5 - O Pai Na Psicoterapia
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inseguro e incerto de seu papel na famlia. Dessa maneira, o pai tende a se retirar da famlia,
deixando as decises me, assim fortalecendo fatalmente o seu animus.
Alm disso, valores que pertencem ao pai trans-pessoal, ao mundo do pai, so
questionados e atacados: lei, ordem, disciplina, autocontrole, moralidade, assumir
responsabilidades, ter responsabilidades, so todos questionados e at tm sido declarados
como danosos ao desenvolvimento individual. Outros valores do mundo paterno tm tambm
sido atacados: por exemplo, a coragem dos pilotos, dizem, relaciona-se com o lado negativo do
puer aeternus, com uma compulso para voar nas nuvens, longe da realidade da vida; a
coragem necessria para a escalada de montanhas, dizem-nos, tem algo a ver com um desejo de
vencer a me e pisotear seus seios. Motivos e motivaes infantis esto sem dvidas contidos
em todos esses atos, mas tanta ateno tem sido dada ao lado sombrio negativo - esquecendose do corpo que o projeta - em certos escritos psicolgicos que este infiltrou-se na atitude geral
como algo exclusivo.
O Dr. Bruno Betthlheim, psicanalista austraco e professor de Psicologia Educacional
na Universidade de Chicago, foi aprisionado num campo de concentrao por vrios anos. Em
seu livro The Informed Heart ele descreve suas experincias e as concluses a que chegou com
respeito a alguns aspectos da teoria psicanaltica:
Enquanto estava no campo, no me preocupava muito em saber se a teoria
psicoanaltica era adequada; preocupava-me apenas com o problema de sobreviver e
proteger minha existncia fsica e mora. Dessa maneira, o que me ocorreu primeiro foi a
percepo de que aquelas pessoas que, de acordo com a teoria psicanaltica como ento a
entendia, manter-se-iam melhor sob os rigores da existncia no campo, eram muitas vezes
exemplos bastante pobres de comportamento humano sob extrema tenso. Outros que, de
acordo com o mesmo corpo de teorias e previses, se dariam mal, apresentavam exemplos
brilhantes de coragem e dignidade humanas.
No dava certo, sob as condies prevalecentes nos campos de concentrao, encarar
aes corajosas e criadoras de vida como resultado do instinto de morte, agresso voltada
contra si mesmo, teste da indestrutibilidade do corpo, negao megalomanaca do perigo,
alimentao histrinica do prprio narcisismo, ou qualquer outra categoria sob a qual a
devesse ser concebida pela psicanlise. Essas e outras interpretaes tm validade em termos
de psicologia profunda ou psicologia do inconsciente, e certamente aplicavam-se, no caso.
Encarar o comportamento corajoso de um prisioneiro unicamente a partir do prisma da
anlise profunda parecia ridiculamente fora de questo. Nesses termos, a psicanlise ficou
muito aqum do que eu esperava.
O pai arquetpico desapareceu no inconsciente, est reprimido e, por essa razo, est
causando distrbios, confuso e sintomas desagradveis. O pai pessoal, de acordo com os
relatos dos assistentes sociais, est tambm desaparecendo. Na Gr-Bretanha e nos Estados
Unidos, observa-se a alta incidncia de abandono, separao e divrcio, e os efeitos que isso
provoca na me e nos filhos; estes sentem a indignao e a aflio da me; uma imagem
negativa irreal do pai lhes apresentada por ela, muitas vezes reforada por experincias
pessoais infelizes, um sentimento de vergonha ativado na criana por no ter sido capaz de
cativar a afeio do pai, assim como por ser diferente das outras crianas. Em conseqncia,
tanto a menina como o menino passam a no confiar na possibilidade de estabelecer um
relacionamento com o sexo oposto; a menina pode ficar com medo de homem para o resto da
vida, e o menino sente dificuldade para desenvolver seus prprios poderes masculinos e confiar
neles, pois o ideal masculino na pessoa do pai foi destrudo.
Essas dificuldades que assaltam a me e as crianas abandonadas j tm sido notadas h
certo tempo. Muito raramente, no entanto, encontra-se qualquer meno aos problemas do paimarido que o afastaram de sua famlia. Nos Estados Unidos, parece que uma alta percentagem
de homens deixou suas famlias depois da entrada permanente de suas sogras no lar. Uma forma
mais grave de ausncia ocorre em nossa sociedade atual, devido ao fato de os pais trabalharem
to longe de casa que sua famlia, ou pelo menos seus filhos, raramente os vem.
