Toxicologia Veterinaria
Toxicologia Veterinaria
Toxicologia Veterinaria
Escorpionismo [Scorpion
envenomation]
ARTICLE DECEMBER 2014
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2 AUTHORS:
Benito Soto-Blanco
Federal University of Minas
129 PUBLICATIONS 310
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SEE PROFILE
Marilia Melo
Federal University of Minas
99 PUBLICATIONS 94 CITATIONS
SEE PROFILE
Editorial
Conselho Regional de Medicina Veterinria do Estado de Minas Gerais
Universidade Federal
de Minas Gerais
Escola de Veterinria
Conselho Regional de
Medicina Veterinria do
Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
VALORIZAO PROFISSIONAL
compromisso com voc
www.crmvmg.org.br
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondncia:
Caros colegas,
Novamente temos a satisfao de encaminhar comunidade veterinria e zootcnica mineira o volume 75
do Cadernos Tcnicos de Veterinria e Zootecnia.
A Escola de Veterinria e o Conselho Regional de
Medicina Veterinria de Minas Gerais, com satisfao
veem consolidando a parceria e compromisso entre as
duas instituies com relao educao continuada da
comunidade dos Mdicos Veterinrios e Zootecnistas de
Minas Gerais.
O presente nmero aborda, de forma objetiva, a temtica sobre Animais Peonhentos, abordando os aspectos relacionados as espcies venenosas e peonhentas,
caractersticas do veneno e o tratamento especfico e paliativo para cada tipo de acidente. O tema apresenta alta
relevncia uma vez que h um aumento na incidncia de
acidentes com animais peonhentos na medicina veterinria, alm da sua importncia para a sade pblica. Deste
modo, este volume ir contribuir para o melhor entendimento destas questes pelos profissionais da rea.
Com este nmero do Caderno Tcnico esperamos
contribuir tanto para a conscientizao quanto para a informao aos colegas, auxiliando para que possam construir as melhores opes de atendimento aos animais no
contexto que esto inseridos.
Portanto, parabns comunidade de leitores que utilizam o Caderno Tcnico para aprofundar seu conhecimento e entendimento sobre a oncologia veterinria, em
benefcio dos animais e da sociedade.
Prof Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567
30161-970 - Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042
Editor-Chefe da FEMVZ-Editora
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com
Prefcio
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marlia Martins Melo - CRMV-MG 2.432
CADERNOS TCNICOS DE
VETERINRIA E ZOOTECNIA
Edio da FEPMVZ Editora em convnio com o CRMV-MG
Fundao de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinria e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antnio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Tcnicos de Veterinria e Zootecnia:
Prof. Marcos Bryan Heinemann
Editor convidado para esta edio:
Prof. Benito Soto Blanco
Revisora autnoma:
Angela Mara Leite Drumond
Tiragem desta edio:
10.100 exemplares
Layout e editorao:
Solues Criativas em Comunicao Ldta.
Impresso:
O Lutador
nosos a soroterapia com o soro especfico, o que muitas vezes no est disponvel para uso em animais. Infelizmente,
a Medicina Veterinria no tem acompanhado no mesmo ritmo os avanos
obtidos no tratamento dos acidentes
em humanos. Este volume do Caderno
Tcnico vem preencher a lacuna formada pelo pouca disponibilidade dados
sobre o tema. Desta forma, esperamos
que as informaes aqui contidas sejam
teis para os profissionais e os estudantes da medicina veterinria, zootecnia e
reas de sade.
Sumrio
1. Ofidismo......................................................................................................9
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marlia Martins Melo - CRMV-MG 2.432
7. Escorpionismo..........................................................................................51
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marlia Martins Melo - CRMV-MG 2.432
1. Ofidismo
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Laboratrio de Toxicologia, Departamento de Clnica e Cirurgia Veterinrias, Escola de Veterinria, Universidade Federal de Minas Gerais
E-mail para contato: benito.blanco@pq.cnpq.br
Rhinocerophis (jararacas,
racterstica importante,
Exceto pelas coraisjararacuu, urutu), resverdadeiras, as demais pois a inoculao do veponsveis pelos acidenneno depende de presas
serpentes peonhentas
tes botrpicos; o gnero
do Brasil apresentam a apropriadas para esta
Crotalus (cascavel, boifuno. As serpentes
fosseta loreal.
cininga, maracamboia),
so divididas em quatro
responsvel pelo acidengrupos, de acordo com
te crotlico, e o gnero Lachesis (suru- a dentio e a capacidade de injetar vecucu, jacutinga, pico-de-jaca), respon- neno: glifa, opistglifa, proterglifa e
svel pelo acidente laqutico. A famlia solenglifa2,3. As caractersticas de cada
Elapidae possui no Brasil os gneros tipo de dentio so:
Micrurus e Leptomicrurus, conhecidas a. glifa: no apresenta presas capazes
como corais-verdadeiras e responsveis
de inocular o veneno, pois os dentes
2
pelos acidentes elapdicos .
so macios, sem canal central nem
As serpentes apresentam corpo
sulco externo; esta dentio est prealongado e recoberto por escamas e
sente nas serpentes consideradas no
no possuem apndices locomotores
peonhentas, como as jiboias e as
nem ouvidos externos. A respirao
sucuris;
pulmonar e a lngua delgada e bfida, b. opistglifa: possui duas ou mais
relacionada com o sentido do olfato.
presas com sulco externo, pelo qual
So animais exotrmicos (sangue frio),
o veneno injetado, localizadas na
dependendo de fonte
posio posterior do
externa de calor para a
maxilar superior; faAs
serpentes
so
manuteno da temperazem parte deste grudivididas
em
quatro
2,3
tura corporal .
po diversas serpentes
grupos,
de
acordo
com
a
A fosseta loreal (Fig.
da famlia Colubridae,
dentio e a capacidade como as falsas-corais
1) um orifcio enconde injetar veneno: glifa, (Erythrolamprus
trado entre os olhos e as
aesopistglifa,
proterglifa
narinas. Trata-se de um
culapii e Oxyrrhopus
e solenglifa.
rgo do sentido usado
trigeminus);
para a caa, que funciona
c.
proterglifa:
como sensor do calor irradiado por ordotada de um par de presas fixas com
ganismos de sangue quente. Exceto peum canal central, localizadas na polas corais-verdadeiras, as demais serpensio anterior do maxilar superior;
tes peonhentas do Brasil apresentam a
esta dentio caracterstica das cofosseta loreal2,3.
rais-verdadeiras (gneros Micrurus e
A dentio das serpentes uma caLeptomicrurus);
10
11
tlico e laqutico; h
possvel afirmar precisaAs serpentes so
ativao da cascata da
caadoras; alimentam- mente qual a quantidade de veneno inoculado
coagulao, gerando
se principalmente
em uma picada, princonsumo do fibrinode roedores, sendo
gnio circulante e forencontradas prximas cipalmente porque, na
maioria dos acidentes,
mao de fibrina intras fontes de alimentos.
as serpentes no injetam
vascular; inativao de
a totalidade do veneno
fatores da coagulao,
como o fator XIII e o fator de von presente nas glndulas. De modo geral,
Willebrand; hipoagregao plaquet- as serpentes recm-nascidas produzem
quantidades similares de veneno, mas,
ria e trombocitopenia;
ao hemorrgica (enzimas metalo- devido ao tamanho reduzido, inoculam
proteinases): presente nos venenos volume menor2,3.
