Jesus Cristo Nunca Existiu PDF
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***
JESUS CRISTO
NUNCA EXISTIU
***
P UBLICADO
ORIGINALMENTE COM O
PSEUDNIMO
M ILESBO
***
* EMLIO BOSSI *
***
JESUS CRISTO
NUNCA EXISTIU
***
P UBLICADO
ORIGINALMENTE COM O
PSEUDNIMO
M ILESBO
***
(T R AD U O D E A U G U S TO D E C AS T R O 1900)
E D I TOR A J O O C AR N E I R O - L IS B O A
(T R AD U O D E T HO M AZ D A F ON S E C A 1909)
A LM AN AC H E N C Y C LO P ED I C O I L U S T R AD O - L I S B O A
EMLIO B OSSI
(1870 - 1920)
TEMA
SUMRIO
TEMA...................................................................................................................................................5
PERFIL DO AUTOR........................................................................................................................7
INTRODUO...................................................................................................................................9
PRIMEIRA PARTE CRISTO NA HISTRIA.......................................................................14
CAPTULO I.........................................................................................................................................
O SILNCIO DA HISTRIA ACERCA DA EXISTNCIA DE CRISTO.........................15
CAPTULO II.......................................................................................................................................
AS SUPOSTAS PROVAS HISTRICAS DA EXISTNCIA DE CRISTO........................21
CAPTULO III.......................................................................................................................................
PROVAS HISTRICAS CONTRA A EXISTNCIA DE CRISTO......................................27
CAPTULO IV......................................................................................................................................
JESUS CRISTO NO PESSOA HISTRICA.....................................................................33
SEGUNDA PARTE CRISTO NA NVOA.............................................................................42
CAPTULO I........................................................................................................................................
A BBLIA NO TEM VALOR DE PROVA..............................................................................43
CAPTULO II........................................................................................................................................
JESUS CRISTO PESSOA ABSOLUTAMENTE SOBRENATURAL.................................49
CAPTULO III......................................................................................................................................
A PRPRIA BBLIA FALA DE CRISTO APENAS SIMBOLICAMENTE.......................57
CAPTULO IV.....................................................................................................................................
CRISTO UM MITO ADAPTADO DAS ALEGORIAS DO ANTIGO
TESTAMENTO.................................................................................................................................64
CAPTULO V.......................................................................................................................................
CONTRADIES ESSENCIAIS DA BBLIA A CERCA DE CRISTO..............................77
CAPTULO VI......................................................................................................................................
ABSURDOS ESSENCIAIS DA BIBLIA ACERCA DE CRISTO.........................................84
CAPTULO VII....................................................................................................................................
A MORAL SECTRIA DOS EVANGELHOS NO OBRA DE UM
HOMEM, MAS SIM , DA TEOLOGIA......................................................................................92
TERCEIRA PARTE CRISTO NA MITOLOGIA................................................................105
CAPTULO I........................................................................................................................................
CRISTO ANTES DE CRISTO...................................................................................................106
CAPTULO II.......................................................................................................................................
A MITOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO NO ORIGINAL................................115
CAPTULO III......................................................................................................................................
ORIGEM E SIGNIFICADO DOS DEUSES REDENTORES..............................................124
CAPTULO IV.....................................................................................................................................
CRISTO UM MITO SOLAR.................................................................................................130
QUARTA PARTE FORMAO IMPESSOAL DO CRISTIANISMO ..........................139
CAPTULO I........................................................................................................................................
A MORAL CRIST SEM CRISTO..........................................................................................140
CAPTULO II.......................................................................................................................................
A DOUTRINA CRIST SEM CRISTO...................................................................................152
CAPTULO III......................................................................................................................................
O CULTO CRISTO SEM CRISTO........................................................................................160
CAPTULO IV.....................................................................................................................................
FORMAO PSICOLGICA DO CRISTIANISMO.............................................................167
CAPTULO V.......................................................................................................................................
COMO ACONTECEU O TRIUNFO DO CRISTIANISMO.................................................178
CONCLUSO...............................................................................................................................191
6
PERFIL DO AUTOR
do em 1905 e 1906.
Rev a luz em 1951 em Bolonha, pela Lida, com um apndice
de Andre Lorulot. Finalmente,
em 1976, se encontra publicado
em Ragusa pela La Fiaccola.
No se conhece outras edies.
Bibliografia
1899 - Sobre a Separao Entre
o Estado e a Igreja.
1900 - Jesus Cristo Nunca Existiu
1909 - A Clerezia e a Liberdade
1916 - Vinte Meses de Histria
Sua
INTRODUO
gos no ousaram negar em absoluto a pessoa de um Jesus hebreu, contentando-se uns com rode-lo com um engrandecimento
lendrio e uma divinizao mitolgica, e outros com ambas. E
como nesse exame todos partiram de um ou vrios pontos de
vista parciais e unilaterais, em
vez de se apoiarem e completarem reciprocamente, destruram
a obra comum, criticando-se uns
aos outros nos pontos controversos, e acabando por se eliminarem mutuamente.
Enquanto que a interpretao
evolucionista baste para explicar
a origem e a formao do Cristianismo, com o aditamento das
preciosas informaes postas
sua disposio pela mitologia
comparada, a presena de Jesus
continua como um ltimo obstculo completa explicao do
cristianismo segundo o mtodo
cientfico, mesmo que excluindo
a sua presena e considerando
que a crtica bblica e histrica
tenham reduzido as fontes da
crena em Jesus sua mais nfima expresso.
Posto isto, os ltimos mistrios, nicos pontos obscuros que
permanecem sem explicao no
cristianismo - e no so poucos so os que derivam da pretendida
existncia do Cristo.
Primeira Parte
Cristo na
Histria
14
CAPTULO I
O SILNCIO DA HISTRIA ACERCA DA EXISTNCIA DE CRISTO
A pretensa carta ao rei Abgaro provouse que foi uma piedosa fraude. Orgenes
e Santo Agostinho, para no irmos mais
longe, excluem-na, declarando, por um
modo formal, que Cristo nunca escrevera coisa alguma. Alm disso, a prpria
Igreja em tal ponto concorda, pois no a
inclui entre os documentos cannicos,
como teria feito, se, porventura, ela tivesse alguma aparncia de autenticidade. O mesmo pode dizer-se da carta de
Pilatos a Tibrio.
15
discpulos.
Csare Cant, a quem a crena mais cega e indigna de um
historiador vedou os olhos, mistura fatos histricos com as invenes mais absurdas do cristianismo. Desiludido da sua f
pelo silncio de Plutarco, consola-se dizendo que Plutarco
sincero na crena das suas divindades e que por isso, em nenhuma das obras que escreveu
sobre moral se refere aos cristos5.
Sneca, que por seus escritos
cheios de mximas perfeitamente crists faz duvidar se foi cristo ou teve relaes com os discpulos de Cristo, no seu livro
sobre as crenas, extraviado ou
destrudo, dado a conhecer por
Santo Agostinho, no diz uma
nica palavra acerca de Cristo, e,
falando dos cristos, aparecidos
j em muitos pontos da terra,
no os distingue dos hebreus, a
quem chama de um povo abominvel6.
Mas sobretudo expressivo e
decisivo o silencio de Flon
acerca de Cristo.
Flon, que contaria de 25 a 30
10
CAPTULO II
AS SUPOSTAS PROVAS HISTRICAS DA EXISTNCIA DE CRISTO
11
Larroque, Exame crtico das doutrinas da religio crist. Prim. Part. cap.
IV.
14
Contra Celso, livro 1, 47.
12
23
16
De maneira que os que falsificaram esta passagem esqueceram-se de falsificar aquela onde
Tcito ignora Cristo, absolutamente, e onde afirma, como em
seu lugar demonstraremos, que o
Cristianismo no procede de
Cristo, mas sim da fuso do hebrasmo, do orientalismo e do
helenismo, realizada no Egito.
Mesmo que no se quisesse
admitir esta fraude, o testemunho de Tcito no provaria de
modo algum a existncia de
Cristo, visto que ele o cita unicamente para dar a origem etimolgica do nome dos cristos.
No se pode admitir que Tcito tenha escrito acerca de Cristo
da forma enganosa com que o fizeram escrever, pois se Cristo tivesse realmente existido, sabendo-o ou conhecendo-o, o historiador teria falado certamente
muito mais a respeito dele, nunca limitando-se a falar de um homem extraordinrio, em poucas
palavras, ditas a correr e entre
incidentes ocasionais18 .
A passagem de Suetnio
ainda mais breve e mais contraditria.
Roma diz ele, falando do
reinado de Cludio expulsou
os judeus que, instigados por
Cresto, promoviam contnuos tumultos19.
Ponhamos de lado a diferena
entre Cresto e Cristo20 para analisarmos a dificuldade a que d
origem a pessoa aludida por Suetnio.
Se era Cristo, como acreditar
que tenha sido expulso de Roma
onde nunca esteve? E, se esteve
em Roma, como podia ele viver
ainda no tempo de Cludio, se
Tcito nos diz que foi crucificado no reinado de Tibrio, que
precedera o de Calgula e este o
de Cludio? Em vista disto, foroso reconhecer que os dois
testemunhos, de Tcito e Suetdo caminho e que outros, mais competentes do que ns, tm apoiado a interpolao de Tcito.
19
Suetnio, Vida de Cludio, cap. 25.
20
Esta questo etimolgica no to
desprezvel assim, como Larroque e outros consideraram. Ganeval pretende
que o nome de Cristo,empregado pelos
cristos nos sculos I e II em Roma, e
nos livros sybillinos no Egito seja uma
derivao do nome de Cresto, aplicado
a Serpis, Bom e Agathos. Ainda, segundo ele, Cristo uma pura e simples
transformao do Deus morto e ressuscitado do Egito.