Quando o desaparecimento do pai ocasionado por sua morte, particularmente se foi
um heri de guerra, a me pode apresentar uma imagem irreal e idealizada dele para seus filhos;
nesse caso, sentimentos de inadequao e de culpa podem aparecer neles, por causa da
desesperana de jamais ser incapazes de merecerem tal pessoa, to semelhante a um santo.
No comeo da vida, a criana v de longe o pai e a me com uma s figura. Nos
desenhos de crianas de crianas pequenas pode-se algumas vezes observar uma figura humana
com um pnis, qual a criana chama de me; o pai um apndice desta - o pnis.
Gradualmente, na medida em que a conscincia emerge, a criana diferencia o pai da me e
reconhece-o como uma pessoa em si e me como outra; esta uma situao completamente
nova e de grande significado.
A crise e o conflito mais srios na vida da criana, com possveis conseqncias
traumtica, nos quais o amor e as lealdades so testados aparecem na situao Edipiana. Freud
coloca esse conflito entre os trs e os cinco anos de idade. Jung afirma que as caractersticas
essenciais de uma criana j se desenvolveram ento, e que possvel prever o tipo de coliso
que ocorrer mais tarde entre ela e seus pais. Isso implica que nessa poca a prpria criana
pode estar consciente das diferenas entre ela e seus pais, o que pode tornar ainda mais agudo
o conflito interno. Alm disso, nessa poca que a criana confrontada com rivais na forma
de irmos que podem faz-la sentir-se rejeitada e destituda. compreensvel, pois que a
presena real do pai em tal poca seja de extrema importncia - real, no nominal; atravs da
emergncia de outra pessoa que a discriminao, a possibilidade de escolha e um sentimento de
valores conflitantes se estabelecem. Em outras palavras, a presena do pai necessria para um
desenvolvimento saudvel do ego. Quando a alteridade do pai pode ser experimentada de
maneira construtiva, como uma fora positiva suplementando a da me, mesmo se s vezes
diferente dela e ainda assim vlida, mais fcil para a criana desidentificar-se da me, firmar-se
de acordo do a sua prpria lei, e finalmente estabelecer um relacionamento com o outro. Isso
constitui um problema particularmente difcil para a menina, uma vez que o primeiro
relacionamento com a me, um relacionamento de identidade e por essa razo lhe parece que
todo relacionamento baseado na identificao. Para um menino, vital que possa projetar as
qualidades de heri em seu pai, pois isso o capacita a romper o lao com a me. H outro
aspecto que pode exercer um papel essencial na vida da criana, isto , o papel do pai como
aquele que conforta; a me conforta na dor ou na aflio do corpo, mas o pai que o faz na
dor ou na aflio da lama e da mente. O pai que conforta tambm o pai que prov.
DIFERENA ENTRE AS FUNES DO PAI E DA ME
A me portadora da nova vida e aquela que d luz: como imagem, permanece para
sempre como o mundo da origem, da intemporalidade, o ventre ao qual gostaramos de
retornar em busca de calor, segurana e realizao; ela um mundo que fornece alimento e
proteo; a terra em que dormiramos. A intemporalidade da me o prprio da natureza em
que se alternam nascimento e morte. H uma constncia com respeito a esse ritmo e a essa
imagem, quer a experincia da me pessoal tenha sido boa ou m. A me representa o
inconsciente, o lado instintivo, como tem sido e sempre ser neste mundo.
Houve um tempo em que se pensou que a coneco entre coito e concepo era
desconhecida ou no admitida. A fertilizao se dava ento atravs de um esprito, um esprito
sob forma de homem, criatura, voz - uma presena. O pai no existia, s a me. Mas nunca se
pensou que o pai existisse sem a me. Ao contrrio, o pai surgiu no tempo histrico em que as
formas criativas do homem foram reconhecidas como sendo mais independente da natureza do
que as da mulher.
