muito pouco das
reaes que causam a intolerncia e que podem se
agravar para o diagnstico de alergia.
Existem excees : conhece-se bem a doena
Celaca (http://www.concordia.psi.br/~celiaco/
doenca.htm) e a intolerncia lactose. Na doena
Celaca, as reaes alrgicas so deflagradas pela ingesto
de glten (derivado de trigo, aveia e outros cereais). A
intolerncia lactose no se caracteriza como alergia,
mas causa alguns sintomas como a alergia ao leite com
dores abdominais e diarria. (http://www.celiac.org).
cdons aps o cdon iniciador.
Translatable significa que h a traduo completa desse gene.
A verso do gene cp do isolado
PRSV HA 5-1 utilizado para a produo do mamoeiro transgnico havaiano
(Fitch et al., 1992) uma verso curta
do gene cp (Ling et al., 1991) e no
apresenta a seqncia de nucleotdeos necessria para traduzir a sua extremidade N. Essa a razo para a falta
dos dezenove primeiros aminocidos
que esto presentes na protena
capsdica do isolado Brasil. Bahia - ou
PRSV BR (Figura 1).
14
Figura 5. Alinhamento de seqncias de aminocidos 60 primeiros aminocidos do terminal N - das protenas capsdicas de 13 isolados
brasileiros de Papaya ringspot vrus (PRSV). O isolado Brasil o doador do gene cp utilizado para produzir os mamoeiros transgnicos
brasileiros. Denominao dos isolados: DF P (Braslia, bitipo P), DF W (Braslia, bitipo W), CE P (Guaiba, Cear, bitipo P), CE W
(Aracoiaba, Cear, bitipo W), BA-CA (Cruz das Almas, Bahia), BA-IT1 (Itabela, Bahia isolado 1), BA-IT2 (Itabela, Bahia isolado 2),
ES (Linhares, Esprito Santo), PB (Alhandra, Paraba), PE (Camaragibe, Pernambuco), SP (Piracicaba, So Paulo), PR (Paranava, Paran).
A tarja vermelha mostra a posio do primeiro epitopo, enquanto a tarja azul mostra a posio do segundo epitopo.
Referncias Bibliogrficas
FITCH, M. M., MANSHARDT, R. M.,
GONSALVES. D., SLIGHTOM, J. L &
SANFORD, J. C. Virus resistant papaya
plants derived from tissues
bombarded with the coat protein
gene of papaya ringspot virus. Bio /
Technology, v.10, p.1466-1472, 1992.
SOUZA JR., M. T. Analysis of the
15
Resistncia de Inimigos
Naturais a Pesticidas
Pesquisa
Marcelo Poletti
Celso Omoto
16
Introduo
A utilizao de pesticidas como
estratgia de controle de pragas na
agricultura moderna tem se contraposto teoria preconizada pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP) (Kogan,
1998) devido maneira e intensidade
sob as quais tem sido empregada. O
freqente uso de produtos de largo
espectro de ao, alm de afetar o
desenvolvimento da dinmica populacional de inimigos naturais em campo, interferindo sobre o equilbrio dos
mais variados organismos, no
agroecossistema, tambm est associado a outros problemas entre os quais
a evoluo da resistncia de insetos e
caros a pesticidas.
A resistncia, por definio, o
desenvolvimento de uma habilidade
em uma determinada linhagem de um
organismo em tolerar doses de txicos
que seriam letais para a maioria da
populao suscetvel da mesma espcie. Trata-se de uma caracterstica hereditria sendo um termo que se aplica
intraespecificamente. O processo
determinante no desenvolvimento da
resistncia a presso de seleo,
dada pelo uso freqente de um mesmo
pesticida ou de pesticidas pertencentes a um mesmo grupo qumico. De
acordo com Roush & Mckenzie (1987),
no incio da evoluo da resistncia,
estima-se que a freqncia dos alelos
que conferem essa caracterstica a uma
populao bastante baixa (10-2 a 1013
). No entanto, devido ao uso contnuo
de um mesmo pesticida, a freqncia
de resistncia poder aumentar em
nveis em que a eficcia do produto
afetada devido a esse fato (freqncia
crtica de resistncia).
Resistncia de caros
Fitosedeos a Pesticidas
Os caros fitosedeos (Acari:
Phytoseiidae) tm constitudo o grupo
de inimigos naturais mais explorado
em estudos dirigidos resistncia. Esses predadores apresentam parmetros intrnsecos que favorecem a evoluo dessa caracterstica, destacandose o alto potencial reprodutivo e o
rpido ciclo de vida, alm do fato de
algumas espcies reproduzirem-se por
parahaploidia ou pseudo-arrenotoquia.
Neste tipo de reproduo, machos e
fmeas so originados de ovos diplides
(2n) fecundados. No entanto, durante
o processo embrionrio, ocorre a perda de um conjunto de cromossomos de
origem paterna nos ovos que daro
origem aos machos haplides (n) (Hoy,
17
Quadro 1 - Alguns exemplos de casos de caros fitosedeos (Acari: Phytoseiidae) resistentes a pesticidas no mundo.
Espcie
Amblyseius fin lan dicus
I. A.1
azinfosmetil
Pesticida
Classe2
I
Grupo Qumico3
O
Local
Referncia
Finlndia
A. hibisci
paration
EUA
carbaril
Taiwan
fenvalerate
deltametrina
I
I
P
P
China
China
Zhu et al.(1996)
Ding et al. (1983)
pentoato
Itlia
permetrina
Japo
Mochizuki(1994)
deltametrina
Brasil
carbaril
EUA
Poletti (2002)
Grafton-Cardwell &
Ouyang (1993)
carbaril
EUA
deltametrina
mancozebe
I
F
P
A
Brasil
Frana
Poletti (2002)
Auger et al. (2001)
fosmet
Uruguai
permetrina
deltametrina
azinfosmetil
cipermetrina
I
I
I
I
P
P
O
P
EUA
Frana
EUA
Canad
Navajas et al (2001)
Fournier et al. (1987)
Croft & AliNiazee (1983)
Marshall et al. (2001)
Lo et al. (1984)
18
em populaes de Amblyseius
womersleyi (importante predador de
Tetranychus kanzawai na cultura do
ch nesse pas) coletadas em diferentes reas, concluiu que a resistncia
observada em uma dessas populaes relacionou-se diretamente com
o nmero de aplicaes desses produtos realizadas em campo. Sato et
al. (2000) realizando quatro presses
de seleo em laboratrio com
metidation obtiveram um aumento
de aproximadamente 21 vezes na
razo de resistncia de uma populao de A. womersleyi a esse produto.
No Brasil, Sato et al. (2002) realizaram coleta de uma populao de
Neoseiulus californicus (Figura 2) em
cultivo de morango na regio de
Atibaia/SP e observaram que ela apresentou elevada tolerncia a diversos
pesticidas como o acaricida propargite
e o inseticida dimetoato. Neste caso, os
autores sugerem que tal fato pode
estar associado s presses de seleo
exercidas pelas aplicaes desses produtos em campo, o que pode ter contribudo para a evoluo da resistncia
na populao avaliada. Poletti et al.
(2003) avaliaram a suscetibilidade
deltametrina nessa mesma populao
de N. californicus, coletada em morango (Atibaia/SP) e mantida na Estao
Experimental do Instituto Biolgico
(Campinas/SP) desde 1999, e em uma
populao dessa mesma espcie, oriunda de um pomar comercial de ma em
Fraiburgo/SC. Evidenciou-se que a
populao proveniente de Atibaia/SP
(morango) foi aproximadamente 24
mais tolerante deltametrina do que a
populao coletada em ma. De acordo com Monteiro (2001), o inseticida
deltametrina foi extremamente txico
para uma populao de N. californicus
coletada em pomar de ma situado
em Vacaria/RS. Dessa forma, pode-se
sugerir que a explorao de linhagens
resistentes de N. californicus a deltametrina ou outros inseticidas nocivos
pode ser uma ferramenta importante
dentro do manejo integrado em ma
na regio sul do Brasil.
Em citros, Poletti (2002) detectou
resistncia a deltametrina em populaes de Euseius concordis (Figura 3) e
Iphiseioides zuluagai (Figura 4)
coletadas em diferentes pomares situados no Estado de So Paulo, fato que
Liberao e
Estabelecimento de
Linhagens de Fitosedeos
Resistentes a Inseticidas
Em 1972, uma linhagem de G.
occidentalis resistente a organofosforados foi enviada da Amrica do Norte
para a Austrlia. Segundo Readshaw
(1975) citado por Gerson et al. (2003)
este foi o primeiro relato de transferncia intercontinental de inimigos naturais resistentes no mundo. Linhagem
de G. occidentalis resistente a organofosforados, tambm foi introduzida na
antiga Unio Sovitica (URSS) no incio
dos anos 80 para o controle biolgico
de Tetranychus pruni obtendo-se um
grande sucesso no estabelecimento da
mesma (Petrushov, 1987). Hoy et al.
(1983) tambm obtiveram sucesso na
liberao e estabelecimento de linhagens resistentes de G. occidentalis a
organofosforados e piretrides em pomares de ma e pra nos Estados
Unidos, sugerindo uma relao entre a
densidade populacional da praga em
campo e o estabelecimento das populaes de fitosedeos liberadas.
19
ado em liberaes constantes de linhagens resistentes a inseticidas organofosforados e carbamatos, sendo essa
uma condio primordial para o controle desses caros-praga (Blommers,
1994). Na Holanda, por exemplo, brotos de plantas de ma contendo T.
pyri so transportados de um pomar a
outro por ocasio da poda realizada no
vero (Blommers, 1994). De forma
sinttica, a introduo de linhagens de
caros predadores fitosedeos resistentes a pesticidas, tm sido muitas vezes
efetiva, sendo essa ttica uma forma
anloga ao controle biolgico clssico,
utilizando-se, porm, um bitipo diferenciado de inimigo natural (Dunley el
al., 1991).
Em termos prticos, Hoy (1985b)
props um programa de manejo de
caros na cultura da amndoa
(Califrnia/EUA) baseando-se na liberao de linhagens de G. occidentalis
resistentes a inseticidas, associados
utilizao de acaricidas seletivos. Uma
economia de aproximadamente 60-110
dlares/ha/ano foi estimada para cada
produtor de amndoa, que aderiu ao
programa de liberaes de linhagens
resistentes, observando-se que a maior
economia foi devido reduo nos
gastos com acaricidas (Headley & Hoy,
1987). A estimativa mais recente feita
por Hoy (2000) associou os resultados
deste projeto a um benefcio, desde o
incio do programa, de aproximadamente 20 milhes de dlares.
Avaliao do
Estabelecimento de
Linhagens Resistentes de
Fitosedeos Introduzidas
em Campo
O monitoramento da freqncia
de resistncia considerado uma importante ferramenta para avaliar o
estabelecimento de linhagens de
fitosedeos selecionadas em laboratrio e introduzidas em condies em
campo. Para isso, a tcnica mais empregada tem-se baseado na realizao
de bioensaios toxicolgicos para as
estimativas da CL50 e intensidade de
resistncia (CL50 da populao em estudo / CL50 da linhagem suscetvel de
referncia). No entanto, para a realizao destes bioensaios algumas etapas como a coleta de um grande
Resistncia de Insetos
Parasitides e Predadores a
Pesticidas
Apesar do nmero de casos de
resistncia a pesticidas em insetos
parasitides e predadores no ser to
expressivo quanto para os caros
fitosedeos, alguns trabalhos tm mostrado que h possibilidade de populaes desses organismos responderem presso de seleo com alguns
produtos tanto em laboratrio como
em campo (Quadros 2 e 3).
Strawn (1978) citado por Hoy
(1990) realizou estudos com intuito
de avaliar a variabilidade na suscetibilidade a inseticidas organofosforados
Quadro 2 - Alguns exemplos de casos de insetos inimigos naturais (parasitides) resistentes a pesticidas no mundo.
Espcie
I. A.1
malation
Pesticida
Classe2
I
Grupo Qumico3
O
Local
Referncia
EUA
frica do
Sul
Israel
Israel
Israel
EUA
EUA
frica do
Sul
Hawaii
Quadro 3 - Alguns exemplos de casos de insetos inimigos naturais (predadores) resistentes a pesticidas no mundo.
Espcie
I. A.1
Pesticida
Classe2
Grupo Qumico3
Local
azinfosmetil
EUA
triclorfon
EUA
fosmet
Canad
Coleomegilla maculata
parationmetil
EUA
azinfosmetil
EUA
DDT
OC
Austrlia
Nabis sp.
triclorfon
EUA
Xylocoris flavipes
malation
EUA
Aphidoletes aphidimyza
Geocoris pallen s
Chrysoperla carn ea
Labidura riparia
Referncia
Warner & Croft (1982)
Johansen & Eves (1973)
Pree et al. (1989)
Chambers (1973)
Hull & Staner (1983)
Bishop & Blood (1980)
Johansen & Eves (1973)
Baker & Arbocast (1995)
21
carnea, crisopdeo, coletadas em diferentes reas produtoras de alfafa situadas na Califrnia, a seis inseticidas
comumente utilizados nesta cultura
(carbaril, metomil, permetrina,
fenvalerate, diazinon e fosmet). As
populaes avaliadas responderam de
modo distinto a todos produtos testados, sendo que esta variabilidade foi
considerada suficientemente promissora para seleo artificial de populaes de C. carnea para resistncia a
alguns produtos, fato que incentivou a
continuidade deste projeto. No entanto, liberaes efetivas de linhagens
resistentes de C. carnea em campo no
tm sido relatadas, apesar da realizao de seleo de linhagens resistentes
a alguns produtos como carbaril
(Grafton-Cardwell & Hoy, 1986).
Desvantagem Adaptativa
Associada Resistncia
A desvantagem ou custo adaptativo uma caracterstica que pode estar
associada resistncia em populaes
de artrpodes pragas ou inimigos naturais (caros ou insetos). Devido possibilidade do menor valor adaptativo
dos indivduos resistentes estar associado a uma menor viabilidade total,
menor fecundidade, menor tempo para
desenvolvimento, menor competitividade para o acasalamento, entre outros parmetros biolgicos importantes, no caso das pragas essa uma
condio favorvel adoo de estratgias de manejo.
No entanto, com relao aos
inimigos naturais, o fato da linhagem
selecionada apresentar alteraes em
alguns de seus parmetros biolgicos pode afetar diretamente o desempenho dela como agente de controle biolgico. Duso et al. (1992)
observaram uma reduo na fecundidade em linhagens dos fitosedeos T.
pyri e Amblyseius andersoni resistentes a inseticidas organofosforados. No entanto, Fitzgerald & Solomon
(2000) evidenciaram que uma populao de T. pyri resistente a organofosforados, coletada em um pomar na
Inglaterra, apresentou uma maior fecundidade do que a populao tomada como suscetvel de referncia.
Fournier et al. (1988) comparando
parmetros relacionados tabela de
22
Mecanismos de Resistncia
em Inimigos Naturais
Os principais mecanismos pelos
quais os artrpodes podem expressar
resistncia so a reduo na penetrao cuticular do produto, aumento na
destoxificao metablica e reduo
na sensibilidade do stio de ao.
Os indivduos resistentes devido
reduo na penetrao cuticular
recebem uma menor quantidade de
txico no stio de ao do produto. J
a resistncia conferida devido ao aumento na destoxificao metablica
ocorre quando os indivduos so capazes de degradar a molcula qumica
em compostos inertes com maior eficcia do que os indivduos suscetveis. Vrios grupos enzimticos
(monooxigenases dependentes do
citocromo P-450, esterases, GSHtrnasferase, etc.) esto envolvidos no
metabolimos de pesticidas e tm sido
identificados como mecanismo de resistncia em vrias espcies de
artrpodes. Com relao aos indivduos resistentes devido reduo na
sensibilidade do stio de ao, eles
apresentam uma alterao deste, mostrando uma menor sensibilidade ao
produto qumico.
De acordo com Motoyama et al.