18
21
CAPTULO III
PROVAS HISTRICAS CONTRA A EXISTNCIA DE CRISTO
22
25
26
Eis a passagem de Orgenes interpolada: "No livro III de sua obra Sobre o
Deus Bom, Filon escreve um episdio
alegrico sobre Jesus, ainda que no citando seu nome (Contra Celso). Ganeval demonstra que o nome de Jesus foi
interpolado na obra de Orgenes. Se Flon tivesse escrito sobre Jesus, citaria a
ele e no a gatos, que era o deus Serpis. A falsificao tanto mais evidente
quanto certo que Flon e Orgenes nem
conheceram nem nunca falaram de Jesus.
29
27
28
30
Fcio, in Ganeval
31
gelho que destaca o golpe de lana que fez manar sangue e gua
do corpo de Cristo, e que isto
provaria a sua realidade.
A existncia desta seita particularmente importante, porque
no dizer de S. Jernimo32, foi
contempornea dos Apstolos.
E, caso no fosse bastante o
que j foi dito, tnhamos Cerinto,
Cerdon, Taciano, e os Ebionitas,
todos eles impugnadores da existncia de Cristo, e, sobretudo,
Saturnino, que segundo o abade
Pluquet, viveu nos tempos e nas
paragens onde Cristo realizou os
seus milagres, apesar de ter-lhe
negado, ele tambm, um corpo
natural.
A negao da existncia de
Cristo por parte dos primeiros
herticos, alguns dos quais viveram no tempo e no lugar onde teriam residido Cristo e os Apstolos, prova histrica evidente de
que eles nunca existiram. Um
testemunho valiosssimo, apresentado tambm por Ganeval, o
do imperador Adriano que tendo
feito uma viagem a Alexandria
no ano 131 declarou que o Deus
dos cristos era Serpis e que os
devotos de Serpis eram aqueles
a quem chamavam bispos dos
cristos. Sua opinio est de
Ganeval cita, entre as provas Histricas contra a existncia de Cristo, a linguagem de S. Paulo e daquele apstolo
Apolo chamado tambm Cresto, que nos
Atos dos Apstolos prega o cristianismo
sem ser cristo. Provas graves, sem dvida, por emanarem dos prprios documentos da f, e de que falaremos, quando tratarmos da Bblia.
32
CAPTULO IV
JESUS CRISTO NO PESSOA HISTRICA
No s a histria permanece
muda a respeito da pessoa de
Cristo; no s se demonstrou
que os autores histricos que
dele falam foram nesse ponto
falsificados; no s existem provas histricas contra a existncia
de Cristo, mas at se prova que a
Histria nunca o conheceu, no
podendo sequer conservar-nos a
sua fisionomia humana.
Cristo no pessoa histrica;
Deus, somente Deus, mais ou
menos antropomorfizado. A prpria etimologia nos indica: Jesus
significa Salvador, Cristo significa Ungido.
Na prpria Bblia e no Antigo
Testamento, o nome de Messias
ou de Cristo aplica-se a certos
reis pagos: a Cyro, segundo
Isaas (XLV, 1) e ao rei de Tyro,
segundo Ezequiel (XXVIII, 14).
Aplica-se, tambm, a todo o
povo e a todos os seus membros,
como se v nos Salmos.
Jesus Cristo quer dizer, pois:
O que foi ungido Salvador.
A prpria etimologia demonstra que se no trata de uma pessoa histrica.
Em que ano, nasceu Cristo?
Difcil e tenebrosa questo!
34
relaes.35
Enfim, no h uma nica notcia acerca da sua pessoa fsica.
Cristo foi alto ou baixo? Barbado ou imberbe? Moreno ou
loiro? Feio ou formoso? Ningum o disse, jamais, de um
modo fixo e positivo, porque
ningum nunca o viu.
Tertuliano o descreve como
feio, conforme uma profecia de
Isaas, estando nesse ponto de
acordo com a Igreja do Oriente.
Santo Agostinho, porm, e com
ele a Igreja Latina, querem que
Jesus tenha sido formoso. Estas
duas opinies foram a origem
das diversas imagens de Cristo,
barbado ou imberbe. As disputas
35
duraram at ao sculo XVII, depois do que, prevaleceu o modelo atual de Cristo com cabeleira
espessa e barba farta.
O sudrio, que deveria ser um
retrato da face de Cristo, pois foi
estampado pelo contato direto
com o seu rosto, representa-o de
barba abundante. O sudrio, porm, no documento fidedigno,
ou porque existem outros igualmente autnticos, ou porque os
evangelistas no esto de acordo
sobre este ponto, e mesmo porque h esttuas e afrescos de
Cristo em que ele aparece, at
fins do ano 326, completamente
imberbe.
Por isso, o escritor Moy, que
tratou este assunto com muito
interesse e conscincia, conclui,
e com razo: Desde que se queira tocar em alguma coisa real
na vida de Jesus, no se encontra mais do que contradio e
incoerncia. Se porm, alguma
coisa h de indiscutvel essa
do aspecto fsico de Jesus...
Para ns, a ausncia total de informaes precisas sobre sua
aparncia uma prova certa de
que ningum jamais o viu36.
E, se ningum o viu, claro
est que ele nunca existiu.
Tudo o que se pretende saber
36
Por conseguinte, no perderemos mais tempo com os cristlogos e nem com os crticos que,
embora eliminando uma ou outra parte do Novo Testamento,
pretendem conservar a pessoa
histrica de Cristo.
O nosso trabalho consistir,
pois, cingindo-nos lgica, e
indo at as ltimas consequncias, em refutar indiretamente o
sistema ilgico dos cristlogos.
Antes, porm, de prosseguir,
recolhamos algumas das concluses a que chegaram os crticos mais autorizados, que tentaram a impossvel tarefa de escrever a vida de Jesus.
Strauss, depois de ter dito que
tudo pode admitir-se como provvel na vida de Cristo coisa
impossvel, como veremos
conclui sua obra colossal sobre a
Vida de Jesus: dizendo Mas
esta verossimilhana, vizinha da
certeza (to pouco deixou de
subsistente, da histria de Jesus,
e mesmo esse pouco se reduz a
uma verossimilhana vizinha da
certeza) no vai at muito longe... Poucas coisas so devidamente averiguadas e mesmo
aquelas a que de preferncia se
aferra a ortodoxia as milagrosas e sobre humanas nunca
aconteceram. A pretenso de
que a salvao dos homens de-
37
39
40
Aqueles que, tirando de Cristo a qualidade sobrenatural que nele tudo, pretendem conserv-lo ainda como pessoa
humana, fato absolutamente incompreensvel, no s o expem a um amesquinhamento histrico, como o levam a
absorver pechas que o tornariam indigno. Ns, se lhe executamos os funerais,
salvamo-lo ao menos da crtica humanista fazendo-o subir da terra ao cu.
41
44
Segunda Parte
Cristo
*
na Nvoa
CAPTULO I
A BBLIA NO TEM VALOR DE PROVA
48
chegou at ns49 De seu testemunho relativo a Marcos e a Mateus, conserva-se apenas alguns
fragmentos em Irineu e Eusbio,
que demonstram no se referir
aos atuais Evangelhos.
Os testemunhos dos Evangelhos, que datam do III e IV sculo, que f podem eles merecer?
O que indiscutvel, que nenhum dos Evangelhos foi escrito
no tempo em que Jesus Cristo
viveu; e que nunca se tiveram
mo os pretendidos originais,
mas sim e apenas, cpias dos
mesmos e cpias das cpias.
Quem nos garante, pois, que
tais originais tenham existido?
Tudo so trevas nos dois primeiros sculos do cristianismo.
Maury, em presena de uma
to grave circunstncia, emite
duas opinies: a primeira diz que
os cristos primitivos escreveram muito pouco; a segunda,
que os documentos escritos naquele tempo se perderam, por
uma deplorvel fatalidade. E
supe mais verossmil esta segunda hiptese. E ns tambm
49
50
46
tamento est no fato das irreparveis contradies e das discordncias numerosssimas que
ainda hoje contm, para no falar nos seus erros, na sua imoralidade e absurda puerilidade,
apesar de a Igreja ter declarado
que foram inspirados, palavra
por palavra, pelo Esprito Santo!
Isto posto, pode, acaso, uma
pessoa sria, no obcecada pela
f, admitir, no j a autenticidade, mas ao menos a veracidade e
seriedade do Novo Testamento
como argumento de prova acerca
do que ele narra?
Stefanoni, contudo opina que
a crtica os deve ter em conta, ao
menos porque representam tradies dos tempos em que foram
produzidos, porm admite que,
sobre a base de tais livros no se
pode reconstituir a vida nem a
doutrina de Jesus sem se escreva
um romance, enquanto declara
que os escritos revelados no podem fazer f na histria, nem
esta pode, em nossos dias, explicar com verdadeiro critrio os
primeiros rudimentos da origem
da nossa idade. Observamos,
pelo que a ns se refere, que em
primeiro lugar, este no mais
que um dos muitos argumentos
que concorrem em favor da nossa tese e, em segundo lugar, que
nos achamos em face de uma
matria to excepcional que, assim como na crtica normal poderia optar-se pelo partido mais
sensato, isto , pela dvida, na
questo que debatemos preciso
ir at ao fundo, at a negao de
tudo quanto afirmam e impem
como divino, livros que, tais
como os Evangelhos, so destitudos do todo o fundamento.
Alm disso, os Evangelhos
so um milagre contnuo, tanto
na ordem fsica, como na ordem
moral, e, tratando-se de coisa sobrenatural, parece lgico que
concorram provas pelo menos
to certas autnticas como as
que acompanham os fatos comuns. Porm, nada disso acontece e, em parte alguma deles surge a menor prova.
E, ao passo que estes livros do
Novo Testamento nada demonstram do que afirmam, na histria
profana no ha um nico sinal,
um nico documento que apoie
ou venha em auxlio dessas narraes evanglicas.
Em tais circunstncias, quem
no ver que tudo quanto ali se
conta filho da imaginao, para
no dizer da impostura sacerdotal, e que nada, absolutamente
nada, pode salvar-se do que por
tantos sculos nos impuseram
por modo extraordinrio e sem
autoridade alguma?