As serpentes so caadoras; alimenbotrpico e laqutico; atua de forma
combinada com a ao coagulante e tam-se principalmente de roedores,
incoagulante, resultando em hemor- sendo encontradas prximas s fontes
ragias locais e sistmicas; rompe a in- de alimentos. O homem e os animais
tegridade do endotlio vascular e tem de grande porte no fazem parte do cardpio das serpentes peonhentas; no
atividade de desintegrina;
ao neurotxica: presente nos ve- entanto, quando se sentem provocadas
nenos crotlico e elapdico; causada ou ameaadas, iro se defender por inspelo bloqueio da placa neuromuscular; tinto. Assim, os acidentes ocorrem so2,3
ao miotxica: presente no veneno bretudo por aproximao inadvertida .
crotlico; promove lise e necrose das
Soroterapia
fibras musculares;
ao nefrotxica: presente nos veneVital Brazil, com seus estudos sobre
nos crotlico e botrpico; promove os ofdios e os acidentes que causavam,
leses tubulares e no endotlio dos criou em 1897 o soro antiofdico. Foi
vasos, que podem culminar em insu- uma grande revoluo, e este produficincia renal aguda3.
to continua sendo o nico tratamenH variao na constituio dos ve- to especfico utilizado em humanos e
nenos produzidos por
animais
acidentados.
O
soro
antiofdico
serpentes do mesmo
O soro produzido em
continua
sendo
o
nico
gnero em decorrncia
equinos, que so imunitratamento
especfico
da espcie, idade, distrizados pela administrabuio geogrfica, sexo utilizado em humanos e o de diversas doses do
animais acidentados.
e poca do ano. No
veneno. Quando a con12
centrao de anticorpos
A quantidade de
A soroterapia deve
antiveneno circulantes
soro a ser administrada
ser feita com o soro
estiver em nveis deespecfico para o gnero dever ser a suficiente
sejados, so realizadas
da serpente responsvel para neutralizar pelo mecoletas de sangue para
pelo acidente, pois no nos 100mg de veneno
obteno do soro que,
no acidente botrpico e
h proteo cruzada
posteriormente,
ser
50mg no acidente croentre os grupos de
concentrado. Entretanto,
tlico, que a quantidaserpentes.
a ao txica do veneno
de estimada de veneno
responsvel por preinoculado independenjuzos qualidade de vida dos animais temente do tamanho da vtima. Como
imunizados, motivo pelo qual diversos os soros comerciais esto padronizados
estudos esto em andamento, com o para que 1mL neutralize 2mg de veneno
objetivo de procurar reduzir os efeitos botrpico ou 1mg de veneno crotlico,
txicos dos venenos, mas sem interferir o volume mnimo de soro a ser adminisna imunogenicidade3,4.
trado de 50mL. A administrao do
A soroterapia deve ser feita com o soro dever ser feita preferencialmente
soro especfico para o gnero da ser- pela via intravenosa, diludo em soluo
pente responsvel pelo acidente, pois salina a 5% ou glicose. A administrano h proteo cruzada entre os gru- o intraperitoneal pode ser realizada
pos de serpentes3,5,6. No Brasil, os soros quando no for possvel a administraproduzidos so o soro antibotrpico, o o intravenosa. As vias intramuscular e
soro anticrotlico, o soro antilaqutico, subcutnea devem ser evitadas, e no seu
o soro antielapdico, o soro antibotrpi- eventual uso no se deve diluir o soro
co-anticrotlico e o soro antibotrpico- com soluo glicosada6.
-antilaqutico. Os soros
A soroterapia um
A quantidade de soro a procedimento que pode
antilaqutico e antielapdico so destinados ser administrada dever provocar reaes de
ser a suficiente para
exclusivamente para uso
hipersensibilidade, in3
neutralizar
pelo
menos
humano . Existe comerdependentemente de
100mg
de
veneno
no
cialmente soro para uso
sensibilizao prvia4,5,7.
acidente
botrpico
veterinrio com indicaEstas reaes podem ser
e
50mg
no
acidente
o antibotrpica, antide anafilaxia (hipersencrotlico.
crotlica e antilaqutica,
sibilidade do tipo I) ou
O
volume
mnimo
de
mas sua eficincia para
anafilactoide (de Arthus,
o acidente laqutico no soro a ser administrado hipersensibilidade do
de 50mL.
est comprovada.
tipo III). A anafilaxia
1. Ofidismo
13
est relacionada com a presena de anticorpos reagentes contra o soro, enquanto a anafilactoide tambm produzida
por anafilotoxinas, mas sem a participao de anticorpos reagentes8. Os sinais
clnicos mais frequentemente observados nas fases iniciais destas reaes so
urticria, prurido, tremores musculares, dispneia, tosse e nuseas. Os sinais
avanados incluem taquicardia, edema
dos rgos, coagulao intravascular
disseminada, hipotermia e falncia mltipla dos rgos4.
Na soroterapia, a manuteno do
acesso venoso deve ser mantida pela
administrao de soluo fisiolgica
ou de Ringer, para facilitar a administrao de medicamentos por via intravenosa. As reaes precoces podem ser
tratadas com adrenalina (0,1 a 0,5mL
de soluo a 0,1%, IV), hidrocortisona (50mg/kg IV) e prometazina (0,2 a
1mg/kg SC), alm da fluidoterapia. Se
houver insuficincia respiratria, deve-se fazer uso de sondas endotraqueais,
para facilitar a respirao, e de broncodilatadores, como a aminofilina (10mg/
kg IM ou IV)4. A fim de evitar a reao
de hipersensibilidade, pode ser feita a
prova intradrmica para determinar a
sensibilidade do paciente3,7, mas este
procedimento pode resultar em atraso
no tratamento especfico.
14
Referncias
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2. Acidente Botrpico
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2. Acidente botrpico
15
16
Bothrops neuwiedi
namento ainda no esto
Estas serpentes
jararaca-pintada, jaratotalmente esclarecidas3.
possuem
final
da
cauda
raca-de-rabo-branco1.
Alm da importncia tolisa, fosseta loreal,
Estas serpentes posxicolgica, o estudo do
dentio solenglifa
suem final da cauda lisa,
veneno de B. jararaca
e comportamento
fosseta loreal e dentio
promoveu um grande
agressivo.
solenglifa. De modo
avano no conhecimengeral, o comportamento
to da fisiologia cardio agressivo1; foi descrito o caso de uma vascular ao permitir o descobrimento
Bothrops pauloensis (espcie derivada do da bradicinina4. Alm disso, foi isolado
complexo B. neuwiedi) que picou trs deste veneno o fator de potenciao da
equinos2. Algumas espcies apresentam bradicinina, que, por meio da adio de
caractersticas curiosas, como Bothrops uma prolina, deu origem ao captopril,
insularis (jararaca-ilhoa), espcie restri- um frmaco inibidor da enzima converta Ilha de Queimada Grande, locali- sora da angiotensina, amplamente utizada a 35km do litoral de Itanham, SP. lizada terapeuticamente no tratamento
Esta espcie produz um veneno mais de diversas doenas cardiovasculares5.
potente que as demais do gnero, com
O veneno possui quatro grupos de
aparncia bastante diferente da Bothrops atividades fisiopatolgicas: proteoltica,
alcatraz (jararaca-de-alcatrazes), end- coagulante/anticoagulante, vasculotmica das Ilhas de Alcatrazes, localizada xica e nefrotxica. A atividade proteoprximo Ilha de Queimada Grande1.
ltica, tambm conhecida como necrtica ou inflamatria aguda, causada
Veneno botrpico
por diversos componentes, incluindo
O veneno botrpico possui mais aminas biognicas pr-formadas do
de 20 componentes diferentes, e mais tipo histamina, pequenos peptdeos ou
de 90% do peso seco do veneno so protenas, como fosfolipase A2, esteraconstitudos por protenas, incluindo ses, proteases, enzimas liberadoras de
enzimas, toxinas no enzimticas e pro- cininas e lectinas. O veneno botrpico
apresenta elevadas contenas no txicas. Os
O
veneno
possui
quatro
centraes de enzimas
outros componentes so
grupos de atividades
proteolticas, mas muitas
carboidratos, lipdeos,
fisiopatolgicas:
vezes a ao ocorre indimetais, aminas biogniproteoltica,
coagulante/
retamente pela induo
cas, nucleotdeos e amianticoagulante,
ou liberao de autacoinocidos livres. A funo
vasculotxica e
des (bradicinina, prosde cada componente e
nefrotxica.
sua interao no envenetaglandinas, leucotrie2. Acidente botrpico
17
nos, prostaciclinas)3,6,7,
raracussu, B. moojeni e B.