(1971) o mecanismo de resistncia de
N. fallacis a azinfosmetil foi relacionado
enzima glutation S-transferase. No
Biotecnologia na Obteno
de Linhagens de Inimigos
Naturais Resistentes a
Pesticidas
A seleo artificial de linhagens
de inimigos naturais resistentes a
pesticidas nem sempre tem sido efetivada com sucesso. De acordo com
Hoy (1990) algumas tcnicas como a
induo artificial de mutagnese ou a
tcnica do DNA recombinante poderiam ser ferramentas exploradas no
melhoramento de inimigos naturais
resistentes a pesticidas.
Com relao induo de
mutagnese visando resistncia, pode
ser realizada utilizando-se substncias
qumicas ou irradiao-X (Hoy, 1990).
Sabendo-se que as mutaes ocorrem
ao acaso, e podem resultar na produo de linhagens com genes deletrios, com relao induo de inimigos
naturais mutantes, esse fato pode ser
indesejvel, principalmente quando o
intuito da seleo dessa linhagem a
produo massal desses organismos
para a introduo em campo.
A utilizao da tcnica do DNA
recombinante tem sido considerada a
mais vivel para a implementao da
resistncia em inimigos naturais. Vrias etapas envolvem esse processo,
sendo necessrio inicialmente realizar a identificao dos genes que
governam a resistncia, posteriormente devem ser clonados e inseridos no
organismo (inimigo natural) geralmente atravs de microinjeo. Aps a
incorporao no genoma esse gene
deve estabilizar, se expressar apropriadamente e ser transmitido s prognies. G. occidentalis foi o primeiro
inimigo natural melhorado atravs
Perspectivas para
Explorao de Inimigos
Naturais Resistentes em
MIP no Brasil
Apesar do elevado nmero de
casos de implementao de programas de manejo de pragas baseados na
liberao de linhagens resistentes de
inimigos naturais (destacando-se os
caros fitosedeos) em vrios pases,
no Brasil esse assunto ainda
incipiente. No entanto, as possibilidades de explorao desta ferramenta,
que agrega harmoniosamente o controle qumico ao biolgico, parecem
promissoras. No caso do emprego de
N. californicus para o controle de P.
ulmi em pomares de ma no Rio
Grande do Sul (Monteiro, 2002), a
utilizao de linhagens resistentes
desse predador poderia contribuir para
a preservao contnua dessa espcie
nos pomares, inclusive durante as
pulverizaes para o controle de insetos comumente associados a essa cultura como Grapholita molesta.
A implementao de programas
de manejo de caros-praga em cultivo
protegido tambm emerge como uma
possibilidade para a explorao de
linhagens resistentes de inimigos naturais no Brasil, podendo reduzir o n-
Referncias Bibliogrficas
ADAMS, C. H.; CROSS, W. H. Insecticide
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23
25
Pesquisa
O Mapeamento Gentico no
Melhoramento de Plantas
Teoria e aplicaes inseridas em um programa de melhoramento de plantas
Resumo
Os mapas genticos idealizados
h quase um sculo, tiveram sua
importncia aumentada para programas de melhoramento de plantas
com a utilizao dos marcadores
moleculares, que, entre outras inovaes, podem ser obtidos em nmero
praticamente ilimitado. Inmeros
mapas de ligao que foram construdos com a utilizao de diferentes
populaes e estratgias esto disponveis na literatura para todas as
grandes culturas vegetais. Detectar
loci que afetem a expresso de caractersticas quantitativas tem sido considerado por vrios autores como
uma das aplicaes de maior retorno
da utilizao de mapas genticos no
melhoramento de plantas.
1 - Histrico
Prticas que visam o melhoramento de plantas no so recentes e
tm sido realizadas desde os
primrdios da civilizao (BORM,
1999). O avano gentico resultado
dessas prticas depende de duas caractersticas populacionais principais;
primeiro: da existncia de variabilidade gentica na populao; e segunda: da herdabilidade das caractersticas desejadas (CRUZ & CARNEIRO, 2003).
Historicamente, foram pouco utilizados os mapas de ligao no auxlio
seleo em programas de melhoramento, at mesmo em espcies bem
estudadas como milho, Zea Mays, e
27
2 - Etapas da construo de
um mapa gentico.
Em geral, o primeiro passo na
construo de um mapa de ligao
28
29
30
Figura 3 - Grupos de ligao 1 e 2 paramtricos ( direita) e estimados ( esquerda), utilizando a metodologia de Mxima
Verossimilhana para a obteno das estimativas da freqncia de recombinao r e a metodologia da delineao rpida em cadeia
para o ordenamento dos locos. Para isso, foi gerada uma populao F2, constituda de 100 indivduos, com 47 marcas dominantes.
expresso de caractersticas de interesse esto diretamente relacionadas com a eficincia da seleo assistida por marcadores moleculares.
Nesse contexto, a conduo de experimentos que possibilitem o isolamento do efeito ambiental, juntamente com a anlise exaustiva de
algumas centenas de gentipos, permite o desenvolvimento de marcadores com alta eficincia de seleo.
A possibilidade de monitoramento da incorporao de genes de
interesse por retrocruzamento, a seleo precoce baseada no ndice de
heterose entre os indivduos e a
presena das marcas moleculares
para as caractersticas desejadas so
utilizaes que, potencialmente, po-
31
4. Referncias
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32
Pesquisa
Filmes Comestveis
de Quitosana
Ao biofungicida sobre frutas fatiadas
Biloga - Estagiria,
Embrapa Instrumentao Agropecuria
ariane@cnpdia.embrapa.br
Ilustraes: Embrapa Instrumentao Agropecuria
Introduo
sar revestimentos e coberturas em frutas e vegetais com o objetivo de
aumentar seu perodo de
preservao no consiste em prtica recente. Segundo
Hardenburg (1967), emulses derivadas de leos minerais tm sido
empregadas desde o sculo 13 na
China, na conservao de frutos ctricos e em outros produtos que
eram transportados por longas distncias por via martima. Na dcada
de 1950, a cera de carnaba foi
introduzida para esse fim, mas, devido aparncia fosca resultante de
sua aplicao, foram misturados com
polietileno e parafina. Nos anos de
1960, ceras e vernizes processados a
partir de gomas solveis em gua se
tornam populares no revestimento
de ctricos e frutas em geral.
As coberturas denominadas comestveis como hoje conhecemos
so mais recentes, e datam das dcadas finais do sculo passado , quando os produtores tiveram seu interesse p elas aumentado devido
expanso da oferta de produtos processados. A indstria dos chamados
alimentos minimamente processados foi inicialmente desenvolvida
com o objetivo de suprir restaurantes, hotis e instituies similares.
Nas ltimas dcadas, contudo, em
funo das convenincias da vida
moderna, os produtos processados
experimentaram uma significativa
expanso, com oferta de opes no
varejo e facilidade de escolha para o
consumo direto.
33
Respirao em Frutos
Sob condies ideais, a maioria
das plantas, incluidos seus frutos,
respira aerobicamente. A respirao
aerbica envolve a quebra de molculas de carboidratos obtidos durante a fotossntese. A queima lenta
desses compostos ricos em energia,
dos quais um dos mais simples a
glicose, constitui atividades metablicas bem conhecidas e so usadas na
formao de adenosina trifosfatada
(ATP). Durante o processo respiratrio normal, a planta usa o oxignio da
atmosfera como um aceptor de eltrons no processo de fosforilao e
libera dixido de carbono.
Quando o fruto colhido, h
uma interrupo no balano gasoso,
ocorrendo um alto influxo do oxignio com proporcional perda do CO2.
Nessa nova condio (alta concentrao de O2 com baixa de CO2), as
clulas internas no so mais reno34
Revestimentos
Hidrocolides
Um dos materiais de interesse
no processamento de coberturas so
os hidrocolides. Hidrocolides so
polmeros solveis em meios aquosos, estabilizados em gis que normalmente, solidificam e formam filme por evaporao direta do
solvente. Os revestimentos de
hidrocolides constituem excelente
barreira aos gases, mas oferecem
fraca proteo migrao do vapor
de gua, dada a sua natureza
hidroflica.
Os hidrocolides utilizados na
preparao de filmes comestveis podem ser classificados segundo a sua
composio, massa molecular e solubilidade. De acordo com Donhwe e
Fennema (1994), os filmes hidrocoloidais mais utilizados so os
glucdicos e os proticos. Os glcidos
mais utilizados so os derivados de
celulose, os alginatos, as pectinas, a
goma-arbica e o amido ou amido
modificado. A protena de soja, o
glten, a zena e o soro de leite so
algumas das protenas freqentemente utilizadas na preparao de revestimentos comestveis.
Polissacardeos de origem animal tm sido avaliados como uma
alternativa consideravelmente econmica e eficiente para esse fim,
sendo a quitosana o composto mais
estudado (Coma et al., 2002).
A quitosana
A quitosana um polmero natural derivado do processo de desacetilao da quitina, que tido como o
segundo polissacardeo mais abundante da natureza, atrs apenas da
celulose. Sua estrutura formada pela
repetio de unidades beta (1-4) 2amino-2-deoxi-D-glucose (ou Dglucosamina) e apresenta uma cadeia
polimrica quimicamente similar da
celulose, conforme expressa na Figura 1. Devido a suas caractersticas
atxicas e de fcil formao de gis, a
quitosana tem sido considerada h
dcadas como um composto de interesse industrial e especialmente de
uso farmacutico (Campana-Filho &
Desbrires, 2000). Recentemente, contudo, uma srie de estudos tem sido
publicada caracterizando o uso da
quitosana como cobertura de alimentos ou revestimentos protetores em
frutas e legumes processados (Shahidi
et al., 1999; Coma et al., 2002). Esses
trabalhos enfocam, essencialmente,
as propriedades antifngicas e
antibacterianas da quitosana, conforme demonstrado por No et al., (2002),
indicando por conseguinte o seu uso
potencial sobre superfcies cortadas
ou sobre frutos com alta taxa de
maturao ps-colheita. Como a
quitosana constitui-se de fibras no
digerveis, no apresenta, portanto,
valor calrico, independentemente da
quantidade ingerida, o que mais um
atrativo para a indstria alimentar.
As diferentes caractersticas do
produto comercial tornam-se um dos
aspectos que tm dificultado seu pleno uso na industria alimentcia. As
quitosanas disponveis, principalmente no Brasil, so de procedncias
diversas e apresentam diferentes
graus de pureza e densidade molar,
alm de no seguirem industrialmente um procedimento comum de desa-
Metodologia para
Formao de Gis e
Revestimento
A quitosana empregada nesta
avaliao foi obtida em farmcias de
manipulao, sendo, segundo informao inscrita, procedente da purificao de quitinas extradas de cascas
de camaro. Esse material apresenta
aspecto granular, ligeiramente amarelado e pode ser classificado como
de mdia massa molar (Signini &
Campana-Filho, 1998).
Os gis foram preparados por
dissoluo sob agitao moderada em
cido actico 0,5 M at equilbrio em
pH prximo a 3. Estudos preliminares
indicaram que os melhores resultados
na formao de filmes so conseguidos com solues com concentraes
de quitosana prximos a 20 g/L (Assis
& Pessoa, 2003). So necessrios perodos superiores a 12 horas de agitao para obter uma total homogeneizao da soluo. Para simplificar o
processo, todo o procedimento foi
realizado sob temperatura ambiente.
Frutos comerciais de mas da cv.
Gala, foram secionadas ao meio, dois
procedimentos de revestimento
adotados: i) as amostras foram imersas
com a ajuda de um suporte metlico na
soluo filmognica e ii) as amostras
foram revestidas por nebulizao, com
35
Worrell at al., (2002) demonstram que uma das principais caractersticas de um filme protetor na reduo de perda de massa o estabelecimento de uma boa diferena nos
valores de presso de vapor entre o
fruto e sua vizinhana. Apesar da
quitosana ser um material hidroflico
com significativa taxa de absoro de
gua (Assis & Silva, 2003) o efeito
redutor da perda de massa efetivo
e claramente observado. Resultados
similares foram coletados para as
amostras revestidas por spray.
O carter antifngico da
quitosana foi avaliado qualitativamente atravs do acompanhamento fotogrfico de colnias espontaneamente crescidas sobre as superfcies cortadas. Embora no tenha
sido realizado um acompanhamento rigoroso das culturas e das espcies de fungos, de modo geral, os
filmes apresentaram boa ao
antifngica. Fica visualmente clara
essa ao na comparao das mas revestidas com as no revestidas.
Faces no recobertas apresentam
proliferao de fungos a partir do
quinto dia, com progresso significativa nos perodos seguintes. A
Figura 6 apresenta exemplo da aparncia das faces aps o oitavo dia
de estocagem.
O efeito fungicida da quitosana
atribudo ao de enzimas
quitonolticas, como a quitinase,
que degradam as paredes celulares dos fungos e provocam a extrao de agentes antimicrobianos
como a fitoalexina e a pisatina
(Hirano & Nagao, 1989, Coma et
al., 2002). A quitinase pertence a
uma famlia de protenas denominada protenas relacionadas com a
patognese (conhecidas como protenas de defesa) ou protenas PR
(Pathogenesis Related proteins).
Essas protenas formam um grupo
estrutural e funcionalmente heterogneo que so capazes de inibir
o crescimento da hifa.
Essas atividades antifngicas
so freqentemente influenciadas
pelo pH local. Estudos conduzidos
por Sudarshan e colaboradores
(1992) indicaram que a interao
entre quitosana positivamente carregada (o que ocorre em meio cido) e resduos ou superfcies
microbianas negativamente carregadas so fundamentais para uma
efetiva ao inibitria do crescimento de microorganismos. Feng
et al., 1994, tambm mostraram que
a atividade microbiana da quitosana
aumenta com o porcentual de desacetilao, que, normalmente, se encontra entre 65% a 85%. Jung, et al.,
(1999) resumem as atividades
antimicrobianas da quitosana em
dois principais mecanismos: i) A
natureza catinica da quitosana, que
37
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38
Pesquisa
Bactrias Produtoras
de Biossurfactantes
Produo de biossurfactantes por bactrias isoladas de poos de petrleo
Resumo
Os biossurfactantes so molculas produzidas por bactrias, fungos ou leveduras, que apresentam
propriedades biolgicas aplicveis
a vrias indstrias, tais como, a indstria farmacutica, de cosmticos,
de petrleo e de alimentos. Estes
compostos, nos ltimos anos, tm
recebido ateno especial devido
sua biodegradabilidade, baixa
toxicidade e conseqente aceitabilidade ecolgica. Os biossurfactantes
so classificados em glicolipdeos,
lipopeptdeos e lipoprotenas,
biossurfactantes polimricos, fosfolipdeos e cidos graxos. Dentre os
glicolipdeos, os mais estudados so
os raminolipdeos, produzidos por
Pseudomonas aeruginosa. Este trabalho teve como objetivo a produo de biossurfactantes raminolipdico por bactrias isoladas de poos
de petrleo. Inicialmente, 40 bactrias isoladas de poos de petrleo
no Canto do Amaro/RN foram isoladas e caracterizadas como produtoras ou no de raminolipdeos, utilizando-se um ensaio primrio
semiquantitativo. Destas bactrias,
13 deram resultado positivo e foram
identificadas como Pseudomonas
aeruginosa, com exceo de duas
bactrias, que foram identificadas
apenas como Pseudomonas. Na segunda etapa foram realizados cultivos em frascos agitados com meio
de cultura contendo glicose ou
glicerol como fontes de carbono. O
glicerol foi uma fonte mais apropriada, com produtividade de raminose
maior que aquela encontrada na literatura utilizando o mesmo meio e
outra linhagem isolada de outro local. Na etapa seguinte, foram realiza-
1. Introduo
Os surfactantes compreendem
uma classe importante de compostos
qumicos muito utilizados em diversos
setores industriais, uma vez que atuam
como dispersantes e/ou solubilizantes
de compostos orgnicos, apresentando baixa solubilidade em gua. A importncia comercial dos surfactantes
torna-se evidente a partir da tendncia
do mercado que vem aumentando sua
produo em decorrncia da diversidade de aplicaes industriais.