47
No censuremos os crticos
positivos e os autores que nos
precederam e nos desbravaram o
terreno, por no terem chegado
concluso a que ns chegamos:
o preconceito duas vezes milenar que tem maltratado nossas
mentes, arrastando-as para esse
erro com tal fora inercial que
nem os mais destemidos puderam se libertar dele de um s
golpe. Aqui, mais do que em nenhum outro campo, comprova-se
que natura non facit saltus (a
natureza no d saltos).
No devemos, porm, negar
critica o direito de chegar a concluses que no so mais do que
consequncias necessrias das
prprias premissas.
Portanto, se o fato de serem
clandestinos os livros do Novo
Testamento no pode bastar, por
si s, para legitimar a concluso
da no existncia de Cristo, a
crtica deve, dada a natureza teolgica e sobrenatural dos referidos livros, ter muita cautela no
aceitar qualquer parte, por mnima que seja, do que neles se
conta.
Em todo o caso, o certo e indiscutvel que a Bblia, em lugar de servir de prova do que relata, tem necessidade de comprovar-se a si prpria. Esta afirmao est, de resto, reforada
52
CAPTULO II
JESUS CRISTO PESSOA ABSOLUTAMENTE SOBRENATURAL
53
Gaetano Negri, com sua pena magistral, corta fundo na questo dos milagres. Veja sua Crise Religiosa, pp 7783, Milo, Dumolard, 1878.
49
54
grande venerao por Jesus, disse o seguinte: Para dizer a verdade, se a Igreja no tivesse cometido a imprudncia de protestar com uma indignao ultrajante, e este foi um erro fatal, a
piedosa exegese de Renan poderia servir prodigiosamente aos
interesses do cristianismo. O vetusto poeta soube polir a velha
imagem do Nazareno, escurecida e manchada por dezoito sculos de ignorncia, erros e
mentiras, alm de livr-la dos
ritos e catecismos, das frmulas
e teologia. Ele lavou Jesus das
injrias e sujeiras catlicas; E
num lance genial, fez o homem
sem diminui-lo, uma vez que j
o tinha engrandecido como ente
sobrenatural. Ao escrever A
Vida de Jesus Renan devolveu-lhe a vida e o fez descer
uma segunda vez sobre terra ...
O protestantismo liberal, que
pretendeu seguir o mesmo caminho, no faz obra de destruio,
mas sim de conservao religiosa.
Faz o mesmo que o aeronauta,
quando arroja o lastro da nacela
para que esta no caia e o arraste
em sua queda.
S que esses salvadores do
Cristo Homem no esto de
acordo com a lgica, nem com a
verdade histrica,.
52
Op.cit., tom. I, p. 4.
57
56
CAPTULO III
A PRPRIA BBLIA FALA DE CRISTO APENAS SIMBOLICAMENTE
se cumprisse a Escritura.
A comear pelo seu nascimento milagroso. Os Evangelhos dizem-nos que tal acontecimento
teve lugar em virtude das palavras do profeta (Mat. I, 22).
Se nasce em Belm, porque
est tambm escrito pelo profeta
(Mat. II, 5).
Se foge para o Egito, porque
se cumprem as palavras do profeta: Chamei meu filho para o
Egito. (Mat. II, 14).
Se Herodes ordena a degolao dos inocentes, para que se
cumpram as palavras do profeta
Jeremias (Mat. II, 17).
Se volta Galileia e vive em
Nazar, para que se cumpram
as profecias, segundo as quais
devia chamar-se Nazareno:
(Mat. II, 23).
Se Jesus encontra em seu caminho a Joo Batista, porque o
profeta Isaas o havia predito.
(Mat. III, 3).
Se o diabo o tenta, e se Jesus
vence a tentao, porque as Escrituras o haviam predito. Do
mesmo modo, o dilogo entre
Satans e Cristo se funda nas
prprias palavras dos livros do
57
cunstncia essencialssima ?
No significar isto, claramente, que Cristo nunca existiu,
tendo-o inventado os Evangelhos para cumprimento das Escrituras?
Pode-se volver e revolver a
questo, mas a nica concluso
plausvel a que se chega a que
ns acabamos de indicar.
Despojai Cristo da sua realidade histrica, e tereis explicada
a questo das profecias: deixai-a
subsistente, e a questo das profecias ser humanamente insolvel.
Pois bem: como hoje simplesmente absurdo pensar que
possam existir profetas e profecias e que possam realizar-se
ponto por ponto, minuciosamente e a distncia como devia ter
ocorrido com Cristo, havemos
de concluir que: ou as profecias
foram inventadas, ou Cristo foi
inventado para o relacionarem
com as profecias.
Estando a primeira hiptese
desmentida pela histria e pela
circunstncia indeclinvel de
que, em tal caso, as profecias e a
sua realizao no tivessem deixado nada a desejar, resta-nos
somente a segunda, a de que
Cristo foi inventado para a realizao em si das profecias, hip59
se esquecer.
Salvador combate a opinio
dos filsofos, que fazem de Cristo um reformador religioso e social, dizendo que, para que esta
opinio fosse fundada, seria preciso que a sua morte fosse unia
consequncia involuntrio e quase acidental dos seus esforos,
enquanto que esta formava, pelo
contrrio, o seu princpio e o seu
fim confessados, os quais ele
procurava com ardor, em um interesse dogmtico e mstico.
Salvador esteve aqui verdadeiramente inspirado e poderia
ter conhecido toda a verdade se
no perdesse o caminho que seguia, terminando no lugar comum de que a vontade de morrer, firme em Cristo, provinha de
uma ordem de convices e de
um entusiasmo conforme com as
ideias da sua poca e com a interpretao oriental dos livros
sagrados dos hebreus.
J vimos contra que obstculos vo bater este lugar comum.
Mas permanece de p a preciosa
confisso de Salvador, que segue
imediatamente, depois da passagem citada, e onde diz que, a
no ser pela morte que desejava, nada ficaria de Cristo, porque nem os seus dogmas nem a
sua moral so frutos da sua inspirao.
58
61
62
CAPTULO IV
CRISTO UM MITO ADAPTADO DAS ALEGORIAS DO ANTIGO
TESTAMENTO
63
64
65
66
A mesma ideia simblica, representada pelas chaves confiadas ao chefe dos Apstolos, se
encontra no Antigo Testamento68.
Finalmente, a companhia de
pessoas de m fama que rodeiam
Jesus para escndalo dos Escribas e Fariseus, (Marc. II, 16) foi
copiada da figura de Davi que tinha se colocado frente de uma
turba de 400 desgraados (I
Reis, cap. XXII, 2).
Os milagres de Cristo fazem
parte do programa proftico:
Ento, sero abertos os olhos
aos cegos e abertos os ouvidos
dos surdo. Ento, o coxo69 saltar como um cervo e a lngua dos
mudos cantar70.
verdade que em Isaas no
figuram as narraes dos leprosos nem as ressurreies dos
mortos, mas esses dois gneros
de milagres acham-se nas lendas
dos profetas. Eliseu curara um
leproso, e junto com Elias, res-
68
71
Testamento por uma parte, quando se refere ao man que os hebreus recebem no deserto e por
outra, no que diz respeito aos
milagres, perfeitamente anlogos, de Elias e de Eliseu76.
O milagre da transformao
da gua em vinho tem seus precedentes no Antigo Testamento:
Moiss fizera brotar gua da rocha e transformara em sangue
toda a gua do Egito. Se em Jesus a gua se muda em vinho e
no em sangue, porque no Antigo Testamento aquele o smbolo deste e ainda do prprio
sangue expiatrio do Messias.
A maldio da figueira que
no produzia frutos precoces
tirada de Osas77 e de Miqueias.
A cena da Samaritana, junto
do poo, uma imitao potica
das cenas de Jac e Raquel, de
Eleazar e Rebeca na fonte.
Nem mesmo a cena dos vendilhes expulsos do templo
original: Jesus no faz seno
transportar duas sentenas do
Antigo Testamento, uma de Jeremias (VII, 11) que diz que o
templo no se h de converter
em covil de bandidos, e outra de
Isaas (LVI, 7) em que se chama
ao templo casa de orao.
76
75
69
LIII, 7.
Salmo CX, 1; Daniele VII, 13.
87
L, 6.
88
XI, 13.
89
Strauss, op. cit., II, XC.
90
xodo, XII 21, 22.
86
82
70
92
91
93
95
100
109
75
76
CAPTULO V
CONTRADIES ESSENCIAIS DA BBLIA A CERCA DE CRISTO
Em Mateus, Jos e Maria partem de Belm sem irem a Jerusalm e fogem para o Egito precipitadamente depois da adorao
dos Magos, para salvarem Jesus
da degolao dos inocentes, ordenada por Herodes113 Pelo contrrio, em Lucas, Jos e Maria
vo publicamente ao templo de
Jerusalm, onde tem lugar a cena
de Simo e Ana, e depois, em
vez da fuga para o Egito, voltam
tranquilamente para Nazar114
assim que a narrao de Lucas
no s contradiz materialmente a
de Mateus, mas at exclui, implicitamente, a famosa degolao dos inocentes, narrada por
aquele. O fato de levarem Jesus
ao templo de Jerusalm, onde
publicamente reconhecido por
Simo como o Messias no se
harmoniza, em ponto algum, no
digo j com a fuga para o Egito,
mas ainda mesmo com a matana dos inocentes, pois que, em
tal caso, Herodes teria podido
apoderar-se dele, sem tocar em
um cabelo de nenhum outro menino.
110
77
Joo, I. 33.
Lucas, I, 41-44.
118
Mateus, III,14.
119
Mat, III-13-17; Marc. I-7-11; Luc.III16, 21, 22; Joo, I, 29-34.
117
Lucas, IX-51-56
Joo, IV-9, 39-42
125
Mat. XXVI, 2-13 Marcos, XIV, 1-9;
Luc. VII, 36-40; Joo XII, 1-8.
120
124
Mat. X, 2-3.