O pai encarna a conscincia; seu reino a razo e o conhecimento, a luz e o sol. Numa
sociedade patriarcal so os mais velhos, os pais, que governam, legislam e mantm viva a
tradio. Para a criana, o pai o mediador entre o excitante mundo exterior e o lar. Sua
atitude para com o trabalho, a ambio, o sucesso e a competio, afeta e colore a atitude da
criana e tanto pode faz-la desejar crescer como tem-lo. a fora do pai que d segurana e
encoraja a autoconfiana, assim como a sua autoridade que ajuda a criana a descobrir seus
limites. Esse o modo pelo qual o pai d luz seus filhos.
compreensvel, num tempo em que o papel do pai se tornou to problemtico, que ele
transmita sua insegurana aos filhos: a ausncia do pai conduz deficincia do ego. A nfase
exagerada sobre o papel da me encoraja um falso ego que se fia em opinies e idias coletivas
e opera numa espcie de mentalidade de grupo ou rebanho. O pai que est presente e ao
mesmo tempo no est pode ser muito mais difcil para a criana do que um pai que acredita
em si mesmo. Quando ele no personifica a autoridade e a segurana, a agresso, frustrao,
ressentimento e desespero que a criana sente por no poder projetar ideais e valores sobre sua
figura podem ser desafogados na Sociedade e no Estado
Num ambiente em que os poderes da me sejam por demais sedutores, h o perigo de se
ficar retido em seu mundo; perigoso para o indivduo ficar prximo demais dos valores dela
sem os valores compensatrios do mundo do pai para contrabalanar: a exagerada
compensao inconsciente se d como uma nfase demasiada na racionalidade, em nossa
mentalidade do sculo XX, nosso materialismo, nossa paixo infantil pela iluminao
irracional, que Jung considera como causa de muitas neuroses.
De algum modo, no entanto, a me est se tornando mais consciente de seu lado
potencialmente perigoso; o homem tem ainda que aplicar sua sensao mais desenvolvida de
conscincia a si mesmo enquanto pai. Nesse ponto, ele parece no se dar conta de seu lado
positivo; o fato que sabe ainda menos quo destrutivo pode ser
H diferentes espcies de pais psicologicamente ausentes: um deles o pai
desempregado, que no sustenta; outro o pai fraco, desprezado pela sua mulher aberta ou
secretamente. Pode ser fraco de carter, beber ou jogar, ou correr atrs de mulheres, ou pode
ser ineficiente de uma maneira geral. Seus sentimentos de insuficincia, de desimportncia e de
insegurana podem afetar seus filhos sob a forma de uma neurose de ansiedade, frigidez,
Quando o pai reage de modo demasiado forte, a menina pode desenvolver um medo de
contato fsico: o pai se torna algo aversivo. Ela passa a temer tanto a reao do pai, quanto
seus prprios sentimentos, porque se tornaram repugnantes por ao da me.
Fantasias e devaneios sobre um pai ideal do colorido a idias sobre um pai ideal e
distante da realidade. O resultado dessa mistura de fantasia e represso que a menina pode
regredir ao nvel de mulher primitiva, de modo que um esprito ter que engendrar seu filho;
o relacionamento no nem presente nem esperado (ilegitimidade); ou ento, nos braos de seu
marido ou amante a mulher concebe o filho desse esprito amante, sendo ento a criana
muito especial e particularmente amada.
Nesse ponto, deve-se mencionar o fenmeno atravs do qual possvel aprender
bastante sobre os anseios fsicos e espirituais secretos que dizem respeito ao pai. Refiro-me s
mulheres casadas ou no, que se apaixonam por homens que carregam o manto do pai: isto ,
mdicos, analistas e sacerdotes. Situaes muito complicadas e trgicas podem surgir, embora
essa experincia possa tambm dar incio a uma nova viso, a uma ampliao da conscincia e a
uma compreenso do sentido interior do incesto.
As razes para a escolha de um marido esto relacionadas ao pai; se uma mulher neglo, isto significa que tem um complexo paterno e no se d conta. Toda menina expressa um
desejo de casar com um homem exatamente como seu pai, ou exatamente o contrrio. Os
problemas que surgem entre esposa e marido no casamento - no que se refere a elas - tem a ver
com os problemas no resolvidos entre a mulher e seu pai, ou at com problemas que seus pais
no foram capazes de resolver entre si. Este o caso quando o homem se torna como o pai, um
bbado, sempre atrs de mulheres, ou impotente. O problema ento to urgente que aparece
exteriormente, embora de fato tenha a ver com aquela parte interior que o pai. Infelizmente,
mesmo se conscientizados, nem sempre trs problemas podem ser resolvidos dentro do
casamento; talvez um casamento deva ser desfeito como preo a ser pago por uma maior
conscincia (embora nem sempre seja uma conscincia maior o que faz acabar com o
casamento).
