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Desigualdade e Exclusão Social Maura Pardini Veras

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SOCIEDADE URBANA:

desigualdade e excluso sociais


Maura Pardini Bicudo Vras
RESUMO: No contexto da transnacionalizao da economia e da constituio da
sociedade informacional, inovaes tecnolgicas revolucionam a comunicao, a
sociabilidade e as cidades, alterando-lhes as configuraes espaciais, a dinmica
urbana, o acesso cultura e aos equipamentos. A cidade capitalista, e a brasileira,
principalmente, continua a apresentar velhas questes sociais: desigualdades,
segregao e pobreza numa dialtica da excluso/incluso sociais.
PALAVRAS-CHAVE: cidade, sociedade urbana, desigualdade, excluso social,
questo urbana

Como bem observou Fernand Braudel, os dois principais multiplicadores do capitalismo so a Moeda e a Cidade, ou seja, h uma
estreita relao entre mercado financeiro e mercado imobilirio, acarretando novas configuraes urbanas.
Essa dupla relao manifesta-se, entretanto, de forma multifacetada: enquanto os mercados financeiros se tornam cada vez mais imaterializados, desincorporados em novos produtos especulativos
e/ou virtuais, os nveis de concentrao nas cidades so mais elevados, e o solo urbano mais e mais valorizado por abrigar servios cada vez mais sofisticados ligados ao mesmo capital financeiro ou como
sedes das empresas multi ou transnacionais como o caso das cidades
globais (S. Sassen, 1998). Essa relao contraditria se explicita pelo
paradoxo de que quanto mais desterritorializadas as atividades no sentido de disperso geogrfica, maior a necessidade de controle e so as
grandes cidades que podem preencher esse papel (Castells, et al 1990
e Vras, 2002).
Embora seja uma frase emblemtica, Carol Willis (1995) reafirmou que a forma segue a finana (Roseta, 2000) ou seja, diferentes paisagens urbanas obedecem a diversas filosofias de desenho urbano mas
tambm diferentes frmulas do mercado imobilirio.
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A produo dos arranha cus deve ser vista como resultante de


clculos de obter rentabilidade mxima. Assim, as cidades tm de ser
vistas como ambientes comerciais complexos, onde construir um
negcio que extrai lucro ao mesmo tempo, da produo de espao, da
localizao, da imagem e do status (Roseta, 2000, p. 2).
Em muitas cidades brasileiras, os poderes pblicos diminuram
sua tarefa de fazer cidades, deixando esse papel ao capital privado, reservando ao livre jogo do mercado a ocupao do solo urbano. Em
uma sociedade marcada por extrema desigualdade, a maioria da populao v-se alijada do mercado formal de habitao, do que resultam
extremas periferias desequipadas como cinturo de abordagem dos
mais pobres s regies metropolitanas, alm de pores centrais deterioradas e a auto segregao das elites. Tudo isso se visualiza em uma
certa topografia social da desigualdade.
Enquanto os espaos da pobreza so deixados ao livre jogo
do mercado, ao contrrio, nos empreendimentos centrais, nos pontos
tursticos ou nos bairros produzidos para sede de bancos ou multinacionais, nos edifcios de luxo, verifica-se o rosto do grande capital a
nova face da globalizao. As presses imobilirias crescem em ritmo
exponencial e o poder local no consegue resistir-lhes, a no ser que
se cultivassem uma conscincia e polticas pbicas que lhes fizessem
frente por serem imbudas dos valores que a identidade territorial e a
memria representam.
Dessa forma, aps esse breve preldio, pode-se relacionar esse
novo cenrio urbano a outros recorrentes aspectos da vida das cidades capitalistas.
Convm explicitar, pois, que os temas imbricados na proposio Sociedade Urbana no contexto contemporneo so, por um lado,
instigantes, desafiadores e oportunos; por outro ngulo, a tarefa de
dissertar sobre cada um dos elementos cidade e contexto contemporneo, constitui atividade complexa pela natureza multifacetada de
cada um deles e, mais ainda, pelas relaes entre eles, configurada aqui
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como novas e velhas questes e pela cruel permanncia da desigualdade social.


Necessariamente deve-se optar por um trajeto argumentativo e
escolhemos, de incio, uma viso panormica de vrios aspectos contidos no contexto contemporneo, depois, abordando a cidade, como
pode ser apreendida como objeto de estudo e, finalmente, um destaque para a questo social nas novas configuraes urbanas.
Sem dvida, vivemos uma poca de perplexidades. So mudanas vertiginosas de toda ordem e que colocam desafios aos vrios pontos de vista estabelecidos, notadamente s cincias sociais que devem
dar conta de novas questes postas neste incio de milnio. Embora ainda de forma introdutria vrias circunstncias e traos histricos atuais configuram o complexo quadro contemporneo: a chamada globalizao, globalizaes,melhor dizendo, na medida em que poltica, cultural, econmica e assim por diante parece ser um pano de fundo
presente, nos seus vrios ngulos. Do ponto de vista da economia assistimos a uma nova diviso internacional do trabalho com a fragmentao do processo produtivo por todo o planeta (no mais entre regies
ou cidades ou empresas de um mesmo pas, mas partes do produto
provm dos mais variados lugares do mundo), no que se convencionou
chamar de reestruturao produtiva. Associada ao nomadismo do capital financeiro, a voragem mundializada carrega os movimentos da fora
de trabalho (migraes e ajustamentos sazonais) desemprego tecnolgico causado progressivamente pelas revolucionrias descobertas nesse
campo. inegvel o papel das tecnologias da informao ou seja, o
enorme avano das telecomunicaes, o chip do computador, os satlites, a telefonia mvel, tudo veio proporcionar uma nova Idade, a que
M. Castells (na trilogia publicada em 1997 e traduzida no Brasil em
1999 pela Editora Paz e Terra - Sociedade em Redes, Fim de Milnio e
Poder da Identidade) chamou de Idade da Informao. A ocidentalizao da cultura, com o poder da media, generalizada pelo globo. Internet, televiso, TV a cabo, aproximam e afastam pessoas.
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possvel perceber esboos de uma sociedade ps-industrial,


de servios cada vez mais sofisticados, uns ligados gesto do capital,
outros pesquisa cientfica e tecnolgica e, outros ainda, voltados ao
consumo de camadas sociais emergentes.
Dessa forma, com a tecnologia da informao e com as crises
capitalista e do estatismo e a emergncia de movimentos socioculturais, tais como os feministas, ambientalistas e de direitos humanos,
por exemplo, recompe-se esse novo quadro, em patamares cada vez
mais problemticos.
Do lado da biologia vrias revolues cientficas: as engenharias
gentica e mdica, com clonagens, genomas, transplantes, enfim,
recolocam nova base de concepo do que humano, mortal, natural.
Nesse panorama as relaes entre natureza e cultura so discutidas,
bem como tempo e espao so ressignificados: distncias se encurtam, o tempo vira programao de horrio (Virilio, 1993).
So inauguradas novas sociabilidades na interface homem e
mquina e no mais face a face. Paradoxalmente, quanto mais se aproximam povos, naes, pessoas, mais se observa o espetculo das
diferenas e das desigualdades. Conflitos tnicos, as nacionalidades
se diluem e se agravam em uma topologia eletrnica. Pases continuam a ser de primeiro, segundo, terceiro ou quarto mundos. Bolsas de
Valores se digladiam por suas moedas no mercado e questiona-se:
Competitividade ou complementaridade?
O quadro social alarmante: embora crticos razo dualista
(nos termos utilizados por Francisco de Oliveira no trabalho que se
tornou referncia nos anos 70 e 80) temos de admitir que o exrcito
industrial de reserva no faz tanta falta ao sistema. Levas de braos
(cada vez mais finos) parafraseando Marx em Trabalho Assalariado e
Capital, aumentam, procura de trabalho. Uma quantidade crescente
de trabalhadores, expulsos das engrenagens produtivas por mquinas
e/ou por fechamento de empresas, buscam a sobrevivncia nos pequenos expedientes, auto-emprego, informalidades ou gravitam sateliCADERNO CRH, Salvador, n. 38, p. 79-114, jan./jun. 2003