Os surfactantes possuem estrutura molecular com grupos hidroflicos
e hidrofbicos que exibem propriedades como adsoro, formao de
micelas, formao de macro e micro
emulses, ao espumante ou
antiespumante, solubilidade e detergncia. Um dos ndices mais utilizados para avaliao desta atividade
surfactante a concentrao de micelas
crticas (CMC) que a solubilidade de
um surfactante dentro da fase aquosa
ou a concentrao mnima requerida
para atingir a mais baixa tenso superficial ou interfacial (Lin, 1996). A eficincia e a efetividade so caractersticas bsicas essenciais que determinam um bom surfactante. A eficincia
medida atravs da CMC que varia de
1 a 2000 mg/l, enquanto que a
efetividade est relacionada com as
39
Figura 1. Dimetro dos halos azuis das bactrias caracterizadas como produtoras de
raminolipdeo.
Figura 2. Tenso superficial obtida durante cultivo em frascos agitados em meio MLR
contendo glicose como fonte de carbono.
2. Materiais e Mtodos
Figura 3. Tenso superficial obtida durante cultivo em frascos agitados em meio MG
contendo glicerol como fonte de carbono.
Microrganismos
Foram utilizadas 40 bactrias, 20
Gram-positivas e 20 Gram-negativas,
pertencentes coleo de culturas de
microrganismos do Departamento de
Antibiticos da UFPE (DAUFPE), isoladas de poos de petrleo de Canto
do Amaro/Mossor/RN (Tabela 2).
Meios de Cultura
41
quantificao de raminolipdeos
expressa em raminose, foi avaliada pelo mtodo colorimtrico
do fenol cido sulfrico (Dubois
et al., 1956);
c) Concentrao de biomassa
um volume conhecido da amostra foi centrifugado em tubos de
eppendorfs (pesados previamente P1) a 11000 rpm, durante 5
minutos. O sobrenadante foi recolhido para anlises posteriores e os tubos de eppendorfs
contendo a biomassa foram colocados em estufa a 800C. Aps
24 horas, os tubos foram pesados (P2). A concentrao de
biomassa expressa em g.l-1 foi
obtida pela equao: (P2-P1)/
V(L), onde V foi o volume
centrifugado em litro.
Degradao de Petrleo
No ensaio de degradao de petrleo foi utilizada a metodologia de
Brown e Braddock (1990) modificada,
uma vez que no presente trabalho o
ensaio foi realizado em tubos e a
concentrao de raminose foi determinada. Os tubos de ensaio continham o
meio BH, o inculo e o petrleo bruto.
O tubo controle negativo no continha
inculo. Todos os tubos foram incubados a 30C por 20 dias.
3. Resultados e Discusso
Caracterizao das Bactrias
Isoladas de Poos de Petrleo
Na seleo primria das bactrias
para a caracterizao como produtoras
de biossurfactantes raminolipdicos,
27,5% (11) das bactrias Gram-negativas deram resultados positivos aps 72
horas de cultivo (Figura 1).
Das 20 bactrias Gram-positivas
utilizadas, apenas a linhagem DAUFPE511 (H2) foi caracterizada como produtora de biossurfactante raminolipdico.
Por outro lado, das 20 linhagens Gramnegativas, 12 (60%) exibiram a formao de halo azul nessa seleo primria.
A identificao bioqumica das
12 bactrias Gram-negativas permitiu o conhecimento da espcie. Com
exceo das bactrias Pseudomonas
sp. 570-BA2, e Pseudomonas sp. 615E2, todas foram identificadas como
Pseudomonas aeruginosa.
Produo de Biossurfactantes
Raminolipdico em Frascos
Agitados
43
Conforme a Tabela 3, as linhagens 611-B4, 575-D1B2 e 614-D2 apresentaram os menores valores de tenso superficial, 28,2; 28,7 e 28,3 mN/
m, respectivamente. Segundo Desai e
Banat (1997), a tenso superficial durante a produo de raminolipdeos
por P. aeruginosa pode chegar a 29
mN/m, de forma que os valores mnimos de tenso superficial encontrados no presente trabalho so similares
aos relatados na literatura.
A maioria das bactrias apresentou crescimento mximo com 48 horas de cultivo, sendo a maior concentrao de biomassa observada (Figura
5) para a linhagem P. aeruginosa-575D1B2, que alcanou 2,53 g/l . Con-
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq
(Conselho Nacional de
Desenvolvimento e Pesquisa) pelo
apoio financeiro recebido.
4. Referncias
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45
Pesquisa
Marcadores Microssatlites
em Espcies Vegetais
Desenvolvimento e caracterizao de marcadores microssatlites em espcies vegetais tropicais
46
Introduo
Marcadores moleculares podem
ser derivados de qualquer tipo de
dado molecular que fornea um polimorfismo detectvel entre os organismos a serem comparados. Os marcadores moleculares tm sido utilizados
em anlise gentica com as mais diversas finalidades, tais como identificao de clones, linhagens, hbridos,
cultivares, paternidade, estimativas de
diversidade, fluxo gnico, taxa de
cruzamento, parentesco e na construo de mapas genticos. Devido ao
desenvolvimento nos campos da biologia molecular e gentica, uma grande variedade de tcnicas para analisar
polimorfismos genticos tem sido
disponibilizada. Esses marcadores
podem diferir com respeito a caractersticas importantes como abundncia
genmica, nvel de polimorfismo detectado e informao gentica, especificidade dos locos, reprodutibilidade, requerimentos tcnicos e investimento financeiro.
Uma das tcnicas mais indicadas
para estudar polimorfismos entre seqncias de DNA SSR (Simple
Sequence Repeats) ou microssatlites (Litt e Luty, 1989; Weber e May,
1989). Essa tcnica baseia-se no uso
de pares de primers na reao de PCR
para detectar variaes em locos de
seqncias repetitivas. Estas so constitudas de 1 a 6 nucleotdeos que se
repetem lado a lado no genoma de
eucariotos. A tcnica de SSR revela
polimorfismo em um loco devido a
diferenas no nmero de vezes (n)
em que, por exemplo, um dinucleotdeo (AG)n se repete naquele loco.
Material e Mtodos
Material experimental
O desenvolvimento de marcadores SSR requer uma quantidade
mnima de 50 g de DNA de boa
qualidade. Para a extrao de DNA
na grande maioria das espcies vegetais, tem sido utilizado o protocolo
com o detergente CTAB (cationic
hexadecyl trimethyl ammonium
bromide), como descrito por Ferreira
& Grattapaglia (1998). O DNA foi
extrado de folhas jovens de um acesso de cada uma das cinco espcies:
pimento (Capsicum annuum), feijo (Phaseolus vulgaris), coco (Cocos
nucifera), copaba (Copaifera
langsdorffii) e jatob (Hymenaea
courbaril).
Construo de biblioteca
genmica enriquecida para SSR
Na construo de biblioteca
genmica enriquecida para SSR, foi
utilizado o protocolo desenvolvido
por Rafalski et al. (1996), com algumas adaptaes. Foram testadas digestes do DNA genmico com trs
enzimas de restrio, MseI, Sau3AI e
Tsp509I para se obterem fragmentos
entre 300 e 800 pares de bases. Para
pimento, feijo e coco, o DNA
genmico foi digerido com Tsp509I,
para copaba e jatob, com Sau3AI e
os fragmentos de tamanho entre 300
e 800 bp foram recuperados em membrana de celulose (DEAE-celulose
NA-45), via eletroforese em gel de
agarose. Aproximadamente 30 g dos
47
Resultados e Discusso
A eficincia do enriquecimento,
da seleo por hibridizao e da
seleo de clones que continham
seqncias hipervariveis por PCRancorado resultou na obteno de
um grande nmero de clones positivos a serem seqenciados, evidenciando-se a abundncia de elementos
repetitivos no genoma das espcies
analisadas (Tabela 2). As bibliotecas
enriquecidas foram hibridizadas com
a sonda AG/TC, para deteco de
microssatlites e foram selecionados
575 clones para pimento, 286 para
feijo, 115 para coco, 270 para copaba
e 235 para jatob. Aps seleo por
PCR-ancorado, 475 clones da biblioteca de pimento, 100 de feijo, 76 de
coco, 156 de copaba e 86 de jatob
mostraram-se adequados ao seqenciamento. Destes, 259 para pimento, 28 para feijo, 43 para coco, 156
para copaba e 86 para jatob mostraram-se adequados para o desenho de
primers (Tabela 1). Em vrios casos,
a limitada distncia entre a seqncia
flanqueadora e a regio SSR mostrouse insuficiente para o desenho dos
primers. A maioria dos SSRs detectados continha repeties AG e TC,
apesar de tambm terem sido detectados SSRs com repeties TA e CA.
Os microssatlites variaram em comprimento, alguns tendo 40 repeties
perfeitas. Microssatlites que contm
repeties AG/TC so comuns em
vrias espcies de plantas (Gupta &
Varshney, 2000), o que parece tambm ser o caso das espcies trabalhadas neste estudo.
Para a determinao da temperatura tima para cada par de primers,
foram utilizadas amostras das espcies em estudo. Inicialmente, todos
os primers foram testados com a
temperatura de anelamento a 56oC.
Essa temperatura foi ento aumentada ou diminuda de acordo com o
produto gerado na PCR. A no amplificao ou amplificao de bandas fracas indicou a necessidade de
reduzir a temperatura de anelamento
do primer. Por outro lado, a presena de vrias bandas indicou a amplificao de produtos inespecficos,
tornando necessrio o aumento da
temperatura de anelamento.
se 48 indivduos de pimento, 85 de
feijo e 96 de coco, jatob e copaba
(Tabela 2).
Para pimento, at o momento,
foram caracterizados 51 locos, sendo 3 monomrficos e 48 polimrficos. A diversidade allica foi de 0,3
a 0,83 e o nmero de alelos variou
entre 2 e 11, com uma mdia de,
aproximadamente, 6 alelos por loco.
Cerca de 48 % dos locos possuem 6
ou mais alelos, o que os torna pro-
Tabela 1 - Nmeros de clones hibridizados com a sonda AG/TC, clones positivos (com SSRs), clones
seqnciados e de primers desenhados para cada uma das 5 espcies.
Clones
Clones
Primers
Espcie
Clones positivos
hibridizados
seqenciados
desenhados
Capsicum an n uum
575
475
259
118
Phaseolus vulgaris
286
100
28
25
Cocos n ucifera
115
76
43
16
Copaifera lon gsdorffii
270
156
156
45
Hymen aea courbaril
235
86
86
51
Tab ela 2. N mero d e ind ivd u o s analisad o s po r espcie (n), n mero d e primers po lim rfico s, n mero s
mximo s, mnimo s e md io s d e alelo s amplificad o s po r lo co (A) e d e d iversid ad e allica (h).
E spcie
Capscicu m annu u m
Phaseolu s vu lgaris
n
48
85
P rimers
48
11
A
2 - 11 (5,60)
3 - 10 (7,01)
Cocos nu cifera
96
10
2 - 14 (8,25)
96
96
8
8
19 - 27 (24,52)
8 - 13 (9,25)
a
b
h
0,30 - 0,83 (0,60)
0,21 - 0,83 (0,63)
0,47 - 0,87 (0,68)a
0,00 - 0,77 (0,37)b
0,81 - 0,91 (0,88)
0,72 - 0,82 (0,76)
49
Agradecimentos
Este trabalho teve o apoio
financeiro do PRODETAB,
Programa Avana Brasil (MAPA) e
PROBIO (MMA)
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Pesquisa
Biovidros
Sinterizao de biovidros na forma de partculas e do tipo espuma
Elias da Costa
Lexandra Novaki
Hui I Tsai
Resumo
Introduo
Vitrocermicas do sistema
Na 2O - CaO - P 2 O 5 - SiO 2 tm bom
desempenho e biocompatibilidade como material de implantes.
Preparou-se um biovidro com composio 12% Na 2 O - 28% CaO 10% P 2O 5 - 50% SiO 2 a partir de
xidos puros via fuso, obtendose material no-cristalino com caractersticas fsicas e qumicas adequadas. Amostras de biovidro foram preparadas na forma de vidro-espuma (Foam-Glass) combinando a matriz vtrea com o
aditivo de B 4C. Essas amostras
sinterizadas no intervalo de temperaturas de 600 e 840C apresentaram baixa densidade e indicaram evoluo na fase cristalina
com presena de SiO 2, Ca 2P 2O 7,
Na 2Ca 3 Si 6 O 16 , CaSiO 3 e uma quantidade de material no cristalino.
Ensaios in-vitro em meio de SBF
foram realizados com blocos de
biovidro puro e levados a estufa a
37C. Posteriormente ao ensaio,
observou-se por microscopia eletrnica de varredura (MEV) pequenos cristais na superfcie dos
blocos e dos ps, indicando homogeneidade na superfcie da
amostra. A anlise de MEV do
Foam-Glass em SBF tambm
apresentou camada de cristais na
sua superfcie indicando que o
material tem caracterstica de bioatividade.
51
Materiais e Mtodos
Preparao do p do biovidro
e moagem
Preparou-se uma mistura de
p, com composio 12% Na 2O,
28% CaO, 10% P2O 5 e 50% SiO 2 em
peso, partiu-se de reagentes puros
e anidros: Na 2CO3, CaO, Na 2HPO 4,
SiO 2. Colocou-se o p dentro de
um cadinho de platina e levou-se
para fuso em um forno eltrico a
1450C por um perodo de 4 horas.
Retirou-se rapidamente o fundido
do forno e colocou-se dentro de
um recipiente contendo gua destilada, assim formaram-se grnulos de vidro no cristalino. Em
seguida os grnulos foram triturados em um jarro de polietileno
contendo cilindros de zircnia durante 6 horas.
Caracterizao dos ps puros e
sinterizados
Os ps de biovidros foram caracterizados por fluorescncia de
raios X (FRX), difratometria de raios X (DRX), picnmetro de hlio,
anlise termogravimtrica (TG/
DTA) e microscopia eletrnica de
varredura (MEV-EDX).
Preparao do vidro-espuma
(Foam-Glass)
A matriz vtrea foi misturada com
diferentes percentagens de aditivo
de B4C, em moinhos de bolas de
zircnia por 6 horas, e em seguida o
material foi peneirado e caracterizado fsica e quimicamente.
Compactao e sinterizao
A sinterizao de amostras de
biovidro (BV) puro e biovidro +
carbeto de boro (B 4C) foi realizada
em forno eltrico, no intervalo de
600 oC a 840C por 2 horas para
cada amostra.
Preparao de Soluo de
Fluido de Corpo Simulado
(SBF)
A preparao de soluo fisiolgica bioativa foi realizada contendo os seguintes componentes:
0,2 g KCl, 8,0 g NaCl, 0,2 g CaCl2.2
H2O, 0,05 g NaH2PO4, 1,0 g NaHCO3,
0,1 g MgCl2.6H2O e 1,0 g de glicose
para 1000 mL de gua.
Ensaios in-vitro em meio de
SBF
Os blocos ou ps sinterizados
foram limpos e desengordurados
em ultra-som e lavados com gua
deionizada, secos em estufa a 120oC,
e tratados em autoclave. Os experimentos foram realizados em tubos
de polipropileno de 15 mL cuidadosamente limpos, com tampa de rosca contendo 10 mL de soluo e
mantidos a uma temperatura constante de 37 oC em estufa eltrica. A
superfcie das amostras foi analisada em um microscpio eletrnico
de varredura aps os perodos de 3
e 10 semanas de imerso no SBF.
Resultados e Discusso
A caracterizao qumica por
fluorescncia de raios X mostra a
composio de: 26,1%CaO, 55,5%
SiO2, 13,1%Na 2O, 10,1%P2O5, indicando que as partculas de biovidro
em estudo esto situadas na faixa
de bioatividade, segundo o diagrama de fases(5).
Inicialmente o biovidro puro
foi caracterizado por uma anlise
termogravimtrica (TG/DTA) e
pode-se observar que temperatura
de transio vtrea assim como as
temperaturas de nucleao e de
53
4 e 5, e so interconectados e de
vrios tamanhos. Esse fato no descarta a hiptese destes biovidros possurem poros fechados em sua estrutura. O mecanismo de formao de
poros na estrutura do biovidro pode
ser explicado pela evoluo de gases, os quais levam formao de
bolhas deixando o material poroso.