O processo inflamatrio
produo xido ntrico
neuwiedi3,10,11.
local agudo
e de citocinas (IL-1, ILA atividade coagulanpotencializado pela
6, IL-8, IFN-, TNF-)
te produzida por diveratividade coagulante
e ativao do sistema
sos compostos, como, por
do veneno, pois ocorre
complemento (C5a, C3
exemplo, botrojararacina,
formao de trombos
8
e C4) . O processo inbotrombina e jararagina
na microvasculatura,
flamatrio local agudo
C. Conhecida como tipo
responsveis por
potencializado pela
trombina, a ao coaguhipxia.
atividade coagulante do
lante se d pela ativao
veneno, pois ocorre forde fatores da coagulao
mao de trombos na microvasculatura, sangunea (fibrinognio, protrombina
responsveis por hipxia, agravamento e fator X), isoladamente ou simultanedo edema e necrose tecidual. As hemor- amente, convertendo fibrinognio em
raginas tambm devem contribuir para fibrina. Mas deve ser ressaltado que a
a inflamao aguda por meio da ao fibrina formada instvel (no ocorre a
sobre o fator de necrose tumoral pr- formao dos dmeros de fibrina) e rapi-formado, liberando a citosina ativa. No damente degradada, alm do veneno inalocal da picada, h formao de necrose tivar o fator XIII, resultando no aumento
tecidual de aspecto gelatinoso pela ao do tempo de coagulao ou tornando-o
de enzimas proteolticas, principalmen- incoagulvel1215. Tambm foram descrite as fosfolipases A2. Estas enzimas libe- tos efeitos de hipoagregao plaquetria
ram substncias vasoativas, provocando e inativao do fator de von Willebrand16.
dor intensa, edema, eritema e hemorra- Em alguns casos, pode haver coagulao
gias, que precedem a necrose. Alm dis- intravascular disseminada (CID), com
so, o veneno botrpico contm a enzima formao de microcogulos6.
hialuronidase, responsvel pela rpida
A atividade vasculotxica sistmica
absoro e disperso do veneno entre os promovida pelas hemorraginas, um
tecidos animais6,7,9. A necrose tecidual grupo de enzimas que contm zinco em
promovida por miotoxinas que apre- sua estrutura (metaloproteinases). Elas
sentam estrutura qumica de fosfolipase rompem a integridade vascular por deA2 e afetam a integridade da membrana gradao de vrios componentes da madas fibras musculares. As
triz extracelular, como
A
atividade
miotoxinas foram ideno colgeno tipo 4, a fivasculotxica sistmica bronectina e a laminina,
tificadas no veneno de
promovida pelas
algumas espcies, como
alm de inibirem a agrehemorraginas.
B. asper, B. brazili, B. jagao plaquetria3.
18
O veneno botrpico
so afetadas pelo veneno
O veneno botrpico
tambm nefrotxico,
botrpico, mas a sensitambm nefrotxico,
sendo a insuficincia rebilidade varia entre as
sendo a insuficincia
nal aguda uma sequela
espcies. Os mais sensrenal aguda uma
que pode acometer o
veis ao veneno botrpico
sequela que pode
paciente. Um dos mecaso os equinos, seguidos
acometer o paciente.
nismos a ao direta do
pelos ovinos, bovinos,
veneno sobre os tbulos
caprinos, caninos, sunos
renais e o endotlio vascular. Tambm e felinos7,19. A gravidade do quadro vai
pode ocorrer em consequncia de hipo- depender da espcie da serpente, volume
tenso/hipovolemia, ou por isquemia de veneno inoculado, espcie e tamanho
causada por obstruo da microcircula- do animal acidentado, tempo decorrido
o renal pelos microcogulos6,17.
entre o acidente e o tratamento adequaPelo menos trs fatores interferem na do, e local da picada6,19.
composio dos venenos:
Os sinais clnicos locais se instalam
a. idade: as serpentes jovens (B. jararaca em pouco tempo aps a picada e so cae B. moojeni) possuem maior ativida- racterizados por dor intensa, edema (Fig.
de pr-coagulante e menor atividade 2) e hemorragia. Aps seis a 12 horas da
inflamatria aguda local em compara- picada, so evidenciadas equimoses, boo s adultas;
lhas e necrose7. Podem ser identificados
b. distribuio geogrfica: ainda que dois pequenos pontos hemorrgicos rede mesma idade e espcie, serpentes ferentes ao local da picada, apesar de que
coletadas de regies
o local da picada pode
diferentes
podem
Todas as espcies de
no ser identificado6,19.
apresentar variaes
animais domsticos
comum os animais picana composio do
so afetadas pelo
dos em algum membro
veneno, provavelmenveneno botrpico.
o manter flexionado, prote por diferenas na
Os mais sensveis ao
curando no apoi-lo no
dieta;
veneno botrpico so
solo7,9,20.
c. individual: variaes
os equinos, seguidos
Quando a picada
em serpentes de mespelos ovinos, bovinos,
ocorre na cabea, prinma espcie, idade e
caprinos, caninos,
cipalmente na regio do
procedncia3,18.
sunos e felinos. Sinais
focinho, o edema intenclnicos locais so
Manifestaes
so formado na regio da
caracterizados por
clnicas
picada pode causar dispdor intensa, edema e
neia e insuficincia respiTodas as espcies
hemorragia.
de animais domsticos
ratria (Fig. 3)7,9. Caso
2. Acidente botrpico
19
Achados laboratoriais
Figura 3 - Co picado no focinho por Bothrops apresentando intenso edema e dificuldade respiratria.
20
2. Acidente botrpico
21
Diagnstico
22
2. Acidente botrpico
23
TTPa9. Frequentemente
no ocorre a visualizao
do ataque, o que pode
dificultar o diagnstico. A confirmao do
diagnstico feita pela
resposta soroterapia
antibotrpica6.
O tratamento
especfico feito com
o soro antibotrpico
ou antibotrpicocrotlico.
Referncias
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Brasil. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANA, F.O.S.;
WEN, F.H.; MLAQUE, C.M.S.; HADDAD JR,
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Venom. Anim. Toxins Incl. Trop. Dis., v.17, n.11,
p.111-117, 2011.
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botrpico. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANA,
F.O.S.; WEN, F.H.; MLAQUE, C.M.S.;
HADDAD JR, V. (Ed). Animais Peonhentos no
Brasil biologia, clnica e teraputica dos acidentes. 2.ed. So Paulo: Sarvier, 2009. p.81-95.
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cats in Brazil. J. Venom. Anim. Toxins Incl. Trop.