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tizados em volta dos ramos mais afinados dinmica globalizada. A


vasta fenomenologia observada de homeless, sans-abris, underclass,
populao de rua, com novas caractersticas, chama a ateno do Primeiro Mundo e faz que se trate de discutir Excluso Social, Desqualificao Social, Desafiliao, alm das discutidas questes latino americanas e brasileiras como marginalidade, perceptveis nos estudos de
favela, ocupaes, mendicncia, encortiamento ou periferias desequipadas (Vras, 1999).
Tambm a cincia est em crise e mutao. J se tornou lugar
comum falar da crise dos paradigmas (e na cincia social sempre convivemos com o debate metodolgico, no confronto de posies tericas e ideolgicas, e com a ausncia de um paradigma hegemnico).
Contudo, contemporaneamente, assistimos a debates e confrontos em
meio insegurana advinda com a crise dos metarrelatos (em termos
de Lyotard) e dos ideais revolucionrios. Em outras palavras, carecemos de sistemas tericos seguros, abrangentes; a cincia perdeu sua
arrogncia, mas se essa humildade libertou-nos dos blocos monolticos, de certa forma aprisionadores, por outro lado, fragmentou-se, s
vezes, sem direo.
Nesse contexto, a cidade o fenmeno urbano est a desafiar
especialistas da mais variadas ordens. A cidade assume vrias funes
no mundo, mas ressignifica outras, reexperimenta novas feies. Continua a ser um objeto ainda no totalmente decifrado, enigmtico.
Os problemas de nossas cidades certamente no surgiram com
o capitalismo, pois, originada da diviso de trabalho manual e intelectual e da produo de um excedente gerado no campo, a cidade antiga
e a medieval continham suas contradies. Mas a cidade industrial,
capitalista, chegou sua plena forma, explicitando a luta de classes no
espao geogrfico, social e poltico.
A cidade esvaziava o campo no sculo XIX, retendo a capitalizao, submetendo-o, aglomerando a fora de trabalho para que
produzisse a mais valia (de incio absoluta e depois a relativa). JornaCADERNO CRH, Salvador, n. 38, p. 79-114, jan./jun. 2003

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das de trabalho extensas subordinavam os trabalhadores, cada vez


mais prximos ao parque fabril e cada vez mais dependentes de trabalhar para sobreviver.
Dependendo de seus salrios para arcar com os custos da sua
reproduo enquanto trabalhador, sua forma de alojamento, alimentao, educao e sade eram cada vez mais precrios.
E todos esses componentes tinham um custo e uma feio urbanos: a cidade rene o capital (constante e varivel), e a fora de trabalho e elementos necessrios vida. Assim como a jornada de trabalho comprada pelo capitalista em forma de salrio divide o tempo
do trabalhador em tempo de trabalho e tempo de viver (necessrio reposio de energias para continuar vivo e produtivo), o capitalismo tambm dividiu o espao da cidade: o espao do trabalho (ento, a empresa, a fbrica, a manufatura, a usina, a loja) e o espao do
viver (destinado habitao e ao atendimento das necessidades bsicas do homem). Assim, surgem os bairros malditos, de m reputao nos termos de F. Engels em seu clssico. A situao da classe trabalhadora na Inglaterra, de 1845, onde se aglomerava a classe trabalhadora, em moradias insalubres, desprovidas de servios e equipamentos urbanos.
A multido ganhou as ruas, a cidade se revelou a portadora da
nova civilizao (urbana industrial e moderna) mas tambm a foi encarada como tendo um lado indesejvel, a da pobreza. Foi a presena
dos famlicos, sujos, grosseiros e que deveriam ser afastados dos
olhares burgueses. Surgiu a a primeira forma de segregao explcita
s vezes prximos aos bairros burgueses, mas evitados como de alta
periculosidade. Mais tarde, haveria inteno mais direcionada, inclusive dos aparelhos pblicos de planejamento de zonear, catalogar e
ordenar o espao urbano por determinadas funes. Uma das vertentes urbanistas foi a de remodelar, limpar, sanear, tornar racional o
espao urbano e destinar espaos especficos habitao popular. A
cidade se transforma em valor de troca, progressivamente.
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Quanto mais avana o modo de produo capitalista, mais a cidade moldada a seus interesses. A metrpole passa a ser o grande
locus representativo da acumulao fordista, da aglomerao, da diviso taylorista de trabalho.
O solo urbano, embora produzido coletivamente e nisso o
Estado joga um papel primordial, pois instala os meios de consumo
coletivo: equipamentos e servios como a chamada infraestrutura (gua potvel, esgotamento sanitrio, servios de eletricidade, limpeza e
outros) apropriado individualmente por aqueles que podem paglos. O sistema de transporte coletivo, de ruas (sistema virio e sua
manuteno) geralmente so organizados, e muitas vezes, mantidos
pelo Estado. Polticas urbanas so regulatrias e indutoras de urbanizao e excludentes para os mais pobres.
Dessa forma, garantindo as condies de instalao de firmas
(de vrias naturezas, ou seja, industriais, comerciais ou servios) facilitando as condies gerais de produo, o Estado, com honrosas
excees, disciplinou os trabalhadores em locais de habitao distantes e, na tica economicista, a preos acessveis, ou seja, em periferias longnquas. O exemplo brasileiro dos conjuntos habitacionais
suficiente para revelar outra questo urbana recorrente: o papel do
Estado e das polticas urbanas.
Em sntese, a cidade capitalista dificulta seu consumo para os
pobres, pois vista como capital constante pelos proprietrios que
usam o ambiente construdo assim como usaram a mquina na
produo fabril. Na ausncia de oferta de habitaes salubres a preos
adequados demanda, que surgem solues precrias como as favelas, os loteamentos clandestinos e suas casas auto construdas na periferia.
E as polticas urbanas acabam, por insuficincia s vezes, e de
outras, por atrelarem-se esteira do capital privado, a reproduzir o
modelo que o de tentar colocar ordem, fazer a cidade funcionar

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como mquina, onde no h apenas desordem e sim, contradio


(Lefebvre, 1978).
Mas a cidade industrial a cidade que rene a classe trabalhadora, perodo tpico da acumulao fordista com papel importante dos
sindicatos e da luta operria. Movimentos sociais, novos atores passam a exercer lutas urbanas, embrio e concretizao dos direitos de
cidados. A conscincia dos direitos civis, polticos e sociais constitutivos da cidadania, mesmo na sua feio burguesa, tambm passa
pelo reconhecimento de que a cidade constitui-se palco privilegiado
da luta. Mais que isso, base onde acontecem atividades geradas na
produo a cidade pesa nas mltiplas determinaes, lutas urbanas, movimentos por gua, luz, asfalto; o direito de ocupar as ruas, de
transitar por elas, de manifestao, o direito de habitar com dignidade
(e a qualidade habitacional extrapola o teto, parede e piso, para abranger a localizao, a acessibilidade, transporte, equipamentos de
sade, educao, lazer, religio, cultura) de receber servios bsicos,
enfim, tudo que deve ser oferecido e desfrutado pelo cidado, arsenal
indispensvel vida moderna, foram sendo incorporados pauta de
reivindicaes.
A literatura a respeito dos movimentos sociais urbanos muitas
vezes oscilou de um otimismo exagerado (da nova modalidade da luta
de classes) ao pessimismo (movimentos simplesmente reivindicatrios, peticionrios, pequenos burgueses); muitas vezes se distinguiu entre
o morador e o cidado, ou seja, o primeiro s querendo adaptarse cidade do capital e o segundo, tendo conscincia real dos direitos e
deveres, podendo trabalhar por uma efetiva transformao da sociedade.
Cidade e cidadania, desde a correlao clssica entre civilis e
polis; so termos indissociveis. Desde a idia de que o ar da cidade
liberta os homens que as cidades, em oposio ao campo feudal eram vistas como espao de livre manifestao. Mas as cidades transformaram-se em centros de outro tipo de dominao, a burguesa,
tendo a propriedade privada (dos meios de produo e da terra urbaCADERNO CRH, Salvador, n. 38, p. 79-114, jan./jun. 2003

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na) como eixo excludente. Os chamados meios de consumo coletivo,


por sua vez, muito contriburam para a desigualdade socioespacial
segregao, confinamento.
Nas configuraes contemporneas, novos ingredientes se somam ao quadro, por si s, j bastante complicado, da cidade capitalista. Aproximando-nos da chamada Idade da Informao, novos desafios so postos, mas que no anulam as antigas questes como a da desigualdade, da excluso, dos efeitos nocivos das polticas urbanas. S
que agora aparecem novas formas, sem terem-se esgotado as anteriores,
assim como so percebidos novos enfoques, novas abordagens.
Nesse sentido que ganham destaque os estudos relativos
globalizao, seus efeitos sobre a estrutura social das cidades, aqueles
voltados ao papel desempenhado pelas telecomunicaes sobre as
configuraes urbanas e sobre as sociabilidades de seus cidados.
Entre vrios autores contemporneos, Gottdiener aponta a dificuldade hoje de se distinguir o campo da cidade, uma vez que a empresa capitalista se assenhoreou de ambos, resultando conglomerados hbridos ele prefere chamar a cidade de espao de assentamento e, em
abordagem multidimensional e multidisciplinar, seu enfoque profcuo.
Com as telecomunicaes to presentes no cotidiano da vida urbana
tanto na produo (acumulao flexvel, reestruturao produtiva, espraiamento e horizontalizao das plantas industriais, funes de controle e gesto facilitadas pelo computador) quanto na vida privada (no
s a internet, como a televiso, a tv a cabo) introduziram mudanas no
tempo, na programao do cotidiano.1