Como encontrado na literatura, algumas solues aquosas de carbonatos
de metais polivalentes so utilizados
para a produo destes materiais
porosos devido sua fcil descarbonizao(4), esse um dos motivos do
estudo do aditivo carbeto de boro no
biovidro. Outro mecanismo que pode
tambm ser responsvel pela diminuio da densidade do biovidro, a
entrada do elemento boro nas redes
cristalinas de silicatos e fosfatos fazendo com que essas estruturas se
deformem ocasionando aumento do
volume no material.
Outra caracterstica que pode
ser analisada nas micrografias destas amostras a alta densificao
observada nas regies em volta dos
poros que, provavelmente, so devidas a regies onde houve uma
maior reao qumica com o boro, e
o gs que se difundiu provocou um
maior empacotamento da matriz vtrea e ao mesmo tempo expandindo
com a formao de microporos.
Ensaios in-vitro de amostras
sinterizadas indicam que o biovidro
puro e biovidro contendo carbeto de
boro apresentam uma camada superficial pouco cristalina, na forma
de fosfato de clcio, a qual com o
passar do tempo (envelhecimento)
se tornam cristalinas. Anlise por
MEV-EDX da pelcula indica a presena de clcio e fsforo na superfcie e verifica-se que est fortemente
aderido em sua superficie.
Os biovidros produzidos foram
tambm caracterizados quanto sua
densidade aparente usando picnmetro de hlio, considerando-se
somente o volume do slido e dos
poros abertos, desconsiderando o
volume relativo aos poros fechados.
Os dados obtidos esto relacionados na tabela a seguir, Tabela 1:
54
Concluso
Aps a anlise dos resultados
obtidos, conclui-se que o biovidro
produzido do tipo espuma apresentou pouca evoluo de fases e podese constatar que a mistura de
aditivos ao biovidro provoca a formao de poros de tamanhos variados e interconectados. Portanto, o
objetivo de se obter um biovidro
tipo espuma foi alcanado obtendo
estrutura microporosa pouco densa. Ensaios in-vitro das amostras
mostram que ocorre formao de
uma pelcula base de fosfato de
clcio na sua superfcie indicando
que o material bioativo.
Agradecimentos
Ao CNPq-PIBIC, Fundao
Araucria e IQAr-UNESP.
Palavras-chave: Biovidros,
vidro-espuma, bioatividade
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Pesquisa
Melhoramento Biotecnolgico
de Plantas Medicinais
Produo de alcalides e leos essenciais
Introduo
Melhoramento Gentico
Clssico e Moderno
Os trabalhos que envolvem seleo de gentipos superiores, com
subsequentes cruzamentos, com vistas
a obter hbridos ou cultivares, so
incipientes. Com relao a composio e contedo de molculas teraputicas, encontraram-se altas herdabilidades para essas substncias, o que
facilita o melhoramento por seleo.
Por esse meio, tm, freqentemente,
sido desenvolvidas e produzidas em
larga escala cultivares de Achillea,
Chamomilla, Lavandula, Melissa,
Mentha e Thymus. Com vistas produo qualitativa e quantitativa de princpios ativos tem-se conseguido xito
55
Cultura de Tecidos e
Transformao Gentica
Cultura de tecidos um processo, por meio do qual fragmentos
vegetais ou suas partes denominadas
explantes so isolados dos organismos ou obtidos a partir destes, sendo
assepticamente cultivados em meio
de cultura apropriado sob condies
adequadas. Esse termo genrico,
referindo-se a cultura de clulas, te56
Famlias
Apocinaceae,
Solanaceae
Flavonides
Rutaceae
Glicosdeos
Cardiotnicos
Scrophulariaceae
Taninos
Lauraceae
Terpenides
Asteraceae,
Lamiaceae
Es p cie s
Catharanthus
roseus
Picralimia nitida
Ruta graveolens
Gardenia
jasminoides
Ochrosia eliptica
Re ae s
Oxidao
Esterificao
Hidroxilao
Glicosilao
Reduo
Epoxidao
Subs tratos
Geraniol
Tropina
Digitoxina
Gitoxigenina
Mentona
Hidroxicumarinas
Produtos
Nerol
Acetiltropina
Digoxina
Gitoxina
Neomentona
Furanocumarinas
57
se que razes no transformadas apresentam crescimento lento, desenvolvimento retardado e menor produtividade de fitoterpicos, ao passo que razes
transformadas possuem crescimento
rpido, desenvolvimento acelerado e
maior produtividade de fitoterpicos
(Quadro 6). As razes no-transgnicas, ao contrrio das transgnicas, necessitam ser cultivadas em meio preparado com substncias reguladoras de
crescimento. Cabe enfatizar que o uso
de razes, transformadas ou no,
limitado queles biofrmacos sintetizados somente em razes. Entretanto,
plantas inteiras podem ser regeneradas a partir dessas razes.
A tecnologia transgnica oferece
enormes oportunidades para o melhoramento de plantas. Para manipular o metabolismo produtor de princpios ativos nas plantas, tm sido feitos
muitos esforos. No fcil controlar
a produo dessas substncias, at
mesmo por meio de mtodos moleculares sofisticados; devido a esses compostos serem sintetizados em diversos passos enzimticos que ocorrem
em vrios tipos celulares.
A manipulao desse metabolismo pode-se dar por estmulo
anablico por meio da incluso de
rotas metablicas feita pela tecnologia super-expressora, ou por
desestmulo catablico por meio da
excluso de vias feita pela tecnologia
supressora-senso ou supressora antisenso. Um dos pr-requisitos para o
sucesso da manipulao gentica
identificar, isolar e caracterizar os
genes envolvidos na biossntese de
princpios ativos e o outro pr-requisito compreender os mecanismos
de regulao espao-temporal desses genes em fases distintas de crescimento e desenvolvimento vegetal.
Concomitantemente, faz-se necessrio desenvolver protocolo de regenerao e de transformao. Embora,
isso nem sempre seja possvel, algum progresso tem sido, recentemente, alcanado. Esse avano envolve duas categorias: cultura de rgos transformados e plantas transgnicas.
Em cultura de clulas, suspenses celulares podem passar por crescimento em larga escala em biorreatores, usando-se, para tal fim, linhas
58
celulares superiores,
isto , estveis e com
alta produo em detrimento de linhas celulares inferiores, ou
seja, instveis e com
baixa produo. Esse
tipo de cultura pode
ser manipulado suplementando-se o
seu meio com elicitores, tais como: preparaes fngicas; o que
exemplificado por
Tagetes patula, cuja
cultura de clulas produziu, ao ser submetida a extratos de
Phytophthora sp., nveis significativos de
polienos. Contudo,
em cultura de clulas, instabilidade e
baixa produtividade regra e estabilidade e alta produtividade exceo. Alm disto, verificou-se, nesse
tipo de cultura, compostos que no
so, usualmente, encontrados em
plantas, como os tarenosdeos em
Gardenia jasminoides.
H substncias teraputicas que
no so produzidas em cultura de
clulas, mas s em rgos e em
cultura destes, ou em plantas inteiras, a exemplo dos alcalides
vimblastina e vincristina, encontrados em Catharanthus roseus.
A cultura de rgos no transformados apresenta produo estvel e
mdia, com crescimento lento, menor
ramificao lateral e meio acrescido
com reguladores de crescimento; ao
passo que a cultura de rgos transformados possui produo estvel e alta,
com crescimento rpido, maior ramificao lateral e meio no acrescido com
reguladores de crescimento.
M e tablitos
Escopolamina
Hiosciamina
Escopolamina
Hiosciamina
Escopolamina
Hiosciamina
Conte do
0,37%
0,95%
0,56%
0,30%
0,50%
1,30%
Concluses
As possibilidades de obterem-se
novas molculas teraputicas destinadas produo de frmacos tornam a
biotecnologia imprescindvel ao desenvolvimento tcnico-cientfico dos
programas de melhoramento gentico
do pas, e tem como conseqncia a
melhoria na qualidade de vida, principalmente na rea da sade da populao brasileira. Portanto, diversos avanos foram alcanados e vrios desafios
tm sido subjulgados; mas, decerto, h
ainda bastante para se fazer em se
tratando de biotecnologia no melhoramento de medicinais.
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59
Pesquisa
Degradao Seletiva
de Protenas e suas
Implicaes no Cncer
Papel do sistema ubiquitina-proteasoma e enzimas caspases
Juliano Alves
60
As protenas so responsveis
pela forma e pela funo das clulas.
Elas so sintetizadas e destrudas por
mecanismos distintos em resposta a
uma diversidade de sinais externos e
internos, que incluem a secreo de
hormnios e a restrio alimentar. A
degradao de protenas determina o
incio ou o trmino de eventos bioqumicos que controlam a proliferao, a diferenciao e a morte celular
por apoptose. Por esse motivo, o
aumento de suscetibilidade ou de
resistncia degradao pode levar
ao ganho ou perda de atividade
biolgica de protenas, influenciando diretamente nos processos que
elas esto envolvidas. Os cientistas j
identificaram dezenas de protenas
que se tornaram oncognicas (isto :
provocaram a transformao celular)
aps sofrerem modificaes em seqncias, domnios e regies que
controlam a sua estabilidade ou destruio. Elucidar os mecanismos
moleculares pelos quais as protenas
aumentam sua suscetibilidade ou sua
resistncia degradao o grande
desafio da biologia contempornea
ps-genoma. As pesquisas nessa rea
tm por objetivo no apenas entender como as protenas so destrudas,
mas quando falhas nesse processo
do origem a clulas imortais, isto ,
ao cncer. Neste artigo sero revisados, primeiramente, os recentes avanos na elucidao das bases bioqumicas e genticas que so envolvidas
na transformao de uma clula normal em clula tumoral. Em seguida,
sero revisadas as recentes descobertas sobre os mecanismos bioqumicos de reconhecimento e de degradao de protenas intracelulares
pela via ubiquitina-proteasoma e a
1. Biologia da Clula
Tumoral
Nas ltimas dcadas, com a introduo de novas tecnologias de
seqenciamento do DNA, expresso
e anlise computacional de genes, foi
possvel que se vislumbrassem vrias
pistas que podero levar a um melhor entendimento da biologia da
clula tumoral. O cncer considerado uma doena gentica - isto , ele
pode ser transmitido para uma clula
normal atravs da transferncia de
genes tumorais ou oncogenes (Hahn
& Weinberg, 2002). Oncogenes so
cpias de genes normais que sofreram mutaes, e dessa forma, quando transcritos, provocam a sntese de
protenas que apresentam perda ou
ganho de funo biolgica. Mutaes
so causadas por modificaes nas
bases de DNA, em particular, nas
posies O6 e N7 da guanina. A
carcinognese um processo que
pode ser dividido em trs fases: iniciao, promoo e progresso, e pode
durar de 1 a 30 anos. Durante esse
2. O Ciclo Celular
O crescimento e a diviso celular de clulas somticas dependem
de uma srie complexa de reaes
bioqumicas que ocorrem em um
perodo de 24 a 48 horas, denominado ciclo celular. O ciclo celular compreende os processos de duplicao
do DNA e diviso nuclear (mitose), e
dele resulta a produo de uma nova
clula. Para iniciar um ciclo, a clula
em repouso (fase Go) precisa ser
estimulada por fatores de crescimento (exemplos, PDGF, EGF, insulina),
hormnios esterides e citocinas produzidas por elas mesmas ou clulas
ao seu redor. Esses fatores ligam-se
aos seus receptores de membrana,
deflagrando uma srie de reaes
qumicas que causam, em ltima instncia, a ativao de fatores de transcrio (exemplos: c-myc, c-jun, cfos), os quais promovem a sntese de
RNA, mensageiros de dezenas de
enzimas que promovem a sntese do
cido deoxiribonuclico (DNA), tais
como diidrofolato redutase, DNA
polimerases e topoisomerases. Essa
cascata de eventos qumicos e morfolgicos ocorre de uma maneira ordenada e sucessiva, fazendo com que a
clula avance da fase Go para as
fases G1-S-G2 e para a mitose
(Malumbres & Barbacid, 2001).
61
63
No citoplasma, as molculas de
citocromo c interagem, via domnio
CARD, com os complexos formados
pela pr-caspase-9 e Apaf-1
(apoptotic protease activating factor1). A unio dessas protenas forma
um apoptosoma de aproximadamente
700 kDa, permitindo a aproximao
e a oligomerizao de molculas de
pr-caspase-9 e sua auto-clivagem e
ativao. A caspase-9 livre pode
recrutar e ativar as caspases
executoras -3, -6 e -7 e as caspases
iniciadoras -8,-2 e -10.
Encontradas nos diversos compartimentos celulares, as caspases
executoras podem atuar sobre as protenas estruturais, protenas de sinalizao, fatores de transcrio e vrias enzimas envolvidas na sntese e
reparo do RNA e DNA. Na tabela I,
esto apresentadas algumas das dezenas de protenas-substrato de
caspases. Segundo uma reviso recente, o nmero de protenas
substratos de caspases de aproximadamente 280 protenas (Fischer et
al., 2003). A funo e os efeitos
causados clula aps a clivagem
foram tambm sumarizados no artigo. Em vrios casos, a clivagem resulta na inativao das protenas, mas
h tambm outros casos em que a
protena clivada ativada. Um exemplo em que a clivagem resulta na
ativao o da ativao da prpria
caspase. Um outro exemplo o da
protena ICAD/DFF45 (Enari et al.,
1998), um inibidor da nuclease CAD
(caspase activated deoxyribonuclease), a enzima responsvel pela fragmentao do DNA durante a apoptose. Em clulas no apoptticas, CAD
est presente como um complexo
inativo com ICAD (inhibitor of caspase
activated deoxyribonuclease). Aps
a induo da apoptose, ICAD
inativada pelas caspases -3 e -7, deixando CAD livre para funcionar como
uma nuclease.
As caspases clivam vrias protenas envolvidas na regulao do
citoesqueleto, incluindo gelsolina,
fodrina, Gas-2, protena quinase de
adeso focal (FAK), protena quinase
p21, isoformas da protena quinase C
e MEKK-1. A destruio da rede de
microtbulos provoca o arredondamento e o deslocamento da clula do
tecido. Vrias alteraes tpicas na
morfologia do ncleo apopttico so
dependentes da ao da caspase-6, a
caspase que degrada as lminas A, B
e C do envoltrio nuclear. O rompimento dessa estrutura parece facilitar
o acesso e degradao das fitas de
DNA na regio internucleosomal pela
nuclease CAD.
A clivagem de substratos de
caspases ocorre de uma maneira tempo- dependente e pode anteceder ou
proceder morte por apoptose. Contudo, ainda no se sabe ao certo se a
clivagem de uma protena-chave poderia servir de catalisador do processo, i.e., o processo no se desencadearia sem a sua degradao. Vrias
linhas de evidncias mostraram que
a apoptose de clulas que encontraram defeitos ou erros na replicao
do DNA durante a proliferao
dependente da degradao da Rb,
fatores inibidores de CDK, p21 e p27
e da protena MDM2, um inibidor da
atividade de p53 (Levkau et al., 1998,
Belizrio et al., 1991, Belizrio et al.,
1999, Hiesh et al., 1999). Este postulado foi confirmado em alguns estudos com mutantes das protenas
MDM2 e Rb, nos quais os aminocidos DEVD - o stio preferencial de
clivagem pela caspase-3 - foram substitudos por aminocidos neutros.
Como era esperado, na ausncia de
degradao dessas protenas, as clulas resistiram apoptose induzida
por vrios agentes fisiolgicos e farmacolgicos (Tan et al., 1997, Fattman
et al., 2001). No h, entretanto,
evidncias de que uma presso seletiva na populao de clulas malignas de um tecido tumoral produza
clulas cujas protenas apresentem
mutaes em stios de clivagem de
enzimas caspases como um fenmeno geral de resistncia apoptose.
