Realismo Machadiano (Editado)
Realismo Machadiano (Editado)
Realismo Machadiano (Editado)
WAIZBORT, Leopoldo. A passagem do trs ao um: crtica literria, sociologia, filologia. SP: Cosac Naify, 2007. p.21.
(SCHWARZ, Roberto. Um Mestre na Periferia do Capitalismo: Machado de Assis. SP: Duas Cidades; Ed.34, 2000
(1990))
5) FACIOLI, Valentim. Um Defunto Estrambtico: anlise e interpretao das MPBC. SP: Nankin, 2002.
- a partir das MPBC o ponto de vista muda quase completamente e no so mais os humilhados e ofendidos
medianos que falam, nem as convenes romnticas e nem mesmo as realistas amenas de antes, seno que passam
a falar os humilhadores e ofensores de cima, completos em desfaatez [descaramento], hipocrisia e caprichos
brbaros do paternalismo, mesmo quando disfarados por cara amena, e prdigos em camaradagem cnica. (45-6)
- MPBC sai primeiramente em captulos de maro a dezembro de 1880, na Revista Brasileira. Em livro no ano
seguinte e esperou 15 anos para uma nova edio, em 96 (pela Garnier) e a terceira, em 99, a ltima em vida do
autor. Ao todo, devem ter sido impressos de 3 a 4 mil exemplares. Apenas um ou outro comentrio a respeito do
livro na imprensa da poca. Por outro lado, O Mulato, de Aluisio Azevedo, tambm de 1881, provocou polmica e
mereceu mais de duzentos comentrios e resenhas por todo o pas. (56-7)
- no h na narrativa, conforme pedia o modelo do romance realista, um conflito central entre protagonista e
antagonista, ou entre um indivduo e a sociedade (69)
- o aparente triunfo do antirrealismo sobre o realismo, do fantstico sobre a verossimilhana e, ainda, do mito
sobre a histria. Mas, esquisitamente, permitindo tambm a reverso dos segundos polos sobre os primeiros dessas
dualidades, porque produz e projeta um forte efeito realista, como a requerer para suas memrias uma leitura
virtual, ou de segundo nvel, capaz de revelar algo que os efeitos retricos de superfcie estariam obscurecendo.
(69)
- no h nenhum heri na narrativa. Brs Cubas no parece nem mesmo um anti-heri. [...] Tornou-se uma espcie
de vilo simptico. (70)
- De fato, uma representao de rico homem comum letrado do Brasil escravista, como queria o romance
realista (70)
- Essa autoconscincia do processo narrativo faz surgir uma duplicidade estrutural, porque so contadas, de fato,
duas histrias: 1) as histrias das personagens, suas vidas [etc.]; 2) a histria do narrador, um fantasma escandaloso,
que vai relatando a histria do ato e do processo de narrar. [...] Essa auto-reflexividade, que tambm se costuma
chamar de metalinguagem ou metanarrativa, tem um importante efeito de quebra da iluso realista, pois lembra
sempre o leitor de que ele est lendo um livro e que este, embora narre a respeito da vida das personagens,
apenas um livro, ou seja, um artifcio, um artefato inventado (73)
- se trata de uma escrita ecltica ou anfbia, se se pode dizer assim de um texto, que s se realiza plenamente na
duplicidade de ser fantstica e realista ao mesmo tempo. (82)
- Brs Cubas remete maliciosamente para Brasil e Cuba. [...] Eram os dois ltimos pases das Amricas que ainda
mantinham o regime escravista e tambm os ltimos a abolir o trfico negreiro. (83)
- o defunto-narrador, rompendo a verossimilhana, tecnicamente antirrealista. [...] O ponto-de-vista da morte
tanto antirrealista quanto antirromntico. [...] muito moderno porque revela potencialidades pouco utilizadas
at ento no gnero romance, o qual fica, em consequncia, tanto questionado como reforado, impondo-se como
narrativa cmico-fantstica-satrica e ao mesmo tempo de forte efeito realista. (107)