Em artigo escrito em 1995, chamei a essa problemtica de A cidade do gelo - ICE,


Informao, Computador, Entretenimento, baseando-me nas declaraes de especialistas
da Andersen Consulting Infocosm que afirmavam estarmos na nova glaciao e de um
novo nomadismo, agora alegre, por conter indivduos que se deslocariam por prazer, por
vontade e no por obrigao de ir trabalhar.
Nesse artigo discuto a relativa aplicao desse alegre nomadismo ao contexto da cidade
contempornea, e no caso brasileiro, aos imensos contrastes com tal maneira de entender o
urbano.
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Talvez se possa dizer que os estudiosos se dividem entre apocalpticos e integrados no que tange a globalizao e as virtualidades do
Infocosm, parafraseando U. Eco que poca, referia-se aos meios de
comunicao de massa. Mas inegvel, como j afirmado, que novas e
velhas questes urbanas se sobrepem na cidade contempornea.
Se a tela da TV, e do computador, passam a eliminar a preponderncia dos contatos face a face; se a nova janela das casas a terceira a televiso que regula o sono, o despertar, o dia e a noite, mais
do que a prpria natureza, ou seja, se a topologia eletrnica impregna
o ambiente construdo, interpenetrando pblico e privado, no nos
esqueamos que a Revoluo Industrial e que a Cidade do perodo
fordista j haviam introduzido grandes modificaes: a multido nas
ruas, o semforo, o relgio, os horrios dos bancos, do comrcio, o
apito das fbricas, j haviam-nos afastado da natureza e colocado no
ambiente artificial; novas rotinas, novos valores, a da Mercadoria.
Simmel, Weber, Marx, Durkheim at E. Allan Poe, todos na transio para o sculo XX chamavam a ateno para essa Segunda natureza nos termos de Lefbvre.
Mas essa cidade virtual poder trazer grandes alteraes: se com
a flexibilizao, com a terceirizao, etc., os homens passarem a trabalhar em suas casas se a produo for virtual, teremos uma situao de
no emprego, no transporte, no segregao, no importncia
do sistema virio e maior significado na telefonia e na fibra tica.
Revoluo na cidade e na produo! Contudo, preciso frisar
que esse um quadro-limite, pois ainda no se generaliza essa situao, em especial se considera a situao da cidade brasileira e So Paulo, como maior cidade do pas.
Mesmo o entusiasmo daqueles que vem na informatizao da
sociedade grandes potencialidades na luta pela cidadania (por exemplo, de uma favela pode-se acessar ao Louvre pela internet), no d
para anular as profundas desigualdades sociais, embora possa vir a
constituir-se canal de comunicao e educao.
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Em se tratando da cidade brasileira, mais ainda se faz necessrio


recorrer ao arsenal clssico para entend-la e depois atualiz-lo.
Alguns autores tm trazido um novo paradigma a mostrar que
algumas cidades acabam sendo importantes nos 10% da economia
mundial, como pontos nodais de articulao econmica e cultural
exercendo papel importante: como base de capital financeiro, centro
de institutos de pesquisa e tecnologia, universidades; sede de empresas transnacionais e bancos, sede de servios especializados, volume
de viagens internacionais etc. Essas caractersticas, atribudas como
um novo paradigma o das cidades globais acaba por resultar em
descrio de atributos e enlaar efeitos sobre a estrutura social.
Apesar de criticar a aplicao pura e simples do tpico, indiscriminadamente a quaisquer cidades originadas de continentes ou estgios to diferenciados de desenvolvimento, reconhecemos que h
traos pertinentes no modelo. Mas preciso contextualizar historicamente cada cidade, seu papel regional, nacional e local, sempre alm
do internacional. (Vras, 1997).
Preteceille (1994) nos alerta para no deduzirmos que h efeitos
diretos e mecnicos da globalizao sobre a estrutura social das cidades. Nesse sentido, preciso contextualizar fragmentao e homogeneizao caminham juntas. (Vras, 1997).
No que tange s demais questes contemporneas e que so
percebidas de forma inusitada, podem ser citadas a questo da territorialidade, das alteridades e a do direito s diferenas.
A aglomerao urbana tem provocado processos de territorializao e desterritorializao. A cidade capitalista tende a expulsar moradores e o territrio uma conquista do cidado. Mais que espao
fsico, espao de construo social, identitrio. A cidadania consiste
no direito de ir e vir, mas tambm no direito de permanecer, se assim
o quiser. Dessa forma, o nomadismo dos desterrados, desalojados, s
seria aceitvel se fosse opo. No o que tem ocorrido; infelizmente,
com camponeses, favelados, ndios e inquilinos despejados ou at aCADERNO CRH, Salvador, n. 38, p. 79-114, jan./jun. 2003

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queles desapropriados, na voragem do capital financeiro e imobilirio


em remodelar a cidade capitalista.
Apesar de alguns autores, como Jordi Borja (1990), entre outros, enxergar a grande cidade como um ambiente clido, laboratrio
de idias e culturas, a fazer frente aos frios mecanismos do mercado e
da democracia formal, no se pode esquecer que a cidade capitalista
mantm suas contradies.
nesse cenrio que se destaca a questo da alteridade no enfrentamento do Outro, em seu sentido ampliado, como o no familiar, o estranho e o estrangeiro. Nesse sentido, a desigualdade socioeconmica tambm cultural e poltica determina quem outro, utilizando-se de argumentos racistas e xenfobos (Vras, 2001).
tambm nessa direo que se coloca a discusso contempornea do direito diferena, pois, to caro s esquerdas, poder ser argumento tambm utilizado pela direita para manter as desigualdades.
Na cidade contempornea cruzam-se novas e velhas questes,
cuja raiz encontra-se sobremaneira, na apropriao desigual do ambiente construdo, da cidade da velocidade, transformada em um conjunto de trajetos e itinerrios, fluxos e rotinas, pragmticos objetivos
da rapidez da circulao de dinheiro, fora de trabalho e capital. No
se trata do lugar, da memria, do identitrio. No so lugares mas
conjunto de lugares e no lugares nos termos de Marc Aug.
Por isso preciso lutar pela memria, pelo direito ao territrio,
ao lugar, dignidade do espao de viver e trabalhar, como conquista
de cidadania, se no como processo emancipatrio, ainda, mas como
indispensvel processo regulatrio.
Uma cidade um lugar em que as pessoas podem aprender a viver com desconhecidos, compartilhar experincias e interesses no familiares. A uniformidade embrutece enquanto a diversidade estimula o esprito. A cidade tambm oferece a seus moradores a possibilidade de desenvolver uma conscincia de si mais complexa e mais rica (...) no so submetidos a um esquema de
identidade imutvel. As pessoas podem desenvolver imagens mltiplas de
suas identidades, na medida em que o que so varia de acordo com as pessoCADERNO CRH, Salvador, n. 38, p. 79-114, jan./jun. 2003

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as com quem convivem. A est o poder da diversidade a liberdade de uma


identificao arbitrria, (Sennet, 2002), ou DiverCidade (Vras, 2001).

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O tema Excluso Social no novo no Brasil. Embora se possa


falar hoje da nova pobreza, de novos processos sociais contemporneos e se faa sentir entre ns a influncia dos debates europeu e
americano sobre o assunto, nossa histria traz captulos freqentes de
dominao de vastos segmentos populacionais sem cidadania. Como
diz Jos de Souza Martins,2 nossa cultura barroca de fachada, com base na conquista, exclui ndios, camponeses no campo e, na cidade,
migrantes, favelados, encortiados, sem teto, etc., em uma fenomenologia bastante conhecida.
O debate sobre o conceito de excluso social, contudo, vem
ganhando novos contornos na etapa contempornea em que os ditos
pensamentos sociolgico europeu e mesmo o norte-americano passam a conhecer mais de perto processos j familiares realidade latino-americana e, mais particularmente, brasileira. O tema nos faz
lembrar, pelas controvrsias que suscita, a frase conhecida: No creo em
brujas, pero que las hay, las hay.
O termo excluso acabou por ser algo duplamente interpretado.
De um lado, conceito to amplo, espcie de palavra-me (conceito
horizonte) que abriga vrios significados para reunir pessoas e grupos
que so abandonados, desafiliados (Castel, 1998),3 deixados de lado,
desqualificados (Serge Paugam, 1999) quer do mercado de trabalho
quer das polticas sociais etc. De outro ngulo, um conceito equivocado, atrasado, desnecessrio.
O tema da excluso social, que explodiu na Frana no incio da
dcada de 90, dirigia-se a variados objetos aos jovens da periferia, aos
2 Jos
3

de Souza Martins (1993) A chegada do estranho. So Paulo: Hucitec.