121
Mat. XI-14.
122
Joo I-21.
79
ceia no dia de Pscoa126, enquanto Joo a coloca antes da Pscoa127. Alm disso, os primeiros
fazem Jesus instituir nesta ceia o
mistrio da Eucaristia128 ao passo
que Joo, absorto pela ideia eucarstica (CaptuloVI) narra a ltima ceia com inmeros pormenores, mas sem dizer uma nica
palavra acerca dessa mesma
ideia eucarstica, sendo ele de
resto, o nico que teria valor testemunhal, pois assistiu a ela desde o princpio.
Repitamos aqui, pois vale a
pena, que essa contradio, na
qual muita tinta tem sido gasta
inutilmente pelos estudiosos,
no pode ser explicada exceto
pela nossa deduo na qual,
Cristo sendo um mito, e exatamente o mito do cordeiro pascal
qui tollit peccata mundi ele
mesmo o alimento da ceia pascal.
S que nos trs Evangelhos
Sinpticos, mais antropomrficos, ele precisa diz-lo explicitamente, enquanto que no quarto,
ao invs da instituio do sacramento ser feita pela boca do Agnus Dei, o mistrio se cumpre
126
129
Joo XIII, 1.
128
mente.
Repararemos apenas nas contradies mais graves que acompanharam a sua morte.
Segundo Mateus (XXVII, 45)
Marcos (XV, 33) e Lucas (XXIII, 44) desde a hora sexta at
quela em que, Jesus devia ter
exalado o ltimo suspiro, isto ,
do meio dia s trs da tarde, toda
a terra se cobriu de trevas. Alm
disso, segundo Marcos (XV, 25)
Jesus teria sido crucificado,
hora terceira do dia, ou fosse s
nove.
Pelo seu lado, Joo (XIX, 14)
diz que, hora sexta, ou fosse ao
meio dia, no s Jesus no estava ainda na cruz, mas nem mesmo o tinham ainda condenado
morte. A essa hora, Pilatos mostrava-o aos hebreus, dizendo:
Eis aqui o vosso Rei.
Pois bem: se no dizer dos primeiros, desde o meio dia at s
trs, toda a terra se cobriu de trevas, ao passo que, segundo Joo,
precisamente neste tempo, tiveram lugar a sada para o Glgota
e a crucificao, devemos concluir que Joo faz desenrolar todos os sucessos na mais densa
escurido, circunstncia esta que
no o impede de ver tudo o que
se vai passando, assim como sucedia aos demais espectadores.
132
Marco V, 19.
Matt. XIII, 28-41; XVI, 1-4;Marco
VIII, 11-12; Luca, XXIII, 7-9.
142
Matt. VIII, 2-4; IX, 27-30; XIII, 15;
XVIII, 9; Marco I, 40-44; VIII, 22-26;
IX, 8; Luca IX, 36.
143
Lucas XXII, 36; Joo, II, 15.
144
Mat. V, 39; XXVI, 52.
141
134
145
82
150
Lucas V, 14.
Mateus, V, 17, 18, 19.
152
Lucas, XVI, 16.
151
83
CAPTULO VI
ABSURDOS ESSENCIAIS DA BIBLIA ACERCA DE CRISTO
E foi assim que ele pde realizar, sem que ningum o estorvasse, a faanha da expulso dos
vendilhes do templo.
Pois bem: segundo Mateus e
os outros evangelistas sinpticos, Jerusalm no conhecia
ainda ento Jesus. Ser preciso
repetir aqui novamente, que esta
contradio absurda no se explica seno recorrendo necessidade de cumprir-se uma profecia
(neste caso, a de Zacarias) que
impunha ao evangelista a obrigao de dizer que Jesus fora acolhido pelos habitantes de Jerusalm com extraordinrias manifestaes de alegria, sem reparar
que isto comprometia ou invalidava a sua narrao? Ser preciso concluir, de novo, que abertamente simblico o sentido da
narrao bblica?
Segundo os quatro evangelistas, da priso de Jesus sua ressurreio, compreendendo neste
espao de tempo o processo e a
devoluo de Herodes a Pilatos,
a sada para o Calvrio, a crucificao, a morte, o enterro e o
tempo que permaneceu sepultado (trs dias, embora incompletos) no se passaram mais que
trs dias incompletos!
isto possvel? Respondam
os que tenham um pouco de bom
senso.
159
Joo III,1.
Joo VII, 50 ss.
161
Joo XIX, 39.
160
89
5.
163
164
Atos, XXVI, 5
Dide, op.cit., p. 93.
165
90
CAPTULO VII
A MORAL SECTRIA DOS EVANGELHOS NO OBRA DE UM
HOMEM, MAS SIM , DA TEOLOGIA
A Bblia fornece-nos uma prova ainda maior que todas as aduzidas at agora contra a existncia de Cristo. Esta prova est
precisamente na sua moral. Essa
moral, que os apologistas ergueram at aos cus e agora a crtica
vai ponto a ponto destruindo, ao
desfazer as iluses criadas em
torno da lenda e da idealidade
humana - essa moral a prova
mais firme e segura de que Cristo no existiu, porque a moral
que os Evangelhos lhe atribuem
no pode ser obra de um homem, mas apenas a de uma teologia determinada, porque excessivamente sectria e irrealizvel para que pudesse ser ensinada e praticada por um homem.
completamente oposta s preocupaes teolgicas e metafsicas de uma seita.
H, por certo, mximas realmente morais o boas nos Evangelhos, mas que no podem entusiasmar um esprito positivo,
por mstico que seja, se bem que
esta parte boa da moral crist,
sem a qual o cristianismo no teria podido desenvolver-se no
crist - como mais adiante veremos.
As mximas - no faas a outrem o que no queres que te faam e faze aos outros o que desejas que te faam - no so uma
criao de Cristo ou dos Evangelhos porque preexistiam j no
Antigo Testamento, onde estavam desde a moral metafsica
das religies orientais, principalmente da bdica e da zndica ou
persa.
Suprimindo todas estas mximas que no pertencem ao cristianismo e so, alm disso, prova
contrria existncia de Cristo,
o resto da moral evanglica
condenvel sem remisso, e seria bastante para execrar o homem que a criasse, se fosse obra
de um s homem. E vemos a
Humanidade, que cresceu nas
doces iluses de que o Cristo
fora a personificao de todas as
perfeies humanas, concentrando nele toda a idealidade...
A Humanidade, tornada adulta, deve reconhecer que, na sua
adolescncia, foi vtima de uma
enorme mistificao.
Os que neste ponto se encontram da verdade vero porque
motivo determinados cristos da
92
168
Mateus, X, 34-37.
95
174
178
175
179
Mateus, X, 5-7.
Mateus, XIX-28.
180
Mateus, XV, 22- 26.
181
Joo, XVII, 9-20.
96
Mais imoral e no menos sectrio ainda o dogma da predestinao. Ningum pode vir a
mim - diz Cristo - se o Pai, que
me enviou, no o trouxer182. Por
isso, declara que adotar a parbola com os que no forem seus
discpulos, para que no compreendam as suas palavras e no
possam se salvar183.
Este dogma imoral, ou sectrio, se assim querem, foi posto
de propsito na parbola do
dono de casa, que representa
Deus, o qual chama, ele, prprio,
a diversas horas os operrios da
sua vinha, pagando-lhes depois a
todos por igual. E aos que censuram a sua parcialidade, responde, em Mateus:184 No terei eu
direito de fazer do que meu o
que entender? Os ltimos sero
os primeiros e os primeiros os
ltimos; por isso, muitos sero
os chamados e poucos os eleitos.
E sempre, deste modo, e segundo esta preocupao teolgica, ensina que todo aquele que
se exalta ser humilhado e o que
se humilha ser exaltado185; que
quele que tem ser-lhe- dado e
ter em abundncia, e quele
186
182
97
te teolgica194 e em, muitos lugares cita a mxima referida, transtornando toda a ordem moral e
baseando esta nas prticas do
culto e nas crenas.
Muitos so os exemplos do
Antigo Testamento que podemos
aduzir. Limitar-nos-emos a citar
a instituio do bode expiatrio
(Levtico, XVI) e a da gua de
purificao.
Em geral, todo o esprito, que
anima a Bblia, se baseia na moral religiosa. A Bblia no mede
o mrito ou demrito das pessoas, sob o ponto de vista das boas
ou ms aes, mas apenas segundo a sua devoo.
Aqui temos, entre muitos outros, o exemplo de Achab. Nos
captulos que lhe so consagrados no Antigo Testamento, este
rei de Israel acusado de mpio
e tratado com a maior aspereza,
apesar de no ter cometido as
iniquidades de Davi e de Salomo, to injustamente exaltadas
pela Bblia. Pelo contrrio,
Achab um bom rei, humanitrio, generoso, magnnimo. Mas
poupou a vida ao rei da Sria,
Benadad, que no acreditava no
Deus da Bblia, e por isso conquistou o dio da casta sacerdotal.
194
98
Temos porm, Davi e Salomo que cometeram toda a espcie de iniquidades, mas favoreceram a casta sacerdotal: logo a
Bblia os elevou at s nuvens.
Mais ainda: Ehu, o infame
Ehu, era dado leitura dos sacerdotes. Bastou isso para que a
Bblia o enaltecesse.
Veremos ainda mais tarde,
dois imperadores, Juliano e
Constantino: o primeiro foi um
modelo de virtudes, mas nada
quis com o cristianismo. Foi o
bastante para passar histria
com um nome infamante. O segundo, que foi um miservel, assassinando a prpria famlia,
enaltecido pela Igreja, s por tla favorecido.
Mas o coroamento deste sistema a eternidade das penas pregada pelo manso cordeiro de Nazar (Mateus, XXV, 41-46; XVIII, 8) e o aturar ao inimigo nesta
vida: no vos vingueis do vosso
inimigo, mas dai lugar ira;
porque, fazendo isto, amontoars brasas vivas sobre a sua cabea. (Epstola aos Romanos
XII, 20).
