Resenha Do Livro Livro Didático de Língua Portuguesa Letramento e Cultura Da Escrita - 2003 (ROJO e BATISTA Orgs)
Resenha Do Livro Livro Didático de Língua Portuguesa Letramento e Cultura Da Escrita - 2003 (ROJO e BATISTA Orgs)
Resenha Do Livro Livro Didático de Língua Portuguesa Letramento e Cultura Da Escrita - 2003 (ROJO e BATISTA Orgs)
ISSN: 0871-9187
rpe@ie.uminho.pt
Universidade do Minho
Portugal
Passos, Marta
Resea de "Livro didtico de lngua portuguesa, letramento e cultura da escrita" de Roxane Rojo &
Antnio Augusto Batista (orgs.)
Revista Portuguesa de Educao, vol. 17, nm. 2, 2004, pp. 307-319
Universidade do Minho
Braga, Portugal
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Esse lugar ocupado pelo livro didtico tem sido, cada vez mais,
cristalizado pelo PNLD. Esse Programa, ao exigir que as atividades do livro
sejam acompanhadas de minuciosas explicaes muitas vezes
disponibilizando conhecimentos quase banais , no prev a atuao do
professor como mediador entre o livro didtico e o aluno.
A banalidade do conhecimento disponibilizado como til para o
professor destacada por Castro, nos manuais portugueses:
aos professores devem ser dadas as solues das operaes interpretativas que
so solicitadas aos alunos; aos professores devem ser dados a conhecer os
significados de certas palavras ou expresses; aos professores devem ser
fornecidos dados elementares sobre o funcionamento da lngua; aos professores
deve ser dito qual o programa da disciplina; aos professores deve ser garantido
um conhecimento bsico sobre o mundo (Castro, 1999, p. 195).
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Por seu lado, Rojo, ao discutir algumas estratgias editoriais e didticopedaggicas que o mercado editorial de Livros Didticos de Lngua Portuguesa
vem adotando, destaca que os livros didticos tm apresentado uma melhor
qualidade ao que diz respeito s primeiras estratgias. Essa opinio parece
no ser compartilhada por Belmiro12 (p. 311), em artigo desta coletnea, que
critica o componente Aspectos Editoriais da ficha de avaliao do PNLD/2002.
Belmiro destaca que, nessa ficha, as imagens presentes nos livros didticos
so concebidas como ilustraes, sem serem exploradas como linguagem.
Essa crtica nos faz pensar sobre a forte relao, nos livros didticos, entre
estratgias editoriais e estratgias didtico-pedaggicas.
Para Rojo, em relao a essas ltimas estratgias, os livros didticos
no tm apresentado uma melhoria na qualidade. No mbito das atividades de
leitura e compreenso de textos escritos, o tratamento lingstico e discursivo
dos textos na leitura deixa a desejar. Os livros avaliados no chegam a explorar
satisfatoriamente aspectos lingstico-discursivos cruciais para a construo
da leitura13 (Rojo, p. 89).
Rojo destaca que embora os procedimentos de avaliao do PNLD
tenham contribudo para a melhoria de qualidade em alguns aspectos dos
manuais didticos, aspectos cruciais da cultura da escrita e centrais no
processo de letramento da populao esto apenas medianamente, quando
no muito, mal-trabalhados (p. 98). Isso acaba por ser reforado por Grillo e
Cardoso14 em artigo presente nesta mesma coletnea. Tendo por princpio
que os PCNs tratam a questo do gnero, Grillo e Cardoso observam (como
elas mesmas destacam) de que modo os autores se apropriaram ou no
dos fundamentos tericos adotados (p. 102), com base nos estudos do crculo
de Bakhtin.
Os estudos de Bakhtin sobre gnero discursivo, como base terica dos
PCN, tambm so destacados por Costa Val, que analisa as atividades de
produo de textos escritos. A escrita compreendida como uso lingstico
situado num contexto histrico e social (p. 128).
Costa Val contrape trabalho a inspirao, destacando que nas
colees excludas (pelo PNLD) a redao costuma ser atrelada imaginao
e inspirao, mais do que ao empenho consciente e orientado de quem
escreve (p. 150). Costa Val critica a presena, nos livros didticos, de
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Algo como chegar aos mecanismos poticos da grande produo lrica e pica
pelo caminho do rap ou do funk; leitura do artigo de opinies e compreenso
crtica do debate poltico na TV pela discusso das formas jornalsticas de
persuaso de um Brasil Urgente (p. 21).
Tudo nos leva a crer que as formas sociais orais devem realizar a
"misso" que as formas sociais escriturais no conseguiram realizar: contribuir
para a formao de prticas letradas da cultura escrita. Ser que esse o
caminho? Ser que as formas sociais orais esto sendo de fato valorizadas?
Podemos estar vivendo um momento de questionamento da prpria natureza
da escola, da nossa prpria "natureza"/cultura. No sabemos se devemos
chegar qumica pelo ch de erva-doce, como destacam Rojo e Batista, mas
certamente ainda temos muito a refletir sobre o Manifesto da Poesia PauBrasil, de Oswald de Andrade, citado por esses autores:
Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raa crdula e dualista
e a geometria, a lgebra e a qumica logo depois da mamadeira e do ch de
erva-doce. Um misto de "dorme nen que o bicho vai pegar" e de equaes.
Uma viso que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas eltricas, nas usinas
produtoras, nas questes cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. PauBrasil (apud Rojo e Batista, p. 7. Oswald de Andrade, Manifesto da Poesia PauBrasil, 18 de maro de 1924).
Notas
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No Brasil, essa camada pode ser considerada privilegiada. Como destacam Rojo e
Batista: a permanncia (na escola) e a escolaridade de longa durao ainda so
nfimas (p. 10).
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Referncias
CASTRO, Rui V. (1995). Para a Anlise do Discurso Pedaggico: Constituio e
Transmisso da Gramtica Escolar. Braga: Instituto de Educao e Psicologia;
Universidade do Minho.
CASTRO, Rui V. (1999). J agora, no se pode extermin-los? Sobre a representao
dos professores em manuais escolares de Portugus. In R. V. de Castro; A. S.
Rodrigues; J. L. Silva & M. de L, D, de Sousa (orgs.), Manuais Escolares: Estatuto,
Funes, Histria. Actas do I Encontro Internacional sobre Manuais Escolares.
Braga: Universidade do Minho,189-196.
MARCUSCHI, Luiz A. (2001). Oralidade e ensino de lngua: uma questo pouco
"falada". In A. P. Dionisio e M. A. Bezerra. O Livro Didtico de Portugus: Mltiplos
Olhares. Rio de Janeiro: Lucerna.
Marta Passos
Universidade Federal de Minas Gerais/Universidade do Minho