Para a menina, o pai mediador do princpio masculino enquanto esprito, assim como
do sexo masculino; como esprito, ele representa o essencialmente outro. A experincia real do
pai pessoal pode ajudar e tornar confivel o casamento enquanto meio para criar uma unio no
mundo externo; ela tambm alimenta o desejo de prosseguir na busca interior que pode
ocasionar uma experincia da prpria totalidade e da prpria Essncia. Ou ento a experincia
real com o pai pode ter sido desastrosa; nesse caso, um relacionamento externo pode no
acontecer ou no ter xito, mas mesmo assim o caminho interior, embora difcil, poder revelarse frutfero ao tornar consciente uma sensao de significado e propsito para uma vida na qual
o esprito masculino estava escondido por detrs de um furioso Jeov, ou ento, ainda pior,
uma vida que no havia nem mesmo uma raiva para confrontar - apenas o nada e o vazio.
O relacionamento do pai com o filho tem caractersticas particulares: atravs do
experimento de associao de Jung sabe-se que tipologicamente o filho est mais prximo do
pai do que da me. A semelhana pode criar dificuldades em qualquer relacionamento, e mais
ainda com o pai, particularmente se este enxergar seu lado sombrio no filho ou, ao contrrio, se
este o enxergar no pai.
Em nossa sociedade, o medo que o filho tem pelo pai devido em boa medida a
situao Edipiana e ao conflito bem conhecido que a acompanha. O desejo de incesto no
menino difere do da menina; ele quer estar com a me, dentro dela, s, sem pai, quente e
seguro. Mas no pensa em termos de ter um filho com ela, como faz a filha em relao ao pai.
Para o menino a ato sexual no significa a criao de uma nova vida, pois a cpula um meio
de provar sua virilidade e sua capacidade com o pai. aqui que encontramos a ambivalncia do
menino; sua inveja do grande poder do pai significa que tambm o admira; alm disso, pode
sentir uma certa ternura pelo pai que possui a me. As dificuldades reais aparecem quando a
me receptiva demais, dando impresso ao filho que este mais importante para ela do que
o marido, ou ento, quando rejeita demais o sentimento do filho. Os problemas tambm surgem
se o menino sente que seu pai o trata de maneira humilhante. Nesse caso, ele pode se sentir
numa terra de ningum, numa no existncia, s podendo escapar atravs da fantasia - fantasias
masturbatrias de onipotncia que o cortam da realidade e do relacionamento externos.
A fantasia pode impedir o filho de luta com seu pai - talvez ele seja muito medroso ou
muito fora da realidade; mas pode ser que ele continue profundamente dependente da
aprovao e da aceitao do pai pessoal. Castrado, ou perde a conexo com seus prprios
poderes criativos com o pai criador transpessoal nele mesmo, ou ento foge para uma
identificao deus-pai enquanto Esprito Santo e permanece num estado possudo de inflao
celeste. Ambos os estados significam que o ego falhou; o medo em demasia mutilou do esprito
de agresso.
Um conflito precoce com o pai no plano emocional, no qual este aparece como uma
figura hostil ou desprezvel, no o nico nvel em que o drago-pai tem que ser vencido.
O conflito pai-filho tipifica o grande problema entre as geraes; essa problemtica nem
sempre reconhecida em toda sua gravidade, porque a situao Edipiana somente um de seus
aspectos. A rivalidade entre pai e filho diferente daquela entre iguais; um desamparo muito
particular experimentado pela criana que est sob o poder do pai, e pelo pai que est sob o
poder do tempo. Mitologicamente esse conflito expresso nas histrias dos deuses que
envelhecem, e nas lutas entre o velho e o jovem. Historicamente, o problema foi encenado por
membros da realeza: o velho rei lutava para manter o poder enquanto o jovem rei designado
tentava arranc-lo de sua mos. Apenas nas civilizaes patriarcais comparativamente tardias
que essa controvrsia entre velho e jovem veio a ser associada a pai e filho. rich Neumann
argumenta que o motivo essencial da hostilidade do filho contra o pai est contido no problema
das geraes e diz respeito necessidade do filho de encontrar a sua prpria validade. O jovem
heri tem que lutar contra o velho e ultrapassado mundo de ontem para estabelecer a sua
prpria lei interior e descobrir os valores do presente. A lei coletiva representada pelo pai tem
que ser combatida pelo filho com toda a misria do medo de castigo, temporal e eterno, que
est associado a essa rebelio, para progredir do cdigo moral tradicional rumo descoberta da
conscincia .