R. Castel (1998) As metamorfoses da questo social. Traduo de Iraci Poletti. Petrpolis: Vozes.
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desempregados, aos moradores de rua (sans abris) e assim por diante,


refletindo o debate sobre diversas formas de misria, dominando a
mdia e o discurso poltico desse pas de Primeiro Mundo que passava
a enfocar mais detidamente a nova questo social.4
Entre ns, contudo, o debate sobre a pobreza, misria, excluso, no-cidadania, marginalidade, opresso, desigualdade e diferena
bastante freqente e, pode-se dizer mesmo, que os discursos cientficos sobre a realidade brasileira, muitas vezes, acoplaram a anlise da
questo social (sob diferentes abordagens terico-metodolgicas) s
interpretaes relativas situao histrico-estrutural do pas: dependncia, subdesenvolvimento, falncia das polticas sociais, crise do Estado Nao, Estado mnimo.
Pretende-se abordar, nesta breve discusso, os diferentes significados dos termos utilizados no debate brasileiro sobre a questo social: pobreza, marginalidade, excluso social, em especial nas suas manifestaes urbanas.
A primeira idias a destacar a de fratura ou ruptura social se,
como diz Castel,5 a questo social desafia a capacidade de uma sociedade de existir como um conjunto, de existir com relao de interdependncia e de escapar do risco de fratura. Assim tambm, Paugam
usa o termo desqualificao social para um processo multidimensional
que designa como indivduos vo perdendo sua posio na sociedade
inclusiva, objetiva e subjetivamente em um suceder de precarizao
profissional e diferentes situaes que podem levar ruptura dos vnculos sociais.6
No caso do Brasil, a conquista (ou colonizao) j enuncia a
primeira dominao. O perodo colonial se caracteriza pela dominao burguesa, submetendo indgenas, camponeses, escravizando os
R. Castel. As armadilhas da excluso social. Traduo de Cleisa Moreno Maffei Rosa e
Maringela B. Wanderley et al. (Org.) Desigualdade e a questo social. So Paulo: EDUC, 1997.
5 Idem, 1998.
6 Serge Paugam (1991) La desqualification sociale. Paris: Presses Universitaires de France. In:
Vras, Maura (ed). Op cit., 1999.
4

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primeiros, depois os negros. Formas assimtricas marcam as nossas


relaes sociais: desigualdades econmicas, de gnero, tnicas, religiosas, culturais. Na sua multidimensionalidade, a questo social se pe
no Brasil como um problema de 500 anos, hoje agravado com as novas feies do capitalismo globalizado.
Em sugestivo trabalho, L. E. Wanderley sinaliza com clareza:
Minha tese a de que a questo social abrange determinados elementos que
historicizam a problemtica geral, abrangendo outros componentes essenciais que sero aqui entendidos como partes constituintes do seu significado.
Seminalmente ela vai emergir com o tema indgena e, logo aps, com o tema
da formao nacional, ainda que no sejam compreendidas assim pelos nossos olhos de hoje. E vai se desdobrando e se problematizando nas temticas
negra, rural, operria, da mulher (...) Mesmo no caso de sua convergncia
com a significao europia, por ocasio da implantao do capitalismo industrial no continente [latinoamericano], ela porm ser fortemente condicionada por essas proposies histrico-culturais (...) mantendo especificidades(...)7.

Indgenas banidos, massacrados, escravizados e depois transformados em minorias e em dependentes tutelados. Apesar dos direitos reconhecidos na Constituio Federal de 1988 - reconhecido o direito de organizao social, costumes, crenas, tradies e os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo Unio demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens8 - os indgenas ainda clamam por
sua cidadania na sua resistncia, lutas por identidade, memria, comeando a participar de partidos, associaes, reviso de terras, acampamentos nas cidades, buscando aliados em pases de outros continentes que apiem suas causas.
Tambm nossas relaes sociais continuam fraturadas por vrias questes como as de etnia, gnero e identidade. A forma de nossa
colonizao engendrou diferenas de raas, classes, simbolizadas na
mestiagem. A noo de alteridade muito significativa aqui para ex-

Luiz Eduardo Wanderley. A questo social no contexto da globalizao o caso latinoamericano e o


caribenho. In Maringela B. Wanerley et al., 1997, p. 60.
8 Prieto (1993), apud Wanderley, op. cit.
7

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

plicar as relaes de xenofobia e estranhamento diante do Outro (estrangeiro, imigrantes), uma nova questo nacional.
Touraine declarava o contraste entre o pensamento latinoamericano e o europeu; este se organizou durante muito tempo em torno
do tema das classes sociais como centralidade. Na Amrica Latina, a
dualizao da economia e da sociedade introduz uma dualidade de noes: a nao
o espao dos cidados, a massa o modo de existncia dos excludos. O povo a
imagem mtica de uma reunificao desejada, mas longnqua de sociedade.9
A situao do negro na sociedade brasileira permanece como
uma das mais graves e perversas fraturas: a escravido (que era tolerada pela Igreja, apesar de vozes isoladas contrrias), encarando-os como capital fixo ou circulante, na sua produtividade e seus custos. E
essa situao extrapolou o sculo XIX, marcando a insero do negro
no sculo XX. Ainda hoje, discriminao e preconceito so visveis no
mercado de trabalho e na segregao urbana. Hoje, movimentos de
defesa, resgatar razes, so freqentes.
Sem apresentar o mesmo tipo de gueto de Los Angeles ou Chicago, a cidade brasileira apresenta seus enclaves tnicos. Nos Estados
Unidos, o conceito de raa evidente e no negado (basta ter ascendente negro e assim considerado), diferentemente do Brasil, onde, conforme Silva,10 a prpria importncia da raa como categoria
analtica questionada, canalizando a interpretao do enclave tnico
para uma questo econmica apenas.
Deve-se registrar, ainda, a questo feminina, por alguns considerada a mais radical, antiga, muitas vezes acoplada questo tnica
(indgena e negra) que hoje ganha grande visibilidade poltica.

A. Touraine (1989) Palavra e sangue: poltica e sociedade na Amrica Latina. Campinas/SP:


Ed. UNICAMP, p.91, apud L. E. Wanderley, op. cit., p. 84.
10 M. Nilza Silva (1999) Mulheres negras: o preo das trajetrias de sucesso. Dissertao de Mestrado,
PUCSP.
9

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Camponeses, migrantes e, nas cidades, favelados, encortiados,


moradores das periferias tm constitudo vrios aspectos do que se
chamou de excludo, marginalizado.
Procuraremos, aqui, situar o debate no Brasil, com breves snteses das posies atuais dos principais autores que pensaram o assunto
entre ns, acompanhadas de uma compilao para apresentar o estado da arte do principal da discusso internacional.
Sem pretender aqui explorar as vrias concepes de marginalidade que vigoravam nos anos 70, necessrio, contudo, apontar referncias significativas. No assumindo o dualismo12 atrasado c moderno, no-integrado, rural x urbano, os estudos, ento, passaram a
ver as relaes econmicas e sociolgicas inerentes ao capitalismo
como13 constitutivas do sistema produtivo. As populaes marginais
aparecem, nesse contexto, como conseqncia da acumulao capitalista, um exrcito industrial de reserva singular.
11

Os estudos de L. Kowarick voltam-se aos contingentes espoliados na cidade capitalista (favelados em especial) como despojados dos
direitos mnimos de vida digna, sem cidadania, excludos dos benefcios urbanos.
Cabe destaque, no panorama dos anos 70, ainda, aos trabalhos
de Manuel T. Berlinck, Marialice M. Forachi, ao volume organizado

O termo parece ter sido usado pela primeira vez por R. Park (Human migration and the
marginal man, 1928), fiel aos princpios da Escola de Chicago, j esboados nesta
introduo. Entre outros, verificar F. H. Cardoso et al. Sobre teoria e mtodo em sociologia. So
Paulo: Cebrap, 1971, em esp. Comentrios sobre os conceitos de superpopulao relativa e
marginalidade: Luiz Pereira. Estudos sobre o Brasil contemporneo. So Paulo: Livraria Pioneira
Editora, 1971, em esp. Populaes marginais: Maria Clia Paoli. Desenvolvimento e
marginalidade. Livraria Pioneira Editora, 1974.
12 Cf. Francisco de Oliveira. A economia brasileira: crtica razo dualista (1981), em que critica
teses cepalinas, procurando reverter anlises brasileiras centradas na descrio do
subdesenvolvimento e que atriburam nossos males existncia de 2 brasis. Destaca a
importncia de F. H. Cardoso e Enzo Faletto. Dependncia e desenvolvimento na Amrica Latina
(1970). Tambm Jos Nun, Anbal Quijano, Luiz Pereira so referncias nesse sentido.
13 Capitalismo e marginalidade na Amrica Latina. (1975) Rio de Janeiro: Paz e Terra e A espoliao
urbana. (1979) Rio de Janeiro: Paz e Terra.
11