4. O sistema ubiquitinaproteasoma
O sistema ubiquitina-proteasoma responsvel pela degradao
de protenas intracelulares, cuja organizao gentica e funcional est
preservada em certas bactrias, leveduras e organismos multicelulares. Na clula, a protelise essencial no apenas para a eliminao
seletiva de protenas defeituosas,
como tambm de protenas que atuam como reguladores de processos
bioqumicos, tais como a prolifera-
o, diferenciao, biognese de
organelas, resposta imunolgica e
inflamatria (Ciechanover, 1998,
Weissman, 1997, Goldberg et al.,
2001). Doenas genticas, neurodegenerativas e tumores malignos so
induzidos quando certos componentes desse sistema de degradao
esto ausentes ou desregulados
(Ciechanover, 1998).
Diferentemente do processo de
degradao mediado por proteases
presentes nos lisossomas, a degradao de protenas por esse sistema
requer a energia de ATP e envolve
dois passos distintos e sucessivos.
No primeiro passo, uma protena
chamada ubiquitina, de peso molecular de 8.5 kDa, covalentemente
adicionada protena-alvo. No segundo, a protena-alvo degradada
aps ser desenovelada e fragmentada ao atravessar uma estrutura em
forma cilndrica oca denominada
proteasoma (Figura 3).
O proteasoma constitudo de
uma parte central que contm 4
unidades que formam um anel, sendo que cada anel formado por 7
cadeias e 7 cadeias distintas.
Essa estrutura pode ser representada pela frmula 17171717. O
coeficiente de sedimentao do
proteasoma igual a 20S. As subunidades possuem atividade proteoltica e, dessa forma, atuam diretamente na degradao de protenas.
Essas proteases tm especificidade
distintas; a primeira possui atividade similar tripsina, a segunda similar quimiotripsina e a terceira,
similar glutamil peptidil hidrolases.
Durante a resposta imunolgica, o
sistema ubiquitina-proteasoma ativado pelo interferon-. Essa citocina
induz a sntese de trs subunidade
, LMP2, LMP7 and MECL-1, que
favorecem a gerao de peptdeos
da classe I do sistema histocompatibilidade humana (MHS).
Nas extremidades inferior e superior dessa estrutura de 20S, esto
acopladas duas estruturas reguladoras de massa molecular igual a 19S.
Essas unidades contm enzimas
ATPases, que promovem o desnovelamento das protenas que sofreram
a degradao. A unio dessas trs
estruturas 19S-20S-19S d origem a
um complexo supramolecular de coeficiente de sedimentao 26S e,
Figura 3 - Esquema representativo mostrando as etapas de ubiquitinao e reconhecimento de uma protena-substrato pelas enzimas E1, E2 e E3. As protenas ubiquitinadas so degradadas ao passarem por dentro do proteasoma por enzimas proteolticas
especficas, gerando peptdeos entre 7-12 aminocidos.
Revista Biotecnologia Cincia e Desenvolvimento - Edio n 30 - janeiro/junho 2003
65
5. A degradao seletica de
protenas e suas
implicaes no cncer
A falha na ubiquitinao e conseqente ausncia de degradao
pelo sistema ubiquitina-proteasoma
pode modificar a atividade de prooncogenes e facilitar o desenvolvimento de tumores malignos. Mutaes e delees que interferem na
degradao foram encontrados nos
seguintes pro-oncogenes: -catenina,
p53, c-Jun, E2F, ciclinas A, B, D e E e
p27 (Loda et al., 1997, Rubinfeld et
al., 1997, Gstaiger et al., 2001).
A protena -catenina um dos
componentes de uma via de sinalizao que promove a ativao dos
fatores de transcrio LEF e TCF.
Esses fatores atuam na proliferao
de linfcitos T, e, em particular, na
induo da sntese dos genes da
ciclina D e c-myc. Foi verificado que
certas mutaes na -catenina aumenta sua estabilidade e o tempo de
sinalizao de proliferao celular na
clula mutante. A estabilidade da
protena -catenina tambm modificada por mutaes encontradas em
um outro gene que participa dessa
via de sinalizao, o gene APC
(adenomatous polyposis coli). O APC
um fator supressor de tumores e
tem papel chave na induo de
polipose e adenoma do clon
instestinal (Fodde et al., 2001). Alm
disso, a mutao de -catenina tambm interrompe a via de sinalizao
da proliferao mediada pela Ecaderina da membrana celular e das
protenas da matriz extracelular
(Rubinfeld et al., 1997).
Recentemente descobriu-se que
a agressidade de carcinoma do clon
retal, carcinoma da mama e carcinoma da prstata est associada ao aumento da degradao da p27, o inibidor
de CDKs que controla o ciclo celular
(Loda et al., 1997). O mecanismo pelo
qual isto acontece ainda no est bem
definido, mas estudos recentes mostraram que a protena Skp2, uma Fbox protena, envolvida no reconhecimento da protena p27, parece ter
um papel chave na oncognese
(Gstaiger et al., 2001). GSTAIGER e
colaboradores mostraram que o gene
dessa protena superexpressado em
displasias da epiderme e no carcinoma epitelial da boca. Mais importante
67
Tabe la 1 - Re lao de prote nas-substratos de caspase s conte ndo o stio de clivage m da re gio PEST
Stio de cas pas e
Cate goria
de ntro do PEST
Exe mplos
Sim
N o
Total
Prote nas Es truturais e do citoe s que le to
Gelsolina, citoqueratina, catenina, actina, filamina, Gas- 2, Foldrina, Plectina, Tau, Vimentina,
14
5
19
Rabaptina
Prote nas Nucle are s
Laminas A, B, C, NuMa, HnRNPs, MDM2, SAF- A, RNA helicase, SATB- 1 LAP2a, Nup153
6
4
13
Protenas do Metabolismo de DNA
PARP, RFC140, DNA topoisomerase, MCM3, PKcs- DNA, DNA helicase, RAD51, BRCA1,
6
8
15
acinus
Prote nas Quinas e s
PKC ( , , ), PKC- related quinase, CaMK IV, Mst1, Fyn, FAK, MEKK1, Raf1, Akt, Wee1,
15
9
26
Src, RIP quinase, P58FYN
Prote nas da traduo de s inais e trans crio g nica
Pro- interleucinas 1, 16, 18, D4- GDI, PP2A, cPLA2, STAT1, NF- kB, SREBP- 1 3 2,
17
13
32
calpastatina, PLC- , Cb- 1, ErB- 2, NRF2, PDE 6, 5A e 10A, MAX, Calcineurina A, Fatores de
Transcrio AP- 2A, ROCK1, GATA- 1, TIAM
Prote nas Re guladore s do Ciclo Ce lular e Apoptos e
p21, p27, pRB, CDC27, nedd4, ciclina A, Bcl- xL, FLIP, Bid, Bax, BAD, ICAD, XIAP, hIAP,
20
9
29
HSP90, Caspases 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 13, 14, TRAF
Prote nas e nvolvidas e m doe nas Ne urode ge ne rativas
Huntingtina, Atrofina- 1, Presenilina- 1, 2, APLP2, ataxina- 3, Calsenilina, APP, LEDGF, Receptor
9
1
10
Andrognio
Outras cate gorias
PA28 , O- Glicosidade, receptor AMPA, GRASP65, Clcio- ATPase, GRASP- 1
3
5
9
Totais
90
54
144
Porce ntage ns 63%
37% 100%
68
8. Perspectivas
Os bancos de dados gerados por
seqenciamento de genes provenientes de tecido normal e tumoral so
exelentes provedores de informaes
para os estudos que visem anlise de
possveis alteraes funcionais de protenas devido a defeitos nos mecanismos que levam sua destruio. Esta
anlise tem sido facilitada pelo conhecimento de stios, regies e seqncias
de reconhecimento de degradao de
protenas, bem como pela identificao de dezenas de famlias de protenas e enzimas envolvidas nos diferentes processos de protelise via ubiquitina-proteasoma e a protelise mediada por enzimas caspases. A identificao destas modificaes poderia ajudar a predizer falhas nas interaes
com os elementos da maquinaria de
degradao celular; desenvolver estratgias de inibio ou de ativao dos
processos; e, finalmente, propor novas
9. Referncias
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69
Pesquisa
Archaea:
Potencial Biotecnolgico
Utilizao e aplicao de arqueas na biotecnologia
1. Introduo
O domnio Archaea formado
principalmente por organismos
extremoflicos, isto , microrganismos
que no apenas toleram, mas crescem
otimamente em ambientes normalmente considerados inspitos para a vida,
como fontes termais, guas extremamente salgadas, temperaturas baixas e
condies extremas de pH. Pode-se
dizer que certas espcies de arqueas
definem claramente os limites de tolerncia biolgica nos extremos fsicos e
qumicos da vida. O estudo dos microrganismos provenientes desses ambientes extremos pode nos fornecer informaes valiosas acerca da origem
da vida na Terra, bem como das estratgias adaptativas aos ambientes onde
esta prosperou (Woese, 1998).
A adaptao de organismos a
esses ambientes obrigou-os a desenvolver componentes celulares e estratgias bioqumicas para sua sobrevivncia. Por outro lado, devido s
caractersticas exticas que tm, e
s suas propriedades nicas, esses
microrganismos geram bioprodutos
que podem ser empregados em condies drsticas, que freqentemente
ocorrem em processos industriais. Os
componentes moleculares deles retirados possuem muitas vezes propriedades que os tornam especialmente
adequados para serem utilizados nesses processos. Nesse contexto, hoje
geralmente aceito que esses microrganismos constituem um precioso
repositrio de molculas de interesse
industrial e um excelente recurso para
o desenvolvimento de novas aplicaes biotecnolgicas.
2. Filogenia e Fisiologia
H cerca de vinte anos, Carl
Woese e colaboradores sugeriram
que os organismos vivos fossem
classificados em trs grupos principais: Archaea, Bacteria e Eukarya,
com base no estudo das seqncias
das molculas do gene 16S do RNA
ribossomal (16S rRNA). Esses grupos so chamados de domnios e
acredita-se que surgiram atravs de
71
C aractersticas
Membrana nuclear
Nmero de
cromossomos
Parede Celular
>1
Peptideoglicano
Pseudo-peptideoglicano,
glicoprotenas e outros
Celulose em plantas,
quitina em fungos e
nenhuma em animais
Sim
No
No
Ausente
Ausente
Presente
70S
70S
80S
Sim
No
No
No
Sim
Sim
Murena na parede
celular
Lipdeos da membrana
celular
Organelas (mitocndria
e cloroplastos)
Ribossomo
Sntese de protenas
inibida por
cloranfenicol e
estreptomicina
Sntese de protenas
inibida pela toxina da
difteria
vias evolutivas distintas a partir de
um ancestral comum. A noo de
dicotomia da vida entre eucariontes
e procariontes, que ainda domina a
biologia e influencia, em particular,
a percepo sobre o domnio
Archaea, est sendo lentamente revista por grupos atuantes em
microbiologia. A diversidade e a
biologia das arqueas representam
uma enorme contribuio compreenso da Ecologia Microbiana
(Woese et al., 1990).
O domnio Archaea consiste de
trs divises: Crenarchaeota, que
contm as arqueas hipertermoflicas
redutoras de enxofre; Euryarchaeota,
que compreende uma grande diversidade de organismos, includas as
espcies metanognicas, as haloflicas
extremas e algumas espcies
hipertermoflicas; e Korarchaeota,
uma diviso descrita mais recentemente, que engloba organismos hipertermoflicos pouco conhecidos,
identificados a partir de seqncias
do gene 16S do rRNA isolados de
fontes termais terrestres, porm ainda no cultivados em laboratrio.
Aps serem divididos os trs
grandes domnios a partir do seqenciamento do 16S rRNA, estudos subseqentes mostraram que cada domnio est associado a uma srie de
fentipos. Alguns desses fentipos
72
E u carya
Presente
3. Ambientes extremos
Os primeiros organismos identificados pertencentes ao domnio
Archaea viviam em ambientes extremos de temperatura, salinidade ou
acidez, sugerindo que a preferncia
por tais hbitats, era um trao caracterstico do grupo. Estudos mais recentes mostraram vrias eubactrias
e organismos eucariticos que sobrevivem tambm em ambientes extremos, como observaram igualmente a
presena de arqueas em ambientes
mais amenos, demonstrando, dessa
forma, a contribuio desse grupo na
biomassa global (Forterre, 1997). Entretanto, as arqueas parecem ser os
nicos organismos descobertos at o
presente momento que podem sobreviver a temperaturas acima de
95C, e o fentipo hipertermoflico
s encontrado nesse domnio da
vida. Uma outra caracterstica exclusiva de Archaea o metabolismo
metanognico: no se conhecem
eubactrias nem eucariotos capazes
de produzir metano como resduo de
seu metabolismo.
Tab ela 2: E stratgias d e ad aptao d as arq u eas ao s amb ien tes extremo s.
A mb ien te
P ro b lemas
4. Aplicaes
Biotecnolgicas
A tecnologia enzimtica experimentou um grande avano quando as
enzimas microbianas passaram a ser
utilizadas, principalmente por causa
da grande variedade de reaes que
essas enzimas so capazes de catalisar.
Com o descobrimento dos microrganismos extremoflicos (em sua maioria
arqueas), o que ampliou ainda mais a
73
4.1. Processamento do
Amido
O amido um dos polmeros mais
abundantes na natureza, estando presente principalmente nos vegetais, onde
ele utilizado para o armazenamento
de energia na forma de grnulos insolveis, compostos basicamente de
amilose e amilopectina, que so diferentes polmeros de glicose. Alm de
servir diretamente como alimento na
dieta animal, o amido presente nos
vegetais pode ser hidrolisado, gerando
glicose, maltose e xarope de oligossacardeos, que, por sua vez, so utilizados para produo de outros qumicos
ou como substratos em fermentaes
(Bentley e Willians, 1996; Vieille e
Zeikus, 2001).
De uma forma geral, o processo
de hidrlise do amido envolve a
liquefao e a sacarificao, as quais
ocorrem em altas temperaturas. Durante a liquefao, os gros de amido
so gelatinizados em solues aquosas entre 105C e 110C, num pH
entre 5,8 a 6,5 , quando ento, so
utilizadas a-amilases termoestveis a
95C, que hidrolisam parcialmente
as ligaes a-1,4. Nesse processo, o
controle de temperatura e pH muito importante pois, se a temperatura
estiver abaixo de 105C, a gelatinizao ocorre parcialmente, e se aumentar muito, h a inativao das aamilases; se o pH estiver mais cido
que 5,5 tambm ocorre a inativao
dessas enzimas, mas, se vai acima de
6,5 so gerados muitos subprodutos.
Aps a liquefao, o produto con-
4.3. Utilizao de
Polimerases
A reao em cadeia da polimerase (PCR) revolucionou a prtica da
biologia molecular, ou seja, a surpreendente replicao in vitro de seqncias especficas de DNA possibilitou que o isolamento de genes,
seu seqenciamento e mutaes especficas, antes uma prtica laboriosa, se tornasse uma atividade cotidiana de qualquer laboratrio de engenharia gentica. O mtodo da reao
em cadeia da polimerase, por sua
vez, foi extremamente simplificado
com a utilizao de enzimas
hipertermoflicas. Embora a principal DNA polimerase termoflica utilizada seja a de uma bactria (Thermus
aquaticus), as DNA polimerases de
arqueas, como as de Pyrococcus
furiosus, Pyrococcus woesei e outras,
apresentam uma vantagem sobre a
Taq polimerase, pois elas possuem
5. Genmica
Pyrodictium abyssi
4.4. Arqueossomos
As aplicaes biotecnolgicas das
arqueas no se restringem a produo, expresso heterloga e purificao de extremozimas. Pelo menos
uma outra potencialidade biotecnolgica deve ser ressaltada. A utilizao
dos arqueossomos (preparao de
lipdeos de membrana arqueana),
como coadjuvantes em formulaes
75
seqenciadas corrobora a identificao destas como um grupo de organismos que tm uma base slida e
estvel de genes, os quais, primariamente, codificam protenas envolvidas na replicao e expresso do
genoma. Alm desses, existe um segundo grupo de genes que compartilhado pelas arqueas e eucariotos,
genes que so claramente associados
ao processamento da informao. O
fato da afinidade arquea-eucaritica
ser quantitativamente pequena, demonstra, no entanto, que o processo
de evoluo tem sido mais complexo que a simples herana vertical, e
tem envolvido uma extensiva transferncia lateral de genes entre
Archaea e Bacteria. Aps a divergncia evolutiva entre as linhagens
de arqueas e bactrias, vem ocorrendo uma grande mistura de genes
codificantes para enzimas metablicas, componentes estruturais da clula e outras protenas que no participam da maquinaria central de
processamento da informao (Nelson et al., 1999).