A idia da hostilidade e da impacincia para com os valores e sofrimentos do passado
uma idia familiar e corre como um fio vermelho atravs da histria. A inimizade do pai e o
medo que tem do filho podem ser deduzidas a partir da extenso do costume do infanticdio,
praticado quase que universalmente por todos os povos e certamente assrios, babilnios e
judeus - e da prtica de abandonar crianas, como faziam os hindus e os gregos. O
primognito, em particular, carregava a ambivalncia de sentimento do pai, e era sacrificado
para apaziguar o deus irado. Este, ento como agora, corresponde raiva do pai contra a nova
vida que ir suplant-lo, e ao medo da morte. O assassnio, no entanto tambm um sacrifcio,
porque no h somente dio pelo filho, mas tambm amor e a idia da vida continuando atravs
dele.
O conflito entre pai individual e o filho pode ser resolvido quando ambos reconhecem o
deus ciumento e enraivecido dentro deles mesmos, e quando so capazes de diferenciar entre a
pessoa real, seja o pai ou o filho, e a imagem de fantasia nascida de projees, crenas e idias
arquetpicas. Com demasiada freqncia, pais e filhos acreditam que seu terrvel relacionamento
e suas dificuldades emocionais so puramente pessoais; no entanto, esse conflito coletivo e
diz respeito a todos os pais e a todos os filhos.
Em vrias religies o relacionamento pai-filho est no centro. No pensamento judeu e
cristo isso se d num nvel pessoal e tambm retrata o relacionamento entre Deus e o homem.
De um modo paralelo a imagem de um relacionamento pai-filho usada na filosofia Hindu para
descrever o relacionamento entre o verdadeiro s-mesmo e o ego.
Para os vedantas, o pai fsico, assim como todo domnio dos sentidos fsicos, os rgos
da razo e tambm os costumes da raa e os preconceitos herdados devem ser postos de lado
antes que se entrem na posse do S-mesmo.
Estas idias se ligam Alquimia, na qual o problema das geraes expresso como
rejuvenescimento, transformao e renascimento do pai, o ancio, ou velho rei doente, algumas
vezes mal e petrificado, que tem que morrer; dissolvendo-se em gua ou no ventre materno ele
pode renascer renovado como o filho ou jovem rei. Por implicao, os alquimistas traavam um
paralelo entre o velho e o jovem rei, de um lado, e Deus e Seu Filho, de outro - uma indicao
de que Deus enquanto Pai necessita renascer.
Jung duvidava que os alquimistas fossem conscientes dessa implicao. Creio que
provavelmente o eram, porque na vida diria da liturgia e no conceito de Trindade est
expressa a dor da constante transformao: a necessidade de sacrifcio, o desejo de ser
sacrificado e o esprito com que isso feito, sempre de novo o sacrifcio do passado - o
passado que tanto queremos.
H uma religio, o Islamismo, que no tolera o termo Pai em referncia a Deus. Os
Muulmanos s entendem a palavra Pai no sentido de gerao fsica, o que significa que se
Deus Pai, deve ter uma esposa. E assim no admitem o termo nem mesmo no sentido
metafsico de Deus como Pai dos Homens.
A reconciliao entre as geraes no um problema apenas externo, mas
essencialmente interno. Do ponto de vista do filho, a reconciliao , em ltima anlise, chegar
a um acordo com a imagem parental interior internalizada; do ponto de vista do pai, chegar a
um acordo com seu filho, tanto o exterior como o interior. O primeiro passo reconhecer que
h uma imagem interior de fantasia, e no exclusivamente uma realidade externa. A infeliz
criana interior, no pai e no filho, tem que olhar para as expectativas e os desapontamentos, os
contentamento, a inveja e a cobia, assim como a gratido e generosidade em si mesma. Esses
sentimentos tem que ser permitidos e, se possvel, compreendidos. Todas essas emoes tm a
ver com o primeiro Periodo da vida, com a me e freqentemente difcil chegar at essas