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

por Cndido Procpio F. Camargo e finalmente Janice Perlman e


Ermnia Maricato.14
Berlinck analisa as condies de vida dos segmentos pobres dos
trabalhadores em So Paulo, sua sociabilidade e mltiplas formas de
sobrevivncia e resistncia. Entre as prioridades, ento, constavam a
busca de moradia, legalizao de documentao, emprego e alimentao.
Nota-se no perodo, pois, a grande concentrao de estudos
sobre a questo da moradia favelas quer no Rio de Janeiro quer
em So Paulo. nessa dcada que surgem os primeiros estudos sobre
favelas em So Paulo (o primeiro cadastro municipal ocorre em
1973),15 como se elas fossem sintomas inequvocos dessa excluso
urbana.
Os trabalhos de Marialice Foracchi, falecida em 1972, voltavamse aos temas da juventude, da participao poltica estudantil e aos
temas educacionais, de maneira geral. Trata, pois, do destaque entre
participao/excluso e pesquisa aspectos ligados ao desemprego,
subemprego e queles que no participam criativamente da produo.
Usa como critrio a participao no mercado de trabalho e o sistema
de carncias.
Foi referncia marcante poca, o trabalho de equipe para a
Comisso Justia e Paz da Arquidiocese de So Paulo. Em especial, os
Manoel T. Berlinck. (1975) Marginalidade social e relaes de classe em So Paulo. Petrpolis:
Vozes. Cndido Procpio F. Camargo et al. (1975) So Paulo 1975 crescimento e pobreza. So
Paulo: Ed. Loyola. Marialice Foracchi (1982) A participao social dos excludos. So Paulo:
Hucitec. Janice Perlman (1977) O mito da marginalidade urbana favelas e polticas no Rio de
Janeiro. Trad. W. Portinho. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
15 No Rio de Janeiro, Lcia Valladares referncia no estudo das favelas e das polticas
habitacionais, com o livro Passa-se uma casa. Rio de Janeiro: Zahar (1978). Como
organizadora e pela Zahar do Rio de Janeiro, Valladares publicou ainda: Habitao em questo
(1980) e Repensando a habitao no Brasill (1983). Em So Paulo, Relatrio Favelas no Municpio
de So Paulo. So Paulo: Sebes, redao final de Maira Vras, 1975, Srie Cadernos Especiais
n 1. Suzana P. Taschner. 20 anos de habitao popular. Cadernos 23 LAP/FAUUSP, 1998.
Eva Blay. (org.) A luta pelo espao. So Paulo: Brasiliense, 1977. Daniel Hogan. (org.) Cidade
usos e abusos. So Paulo: Brasiliense, 1978. Ermnia Maricato. (org.) A produo capitalista da
casa e da cidade. So Paulo: Alfa e Omega, 1979.
14

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trabalhos de Lcio Kowarick e Paul Singer se dirigem caracterizao


das populaes pauperizadas no caos urbano.16
A publicao de O mito da marginalidade (Janice Perlman, 1978)
foi decisiva para a reconceituao do tema da marginalidade e da participao, explicitando que a viso funcionalista no captava os vnculos estruturais da economia e da sociedade dependentes da Amrica
Latina. Aparece, assim, a marginalidade como conseqncia de um
modelo de desenvolvimento (e subdesenvolvimento) e que (...) tem como caracterstica bsica a excluso de vastos setores da populao de seu
aparato produtivo principal.17
Ermnia Maricato mostra a dificuldade na conquista da cidadania pelo morador da cidade de So Paulo, dando destaques s questes espaciais como a produo da casa (a autoconstruo), o uso do
solo na cidade capitalista (P. Singer), a renda da terra. Nesse sentido,
chama a ateno para as formas de viver das camadas excludas, espoliadas dos benefcios urbanos.
Nos anos 80, na chamada dcada perdida, ao contrrio dos
anos 60 e 70, quando se chamava a ateno para os favelados e para a
migrao como figura emblemtica dos excludos na cidade, pelo
aumento da pobreza e da recesso econmica, ao mesmo tempo em
que se vivia a chamada transio democrtica, chama-se a ateno
para a questo da democracia, da segregao urbana (efeitos perversos
da legislao urbanstica), a importncia do territrio para a cidadania,
a falncia das ditas polticas sociais, os movimentos sociais, as lutas
sociais. Em especial, discute-se a questo espacial, o territrio, a cidadania. Continuam os estudos sobre a questo habitacional (em So

Verificar Lcio Kowarick. A lgica da desordem. In: Espoliao urbana. (1979). Paul Singer
(1976) Economia Poltica da urbanizao.
17 Janice Perlman. Op. cit., p. 195 (grifos nossos).
16

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

Paulo, a crise do BNH, favelas, loteamentos clandestinos e cortios) e


a excluso poltica da vida sindical dos trabalhadores, da vida civil.18
Sem querer pretender expor aqui a vasta produo dessa dcada, citam-se algumas principais referncias nos autores Milton Santos,
Lcio Kowarick, Pedro Jacobi, Jos lvaro Moiss, Francisco de Oliveira, Eva Blay, Lcia Valladares, Alba Zaluar, Ermnia Maricato, Raquel Rolnik, Paul Singer19 e outros. Deve-se fazer referncia tambm a
Michelle Perrot, cujo livro Os excludos da histria: operrios, mulheres e prisioneiros foi traduzido por D. Bottman para a Paz e Terra
em 1988.
Entre a vastssima obra de Milton Santos, versando sobre muitos temas correlatos, a urbanizao (a especificidade do fenmeno urbano em pases subdesenvolvidos), as relaes entre espao e cidadania.20 Pretendendo contribuir para a redemocratizao brasileira, o autor chama a ateno para o peso do lugar, do territrio (intraurbano, sobretudo) e, desse ngulo, a questo da cidadania.
O componente territorial implica no s que seus habitantes
devam ter acesso aos bens e servios indispensveis, mas que haja
uma adequada gesto deles, assegurando tais benefcios coletividade.
Aponta que o terceiro mundo tem no cidados (particularmente o
milagre econmico brasileiro agravou os contrastes entre massa de
pobres e a concentrao de riqueza), porque se funda na sociedade do
consumo, da mercantilizao, em alienao, em cidadania mutilada.21
Cada homem vale pelo lugar onde est. O seu valor como produtor, consumidor,
cidado depende de sua localizao no territrio (...) A possibilidade de ser mais

Entre muitos autores, M. de Lourdes M. Covre (org.) A cidadania que no temos. So Paulo:
Brasiliense, 1986, em que participo, juntamente com Nabil Bonduki, tratando da questo
habitacional, as polticas oficiais e as lutas pelo direito moradia.
19 Paul Singer (1980) Economia poltica da urbanizao. So Paulo: Brasiliense. Em especial:
Urbanizao, dependncia e marginalidade na Amrica Latina.
20 Milton Santos (1987) O espao do cidado. So Paulo: Nobel.
21 Milton Santos, Op. cit., p. 19. O autor no utiliza explicitamente o termo excluso.
18

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ou menos cidado depende, em larga proporo, do ponto do territrio onde se est.22


Esse componente espacial da pobreza, pois, resolver-se-ia pelo
direito mobilidade e a acessibilidade seria condio de cidadania. H
em todas as cidades, uma parcela da populao que no dispes de condies para
se transferir da casa onde mora, isto , para mudar de bairro e que pode ser explicada a sua pobreza pelo fato de o bairro de sua residncia no contar com servios
pblicos.23
As condies existentes nesta ou naquela regio determinam essa desigualdade no valor de cada pessoa, tais distores contribuindo
para que o homem passe literalmente a valer em funo do lugar onde
vive. Essas distores devem ser corrigidas em nome da cidadania.24
curioso que a cidadania, por outro lado, tambm o direito
de permanecer no lugar, no seu territrio identitrio, o direito a seu
espao de memria. O capitalismo predatrio e as polticas urbanas
que privilegiam interesses privados e o sistema de circulao acabaram, muitas vezes, por descaracterizar bairros, expulsar moradores
como favelados (remoo por obra pblica, reintegrao de posse),
encortiados (despejos, remoo, demolies), moradores de loteamento irregulares, sem teto, num nomadismo sem direito s razes.25
Pedro Jacobi desenvolve seus trabalhos sobre a questo dos
movimentos sociais urbanos e as carncias de habitao, equipamentos de sade, escola, lazer, enfim, dos servios urbanos. Assim, a excluso aparece como no-acesso aos benefcios da urbanizao.26
Mostrando a situao de periferizao das classes populares, a segregao, como frutos da urbanizao espoliativa, e onde a tnica dominanIbidem, p. 81.
Ibidem, p. 85.
24 Ibidem, p. 112
25 Cf. Maura Vras. Os impasses da crise habitacional em So Paulo ou os nmades urbanos
no limiar do sculo XXI. Revista so Paulo em Perspectiva, v. 1 1 Seade, So Paulo, 1987.
26 Pedro R. Jacobi. Wexcluso urbana e lutas pelo direito moradia. Revista Espao e
Debates, ano 2, n 7, So Paulo, NERU, 1982, p. 53-70.
22
23