Mas onde sobretudo se manifesta o carter sectrio, teolgico
e verdadeiramente sacerdotal da
moral evanglica na instigao
s perseguies religiosas. No
s com o famoso compelle in-
195
99
Atos, XIX, 19
Joo, II, Ep. 9, 10, 11.
202
Mateus, XVIII, 17.
201
199
24.000 israelitas, que tinham sacrificado perante o Deus Baalpeor, e ordena a carnificina de todos os moabitas, incluindo mulheres e crianas, s porque tinham induzido os israelitas
apostasia.
Bastava o fato de algum excitar a que se adorassem deuses
estranhos para ser castigado com
a morte. E o excitador devia ser
morto, precisamente, por seu
pai, por seu irmo, por sua esposa ou por um seu amigo.
O livro dos Judeus no mais
do que uma alternativa perptua
de apostasias por parte dos hebreus e de horrveis castigos por
parte do Deus bblico.
Elias manda exterminar 850
profetas de Baal. O profeta Eliseu ordena atrozes perseguies
religiosas. Josias bom visto por
Deus, em razo das suas perseguies ferozes contra os outros
cultos.
Nos Salmos, as perseguies
religiosas so exaltadas, invocadas e abenoadas por Deus. Jeremias pede o extermnio dos infiis. Outro tanto se l em Isaas.
O Eclesiastes do mesmo parecer. Nos Macabeus, o sumo pontfice Mattatias estrangula um
herege sobre um altar.
De tudo isto se v que a Igreja
Catlica imitou bem os exemplos de violncia e de intolerncia da Bblia. Fazendo-se perseguidora e inquisitorial seguiu
apenas a Bblia judaico crist
tanto nas palavras quanto no esprito.
Pregando a intolerncia e a
perseguio religiosas, Cristo,
ou antes, a casta sacerdotal que o
inventou, no faz mais do que
manter a tradio do Antigo Testamento, onde as excitaes ao
dio teolgico e s perseguies
dos incrdulos, encontram se a
cada passo.
Mas, ao mesmo tempo, deixou a descoberto a origem meramente teolgica do mito que deu
lugar a Cristo, por mais que seja
prprio da casta sacerdotal minar
as mximas fundamentais da
moral humana para impor o domnio daquela sobre esta, animada pelo preconceito religioso, arvorando-se nica e exclusiva depositria da verdade absoluta.
A origem teolgica da moral
evanglica se evidencia ainda
em outra passagem importante
dos livros do Antigo Testamento:
a constante preocupao da Bblia a favor dos privilgios da
casta sacerdotal da qual ela ,
por assim dizer, a carta magna,
a lei fundamental.
Para se convencer, basta ler os
101
208
Joo, IX-39.
209
Mateus, III-7.
210
Mateus, XXIII, 2,3.
211
Mateus, XXIII, 13-36.
212
Jeremias. XXXI, 29-30; Ezechiel
XVIII, 19-20.
215
213
manidade formou.
Mas, para que continuar?
Basta-nos ter provado que a
moral de Cristo no , no pode
ser a moral de um homem, mas
sim a de uma seita teolgica ou
104
Terceira Parte
Cristo na
Mitologia
105
CAPTULO I
CRISTO ANTES DE CRISTO
222
223
Buda era belo e dotado de extraordinria inteligncia, maravilhando os doutores pela sua sabedoria. Por fim, abandonou o
teto paterno para levar a cabo a
sua misso.
Enquanto jejuava no deserto,
sombra da rvore, por um perodo de 49 dias (7x7) foi tentado
vrias vezes pelo demnio, sempre saindo vitorioso.
Pregou pela primeira vez em
Benares, convertendo f grandes e pequenos. A sua moral,
como veremos, muito superior
de Cristo.
O mais clebre dos seus discursos ficou sendo chamado, em
virtude do local onde foi pronunciado, de o Sermo da Montanha, precisamente como o de
Cristo. Depois da morte, aparece
aos discpulos, em forma luminosa, com a cabea circundada
de uma aurola.
Buda teve tambm um discpulo traidor, Devadatta. No deixou nada escrito. Os seus discpulos, porm reunidos em conselho geral recolheram todas as
suas doutrinas.
Entre esses discpulos, houve
dois de natureza diametralmente
oposta: um srio e crente em absoluto e cheio de zelo; outro dulcssimo por natureza e predileto
225
224
templo de Baco operava-se o milagre da mudana de gua em vinho, tal qual fez Jesus nas bodas
de Cana.
Igualmente, Adnis, cujo
nome significa meu senhor, tinha
as suas festas que duravam oito
dias (adonias), quatro de luto
pela sua morte e quatro de alegria pela sua apotetica ressurreio. Uma verdadeira semana
santa sem lhe faltar nem mesmo
os santos sepulcros, onde as mulheres executavam lamentaes
fnebres em torno do deus morto. Apagavam-se todos os crios,
menos um (o pascal) que se escondia no altar, para de novo ser
mostrado no dia da ressurreio.
Depois, o deus morto ressuscitava e o luto dava lugar alegria.
Estas festas continuaram a ser
celebradas no mundo antigo, especialmente entre os fencios,
durante mais de cinco sculos,
antes de se transformarem nas da
paixo de Cristo.
Um dos rasgos caractersticos
dos Deuses Redentores a sua
descida aos infernos, durante o
tempo em que esto mortos.
Tambm antes de Cristo e em
idnticas condies, Baco, Osris, Cristna, Mitra e Adnis,
aproveitam o tempo em que estavam mortos para fazer nova visita aos defuntos. (Dupuis, Ori-
227
114
CAPTULO II
A MITOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO NO ORIGINAL
229
Criou logo uma srie de divindades subalternas, chamadas anjos, presididas por Mohassura.
Este, movido por um desenfreado desejo de reinar induz os anjos rebelio contra o Criador,
de quem se afastara. Siva foi encarregado de os expulsar do cu
superior, e precipit-los nos globos inferiores (inferno).
Brahma criou o homem e a
mulher, dando-lhes a conscincia e a palavra, tornando-os superiores a tudo que tinha criado,
s inferiores aos Devas e a Deus.
Ao homem chamou Adima
(Ado, o primeiro homem) e
mulher Heva (Eva, a que completa a vida). Colocou-os em um
paraso terrestre em meio de
uma esplndida vegetao; ordenou-lhes que se unissem, procriassem e o adorassem por toda a
vida, e proibiu-lhes de deixar o
paraso terrestre (Ceilo). Eles
desobedeceram e logo o encanto
da Natureza desapareceu. Brahma os perdoou, mas expulsa-os
daquele lugar de delcias, e condena-lhes os filhos a trabalhar,
prevendo que se tornaro maus
influenciados pelo esprito do
mal que invadira a Terra.
Consola-os, porm dizendo
que lhes enviar Vischn, que se
encarnar no seio de uma mulher, para redimir o gnero hu117
mano do pecado.
Na mitologia persa, Ormuz
promete ao primeiro homem e
primeira mulher a felicidade
eterna, desde que se mantivessem bons. Mas um demnio com
a forma de serpente enviado
por Ariman. Nesse demnio
acreditam, pois os persuade de
que Ariman o distribuidor de
todos os bens, e comeam a
ador-lo.
O demnio levou-lhes alguns
frutos, que logo comeram, desaparecendo imediatamente a felicidade de que gozavam. Expulsos desse lugar, comearam matando animais para se alimentarem, cobrindo-se com as peles
dos mesmos. E no corao destas infelizes criaturas humanas,
nasceu o dio e a inveja e foram
malditos, eles e suas geraes.
Uma particularidade digna de
nota a semelhana entre o paraso terrestre persa com o den
do Gneses. O paraso persa
chama-se Eren, em vez de den,
tendo havido corrupo de uma
letra na passagem da lenda persa
para a hebraica. Em outros parasos terrestres h os mesmos
rios.
A rvore tem doze frutos, que
correspondem aos 12 signos do
zodaco e aos 12 meses do ano
durante o qual o Homem passa
230
bm da lenda da construo da
torre de Babel. Os primeiros habitantes da terra, orgulhosos de
sua fora e poder comearam a
depreciar os deuses, levantando
no lugar onde ficava Babilnia
uma torre que chegasse at ao
cu. A certa altura, porm, os
deuses, auxiliados pelos Ventos,
derrubaram o edifcio e confundiram a linguagem dos homens,
que at ento falavam uma s
lngua.
A Bblia fala de dez patriarcas
que viveram antes do dilvio, e
morreram com idade muito
avanada; A tradio caldaica
fala tambm de dez monarcas
que reinaram 432.000 anos; Nos
contos rabes, chineses, hindus e
germnicos fala-se de dez personagens igualmente mticos que
viveram antes do perodo histrico. Tambm foram dez os primitivos reis da tradio sagrada
persa e dez heris da Armnia.
Dos dez patriarcas hebreus,
ressalta-se especialmente Abrao
pelo seu famoso sacrifcio. Pois
bem: no mais do que uma cpia da lenda do patriarca Adgigatha que se l em Rhamatsariar,
livro das profecias hindus.
Adgigatha um homem justo,
predileto de Brahma, sem filhos
at que este faz sua mulher conceber de um modo milagroso.
tambm um mito.
Pigault-Lebrun faz o seguinte
paralelo entre Baco e Moiss:
Os antigos poetas fazem nascer
Baco no Egito; Moiss tambm;
Baco exposto ao Nilo, como
Moiss; Baco transportado ao
monte Nisa, Moiss ao Sinai
uma deusa ordena a Baco que
destrua um povo brbaro. Moiss recebe a mesma ordem.
Baco passa o Mar Vermelho a
p enxuto, Moiss tambm. O
rio Horusnte suspende o curso
em homenagem a Baco, e o Jordo em favor de Josu; Baco ordena ao Sol que pare, Josu
igualmente. Dois raios luminosos surgem da cabea de Baco,
o que tambm sucede a Moiss,
raios que as crianas confundem com cornos. Baco faz nascer da terra uma fonte de vinho
Moiss, tocando em uma rocha,
faz brotar gua.