Alm dos estudos funcionais, a
genmica de Archaea fundamental para o conhecimento que temos
de duas transies cruciais na evoluo da vida: a primeira a divergncia entre as linhagens de bactrias e
as de arquea-eucariticas, que pode
ter envolvido a origem da maquinaria de replicao de DNA. A segunda
a origem dos eucariotos. Em relao a esse ponto, a arquea uma
fonte fantstica de informao, particularmente porque, em muitas situaes, ela tem retido as caractersticas primitivas, enquanto os
eucariotos tm sofrido modificaes
muito maiores. Um exemplo caracterstico a subunidade menor da
DNA polimerase, que possui todas
as marcas de uma fosfatase ativa em
arqueas, mas no em eucariotos,
onde a atividade fosfatsica est
provavelmente inativada. Sem sombra de dvidas, arquea representa
um ancestral comum das linhagens
arquea-eucariticas descendentes.
Portanto, a genmica de arquea a
nossa melhor oportunidade de reconstruir essa fase intermediria crtica da evoluo da vida (Makarova
e Koonin, 2003) .
6. Consideraes Finais
Estudos que envolvem o domnio Archaea vm confirmando as duas
hipteses iniciais de Woese e Fox
(1977), isto , que as arqueas exibem
uma diversidade fenotpica no mnimo comparavl quela apresentada
pelo domnio Bacteria e que os organismos do domnio Archaea sero
caracterizados por aspectos nicos
em mbito molecular. Outrossim, o
fato de Archaea exibir um mosaico
contendo caractersticas dos dois outros domnios continua a estimular
discusses entre os evolucionistas
(Forterre et al, 2002).
No contexto de extremofilia, a
descoberta contempornea mais surpreendente foi, sem dvida, a dos
organismos hipertermfilos, que
extendeu a sobrevivncia desse organismo para cerca de 121C de temperatura em que clulas vivas proliferam eficientemente. Essa caracterstica notvel implica na estabilizao de todos os componentes celulares, de modo que a sua funcionalidade seja mantida em condies de
temperatura que seriam danosas para
a maioria das biomolculas dos organismos mesfilos. A elucidao das
estratgias usadas na estabilizao
de componentes celulares e, em especial, de protenas, representa um
desafio fascinante para a biologia
atual (Kashe e Lovley, 2003).
Os microrganismos apresentam
uma imensa diversidade gentica e
desempenham funes nicas e decisivas na manuteno de ecossistemas,
como componentes fundamentais de
cadeias alimentares e ciclos biogeoqumicos. importante ressaltar que
grande parte dos avanos da biotecnologia moderna e da agricultura
derivada das descobertas recentes nas
reas de gentica, fisiologia e metabolismo de microrganismos.
Considerando que o Brasil possui uma grande extenso territorial
com inmeros e variados ambientes
extremos, como: guas termais, salinas, inmeras estaes de tratamento
de esgoto, rejeitos industriais, entre
outros. A biodiversidade microbiana
brasileira, ainda no explorada, podese tornar uma fonte para o desenvolvimento biotecnolgico do pas.
Estamos em plena era biotecnolgica, quando os processos bioqumicos so cada vez mais utilizados para a
produo de agentes teraputicos, produtos qumicos e biocatalisadores. O
grande desafio ser incorporar a informao decorrente do estudo desses
organismos extremoflicos em novas
tecnologias, utilizando o enorme potencial de suas enzimas e biomolculas.
7. Referncias
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genomics. Curr. Opin. Microbiol.
2:542-547.
Ganghofner, D., Kellermann, J.,
Staudenbauer, W. L., Bronnenmeier,
77
Otimizao da Propagao
Pesquisa
In vitro de Curau
Resumo
A propagao vegetativa utilizando tcnicas de cultura de tecido pode
ser um valioso instrumento na propagao clonal rpida de mudas de curau,
em larga escala. O trabalho teve como
objetivo otimizar a propagagao in
vitro do curau. Foram realizados dois
experimentos: No primeiro, os explantes
foram inoculados em frascos contendo
5,0; 7,5; 10,0 e 15,0 ml do meio lquido
MS, suplementados com 2,5 mg.L-1 de
BAP (6-Benzilaminopurina). No segundo, os explantes foram inoculados em
frascos contendo 15ml do meio lquido
MS, suplementado com 0; 1,5; 2,5; 3,0;
3,5 e 4,5 mg.L-1 de BAP. Nos dois
experimentos a condio de incubao
foi realizada sob fotoperodo de 16h luz
branca fria e irradincia de 25 mol.m2 -1
.s . Os tratamentos contendo 10 e 15
ml do meio lquido de cultura MS,
suplementado com 2,5 mg.L-1 de BAP,
foram mais eficientes na proliferao de
brotos de curau.
1. Introduo
Na Amaznia vrias so as espcies de plantas fibrosas com utilizao
atual. Dentre elas destaca-se o curau
(Ananas erectifolius L. B. Smith), planta nativa da regio do Lago Grande de
Curuai no Municpio de Santarm (PA)
sendo cultivada principalmente por
pequenos produtores e utilizada na
fabricao de cordas, sacos e utenslios
domsticos (Medina, 1959).
O curau planta pertencente a
famlia bromeliacea distribuda nos Estados do Par, Acre, Mato Grosso,
Gois, Amap e Amazonas. H duas
variedades distintas do curau, uma de
folha roxa-avermelhada, chamada de
78
2. Metodologia
O trabalho foi desenvolvido no
laboratrio de Recursos Genticos e
Biotecnologia da Embrapa Amaznia
Oriental utilizando-se inicialmente plantas do curau oriundas do banco de
germoplasma da referida Instituio
(Figura 1). Aps a retirada das folhas,
o caule foi lavado com gua corrente e
sabo neutro. As gemas axilares foram
excisadas e passaram pelo processo de
desinfestao com lavagem em gua
corrente e imerso em soluo de
hipoclorito de sdio (NaOCl) a 2 % por
quinze minutos, sendo cinco minutos
em agitao. Aps o desenvolvimento,
as plntulas obtidas in vitro serviram
como fonte de explantes primrio,
para os experimentos (Figura 2).
Das plntulas obtidas in vitro foram retiradas o excesso de folhas e
cortadas em segmentos de 2 cm de
comprimento ficando com pelo menos
uma gema lateral. Para o estabelecimento da cultura, os explantes utilizados nos experimentos foram inoculados em frascos contendo meio lquido
MS (Murashige e Skoog, 1962). O meio
de cultura foi ajustado a um pH de 5,8
utilizando-se NaOH (hidrxido de
sdio) e/ou HCl (cido clordrico) em
soluo 0,5 N e autoclavado a 121C
durante 15 minutos.
Foram realizados dois experimentos em delineamento inteiramente
3-Resultados e Discusso
O efeito da quantidade de meio
de cultura sobre a produo de brotos de curau pode ser observado na
Figura 3. Aos trinta dias de cultivo, foi
observado que houve formao de
79
4. Concluso
As quantidades de 10 e 15 ml do
meio lquido de cultura MS, suplementado com 2,5 mg.L-1 de BAP so
mais eficientes para proliferao de
brotos de curau;
Mudas de curau provenientes
da micropropagao podem ser cultivadas no campo com 100% de sobrevivncia.
Palavras-chave: Cultura de tecidos, reguladores de crescimento,
Ananas erectifolius.
5. Referncias
Bibliogrficas
Figura 6 - Mudas de curau cultivadas no
campo. Embrapa Amaznia Oriental.
Belm, PA, 2003.
81
Pesquisa
Cianobactria
Invasora
Aspectos moleculares e toxicolgicos de Cylindropermopsis raciborskii no Brasil
Renato Molica
Toxinas de cianobactrias
As cianobactrias produzem diferentes metablitos secundrios, sendo
alguns deles possuidores de ao
txica sobre diferentes organismos e
82
O que so cianobactrias?
Cianobactrias so microrganismos procariotos, de origem extremamente remota, geralmente aquticos, que realizam fotossntese
com liberao de oxignio, diferente de outras bactrias fotoautotrficas.
Devido ao fato de serem fotossintetizantes, aquticas e possurem um
pigmento azulado (ficocianina), so tradicionalmente chamadas de
algas azuis, apesar da distante relao filogentica com outros
grupos de organismos tambm denominados de algas. Acredita-se
que elas foram as responsveis pelo incio da formao da atmosfera
atual, rica em oxignio, e pela evoluo de todos os organismos
fotossintetizantes, visto que formas relacionadas s atuais cianobactrias,
provavelmente, originaram os cloroplastos atravs de um evento
endossimbitico.
As cianobactrias so predominantes no fitoplncton de guas
continentais, alcanando uma ampla diversidade de formas, devido s
adaptaes morfolgicas, bioqumicas e fisiolgicas adquiridas durante sua longa estria evolutiva. Algumas cianobactrias, tais como os
gneros Microcystis, Cylindrospermopsis, Anabaena, Aphanizomenon
e Planktothrix formam floraes onde h a liberao de toxina atravs
da lise celular.
Tab ela 1. C aractersticas gerais d as to xin as pro d u zid as po r cian o b actrias e o s gn ero s em q u e fo ram
en co n trad as.
To xin a
C o mo e o n d e age
Gnero
I
n
i
b
i
d
o
r
a
d
a
s
e
n
z
i
m
a
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s
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a
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a
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s
1
e
M
i
c
r
o
c
y
s
t
i
s
,
A
n
a
b
a
e
n
a, Planktothrix (Oscillatoria),
a
Microcistina
2A - Fgado (hepatcitos)
Nostoc, Hapalosiphon e Anabaenopsis
Inibidora das enzimas fosfatases 1 e
a
Nodularina
Nodu laria
2A - Fgado (hepatcitos)
Cylindrosper mopsis, Umezakia, Aphanizomenon
a
Cilindrospermopsina IFngibaiddoo.ra de sntese proteica e Raphidiopsis
L
i
g
a
s
e
a
o
s
c
a
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a
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s
d
e
s
d
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o
A
n
a
b
a
e
n
a
,
A
phanizomenon, L yngbya e
a
Saxitoxina
Membrana do axnio
Cylindrosper mopsis
Liga-se ao receptor da acetilcolina Anabaena, Plankt ot hrix (Oscillat oria),
a
Anatoxina-a
sinapse nervosa
Aphanizomenon, Raphidiopsis
I
n
i
b
i
d
o
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a
d
e
a
c
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l
c
o
l
i
n
e
s
t
e
r
a
s
e
Anatoxina-a(s)
Anabaena
Sinapse nervosa
a
Existem variantes estruturais com diferentes toxicidades
Fonte: Sivonen & Jones (1999), Li et al. ( 2001), Namikoshi et al. (2003).
___________________________________________________________
Dos 131 pacientes da clnica, 116 apresentaram sintomas de intoxicao. Destes, 100 desenvolveram problemas hepticos e 76
faleceram ao longo do estudo, que durou at outubro 1997. Destes 76, foram analisadas 52 amostras de fgado de 39 pacientes (todas
positivas para microcistina) (Carmichael et al. 2001).
83
Cepas brasileiras de
Cylindrospermopsis
raciborskii produzem
saxitoxinas
A espcie Cylindrospermopsis
raciborskii (ordem Nostocales) um
componente importante entre as espcies formadoras de floraes, pois
pode produzir hepatotoxinas,
neurotoxinas e citotoxinas (Chorus &
Bartram 1999).
O primeiro caso de intoxicao
humana provocada por esta espcie
ocorreu em 1979, na Austrlia, quando 141 pessoas, sendo a maioria crianas, aps consumirem gua de um
reservatrio que havia sido tratado
com algicida para eliminar uma
florao, apresentaram sintomas de
hepatoenterite (Hawkins et al 1985).
At ento, essa espcie era considerada como no-txica. Anlises posteriores demonstraram que o composto
responsvel pela intoxicao havia
sido a cilindrospermopsina (Ohtani
et al 1992). Tambm na Austrlia, em
1992, uma florao de C. raciborskii
produtora de cilindrospermopsina
causou a morte de bovinos. Apenas as
cepas australianas e uma tailandesa
de C. raciborskii, at hoje, demonstraram produzir cilindrospermopsina
e um anlogo no txico, denominado deoxicilindrospermopsina.
Em anlises realizadas pelo Laboratrio de Ecofisiologia de
Microalgas, do Instituto Tecnolgico
do Estado de Pernambuco, com amostras de floraes de C. raciborskii
que ocorreram entre 10 de abril e 24
de maio de 2002 no reservatrio
Tapacur (So Loureno da Mata,
PE) que abastece cerca de 1,3 milho
de habitantes na Regio Metropolitana de Recife, foi demonstrado efeitos
neurotxicos em bioensaios com camundongos. Anlises realizadas por
cromatografia lquida de alta eficincia (CLAE) indicaram a presena de
Figura 4. Anlise de saxitoxinas por cromatofrafia lquida de alta eficincia (CLAE) com detector
de fluorescncia e derivatizao ps-coluna de acordo com mtodo descrito por Oshima (1995).
Amostra de 8 de maio de 2002 da florao de C. raciborskii do reservatrio Tapacur (a). Foram
identificados trs picos, cujos tempos de reteno coincidem com os tempos de reteno dos
padres (b e c). Neosaxitoxina (NeoStx), saxitoxina (Stx) e dc-saxitoxina (dc-Stx).
Figura 5: Ocorrncia de C. raciborskii no mundo segundo Padisk (1997). 1. Indonsia. 2. Filipinas. 3. Bruma. 4. China. 5. ndia. 6. Sri Lanka. 7. Austrlia.
8. Repblica Democrtica do Congo, Malaui, Qunia, Ruanda, Zambia, Zimbabue, Uganda. 9. frica do Sul. 10. Nigria. 11. Rio Nilo. 12. Moldvia,
Turquimenisto, Afeganisto, Cazaquisto, Rssia, Usbequisto, Mar Cspio. 13. Alemanha, ustria, Frana. 14. Espanha. 15. Grcia. 16. Hungria. 17.
Minenesota, EUA. 18. Kansas, Estados Unidos 19. Texas, Estados Unidos. 20. Flrida, Estados Unidos. 21. Mxico. 22. Nicargua. 23. Cuba. 24. Venezuela.
25. Brasil. a. Lago Parano, DF; b. Lago da Pampulha, MG; c. Reservatrio de Itaip, PR; d. Lagoa dos Patos, Lago Chins e Lago Gacho, RS.
Revista Biotecnologia Cincia e Desenvolvimento - Edio n 30 - janeiro/junho 2003
85
Referncia*
Branco & Senna (1991)
Fernandes (2003)
Bazza et al. (1999)
Jardim et al. (2001)
Mendes et al. (2003)
Borges et al. (2003)
Bouvy et al. (2000)
Huszar et al. (2000)
Panosso et al. (2003)
Proena et al. (2002)
Komkov et al. (1999)
Souza et al. (1998)
Silva et al. (2003)
* Citou-se apenas uma referncia por estado, porm a maioria possui mais
de um registro.
A invaso de
Cylindrospermopsis
raciborskii
A espcie Cylindrospermopsis
raciborskii (Woloszynska) Seenayya et
Subba Raju foi descrita pela primeira
vez em Java e adjacncias e tornou-se
extremamente invasiva, ocorrendo tanto em guas de regies tropicais e
subtropicais como temperadas (Padisk
1997, Bouvy et al. 2000) (Figura 5).
Apesar de poderem ser dominantes
durante o ano todo, so mais comumente
encontrados em perodos restritos, geralmente secos e de baixa pluviosidade.
Esta cianobactria possui mltiplas estratgias adaptativas, tais como resistncia herbivoria, tolerncia s baixas
irradiaes, possibilidade de migrao
na coluna dgua buscando estratos
ricos em nutrientes e luz, tolerncia s
altas concentraes inicas, armazenamento e utilizao de reservas
intracelulares de fsforo, alta afinidade
ao NH4+ que a forma energeticamente
mais acessvel de nitrognio, ou na sua
falta, podem fixar o N2 atmosfrico e
flexibilidade s grandes variaes de
condutividade eltrica.