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

te a excluso de grande parcela da populao dos benefcios urbanos.27 Nesse


sentido, favelas, cortios e loteamentos clandestinos aparecem como
testemunhas da dinmica excludente na cidade de So Paulo28 e provocam mobilizaes populares, lutas sociais.
Tambm Lcio Kowarick prossegue na produo de conhecimento sobre as diferentes formas excludentes da questo urbana. Sua
tese de livre-docncia aborda a contribuio das categorias de trabalhadores escravos, prias e proletrios29 - e, em outra obra, analisa
sobretudo as lutas sociais que ocorrem na cidade.30 Neste caso, o interesse vai para os processos de redemocratizao da sociedade, focando vrias experincias, diversas construes de identidade dos
grupos populares ao se mobilizarem reivindicando sua cidadania. Situando So Paulo como metrpole do subdesenvolvimento industrializado, vo percorrendo, na histria da cidade, as crises de moradia, as
periferias, as greves, o espao poltico do sindicato e os movimentos
de reivindicao urbana.
Por outro lado, a pesquisa sobre a populao de rua se inicia
nos finais da dcada de 80 e ir acrescentar novos elementos ao debate que se desenvolve na ltima dcada do sculo.
No caso brasileiro, o exame da totalidade de trabalhos sobre o
tema nesta dcada no caberia neste breve ensaio. Limitamo-nos a
apontar algumas referncias, mas que so significativas na construo
e no debate dessa questo social hoje.
Iniciamos o debate com a sugestiva proposta de Jos de Souza
Martins,31 segundo a qual o termo excluso social passou a ser um rIbidem, p. 53.
Kowarick. (1985) O preo do progresso: crescimento econmico, pauperizao e
espoliao urbana. In Cidade, povo e poder. So Paulo: Cedec, Paz e Terra. L. Kowarick, Clara
Ant e Maura Vras. (1980). O cortio sua histria e atualidade. So Paulo: Sempla. (mimeo)
29 Publicado como Trabalho e vadiagem origem do trabalho livre no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1983.
30 Idem. As lutas sociais e a cidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 19888. Este trabalho foi
revisto e ampliado em 1994.
31 (1997) Excluso social e a nova desigualdade. So Paulo: Editora Paulus.
27

28 L.

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tulo deus/demnio responsvel e explicativo de tudo e por tudo,


no debate dos anos 90. Criticando acerbamente a prtica corrente em
rotular fantasiosa e rigidamente, esse Autor procura, nesta obra, contrapor o rtulo s referncias do vivido e descobrir, ao falar aos educadores populares, as
brechas que se abrem na prxis de um vivido capaz de transformar a v ida e o
mundo e dar sentido esperana radical do homem que se humaniza e se liberta a si mesmo de carncias, de pobrezas, na luta de todos os dias, vivente
de distintos tipos de excluso. 32

Nesse sentido, a crtica se faz coisificao e fetichizao


conceitual, pois que esta conduziria menos expresso de uma prtica
e mais a induo a uma prtica. Definindo-se em perspectiva sociolgica e poltica e, nesse sentido, afastando-se de privilegiar enfoques
e reducionismos economicistas justifica ser esse o mbito da interveno eficaz da sociedade civil, do povo e daqueles que so vagamente
definidos como excludos, porque nesse campo que so reivindicados os
direitos sociais. Nesse sentido, a reflexo sociolgica, abordando a relao poltica entre sociedade e Estado, foca as contradies que poderiam criar condies de ao eficaz dos dominados.
Visto desse ngulo, o reducionismo interpretativo do conceito
de excluso economia substitui a idia de processo de excluso (integrativa ou modo marginal de insero).
O rtulo acaba se sobrepondo ao movimento que parece empurrar as pessoas, os pobres, os fracos, para fora da sociedade, para fora de suas melhores? e mais justas e corretas relaes sociais, privando-os dos direitos que
do sentido a essas relaes. Quando, de fato, esse movimento as est empurrando para dentro, para a condio subalterna de reprodutores mecnicos do sistema econmico, reprodutores que no reivindicam nem protestam em face de privaes, injustias e carncias.33

Chama-se a ateno, aqui, para que o termo excluso seja concebido como expresso das contradies do sistema capitalista e no
como estado de fatalidade. E preciso vivenciar a contradio que se
32

Martins, J. de S. Op. cit., p. 10.


J. de S. Op. cit., pp. 16, 17.

33 Martins,

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

expressa na excluso, desenvolvendo algum nvel de conscincia da

contradio que se vive ao agir.


H um conceito correlacionado intimamente excluso que o
de pobreza; mas esta, hoje, mudou de nome e de forma. Alm de ser
a privao: de emprego, meios para participar do mercado de consumo, bem-estar, direitos, liberdade, esperana e outros itens necessrios vida digna, a pobreza recebe, hoje, uma dimenso moral, no
oferecendo mais alternativa e nem mesmo a possibilidade remota de
ascenso social. Mesmo havendo certa relatividade na demarcao entre ricos e pobres, parece haver uma condenao irremedivel pobreza, o que faz que os pobres prefiram no se reconhecer como tais.
O discurso redutor do carter redentor da pobreza digna j no comove nem convence.34
Martins aponta que, no Brasil, polticas econmicas atuais, que
poderiamchamar-se neoliberais, acabam por provocar, no polticas
de excluso e, sim, polticas de incluso precria e marginal, ou seja,
incluem pessoas nos (...) processos econmicos, na produo e na circulao de
bens e servios estritamente em termos daquilo que racionalmente conveniente e
necessrio mais eficiente (e barata) reproduo do capital.35
Dessa forma, atenuam o carter perigoso das classes dominadas
que, assim, vem-se menos inclinadas ao conflito social, adequando-as
ao funcionamento da ordem poltica, em favor dos dominantes.
A nova desigualdade, portanto, necessita ser analisada atravs
de uma fenomenologia dos processos sociais excludentes, porque,
alm de se produzirem e (re)produzirem relaes marginais, cria-se
tambm um universo ideolgico no imaginrio da sociedade de consumo. O exemplo citado por Martins o de que, atravs do mesmo
toque de boto de televiso, h a capacidade de transportar-se o favelado e o milionrio, simultaneamente, ao mesmo mundo fantasioso e

34
35

Ibidem, p. 19.
Ibidem, p. 20.
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colorido das fices da comunicao de massa, permitindo certa unificao ideolgica, apesar das desigualdade material.
O destaque dado pelo Autor fora da colonizao do imaginrio do homem comum, atravs do consumismo dirigido, dirige-se
caracterizao de que a nova desigualdade gera dois mundos, uma sociedade dupla, de duas partes que se excluem reciprocamente, mas parecidas por conterem algumas mesmas mercadorias e as mesmas idias individualistas e competitivas. S que as oportunidades no so iguais, o valor dos bens diferente, a ascenso social bloqueada. Apesar disso, um bloco de idias falso, enganador e mercantilizado acena para o homem moderno colonizado que passa a imitar, mimetizar os ricos e a pensar que nisso reside a igualdade.36
a sociedade da imitao, da reprodutibilidade e da vulgarizao, no lugar da criao e do sonho.
Em sntese, considerando que o conceito de excluso um equvoco, uma fetichizao que retrata imperfeitamente processos de
incluso, precria, instvel e marginal, no conunto das dificuldades e
dos lugares residuais na sociedade atual, Martins conclui que a palavra
excluso no nova.A sociedade capitalista nasce com excludos;
sua mxima respeitar o mercado, desenraizando e brutalizando a todos essa a sua regra estruturante para depois incluir, segundo sua
prpria lgica. O campons, por exemplo, vai para a cidade pretendendo ser operrio industrial. S que a nova dinmica capitalista exclui e
demora para incluir e a comea a tornar visvel o que se chamou de
excluso. Em outras palavras, o momento transitrio da passagem de
excluso est se transformando num modo de vida que permanece: o
modo de vida do excludo que no consegue ser reincludo. E tal modo
de vida compromete sua dignidade, sua capacidade de ser cidado, sua
condio humana, do ponto de vista moral e poltico.

Ver Morin, E. (1969). Cultura de massas no sculo XX. Rio de Janeiro: Forense e tambm
Lefbvre, U. (1972) La vida cotidiana em el mundo moderno. Madri: AlianzaEditorial.

36

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

Alm da humanidade formada de integrados (ricos e pobres),


inseridos de algum modo no circuito das atividades econmicas e
com direitos reconhecidos, h uma outra humanidade no Brasil, crescendo rpida e tristemente atravs do trabalho precrio, no pequeno
comrcio, no setor de servios mal pagos, tratados como cidados de
segunda classe (underclass na leitura anglosaxnica, excludos na
francesa).
Entre esses dois mundos, uma fratura cada vez maior e difcil
de ultrapassar.
Sem pretender explorar aqui vasto assunto, da cidade global,
destacamos a questo social envolvida na problemtica das grandes
cidades e seu papel internacional. Vrios autores tm relacionado como uma de suas principais caractersticas uma dualizao social (Castells e Mollenkof) ou uma polarizao social, ou seja, aqueles, que apostam que a globalizao e a financeirizao da economia se fazem
sentir sobre a estrutura social das cidades, apontam que o mercado de
trabalho se fratura, fazendo aumentar a procura daqueles indivduos
altamente qualificados, exigidos pelo setor de ponta da economia, e ligado aos servios especializados, gesto e controle do capital, s atividades tecnolgicas avanadas. Em contrapartida, os noqualificados tenderiam a ser sobrantes, operrios industriais outrora
qualificados so agora residuais. Classes mdias tenderiam a diminuir,
substituindo a representao grfica clssica da pirmide social por
um tipo de sociedade de contorno de ampulheta, com dois plos configurados e estreitando-se os seus mdios.
Embora esse modelo possa ser relativizado e se deva sempre
contextualizar a cidade mundial de que se trata, porque as coordenadas histrico-sociais pesam, bem como as relaes com a economia
nacional e regional, bem como o papel do Estado-nao no pode ser
desprezado, indiscutvel que se assiste hoje a esses traos presentes
em muitas cidades mundiais.