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2. Acidente botrpico
25
26
3. Acidente Crotlico
bigstockphoto.com
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As serpentes do
pla distribuio geoAs
serpentes
do
gnero
grfica, que possui as
gnero Crotalus, coCrotalus,
conhecidas
nhecidas
popularsubespcies:
popularmente
como
mente como cascavel,
Crotalus durissus tercascavel,
boicininga
boicininga e mararificus (cascavel, boie maracamboia, so
quira) presente no
camboia (Fig. 1), so
robustas, no agressivas e
Rio Grande do Sul,
robustas, no agrespouco geis.
sivas e pouco geis.
Santa Catarina, Paran,
Possuem fosseta loreSo Paulo, Minas
Gerais, Mato Grosso do Sul e reas esal, dentio solenglifa e um chocaparsas no Amazonas e Par;
lho ou guizo na extremidade da cauda
1,2
(Fig. 2) . No Brasil, h apenas uma Crotalus durissus collilineatus (cascavel,
espcie Crotalus durissus*, com ammaracaboia) encontrada nos esta* Recentemente esta espcie havia sido reclassificada como Caudisona durissa, mas esta nomeclatura logo deixou
de ser aceita.
3. Acidente crotlico
27
torneas. Os acidentes
A ao coagulante
Os acidentes crotlicos
ocorre por ao de alcrotlicos geralmente
geralmente ocorrem nas
ocorrem nas primeiras
primeiras horas da noite, guns compostos com
atividade similar
horas da noite, pois espois estas serpentes saem
tas serpentes saem para
para caar nesse perodo. trombina, com transformao do fibrinogcaar nesse perodo.
nio srico em fibrina,
Por este motivo, frequente que o acidente seja identificado principalmente a giroxina5,6, prolongando o tempo de coagulao ou mesmo
apenas no dia seguinte1.
tornando o sangue incoagulvel1,4. Alm
disto, foi verificado que a convulxina auVeneno crotlico
7
O veneno crotlico uma mistura menta a agregao plaquetria . A ao
miotxica deve ser produzida pelas toxicomplexa de protenas e polipeptdeos
nas crotoxina e crotamina4, produzindo
com aes neurotxica,
ruptura de organelas.
miotxica e coagulante.
O veneno crotlico uma Sistemicamente, so
A ao neurotxica
mistura complexa de
observados focos de
promovida principalprotenas e polipeptdeos
fibras necrticas esparmente por uma subscom aes neurotxica,
sas misturadas a fibras
tncia
denominada
miotxica e coagulante.
aparentemente
norcrotoxina, uma neuromais, podendo evoluir
toxina pr-sinptica. A
para rabdomilise e miosite necrtica
crotoxina atua nas terminaes nervofocal. A ao hemoltica foi descrita
sas motoras, de modo a inibir a libeapenas em ensaios in vitro, em pacientes
rao de acetilcolina pelos impulsos
acidentados; diferentemente do que se
nervosos, provavelmente por interfepensava antigamente4, no se observa
rncia em canais inicos. Assim, h
hemlise in vivo.
bloqueio neuromuscular, resultando
em paralisias motoras e respiratrias. Manifestaes clnicas
Outras neurotoxinas isoladas do veAs espcies anineno crotlico so a
mais mais sensveis
As espcies animais mais
crotamina, a girotoxiso bovina, equina e
sensveis
so
bovina,
na e a convulxina, que
ovina, e a sensibilidaequina e ovina, e a
apresentam
efeitos
neurotxicos em mo- sensibilidade em sequncia de em sequncia dedecrescente : caprina,
crescente : caprina,
delos experimentais
canina, leporina, suna e
canina, leporina, suno observados em
felina.
na e felina8.
casos clnicos4.
3. Acidente crotlico
29
Os sinais clnicos
musculares, incoordeSinais clnicos do acidente
do acidente crotlico
nao motora, decbito,
crotlico em ces incluem
em ces incluem atamovimentos de pedalaataxia, paralisia flcida
xia, paralisia flcida da
gem e paralisia flcida.
da musculatura, sedao,
musculatura (Fig. 3),
Na fase avanada do enmidrase, paralisia do
sedao, midrase, pavenenamento, h dispglobo ocular, mialgia,
ralisia do globo ocular
neia, sialorreia12,13 e pasialorreia, perda dos
(oftalmoplegia), mialralisia do globo ocular14.
reflexos superficiais e
gia, sialorreia (Fig. 4),
As alteraes clnicas
profundos, vmitos,
perda dos reflexos suem bubalinos so simidispneia e insuficincia
perficiais e profundos,
lares s descritas em borespiratria.
vmitos, dispneia e
vinos, exceto a paralisia
insuficincia respiratdo globo ocular14. Os
ria810. Frequentemente no h alterao sinais clnicos do acidente crotlico em
no local da picada, o que impossibilita equinos incluem aumento de volume no
sua localizao1. Casos graves podem local de inoculao do veneno, apatia e
apresentar depresso neurolgica gra- cabea baixa, mioclonias, dificuldade de
ve8. A presena de mioglobina na urina movimentao com arrastar das pinas
(mioglobinria) se torna evidente pela no solo, decbito e dificuldade para lecolorao da urina, variando de aver- vantar, reduo da sensibilidade cutnea,
melhada a marrom escura11. Pode haver reduo dos reflexos auricular, palatal do
opacidade de crnea como sequela da lbio superior e de ameaa, aumento das
oftalmoplegia (Fig. 5).
frequncias cardaca e respiratria e reEm bovinos, os sinais clnicos ob- duo na temperatura retal15.
servados so inquietao e desconforto,
A gravidade do acidente em aniseguidos por apatia, letargia, edemacia- mais domsticos pode ser classificada
o discreta no local da picada, tremores como leve, moderada ou grave (Tab. 1).
Gravidade do envenenamento
Leve
Moderada
Grave
Fcies miastnicas
Ausentes ou tardias
Discretas ou evidentes
Evidentes
Mialgia
Ausente ou discreta
Discreta
Intensa
Mioglobinria
Ausente
Presente
Oligria ou anria
Ausente
Ausente ou presente
Presente
Tempo de coagulao
Normal ou
aumentado
Normal ou aumentado
Aumentado ou
incoagulvel
30
Figura 4 - Cadela picada por C. durissus apresentando flacidez da musculatura da face, midrase
bilateral, oftalmoplegia, boca sempre aberta
com dificuldade de respirao e sialorreia.
3. Acidente crotlico
31
Tratamento
33
2g/kg, a cada seis horas, IV) o diurtico de escolha, mas se a oligria persistir,
recomendado o uso da furosemida (2
a 6mg/kg, a cada oito-12 horas, IV). Em
ces e gatos, que possuem urina cida, a
alcalinizao da urina com bicarbonato
de sdio (1 a 2mEq/kg/h) recomendada para evitar a formao de cilindros
de mioglobina nos nfrons, pois estes
cilindros podem agravar a leso renal
promovida pelo veneno. A fluidoterapia dever ser mantida at o trmino da
mioglobinria8.
A alimentao enteral ou parenteral
e a administrao de gua (com seringas) podero ser necessrias por causa
da depresso neurolgica grave. Se necessrio, a mialgia poder ser aliviada
com a administrao de analgsicos
opioides. Nos casos de decbito prolongado, o animal dever ser periodicamente trocado de posio para evitar
a formao de escaras e problemas sistmicos, como respiratrios. O uso de
colrios ou pomadas oftlmicas evita o
ressecamento da crnea em decorrncia
da paralisia ocular8.
Prognstico
A recuperao completa pode tardar uma semana ou mais, podendo haver complicaes durante este perodo.