Nas duas ltimas dcadas documenta-se a freqente ocorrncia de C.
raciborskii nas guas dos reservatrios
e audes em diversos estados do Brasil
(Tabela 2). Uma das regies com intensos registros de sua presena a
Nordeste, mais especificamente o estado de Pernambuco (Bouvy et al. 1999,
2000; Huszar et al. 2000). Os reservatrios desta regio possuem excelentes
condies para o desenvolvimento
desta espcie, tais como, corpos dgua
rasos, estabilidade na coluna dgua
devido pluviosidade baixa, longo
tempo de reteno da gua (ou ausncia de renovao), irradiaes e temperatura altas alm de valores de pH
acima de 8,0 (Bouvy et al. 2000).
Segundo Bouvy et al. (2000), dos 39
reservatrios amostrados por todo estado de Pernambuco, entre setembro e
novembro de 1998, 31 apresentaram
floraes de C. raciborskii e, em 17
destes, esta cianobactria representou
50% da densidade do fitoplncton total. No mesmo perodo, situao semelhante foi relatada na Austrlia no
estado de Queensland entre outubro
de 1997 e junho de 1999. Dos 47
reservatrios de gua amostrados, 35
apresentaram populaes de C.
Morfologia de
Cylindrospermopsis
raciborskii
Segundo os critrios morfolgicos tradicionais, a forma do filamento
um carter taxonmico que distingue espcies diferentes. Segundo
Komarkov (1998), as formas retas
so identificadas como C. raciborskii
e as espiraladas C. philippinensis
(Taylor) Komrek e C. catemaco
Komarkov-Legnerov et Tavera. No
entanto, admite-se atualmente que
prprio de C. raciborskii apresentar
uma extensa plasticidade fenotpica
refletindo-se em filamentos retos,
sigmides ou espiralados que podem
ocorrer simultaneamente (Figura 6).
Filamentos espiralados de C.
raciborskii, apesar de distribuio mais
restrita no mundo, so freqentemente relatados para o norte da Austrlia,
em Queensland (Fabbro et al 1996,
McGregor & Fabbro 2000, Saker et al.
1999, Dyble et al. 2002) e sudeste da
Amrica do Norte, na Flrida. No Brasil, do nosso conhecimento, populaes de C. raciborskii com filamentos
espiralados apenas foram registrados
para a regio Nordeste (Bouvy et al.
1999, 2000) (Figura 6).
Populaes com filamentos retos
e espiralados de um lago na Austrlia
foram caracterizadas geneticamente
atravs das anlises de seqncias do
16SrRNA (Saker et al. 1999). Formas
retas e espiraladas apresentaram-se
com alta similaridade gentica (99,8%)
indicando que se tratava de uma nica
espcie, apesar dos seus comportamentos levemente diferenciados em
testes ecofisiolgicos (Saker et al. 1999,
Saker & Neilan 2001). Wilson et al.
(2000), utilizando uma tcnica mais
discriminatria do que a anterior, encontraram resultados semelhantes atravs de seqncias do rpoC1, que codifica para a subunidade da RNA
polimerase, obtidas por iniciadores
desenhados especificamente para
Cylindrospermopsis. Entretanto, as cepas com morfologia espiralada foram
agrupadas utilizando-se RAPD (random
amplified polymorphic DNA) e STRR
(short-sequence tandem repeat region)
O uso de seqncias de
DNA como ferramenta
bsica no entendimento da
disperso e produo de
toxinas
Genes que codificam para a cficocianina como o cpcB e cpcA esto
presentes em todas as cianobactrias
e ausentes em outras bactrias e
microalgas. As regies espaadoras
entre estes genes tm se tornado uma
alternativa para a utilizao daquelas
altamente conservadas. A regio do
locus da ficocianina possui seqncias com taxas de substituies mais
altas do que aquelas do 16S rDNA
(Nelissen et al 1996, Ishida et al. 1997,
Lyra et al. 2001).
Neste estudo foram utilizadas seqncias inditas obtidas do espaador
intergnico do operon da ficocianina
(cpcBA-IGS) de cepas C. raciborskii
com morfologias reta e espiralada de
dois corpos dgua do nordeste do
Brasil. Alm destas, foram utilizadas
seqncias de cepas australianas, europias e americanas disponveis no
GenBank. Nmero de acesso s seqncias esto na Figura 7.
As 19 cepas analisadas apresentaram-se com alta similaridade gentica
mostrando tratar-se de uma nica espcie (Figura 7). Porm, foram claramente distribudas em dois grupos:
Grupo 1) com cepas australianas,
produtoras de cilindrospermopsina, e
europias (Alemanha, Hungria e Portugal), no-produtoras de cilindrospermopsina, mas sim de um composto
txico ainda no caracterizado (Neilan
et al. 2003); e Grupo 2) com cepas
americanas (EUA e Brasil). No grupo 1
no foram evidenciadas distines entre
regies geogrficas, toxinas produzidas e morfologias reta e espiralada.
O grupo 2 apresentou cepas distribudas segundo a regio geogrfica
(Flrida e Brasil) e morfologia do
filamento (espiralado ou reto). Con-
Consideraes finais
As seqncias do cpcBA-IGS possibilitaram, de uma forma geral, a distino entre regies geogrficas e
morfologias espiralada e reta entre as
cepas americanas, mas no entre as
australianas e europias. Isto poderia
indicar que h outros fatores refletidos
nas informaes moleculares que estariam influenciando na topologia do
cladograma. Apesar da necessidade de
maior detalhamento e nmero de isolados de C. raciborskii analisados em
relao aos seus aspectos moleculares,
toxicolgicos e ecofisiolgicos, h indcios que haja uma ligao entre o
composto txico produzido e sua distribuio geogrfica. Baseado nisto,
pode-se propor que populaes australianas, europias e americanas evoluram separadamente aps a separao dos continentes, contrariando as
especulaes de Padisk (1997), segundo as quais, a Austrlia e frica
seriam os centros de radiao de C.
raciborskii para Europa e Amrica por
possurem ambientais mais favorveis
ao desenvolvimento destas populaes.
Segundo um modelo evolutivo
proposto para eucariotos com reproduo sexuada (Brussard 1984), populaes geneticamente diversas esto no
centro da variao de uma espcie,
enquanto que aquelas s margens apresentam-se mais homogneas. Para Dyble
et al. (2002), a grande diversidade gentica encontrada entre as cepas americanas quando comparadas com as austra-
87
Referncias
Bazza, E.L; Train, S; Thomaz S.M.
1999. Flutuaes na estrutura da
comunidade fitoplanctnica durante o perodo de enchimento
do reservatrio de Corumb (GO).
In: VII Congresso Brasileiro de
Limnologia. Florianpolis, p. 502.
Bernard, C.; Harvey, M.; Briand, J.F.;
Bir, R., Krys, S., Fontaine, J.J.
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of diverse Cylindrospermopsis
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damage caused by a French C.
raciborskii strain. Environ. Toxicol.
18:176-186.
Bittencourt-Oliveira, M.C.; Oliveira,
M.C.; Bolch, C.J.S. 2001. Genetic
89
Pesquisa
Marcadores Moleculares e
Geminivrus
Identificao de marcadores moleculares em populaes de tomateiro resistentes a geminivrus
Engenheira Agrnoma,
Doutora em Cincias Biolgicas.
Laboratrio de Gentica Molecular - UFPE.
loivamaria@bol.com.br; loiva@pop.com.br
Ilustraes cedidas pela autora
Introduo
O processamento do tomate
um dos segmentos mais importantes
da indstria agroalimentar brasileira
e vem ganhando mais adeptos, j que
a rea plantada com tomate rasteiro
cresceu bastante na dcada de 90.
Dos 60 mil hectares de tomateiro
cultivados, cerca de 40% so destinados indstria. O valor global de
mercado foi de US$800 milhes na
virada do milnio (Filgueira, 2000).
As principais reas de produo encontram-se nas Regies Nordeste,
Centro-Oeste e Sudeste (Faria et al.,
2000). O tomate a hortalia com
maior volume de comercializao no
Brasil 3 milhes de toneladas por
ano (IBGE, 2000).
No incio da dcada de 90, a
agroindstria de tomate expandiu-se
para novas regies, especialmente no
Cerrado, compreendendo reas dos
Estados de Gois e de Minas Gerais.
Em 2000, o Cerrado tornou-se a mais
importante zona de produo de tomate industrial do pas, com 77% da
rea plantada, seguido de So Paulo,
com 14%, e da Regio Nordeste, com
apenas 9% (Melo, 2001). Naquele perodo, tambm houve um incremento
extraordinrio da produtividade, que,
de cerca de 34,6 t/ha, em 1990, foi
para 67 t/ha, na safra de 2000.
Um fator limitante no cultivo do
tomateiro so as doenas virticas,
principalmente, devido dificuldade
de seu controle. No submdio So
Francisco (PE e BA), os principais
problemas esto relacionados com a
estrutura produtiva, embora as condi-
91
Fig. 1. Padres de bandas de RAPD produzidos pelos primers OPP02, OPP03, OPP04, OPP05, OPP06 e OPP19. LA: linhagem
LA3473, resistente a geminivrus, VIRA: cultivar Viradoro, suscetvel a geminivrus, 1:10 e 1:50: diluies do DNA.
pino), as leguminosas (feijo, feijode-vagem, soja), as solanceas (berinjela, fumo, pimenta, tomate, pimento), o algodo, a uva e algumas
ornamentais, como o bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima Willd.)
e o crisntemo (Chrysantemum
morifolium Ramat.). Tem sido tambm relatada a sua ocorrncia em
plantas daninhas, como, entre outras,
o pico (Bidens pilosa L.), jo-decapote (Nicandra physaloides (L.)
Gaertn.), datura (Datura stramonium
L.) guanxuma (Sida rhombifolia L.),
pinho manso (Jatropha gossypifolia
L.) e Macroptilium lathyroides (L.)
Urb. (Frana et al., 2000).
No Nordeste do Brasil, notadamente no Estado do Piau, o gnero
Bemisia ocorre em vrios hospedeiros. No entanto, na cultura do caupi
(Vigna unguiculata (L.) Walp) que
esse gnero tem maior importncia,
pois a espcie B. tabaci citada
como vetora do Mosaico Amarelo do
Caupi (Santos, 1982).
Geminivrus no Brasil
O primeiro relato de geminivrus em tomateiro, no Brasil, da
dcada de 70 (Maytis et al., 1975).
Seis diferentes vrus transmitidos pela
mosca-branca foram observados, sem,
entretanto, causarem danos de importncia econmica.
Em 1994, no Distrito Federal, foi
observada a ocorrncia de nova espcie de geminivrus no relatada em
outras regies do mundo (Ribeiro et
al., 1994). Em 1995, a virose expandiu-se por toda a Regio CentroOeste, causando perdas mdias de
40% a 100% (Bezerra et al., 1996).
Nos ltimos anos, foram observados em tomateiros, em vrias regies do Brasil, danos significativos
causados por geminivrus associados
ocorrncia de B. argentifolii (Frana
et al., 1996). Em Minas Gerais, Rezende
et al. (1996) e Zerbini et al. (1996)
observaram perdas superiores a 50%
da produo no cinturo verde de
Belo Horizonte e no Tringulo Mineiro. A clonagem e o seqenciamento
de fragmentos de DNA dos componentes A e B de geminivrus isolados
dessas duas regies indicaram tratarse de dois geminivrus distintos (Ribeiro et al., 1998b). Em So Paulo, um
novo geminivrus em tomateiro foi
descrito por Faria et al. (1997). O
surgimento quase simultneo de novos geminivrus que infectaram tomateiros na Regio Sudeste sugere uma
mudana nas populaes da moscabranca, com maior predominncia de
B. argentifolii sobre B. tabaci. Esse
fato criaria condies para que vrus
que infectam plantas selvagens invadam o tomateiro e, uma vez adaptados ao novo hospedeiro, dem origem a um novo vrus atravs de
recombinao ou reagrupamento de
componentes. Ressalte-se que os geminivrus vm sendo relatados em
plantas daninhas amplamente disse-
93
Tcnicas diagnsticas de
fitovrus
Os vrus de plantas so conhecidos por sua extraordinria diversidade gentica, tanto dentro da mesma
espcie como entre espcies diferentes. Para o diagnstico correto de
uma doena viral, muitas vezes fazse necessria a aplicao de dois ou
mais mtodos para o diagnstico
correto do vrus em estudo. A escolha deve ser funo da sensibilidade,
exatido e reprodutibilidade do mtodo, quantidade de amostras processadas em um determinado perodo de tempo, custo do material utilizado, sofisticao dos aparelhos e
adaptabilidade s condies de tempo (Zambolim, 1999). Diversos mtodos tm sido empregados para detectar geminivrus em tomate, incluindo tcnicas sorolgicas e PCR.
O RAPD
O RAPD (Random Amplified
Polymorphic DNA) uma tcnica
derivada da PCR. Uma das limitaes
da PCR a necessidade do conhecimento prvio das seqncias de nucleotdeos que flanqueiam a seqncia do DNA de interesse. Para que se
conheam essas seqncias, so necessrios a clonagem e o seqenciamento da regio. Por isso, com exceo de alguns genes de seqncia
conhecida, a PCR apresentou, inicialmente, uso limitado como tcnica
para a obteno de marcadores moleculares. O grande avano na rea de
marcadores moleculares baseados em
PCR ocorreu em 1990, com a idia de
se utilizar primers mais curtos e de
seqncia arbitrria na reao de amplificao, eliminando assim a necessidade do conhecimento prvio da
seqncia. Essa tcnica foi desenvolvida, independentemente, por dois
grupos nos Estados Unidos. Williams
et al., em 1990, patentearam a tecnologia com o nome mais comumente
utilizado, RAPD, ou seja, DNA polimrfico amplificado ao acaso.
94
Objetivo
Semeadura do material
Material e mtodos
Viradoro uma cultivar destinada ao processamento industrial,
resistente ao Viracabea do tomateiro (Tospovrus), mancha-deestenflio (Stemphylium solani
Weber), murcha-de-fusarium
(Fusarium oxysporum (Schlecht.)
f. sp. Lycopersici (Fol) (Sacc.) raa
1) e ao nematide das galhas
(Meloidogyne spp.), porm suscetvel a geminivrus. Como caractersticas principais dessa cultivar podem ser citados: hbito de crescimento determinado, excelente cobertura dos frutos, sendo estes firmes e de formato quadrado-oblongo, maturao uniforme, com colorao externa vermelho-escuro
brilhante. O brix varia de 4,4% a
4,7% e o peso mdio dos frutos de
70 a 80 gramas. Em condies experimentais, Viradoro tem alcanado a
produtividade de 90 toneladas por
hectare. Essa cultivar foi selecionada a partir de cinco ciclos de autofecundao desenvolvidos aps o quarto retrocruzamento sucessivo para a
cultivar IPA-5, tendo como progenitor no recorrente a linhagem TSW10, com resistncia a Tospovrus.
A linhagem LA3473, resistente a
geminivrus, possui hbito de crescimento determinado mdio, porte mdio, frutos alongados de tamanho
mdio, produz aproximadamente 15
frutos por quilo e sua provvel origem Israel. Essa linhagem possui o
gene wilt, cujos sintomas so muito
semelhantes aos sintomas apresentados pelas plantas infectadas com geminivrus (Ednardo Ferraz, comunicao pessoal).
RAPD
Foram empregados 20 primers da
srie OPP (Operon Technologies Inc.)
para a amplificao do material, cuja
mistura bsica continha: 10 ng de DNA/
ml, 2.5 l do tampo de PCR (Amersham
Pharmacia) (10X); 1.7 l de MgCl2 (25
mM); 1.25 l da soluo de dNTPs
(2mM cada); 2.5 l do primer (4M) e
0.4 l de Taq polimerase (5 U/ml); gua
q.s.p. 25 l. O material foi submetido s
seguintes etapas de amplificao: um
ciclo de desnaturao a 94oC por 3 min.
seguido por 94oC por 15 seg., 42oC por
30 seg. e 72oC por 1 minuto. As trs
ltimas etapas foram repetidas quarenta e trs vezes. A amplificao foi concluda a 72oC por 7 minutos.