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Como vimos, Preteceille37 afirma que a cidade global no segue


apenas um nico modelo e que os efeitos da globalizao no so diretos e nem vo sempre no mesmo sentido. Assim, a polarizao social pode acontecer em algumas delas, mas tambm ocorrem segmentao e fragmentao. Desse modo, o desenvolvimento do comrcio,
do tercirio sofisticado, as funes da pesquisa e o desenvolvimento
das empresas, os servios subsidirios,, podem tambm aumentar e
desfigurar o anunciado modelo de ampulheta da chamada polarizao,
pela presena de estratos mdios, superiores e inferiores da estrutura
social.
Refletindo sobre essa nova etapa vivida pelo mundo global,
Francisco de Oliveira38 identifica que se chegou a limites superiores
do capitalismo desenvolvido, sem ter atingido seus patamares mnimos: vanguarda do atraso da vanguarda. Pensar a Amrica Latina, por exemplo, deve ser feito no apenas levando em conta suas contradies internas, mas tambm o cruzamento com o capitalismo internacional, para que se d conta da singularidade do subdesenvolvimento. A
primeira das caractersticas da vanguarda do atraso estaria na incapacidade regulatria do Estado que perde a possibilidade de regulamentar o sistema econmica em suas reas poltico-territoriais e se torna
presa fcil da violncia privada (...) e que as classes dominantes nacionais
acabaram por dissolver-se no amplo conjunto das foras dominantes
em nvel global (...) Mas isto no se fez sem um alto preo a pagar pelas classes dominadas (...) a caracterstica central da contradio latino-americana, explicitada e posta em marcha pelas polticas econmicas chamadas neoliberais, a excluso.39

37 Cidades

globais e segmentao social. In: Queiroz Ribeiro, L. C. e Santos Jr., (1994)


Globalizao, fragmentao e reforma urbana. Rio de Janeiro: Ed. Civilizao Brasileira.
38 Vanguarda do atraso e atraso da vanguarda: globalizao e neoliberalismo na Amrica
Latina. Texto preparado para a conferncia magistral no XXI CONGRESSO DA
ASSOCIAO LATINO-AMERICANA DE SOCIOLOGIA ALAS So Paulo, setembro de
1997.
39 Oliveira, F. de Op. cit., p. 6-7 (grifos nossos).
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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

106

Sem que tivssemos conhecido propriamente um Estado de


Welfare, polticas ditas integradoras pouco incluram. Na Amrica Latina, as taxas de desemprego aberto e disfarado alcanam nveis entre
30% e 50% da PEA40 e, apesar da euforia do Plano Real, e aps a sua
crise, a eroso salarial e a falta de reajuste desmentem o sucesso da
poltica anti-inflacionria. Abre-se para o capital financeiro estrangeiro
especulativo, aumenta a dvida externa e interna, consumindo boa
parte dos recursos fiscais. A armadilha se completa. O crculo se fecha. A condio do xito da poltica monetria garrotear qualquer
gasto social e, por isso, no poltica social.
Em pases como os nossos, com desigualdades abismais entre as vrias classes sociais, esse tipo e poltica transforma-se em excluso; antes o termo
poderia ser contestado, posto que, mais mal do que bem, assim mesmo as
polticas tentavam incluir progressivamente as populaes e classes sociais
no mercado, na cultura, na cidadania, enfim, a integrao se dava por formas
excludentes que criaram as grandes maiorias pobres da Amrica Latina; os
vrios recortes do mercado de trabalho mostravam essa integrao por excluso: negros no Brasil, mulheres em toda a Amrica Latina, os ndios de
variada extrao na Amrica Latina, os mestios, a infncia, as cortes generacionais (...) O mercado reificava como atributos dos indivduos e das classes
o que eram as taras histricas da desigualdade e da no-cidadania na Amrica
Latina.41

Atualmente, criou-se at o neologismo inempregveis para


referir-se aos contingentes que, na nova ordem globalizada em que se
insere o Brasil, no tero nenhuma vez, uma certa viso fatalstica de
que a chamada reestruturao produtiva dividir os grupos entre assimilveis (empregveis) e largo grupo excludo. Francisco de Oliveira
estima que cerca de 50% da populao economicamente ativa estariam condenados marginalizao.
A excluso social, assim, aparece como a face econmica do
neoliberalismo globalizado na Amrica Latina e no Brasil e para ela
no h nenhuma poltica assistencialista porque, segundo Oliveira, as
classes dominantes desistiram de integr-la quer produo quer ci40

F. Oliveira. Op. cit. Populao economicamente ativa, p. 8.


p. 9-10.

41 Ibidem,

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dadania. Pretendem, sim, segregar, confinar, em verdadeiro apartheid


entre classes, um crescente distanciamento e incomunicabilidade, trao construdo socialmente.
Surge uma nova estamentalizao da sociedade fragmentada,
havendo uma certa sociabilidade da apartao e do confinamento e a
comunicao meditica substitui a construo da esfera pblica,
pois, muitas vezes, a denncia e o acompanhamento de questes pblicas, desde as guerras at as CPIs, se transformam apenas em espetculos; a mdia se autodeclarando vigilante dos interesses populares (ou
direitos humanos, s vezes), evidenciando-se, assim, a fratura da realidade social e substituindo o monoplio legal da violncia em monoplio privado da violncia.42
E os pobres passam a desconfiar de si prprios, numa culpabilidade popular: caminhando sobre o cho pavimentado pelo preconceito dos pobres contra os pobres, as classes dominantes no Brasil
comearam a extravasar uma subjetividade anti-pblica que segrega,
elabora pela comunicao meditica uma ideologia anti-estatal,43 fundada no grande desenvolvimento capitalista, na desindustrializao, na
terceirizao superior, da dilapidao financeira do Estado e da imagem de um Estado devedor. E, assim, segrega-se a idia da desnecessidade do pblico. O mercado parece sobrepor-se ao Estado, sugerindo que as burguesias brasileiras acreditam que podem passar sem
ele porque pensam que j o Estado depende delas ou da prpria associao entre si e o capital internacional.
Dessa forma, acredita F. de Oliveira que o sentido mais profundo da excluso est ligado ao desejo dos burgueses brasileiros de
mostrar que os dominados so diferentes, segregando-os, nem se preocupando mais em legitimar sua dominao na clssica frmula de
coero e consenso. Deixam-nos parte, proibindo o dissenso, por42 O

autor faz aqui referncia ao conceito de Estado em M. Weber (1970) Poltica como
vocao. So Paulo: Ed. Cultrix. como o detentor do monoplio legal da violncia.
43 Oliveira, F. de. Op. cit., 1997:15.
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que o social deve subordinar-se ao econmico e aproximando-se


mais de totalitarismo que de hegemonia (em termos Gramscianos).
O apartheid se caracteriza pela criao de um campo semntico em que os
significados dos direitos e conquistas civilizatrios, plasmados em direitos
sociais, trabalhistas, civis e polticos so transformados em fatores causais da
misria , pobreza e excluso, em obstculo ao desenvolvimento econmico e
mais, so transformados em ausncia de cidadania. A proteo social, por
exemplo, transforma-se em custo Brasil.44

Outro autor, partindo de uma preocupao de construir epistemologicamente e sociologicamente o conceito de excluso social, Luciano Oliveira acaba por concordar com vrias das posies at
aqui esboadas pelos autores citados e oferece um bom panorama da
questo, em interessante artigo.45
Citando que o fenmeno assume feies dramticas, tambm
no mundo desenvolvido (o caso da Frana importante registro por
trazer expresses dirigidas s pessoas pobres como quarto mundo,
nova pobreza e a prpria excluso, desde os anos 60), e parece reconhecer uma especificidade gerada a partir da dcada de 80, como um
desemprego estrutural que quase um subproduto do prprio avano
cientfico e tecnolgico (que libera mo-de-obra) e da precarizao de
relao de trabalho. No Brasil, sobretudo, h uma nova ciso que a
de includos x excludos.
Como j foi exposto por outros autores, o balano dos diversos
significados atribudos ao termo demonstra uma ampla difuso de usos, abrangendo desde o sentido de minorias (negros, homossexuais,
deficientes fsicos), como desempregados, pobres, sem-habitao,
sem-teto etc. Tradicionalmente, o termo se aplicou a favelados, menino de rua, catadores de lixo, periferias, um lmpen, ou a um certo tipo
de privao, discriminao ou banimento.

Ibidem, p. 12.
Os excludos existem? Notas sobre a elaborao de um novo conceito. Revista Brasileira de
Cincias Sociais. So Paulo, ANPOCS, n 33, ano 12, fevereiro de 1997, p. 49-60.