Desta forma, o ideal o internamento
do paciente. O prognstico dos acidentes leves e moderados pode ser favorvel
se o paciente for atendido nas primeiras
seis horas aps a picada. Nos acidentes
34
Referncias
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35
4. Acidente Laqutico
Benito Soto Blanco - CRMV-MG 14.513
Marlia Martins Melo - CRMV-MG 2.432
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primento. Apresentam
acentuada, eritema, edeApresentam fosseta
ma equimose, que pofosseta loreal e a cauda
loreal e a cauda com
dem progredir para todo
com as ltimas fileiras de
as ltimas fileiras de
subcaudais modificadas
subcaudais modificadas o membro. Podem surgir
e eriadas, terminando
e eriadas, terminando bolhas de contedo sero-hemorrgico e comem forma de espinho.
em forma de espinho.
plicaes, tais como snO bote pode ultrapassar
drome compartimental,
50% do seu comprimento total. Apesar de popularmente ser necrose e dficit funcional do membro2.
Os sinais da neurotoxicidade, resulconsiderada agressiva, isto no parece
1
ser real . O acidente laqutico pouco tantes de estimulao vagal e variveis
frequente (1,4% do total de acidentes segundo a gravidade do quadro, so
humanos por serpentes peonhentas), hipotenso, bradicardia, clicas abdomas deve ser sempre considerado grave2. minais, vmitos, diarreia e tontura.
comum a ocorrncia de
O veneno laqutiinfeco bacteriana no
co apresenta atividades
O veneno laqutico
local da picada2. Como
fisiopatolgicas semepossui atividades
a sintomatologia clnica
lhantes s do veneno
coagulante,
muito parecida com a
botrpico. O veneno
hemorrgica,
do acidente botrpico,
inflamatria e
laqutico possui atividanecrosante.
foram
desenvolvidos
des coagulante (do tipo
testes de imunoensaio
trombina), hemorrgica
(ELISA) para a confir(metaloproteinases), inflamatria e necrosante (proteoltica). relatada uma mao do diagnstico5,6, mas infelizatividade cininogenase no veneno, que mente este teste no est disponvel
em parte poderia explicar as alteraes para uso rotineiro.
As manifestaes hemorrgicas lineurotxicas. Foi isolada tambm uma
fosfolipase A2 com atividade miotxica mitam-se ao local da picada na maioria
e com atividade inibidora de ativao dos casos. Entretanto, sangramento no
plaquetria2. Comparado ao veneno de local de venopuno, equimoses, epistaBothrops atrox, o veneno de L. muta pos- xes, gengivorragia e hematria tm sido
sui maior atividade coagulante e menor descritos2.
Antes de se iniciar o tratamento esao hemorrgica3,4.
A sintomatologia clnica do aciden- pecfico, deve-se avaliar a gravidade de
te laqutico ainda no est descrita em acordo com os sinais locais e a intenanimais domsticos. Em humanos, os sidade das manifestaes vagais (brasinais clnicos locais frequentes so dor dicardia, hipotenso e diarreia). O tra4. Acidente laqutico
37
Referncias
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5. Acidente Elapdico
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O acidente elapdico
diano (300-1.200mm),
O acidente elapdico
causado por serpenque apresentam anis
causado por serpentes
tes da famlia Elapidae,
corporais de coloraes
da famlia Elapidae.
gneros Micrurus e
pretas, amarelas, brancas
Leptomicrurus.
No
e vermelhas. Os olhos
Brasil, h 19 espcies de Micrurus e trs so pequenos com pupilas arredondade Leptomicrurus (Quadro 1). As es- das. Possuem dentio proterglifa, e
pcies mais importantes so Micrurus no tm fosseta loreal. Uma caractersfrontalis
(cobra-coral,
tica marcante o comO acidente elapdico
coral), Micrurus coralliportamento de levantararo
no
Brasil,
pois
estas
nus (cobra-coral, coralrem a cauda, de forma
serpentes
apresentam
-verdadeira,
boicor)
semienrolada (engodo
comportamento
e Micrurus ibiboboca
caudal), quando se senno
agressivo
e
(coral-venenosa, coraltem ameaadas1.
so de habitat
-verdadeira). So serO acidente elapdisemissubterrneo.
pentes de tamanho meco raro no Brasil, pois
5. Acidente Elapdico
39
Referncias
1. MELGAREJO, A.R. Serpentes peonhentas do
Brasil. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANA, F.O.S.;
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Med. Trop. Sao Paulo, v.38, n.1, p.61-67, 1996.
5. Acidente Elapdico
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xamnicos, incluindo de
controlam esta prolifeAs glndulas mucosas
caa, de ndios amazrao6. Deste modo, diso produtoras de
nicos empregam a peresecreo pouco viscosa, versos componentes das
reca-verde Phyllomedusa
com funes de prevenir secrees esto sendo
bicolor; a secreo seca o ressecamento, auxiliar estudados com a finalidesta aplicada em pedade de se obterem nonas trocas gasosas,
7,8
quenas queimaduras no
controlar o crescimento vos frmacos .
peito ou no brao, proAs glndulas parode microrganismos
cesso conhecido como
toides,
localizadas bilatee defender contra
1
vacina-do-sapo .
ralmente na regio pspredadores.
As espcies de sa-orbital, so compostas
pos de maior interesse
por acmulos de dezeveterinrio no Brasil pertencem fam- nas de glndulas semelhantes s granulia Bufonidae, composta por cerca de losas, mas de dimenses superiores s
46 gneros e 528 espcies. As espcies do restante do corpo9. A secreo desimplicadas nas intoxicaes incluem tas glndulas fica contida nas vesculas
Rhinella marina Linnaeus, 1758 (Bufo e somente excretada quando o sapo
marinus), Rhinella icterica Spix, 1824 ameaado ou irritado, ou quando o ata(Bufo ictericus), Rhinella (Bufo) schnei- cante morde ou comprime as vesculas.
deri Werner, 1894, Rhinella jimi Stevaux, No entanto, os sapos no so capazes de
2002 e Anaxyrus terrestris Bonnaterre, inocular ou espirrar seu veneno1. Apesar
1789 (Bufo rufus)46.
de saltarem e poderem bufar, as secreOs sapos apresentam glndulas mu- es de veneno dos sapos so importancosas e granulosas em toda a superfcie tes para sua defesa, pois vrios predacorprea. As glndulas mucosas so pro- dores que tivessem contato com algum
dutoras de secreo pouco viscosa, com sapo deixariam de atacar os demais da
funes de prevenir o ressecamento, au- espcie. Serpentes como as jararacas
xiliar nas trocas gasosas,
(Bothrops spp.) e as cascontrolar o crescimento
cavis (Crotalus spp.)
A secreo destas
de microrganismos e deso muito sensveis ao
glndulas fica contida
fender contra predadores.
nas vesculas e somente veneno dos sapos. Por
Como a pele fica permaoutro lado, algumas
excretada quando o
nentemente umedecida,
espcies de serpentes,
sapo ameaado ou
torna-se um local que
como, por exemplo, a
irritado, ou quando
favorece o crescimento
boipeva (Waglerophis
o atacante morde ou
de microrganismos, mas
comprime as vesculas. merremii), so resistenas substncias secretadas
tes a estes venenos1.