Visualizao do produto de
amplificao
Os amplicons foram separados
em gel de poliacrilamida 6%. Os gis
foram fixados e digitalizados diretamente em scanner de mesa ou fotografados sob transiluminao com
luz branca e pelcula em cores.
Estimativa da quantidade
de DNA
A estimativa da quantidade de
DNA foi efetuada em gel de agarose
0,8% corado com brometo de etdeo,
utilizando-se um volume conhecido
de soluo de DNA (marcador de 100
pares de bases, Gibco) como padro
para inferir a concentrao de DNA
nas amostras.
Resultados e Discusso
A tcnica do RAPD muito utilizada para o estudo da diversidade gentica, construo de mapas genticos,
identificao de marcadores ligados a
resistncia a bactrias, fungos, vrus,
determinao da pureza e identificao de hbridos, entre outros (WeikertOliveira et al., 2002; Carvalho et al.,
2002). A velocidade, eficincia e
confiabilidade da metodologia RAPD
em conjunto com a anlise numrica,
torna essa tcnica particularmente apropriada na formulao de estratgias
para um manejo efetivo de colees de
germoplasma em termos de identificao de duplicatas, estimativa da diversidade, monitoramento da eroso gentica e aumento do uso das colees.
O mtodo de extrao usado para
obter DNA a partir de discos foliares de
tomateiros permitiu a obteno de DNA
com grau de pureza elevado, que pode
ser empregado em reaes de RAPD,
sem inibio da Taq polimerase por
componentes vegetais contaminantes.
O rendimento do mtodo permitiu
obter uma quantidade bastante varivel de DNA, tipicamente entre 2 e 20
g de DNA, para cada 2 discos foliares.
Dos 20 primers constantes do kit
OPP empregado, apenas 8 produziram
produtos de amplificao com DNA de
tomateiro. Ao se compararem os padres de bandas obtidos pela separao em eletroforese em SDS poliacrilamida dos produtos de amplificao
gerados no RAPD (Figura 1), 6 primers
mostraram ser discriminativos, produzindo um padro de bandas para a
cultivar Viradoro muito distinto daquele obtido para a linhagem LA3473. Para
todos esses primers, no foram obtidas
bandas para a linhagem LA3473 quando se empregou 1 l de DNA de tomate
previamente diludo 104 vezes em TE.
Ao contrrio, um padro composto
por, pelo menos, 3 bandas ntidas foi
obtido para a cultivar Viradoro nessas
condies. A reduo da quantidade
de DNA alvo na reao, pela diluio
prvia do DNA extrado das plantas em
5 x 104 vezes, resultou no aparecimento de uma a trs bandas de pouca
intensidade na amplificao do DNA
obtido da linhagem LA3473 para 4
primers, conservando o padro complexo de bandas para a outra cultivar,
para os 6 primers selecionados.
Os padres de bandas obtidos
para a cultivar Viradoro no foram idnticos quando foram empregadas duas
diluies distintas de DNA alvo: exceto
para o primer OPP5, os padres obtidos
tendiam a apresentar bandas de peso
molecular mais alto para a quantidade
maior de DNA alvo. Fontes e concentraes de primers diferentes influenciam
o padro de bandas e certos primers
produzem padres de bandas mais
confiveis quando usados em concentraes mais altas do que o usual,
provavelmente porque o DNA genmico
Concluso
Pode-se inferir deste trabalho que
a metodologia utilizada mostrou-se
satisfatria para a discriminao de
plantas de tomate resistentes e suscetveis a geminivrus, visto que foi
obtido um padro reproduzvel de
bandas para o material suscetvel.
Apoio Financeiro:
CAPES ( Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior)
Referncias Bibliogrficas
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95
Glucanases Fngicas
Pesquisa
Introduo
Exopolissacardeos so gomas
solveis em gua, produzidos por
uma ampla variedade de microrganismos e possuem propriedades fsicas peculiares, que favorecem o emprego nas indstrias alimentcias, farmacuticas, petrolferas, entre outras
(Margaritis & Pace, 1985). Estes
biopolmeros podem ser degradados
por hidrolases especficas denominadas polissacaridases (Sutherland,
1999). Estas enzimas, amplamente
distribudas em fungos, so classificadas como -glucanases quando
hidrolisam ligaes -D-glicosdicas
(Manners et al., 1976).
O crescente interesse no estudo
das -glucanases concentra-se no seu
potencial de aplicao industrial, considerando a sua ao hidroltica sobre diversas substncias naturais
(Warren, 1996; Kirk et al., 2002).
A atividade das glucanases ocorre em todos os estgios do ciclo de
vida fngico, incluindo a autlise. A
resistncia das hifas lise celular tem
sido atribuda ao equilbrio entre a
sntese e a hidrlise de uma variedade de ligaes -glicosdicas (White
et al., 2002). As -glucanases esto
localizadas tanto no citoplasma das
clulas fngicas, como tambm ligadas parede celular (Santos et al.,
1979).
O papel das -1,3-glucanases
fngicas na natureza parece estar
associado morfognese (Rapp,
1992). Em leveduras, estas hidrolases tm sido estudadas devido ao seu
papel na germinao, esporulao e
crescimento celular, sendo expres-
97
Produo e regulao da
sntese de -1,3 e -1,6glucanases
A relao entre a atividade das
-glucanases e a sntese e degradao das -glucanas por seus respectivos fungos produtores ainda no foi
estabelecida (Pitson et al., 1991).
O fungo Sclerotium glucanicum
produtor de uma -(13)(16)glucana extracelular denominada escleroglucana. Rapp (1989) analisou a
produo desta -glucana e as respectivas hidrolases deste fungo utilizando
glucose 1% (p/v) como nica fonte de
carbono; observou um decrscimo do
EPS e da biomassa no meio de cultivo,
acompanhado do aumento da atividade das glucanases no perodo em que
a concentrao do substrato diminuiu.
A produo de -1,3-glucanases
por fungos que no produzem polissacardeos geralmente estimulada
pela presena de paredes celulares
purificadas de outros microrganismos.
Noronha e colaboradores (2000) verificaram um aumento significativo destas enzimas pelo Trichoderma
harzianum quando utilizaram paredes celulares fngicas purificadas de
Pythium sp., Rhizoctonia solani e
Sclerotium rolfsii como nica fonte de
carbono, o que tambm foi verificado
por Bara e colaboradores (2003) para
o fungo Trichoderma asperellum. Estes resultados sugerem que a regulao
da expresso de -1,3-glucanase nestes fungos pode ser influenciada pela
quantidade de -glucana presente no
meio de cultivo, que atua como agente indutor.
O excesso de glucose ou outra
fonte de carbono facilmente fermentvel reprime a produo de -glucanases
em alguns microrganismos. Rapp (1989)
observou que durante o crescimento do
Sclerotium glucanicum, em excesso de
glucose ou xilose, a atividade de glucanase no foi detectada. A presena
de glucose no meio de cultivo tambm
reprimiu a produo de -glucanases
em Acremonium persicinum (Pitson et
al., 1991) e em Trichoderna harzianum
(Noronha et al., 2000). A sntese de glucanases nestes microrganismos
regulada por represso catablica, sendo que esta forma de controle tem sido
observada em outros fungos, incluindo
Neurospora crassa, Penicillium italicum,
Sclerotium rolfsii e Schizophyllum
commune (Rapp, 1989).
A desrepresso da formao de glucanases em Sclerotium glucanicum
durante o crescimento em concentraes limitadas de glucose envolve extensiva autlise dos miclios fngicos
e a degradao da -glucana produzida (Rapp, 1992). Durante a desrepresso, os oligmeros gerados da parede
celular, durante a autlise, aumentam
a atividade das -glucanases, devido a
seu curto tempo de permanncia no
meio de cultivo (White et al., 2002).
A regulao exercida pela
glucose envolve a represso da expresso dos genes que codificam
estas enzimas. Uma vez consumida a
fonte de carbono, ocorre a desrepresso, resultando na sntese das 1,3-glucanases (Noronha et al., 2000).
A regulao e a sntese das glucanases esto sujeitas a diferentes
mecanismos de controle, sendo que
estas diferenas podem ser explicadas pelo papel metablico exercido
de acordo com cada microrganismo.
No fungo Trichoderma viride, a sntese de -1,3-glucanase acompanha
seu desenvolvimento celular (Del Rey
et al., 1979), enquanto que em
Neurospora crassa e Penicillium
italicum a produo destas enzimas
ocorre paralelamente reduo do
seu crescimento (Santos et al., 1977).
A glucose no reprime a produo
de -glucanases pelo fungo filamentoso
Trichoderma viride e as enzimas so
produzidas durante o crescimento na
presena deste monossacardeo. Neste
fungo, as -glucanases podem estar
envolvidas nos processos de formao
da parede celular, j que a atividade
especfica destas enzimas aumenta durante o crescimento exponencial deste
microrganismo (Del Rey et al., 1979). A
glucose tambm no exerce represso
na produo de -1,3-glucanases por
leveduras, podendo atuar at como
agente indutor em alguns casos
(Saligkarias et al., 2002).
Estudos sobre a regulao da
sntese de -1,3-glucanases pela fonte
de nitrognio tambm tm sido realizados (Pitson et al.,1996). O conhecimento dos mecanismos controladores
da atividade destas polissacaridases
fundamental para se exercer o controle sobre a autlise dos fungos
filamentosos, seja para induo, nos
casos de controle biolgico, como na
preveno, para aumentar a produo
de metablitos de interesse em
bioprocessos (White et al., 2002).
Beta glucanases:
propriedades, atividade e
inibio
Laminarina e pustulana so geralmente usadas como substratos nos
ensaios enzimticos utilizados na determinao das atividades de -1,3 e
-1,6-glucanases, respectivamente
(Rapp, 1989). Os parmetros cinticos
destas polissacaridases variam de acordo com o microrganismo estudado.
A atividade das -glucanases
pode ser inibida pela presena de
compostos como clorofrmio,
benzenides, organofosfatos, quelantes, entre outros, podendo ocorrer
inibio devido a concentraes elevadas de substrato e tambm dos
produtos reacionais (Rana et al.,
2003). Certos ctions e nions assim
como compostos quelantes e detergentes tambm podem inibir as glucanases em diferentes nveis. A
Tabela 2 mostra o efeito de diferentes metais e compostos inibidores de
-glucanases fngicas.
Notario e colaboradores (1976)
verificaram que as -glucanases so
protenas cidas, carregadas negativamente. A composio em aminocidos revelou alta porcentagem em
aminocidos cidos alm de glicina e
alanina em grandes propores.
99
Aplicao
Controle
Biolgico
Dieta Animal
Obteno de
Protoplastos
Extrato de
levedura
Melhoramento
do vinho
100
Aplicaes biotecnolgicas
das polissacaridases
As aplicaes biotecnolgicas
dos polissacardeos so limitadas,
devido aos problemas relacionados
com as modificaes fsicas, qumicas e enzimticas, que so necessrias para o desenvolvimento de novos
produtos (Ramesh & Tharanathan,
2003).
Tcnicas de fermentao e biotecnologia tm sido desenvolvidas
com o objetivo de sintetizar e modificar carboidratos, sendo baseadas
essencialmente no uso de polissacardeos. No entanto, h dificuldades
em tornar alguns processos economicamente viveis e tambm de se
obter enzimas especficas para a converso de determinados substratos
(Vandamme & Soetaert, 1995).
A Tabela 3 apresenta algumas
das aplicaes biotecnolgicas das
-glucanases de origem fngica.
O uso de enzimas pode representar uma via alternativa, devido
sua alta especificidade, na identificao qumica das -glucanas fngicas
(Sutherland, 1984).
As -1,3-glucanases so especficas para substratos contendo seqncias lineares de trs ou mais unidades
de glucose unidas atravs por liga-
es glicosdicas do tipo -(13) contendo uma extremidade terminal noredutora. No entanto, um grau de
substituio moderado de resduos de
glucose pode ser tolerado, e as -1,3glucanases podem atuar sobre (13)(16)-glucanas, por exemplo
(Manners et al., 1976). Rapp (1992)
analisou os produtos de hidrlise de
laminarina e escleroglucana, utilizando a enzima parcialmente purificada
produzida por Sclerotium glucanicum.
Sob as condies da anlise, a glucose
foi o nico produto resultante da
hidrlise da laminarina, enquanto que
glucose e gentiobiose foram os produtos formados na hidrlise da escleroglucana.
Kry e colaboradores (1991) utilizaram uma preparao enzimtica
contendo -1,3-glucanases produzidas pelo fungo Aspergillus niger,
para degradar uma glucana insolvel de levedura, em fragmentos menores e solveis em gua. A hidrlise
da parede celular de Saccharomyces
cerevisiae foi realizada no pH timo
de ao da -1,3-glucanase utilizada. Os fragmentos obtidos foram
separados por cromatografia de excluso molecular em Sephadex G50, sendo que mudanas no peso
molecular dos fragmentos de glucana
foram observadas de acordo com o
tempo de hidrlise.
As -(13)-glucanas tm sido
investigadas por apresentarem uma
variedade de respostas biolgicas
de defesa. Estas molculas de cadeia linear e elevada massa molecu-
lar so insolveis em solues aquosas neutras, enquanto seus oligmeros de baixo peso molecular so
altamente solveis (Ramesh &
Tharanathan, 2003). A solubilidade
exerce influncia significativa na
eficincia da ligao do polissacardeo com o receptor, afetando o seu
efeito imunolgico (Tokunaka et al.,
2002). Muitas -glucanas fngicas
possuem ao imunomoduladora
quando administradas de maneira
intravenosa ou intraperitonial. A utilizao de -glucanas insolveis
pode resultar na formao de
granulomas, inflamaes e dor, quando administradas atravs da via
parental (Sandula et al. 1999).
Segundo Colleoni-Sirghie e colaboradores (2003) propriedades fsicas das -glucanas, como a viscosidade e a solubilidade, dependem
no somente do grau de polimerizao, como tambm das pequenas
diferenas estruturais de cada polissacardeo. A substituio de resduos
-(16)-glicosdicos na cadeia polissacardica favorece a solubilizao
de -(13)-glucanas em solues
aquosas. Estudos por RMN e difrao
de raio-x tm demonstrado que estas
substituies conferem s -glucanas
uma conformao em tripla hlice
(Ramesh & Tharanathan, 2003).
A aplicao teraputica dos
exopolissacardeos tambm depende da conformao espacial e das
propriedades reolgicas especficas
de cada macromolcula. A lentinana,
uma -(13)-glucana produzida por
Lentinus edodes, aumenta a resistncia do organismo contra infeces por parasitas e sua forma
sulfatada est sendo estudada por
exibir potente ao anti-HIV. A
laminarina, produzida pela alga
Laminaria digitata, tambm uma
-(13)-glucana, porm, no exibe
atividade biolgica significativa
(Ramesh & Tharanathan, 2003).
O mecanismo de ao das glucanas ainda no conhecido, mas
acredita-se que seja dependente da
massa molecular do exopolissacardeo, dos tipos de ligaes glicosdicas
e resduos presentes, alm da sua
conformao espacial (Freimunda et
al., 2003). A atividade antitumoral
tem sido atribuda capacidade de
101
Agradecimentos
Os autores agradecem CAPES
pelo auxlio financeiro ao
Programa de Mestrado em
Biotecnologia do Departamento de
Bioqumica-CCE, da Universidade
Estadual de Londrina. Ellen
Cristine Giese tambm agradece
ao CNPq pela bolsa de mestrado
concedida.
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em Biotrios
Alergia: um risco sempre presente
Joel Majerowicz
105
Higienizao de ambiente
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Na manipulao de animais e de
seus derivados, fazer uso, sempre que
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Bio-Manguinhos / Fiocruz
Bio-Manguinhos / Fiocruz
Estantes ventiladas
Bio-Manguinhos/Fiocruz
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