44
45

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Se a excluso, lato sensu, quase permanentemente esteve ligada


ao modo de produo capitalista, como j visto, contemporaneamente
pode-se falar de uma nova excluso46 com uma dupla face: de um
lado, a no-insero no mundo do trabalho se expressa pelo fato de
que alguns contingentes (pela baixa qualificao) tornam-se desnecessrios economicamente, mesmo que novas tecnologias possam
empregar parcialmente alguns deles e, por outro lado, abate-se sobre
eles um estigma por viverem em condies precrias e subhumanas
em relao aos padres normais de sociabilidade, de que so perigosos ameaadores e, por isso mesmo, passveis de serem eliminados.47
O Autor procura treinar o olhar para identificar o fenmeno e
aperfeioar a construo do conceito. Iniciando pela posio hegemnica das Cincias Sociais entre ns, desde os anos 70, que a marxista, nas vrias acepes, a diviso em dois grupos includos e excludos representaria uma viso dualista, amplamente criticada. Atribuir-se-ia, assim, a causa acumulao global. O conceito de populao suprflua relativa, do exrcito industrial de reserva, ainda
guardava uma relao com a acumulao capitalista, funcional ao sistema, conforme o clssico trabalho de F. Oliveira, Economia brasileira
crtica razo dualista.48
Esse lumprenproletariat, alm de gerado pelo processo de acumulao, funcional ao sistema, no apenas enquanto exrcito industrial de reserva, como
queria Marx, mas tambm, nas condies brasileiras, enquanto fator que vai
permitir que os segmentos integrados ao setor dinmico da economia dos
quais convm no esquecer as classes mdias se beneficiem de uma mode-obra superexplorada, que vai lhes prestar servios a custos baixssimos,
liberando assim, mais recursos que sero realocados (na compra de bens de
consumo durveis, por exemplo) no setor dinmico.49

Nascimento, Elimar. Hiptese sobre a nova excluso social. Cadernos CHR, n 21,
Salvador, 1994.
47 Oliveira, Luciano. Op. Cit., p. 52.
48 Oliveira, Francisco. (1981) Economia Brasileira crtica razo dualista. Petrpolis. RJ.:
Vozes/Cebrap.
49 Oliveira, Luciano. Op. cit., p. 53.
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A situao, hoje, parece sugerir que esse exrcito industrial de


reserva tornou-se desnecessrio economicamente e da o termo excluso, pois no seria mais reserva e constituir-se-ia em estorvo. Isso, em
parte, pode ser verdade, embora haja indcio de que at por vias mais
perversas possveis, h certa articulao com a economia. Nesse sentido, s iriam constituir-se como excludos de fato, aqueles de quem
no se pudesse extrair nenhum centavo de mais-valia.
Alm disso, outra tica acaba por olhar os excludos como aqum da humanidade, ou seja, sua desumanidade e, segundo Hannah Arendt, tambm a subhumanidade desses contingentes traz conseuquncias polticas, pois eles, semelhana dos judeus aptridas,
no teriam um lugar peculiar no mundo.50
Ademais, tais contingentes gerariam um sentimento de hostilidade, desconfiana, irritao e medo por parte dos outros setores da
sociedade, espcie de fomento de idias neozistas, pois tambm tais
setores acabam por sentir-se ameaados. Isso gera, igualmente, uma
demanda maior de servios de segurana e represso, canalizando as
energias mais para a conteno dos efeitos perversos do que para a
resoluo das causas da questo social.
Tentando concluir, Luciano Oliveira afirma que para entender
as causas, o ponto de vista do antidualismo mais apropriado, pois
evita a ingenuidade de querer explicar a misria pela culpa dos miserveis (ou pelo senso comum ou pelo moralismo).
No que tange aos efeitos, contudo, o dualismo entre excludos e
no excludos til, pois d conta de vasta fenomenologia. Ainda acrescenta-se ao debate que o reducionismo econmico no permite
abranger a dimenso tico-poltica da questo e s esta poder fundamentar e resgatar a conquista da incluso.
Essas consideraes, assim como as de Jos de Souza Martins,
j citadas, permitem perceber como a sociedade acaba se acostuman50 Arendt,

Hannah. (1990). As origens do totalitarismo. So Paulo: Companhia das Letras.


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do com a dualidade, quase permanente, o que se depreende do aumento substantivo dos gastos com segurana, transformando-os em
florescente rea de investimento (vigilncia, eletrnica, blindagem de automveis,
guardas privados etc. (...) O conceito de excluso tem uma razo terica, mas, sobretudo, tica e poltica: ele que nos interpela sobre a natureza da polis que estamos construindo.51
Convm registrar a grande contribuio para o debate dos anos
90 sobre o conceito de excluso, realizada por Aldaza Sposati52 que
procura espacializar a desigualdade do espao urbano no municpio de
So Paulo, utilizando de metodologia cuidadosa e multidimensional,
combinando indicadores de autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano e equidade. Procura chamar a ateno para a percepo dos profundos contrastes da cidade de So Pulo e fundamentar a importncia de uma lei orgnica de assistncia social.
Lcio Kowarick atualiza a pesquisa sobre o tema da desigualdade e iniqidade sociais, contextualizando-o no subdesenvolvimento
industrializado, na existncia do subcidado pblico.53
H ainda, vrios trabalhos recentes54 sobre o tema da excluso
social; destes, pode-se citar a publicao de diferentes textos sobre
pesquisas a respeito do tema por equipe do Rio Grande do Sul,55 en51 Oliveira,

Luciano. Op. cit., p. 60.


Aldaza (coord.) (1996). Mapa da excluso/incluso social da cidade de So Paulo.
So Paulo: EDUC.
53 Kowarick, Lcia. Cidado privado e subcidado pblico. Revista So Paulo em Perspectiva,
v. 5, n 2, abril-junho/1991. Ver tambm L. Kowarick e M. Campanrios. So Paulo:
metrpole do subdesenvolvimento industrializado do milagre crise. In Kowarick, L.
(org.) As lutas sociais e a cidade. 2 edio revista e atualizada em 1994. Rio de Janeiro: Paz
e Terra.
54 As pesquisa sobre a populao de rua, segmento identificado com a chamada excluso
social, trouxeram contribuio ao debate em So Paulo. Vera Silva Telles tambm marca
um importante captulo na discusso sobre a pobreza entre ns. Sua tese de doutorado, A
cidadania inexistente. Incivilidade e pobreza um estudo sobre o trabalho e a famlia na Grande So
Paulo. Departamento de Sociologia-USP, 1992, aborda as questes do trabalho e estratgias
familiares na regio metropolitana de So Paulo. Devem ser citados tambm:Vieira, M.
Antonieta C., Bezerra, Eneida e Rosa, Cleisa M. M. (1992) Populao de rua: quem , como vive e
como vista? So Paulo: Hucitec, Yazbek, M. Carmelita. (1993) Classes subalternas e assitncia
social. So Paulo: Cortez Editora.
55 Zarth, Paulo Afonso et. al. (1998). Os caminhos da excluso social. Iju: Editora UNIJUI.
52 Sposati,

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SOCIEDADE URBANA: DESIGUALDADE E EXCLUSO SOCIAIS

focando assuntos correlatos como o impacto da globalizao e das


novas tecnologias, o desemprego, o subemprego, a discriminao tnica, os conflitos sociais e polticas pblicas, em perspectiva histrica,
antropolgica e sociolgica. Em captulo terico, Bonetti56 aponta a
excluso como decorrente de uma mudana na estrutura social, da
perda de possibilidade de participao quer na estrutura produtiva
quer cultural. Os sujeitos sociais, grupos ou classes so submetidos a
uma homogeneizao provocada pelas polticas pblicas.
Finalmente, resta tambm referir o significativo trabalho publicado em 1994 de Elimar Pinheiro do Nascimento do Nascimento A
excluso social no Brasil: algumas hipteses de trabalho e quatro sugestes prticas
- Cadernos do CEAS Centro de Estudos da Ao Social-, n. 152,
Salvador/BA, 1994.57
Segundo Jos de Souza Martins (1997), esse autor, falando da
nova excluso, atribui ao excludo o fato de estar em situao de
carncia material, mas, sobretudo, (...) ser aquele que no reconhecido como
sujeito, que estigmatizado, considerado nefasto ou perigoso sociedade. Martins
considera, entretanto, que uma categoria social ou grupo no pode ser reconhecido como sujeito se no se reconhece a si mesmo como sujeito.58 Martins atribui
ao fato da participao na esfera do consumo levar muitos indivduos
a se sentirem como includos subjetivamente, embora estejam nas
categorias de fato consideradas excludas. Ainda acresce esse Autor,
que o termo excluso foi precedido, na reflexo brasileira, das categorias prvias de pobreza e de marginalidade social e que, segundo ele,
influenciaram at mesmo as produes francesas referenciais.
Cabe-nos, portanto, atualizar esse debate, produzir pesquisas
para verificar do acerto de nossas hipteses e, principalmente, trabalhar para a erradicao desses processos sociais excludentes.
(Recebido para publicao em maio de 2003)
(Aceito em junho de 2003)
Bonetti, Lindomar W. (1998) Estado e excluso social hoje. In Zarth, Paulo Afonso, Op. cit.
tambm desse autor: A excluso social na Frana e no Brasil: situaes
(aparentemente) invertidas, resultados (quase) similares? In Eli Diniz et al. (1994). O Brasil
no rastro da crise. So Paulo: Anpocs, Ipea, Hucitec.
58 J. de Souza Martins, 1997: 16:17.
56

57 Ver

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