6. Acidentes por sapos
43
Os acidentes com os
rinrio no Brasil, h dois
Os acidentes com
sapos ocorrem princigrupos de compostos
os sapos ocorrem
palmente em ces, que
principalmente em ces, qumicos: as aminas biotentam brincar ou ingegnicas e os derivados
que tentam brincar
rir o sapo, abocanhando
esteroides5,6.
ou ingerir o sapo,
o anfbio, ou quando abocanhando o anfbio,
As principais aminas
fazem a limpeza das pabiognicas so adrenaliou quando fazem a
tas aps o contato. Isto
limpeza das patas aps na, noradrenalina, bufoocorre porque os sapos
teninas, di-hidrobufoteo contato.
possuem movimento
ninas e bufotioninas2,11. A
lento, tornando-se preadrenalina um agonista
sas fceis para os ces. Geralmente os do sistema nervoso autnomo simptiacidentes acontecem com animais que co; a ao em receptores 1 resulta em
no tinham contato anterior com sapos, vasoconstrio na pele e nas vsceras,
ou que tiveram pouco contato anterior. em 1 tem efeitos inotrpico e cronotrA maior frequncia dos acidentes ocor- pico no corao, e em 2 causa broncore no perodo noturno, que o de maior dilatao e vasodilatao na musculatuatividade dos sapos. A permanncia de ra. A noradrenalina atua nos receptores
luzes acesas noite nas reas onde so e , com os mesmos efeitos descritos
1
1
mantidos os ces atrai insetos e, conse- para a adrenalina. A serotonina, uma inquentemente, os sapos, aumentando a dolalquilamina, um potente vasoconschance de acidentes. A ingesto de sa- tritor e atua como neurotransmissor em
pos mortos, secos, tambm pode levar a centros especficos do crebro e, possiquadros de envenenamento5,6.
velmente, de alguns nervos perifricos;
seus efeitos afetam a termorregulao,
Veneno dos sapos
os ciclos do sono e o controle motor
H uma grande diversidade na com- dos msculos perifricos. A bufotenina,
posio do veneno entre as espcies de a di-hidrobufotenina e a bufotionina,
sapos10, inclusive havendo uma propos- em grande quantidade, produzem alucita de classificao das espcies de sapo naes, apreenso, depresso, tremores,
hiperestesia, hipertersegundo a composio
qumica do veneno. Nas espcies de sapos de mia, vmitos e diarreia6.
interesse veterinrio no
Os derivados esTambm h variao na
Brasil,
h
dois
grupos
teroides so o colescomposio do veneno
de
compostos
qumicos:
terol, o ergosterol e o
de acordo com o habitat
as aminas biognicas e -sisteosterol, que consdo sapo. Nas espcies de
os derivados esteroides. tituem a frao neutra do
sapos de interesse vete44
veneno, e as bufotoxinas
Quando os ces mordem
A ocorrncia dos
os sapos e recebem o jato
e os bufadienoldeos,
sinais clnicos tem
de veneno, normalmenque possuem ao simirpido incio e pode se
te tentam limpar a boca,
lar aos digitlicos e tamrestringir ao local do
bm promovem alucinacontato ou chegar a um ferindo-a com as patas, o
es. Estes compostos
envolvimento sistmico. que deve contribuir ain+
da mais para o enveneinibem a bomba de Na /
+
namento. Tambm pode
K das fibras cardacas,
aumentando a concentrao intracelu- haver absoro por ferimentos na pele,
lar de Na+, o que inibe a entrada deste mas no absorvido pela pele ntegra6.
em troca da sada de Ca2+, que tem sua
concentrao intracelular aumentada. Manifestaes clnicas
Assim, h aumento da fora de contraA ocorrncia dos sinais clnicos tem
o cardaca, mas com diminuio da rpido incio e pode se restringir ao local
frequncia cardaca por ao vagal refle- do contato ou chegar a um envolvimento
xa; nos animais intoxicados pelo veneno sistmico, que pode evoluir para a morte
dos sapos, geralmente h
do animal. A variao no
este efeito suplantado
quadro clnico se deve a
Ces de raas
pelas aes da adrenalifatores ligados ao sapo,
braquiceflicas
na e da noradrenalina em
como espcie e diferenapresentam
maior
receptores 1. Tambm
as intraespecficas (dieta
sensibilidade.
h reduo na velocidae clima), e ao animal acode de conduo do immetido, como quantidapulso eltrico cardaco do nodo sinusal de de veneno absorvida, espcie, porte
ao nodo atrioventricular, com disparos e susceptibilidade individual. Em ces,
de focos ectpicos ventriculares e con- foi verificado que os de raas braquiceftraes ventriculares prematuras, po- licas apresentam maior sensibilidade. A
dendo levar fibrilao ventricular6,12.
ocorrncia de vmitos e sialorreia ajuda
O veneno liberado na mucosa oral a reduzir a toxicidade do veneno por audo predador, podendo ser absorvido mentar sua eliminao.
pelas mucosas do trato gastrintestinal
A sintomatologia depende da gravisuperior. Como as mudade do envenenamento,
Quadros
leves:
cosas so desprovidas de
que pode ser classificado
irritao
da
mucosa,
estrato crneo e manticomo leve, moderado e
salivao
abundante,
das midas, a passagem
grave. Nos quadros leves,
incontinncia fecal e
das toxinas para a circulah irritao da mucosa,
inapetncia.
13
o sangunea rpida .
salivao bastante abun6. Acidentes por sapos
45
Diagnstico
47
vezes a cada 20 minutos). O verapamil parece ser mais eficaz, por requerer
menor nmero de reaplicaes e no
induzir bradicardia to grave quanto
a induzida pelo propranolol25. No se
deve associar o propranolol ao verapamil, em razo de essa associao resultar em efeito aditivo das aes inotrpicas, cronotrpicas e dromotrpicas
negativas26. A eficcia do controle das
alteraes cardacas deve ser monitorada por meio do eletrocardiograma5,6.
O controle das convulses pode ser
feito com a administrao de diazepam
(0,5 a 2,0mg/kg IV), que possui ao
sedativa, ansioltica e como relaxante muscular21. O pentobarbital sdico (30mg/kg IV) tambm utilizado
como anticonvulsivante e para facilitar
a intubao orotraqueal em casos graves13. Foi verificado que a utilizao do
pentobarbital aumenta a taxa de sobrevivncia de ces intoxicados pelos
sapos.
O fragmento de anticorpo Fab contra digoxina apresenta potencial para
uso teraputico na intoxicao por sapos. J foi utilizado com excelentes resultados em pacientes humanos27 e experimentalmente em camundongos28.
Aps a administrao intravenosa, o
fragmento Fab se liga aos bufadienoldeos e s bufotoxinas livres na circulao sangunea, promovendo a neutralizao destes derivados esteroides. No
entanto, a administrao do Fab bastante limitada pelo elevado custo e pelo
Prognstico
Geralmente a mortalidade dos ces
intoxicados por veneno de sapo e tratados
adequadamente baixa, embora existam
relatos de at 100% de mortalidade para
animais no tratados6. Muitos casos leves
so autolimitantes, e os animais deixam
de atacar os sapos (condicionamento
aversivo naturalmente induzido).
49
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7. Escorpionismo
Laboratrio de Toxicologia, Departamento de Clnica e Cirurgia Veterinrias, Escola de Veterinria, Universidade Federal de Minas Gerais
E-mail para contato: benito.blanco@pq.cnpq.br
51
pies encontradas no
seguido por T. bahiensis
As espcies de interesse
Brasil pertencem a cin(escorpio-marrom) e T.
toxicolgico do pas
co gneros: Isometrus,
stigmurus (escorpio-dopertencem ao gnero
Ananteris, Microtityus,
-Nordeste)1,2. A maior
Tityus.