Alm disso, a assiriologia demonstrou que a histria de Moiss foi copiada, em parte, da do
rei arcadiano Sargon, que nasceu em um lugar deserto, foi colocado por sua prpria me
num cesto de vimes, lanado ao
rio e recolhido e educado por
um estranho, depois do qual foi
rei mil e tantos anos antes de
Moiss, como diz o reverendo
Bown.
123
CAPTULO III
ORIGEM E SIGNIFICADO DOS DEUSES REDENTORES
232
Cristo.(cnone-82)233.
Naturalmente, com o tempo e
o significado da linguagem, ao
passar do prprio para o figurado, do fsico para o moral - sbia
observao de Valney, que serviu de base ao sistema de Muller
- a antiga fonte do mito foi se esgotando, ou melhor, foi se transformando. O grmen primitivo,
e ideia fundamental, essa, porm, fica sempre.
S esta chegou compreenso
das outras foras fsicas, remontando- se concepo das ideias
morais.
Porm, ainda mesmo que pelo
processo do tempo e origem naturalista do mito perdesse ou
mudasse o significado, e ainda
que se fizesse mais antropomorfo, se indianizasse - jamais se
perdeu o conceito fundamental
que, servindo de base s religies, isto , que o Deus criador
foi o Sol, e que o filho, em quem
tinha encarnado para salvar a
Humanidade era ainda e sempre
o Sol, seja direta, seja indiretamente, com o carter de fogo.
assim que, apesar do desenvolvimento que logo tomou a teologia, a origem do mito no desapareceu nunca de todo. Ainda
mais: os prprios desenvolvimentos teolgicos do tema, fizeram-se sobre a base das revolues da Natureza, e especialmente do Sol.
A vida dos Deuses Redentores
a descrio da vida do Sol.
Nascem todos no solstcio de inverno, e precisamente, em 25 de
dezembro, quando o Sol, que parece prximo a extinguir-se, volta a renascer. a criatura, o infante. E todos eles morrem para
ressuscitar na primavera, quando
o Sol recupera todo o seu poder
e esplendor, triunfando das trevas do inverno, do mal, de Tiffon, de Siva, de Ariman, de Satans.
Cristna, Mitra, Horus, Apollo,
Adonis, como Cristo, todos nascem em 25 de dezembro e ressuscitam no equincio da primavera. O Deus do dia foi, pois,
personificado no Deus Criador,
primeiro e Redentor depois, e
submetido a todas as peripcias
humanas. Que isto sucedera a
respeito dos Deuses Redentores
da antiguidade, no h a menor
dvida, porque a prpria antiguidade o deixou escrito em caracteres claros e com palavras ex-
233
plcitas.
Plato e Aristteles admitiam
a adorao do Sol e dos astros, e
Anaxgoras testemunha a existncia desta adorao, quando,
para a demolir, dizia que o Sol
no era mais do que urna pedra
inflamada.
Para Herdoto, como para Estrabo, o mediador do mazdesmo, o Deus Redentor persa, Mitra, que tem por emblema a luz,
no outra coisa mais do que o
Sol, e Quinto Crcio diz que os
persas invocavam Mitra ou o
Sol, como a urna luz eterna.
Segundo Plutarco, os mistrios Mitra foram levados ao Ocidente, e em seguida a Roma, por
piratas sicilianos, fato sucedido
at o ano 68 da nossa era. Pois
bem: em Roma, Mitra era adorado pura e simplesmente como o
Sol, e a prpria Roma nos d
disso uma prova na formula Deo
Soli invicto Mitrac, usada sempre nas inscries latinas, consagradas ao deus redentor dos persas. Um escritor bizantino, Niceto, diz-nos que Mitra era, por
uns, considerado como sendo o
Sol e por outros, como sendo o
Fogo.
Um padre da Igreja, Julio Firmico Materno v em Mitra a
personificao humana do Fogo.
Archelau, bispo de uma cidade
as da Natureza, e sobretudo da
principal, o Sol.
O globo alado do Sol no era
s dos egpcios, mas tambm
dos persas e dos fencios.
O Sol est representado geralmente nos monumentos assrios
e caldaicos, onde tinha altares
por toda a parte.
A cidade de Sipara era-lhe
consagrada, e nos seus templos,
ardia continuamente fogo em sua
honra. Na Sria, na cidade de
Edessa, havia um templo consagrado ao Deus Sol, assim como
em Palmira.
Na Grcia, achamos o globo
alado sobre o Caduceu. Orfeu
considerava o Sol como sendo o
maior dos Deuses. Em Homero,
l-se que Agamemon, apostrofando o Sol, lhe chamava o que
tudo v e ouve tudo. Belenho,
dos gauleses, uma personificao do Sol. Entre os romanos,
no s Apolo e Baco eram personificaes do Sol, mas tambm
Jpiter, segundo Juliano.
Macrbio, na obra acerca das
Saturnais, prova que os nomes
de Apolo, Baco, Adonis, etc.,
no eram seno as diversas denominaes do Sol entre vrias
naes, e reduz toda a antiga teologia ao culto do Sol.
O Deus Redentor, portanto,
128
era no s a personificao, o
mito do Sol, mas era tambm o
culto primitivo, direto e concreto
do Sol, como tambm era o antigo sabismo ou heliossmo, que
129
CAPTULO IV
CRISTO UM MITO SOLAR
O nmero 12 comum a todas as religies de origem heliosttica, dos adoradores do Sol. Os romanos tinham 12
grandes deuses, cada um dos quais presidia a um ms. Os gregos, os egpcios e
os persas tambm tinham 12 grandes
deuses, como os Cristos 12 apstolos.
O chefe destes deuses guardava a barca
e a chave do tempo, como Jano entre os
romanos e Pedro entre os Cristos.
130
do, mas nem por isso desapareceu: subsiste nos escritos e nas
ladainhas eclesisticas, bem
como na arte Crist.
Orgenes escreve que era necessrio adorar os astros em razo da sua luz espiritual e no da
sua luz sensvel.
Tertuliano tenta defender os
cristos da acusao que lhe faziam de adorarem o Sol, dizendo
que, apesar das aparncias em
contrrio e dos sinais exteriores
da venerao pelo Sol, no ao
astro que se dirige o culto cristo: Outros, com maior razo ou
verossimilhana, creem que o
nosso Deus o Sol. Esta ideia
provm, aparentemente, de que
nos dirigimos para o Oriente,
para orar. Se dedicamos alegria o dia do Sol por urna
causa estranha ao culto deste
astro.
No obstante, o prprio Tertuliano reconhece que o dogma da
ressurreio do Deus cristo
idntica da religio persa.
Clemente de Alexandria escreve que o Verbo veio ao nosso
conhecimento por meio da madeira. (Evidentemente alude ao
fogo produzido pela madeira).
Joo Crisstomo, falando, nas
suas homilias, da descida de
Cristo aos infernos, chama-lhe, o
132
237
239
A vida de Apolnio foi escrita por Filostrato at o ano 200 da nossa era e
ainda naquele tempo o autor acreditava
a srio em todos os milagres do seu heri, o que prova as disposies dos espritos de ento.
240
138
Quarta Parte
Formao
Impessoal do
Cristianismo
139
CAPTULO I
A MORAL CRIST SEM CRISTO
orientais.
Confcio, 500 anos antes, pregava j o preceito de no fazer
aos outros o que no queremos
que nos faam.
Mncio, outro filsofo chins,
repetia o mesmo preceito 300
anos antes de Cristo.
O brahmanismo hindu pregava tambm a mesma mxima.
Buda repete o mesmo conceito e
sublima a moral at fazer dela
uma caridade universal, que
abarca toda a Natureza e no
apenas a Humanidade.
A moral budista imensamente superior crist, porque o
amor do prximo pregado por
esta no ultrapassa os confins do
pas nem as valas da seita.
A moral budista tem ainda outra vantagem sobre a do pretendido Cristo: a de admitir a livre
investigao da verdade, ao passo que, nos Evangelhos, em vo
se procuraria uma palavra em favor da cincia.
Na ndia, a caridade para com
o prximo florescia e fecundava
as instituies de hospitalidade e
casas de beneficncia, cinco sculos antes do advento do cristianismo.
Zoroastro, o fundador do mazdesmo ou religio persa, tinha
j pregado o outro preceito, atri-
243
go.
Xenofonte fala em favor dos
escravos, das mulheres e dos prisioneiros de guerra, da exaltao
dos humildes e da humilhao
dos exaltados, etc.
Hiscrates promete, como os
cristos, aos que praticam a piedade e a justia, no s a paz
nesta vida, mas esperanas melhores na outra.
Em Plato, encontramos todo
um sistema de mximas crists.
Condena o suicdio e a voluptuosidade; recomenda a humildade,
a castidade, o pudor; detesta a riqueza: Ser bom e rico ao mesmo
tempo, impossvel. Probe a
vingana e proclama o desprezo
dos sentidos, ao passo que exalta
a alma etc. No est aqui, por
ventura, toda a moral crist?
Em Plato se encontra, finalmente, o Pater Noster atribudo a
Cristo.
Aristteles, esprito mais positivo, confunde a virtude com a
justia e chega a dizer que a comunidade repousa mais no amor
do que na justia, e enfim, antecipando-se a Dante, que a justia
suprema o amor. Recomenda
que se no exponham ao pblico
imagens indecentes, em respeito
s crenas, e quanto a certos
deuses obscenos, quer que s os
244
padres os adorem.
certo que admite a escravatura; mas se esta fraqueza imputada ao filsofo, do homem
sabe-se que deixou em testamento, a liberdade aos seus escravos.
Ensinou tambm que a comunidade tem obrigao do instruir
todos os seus filhos, e a este respeito, o esprito positivo da moral aristotlica sobreleva em
muito o esprito nulo e decadente da moral evanglica.
Nem sequer o cinismo estranho formao da moral crist.
