Alberto Caeiro
Alberto Caeiro
Alberto Caeiro
O Tejo mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo no mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo no o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vem em tudo o que l no est,
A memria das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para alm do Tejo h a Amrica
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ningum nunca pensou no que h para alm
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia no faz pensar em nada.
Quem est ao p dele est s ao p dele.
Alberto Caeiro, Poemas Completos, Comp. Jos Aguilar, Rio de Janeiro, 1972
(GAVE Prova Escrita de Portugus B, 12. ano, 1997, 2.a Fase)
1. No incio do poema afirma-se em sequncia:
"O Tejo mais belo"... (v. 1)
... "o Tejo no mais belo"... (v. 2)
Com base na leitura do texto, apresente as razes desta mudana da forma afirmativa para a
forma negativa.
2. "E navega nele ainda, [...] A memria das naus." (vv. 5, 7)
Comente o valor expressivo desta afirmao.
3. "aqueles que vem em tudo o que l no est" (v. 6)
Explicite o sentido desta expresso.
4. No texto afirma-se que "o rio da minha aldeia" mais livre e maior (v. 15).
Refira o significado desta afirmao neste contexto.
5. Todo o poema atravessado pela comparao entre o Tejo e "o rio da minha aldeia".
Indique o grau em que se encontram os adjectivos que estabelecem essa comparao.
Exemplifique.
6. Dos rios referidos no poema, um nomeado com um substantivo prprio, o outro com um
substantivo comum.
Justifique esta afirmao com transcries do texto.
Relacione essa diferente nomeao com o significado que cada um dos rios assume no
poema.
7. H um momento do texto em que o Tejo surge associado procura de uma vida melhor.
Aponte esse momento e seleccione as palavras que melhor exprimem essa associao.
8. "Quem est ao p dele est s ao p dele." (v. 22)
Analise o processo de construo do sentido presente neste verso.
9. Refira marcas caractersticas da poesia de Alberto Caeiro presentes no poema.
- o Tejo considerado mais belo, na medida em que mais conhecido, mais famoso, um lugar
com mais histria;
- o Tejo no considerado mais belo, na medida em que no suscita uma relao to intima
de afectividade, de proximidade; mais distante.
2. Ao estabelecer-se a relao directa de "memria das naus" com "navega"
(sujeito/predicado), torna-se mais expressiva a ideia de permanncia do passado.
3. Por exemplo: aqueles que sobrepem o conhecimento e a memria, afinal a cultura,
simples percepo do real.
4. A liberdade do "rio da minha aldeia" menos afectada e o domnio de si prprio maior,
devido ao facto de ser menos conhecido.
5. Grau comparativo de superioridade. Qualquer um dos seguintes exemplos: "mais belo";
"mais livre"; "maior".
6. Tejo um substantivo prprio. Rio um substantivo comum.
O rio da minha aldeia nomeado por um substantivo que se aplica a todo e qualquer
elemento da mesma espcie. O Tejo tem nome prprio. Esta diferente nomeao radica no
diferente grau de notoriedade de cada um. O Tejo tem uma nomeao geogrfica e um
sentido histrico a nvel nacional.
7. Os trs primeiros versos da 4.a estrofe. "Amrica" e "fortuna".
8. No verso transcrito, verifica-se a presena da repetio de "est ao p dele", reforada pelo
advrbio de excluso "s".
9. So marcas caractersticas da poesia de Alberto Caeiro:
- recusa de pensar;
- viso objectiva da natureza;
- aceitao do mundo;
- simplicidade de estilo;
- relao de harmonia com a Natureza;
- aparente simplicidade e natureza argumentativa do discurso potico, visvel no recurso a
uma linguagem corrente;
- a natureza como valor essencial;
- verso livre;
- irregularidade mtrica e estrfica;
- linguagem prxima da prosa.