Rhopalurus e Tityus. No
frequncia dos acidenentanto, as espcies de
tes ocorre nos estados
interesse toxicolgico do pas perten- de Minas Gerais e So Paulo, mas tem
cem ao gnero Tityus, sendo as de maior sido registrado aumento das notificaimportncia T. serrulatus, T. bahien- es em outros estados. A cidade de
sis, T. costatus, T. fasciolatus (Fig. 1), T. Belo Horizonte est localizada em local
metuendus, T. silvestris, T. stigmurus, T. definido como solo escorpionfero, em
paraensis e T. trivittatus. A maior gravi- especial por causa de T. serrulatus3.
dade e frequncia de acidentes ocorrem
T. serrulatus encontrado na regio
com T. serrulatus (escorpio-amarelo), Sudeste e nos estados do Paran, Bahia
52
53
55
centas. O veneno de T.
minncia dos efeitos
Uma caracterstica
bahiensis administrado
(simpticos ou parascomum do
no quinto ou no dcisimpticos), peso e
escorpionismo o
mo dias de gestao de
rpido incio dos sinais idade da vtima, jovens
ratas resultou em maior
e idosos so mais senclnicos aps a picada.
peso dos fetos e das plasveis, e variao indicentas no dia 21 da gesvidual2,12,13. Em ratos,
tao, e a aplicao apenas no quinto foi observada maior sensibilidade nos
dia promoveu aumento da perda pr- machos do que nas fmeas, mas no se
-implantao11. Como estes estudos sabe se isto ocorre em outras espcies.
foram realizados pelos mesmos gru- Os casos podem ser classificados em
pos de pesquisadores, empregando leves, moderados e graves (Quadro
a mesma metodologia experimental, 1)1215. Uma caracterstica comum do
a variao na composio do veneno escorpionismo o rpido incio dos
devem ter sido a responsvel pela va- sinais clnicos aps a picada, por causa
riao nos resultados.
da rpida distribuio dos componentes do veneno inoculado, e a gravidade
Sinais clnicos
pode ser determinada em uma a duas
A gravidade do acidente varia de horas aps o acidente12. A maioria
acordo com a quantidade de peonha dos acidentes escorpinicos no Brasil
aplicada, espcie do escorpio, sendo apresenta gravidade leve12,13.
H dor no local da picada, a qual
que o T. serrulatus que promove os
quadros mais graves, condies do inicia imediatamente aps a picada,
tlson, nmero de ferroadas, predo- e essa dor pode ser de intensidade
moderada apenas
no local, ou muito
intensa, irradiando
para todo o membro
acometido
(Fig. 2). O animal
geralmente lambe
ou mesmo mor-
Sinais clnicos
Leve
Moderado
Grave
56
de o local da picada,
que pode apresentar
discreto edema local;
mesmo assim, o ponto exato da picada geralmente no pode ser
visualizado. Por causa da dor, o animal se
locomove sem apoiar
o membro afetado,
que se torna hipersensvel, e pode apresentar vocalizaes,
inquietao ou at
agressividade1214,16,17.
Alm da dor local
intensa, outros sinais
clnicos nos casos
moderados incluem
nuseas, vmitos, sialorreia, agitao ou
sonolncia, taquicardia, taquipneia e picos hipertensivos. Nos
casos graves, tambm
podem ser observados
vmitos profusos, hipotermia hipermotilidade gastrintestinal,
desorientao, hiperatividade, taquicardia
sinusal ou bradicardia,
arritmias
cardacas,
extrassstoles, taquipneia, hiperpneia, ou
bradipneia, hipertenso ou hipotenso
57
arterial, insuficincia cardaca, rinorreia (Fig. 3), choque e, s vezes, convulses12-14,16,17. A morte geralmente
ocorre por colapso cardiovascular,
mas tambm pode ocorrer em decorrncia do edema pulmonar16.
Exames complementares
O exame eletrocardiogrfico pode
revelar taquicardia sinusal com complexos ventriculares prematuros, marca-passo migratrio, depresso do segmento ST e bloqueio atrioventricular.
Ao exame ecocardiogrfico, podem se
verificar alteraes da funo ventricular e da frao de ejeo, hipocinesia
ventricular (graus variveis), semelhante ao que ocorre na cardiomiopatia dilatada. Pode haver vasoconstrio
coronariana por ao das catecolaminas (liberao macia), propiciando o
58
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8. Aranesmo
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Loxosceles spp.
Entre os gneros
de interesse mdico e
mdico veterinrio, o
Loxosceles responsvel
por 40% dos acidentes humanos no Brasil
e apresenta veneno de
elevada toxicidade1. A sndrome clnica produzida pela picada dessa aranha denominada de loxoscelismo e
pode desenvolver-se de duas formas
distintas: cutnea, caracterizada por
alteraes clnicas loEntre os gneros de
cais, com uma ferida
interesse mdico e
dermonecrtica de dimdico veterinrio, o
fcil cicatrizao, e a
Loxosceles responsvel forma cutneo-visceral,
por 40% dos acidentes em que so observadas
humanos no Brasil e
alteraes sistmicas
apresenta veneno de
importantes, como inelevada toxicidade.
suficincia renal aguda
8. Aranesmo
63
Aranhas do gnero
Loxosceles so
popularmente
conhecidas como
aranha-marrom.
FUNO
Fosfolipase D (esfingomielinase D)
Catalisa a hidrlise da esfingomielina, resultando na formao de ceramida-fostato e colina, capazes de produzir leses dermonecrticas, hemlise e
agregao plaquetria e leucocitria
Metaloproteases
Hialuronidase
65
Loxoscelismo cutneo
Figura 1 - Leso dermonecrtica no membro anterior direito de co aps picada por aranha do
gnero Loxosceles.
66
Loxoscelismo cutneovisceral
67
no de L. intermedia em camundongos18,
e das enzimas hepticas, seis horas aps
a inoculao19, o que sugere ao txica
do veneno nesses tecidos.
Tratamento
baseado
rgicas iniciais, seguidos
loxosclico realidade e
na
identificao
da
por infiltrado inflamatutilizado com bastante
aranha.
rio predominantemente
frequncia, de acordo
neutroflico e necrose de
com protocolo mdico
2,9
coagulao na epiderme e na derme .
de cada regio, no h tratamento especfico com soro antiloxosclico disponDiagnstico
vel para uso veterinrio6.
Na medicina veterinria, a terapia
O diagnstico definitivo do loxoscelismo dificilmente baseado na iden- baseada nos sinais clnicos observados.
tificao da aranha, j que, de modo A utilizao profiltica de fluidoterapia
geral, a picada indolor e depende da e diurticos indicada para evitar leso
sua captura2. Portanto, o diagnstico renal mais grave e aumentar a taxa de
ante- mortem geralmente presuntivo, filtrao glomerular, a fim de se evitar
baseado na anamnese, na epidemiolo- depsito de hemoglobina nos tbulos
gia, nos sinais clnicos e no perfil san- renais. Como h uma ferida dermoneguneo associados. Apesar de alguns crtica importante, impretervel que
testes imunodiagnsticos j terem sido se realizem limpezas dirias com solues antisspticas associadas antibiodescritos, no h um
ticoterapia sistmica de
exame complementar
No
h
tratamento
amplo espectro, dimiespecfico na rotina veespecfico
com
soro
nuindo, assim, o risco de
terinria. Qualquer doantiloxosclico
infeces secundrias.
ena que leve alteradisponvel para uso
Porm, quando a rea de
o cutnea e necrose
veterinrio.
tecidual local deve ser
necrose muito extensa,
Alteraes
histopatolgicas
68
Phoneutria spp.
A aranha Phoneutria nigriventer, conhecida como armadeira (Fig. 3), possui comprimento mdio do corpo de
69
3,5cm e o tamanho mximo da perna de despolarizao de membrana, a entra5,0cm, abdmen preto e corpo coberto da de clcio e glutamato e a liberao
com pelo curto castanho. O dorso tem de outros neuotransmissores, como a
padres formados por pares de pontos acetilcolina23. O veneno tambm cade luz dispostos em faixas longitudinais paz de causar alteraes morfolgicas
e linhas oblquas de menor ponto para em fibras nervosas, como acmulo de
o lado lateral. extremamente agressi- lquido no espao periaxonal de fibras
va, com hbitos noturnos e irregulares. mielinizadas24.