Digenes, que foi um ateu moderno em toda a acepo da palavra condenou o matrimnio, a
famlia e a ptria, como depois
vieram a fazer os monges cristos.
Grande parte da moral crist
deve-se ao estoicismo, para o
qual no ha mais que um bem, a
virtude, nem mais que um mal, o
pecado. Devemos especialmente
aos estoicos a concepo da fraternidade humana universal, que
ultrapassa as fronteiras de cada
ptria em nome da universalidade da raa, do Logos e do Verbo.
Eis aqui a essncia do cristianismo, mas com uma diferena:
que este no procura a perfeio da alma pela prpria virtude,
mas unicamente para salv-la,
seus deuses.
Em Ccero, encontramos um
verdadeiro sacerdote cristo.
Muitas das suas sentenas,
parte da to citada Charitas generes humani, podiam ser recolhidas pelos livros cristos para
edificao religiosa.
Basta recordar a importante
carta de Santo Agostinho, na
qual este santo recomenda a leitura de Ccero, pela sua moral
pura, declarando que a da Igreja
no diversa daquela.
Virglio dizia: maxima debetur puero reverencia246. Lucrcio
ensinava que o fraco deve encontrar apoio em todos.
Horcio mostra-se cheio de
sentimentos viris e delicados, ao
mesmo tempo. A dignidade humana, sobretudo, domina o seu
corao.
A moral de Valrio Mximo
j de todo crist: tem um livro
sobre a continncia, um sobre a
pobreza, um sobre a pacincia e
outro sobre a castidade.
A exaltao da pobreza precedeu o cristianismo na prpria
Roma, sendo a sua grandeza objeto da saeva paupertas, de Horcio. Opes irritamenta malorum, pensava Ovdio.
246
E Lucano cantava:
O vit tuta facultas
Pauperis, angustique lares, o
munera nondum
Intellecta Deum!
A moral de Sneca por tudo
e sobretudo crist a ponto dele
recomendar que sejamos superior s paixes, insensveis dor e
ao prazer, e indulgente quanto
punio; Aconselha a generosidade e a bondade para com os
escravos e chega at a dizer que
todos os homens so iguais. Fala
do cu como os cristos e diz
que todos somos filhos do mesmo pai. A sua ptria a mesma
dos Cristos: o mundo todo 247.
Mas a sua moral era superior
em muitos pontos do cristianismo, porque ele quer que o fim da
nossa vida seja a felicidade de
todos, ao passo que o altrusmo
cristo se limita aos eleitos sendo por isso discriminatrio e tem
por fim o prmio do cu, mascarando um egosmo. Sneca quer
suprimir a pena de morte, enquanto que o cristianismo a conserva. Finalmente, prega a tolerncia at para com os culpados, que diz ele, em lugar de serem perseguidos, devem ser con247
Entendamo-nos. Foi s o cristianismo de Paulo que tirou a ptria ao cristo. Cristo, esse era um acrrimo judeu
nacionalista.
vertidos248.
No falamos j na admirvel
filosofia de Epiteto e de Marco
Aurlio, to cheias de caridade e
fraternidade. Observa-se, geralmente, como diz Havet, que os
filsofos do mundo greco- romano foram mestres de moral, e
consoladores, como deviam ser
depois os sacerdotes cristos,
com a diferena que aqueles no
estavam constitudos em casta
privilegiada, nem impunham o
seu dogma pela fora.
tempo de concluir. Vimos
que a moral crist se formou independentemente do pretendido
Cristo e que j existia, no que
tem de bom, antes do cristianismo. Isto consolador para a Humanidade, pois demonstra que a
moral humana no monoplio
de uma seita, mas obra da mesma Humanidade. E daqui pode
concluir-se que ela to antiga
quanto a Humanidade racional.
Por conseguinte, no s no
precisa a presena de um Cristo
para explicar esta moral, mas at
a preexistncia desta moral contribui para excluir o Cristo.
Porque, em todo o caso, o que
fica claro que a pretendida moral crist no foi inventada nem
revelada pelo suposto Cristo,
248
151
CAPTULO II
A DOUTRINA CRIST SEM CRISTO
249
apologistas do cristianismo, reconheciam tambm que a unidade de Deus era admitida pelos
antigos filsofos e formava a
base da religio de Orfeu e de
todos os mistrios gregos.
Alm disso, sabe-se que o que
produziu o xito do Deus hebraico, fazendo-o comum a todos os
cultos, foi um puro acidente de
traduo, tendo a verso grega
da Bblia substitudo o nome de
Deus hebraico pelo de Senhor
(em latim Dominus), que era o
nome dado divindade suprema
(o Sol) por todos os cultos, naquela poca de evoluo religiosa em que nasceu e se propagou
o cristianismo.
O amor de Deus no inveno crist encontra-se j no Antigo Testamento, para no falar
dos gregos, como atesta Planto,
nem dos essnios, como observa
Flon. E a inveno do Pai Celeste, que se pretende achar em
Jesus, pertence tambm ao Antigo Testamento, especialmente
em Isaas (LXIII, 15).
So de Ezequiel as palavras
em que Deus declara no querer
a morte do pecador, mas que se
converta e viva (XVIII, 23; XXXIII,11). O versculo de Paulo
(Gal. III, 11 e seg.) segundo o
qual o justo viver da f, encontra-se j em Habacuc (II, 4).
Convm recordar que j antes de Plato, Herclito falara do Verbo, do mesmo modo por que o faz o Evangelho.
154
j do domnio da filosofia e se
conta entre as verdades experimentais adquiridas.
De todo o modo, a Idade Mdia, sinnimo de cristianismo,
oferece-nos dela uma prova plena, porque nos conservou as
obras daqueles autores, graas
afeio que por eles teve, excetuando o Hortncio, de Ccero,
provavelmente suprimido para
evitar aos cristos uma desairosa
situao, pois que com ele se poderia provar que o cristianismo
foi anterior a Cristo251.
Poremos tambm de lado as
provas que poderamos tirar da
cultura helnica, em demonstrao de que o cristianismo, ao
menos na sua parte filosfica, ou
antes metafsica, procede da lenta elaborao dos materiais daquela cultura, pois temos pressa
de chegar parte culminante da
demonstrao da nossa tese, que
a filosofia dos judeus alexandrinos, os verdadeiros artfices
do dogma cristo252.
251
Havet prova que o cristianismo existia todo, pelo menos em grmen, no helenismo. S lhe faltava a exaltao dos
humildes e infelizes, que foi buscar,
como vimos, ao judasmo proftico.
252
Segundo Havet, as principais palavras da doutrina crist so de origem
grega: dogma, mistrio, smbolo, catecismo, presbtero, bispo, dicono, monge, teologia, invisvel, criatura, corruptvel, afeio, etc. Esta observao dig-
Que foi o primeiro hebreu alexandrino que tentou a fuso do hebrasmo com
o helenismo. Vid. Vacherot, His. crit. da
escola de Alexandria. Introduo, libr.
II..
156
o do antropomorfismo dos
Deuses Redentores orientais ao
seu Verbo, para completar a fuso do Oriente (espcie egpcia)
com a Judeia e a Grcia, e a
transformao de tantos materiais, tantas vezes fundidos numa
nova religio254.
J Salomo tinha distinguido
a sabedoria divina de Deus, fazendo dela o instrumento da criao. Por isso, o Livro da Sabedoria define a natureza deste
princpio intermedirio, transformando o pensamento vago de
Salomo sobre a sabedoria, na
doutrina do Verbo propriamente
dito.
No Eclesiastes, de Jesus de
Sirac, a doutrina do Verbo ainda mais precisa: A sabedoria
vem de Deus, e com ele esteve
sempre. Foi criada antes de todas as coisas, e a voz da inteligncia existe desde o princpio.
O Verbo de Deus, no mais alto
do cu, a fonte da sabedoria.
E aqui j ns estamos muito
perto da linguagem do quarto
Evangelho255.
254
na - a da encarnao do Verbo de
Deus sob a frma humana 256...
O mesmo Flon diz que, se
Deus criou o homem sua imagem, no a ele a quem pode
comparar-se, mas ao Verbo de
Deus. De modo que, observa Vacherot, o Verbo de Flon particularmente o tipo da natureza
humana. Com Flon, pois, o Verbo de Plato deixa de ser uma
pura entidade abstrata para se
converter em princpio de vida,
para se encarnar.
Mais ainda: em Flon, o Verbo
converte-se em filho de Deus,
que, por sua vez, pai de todos
os homens, que por isso so filhos do mesmo pai. Porque, se o
Verbo divino o tipo da Humanidade, tambm o pai o , e todos os homens so seus filhos:
filhos do Verbo, antes de serem
filhos de Deus...
Melhor ainda: segundo Flon,
o Verbo, mediador entre o criador e a criao intercede junto
do Eterno pela msera Humanidade, e alm disso, interpreta as
ordens de Deus aos homens...
Assegura ao criador que a criatura ser fiel lei suprema, fora
da qual no ser coisa alguma,
e, por outro lado, assegura
criatura que o criador no a
257
256
159
CAPTULO III
O CULTO CRISTO SEM CRISTO
confessores empregavam as
mesmssimas formas dos atuais
sacerdotes catlicos. A confisso
era tambm usada pelos persas.
Os hbitos ou vestimentas sacerdotais so tirados das antigas
religies, em todos os seus detalhes. A sotaina procede dos sacerdotes de Mitra, bem como a
estola, onde estavam representados os signos do zodaco.
0 uso de rapar toda a barba,
era prprio dos sacerdotes, desde
a maior antiguidade, e significava um grande sacrifcio, pois s
barbas se atribuam certas virtudes. O barrete preto, ou tricorne,
igual ao que usavam os sacerdotes de Jpiter, em Roma.
O solidu negro, o bculo, o
anel de ouro, as sandlias, o
manto branco, a tiara, so cpia
dos costumes srios e babilnicos.
J falamos das festas da Natividade e da Pscoa; acrescentaremos as mais importantes,
como so, por exemplo, a comemorao dos defuntos e a primeira comunho, todas elas anteriores ao Cristianismo.