Alimenta-se de uma grande variedade
Outro efeito do veneno sua ao
de animais que ela caa, incluindo mui- sobre as diversas classes de canais de cltas espcies de insetos, outras aranhas, cio, bloqueando a entrada deste em terpequenos roedores, entre outros22.
minais nervosos e inibindo a liberao
P. nigriventer no
de neurotransmissores25.
constri teias, e seu suA P. nigriventer assume Este bloqueio do influxo
cesso como predador
de clcio determinauma posio muito
em parte explicado pela
do por vrias fraes do
caracterstica quando
perturbada,
ficando
diversidade de potentes
veneno, como a PnTx-3
de p sobre as patas
toxinas presentes no seu
(toxinas de 1 a 6)22.
traseiras, mantendo
veneno. Esta aranha asApesar de a aranhaas pernas da frente
sume uma posio mui-armadeira possuir comlevantadas
mesmo
se
to caracterstica quando
portamento noturno,
seus inimigos so muito muitos dos acidentes
perturbada, ficando de
maiores que ela.
p sobre as patas traseiocorrem principalmente
ras, mantendo as pernas
durante o dia, em amda frente levantadas mesmo se seus ini- bientes domsticos, porque elas se esmigos so muito maiores que ela, como condem dentro de casa, em sapatos e
os animais domsticos22.
roupas. Mos e pernas so os locais mais
O principal efeito neurotxico do afetados em humanos, e, no caso dos
veneno parece ser da sua ao sobre ca- ces, rea do focinho55. A dose subletal
nais de Na+ de voltagem dependente, os subcutnea para ces estimada para
quais podem induzir a repetidos poten- estar entre 0,18 e 0,2mg/kg de peso do
ciais de ao nas membranas de nervos corpo26.
e de fibras musculares. A frao do veneEm humanos, a picada da Phoneutria
no chamada de PnTx2 foi capaz de au- causa dor acentuada e irradiante e vmentar e facilitar a ativao dos canais rios sintomas graves, caracterizados por
de Na+, o que elevou a entrada de Na+ cibras, tremores, convulses tnicas,
em sinaptossomas corticais, induziu a paralisia espstica, priapismo, lacrime70
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9. Apidismo
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As abelhas Apis mellifera so insetos colnias de abelhas da variedade africasociais utilizados, mas no domestica- na (A. mellifera scutellata), que possuem
dos, pelo homem h centenas de anos. maior agressividade que as variedades
Possuem grande importncia econmi- europeias, escaparam de colmeias exca pela produo de mel, plen, prpolis perimentais da cidade de Rio Claro, SP,
e geleia real e pela polinizao de plan- em 1957, e gradativamente se difunditas frutferas cultivadas. Inicialmente, ram pelo continente americano, cruzanforam introduzidas no
do com as variedades
Atualmente, as abelhas europeias. Atualmente,
Brasil variedades euroA. mellifera criadas
peias, que se caracteas abelhas A. mellifera
no
Brasil
so
hbridas
rizam por baixa agrescriadas no Brasil so hafricanizadas.
sividade. No entanto,
bridas africanizadas1,2.
9. Apidismo
73
As abelhas realizam
por destruio de fosfoliAs abelhas realizam a
a ferroada como forma
pdeos nela presentes, referroada como forma de
de defesa contra ataques
sultando em lise celular.
defesa contra ataques
aos indivduos ou s colA hialuronidase promoaos indivduos ou s
meias. O ferro uma
ve a difuso do veneno
colmeias.
modificao do aparelho
pelos tecidos por meio
ovipositor e est preda hidrlise do cido
sente apenas nas fmeas das abelhas. O hialurnico, afetando as junes celulaveneno produzido por clulas da gln- res35. As fosfolipases e a hialuronidase
dula do veneno e injetado no momento so os principais compostos responsda ferroada. Quando o ferro introdu- veis pelos casos de reao anafiltica ao
zido, ele fica preso junto
veneno das abelhas4,8.
com a glndula do veneO peptdeo melitina
Quando o ferro
no no local da ferroada
a toxina mais abundanintroduzido, ele fica
e permanece liberando
te do veneno das abelhas,
preso junto com a
gradualmente o veneno.
compondo cerca de meglndula do veneno
A perda do ferro e estade do peso seco deste
no local da ferroada e
truturas associadas so
veneno. Atua de forma
permanece liberando
3,4
fatais para a abelha .
sinrgica com a fosfoligradualmente o veneno.
Cada abelha pode desfepase A2, provocando darir apenas uma ferroada,
nos nas membranas cemas como so insetos sociais, a aproxi- lulares e mitocondriais de diversos tipos
mao colmeia pode resultar no ata- celulares. O cido araquidnico pode
que de grande nmero de abelhas4.
ser liberado em consequncia do dano
celular35. A apamina, outro peptdeo
Composio do veneno
presente no veneno das abelhas, afeta
O veneno das abelhas composto os sistemas nervosos central e perifripelas enzimas fosfolipase A2 e hialuro- co por meio da ativao dos receptores
9
nidase, pelos peptdeos melitina, apami- muscarnicos inibitrios M2 e do blona, pelo peptdeo degranulador de mas- queio dos canais de potssio ativados
10
tcitos (PDM), entre outros peptdeos, por clcio , mas sua importncia clnica
5
e aminas biognicas35. A concentrao ainda incerta .
O PDM atua sobre mastcitos e bados diferentes componentes do veneno
diretamente influenciada pela idade da sfilos, promovendo a liberao de histamina, serotonina, produtos da quebra
abelha6,7.
A fosfolipase A2 promove a deses- do cido araquidnico e fatores com
truturao da membrana citoplasmtica ao em plaquetas e eosinfilos. Os pep74
75
imunomediada, mas a
da pele do animal. Como
Patologia clnica de
contagem plaquetria
ces com reao txica a glndula associada ao
ferro que ficou na pele
voltou normalidade
sistmica incluem
do animal pode ainda
sete dias aps o trataanemia regenerativa
conter veneno, deve-se
mento com transfuso
com hemoglobinemia,
tomar cuidado para no
sangunea e administrahemoglobinria,
14
comprimir a glndula.
o de dexametasona .
aumento srico de
Assim, a remoo dos
Em casos de reao anaureia e de alanina
ferres dever ser feita
filtica em ces, foram
aminotransferase
por meio de raspagem4,12.
observadas alteraes
e coagulao
A dor e o edema no
de anemia hemoltica
intravascular
local da picada podem
imunomediada,
com
disseminada.
ser amenizados por meio
anemia no regeneratida aplicao de compresva, esferocitose, micro4,12
-hematria e resultado positivo para o sas frias . O tratamento de suporte
feito com fluidoterapia, corticosteroiteste Coomb4.
des e anti-histamnicos. As convulses
Achados patolgicos
podem ser controladas com diazepam4.
Na reao txica sistmica em ces, Recentemente foi desenvolvido um soro
os achados necroscpicos incluem hiperimune antiveneno de abelhas que
17
ferres encravados na pele, ictercia se mostrou eficaz em camundongos ,
generalizada da carcaa, fgado de co- mas ainda no foi testado em animais
lorao alaranjada e rins escurecidos. domsticos. O tratamento das reaes
Microscopicamente, podem ser obser- anafilticas deve ser feito com adrenalie
vadas necrose de hepatcitos centrolo- na, corticosteroides, anti-histamnicos
12
suporte cardiorrespiratrio .
bular e nefrose hemoglobinrica13.
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