As peregrinaes eram j praticadas pelos indianos.
As ladainhas so antiqussimas. Malvert, no livro a que j
nos referimos, confronta as la163
cerdote) batizava a criatura, espremendo- lhe na boca, com algodo, o suco da rvore chamada hom - cerimnias que passaram todas para o cristianismo.
Entre os indianos, quando a
criana chegava idade de oito
anos, comeava a recitar o hino
ao Sol, e pouco depois, ia escola do Gurom ou diretor espiritual, que lhe ensinava os Vedas.
Entre os persas, a criana devia, aos quinze anos, preparar-se
para as cerimnias do Zuzodi ou
iniciao na religio e s ento
era purificada e conduzida ao
templo. O mesmo sucedia entre
os egpcios.
Acerca do matrimnio, as cerimnias que a ele presidiam
eram quase as mesmas, assim
como na morte.
Entre os indianos, a extrema
uno consistia em banhar as
mos do enfermo em urinas de
vaca.
Como se v, esta ligeira resenha das principais cerimnias do
culto das religies pr-crists,
embora parecesse, a princpio,
estranha ao nosso tema, deu,
contudo, em resultado mostrar
que, ainda aqui, a religio crist
nenhuma necessidade teve de
criar coisa alguma porque todos
os elementos do seu culto pree-
260
CAPTULO IV
FORMAO PSICOLGICA DO CRISTIANISMO
261
169
263
264
o.
Acusava-se o pblico do ultramoralismo das religies orientais, que vieram, com todas as
outras, estabelecer-se em Roma.
E destas, as que mais se disputavam o domnio dos espritos
eram a persa e a hebraica, helenizada especialmente por Flon,
sobre as doutrinas de Plato por
um lado, sobre as dos terapeutas
por outro.
Os mistrios egpcios, com o
Deus Redentor Serpis e sua Virgem Me sis, tinham igualmente conquistado grande influncia,
mas acabaram por se confundir
com os dos hebreus, provavelmente por estes se terem impregnado daqueles, tirando deles o
mito do Deus Redentor, que depois viria realizar, s mil maravilhas, o sonho do Messias, com
quem podia confundir-se.
Mitra, sobretudo, conseguiu
por muitos anos conquistar a supremacia. Pelo ano 68, antes da
poca assinalada ao nascimento
de Cristo, introduziram-se em
Roma os mistrios de Mitra, alcanando um xito prodigioso e
conseguindo milhares de adeptos. Mitra, que j era adorado na
Prsia, na Armnia e na Capadcia, teve em Roma, durante dois
sculos, a preferncia dos devotos. No tempo de Adriano, o seu
173
177
CAPTULO V
COMO ACONTECEU O TRIUNFO DO CRISTIANISMO
anismo?
Foi o cristianismo que gerou o
clero cristo, ou este que gerou o
cristianismo? Veio primeiro o sacerdote, ou veio primeiro a missa, como diria Guerrazzi?
Desgraadamente - e dizemos
desgraadamente porque a histria verdadeira da Igreja seria
tambm a da origem precisa do
cristianismo - temos de nos resignara confessar a ignorncia da
histria sobre este ponto, tanto
mais que os nicos documentos
que sobre tal assunto existem,
como a Histria de Eusbio, que
tambm a primeira e s data do
ano 313, so documentos interessantes.
O que, porm, est evidentemente provado existir j a Igreja antes da redao dos Evangelhos, e os prprios Evangelhos
nos do provas disso, tais como
as palavras de Cristo, quando diz
que se deve considerar o herege,
que no obedece Igreja, como
publicano e fariseu, e quando
fala em levar a prpria cruz, em
sentido metafrico, o que no
poderia nunca ter dito antes que
a pretendida paixo de Cristo se
tivesse difundido e fosse acolhi178
265
268
269
tornou tributrias sua dominao as prticas religiosas, aproveitando assim, em seu favor, a
grande fora do costume que
adotou as formas exteriores do
culto, j em uso entre os pagos.
Foi assim que, arrancando um
novo farrapo quela doutrina
que queria adorar Deus em esprito e em verdade, pouco devia
custar-lhe j o triunfo, herdando
delas, fundindo-as e amalgamando-as, a moral e a doutrina
das religies precedentes.
J vimos que o culto cristo
no mais que uma amlgama
de cerimnias tiradas dos cultos
precedentes.
Agora assistimos ao processo
de integrao deste culto, processo mediante o qual assimila
as prticas e a prpria divindade
do paganismo romano, transformando-o e corrompendo-o.
Deste modo, o cristianismo
converte-se, por sua vez, em idlatra e fetichista. O politesmo
no conseguira destruir o fetichismo, limitando-se apenas a
sobrepuj-lo. Pois tambm o catolicismo no destri o politesmo, antes o subordina aos seus
interesses.
As divindades do paganismo,
que no foram declaradas infernais, como costume em todas
gem.
Baco, que se chamava na Grcia Eleutrio ou Dionsio e que
tinha uma festa denominada rstica, porque celebrando-se no
tempo das vindimas,era essencialmente campestre, (Festum Dionysis Eleuterie Rustici) deu lugar, com estes trs nomes distintos, a trs santos cristos: S. Dionsio, S. Eleutrio e S. Rstico.
A brisa matutina, aura placida,
que o paganismo simbolizava na
mulher de Baco, converteu-se
para os cristos em Santa Aura
Plcida.
A frmula da saudao, perpetua felicitas, gerou duas santas
Perpetua e Felicidade. Orar e dar
(rogare e donare) correspondem
a S. Donaciano e S. Rogadano,
cuja festa se celebra no mesmo
dia.
S. Apolinario comemora-se
alguns dias depois daquele em
que se celebravam os jogos Apolinares em honra de Apolo. At
os Idus do ms se transformaram
em Santa Ida.
A deusa Pelino transformou-se em S. Pelino e o Termes,
que presidia aos limites dos
campos e dos caminhos, simbolizando-se por uma pedra, transformou-se na esttua de S. Vito,
colocada nos limites dos cami-
seu monte.
Os deuses e as deusas pags
desciam terra para conversar
com os mortais e o mesmo fizeram as Nossas Senhoras Crists.
Os pagos pediam favores s
esttuas dos seus deuses, e, obtidos estes, colocavam junto dos
seus altares um voto e acendiam
crios; nem mais nem menos do
que fazem os cristos com seus
santos e madonas.
A Igreja de S. Loureno, em
Roma, foi transformada em S.
Loureno de Lucina, santa advogada dos partos das mulheres,
em memria de um templo pago ali existente, dedicado a Diana Juno Lucina, divindade que
presidia aos partos. A guia de
Jpiter foi substituda pela de
Joo. Esculpio com a serpente,
foi substitudo por S. Patrcio
com a sua.
Santa Barbara, com a taa, a
representao flagrante de Baco.
O drago de Apolo passou para
S. Jorge, assim como o martelo
de Vulcano para S. Eldio.
A verdadeira imagem (vera
icon), que algum tempo se venerou pintada em uma tela, foi
logo personificada em uma Santa Vernica.
Muratori demonstrou como,
de uma casa destinada a hospe188
189
(Paris, 1902).
190
Concluso
191
CONCLUSO
Lisonjeamo-nos por ter persuadido os nossos leitores, os de
boa f e despidos de todo o preconceito, de que realmente Cristo nunca existiu. Quanto aos outros, certo que no poderiam
jamais, e agora menos do que
nunca, tomar superficialmente e
destruir sem discusso a hiptese da no existncia de Cristo. A
estes, basta faz-los duvidar da
prpria f, porque a dvida o
princpio da sabedoria, a origem
das descobertas e o ponto de
partida de todo o progresso.
Alm disso, seja qual for o resultado prtico deste nosso trabalho, a ns basta o prazer de ter
levado a nossa pedra para o edifcio da Verdade. Aos de maior
engenho e mais favorecidos pelas circunstncias do tempo e do
ambiente, compete erguer o edifcio at a suma perfeio, para
que no estremea aos embates
das tormentas.
Temos conscincia absoluta
de haver contribudo, na medida
das nossas poucas foras, para
imprimir a crtica aquela nova
direo, que a deve conduzir
resoluo do problema da origem do cristianismo.
Contudo, no nos iludamos
NOTA DVENA274
JESUS NO EXISTIU E O CRISTIANISMO TEM SIDO UMA
CATSTROFE
Patrcia Dantas
s vsperas de sua palestra Covert Messiah em Londres neste sbado (19/10/2013), o pesquisador americano Joseph Atwill foi muito
alm de suas recentes afirmaes de que a figura de Jesus Cristo
uma completa fabricao da aristocracia romana. Em entrevista exclusiva ao Terra, Atwill, 64 anos, disse que o cristianismo foi inventado durante o Imprio Romano para controlar as massas e, at hoje,
s causou danos sociedade.
Confira a entrevista com o pesquisador americano na ntegra:
Terra - Quais sero os pontos altos de sua conferncia Covert Messiah neste sbado, 19, em Londres?
Joseph Atwill - Um dos tpicos mais importantes ser uma apresentao da Confisso Romana, mostrando que os romanos inventaram o cristianismo. Acho que algo que as pessoas vo considerar de
grande interesse, alm de outra apresentao sobre uma nova maneira de pensar o cristianismo como uma ferramenta de controle da
mente usada para escravizar as pessoas. Acho importante a ideia de
que todos os cidados tenham conscincia disso. Esses sero os dois
pontos que provavelmente vo causar mais impacto durante o simpsio.
Terra - Quais novas evidncias voc vai apresentar ao pblico para
revelar que Jesus Cristo uma completa inveno do imprio romano?
Joseph Atwill - Em um ambiente como esse, no qual voc tem a
oportunidade de passar tempo analisando a relao entre o livro do
qual a histria de Jesus foi originada, que foi a histria de uma guerra
ocorrida entre 66 e 73 d.C, e o Novo Testamento, posso mostrar em
274
203